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UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL E SUDESTE DO PARÁ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS (ICH)


FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS DO ARAGUAIA TOCANTINS
BACHARELADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

Roberta Cruz Correia

Uma Etnografia Nômade: Caminhando com as Medicinas da


Floresta e Ervas Sagradas em Marabá-PA

Marabá, Pará
2022
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará
Biblioteca Setorial Josineide da Silva Tavares

C824e Correia, Roberta Cruz


Uma etnografia nômade: caminhando com as medicinas da
floresta e ervas sagradas em Marabá-PA / Roberta Cruz Correia.
— 2022.
83 f. : il.color.

Orientador(a): Gisela Macambira Villacorta.


Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) - Universidade
Federal do Sul e Sudeste do Pará, Campus Universitário de
Marabá, Instituto de Ciências Humanas, Faculdade de Ciências
Sociais do Araguaia Tocantins, Curso de Bacharelado em Ciências
Sociais, Marabá, 2022.

1. Plantas medicinais - Usos e costumes. 2. Etnologia. 3. Ervas


- Uso terapêutico. 4. Santo Daime. 5. Cultos - Brasil. 6. Umbanda -
Rituais. I. Villacorta, Gisela Macambira, orient. II. Título.

CDD.: 22. ed.: 390


Elaborado por Miriam Alves de Oliveira – CRB-2/583
ROBERTA CRUZ CORREIA

Uma Etnografia Nômade: Caminhando com as Medicinas da


Floresta e Ervas Sagradas em Marabá-PA

Trabalho de Conclusão de Curso,


apresentado à Faculdade de Ciências
Sociais do Instituto de Ciências Humanas
da Universidade Federal do Sul e Sudeste
do Pará, como requisito para a obtenção
do grau de Bacharel em Ciências Sociais.

Orientadora: Gisela Macambira Villacorta.

Marabá, Pará
2022
ROBERTA CRUZ CORREIA

Uma Etnografia Nômade: Caminhando com as Medicinas da Floresta e


Ervas Sagradas em Marabá-PA

Trabalho de Conclusão de Curso,


apresentado à Faculdade de Ciências Sociais
do Instituto de Ciências Humanas da
Universidade Federal do Sul e Sudeste do
Pará, como requisito para a obtenção do grau
de Bacharel em Ciências Sociais.

Data da aprovação: Marabá (PA), 22 de Junho de 2022.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________________

Prof. Drª. Gisela Macambira Villacorta


UNIFESSPA

__________________________________________________________

Prof. Dr. Fabiano Campelo Bechelany


UNIFESSPA

_____________________________________________________________

Mestranda Alana Pereira da Silva

UFPA

Marabá, Pará

2022
AGRADECIMENTOS

Meus agradecimentos à rainha da floresta, ao rei jagube, às ervas, o rapé,


sananga, o kambô e toda a natureza.

À minha professora e orientadora Gisela Macambira Villacorta.

Aos meus pais, irmãos e amigos da comunidade ayahuasqueira e da


universidade. Em especial ao André Silva por me ensinar e auxiliar com as medicinas
da floresta.

A professora Joseline Trindade pela oportunidade de participar do projeto


“Plantas que Curam”.

Ao Professor Fabiano Campelo Bechelany e a Valéria Moreira Coelho de Melo


pelo estágio supervisionado no Projeto de Extensão “Preservação Digital do Acervo
Iara Ferraz”.

Aos integrantes do núcleo NEOXAMAM, Profª Gisela Macambira, Alana


Pereira, Alyne Pacheco, Aline Verissimo, Marcos Antonio, Raissa Ladislau, Igor
Vinicius, Giovana Vale, Luis Henrique, Rodrigues Silva, Profº Edimilson Sousa, Regina
Rosa, Vitória Oliveira, Pedro Paulo e Tainá.

Agradeço aos centros do Santo Daime, as rodas do sagrado feminino e aos


Terreiros e Congás da Umbanda que visitei e me acolheram muito bem.
RESUMO

Este trabalho faz parte de uma etnografia multi-situada, onde realizei pesquisas
em três contextos, sendo eles o Santo Daime, o Sagrado Feminino e um
terreiro da Umbanda, na cidade de Marabá, situada no Sudeste do Estado do
Pará. Cujo objetivo é evidenciar a agência das plantas, a importância da vida
vegetal e as relações delas com os humanos. Foi identificado as plantas
utilizadas em rituais, e também tabelas com nome científico, vernacular,
origem, função e uso de acordo com cada um desses contextos. Desta forma,
foram realizados registros fotográficos, entrevistas semi estruturadas e
pesquisa bibliográfica. A partir desta pesquisa pôde-se identificar poucas
produções quanto à discussão do tema na região. Por fim, com as entrevistas e
as idas ao campo, fica evidenciado a importância das medicinas da floresta e
ervas em relação aos grupos estudados.
Palavra-chave: medicinas da floresta; ervas medicinais; umbanda; santo daime;
antropologia; etnografia; sagrado feminino.

ABSTRACT

This work is part of a multi-sited ethnography, where I carried out research in


three contexts, namely the Santo Daime, the Sagrado Feminino and an
Umbanda terreiro, in the city of Marabá, located in the Southeast of the State of
Pará. The objective of which is to highlight the agency of plants, the importance
of plant life and their relationships with humans. The plants used in rituals were
identified, tables were made with scientific and vernacular names, origin,
function and use according to each religion, photographic records,
semi-structured interviews and bibliographic research were carried out. From
this research, it was possible to perceive a difficulty regarding the discussion of
the theme in the region. Finally, with the interviews and field trips, the
importance of forest and herbal medicines in relation to the groups studied is
evidenced.

Key Words: forest medicines; medicinal herbs; umbanda; santo daime;


anthropology; ethnography; sacred feminine.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Primeiro trabalho de campo no Santo Daime em 2016………………11

Figura 2 . Plantas usadas na defumação durante os trabalhos no Santo Daime,


a esquerda a almesca (Protium spruceanum (Benth.) Engl.) e na direita o
alecrim (Rosmarinus officinalis L.).....................................................................17

Figura 3. Prática de yoga antes de começar o ritual……………………………..25

Figura 4. Roda de fogueira durante o ritual……………………………………….33

Figura 5. Fogão a lenha onde acontece o feitio do daime na Igreja Céu de


Cerejeiras……………………………………………………………………………..50

Figura 6. Almesca junto ao Cruzeiro Universal (símbolo do Santo Daime).......51

Figura 7. Centro de Iluminação Cristã Luz Universal São José………………...52

Figura 8. Entrada do salão………………………………………………………….53

Figura 9. Roda do Sagrado Feminino com fogueira e panos estendidos no


chão..…………………………………………………………………………………..54

Figura 10. Baldes com banho de ervas …………………………………………...55

Figura 11. Prática de banho com ervas em rituais do Sagrado Feminino……..56

Figura 12. Defumador utilizado no ritual com alecrim……………………………57

Figura 13. Momento de servir a ayahuasca……………………………………….58

Figura 14. Tambor aquecendo perto da fogueira…………………………………58

Figura 15. Caboclo sendo incorporado por médium às cinco e trinta da


manhã…………………………………………………………………………………59

Figura 16. Caboclo colocando óleo de dendê na mão, depois na vela, e


passando na perna de uma mulher às cinco e cinquenta e seis da manhã…..59

Figura 17. Mulher girando com os pontos para os encantados e


caboclos……………………………………………………………………………….60

Figura 18. Sendo flagrada realizando um audiovisual às cinco e quarenta e


cinco da manhã………………………………………………………………………61

Figura 19. Gira acontecendo no raiar do sol às seis da manhã………………...61

Figura 20. Balde com banho de atração…………………………………………..62

Figura 21. Essências utilizadas nos banhos de atração…………………………63


Figura 22. Essências de Alfazema e rapé utilizado pelo Pai Júnior……………64

Figura 23. Pai de Santo Antônio acendendo velas no salão……………………65

Figura 24. Altar do Templo…………………………………………………………..66

Figura 25. Firmeza com vela para Zé Pilintra……………………………………..67

Figura 26. Mulher defumando salão……………………………………………….68


LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Plantas utilizadas no São


Pedro………………………………………..…………………………………………18
Tabela 2. Plantas utilizadas durante o sagrado feminino………………………..32
Tabela 3. Plantas do Orixá Exu utilizadas na Umbanda, enviadas pelo Pai de
Santo Antônio por mensagem no
whatsapp…………………………………………………………………………..….42

Tabela 4. Ervas e substâncias utilizadas na defumação………………………...48


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 1
1. TRAJETÓRIA DA PESQUISA: SEGUINDO ERVAS SAGRADAS E MEDICINAS
DA FLORESTA 6
2. O PRIMEIRO (DES)ENCONTRO: ERVAS SAGRADAS NO CENTRO DE
ILUMINAÇÃO CRISTÃ LUZ UNIVERSAL SÃO PEDRO 10
3. CAMINHANDO: ERVAS E MEDICINAS DA FLORESTA EM RITUAIS DO
SAGRADO FEMININO 21
4. MAIS UM PERCURSO: ERVAS SAGRADAS NO TEMPLO SÃO MIGUEL 34
5. MOSAICO DE EXPERIÊNCIAS ETNOFOTOGRÁFICAS 49
PARADA OBRIGATÓRIA E CAMINHOS QUE SE ABREM 69
REFERÊNCIAS 70
1

INTRODUÇÃO
De acordo com a forma que realizei trabalho de campo e a própria
construção etnográfica, faço uma analogia à palavra nômade com a etnografia
multi local ou multi situada, na qual, segundo a teoria de Marcus (1993):
O estudo geral da etnografia multi local está localizado dentro de
estudos de esfera de trabalho interdisciplinar, incluindo mídia, ciência
e tecnologia e estudos culturais, são consideradas várias as
estratégias de “rastreamento” que moldam a pesquisa multi local.

Segundo Gupta e Ferguson (1997), o cerne da proposta da etnografia


multi-situada está enraizada no reconhecimento de que o "campo" da
investigação etnográfica não é simplesmente um lugar aguardando para ser
inserido, mas um "espaço conceitual" cujos significados e limites são
negociados continuamente pelo etnógrafo e seus interlocutores.
De acordo com Bruce Albert (2014), a antropologia clássica se baseava
em um só campo ou grupo de estudo e a contribuição da situação etnográfica
pós malinowskiano diz respeito à própria construção do objeto realizado na
antropologia social clássica:
O que se esvai cada vez mais são as ilusões epistemológicas em que
a antropologia clássica se baseava. Isto é, em primeiro lugar, a
evidência empírica da circunscrição de seu objeto – a “sociedade
tradicional” como um isolado social e cultural bem definido – e, em
segundo, a transparência científica de sua metodologia – a
observação participante como uma simples ferramenta para o registro
de dados sociais preexistentes[...] A contribuição heurística desta
situação de trabalho de campo pós-malinowskiano também diz
respeito às próprias bases da construção do objeto na antropologia
social clássica. Ela sustenta um novo olhar etnográfico que induz a
um deslocamento radical do foco através do qual a configuração e a
temporalidade dos espaços sociais eram apreendidas (ALBERT,
2014).

Para Magnani (2002, p.17), quando trata da etnografia, afirma que ela
não se reduz a uma técnica ou conjunto de procedimentos:
Não se confunde nem se reduz a uma técnica; pode usar ou servir-se
de várias, conforme as circunstâncias de cada pesquisa; é antes um
modo de acercamento e apreensão do que um conjunto de
procedimentos. Ademais, não é a obsessão pelos detalhes que
caracteriza a etnografia, mas a atenção que se lhes dá: em algum
momento, os fragmentos podem arranjar-se num todo que oferece a
pista para um novo entendimento.

Levando em consideração o uso da etnografia em vários contextos e


localidades, entro no campo das medicinas da floresta e ervas medicinais na
cidade de Marabá, no Sudeste do Pará. O termo medicinas da floresta, no
caso dos Huni Kuĩ, engloba o nixi pae (ayahuasca) e outras substâncias
2

usadas em seus rituais contemporâneos: o rapé1, o kampũ2 e a sananga3


(MENESES, 2018).
Com as medicinas da floresta, o Santo Daime e a integração do Sagrado
Feminino, podemos afirmar que se trata de uma re(invenção) das tradições e
rituais ayahuasqueiros.
Nesse território de experiências performáticas e (re)invenção de
tradições e rituais, sobressaem-se o consumo ritual de substâncias
psicoativas e/ou terapêuticas, denominados pelos adeptos indígenas
e não indígenas de medicinas da floresta, que do complexo cultural
pano passou a ser utilizada nos contextos urbanos do neoxamanismo
e do Santo Daime (FERNANDES, 2018).

Para o contexto umbandista, as ervas têm presença obrigatória, pois


sem folha não tem orixá e não tem rituais de cura. Utilizadas em defumações4,
banhos atrativos e de descarrego5, fumo, bebidas ritualísticas e preparações
específicas.
Sobre os papéis das plantas em religiões afro-brasileiras podemos
afirmar que:
Para as religiões afro-brasileiras as plantas de rituais possuem dois
papéis bem determinados: primeiramente ela possui um papel sacral,
vinculada a um pensamento mítico, onde nelas é depositado o axé
(força vitalizadora das divindades); em segundo lugar, o papel
funcional, quele que cada planta desempenha dentro dos rituais,
tendo em vista seu valor intrínseco, o qual se supõe poder determinar
em que situação ritualística ela se enquadra. Exemplo das plantas
psicoativas, que devido às suas propriedades, propiciam as
condições ideais para o contato com o sagrado através do transe de
possessão – quando as entidades incorporadas agem dentro das
celebrações e dos rituais de cura. Porém, estes transes não decorrem

1
Rapé - Pó resultante de folhas de tabaco torradas e moídas, misturada com outras
ervas, utilizado para inalação.
2
Kampû ou Kambô - A Vacina do Sapo é o nome popular para a aplicação das
secreções produzidas pela perereca Kambô em pequenos ferimentos ou queimaduras
produzidos nos braços ou nas pernas de uma pessoa, para que as substâncias presentes na
pele do animal penetrem na circulação sanguínea.
3
Sananga - Colírio medicinal utilizado por povos indígenas da Amazônia, para limpeza
ocular e melhorar a visão antes da caça. Feita do extrato da raiz de uma planta chamada
Tabernaemontana sananho, provoca ardor nos olhos e lágrimas.

4
Defumação - A defumação, tem como principal fundamento afastar os maus espíritos
que, segundo todas as crenças, são representados por uma tênue fumaça. A queima de ervas
é concebida como operação mágica que possui um poder natural superior às forças ordinárias
da natureza.
5
Descarrego - É o trabalho que tem por finalidade a retirada do corpo de uma pessoa
de um lugar onde haja fluidos maléficos utilizando-se, para isso, de passes, banhos de
descarga, queima de pólvora etc.
3
somente do uso destas plantas, mas sim, de outros fatores
específicos dos rituais (CAMARGO, 2006).

De acordo com Meira (2013), quando retrata os ritos da Umbanda e do


Candomblé, a presença do vegetal nas religiões está relacionada a
manutenção do “axé”6, da cura e na solução dos males que abatem as
pessoas:
A medicina tradicional e mágica está vinculada aos ritos
afro-brasileiros e indígenas, especialmente, aos de Candomblé e de
Umbanda, procurando formas de cura que consideram também
aspectos espirituais, sobrenaturais, no adoecimento, buscando
solucionar os males que se abatem sobre aquelas pessoas a partir de
rituais particulares. A presença do vegetal está ligada à manutenção
do axé-força que move este povo e que tem sua religiosidade calcada
nas substâncias extraídas das folhas [...] As religiões de matrizes
africanas têm a natureza como elemento de comunicação com o
sagrado, sendo que as folhas também atuam na comunicação entre
homens e divindades. Para os adeptos dessa religião, os orixás estão
intimamente relacionados com os elementos da natureza.
Percebe-se, assim, ao final, o quanto os vegetais são importantes
para a preservação das religiões afro-brasileiras e para a manutenção
da sua existência enquanto elemento da cultura.

Atualmente, tem somente duas pesquisas envolvendo a ayahuasca e


Santo Daime, a primeira foi o trabalho de conclusão de curso da Maria Lucia
Coelho (2013) intitulado “Experiências, percepções e Antropologia”
Interpretando mirações no Santo Daime e o segundo foi o trabalho de
conclusão de curso de Alana Pereira da Silva (2020) “Transgeneridade e santo
daime: as (im)possibilidades de uma busca espiritual daimista”.
A respeito da umbanda tem a pesquisa da Francirlene Santos (2019)
“Uma imersão etnográfica no Templo de São Jorge Guerreiro: Um terreiro de
Umbanda em Marabá, Pará. O artigo do Silva e Silva (2018), “Iniciação e
relações cosmológicas entre humanos e encantados na cidade de Marabá”. O
trabalho de conclusão de curso de Evandro Luiz Andrade Morais Junior(2018)
“O processo de espacialização do terreiro de umbanda mina nagô ogum das
matas em Marabá-PA”. Referenciando também a revista Númbuntu, organizada
por Gisela Villacorta e Ivan Costa, na qual tem diferentes artigos
multidisciplinares sobre a problematização das relações etnico raciais e
apresentam um dossiê de religiões de matriz africanas em Marabá.
Quanto a etnografia multi situada, tem a pesquisa de Giovanna Vale
“Epistemologia das garrafadas: experiências e habilidades”. Levando em
consideração poucas pesquisas sobre medicinas da floresta e ervas na região

6
Axé - É utilizada principalmente no contexto das religiões afro-brasileiras e equivale à
palavra “amém” da religião católica. Ela tem sua origem na língua iorubá, e significa
principalmente força de realização e manifestação do poder divino.
4

Sul e Sudeste do Pará, esta pesquisa se torna importante devido ao


proporcionamento de novos trabalhos acadêmicos sobre o tema.
Esse trabalho teve o objetivo de evidenciar a agência, a importância da
vida vegetal e relações dos seres humanos com o ambiente. Identificando as
plantas utilizadas em rituais, do Santo Daime, Sagrado Feminino, em um
terreiro da Umbanda e a relação delas com as pessoas.
Ingold (2011) retrata que quando se trata de agência e a presença de
vida nas coisas, afirma:
Trazer coisas à vida, portanto, não é uma questão de acrescentar a
elas uma pitada de agência, mas de restaurá-las aos fluxos geradores
do mundo de materiais no qual elas vieram à existência e continuam
a subsistir. Essa visão, de que as coisas estão na vida ao invés de a
vida nas coisas, é diretamente oposta à compreensão antropológica
do animismo [...] As coisas estão vivas e ativas, não porque estão
possuídas de espírito - seja na ou da matéria - mas porque as
substâncias de que são compostas continuam a ser varridas em
circulação dos meios circundantes que alternadamente anunciam a
sua dissolução ou garantem sua regeneração.

Ingold (2011) cita o exemplo de uma pedra, quando explica sobre o


mundo dos materiais, na qual segundo ele:
No mundo dos materiais, os humanos figuram tanto no contexto das
pedras quanto nas pedras no contexto dos humanos, e esses
contextos são estabelecidos como regiões sobrepostas do mesmo
mundo [...] Meu argumento, ao defender um retorno a este mundo, é
simplesmente o de que devemos, mais uma vez, levar os materiais a
sério, pois é a partir deles que tudo é feito.

Neste sentido, busquei aqui uma abordagem e percepção das Ervas


Sagradas e as Medicinas da Floresta não como objetos que possuem agência,
e sim como coisas, materiais que fazem parte deste fluxo e continuidade da
vida. Quanto a isto, é interessante a discussão de Juliano Florczak Almeida
(2014) no contexto etnográfico sobre a planta conhecida como arruda:
"Assim, as mudas de Vinícius são coisas, no sentido que Ingold
(2011) dá ao termo. As arrudas que vingam e as que murcham
estão crescendo no mundo e, consequentemente, permitindo que
o mundo cresça nelas. Em um mundo que é um paramento de
linhas, as plantas são mais alguns nós que descrevem trajetórias
às vezes marcadas por vizinhos invejosos e seus maus-olhados
(INGOLD, 2011 apud ALMEIDA, 2014, p.92).
Como metodologia, foi feita etnografia participante em todos os campos,
junto com diário de campo, fotografias, audiovisuais e entrevistas
semi-estruturadas em todos os terreiros, centros e espaços que acompanhei.
Foram feitas quatro tabelas contendo a família, nome científico, nome popular
5

ou vernacular, forma de uso, parte utilizada e sua utilização no ritual, para a


pesquisa, nas idas ao campo.
Seguindo os protocolos do Ministério da Saúde e do comitê de ética na
pesquisa em contexto de pandemia com Covid-19, foi utilizado máscara,
distanciamento e álcool em gel, nas entrevistas do Centro de Iluminação Cristã
São Pedro e no Terreiro de Umbanda Templo São Miguel.

De acordo com a resolução nº 510, de 7 de Abril de 2016, contendo o


Registro do Consentimento e do Assentimento, fica explicitada a importância
de preservar a identidade das pessoas aqui citadas, alguns nomes deste
trabalho são fictícios. Quanto às fotografias tiradas por outras pessoas ou
mostrando o rosto, foi pedido autorização para a publicação e divulgação do
nome real, por meio de mensagem do whatsapp ou via oral.
Esse trabalho conta com cinco capítulos, sendo no primeiro capítulo
descrevo a minha trajetória de pesquisa desde o início do curso. Nos capítulos
em diante são a respeito de três pesquisas em contextos de medicinas da
floresta para averiguar suas plantas de cura.
O segundo capítulo da pesquisa foi realizada em uma igreja do Santo
Daime chamada Centro de Iluminação Cristã Luz Universal São Pedro, o
terceiro capítulo foi realizada em dois mil e dezoito em um ritual do Sagrado
Feminino Beija Flor Dourado, o quarto foi realizado no Terreiro de Umbanda
Templo São Miguel e o quinto trago um mosaico de experiências
etnofotográficas.
6

1. TRAJETÓRIA DA PESQUISA: SEGUINDO ERVAS SAGRADAS E MEDICINAS


DA FLORESTA

Quando comecei o curso de ciências sociais em dois mil e dezesseis,


participei de um trabalho de campo, realizado na disciplina de Teoria
Antropológica I, coordenado pela Antropóloga Gisela Macambira Villacorta7, no
centro do Santo Daime Centro de Iluminação Cristã Céu de Cerejeiras, minha
experiência foi muito intensa, o que me abriu as portas para um novo mundo.
Desde esse dia, continuei sentindo muito desejo em retornar a aquele lugar e
participar mais vezes, e assim eu fiz, depois de um tempo retornei e comecei a
participar com mais frequência.
Na mesma disciplina, posteriormente foi realizado um seminário e junto
com grupo que havia ido ao campo, falamos em relação às nossas
experiências no Santo Daime para turma. Houveram alguns questionamentos e
curiosidades em relação à como a pessoa ficava com o efeito do chá e como
eram as “mirações”8 ou “visões” com ayahuasca.
Desta forma, em dois mil e dezessete, passei a frequentar outros centros
do Santo Daime em Marabá, inclusive este desta pesquisa. Dentro de minhas
experiências com o autoconhecimento, ou seja, o conhecimento que uma
pessoa tem sobre si mesma .
Após tomar daime pela primeira vez, percebi uma extrema relação com
as plantas, principalmente as medicinais, então comecei a realizar minha
segunda pesquisa, não era para nenhuma disciplina mas tinha como objetivo
escrever meu primeiro artigo, sobre as plantas utilizadas por rezadeiras em
Marabá, trabalho não concluído por falta de encontrar essas pessoas.
Queria continuar aprendendo sobre as plantas, soube então que uma
professora de antropologia, Joseline Simone Barreto Trindade9 dirigia um
projeto de cultivar plantas medicinais em uma escola no Bairro São Félix em
Marabá, busquei saber mais, me apaixonei por suas ideias e pedi para
participar como voluntária, ajudando com registros fotográficos. O projeto se
intitulava “Cultivando Plantas que curam, lavrando palavras que circulam: a
construção da horta escolar como metodologia interdisciplinar na visibilidade do

7
Doutora em Ciências Sociais com concentração em Antropologia (intercâmbio na
UFRGS-Antropologia). Professora da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará
(UNIFESSPA), Líder do Núcleo de Estudos Xamanísticos na Amazônia (NEOXAMAM).
8
Miração / Mirar - Fixar os olhos em; fitar, olhar. É um termo que foi criado na tradição
do Santo Daime pelo Mestre Irineu para designar o estado visionário que a bebida produz.
9
Doutora em Antropologia pela Universidade Federal do Pará- Programa de
Pós-Graduação em Antropologia (PPGA) (2015). Professora Adjunto da Universidade Federal
do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA), lotada no Instituto de Ciências Humanas (ICH) na
Faculdade de Ciências Sociais do Araguaia-Tocantins, onde ministra disciplinas de
Antropologia.
7

saber/fazer tradicional na Escola São Félix em Marabá”, consistia em fazer


rodas com alguns alunos e alunas e falar sobre a importância das plantas e a
partir deles, verificar quem tinha plantas medicinais no quintal de casa.
Fizemos uma ida na casa da mãe de uma dessas alunas, fiquei
responsável por fotografar e filmar, era uma casa simples mas com um quintal
muito grande e com muitas plantas, fizemos um passeio pelo quintal onde a
senhora nos mostrava casa planta e seus usos. Percebi a quantidade de
conhecimento sobre as plantas que a senhora Francisca tinha, e isso me
deixou mais animada para continuar pesquisando sobre isso. Durante o
voluntariado, fiquei responsável somente por tirar as fotografias, não criei
nenhum projeto e não usei nenhum dado de pesquisa.
Após terminar com esse voluntariado e agradecendo pela Professora
Joseline por essa experiência de pesquisa, realizei uma pesquisa de campo
para a disciplina de Antropologia em uma loja de produtos naturais localizada
em uma feira pública no bairro Liberdade, em Marabá. Entrevistei o senhor
Sérgio Moura, de 59 anos, natural de Belém, na qual me informou que foi
criado pelos seus antepassados por intermédio das plantas, de produtos
naturais e de uma medicina alternativa. Quando eu perguntei a ele sobre a
relação com as plantas e como ele se sentia em relação a elas, ele respondeu
que sentia que fazia parte dela (a planta).
“Eu me sinto, eu me sinto que sou parte, ela faz
parte de mim eu faço parte delas, eu faço parte delas
quando eu cuido, quando eu trato, quando eu me planto,
quando eu cultivo, e ela faz parte de mim quando ela me
cura, quando ela me trás um retorno, então é uma
relação muito profunda né, do homem com a natureza
né, eu me envolvo muito nessa questão, eu gosto de
cuidar e gosto também de usufruir que ela traz benefício,
que é uma coisa que se nós pudéssemos tomar cuidado
do nosso planeta em relação a esse a cultivo, vamos
dizer assim, dessas plantas medicinais o mundo seria
bem melhor” (MOURA, 2018).

Continuei tomando ayahuasca, dentro do tempo que passei no curso de


ciências sociais, e cada vez mais compreendia que precisava fazer meu
trabalho de conclusão de curso sobre os conhecimentos das pessoas que
cultivavam e usavam as plantas medicinais e ritualísticas.
Assim, um amigo André Silva dos Santos10, sugeriu a ideia de realizar
uma pesquisa sobre as plantas utilizadas em um terreiro de Umbanda. Escrevi
um pré projeto e realizei o primeiro campo no Terreiro de Umbanda Mina Nagô

10
Acadêmico de Licenciatura em Biologia (UEPA).
8

São Rafael, também conhecida pelos integrantes como “aldeia”11 para se referir
ao terreiro, conversei com um preto velho12 (entidade da umbanda) sobre a
possibilidade de realizar minha pesquisa sobre ervas naquele terreiro, ele me
respondia que os pretos velhos e os caboclos13 sabiam muito sobre as ervas e
que era para conversar com o pai de Santo14 da casa para ele me acompanhar
na pesquisa, e que caso ele não conseguisse, poderia arranjar outra pessoa
para me guiar.
● Os Imponderáveis da Vida Real: Inspirações Malinowskianas
De acordo com Neto e Amaral (2011) a antropologia utiliza-se de
diversos "métodos" de pesquisa etnográfica a fim de construir uma reflexão
sobre seu "objeto" de estudo:
Independentemente do método escolhido, o pesquisador está exposto
a certas situações práticas que o levam a enfrentar dificuldades, são
os imponderáveis da etnografia. Estes imponderáveis estão muito
presentes quando o objeto de estudo está imerso na área religiosa.

Sobre a origem do termo podemos afirmar que:


Imponderáveis é um termo originalmente utilizado por Malinowski
quando analisa metaforicamente as etapas do trabalho de campo,
sobre as atividades corriqueiras do nativo. Porém este cotidiano não
diz respeito à vida do nativo, mas a de quando o pesquisador está
sujeito em sua prática de pesquisa, aos problemas encontrados
durante o estudo (NETO; AMARAL, 2011).

Segundo Malinowski (1976), durante a introdução do livro os argonautas


do pacífico ocidental:
Há uma série de fenômenos de suma importância que de forma
alguma podem ser registrados apenas com o auxílio de questionários
ou documentos estatísticos, mas devem ser observados em sua
plena realidade. A esses fenômenos podemos dar o nome de os
Imponderáveis da vida real.

11
Aldeia - Tratando-se de terreiros, esta palavra quer dizer a moradia dos espíritos de
caboclos, o que corresponde a Aruanda, ou seja, Terreiro de Caboclos.
12
Preto Velho - São uma linha de trabalho de entidades de umbanda, espíritos que se
apresentam sob o arquétipo de idosos africanos que viveram nas senzalas, majoritariamente
como escravos que morreram no tronco ou de velhice.

13
Caboclos - Termo designativo de certos guias das linhas de Xangô, Ogum e Oxóssi.
Também chamado caboclo de terreiro. Os caboclos são espíritos guias das raças ameríndias,
os quais não têm nenhum impedimento em baixar nos terreiros ou tendas de Umbanda. Os
caboclos são também espíritos adiantados. Embora não tenham a brandura dos Pretos-Velhos,
são muito prestativos e sabem agir com eficiência, nunca se negando a beneficiar ou praticar a
caridade.
14
Pai de Santo - Pai de santo, padrinho de umbanda ou chefe de terreiro são termos
usados em várias das religiões afro-brasileiras para designar a pessoa responsável ou
autoridade máxima de um terreiro ou tenda de Umbanda.
9

Com esses acontecimentos inesperados no trabalho de campo, também


tive meus desafios e acontecimentos inesperados. Durante a primeira ida ao
terreiro de Umbanda São Rafael, cometi o erro de esquecer de levar o diário de
campo, impossibilitando de escrever.
Na ida ao terreiro São Rafael em 2019, a encantada Tereza Légua citou
a palavra “Boró”15, porém não anotei seu significado, pois falou muito rápido e o
som dos tambores estavam muito altos, impossibilitando de entender a
simbologia da palavra.
Durante o campo em agosto de 2021 no Templo São Miguel, perdi todos
os dados da minha pesquisa que estavam inseridos no meu celular, não
consegui recuperar, pois o display da tela queimou.

15
Boró - Assim é chamado o pagamento que é feito a um, médium, ou chefe de
terreiro, antecipadamente a qualquer trabalho, sendo desta forma mercantilizada de um modo
absoluto a mediunidade.
10

2. O PRIMEIRO (DES)ENCONTRO: ERVAS SAGRADAS NO CENTRO DE


ILUMINAÇÃO CRISTÃ LUZ UNIVERSAL SÃO PEDRO

● Breve Contextualização do município Marabá/PA.

Município localizado no Sudeste do Pará, com pontos de encontro entre


dois rios (Tucunaré e Itacaiúnas), com população de aproximadamente 287 mil
pessoas (IBGE, 2022).
Com a situação da pandemia com o covid 19, foi publicado um decreto
federal nº 10.282 em 20 de março de 2020 para regular os serviços essenciais
durante a quarentena, impossibilitando a abertura de igrejas e cultos no Brasil.
Em 18 de Junho de 2020, surge o decreto municipal nº 61 sobre os horários de
funcionamento de estabelecimentos e permitindo a realização de cultos e
eventos religiosos em Marabá:
Art. 8º. A partir de 22 de junho de 2020, fica permitida a realização de
cultos, missas e eventos religiosos presenciais com público de até
30% da capacidade do local, limitado ao total de 200 pessoas,
respeitando a distância mínima de 1,5 metros por pessoas com
máscara, com obrigatoriedade de fornecimento aos participantes de
alternativas de higienização - água e sabão e/ou álcool em gel 70%
(PREFEITURA DE MARABÁ, 2020) .

● Centro de Iluminação Cristã Céu de Cerejeiras

Minha primeira experiência com o daime, como havia escrito no capítulo


anterior, foi por meio de uma disciplina de Teoria Antropológica II em 2016,
coordenada pela professora e orientadora Gisela Macambira Villacorta. Foram
oito alunos ao campo no Centro de Iluminação Cristã Céu de Cerejeiras, a
experiência foi tão intensa que não consegui finalizar minha etnografia para a
disciplina, mas lembro bem de alguns detalhes. Antes de ir ao Daime, foi nos
aconselhado a passar três dias sem comer carne, sem beber bebidas
alcoólicas e fazer sem sexo antes de ir tomar a ayahuasca.
11

Figura 1. Primeiro trabalho de campo no Santo Daime em 2016.

Fotografia: Gisela Macambira Villacorta.

Chegando no dia onze, sábado, meu tio me deixou na casa da minha


colega por volta de umas 14h00min, íamos juntas pegar o ônibus para ir ao
encontro do resto da turma na casa da nossa professora. Eu tenho problemas
de ansiedade, não consegui comer direito antes de ir e tive problemas pra
dormir também, junto com a ansiedade estava o medo, medo da nova
experiência, de como eu iria lidar com o chá. Antes de ir na visita à igreja,
estava com os pensamentos acelerados e sempre com muita preocupação.

Na casa da professora, Aline - estudante de ciências sociais e colega de


turma- fez excelentes sanduíches vegetarianos para levar, mas também
decidimos comprar dois bolos para levar, assim ficamos ali, conversando e
tentando parecer que não estávamos ansioso, quando deu umas 17h00min
fomos para frente da faculdade esperar nossa carona, compramos o bolo e nos
esprememos no carro de um homem fardado no Centro que estávamos indo.

Chegando lá, o lugar era como eu imaginava ser, um sítio com grama e
árvores, bem espaçoso e calmo. Tem um fogão a lenha onde acontece o feitio
da ayahuasca, a mistura do cipó jagube16 e a rainha17. Colocamos as coisas na

16
Jagube - Cipó nativo da Amazônia cujo nome científico é Banisteriopsis Caapi.
17
Rainha - Planta arbórea nativa da Amazônia, utilizada junto com o Jagube para a
confecção da Ayahuasca, cujo nome científico é Psychotria viridis.
12

mesa próxima ao fogão e fomos conhecer o lugar, e lavar o salão. No canto da


parede, tem uma mesa onde se coloca os litros da ayahuasca e os copos, o
cruzeiro18 do santo daime em cima, uma imagem da virgem Maria e algumas
velas.

O salão é composto de vários símbolos, no centro uma mesa em


formato de estrela judaica (Estrela de Davi), a imagem da Virgem Maria em
cima, o Santo Cruzeiro19 embaixo dela, uma pedra embaixo da mesa para
canalizar as energias, em cima da virgem tem cristais em forma de gota, e no
teto mais uma estrela judaica. No canto superior direito, ficam os músicos,
tambores, violões, flautas e às vezes tocam o som de um apito imitando o
barulho de uma ave. Do lado esquerdo, após o muro do salão, tem algumas
rainhas plantadas.

Do lado de fora, tem um cruzeiro e embaixo dele a estrela de Davi20.


Atrás do Cruzeiro tem algumas plantações de rainha e de jagube. Na frente,
próximo ao fogão, tem um lugar específico onde as pessoas se juntam para
tomar rapé21.

Quando estava muito na “força”, entrei no banheiro e fiquei trancada lá


por cerca de vinte minutos, ficava pensando em ligar para meu pai e pedir que
fosse me buscar no sítio, achava que ia morrer, tudo girava. Lembro de uma
das minhas colegas de campo, ela batia na porta do banheiro e perguntou se
estava bem, respondi que sim e consegui sair. Após sair, ela passou um óleo
no meu braço para que eu pudesse cheirar e me acalmar, realmente ajudou22.

18
Santo Cruzeiro, símbolo da doutrina do santo daime (também conhecido como Cruz
de Caravaca).
19
Santo Cruzeiro - Símbolo da doutrina do santo daime (também conhecido como Cruz
de Caravaca).
20
Estrela de Davi, conhecida também como escudo supremo de Davi, é um símbolo
em forma de estrela formada por dois triângulos sobrepostos, iguais, tendo um de ponta para
cima e outro para baixo, utilizado pelo judaísmo.
21
Hoje o rapé é proibido nas duas igrejas do Santo Daime visitadas.
22
De acordo com Mabit (2004), a ayahuasca altera não só as percepções visuais mas,
“percepções auditivas (vozes, música, explosões); percepções estéticas: perceção de contato
sobre o corpo (por exemplo de modificação do rosto); percepções olfativas: odores intensos,
nauseabundos ou muito agradáveis; percepções cruzadas: um som visto em cores, um odor
percebido como uma forma, um sabor sentido de modo tátil etc. Percepções "gerais": o sujeito
percebe a sensação de “presenças" benéficas ou malévolas; de ambientes, de atmosfera com
caráter freqüentemente indefinível que temos classificado de sensações de estranheza".
13

Voltei para o salão, sentei na cadeira, tive uma “miração”23 com uma
floresta, senti uma cachoeira no local e ao mesmo tempo, vomitei ali mesmo,
do lado da minha cadeira, no meio do “trabalho”24. Não conseguia levantar, não
conseguia falar, tudo o que me restava era olhar a minha “limpeza”25 no chão e
ter miração com uma floresta, rios e animais. Alguns segundos depois, a
“madrinha” do centro limpou o local e vi meu amigo André pela primeira vez,
conheci ele neste Centro do Santo Daime, e nessa noite - durante o efeito do
Daime - vi que seu rosto estava com um formato de caveira.

Com o passar do tempo, a intensidade do psicoativo26 vai diminuindo e


ficou mais fácil entender o que realmente tinha acontecido, alguns tomavam
rapé naquela noite, mas sentia que ainda não estava preparada.
O rapé (dume deshke) é uma medicina para ser usada nas vias
nasais. É um pó em geral feito de tabaco e cinzas de cascas de
árvores, tais como cumaru (kumã), murici (yapa), pau-pereira,
canela-de-velho (xiwe mapu), cacau (txashu desha), ouricuri (tashkã)
e mulateiro. Essas cinzas são também chamadas de medicinas, pois
não se prepara o rapé com cinzas de qualquer árvore, mas com
aquelas que têm certas propriedades. O rapé pode ser usado
individualmente por meio de um curipe (ou kuxipa), ou assoprado por
uma pessoa em outra, com um tepi. Deve-se aplicar nas duas
narinas, uma por vez. Quando uma pessoa recebe um sopro (ou ela
mesma se aplica), ela deve suspender por um momento a inspiração
nasal, mantendo a respiração pela boca. Da mesma forma, não se
deve engolir o resíduo do rapé, mas cuspi-lo após algum tempo
(MENESES, 2018).

Após a minha primeira experiência, precisei de quase um ano para


poder conseguir voltar e tomar novamente, parei de tomar e de pesquisar
durante esse tempo, pois sentia que precisava de um momento para refletir
sobre tudo que senti.

Quando voltei, em 2017, tive a vontade de tomar rapé e sananga pela


primeira vez. Segundo Meneses (2018), a sananga (Tabernaemontana
sananho) é uma medicina feita do sumo de uma raiz e é aplicada nos dois
olhos, como um colírio:
Uma das diferenças em relação aos colírios dos brancos é que esta
arde e provoca lágrimas. O ardor pode variar muito, dependendo do

23
As mirações são consideradas experiências de natureza espiritual ou mística já que
são experiências vividas em outros planos, que só podem ser traduzidas para o plano material
de forma descritiva, performática e simbólica (COELHO, 2016).
24
Trabalho - No Santo Daime, nome referido ao ritual, se tratando de um trabalho
espiritual que tem como objetivo alcançar o autoconhecimento, aprendizado e cura.
25
Limpeza - Ato de libertar de impurezas, purgação, purificação.
26
Psicoativo - Que age sobre o sistema nervoso central, alterando as funções
cerebrais, o comportamento, a percepção.
14
“grau” da medicina. A sananga deve ser usada preferencialmente
fresca e seu recipiente guardado num local também fresco para que
não estrague. Para os Huni Kuĩ, além de curar nisũ (panema), maus
pensamentos e dor de cabeça, a sananga pode proporcionar curas de
problemas oculares por meio de tratamentos com uma série de
aplicações.

A partir de 2017, passei a tomar daime em todos os centros da cidade,


como visitante. Aprimorando a habilidade com a música, após tomar
ayahuasca todos os fins de semana, aprendi a tocar instrumentos como
maracá, tambores, violão, ukulele e participava dos estudos de hinários27
dentro das doutrinas28 do Santo Daime em Marabá. Sentia-me cada vez mais
próxima e conectada com a Rainha e o Jagube, as ervas do rapé e a sananga.

Levando em consideração a habilidade de aprender um instrumento, “o


movimento corporal do praticante é, ao mesmo tempo, um movimento de
atenção; porque ele olha, ouve e sente, mesmo quando trabalha” (INGOLD,
2010).

Segundo Ingold (2010) em relação a experiência e a transmissão de


conhecimento:
O papel da experiência e da transmissão geracional nos modos pelos
quais os seres humanos conhecem e participam da cultura.
Questiona o pressuposto da ciência cognitiva de que o conhecimento
existe principalmente na forma de ‘conteúdo mental’ que é passado
de geração em geração, e que a cultura é a herança que uma
população recebe de seus antepassados.

Levando em consideração essas experiências de campo com o uso das


medicinas da floresta, percebo essa relação das pessoas com o uso das
plantas. Ingold coloca que a vida social dos seres humanos está intimamente
envolvida com o restante da natureza, como parte do que está acontecendo
nela, em um movimento de troca entre o humano e o não humano (INGOLD,
2015, p.32).
O uso ritual da ayahuasca proporciona momentos de interação entre
homem e a natureza, que se configura em uma totalidade mística, panteísta
que parece estar atrelada às maneiras de saber que envolve o culto ecológico
presente no mundo alternativo (SOARES, 1994, p.198).
● Centro de Iluminação Cristã Luz Universal São Pedro

27
Hinários - conjunto de hinos recebidos por determinada pessoa. O termo também é
utilizado para se referir ao ritual, em que será entoado um determinado conjunto de hinos. Os
principais eventos da doutrina do Santo Daime são conhecidos como Hinários Oficiais.
28
Doutrina - Doutrina do Santo Daime é uma missão espiritual, que encaminha os seus
praticantes ao perdão e a regeneração do seu ser.
15

Foi realizada uma entrevista com o Sr. Nelson Lima do Centro de


Iluminação Cristã Luz Universal São Pedro, dia 01 de maio de 2021, para
conhecer as ervas e plantas utilizadas dentro do ritual do Santo Daime.
Perguntei-lhe sobre qual seria as plantas utilizadas na defumação e ele me
respondeu:

“A nossa defumação é o alecrim e a almesca, nós usamos o alecrim


que é uma defumação para limpeza do ambiente, das energias, das
energias mais pesadas. E a almesca é uma conexão com o astral,
com os seres extraterrestres, com os seres mais evoluídos que nós.
O alecrim eu compro, porque o que eu tenho aqui, eu tenho pé de
alecrim plantado, mas eu ainda não sei fazer, tem que ressecar, tem
que desidratar, e também não tenho em grande quantidade. A
almesca, eu pego sempre em Araguaína, na casa da minha sogra
tem bastante pé de almesca, aí eu trago a resina e o caule, eu
raspo o caule e pego aquelas “farpas” de caule e coloco em um
frasco grande, e ali ela tem o mesmo cheiro, na hora que pega na
brasa ela queima e no próprio caule já tem a resina” (LIMA, 2021).

De acordo com essa percepção sagrada do ambiente, Chiesa (2017),


em diálogo com os pensamentos de Tim Ingold e Gregory Bateson, expõe que
para termos uma percepção sagrada do universo, de tudo ao nosso redor e até
de nós mesmos, devemos estar atentos ao momento presente:
Temos que estar ligados aos movimentos de “continuidades, as
conexões, aos fluxos que percorrem, unificam e atravessam todo o
ambiente”, ou seja, “estabelecer conexões ou (re)ligações entre
diferentes planos ou dimensões, entre os próprios seres humanos (e
não-humanos)”. Desse modo, perceber o ambiente/mundo de
maneira sagrada, significa dizer que devemos ter um olhar mais
aguçado e atento a vida e as suas continuidades, exercitando o afetar
e ser afetado, por esse universo de infinitas possibilidades, “ver para
além daquilo que se vê” (CHIESA, 2017, p. 428).

Quando perguntei ao Sr. Nelson a importância da defumação para o


trabalho no Santo Daime, ele me falou que é para limpeza do ambiente, a
limpeza pesada.

“As pessoas que frequentam um centro espírita, elas trazem energias


junto delas, pregado mesmo na aura, e elas deixam no local, é como
se fosse um rastro, de uma pessoa ou de um animal, ela fica
impregnado dentro da casa. Então a defumação ela serve para fazer a
limpeza dessas energias, é como se fosse um bloqueador desse tipo
de energia. E como havia falado, a almesca a gente usa para o contato
com os seres divinos através da fumaça” (LIMA, 2021).

Percebe-se que a relação das ervas durante a defumação, estabelece


uma conexão espiritual com outros seres do astral e promove uma limpeza
energética do ambiente. Através dessa experiência com o sagrado, fica
16

estabelecido um movimento, onde através das plantas, se alcança um


determinado processo de cura.
A experiência do sagrado corporificado na natureza, que evoca energias
e forças que remetem para uma ‘outridade’ que não se esgota nas
representações culturais e linguísticas, encontra no habitus ecológico
contemporâneo um importante ponto de ancoragem e de plausibilidade (STEIL
& CARVALHO, 2008, p.302).
O “cuidado da alma compreende igualmente um domínio de saberes
relativos a novas formas de espiritualidades, terapias alternativas, meditação,
dentre outras” (STEIL & CARVALHO, 2008, p.290).
17

Figura 2 . Plantas usadas na defumação durante os trabalhos no Centro de Iluminação Cristã


Céu de São Pedro29, a esquerda a Almesca (Protium spruceanum (Benth.) Engl.) e na direita o
alecrim (Rosmarinus officinalis L.).

Fonte: Fotografia tirada pela autora.

29
Essa defumação não são regras no Santo Daime e em outras igrejas da cidade, esta
é uma defumação oficial do Centro São Pedro.
18

Tabela 1. Plantas utilizadas no São Pedro.

Família Nome Nome popular Forma de Parte Origem


científico uso usada

Burseraceae Protium Almesca; Defumação Casca Nativa


spruceanum Amescla; Breu
(Benth.) Engl. Branco;
Almecegueira

Lamiaceae Rosmarinus Alecrim Defumação Folhas Exótica


officinalis L

Rubiaceae Psychotria Rainha; Chá; Folhas Nativa


viridis Ruiz & Chacrona Decocção
Pav.

Malpighiaceae Banisteriopsis Jagube; Cipó; Chá; Caule Nativa


caapi (Spruce Mariri Decocção
ex Griseb.)
Morton

Fonte: Tabela feita pela autora.

Perguntei ao Sr. Nelson sobre a importância da doutrina do Santo Daime


e do chá (Daime) e ele respondeu:
A importância (do daime) para a humanidade é muito grande, a gente
vive em um momento bastante conturbado, as idéias estão muito
abertas para certos tipos de comportamentos, e isso prejudica muito.
O daime ele vem como um ponto de equilíbrio, o que você deve fazer
pra você ser feliz? Junto a sociedade e a sua família (como um todo)?
Outra parte também que eu vejo, é que o daime é bastante útil, é no
uso de drogas pesadas, você vê que a humanidade hoje ela está tão
pesada por essa busca, por essa procura, porque a nossa vida é
simples [...] Quando você vive uma vida simples, você tem mais
chance de ser feliz, e quando você busca muito, você nunca vai
encontrar o ponto certo, pois o equilíbrio ele não está em uma busca
de sucesso ou de coisas diferentes, ele está na simplicidade, naquilo
que é simples, então o daime nos mostra isso, que a gente complica
demais a nossa vida [...] O terceiro ponto seria essa angústia, essa
procura desenfreada pelo sucesso, por coisas diferentes, por isso e
aquilo, a gente vê isso até mesmo dentro da doutrina, as pessoas
querendo inventar moda onde não tem, então essa procura
desenfreada ela vai adoecendo a gente, você sempre vai querer mais
e mais e nunca vai chegar no topo, quanto mais você tem, mais você
quer, conhecimento quanto mais você tem, mais você quer, dinheiro
quanto mais você tem, mais você quer, sexo...Então o ponto de
equilíbrio está na simplicidade, e quando você tem essas coisas em
abundância, ao extremo, você acaba adoecendo (LIMA, 2021).

Segundo Coelho (2019), os valores ecológicos experienciados por esses


grupos, estão associados a presença de uma sacralidade que envolve a
natureza, e por meio dessa interação com o ambiente unida ao uso ritual da
19

ayahuasca podem ocorrer processos de cura e restauração da saúde física,


mental e espiritual.
Continuando com a entrevista e em diálogo com as pesquisas sobre
processo de cura com o Santo Daime, Sr Nelson fala que nunca viu a
humanidade tão doente, nunca havia visto tantas pessoas com depressão e
viciados em droga.

O daime ele serve pra isso também, equilibrar o organismo e jogar


aquela energia ruim que nós temos, que futuramente vai virar uma
doença [...] O nosso ser, ele é formado de matéria e espírito, a
matéria é as células e o espírito é a energia. O daime serve pra isso
também, afastar as doenças físicas e espirituais do nosso organismo,
eu vejo essa doutrina, como a ferramenta mais importante que nós
podemos usar para viver nesse mundo (LIMA, 2021).

Com isso, as religiões ayahuasqueiras não se enquadram em um


sistema xamânico de conhecimento, contudo estaria imersa a uma práxis
xamânica com formato e linguagem cristã (Groisman, 1999 apud
FERNANDES, 2018, p. 296).
Segundo Nelson (2021), o daime é uma doutrina que veio do astral,
chegou um momento que a Virgem da Conceição30, iria entregar a ayahuasca
para uma pessoa, na qual com a concepção da bebida, ajudaria a humanidade
com um "portal'', um conhecimento em outra frequência, seria um
conhecimento mais pro lado do cristianismo.

De acordo com Chiesa (2016, p. 256):


Essa percepção “sagrada” do ambiente, que se relaciona a uma
determinada forma de compreender e vivenciar a saúde e a doença.
A consciência de que produzimos, afetamos e somos afetados por
essas “forças” que circulam pelo ambiente exige de nós um
redobrado cuidado ou estado de atenção que vai além dos cinco
sentidos físicos. Exige de nós um saber ser afetado, de uma maneira
saudável, por tudo aquilo que nos envolve e afeta. A restauração da
saúde implica, portanto, num processo de aprendizado e
transformação da percepção do ambiente e, de maneira indissociável,
do próprio ser.

Finalizando a entrevista, Nelson afirma que vê a doutrina como uma


dádiva dos seres divinos, e que em determinado momento ela veio para o
Mestre Irineu e hoje permite mudar a vidas das pessoas, onde segundo ele a
doutrina está "tentando curar essa nossa humanidade tão doente" (LIMA,
2021).

30
Virgem da Conceição, também identificada como Rainha da Floresta, tornou-se
patrona da religião do Santo Daime em função de sua presença nas narrativas fundacionais
que a identificam como instrutora espiritual do fundador Raimundo Irineu Serra (Mestre Irineu)
em sua iniciação com a ayahuasca.
20

A antropologia de Tim Ingold parte do pressuposto de uma simetria que


aproxima os seres humanos aos animais, rios, mar, pedra, folha. Tudo está vivo
e interligado, onde todos partilham de um mesmo ambiente. Como a vida está
em tudo e tudo tem vida, as folhas dentro do Santo Daime tem uma
importância para além da matéria, para uma dimensão do que chamam de
"astral".

As folhas, por sua vez, estão vivas, estão completamente imersas no


ambiente. Segundo Coccia (2016), a vida vegetal é a vida enquanto exposição
integral, em continuidade absoluta e em comunhão global com o ambiente. Ela
complementa dizendo:
“Sua ausência de movimento é apenas o reverso de sua adesão
integral ao que lhes acontece e a seu ambiente. Não se pode separar
a planta do mundo que a acolhe. Ela é a forma mais intensa, mais
radical, mais paradigmática do estar-no-mundo. A planta encarna o
laço mais íntimo e mais elementar que a vida pode estabelecer com o
mundo” (COCCIA, 2016).

Utilizar as plantas em um ritual, trás a tona, a utilização da vida das


plantas para a existência de outros viventes. Coccia (2016) afirma que:
“Toda a forma de vida exige que já haja vida no mundo. Os homens
precisam da vida produzida pelos animais e pelas plantas [...] Viver é
essencialmente viver da vida de outrem: viver na e através da vida
que outros souberam construir e inventar. Como se a vida em suas
formas mais complexas e articuladas nunca passasse de uma imensa
tautologia cósmica: ela pressupõe a si mesma, só produz a si mesma.
É por isso que a vida parece que só pode se explicar a partir de si
mesma.”
21

3. CAMINHANDO: ERVAS E MEDICINAS DA FLORESTA EM RITUAIS DO


SAGRADO FEMININO

A partir de dois mil e dezessete, conheci os círculos de sagrado


feminino, organizado por mulheres que participavam da Doutrina do Santo
Daime em Marabá, no começo não fui como pesquisadora, porém no ano
seguinte percebi que já estava imersa e sentia facilidade em continuar naquele
campo. Ajudava no que era preciso e observava as características dos rituais.

Os encontros aconteciam uma vez ao mês, sendo cada encontro um


tema diferente. Foram-se criando com o tempo outros círculos em outros
centros, sempre com o mesmo viés.

Os encontros do Sagrado Feminino utilizam de arquétipos para


promover a representação feminina utilizada durante anos, por diversas
culturas e em diversas épocas. “Os arquétipos são os componentes da camada
da psique comuns a todos chamada inconsciente coletivo [...] É a fôrma de
onde saem as mesmas ideias comuns a toda humanidade. ” (PAULA, 2008)
Para tratar do arquétipo feminino na concepção Junguiana, WOOLGER
(1994, p. 15-16) conceitua a Deusa como:
A forma que um arquétipo feminino pode assumir no contexto de uma
narrativa ou epopéia mitológica, [...] o que vale dizer, fontes
derradeiras daqueles padrões emocionais de nossos pensamentos,
sentimentos, instintos e comportamento que poderíamos chamar de
‘femininos’ na acepção mais ampla da palavra. Tudo o que pensamos
com criatividade e inspiração, tudo o que acalentamos, que
amamentamos, que gostamos, toda a paixão, desejo e sexualidade,
tudo o que nos impele à união, à coesão social, à comunhão e à
proximidade humana, todas as alianças e fusões, e também todos os
impulsos de absorver, destruir, reproduzir e duplicar, pertencem ao
arquétipo do feminino.

O arquétipo de Deusa está presente em várias culturas e religiões, como


no Período Paleolítico:
Nesse período, a religião era baseada nas forças da natureza e a
Deusa era a Tellus Mater, a mãe Gaia. Entre ela, outras deusas que
mais se destacam na história Ísis, no Egito, Gaia, em Creta, Rea em
Micenas, Deméter, no santuário de Elêusis, Hera na cidade de
Atenas, Afrodite, na Frígia, Ártemis, em Éfeso, Dea, na Síria, Anaitis,
na Pérsia, Isthar, na Babilônia, Astarte, na Fenícia, Atargatis, na
Cananéia, Mâ, na Capadócia, Bendis e Cottyto, na Trácia.
Conhece-se também várias personificações dos horrores femininos
que derivam da suprema Mãe Terrível, como as Górgonas, as Fúrias
ou Erínias, as Keres, as Sereias, as Harpias, Lâmia, Êmpusa, Circe,
Cila, Caríbdis, Kali, Sin, dentre outras. (RIBEIRO, 2008)

Existe uma infinidade de símbolos, para a filosofia chinesa por exemplo,


existe o yin e o yang que significa os opostos, luz e escuridão, terra e céu, e o
22

feminino é representado pelo yin e pela terra, tanto para os chineses, como
para outras culturas, a terra simbolizando o criar, o gerar vida, da fecundidade
e gestação. Outra representação bastante comum é a Lua, principalmente
devido à mudança dos ciclos da menstruação e da fertilidade.
Percebi que os encontros do Sagrado Feminino, e o uso da ayahuasca,
introduz com muito mais aprofundamento as informações e conhecimentos
apresentados em cada ritual, ajudando a melhorar o estilo de vida e a reviver
as práticas culturais de círculos de mulheres.
Segundo pesquisas de ASSIS; LINS & FARIA (2014):
O uso da ayahuasca melhora a subjetividade do indivíduo e a
qualidade de vida, melhora a relação de autoconhecimento, ajuda no
tratamento de dependência, ajuda a melhorar o domínio de si e do
ambiente, ou seja, por meio das mirações, a ayahuasca mostra
aprendizados que permite a pessoa adquirir hábitos como práticas de
exercícios físicos, de bem-estar, cuidados com o corpo (dietas e
abstinências) e desenvolvimento de autocontrole. Ajuda também com
relações sociais, que induzido pelas mirações e principalmente pela
comunicação, permite à pessoa melhorar comportamentos com
familiares e amigos.

Realizei uma entrevista semi estruturada com a Madrinha Kátia da


Irmandade Ayahuasca, em Marabá, por meio de mensagens por whatsapp em
dezesseis de fevereiro de dois mil e vinte e dois. Perguntei a respeito do que
seria a “cura” para ela e a respeito da relação das plantas com o ritual do
sagrado feminino.
Na etimologia da palavra cura quer dizer restabelecimento da saúde
(mental, físico e espiritual) e que a cura pode realizar-se no psiquê
(traumas e sentimentos), no biológico (doenças em geral) e no
espiritual (se realizando o ser por inteiro), o que atinge sua alma pode
afetar em todos os campos [...] As plantas são para os efeitos curativos
do corpo e da alma. As ervas fazem parte do simbolismo espiritual
onde lavamos e curamos. As ervas são doadas pela nossa mãe Terra
Gaya, fazendo parte do nosso ritual lavando, curando e perfumando
nossa alma, e reverenciando a deusa interior de cada uma. Uma
reverência ao Sagrado Feminino (KATIA, 2022).

Perguntei também a respeito das medicinas da floresta, em relação ao


chá do daime, sananga e rapé, qual seria a relação do sagrado feminino com
essas práticas. Ela me informou que as medicinas não fazem parte do sagrado
e foram introduzidas aqui no Brasil. O rapé e a sananga não fazem parte dos
rituais do sagrado feminino, apenas a “Madre Ayahuasca”. Ela informou
também que se estas medicinas podem estar sendo introduzidas mas não tem
conhecimento disso.
Atualmente, existem três grupos de círculos de mulheres, sendo dois
vinculados à igreja do Santo Daime (na qual é proibido o uso de medicinas da
floresta além da ayahuasca), e um grupo neoayahuasqueiro de mulheres na
23

qual é utilizado o rapé e a cannabis sativa, após o ritual, esse último realizou
somente um encontro.
A Cannabis, chamada de pito ou Santa Maria, tão substancial na
cosmologia daimista, passou a ser consumida também por indígenas
e xamanistas. Podemos afirmar que a Cannabis é uma das
substâncias bastante presentes nos circuitos xamânicos
contemporâneos, e há aqueles (mesmo que muito poucos) que a
consideram também como uma medicina da floresta. (FERNANDES,
2018).

Em relação a padronização de encontros, Fernandes (2018) afirma:


A notável plasticidade do neoxamanismo impede qualquer tipo de
padronização, e os ritos e aspectos cosmológicos acabam por
obedecer à idiossincrasia de cada dirigente ou grupo. Todavia, é
possível observar tendências. No circuito urbano da ayahuasca,
tornou-se comum um modelo de ritual em que as medicinas da
floresta (ayahuasca e rapé, entre outras) são consumidas.

Junto com isso houve o conhecimento de que os encontros de Sagrado


Feminino, com várias mulheres reunidas, gera à alguns homens - fardados31 da
doutrina - uma potência de perigo, aos dogmas e preceitos machistas.
Manifestado com olhares, reclamações ou indicações de que os encontros não
seriam necessários, que não precisassem tomar ayahuasca.
De acordo com Machado (2019):
Hoje o estudo do sagrado feminino bem como as suas práticas vem
respondendo a essa sociedade machista, pelo empoderamento e
resgate dos saberes sagrados. O movimento nesse sentido é para
dentro, a busca do contato com seu eu mais profundo, o
autoconhecimento, a intimidade com suas fases lunares, com sua lua
interna [...] A aliança entre o movimento do sagrado feminino ao
empoderamento da mulher no movimento feminista é o casamento
perfeito, tendo em vista que enquanto o primeiro busca o
desenvolvimento interno, o segundo busca empoderar a mulher na
luta dos seus direitos e seu papel na sociedade.

Partindo disso, realizei um trabalho de campo em dois mil e dezoito,


onde entrevistei a Madrinha32 Alessandra e a facilitadora Glenda Carvalho, para
saber a perspectiva delas sobre o sagrado feminino e como começou.
Me chamo Alessandra, eu sou da igreja, faço parte igreja Céu de
Cajueiro, onde nós desenvolvemos o estudo do sagrado feminino,
começamos a realizar nossos estudos do Sagrado Feminino a mais
ou menos dois anos, e ele tem o intuito de aproximar as mulheres
para que a gente possa, juntas, estudar a fundo parte do que éramos,
o que fazíamos, resgatar realmente aquilo que nossas avós, nossas
bisavós elas faziam, então tem dado muito certo os nossos encontros,

31
Fardamento é o momento onde o aspirante torna-se adepto e membro efetivo da
casa, através de um ritual.
32
Madrinha e Padrinho são os termos utilizados no Santo Daime para designar os
dirigentes da igreja.
24
que acontecem de dois em dois meses, uma vez por mês, e eu faço
conjunto com a minha filha, com a minha mãe, com a minha sogra, as
irmãs membras também da igreja, e visitantes [...] É tão bom que a
partir da primeira vez que fazemos parte nós não queremos mais
parar, então a minha colocação aqui é só de agradecimento, e só sei
que tenho muito que aprender, muito em que colocar em prática e só
agradecimento (ALESSANDRA, 2018).

Meu nome é Glenda Carvalho, e meu primeiro contato com o sagrado


feminino foi através do Centro de Iluminação Estrela Iluminada, aqui
em São Luís no Maranhão, por meio das mulheres que são fardadas
aqui no centro, elas são fardadas e elas começaram a fazer um
trabalho que elas chamam de trabalho de mulheres. O primeiro
encontro do sagrado feminino foi em dois mil e dezessete, e esse
círculo ele se baseou em começar estudos que falassem do resgate
desse feminino, da mulher, do resgate da ancestralidade, falar da
construção de uma irmandade entre mulheres e se desvencilhar de
paradigmas que ocorre uma separação entre elas, essa foi a nossa
proposta de começar esses encontros e também para consagrar o
daime apenas as mulheres juntas, que é uma característica própria
de mulheres que são da doutrina, do daime, o objetivo foi pra isso,
para fortalecer esse vínculo. Então na minha perspectiva o estudo do
sagrado feminino ele é fazer esse resgate, o resgate da
espiritualidade [...] É construir uma nova irmandade, entre mulheres,
uma nova irmandade nesse tempo atual, e ao mesmo tempo fazer um
resgate de conhecimentos ancestrais. O sagrado feminino também
está relacionado com a cura interna, principalmente com a cura
familiar, o aspecto principalmente entre a relação mãe e filha, da
relação mãe e avó, de reverenciar essas mulheres que batalharam e
que deram todo apoio para essas mulheres atuais e que também
sofreram ao longo do tempo por conta do sistema patriarcal
(CARVALHO, 2018).

Durante a pesquisa, participei de um dos rituais do Sagrado Feminino


deste grupo intitulado "Beija Flor Dourado”. Os registros a seguir são frutos do
meu diário de campo. Antes de iniciar o “trabalho” com a ayahuasca, foi feita
uma prática de yoga, conforme a figura 3.
25

Figura 3. Prática de yoga antes de começar o ritual.

Fonte: Fotografia tirada pela autora.

Após a prática de yoga, fizemos um círculo, nos apresentamos e


falamos o porquê de estar ali, percebi que tinha a presença de um homem,
chamado Igor, ele informou que está em processo de autoconhecimento e de
se encontrar.

Às nove horas da noite, iniciamos os trabalhos, antes de todas tomar o


daime, começamos a cantar, sentamos em um círculo ao redor de uma
fogueira, colocamos uns panos no chão, tinha um violão, um tambor xamânico
e alguns maracás. Cantamos para iniciar o trabalho o hino33 Eu devo amar do
Mestre Irineu, enquanto cantávamos, começaram a se levantar aos poucos,
enquanto umas saiam, outras iam e formavam uma fila de até duas pessoas
para comungar o daime, sob a mesa decorada com uma jarra de vidro com a
ayahuasca, uma vela e um pequeno pedaço de jagube.

33
Hino, é um cântico ou poema da doutrina do Santo Daime.
26

Houve um momento de silêncio então Jhenni, uma das integrantes do


círculo, disse que havia trago o hinário34 criado pela Glenda e apresentado a
todas no círculo anterior só com hinos daimistas que falam sobre o arquétipo
de mulher. A facilitadora disse que ela podia cantar e puxar os hinos, então
cantamos a música Encostado a minha mãe do Mestre Irineu.

Às nove e vinte e três, já me encontro na força35, nesse momento,


lembro-me do quanto foi difícil ficar lembrando de colocar os áudios para
gravar, fazer etnografia após tomar ayahuasca é um processo muito
trabalhoso, fiquei o tempo todo achando que os áudios não estavam saindo ou
tinha alguma coisa de errado com o que eu estava fazendo, não consegui me
concentrar direito e não gostei de tirar fotos na força, achava que as pessoas
não estavam gostando e que estava sendo inconveniente, mas na verdade era
só a força mesmo me dando “peia36”.

Essa força me deu muita vontade de dançar, todas as músicas que


tocava eu já conhecia, fiquei dançando sentada, com a cabeça e com as mãos,
eu mexia as minhas mãos de acordo com o ritmo das músicas e ia fazendo
coreografias internamente.

A fogueira soltava faíscas que se juntavam ao vento, estávamos dentro


da floresta, e senti na força, que as árvores por perto estavam dançando
também junto com as músicas e as fogueiras, as árvores balançavam com o
vento e brilhavam com a luz da fogueira.

Enquanto isso, Camila Silva - uma das integrantes do Sagrado


Feminino- tocou o tambor enquanto as outras tocavam maracá e cantavam a
música Iemanjá de Léo Artése.

34
Conjunto de hinos do Santo Daime.
35
Força - a ingestão do chá provoca o efeito denominado de força para os adeptos do
Santo Daime.
36
Peia é popularmente conhecida entre os adeptos do Santo Daime. Expressa-se por
vômitos, diarréias, tremedeiras, mal estar, ou qualquer outro tipo de evento desagradável pelo
qual possa se encontrar o sujeito sob efeitos do potente alucinógeno de origem indígena.
27

Silêncio de alguns minutos, então Camila começou a tocar o tambor ao


som das batidas do coração e depois de mais alguns minutos de silêncio,
começaram a cantar de novo o hino “Minha rosa do Jardim do Mestre Irineu”.

Quando parou a música, Glenda começou a falar:

“Meninas, então a gente vai dar início a meditação, esse trabalho,


esse encontro sagrado, está sendo realizado no primeiro dia de lua
crescente, a lua crescente ela simboliza a prosperidade, o
crescimento de novas oportunidades no nosso caminho. Ela
representa também novas energias que estão crescendo dentro da
gente, um poder que nos leva para a lua cheia, que é a transformação
e como nós estamos aqui neste momento, eu quero que a gente tente
pensar no crescimento de coisas prósperas, momentos e situações
prósperas na nossa vida, e sempre pensando, que eu menciono
bastante, que não é só para nós mas para aqueles que estão à nossa
volta (CARVALHO, 2018).

Logo após isso, ela começa a explicar de maneira básica e rápida os


chakras do corpo humano, seus símbolos e significados, explicando que
naquela sessão estaríamos estudando o chakra cardíaco.

Estamos entrando nessa meditação para tratar do chakra cardíaco. O


primeiro chakra é o chakra básico, e ele está relacionado a
manifestação do eu sou, que é a manifestação com a terra, o
elemento do chakra básico é o elemento terra. Posteriormente, nós
temos o elemento água, que representa o chakra sacro, que foi
segundo chakra que nós estudamos, que está relacionado a
manifestação da criatividade. Posteriormente, temos o nosso chakra
plexo solar, que é o chakra que está próximo ao umbigo, o elemento
dele é o elemento fogo. O Chakra cardíaco está próximo do nosso
coração, ele representa o elemento ar, a liberdade, o sentimento de
perdão. Quando você liberta as mágoas do seu coração, os
sentimentos ruins, as tristezas profundas que sente dentro de si, você
se abre, se liberta, para novas oportunidades, novos sentimentos,
então é o elemento ar, a respiração, o sentir (CARVALHO, 2018).
28

Continuando, Glenda pede para sentarmos em uma postura confortável,


respirar o ar que nos alimenta e agradecer por estar respirando.

Então vamos agradecer o elemento ar e pensar que esse ar ele


também está dentro das nossas células. Então vamos inspirar,
agradecendo esse momento, agradecendo a oportunidade de
estamos aqui, agradecer pela oportunidade de estarmos respirando,
agradecendo a oportunidade de viver essa vida, de estar nessa
existência, que possamos pedir nesse momento da meditação que
esse fogo sagrado que está aqui entre nós, possa livrar os
sentimentos ruins do nosso peito, que possa purificar o nosso espírito
(CARVALHO, 2018).

Ela pede para sentirmos o elemento terra, nos conectar com a mãe
terra, também agradecer a água e ao ar.

Que possamos sentir o elemento terra, nos conectando com a mãe


terra, nós já estamos nessa conexão, basta a gente reconhecer, sentir
essa percepção de estarmos com a terra. Vamos agradecer a água
que é vida, que está em nosso corpo, agradecer a água que nós nos
alimentamos, que nós bebemos para matar a nossa sede. Vamos
agradecer ao ar que nós respiramos, vamos agradecer ao poder
divino manifestado através da mãe natureza, agradecer ao pai, ao pai
Sol, a avó Lua, a mãe Terra, ao poder divino que nos rege, agradecer
pela oportunidade de receber dádivas divinas (CARVALHO, 2018).

Glenda abre o espaço para a meditação, incentivando que todas as


pessoas centralizem seu pensamento para a cura interna ou para alguma
pessoa que esteja precisando.

Que possamos pedir a cura para nos livrar dos sentimentos que nos
aprisionam, seja ressentimentos, ressentimentos familiares, um
relacionamento que não deu certo, desentendimento com amigos,
que a gente possa se livrar dessas mágoas, desses pensamentos,
estarmos livres, com o peito aberto, para chamar o amor interno.
Vamos fazer uma meditação de em torno de cinquenta minutos, eu
vou colocar umas músicas, aí quem sentir a necessidade de tomar o
daime, é só falar com a Jana ou a Ana que está aqui do lado, que
elas vão servir novamente o daime, e se sentir vontade de tomar uma
29
água e não tiver a possibilidade, não estiver se sentindo bem pra se
levantar e ir buscar a água, pode falar comigo tá, que eu vou lá
buscar pra você (CARVALHO, 2018).

Nesse momento, ela colocou músicas com flautas NAF37 para tocar,
coloquei o celular para gravar todas as músicas, foram músicas xamânicas,
indígenas, ayahuasqueiras.

A meditação deste sagrado feminino fugiu todos os estereótipos de


daimista, aconteceu na floresta, com músicas ayahuasqueiras, e fora do
padrão do salão do daime38. Eu conhecia todas as músicas da meditação,
lembro-me de cantar todas, enquanto as meninas estavam deitadas, eu estava
sentada, implorando mentalmente para todas se levantarem e fazermos uma
dança circular, porque a minha energia estava muito feliz e alegre, por estarem
tocando aquelas músicas e pelo ritual ter sido na floresta com direito a fogueira.

Pouco antes de terminar a meditação, fui ao banheiro na força, estava


descalça e a grama estava muito fria, cada pisar era um sentir diferente, pisava
com muito cuidado. Cheguei ao banheiro, me olhei no espelho e disse a mim
mesma: “Você é linda, você é linda! ”, falei com muita convicção, ciente de que
meu cérebro na força ia reforçar ainda mais essa ideia.

Tenho baixa autoestima, hoje analisando esse meu momento no


banheiro percebi que aquela menina que disse aquilo no banheiro não parecia
eu, ou ao contrário, era o meu real ser, antes de falar, meu cérebro não ficou
me julgando ou me colocando para baixo, pelo contrário, foi como se eu tivesse
o controle e agisse na minha intuição. Sai do banheiro extremamente feliz
comigo mesma, então voltei para a roda e antes de sentar, tirei mais algumas
fotos do círculo.

37
Flauta NAF - A flauta nativa americana é uma flauta que é segurada na frente do
tocador, tem orifícios para os dedos abertos, e tem duas câmaras: uma para recolher a
respiração do jogador e uma segunda câmara que cria o som. O jogador respira em uma das
pontas da flauta sem necessidade de embocadura.
38
Em relação ao padrão de ritual, se trata pelo fato de que a maioria dos encontros de
sagrado feminino acontecem em sítios de igrejas daimistas e com mulheres fardadas na
doutrina.
30

Quando voltei a roda, a concentração estava quase acabando, então


dentro do mesmo círculo, começamos a falar sobre aflições e medos, jogando
para fora todas as mágoas que guardamos dos outros e até de nós mesmos,
pude perceber, na força, que cada pessoa ali relata uma situação diferente,
seja de depressão, ataques de pânico, até problemas de família como foi o
meu caso.

Quando chegou a minha vez de falar, comecei a chorar e todas


esperaram eu me acalmar, então falei sobre meus problemas e aos poucos fui
me sentindo aliviada por estar jogando fora todas as amarguras, traumas e
deixando-o no passado.

Falei sobre não conseguir ser a filha que meus pais queriam e que quero
muito adquirir a independência para privar a minha saúde mental, pois sinto
que a energia da minha casa varia em determinados momentos e que não
gosto dessa variação. Quando terminei de falar, a madrinha Alessandra me
perguntou como eu me sentia em relação aos meus pais e eu respondi que
sentia gratidão por eles terem me ajudado e me criado com tudo o que eu
precisava e que amo muito eles, mesmo não conseguindo expressar isso no
dia-a-dia.

Quando todas terminamos de falar, Glenda deu a última fala para


finalizar o trabalho enquanto coloquei o gravador próximo a ela:

A gente saber escutar a nossa irmã que está do nosso lado,


entendê-la, que ela também tem dificuldades, você também tem as
suas dificuldades, você compartilhar as suas dores, compartilhar
experiências, e você crescer junto com ela, você não caminha
separado lá na frente, você caminha juntas, compartilhando
justamente as experiências, e aprendendo juntas também, e na nossa
sociedade tem muito dessa questão da rivalidade, e liberar o amor, o
amor dentro do coração é reconhecer isso. Olhar com mais carinho
cada mulher que passa na nossa vida, mesmo aquelas mulheres que
a gente não tem nenhum contato, na verdade a gente deve olhar
assim pra tudo, pra todos os seres existentes, todos os animais, todos
31
os homens, todas as mulheres, todos são manifestação divina
(CARVALHO, 2018).

Continuando, ela cita a fala de uma das meninas e narra sobre o


fortalecimento, crescimento e amadurecimento.

Como a Ana falou, nós temos que nos fortalecer, então existem
mágoas, existem também boas experiências e elas nos traz
amadurecimento, crescimento nos torna mais forte, então não existe
bom nem ruim, existe o nível de aprendizado que você teve com essa
experiência, então a gente tem que pegar cada experiência e tentar
absorver o melhor possível, seja das mágoas ou dos bons
sentimentos (CARVALHO, 2018).

Fiquei muito preocupada com a pesquisa, sempre achando que estava


fazendo errado, mas na força, me veio calma e que eu tinha que aproveitar
cada momento porque aquele ritual era único.

No final do trabalho, era uma hora da manhã, Alessandra perguntou se


gostaríamos de uma dança circular, mas devido ao horário, resolveram fazer
um lanche, depois fizemos uma oração e fomos para a cozinha, lá tiramos
fotos, fizemos uma outra oração e comemos bolos, sucos e frutas.

Os sagrados foram ministrados junto com yoga, banho de ervas,


músicas e artes, em todos são realizados rituais com ayahuasca. Foi feito uma
catalogalização das plantas utilizadas nos banhos, defumação e consagração
da ayahuasca, utilizei listagem simples por meio de entrevista e fotografias dos
banhos.
32

Tabela 2. Plantas utilizadas durante o sagrado feminino.


Família Nome científico Nome popular Forma de Parte usada
uso

Boraginaceae Cordia ecalyculata Vell. Porangaba Banho Folhas

Fabaceae Senna alexandrina Mill. Senea Banho Folhas

Asteraceae Cynara cardunculus L. Alcachofra Banho Folhas

Apiaceae Centella asiatica (L.) Urb. Centella Asiática Banho Folhas

Monimiaceae Peumus boldus Molina Boldo-do-chile Banho Folhas

Lamiaceae Melissa officinalis L. Erva-cidreira Banho Folhas

Apiaceae Pimpinella anisum L. Erva-doce Banho Sementes

Lamiaceae Mentha spicata L. Hortelã Banho Folhas

Lamiaceae Rosmarinus officinalis L. Alecrim Banho e Folhas


Defumação

Equisetaceae Equisetum arvense L. Cavalinha Banho Caule e Folha

Rubiaceae Psychotria viridis Ruiz & Rainha; Chá; Folhas


Pav. Chacrona Decocção

Malpighiaceae Banisteriopsis caapi Jagube; Cipó; Chá; Caule


(Spruce ex Griseb.) Mariri Decocção
Morton
Fonte: Dados do diário de campo da autora.
33

Figura 4. Roda de fogueira durante o ritual.

Fonte: fotografia tirada pela autora.


34

4. MAIS UM PERCURSO: ERVAS SAGRADAS NO TEMPLO SÃO MIGUEL

● Contextualizando o significado da Umbanda


Na Gramática Quimbundo de Quintão, editada em 1934, umbanda
significa “Arte de curar, de Kimbanda, Curandeiro” (MATTA E SILVA, 2007,
p.27).
Segundo Chatelain (1984), U-banda é derivada de Ki-mbanda. Umbanda
segundo ele significa faculdade, ciência e profissão de curar por meio de
medicinas naturais ou sobrenaturais, de adivinhar o desconhecido através da
consulta às sombras dos mortos e de induzir esses espíritos a influenciar os
homens e a natureza para a prosperidade ou aflição humana.

Os objetos (encantamentos) os quais se supõe estabelecer e


determinar a conexão entre os espíritos e o mundo físico.
(CHATELAIN, 1984, P.268).

● Ossain, o Orixá das folhas.

Segundo Prandi (2001), dentro da Umbanda e do Candomblé, a


sabedoria sobre o manuseio das folhas é dada somente por Ossayn. Cada
orixá detém o poder sobre algumas folhas. Segundo narra os itans39, Ossayin
era o detentor de todos os segredos das folhas. Xangô, Orixá da justiça, julga
que todos os outros orixás deveriam saber do segredo das folhas, Ossayin
nega compartilhar seus segredos.

Xangô então mandou que Iansã jogasse seus ventos e trouxesse ao


seu palácio todas folhas de Ossayin para que fossem distribuídas
para os Orixás. Iansã criou um furacão que derrubou todas as folhas
de Ossayin e as trouxe em direção ao palácio de Xangô. Percebendo
o que estava acontecendo, Ossayin gritou: “Euê uassá!”, que
significa, “as folhas funcionam!”. Ordenou assim que todas as folhas
voltassem para as suas matas, e as folhas obedeceram a suas
ordens, faltando apenas as que já estavam sob poder de Xangô,
perdendo assim o axé. Xangô, entendendo que as folhas deveriam
ser exclusivas de Ossayin, admitiu a vitória e devolveu para ele.
(PRANDI, 2001).

Continuando a história do Itã, Prandi (2001) escreve:

Contudo, Ossayin deu uma folha para cada orixá, cada folha com
seus axés e seus ofós, que são cantigas de encantamentos sem as
quais as energias das folhas não funcionam, entretanto, o segredo
mais profundo ele guardou para si. Os Orixás ficaram gratos por
Ossayin e sempre o reverenciam quando usam as folhas (PRANDI,
2001, p. 153).

39
Itã (em iorubá: Ìtan) é cada um dos relatos míticos da cultura iorubá. Eles são
passados oralmente de geração a geração (LOPES, 2014).
35

● A importância da oralidade para a transmissão de conhecimento.


A oralidade em religiões afro-brasileiras é muito importante, tanto na
preparação de um banho com as palavras de axé ou na reprodução do
conhecimento para os mais novos.
Durante a preparação de alguma fórmula o Babalaô estabelece uma
ligação mágica entre o remédio e o signo de Ifá. A ligação é feita
através de elos verbais entre o nome da planta, o nome da ação
medicinal ou mágica dela esperada e o odu, signo de Ifá no qual é
classificada. (...) A transmissão oral do conhecimento é considerada
na tradição Iorubá, como o veículo do axé. O poder, a força das
palavras que permanece sem efeito em um texto escrito. As palavras
para que possam agir, precisam ser pronunciadas. (VERGER, 1995,
p. 6).

Tim Ingold (2010) escreve que o nosso conhecimento consiste, em


primeiro lugar, em habilidades, e que todo ser humano é um centro de
percepções e agência em um campo de prática. Ou seja, o crescimento do
conhecimento humano, a contribuição que cada geração dá à seguinte não é
um suprimento acumulado de representações, mas uma educação da atenção.
Desta forma, algum tipo de aparato processador cognitivo já deve estar
instalado, em cérebros humanos, antes que qualquer transmissão de
representações possa ocorrer.
Sobre a memorização de histórias Ingold afirma:
Os mecanismos cognitivos inerentes do cérebro são equipados para
lidar com objetos de estrutura narrativa. Se grande parte do
conhecimento em culturas não-literárias toma a forma de mitos e
histórias, é porque essas formas são prontamente memoráveis.
Aquilo que não puder ser facilmente lembrado sairá naturalmente de
circulação e, portanto, não ficará retido na cultura. Enquanto
determinam o que é e o que não é memorável, os mecanismos de
cognição têm um impacto bastante imediato sobre a organização do
conhecimento cultural (INGOLD, 2010).

● Festa para os Erês.


Cheguei ao terreiro dia 29 de setembro de dois mil e dezenove, por volta
de 23h50min. A festa estava linda, com bandeiras coloridas formando uma
mandala com uma árvore no centro. A risada já se torna involuntária nos rostos
das pessoas que participavam. Continha muitos tipos de doces, bolos,
refrigerantes, pipoca e brinquedos.
36

Durante esta pesquisa, percebi minha interação com o campo e a teoria


do trabalho da antropóloga de Jeanne Favret-Saada (1990) sobre a feitiçaria no
Bocage francês, na qual escreve sobre “ser afetado”, retratando a afetividade
(afeto) dentro da pesquisa, onde “deixar ser afetado” remota a uma
sensibilidade do pesquisador no decorrer do campo e faz uma crítica ao modo
de fazer etnografia baseado na racionalidade.
É urgente reabilitar a velha “sensibilidade”, visto que estamos mais
bem equipados para abordá-la do que os filósofos do século XVII.
Inicialmente, valem algumas reflexões sobre o modo como obtive
minhas informações de campo: não pude fazer outra coisa a não ser
aceitar deixar-me afetar pela feitiçaria, e adotei um dispositivo
metodológico tal que me permitisse elaborar um certo saber
posteriormente [...] Nos encontros com os enfeitiçados e
desenfeitiçadores, deixei-me afetar, sem procurar pesquisar, nem
mesmo compreender e reter” (SIQUEIRA; FAVRET-SAADA, 2005).

Às uma da manhã começa a gira40 e as crianças são levadas para


brincar do lado de fora. Perguntei para quem estavam realizando trabalho41 e
um homem me respondeu que seria para Cabocla Mariana42. A primeira a
chegar é Tereza Légua43, em instantes depois a mulher começa a “gira”.
Observo que em uma das músicas que Tereza Légua “vem com o mar” e
junto com Iemanjá44, observo que algumas pessoas que incorporaram45 usam
chapéus de boiadeiros46. Escrevo em meu caderninho várias coisas que
consigo observar, assim, Tereza Légua chegou até mim, conversou comigo
explicando sua classe47 de família, disse quem ela era e me falou uma coisa
que fazia quando era mais nova.

40
Gira ou Jira - (no idioma quimbundo, nijra, caminho). na Umbanda, é a reunião, o
agrupamento de vários espíritos de uma determinada categoria, que se manifestam através da
incorporação nos médiuns. A gira pode ser festiva, de trabalho ou de treinamento.
41
Trabalho - Na umbanda, as linhas de trabalho são espíritos desencarnados que se
reúnem como grupo para atuar em uma força específica por meio de arquétipos.
42
Cabocla Mariana - Uma das três irmãs turcas, que foram encantadas na Praia dos
Lençóis, no Maranhão.
43
Tereza Légua - É uma entidade espiritual da encantaria. Ela é uma das filhas mais
velhas, de Légua Boji Buá.
44
Iemanjá - Orixá de águas salgadas, mãe de outros orixás, Nossa Senhora da
Conceição.
45
Incorporação - A incorporação se dá quando o médium perde toda a consciência do
que se está passando nele próprio, ou no ambiente onde se encontra.
46
Boiadeiros - Linha de trabalho de entidades na Umbanda.
47
Classe - Classe de espíritos cultuados em diversas religiões afro-brasileiras.
37

Fumando cigarro e bebendo cerveja, ela me explicou que seu pai era
“Vodúnci”48 que significa “Homem Velho” ou “Filho de Vodun”. Falou sobre
Iabás49 que são as orixás femininas. Falou que existe o roncó50 (nome dado ao
quarto onde ficam recolhidos no ritual de iniciação) e que eles eram uma
família de escravos. Ainda explicando as etimologias das palavras, ela cita que
Croa51 significa cabeça e logo após ela observa a música e canta junto “Meu
pai só manda eu”.
Tereza me fala que existem as Iaô52 (que são as pessoas que têm
“obrigações”) e as Abian53 (pessoas que não tem obrigações na umbanda,
podendo ser iniciada ou não). Falou que “Vumbe”54 é a passagem da vida. Ela
olhou para o cigarro e perguntou o que eu via, eu falei que era um cigarro e ela
disse na umbanda chamavam de “macaio”55.
Ela me perguntou se eu tinha visto a festa dos erês56 e eu respondi que
sim, após isso ela me falou que quando uma criança joga doce no rosto de
alguém, ela está curando aquela pessoa, com alegria, tirando a tristeza e as
mágoas do coração da pessoa que está recebendo o bolo no rosto. E que tudo
naquele ambiente tinha um significado.

48
Vodúnci - Vodunce ou vodúnsi (em fom: vodu-asé) é o(a) consagrado(a) ao vodum
no candomblé jeje e no tambor de mina. Termo referido por Tereza Légua ao seu pai Légua Boji
Buá, chefe da família Légua e figura importante dentro do Terecô.
49
Iabás - Em iorubá: Iyagba, cujo significado é Mãe Rainha, é o termo dado aos orixás
femininos Iemanjá e Oxum.
50
Roncó - Espaço sagrado onde ficam recolhidos os iniciados no candomblé. É um
quarto à parte dentro do terreiro ou separado dele, onde ficam recolhidos os iniciados, que
após cumprirem o prazo determinado são apresentados aos irmãos de fé e consagrados aos
Orixás.
51
Crôa / Coroa - É a região em volta da nossa cabeça que concentra toda sua energia
espiritual dada por Oxalá e seus Orixás de cabeça.
52
Iaô - (em iorubá: Ìyàwó) é como são designados os filhos de santo que já passaram
pela iniciação no candomblé e no batuque, popularmente conhecida como "feitura de santo",
mas que ainda não completaram o período de 7 anos após a iniciação. Só após os 7 anos, o
iaô se tornará um ebomi ('irmão mais velho’).
53
Abian - é toda pessoa que entra para a religião do candomblé, sendo também
chamado de filho de santo, após ter passado pelo ritual de lavagem de fio de contas e o bori.
Poderá ser iniciada ou não, vai depender de o orixá pedir a iniciação.
54
Vumbe - Mão de Vumbe ou Mão de Nvumbe ou tirar mão de Vumbi, Maku Nvumbi,
significa fazer a cerimônia para tirar a mão do falecido. Quando o pai ou mãe-de-santo morre é
necessário tirar a mão do morto, essa cerimônia é feita por outro pai ou mãe-de-santo
escolhido pela pessoa.
55
Macaio - Folhas sagradas. Do quimbundo makaya, plural de ekaya, “folha ou folha de
fumo”.
56
Erês - É conhecido entre os africanos como um espírito supremo e infinitamente
bom, mas que nunca encarnou, segundo outros estudos da matéria, é apenas um espírito
infantil e também subalterno que acompanha os médiuns de cabeça feita. Como interjeição
significa admiração, alegria, zombaria.
38

Como por exemplo, quando a mulher está menstruada, ela não pode
nem pisar no terreiro, pois é o momento em que a mulher está com o corpo
aberto e pode pegar energias muito rapidamente. E que eu poderia fazer o
teste, quando alguma amiga minha estivesse menstruada, eu passasse minha
mão pelas suas costas, que dois dias depois essa minha amiga iria ficar muito
mal.
Ela já estava a um tempo conversando comigo, só comigo, todas as
suas irmãs e irmãos da entidade já tinham ido embora, só tinha ficado ela, uma
pessoa do terreiro estava pedindo pra ela ir, pois a Cabocla Mariana havia
chegado. Antes de ir ela disse que tinha mais uma coisa para me falar, fiquei
quieta e escutei, ela me falou da pesquisa que estou realizando.
Falou que tenho uma amiga que está querendo me fazer desistir da
pesquisa e optar por uma coisa mais fácil para acabar logo com os estudos,
mas que tinha outra amiga que estava me encorajando e me animando para
realizar. E que não precisava eu desistir de estudar as plantas, pois eles têm
muito que ensinar, onde eu poderia me comunicar com Santos (pai de santo do
terreiro), que mesmo se ele estivesse muito ocupado iria colocar outra pessoa
para me apresentar todas as plantas utilizadas naquele quintal. Ela também
citou a folha de manga para banhos de “atração”.
Após isso ficamos caladas por um tempo e depois ela disse que irei
passar por uma grande provação, e que eu tinha que me firmar na fé em Deus,
e que eu iria conseguir superar. Falou que minha mãe biológica me ama, e que
ela cuida muito de mim, mesmo longe.
Ela me perguntou se eu estava esperando conversar com uma entidade
hoje, e eu respondi que não, que era a primeira vez daquela forma e com
aquela quantidade de tempo. Ela me mandou pegar meu caderninho e anotar a
seguinte frase: "A incorporação é dada de acordo com cada mente do médium
57
e de acordo com a capacidade do orixá do ‘ori’58 do médium”. Ela disse que
quando eu fosse falar com o Santos, perguntasse sobre isso, que ele iria me
responder melhor.
Antes de ir, ela me perguntou se eu tinha mais alguma coisa para
perguntar e eu disse que só tinha a agradecer por todas as palavras que ela
me disse. Ela falou que eu era muito bonita e que mesmo que meus parentes
dissessem o contrário era pra eu reconhecer a minha beleza. Se despedindo,

57
Médium - Segundo o espiritismo, pessoa capaz de se comunicar com os espíritos. É
aquele que tem o privilégio de ser intermediário entre os espíritos e os seres encarnados.
58
Ori - Ori, palavra da língua iorubá que significa literalmente cabeça, refere-se a uma
intuição espiritual e destino. Ori é o Orixá pessoal, em toda a sua força e grandeza. Ori é o
primeiro Orixá a ser louvado, representação particular da existência individualizada (a essência
real do ser).
39

ela afirmou que assim que subisse e saísse do corpo daquele “cavalo”59 iria
para o Piauí em outra gira. Eu desejei um bom trabalho a ela no Piauí e ela
agradeceu e disse que era melhor ela ir logo porque já estavam mandando ela
sair.
A entidade retirou seu chapéu e como um sopro, ela saiu. Fiquei um
momento com ele ali, sentados, perguntei-lhe se queria água e ele afirmou que
não. Ele parecia um pouco tonto, mas logo se levantou e voltou para o terreiro.
Sentei perto dos tambores, não conseguia acreditar que passei tanto
tempo conversando com a Tereza. A festa continuava, a cabocla Mariana já
estava incorporada, estava com um vestido azul e um chapéu. Em um
determinado momento, ela chegou próximo e cumprimentava a todos, quando
chegou em mim, eu beijei sua mão e ela beijou a minha, depois ela colocou
sua mão na minha testa e disse “Faça o que você quiser fazer”, encarei isso
como insight60, isto é, uma compreensão e solução de um problema em relação
ao trabalho de conclusão de curso, dando clareza súbita na mente.

Junto com Mariana, vieram os caboclos, girando e girando, com pontos61


para Oxóssi62, Cabocla Jurema63 e outros caboclos. O festejo terminou às sete
e dez da manhã, junto com um café da manhã.

● Terreiro de Umbanda Templo São Miguel.

Para entender melhor sobre as ervas utilizadas em determinado terreiro,


fiz uma pesquisa no dia onze de agosto de dois mil e vinte e um, no Templo
São Miguel, em Marabá/PA.
Cheguei ao terreiro por volta de oito e vinte da noite, fui recebida por
uma senhora, andamos um pouco do lado da casa de alvenaria por um

59
Cavalo - Médium dos Guias em Umbanda. Como em todas as correntes espíritas,
este termo quer dizer o mesmo que aparelho, isto é, todo o médium que está sempre pronto a
receber o protetor ou Guia.
60
Insight - clareza súbita na mente, no intelecto de um indivíduo; iluminação, estalo,
luz.
61
Pontos - Os pontos de umbanda são cantigas para louvar, chamar e se despedir do
orixá e as linhas de entidades. Acompanhadas por instrumentos de percussão como o
atabaque.
62
Oxóssi - Oxóssi é uma divindade das religiões africanas, também conhecida como
orixá, que representa o conhecimento e as florestas. Normalmente, esse orixá é representado
pela figura de um homem que tem em suas mãos um arco e flecha, considerado uma espécie
de guardião e caçador.
63
Jurema - Cabocla Jurema é uma falange espiritual cultuada em religiões de matriz
africana, como umbanda e o candomblé de caboclo. Deusa das matas.
40

corredor. Fui direcionada ao terreiro que fica localizado atrás da casa, no


quintal. O Pai de Santo já estava arrumado e preparado, ele se chama Antônio,
conversamos um pouco e me senti bem à vontade.
Vi um balde com banho de atração64 perto do banheiro, questionei a
mulher que fez o banho sobre as ervas utilizadas, ela me informou que utilizou
“alecrim da angola65” adquirido no quintal de uma das pessoas que
participavam no terreiro e essências próprias para banhos.
Fui aconselhada a tomar um banho no choveiro do pescoço para baixo
do corpo mentalizando um descarrego, depois joguei o banho de atração por
todo o corpo começando pela cabeça. O banho estava muito cheiroso e senti
um arrepio percorrendo todo meu corpo.
Conversei com o Pai de Santo antes de iniciar o trabalho e ele me
informa que as ervas dentro do terreiro são de extrema importância, pois tudo
que se faz envolve as plantas, e que tem determinadas ervas que não se acha
com frequência, como a flor da laranjeira66, por isso usa-se essências.
Ele me informou que também é utilizado essências de animais e citou o
exemplo do “Uirapuru”67, pássaro da Amazônia cuja essência utiliza-se em
banhos de atração. Continuando a entrevista ele afirma:
Agora, é muito complexo te falar sobre ervas, porque, a umbanda
cultua 7 maiores orixás, na realidade são 14, mas os maiores e mais
conhecidos são 7, é a metade né. Então cada orixá tem sua própria
erva, não é só uma erva, são várias, por exemplo, Oxalá68 ele tem
dezenas até centenas de ervas, agora assim, cada uma região
trabalha com determinado tipo de ervas adaptado para a sua região.
Por exemplo, pode ser que aqui em Marabá eu não ache aroeira, mas
no Estado vizinho eu já acho aroeira, então cada orixá, cada cidade,
cada estado tem as suas peculiaridades quando se fala de ervas,
então é algo muito profundo” (ANTONIO, 2021).

64
Atração/ Atrativo - Capacidade de puxar para si, Atrair.
65
Alecrim-da-Angola - cujo nome científico é Vitex agnus-castus L. é um arbusto
originário da região Mediterrânica. É utilizado na medicina popular como chá.
66
Flor da Laranjeira - A água-de-flor-de-laranjeira é um produto que se obtém
destilando ao vapor uma infusão de pétalas de flores de laranja-azeda.
67
Uirapuru - uirapuru é um pássaro nativo da América do Sul, e no Brasil pode ser
encontrado em quase toda a floresta amazônica.
68
Oxalá - Oxalá é também o nome de um dos orixás mais importantes de cultos
afro-brasileiros, como o candomblé. Se trata de uma entidade divina andrógina, que representa
as energias da criação da Natureza e personifica o céu.
41

O trabalho começa chamando o Exu69, e firmando o ponto fora do


terreiro, após isso, é chamado o Zé Pilintra70, com ele incorporado, começa a
realizar os trabalhos e atender as pessoas. A primeira pessoa a ser atendida foi
uma senhora, fui informada por Seu Zé que colocaram um Egun (espírito de
uma pessoa morta) no estabelecimento de trabalho e na casa dela e que
estava atrapalhando os negócios.
Ele então começou a ensinar a preparar um banho de descarrego para
afastar esses espíritos ruins. Em um balde grande deve ser colocado os
seguintes ingredientes: Sal Grosso, Fumo, Cerveja, cachaça 51, Vinagre,
Espumante Cristal de Prata, Azeite, Pipoca, Alecrim-da-angola,
Comigo-ninguém-pode, Pião-roxo, Pedaço de tecido branco picado, Pedaço de
tecido preto picado, Leite e Macaxeira (a raiz tem que ficar 7 dias na água pra
apodrecer).
Em outro balde foram colocadas essências de Alfazema, Dinheiro em
Penca, Uirapuru, Chama Freguês e Chama Dinheiro. Ele ensinou também a
fazer a defumação e em uma sacola foi-se colocado Alfazema, Mirra, Benjoim,
Breu Branco e Alecrim. Para esse trabalho foi indicado usar Pólvora antes de
realizar o descarrego no local.
Primeiramente usa-se a pólvora, depois joga o banho de descarrego na
casa toda, após isso, despeje água para tirar o banho jogando sempre para
fora de casa. Após o descarrego, joga o banho de atração e faz a defumação.
Deve-se rezar o “credo”71 durante o ritual como afirma Zé Pilintra:

“Creio em Deus Pai Todo-Poderoso,Criador do céu e da terra; e em


Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor; que foi concebido pelo
poder do Espí­rito Santo; nasceu da Virgem Maria, padeceu sob
Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado. Assim será morto
e sepultado Todos os meus inimigos carnais e espirituais
Ocultos e Declarados. Desceu à mansão dos mortos; ressuscitou ao
terceiro dia;subiu aos céus,está sentado à direita de Deus Pai
todo-poderoso [...] Completo, só muda quando chegar morto e
sepultado, vai bater o pé esquerdo e falar ‘Assim será morto e
sepultado todos os meus inimigos carnais e espirituais ocultos e
declarados” (Zé Pilintra, 2021).

69
Exu - Orixá do panteão nagô ou cada um dos entes espirituais que fazem de criados
dos orixás e de intermediários entre estes e os homens, dados como de índole vaidosa e
suscetível. Entidade protetora e ligada aos ritos de divinação nas religiões afro-brasileiras.
70
Zé Pilintra - Entidade que trabalha nas religiões, como a umbanda e o candomblé, na
linha dos malandros; boêmio rei da malandragem; no catimbó é tido como mestre. Por trabalhar
na esquerda, habitualmente se apresenta na linha dos Exus.
71
Credo - prece cristã, chamada símbolo dos apóstolos, que se inicia pela palavra
latina “credo”, que significa creio.
42

Após a oração do “credo”, perdi todos os dados da minha pesquisa que


estavam inseridos no meu celular, não consegui recuperar72. Porém lembro de
um momento já quase no final da noite e dos trabalhos, onde Sr Zé Pilintra me
chamou pra conversar, ele me informou que o pai de Santo Antônio estava
tomando daime e que pretendia futuramente construir um espaço que
misturasse daime e umbanda, também chamado de umbandaime, fiquei feliz
com a notícia e informei que quando acontecesse gostaria muito de participar.

Tabela 3. Plantas do Orixá Exu utilizadas na Umbanda, enviadas pelo Pai de Santo Antônio por
mensagem no Whatsapp.
Família Nome Nome popular Orixá Parte Utilização
científico usada
Rosaceae Prunus Amendoeira Exu Galhos; Galhos são colocados em lojas;
dulcis (Mill.) Frutos; Frutos comestíveis; Óleo de
D.A.Webb Sementes amêndoas.
Moraceae Morus alba Amoreira Exu Folha Armazena fluidos negativos e os
L. solta ao entardecer; É usada pelos
sacerdotes no culto a Eguns;
Usada medicinalmente contra
inflamações da boca e garganta.
Fabaceae Andira Angelim-amargos Exu Folha; Nos rituais, suas folhas e flores são
anthelmia o Flores; utilizadas nos abô dos filhos de
(Vell.) Benth. Casca; Nanã; Cascas são utilizadas em
Sementes banhos fortes de descarrego com
finalidade de destruir fluidos
negativos em filhos de Exu; Pó da
semente utilizada contra verme.
Anacardiaceae Schinus Aroeira Exu Folha Aplicação nas obrigações de
terebinthifoli cabeça; sacudimentos; banhos
a Raddi fortes de descarrego; purificação
de pedras. Na medicina tradicional
é usada na cura de feridas, úlceras
e inflamações genitais.
Solanaceae Solanum Arrebenta-cavalo Exu Folha
aculeatissim Utilizada em banhos de descarrego
um Jacq. em hora aberta; Atrair simpatias
Rutaceae Ruta Arruda Exu Folha Suas folhas miúdas são aplicadas
graveolens nos ebori, banhos de limpeza ou
L. descarrego, o que é fácil de
perceber, pois se o ambiente
estiver realmente carregado a
arruda morre. Ela é também usada
como amuleto para proteger do

72
A tela do celular queimou, me impossibilitando de colocar um novo display ou de
salvar em um drive.
43

mau – olhado. Seu uso restringe –


se a Umbanda. Em seu uso
caseiro é aplicada contra a
verminose e reumatismos, além de
curar feridas.
Euphorbiaceae Euphorbia Avelós-figueira-d Exu Caule Seu uso restringe a purificação das
tirucalli L. o-diabo pedras do orixás antes de serem
levadas ao assentamento; é usada
socada. A medicina caseira indica
esta erva para combater úlceras e
resolver tumores.
Aquifoliaceae Ilex Azevinho Exu Folha
aquifolium L. Muito utilizada na magia branca ou
negra, ela é empregada nos pactos
com entidades.
Asteraceae Arctium Bardana Exu Folha; Aplicada nos banhos fortes para se
lappa L. raiz livrar das ondas negativas e eguns.
O povo utiliza sua raiz cozida no
tratamento de sarnas, tumores e
doenças venéreas.
Solanaceae Atropa Beladona Exu Galhos; Nas cerimônias litúrgicas só tem
belladonna Folhas emprego nos sacudimentos
L. domiciliares ou de locais onde o
homem exerça atividades
lucrativas. Trabalhos feitos com
galhos desta planta também
provocam grande poder de
atração.
Onagraceae Fuchsia Brinco-de-princes Exu Folha; É uma planta sagrada de Exu. Seu
hybrida hort. a Flores uso se restringe a banhos fortes
ex Siebert & para
Voss proteger os filhos deste orixá.
Annonaceae Annona Cabeça-de-nego; Exu Galho; No ritual a rama é empregada nos
coriacea Ata Bulbo banhos de limpeza e o bulbo nos
banhos fortes de descarrego. Esta
batata combate reumatismo,
menstruações difíceis, flores
brancas e inflamações vaginais e
uterinas.
Anacardiaceae Anacardium Cajueiro Exu Folha; Suas folhas são utilizadas pelo
occidentale Casca axogun para o sacrifício ritual de
L. animais quadrúpedes. Em seu uso
caseiro, ele combate corrimentos e
flores brancas. Põe fim a diabetes.
Cozinhar as cascas em um litro e
meio de água por cinco minutos e
depois fazer gargarejos, põe fim ao
44

mau hálito.
Poaceae Saccharum Cana-de-açúcar Exu Folha; Suas folhas secas e bagaços são
officinarum caule usadas em defumações para
L. purificar o ambiente antes dos
trabalhos ritualísticos, pois essa
defumação destrói eguns.
Fabaceae Caesalpinia Catingueira Exu Folha É muito empregada nos banhos de
pyramidalis descarrego. Seu sumo serve para
Tul. fazer a purificação das pedras.
Entretanto, não deve fazer parte do
axé de Exu onde se depositam
pequenos pedaços dos axé das
aves ou bichos de quatro patas. Na
medicina caseira ela é indicada
para menstruações difíceis.
Euphorbiaceae Euphorbia Cunanã Exu Galho Seu uso restringe-se aos banhos
phosphorea de descarrego e limpeza.
Mart. Substituiu em parte, os sacrifícios a
Exu. A medicina caseira indica os
galhos novos desta planta para
curar úlceras.
Crassulaceae Bryophyllum Folha da Fortuna Exu Folha É empregada em todas as
calycinum obrigações de cabeça, em banhos
Salisb. de limpeza ou descarrego e nos
abôs de quaisquer filhos-de-santo.
Na medicina caseira é consagrada
por sua eficácia, curando cortes,
acelerando a cura nas
cicatrizações, contusões e
escoriações, usando as folhas
socadas sobre os ferimentos. O
suco desta erva, puro ou misturado
ao leite, ameniza as
consequências de tombos e
quedas.
Rhamnaceae Ziziphus Juá; Juazeiro Exu Galho; É usada para complementar
joazeiro casca banhos fortes e raramente está
Mart. incluída nos banhos de limpeza e
descarrego. Seus galhos são
usados para cobrir o ebó de
defesa. A medicina caseira indica
nas doenças do peito, nos
ferimentos e contusões, aplicando
as cascas, por natureza, amargas.
Fabaceae Mimosa Jurema Preta Exu Casca Tanto na Umbanda quanto no
tenuiflora Candomblé, a Jurema Preta é
(Willd.) Poir. usada nos banhos de descarrego e
nos ebó de defesa. O povo a indica
45

no combate a úlceras e cancros,


usando o chá das cascas.
Solanaceae Solanum Jurubeba Exu Folha;
paniculatum fruto Utilizada em banhos preparatórios
L. de filhos recolhidos ao ariaxé. Na
medicina caseira, o chá de suas
folhas e frutos propiciam um
melhor funcionamento do baço e
do fígado. É poderoso desobstrutor
e tônico, além de prevenir e
debelar hepatites. Banhos de
assentos mornos com essa erva
propiciam melhores articulações
das pernas.
Euphorbiaceae Ricinus Mamona Exu Folha Suas folhas servem como
communis L. recipiente para arriar o ebó de Exu.
Suas sementes socadas vão servir
para purificar o otá de Exu.
Anacardiaceae Mangifera Mangueira Exu Folha É aplicada nos banhos fortes e nas
indica L. obrigações de ori, misturada com
aroeira, pinhão-roxo, cajueiro e
vassourinha-de-relógio, do
pescoço para baixo. Ao terminar,
vista uma roupa limpa. As folhas
servem para cobrir o terreiro em
dias de abaçá. Na medicina
caseira é indicada para debelar
diarréias rebeldes e asma. O
cozimento das folhas, em lavagens
vaginais, põe fim ao corrimento.
Cactaceae Pereskia Ora-pro-nobis Exu Folha É uma erva integrante do banho
aculeata forte. Usada nos banhos de
Mill. descarrego e limpeza. É
destruidora de eguns e larvas
negativas, além de entrar nos
assentamentos dos mensageiros
Exus. No uso caseiro, suas folhas
atuam como emolientes.
Phytolaccacea Gallesia Pau D’alho Exu Galho; Os galhos dessa erva são
e integrifolia Folha utilizados nos sacudimentos
(Spreng.) domiciliares e em banhos fortes,
Harms feitos nas encruzilhadas,
misturadas com aroeira, pinhão
branco ou roxo. Na encruzilhada
em que tomar o banho, arrie um
mi-ami-ami, oferecido a Exu, de
preferência em uma encruzilhada
tranqüila. Na medicina caseira ela
46

é usada para exterminar


abscessos e tumores. Usa-se
socando bem as folhas e
colocando-as sobre os tumores. O
cozimento de suas folhas, em
banhos quentes e demorados, é
excelente para o reumatismo e
hemorróidas.
Piperaceae Piper Pimenta-darda; Exu Folha; Aplicada em banhos fortes e nos
hispidinervu pimenta-de-maca semente assentamentos de Exu. Na
m C.DC. co medicina caseira, suas sementes
em infusão são anti-helmínticas,
destruindo até ameba
Euphorbiaceae Jatropha Pinhão-Branco Exu Folha; Aplicada em banhos fortes
curcas L. semente misturadas com a aroeira. Esta
planta possui o grande valor de
quebrar encantos e em algumas
ocasiões substitui o sacrifício de
Exu. Suas sementes são usadas
pelo povo como purgativo.
Euphorbiaceae Jatropha Pinhão-Coral Exu Folha Erva integrante nos banhos fortes
multifida L. e usada nos de limpeza e
descarrego e nos ebó de defesa.
Na medicina caseira o pinhão coral
trata feridas rebeldes e úlceras
malignas.
Euphorbiaceae Jatropha Pinhão-Roxo Exu Galho; No ritual tem as mesmas
gossypiifolia Folha aplicações descritas para o pinhão
L. branco. É poderoso nos banhos de
limpeza e descarrego, e também
nos sacudimentos domiciliares,
usando-se os galhos.
Cyperaceae Cyperus Tiririca Exu Bulbo Esta plantinha de escasso
rotundus L. crescimento apresenta umas
pequeninas batatas aromáticas.
Estas são levadas ao fogo e, em
seguida, reduzidas a pó, o qual
funciona como pó de mudança no
ritual. Serve para desocupar casas
e, colocadas embaixo da língua,
desodoriza o hálito e afasta eguns.
Lamiaceae Lamium Urtiga-Branca Exu Folha É empregada nos banhos fortes,
album L. nos de descarrego e limpeza e nos
ebó de defesa. Faz parte dos
assentamentos. O povo a indica
contra as hemorragias pulmonares
e brônquicas.
47

Urticaceae Urera Urtiga-Vermelha Exu Folha Participa em quase todas as


baccifera preparações do ritual, pois entra
(L.) nos banhos fortes, de descarrego e
Gaudich. ex limpeza. É axé dos assentamentos
Wedd. de Exu e utilizada nos ebó de
defesa. Esta planta socada e
reduzida a pó, produz um pó
benfazejo. O povo indica o
cozimento das raízes e folhas em
chá como diurético.
Rubiaceae Spermacoce Vassourinha-de-b Exu Folha; Muito empregada nos
verticillata L. otão caule; flor sacudimentos pessoais e
domiciliares.
Malvaceae Sida acuta Vassourinha-de-R Exu Folha;
Burm.f. elógio; caule; flor
Vassourinha-curr Ela somente participa nos
aleira sacudimentos domiciliares.
Fonte. FFM, Blendah. O gigante poderoso livro dos banhos mágicos para todas as finalidades
de sua vida.
48
Tabela 4. Ervas e substâncias utilizadas na defumação.

Família Nome científico Nome popular

Styracaceae Benjoim
Styrax tonkinensis Craib ex
Hartwich

Lamiaceae Alecrim
Rosmarinus officinalis L.

Lamiaceae Alfazema
Lavandula latifolia Medik.

Burseraceae Mirra
Commiphora myrrha (Nees)
Engl.

Burseraceae Breu Branco


Protium heptaphyllum (Aubl.)
Marchand

Euphorbiaceae Jatropha gossypiifolia L. Pião Roxo

Asparagaceae Sansevieria zeylanica (L.) Willd. Espada-de-são-jorge

Araceae Comigo-ninguém-pode
Dieffenbachia seguine (Jacq.)
Schott

Amaryllidaceae Palha-de-alho
Allium sativum L.

Solanaceae Pimenta-malagueta
Capsicum annuum L.

Enxofre, S - 16/ Carbono, C - 6/ Pólvora (Enxofre, Carvão


KNO3 Vegetal e Nitrato de
Potássio)
Fonte: Pai de Santo Antônio por mensagem de whatsapp.
49

5. MOSAICO DE EXPERIÊNCIAS ETNOFOTOGRÁFICAS

Levando o leitor ao cenário antropológico, de acordo com Saiman (2012)


existem algumas problemáticas importantes a respeito das imagens:
A primeira, a mais evidente, é o fato de que toda imagem nos oferece
algo para pensar: ora um pedaço real para roer, ora uma faísca de
imaginário para sonhar (SAIMAN, 2012).

A segunda possibilidade de se aproximar do eixo “como pensam as


imagens”: o fato de que toda imagem é portadora de um pensamento:
Isto é, vincula pensamentos [...] De um lado, o pensamento daquele
que produziu a fotografia, a pintura, o desenho; de outro, o
pensamento de todos aqueles que olharam para essas figuras, todos
esses espectadores, que, nelas, “incorporaram” seus pensamentos,
fantasias, seus delírios e até, suas intervenções, por vezes,
delimitadas (SAIMAN, 2012).

Segundo Peixoto (2019), desde o surgimento da antropologia visual


brasileira, ela ampliou a sua perspectiva e revelou a riqueza da
interdisciplinaridade e de como as novas tecnologias audiovisuais estão
inseridas na produção de cultura, nas práticas e comportamentos, na
construção de sentidos e identidades.

Ele afirma que é uma disciplina dinâmica e que incorpora as inovações


tecnológicas ao seu ofício, promovendo a releitura de temas clássicos
antropológicos.
As novas gerações de antropólogos(as) visuais estão mais
conectadas com as tecnologias de imagem e som, focalizando seus
interesses nestes antigos temas, agora revisitados, e integrando
novas temáticas, novas linguagens e narrativas e os inúmeros meios
visuais para comunicar o saber antropológico (PEIXOTO, 2019).
50

Figura 5. Fogão a lenha onde acontece o feitio do daime na Igreja Céu de


Cerejeiras.

Fonte: fotografia tirada pela autora.


51

Figura 6. Almesca junto ao Cruzeiro Universal (símbolo do Santo Daime).

Fonte: Fotografia tirada pela autora.


52

Figura 7. Centro de Iluminação Cristã Luz Universal São Pedro.

Fonte: Fotografia tirada pela autora.


53

Figura 8. Entrada do salão.

Fonte: Fotografia tirada pela autora.


54
Figura 9. Roda do Sagrado Feminino com fogueira e panos estendidos no chão.

Fonte: Fotografia tirada pela autora.


55
Figura 10. Baldes com banho de ervas.

Fonte: Fotografia tirada pela autora.


56

Figura 11. Prática de banho com ervas em rituais do Sagrado Feminino.

Fonte: desconhecido.
57
Figura 12. Defumador utilizado no ritual com alecrim.

Fonte: Fotografia tirada pela autora.


58
Figura 13. Momento de servir o daime.

Fonte: Fotografia tirada pela autora.

Figura 14. Tambor aquecendo.

Fonte: fotografia tirada pela autora.


59
Figura 15. Caboclo sendo incorporado por médium às cinco e trinta da manhã.

Fonte: Fotografia tirada pela autora.

Figura 16. Caboclo colocando óleo de dendê na mão e depois na vela acesa, e passando na
perna de uma mulher às cinco e cinquenta e seis da manhã.

Fonte: Fotografia tirada pela autora.


60
Figura 17. Mulher girando com os pontos para os encantados e caboclos.

Fonte: Fotografia tirada pela autora.


61
Figura 18. Sendo flagrada realizando um audiovisual às cinco e quarenta e cinco da manhã.

Fonte: Fotografia tirada por Ismênia Cruz, convidada do terreiro.

Figura 19. Gira acontecendo no raiar do sol às seis da manhã.

Fonte: Fotografia tirada pela autora.


62

Figura 20. Balde com banho de atração.

Fonte: Fotografia tirada pela autora.


63
Figura 21. Essências utilizadas nos banhos de atração.

Fonte: Fotografia tirada pela autora.


64
Figura 22. Essências de Alfazema e rapé utilizado pelo Pai de Santo Antônio.

Fonte: Fotografia tirada pela autora.


65

Figura 23. Pai de Santo Antônio acendendo velas no salão.

Fonte: Fotografia tirada pela autora.


66
Figura 24. Altar do Terreiro de Umbanda Templo São Miguel.

Fonte: Fotografia tirada pela autora.


67

Figura 25. Firmeza73 com Vela para Zé Pilintra.

Fonte: Fotografia tirada pela autora.

73
Firmeza - A firmeza é uma forma de magia da umbanda, por meio da qual é
concentrada uma determinada força ou energia, para que se alcance um objetivo específico.
68

Figura 26. Mulher defumando salão.

Fonte: Fotografia tirada pela autora.


69

PARADA OBRIGATÓRIA E CAMINHOS QUE SE ABREM…


O objetivo deste trabalho de conclusão de curso não foi realizar uma
pesquisa sobre as classificações de plantas medicinais, ainda que em alguns
momentos tenha sido necessário construir tabelas e colocá-las no decorrer dos
capítulos, com isto, não estou negando a importância que elas possam ter.
Porém, os objetivos e problematizações foram surgindo no meu caminhar
através do trabalho de campo antropológico, e desta forma, aos poucos fui
tendo a percepção de que nessa busca por "um recorte no tema da pesquisa",
eu caminhava com as chamadas Ervas Sagradas e as Medicinas da Floresta,
juntamente com uma diversidade de grupos e contextos, como por exemplo
igrejas do Santo Daime, rituais do Sagrado Feminino e os Terreiros de
Umbanda.
Ainda que eu tenha buscado um trabalho de campo no seu modelo mais
clássico, ou seja, um "lócus de estudo" espacialmente delimitado, eu seguia os
caminhos que essas Ervas e Medicinas percorriam, interagindo com os grupos
de cada contexto mudavam de nomes e significados, no entanto muitas vezes
se interpenetram.
Diante dessas questões levantadas acima, pude observar um certo
protagonismo das Ervas Sagradas e Medicinas da Floresta, evidenciando a
partir desses aspectos a complexa relação entre humanos e outros seres que
também habitam o ambiente-mundo, “o que costumamos chamar de ‘ambiente’
reaparece na margem como um imenso emaranhado de linhas” (INGOLD,
2012).
Durante a etnografia, não tive um lugar fixo, mas passei por vários
territórios, evidenciando a teoria da etnografia multi situada. Com as teorias de
Tim Ingold sobre a agência, a vida nas coisas e sua argumentação sobre levar
os materiais a sério, fica evidenciado o protagonismo vegetal e a relação com
os humanos, de acordo com sua importância ritualística, medicinal ou de cura.
Através desta primeira imersão etnográfica, muitas outras questões brotam
nessa caminhada e experiências de quem se percebe como aprendiz de
antropóloga. No entanto, na travessia deste caminho existe o que chamei de
uma "parada obrigatória", mas na verdade é o "rito de passagem" de acordo
com a teoria de Gennep (2011), chegando para "concluir" a pesquisa e no texto
acadêmico fazer as tão difíceis "considerações finais", pelo menos está sendo
assim nesta minha primeira experiência de produzir um trabalho de conclusão
de curso. Porém, nada se conclui de forma exata neste processo da pesquisa,
ela e a vida continuam e os caminhos se abrem, essa abertura para a fusão de
horizontes que tanto vislumbramos na etnografia, nos leva a este exercício do
texto antropológico.
70

REFERÊNCIAS

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GLOSSÁRIO

Abian - Abiã é toda pessoa que entra para a religião do candomblé, sendo
também chamado de filho de santo, após ter passado pelo ritual de lavagem de
fio de contas e o bori. Poderá ser iniciada ou não, vai depender de o orixá pedir
a iniciação.

Aldeia - Tratando-se de terreiros, esta palavra quer dizer a moradia dos


espíritos de caboclos, o que corresponde a Aruanda, ou seja, Terreiro de
Caboclos.

Atração/ Atrativo - Capacidade de puxar para si, Atrair.

Alecrim-da-Angola - cujo nome científico é Vitex agnus-castus L. é um arbusto


originário da região Mediterrânica. É utilizado na medicina popular como chá.

Axé - É utilizada principalmente no contexto das religiões afro-brasileiras e


equivale à palavra “amém” da religião católica. Ela tem sua origem na língua
iorubá, e significa principalmente força de realização e manifestação do poder
divino.

Boiadeiros - Linha de trabalho de entidades na Umbanda.

Boró - Assim é chamado o pagamento que é feito a um, médium, ou chefe de


terreiro, antecipadamente a qualquer trabalho, sendo desta forma
mercantilizada de um modo absoluto a mediunidade.

Cabocla Mariana - Uma das três irmãs turcas, que foram encantadas na Praia
dos Lençóis, no Maranhão.

Caboclos - Termo designativo de certos guias das linhas de Xangô, Ogum e


Oxóssi. Também chamado caboclo de terreiro. Os caboclos são espíritos guias
das raças ameríndias, os quais não têm nenhum impedimento em baixar nos
terreiros ou tendas de Umbanda. Os caboclos são também espíritos
adiantados. Embora não tenham a brandura dos Pretos-Velhos, são muito
prestativos e sabem agir com eficiência, nunca se negando a beneficiar ou
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praticar a caridade.

Cavalo - Médium dos Guias em Umbanda. Como em todas as correntes


espíritas, este termo quer dizer o mesmo que aparelho, isto é, todo o médium
que está sempre pronto a receber o protetor ou Guia.

Classe - Classe de espíritos cultuados em diversas religiões afro-brasileiras.

Credo - prece cristã, chamada símbolo dos apóstolos, que se inicia pela
palavra latina “credo”, que significa creio.

Croa / Coroa - É a região em volta da nossa cabeça que concentra toda sua
energia espiritual dada por Oxalá e seus Orixás de cabeça.

Defumação - A defumação, por se tratar de um ritual de alta magia, tem como


principal fundamento afastar os maus espíritos que, segundo todas as crenças,
são representados por uma tênue fumaça. A queima de ervas é concebida
como operação mágica que possui um poder natural superior às forças
ordinárias da natureza.

Descarrego - É o trabalho que tem por finalidade a retirada do corpo de uma


pessoa de um lugar onde haja fluidos maléficos utilizando-se, para isso, de
passes, banhos de descarga, queima de pólvora etc.

Doutrina - Doutrina do Santo Daime é uma missão espiritual, que encaminha


os seus praticantes ao perdão e a regeneração do seu ser.

Estrela de Davi - Conhecida também como escudo supremo de Davi, é um


símbolo em forma de estrela formada por dois triângulos sobrepostos, iguais,
tendo um de ponta para cima e outro para baixo, utilizado pelo judaísmo.

Erês - É conhecido entre os africanos como um espírito supremo e


infinitamente bom, mas que nunca encarnou, segundo outros estudos da
matéria, é apenas um espírito infantil e também subalterno que acompanha os
médiuns de cabeça feita. Como interjeição significa admiração, alegria,
zombaria.
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Exu - Orixá do panteão nagô ou cada um dos entes espirituais que fazem de
criados dos orixás e de intermediários entre estes e os homens, dados como
de índole vaidosa e suscetível. Entidade protetora e ligada aos ritos de
divinação nas religiões afro-brasileiras.

Firmeza - A firmeza é uma forma de magia da umbanda, por meio da qual é


concentrada uma determinada força ou energia, para que se alcance um
objetivo específico.

Flauta NAF - A flauta nativa americana é uma flauta que é segurada na frente
do tocador, tem orifícios para os dedos abertos, e tem duas câmaras: uma para
recolher a respiração do jogador e uma segunda câmara que cria o som. O
jogador respira em uma das pontas da flauta sem necessidade de embocadura.

Flor da Laranjeira - A água-de-flor-de-laranjeira é um produto que se obtém


destilando ao vapor uma infusão de pétalas de flores de laranja-azeda.

Força - a ingestão do chá provoca o efeito denominado de força para os


adeptos do Santo Daime.

Gira - (no idioma quimbundo, nijra, caminho), na Umbanda, é a reunião, o


agrupamento de vários espíritos de uma determinada categoria, que se
manifestam através da incorporação nos médiuns. A gira pode ser festiva, de
trabalho ou de treinamento.

Hino - é um cântico ou poema da doutrina do Santo Daime.

Hinários - conjunto de hinos recebidos por determinada pessoa. O termo


também é utilizado para se referir ao ritual, em que será entoado um
determinado conjunto de hinos. Os principais eventos da doutrina do Santo
Daime são conhecidos como Hinários Oficiais.

Iabás - Em iorubá: Iyagba, cujo significado é Mãe Rainha, é o termo dado aos
orixás femininos Iemanjá e Oxum.

Iaô - (em iorubá: Ìyàwó) é como são designados os filhos de santo que já
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passaram pela iniciação no candomblé e no batuque, popularmente conhecida


como "feitura de santo", mas que ainda não completaram o período de 7 anos
após a iniciação. Só após os 7 anos, o iaô se tornará um ebomi ('irmão mais
velho’).

Iemanjá - Orixá de águas salgadas, mãe de outros orixás, Nossa Senhora da


Conceição.

Incorporação - A incorporação se dá quando o médium perde toda a


consciência do que se está passando nele próprio, ou no ambiente onde se
encontra.

Insight - clareza súbita na mente, no intelecto de um indivíduo; iluminação,


estalo, luz.

Itã - Em iorubá, Ìtan, é cada um dos relatos míticos da cultura iorubá. Eles são
passados oralmente de geração a geração.

Jagube - Cipó nativo da Amazônia cujo nome científico é Banisteriopsis Caapi.

Jurema - Cabocla Jurema é uma falange espiritual cultuada em religiões de


matriz africana, como umbanda e o candomblé de caboclo. Deusa das matas.

Kampû ou Kambô - A Vacina do Sapo é o nome popular para a aplicação das


secreções produzidas pela perereca Kambô em pequenos ferimentos ou
queimaduras produzidos nos braços ou nas pernas de uma pessoa, para que
as substâncias presentes na pele do animal penetrem na circulação sanguínea.

Limpeza - Ato de libertar de impurezas, purgação, purificação.

Macaio - Folhas sagradas. Do quimbundo makaya, plural de ekaya, “folha


ou folha de fumo”.

Madrinha - Nome dado para referenciar uma mulher dirigente de um Centro de


Santo Daime.

Médium - Segundo o espiritismo, pessoa capaz de se comunicar com os


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espíritos. É aquele que tem o privilégio de ser intermediário entre os espíritos e


os seres encarnados.

Miração / Mirar - Fixar os olhos em; fitar, olhar. É um termo que foi criado na
tradição do Santo Daime pelo Mestre Irineu para designar o estado visionário
que a bebida produz.

Ori - Ori, palavra da língua iorubá que significa literalmente cabeça, refere-se a
uma intuição espiritual e destino. Ori é o Orixá pessoal, em toda a sua força e
grandeza. Ori é o primeiro Orixá a ser louvado, representação particular da
existência individualizada (a essência real do ser).

Oxalá - Oxalá é também o nome de um dos orixás mais importantes de cultos


afro-brasileiros, como o candomblé. Se trata de uma entidade divina andrógina,
que representa as energias da criação da Natureza e personifica o céu.

Oxóssi - Oxóssi é uma divindade das religiões africanas, também conhecida


como orixá, que representa o conhecimento e as florestas. Normalmente, esse
orixá é representado pela figura de um homem que tem em suas mãos um arco
e flecha, considerado uma espécie de guardião e caçador.

Pai de Santo - Pai de santo, padrinho de umbanda ou chefe de terreiro são


termos usados em várias das religiões afro-brasileiras para designar a pessoa
responsável ou autoridade máxima de um terreiro ou tenda de Umbanda.

Peia - É popularmente conhecida entre os adeptos do Santo Daime.


Expressa-se por vômitos, diarréias, tremedeiras, mal estar, ou qualquer outro
tipo de evento desagradável pelo qual possa se encontrar o sujeito sob efeitos
do potente alucinógeno de origem indígena.

Pontos - Os pontos de umbanda são cantigas para louvar, chamar e se


despedir do orixá e as linhas de entidades. Acompanhadas por instrumentos de
percussão como o atabaque.

Preto Velho - São uma linha de trabalho de entidades de umbanda, espíritos


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que se apresentam sob o arquétipo de idosos africanos que viveram nas


senzalas, majoritariamente como escravos que morreram no tronco ou de
velhice.

Psicoativo - Que age sobre o sistema nervoso central, alterando as funções


cerebrais, o comportamento, a percepção.

Rainha - Planta arbórea nativa da Amazônia, utilizada junto com o Jagube para
a confecção da Ayahuasca, cujo nome científico é Psychotria viridis.

Rapé - Pó resultante de folhas de tabaco torradas e moídas, misturada com


outras ervas, utilizado para inalação.

Roncó - Espaço sagrado onde ficam recolhidos os iniciados no candomblé. É


um quarto à parte dentro do terreiro ou separado dele, onde ficam recolhidos
os iniciados, que após cumprirem o prazo determinado são apresentados aos
irmãos de fé e consagrados aos Orixás.

Sananga - Colírio medicinal utilizado por povos indígenas da Amazônia, para


limpeza ocular e melhorar a visão antes da caça. Feita do extrato da raiz de
uma planta chamada Tabernaemontana sananho, provoca ardor nos olhos e
lágrimas.

Santo Cruzeiro - Símbolo da doutrina do santo daime (também conhecido


como Cruz de Caravaca).

Tereza Légua - É uma entidade espiritual da encantaria. Ela é uma das filhas
mais velhas, de Légua Boji Buá.

Trabalho - No Santo Daime, nome referido ao ritual, se tratando de um


trabalho espiritual que tem como objetivo alcançar o autoconhecimento,
aprendizado e cura.

Trabalho - Na umbanda, as linhas de trabalho são espíritos desencarnados


que se reúnem como grupo para atuar em uma força específica por meio de
arquétipos.
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Uirapuru - uirapuru é um pássaro nativo da América do Sul, e no Brasil pode


ser encontrado em quase toda a floresta amazônica.

Vodúnci - Vodunce ou vodúnsi (em fom: vodu-asé) é o(a) consagrado(a) ao


vodum no candomblé jeje e no tambor de mina. Termo referido por Tereza
Légua ao seu pai Légua Boji Buá, chefe da família Légua e figura importante
dentro do Terecô.

Vumbe - Mão de Vumbe ou Mão de Nvumbe ou tirar mão de Vumbi, Maku


Nvumbi, significa fazer a cerimônia para tirar a mão do falecido. Quando o pai
ou mãe-de-santo morre é necessário tirar a mão do morto, essa cerimônia é
feita por outro pai ou mãe-de-santo escolhido pela pessoa.

Zé Pilintra - Entidade que trabalha nas religiões, como a umbanda e o


candomblé, na linha dos malandros; boêmio rei da malandragem; no catimbó é
tido como mestre. Por trabalhar na esquerda, habitualmente se apresenta na
linha dos Exus.

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