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UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL E SUDESTE DO PARÁ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS (ICH)


FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS DO ARAGUAIA TOCANTINS
BACHARELADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

Roberta Cruz Correia

Uma Etnografia Nômade: Dialogando com as Medicinas da Floresta


e Ervas Sagradas em Marabá-PA

Marabá, Pará
2022
ROBERTA CRUZ CORREIA
Uma Etnografia Nômade: Dialogando com as Medicinas da Floresta e
Ervas Sagradas em Marabá-PA

Trabalho de Conclusão de Curso,


apresentado ao curso de ciências sociais da
Universidade Federal do Sul e Sudeste do
Pará, como parte das exigências para a
obtenção do título de Bacharel em Ciências
Sociais.

Orientadora: Gisela Macambira Villacorta.

Marabá, Pará
2022
ROBERTA CRUZ CORREIA
Uma Etnografia Nômade: Dialogando com as Medicinas da Floresta e
Ervas Sagradas em Marabá-PA

Trabalho de Conclusão de Curso,


apresentado ao curso de ciências sociais da
Universidade Federal do Sul e Sudeste do
Pará, como parte das exigências para a
obtenção do título de Bacharel em Ciências
Sociais.

Marabá, _______ de _______ de ________.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________________

__________________________________________________________

_____________________________________________________________

Marabá, Pará
2022
AGRADECIMENTOS

Meus agradecimentos à rainha da floresta, ao rei jagube, às ervas, o rapé,


sananga, o kambô e toda a natureza.
À minha professora e orientadora Gisela Macambira Villacorta.
Aos meus pais, irmãos e amigos da comunidade ayahuasqueira e da
universidade. Em especial ao André Silva por me ensinar e auxiliar com as medicinas
da floresta.
A professora Joseline Trindade pela oportunidade de participar do projeto
“Plantas que Curam”.
Ao Professor Fabiano Campelo Bechelany e a Valéria Moreira Coelho de Melo
pelo estágio supervisionado no Projeto de Extensão “Preservação Digital do Acervo
Iara Ferraz”.
Aos integrantes do núcleo NEOXAMAM, Profª Gisela Macambira, Alana
Pereira, Alyne Pacheco, Aline Verissimo, Marcos Antonio, Raissa Ladislau, Igor
Vinicius, Giovana Vale, Luis Henrique, Rodrigues Silva, Profº Edimilson Sousa, Regina
Rosa, Vitória Oliveira, Pedro Paulo e Tainá.
Agradeço aos centros do Santo Daime, as rodas do sagrado feminino e aos
Terreiros e Congás da Umbanda que visitei e me acolheram muito bem.
RESUMO

Este trabalho faz parte de uma etnografia multi-situada, onde realizei pesquisas
em três contextos, sendo eles o Santo Daime, o Sagrado Feminino e um
terreiro da Umbanda, na cidade de Marabá, situada no Sudeste do Estado do
Pará. Cujo objetivo é evidenciar a agência das plantas, a importância da vida
vegetal e as relações delas com os humanos. Foi identificado as plantas
utilizadas em rituais, e também tabelas com nome científico, vernacular,
origem, função e uso de acordo com cada um desses contextos. Desta forma,
foram realizados registros fotográficos, entrevistas semi estruturadas e
pesquisa bibliográfica. A partir desta pesquisa pôde-se identificar poucas
produções quanto à discussão do tema na região. Por fim, com as entrevistas e
as idas ao campo, fica evidenciado a importância das medicinas da floresta e
ervas em relação aos grupos estudados.
Palavra-chave: medicinas da floresta; ervas medicinais; umbanda; santo daime;
antropologia; etnografia; sagrado feminino.

ABSTRACT
This work is part of a multi-sited ethnography, where I carried out
research in three contexts, namely the Santo Daime, the Sagrado Feminino and
an Umbanda terreiro, in the city of Marabá, located in the Southeast of the State
of Pará. The objective of which is to highlight the agency of plants, the
importance of plant life and their relationships with humans. The plants used in
rituals were identified, tables were made with scientific and vernacular names,
origin, function and use according to each religion, photographic records, semi-
structured interviews and bibliographic research were carried out. From this
research, it was possible to perceive a difficulty regarding the discussion of the
theme in the region. Finally, with the interviews and field trips, the importance of
forest and herbal medicines in relation to the groups studied is evidenced.

Key Words: forest medicines; medicinal herbs; umbanda; santo daime;


anthropology; ethnography; sacred feminine.

LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Primeiro trabalho de campo no Santo Daime em 2016………………..9
Figura 2 . Plantas usadas na defumação durante os trabalhos no Santo Daime,
a esquerda a almesca (Protium spruceanum (Benth.) Engl.) e na direita o
alecrim (Rosmarinus officinalis L.).....................................................................14

Figura 3. Prática de yoga antes de começar o ritual……………………………..21

Figura 4. Roda de fogueira durante o ritual……………………………………….32


Figura 5. Fogão a lenha onde acontece o feitio do daime na Igreja Céu de
Cerejeiras……………………………………………………………………………..47
Figura 6. Almesca junto ao Cruzeiro Universal (símbolo do Santo Daime).......48

Figura 7. Centro de Iluminação Cristã Luz Universal São José………………...49


Figura 8. Entrada do salão………………………………………………………….50
Figura 9. Roda com fogueira e panos estendidos no chão, onde é servido o
daime…………………………………………………………………………………..51
Figura 10. Baldes com banho de ervas …………………………………………...52
Figura 11. Prática de banho com ervas em rituais do Sagrado Feminino……..53
Figura 12. Defumador utilizado no ritual com alecrim……………………………54
Figura 13. Momento de servir a ayahuasca……………………………………….55
Figura 14. Tambor aquecendo perto da fogueira…………………………………55
Figura 15. Caboclo sendo incorporado por médium às cinco e trinta da
manhã…………………………………………………………………………………56
Figura 16. Caboclo colocando óleo de dendê na mão, depois na vela, e
passando na perna de uma mulher às cinco e cinquenta e seis da manhã…..56
Figura 17. Mulher girando com os pontos para os encantados e
caboclos……………………………………………………………………………….57
Figura 18. Sendo flagrada realizando um audiovisual às cinco e quarenta e
cinco da manhã………………………………………………………………………58
Figura 19. Gira acontecendo no raiar do sol às seis da manhã………………...58
Figura 20. Balde com banho de atração…………………………………………..59
Figura 21. Essências utilizadas nos banhos de atração…………………………60
Figura 22. Essências de Alfazema e rapé utilizado pelo Pai Júnior……………61
Figura 23. Pai de Santo Antônio acendendo velas no salão……………………62
Figura 24. Altar do
Templo…………………………………………………………..63
Figura 25. Firmeza com vela para Zé Pilintra……………………………………..64
Figura 26. Mulher defumando salão……………………………………………….65
Figura 27. Aplicação do rapé, assoprado por Darcy Almeida em sua casa…...66

LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Plantas utilizadas no São José…………………………………………18
Tabela 2. Plantas utilizadas durante o sagrado feminino………………………..30
Tabela 3. Plantas do Orixá Exu utilizadas na Umbanda, enviadas pelo Pai de
Santo Antônio por mensagem no
whatsapp…………………………………………………………………………..….40
Tabela 4. Ervas e substâncias utilizadas na defumação………………………...46
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 1
1. TRAJETÓRIA DA PESQUISA 5
2. ERVAS SAGRADAS NO CENTRO DE ILUMINAÇÃO CRISTÃ LUZ UNIVERSAL
SÃO PEDRO 8
3. ERVAS E MEDICINAS DA FLORESTA EM RITUAIS DO SAGRADO FEMININO 19
4. ERVAS NO TEMPLO SÃO MIGUEL 32
5. MOSAICO DE EXPERIÊNCIAS ETNOFOTOGRÁFICAS 45
CONSIDERAÇÕES FINAIS 65
REFERÊNCIAS 66
1

INTRODUÇÃO
De acordo com a forma que realizei trabalho de campo e a própria
construção etnográfica, faço uma analogia à palavra nômade com a etnografia
multi local ou multi situada, na qual, segundo a teoria de Marcus (1993):
O estudo geral da etnografia multi local está localizado dentro de
estudos de esfera de trabalho interdisciplinar, incluindo mídia, ciência
e tecnologia e estudos culturais, são consideradas várias as
estratégias de “rastreamento” que moldam a pesquisa multi local.

Segundo Gupta e Ferguson (1997), o cerne da proposta da etnografia


multi-situada está enraizada no reconhecimento de que o "campo" da
investigação etnográfica não é simplesmente um lugar aguardando para ser
inserido, mas um "espaço conceitual" cujos significados e limites são
negociados continuamente pelo etnógrafo e seus interlocutores.
Para Magnani (2002, p.17), quando trata da etnografia, afirma que ela
não se reduz a uma técnica ou conjunto de procedimentos:
Não se confunde nem se reduz a uma técnica; pode usar ou servir-se
de várias, conforme as circunstâncias de cada pesquisa; é antes um
modo de acercamento e apreensão do que um conjunto de
procedimentos. Ademais, não é a obsessão pelos detalhes que
caracteriza a etnografia, mas a atenção que se lhes dá: em algum
momento, os fragmentos podem arranjar-se num todo que oferece a
pista para um novo entendimento.

Levando em consideração o uso da etnografia em vários contextos e


localidades, entro no campo das medicinas da floresta e ervas medicinais na
cidade de Marabá, no Sudeste do Pará. O termo medicinas da floresta, no
caso dos Huni Kuĩ, engloba o nixi pae (ayahuasca) e outras substâncias
usadas em seus rituais contemporâneos: o rapé, o kampũ e a sananga
(MENESES, 2018).
Com as medicinas da floresta, o Santo Daime e a integração do Sagrado
Feminino, podemos afirmar que se trata de uma re(invenção) das tradições e
rituais ayahuasqueiros.
Nesse território de experiências performáticas e (re)invenção de
tradições e rituais, sobressaem-se o consumo ritual de substâncias
psicoativas e/ou terapêuticas, denominados pelos adeptos indígenas
e não indígenas de medicinas da floresta, que do complexo cultural
pano passou a ser utilizada nos contextos urbanos do neoxamanismo
e do Santo Daime (FERNANDES, 2018).

Para o contexto umbandista, as ervas têm presença obrigatória, pois


sem folha não tem orixá e não tem rituais de cura. Utilizadas em defumações,
banhos atrativos e de descarrego, fumo, bebidas ritualísticas e preparações
específicas.
Sobre os papéis das plantas em religiões afro-brasileiras podemos
afirmar que:
2

Para as religiões afro-brasileiras as plantas de rituais possuem dois


papéis bem determinados: primeiramente ela possui um papel sacral,
vinculada a um pensamento mítico, onde nelas é depositado o axé
(força vitalizadora das divindades); em segundo lugar, o papel
funcional, quele que cada planta desempenha dentro dos rituais,
tendo em vista seu valor intrínseco, o qual se supõe poder determinar
em que situação ritualística ela se enquadra. Exemplo das plantas
psicoativas, que devido às suas propriedades, propiciam as
condições ideais para o contato com o sagrado através do transe de
possessão – quando as entidades incorporadas agem dentro das
celebrações e dos rituais de cura. Porém, estes transes não decorrem
somente do uso destas plantas, mas sim, de outros fatores
específicos dos rituais (CAMARGO, 2006).

De acordo com Meira (2013), quando retrata os ritos da Umbanda e do


Candomblé, a presença do vegetal nas religiões está relacionada a
manutenção do “axé”, da cura e na solução dos males que abatem as pessoas:
A medicina tradicional e mágica está vinculada aos ritos afro-
brasileiros e indígenas, especialmente, aos de Candomblé e de
Umbanda, procurando formas de cura que consideram também
aspectos espirituais, sobrenaturais, no adoecimento, buscando
solucionar os males que se abatem sobre aquelas pessoas a partir de
rituais particulares. A presença do vegetal está ligada à manutenção
do axé-força que move este povo e que tem sua religiosidade calcada
nas substâncias extraídas das folhas [...] As religiões de matrizes
africanas têm a natureza como elemento de comunicação com o
sagrado, sendo que as folhas também atuam na comunicação entre
homens e divindades. Para os adeptos dessa religião, os orixás estão
intimamente relacionados com os elementos da natureza. Percebe-
se, assim, ao final, o quanto os vegetais são importantes para a
preservação das religiões afro-brasileiras e para a manutenção da
sua existência enquanto elemento da cultura.

Atualmente, tem somente duas pesquisas envolvendo a ayahuasca e


santo daime, a primeira foi o trabalho de conclusão de curso da Malu Coelho
(2013) intitulado “Experiências, percepções e Antropologia” Interpretando
mirações no Santo Daime e o segundo foi o trabalho de conclusão de curso de
Alana Pereira da Silva (2020) “Transgeneridade e santo daime: as
(im)possibilidades de uma busca espiritual daimista”.
A respeito da umbanda tem a pesquisa da Francirlene Santos (2019)
“Uma imersão etnográfica no Templo de São Jorge Guerreiro: Um terreiro de
Umbanda em Marabá, Pará. O artigo do Silva e Silva (2018), “Iniciação e
relações cosmológicas entre humanos e encantados na cidade de Marabá”. O
trabalho de conclusão de curso de Junior (2018) “O processo de espacialização
do terreiro de umbanda mina nagô ogum das matas em Marabá-PA”.
referenciando também a revista Númbuntu, organizada por Gisela Villacorta e
Ivan Costa, na qual tem diferentes artigos multidisciplinares sobre a
problematização das relações etnico raciais e apresentam um dossiê de
religiões de matriz africanas em Marabá.
Levando em consideração poucas pesquisas sobre medicinas da
floresta e ervas na região Sul e Sudeste do Pará, esta pesquisa se torna
importante devido a viabilização de trabalhos acadêmicos sobre o tema.
3

Esse trabalho teve o objetivo de evidenciar a agência, a importância da


vida vegetal e relações dos seres humanos com o ambiente. Identificando as
plantas utilizadas em rituais, do Santo Daime, Sagrado Feminino e em um
terreiro da Umbanda e a relação delas com as pessoas.
Ingold (2011) retrata que quando se trata de agência e a presença de
vida nas coisas, afirma:
Trazer coisas à vida, portanto, não é uma questão de acrescentar a
elas uma pitada de agência, mas de restaurá-las aos fluxos geradores
do mundo de materiais no qual elas vieram à existência e continuam
a subsistir. Essa visão, de que as coisas estão na vida ao invés de a
vida nas coisas, é diretamente oposta à compreensão antropológica
do animismo [...] As coisas estão vivas e ativas, não porque estão
possuídas de espírito - seja na ou da matéria - mas porque as
substâncias de que são compostas continuam a ser varridas em
circulação dos meios circundantes que alternadamente anunciam a
sua dissolução ou garantem sua regeneração.

Ingold (2011) cita o exemplo de uma pedra, quando explica sobre o


mundo dos materiais, na qual segundo ele:
No mundo dos materiais, os humanos figuram tanto no contexto das
pedras quanto nas pedras no contexto dos humanos, e esses
contextos são estabelecidos como regiões sobrepostas do mesmo
mundo [...] Meu argumento, ao defender um retorno a este mundo, é
simplesmente o de que devemos, mais uma vez, levar os materiais a
sério, pois é a partir deles que tudo é feito.

Como metodologia, foi utilizado diário de campo, fotografias,


audiovisuais e entrevistas semi-estruturadas em todos os terreiros, centros e
espaços que acompanhei. Foram feitas quatro tabelas contendo a família,
nome científico, nome popular ou vernacular, forma de uso, parte utilizada, sua
utilização no ritual e sua origem, para a pesquisa, nas idas ao campo.
Seguindo os protocolos do Ministério da Saúde e do comitê de ética na
pesquisa em contexto de pandemia com Covid-19, foi utilizado máscara,
distanciamento e álcool em gel, nas entrevistas do Centro de Iluminação Cristã
São Pedro e no Terreiro de Umbanda Templo São Miguel.

De acordo com a resolução nº 510, de 7 de Abril de 2016, contendo o


Registro do Consentimento e do Assentimento, fica explicitada a importância
de preservar a identidade das pessoas aqui citadas, todos os nomes deste
trabalho são fictícios. Quanto às fotografias tiradas por outras pessoas ou
mostrando o rosto, foi pedido autorização para a publicação, por meio de
mensagem do whatsapp e via oral.
Esse trabalho conta com cinco capítulos, sendo no primeiro capítulo
descrevo a minha trajetória de pesquisa desde o início do curso. Nos capítulos
em diante são a respeito de três pesquisas em contextos de medicinas da
floresta para averiguar suas plantas de cura.
4

O segundo capítulo da pesquisa foi realizada em uma igreja do Santo


Daime chamada Centro de Iluminação Cristã Luz Universal São Pedro, o
terceiro capítulo foi realizada em dois mil e dezoito em um ritual do Sagrado
Feminino Beija Flor Dourado, o quarto foi realizado no Terreiro de Umbanda
Templo São Miguel e o quinto trago um mosaico de experiências
etnofotográficas.
5

1. TRAJETÓRIA DA PESQUISA
Quando comecei o curso de ciências sociais em dois mil e dezesseis,
participei de um trabalho de campo, realizado na disciplina de Teoria
Antropológica I, coordenado pela Antropóloga Gisela Macambira Villacorta 1, no
centro do Santo Daime Centro de Iluminação Cristã Céu de Cerejeiras, minha
experiência foi muito intensa, o que me abriu as portas para um novo mundo.
Desde esse dia, continuei sentindo muito desejo em retornar a aquele lugar e
participar mais vezes, e assim eu fiz, depois de um tempo retornei e comecei a
participar com mais frequência.
Na mesma disciplina, posteriormente foi realizado um seminário e junto
com grupo que havia ido ao campo, falamos a respeito de como foram as
nossas experiências no Santo Daime para turma. Houveram alguns
questionamentos e curiosidades em relação à como a pessoa ficava com o
efeito do chá e como eram as “mirações” ou “visões” com ayahuasca.
Desta forma, em dois mil e dezessete, passei a frequentar outros centros
do Santo Daime em Marabá, inclusive este desta pesquisa. Dentro de minhas
experiências com o autoconhecimento, ou seja, o conhecimento que uma
pessoa tem sobre si mesma .
Após tomar daime pela primeira vez, percebi uma extrema relação com
as plantas, principalmente as medicinais, então comecei a realizar minha
segunda pesquisa, não era para nenhuma disciplina mas tinha como objetivo
escrever meu primeiro artigo, sobre as plantas utilizadas por rezadeiras em
Marabá, trabalho não concluído por falta de encontrar esses curandeiros.
Queria continuar aprendendo sobre as plantas, soube então que uma
professora de antropologia, Joseline Simone Barreto Trindade2 estava com um
projeto de cultivar plantas medicinais em uma escola no Bairro São Félix em
Marabá, busquei saber mais, me apaixonei por suas ideias e pedi para
participar como voluntária, ajudando com registros fotográficos. O projeto se
intitulava “Cultivando Plantas que curam, lavrando palavras que circulam: a
construção da horta escolar como metodologia interdisciplinar na visibilidade do
saber/fazer tradicional na Escola São Félix em Marabá”, consistia em fazer
rodas com alguns alunos e alunas e falar sobre a importância das plantas e a
partir deles, verificar quem tinha plantas medicinais no quintal de casa.
Fizemos uma ida na casa da mãe de uma dessas alunas, fiquei
responsável por fotografar e filmar, era uma casa simples mas com um quintal
muito grande e com muitas plantas, fizemos um passeio pelo quintal onde a
senhora nos mostrava casa planta e seus usos. Percebi a quantidade de
conhecimento sobre as plantas que a senhora Francisca tinha, e isso me
deixou mais animada para continuar pesquisando sobre isso. Durante o

1 Madrinha e Padrinho são os termos utilizados no Santo Daime para designar os


dirigentes da igreja.
2 Itã (em iorubá: Ìtan) é cada um dos relatos míticos da cultura iorubá. Eles são
passados oralmente de geração a geração (LOPES, 2014).
6

voluntariado, fiquei responsável somente por tirar as fotografias, não criei


nenhum projeto e não usei nenhum dado de pesquisa.
Após terminar com esse voluntariado e agradecendo pela Professora
Joseline por essa experiência de pesquisa, realizei uma pesquisa de campo
para a disciplina de Antropologia em uma loja de produtos naturais localizada
em uma feira pública no bairro Liberdade, em Marabá. Entrevistei o senhor
Sérgio Moura, de 59 anos, natural de Belém, na qual me informou que foi
criado pelos seus antepassados por intermédio das plantas, de produtos
naturais e de uma medicina alternativa. Quando eu perguntei a ele sobre a
relação com as plantas e como ele se sentia em relação a elas, ele respondeu
que sentia que fazia parte dela (a planta).
“Eu me sinto, eu me sinto que sou parte, ela faz
parte de mim eu faço parte delas, eu faço parte delas
quando eu cuido, quando eu trato, quando eu me planto,
quando eu cultivo, e ela faz parte de mim quando ela me
cura, quando ela me trás um retorno, então é uma
relação muito profunda né, do homem com a natureza
né, eu me envolvo muito nessa questão, eu gosto de
cuidar e gosto também de usufruir que ela traz benefício,
que é uma coisa que se nós pudéssemos tomar cuidado
do nosso planeta em relação a esse a cultivo, vamos
dizer assim, dessas plantas medicinais o mundo seria
bem melhor” (MOURA, 2018).

Logo em seguida continuei tomando ayahuasca, dentro dos anos que


passei no curso, e cada vez mais compreendia que precisava fazer meu
trabalho de conclusão de curso sobre os conhecimentos das pessoas que
cultivavam e usavam as plantas medicinais e ritualísticas.
Assim, um amigo André Silva dos Santos3, deu a ideia de realizar uma
pesquisa sobre as plantas utilizadas em um terreiro de Umbanda. Escrevi um
pré projeto e realizei o primeiro campo no Terreiro de Umbanda Mina Nagô São
Rafael, também conhecida pelos integrantes como “aldeia” para se referir ao
terreiro, conversei com um preto velho (entidade da umbanda) sobre a
possibilidade de realizar minha pesquisa sobre ervas naquele terreiro, ele me
respondia que os pretos velhos e os caboclos sabiam muito sobre as ervas e
que era para mim conversar com o pai de Santo da casa para ele me
acompanhar na pesquisa, e que caso ele não conseguisse, poderia arranjar
outra pessoa para me guiar.
● Imponderáveis na pesquisa

3 Doutora em Antropologia pela Universidade Federal do Pará- Programa de Pós-


Graduação em Antropologia (PPGA) (2015). Professora Adjunto da Universidade Federal do
Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA), lotada no Instituto de Ciências Humanas (ICH) na
Faculdade de Ciências Sociais do Araguaia-Tocantins, onde ministra disciplinas de
Antropologia.
7

De acordo com Neto e Amaral (2011) a antropologia utiliza-se de


diversos métodos de pesquisa etnográfica a fim de construir uma reflexão
sobre seu objeto de estudo:
Independentemente do método escolhido, o pesquisador está exposto
a certas situações práticas que o levam a enfrentar dificuldades cujos
livros não o apresentaram anteriormente, são os imponderáveis da
etnografia. Estes imponderáveis estão muito presentes quando o
objeto de estudo está imerso na área religiosa.

Sobre a origem do tempo podemos afirmar que:


Imponderáveis é um termo originalmente utilizado por Malinowski
quando analisa metaforicamente as etapas do trabalho de campo,
sobre as atividades corriqueiras do nativo. Porém este cotidiano não
diz respeito à vida do nativo, mas a de quando o pesquisador está
sujeito a aplicar algum dos métodos da antropologia em sua prática
de pesquisa, ou seja, os problemas encontrados durante o estudo
(NETO; AMARAL, 2011).

Durante a primeira ida ao terreiro de Umbanda São Rafael, cometi o erro


de esquecer de levar o diário de campo, impossibilitando de escrever.
Na ida ao terreiro São Rafael em 2019, a encantada Tereza Légua citou
a palavra “Boró”, porém não anotei seu significado, pois falou muito rápido e o
som dos tambores estavam muito altos, impossibilitando de entender a
simbologia da palavra.
Durante o campo em agosto de 2021 no Templo São Miguel, perdi todos
os dados da minha pesquisa que estavam inseridos no meu celular, não
consegui recuperar, pois o display da tela queimou.
8

2. ERVAS UTILIZADAS NO CENTRO DE ILUMINAÇÃO CRISTÃ LUZ


UNIVERSAL SÃO PEDRO
● Breve Contextualização do município Marabá/PA.

Segundo a dissertação de mestrado de Idelma Silva (2006), a cidade de


Marabá, no Sudeste do Pará, é uma região de migração e ocupação:
Sua trajetória iniciou-se em fins do século XIX, sendo marcada por
contínuos movimentos migratórios, a partir de frentes diversas de
ocupação da região e/ou deslocamento de mão-de-obra em função
do que se convencionou denominar “ciclos econômicos” . Por isso,
também marca sua trajetória a migração sazonal e a presença de
população flutuante. Além disso, ainda atualmente há migrações para
o sudeste do Pará. Em Marabá continuam chegando migrantes de
outras regiões e também provenientes dos deslocamentos intra-
regional. Um exemplo é a migração de maranhenses em busca de
trabalho nas siderúrgicas, sediadas nesta cidade.

De acordo com o IBGE (2022), Marabá possui uma população estimada


de 287.664 pessoas e sua área territorial contém 15.128,058 km². Com isso,
para Sompré (2018), a população da região sudeste do Estado do Pará convive
há cerca de trinta anos com uma relação de conflito:
Fruto da instalação de um dos maiores empreendimentos de
exploração mineral do mundo - Carajás - pela empresa VALE S.A,
que explora principalmente o minério de ferro. A produção é
exportada para diversos países, principalmente a China, através do
Porto de Itaqui, no Estado do Maranhão. Acontece que, para chegar
ao Porto de Itaqui, o minério percorre um longo caminho (890 km)
pela Estrada de Ferro Carajás (EFC), que atravessa terras indígenas,
terras quilombolas e pequenas propriedades rurais, causando
inúmeros impactos negativos e desconforto para as populações que
vivem ao longo da ferrovia [...] Na região sudeste do Pará, a EFC
atravessa aproximadamente 18 quilômetros a Terra Indígena Mãe
Maria (TI Mãe Maria), onde vive o povo conhecido como Gavião,
pertencentes ao tronco linguístico Macro-Jê; como resultante deste
atravessamento, os Gavião têm sido prejudicados em seu território,
meio ambiente, cultura, relações familiares, entre outros impactos.

Ainda sobre os indígenas afetados pelo minério e grandes


empreendimentos da região:
Gaviões ocidentais (ou da mata) - que permaneceu sem contato
definitivo até meados dos anos 50, entre 1921 e 1945, verificou-se
uma série de intervenções do Estado para controlar os conflitos entre
seus componentes e os regionais ao lhes conceder e pendurar terras
até a promulgação de dois decretos estaduais de concessão (1943 e
1945); igualmente através de ações do Estado, sucessivas remoções
compulsórias acabaram por reunir distintos grupos locais em uma
única área - a atual Terra Indígena Mãe Maria, município de Bom
Jesus do Tocantins (a 30 km de Marabá), no sudeste do Estado do
Pará. - e em uma só aldeia (FERRAZ, 1998).

● Centro de Iluminação Cristã Céu de Cerejeiras


9

Minha primeira experiência com o daime, como havia escrito no capítulo


anterior, foi por meio de uma disciplina de Teoria Antropológica II em 2016,
coordenada pela professora e orientadora Gisela Macambira Villacorta. Foram
oito alunos ao campo no Centro de Iluminação Cristã Céu de Cerejeiras, a
experiência foi tão intensa que não consegui finalizar minha etnografia para a
disciplina, mas lembro bem de alguns detalhes. Antes de ir ao Daime, foi nos
aconselhado a passar três dias sem comer carne, sem beber bebidas
alcoólicas e fazer sem sexo antes de ir tomar a ayahuasca.
Figura 1. Primeiro trabalho de campo no Santo Daime em 2016.

Fotografia: Gisela Macambira Villacorta.

Chegando no dia onze, sábado, meu tio me deixou na casa da minha


colega por volta de umas 14h00min, íamos juntas pegar o ônibus para ir ao
encontro do resto da turma na casa da nossa professora. Eu tenho problemas
de ansiedade, não consegui comer direito antes de ir e tive problemas pra
dormir também, junto com a ansiedade estava o medo, medo da nova
experiência, de como eu iria lidar com o chá, antes de ir, podia não parecer,
mas estava com os pensamentos a mil, péssimos pensamentos, pensamentos
preocupados.

Na casa da professora, Alana Silva fez excelentes sanduíches


vegetarianos para levar, mas também decidimos comprar dois bolos para levar,
assim ficamos ali, conversando e tentando parecer que não estávamos
ansioso, quando deu umas 17h00min fomos para frente da faculdade esperar
nossa carona, compramos o bolo e nos esprememos no carro de um homem
fardado no Centro que estávamos indo.

Chegando lá, o lugar era como eu imaginava ser, um sítio com grama e
árvores, bem espaçoso e calmo. Tem um fogão a lenha onde acontece o feitio
da ayahuasca, a mistura do cipó jagube e a rainha. Colocamos as coisas na
10

mesa próxima ao fogão e fomos conhecer o lugar, e lavar o salão. No canto da


parede, tem uma mesa onde se coloca os litros da ayahuasca e os copos,
vemos a cruz do santo daime em cima, mais uma imagem da virgem Maria e
algumas velas.

O salão é composto de vários símbolos, no centro uma mesa em


formato de estrela judaica, a imagem da Virgem Maria em cima, o cruzeiro do
Santo Daime embaixo dela, uma pedra embaixo da mesa para canalizar as
energias, em cima da virgem tem cristais em forma de gota, e no teto mais uma
estrela judaica. No canto superior direito, ficam os músicos, tambores, violões,
flautas e às vezes tocam o som de um apito imitando o barulho de uma ave. Do
lado esquerdo, após o muro do salão, tem algumas rainhas plantadas.

Do lado de fora, tem a cruz do santo daime sobre a cruz do judaísmo, lá


atrás tem algumas plantações de rainha e de jagube. Na frente, próximo ao
fogão, tem um lugar específico onde as pessoas se juntam para tomar rapé.

Quando estava muito na “força”, entrei no banheiro e fiquei trancada lá


por cerca de vinte minutos, ficava pensando em ligar para meu pai e pedir que
fosse me buscar no sítio, achava que ia morrer, tudo girava. Lembro de uma
das minhas colegas de campo, ela batia na porta do banheiro e perguntou se
estava bem, respondi que sim e consegui sair. Após sair, ela passou um óleo
no meu braço para que eu pudesse cheirar e me acalmar, realmente ajudou 4.
Voltei para o salão, sentei na cadeira, tive uma “miração” 5 Incrível com
uma floresta, senti uma cachoeira no local e ao mesmo tempo, vomitei ali
mesmo, do lado da minha cadeira, no meio do “trabalho”. Não conseguia
levantar, não conseguia falar, tudo o que me restava era olhar a minha
“limpeza” no chão e ter miração com uma floresta, rios e animais. Alguns
segundos depois, a “madrinha” do centro limpou o local e vi meu amigo André
pela primeira vez, conheci ele neste Centro do Santo Daime, e nessa noite seu
rosto tinha a forma de uma caveira.
Com o passar do tempo, a intensidade do psicoativo vai diminuindo e
ficou mais fácil entender o que realmente tinha acontecido, alguns tomavam
rapé naquela noite, mas sentia que ainda não estava preparada.
O rapé (dume deshke) é uma medicina para ser usada nas vias
nasais. É um pó em geral feito de tabaco e cinzas de cascas de
árvores, tais como cumaru (kumã), murici (yapa), pau-pereira, canela-
de-velho (xiwe mapu), cacau (txashu desha), ouricuri (tashkã) e
mulateiro. Essas cinzas são também chamadas de medicinas, pois
não se prepara o rapé com cinzas de qualquer árvore, mas com
aquelas que têm certas propriedades. O rapé pode ser usado
individualmente por meio de um curipe (ou kuxipa), ou assoprado por
uma pessoa em outra, com um tepi. Deve-se aplicar nas duas
narinas, uma por vez. Quando uma pessoa recebe um sopro (ou ela
mesma se aplica), ela deve suspender por um momento a inspiração
nasal, mantendo a respiração pela boca. Da mesma forma, não se

4 Acadêmico de Licenciatura em Biologia (UEPA).


5 Doutora em Ciências Sociais com concentração em Antropologia (intercâmbio na
UFRGS-Antropologia). Professora da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará
(UNIFESSPA), Líder do Núcleo de Estudos Xamanísticos na Amazônia (NEOXAMAM).
11

deve engolir o resíduo do rapé, mas cuspi-lo após algum tempo


(MENESES, 2018).

Após a minha primeira experiência, precisei de quase um ano para


poder conseguir voltar e tomar novamente, parei de tomar e de pesquisar
durante esse tempo, pois sentia que precisava de um momento para refletir
sobre tudo que senti.
Quando voltei, em 2017, tive a vontade de tomar rapé e sananga pela
primeira vez, algo que também mudou a minha vida. Segundo Meneses (2018),
a sananga (Tabernaemontana sananho) é uma medicina feita do sumo da
casca de uma raiz e é aplicada nos dois olhos, como um colírio:
Uma das diferenças em relação aos colírios dos brancos é que esta
arde e provoca lágrimas. O ardor pode variar muito, dependendo do
“grau” da medicina. A sananga deve ser usada preferencialmente
fresca e seu recipiente guardado num local também fresco para que
não estrague. Para os Huni Kuĩ, além de curar nisũ (panema), maus
pensamentos e dor de cabeça, a sananga pode proporcionar curas de
problemas oculares por meio de tratamentos com uma série de
aplicações.

Passei a tomar daime em todos os centros da cidade, ia como visitante.


Aprimorando a habilidade com a música, após tomar ayahuasca todos os fins
de semana, aprendi a tocar instrumentos como maracá, tambores, violão,
ukulele e participava dos estudos de hinários dentro das doutrinas do Santo
Daime em Marabá. Sentia-me cada vez mais próxima e conectada com a
Rainha e o Jagube, as ervas do rapé e a sananga.
Levando em consideração a habilidade de aprender um instrumento, “o
movimento corporal do praticante é, ao mesmo tempo, um movimento de
atenção; porque ele olha, ouve e sente, mesmo quando trabalha” (INGOLD,
2010).
Segundo Ingold (2010) em relação a experiência e a transmissão de
conhecimento:
O papel da experiência e da transmissão geracional nos modos pelos
quais os seres humanos conhecem e participam da cultura.
Questiona o pressuposto da ciência cognitiva de que o conhecimento
existe principalmente na forma de ‘conteúdo mental’ que é passado
de geração em geração, e que a cultura é a herança que uma
população recebe de seus antepassados.

Levando em consideração essas experiências de campo com o uso das


medicinas da floresta, percebo essa relação das pessoas com o uso das
plantas. Ingold coloca que a vida social dos seres humanos está intimamente
envolvida com o restante da natureza, como parte do que está acontecendo
nela, em um movimento de troca entre o humano e o não humano (INGOLD,
2015, p.32).
O uso ritual da ayahuasca proporciona momentos de interação entre
homem e a natureza, que se configura em uma totalidade mística, panteísta
que parece estar atrelada às maneiras de saber que envolve o culto ecológico
presente no mundo alternativo (SOARES, 1994, p.198).
12

● Centro de Iluminação Cristã Luz Universal São Pedro

Foi realizada uma entrevista com o Sr. Nelson Lima do Centro de


Iluminação Cristã Luz Universal São Pedro, dia 01 de maio de 2021, para
conhecer as ervas e plantas utilizadas dentro do ritual do Santo Daime.
Perguntei-lhe sobre qual seria as plantas utilizadas na defumação e ele me
respondeu:

“A nossa defumação é o alecrim e a almesca, nós usamos o alecrim


que é uma defumação para limpeza do ambiente, das energias, das
energias mais pesadas. E a almesca é uma conexão com o astral,
com os seres extraterrestres, com os seres mais evoluídos que nós.
O alecrim eu compro, porque o que eu tenho aqui, eu tenho pé de
alecrim plantado, mas eu ainda não sei fazer, tem que ressecar, tem
que desidratar, e também não tenho em grande quantidade. A
almesca, eu pego sempre em Araguaína, na casa da minha sogra
tem bastante pé de almesca, aí eu trago a resina e o caule, eu
raspo o caule e pego aquelas “farpas” de caule e coloco em um
frasco grande, e ali ela tem o mesmo cheiro, na hora que pega na
brasa ela queima e no próprio caule já tem a resina” (LIMA, 2021).

De acordo com essa percepção sagrada do ambiente, Chiesa (2017),


em diálogo com os pensamentos de Tim Ingold e Gregory Bateson, expõe que
para termos uma percepção sagrada do universo, de tudo ao nosso redor e até
de nós mesmos, devemos estar atentos ao momento presente:
Temos que estar ligados aos movimentos de “continuidades, as
conexões, aos fluxos que percorrem, unificam e atravessam todo o
ambiente”, ou seja, “estabelecer conexões ou (re)ligações entre
diferentes planos ou dimensões, entre os próprios seres humanos (e
não-humanos)”. Desse modo, perceber o ambiente/mundo de
maneira sagrada, significa dizer que devemos ter um olhar mais
aguçado e atento a vida e as suas continuidades, exercitando o afetar
e ser afetado, por esse universo de infinitas possibilidades, “ver para
além daquilo que se vê” (CHIESA, 2017, p. 428).

Quando lhe perguntei a importância da defumação para o trabalho no


Santo Daime, ele me falou que é para limpeza do ambiente, a limpeza pesada.

“As pessoas que frequentam um centro espírita, elas trazem energias


junto delas, pregado mesmo na aura, e elas deixam no local, é como
se fosse um rastro, de uma pessoa ou de um animal, ela fica
impregnado dentro da casa. Então a defumação ela serve para fazer a
limpeza dessas energias, é como se fosse um bloqueador desse tipo
de energia. E como havia falado, a almesca a gente usa para o contato
com os seres divinos através da fumaça” (LIMA, 2021).

Percebe-se que a relação das ervas durante a defumação, estabelece


uma conexão espiritual com outros seres do astral e promove uma limpeza
energética do ambiente. Através dessa experiência com o sagrado, fica
estabelecido um movimento de ambiente-mundo, onde através das plantas, se
alcança um determinado processo de cura.
13

A experiência do sagrado corporificado na natureza, que evoca energias


e forças que remetem para uma ‘outridade’ que não se esgota nas
representações culturais e linguísticas, encontra no habitus ecológico
contemporâneo um importante ponto de ancoragem e de plausibilidade (STEIL
& CARVALHO, 2008, p.302).
O “cuidado da alma compreende igualmente um domínio de saberes
relativos a novas formas de espiritualidades, terapias alternativas, meditação,
dentre outras” (STEIL & CARVALHO, 2008, p.290).

Figura 2 . Plantas usadas na defumação durante os trabalhos no Santo Daime, a esquerda a


Almesca (Protium spruceanum (Benth.) Engl.) e na direita o alecrim (Rosmarinus officinalis L.).
14

Fonte: Fotografia tirada pela autora.

Perguntei ao Sr. Nelson sobre a importância da doutrina do Santo Daime


e do chá (Daime) e ele respondeu:
15

A importância (do daime) para a humanidade é muito grande, a gente


vive em um momento bastante conturbado, as idéias estão muito
abertas para certos tipos de comportamentos, e isso prejudica muito.
O daime ele vem como um ponto de equilíbrio, o que você deve fazer
pra você ser feliz? Junto a sociedade e a sua família (como um todo)?
Outra parte também que eu vejo, é que o daime é bastante útil, é no
uso de drogas pesadas, você vê que a humanidade hoje ela está tão
pesada por essa busca, por essa procura, porque a nossa vida é
simples [...] Quando você vive uma vida simples, você tem mais
chance de ser feliz, e quando você busca muito, você nunca vai
encontrar o ponto certo, pois o equilíbrio ele não está em uma busca
de sucesso ou de coisas diferentes, ele está na simplicidade, naquilo
que é simples, então o daime nos mostra isso, que a gente complica
demais a nossa vida [...] O terceiro ponto seria essa angústia, essa
procura desenfreada pelo sucesso, por coisas diferentes, por isso e
aquilo, a gente vê isso até mesmo dentro da doutrina, as pessoas
querendo inventar moda onde não tem, então essa procura
desenfreada ela vai adoecendo a gente, você sempre vai querer mais
e mais e nunca vai chegar no topo, quanto mais você tem, mais você
quer, conhecimento quanto mais você tem, mais você quer, dinheiro
quanto mais você tem, mais você quer, sexo...Então o ponto de
equilíbrio está na simplicidade, e quando você tem essas coisas em
abundância, ao extremo, você acaba adoecendo (LIMA, 2021).

Segundo COELHO(2019), os valores ecológicos experienciados por


esses grupos, estão associados a presença de uma sacralidade que envolve a
natureza, e por meio dessa interação com o ambiente unida ao uso ritual da
ayahuasca podem ocorrer processos de cura e restauração da saúde física,
mental e espiritual.
Continuando com a entrevista e em diálogo com as pesquisas sobre
processo de cura com o Santo Daime, Sr Nelson fala que nunca viu a
humanidade tão doente, nunca havia visto tantas pessoas com depressão e
viciados em droga.

O daime ele serve pra isso também, equilibrar o organismo e jogar


aquela energia ruim que nós temos, que futuramente vai virar uma
doença [...] O nosso ser, ele é formado de matéria e espírito, a
matéria é as células e o espírito é a energia. O daime serve pra isso
também, afastar as doenças físicas e espirituais do nosso organismo,
eu vejo essa doutrina, como a ferramenta mais importante que nós
podemos usar para viver nesse mundo (LIMA, 2021).

No entanto, segundo Groisman (1999) as religiões ayahuasqueiras não


se enquadram em um sistema xamânico de conhecimento, contudo estaria
imersa a uma práxis xamânica com formato e linguagem cristã (FERNANDES,
2018, p. 296).
Segundo Nelson (2021), o daime é uma doutrina que veio do astral para
nós, chegou um momento certo que Nossa Senhora, ela iria entregar a
ayahuasca para uma pessoa, para que dentro dessa bebida, dessa concepção,
a humanidade tivesse um outro portal, um outro conhecimento em outra
frequência, seria um conhecimento mais pro lado do cristianismo.
De acordo com Chiesa (2016, p. 256):
16

Essa percepção “sagrada” do ambiente, que se relaciona a uma


determinada forma de compreender e vivenciar a saúde e a doença.
A consciência de que produzimos, afetamos e somos afetados por
essas “forças” que circulam pelo ambiente exige de nós um
redobrado cuidado ou estado de atenção que vai além dos cinco
sentidos físicos. Exige de nós um saber ser afetado, de uma maneira
saudável, por tudo aquilo que nos envolve e afeta. A restauração da
saúde implica, portanto, num processo de aprendizado e
transformação da percepção do ambiente e, de maneira indissociável,
do próprio ser.

Finalizando a entrevista, Nelson afirma que vê a doutrina como uma


dádiva dos seres divinos, e que em determinado momento ela veio para o
Mestre Irineu e hoje permite mudar a vidas das pessoas, onde segundo ele a
doutrina está "tentando curar essa nossa humanidade tão doente" (LIMA,
2021).

A antropologia de Tim Ingold parte do pressuposto de uma simetria que


aproxima os seres humanos aos animais, rios, mar, pedra, folha. Tudo está
vivo e interligado, onde todos partilham de um mesmo ambiente-mundo. Como
a vida está em tudo e tudo tem vida, as folhas dentro do Santo Daime tem uma
importância para além da matéria, para uma dimensão do que chamam de
"astral".
As folhas, por sua vez, estão vivas, estão completamente imersas no
ambiente-mundo. Segundo Coccia (2016), a vida vegetal é a vida enquanto
exposição integral, em continuidade absoluta e em comunhão global com o
ambiente. Ela complementa dizendo:
“Sua ausência de movimento é apenas o reverso de sua adesão
integral ao que lhes acontece e a seu ambiente. Não se pode separar
a planta do mundo que a acolhe. Ela é a forma mais intensa, mais
radical, mais paradigmática do estar-no-mundo. A planta encarna o
laço mais íntimo e mais elementar que a vida pode estabelecer com o
mundo” (COCCIA, 2016).

Utilizar as plantas em um ritual, trás a tona, a utilização da vida das


plantas para a existência de outros viventes. Coccia (2016) afirma que:
“Toda a forma de vida exige que já haja vida no mundo. Os homens
precisam da vida produzida pelos animais e pelas plantas [...] Viver é
essencialmente viver da vida de outrem: viver na e através da vida
que outros souberam construir e inventar. Como se a vida em suas
formas mais complexas e articuladas nunca passasse de uma imensa
tautologia cósmica: ela pressupõe a si mesma, só produz a si mesma.
É por isso que a vida parece só pode se explicar a partir de si
mesma.”
17

Tabela 1. Plantas utilizadas no São José.


Família Nome Nome popular Forma de Parte Origem
científico uso usada

Burseraceae Protium Almesca; Defumação Casca Nativa


spruceanum Amescla; Breu
(Benth.) Engl. Branco;
Almecegueira

Lamiaceae Rosmarinus Alecrim Defumação Folhas Exótica


officinalis L

Rubiaceae Psychotria Rainha; Chá; Folhas Nativa


viridis Ruiz & Chacrona Decocção
Pav.

Malpighiaceae Banisteriopsi Jagube; Cipó; Chá; Caule Nativa


s caapi Mariri Decocção
(Spruce ex
Griseb.)
Morton
Fonte: Tabela feita pela autora, dados confirmados pela Flora do Brasil (2021).
18

3. ERVAS UTILIZADAS EM RITUAIS DO SAGRADO FEMININO


A partir de dois mil e dezessete, conheci os círculos de sagrado
feminino, organizado por mulheres que participavam da Doutrina do Santo
Daime em Marabá, no começo não fui como pesquisadora, porém no ano
seguinte percebi que já estava imersa e sentia facilidade em continuar naquele
campo, realizando uma etnografia participante. Ajudava no que era preciso e
observava as características dos rituais.
Os encontros aconteciam uma vez ao mês, sendo cada encontro um
tema ou arquétipo diferente. Foram-se criando com o tempo outros círculos em
outros centros, sempre com o mesmo viés.
Os encontros do Sagrado Feminino utilizam de arquétipos para
promover a representação feminina utilizada durante anos, por diversas
culturas e em diversas épocas. “Os arquétipos são os componentes da camada
da psique comuns a todos chamada inconsciente coletivo [...] É a fôrma de
onde saem as mesmas ideias comuns a toda humanidade. ” (PAULA, 2008)
Para tratar do arquétipo feminino na concepção Junguiana, WOOLGER
(1994, p. 15-16) conceitua a Deusa como:
A forma que um arquétipo feminino pode assumir no contexto de uma
narrativa ou epopéia mitológica, [...] o que vale dizer, fontes
derradeiras daqueles padrões emocionais de nossos pensamentos,
sentimentos, instintos e comportamento que poderíamos chamar de
‘femininos’ na acepção mais ampla da palavra. Tudo o que pensamos
com criatividade e inspiração, tudo o que acalentamos, que
amamentamos, que gostamos, toda a paixão, desejo e sexualidade,
tudo o que nos impele à união, à coesão social, à comunhão e à
proximidade humana, todas as alianças e fusões, e também todos os
impulsos de absorver, destruir, reproduzir e duplicar, pertencem ao
arquétipo do feminino.

O arquétipo de Deusa está presente em várias culturas e religiões, como


no Período Paleolítico:
Nesse período, a religião era baseada nas forças da natureza e a
Deusa era a Tellus Mater, a mãe Gaia. Entre ela, outras deusas que
mais se destacam na história Ísis, no Egito, Gaia, em Creta, Rea em
Micenas, Deméter, no santuário de Elêusis, Hera na cidade de
Atenas, Afrodite, na Frígia, Ártemis, em Éfeso, Dea, na Síria, Anaitis,
na Pérsia, Isthar, na Babilônia, Astarte, na Fenícia, Atargatis, na
Cananéia, Mâ, na Capadócia, Bendis e Cottyto, na Trácia. Conhece-
se também várias personificações dos horrores femininos que
derivam da suprema Mãe Terrível, como as Górgonas, as Fúrias ou
Erínias, as Keres, as Sereias, as Harpias, Lâmia, Êmpusa, Circe, Cila,
Caríbdis, Kali, Sin, dentre outras. (RIBEIRO, 2008)

Existe uma infinidade de símbolos que representam o feminino, para a


filosofia chinesa por exemplo, existe o yin e o yang que significa os opostos, luz
e escuridão, terra e céu, e o feminino é representado pelo yin e pela terra, tanto
para os chineses, como para outras culturas, a terra também é vista como
representação do feminino, simbolizando o criar, o gerar vida, da fecundidade e
19

gestação. Outra representação bastante comum é a Lua, principalmente devido


à mudança dos ciclos da menstruação e da fertilidade.
Com todas as representações dos arquétipos femininos, pude perceber
que o Sagrado Feminino, dentro do contexto ritualístico com o uso da
ayahuasca, introduz com muito mais aprofundamento as informações e
conhecimentos apresentados em cada ritual, ajudando a melhorar o estilo de
vida e a reviver as práticas culturais de círculos de mulheres.
Segundo pesquisas de ASSIS; LINS & FARIA (2014):
O uso da ayahuasca melhora a subjetividade do indivíduo e a
qualidade de vida, melhora a relação de autoconhecimento, ajuda no
tratamento de dependência, ajuda a melhorar o domínio de si e do
ambiente, ou seja, por meio das mirações, a ayahuasca mostra
aprendizados que permite a pessoa adquirir hábitos como práticas de
exercícios físicos, de bem-estar, cuidados com o corpo (dietas e
abstinências) e desenvolvimento de autocontrole. Ajuda também com
relações sociais, que induzido pelas mirações e principalmente pela
comunicação, permite à pessoa melhorar comportamentos com
familiares e amigos.

Junto com isso tive a percepção de que os encontros de Sagrado


Feminino, com várias mulheres reunidas, gera à alguns homens uma potência
de perigo, aos dogmas e preceitos machistas. Manifestado com olhares,
reclamações ou indicações de que os encontros não seriam necessários, que
não precisassem tomar ayahuasca.
De acordo com Machado (2019):
Hoje o estudo do sagrado feminino bem como as suas práticas vem
respondendo a essa sociedade machista, pelo empoderamento e
resgate dos saberes sagrados. O movimento nesse sentido é para
dentro, a busca do contato com seu eu mais profundo, o
autoconhecimento, a intimidade com suas fases lunares, com sua lua
interna [...] A aliança entre o movimento do sagrado feminino ao
empoderamento da mulher no movimento feminista é o casamento
perfeito, tendo em vista que enquanto o primeiro busca o
desenvolvimento interno, o segundo busca empoderar a mulher na
luta dos seus direitos e seu papel na sociedade.

Partindo disso, realizei um trabalho de campo em dois mil e dezoito,


onde entrevistei a Madrinha6 Alessandra e a facilitadora Glenda Carvalho, para
saber a perspectiva delas sobre o sagrado feminino e como começou.
Me chamo Alessandra, eu sou da igreja, faço parte igreja Céu de
Cajueiro, onde nós desenvolvemos o estudo do sagrado feminino,
começamos a realizar nossos estudos do Sagrado Feminino a mais
ou menos dois anos, e ele tem o intuito de aproximar as mulheres
para que a gente possa, juntas, estudar a fundo parte do que éramos,
o que fazíamos, resgatar realmente aquilo que nossas avós, nossas
bisavós elas faziam, então tem dado muito certo os nossos encontros,
que acontecem de dois em dois meses, uma vez por mês, e eu faço
conjunto com a minha filha, com a minha mãe, com a minha sogra, as

6 A tela do celular queimou, me impossibilitando de colocar um novo display ou de


salvar em um drive.
20

irmãs membras também da igreja, e visitantes [...] É tão bom que a


partir da primeira vez que fazemos parte nós não queremos mais
parar, então a minha colocação aqui é só de agradecimento, e só sei
que tenho muito que aprender, muito em que colocar em prática e só
agradecimento. (ALESSANDRA, 2018)

Meu nome é Glenda Carvalho, e meu primeiro contato com o sagrado


feminino foi através do Centro de Iluminação Estrela Iluminada, aqui
em São Luís no Maranhão, por meio das mulheres que são fardadas
aqui no centro, elas são fardadas e elas começaram a fazer um
trabalho que elas chamam de trabalho de mulheres. O primeiro
encontro do sagrado feminino foi em dois mil e dezessete, e esse
círculo ele se baseou em começar estudos que falassem do resgate
desse feminino, da mulher, do resgate da ancestralidade, falar da
construção de uma irmandade entre mulheres e se desvencilhar de
paradigmas que ocorre uma separação entre elas, essa foi a nossa
proposta de começar esses encontros e também para consagrar o
daime apenas as mulheres juntas, que é uma característica própria
de mulheres que são da doutrina, do daime, o objetivo foi pra isso,
para fortalecer esse vínculo. Então na minha perspectiva o estudo do
sagrado feminino ele é fazer esse resgate, o resgate da
espiritualidade [...] É construir uma nova irmandade, entre mulheres,
uma nova irmandade nesse tempo atual, e ao mesmo tempo fazer um
resgate de conhecimentos ancestrais. O sagrado feminino também
está relacionado com a cura interna, principalmente com a cura
familiar, o aspecto principalmente entre a relação mãe e filha, da
relação mãe e avó, de reverenciar essas mulheres que batalharam e
que deram todo apoio para essas mulheres atuais e que também
sofreram ao longo do tempo por conta do sistema patriarcal
(CARVALHO, 2018).

Durante a pesquisa, realizei uma etnografia e participei de um dos rituais


do Sagrado Feminino deste grupo intitulado "Beija Flor Dourado”. Os registros
a seguir são frutos do meu diário de campo. Antes de iniciar o “trabalho” com a
ayahuasca, foi feita uma prática de yoga, conforme a figura 3.

Figura 3. Prática de yoga antes de começar o ritual.


21

Fonte: Fotografia tirada pela autora.

Às nove horas da noite, iniciamos os trabalhos, antes de todas tomar o


daime, começamos a cantar, sentamos em um círculo ao redor de uma
fogueira, colocamos uns panos no chão e utilizamos para fazer música um
violão, um tambor xamânico e maracás. Cantamos para iniciar o trabalho a
música Eu devo amar do Mestre Irineu, enquanto cantávamos, começaram a
se levantar aos poucos, enquanto umas saiam, outras iam e formavam uma fila
de até duas pessoas para comungar o daime, sob a mesa decorada com uma
jarra de vidro com a ayahuasca, uma vela e um pequeno pedaço de jagube.

Houve um momento de silêncio então Jhenni, uma das integrantes do


círculo, disse que havia trago o hinário criado pela Glenda e apresentado a
todas no círculo anterior só com músicas daimistas que falam sobre o arquétipo
de mulher. A facilitadora disse que ela podia cantar e puxar as músicas, então
cantamos a música Encostado a minha mãe do Mestre Irineu.

Às nove e vinte e três, já me encontro na força, nesse momento, lembro-


me do quanto foi difícil ficar lembrando de colocar os áudios para gravar, fazer
etnografia após tomar ayahuasca é um processo muito trabalhoso, fiquei o
22

tempo todo achando que os áudios não estavam saindo ou tinha alguma coisa
de errado com o que eu estava fazendo, não consegui me concentrar direito e
não gostei de tirar fotos na força, achava que as pessoas não estavam
gostando e que estava sendo inconveniente, mas na verdade era só a força
mesmo me dando “peia” (popularmente conhecida entre os adeptos do Santo
Daime quando se refere à sensações desagradáveis, durante a utilização do
chá, como vômito, náuseas, tremedeiras e mal estar) .

Essa força me deu muita vontade de dançar, todas as músicas que


tocava eu já conhecia, fiquei dançando sentada, com a cabeça e com as mãos,
eu mexia as minhas mãos de acordo com o ritmo das músicas e ia fazendo
coreografias internamente.

A fogueira soltava faíscas que se juntavam ao vento, estávamos dentro


da floresta, e senti na força, que as árvores por perto estavam dançando
também junto com as músicas e as fogueiras, de repente, comecei a achar que
as árvores estavam na força também e que estavam festejando junto com a
gente. Elas dançavam à luz da fogueira e com o movimento da música.

Enquanto isso, Camila, uma das integrantes, tocou o tambor enquanto


as outras tocavam maracá e cantavam a música Iemanjá de Léo Artése.

Silêncio de alguns minutos, então Camila começou a tocar o tambor ao


som das batidas do coração e depois de mais alguns minutos de silêncio,
começaram a cantar de novo a música Minha rosa do Jardim do Mestre Irineu.

Quando parou a música, Glenda começou a falar: “Meninas, então a


gente vai dar início a meditação, anteriormente, eu acho que a gente pode
conversar um pouco, eu vou conversar aqui com vocês. Esse trabalho, esse
encontro sagrado, está sendo realizado no primeiro dia de lua crescente, a lua
crescente ela simboliza a prosperidade, o crescimento de novas oportunidades
no nosso caminho.

Ela representa também novas energias que estão crescendo dentro da


gente, um poder que nos leva para a lua cheia, que é a transformação, que é a
demonstração do poder maior, que é o poder da mãe, e como nós estamos
aqui neste momento, eu quero que a gente tente pensar no crescimento de
23

coisas prósperas, momentos e situações prósperas na nossa vida, e sempre


pensando, que eu menciono bastante, que não é só para nós mas para
aqueles que estão à nossa volta.

Nós estamos entrando nessa meditação para tratar do chakra cardíaco,


que nós já vimos, nós estamos estudando esses chakras desde o início do ano,
os chakras na verdade, e nós estamos no quarto chakra, é algo interessante
que tenho trazido para vocês, o primeiro chakra é o chakra básico, e ele está
relacionado a manifestação do eu sou, que é a manifestação com a terra, o
elemento do chakra básico é o elemento terra.

Posteriormente, nós temos o elemento água, que representa o chakra


sacro, que foi segundo chakra que nós estudamos, que está relacionado a
manifestação da criatividade, a criatividade que é um poder da mulher e do
homem, e manifestando a nossa potencialidade maior, de sermos criativos, não
só em fazer algo grandioso, mas também pequenas coisas no nosso dia a dia,
seja em preparar uma comida, seja em desenhar, seja em pintar, mas
manifestar a nossa criatividade.

E posteriormente, nós temos o nosso chakra plexo solar, que é o chakra


que está próximo ao umbigo, o elemento dele é o elemento fogo. Então nós
viemos com terra, água, fogo e agora nós vamos trabalhar o chakra cardíaco.
O Chakra cardíaco, que está aqui próximo do nosso coração, ele representa o
elemento ar, que é o de liberdade, que é o sentimento de perdão, quando você
liberta as mágoas do seu coração, os sentimentos ruins, as tristezas profundas
que você sente dentro de si, você se abre, você se liberta, para novas
oportunidades, para novos sentimentos, então é o elemento ar, a respiração, o
sentir.

Então eu peço que a gente possa sentar em uma postura confortável e


respirar o ar que nos alimenta, o ar que purifica as nossas células, e que a
gente possa agradecer porque a gente acorda no dia e não lembra de
agradecer pela oportunidade estar respirando, o ar que é algo maravilhoso que
só em pensar em parar de respirar a gente se sente extremamente
desconfortável.
24

Então vamos agradecer o elemento ar e pensar que esse ar ele também


está dentro das nossas células, e está limpando o nosso coração, e vamos
limpar o nosso coração das mágoas, dos sentimentos que nos aprisionam,
para nos abrir para novas oportunidades, para novos sentimentos, para a cura
do nosso coração, para a cura do nosso espírito, nos abrir para o amor ao
próximo.

E principalmente para o amor a nós mesmo, porque quando gente passa


a se amar e se auto aceitar, nós passamos a amar o outro, e às vezes parece
muito fácil a gente falar “Ah se ame, se ame”, mas às vezes a gente não a tem
noção do quanto isso é importante, do quanto é difícil mas é muito importante,
você reconhecer que você tem tristezas, você tem dificuldades, mas
principalmente que você tem sabedoria, das experiências que você viveu,
então quando você reconhece que você tem falhas mas que você tem uma
sabedoria superior, você se ama.

Porque você se reconhece, como manifestação divina, e quando você se


reconhece como essa manifestação, você se ama e você pode assim amar o
outro, porque você entende que o outro também tem defeitos, mas também
que ele é manifestação divina, e todos estamos caminhando para uma
evolução, seja ela no campo físico ou espiritual, então quando nós nos
amamos, nós nos curamos, nós nos abrimos para a cura interna, e nós
transmitimos essa cura para o nosso dia a dia.

Então vamos inspirar, agradecendo esse momento, agradecendo a


oportunidade de estamos aqui, agradecer pela oportunidade de estarmos
respirando, agradecendo a oportunidade de viver essa vida, de estar nessa
existência, que possamos pedir nesse momento da meditação que esse fogo
sagrado que está aqui entre nós, possa livrar os sentimentos ruins do nosso
peito, que possa purificar o nosso espírito.

Que possamos sentir o elemento terra, nos conectando com a mãe terra,
nós já estamos nessa conexão, basta a gente reconhecer, sentir essa
percepção de estarmos com a terra. Vamos agradecer a água que é vida, que
está em nosso corpo, agradecer a água que nós nos alimentamos, que nós
bebemos para matar a nossa sede.
25

Vamos agradecer ao ar que nós respiramos, vamos agradecer ao poder


divino manifestado através da mãe natureza, agradecer ao pai, ao pai Sol, a
avó Lua, a mãe Terra, ao poder divino que nos rege, agradecer pela
oportunidade de receber dádivas divinas.

Então nesse momento da meditação, eu peço a todas que centralizam o


seu pensamento para a cura interna, ou peça a cura, para aquele que mais
necessita próximo a você, seja um parente, um amigo, ou até mesmo um
vizinho, peça a cura para o seu coração, pois um dos males que mais pesa,
que mais tem pesado na humanidade é a tristeza, é a solidão, de pensar que
está sozinho, mas não está sozinho, o tempo todo nós temos elementos a
nossa volta, dádivas divinas que estão a nos reger, espíritos guias que estão a
nos mostrar a melhor direção.

Que possamos pedir a cura para nos livrar dos sentimentos que nos
aprisionam, seja ressentimentos, ressentimentos familiares, um relacionamento
que não deu certo, desentendimento com amigos, que a gente possa se livrar
dessas mágoas, desses pensamentos, estarmos livres, com o peito aberto,
para chamar o amor interno.

Então a gente vai fazer uma meditação de em torno de cinquenta


minutos, eu vou colocar umas músicas, aí quem sentir a necessidade de tomar
o daime, é só falar com a Jana ou a Ana que está aqui do lado, que elas vão
servir novamente o daime, e se sentir vontade de tomar uma água e não tiver a
possibilidade, não estiver se sentindo bem pra se levantar e ir buscar a água,
pode falar comigo tá, que eu vou lá buscar pra você. ”

Nesse momento, ela colocou músicas com flautas NAF para tocar, eu
coloquei o celular para gravar todas as músicas porque achei importante refletir
sobre as músicas tocadas durante a meditação, foram músicas xamânicas,
indígenas, ayahuasqueiras, e que sempre voltava para o lado feminino.

A meditação deste sagrado feminino fugiu todos os estereótipos de


daimista, aconteceu na floresta, com músicas ayahuasqueiras, me senti em
casa, como se pela primeira vez estivesse no lugar certo, com o ritual certo, e
fora do padrão do salão do daime. Eu conhecia todas as músicas da
meditação, lembro-me de cantar todas, enquanto as meninas estavam
26

deitadas, eu estava sentada, implorando mentalmente para todas se


levantarem e fazermos uma dança circular, porque a minha energia estava
muito feliz e alegre, por estarem tocando aquelas músicas e pelo ritual ter sido
na floresta com direito a fogueira e por estar na presença de amigas.

Pouco antes de terminar a meditação, fui ao banheiro na força, estava


descalça e a grama estava muito fria, cada pisar era um sentir diferente, pisava
com muito cuidado achando que estava machucando a grama que estava viva,
cheguei ao banheiro, me olhei no espelho e disse a mim mesma: “Você é linda,
você é linda! ”, falei com muita convicção, ciente de que meu cérebro na força
ia reforçar ainda mais essa ideia.

Tenho baixa autoestima, hoje analisando esse meu momento no


banheiro percebi que aquela menina que disse aquilo no banheiro não parecia
eu, ou ao contrário, era o meu real ser, antes de falar, meu cérebro não ficou
me julgando ou me colocando para baixo, pelo contrário, foi como se eu tivesse
o controle e agisse na minha intuição. Sai do banheiro me sentindo
extremamente viva, extremamente feliz comigo mesma, então voltei para a
roda e antes de sentar, tirei mais algumas fotos do círculo.

Quando voltei a roda, a concentração estava quase acabando, então


dentro do mesmo círculo, começamos a falar sobre nossas aflições, nossos
medos, jogando para fora todas as mágoas que guardamos dos outros e até de
nós mesmos, pude perceber, na força, que cada pessoa ali passava por um
problema diferente, seja de depressão, ataques de pânico, até problemas de
família como foi o meu caso.

Quando chegou a minha vez de falar, comecei a chorar e todas


esperaram eu me acalmar, então falei sobre meus problemas e aos poucos fui
me sentindo aliviada por estar jogando fora todas as amarguras e traumas e
deixando-o no passado. Falei sobre o fato da minha mãe ter me expulsado de
casa por eu estar em um relacionamento com outra garota, e que fiquei muito
mal por um momento, mas que com ajuda de alguns amigos consegui me
restabelecer.

Falei sobre não conseguir ser a filha que meus pais queriam e que quero
muito adquirir a independência para privar a minha saúde mental, pois sinto
27

que a energia da minha casa varia em determinados momentos e que não


gosto dessa variação. Quando terminei de falar, a madrinha Alessandra me
perguntou como eu me sentia em relação aos meus pais e eu respondi que
sentia gratidão por eles terem me ajudado e me criado com tudo o que eu
precisava e que amo muito eles, mesmo não conseguindo expressar isso no
dia-a-dia.

Quando todas terminamos de falar, Glenda deu a última fala para


finalizar o trabalho enquanto coloquei o gravador próximo a ela:

“É saber que tem uma outra pessoa do seu lado que está passando
também por dificuldades, às vezes biológicas, ginecológicas, emocionais, e
você como mulher, tendo a manifestação da grande mãe, no aspecto de dar
amor, de ter o afeto materno, que cada mulher tem, a proteção materna, o
acolhimento materno, então a gente saber escutar a nossa irmã que está do
nosso lado, entendê-la, que ela também tem dificuldades, você também tem as
suas dificuldades, você compartilhar as suas dores, compartilhar experiências,
e você crescer junto com ela, você não caminha separado lá na frente, você
caminha juntas, compartilhando justamente as experiências, e aprendendo
juntas também, e na nossa sociedade tem muito dessa questão da rivalidade, e
liberar o amor, o amor dentro do coração é reconhecer isso, e tem outras
mulheres na sociedade e elas também precisam de amor, e nós temos que
entender que elas precisam de amor assim como nós precisamos, é olhar com
mais carinho cada mulher que passa na nossa vida, mesmo aquelas mulheres
que a gente não tem nenhum contato, mas sempre olhar com carinho, na
verdade a gente deve olhar assim pra tudo, pra todos os seres existentes,
todos os animais, todos os homens, todas as mulheres, todos são
manifestação divina.

Outra coisa que foi falado aqui, essa questão da ausência paterna,
ausência materna, ou reconhecer a gratidão que nós temos que ter pela vida, o
que eu digo é, nós vivemos experiências, essas experiências elas nos movem,
torna a pessoa que nós somos atualmente, e podemos ser ainda melhores, o
que tem que fazer com essas experiências, é pegar o melhor de cada uma
delas.
28

Como a Ana falou, nós temos que nos fortalecer, então existem mágoas,
existem também boas experiências e elas nos traz amadurecimento,
crescimento nos torna mais forte, então não existe bom nem ruim, existe o
nível de aprendizado que você teve com essa experiência, então a gente tem
que pegar cada experiência e tentar absorver o melhor possível, seja das
mágoas ou dos bons sentimentos.

Alessandra falou de não limitar Deus, realmente nós não devemos limitá-
lo, a gente sabe que ele é grandioso, ele é imenso, e ele é tão grandioso que
ele se manifesta nas coisas mais simples, e ele se manifesta dentro de nós
mesmos, então não necessariamente você vai encontrar Deus apenas em uma
igreja, ou apenas em uma coisa externa ou em um material, você vai encontrar
em si mesma.

E a gente tem que saber respeitar que embora eu vá em um local, eu


não enxergue e não sinta a presença desse Deus, eu tenho que compreender
que isso está mais ligado ao meu interno do que ao externo, talvez aquela
doutrina ou religião não me satisfaça, mas satisfaça outras pessoas, assim
como o daime ele é sagrado pra mim, eu devo reconhecer que aquela doutrina
ou religião para o outro é sagrado.

Da mesma forma que eu falo do daime como sagrado, uma reverência


ao daime, eu devo falar com reverência das outras doutrinas e outras religiões
de outras pessoas, porque cada um está em seu processo de evolução, então
a gente tem que procurar reconhecer a manifestação divina que há dentro de
nós, e não tentar buscar isso externamente.”

Fiquei muito preocupada com a pesquisa, sempre achando que estava


fazendo errado, mas na força, me veio calma e que eu tinha que aproveitar
cada momento porque aquele ritual era único, e que era sortuda por estar ali.

No final do trabalho, era uma hora da manhã, Alessandra perguntou se


gostaríamos de uma dança circular, mas devido ao horário, resolveram fazer
um lanche, devo dizer que fiquei muito triste com esse acontecimento, já que
estava ansiando em todo o trabalho por uma dança circular, depois fizemos
uma oração e fomos para a cozinha, lá tiramos fotos, fizemos uma outra oração
e comemos bolos, sucos e frutas.
29

Os sagrados foram ministrados junto com yoga, banho de ervas,


músicas e artes, em todos são realizados rituais com ayahuasca. Foi feito uma
catalogalização das plantas utilizadas nos banhos, defumação e consagração
da ayahuasca, utilizei listagem simples por meio de entrevista e fotografias dos
banhos.
Tabela 2. Plantas utilizadas durante o sagrado feminino.
Família Nome científico Nome Forma de Parte usada Origem
popular uso

Boraginaceae Cordia Porangaba Banho Folhas Nativa


ecalyculata Vell.

Fabaceae Senna Senea Banho Folhas Exótica


alexandrina Mill.

Asteraceae Cynara Alcachofra Banho Folhas Exótica


cardunculus L.

Apiaceae Centella asiatica Centella Banho Folhas Exótica


(L.) Urb. Asiática

Monimiaceae Peumus boldus Boldo-do-chile Banho Folhas Exótica


Molina

Lamiaceae Melissa Erva-cidreira Banho Folhas Exótica


officinalis L.

Apiaceae Pimpinella Erva-doce Banho Sementes Exótica


anisum L.

Lamiaceae Mentha spicata Hortelã Banho Folhas Exótica


L.

Lamiaceae Rosmarinus Alecrim Banho e Folhas Exótica


officinalis L. Defumação

Equisetaceae Equisetum Cavalinha Banho Caule e Folha Exótica


arvense L.

Rubiaceae Psychotria viridis Rainha; Chá; Folhas Nativa


Ruiz & Pav. Chacrona Decocção

Malpighiaceae Banisteriopsis Jagube; Cipó; Chá; Caule Nativa


caapi (Spruce ex Mariri Decocção
Griseb.) Morton
Fonte: Dados do diário de campo da autora.

Realizei uma entrevista semi estruturada com a Madrinha Kátia da


Irmandade Ayahuasca, em Marabá, por meio de mensagens por whatsapp em
dezesseis de fevereiro de dois mil e vinte e dois. Perguntei a respeito do que
seria a “cura” para ela e a respeito da relação das plantas com o ritual do
sagrado feminino.
30

Na etimologia da palavra cura quer dizer restabelecimento da saúde


(mental, físico e espiritual) e que a cura pode realizar-se no psiquê
(traumas e sentimentos), no biológico (doenças em geral) e no
espiritual (se realizando o ser por inteiro), o que atinge sua alma pode
afetar em todos os campos [...] As plantas são para os efeitos curativos
do corpo e da alma. As ervas fazem parte do simbolismo espiritual
onde lavamos e curamos. As ervas são doadas pela nossa mãe Terra
Gaya, fazendo parte do nosso ritual lavando, curando e perfumando
nossa alma, e reverenciando a deusa interior de cada uma. Uma
reverência ao Sagrado Feminino (KATIA, 2022).

Perguntei também a respeito das medicinas da floresta, em relação ao


chá do daime, sananga e rapé, qual seria a relação do sagrado feminino com
essas práticas. Ela me informou que as medicinas não fazem parte do sagrado
e foram introduzidas aqui no Brasil. O rapé e a sananga não fazem parte dos
rituais do sagrado feminino, apenas a “Madre Ayahuasca”. Ela informou
também que se estas medicinas podem estar sendo introduzidas mas não tem
conhecimento disso.
Atualmente, existem três grupos de círculos de mulheres, sendo dois
vinculados à igreja do Santo Daime (na qual é proibido o uso de medicinas da
floresta além da ayahuasca), e um grupo neoayahuasqueiro de mulheres na
qual é utilizado o rapé e a cannabis sativa, após o ritual, esse último realizou
somente um encontro.
A Cannabis, chamada de pito ou Santa Maria, tão substancial na
cosmologia daimista, passou a ser consumida também por indígenas
e xamanistas. Podemos afirmar que a Cannabis é uma das
substâncias bastante presentes nos circuitos xamânicos
contemporâneos, e há aqueles (mesmo que muito poucos) que a
consideram também como uma medicina da floresta. (FERNANDES,
2018).

Em relação a padronização de encontros, Fernandes (2018) afirma:


A notável plasticidade do neoxamanismo impede qualquer tipo de
padronização, e os ritos e aspectos cosmológicos acabam por
obedecer à idiossincrasia de cada dirigente ou grupo. Todavia, é
possível observar tendências. No circuito urbano da ayahuasca,
tornou-se comum um modelo de ritual em que as medicinas da
floresta (ayahuasca e rapé, entre outras) são consumidas, são
entoados cânticos de inspiração indígena, do complexo Nova Era, ou
mesmo hinos do Santo Daime, são tocados instrumentos orgânicos,
como tambores e maracás, são escutados cânticos e mantras em
som sintético, geralmente com o grupo em volta de uma fogueira,
cada qual sentado ou deitado em seu colchonete.
31

Figura 4. Roda de fogueira durante o ritual.

Fonte: fotografia tirada pela autora.


32

4. ERVAS UTILIZADAS NO TEMPLO SÃO MIGUEL

● Contextualizando o significado da Umbanda


Na Gramática Quimbundo de Quintão, editada em 1934, umbanda
significa “Arte de curar, de Kimbanda, Curandeiro” (MATTA E SILVA, 2007,
p.27).
U-banda é derivada de Ki-mbanda, pelo prefixo -u, como u-gana é de
ngana. Umbanda é: (1) A faculdade, ciência, arte, ofício, profissão (a)
de curar por meio de medicinas naturais (remédios) ou sobrenaturais
(encantamento); (b) de adivinhar o desconhecido através da consulta
às sombras dos mortos, ou através dos gênios, demônios, que não
são espíritos, nem humanos, nem divinos; (c) de induzir esses
espíritos humanos e não-humanos a influenciar os homens e a
natureza para a prosperidade ou aflição humana. (2) As forças
envolvidas na cura, adivinhação e influência dos espíritos. (3) Os
objetos (encantamentos) os quais se supõem estabelecer e
determinar a conexão entre os espíritos e o mundo físico. Quando
usada para designar esses objetos, a palavra umbanda admite uma
forma plural, ma-umbanda. Os remédios naturais para a cura das
enfermidades, entretanto, não são chamados ma-umbanda, mas mi-
longo (CHATELAIN, 1984, P.268).

● Ossain, o “Orixá” das folhas.

Dentro da Umbanda e do Candomblé, a sabedoria sobre o manuseio


das folhas é dada somente por Ossayn. Cada orixá detém o poder
sobre algumas folhas. Segundo narra os itans 7, Ossayin era o
detentor de todos os segredos das folhas. Xangô, Orixá da justiça,
julga que todos os outros orixás deveriam saber do segredo das
folhas, Ossayin nega compartilhar seus segredos. Xangô então
mandou que Iansã jogasse seus ventos e trouxesse ao seu palácio
todas folhas de Ossayin para que fossem distribuídas para os Orixás.
Iansã criou um furacão que derrubou todas as folhas de Ossayin e as
trouxe em direção ao palácio de Xangô. Percebendo o que estava
acontecendo, Ossayin gritou: “Euê uassá!”, que significa, “as folhas
funcionam!”. Ordenou assim que todas as folhas voltassem para as
suas matas, e as folhas obedeceram a suas ordens, faltando apenas
as que já estavam sob poder de Xangô, perdendo assim o axé.
Xangô, entendendo que as folhas deveriam ser exclusivas de
Ossayin, admitiu a vitória e devolvê-las para ele. Contudo, Ossayin
deu uma folha para cada orixá, cada folha com seus axés e seus
ofós, que são cantigas de encantamentos sem as quais as energias
das folhas não funcionam, entretanto, o segredo mais profundo ele
guardou para si. Os Orixás ficaram gratos por Ossayin e sempre o
reverenciam quando usam as folhas (PRANDI, 2001, p. 153).

● A importância da oralidade para a transmissão de conhecimento.

7 De acordo com Mabit (2004), a ayahuasca altera não só as percepções visuais mas,
“percepções auditivas (vozes, música, explosões); percepções estéticas: perceção de contato
sobre o corpo (por exemplo de modificação do rosto); percepções olfativas: odores intensos,
nauseabundos ou muito agradáveis; percepções cruzadas: um som visto em cores, um odor
percebido como uma forma, um sabor sentido de modo tátil etc.; percepções "gerais": o sujeito
percebe a sensação de “presenças" benéficas ou malévolas; de ambientes, de atmosfera com
caráter freqüentemente indefinível que temos classificado de sensações de estranheza"
33

A oralidade em religiões afro-brasileiras é muito importante, tanto na


preparação de um banho com as palavras de axé ou na reprodução do
conhecimento para os mais novos.
Durante a preparação de alguma fórmula o Babalaô estabelece uma
ligação mágica entre o remédio e o signo de Ifá. A ligação é feita
através de elos verbais entre o nome da planta, o nome da ação
medicinal ou mágica dela esperada e o odu, signo de Ifá no qual é
classificada. (...) A transmissão oral do conhecimento é considerada
na tradição Iorubá, como o veículo do axé. O poder, a força das
palavras que permanece sem efeito em um texto escrito. As palavras
para que possam agir, precisam ser pronunciadas. (VERGER, 1995,
p. 6).

Tim Ingold (2010) escreve que o nosso conhecimento consiste, em


primeiro lugar, em habilidades, e que todo ser humano é um centro de
percepções e agência em um campo de prática. Ou seja, o crescimento do
conhecimento humano, a contribuição que cada geração dá à seguinte não é
um suprimento acumulado de representações, mas uma educação da atenção.
Desta forma, algum tipo de aparato processador cognitivo já deve estar
instalado, em cérebros humanos, antes que qualquer transmissão de
representações possa ocorrer.
Os mecanismos cognitivos inerentes do cérebro são equipados para
lidar com objetos de estrutura narrativa. Se grande parte do conhecimento em
culturas não-literárias toma a forma de mitos e histórias, é porque essas formas
são prontamente memoráveis. Aquilo que não puder ser facilmente lembrado
sairá naturalmente de circulação e, portanto, não ficará retido na cultura.
Enquanto determinam o que é e o que não é memorável, os mecanismos de
cognição têm um impacto bastante imediato sobre a organização do
conhecimento cultural.
● Festa para os Erês.
Cheguei ao terreiro dia 29 de setembro de dois mil e dezenove, por volta
de 23h50min. A festa estava linda, com bandeiras coloridas formando uma
mandala com uma árvore no centro. Na minha percepção do ambiente, sentia
que a energia estava leve. A risada já se torna involuntária nos rostos das
pessoas que participavam. Continha muitos tipos de doces, bolos,
refrigerantes, pipoca e brinquedos.
Durante esta pesquisa, percebi minha interação com o campo e a teoria
do trabalho da antropóloga de Jeanne Favret-Saada (1990) sobre a feitiçaria no
Bocage francês, na qual escreve sobre “ser afetado”, retratando a afetividade
(afeto) dentro da pesquisa, onde “deixar ser afetado” remota a uma
34

sensibilidade do pesquisador no decorrer do campo e faz uma crítica ao modo


de fazer etnografia baseado na racionalidade.
É urgente reabilitar a velha “sensibilidade”, visto que estamos mais
bem equipados para abordá-la do que os filósofos do século XVII.
Inicialmente, valem algumas reflexões sobre o modo como obtive
minhas informações de campo: não pude fazer outra coisa a não ser
aceitar deixar-me afetar pela feitiçaria, e adotei um dispositivo
metodológico tal que me permitisse elaborar um certo saber
posteriormente [...] Nos encontros com os enfeitiçados e
desenfeitiçadores, deixei-me afetar, sem procurar pesquisar, nem
mesmo compreender e reter” (SIQUEIRA; FAVRET-SAADA, 2005).

Às uma da manhã começa a gira e as crianças são levadas para brincar


do lado de fora. Perguntei para quem estavam realizando trabalho e um
homem me respondeu que seria para Cabocla Mariana. A primeira a chegar é
Tereza Légua, lembro-me de começar a me questionar quem era essa
entidade, pois nunca tinha ouvido falar, em instantes depois a mulher começa a
“gira”.
Observo que em uma das músicas que Tereza Légua “vem com o mar”
e junto com Iemanjá, observo que algumas pessoas que incorporaram usam
chapéus de boiadeiros. Escrevo em meu caderninho várias coisas que consigo
observar, assim, Tereza Légua chegou até mim, conversou comigo explicando
sua classe de família, disse quem ela era e me falou uma coisa que fazia
quando era mais nova.
Fumando cigarro e bebendo cerveja, ela me explicou que seu pai era
“Vodúnci” que significa “Homem Velho” ou “Filho de Vodun”. Falou sobre Iabás
que são as orixás femininas. Falou que existe o roncó (nome dado ao quarto
onde ficam recolhidos no ritual de iniciação) e que eles eram uma família de
escravos. Ainda explicando as etimologias das palavras, ela cita que Croa
significa cabeça e logo após ela observa a música e canta junto “Meu pai só
manda eu”.
Tereza me fala que existem as Iaô (que são as pessoas que têm
“obrigações”) e as Abian (pessoas que não tem obrigações na umbanda,
podendo ser iniciada ou não). Falou que “Vumbe” é a passagem da vida. Ela
olhou para o cigarro e perguntou o que eu via, eu falei que era um cigarro e ela
disse na umbanda chamavam de “macaio”.
Ela me perguntou se eu tinha visto a festa dos erês e eu respondi que
sim, após isso ela me falou que quando uma criança joga doce no rosto de
alguém, ela está curando aquela pessoa, com alegria, tirando a tristeza e as
mágoas do coração da pessoa que está recebendo o bolo no rosto. E que tudo
naquele ambiente tinha um significado.
Como por exemplo, quando a mulher está menstruada, ela não pode
nem pisar no terreiro, pois é o momento em que a mulher está com o corpo
aberto e pode pegar energias muito rapidamente. E que eu poderia fazer o
teste, quando alguma amiga minha estivesse menstruada, eu passasse minha
35

mão pelas suas costas, que dois dias depois essa minha amiga iria ficar muito
mal.
Ela já estava a um tempo conversando comigo, só comigo, todas as
suas irmãs e irmãos da entidade já tinham ido embora, só tinha ficado ela, uma
pessoa do terreiro estava pedindo pra ela ir, pois a Cabocla Mariana havia
chegado. Antes de ir ela disse que tinha mais uma coisa para me falar, fiquei
quieta e escutei, ela me falou da pesquisa que estou realizando.
Falou que tenho uma amiga que está querendo me fazer desistir da
pesquisa e optar por uma coisa mais fácil para acabar logo com os estudos,
mas que tinha outra amiga que estava me encorajando e me animando para
realizar. E que não precisava eu desistir de estudar as plantas, pois eles têm
muito que ensinar, onde eu poderia me comunicar com Santos (pai de santo do
terreiro), que mesmo se ele estivesse muito ocupado iria colocar outra pessoa
para me apresentar todas as plantas utilizadas naquele quintal. Ela citou a
manga como planta atrativa, e falou que nem todo “mato” era veneno – nesse
momento me lembrei de que antes de ir ao terreiro ouvi um áudio de um preto
velho falando exatamente isso sobre as plantas.
Após isso ficamos calados por um tempo e depois ela disse que irei
passar por uma grande provação, e que eu tinha que me firmar na fé em Deus,
e que eu iria conseguir superar. Falou que minha mãe biológica me ama, e que
ela cuida muito de mim, mesmo longe.
Ela me perguntou se eu estava esperando conversar com uma entidade
hoje, e eu respondi que não, que era a primeira vez daquela forma e com
aquela quantidade de tempo. Ela me mandou pegar meu caderninho e anotar a
seguinte frase: "A incorporação é dada de acordo com cada mente do médium
e de acordo com a capacidade do orixá do ‘ori’ do médium”. Ela disse que
quando eu fosse falar com o Sandro, perguntasse sobre isso, que ele iria me
responder melhor.
Antes de ir, ela me perguntou se eu tinha mais alguma coisa para
perguntar e eu disse que só tinha a agradecer por todas as palavras que ela
me disse. Ela falou que eu era muito bonita e que mesmo que meus parentes
dissessem o contrário era pra eu reconhecer a minha beleza. Se despedindo,
ela afirmou que assim que subisse e saísse do corpo daquele “cavalo” iria para
o Piauí em outra gira. Eu desejei um bom trabalho a ela no Piauí e ela
agradeceu e disse que era melhor ela ir logo porque já estavam mandando ela
sair.
O homem que estava incorporado retirou seu chapéu e como um sopro,
ela saiu. Fiquei um momento com ele ali, sentados, perguntei-lhe se queria
água e ele afirmou que não. Ele parecia um pouco tonto, mas logo se levantou
e voltou para o terreiro.
Sentei perto dos tambores, não conseguia acreditar que passei tanto
tempo conversando com a Tereza. A festa continuava, a cabocla Mariana já
estava incorporada, estava com um vestido azul e um chapéu. Em um
36

determinado momento, ela chegou próximo e cumprimentava a todos, quando


chegou em mim, eu beijei sua mão e ela beijou a minha, depois ela colocou
sua mão na minha testa e disse “Faça o que você quiser fazer”, encarei isso
como insight, isto é, uma compreensão e solução de um problema em relação
ao trabalho de conclusão de curso, dando clareza súbita na mente.

Junto com Mariana, vieram os caboclos, girando e girando, com pontos


para Oxóssi, Cabocla Jurema e outros caboclos. O festejo terminou às sete e
dez da manhã, junto com muita gente cansada e um café da manhã.
● Terreiro de Umbanda Templo São Miguel.

Para entender melhor sobre as ervas utilizadas em determinado terreiro,


fiz uma pesquisa no dia onze de agosto de dois mil e vinte e um, no Templo
São Miguel, em Marabá/PA.
Cheguei ao terreiro por volta de oito e vinte da noite, fui recebida
por uma senhora, andamos um pouco do lado da casa de alvenaria por um
corredor. Fui direcionada ao terreiro que fica localizado atrás da casa, no
quintal. O Pai de Santo já estava arrumado e preparado, ele se chama Antônio,
conversamos um pouco e me senti bem à vontade.
Vi um balde com banho de atração perto do banheiro, questionei a
mulher que fez o banho sobre as ervas utilizadas, ela me informou que utilizou
“alecrim da angola” pegado no quintal de uma das pessoas que participavam
no terreiro e essências próprias para banhos.
Fui aconselhada a tomar um banho no choveiro do pescoço para baixo
do corpo mentalizando um descarrego, depois joguei o banho de atração por
todo o corpo começando pela cabeça. O banho estava muito cheiroso e senti
um arrepio percorrendo todo meu corpo.
Conversei com o Pai de Santo antes de iniciar o trabalho e ele me
informa que as ervas dentro do terreiro são de extrema importância, pois tudo
que se faz envolve as plantas, e que tem determinadas ervas que não se acha
com frequência, como a flor da laranjeira, por isso usa-se essências.
Ele me informou que também é utilizado essências de animais e citou o
exemplo do “Uirapuru”, pássaro da Amazônia cuja essência utiliza-se em
banhos de atração. Continuando a entrevista ele afirma:
Agora, é muito complexo te falar sobre ervas, porque, a umbanda
cultua 7 maiores orixás, na realidade são 14, mas os maiores e mais
conhecidos são 7, é a metade né. Então cada orixá tem sua própria
erva, não é só uma erva, são várias, por exemplo, Oxalá ele tem
dezenas até centenas de ervas, agora assim, cada uma região
trabalha com determinado tipo de ervas adaptado para a sua região.
Por exemplo, pode ser que aqui em Marabá eu não ache aroeira, mas
no Estado vizinho eu já acho aroeira, então cada orixá, cada cidade,
cada estado tem as suas peculiaridades quando se fala de ervas,
então é algo muito profundo” (ANTONIO, 2021).
37

O trabalho começa chamando o Exu, e firmando o ponto fora do terreiro,


após isso, é chamado o Zé Pilintra, com ele incorporado, começa a realizar os
trabalhos e atender as pessoas. A primeira pessoa a ser atendida foi uma
senhora, fui informada por Seu Zé que colocaram um Egun (espírito de uma
pessoa morta) no estabelecimento de trabalho e na casa dela e que estava
atrapalhando os negócios.
Ele então começou a ensinar a preparar um banho de descarrego para
afastar esses espíritos ruins. Em um balde grande deve ser colocado os
seguintes ingredientes: Sal Grosso, Fumo, Cerveja, cachaça 51, Vinagre,
Espumante Cristal de Prata, Azeite, Pipoca, Alecrim-da-angola, Comigo-
ninguém-pode, Pião-roxo, Pedaço de tecido branco picado, Pedaço de tecido
preto picado, Leite e Macaxeira (a raiz tem que ficar 7 dias na água pra
apodrecer).
Em outro balde foram colocadas essências de Alfazema, Dinheiro em
Penca, Uirapuru, Chama Freguês e Chama Dinheiro. Ele ensinou também a
fazer a defumação e em uma sacola foi-se colocado Alfazema, Mirra, Benjoim,
Breu Branco e Alecrim. Para esse trabalho foi indicado usar Pólvora antes de
realizar o descarrego no local.
Primeiramente usa-se a pólvora, depois joga o banho de descarrego na
casa toda, após isso, despeje água para tirar o banho jogando sempre para
fora de casa. Após o descarrego, joga o banho de atração e faz a defumação.
Deve-se rezar o “credo” durante o ritual como afirma Zé Pilintra:

“Creio em Deus Pai Todo-Poderoso,Criador do céu e da terra; e em


Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor; que foi concebido pelo
poder do Espírito Santo; nasceu da Virgem Maria, padeceu sob
Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado. Assim será morto
e sepultado Todos os meus inimigos carnais e espirituais
Ocultos e Declarados. Desceu à mansão dos mortos; ressuscitou ao
terceiro dia;subiu aos céus,está sentado à direita de Deus Pai todo-
poderoso [...] Completo, só muda quando chegar morto e sepultado,
vai bater o pé esquerdo e falar ‘Assim será morto e sepultado todos
os meus inimigos carnais e espirituais ocultos e declarados” (Zé
Pilintra, 2021).

Após a oração do “credo”, perdi todos os dados da minha pesquisa que


estavam inseridos no meu celular, não consegui recuperar 8. Porém lembro de
um momento já quase no final da noite e dos trabalhos, onde Sr Zé Pilintra me
chamou pra conversar, ele me informou que o pai de Santo Antônio estava
tomando daime e que pretendia futuramente construir um espaço que
misturasse daime e umbanda, também chamado de umbandaime, fiquei feliz
com a notícia e informei que quando acontecesse gostaria muito de participar.

Tabela 3. Plantas do Orixá Exu utilizadas na Umbanda, enviadas pelo Pai de Santo Antônio por
mensagem no Whatsapp.

8 As mirações são consideradas experiências de natureza espiritual ou mística já que


são experiências vividas em outros planos, que só podem ser traduzidas para o plano material
de forma descritiva, performática e simbólica (COELHO, 2016).
38

Família Nome Nome popular Orixá Parte Utilização


científico usada
Rosaceae Prunus Amendoeira Exu Galhos; Galhos são colocados em lojas;
dulcis (Mill.) Frutos; Frutos comestíveis; Óleo de
D.A.Webb Sementes amêndoas.
Moraceae Morus alba Amoreira Exu Folha Armazena fluidos negativos e os
L. solta ao entardecer; É usada pelos
sacerdotes no culto a Eguns;
Usada medicinalmente contra
inflamações da boca e garganta.
Fabaceae Andira Angelim- Exu Folha; Nos rituais, suas folhas e flores são
anthelmia amargoso Flores; utilizadas nos abô dos filhos de
(Vell.) Benth. Casca; Nanã; Cascas são utilizadas em
Sementes banhos fortes de descarrego com
finalidade de destruir fluidos
negativos em filhos de Exu; Pó da
semente utilizada contra verme.
Anacardiaceae Schinus Aroeira Exu Folha Aplicação nas obrigações de
terebinthifoli cabeça; sacudimentos; banhos
a Raddi fortes de descarrego; purificação
de pedras. Na medicina tradicional
é usada na cura de feridas, úlceras
e inflamações genitais.
Solanaceae Solanum Arrebenta-cavalo Exu Folha
aculeatissim Utilizada em banhos de descarrego
um Jacq. em hora aberta; Atrair simpatias
Rutaceae Ruta Arruda Exu Folha Suas folhas miúdas são aplicadas
graveolens nos ebori, banhos de limpeza ou
L. descarrego, o que é fácil de
perceber, pois se o ambiente
estiver realmente carregado a
arruda morre. Ela é também usada
como amuleto para proteger do
mau – olhado. Seu uso restringe –
se a Umbanda. Em seu uso caseiro
é aplicada contra a verminose e
reumatismos, além de curar
feridas.
Euphorbiaceae Euphorbia Avelós-figueira- Exu Caule Seu uso restringe a purificação das
tirucalli L. do-diabo pedras do orixás antes de serem
levadas ao assentamento; é usada
socada. A medicina caseira indica
esta erva para combater úlceras e
resolver tumores.
Aquifoliaceae Ilex Azevinho Exu Folha
aquifolium L. Muito utilizada na magia branca ou
negra, ela é empregada nos pactos
com entidades.
Asteraceae Arctium Bardana Exu Folha;
Aplicada nos banhos fortes para se
39

lappa L. raiz livrar das ondas negativas e eguns.


O povo utiliza sua raiz cozida no
tratamento de sarnas, tumores e
doenças venéreas.
Solanaceae Atropa Beladona Exu Galhos; Nas cerimônias litúrgicas só tem
belladonna Folhas emprego nos sacudimentos
L. domiciliares ou de locais onde o
homem exerça atividades
lucrativas. Trabalhos feitos com
galhos desta planta também
provocam grande poder de
atração.
Onagraceae Fuchsia Brinco-de- Exu Folha; É uma planta sagrada de Exu. Seu
hybrida hort. princesa Flores uso se restringe a banhos fortes
ex Siebert & para
Voss proteger os filhos deste orixá.
Annonaceae Annona Cabeça-de-nego; Exu Galho; No ritual a rama é empregada nos
coriacea Ata Bulbo banhos de limpeza e o bulbo nos
banhos fortes de descarrego. Esta
batata combate reumatismo,
menstruações difíceis, flores
brancas e inflamações vaginais e
uterinas.
Anacardiaceae Anacardium Cajueiro Exu Folha; Suas folhas são utilizadas pelo
occidentale Casca axogun para o sacrifício ritual de
L. animais quadrúpedes. Em seu uso
caseiro, ele combate corrimentos e
flores brancas. Põe fim a diabetes.
Cozinhar as cascas em um litro e
meio de água por cinco minutos e
depois fazer gargarejos, põe fim ao
mau hálito.
Poaceae Saccharum Cana-de-açúcar Exu Folha; Suas folhas secas e bagaços são
officinarum caule usadas em defumações para
L. purificar o ambiente antes dos
trabalhos ritualísticos, pois essa
defumação destrói eguns.
Fabaceae Caesalpinia Catingueira Exu Folha É muito empregada nos banhos de
pyramidalis descarrego. Seu sumo serve para
Tul. fazer a purificação das pedras.
Entretanto, não deve fazer parte do
axé de Exu onde se depositam
pequenos pedaços dos axé das
aves ou bichos de quatro patas. Na
medicina caseira ela é indicada
para menstruações difíceis.
Euphorbiaceae Euphorbia Cunanã Exu Galho Seu uso restringe-se aos banhos
phosphorea de descarrego e limpeza.
Mart. Substituiu em parte, os sacrifícios a
Exu. A medicina caseira indica os
40

galhos novos desta planta para


curar úlceras.
Crassulaceae Bryophyllum Folha da Fortuna Exu Folha É empregada em todas as
calycinum obrigações de cabeça, em banhos
Salisb. de limpeza ou descarrego e nos
abôs de quaisquer filhos-de-santo.
Na medicina caseira é consagrada
por sua eficácia, curando cortes,
acelerando a cura nas
cicatrizações, contusões e
escoriações, usando as folhas
socadas sobre os ferimentos. O
suco desta erva, puro ou misturado
ao leite, ameniza as consequências
de tombos e quedas.
Rhamnaceae Ziziphus Juá; Juazeiro Exu Galho; É usada para complementar
joazeiro casca banhos fortes e raramente está
Mart. incluída nos banhos de limpeza e
descarrego. Seus galhos são
usados para cobrir o ebó de
defesa. A medicina caseira indica
nas doenças do peito, nos
ferimentos e contusões, aplicando
as cascas, por natureza, amargas.
Fabaceae Mimosa Jurema Preta Exu Casca Tanto na Umbanda quanto no
tenuiflora Candomblé, a Jurema Preta é
(Willd.) Poir. usada nos banhos de descarrego e
nos ebó de defesa. O povo a indica
no combate a úlceras e cancros,
usando o chá das cascas.
Solanaceae Solanum Jurubeba Exu Folha;
paniculatum fruto Utilizada em banhos preparatórios
L. de filhos recolhidos ao ariaxé. Na
medicina caseira, o chá de suas
folhas e frutos propiciam um
melhor funcionamento do baço e
do fígado. É poderoso desobstrutor
e tônico, além de prevenir e
debelar hepatites. Banhos de
assentos mornos com essa erva
propiciam melhores articulações
das pernas.
Euphorbiaceae Ricinus Mamona Exu Folha Suas folhas servem como
communis L. recipiente para arriar o ebó de Exu.
Suas sementes socadas vão servir
para purificar o otá de Exu.
Anacardiaceae Mangifera Mangueira Exu Folha
indica L. É aplicada nos banhos fortes e nas
obrigações de ori, misturada com
aroeira, pinhão-roxo, cajueiro e
vassourinha-de-relógio, do pescoço
41

para baixo. Ao terminar, vista uma


roupa limpa. As folhas servem para
cobrir o terreiro em dias de abaçá.
Na medicina caseira é indicada
para debelar diarréias rebeldes e
asma. O cozimento das folhas, em
lavagens vaginais, põe fim ao
corrimento.
Cactaceae Pereskia Ora-pro-nobis Exu Folha É uma erva integrante do banho
aculeata forte. Usada nos banhos de
Mill. descarrego e limpeza. É
destruidora de eguns e larvas
negativas, além de entrar nos
assentamentos dos mensageiros
Exus. No uso caseiro, suas folhas
atuam como emolientes.
Phytolaccaceae Gallesia Pau D’alho Exu Galho; Os galhos dessa erva são
integrifolia Folha utilizados nos sacudimentos
(Spreng.) domiciliares e em banhos fortes,
Harms feitos nas encruzilhadas,
misturadas com aroeira, pinhão
branco ou roxo. Na encruzilhada
em que tomar o banho, arrie um
mi-ami-ami, oferecido a Exu, de
preferência em uma encruzilhada
tranqüila. Na medicina caseira ela
é usada para exterminar abscessos
e tumores. Usa-se socando bem as
folhas e colocando-as sobre os
tumores. O cozimento de suas
folhas, em banhos quentes e
demorados, é excelente para o
reumatismo e hemorróidas.
Piperaceae Piper Pimenta-darda; Exu Folha; Aplicada em banhos fortes e nos
hispidinervu pimenta-de- semente assentamentos de Exu. Na
m C.DC. macaco medicina caseira, suas sementes
em infusão são anti-helmínticas,
destruindo até ameba
Euphorbiaceae Jatropha Pinhão-Branco Exu Folha; Aplicada em banhos fortes
curcas L. semente misturadas com a aroeira. Esta
planta possui o grande valor de
quebrar encantos e em algumas
ocasiões substitui o sacrifício de
Exu. Suas sementes são usadas
pelo povo como purgativo.
Euphorbiaceae Jatropha Pinhão-Coral Exu Folha Erva integrante nos banhos fortes e
multifida L. usada nos de limpeza e descarrego
e nos ebó de defesa. Na medicina
caseira o pinhão coral trata feridas
rebeldes e úlceras malignas.
42

Euphorbiaceae Jatropha Pinhão-Roxo Exu Galho; No ritual tem as mesmas


gossypiifolia Folha aplicações descritas para o pinhão
L. branco. É poderoso nos banhos de
limpeza e descarrego, e também
nos sacudimentos domiciliares,
usando-se os galhos.
Cyperaceae Cyperus Tiririca Exu Bulbo Esta plantinha de escasso
rotundus L. crescimento apresenta umas
pequeninas batatas aromáticas.
Estas são levadas ao fogo e, em
seguida, reduzidas a pó, o qual
funciona como pó de mudança no
ritual. Serve para desocupar casas
e, colocadas embaixo da língua,
desodoriza o hálito e afasta eguns.
Lamiaceae Lamium Urtiga-Branca Exu Folha É empregada nos banhos fortes,
album L. nos de descarrego e limpeza e nos
ebó de defesa. Faz parte dos
assentamentos. O povo a indica
contra as hemorragias pulmonares
e brônquicas.
Urticaceae Urera Urtiga-Vermelha Exu Folha Participa em quase todas as
baccifera preparações do ritual, pois entra
(L.) Gaudich. nos banhos fortes, de descarrego e
ex Wedd. limpeza. É axé dos assentamentos
de Exu e utilizada nos ebó de
defesa. Esta planta socada e
reduzida a pó, produz um pó
benfazejo. O povo indica o
cozimento das raízes e folhas em
chá como diurético.
Rubiaceae Spermacoce Vassourinha-de- Exu Folha; Muito empregada nos
verticillata L. botão caule; flor sacudimentos pessoais e
domiciliares.
Malvaceae Sida acuta Vassourinha-de- Exu Folha;
Burm.f. Relógio; caule; flor
Vassourinha- Ela somente participa nos
curraleira sacudimentos domiciliares.
Fonte. FFM, Blendah. O gigante poderoso livro dos banhos mágicos para todas as finalidades
de sua vida.

Tabela 4. Ervas e substâncias utilizadas na defumação.

Família Nome científico Nome popular


Styracaceae Benjoim
Styrax tonkinensis Craib ex
Hartwich

Lamiaceae Alecrim
Rosmarinus officinalis L.
43

Lamiaceae Alfazema
Lavandula latifolia Medik.

Burseraceae Mirra
Commiphora myrrha (Nees)
Engl.

Burseraceae Breu Branco


Protium heptaphyllum (Aubl.)
Marchand

Euphorbiaceae Jatropha gossypiifolia L. Pião Roxo

Asparagaceae Sansevieria zeylanica (L.) Espada-de-são-jorge


Willd.

Araceae Comigo-ninguém-pode
Dieffenbachia seguine
(Jacq.) Schott

Amaryllidaceae Palha-de-alho
Allium sativum L.

Solanaceae Pimenta-malagueta
Capsicum annuum L.

Enxofre, S - 16/ Carbono, C - 6/ Pólvora (Enxofre,


KNO3 Carvão Vegetal e
Nitrato de Potássio)
Fonte: Pai de Santo Antônio por mensagem de whatsapp.
44

5. MOSAICO DE EXPERIÊNCIAS ETNOFOTOGRÁFICAS


Pensando em levar o leitor ao cenário antropológico, de acordo com
Saiman (2012):
Existem algumas problemáticas importantes a respeito das imagens.
A primeira, a mais evidente, é o fato de que toda imagem (um
desenho, uma pintura, uma escultura, uma fotografia, um fotograma
de cinema, uma imagem eletrônica ou infográfica) nos oferece algo
para pensar: ora um pedaço real para roer, ora uma faísca de
imaginário para sonhar.

A segunda possibilidade de se aproximar do eixo “como pensam as


imagens”: o fato de que toda imagem é portadora de um pensamento:
Isto é, vincula pensamentos [...] De um lado, o pensamento daquele
que produziu a fotografia, a pintura, o desenho; de outro, o
pensamento de todos aqueles que olharam para essas figuras, todos
esses espectadores, que, nelas, “incorporaram” seus pensamentos,
fantasias, seus delírios e até, suas intervenções, por vezes,
delimitadas (SAIMAN, 2012).

Segundo Peixoto (2019):


Chegamos ao século XXI com questionamentos e múltiplas
experiências. Desde seu surgimento a antropologia visual brasileira
ampliou a sua perspectiva, revelando a riqueza da
interdisciplinaridade e de como as novas tecnologias audiovisuais
estão inseridas na produção de cultura, nas práticas e
comportamentos, na construção de sentidos e identidades. Uma
disciplina dinâmica posto que incorpora, incessantemente, as
inovações tecnológicas ao seu ofício, promovendo uma releitura de
temas clássicos antropológicos. As novas gerações de
antropólogos(as) visuais estão mais conectadas com as tecnologias
de imagem e som, focalizando seus interesses nestes antigos temas,
agora revisitados, e integrando novas temáticas, novas linguagens e
narrativas e os inúmeros meios visuais para comunicar o saber
antropológico.
45

Figura 5. Fogão a lenha onde acontece o feitio do daime na Igreja Céu de


Cerejeiras.

Fonte: fotografia tirada pela autora.

Figura 6. Almesca junto ao Cruzeiro Universal (símbolo do Santo Daime).


46

Fonte: Fotografia tirada pela autora.

Figura 7. Centro de Iluminação Cristã Luz Universal São Pedro.


47

Fonte: Fotografia tirada pela autora.


48

Figura 8. Entrada do salão.

Fonte: Fotografia tirada pela autora.


49

Figura 9. Roda com fogueira e panos estendidos no chão, onde é servido o daime.

Fonte: Fotografia tirada pela autora.

Figura 10. Baldes com banho de ervas.

Fonte: Fotografia tirada pela autora.


50

Figura 11. Prática de banho com ervas em rituais do Sagrado Feminino.


51

Fonte: desconhecido.
52

Figura 12. Defumador utilizado no ritual com alecrim.

Fonte: Fotografia tirada pela autora.


53

Figura 13. Momento de servir a ayahuasca.

Fonte: Fotografia tirada pela autora.

Figura 14. Tambor aquecendo perto da fogueira.

Fonte: fotografia tirada pela autora.


54

Figura 15. Caboclo sendo incorporado por médium às cinco e trinta da manhã.

Fonte: Fotografia tirada pela autora.

Figura 16. Caboclo colocando óleo de dendê na mão e depois na vela acesa, e passando na
perna de uma mulher às cinco e cinquenta e seis da manhã.

Fonte: Fotografia tirada pela autora.


55

Figura 17. Mulher girando com os pontos para os encantados e caboclos.

Fonte: Fotografia tirada pela autora.


56

Figura 18. Sendo flagrada realizando um audiovisual às cinco e quarenta e cinco da manhã.

Fonte: Fotografia tirada por Ismênia Cruz, convidada do terreiro.

Figura 19. Gira acontecendo no raiar do sol às seis da manhã.

Fonte: Fotografia tirada pela autora.


57

Figura 20. Balde com banho de atração.

Fonte: Fotografia tirada pela autora.


58

Figura 21. Essências utilizadas nos banhos de atração.

Fonte: Fotografia tirada pela autora.


59

Figura 22. Essências de Alfazema e rapé utilizado pelo Pai Antonio.

Fonte: Fotografia tirada pela autora.


60

Figura 23. Pai de Santo Antônio acendendo velas no salão.

Fonte: Fotografia tirada pela autora.


61

Figura 24. Altar do Templo.

Fonte: Fotografia tirada pela autora.


62

Figura 25. Firmeza com Vela para Zé Pilintra.

Fonte: Fotografia tirada pela autora.


63

Figura 26. Mulher defumando salão.

Fonte: Fotografia tirada pela autora.

Figura 27. Aplicação do rapé, assoprado por Darcy Almeida em sua casa.
64

Fotografia: Thalita Ribeiro.


65

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante a etnografia, não tive um lugar fixo, mas passei por vários
territórios, evidenciando a teoria da etnografia multi situada e as concepções da
reinvenção da antropologia. Com as teorias de Tim Ingold sobre a agência, a
vida nas coisas e sua argumentação sobre levar os materiais a sério, levando
em consideração a pesquisa feita no Santo Daime, no Sagrado Feminino e nos
terreiros da Umbanda - os dados das tabelas, fotografias, entrevistas e
trabalhos de campo - fica evidenciado o protagonismo vegetal e a relação com
os humanos, onde sua importância ritualística, medicinal e de cura.
66

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72

GLOSSÁRIO

Aldeia - Tratando-se de terreiros, esta palavra quer dizer a moradia dos


espíritos de caboclos, o que corresponde a Aruanda, ou seja, Terreiro de
Caboclos.

Atração/ Atrativo - Capacidade de puxar para si, Atrair.

Axé - É utilizada principalmente no contexto das religiões afro-brasileiras e


equivale à palavra “amém” da religião católica. Ela tem sua origem na língua
iorubá, e significa principalmente força de realização e manifestação do poder
divino.

Boiadeiros - Linha de trabalho de entidades na Umbanda.

Boró - Assim é chamado o pagamento que é feito a um, médium, ou chefe de


terreiro, antecipadamente a qualquer trabalho, sendo desta forma
mercantilizada de um modo absoluto a mediunidade.

Cabocla Mariana - Uma das três irmãs turcas, que foram encantadas na Praia
dos Lençóis, no Maranhão.

Caboclos - Termo designativo de certos guias das linhas de Xangô, Ogum e


Oxóssi. Também chamado caboclo de terreiro. Os caboclos são espíritos guias
das raças ameríndias, os quais não têm nenhum impedimento em baixar nos
terreiros ou tendas de Umbanda. Os caboclos são também espíritos
adiantados. Embora não tenham a brandura dos Pretos-Velhos, são muito
prestativos e sabem agir com eficiência, nunca se negando a beneficiar ou
praticar a caridade.

Cavalo - Médium dos Guias em Umbanda. Como em todas as correntes


espíritas, este termo quer dizer o mesmo que aparelho, isto é, todo o médium
que está sempre pronto a receber o protetor ou Guia.

Classe - Classe de espíritos cultuados em diversas religiões afro-brasileiras.

Croa / Coroa - É a região em volta da nossa cabeça que concentra toda sua
energia espiritual dada por Oxalá e seus Orixás de cabeça.
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Defumação - A defumação, por se tratar de um ritual de alta magia, tem como


principal fundamento afastar os maus espíritos que, segundo todas as crenças,
são representados por uma tênue fumaça. A queima de ervas é concebida
como operação mágica que possui um poder natural superior às forças
ordinárias da natureza.

Descarrego - É o trabalho que tem por finalidade a retirada do corpo de uma


pessoa de um lugar onde haja fluidos maléficos utilizando-se, para isso, de
passes, banhos de descarga, queima de pólvora etc.

Doutrina - Doutrina do Santo Daime é uma missão espiritual, que encaminha


os seus praticantes ao perdão e a regeneração do seu ser.

Cavalo - Médium dos Guias em Umbanda. Como em todas as correntes


espíritas, este termo quer dizer o mesmo que aparelho, isto é, todo o médium
que está sempre pronto a receber o protetor ou Guia.

Erês - É conhecido entre os africanos como um espírito supremo e


infinitamente bom, mas que nunca encarnou, segundo outros estudos da
matéria, é apenas um espírito infantil e também subalterno que acompanha os
médiuns de cabeça feita. Como interjeição significa admiração, alegria,
zombaria.

Exu - Orixá do panteão nagô ou cada um dos entes espirituais que fazem de
criados dos orixás e de intermediários entre estes e os homens, dados como
de índole vaidosa e suscetível. Entidade protetora e ligada aos ritos de
divinação nas religiões afro-brasileiras.

Firmeza - A firmeza é uma forma de magia da umbanda, por meio da qual é


concentrada uma determinada força ou energia, para que se alcance um
objetivo específico.

Gira - Corrente espiritual. Rua. Caminho.

Hinários - conjunto de hinos recebidos por determinada pessoa. O termo


também é utilizado para se referir ao ritual, em que será entoado um
determinado conjunto de hinos. Os principais eventos da doutrina do Santo
Daime são conhecidos como Hinários Oficiais.
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Abian - Abiã é toda pessoa que entra para a religião do candomblé, sendo
também chamado de filho de santo, após ter passado pelo ritual de lavagem de
fio de contas e o bori. Poderá ser iniciada ou não, vai depender de o orixá pedir
a iniciação.

Iabás - Em iorubá: Iyagba, cujo significado é Mãe Rainha, é o termo dado aos
orixás femininos Iemanjá e Oxum.

Iaô - (em iorubá: Ìyàwó) é como são designados os filhos de santo que já
passaram pela iniciação no candomblé e no batuque, popularmente conhecida
como "feitura de santo", mas que ainda não completaram o período de 7 anos
após a iniciação. Só após os 7 anos, o iaô se tornará um ebomi ('irmão mais
velho’).

Iemanjá - Orixá de águas salgadas, mãe de outros orixás, Nossa Senhora da


Conceição.

Incorporação - A incorporação se dá quando o médium perde toda a


consciência do que se está passando nele próprio, ou no ambiente onde se
encontra.

Insight - clareza súbita na mente, no intelecto de um indivíduo; iluminação,


estalo, luz.

Itã - Em iorubá, Ìtan, é cada um dos relatos míticos da cultura iorubá. Eles são
passados oralmente de geração a geração.

Jagube - Cipó nativo da Amazônia cujo nome científico é Banisteriopsis Caapi.

Jurema - Cabocla Jurema é uma falange espiritual cultuada em religiões de


matriz africana, como umbanda e o candomblé de caboclo. Deusa das matas.

Limpeza - Ato de libertar de impurezas, purgação, purificação.

Macaio - Folhas sagradas. Do quimbundo makaya, plural de ekaya, “folha


ou folha de fumo”.

Madrinha - Nome dado para referenciar uma mulher dirigente de um Centro de


Santo Daime.
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Médium - Segundo o espiritismo, pessoa capaz de se comunicar com os


espíritos. É aquele que tem o privilégio de ser intermediário entre os espíritos e
os seres encarnados.

Miração / Mirar - Fixar os olhos em; fitar, olhar. É um termo que foi criado na
tradição do Santo Daime pelo Mestre Irineu para designar o estado visionário
que a bebida produz.

Ori - Ori, palavra da língua iorubá que significa literalmente cabeça, refere-se a
uma intuição espiritual e destino. Ori é o Orixá pessoal, em toda a sua força e
grandeza. Ori é o primeiro Orixá a ser louvado, representação particular da
existência individualizada (a essência real do ser).

Oxalá - Oxalá é também o nome de um dos orixás mais importantes de cultos


afro-brasileiros, como o candomblé. Se trata de uma entidade divina andrógina,
que representa as energias da criação da Natureza e personifica o céu.

Oxóssi - Oxóssi é uma divindade das religiões africanas, também conhecida


como orixá, que representa o conhecimento e as florestas. Normalmente, esse
orixá é representado pela figura de um homem que tem em suas mãos um arco
e flecha, considerado uma espécie de guardião e caçador.

Pai de Santo - Pai de santo, padrinho de umbanda ou chefe de terreiro


são termos usados em várias das religiões afro-brasileiras para
designar a pessoa responsável ou autoridade máxima de um terreiro
ou tenda de Umbanda.

Pontos - Os pontos de umbanda são cantigas para louvar, chamar e se


despedir do orixá e as linhas de entidades. Acompanhadas por instrumentos de
percussão como o atabaque.

Preto Velho - São uma linha de trabalho de entidades de umbanda, espíritos


que se apresentam sob o arquétipo de idosos africanos que viveram nas
senzalas, majoritariamente como escravos que morreram no tronco ou de
velhice.

Psicoativo - Que age sobre o sistema nervoso central, alterando as funções


cerebrais, o comportamento, a percepção.
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Rainha - Planta arbórea nativa da Amazônia, utilizada junto com o Jagube para
a confecção da Ayahuasca, cujo nome científico é Psychotria viridis.

Rapé - Pó resultante de folhas de tabaco torradas e moídas, misturada com


outras ervas, utilizado para inalação.

Roncó - Espaço sagrado onde ficam recolhidos os iniciados no candomblé. É


um quarto à parte dentro do terreiro ou separado dele, onde ficam recolhidos
os iniciados, que após cumprirem o prazo determinado são apresentados aos
irmãos de fé e consagrados aos Orixás.

Sananga - Colírio medicinal utilizado por povos indígenas da Amazônia, para


limpeza ocular e melhorar a visão antes da caça. Feita do extrato da raiz de
uma planta chamada Tabernaemontana sananho, provoca ardor nos olhos e
lágrimas.

Tereza Légua - É uma entidade espiritual da encantaria. Ela é uma das filhas
mais velhas, de Légua Boji Buá.

Trabalho - No Santo Daime, nome referido ao ritual, se tratando de um


trabalho espiritual que tem como objetivo alcançar o autoconhecimento,
aprendizado e cura.

Trabalho - Na umbanda, as linhas de trabalho são espíritos desencarnados


que se reúnem como grupo para atuar em uma força específica por meio de
arquétipos.

Vodúnci - Vodunce ou vodúnsi (em fom: vodu-asé) é o(a) consagrado(a) ao


vodum no candomblé jeje e no tambor de mina. Termo referido por Tereza
Légua ao seu pai Légua Boji Buá, chefe da família Légua e figura importante
dentro do Terecô.

Vumbe - Mão de Vumbe ou Mão de Nvumbe ou tirar mão de Vumbi, Maku


Nvumbi, significa fazer a cerimônia para tirar a mão do falecido. Quando o pai
ou mãe-de-santo morre é necessário tirar a mão do morto, essa cerimônia é
feita por outro pai ou mãe-de-santo escolhido pela pessoa.

Zé Pilintra - Entidade que trabalha nas religiões, como a umbanda e o


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candomblé, na linha dos malandros; boêmio rei da malandragem; no catimbó é


tido como mestre. Por trabalhar na esquerda, habitualmente se apresenta na
linha dos Exus.

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