Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
GOIÂNIA, GOIÁS
2013
2
GOIÂNIA, GOIÁS
2013
3
Fls. 135
Banca Examinadora
_____________________________________________________
Profa. Dra. Deusa Maria Rodrigues Boaventura
Pontifícia Universidade Católica de Goiás - PUC-GO
Orientadora
_____________________________________________________
Profa. Dra. Adriana Mara Vaz de Oliveira
Universidade Federal de Goiás
Professora Convidada
_____________________________________________________
Prof. Dra. Sibele Aparecida Viana
Pontifícia Universidade Católica de Goiás - PUC-GO
Professora Convidada
GOIÂNIA, GOIÁS
2013
5
AGRADECIMENTOS
A Profa. Dra. Adriana Mara Vaz de Oliveira e a querida Profa. Dra. Sibele
Aparecida Viana pelas ponderações e sugestões realizadas na Banca de
Qualificação.
Ao Prof. Dr. Altair Sales Barbosa que instigou nossos primeiros passos
acadêmicos e, ainda hoje, é interlocutor presente e constante.
RESUMO
ABSTRACT
Thus, we treat the heritage left by the archeological studies, whose theoretical
approach depends of a historical perspective on the construction of the meaning of
cultural patrimony, as a strong contributor to the formation of social
representations that are committed to the preservation of local petroglyphs.
The methodological distance that some of the approaches take in relation to the
technical studies of archeology in this dissertation, search for a critical archeology,
where your perception, when talking about the speech contributors, approaches
the theory of social representations produced by Serge Moscovici and worked by
the historian Roger Chartier.
The analysis shows the social importance for the proper procedure of transmission
of values related to cultural patrimony.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 13
ANEXOS
ENTREVISTAS
MATERIA DO O POPULAR
13
INTRODUÇÃO
1
Na data 16.10.2010, o jornal impresso O Popular, em Goiás, publicou no caderno de Cidades a
matéria: “Pinturas rupestres de sítios em Serranópolis estão ameaçadas”. Texto do jornalista
Almiro Marcos fala sobre depredações nas pinturas arqueológicas da cidade.
14
2
A palavra patrimônio é formada por dois vocábulos greco-latinos: "pater" e "nomos". A palavra
"pater" significa Pai ou chefe de família. O "nomos" relaciona-se, portanto com o grupo social. O
patrimônio pode ser compreendido, portanto, como o legado de uma geração ou de um grupo
social para outro.
18
3
Um novo tipo de viajante surge em conexão com as transformações econômicas e culturais na
Europa do Iluminismo e da Revolução Industrial. Trata-se aqui não do viajante de expedições de
guerras e conquistas, não do missionário ou do peregrino, e nem do estudioso ou cientista
natural, ou do diplomata em missão oficial, mas sim do grand tourist, conforme era chamado o
viajante amante do conhecimento dos antigos e de seus feitos, com um gosto exacerbado por
ruínas que beirava a obsessão e uma inclinação inusitada para contemplar paisagens com seu
olhar armado no enquadramento de amplas vistas panorâmicas, compostas segundo um idioma
permeado por valores estéticos sublimes. Um viajante dispondo acima de tudo de recursos e
tempo nas primeiras viagens registradas pela historiografia da prática social de viajar por puro
prazer (SALGUEIRO, 2002, p.291).
19
Não é sem propósito, que durante toda história ocidental a qual a noção de
patrimônio4 esteve envolvida, novas evocações a esse patrimônio surgiram com a
formação dos estados nacionais. Os bens públicos recebem novos traços e
significados, tornam-se bens nacionais, claramente, emerge a ideia de patrimônio
nacional com o intuito de fortalecer o estado. Os monumentos seriam a
materialização da identidade nacional (CAMARGO, 2002, p.21).
4
Se as categorias que vão fundamentar a constituição dos chamados patrimônios históricos e
artísticos começaram, portanto, a ser formuladas e aplicadas a bens, desde o Renascimento, foi
a idéia de nação que veio garantir seu estatuto ideológico, e foi o Estado Nacional que veio
assegurar, através de práticas específicas, a sua preservação (FONSECA, 2005, p.55).
20
5
A História da Arte investiga os fenômenos e expressões visuais, as manifestações simbólicas e
artísticas, a constituição e as transformações técnicas, formais e conceituais no universo das
imagens. É a história de qualquer atividade ou produto realizado pelo Homem com propósito
estético ou comunicativo, enquanto expressão de ideias, emoções ou formas de ver o mundo.
“Cumpre observar, porém, que no século XIX a economia dos saberes centrou a função
cognitiva do monumento histórico no domínio, recém-determinado e ainda em fase de
organização, da história da arte” (CHOAY, 2006. p. 128).
21
Para Ruskin, esse passado presente nos monumentos era definido pelas
gerações humanas que nos precederam. Segundo seu discurso, é pela
intermediação de sentimentos morais, a reverência e o respeito. Tal discurso
serve como indagação sobre a natureza da arquitetura de sua época, ele se
pergunta como que mediante a crise causada pela Revolução Industrial, a
arquitetura poderia recuperar o valor de reverência que lhe é consubstancial.
6
Plano de Haussmann foi um projeto de modernização e embelezamento estratégico da cidade de
Paris, encomendado por Napoleão III, realizado pelo prefeito Barão Georges-Eugène
Haussmann, entre 1853 e 1870. Destruiu, contudo, em nome da higiene, do trânsito e até da
estética, partes inteiras da malha urbana de Paris. Mas também aí ele era homem de seu tempo:
a maioria daqueles que à época defendiam, na França, os monumentos do passado com maior
convicção e energia concordavam também sobre a necessidade de uma modernização radical
das cidades antigas e sua malha urbana (CHOAY, 2006. p.175).
22
7
Ildefons Cerdà i Sunyer (1815 - 1876) foi um engenheiro urbanista e político catalão responsável
pelo plano de extensão e reforma (Plan de Ensanche) da cidade de Barcelona, Espanha.
8
Foi um dos neoromânticos da sua época, liderou um revivalismo na Inglaterra victoriana e
capitalista, baseado nas artes e ofícios da idade medieval. Morris teve uma profunda influência
nas artes visuais e no desenho industrial dos fins do século XIX.
23
termo Culture para o vocabulário inglês e lhe deu um sentido amplo na etnografia,
onde definia pela primeira vez em uma palavra, as possibilidades de realização
humana (LARAIA, 2009, p.25). O termo passa a ser usado no Brasil no início do
século XX (SPHAN, 1980, p.26). Observamos também seu uso na Declaração
Universal dos Direitos do Homem em 1948. Porém, foi apenas na segunda
metade do século XX que o termo cultura passa a ser difundido no âmbito do
patrimônio;
9
A Semana de Arte Moderna em 1922 teve participações de destaque como: Anita Malfatti, Di
Cavalcanti, Yan de Almeida Prado, John Graz, Oswaldo Goeldi, na Pintura e no Desenho; Victor
Brecheret, Hildegardo Leão Velloso e Wilhelm Haarberg, na Escultura; Antonio Garcia Moya e
Georg Przyrembel, na Arquitetura. Entre os escritores encontravam-se Mário e Oswald de
Andrade, Menotti Del Picchia, Sérgio Milliet, Plínio Salgado. A música estava representada por
autores consagrados, como Villa-Lobos, Guiomar Novais, Ernani Braga e Frutuoso Viana.
10
Em 26 de julho de 1930, o movimento político oposicionista articulou a derrubada do governo
oligárquico com o auxílio de setores militares. Depois de controlar os focos de resistência nos
estados, Getúlio Vargas e seus aliados chegam ao Rio de Janeiro, em novembro de 1930,
iniciando a chamada Era Vargas. Getúlio ficaria por quinze anos ininterruptos no poder, 1930 –
1945, logo depois, seria eleito pelo voto popular voltando à presidência entre os anos de 1951 e
1954.
26
13
O patrimônio material protegido, agora com base em legislações específicas, é composto por
um conjunto de bens culturais classificados segundo sua natureza nos Livros do Tombo:
arqueológico, paisagístico e etnográfico; histórico; belas artes; e das artes aplicadas. Eles estão
divididos em bens imóveis como os núcleos urbanos, sítios arqueológicos e paisagísticos e bens
individuais; e móveis como coleções arqueológicas, acervos museológicos, documentais,
bibliográficos, arquivísticos, videográficos, fotográficos e cinematográficos.
28
De 1937 até 1969, Rodrigo Melo Franco de Andrade manteve seu cargo de
diretor do SPHAN. A instituição veio a ser posteriormente Departamento, Instituto,
Secretaria e, de novo, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(IPHAN), como se chama atualmente desde 199414. Na sua gestão, foram
tombados 803 bens nacionais, sendo 368 de arquitetura religiosa, 289 de
arquitetura civil, 43 de arquitetura militar, 46 conjuntos, 36 bens imóveis, 6 bens
arqueológicos e 15 bens naturais (FONSECA, 2005, p.113).
A história dessa lei federal começa por intermédio de Paulo Alfeu Junqueira
Duarte15, em 08 de maio de 1957, que conseguiu junto ao Ministro de Estado dos
Negócios da Agricultura, a publicação no Diário Oficial da União de uma portaria
designando uma comissão para elaborar um projeto de lei destinado à proteção
do patrimônio pré-histórico e arqueológico nacional. O resultado foi a publicação
da Lei nº 3.924, sancionada por Jânio Quadros somente em 26 de julho de 1961,
ficando associada ao seu nome, porém quem autorizou a elaboração do
anteprojeto foi Juscelino Kubitschek (LIMA, 2009).
Fica evidente que a Lei que até hoje protege os sítios arqueológicos
brasileiros resultou de forma direta nos crimes cometidos especificamente contra
os sambaquis, testemunhados na linha de frente por Castro Faria, Paulo Duarte e
Loureiro Fernandes em suas pesquisas de campo e incansavelmente
denunciados por todos os três. Assim temos a participação de Castro Faria,
como o pesquisador vigilante que imprimiu rigor científico ao estudo dos
14
A Constituição Federal de 1934 efetivou a proteção do patrimônio artístico e histórico brasileiro.
Dois anos depois, o Decreto-Lei n.° 25 criou o Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (SPHAN). O órgão atravessou inúmeras mudanças ao longo do tempo: em 1946
passou a ser Diretoria (DPHAN), em 1970, Instituto (IPHAN), em 1979 é dividido em Secretaria
(SPHAN) e em Fundação Nacional Pró-Memória (FNPM), em 1990 as duas instituições dão
lugar ao Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural (IBPC), em 1994 o IBPC torna-se Instituto
(IPHAN). A partir de então não se verificaram mais alterações.
15
Paulo Alfeu Junqueira Duarte (16 de novembro de 1899 a 13 de março de 1984) foi jornalista,
arqueólogo, professor universitário e atuou como um dos fundadores da Universidade de São
Paulo; do Instituto de Pré-História e do Instituto Paulista de Oceanografia.
29
No período 1937 até 1969, onde Rodrigo Melo esteve à frente do SPHAN,
Fonseca (2009, p.60) enfatiza uma dimensão que por muitas vezes não foi
devidamente percebida e registrada nos livros de Tombo. Assim como aconteceu
no caso da arqueologia, onde por muitas vezes o orgão no seu início o deixava de
lado; existiu no cenário nacional uma diversidade de objetos, de agentes
históricos e de possibilidades, em outras palavras, a importância da historicidade
imaterial de bens, que muitas vezes não foi encontrado e considerado relevante
pelos técnicos do SPHAN.
16
Em Salvador/BA é recomendado à criação de leis para ampliar as ações e usos dos bens
tombados. Aborda-se o turismo e destaca-se a necessidade de planejar a condição ideal de
utilização e divulgação dos espaços culturais, com utilização preferencial de imóveis históricos.
32
18
Objetos construídos pelas mãos do homem através da modificação da matéria-prima.
36
19
Ele inspirou-se no marxismo para apresentar uma interpretação de toda história da humanidade,
desde muito antes da invenção da escrita até a atualidade, tomando por base a evolução
tecnológica. Com isso, procurou mostrar que cada época baseou-se numa determinada
tecnologia e que sua superação sempre se deu por um avanço técnico (pedra lascada, polida,
cerâmica, agricultura, bronze, ferro, máquina) (FUNARI, 2010, p.21).
20
As origens da Nova Arqueologia são atribuidas a Tylor, Binford e Clarke, sendo os últimos dois,
reponsáveis por sua divulgação. Entre as obras destacadas estão; Sally e Lewis Binford
(Archaeology as Anthropology, 1962; Consideration of Archaeological Research Design, 1964;
New Perspectives in Archaeology, 1968); David Clarke (Analytical Archaeology, 1968); Colin
Renfrew (Before Civilisation. The Radiocarbon Revolution and Prehistoric Europe, 1973). A
história cultural que então se fazia, era vista por estes investigadores como algo acientífico, pois
não se explicam as relações no passado.
40
21
Disponível em: <http://www.worldarchaeologicalcongress.org/site/about_hist.php> acesso em: 6
Set. 2013.
43
24
Há cerca de 6 mil anos, o mar começou a subir, até atingir o nível que está hoje. Desde essa
época, o litoral do Brasil atual, entre o Espírito Santo e o Rio Grande do Sul, começou a ser
ocupado por povos que viviam dos recursos que o mar oferecia. A dieta desses habitantes era
constituida principlamente por peixes e moluscos. Escolhiam um lugar mais elevado, perto da
praia, em especial se havia àgua doce por perto, e aí se estabeleciam por muitos anos, às vezes
por séculos ou mesmo milênios. Para um lugar fixado levavam as conchas que recolhiam à
beira-mar, abriam-nas com fogo e comiam os moluscos. As conchas vazias eram deixadas no
chão e iam acumulando, com o passar dos anos, foram se formando verdadeiras montanhas de
conchas, sobre as quais as pessoas construíam suas cabanas e dentro das quais enterravam
seus mortos. Chamamos essas montanhas de sambaquis. Algumas, como o sambaqui de
Garopaba, Santa Catarina, chegam a 30 metros de altura e media de 400 metros de
comprimento por 100 de largura (GUARINELLO, 1994, p.22).
25
O instrumento para análise quantitativa da cerâmica usada foi o método publicado por James
Ford no manual Método cuantitativo para establecer cronologias culturales (1962).
47
26
No ano de 1861, um artigo aditivo à Lei do Orçamento Provincial foi proposto - sem a necessária
execução - para a criação de um museu no Pará. O museu de história natural serviria como
apoio às expedições europeias de naturalistas à Amazônia no século XIX. Em 1871, o governo
do Estado do Pará instalou, oficialmente, o Museu Paraense, sendo Domingos Soares Ferreira
Penna designado seu primeiro diretor. Com a morte do naturalista em 1889, o museu fechou. Em
1893, o governador Lauro Sodré mandou vir do Rio de Janeiro o naturalista suiço, Emílio Goeldi
(Émil August Goeldi), demitido do Museu Nacional por questões políticas, após a Proclamação
da República. O zoólogo assumiu a direção do Museu com a missão de transformá-lo em um
grande centro de pesquisa sobre a região amazônica. Foram formadas coleções zoológicas,
botânicas, geológicas e etnográficas. Goeldi faleceu em 1907. Em homenagem aos serviços
prestados por Emílio Goeldi, o governador Paes de Carvalho alterou a denominação do Museu
Paraense, que passou a se chamar Museu Goeldi. Após a revolução de 1930, alterou-se
novamente o nome da instituição para Museu Paraense Emílio Goeldi (OLIVEIRA, 2009).
48
27
O Planalto Central do Brasil se estende pelos estados de Goiás, Minas Gerais, Tocantins, Mato
Grosso e Mato Grosso do Sul, incluindo o Distrito Federal. Ocupando uma extensa área onde
nascem diversos mananciais hídricos que abastecem as principais bacias hidrográficas do país:
a Amazônica; A do Paraná e a do São Francisco. Nesse contexto ambiental, encontramos o
Bioma do Cerrado, apresentando-se como um mosaico de formas fisionômicas, como: campo
sujo, campo limpo, cerradão, campo cerrado, etc. O clima é seco e apresenta duas estações
definidas, a das cheias e a da seca. Em Goiás, o Planalto Central cobre praticamente todo o seu
território.
52
28
Segundo Maria Dulce Gaspar (2003, p.272), o III Seminário Goiano foi um momento importante
na história da arqueologia, pois a comunidade de pesquisadores se reuniu para elaborar uma
síntese da ocupação pré-histórica do território nacional. Neste encontro, também, foi
amadurecida a idéia de formar uma sociedade de arqueologia.
54
29
Antes do Presente – A.P.
55
Grupos Caçadores-Coletores
30
A distribuição no tempo e no espaço de diferentes estilos de produção de artefatos
arqueológicos e pinturas rupestres são definidas por diferentes termos. Os mais comuns são:
(tradição, fase, horizonte). Assim, os diferentes estilos de produção de cerâmicas, de líticos e
pinturas rupestres, são concebidos com nomes próprios enquanto códigos culturais
compartilhados por diferentes grupos sociais, separados no espaço, no tempo ou em ambos.
Ex.: Tradição Itaparica e Tradição Planalto não são relações temporais e nem base de conjuntos
de uma mesma produção, são nomes próprios para determinada área de estudo arqueológico,
repectivamente, Tradição Itaparica para um período relacionado à produção de Líticos e
Tradição Planalto para definir similaridades de estilo de pintura rupestre que estão relacionadas
a um espaço de tempo. Existem termos para cerâmica, Lítico e Pinturas Rupestres. No Brasil, as
definições do que é uma fase e uma tradição foram realizadas em meados da década de 1960 e
revistas uma década depois (SCHIMIDT DIAS, 2007, p.60-63). Fase: qualquer complexo de
cerâmica, lítico, padrões de habitação, relacionado no tempo e no espaço, em um ou mais sítios
(p.131). Tradição: grupo de elementos ou técnicas que se distribuem com persistência temporal.
(p.145). Um horizonte arqueológico é um período de ampla disseminação de arte e artefatos
comuns em um sítio arqueológico ou, mais geralmente, sobre uma área geográfica maior.
56
Sociedades Ceramistas
31
Calderon (1969, p.161-172) e Dias (1971, p.133-148). Durante o Programa Nacional de
Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA), os arqueólogos Valentin Calderon e Ondemar Dias,
fizeram novas descobertas, o primeiro no norte da Bahia que denominou Tradição Aratu, o
segundo descobriu uma tradição no sul de Minas Gerais que denominou Sapucaí. Ao analisarem
as descobertas em 1980, observaram as semelhanças e que fariam parte de uma mesma
tradição, mesmo que Ondemar Dias percebesse semelhanças com a cerâmica Una também,
mas sem levar a questão adiante. Porém, convencionou então a descoberta dessas
semelhanças com o nome de Tradição Aratu-Sapucaí.
58
Destes, 356 são classificados como sítios históricos, 227 como sítios pré-
coloniais e nenhum registro de sítios de contato32. O restante, 667 sítios,
aparecem sem classificação por tipo de sítio no CNSA.
32
Sítios com produção nativa influênciada pelo contato com europeus ou africanos.
60
Figuras 2 e 3: Lacaux .Cave of Altamira and Paleolithic. Cave Art of Northern Spain. Fonte:
UNESCO. Foto: Yvon Fruneau.
Figuras 4 e 5: Chavet e Niaux Cave.. Panel of the Lions Panel of the Bison and the Ibex. Fonte:
UNESCO.Foto: Dr. Jean Clottes.
62
Tradição Planalto foi à denominação dada por André Prous (1992, p.515;
2007, p.28), para signos encontrados em mais de 100 painéis presentes no norte
do Paraná, centro-sul do Tocantins, São Paulo, Minas Gerais e Bahia. Nesta
tradição são numerosos os zoomorfos pintados com vermelho de hematita
apresentando corpos chapados, pontilhados ou estriados, também temos certos
grafismos geométricos figurativos. Esta Tradição é caracterizada por figuras
monocrômicas, dentre as quais se destacam desenhos de figuras como
cervídeos.
35
Tradição Itaparica é o complexo tecnológico lítico mais antigo conhecido nas áreas de cerrados.
São populações humanas que se destacaram pela economia simples, centrada na caça e coleta
generalizada. Os artefatos significativos para os estudos desse grupo são os líticos. (BARBOSA,
2002, p.375)
67
Foi possível identificar essas áreas arqueológicas como uma das mais
importantes do Brasil para o estudo da chegada do homem e das populações
caçadoras do período Holoceno (como desejava os pesquisadores ligados ao
PRONAPA). As áreas apresentavam espessas camadas arqueológicas e paredes
decoradas com pinturas e gravuras (pp.11-12).
tempo de 11.000 a 9.000 anos A.P. Nesta época, chovia muito pouco na região e
a temperatura era mais fria que na atualidade. A paisagem dominante da área era
constituída por campos limpos, que ficaram restritos aos chapadões. Compunha a
vegetação, o Cerrado stricto sensu e reduzidas manchas do subsistema de mata.
Já os rios da região de Serranópolis apresentavam um volume bem menor de
água, assemelhando-se a córregos. As primeiras populações humanas que
chegaram à região encontraram boas condições ambientais para sua adaptação,
pois pertenciam a grupos de caçadores e coletores.
36
Disponível em: < http://www.bv.fapesp.br/namidia/noticia/20632/descobertas-ossadas-antigas-
brasil/>; < http://www2.ucg.br/flash/Memo.html> Acesso em: 1 jan.2013.
37
Disponível em: <http: // www2 .ucg .br/ flash/ Flash2006/ Abril06/ 060417its .html>; <http://
www2.ucg.br/flash/Flash2006/Abril06/060417its.html> Acesso em: 1 jan.2013.
38
Schmitz (1989; 2004) destaca em suas publicações os nomes de todos aqueles que
participaram das pesquisas de 1975 a 1999. Os participantes são: Altair Sales Barbosa, André
Luiz Jacobus, Avelino Fernandes de Miranda, Cortês Amado, Betty Jane Maggers, Dulce
Madalena Rios Pedroso, Ellen Fensterseifer, Eurípedes Balsanulfo de Freitas e Abreu, Fúlvio
Vinícius Arnt, Horieste Gomes, Humberto Lagíglia, Irmhild Wust, Itala Irene Basile Becker,
Juliana Ramanzini, Jairo Henrique Rogge, Lúcia de Fátima Lobo, Lígia Santiago, Luiz Eurico
Moreira, Luiza Maria Mendes, Marco Aurélio Nadal de Mais, Maira Barbieri Ribeiro, Mariza de
Oliveira Barbosa, Sílvia Matilde Pozza, Sílvia Moelecke Copé, Úrsula Madalena Elfriede Thies e
Wilson Ferreira da Cunha. É importante destacar nesse grupo a curiosidade, carinho e
perseverança na busca do conhecimento sobre a área de Serranópolis.
71
Figura 8 – 11: Fotos das Escavações na Gruta do Diogo I (1996). Fonte: Roosevelt Vilela
Figuras 12 – 14: Pinturas e Petróglifos de Serranópolis. Fotos: José Henrique Messias Ferreira –
Fev.2013
74
é amenizado nas contribuições que Roger Chartier faz na relação da escrita, com
as representações sociais e que irá nos ajudar a entender o papel que o discurso
exerce nessa perspectiva. Segundo Chartier (1990, pp.23-24):
A leitura do texto, em qualquer que seja sua modalidade, faz parte de uma
experiência de articulação do leitor com o mundo. Nessa articulação, a noção de
experiência, enquanto um dos conceitos fundamentais da hermenêutica moderna
trazidos por Gadamer (1993) apontam para o horizonte fundamental no processo
80
40
Miguel de Cervantes Saavedra foi um importante poeta, dramaturgo e novelista espanhol.
Nasceu em 29 de setembro de 1547 (data suposta) na cidade espanhola de Alcalá de Henares.
Cervantes morreu na cidade de Madri, em 22 de abril de 1616. Considerado um dos maiores
escritores da literatura espanhola, destacou-se pela novela, mundialmente conhecida, Dom
Quixote de La Mancha.
82
apenas lhe deu uma nova configuração, novos motivos para constituir
representações sociais modeladas e conceituadas no seu próprio tempo, no
tempo que lhe é conveniente.
O modelo teórico pensado por Chartier deve ser percebido como, o estudo
dos processos com os quais se constrói um sentido, uma vez que as
representações podem ser pensadas como esquemas intelectuais, que criam as
figuras, controlam realidades apreendidas e comunicadas a revelia dos atores.
Muitas vezes esses descrevem a sociedade como gostariam que fossem. Um não
comprometimento com o real ou um real imaginado (1990, pp.18-19).
42
Maior volume de material arqueológico das pesquisas retornou a comunidade e foi exposto
apenas quando o museu integrou-se ao Armazém de Cultura onde recebeu espaço apropriado
para exposições. O Museu de História Natural Serra do Cafezal, possui em seu acervo
permanente, peças que retratam aspectos naturais, pré-históricos, históricos e culturais da
região.
43
O auditório recebeu esse nome em homenagem ao fundador da cidade. A Sala foi equipada
com cadeiras históricas de cinema das décadas de 1970 e de 1980 e é usada como palco de
diversas manifestações culturais, como mostra de filmes, teatro, música, dança, além de eventos
ligados à promoção da cidadania.
88
atrativo para alunos da região e que fosse interessante para os adultos. A ideia
institucional deveria ter como base uma plataforma teórica e conceitual para
inserir em um roteiro turístico, transformando-se em um excepcional atrativo.
Figuras 18 – 20: Sr. Lelize Carvalho junto com o pesquisador. Exposição de materiais
arqueológicos. Pingentes usados como adorno. Fotos de José Henrique Messias Ferreira –
Fev.2013
A Pousada das Araras possui 175 hectares de vegetação, sendo que 50%
deste total caracteriza-se de uma cobertura arbórea de Cerrado denso. A Reserva
abriga animais como a arara vermelha, urubu rei, tamanduás, onças e tatus, entre
vários outros. Possui seis sítios arqueológicos: o sítio GO-Ja.03 (Gruta das
Araras), sítio GO-Ja.04 (Gruta do Paredão), sítio GO-Ja.25, sítio GO-Ja.26 (que
também possuem imagens rupestres e onde foram encontrados dois exemplares
de pontas-de-flecha), sítio GO-Ja.27 (pequeno abrigo que possui várias gravuras
distribuídas pelo teto, parede e piso) e sítio GO-Ja.28 (que também possui
imagens rupestres nas partes mais sólidas do abrigo). Os sítios GO-Ja.28 e GO-
Ja.27 só podem ser visitados para pesquisas.
aqui a gente tem que cobrar, não tem como liberar nada, mesmo
assim a gente ainda faz alguma coisa, mais fica difícil, a cidade
não quer trabalhar com a gente.
Tentamos aqui não fazer juízo de valor, é evidente para nós que muitas
pessoas em Serranópolis não poderiam ter acesso aos sítios arqueológicos que
estão na propriedade da família do Sr.Reni, salvo os que pagarem a quantia
exigida de R$ 70,00, para ter acesso aos sítios. O que se percebe em relação à
Pousada das Araras é que os proprietários determinam quem pode visitar o local.
As visitas devem ser realizadas através do Reni Junior, que é o guia, e em grupos
pequenos na intenção de manter a segurança e limpeza na fazenda.
Figura 23 - Placa em homenagem aos 20 anos de trabalhos científicos na Pousada das Araras.
95
Figuras 24 - 26: Entrevista com o Sr.Reni. Conversa com a Sra.Carla sobre os planos futuros para
Pousada das Araras. Registro na entrada da pousada com Reni Junior Fotos 23 -26: José
Henrique Messias Ferreira – Fev.2013
45
Ver (pp.30-31). Carta Normativa da UNESCO (1972) e a Carta do México (1985). Capítulo I - O
Conceito de Patrimônio, 1.1. Trajetória do Patrimônio Cultural no Brasil.
96
Figuras 27 - 29: Centro de Visitantes inaugurado em 1999. Quadro com fotos dos trabalhos
arqueológicos realizados em 1978. Visita ao sítio arqueológico GO-Ja.03, no fundo a passarela de
madeira financiada pela FUNATURA, entidade ligada ao fundo monetário do Banco Internacional
de Desenvolvimento-BID. Fotos de José Henrique Messias Ferreira – Fev. 2013.
97
O pacote não ficou nada barato para os dias combinados, mas nossa
vontade era maior em entender os discursos que formam representações sociais
pensadas por Moscovici (2001) e entendidas por Roger Chartier (1999; 2011).
Para isso, nada melhor que a companhia de uma pessoa de idade avançada,
nascida na terra e um dos produtores do discurso.
cidade ao longo dos anos. Ele nos forneceu o que só a memória poderia fornecer
para a produção do documento historiográfico, lembrando o texto de Françoise
Choay (2006, p.112) „os indivíduos e sociedades não podem desenvolver seu
passado senão pela memória‟.
Outro detalhe que não passou despercebido em suas falas foi sobre os
turistas que visitam a região e que muitos deles são estrangeiros. Segundo o Sr.
Domingos Oliveira (2013), “os sítios arqueológicos trazem grandes grupos à
região e com isso esquenta o comércio da cidade, a população mesmo não se
interessa por visitar os sítios, muitos nunca conheceram”. Nesse ponto, podemos
juntar as informações concedidas pela Sra. Lázara Lelize (2013) e o Sr.Reni
(2013), onde fica claro a não participação da comunidade em projetos que
envolvam a parte física dos sítios arqueológicos. Uma questão curiosa falada por
ele é que “os guias da ACOTES não podem trabalhar na Pousada das Araras”.
Quando perguntamos sobre isso na Pousada das Araras, o Sr.Reni (2013) nos
falou que era a falta de zelo pela propriedade por parte dos guias da ACOTES. Já
o Sr. Domingos Oliveira (2013), fala que isso não é verdade, que o problema do
Sr.Reni é político, desentendimentos na prefeitura.
Figuras 30 - 33: Entregando a autorização da prefeitura para o caseiro da fazenda liberar nossa
entrada. Entrada da propriedade onde estão localizados os sítios arqueológicos Gruta do Diogo I e
II (GO-Ja.01 e Go-Ja.02). Entrevista com o Sr.Domingos Oliveira. Placa em homenagem a todos
que participaram dos trabalhos no local, nota-se que está tomado por plantas, terra e manchada.
Fotos de José Henrique Messias Ferreira – Fev.2013
102
CONCLUSÃO
nas relações da sociedade com seus bens culturais. Nessa ótica, o melhor
investimento que o IPHAN poderia aplicar na cidade é a construção social do
conhecimento, só assim teríamos o início de um horizonte de responsabilidade
ética dos produtores de conhecimento que pudessem produzir desenvolvimento
econômico e social.
que gerou tanta dor de cabeça para Mário de Andrade, que foi o responsável por
tentar contornar tal problema ora posto na cidade do Rio de Janeiro. Desta forma,
a consciência preservacionista desejada é nula, ela é impedida pelo interesse
econômico gerado em volta do patrimônio. Devido a essa realidade, o exemplo da
Pousada das Araras e ACOTES, são inviáveis na formação de representações.
Devolver a comunidade os resultados da pesquisa arqueológica é um
compromisso apenas do museu de Serranópolis, atualmente é o único capaz de
criar uma Pressão à Inferência. (MOSCOVICI, 2001; SANTOS, 1994, p.137).
Nessa análise sobre a herança que ficou em Serranópolis, mesmo que não
agrade a todos os responsáveis pelo discurso arqueológico na cidade,
entendemos que a formulação do museu em Serranópolis é o único capaz de
compartilhar lembranças, memórias, experiências que formam as representações
sociais. Nas palavras de Chartier (1998, p. 15) „O que faz o poder das palavras e
das palavras de ordem, poder de manter a ordem ou de subvertê-la, é a crença
na legitimidade das palavras e naquele que as pronuncia‟. Assim, os discursos
produzidos dentro do museu, formam no momento um sentido social legítimo e
partilhado, como no caso da matéria instigante do jornalista onde a legítimidade
do discurso, e o poder das palavras, provoca engajamento social.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALCANTRA, Aureli Alves de. Paulo Duarte entre Sítios e Trincheiras em Defesa
da sua Dama – A Pré-História. Dissertação (Mestrado em Arqueologia). Museu de
Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.
ALMEIDA, Ruth Trindade de. A arte rupestre nos cariris velhos. Editora
Universitária/UFPb. 1979.
CONSENS, M. San Luís – El arte rupestre de sus sierras. San Luís, Dirección
Provincial de Cultura, V.1. 1986.
109
DE FILIPPO, Raphael. A arqueologia passo a passo. São Paulo. Cia. das Letras.
2011.
FONSECA, Maria Cecília Londres. Para além da pedra e cal: por uma concepção
ampla de patrimônio cultural. In: ABREU, Regina; CHAGAS (org.). Memória e
Patrimônio: ensaios contemporâneos. Rio de Janeiro: Editora Lamparina, 2009.
FUNARI, Pedro Paulo. NOELI, Francisco Silva. Pré-História do Brasil. São Paulo.
Contexto, 2012.
GUIMARÃES, Izaltino. In: PINTO, Suely Lima de Assis; REIS, Márcia Santos
Anjo; SOUSA NETO, Alípio Rodrigues de. (Org) O passado presente na arte.
Jataí, 2007.
IPHAN. Patrimônio Imaterial. Disponível em. <http:// portal. iphan. gov. br/ portal/
montarPaginaSecao.do?id=10852&retorno=paginaIphan>. Acesso em: 20 set.
2013
JORGE, Marcos; PROUS, André; RIBEIRO, Loredana. Brasil Rupestre. Arte pré-
histórica brasileira. Curitiba-PR. Editora: Zencrane Livros. 2007.
JUNG, Carl G. O homem e seus símbolos. 6º Ed. Editora Nova Fornteira. 1964.
LIMA, Tânia Andrade de. Luiz de Castro Faria, também um arqueólogo. Brasília:
CNPq, 2009. Memórias da C&T – Série Produção Científica Brasileira. Disponível
em <http://centrodememoria.cnpq.br/publicacoes3.html>. Consultado em 27 de
dezembro de 2013.
MARTIN, G.; AGUIAR, A. Arte Pré-Histórica dos Índios do Nordeste do Brasil. In:
Revista do Serviço de Ação Cultural da 3ª SUER. Recife: Fundação Nacional do
Índio (FUNAI), 1991.
OLIVEIRA, Lizete Dias. Arte Rupestre como Signo: uma abordagem semiótica do
fenômeno infocomunicacional. Anais do Congresso Internacional da IFRAO,
Piauí, BRASIL. 2009.
SALGUEIRO, Valéria. Grand Tour: uma contribuição a história do viajar por prazer
e por amor à cultura. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 22, nº 44, 2002.
SCHMITZ, P.I.; BARBOSA, A. S.; RIBEIRO, M. B. Arte Rupestre. 1978. In: III
Seminário Goianio de Arqueologia. Goiânia, GO. Anuário de Divulgação
Científica. Goiânia, GO. UCG, v.8. 1980.
SCHMITZ, P.I.; SILVA, Fabíola Andréa; BEBER, Marcus Vinicius. Arqueologia nos
cerrados do Brasil Central. Serranópolis II. As pinturas e gravuras dos abrigos.
São Leopoldo, Instituto Anchietano de Pesquisas/Unisinos, 1997.
WÜST, I. A Arte Rupestre: seus mitos e seu potencial interpretativo. In: Ciências
Humanas em Revista. São Paulo. 1991.
VIANNA, Sibeli A.; VAZ, Ludimíla Melo; CASTRO, Ernesto Camelo de;
BARBOSA, Maria do Socorro S. Goiás na rota (invertida) do tempo: ocupações
em sítios arqueológicos litocerâmicos. In: MOURA, Marlene Castro Ossami de;
VIANA, Sibele A. Org. A transversalidade do conhecimento científico: uma
experiência de 40 anos em pesquisa. Ed.da PUC Goiás. Goiânia, 2013.
120
ANEXOS
121
ENTREVISTAS
P – Em primeiro lugar, bom dia. Meu nome é Ricardo, esta entrevista que estou
fazendo é para o Mestrado em História da Universidade Católica de Goiás, fala
sobre o patrimônio arqueológico aqui de Serranópolis e qual a importância que
esse patrimônio tem para a população.
E – Bom dia, meu nome é Lazara Lelize Carvalho e estou a frente do museu a 4
anos e pronta pra serví-los.
P - Gostaria de agradecer pela disponibilidade em nos atender, esse trabalho,
creio, é importante para nós como acadêmicos e para a comunidade. Já tivemos
um primeiro contato com a Secretária de Cultura e Turismo, a Sra. Neila, e já
tivemos algumas conversas, aqui no supermercado ao lado. Observamos que
todos ali sabiam o que era arqueologia, eles sabiam o que é um sítio arqueológico
e isso é raro nas pesquisas que temos feito nesses últimos 5 anos pelo Brasil.
Parece que a cidade se movimenta em prol dos sítios arqueológicos. Gostaria que
falasse pra gente, qual é a importância, hoje, desses sítios para a comunidade de
Serranópolis. Traz desenvolvimento? Traz Turismo? Como a população é
beneficiada?
E – Então, esse é o trabalho que nós temos desenvolvido. Creio que no futuro,
ainda não, irá trazer desenvovlimento para a cidade. Cremos que ainda trará
esses benefícios financeiros, que toda cidade turística almeja. O que a gente
faz...tentamos desenvolver primeiro com a população essa ideia que eles podem
estar ganhando com a preservação do patrimônio. Mas ainda sim, nós estamos
começando esses trabalhos com a comunidade. Em 4 anos, estivemos
trabalhando com as escolas, para que as crianças estivessem aprendendo sobre
nossa cultura, porque desde pequenininho, se eles aprendem essa importância,
eles vão dar a devida importância no futuro. Não sei se você precebeu, alguns
desses sítios são bem próximos a cidade, mas o que que acontece, se não tiver
um educação, as crianças daqui uns dias irão lá para fazer rabiscos e estragar
aquilo. Ou seja, a preservação tem que começar por eles. Assim a população vai
cuidar e preservar.
P - Então aqui no museu vocês fazem esse tipo de trabalho?
E – Todos os anos. Já temos um trabalho com medidas educativas. Vamos as
escolas e trazemos os alunos para dentro do museu. Dificilmente você vai
encontrar um aluno da cidade que não sabe contar a história do museu e dos
sítios arqueológicos. É até interessante um dia vocês virem participar. A
exposição não tem caráter estático, nós vamos até os colégios do município para
propor atividades de valorização do patrimônio cultural. Mesmo que tenhamos
122
A entrevista foi realizada durante à manhã do dia vinte e nove de março de 2013,
na Pousada das Araras, onde o Sr.Reni Braga trabalha e é proprietário. P-
Pesquisador; E-Entrevistado.
P - Em primeiro lugar, bom dia. Meu nome é Ricardo, a entrevista que estou
fazendo é para o Mestrado em História da Universidade Católica de Goiás,
conforme tinha explicado para o telefone. O Trabalho fala sobre o patrimônio
arqueológico aqui de Serranópolis e qual a importância que esse patrimônio tem
para a população.
E- Bom dia é um prazer.
123
achando que seria uma coisa é outra diferente, a dificuldade é grande, você não
consegue ter pessoas para te ajudar para trabalhar. Então se entrasse um
dinheiro desse aí você poderia talvez chamar a cidade. Como? Fazer os
trabalhos, pegar escola, porque na verdade esse dinheiro ele não vem para
RPPN assim, aqui tá o dinheiro se faz dele o que quizer.
P- Tem que mostrar o que vai ser feito
E- Você tem que fazer um projeto em cima daquilo
P-Melhorar uma estrada, melhorar uma trilha, melhorar...
E- Melhorar uma trilha, aí você vai fazer o social que no caso é você pegar uma
escola por mês, sei lá uma turma por mês ou uma turma a cada dois meses.
P-Um dinheiro que dá para o senhor pagar um funcionário para fazer trilha, para
ensinar.
E- Com um dinheiro desses (incentivo público), eu poderia talvez chamar a
cidade, bancar uma excursão de grupo de alunos carentes de Serranópolis,
digamos assim, esse dinheiro iria bancar. Então é isso, talvez o social começasse
a mudar. Hoje aqui a gente tem que cobrar, não tem como liberar nada, mesmo
assim a gente ainda faz alguma coisa, mais fica difícil, a cidade não quer trabalhar
com a gente.
P- A gente sabe que principalmente os colégios estaduais, eles recebem uma
verba para levar as turmas para algumas aulas de acordo com o Parâmetro
Curricular Nacional, fora da sala de aula. Eles são obrigados a levar em um
passeio sócio-educativo.
E- Mas muitas vezes eles usam para passeio mesmo, só... Leva em um clube,
mas não leva para aprender. Nós temos recebido algumas escolas desse tipo.
P- De Serranópolis ou Jataí?
E- Jataí, Mineiros. Serranópolis. Mesmo já recebi! Esse ano já era para ter
recebido, mas não sei depois o que aconteceu, não deu. Eu não sei se o
professor não recebeu o e-mail que eu mandei, ou um desencontro de
comunicação não sei. Porque também já me avisou de última hora. Porque essa
verba chega no final do ano ela vence né.
P- Sim, e agora sobre a cidade de Serranópolis? Hoje a gente sabe que
Serranópolis está no circuito internacional da arqueologia, que é uma cidade que
todo mundo conhece, que todo mundo já ouviu falar, mas não tem todo aquele
aparato para turista, por exemplo, igual tem hoje a Niede Guidon na Serra da
Capivara, que o senhor falou (Já foi com a família)
E- É
P- A gente sabe que lá tem um museu belíssimo, tem todo um investimento para
aquela área.
E- Ela conseguiu até um aeroporto né
P- Ela conseguiu coisas maravilhosas para cá (Pesquisas no Brasil). Então, hoje,
é pra lá. A gente sabe que Serranópolis teoricamente poderia ter isso também. A
que o senhor acha que se deve esse fato? Se deve a universidade que começou
os trabalhos aqui, se deve ao governo?O que o senhor acha que precisa ser feito
para que Serranópolis se torne um grande atrativo arqueológico? O senhor hoje é
dono de uma propriedade maravilhosa, tem interesse no turismo também, certo?
O que o senhor acha que falta hoje?
E- Olha é difícil de responder o que poderia né mas...
P- O senhor sente um pouco abandonado (conversa informal anteriormente) pela
Universidade que começou os trabalhos?
E- Mas, eu para falar que ela abandonou? eu não posso julgar, só culpar ela não,
porque nós também tivemos um pouco de culpa né. Mas a universidade, ela teria
125
que ter passado por cima do que aconteceu, ter realmente, porque assim quando
eles vieram para cá, independente de ter apoio ou não, assim como meu pai, ele
abriu as portas, ele deu todo o apoio que foi necessário né, isto quando eles
estavam fazendo as pesquisas aqui. Agora eu achei assim... que as pesquisas
foram feitas e depois foram abandonadas, não teve a devida... lógico que cada
coisa tem o seu tempo, mas quando houve , quando começaram aqui acho que
se realmente tivesse feito as coisas mesmo se tivesse realmente visto que a
coisa ia andar, que a gente não tivesse sendo, não digo enganado, mas você
estava sendo.
P- Mas o senhor participou desse projeto, desse sonho de fazer um museu aqui,
de transformar aqui realmente num polo turístico e que trouxesse alunos aqui
para estudar também.
E- Quando começou aqui, começamos junto, nós desde, porque eu nasci e me
criei aqui. Em 94 quando começou a pousada, eu minha irmã e a nossa família,
tanto a família dela quanto a minha, nós começamos juntos aqui, eu e meu pai
nós corremos atrás de tudo que tem aqui, tudo foi coisa que a gente batalhou.
Depois eu afastei uns tempos e voltei novamente. Quer dizer, mas nessa época
que nós ficamos aqui a gente tava sentindo assim, não sei se é porque a gente
com aquela ansiedade não soube esperar não sei mais. Agora a gente ficava
naquela ansiedade querendo fazer as coisas
P- querendo (um museu em sua propriedade) que desse certo né ?
E- Mas as coisas, a gente sabe que as coisas, com o tempo se sabe que as
coisas não acontecem assim, tudo tem que ter seu tempo, mas se tivesse desde
aquela época, tivesse começado um bom projeto, feito uma coisa concreta
mesmo e que a gente começasse a ver a coisa...
P- Hoje estaria então tão grande como a Serra da Capivara, Piauí, da Niede
Guidon?
E- Ou ás vezes, talvez até mais. Talvez não sei, cidade, a cidade também tem
um.. porque você teria que ter envolvido mais as pessoas, porque nós temos um
contexto de ocupação (fazendeiros) grande dentro do município né. Não é só
aqui...
P- Sobre os sítios, os consideram importantes?
E- Não, não digo o mais importante, mas é o sítio que é mais visualmente, é o
mais fácil de observar.
P- Mas tem vários aqui no município?
E- Tem vários dentro do município só que a maioria... todos abandonados né. A
depredação é grande.
P- É importante o papel de vocês aqui, tanto da pousada, de estar mantendo
aquilo ali, muitas vezes mantém por amor, porque não dá tanto retorno assim?
E- Minha irmã perdeu um pouco de coisa, nós também estamos com um pouco
de dificuldade em tempo de perder alguma coisa também. É igual se tá falando, é
por amor, tentando é de ver que se segura uma coisa como isso aqui desde 64.
Então a gente fica naquela vontade de fazer, quando começou fazer a coisa dar
certo e tal...
P- A gente sabe que estes sítios arqueológicos, Sr Reni trouxeram
desenvolvimento para a cidade. Quem me falou foi o Sr Domingos, que é um dos
guias.
E- É
P- Ele me falou que de 30 anos pra cá, o comércio local cresceu, que vem turistas
de tudo quanto é parte. Mesmo que eles venham para a Pousada das Araras,
eles passam pela cidade também, muitos se hospedam lá quando não tem
126
E- Eu não sei até que ponto que isso vai... pra mim não tem... pra mim não . Se
amanhã ou depois eles me ligarem falando „olha nós vamos‟, estamos de portas
abertas, não tem nada. Só que...
P- Hoje, a Universidade Católica tem um curso de Arqueologia, um curso de
graduação. Ela tem um interesse enorme em Serranópolis, creio que o maior
interesse está em vir visitar estes sítios e trabalhar nestes sítios, não no sentido
de escavar, mas de trazer os alunos para um primeiro contato com a arqueologia.
E- É ... escavar também não pode, só com projeto no IPHAN. Já tivemos muitos
problemas aqui, pode ser até o Altair que vem aqui, sem uma autorização, não
mexe nos sítios. Também hoje eu não abro mão para uma pessoa vir aqui sem
documento de autorização para pesquisar. Qualquer que seja, de Biologia, as
vezes, quer pesquisar um animal ou outra coisa, a gente atende, nós estamos de
portas abertas, só que tem que ser documentado através de uma entidade, senão
não recebo. Por exemplo, se você viesse aqui para fazer um mestrado ou pós
graduação que seja, você como pessoa física, eu não abro as portas para você.
Se você vier com a Universidade (como neste caso), com documento da
Universidade, que vai ser seu avalista, digamos assim. Nós tivemos um caso de
uma menina que veio aqui da Universidade Federal, o trabalho de vocês e as
pesquisas vão vir pra mim.
P- Sr Reni, eu não faço compromisso nenhum do que eu estou falando, mas
possivelmente eu vou voltar um dia para outros trabalhos.
E- Tudo bem, nossa conversa aqui é um bate papo.
P- Nosso maior interesse é mostrar o papel da arqueologia na região,
principalmente junto as escolas. A gente acredita realmente que a arqueologia
pode fazer mudanças na cidade e na vida das pessoas. A gente tem interesse
nisso. Buscamos mostrar a importância que os povos do passado tiveram aqui,
como esses povos conviveram com o meio ambiente sem destruir a natureza. Eu
não prometo projetos aqui para o senhor, mas que vamos conversar com as
escolas e quem sabe num futuro próximo poderemos desenvolver algo aqui.
E- Isso que você está falando aí é uma das coisas que falta pra gente como
condutor, se a Universidade tivesse uma boa parceria com a gente, assim como
nós até já conversamos com a Federal, principalmente nas férias ter professor
aqui, fazendo estágio, fazendo um trabalho, dando um apoio, talvez seria o caso,
ter pessoas que realmente tenham conhecimento de algumas áreas específicas,
como no seu caso, fazer uma trilha, dar uma palhinha, uma palestra sobre como o
homem não destruiu aquilo ali. A gente tenta, fazer um apanhado, mas ás vezes
como você tem que dar atenção a todos, então você não tem uma especialidade
e pode misturar as coisas, não ser bem claro naquilo ou não conseguir passar.
P- Eu entendo o que o senhor quer me dizer.
E- Eu vejo tanto a Católica quanto a Federal, que não seria um apoio, e teria que
ser. Teria que ser uma coisa para acontecer e não apenas de conversa e sem
documento.
P- Como eu falei no início da conversa, quem me indicou para conversar com o
senhor foi o professor Altair Sales, e pode ter certeza que a universidade sempre
terá interesse nisso aqui, porque é um patrimônio fantástico, talvez seja um
patrimônio que não tenha igual no nosso Estado. A gente está entre o cenário de
Minas, Piauí em termos de patrimônio, onde estão os maiores sítios
arqueológicos e o compromisso que estamos fazendo é este, de ajudar no que
pudermos. Eu torço para que isso aqui, em um futuro próximo, seja algo que dê
muito orgulho para o senhor.
E- Você conhece o Piauí?
128
P- Mas eu creio que o senhor estará vivo para ver boas mudanças nisso aqui.
E- Tomara né, não sei se a gente vai ser dono mais não, mas pelo menos vou tar
vivo (risos)
P- Muito obrigado Sr Reni, eu agradeço demais e a tarde vamos visitar mais
lugares aqui.
E- Eu que agradeço.
P-E essa gruta é famosa por conta de um achado arqueológico, não foi isso? do
chamado Homem da Serra de Cafezal?
E- Homem da Serra de Cafezal? Pusemos o nome dele de Zé da Gabiroba
(risos).
P- Zé da Gabiroba?
E- É por causa das Gabirobas que encontraram com ele. Ai ficou conhecido na
região como Zé da Gabiroba, isso está escrito. Todos conhecem assim.
P- E falaram para o senhor quantos anos mais ou menos que esse esqueleto
tinha, ou não?
E- Uns 11.000 anos, mais ou menos 500 gerações por aí né.
P-500 gerações?
E- É
P- Sr Domingos, nosso título aqui, do trabalho, é sobre o Patrimônio Arqueológico
de Serranópolis, não é falar especificamente sobre os sítios de Serranópolis
porque eles já foram bem estudados, mas qual a influência que os sítios
arqueológicos tem dentro de uma cidade igual a Serranópolis, que hoje é
conhecida no Brasil por conta do “Homem da Serra de Cafezal” ou como o
senhor chamou, Zé Gabiroba, de 11.000 anos. Mas enfim, como que essa
população de Serranópolis vê esses sítios?Eles dão valor nestes sítios?
E- O pessoal mesmo da cidade não dá muito valor, mais ou menos uns dez
porcento valoriza, mais uns noventa porcento parece que foi criado junto não tem
aquele incentivo de vir, mas divulgar eu acho que foi muito bom para nós
inclusive para os guias turísticos, para a secretária da cultura, ou mesmo para o
pessoal que tem seu comércio, tem seus hotéis , foi muito bom para nós, eu acho
assim.
P- Quantos condutores vocês são aqui hoje?
E- São nove que tá exercendo
P- Nove condutores?
E- Dos onze, ficou nove condutores.
P- É um dinheiro extra ou vocês vivem disso hoje?
E- Não, é um extra. Isso aí é um bico que a gente faz, como se diz.
P- Então mesmo que noventa porcento da população não dê valor neste
patrimônio hoje, porque não é interesse de ninguém ficar indo visitar?
E- Mas eles não dão, porque o interesse dele é outro, é o turismo que gera.
P- O que é que ele trouxe de benefícios para a cidade, esses sítios
arqueológicos?
E- A primeira coisa que nossa cidade ficou bem divulgada no mundo inteiro, não
só no Brasil. E outra que trouxe emprego, trouxe muita coisa, tipo o comércio. Os
sítios arqueológicos trazem grandes grupos à região e com isso esquenta o
comércio da cidade, a população mesmo não se interessa por visitar os sítios,
muitos nunca conheceram.
P- Trouxe turismo?
E- Trouxe turismo, vixe muito turismo, do Brasil e de outros países também.
P- E enche a cidade com turismo?
E- Enche a cidade, na época da festa mesmo. Vem muita gente de fora, vem
gente até de outros países também. Isso para o município foi uma coisa muito
importante, pra nós que somos do lugar, sentimos a diferença.
P- Então a população mesmo não tem interesse em visitar os sítios mas sabe que
o turista vem por conta desses sítios?
E- Por conta desses sítios né.
P- E essa rede hoteleira atende todo mundo na cidade?
131