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Vitória
2019
ROBERTA ARLÊU TEIXEIRA
Vitória
2019
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
(Biblioteca Nilo Peçanha do Instituto Federal do Espírito Santo)
CDD: 628
Em primeiro lugar agradeço a Deus pelo dom da vida, por me guiar e interceder pelos
meus caminhos, dar-me sabedoria em minhas decisões e forças para seguir adiante
em meus objetivos.
Aos meus pais, Maria Aparecida Arlêu Teixeira e Paulo Roberto Teixeira, pelo apoio
e amor incondicional e ao meu irmão Frederico Arlêu Teixeira, pelo carinho e amizade;
Ao meu namorado, Maxwell Klein Degen, por todo amor, carinho e companheirismo,
sempre acreditando que eu seria capaz de vencer todos os desafios;
À Bárbara Bueno e Lorrana Barboza, minhas alunas de IC, pela amizade e auxílio
durante a execução deste projeto. Desejo todo sucesso para vocês, contem sempre
comigo;
Coffee is the second most traded commodity after oil, and Brazil, the largest producer
and second largest consumer in the world. Among the residues generated from the
production, processing and consumption stages of coffee, coffee grounds have been
highlighted by the large amount generated (6 million tons per year) and by the
characteristics of the residue, which contains a high content of organic matter, and a
great number of organic compounds, among carbohydrates, proteins, lipids, minerals,
phenols, polyphenols and caffeine, that potentiate their sustainable valorization. Due
to the high content of organic matter and lipids (the main raw material in the production
of methane), the valorization of coffee grounds by anaerobic digestion is very
interesting, since this technique, in addition to promoting a sustainable destination for
the residue, allows the generation of by-products that can be used, such as biogas (to
produce electricity) and biofertilizer (which serves as an organic fertilizer). In this
context, the present study had as objective to evaluate the anaerobic digestion of
coffee grounds obtained both from the infusion of coffee powder (domestic waste) and
the production of soluble coffee (industrial waste), in order to determine its potential
production of biogas and methane. The lees come from an industry of soluble coffee
(industrial pulp), and from an institutional restaurant (domestic pulp), and, after being
collected, were anaerobically digested together with food waste (obtained from a
restaurant) using UASB sludge inoculum with an R: I ratio of 1. The codigestion was
evaluated by means of the BMP test, in the proportions of 0%, 25%, 50%, 75% and
100% of coffee grounds in dry weight. The tests were run for 45 days at a temperature
of 35 ° C, measuring the volume of biogas produced daily. The performance of the
codigestión of the residues was still evaluated by means of the comparison of the
reactors in the beginning and the end of the test, considering the parameters: pH, TS,
TVS, COD, C:N and C:N:P ratio, Total Alkalinity and the IA/PA ratio. As results, it was
obtained that the best performances were obtained for the reactors with 25% of coffee
grounds (domestic and industrial) and 75% of industrial coffee grounds, which reached
a BMP of 344.99 NmLCH4/gTVS (RD 25% ), 350.82 NmLCH4/gTVS (RI25%) and
300.59 NmLCH4/gTVS (RD75%), with removals of TS, TVS and COD above 70%. The
production of biogas and methane in these reactors proved to be compatible with that
of typical substrates used in anaerobic digestion, such as food waste, bovine and pig
slurries, demonstrating the feasibility of anaerobic codigation of domestic and industrial
coffee lees, in these proportions, for production of biogas.
DS – Decantador secundário
GW – Gigawatt
kWh – Quilowatt-hora
MW – Megawatt
ST – Sólidos Totais
1 INTRODUÇÃO
Estima-se que para cada tonelada de café verde processado sejam gerados 650 kg
de borra de café e para cada quilo de café solúvel produzido 2 kg desse mesmo
resíduo (MURTHY; NAIDU, 2012). No Brasil, diariamente, são processadas quase
10.000 toneladas de café verde, dando-se uma ideia da grande quantidade de borra
gerada (aproximadamente 5.995 t.) (CONAB, 2016) que, infelizmente, muitas das
vezes, não possui uma destinação sustentável.
Segundo Luz et al. (2017), a valorização energética da borra de café por meio da
digestão anaeróbia possui grande potencial, uma vez que a borra de café possui um
alto teor de matéria orgânica (acima de 90%) e de lipídios (acima de 25%), que são
substratos na conversão do metano, possibilitando um biogás com um alto potencial
energético. Além de possibilitar um destino sustentável para o resíduo da borra de
café, o aproveitamento energético do biogás gerado promove o uso de uma fonte de
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Desta forma, este trabalho tem como objetivo fornecer subsídios para o
gerenciamento da borra de café doméstica e industrial por meio da avaliação do
processo de digestão anaeróbia destes resíduos, visando a potencialização da
geração de biogás.
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2 OBJETIVOS
2.1 GERAL
2.2 ESPECÍFICOS
3 REVISÃO DE LITERATURA
Muito mais que uma destinação final adequada, a gestão com foco na redução de
desperdício, que visa a não-geração, a minimização e o reaproveitamento dos
resíduos, objetivando o resíduo zero, ou zero waste, tem se apresentado como uma
tendência mundial (KAWAICHI; MIRANDA, 2008).
Do total de resíduos sólidos gerados no Brasil, a maior parte é composta por resíduos
orgânicos, constituídos por matéria orgânica (restos animais e vegetais), e que se
degradam pela ação de microrganismos no ambiente (BRASIL, 2017a). Estes
resíduos são gerados em diversos campos, desde o setor urbano, englobando
residências, comércios, e administração pública, até os setores agrossilvopastoris e
industrial, chegando a um total de 800 milhões de toneladas de resíduos orgânicos
por ano (ABRELPRE; 2017; IPEA, 2012a; 2012b; 2012c).
Devido suas vantagens, diversos países têm promulgado leis e fornecido subsídios
para ampliação desta tecnologia, que ainda é subutilizada no mundo, correspondendo
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Skovsgaard e Jacobsen (2017) citam ainda que estes países têm alcançado sucesso
por aliar uma legislação sólida, com um programa atrativo de incentivos para
instalação dos sistemas de DA. Como resultado destas políticas, ainda que a energia
do biogás corresponda a apenas 0,76% da energia renovável gerada no mundo,
espera-se que até 2027 este valor dobre, o que é um avanço considerável para a
categoria (YOUSUF et al., 2017).
Neste contexto, a ABIOGÁS (2018) afirma que o Brasil é o país com condições mais
favoráveis para o desenvolvimento da digestão anaeróbia, tendo um potencial de
produção de biogás de 82 bilhões de Nm³/ano, correspondendo a aproximadamente
67 milhões de toneladas equivalentes de petróleo (tep) ao ano, ou 76 bilhões de litros
equivalente de diesel.
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Todos os anos, o Brasil deixa de gerar 115 mil GWh de energia por não aproveitar o
potencial do biogás, que poderia suprir 24% da demanda de energia elétrica do país.
Deste total, cerca de 90% corresponde ao potencial advindo do setor agropecuário,
proveniente das indústrias sucroalcooleira, de carnes, soja, leiteira, dentre outras
(ABIOGÁS, 2018).
No entanto, para chegar a etapa de consumo, o café passa por um longo e complexo
sistema de beneficiamento, responsável pela geração de grandes quantidades de
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Estima-se que para cada tonelada de café verde processado sejam gerados 650 kg
de borra de café doméstica e para cada 1 kg de café solúvel produzido, 2 kg de borra
de café industrial (MURTHY; NAIDU, 2012).
No Brasil, diariamente, são processadas quase 10.000 toneladas de café verde, deste
total, 10% são destinados a produção de café solúvel, correspondendo a 730 mil
toneladas de borra de café industrial geradas ao ano. No mundo, estima-se que o total
produzido de borra de café chegue a 13 milhões de toneladas/ano, sendo 24,5% do
tipo doméstica e, 75,6%, industrial (CONAB, 2016, 2018; RAMALAKSHMI et al.,
2009).
A borra de café é classificada como um resíduo Classe II-A, pela NBR nº 10.004
(ABNT, 2004a), possuindo propriedades de biodegradabilidade, combustibilidade ou
solubilidade em água. Sua composição inclui um alto teor de matéria orgânica, sendo
um resíduo orgânico, no entanto, a borra apresenta percentuais consideráveis de
cafeína, fenóis, taninos e ácido clorogênico, podendo exibir um potencial de toxicidade
ao meio ambiente (FERNANDES et al., 2017).
al. (2013); PUJOL et al. (2013); QIAO et al. (2015); 11, 13, 15 BALLESTEROS; TEIXEIRA; MUSSATTO
(2014); CAETANO; SILVA; MATA (2012); GIROTTO; LAVAGNOLO; PIVATO (2018); 12 14 16 PUJOL et
al. (2013); MUSSATTO et al. (2011); PEDRAS et al. (2019).
A borra de café industrial pode ser mais rica em carbono e pobre em nitrogênio,
gerando relações C:N de 17:1 até 57:1 (BALLESTEROS; TEIXEIRA; MUSSATTO,
2014; PUJOL et al.; 2013, QIAO et al., 2015) , enquanto para a borra de café
doméstica esta relação se situa entre 17:1 e 35:1 (GIROTTO; LAVAGNOLO; PIVATO,
2018; LUZ et al.; 2017, VITEZ et al., 2016).
O pH apresentado pelas borras de café apesar de variável (4,3 a 6,3), possui valores
semelhantes entre os dois tipos de borras, indicando que o tipo de café exerce uma
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maior influência neste parâmetro, assim como para os parâmetros relativos a celulose,
hemicelulose e lignina.
Pelo alto teor e matéria orgânica contido na borra de café (doméstica e industrial)
(Tabela 1), algumas iniciativas de valorização apontam o potencial de aproveitamento
para produção de silagem e ração animal (VIOTTO, 1991; MURTHY; NAIDU, 2012) e
a utilização como adubo em plantações (WANGEN et al., 2015). Ainda, a alta
concentração de lipídios tem gerado estudos sobre a utilização da borra na produção
de energia térmica nas indústrias, devido ao considerável poder calorífico oriundo
desta biomassa (SILVA et al.,1998), e na produção de biodiesel (MACÊDO et al.,
2016).
A biomassa é considerada uma das fontes para a produção de energia com maior
potencial de crescimento futuro. Tanto no mercado internacional quanto no interno, é
vista como uma das principais alternativas para a diversificação da matriz energética
e a consequente redução da dependência dos combustíveis fósseis (ANEEL, 2008).
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No Brasil, esta tendência vem se consolidando a cada ano, sendo observado que a
capacidade instalada de fontes de aproveitamento de energia da biomassa, chega a
ser, em 2018, 10 vezes superior à capacidade instalada em 2002 (ANEEL, 2018). No
Brasil, só entre os anos de 2016 a 2017, houve um aumento da geração de biogás em
14%, sendo que na Europa, no mesmo período, este número foi de 9% (CCEE, 2016;
EBA, 2017).
No geral, a energia elétrica pode ser obtida a partir da biomassa por meio de três tipos
de processos: processos de combustão direta (com ou sem processos físicos de
secagem, classificação, compressão, corte/quebra etc.), processos termoquímicos
(gaseificação, pirólise, liquefação e transesterificação) e processos biológicos
(digestão anaeróbia e fermentação) (LOPES; BARBOZA; SILVEIRA, 2013).
Faaij (2006) e Leite et al. (2003) apontam dentre os fatores que contribuem para a
eficiência da digestão anaeróbia a facilidade de aplicação tanto para resíduos
orgânicos úmidos homogêneos quanto para resíduos mais heterogêneos, como os
RSU, e o fato de apresentar balanço energético favorável, em razão da elevada
produção de metano que pode ser alcançada.
Contudo, apesar dos benefícios citados, Xu et al. (2018) apresentam que a digestão
anaeróbia apresenta muitas dificuldades quanto a sua implementação devido a falta
de políticas públicas de incentivos e de uma legislação mais restritiva para os resíduos
orgânicos. Os entraves encontrados na legislação e as configurações de sistemas de
tratamento existentes também tornam o sistema dispendioso, o que aliado ao longo
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No entanto, esta situação está mudando, ainda que incipiente frente a outras fontes
de energia, o aproveitamento energético da biomassa por meio da digestão anaeróbia
vem ganhando bastante espaço no mundo devido suas vantagens, e espera-se que
até 2027 a produção mundial de energia por esta fonte dobre, o que é um avanço
considerável para a categoria (YOUSUF et al., 2017). Atualmente, capacidade
energética mundial instalada, deste tipo de energia, chega a 15 GW, 0,76% do total
da capacidade energética mundial instalada de energia renovável (SCARLAT;
DALLEMAND; FAHL, 2018).
Do total de plantas de Biogás, a Europa é responsável por 10,4 GW, América do Norte
por 2,4 GW, Ásia por 711 MW, América do Sul por 147 MW e África por 33 MW. O
país com maior capacidade instalada é a Alemanha, com 34% do total mundial,
correspondente a 4,23% de sua matriz energética (SCARLAT; DALLEMAND; FAHL,
2018).
Com relação ao Brasil, apesar da capacidade instalada ser responsável por apenas
0,086% de sua matriz energética, o país se configura como o principal produtor de
biogás da América do Sul, com 80,7% do total produzido (CCEE, 2016), e apresenta
um grande potencial de crescimento.
Segundo Zanette (2009) isso se confirma, uma vez que o potencial de produção de
biogás a partir dos resíduos orgânicos gerados nos centros urbanos e a partir da
produção agropecuária e agroindustrial brasileira corresponde a 50 milhões de m3 de
metano por dia, superior à produção nacional de gás natural disponibilizada para o
consumo, de cerca de 35 milhões de m3 /dia (ANP, 2009).
Os reatores possuem baixo teor de sólidos (BTS) quando tem menos de 15% de ST,
médio teor quando ST estiver entre 15 e 20 %, e alto (ATS) quando ST estiver na faixa
de 22 a 40%. Nos reatores com alto teor de sólidos o processo é conhecido como
digestão seca (TCHOBANOGLOUS; BURTON; STENSEL, 2003).
i) Microrganismos
ii) Temperatura
iii) pH e alcalinidade
Em ambiente com ambas as culturas coexistindo, a faixa ótima de pH abrange 6,8 a 7,4
(BITTON, 2005). É comum encontrar relatos de digestores anaeróbios alimentados com
dejetos de animais que apresentam valores elevados de pH (> 7,5) mas em condições de
estabilidade (LI; LIU; SUN, 2015).
Concentração Concentração
Macronutrientes Micronutrientes
(g/kg SST) (g/kg SST)
Nitrogênio 65 Ferro 1.800
Fósforo 15 Níquel 100
Potássio 10 Cobalto 75
Enxofre 10 Molibdênio 60
Cálcio 4 Zinco 60
Magnésio 3 Manganês 20
- Cobre 10
Fonte: Adaptado de Lettinga, Hulshof Pol e Zeeman (1996).
v) Substâncias inibidoras
A inibição também pode ser causada por sulfetos, se presentes em níveis elevados
no sistema, afetando tanto as arqueas metanogênicas, quanto os microrganismos
redutores de sulfato, responsáveis por sua produção (PAULA JR; FORESTI, 2009).
No processo anaeróbio, o sulfeto é produzido nas formas de S2-, HS- e H2S em
solução, e H2S no biogás. Em geral, em meio ácido, a toxicidade do sulfeto à
metanogênese é maior que em meio neutro ou alcalino, pois o sulfeto não ionizado
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Com relação aos metais pesados, estes são tóxicos para os microrganismos da
digestão anaeróbia. Porém, o efeito dos metais sobre os microrganismos aumenta de
acordo com a diminuição do pH, pois em pH ácido, os metais pesados ficam mais
solúveis, e assim, podem interferir no metabolismo dos microrganismos (LOPES;
BARBOZA; SILVEIRA, 2013).
Segundo Von Sperling (2005), a matéria orgânica presente no meio pode ser inerte
ou biodegradável:
De uma forma geral, pode-se dizer que quanto maior o percentual de Sólidos Totais
Voláteis (STV) em relação aos Sólidos Totais (ST) mais biodegradável é o material
(maior teor de matéria orgânica), e assim, maior será o potencial de produção de
biogás de um substrato (BRASIL, 2016).
Entretanto, segundo Firmo (2013), a utilização isolada deste parâmetro pode levar a
equívocos, pois alguns materiais apresentam elevados índices de STV e são
classificados como moderadamente, lentamente ou não biodegradáveis, como é o
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caso dos têxteis (98% de STV), plásticos (87 de STV%), borracha e couro (74% de
STV), papel e papelão (81% de STV).
Isto pode ocorrer, pois de acordo com Vilela (2015), os sólidos voláteis são
subdivididos em sólidos voláteis biodegradáveis (SVB) e sólidos voláteis refratários
(SVR), possuindo a lignina, dificilmente degradada, como exemplo de SVR.
No entanto, Li, Yuan e Yang (2009) afirmam que é possível a degradação de parte da
lignina, celulose e hemicelulose por microrganismos anaeróbios, dependendo das
condições dos sistemas, exigindo, porém, um alto tempo de detenção hidráulica.
Benner, Maccubbin e Hodson (1984) citam que o tempo de detenção necessário para
a lignina iniciar sua degradação, em meios anaeróbios, é da ordem dos 250 dias,
sendo a celulose e hemicelulose mais facilmente degradadas. Por isto, muitas vezes
são utilizados na degradação de materiais lignocelulósicos processos auxiliares de
pré-tratamento, como enzimas, tratamento térmico, dentre outros.
Assim, resíduos ricos em carbono (alta relação C:N), como culturas agrículas,
normalmente são utilizados como cossubstratos para digestão anaeróbia de resíduos
ricos em nitrogênio, como dejetos de aves, suínos e bovinos, de forma a otimizar o
processo (MATA-ALVAREZ et al., 2014).
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viii) Inóculos
Em conjunto com substratos, podem ser utilizados inóculos, como lodos de ETE
(Estação de Tratamento de Esgoto), resíduos resultantes da atividade agropecuária
(dejetos bovinos e suínos), que atuam fornecendo uma população ativa de
microrganismos acetogênicos e metanogênicos, visando acelerar o processo (ALVES,
2015).
3.2.2 Biogás
Como produto da digestão anaeróbia temos uma mistura de gases, conhecida como
biogás, um combustível gasoso com alto potencial energético e pode ser utilizado para
geração de energia elétrica, térmica ou mecânica (SOUZA; PEREIRA; PAIVA, 2004).
Metano CH4 50 – 80
Dióxido de carbono CO2 20 – 40
Hidrogênio H2 1–3
Nitrogênio N2 0,5 – 3
Gás sulfídrico e outros H2S, CO, NH3 1–5
Carboidratos 746 50 50
Lipídios 1390 72 28
Proteínas 800 60 40
Drosg, Braun e Bochmann (2013) citam que na prática é esperada uma redução de
até 50% do potencial teórico de produção de biogás para o obtido no teste BMP. A
Tabela 4 apresenta valores médios obtidos para o BMP de resíduos orgânicos em
diversas pesquisas.
(HOLLIGER et al., 2016). Geralmente, a duração do teste é entre 20 e 100 dias, sendo
que a temperatura utilizada varia de 30 a 35 ºC, para garantir as melhores condições
de crescimento dos microrganismos metanogênicos mesofílicos (RAPOSO et al.,
2011a).
Apesar dos aparatos utilizados serem em sua maior parte, iguais, assim como a
metodologia de realização, os testes possuem diferenças principalmente em relação
aos substratos utilizados. Enquanto no teste AME os substratos orgânicos utilizados
são substatos pré-determinados em metodologias, como sais de acetato, mistura de
ácidos graxos voláteis (AGV) em proporções definidas, incluindo ainda, a adição de
uma solução de nutrientes para auxiliar no processo de degradação, no teste BMP,
em vez de nutrientes e substratos simples, são utilizados substratos complexos, que
são os resíduos sobre os quais se quer avaliar a biodegradabilidade anaeróbia
(AQUINO et al., 2007; SILVA et al. 2018).
A solução com a qual o gás entrará em contato pode ser água destilada, ou uma
solução de NaOH 15%, no caso de ser água destilada apenas o volume de biogás é
aferido, já com uma solução de NaOH, o CO2 contido no gás é absorvido pela solução,
e o volume descolado corresponde ao volume de metano (CH 4) (RAPOSO et al.,
2011b).
Nesse procedimento, frascos de vidro são inoculados com o substrato a ser avaliado
junto com o inóculo, e incubados à uma temperatura de 30 ºC a 35 ºC por um período
que varia de 7 a 45 dias, a medição do volume de biogás/metano é diária e o teste
deve ser finalizado quando a produção acumulada de biogás/metano se estabilizar.
Ainda, foi percebido que com a adição de glicose no meio, outras populações de
microrganismos não foram afetadas, apenas as arqueas metanogênicas, confirmando
que a causa da inibição da produção de biogás foi devido a liberação de compostos
tóxicos oriundos da borra de café (LANE, 1983).
Lane (1983) ainda realizou o pré-tratamento com dioxano, descrito por Oi, Tanaka e
Yamamoto (1981), visando confirmar sua aplicação, e não obteve resultados
satisfatórios. A autora cita que tratamentos sem a aplicação do pré-tratamento com
dioxano se mostraram muito mais eficientes na produção do biogás do que os que
tiveram aplicação do solvente, concluindo que este pré-tratamento não é ideal, além
de ser impraticável, por razões de custo e segurança.
Um outro fator a ser observado é que o tipo de digestão utilizado pelos autores, a
digestão termofílica, requere temperaturas próximas de 55º C, e necessita de uma
fonte de calor extra, o que diminui a quantidade útil de biogás/metano produzida, além
e intensificar a liberação de compostos inibidores, sendo necessário um estudo de
viabilidade para sua aplicação (KOSTENBERG; MARCHAIM, 1993).
Kida, Ikbal e Sonoda (1992), Kida et al. (1993) e Ikbal, Kida e Sonoda (1994) avaliaram
diferentes configurações de reatores para a digestão anaeróbia termofílica de borras
de café (oriundas do processamento do café expresso), comparando processos uni e
multi estágios. O processo com único estágio, foi desenvolvido em um reator tubular
horizontal (Roller Bottle Reactor – RB), já o multi-estágio, em reatores de liquefação
(CSTR – Reator perfeitamente agitado) e gaseificação (AFBR ou RALF - Reator
anaeróbio de Leito Fluidizado), para hidrólise e metanogênese, respectivamente.
de café, que é o seu maior fator limitante, conforme avaliado por Lane (1983) (KIM et
al., 2017).
Segundo Wu et al. (2010), uma adequada razão C:N, estabelecida por meio da
codigestão, é essencial na conversão da biomassa lignocelulósica em metano. Isto
porque a borra de café, assim como outros resíduos lignocelulósicos, é rica em
carbono e pobre em nitrogênio, possuindo uma relação C:N de até 35:1 (KIM et al.,
2017).
Sawatdeenarunat et al. (2015) citam que só com o ajuste da relação C:N pela
codigestão de resíduos lignocelulósicos com resíduos ricos em nitrogênio, é possível
aumentar a produção de biogás em até 71%, sendo necessário avaliar cada caso.
Qiao et al. (2015) avaliando a codigestão anaeróbia termofílica (55ºC) de borra de café
obtida em uma indústria no Japão e lodo do processo de tratamento das águas
residuárias da mesma indústria, obtiveram resultados favoráveis. Os autores
verificaram que uma relação de 1gDQOBorra/1gDQOLodo fornecia valores de BMP
correspondentes a 279mLCH4/gSTVasic, com teor de metano no biogás de 55 a 59%, e
uma taxa de remoção de DQO de 80%, num período de 25 dias.
Shofie et al. (2015) como continuação do trabalho de Qiao et al. (2015), realizaram a
codigestão termofílica (55ºC) de borra de café industrial com resíduos do
processamento de leite, lodo de ETE (UASB) e águas residuárias do processo de
produção do café solúvel, em um reator CSTR, nas proporções de 14,6%, 12,2%,
7,9% e 65,3%, respectivamente.
Neste trabalho, os autores utilizaram uma relação R:I, resíduo: inóculo, de 1:1,2, em
termos de gSTV obtendo uma produção de metano de 138 mL/gSTV (61% CH4 no
50
biogás), com eficiências de remoção de ST, STV e DQO de 46, 50%, e 54%,
respectivamente (SHOFIE et al., 2015).
Valero et al. (2016) utilizando borra de café doméstica como substrato da digestão
anaeróbia e a fração líquida do lodo de um biodigestor de dejetos bovinos como
inóculo, numa relação R:I de 2:3 (gSTV), alcançou uma produção de metano de 135
mLCH4/gSTVadic., ao fim de 35 dias, não sendo observada inibição no processo. Vitez
et al. (2016) também avaliaram a digestão anaeróbia deste tipo de borra utilizando
inóculo de um digestor de resíduos alimentares, na razão R:I de 4 L : 40 g.
51
Apesar de Vitez et al. (2016) obterem uma faixa de produção de metano de 271–325
mlCH4/gresíduo, o estudo não forneceu valores em gSTV, que pudessem ser
comparados com os obtidos por outros autores.
Ressalta-se que o tipo de digestão desenvolvida nos dois trabalhos, Valero et al.
(2016) e Vitez et al. (2016), foi úmida (acima de 90% de umidade) e mesofílica, e que
ambos não perceberam inibição no processo de digestão, apesar de não ter sido
utilizado nenhum outro cossubstrato, apenas o inóculo, indicando que os inóculos
utilizados (lodo de um biodigestor de dejetos bovinos e lodo de digestor de resíduos
alimentares) foram eficientes para o desenvolvimento do processo e na atenuação de
uma possível inibição.
Kim et al. (2017) buscando identificar qual era o melhor substrato para a digestão
anaeróbia de borra de café doméstica desenvolveu o processo para misturas de
borras de café e outros três substratos, resíduos alimentares, biomassa algal, lodo
aeróbio proveniente do sistema de lodos ativados e soro de leite. Cada substrato foi
misturado a borra de café nas proporções de de 0%, 25%, 75% e 100% em massa
seca. Como inóculo foi utilizado lodo de um biodigestor que tratava águas residuárias
e resíduos alimentares e a razão R:I utilizada foi 1 (gSTV).
Luz et al. (2017) avaliaram a digestão anaeróbia de borra de café doméstica utilizando
dejetos bovinos como inóculo, numa relação R:I de 1,5 (gSTV). Os autores
alcançaram uma produção de metano de 250 mL/gSTV, com uma redução de 50% da
DQO.
52
Conforme os estudos citados, percebe-se uma grande variabilidade com relação aos
parâmetros de realização da digestão anaeróbia da borra de café, como temperatura,
teor de umidade da mistura, tipos de substratos e inóculos utilizados, relação
resíduo:inóculo, além do tempo de detenção da mistura no reator.
Ainda existe uma falta de padronização na literatura, uma vez que muitos trabalhos
apresentam os valores de potencial de produção de metano considerando a massa
de Sólidos Totais Voláteis (STV), outros, considerando a massa de resíduo
adicionada, sendo encontrados valores ainda com base na DQO adicionada. Outro
problema é relacionado a padronização do volume de metano gerado, que deveria
estar nas Condições Normais de Temperatura e Pressão (CNTP), sendo apresentado
em NmL ou NL, o que não ocorre na maior parte dos trabalhos encontrados.
Borra de café
333
Lane (1983) industrial (solúvel) 37ºC 6,8 80 0,5 Sim Diária 56-63%
mLCH4/gSTV
e Lodo UASB
Borra de café
Kostenberg e
industrial (solúvel) 260
Marchaim 55ºC 7,7 61 - Não Diária 60%
e Lodo DA¹ mLCH4/gSTV
(1993)
dejetos bovinos
Borra de café +
Neves,
Resíduo de 280
Oliveira e 37ºC 7 125 2,61 (ST) Não 1 vez 85%
Cevada + Chicória mLCH4/gSTV
Alves (2004)
+ Lodo UASB
Borra de café
Qiao et al. 279
industrial + Lodo 55ºC 7 185 1:1 (DQO) Sim Diária 59%
(2015) mLCH4/gSTV
Café
Borra de café
Shofie et al. industrial + Operado em 138
55ºC 7 225 1: 1,2 Sim 61%
(2015) efluente + soro de ciclos mLCH4/gSTV
leite + Lodo UASB
Borra de café +
Valero et al. 135
Lodo DA¹ dejetos 38ºC 7,20 35 2:3 Não 1 vez -
(2016) mLCH4/gSTV
bovinos
Quadro 3 – Relação de trabalhos que realizaram a digestão anaeróbia de borra de café (cont.)
Borra de café +
Vitez et al. Lodo DA¹ 271–325
37ºC 7 22 - Não 1 vez 55-61%
(2016) resíduos mLCH4/gSTV
alimentares
Borra de café +
Kim et al. Resíduos 304 – 347
35ºC - 28 1 Não 1 vez -
(2017) alimentares + NmLCH4/gSTV
Lodo DA¹
Girotto, 360
Borra de café +
Lavagnolo e 35ºC - 20 0,5; 1; 2 Não 1 vez NmLCH4/gSTV 70%
Lodo de UASB
Pivato (2018) (R/I = 2)
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). Nota¹: Lodo DA é o lodo do digestor anaeróbio.
55
Quanto a operação dos digestores (contínua ou única), é possível verificar que existe
uma grande diversidade de métodos utilizados. O mesmo acontece para o tempo de
retenção adotado, que varia de 22 a 225 dias. Estes parâmetros variam de acordo
com a finalidade da digestão anaeróbia e com a facilidade de degradação dos
substratos. Para avaliação do potencial máximo de produção de metano (BMP), são
utilizados processos com uma única alimentação, conforme metodologia apresentada
por Aquino et al. (2007) e Holliger et al. (2016).
56
As pesquisas sugerem ainda que a codigestão da borra de café com outros resíduos
orgânicos, além dos inóculos, podem melhorar o balanço de nutrientes, e a
performance do digestor (QIAO et al., 2013), sendo utilizados como cossubstratos
resíduos alimentares, resíduos de grãos, dentre outros. Como inóculos, o Quadro 3
mostra a realização de pesquisas com esterco bovino, lodo de café, lodo de ETE, e
lodo de biodigestores, obtendo-se melhores resultados como lodo de UASB e de
digestores anaeróbios.
Já para processos com resíduos orgânicos, como alimentares, Neves, Oliveira e Alves
(2006) apresentam que é aconselhável uma relação de no máximo 1:1. Os resultados
obtidos por Kim et al. (2017) corroboram com esta afirmação, uma vez que, em
misturas de borra de café e resíduos alimentares, com uma relação R/I de 1:1,
obtiveram uma produção de metano variando de 304 – 347 NmlCH4/gSTV.
No entanto, tem-se que, apesar dos diversos estudos realizados até o momento, ainda
não foi definida uma relação ótima entre resíduo e inóculo durante a partida de
reatores, nem o melhor inóculo a ser adicionado à Borra de Café, principalmente
devido à grande heterogeneidade dos resíduos e inóculos disponíveis.
Um outro ponto pouco avaliado é a mistura da borra de café com resíduos orgânicos,
que muitas vezes são gerados no mesmo local, como restaurantes presentes nas
indústrias de café e nas instituições geradoras da borra. Estas lacunas demonstram a
importância da presente pesquisa uma vez que estes são os principais pontos
abordados neste estudo.
57
4 METODOLOGIA
Quanto à abordagem, esta pesquisa é classificada como quantitativa, uma vez que o
objetivo é quantificar a produção de biogás a partir da digestão anaeróbia da borra de
café (doméstica e industrial), junto a resíduos alimentares.
O tipo de planejamento escolhido para execução dos ensaios desta pesquisa foi o
Planejamento Fatorial Cruzado ou Multinível. O Planejamento Fatorial foi escolhido
pela necessidade de se verificar o efeito de duas ou mais variáveis (fatores) de
influência (independentes), sendo neste estudo consideradas, na 1ª etapa, o
percentual de adição da borra de café doméstica e dos resíduos alimentares, e na 2ª
etapa, o percentual de adição da borra de café industrial e dos resíduos alimentares.
60
Temperatura do processo
Procedimento para o teste BMP
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).
61
- Reatores: Para montagem dos reatores foram utilizados frascos tipo Schott âmbar,
de 250 mL, com proteção antigota, visando a máxima vedação do conjunto. Os frascos
âmbar visam evitar a penetração de luz, e assim, qualquer influência no processo de
digestão anaeróbia. Para completa vedação dos frascos foram utilizadas borrachas,
nas quais foram inseridos os conjuntos (mangueira/seringa) para passagem do gás
gerado.
- Frascos para medição do biogás: Para que o volume de biogás produzido nos
reatores fosse contabilizado foi utilizado um conjunto frasco Schott /Erlenmeyer. Cada
frasco Schott (3) foi enchido com água e acoplado a um reator (1) com o auxílio de
uma mangueira (Figura 9). O objetivo era coletar o gás no reator com auxílio de uma
mangueira e direcioná-lo ao frasco Schott com água. A medida que o frasco com água
(3) era preenchido com o volume de gás produzido, o mesmo volume de água era
coletado no Erlenmeyer (4) (Figura 10).
Como para cada etapa do teste BMP foram utilizados 18 reatores, foram necessários
18 conjuntos frasco Schott/Erlenmeyer.
63
(c)
Fonte: Acervo pessoal de Roberta Arlêu Fonte: Acervo pessoal de Roberta Arlêu
Teixeira (2019). Teixeira (2019).
A coleta procedeu como disposto na NBR 10.007 (ABNT, 2004b). Após a coleta, a
borra de café industrial foi encaminhada para o Ifes/Campus Vitória, para realização
do experimento.
Foi definido que a segregação se daria de acordo com a forma de geração do resíduo
(preparo, pós-cozimento e resto-ingestão), sendo que os resíduos do preparo eram
divididos de acordo com os postos de trabalho, uma vez que já existia uma divisão
prévia de tarefas entre os colabores. As categorias avaliadas são mostradas na Figura
13.
67
Após coleta dos recipientes, era feita a pesagem dos resíduos em uma balança da
marca MARTE modelo LS 200, com capacidade para 200 kg, e resolução de 1g, a
balança se encontrava devidamente calibrada, e com selo INMETRO. A massa e o
volume de cada recipiente vazio eram conhecidos.
68
Limpeza de
carnes
Cascas / Folhas
e Talos
Ao final da amostragem foi obtida uma amostra representativa (Figuras 16, 17, 18 e
19), com composição definida conforme Tabela 5. Para obtenção da amostra a ser
utilizada no experimento, partiu-se para adição de água, na proporção 2:1
(água:resíduo), em massa, este valor foi encontrado como parâmetro nos trabalhos
realizados por Silva (2014), Granzotto (2016) e Mayer (2013), que também utilizaram
digestão anaeróbia, com resíduos alimentares.
69
A ETE Ulisses Guimarães realiza o tratamento dos efluentes advindos dos bairros de
Ulisses Guimarães, 23 de Maio, João Goulart, Normília da Cunha e Terra Vermelha,
no município de Vila Velha, totalizando uma população de aproximadamente 19 mil
habitantes.
Os lodos gerados na lavagem dos FBAS+DS são recirculados para o UASB com a
finalidade de promover a estabilização e adensamento. Os lodos gerados no UASB
são drenados, por descarga hidráulica, para as células do leito de secagem onde o
teor de sólidos no lodo passa de cerca de 5% para 30% após desaguamento natural.
O lodo da ETE é desaguado em leitos de secagem e posteriormente o lodo seco é
disposto em aterro sanitário.
Para realização desta pesquisa, o lodo foi coletado da manta de lodo do Reator UASB
1, a 1,2 metros de altura (Figura 22) e encaminhado para a realização do experimento.
Antes da montagem do experimento, o lodo foi aclimatado na incubadora, a 35ºC por
24 horas.
74
Para realização do teste BMP, nas duas etapas, seguiu-se a metodologia proposta
por Owen et al. (1979) e adaptada por Holliger et al. (2016). Foi utilizado o aparato
experimental descrito no item 4.3.1.
Para o preparo dos reatores anaeróbios, foi definido que seria utilizado um volume útil
de 40% do reator, deixando 60% do seu volume, 150 mL, como headspace (Figura
23). Essa escolha foi resultado do ajuste do pré-teste, uma vez que utilizando-se o
dobro deste volume foi obtida uma quantidade muito alta de biogás, que inviabilizou
as medições.
Para o cálculo das quantidades de resíduos e de inóculo por frasco adotou-se uma
relação resíduo/inóculo de 1 gSTVresíduo/gSTVinóculo, que foi a mais adequada conforme
a revisão de literatura (Quadro 3). Devido esta relação, o processo de digestão
desenvolvido foi do tipo úmido, uma vez que os reatores continham mais de 95% de
umidade.
Para saber o volume útil máximo a ser utilizado nos frascos, primeiro realizou-se o
cálculo do volume necessário para os frascos apenas com lodo, tendo em vista que
possuem menor teor de STV (%), e, consequentemente, seria necessária uma maior
76
Tabela 7 – Quantidades adicionadas (em massa) dos substratos e inóculo nos frascos
da Etapa 2
Reator Borra de café Resíduos Lodo de ETE Água
industrial (g) Alimentares (g) (inóculo) (g) (g)
Depois da montagem dos reatores, seguindo a metodologia proposta por Owen et al.
(1979) e adaptada por Holliger et al. (2016), realizou-se a expurga de oxigênio dos
reatores, com a utilização de nitrogênio gasoso, durante 2 min, a 1 psi (Figura 24).
78
Os frascos foram incubados a 35º C+- 1ºC, por 45 dias. Conforme mostrado na Figura
26, a medida que o biogás era produzido no reator (1), uma pressão no frasco com
água (2) foi exercida, sendo responsável pelo deslocamento da água para o frasco
Erlenmeyer (3). A medição do volume de água contido no frasco Erlenmeyer
corresponde ao volume de biogás produzido diariamente.
A produção de biogás foi medida diariamente, durante todo período dos testes (Etapa
1 e Etapa 2).
Onde:
𝑉2 = 𝑉1 𝑥 0,886 (2)
Após o período do teste BMP (45 dias), os reatores foram abertos e o material contido
nos reatores (material digerido) caracterizado conforme os parâmetros definidos no
Quadro 7.
81
Após a coleta dos dados de caracterização dos substratos e inóculo, dos reatores
(antes e após o teste BMP) e da produção de biogás, procedeu-se a análise estatística
descritiva dos dados, obtendo-se a média das repetições realizadas, assim como o
desvio padrão e o coeficiente de variação. Por fim, os dados foram comparados com
literatura de forma a contribuir na avaliação do desempenho da digestão anaeróbia.
Os resultados dos testes foram submetidos ainda a uma análise estatística, por meio
da análise de variância (ANOVA) a um nível de confiabilidade de 95%, com o auxílio
do software Statistica 7.0., e ao teste de Tukey, visando identificar se os percentuais
utilizados de borra de café influenciaram no processo de digestão e na produção de
biogás.
(45 dias), pela massa inicial de STV adicionada em cada reator (Equação 3). O valor
obtido é multiplicado por 𝑓 para corrigir o volume de acordo com as Condições
Normais de Temperatura e Pressão – CNTP.
𝑉𝑎𝑐𝑢𝑚𝐵𝑖𝑜𝑔á𝑠
𝐵𝐵𝑃𝑅𝑒𝑎𝑡𝑜𝑟 = [𝑓 𝑥 ( )] (3)
𝑀𝑎𝑠𝑠𝑎𝑆𝑇𝑉 𝑅𝑒𝑎𝑡𝑜𝑟
Onde:
Como foi utilizado um inóculo nos reatores, o BBP do lodo (reator RDlodo) foi subtraído
dos obtidos nos outros reatores, de forma a evitar sua interferência no resultado.
Onde:
Onde:
Avaliando a Equação 5, pode-se concluir que 1 mol de metano (CH4) requer 2 moles
de oxigênio (O2) para a oxidação completa gás carbônico e água. Desta forma, cada
16 gramas de CH4 produzido correspondem à remoção de 64 gramas de DQO do
efluente.
84
A partir desta informação, Lobato, Chernicharo e Souza (2012) citam que a produção
volumétrica de metano durante o teste pode ser encontrada pela expressão mostrada
na Equação 7.
𝐷𝑄𝑂𝐶𝐻4 𝑥 𝑅 𝑥 𝑇
𝑄𝐶𝐻4 = (9)
𝑃 𝑥 𝐾𝐷𝑄𝑂
Onde:
Após o cálculo da produção volumétrica de metano, a mesma foi multiplicada por 45,
que é o tempo de duração do teste, em dias. Como resultado, obteve-se o Volume
acumulado de metano (𝑉𝑎𝑐𝑢𝑚𝐶𝐻4 ), utilizado para calcular o Potencial Bioquímico de
Produção de Metano em cada reator por meio da Equação 8.
Onde:
Onde:
( 𝑃𝐸𝐶𝐻4 𝑥 103 )
𝐸𝐶𝐻4 = (10)
86400
Onde:
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1.1 Etapa 1
O conteúdo de fósforo total presente na borra doméstica deste trabalho também foi
inferior à faixa encontrada na literatura. Os trabalhos de H’ng et al. (2018) e Marinho
(2014) apresentam uma concentração de fósforo de 1,2 a 7,2 g/kg, enquanto nesta
pesquisa a concentração obtida foi de 0,4 g/kg.
A relação C:N obtida para a borra doméstica se apresentou acima do requerido para
o bom desempenho da digestão anaeróbia (C:N de 20 a 30:1), demonstrando um
déficit de nitrogênio no meio. De forma similar, a relação C:N:P, que deveria estar
entre 125:7:1 e 350:7:1 (CHERNICHARO, 2010; DEUBLEIN; STEINHAUSER, 2011),
apresentou-se ligeiramente inferior ao requerido (189:6:1), em razão da baixa
concentração de nitrogênio na borra de café. Desta forma, infere-se que para alcançar
uma melhor disponibilidade de nutrientes para os microrganismos atuantes na
digestão anaeróbia, seja necessária a mistura da borra de café com outros substratos
com maiores teores de nitrogênio e fósforo, como lodo de ETE e resíduos alimentares.
Ainda foi avaliada a alcalinidade da borra de café, porém apesar desta ser um
parâmetro importante para a digestão anaeróbia, não foram encontrados valores
correspondentes na literatura. Comparando os resultados da alcalinidade com os
valores requeridos para a digestão anaeróbia, infere-se que a borra doméstica
necessita de uma complementação deste parâmetro, de forma a tornar a alcalinidade
total próxima a 1500 mgCaCO3.L-1, e a relação AI/AP entre 0,30 e 0,40, o que pode
ser alcançado com o uso de cossubstratos e inóculos, além da solução tampão
(DEUBLEIN; STEINHAUSER, 2011; LILI et al., 2011; RIPLEY; BOYLE; CONVERSE,
1986;).
valores reportados na literatura (Tabela 9), que variam de 4,7 a 6,5, mas, fora da faixa
ideal de pH para a digestão anaeróbia (6,3 – 7,8) (CHERNICHARO, 2010).
ZHANG; CHEN;
GRANZOTTO GUERI LEEB; ZHANG;
Parâmetro LOS (2016)
(2016) (2016) JAHNGA WANG
(2011) (2015)
pH 5,3 - 6,4 6,0 4,7 6,5 5,2
AI/AP¹ - - - - -
Fonte: Adaptado de Chen, Zhang e Wang (2016), Granzotto (2016), Gueri (2016), Los (2016) e Zhang,
Leeb e Jahnga (2011).
Nota¹: A Alcalinidade Parcial (devido a formação de bicarbonato) dos resíduos alimentares encontrada
por Chen, Zhang e Wang (2015) foi nula, devido o pH inicial ser inferior a 5,75, pelo método de Ripley,
Boyle; Converse (1986).
A DQO dos resíduos alimentares apresentou-se inferior à maior parte dos trabalhos
apresentados na Tabela 9, sendo semelhante ao valor obtido por Silva (2014),
indicando que a forma de obtenção dos resíduos teve influência nas suas
características.
90
A relação C:N, por sua vez, se apresentou dentro da faixa mostrada na Tabela 9. No
entanto, assim como para a borra de café doméstica, também não foram encontrados
trabalhos que apresentasse valores da relação C:N:P para os resíduos alimentares.
A partir dos resultados encontrados, verifica-se que as concentrações de nitrogênio e
fósforo são superiores nos resíduos alimentares do que na borra de café, o que pode
contribuir para um maior equilíbrio de nutrientes para a digestão anaeróbia.
Quanto à alcalinidade total dos resíduos alimentares, percebe-se que esta não é uma
característica levantada com frequência nos trabalhos, apesar de sua importância, e
que os resultados obtidos nos diferentes trabalhos possuem uma grande variabilidade.
Com relação ao lodo de ETE utilizado na Etapa 1, sua caracterização foi bastante
semelhante ao encontrado na literatura (Tabelas 10 e 11). Pode-se verificar, pela
Tabela 10, que o lodo utilizado é classificado como um lodo secundário anaeróbio, o
que é confirmado pela sua origem (Reator tipo UASB).
Fonte: Adaptado de Cabbai et al. (2013), Gadelha (2005), Hallam (2016), Izumi et al. (2010) e Vilela
(2015).
Nota¹: AI/AP: Alcalinidade Intermediária/Alcalinidade Parcial.
92
Ruan et al. (2017) avaliando a influência da relação STV/ST do inóculo (lodo de UASB)
na produção de metano a partir da digestão anaeróbia de resíduos alimentares
obtiveram uma produção máxima com uma relação STV/ST de 0,55, próxima a
encontrada no lodo da Etapa 1, o que demonstra que o lodo utilizado é considerado
adequado para o desenvolvimento da pesquisa.
A DQO do lodo foi semelhante à encontrada nos trabalhos de Cabbai et al. (2013),
Gadelha (2005) e Izumi et al. (2010), e corrobora com os resultados da relação
STV/ST, indicando que o lodo apresentava menor quantidade de matéria orgânica que
os substratos, estando estabilizado.
Quanto à relação C:N:P obtida para o lodo da Etapa 1, esta foi inferior a encontrada
nos trabalhos mostrados na Tabela 11, e ao recomendado para a digestão anaeróbia.
Apesar disso, infere-se que esta característica possa auxiliar no balanceamento geral
da relação C:N:P nos reatores estudados.
5.1.2 Etapa 2
médios obtidos nas triplicatas, com o desvio-padrão. Todos os dados foram validados
estatisticamente, apresentando coeficiente de variação abaixo de 0,5%.
De acordo com a Tabela 12, verifica-se que o pH da borra de café industrial se mostrou
ligeiramente acima do descrito na literatura (Tabela 1), e superior ao da borra
doméstica (Tabela 8). No entanto, o valor obtido para a borra industrial (6,6), está
dentro da faixa ideal para a digestão anaeróbia, e para o desenvolvimento das arqueas
metanogênicas.
faixa descrita na literatura (Tabela 1), o que indica que estes parâmetros geralmente
se mantêm uniformes de acordo com o tipo de borra gerado.
Os valores de STV da borra industrial desta pesquisa foram semelhantes aos obtidos
por Kostenberg e Marchaim (1993), que encontraram um teor de STV de 99,46% para
a borra oriunda do processamento do café solúvel, em uma fábrica em Israel, e por
Qiao et al. (2015), com 99,1% de STV para a borra proveniente de uma fábrica de
café solúvel no Japão. No entanto, os valores de DQO obtidos por Qiao et al. (2015),
foram muito superiores ao descrito nesta pesquisa, chegando a um valor de 555
gDQO/kgBorra.
Neves, Oliveira e Alves (2006), estudando a borra industrial gerada em uma fábrica
de Portugal, encontraram valores de STV/ST próximos aos desta pesquisa (0,97), com
concentrações de DQO semelhantes (111 gDQO/kgBorra), apesar da borra estudada
pelos autores se encontrar mais úmida do que a desta pesquisa, com 22% de ST.
ainda superior a relação C:N:P obtida para a borra doméstica, que também
apresentou baixo teor de fósforo.
Apesar da alcalinidade total da borra industrial ser superior à apresentada pela borra
doméstica, o valor obtido foi inferior ao requerido para a digestão anaeróbia (1500
mgCaCO3.L-1). No entanto, a relação AI/AP da borra industrial apresentou resultados
favoráveis, sendo equivalente a 0,40 (LILI et al.; 2011), o que pode contribuir para um
melhor desempenho na degradação da matéria orgânica e na produção de
biogás/metano, quando estabelecido o processo de digestão anaeróbia.
Para os resíduos alimentares foram verificadas diferenças nos parâmetros pH, DQO,
e nas concentrações de COT e NTK. O pH na Etapa 1 foi considerado levemente
ácido (5,4), no entanto, na Etapa 2, o pH obtido foi de 6,5, dentro da faixa ideal para
o desenvolvimento das arqueas metanogênicas (6,3 a 7,8) (Tabela 9).
A relação STV/ST obtida para o lodo da Etapa 2 foi bastante próxima à da etapa 1.
No entanto, ligeiramente inferior à faixa de classificação determinada para lodo
secundário anaeróbio (Tabela 10). Apesar disto, o lodo também deve ser classificado
97
A norma ISO 11734 (ISO, 1995) apresenta um escopo para a execução do ensaio
BMP de resíduos orgânicos utilizando lodo proveniente do tratamento de efluentes ou
resíduos como inóculo. No entanto, esta norma não trata dos parâmetros operacionais
a serem seguidos no teste. Tendo em vista a existência de grande variabilidade em
relação as características dos substratos orgânicos, que influenciam nas condições
de execução do teste BMP, são necessários estudos envolvendo as melhores
condições para o desenvolvimento do teste a partir dos diferentes tipos de resíduos.
Desta forma, foi elaborado um protocolo com o objetivo de oferecer uma padronização
a execução de teste BMP a partir da digestão anaeróbia de borras de café (doméstica
e industrial) e resíduos alimentares, com o objetivo principal de orientar futuros
estudos sobre o tema.
BBP (NmL/
1513764 5 302753 3024,5 0,000 SIM
gSTV)
1
BMP (NmL/
706011 5 141202 5595,0 0,000 SIM
gSTV)
BBP (NmL/
2016378 5 403276 2593,5 0,000 SIM
gSTV)
2
BMP (NmL/
777276 5 155455 3354,1 0,000 SIM
gSTV)
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).
RDLODO 77,51 ± 0,51 (a) 34% RILODO 74,44 ± 0,46 (a) 37%
RD0% 135,42 ± 0,59 (b) 43% RI0% 311,87 ± 1,20 (g) 53%
RD25% 344,99 ± 1,08 (c) 55% RI25% 350,82 ± 1,33 (h) 52%
RD50% 131,34 ± 0,48 (d) 44% RI50% 139,97 ± 0,65 (b) 42%
RD75% 300,59 ± 0,95 (e) 53% RI75% 188,20 ± 1,01 (i) 48%
RD100% 60,09 ± 0,15 (f) 40% RI100% 57,82 ± 0,21 (f) 42%
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). Nota¹: O Potencial bioquímico de biogás/metano foi
expresso em termos da massa de STV adicionada nos reatores (substrato).
101
Figura 29 – Potencial de Produção de Biogás dos reatores da Figura 30 – Potencial de Produção de Metano dos reatores da
Etapa 1 (Borra Doméstica) Etapa 1 (Borra doméstica)
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).
Figura 31 – Potencial de Produção de Biogás dos reatores da Figura 32 – Potencial de Produção de Metano dos reatores da
Etapa 2 (Borra Industrial) Etapa 2 (Borra Industrial)
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).
102
Este fato demonstra que a amostra dos resíduos alimentares da Etapa 1 não estava
totalmente adaptada às condições da digestão anaeróbia, ou continha algum
composto inibidor. Esta hipótese pode ser ancorada nas diferenças observadas na
caracterização dos resíduos alimentares das duas etapas, com relação ao pH (ácido),
a relação C:N (12:1), e a DQO, superior à obtida nos resíduos alimentares da Etapa
1. Ressalta-se que mesmo realizando a correção do pH e da alcalinidade para todas
as amostras, alguma inibição pode ter sido responsável pela baixa produção de biogás
e metano no reator.
Com relação aos reatores que continham borra de café, verificou-se que para na Etapa
1, os melhores resultados foram obtidos para os reatores com 25% e 75% de borra
de café doméstica (RD25% e RD75%), com um BMP de 344,99 e 300,59
NmLCH4/gSTVadic, respectivamente. Na Etapa 2, por sua vez, apenas o reator com
25% de borra de café industrial (RI25%) manteve a produtividade atingida na Etapa 1,
com 350,82 NmLCH4/gSTVadic, similar a obtida no reator RD25%.
apresentados por Kim et al. (2017), que utilizaram resíduos alimentares e borra de
café doméstica como substratos da digestão anaeróbia. Utilizando uma relação
resíduo:inóculo de 1:1, mesma utilizada nesta pesquisa, os autores relataram ter
obtido um BMP de 308 mLCH4/gSTV para a mistura com 25% de borra de café. No
entanto, os autores utilizaram lodo de digestor anaeróbio (esgotos e resíduos
alimentares), diferente do inóculo utilizado neste trabalho (lodo de UASB).
Segundo Kim et al. (2017), este fato se dá pelas características dos resíduos
alimentares, uma vez que são altamente biodegradáveis, possuindo um adequado
balanço de nutrientes. No entanto, no presente trabalho verificou-se que a adição das
borras de café doméstica e industrial foi benéfica ao processo de digestão de resíduos
alimentares, promovendo maior equilíbrio nutricional. Na Etapa 1, provavelmente as
cargas inibitórias foram neutralizadas pela adição dos percentuais de 25% e 75% de
borra. Na Etapa 2, por sua vez, que possuía uma amostra adequada de resíduos
alimentares, a adição de 25% de borra manteve o desempenho na produção de
biogás/metano.
Ressalta-se ainda que a produção de biogás e metano obtida para RD25%, RD75% e
RI25%, se situa dentro da faixa encontrada na literatura para resíduos amplamente
utilizados como substratos da digestão anaeróbia, como resíduos alimentares, dejetos
bovinos, suínos e esterco de frango, conforme pode ser visto na Tabela 4. Estes
estudos evidenciam a viabilidade da codigestão anaeróbia das borras de café
estudadas com resíduos alimentares, e lodo de UASB, nas proporções utilizadas
neste trabalho.
Os resultados de BBP e BMP obtidos neste trabalho para os reatores RD25%, RD75% e
RI25%, foram, em média, 30% superiores aos obtidos pela maioria dos trabalhos
104
Os valores obtidos para produção de metano dos reatores que continham apenas
borra de café (RD100% e RI100%), no entanto, foram muito inferiores aos presentes na
literatura (Quadro 3), para as duas etapas, sendo a produção de biogás/metano
nestes reatores inferior a produção do inóculo (RD0% e RI0%). Devido a isso, infere-se
que tenha havido inibição da digestão anaeróbia nestes reatores, uma vez que a partir
do 25º dia há um declínio acentuado da produção de biogás e de metano, que fica
quase nula (Figuras 29, 30, 31 e 32).
Segundo HWU et al. (1998) concentrações acima de 100 mg/L de lipídios no meio
105
Provavelmente este foi o motivo do colapso nos reatores RD100% e RI100%, que
continham 100% de borra de café, no entanto, o desempenho destes reatores frente
a outros parâmetros de interesse para a digestão anaeróbia será discutido com mais
detalhe no item 5.4.
Ainda, Hwu e Lettinga (1997) verificaram que as bactérias termófilas são bem mais
suscetíveis a toxicidade do que as mesófilas. Este fato corrobora com os resultados
apresentados por Kostenberg e Marchaim (1993) e Shofie et al. (2015). Estes autores
verificaram uma rápida inibição no processo de digestão termófila anaeróbia, diferente
de Lane (1983), cuja inibição foi percebida apenas após 80 dias de início do processo,
realizando a digestão mesófila.
Desta forma, infere-se que nas condições do presente estudo, a codigestão anaeróbia
mesofílica, utilizando resíduos alimentares como cossubstratos da borra de café e
lodo de UASB, contribuiu para atenuar uma potencial inibição do processo, uma vez
que foi possível atingir altos níveis de produção de metano, comparando com a Tabela
4 e Quadro 3.
106
Luz et al. (2018) e Girotto, Lavagnolo e Pivato (2018) verificaram ausência de inibição
no processo de digestão anaeróbia mesofílica de borras de café, no entanto, os
autores utilizaram como alternativa o pré-tratamento da borra. Estes autores
verificaram ainda que os pré-tratamentos térmico e alcalino da borra são capazes de
evitar a inibição no processo de digestão anaeróbia mesofílica de borras de café.
Os resultados obtidos por Luz et al. (2018) indicam que o pré-tratamento atenua a
toxicidade dos AGCL, pelos altos valores de BMP obtidos, uma vez que promovem a
liberação de maiores quantidades de açúcares, decorrentes da conversão de celulose
e hemicelulose presentes na borra de café.
continham apenas borra de café (RD100% e RI100%), os valores obtidos por estes
autores foram muito semelhantes aos BMP dos reatores com 25% de borra de café
(RD25% e RI25%). Isto indica que a codigestão é uma alternativa ao pré-tratamento, na
proporção de 25% de borra de café para 75% de resíduos alimentares.
Os valores obtidos para o BMP dos reatores com 50% de borra de café e 50% de
resíduos alimentares (RD50% e RI50%), foram semelhantes nas duas etapas, assim
como o RI75%, e bastante inferiores aos encontrados na literatura. Isto provavelmente
ocorreu pelo desbalanceamento de nutrientes e alcalinidade no processo, conforme
será discutido no próximo item.
Os teores de metano obtidos nas duas etapas da digestão anaeróbia para os reatores
com 25% e 75% de borra de café estão dentro da faixa encontrada na literatura
(Quadro 3). No entanto, os reatores que tiveram indícios de inibição (RDLODO, RILODO,
RD50%, RI50%, RD100%, RI100%), apresentaram teor de metano entre 34 e 42%, bastante
inferior a faixa obtida nas diversas pesquisas avaliadas.
No entanto, para o reator RD75%, na Etapa 1, foi alcançada uma produção de biogás
quase o dobro da obtida com a borra industrial (RI75%). Ainda, o reator RD75%
apresentou uma produção equivalente a obtida para o RI0%, que continha apenas
resíduos alimentares. Isto indica que para a borra de café doméstica, as porcentagens
ideais de mistura para a codigestão são 25% e 75%. Já para a borra industrial, ainda
que um bom resultado tenha sido alcançado para o RI75%, a porcentagem de 25% de
borra se mostrou ideal.
Tabela 16 – Resultados da caracterização físico-química dos reatores da Etapa 1 (Borra doméstica) no início e no final do teste
Média 7,03 8,04 7,02 8,25 7,07 7,93 7,03 7,63 7,08 7,19 7,05 6,65
pH
DP ± 0,03 ± 0,02 ± 0,01 ± 0,03 ± 0,01 ± 0,01 ± 0,03 ± 0,02 ± 0,03 ± 0,01 ± 0,01 ± 0,03
Média 22,60 17,76 22,68 15,60 22,61 6,66 22,71 13,42 23,10 7,34 22,80 17,86
ST (g/kg)
DP ± 0,05 ± 0,07 ± 0,01 ± 0,07 ± 0,04 ± 0,01 ± 0,02 ± 0,66 ± 0,08 ± 0,03 ± 0,01 ± 0,04
% Remoção ST Média 21,45 31,23 70,53 40,91 68,23 2168
Média 11,19 9,12 11,42 7,92 11,61 2,36 11,46 4,14 11,91 2,98 11,23 5,95
STV (g/kg)
DP ± 0,01 ± 0,04 ± 0,01 ± 0,04 ± 0,01 ± 0,01 ± 0,02 ± 0,02 ± 0,03 ± 0,01 ± 0,02 ± 0,02
% Remoção STV Média 25,68 35,42 72,68 43,93 70,05 29,36
STV/ST Média 0,50 0,47 0,50 0,47 0,51 0,48 0,50 0,47 0,51 0,48 0,50 0,45
Média 32,81 25,50 33,87 22,21 34,91 8,60 34,62 18,43 34,20 9,61 32,44 22,97
DQO (g/kg)
DP ± 0,09 ± 0,07 ± 0,11 ± 0,10 ± 0,15 ± 0,04 ± 0,16 ± 0,09 ± 0,11 ± 0,02 ± 0,15 ± 0,09
% Remoção DQO Média 29,08 34,43 75,30 46,56 71,91 29,21
Média 2,90 1,12 7,78 0,64 7,26 0,92 6,29 1,77 6,16 3,00 5,6 3,83
COT (g/kg)
DP¹ ± 0,01 - ± 0,01 - ± 0,01 - ± 0,01 - ± 0,01 ± 0,01 ± 0,01 ± 0,01
Média 0,17 0,06 0,45 0,03 0,35 0,10 0,35 0,04 0,30 0,21 0,25 0,09
NTK (g/kg)
DP¹ - - - - - - - - - - - -
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). *Nota¹: Os valores de Desvio Padrão que não foram mostrados foram menores que 0,01, com CV <
0,5%.
110
Tabela 16 – Resultados da caracterização físico-química dos reatores da Etapa 1 (Borra doméstica) no início e no final do teste
(continuação)
Média 0,16 0,06 0,23 0,01 0,21 0,02 0,20 0,01 0,18 0,04 0,17 0,04
Fósforo (g/kg)
DP¹ - - - - - - - - - - - -
C:N Média 17:1 20:1 17:1 20:1 21:1 9:1 18:1 45:1 20:1 14:1 23:1 44:1
Alcalinidade Total Média 2.545 3.596 2.527 4.597 2.557 3.499 2.521 3.387 2.566 2.053 2.565 2.589
(mgCaCO3.L-1) DP ± 9,00 ± 13,72 ± 9,50 ± 11,94 ± 9,10 ± 13,34 ± 8,45 ± 9,99 ± 9,41 ± 7,30 ± 9,32 ± 7,17
Alcalinidade
Intermediária / Média 0,10 0,14 0,42 0,88 0,33 0,28 0,45 0,83 0,33 0,19 0,26 0,49
Parcial (AI/AP)
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). *Nota¹: Os valores de Desvio Padrão que não foram mostrados foram menores que 0,01, com CV <
0,5%
111
Tabela 17 – Resultados da caracterização físico-química dos reatores da Etapa 2 (Borra industrial) no início e no final do teste
Média 6,96 7,49 7,09 7,96 7,10 7,37 7,02 7,30 6,97 7,66 7,00 7,60
pH
DP ± 0,02 ± 0,01 ± 0,02 ± 0,02 ± 0,02 ± 0,03 ± 0,01 ± 0,01 ± 0,01 ± 0,03 ± 0,03 ± 0,02
Média 22,71 15,84 24,91 7,34 23,70 5,75 24,07 11,94 23,25 9,26 23,84 17,27
ST (g/kg)
DP ± 0,03 ± 0,01 ± 0,03 ± 0,01 ± 0,02 ± 0,01 ± 0,02 ± 0,601 ± 0,02 ± 0,01 ± 0,03 ± 0,01
% Remoção ST Média 30,20 70,50 75,70 50,50 60,1 27,70
Média 12,02 7,98 13,17 3,57 12,57 2,73 12,80 5,80 12,83 4,54 12,52 8,79
STV (g/kg)
DP ± 0,01 ± 0,02 ± 0,01 ± 0,01 ± 0,02 - ± 0,02 ± 0,01 ± 0,03 - ± 0,02 ± 0,01
% Remoção STV Média 33,61 72,84 82,70 54,75 70,99 46,85
STV/ST Média 0,51 0,43 0,53 0,49 0,53 0,47 0,53 0,49 0,53 0,51 0,53 0,48
Média 21,67 12,87 22,60 4,93 22,87 3,96 20,14 9,75 23,10 6,94 19,56 13,02
DQO (g/kg)
DP ± 0,07 ± 0,03 ± 0,11 ± 0,02 ± 0,10 ± 0,01 ± 0,09 ± 0,08 ± 0,11 ± 0,02 ± 0,09 ± 0,07
% Remoção DQO Média 44,12 78,20 78,23 54,75 64,67 29,88
Média 1,61 0,62 7,67 1,07 6,76 0,77 7,13 1,35 6,41 0,47 7,45 1,54
COT (g/kg)
DP¹ - - ± 0,01 - ± 0,01 - ± 0,01 - ± 0,01 - ± 0,01 -
Média 0,20 0,17 0,32 0,06 0,29 0,07 0,22 0,04 0,22 0,04 0,21 0,04
NTK (g/kg)
DP¹ - - - - - - - - - - - -
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). *Nota¹: Os valores de Desvio Padrão que não foram mostrados foram menores que 0,01, com CV <
0,5%.
112
Tabela 17 – Resultados da caracterização físico-química dos reatores da Etapa 2 (Borra industrial) no início e no final do teste
(continuação)
Média 0,26 0,08 0,27 0,04 0,27 0,02 0,27 0,06 0,27 0,03 0,26 0,05
Fósforo (g/kg)
DP¹ - - - - - - - - - - - -
C:N Média 8:1 4:1 24:1 18:1 24:1 11:1 32:1 33:1 29:1 12:1 36:1 39:1
Alcalinidade Total Média 2.528 3.310 2.549 3.558 2.591 3.162 2.579 3.091 2.561 3.678 2.576 2.987
(mgCaCO3.L-1) DP ± 8,04 ± 11,32 ± 9,62 ± 14,87 ± 9,61 ± 11,84 ± 11,71 ± 6,12 ± 11,35 ± 11,30 ± 9,02 ± 4,64
Alcalinidade
Intermediária / Média 0,19 0,16 0,40 0,21 0,32 0,26 0,48 0,87 0,31 0,20 0,21 0,54
Parcial (AI/AP)
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). *Nota¹: Os valores de Desvio Padrão que não foram mostrados foram menores que 0,01, com CV < 0,5.
113
Alcalinidade
Total final 3331208 5 666242 318,6 0,000 SIM
(mgCaCO3.L-1)
AI/AP
0,562 5 0,11 668,38 0,000 SIM
Inicial
AI/AP
3,541 5 0,71 5582,4 0,000 SIM
Final
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).
Conforme pode-se verificar, por meio das Tabelas 18 e 19, as porcentagens de borra
de café e de resíduos alimentares adicionadas foram significativas para todos os
parâmetros avaliados nos reatores das duas etapas (p<0,05), exceto para o pH inicial
e a Alcalinidade Total Inicial, que foram parâmetros de controle para realização do
teste, não devendo variar de acordo com o reator.
Infere-se assim, que o teor de borra de café, doméstica e industrial, aplicado (nos dois
testes) influenciou no processo de codigestão anaeróbia. Além da ANOVA, foi
realizado o Teste de Tukey visando identificar diferenças entre os tratamentos.
115
5.4.1 pH
Os valores de pH dos reatores no início e no final das Etapas 1 e 2 são mostrados nas
Figuras 33 e 35. O resultado do teste de Tukey para cada Etapa é mostrado nas
Figuras 34 e 36.
Conforme visto nas Tabelas 16, 17, 18 e 19, o pH de início, em todos os reatores, se
mostrou adequado para o desenvolvimento da digestão anaeróbia nas Etapas 1 e 2,
não apresentando variação entre os tipos de reatores, o que era esperado pelo pH ser
um fator de controle do processo, sendo realizado o tamponamento do sistema no
início dos testes (com bicarbonato de sódio).
Pode-se perceber, no entanto, que houve uma variação entre o pH inicial e o pH final
nos reatores das duas etapas (Figuras 33 e 35).
Assim como ocorrido nos reatores RD100%, Luz et al. (2017) também verificaram
redução do pH na digestão anaeróbia de borras de café, utilizando, entretanto, dejetos
bovinos como inóculo. Depois de uma semana do start up dos reatores pelos autores,
o pH foi reduzido de 7 para 5, sendo necessária a adição de uma agente tamponante
para evitar a inibição do processo.
No entanto, assim como no estudo de Luz et al. (2017), o Reator RI100%, da Etapa 2,
também apresentou um acréscimo no pH durante o processo, passando de 7 para um
pH de 7,6 ao final da digestão anaeróbia.
Boe et al. (2010) afirmam que apesar do pH ser um parâmetro importante no controle
da digestão anaeróbia, as condições do reator são melhores avaliadas a partir da
alcalinidade, uma vez que a utilização isolada do pH como indicador de estabilidade
pode revelar-se pouco sensível a variações de acumulações de ácidos caso a
capacidade tampão seja suficiente para neutralizar os ácidos produzidos, o que pode
ocasionar variações de pH muito lentas e tardias.
Desta forma, para compreender melhor o que aconteceu no processo de digestão foi
avaliada a Alcalinidade Total e a relação AI/AP no início e fim do teste BMP, nas
Etapas 1 e 2.
117
Figura 33 – Valores de pH nos reatores no início e no final Figura 34 – Resultado do Teste de TUKEY para o pH final dos
dos testes (Etapa 1 – Borra doméstica) reatores (Etapa 1 – Borra doméstica)
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).
Figura 35 – Valores de pH nos reatores no início e no final Figura 36 – Resultado do Teste de TUKEY para o pH final dos
dos testes (Etapa 2 – Borra industrial) reatores (Etapa 2 – Borra industrial)
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).
118
Com relação a Alcalinidade Total Inicial nos reatores, a mesma foi considerada um
parâmetro de controle do processo, não sendo verificadas diferenças entre os valores
obtidos nos reatores das Etapas 1 e 2 pela análise estatística (Tabelas 18 e 19).
Importante ressaltar ainda que a Alcalinidade Total Inicial em todos reatores (das duas
etapas) (Figuras 37 e 39), se apresentou dentro da faixa recomendada por Raposo et
al. (2011a) como ideal para a digestão anaeróbia, em torno de 2.500 mgCaCO 3/L.
Segundo Ripley, Boyle e Converse (1986) e Lili et al. (2011) valores de AI/AP
superiores a 0,4 indicam a ocorrência de distúrbios no processo de digestão
anaeróbia, sendo a faixa de 0,1 a 0,35 considerada típica para o bom funcionamento
da digestão anaeróbia. Lili et al. (2011) também apresentam que valores de AI/AP
entre 0,3 e 0,4 proporcionam um maior potencial para produção de metano, o que foi
observado nos reatores RD25%, RD75%, na Etapa 1, e RI0%, RI25%, RI75%, na Etapa 2.
Neste ponto infere-se que as misturas com 25% e 75% de borra de café promoveram
um maior balanceamento do sistema com relação a alcalinidade, o que demonstra um
119
Avaliando a Alcalinidade Total Final dos reatores, observa-se que os valores ficaram
dentro da faixa recomendada para a digestão anaeróbia (1000 e 5000 mgCaCO 3/L),
(TCHOBANOGLOUS; BURTON; STENSEL, 2003), para as duas etapas. Além disso,
foi observada a correspondência entre as variações da Alcalinidade Total e do pH nos
reatores, sendo percebido que um aumento da Alcalinidade Total correspondeu a um
acréscimo do pH, ocorrendo o mesmo para redução.
Assim como observado nos reatores, RD0%, RD50% e RD100% na Etapa 1, e RI50%, na
Etapa 2, Shofie et al. (2015), avaliando a monodigestão anaeróbia de borras de café,
obtiveram valores excessivos para AI/AP. Os autores obtiveram valores de AI/AP da
ordem de 0,51, chegando a 0,98 ao final do processo, atribuindo este aumento a
produção de AGV, que contribuiu na inibição da atividade metanogênica.
Este fato corrobora com os resultados obtidos por Lane (1983), Kostenberg e
Marchaim (1993) e Dinsdale, Hawkes e Hawkes (1996), que verificaram uma elevada
produção de AGV na digestão anaeróbia de borras de café, devido à alta concentração
de lipídios neste resíduo.
Gonçalves (2012), cita que as arqueas metanogênicas são mais sensíveis que as
bactérias hidrolíticas e acidogênicas a elevadas concentrações de ácidos graxos
voláteis (AGV). Súbitas variações deste parâmetro podem aumentar a competição
interespécies podendo alterar os caminhos fermentativos existentes e consequente
quantidade e qualidade do biogás final, o que provavelmente ocorreu nos reatores que
apresentaram uma alta relação AI/AP.
120
Figura 37 –Alcalinidade Total nos reatores no final dos testes Figura 38 –Teste de TUKEY para a Alcalinidade Total Final
(Etapa 1 – Borra doméstica) (Etapa 1 – Borra doméstica)
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).
Figura 39 –Alcalinidade Total nos reatores no final dos testes Figura 40 –Teste de TUKEY para a Alcalinidade Total Final
(Etapa 2 – Borra industrial) (Etapa 2 – Borra industrial)
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).
122
Os valores obtidos para a relação C:N, apresentaram variabilidade nas duas Etapas,
devido aos teores de Carbono e Nitrogênio encontrados nos substratos e inóculos
(Figura 47 e Figura 49). Também foi realizada a avaliação da relação C:N:P no início
e final dos reatores, porém, este parâmetro não foi significativo para este trabalho,
apresentando valores muito inferiores a faixa descrita na literatura para o bom
desempenho da digestão anaeróbia.
Na Etapa 1, verificou-se que apenas os reatores com 25%, 75% e 100% de borra de
café (RD25%, RD75% e RD100%) apresentaram valores adequados para o desempenho
da digestão anaeróbia (entre 20 e 30), conforme definido por Chernicharo (2010)
(Figura 47).
A partir do Teste de Tukey, Figura 48, verifica-se ainda que os valores de C:N inicial
para os reatores RD25% e RD75% foram considerados estatisticamente iguais, o que
indica que este valor de relação C:N (entre 20 e 21) foi o mais adequado para partida
da digestão anaeróbia de borras de café doméstica, nas condições estudadas.
Para o reator RD100%, apesar deste apresentar uma relação C:N inicial adequada para
a digestão anaeróbia, foi verificado um baixo desempenho no processo de digestão,
sendo observado um aumento excessivo da relação AI/AP e da relação C:N para este
reator ao final do teste. Infere-se que a digestão neste reator tenha sido instável,
gerando uma grande quantidade de AGV provocando a inibição do processo.
126
Segundo Sgorlon et al. (2011), a principal causa da elevação da relação C:N durante
o processo de digestão anaeróbia é a morte de microrganismos, o que foi percebido
neste trabalho, uma vez que o reator RD100% apresentou indícios de toxicidade,
provocando a inibição do processo de digestão anaeróbia, provavelmente pelo
excesso de lipídios presentes na borra de café doméstica.
Avaliando a relação C:N inicial dos reatores RD0% e RD50%, percebe-se que as
mesmas foram inferiores a faixa recomendada, o que, aliado a elevada alcalinidade
intermediária, pode ter contribuído para um desempenho ineficiente da digestão
anaeróbia nestes reatores. Ainda, uma baixa relação C:N inicial, como a obtida para
estes dois reatores, pode promover uma maior disponibilidade de nitrogênio na forma
de amônia, o que causa um aumento do pH no meio (verificado nos reatores) e a
inibição da metanogêse, pela toxicidade da amônia aos microrganismos, o que
provavelmente ocorreu (CHERNICHARO, 2010).
Já para a Etapa 2, Figura 49, os reatores com 0%, 25% e 75% de borra de café
industrial foram os que apresentaram relações C:N adequadas para o início do
processo de digestão anaeróbia. No entanto, avaliando-se os resultados por meio do
teste de Tukey (Figura 50), verifica-se que os valores apresentados para os reatores
RI0%, RI25%, RI75% e RI100% são estatisticamente iguais, o que indica que a relação C:N
do reator RI100% também estava adequada.
Porém, ao final do teste, foi verificado que apenas os reatores 25% e 75%
apresentaram valores compatíveis com o final do processo de digestão anaeróbia,
pelo balanceamento da relação C/N, aliado a relação AI/AP.
127
É provável que assim como ocorrido na Etapa 1, tenha havido uma produção
excessiva de AGV nos reatores com 100% de borra de café (RI100%), devido ao
excesso de lipídios na borra de café, ocorrendo, assim como no reator RD100%, a morte
de microrganismos, o que aumentou a relação C:N ( SGORLON et al., 2011).
Com relação ao reator RI0%, apesar do mesmo apresentar uma relação C:N final
inferior a inicial, essa era superior ao valor esperado para a estabilização da matéria
orgânica (CHERNICHARO, 2010). Apesar disto, os valores de eficiência de remoção
de matéria orgânica neste reator foram elevados, assim como os valores obtidos para
produção de biogás e metano, inferindo que houve um processo estável.
Figura 52 – Teste de Tukey para os valores obtidos para a relação C:N final
da Etapa 2
Com relação a remoção de Sólidos Totais (ST) e Sólidos Totais Voláteis (STV),
percebeu-se uma correlação entre a remoção destes e o desempenho dos reatores
na produção de metano. Os resultados obtidos são mostrados nas Figuras 53 a 60.
Na Etapa 1, os reatores que tiveram melhor desempenho foram RD25% e RD75%, com
uma remoção de 70,5% e 68% de ST, respectivamente e de 72,7% e 70% de STV. Já
na Etapa 2, obteve-se maiores porcentagens de remoção com os reatores RI0% e
RI25%, sendo 71% e 82,7%, respectivamente para ST, 73% e 78% para STV.
Apesar da baixa remoção obtida por Kim et al. (2017), os autores atingiram um BMP
da ordem de 300 NmLCH4/gSTV, para todas as porcentagens de borra adicionadas
(0%, 25%, 50%, 75% e 100%) próximos aos valores encontrados nos reatores R0% e
R25% na Etapa 2, e R25% e R75% na Etapa 1, e superiores aos encontrados nos outros
reatores. Infere-se que o melhor desempenho encontrado por Kim et al. (2017) para a
o BMP da monodigestão anaeróbia da borra de café tenha sido pela melhor
aclimatação entre o inóculo utilizado pelos autores (lodo de biodigestor que tratava
resíduos alimentares e efluentes), e a borra de café.
No entanto, os valores atingidos por Shofie et al. (2015) são semelhantes aos reatores
RD50% e RI50% e superiores aos obtidos na monodigestão (RD100% e RI100%). Os autores
132
Os reatores que apresentaram baixa remoção de ST, STV e DQO (RD0%, RD50%,
RD100%, RI50%, RI100%), como discutido acima, apresentaram um desbalanceamento
de nutrientes, causado pela inadequada relação C/N e, pela excessiva formação de
AGV no processo de digestão anaeróbia, que contribuíram para uma menor produção
de biogás/metano.
133
Figura 53 – Valores de Remoção de ST nos reatores no início e Figura 54 – Resultado do Teste de TUKEY para a Remoção
no final dos testes (Etapa 1 – Borra doméstica) de ST (Etapa 1 – Borra doméstica)
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).
Figura 55 – Valores Remoção de ST nos reatores no início e no Figura 56 – Resultado do Teste de TUKEY para a Remoção
final dos testes (Etapa 2 – Borra industrial) de ST (Etapa 2 – Borra industrial)
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).
134
Figura 57 – Valores de Remoção de STV nos reatores no Figura 58 – Resultado do Teste de TUKEY para a Remoção de
início e no final dos testes (Etapa 1 – Borra doméstica) STV (Etapa 1 – Borra doméstica)
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).
Figura 59 – Valores Remoção de STV nos reatores no início e Figura 60 – Resultado do Teste de TUKEY para a Remoção de
no final dos testes (Etapa 2 – Borra industrial) STV (Etapa 2 – Borra industrial)
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).
135
Os resultados obtidos são mostrados nas Figuras 61 a 64. Pode-se perceber que a
conversão de DQO nas duas etapas foi condizente com o desempenho dos reatores
para remoção de ST, STV e para a produção de biogás/metano.
Na Etapa 1, assim como para a remoção de ST e STV, os reatores que tiveram melhor
desempenho foram RD25% e RD75%, com uma remoção de DQO de 75,3% e 71,91%,
respectivamente. O reator com 25% de borra apresentou um melhor desempenho
para remoção de DQO, como se pode ver na Figura 61, assim como para a produção
de metano. No entanto as relações STV/ST foram muito semelhantes para os dois
reatores, assim como a relação AI/AP e a relação C/N (Tabela 16).
No entanto, foi percebida uma diminuição no pH dos reatores com 75% de borra
doméstica, ao final do teste, indicando que foi produzida uma quantidade de ácidos
além do que a alcalinidade conseguiria neutralizar. Ainda foi obtido ao final do teste
uma relação AI/AP próxima ao limite para a digestão anaeróbia, corroborando com o
afirmado. Isto pode ter contribuído para um menor desempenho na produção de
metano deste reator, assim como na remoção de ST, STV e DQO.
Na Etapa 2, os melhores resultados para remoção de DQO foram obtidos a partir dos
reatores com 0%, 25% e 75% de borra industrial, corroborando com os resultados
obtidos de remoção de ST, STV e de produção de biogás/metano.
Já para o reator com 75% de borra de café industrial, provavelmente teve um menor
desempenho pela redução excessiva da relação AI/AP, que ficou próxima do limite
aceitável para digestão anaeróbia (0,2).
anaeróbia de borra de café com outros substratos (LUZ et al., 2017; SHOFIE et al.,
2015). No entanto esta faixa é próxima a encontrada para os reatores que continham
apenas borra de café RD100% e RI100%, indicando que a melhor eficiência de
degradação da matéria orgânica obtida neste trabalho, se deu pela sinergia benéfica
entre os substratos utilizados (borra e resíduos alimentares).
137
Figura 61 – Valores de Remoção de DQO nos reatores no Figura 62 – Resultado do Teste de TUKEY para a Remoção de
início e no final dos testes (Etapa 1 – Borra doméstica) DQO (Etapa 1 – Borra doméstica)
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).
Figura 63 – Valores Remoção de DQO nos reatores no início e Figura 64 – Resultado do Teste de TUKEY para a Remoção de
no final dos testes (Etapa 2 – Borra industrial) DQO (Etapa 2 – Borra industrial)
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).
138
Foram utilizados dois cenários, de acordo com a fonte geradora dos resíduos, a saber:
Após a coleta da borra de café industrial, foram fornecidos dados sobre a geração
deste resíduo por parte da fonte geradora (1000 kg/dia). Não foi possível a aquisição
de dados sobre a geração de resíduos alimentares por parte da indústria, assim,
estimou-se a produção diária de resíduos alimentares com base no valor médio de
resíduos alimentares gerados por refeição, obtidos no Cenário A. Como era conhecido
que 400 funcionários almoçavam na empresa, foi possível estimar a quantidade de
resíduos alimentares geradas por dia.
Após o cálculo da geração diária de energia nos dois cenários (Tabela 22), percebe-
se que o maior potencial de fornecimento de energia no Cenário A advém da mistura
de 25% de borra de café, com 75% de resíduos alimentares, com 20,23 kWh/d. Já no
Cenário B, pelo fato da borra de café ser gerada em ordem de 1 tonelada por dia, a
energia fornecida pela monodigestão se torna superior à das misturas, com uma
geração de 138,81 kWh/d.
consumo médio diário de energia por funcionário de uma empresa qualquer, no Brasil,
sendo este valor de 1,687 kWh/d (IPEEC,2018). A partir deste valor, encontra-se que
a energia produzida a partir da codigestão anaeróbia de 100% de borra de café
industrial poderia atender ao consumo energético de 82 funcionários, 20,5% do total
de funcionários da empresa.
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168
1 Apresentação
2 Objetivo
3 Definições
4 Princípio do método
5 Materiais e equipamentos
5.1 Materiais
- Resíduos:
Resíduos alimentares;
Lodo de UASB;
- Reagentes:
Água;
- Insumos:
Frascos Erlenmeyer;
Mangueira;
Seringa;
Equipo de soro;
Caneta e papel.
5.2 Equipamentos
6 Fluxograma do teste
6. 1 Aparato experimental
Conforme a Figura 2 (Anexo), deverá ser utilizada uma mangueira para coleta do gás
no reator (1) e transporte para o frasco (3), a mangueira pode ser conectada aos
reatores (1) e aos frascos com água (3) com auxílio de uma seringa, para maior
vedação (5), mostrada na Figura 3 (Anexo). Para transporte da água deslocada pelo
gás no frasco (3) deverá ser utilizado um Equipo soro (6), de acordo com a Figura 3
(Anexo).
com relação a concentração de Sólidos Totais (ST) e Sólidos Totais Voláteis (STV)
para montagem dos reatores.
Ajuste do pH: O pH nos reatores antes do teste deve ser padronizado, estando em
torno de 7. Para tal, deve ser utilizado um agente tamponante, como bicarbonato de
sódio (NaHCO3). A dosagem de bicarbonato deve respeitar os valores limite de
toxicidade do íon sódio (Na+) para os microrganismos anaeróbios: 3500-5500
mg(Na+)/L [4] [5].
Vedação dos reatores: Os reatores devem ser vedados para evitar perda de biogás
no processo. Para tal deve ser utilizada uma borracha rígida, que funcionará como
uma rosca de vedação (Figura 4a e 4b no Anexo). Após inserção da vedação, os
frascos devem ser fechados com a tampa de origem.
Após montagem, os reatores devem ser incubados a 35ºC +- 1ºC, durante 45 dias. A
medição do biogás/metano produzido deve ser diária, sempre no mesmo horário. Nos
experimentos que utilizam o método de medição volumétrico, deve ser colocado um
frasco com água junto aos reatores de forma a saturar o ambiente com vapor d’água,
evitando a sua evaporação dos frascos Erlenmeyer. A medição nos experimentos
volumétricos deve ser realizada com provetas.
Após o final do teste, o volume de biogás/metano produzido deve ser corrigido para
as CNTP, considerando as condições de execução do teste, conforme a Equação 1.
Em seguida, deve ser calculado o Potencial Bioquímico de Biogás ou Metano,
expresso em termos de NmL/gSTVadicionada, de forma a auxiliar na comparação dos
resultados obtidos na literatura (Equação 2).
𝑃1 𝑥 𝑉1 𝑃2 𝑥 𝑉2
𝐿𝐴𝐵 = 𝐶𝑁𝑇𝑃 (1)
𝑇1 𝑇2
Onde:
𝑉𝑎𝑐𝑢𝑚
𝐵𝑀𝑃𝑅𝑒𝑎𝑡𝑜𝑟 = [𝑓 𝑥 ( )] (2)
𝑀𝑎𝑠𝑠𝑎𝑆𝑇𝑉 𝑅𝑒𝑎𝑡𝑜𝑟
Onde:
7 Referências
[1] HOLLIGER, C.; ALVES, M.; ANDRADE, D.; ANGELIDAKI, IRINI; ASTALS, S.;
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8 Anexos
Figura 1 – Fluxograma para realização do teste BMP