Você está na página 1de 178

INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS

MESTRADO PROFISSIONAL EM TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS

ROBERTA ARLÊU TEIXEIRA

DIGESTÃO ANAERÓBICA E POTENCIAL DE GERAÇÃO DE

BIOGÁS A PARTIR DA BORRA DE CAFÉ

Vitória
2019
ROBERTA ARLÊU TEIXEIRA

DIGESTÃO ANAERÓBICA E POTENCIAL DE GERAÇÃO DE

BIOGÁS A PARTIR DA BORRA DE CAFÉ

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação


em Tecnologias Sustentáveis do Instituto Federal do
Espírito Santo como requisito parcial para obtenção do
título de Mestre em Tecnologias Sustentáveis.

Orientadora: Profª Dra. Jacqueline Rogéria Bringhenti

Coorientadora: Profª Dra. Raquel Machado Borges

Vitória
2019
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
(Biblioteca Nilo Peçanha do Instituto Federal do Espírito Santo)

T266d Teixeira, Roberta Arlêu


Digestão anaeróbica e potencial de geração de biogás a partir da
borra de café / Roberta Arlêu Teixeira. – 2019.
176 f. : il. ; 30 cm

Orientadora: Jacqueline Rogéria Bringuenti.


Coorientadora: Raquel Machado Borges

Dissertação (mestrado) – Instituto Federal do Espírito Santo,


Programa de Pós-graduação em Tecnologias Sustentáveis, Vitória,
2019.

1. Resíduos sólidos . 2. Matéria orgânica - Decomposição .3.


Biogás. 4. Digestão anaeróbica. 5. Borra de café . I. Bringuenti,
Jacqueline Rogéria. II. Borges, Raquel Machado . III. Instituto Federal
do Espírito Santo. IV. Título.

CDD: 628

Elaborada por Bruno Giordano Rosa – CRB-6/ES - 699


A persistência é o caminho do êxito.
(Charles Chaplin)
AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço a Deus pelo dom da vida, por me guiar e interceder pelos
meus caminhos, dar-me sabedoria em minhas decisões e forças para seguir adiante
em meus objetivos.

Aos meus pais, Maria Aparecida Arlêu Teixeira e Paulo Roberto Teixeira, pelo apoio
e amor incondicional e ao meu irmão Frederico Arlêu Teixeira, pelo carinho e amizade;

Ao meu namorado, Maxwell Klein Degen, por todo amor, carinho e companheirismo,
sempre acreditando que eu seria capaz de vencer todos os desafios;

À minha orientadora, querida professora Jacqueline Bringhenti, pela orientação,


amizade, confiança e por sempre acreditar no meu potencial;

À professora Raquel Borges, minha coorientadora, pelas conversas, por compartilhar


seu conhecimento e pelos contatos, sem os quais este trabalho não seria possível;

À professora Adriana Korres, por todos ensinamentos, paciência, disponibilidade e


conselhos;

À Bárbara Bueno e Lorrana Barboza, minhas alunas de IC, pela amizade e auxílio
durante a execução deste projeto. Desejo todo sucesso para vocês, contem sempre
comigo;

Às técnicas e estagiárias dos Laboratórios de Química e Microbiologia, Paola,


Sammea, Sheila, Carol, Fran, Jane, Mariana, e Verônica, agradeço todo apoio e
paciência na realização das análises laboratoriais;

À equipe do restaurante do Ifes por permitir a realização da coleta dos resíduos


alimentares e da borra de café doméstica;

Ao Azevedo e à Real Café por fornecer a borra de café industrial;

Ao Labsan/UFES por permitir a realização das análises de NTK;

À equipe de limpeza do Ifes, sempre disposta a ajudar os alunos em todos momentos,


vocês são meus eternos tios e tias do coração;

Ao professor Ednilson Viana pelo interesse e disponibilidade em participar da banca


de defesa deste trabalho;
Ao Programa de Pós-Graduação em Tecnologias Sustentáveis do Ifes pela
oportunidade;

A todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho;

Muito obrigada, de coração!


RESUMO

O café é a segunda commoditie mais negociada depois do petróleo, e o Brasil, o maior


produtor e segundo maior consumidor no mundo. Dentre os resíduos gerados a partir
das etapas de produção, beneficiamento e consumo do café, a borra de café vem se
destacando pela grande quantidade gerada (6 milhões de toneladas ao ano) e pelas
características do resíduo, que contém em sua composição um alto teor de matéria
orgânica, e um grande número de compostos orgânicos, dentre carboidratos,
proteínas, lipídios, minerais, fenóis, polifenóis e cafeína, que potencializam sua
valorização sustentável. Devido ao alto teor de matéria orgânica e de lipídios (principal
matéria-prima na produção de metano), a valorização da borra de café por meio da
digestão anaeróbia se mostra muito interessante, uma vez que esta técnica, além de
promover uma destinação sustentável para o resíduo, possibilita a geração de
subprodutos que podem ser aproveitados, como o biogás (para produção de energia
elétrica) e o biofertilizante (que serve como adubo orgânico). Neste contexto, o
presente estudo teve como objetivo avaliar a digestão anaeróbia de borras de café
obtidas tanto a partir da infusão do pó de café (borra doméstica), quanto da produção
de café solúvel (borra de café industrial), visando determinar o seu potencial de
produção de biogás e metano. As borras são provenientes de uma indústria de café
solúvel (borra industrial), e de um restaurante institucional (borra doméstica). Após
coletadas, cada tipo de borra de café foi digerida anaerobicamente em conjunto com
resíduos alimentares (obtidos de um restaurante), utilizando lodo de UASB como
inóculo, com uma relação Resíduo:Inóculo de 1. A codigestão foi avaliada por meio
do teste BMP, nas proporções de 0%, 25%, 50%, 75% e 100% de borra de café em
peso seco. Os testes foram executados durante 45 dias, numa temperatura de 35ºC,
realizando-se a medição do volume de biogás produzido diariamente. O desempenho
da codigestão dos resíduos foi avaliado ainda por meio da comparação dos reatores
no início e no final do teste, considerando os parâmetros: pH, ST, STV, DQO, relação
C:N e C:N:P, Alcalinidade Total e a Relação AI/AP. Como resultados, os melhores
desempenhos foram obtidos para os reatores com 25% de borra de café (doméstica
e industrial) e 75% de borra de café industrial, que alcançaram um BMP de 344,99
(RD25%), 350,82 NmL/gSTV (RI25%) e 300,59 NmL/gSTV (RD75%), com remoções de
ST, STV e DQO acima de 70%. A produção de biogás e metano nestes reatores se
mostrou compatível com a de substratos típicos utilizados na digestão anaeróbia,
como resíduos alimentares, dejetos bovinos e suínos, inferindo sobre a viabilidade de
utilização da codigestão anaeróbia de borras de café doméstica e industrial, nestas
proporções, para produção de biogás e contribuindo para a valorização destes
resíduos.

Palavras-chave: Biogás. Borra de café. Digestão anaeróbica. Potencial Bioquímico de


Biogás. Potencial Bioquímico de Metano.
ABSTRACT

Coffee is the second most traded commodity after oil, and Brazil, the largest producer
and second largest consumer in the world. Among the residues generated from the
production, processing and consumption stages of coffee, coffee grounds have been
highlighted by the large amount generated (6 million tons per year) and by the
characteristics of the residue, which contains a high content of organic matter, and a
great number of organic compounds, among carbohydrates, proteins, lipids, minerals,
phenols, polyphenols and caffeine, that potentiate their sustainable valorization. Due
to the high content of organic matter and lipids (the main raw material in the production
of methane), the valorization of coffee grounds by anaerobic digestion is very
interesting, since this technique, in addition to promoting a sustainable destination for
the residue, allows the generation of by-products that can be used, such as biogas (to
produce electricity) and biofertilizer (which serves as an organic fertilizer). In this
context, the present study had as objective to evaluate the anaerobic digestion of
coffee grounds obtained both from the infusion of coffee powder (domestic waste) and
the production of soluble coffee (industrial waste), in order to determine its potential
production of biogas and methane. The lees come from an industry of soluble coffee
(industrial pulp), and from an institutional restaurant (domestic pulp), and, after being
collected, were anaerobically digested together with food waste (obtained from a
restaurant) using UASB sludge inoculum with an R: I ratio of 1. The codigestion was
evaluated by means of the BMP test, in the proportions of 0%, 25%, 50%, 75% and
100% of coffee grounds in dry weight. The tests were run for 45 days at a temperature
of 35 ° C, measuring the volume of biogas produced daily. The performance of the
codigestión of the residues was still evaluated by means of the comparison of the
reactors in the beginning and the end of the test, considering the parameters: pH, TS,
TVS, COD, C:N and C:N:P ratio, Total Alkalinity and the IA/PA ratio. As results, it was
obtained that the best performances were obtained for the reactors with 25% of coffee
grounds (domestic and industrial) and 75% of industrial coffee grounds, which reached
a BMP of 344.99 NmLCH4/gTVS (RD 25% ), 350.82 NmLCH4/gTVS (RI25%) and
300.59 NmLCH4/gTVS (RD75%), with removals of TS, TVS and COD above 70%. The
production of biogas and methane in these reactors proved to be compatible with that
of typical substrates used in anaerobic digestion, such as food waste, bovine and pig
slurries, demonstrating the feasibility of anaerobic codigation of domestic and industrial
coffee lees, in these proportions, for production of biogas.

Keywords: Anaerobic Digestion. Biochemical Biogas Potential. Biochemical Methane


Potential. Biogas. Spent Coffee Grounds.
LISTA DE SIGLAS

AGCL – Ácidos graxos de cadeia longa

AGV – Ácidos graxos voláteis

AI/AP – Alcalinidade Intermediária/Alcalinidade Parcial

AME – Atividade Metanogênica Específica

BBP – Potencial Bioquímico de Biogás

BDTD – Biblioteca Digital Brasileira de Dissertações e Teses

BMP – Potencial Bioquímico de Metano

BRS – Bactérias Redutoras de Sulfato

BVS – Biblioteca Virtual em Saúde

C:N – Relação entre carbono e nitrogênio

CNTP – Condições normais de temperatura e pressão

COT – Carbono Orgânico Total

DIC – Delineamento Inteiramente Casualizado

DQO – Demanda química de oxigênio

DS – Decantador secundário

ETE – Estação de Tratamento de Esgoto

FBAS – filtro biológico aerado submerso

GW – Gigawatt

Ifes – Instituto Federal do Espírito Santo

kWh – Quilowatt-hora

MW – Megawatt

NTK – Nitrogênio Total Kjeldahl

R/I – Relação Resíduo/Inóculo


RD – Reatores com Borra de Café Doméstica

RI – Reatores com Borra de Café Industrial

ST – Sólidos Totais

STV – Sólidos Totais Voláteis

SVB – Sólidos Voláteis Biodegradáveis

SVR – Sólidos Voláteis Refratários

UASB – Reator Anaeróbico de Fluxo Ascendente com Manta de Lodo

UFES – Universidade Federal do Espírito Santo

UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas

USP – Universidade de São Paulo


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................... ..14


2 OBJETIVOS ........................................................................................ ..16
2.1 OBJETIVO GERAL .............................................................................. ..16
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ................................................................ ..16
3 REVISÃO DE LITERATURA ............................................................... ..17
3.1 BORRA DE CAFÉ................................................................................ ..20
3.2 APROVEITAMENTO ENERGÉTICO DE RESÍDUOS SÓLIDOS ........ ..25
3.2.1 Digestão Anaeróbia ........................................................................... ..29
3.2.1.1 Fatores que influenciam o processo de Digestão Anaeróbia .............. ..32
3.2.2 Biogás ................................................................................................. ..40
3.2.2.1 BMP – Biochemical Methane Potential................................................ ..42
3.3 DIGESTÃO ANAERÓBIA DA BORRA DE CAFÉ ................................ ..45
4 METODOLOGIA .................................................................................. ..57
4.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS .............................................................. ..57
4.1.1 Revisão de Literatura ........................................................................ ..57
4.1.2 Delineamento do Estudo ................................................................... ..57
4.2 DELINEAMENTO EXPERIMENTAL .................................................... ..58
4.3 METODOLOGIA EXPERIMENTAL...................................................... ..61
4.3.1 Montagem do Aparato Experimental................................................ ..62
4.3.2 Coleta dos Substratos e do Inóculo ................................................. ..64
4.3.2.1 Borra de Café ...................................................................................... ..64
4.3.2.2 Resíduos Alimentares ......................................................................... ..66
4.3.2.3 Lodo de ETE ....................................................................................... ..71
4.3.3 Caracterização dos Substratos e Inóculo........................................ ..74
4.3.4 Execução do Teste BMP ................................................................... ..75
4.3.4.1 Preparo e Caracterização dos Reatores Anaeróbios .......................... ..75
4.3.4.2 Incubação dos Reatores ...................................................................... ..77
4.3.4.3 Monitoramento da Produção de Biogás .............................................. ..79
4.3.4.4 Caracterização dos Reatores ao Final do Teste ................................. ..80
4.3.5 Avaliação dos Resultados do Teste BMP ........................................ ..81
4.3.5.1 Potencial Bioquímico do Biogás .......................................................... ..81
4.3.5.2 Potencial Bioquímico de Metano ......................................................... ..82
4.3.5.3 Potencial Energético da Codigestão Anaeróbia .................................. ..85
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................... ..86
5.1 CARACTERIZAÇÃO DOS RESÍDUOS E INÓCULO ........................... ..86
5.1.1 Etapa 1 ................................................................................................ ..86
5.1.2 Etapa 2 ................................................................................................ ..92
5.2 PROTOCOLO PARA ANÁLISE BMP DE RESÍDUOS ORGÂNICOS .. ..98
5.3 PRODUÇÃO DE BIOGÁS E DE METANO .......................................... ..99
5.3.1 Potencial Bioquímico de Biogás (BBP) e de Metano (BMP) .......... ..99
5.4 AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE DIGESTÃO ANAERÓBIA .............. 107
5.4.1 pH ........................................................................................................ 115
5.4.2 Alcalinidade Total e Relação AI/AP ................................................. 118
5.4.3 Relação C:N ....................................................................................... 125
5.4.4 Remoção de Sólidos Totais e Sólidos Totais Voláteis .................. 131
5.4.5 Demanda Química de Oxigênio ........................................................ 135
5.5 ESTIMATIVA DO POTENCIAL ENERGÉTICO DA CODIGESTÃO
ANAERÓBIA ........................................................................................ 138
6 CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................... 142
7 RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ...................... 145
REFERÊNCIAS ................................................................................... 146
APÊNDICE A - PROTOCOLO PARA TESTES BMP UTILIZANDO
RESÍDUOS ALIMENTARES E BORRA DE CAFÉ COMO
SUBSTRATOS .................................................................................... 169
14

1 INTRODUÇÃO

O Brasil é o maior produtor de café do mundo, e o segundo maior consumidor (ABIC,


2016). Dentre os resíduos gerados a partir das etapas de produção, beneficiamento e
consumo do café, seja por via seca, úmida ou semiúmida, a borra de café se destaca
pelas características do resíduo (potencial de adubação, alto poder calorífico, dentre
outras), que demonstram um grande potencial para o seu reaproveitamento
sustentável (SOARES et al., 2015).

Estima-se que para cada tonelada de café verde processado sejam gerados 650 kg
de borra de café e para cada quilo de café solúvel produzido 2 kg desse mesmo
resíduo (MURTHY; NAIDU, 2012). No Brasil, diariamente, são processadas quase
10.000 toneladas de café verde, dando-se uma ideia da grande quantidade de borra
gerada (aproximadamente 5.995 t.) (CONAB, 2016) que, infelizmente, muitas das
vezes, não possui uma destinação sustentável.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (BRASIL, 2010a) reconhece a importância


das etapas antecedentes à disposição final dos resíduos sólidos, devendo esta, só ser
realizada quando não existe outra alternativa de reaproveitamento, ou destinação final
adequada. Assim, a mera disposição final dos resíduos em aterros sanitários não é
mais suficiente para o cumprimento das exigências legais. Sendo necessário que
metas sejam traçadas para a redução, reutilização, reciclagem e, quando necessário,
o tratamento dos resíduos (VIA PÚBLICA; CLIMATE WORKS, 2012).

Além de promover o tratamento dos resíduos orgânicos, a digestão anaeróbia, gera


subprodutos que podem ser aproveitados, como o biogás (para produção de energia
elétrica) e o biofertilizante (que serve como adubo orgânico), possibilitando ganhos
tanto econômicos quanto ambientais, e se apresentando como uma alternativa
atraente para a destinação destes resíduos (PRATI, 2010).

Segundo Luz et al. (2017), a valorização energética da borra de café por meio da
digestão anaeróbia possui grande potencial, uma vez que a borra de café possui um
alto teor de matéria orgânica (acima de 90%) e de lipídios (acima de 25%), que são
substratos na conversão do metano, possibilitando um biogás com um alto potencial
energético. Além de possibilitar um destino sustentável para o resíduo da borra de
café, o aproveitamento energético do biogás gerado promove o uso de uma fonte de
15

energia sustentável, evita as emissões de GEE, e, ainda, contribui para a


diversificação a matriz energética.

O potencial da produção de biogás a partir da digestão anaeróbia da borra de café


vem sendo estudado por diversos autores, porém, não existe um consenso sobre os
parâmetros que possibilitam um melhor desempenho, como inóculos, cossubstratos,
temperatura, dentre outros (NEVES; OLIVEIRA; ALVES, 2006; QIAO et al., 2013; KIM
et al., 2017; LUZ et al., 2017). Ainda existe uma variação entre as características das
borras de café produzidas nos diferentes processos, que pode contribuir para
variações na digestão anaeróbia e no potencial de produção de biogás.

Desta forma, este trabalho tem como objetivo fornecer subsídios para o
gerenciamento da borra de café doméstica e industrial por meio da avaliação do
processo de digestão anaeróbia destes resíduos, visando a potencialização da
geração de biogás.
16

2 OBJETIVOS

2.1 GERAL

Avaliar o processo de codigestão anaeróbia de borra de café (doméstica e industrial)


e resíduos alimentares, visando potencializar a geração de biogás.

2.2 ESPECÍFICOS

− Levantar as características físico-químicas das Borras de Café (doméstica e


industrial) e dos Resíduos Alimentares;
− Desenvolver um aparato experimental e um protocolo para análise de BMP dos
resíduos estudados;
− Determinar o potencial de produção de biogás pela codigestão das diferentes
proporções das Borras de Café (doméstica e industrial) e Resíduos
Alimentares;
− Realizar o balanço de massa em termos de DQO do processo de codigestão
anaeróbia das Borras de café (doméstica e industrial) e dos Resíduos
alimentares para determinar a produção de metano das diferentes misturas;
− Determinar o potencial energético do biogás produzido no processo.
17

3 REVISÃO DE LITERATURA

A aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) do Brasil, Lei Federal


nº 12.305 (BRASIL, 2010a), constituiu um marco legal-regulatório para a gestão
integrada e sustentável de resíduos sólidos no país. A partir da PNRS foram lançados
novos desafios para a implantação e aprimoramento de soluções que visem
prioritariamente as ações de não geração, redução, reutilização, reciclagem e
tratamento dos resíduos sólidos, frente a destinação final em aterros sanitários. De
forma que os aterros sanitários devem ser utilizados só quando não há possibilidade
de reaproveitamento, ou seja, para os rejeitos.

A PNRS adota como princípios, a visão sistêmica na gestão de resíduos, a


responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, a ecoeficiência e o
reconhecimento de que os resíduos sólidos passíveis de reutilização e reciclagem são
um bem de valor econômico e social e o desenvolvimento sustentável (BRASIL,
2010a).

Sendo assim, a PNRS visa promover, por meio da regulação, o estabelecimento de


uma gestão mais sustentável de resíduos sólidos, com a possibilidade de incentivos
para os atores que priorizarem estas ações de reaproveitamento dos resíduos em sua
gestão. Esta lei traz ainda instrumentos de fiscalização, como os inventários e os
sistemas de declaração de resíduos (BRASIL, 2010a).

Muito mais que uma destinação final adequada, a gestão com foco na redução de
desperdício, que visa a não-geração, a minimização e o reaproveitamento dos
resíduos, objetivando o resíduo zero, ou zero waste, tem se apresentado como uma
tendência mundial (KAWAICHI; MIRANDA, 2008).

A partir do momento que os resíduos passam a ser enxergados como uma


oportunidade de negócio, por meio da valorização, são alcançados muitos benefícios,
além do ganho ambiental, como redução de custos com energia (por meio do
aproveitamento energético), valor agregado aos produtos gerados (ganho com os
produtos valorizados), uma maior competitividade das empresas, redução de custos
com destinação, dentre outros (BAUTISTA-LAZO; SHORT, 2013).
18

Do total de resíduos sólidos gerados no Brasil, a maior parte é composta por resíduos
orgânicos, constituídos por matéria orgânica (restos animais e vegetais), e que se
degradam pela ação de microrganismos no ambiente (BRASIL, 2017a). Estes
resíduos são gerados em diversos campos, desde o setor urbano, englobando
residências, comércios, e administração pública, até os setores agrossilvopastoris e
industrial, chegando a um total de 800 milhões de toneladas de resíduos orgânicos
por ano (ABRELPRE; 2017; IPEA, 2012a; 2012b; 2012c).

Devido a biodegradabilidade dos resíduos orgânicos, a valorização se torna ainda


uma medida sanitária e ambiental, uma vez que evita a disposição destes resíduos no
ambiente, e os problemas oriundos, como a proliferação de vetores de doenças, e a
contaminação provocada pela produção do chorume oriundo da decomposição da
matéria orgânica (ALBUQUERQUE NETO et al., 2007).

Neste contexto, a PNRS apresenta como alternativas para destinação


ambientalmente adequada dos resíduos sólidos orgânicos, a digestão anaeróbia e a
compostagem, tecnologias que promovem a transformação dos resíduos em insumos
a serem reinseridos no processo produtivo (BRASIL, 2010a).

O uso do processo de Digestão Anaeróbia (DA) vem se intensificando nas últimas


décadas, principalmente por apresentar balanço energético mais favorável que os
processos aeróbios convencionais, como a compostagem (MUSTAFA; CALAY;
ROMÁN, 2016; NGUYEN; KURUPARAN; VISVANATHAN, 2007), e por promover a
geração abundante de produtos com valor agregado, como o biogás, o biometano, o
biofertilizante e o material digerido (WELLINGER; MURPHY; BAXTER, 2013)

No cenário social, econômico e ambiental atual, com a aprovação dos Objetivos do


Desenvolvimento Sustentável (ONU, 2015) e o Acordo de Paris (COP 21), no mesmo
ano, a Digestão Anaeróbia tem ganhado espaço no mercado, principalmente por
contribuir para a diversificação da matriz energética e para a diminuição das emissões
de gases efeito estufa (GOSWAMI; KREITH, 2018), sendo uma solução viável nos
quesitos técnicos, econômicos e ambientais, para pequenos e grandes geradores de
resíduos orgânicos (WBA, 2018).

Devido suas vantagens, diversos países têm promulgado leis e fornecido subsídios
para ampliação desta tecnologia, que ainda é subutilizada no mundo, correspondendo
19

a apenas 0,76% da energia renovável gerada (SCARLAT; DALLEMAND; FAHL,


2018). Recentemente os Estados Unidos e os países da Europa criaram leis
específicas para incentivar a instalação de biodigestores no país, propondo além da
obrigatoriedade da valorização dos resíduos orgânicos dos diversos setores, a
redução das emissões oriundas destes sistemas (GMI, 2014).

Skovsgaard e Jacobsen (2017) citam ainda que estes países têm alcançado sucesso
por aliar uma legislação sólida, com um programa atrativo de incentivos para
instalação dos sistemas de DA. Como resultado destas políticas, ainda que a energia
do biogás corresponda a apenas 0,76% da energia renovável gerada no mundo,
espera-se que até 2027 este valor dobre, o que é um avanço considerável para a
categoria (YOUSUF et al., 2017).

No Brasil, a produção de biogás corresponde a apenas 0,086% da matriz energética,


com um total de 135,28 MW de potência instalada, 0,11% da matriz renovável
(BRASIL, 2018). A produção brasileira de energia do biogás é inferior a 0,0001% do
total produzido mundialmente, e este baixo percentual está ligado principalmente pela
falta de políticas públicas de incentivo e de um arcabouço regulatório, além da
carência de estudos que visem a implantação da tecnologia da digestão anaeróbia
para a realidade brasileira (BRASIL, 2015; DUARTE, 2017).

Devido as metas do acordo de Paris, no qual o Brasil se comprometeu a reduzir as


emissões de gases de efeito estufa em 37% abaixo dos níveis até 2025 e em 43% até
2030, e a Política Nacional de Biocombustíveis - Renovabio, instituída pela Lei nº
13.576/2017 (BRASIL, 2017b), que tem como objetivo ampliar a participação dos
biocombustíveis para 18% da matriz energética brasileira até 2030, a inclusão de
fontes de energia alternativas e robustas frente as variações climáticas é urgente
(MARCOVITCH; MACHADO FILHO; FERREIRA, 2019).

Neste contexto, a ABIOGÁS (2018) afirma que o Brasil é o país com condições mais
favoráveis para o desenvolvimento da digestão anaeróbia, tendo um potencial de
produção de biogás de 82 bilhões de Nm³/ano, correspondendo a aproximadamente
67 milhões de toneladas equivalentes de petróleo (tep) ao ano, ou 76 bilhões de litros
equivalente de diesel.
20

Todos os anos, o Brasil deixa de gerar 115 mil GWh de energia por não aproveitar o
potencial do biogás, que poderia suprir 24% da demanda de energia elétrica do país.
Deste total, cerca de 90% corresponde ao potencial advindo do setor agropecuário,
proveniente das indústrias sucroalcooleira, de carnes, soja, leiteira, dentre outras
(ABIOGÁS, 2018).

A indústria do café corresponde a 4% de todo o PIB da indústria agropecuária


brasileira, contando com uma geração anual de quase 3,5 milhões de toneladas de
resíduos só no Brasil. Apesar disto, a maior parte dos resíduos gerados nesta indústria
é destinada em aterros sanitários, principalmente por falta de tecnologia disponível
para aproveitamento e de políticas públicas de incentivo (ABIC, 2016; BRASIL,
2017c).

3.1 BORRA DE CAFÉ

O Brasil é maior produtor de café no mundo com 36% da produção global,


correspondendo a 3,48 milhões de toneladas/ano, seguido do Vietnã (18,6%), com
1,77 milhões, e da Colômbia (9,5%), com 0,84 milhões (EMBRAPA, 2018).

Atualmente, a produção do Brasil abrange um parque cafeeiro (café arábica e conilon)


de 2,3 milhões de hectares, distribuídos em 15 estados: Acre, Bahia, Ceará, Espírito
Santo, Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Groso do Sul, Minas Gerais, Pará,
Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rondônia e São Paulo. Os maiores produtores
são Minas Gerais e Espírito Santo, com 53% e 22% da produção brasileira,
respectivamente, sendo que o Espírito Santo se destaca como maior produtor de café
conilon do Brasil (55% do total produzido) (ABIC, 2016; CONAB, 2016, 2018;
EMBRAPA, 2018).

Como o consumo de café é um hábito cotidiano e até mesmo um costume cultural em


muitos países, o comércio e o uso do café têm aumentado continuamente em todo o
mundo. Apenas nos anos de 2017/2018, o consumo global de café foi estimado em
9,62 milhões de toneladas/ano, esperando-se um crescimento de 2,07% em 2019
(CONAB, 2018).

No entanto, para chegar a etapa de consumo, o café passa por um longo e complexo
sistema de beneficiamento, responsável pela geração de grandes quantidades de
21

resíduos, que chega a proporção, em massa, de 1:1 em relação à produção, ou seja,


a cada safra, a quantidade de café beneficiado é igual à quantidade de resíduos
gerados pelo seu beneficiamento (BRUM, 2007).

Os resíduos da cadeia de beneficiamento do café podem ser divididos em duas


categorias, os gerados nos países produtores, compostos por polpa, casca, grãos
defeituosos, pergaminho e película prateada, oriundos do beneficiamento,
folhas/galhos, resultantes da colheita, e borra de café gerada na produção do café
solúvel (borra industrial), e aqueles produzidos nos países consumidores, gerados
após a preparação de bebidas, chamados “borra de café doméstica", conforme Figura
1 (CRUZ et al., 2015).

Figura 1 – Resíduos gerados na cadeia de beneficiamento do café

Fonte: Elaborado a partir de DURÁN et al. (2017).

Dentre os resíduos gerados no processo de produção de café a borra de café se


destaca pela grande quantidade produzida, possuindo muitas vezes um processo de
geração distinto dos outros resíduos, o que dificulta o gerenciamento integrado.
22

Estima-se que para cada tonelada de café verde processado sejam gerados 650 kg
de borra de café doméstica e para cada 1 kg de café solúvel produzido, 2 kg de borra
de café industrial (MURTHY; NAIDU, 2012).

A geração da borra de café doméstica envolve o processo de infusão à quente do café


torrado e moído, já a borra industrial é obtida após a extração de sólidos solúveis do
café torrado e moído, conforme visto na Figura 1, que posteriormente são
concentrados, secos e aglomerados, gerando grânulos solúveis em água
(característicos do café solúvel) (TODA, 2016).

No Brasil, diariamente, são processadas quase 10.000 toneladas de café verde, deste
total, 10% são destinados a produção de café solúvel, correspondendo a 730 mil
toneladas de borra de café industrial geradas ao ano. No mundo, estima-se que o total
produzido de borra de café chegue a 13 milhões de toneladas/ano, sendo 24,5% do
tipo doméstica e, 75,6%, industrial (CONAB, 2016, 2018; RAMALAKSHMI et al.,
2009).

A borra de café é classificada como um resíduo Classe II-A, pela NBR nº 10.004
(ABNT, 2004a), possuindo propriedades de biodegradabilidade, combustibilidade ou
solubilidade em água. Sua composição inclui um alto teor de matéria orgânica, sendo
um resíduo orgânico, no entanto, a borra apresenta percentuais consideráveis de
cafeína, fenóis, taninos e ácido clorogênico, podendo exibir um potencial de toxicidade
ao meio ambiente (FERNANDES et al., 2017).

O principal destino da borra de café gerada em residências, cafeterias e na indústria


é a disposição em aterros sanitários (JANISSEN; HUYNH, 2018), alternativa que,
quando desprovida de sistemas de tratamento de gases (que ocorre na maioria dos
aterros implantados no Brasil) contribui para a emissão de gases de efeito estufa
(BRASIL, 2010b). Além disso, a disposição em aterros não promove o aproveitamento
sustentável do resíduo, pode comprometer a qualidade ambiental do local, pelas
características de toxicidade do resíduo, tem um alto custo, e necessita de grandes
áreas, as quais estão cada vez mais escassas.

Além de ser um resíduo orgânico, com um alto potencial de valorização, a borra de


café é rica em compostos orgânicos como ácidos graxos, lignina, celulose,
hemicelulose e outros polissacarídeos, que podem ser explorados como produtos com
23

valor agregado, nos mercados de cosméticos, medicamentos, energia, pecuária e


agricultura (CAMPOS-VEGA, 2015).

Pelos diferentes processos de geração (borra doméstica e industrial) e os tipos de


café utilizados (robusta, conilon, arábica) para produção do café torrado e moído, e
do café solúvel, a composição da borra de café pode apresentar diferenças
principalmente com relação a umidade e a concentração de nutrientes (Tabela 1).

Tabela 1 – Composição química média das borras de café doméstica e industrial


Teor na Borra de café Teor na Borra de café
Parâmetro
doméstica (%) industrial (%)
Matéria orgânica (M.S.) 80 - 99%¹ 95 - 99%²

Umidade 8,0% - 65,0%³ 56,7% - 87,0%4


4,3 – 6,06
pH 4,5 - 6,35

Relação C:N (M.S.) 17:1 - 35:17 17:1 - 57:18


C (%) 32 - 71,67 47 - 608
N (%) 1,5 – 3,47 1,0 – 2,88
Lipídios (M.S.) 6,0 - 21,5%9 19,7 – 27,8%10
Celulose (M.S.) 8,6 - 24,311 8,8 – 22,512
Hemicelulose (M.S.) 20,0 - 39,113 36,7 - 44,514
Lignina (M.S.) 13,5 – 33,615 12,6 - 26,516
Fonte: ¹ LI; STREZOV; KAN (2014); GIROTTO; LAVAGNOLO; PIVATO (2018); VITEZ et al. (2016); ²
KOSTENBERG; MARCHAIM (1993); QIAO et al. (2015); ³ GIROTTO; LAVAGNOLO; PIVATO (2018);
CABRAL; MORIS (2010); 4 KOSTENBERG; MARCHAIM (1993); QIAO et al. (2015); NEVES;
OLIVEIRA; ALVES (2006); 5 DAI et al. (2019); GIROTTO; LAVAGNOLO; PIVATO (2018); 6 OLIVEIRA
et al. (2003); SANTOS (2009); 7GIROTTO; LAVAGNOLO; PIVATO (2018); LUZ et al. (2017); VITEZ et
al. (2016); 8 BALLESTEROS; TEIXEIRA; MUSSATTO (2014); PUJOL et al. (2013); QIAO et al. (2015);
9 CAETANO et al. (2014); GO; CONAG; CUIZON (2016); KONDAMUDI et al. (2008); 10 ACEVEDO et

al. (2013); PUJOL et al. (2013); QIAO et al. (2015); 11, 13, 15 BALLESTEROS; TEIXEIRA; MUSSATTO
(2014); CAETANO; SILVA; MATA (2012); GIROTTO; LAVAGNOLO; PIVATO (2018); 12 14 16 PUJOL et
al. (2013); MUSSATTO et al. (2011); PEDRAS et al. (2019).

A borra de café industrial pode ser mais rica em carbono e pobre em nitrogênio,
gerando relações C:N de 17:1 até 57:1 (BALLESTEROS; TEIXEIRA; MUSSATTO,
2014; PUJOL et al.; 2013, QIAO et al., 2015) , enquanto para a borra de café
doméstica esta relação se situa entre 17:1 e 35:1 (GIROTTO; LAVAGNOLO; PIVATO,
2018; LUZ et al.; 2017, VITEZ et al., 2016).

O pH apresentado pelas borras de café apesar de variável (4,3 a 6,3), possui valores
semelhantes entre os dois tipos de borras, indicando que o tipo de café exerce uma
24

maior influência neste parâmetro, assim como para os parâmetros relativos a celulose,
hemicelulose e lignina.

A umidade também apresenta grande variação, principalmente pela forma de geração


das borras de café. A borra de café industrial pode ser gerada na forma úmida, ou
passar por secagem, já a borra de café doméstica, após o processo de geração da
bebida, pode apresentar maior umidade, com a secagem da água, sua umidade se
reduz, chegando a 8%, como mostrado na Tabela 1. Como os custos para secagem
da borra de café industrial são maiores, o teor de umidade obtido nas pesquisas se
mantém elevado (CAMPOS-VEGA, 2015).

A borra de café industrial também contém maiores teores de lipídios e matéria


orgânica (Tabela 1), o que indica que o processo de extração ocorrido na fabricação
do café solúvel promove diferenças nestes aspectos (TODA, 2016).

Pelo alto teor e matéria orgânica contido na borra de café (doméstica e industrial)
(Tabela 1), algumas iniciativas de valorização apontam o potencial de aproveitamento
para produção de silagem e ração animal (VIOTTO, 1991; MURTHY; NAIDU, 2012) e
a utilização como adubo em plantações (WANGEN et al., 2015). Ainda, a alta
concentração de lipídios tem gerado estudos sobre a utilização da borra na produção
de energia térmica nas indústrias, devido ao considerável poder calorífico oriundo
desta biomassa (SILVA et al.,1998), e na produção de biodiesel (MACÊDO et al.,
2016).

No entanto, pela necessidade de mudança da matriz energética mundial, visando o


estabelecimento de energias renováveis, e as políticas de valorização de resíduos, o
aproveitamento energético da borra de café por meio da digestão anaeróbia vem
demonstrando um grande potencial, principalmente pelas características deste
resíduo (Tabela 1).

Além da matéria orgânica, essencial na conversão biológica de energia, o alto teor de


lipídios (de 20% a 30%) contido nas borras de café, se mostra como um fator chave
para o seu aproveitamento pela digestão anaeróbia, uma vez que estes são os
principais substratos na conversão do metano, possibilitando um biogás com um alto
potencial energético (KIM et al. 2017; LUZ et al., 2017, 2018).
25

A utilização da borra de café para a produção de energia promove uma destinação


sustentável para o resíduo e evita que culturas que servem de alimentos sejam
direcionadas para este fim (KWON; YI; JEON, 2013). Além de ser uma tecnologia de
fácil acesso, que pode ser utilizada por pequenos e grandes geradores
(STREITWIESER, 2017; WANG et al., 2018), e promover a produção de um
biofertilizante, que pode ser aproveitado em plantações ou vendido, para geração de
renda (LUZ et al., 2018).

3.2 APROVEITAMENTO ENERGÉTICO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

A queima de combustíveis fósseis é responsável por quase 80% das emissões de


GEE no mundo (IPCC, 2014). Apesar dos impactos ambientais e à saúde humana,
contribuindo para as mudanças climáticas, para a degradação de solos, plantas,
destruição de monumentos, e para os agravos à saúde da população, 78,4% da
energia produzida no mundo ainda é proveniente de combustíveis fósseis (FREITAS;
DATHEIN, 2013; REN21, 2018).

Na busca de resolver estes problemas, entram em cena as fontes alternativas e


renováveis de energia, como a energia solar, eólica, maremotriz, geotérmica e a
energia da biomassa. Além de promover menores impactos ao meio ambiente e à
saúde pública, as fontes alternativas renováveis, como o nome diz, são provenientes
de recursos inesgotáveis, sendo uma utilização viável e vantajosa com relação aos
aspectos econômicos, ambientais, técnicos e humanos (FURTADO, 2010).

Dentre as fontes de energia renovável citadas, a energia da biomassa (que


compreende toda energia gerada a partir da matéria orgânica), vem ganhando
destaque, uma vez que além de contribuir para uma matriz energética mais
sustentável, pode ser utilizada para promover o reaproveitamento e valorização dos
resíduos sólidos orgânicos (GUARDABASSI, 2006).

A biomassa é considerada uma das fontes para a produção de energia com maior
potencial de crescimento futuro. Tanto no mercado internacional quanto no interno, é
vista como uma das principais alternativas para a diversificação da matriz energética
e a consequente redução da dependência dos combustíveis fósseis (ANEEL, 2008).
26

No Brasil, esta tendência vem se consolidando a cada ano, sendo observado que a
capacidade instalada de fontes de aproveitamento de energia da biomassa, chega a
ser, em 2018, 10 vezes superior à capacidade instalada em 2002 (ANEEL, 2018). No
Brasil, só entre os anos de 2016 a 2017, houve um aumento da geração de biogás em
14%, sendo que na Europa, no mesmo período, este número foi de 9% (CCEE, 2016;
EBA, 2017).

Considerando a matriz energética brasileira, atualmente, a biomassa representa


8,81% do total de energia produzida (Figura 2), em 2008, este percentual era de 1%
(ANEEL, 2018).

Figura 2 ̶ Matriz energética brasileira - 2018

Fonte: ANEEL (2018).

A Biomassa é conceituada como toda matéria orgânica, seja de origem animal ou


vegetal, que pode ser utilizada para a produção de energia (ANEEL, 2008). Também
pode ser definida, conforme descrito pela Diretiva 2001/77/CE, como a “fração
biodegradável de produtos e resíduos da agricultura (incluindo substâncias vegetais e
animais), floresta e indústrias conexas, bem como dos resíduos industriais e urbanos”
(UE, 2011, p.3).

De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL (2008), existem


vários tipos de tecnologias empregadas para a produção de energia elétrica a partir
da biomassa, principalmente devido à grande variabilidade de tipos de biomassa
27

existentes. No entanto, todos os tipos adotam o processo de conversão de matéria


orgânica em um produto intermediário, utilizado em uma máquina motriz, promovendo
a geração de energia mecânica, que será convertida em elétrica, por meio de um
gerador (ANEEL, 2008).

No geral, a energia elétrica pode ser obtida a partir da biomassa por meio de três tipos
de processos: processos de combustão direta (com ou sem processos físicos de
secagem, classificação, compressão, corte/quebra etc.), processos termoquímicos
(gaseificação, pirólise, liquefação e transesterificação) e processos biológicos
(digestão anaeróbia e fermentação) (LOPES; BARBOZA; SILVEIRA, 2013).

Enquanto os processos de combustão direta são considerados muitas vezes


inadequados pela alta emissão de poluentes, os processos termoquímicos possuem
custos superiores, o que torna seu uso restrito. Por isto, muitas vezes, a utilização de
processos biológicos se configura como a melhor opção para recuperação energética
da biomassa, considerando as esferas econômica e ambiental (VIEIRA, 2012).

Os processos biológicos envolvem microrganismos que por meio de seus processos


metabólicos atuam transformando a matéria orgânica, podendo gerar biogás, no caso
da digestão anaeróbia, ou outros produtos, como etanol e metanol (REGO;
HERNÁNDEZ, 2006).

As principais tecnologias de aproveitamento energético da biomassa podem ser vistas


na Figura 3.
28

Figura 3 – Tecnologias de aproveitamento energético da biomassa

Fonte: Adaptado de ANEEL (2008).

Dentre os processos de aproveitamento energético da biomassa, a digestão


anaeróbia, desenvolvida principalmente com o objetivo de tratar resíduos e efluentes
orgânicos, vem sendo cada vez mais utilizada. Esta técnica se apresenta como uma
das mais eficientes para promover a recuperação energética pela conversão de
biomassa proveniente de águas residuárias, resíduos agropecuários, resíduos do
processamento de alimentos, restos de frutas e vegetais assim como para a
estabilização de lodo (APPELS et al., 2011).

Faaij (2006) e Leite et al. (2003) apontam dentre os fatores que contribuem para a
eficiência da digestão anaeróbia a facilidade de aplicação tanto para resíduos
orgânicos úmidos homogêneos quanto para resíduos mais heterogêneos, como os
RSU, e o fato de apresentar balanço energético favorável, em razão da elevada
produção de metano que pode ser alcançada.

Contudo, apesar dos benefícios citados, Xu et al. (2018) apresentam que a digestão
anaeróbia apresenta muitas dificuldades quanto a sua implementação devido a falta
de políticas públicas de incentivos e de uma legislação mais restritiva para os resíduos
orgânicos. Os entraves encontrados na legislação e as configurações de sistemas de
tratamento existentes também tornam o sistema dispendioso, o que aliado ao longo
29

tempo necessário para bioestabilização da matéria orgânica, tem contribuído para a


baixa difusão desta tecnologia nos últimos anos.

No entanto, esta situação está mudando, ainda que incipiente frente a outras fontes
de energia, o aproveitamento energético da biomassa por meio da digestão anaeróbia
vem ganhando bastante espaço no mundo devido suas vantagens, e espera-se que
até 2027 a produção mundial de energia por esta fonte dobre, o que é um avanço
considerável para a categoria (YOUSUF et al., 2017). Atualmente, capacidade
energética mundial instalada, deste tipo de energia, chega a 15 GW, 0,76% do total
da capacidade energética mundial instalada de energia renovável (SCARLAT;
DALLEMAND; FAHL, 2018).

Do total de plantas de Biogás, a Europa é responsável por 10,4 GW, América do Norte
por 2,4 GW, Ásia por 711 MW, América do Sul por 147 MW e África por 33 MW. O
país com maior capacidade instalada é a Alemanha, com 34% do total mundial,
correspondente a 4,23% de sua matriz energética (SCARLAT; DALLEMAND; FAHL,
2018).

Com relação ao Brasil, apesar da capacidade instalada ser responsável por apenas
0,086% de sua matriz energética, o país se configura como o principal produtor de
biogás da América do Sul, com 80,7% do total produzido (CCEE, 2016), e apresenta
um grande potencial de crescimento.

As condições climáticas do Brasil promovem, durante todo ano, temperaturas médias


extremamente favoráveis ao desenvolvimento dos microrganismos anaeróbios
atuantes na digestão anaeróbia (COLATTO; LANGER, 2011).

Segundo Zanette (2009) isso se confirma, uma vez que o potencial de produção de
biogás a partir dos resíduos orgânicos gerados nos centros urbanos e a partir da
produção agropecuária e agroindustrial brasileira corresponde a 50 milhões de m3 de
metano por dia, superior à produção nacional de gás natural disponibilizada para o
consumo, de cerca de 35 milhões de m3 /dia (ANP, 2009).

3.2.1 Digestão Anaeróbia

A digestão anaeróbia é um processo de decomposição da matéria orgânica por via


anaeróbia, ou seja, na ausência de oxigênio molecular (FERNANDES, 1997), onde
30

microrganismos anaeróbios ou facultativos promovem a degradação da matéria


orgânica complexa, gerando compostos mais simples, solúveis, assimiláveis pelos
microrganismos (CHERNICHARO, 2010).

Ao contrário do que ocorre na decomposição aeróbia (na presença de oxigênio), os


subprodutos orgânicos gerados na decomposição anaeróbia, dentre eles, o metano,
dióxido de carbono, traços de outros gases e ácidos orgânicos de baixo peso
molecular, ainda são passíveis de posterior oxidação. Este fato é o que permite a
recuperação energética do biogás, cujo metano é o gás de maior interesse (LEITE et
al., 2003).

A digestão anaeróbia da matéria orgânica é desenvolvida em reatores anaeróbios.


Estes reatores podem classificados de acordo com o teor de Sólidos Totais (ST)
contidos em sua massa, ou ainda, pelo número de estágios utilizado no tratamento
(TCHOBANOGLOUS; BURTON; STENSEL, 2003).

Os reatores possuem baixo teor de sólidos (BTS) quando tem menos de 15% de ST,
médio teor quando ST estiver entre 15 e 20 %, e alto (ATS) quando ST estiver na faixa
de 22 a 40%. Nos reatores com alto teor de sólidos o processo é conhecido como
digestão seca (TCHOBANOGLOUS; BURTON; STENSEL, 2003).

Com relação ao número de estágios os processos podem ser desenvolvimentos em


um único reator (estágio único), ou em vários. Nos reatores com duas fases, as
transformações bioquímicas na primeira fase são separadas em hidrólise, acidificação
e liquefação, e na segunda fase ocorre à formação do acetato, hidrogênio, dióxido de
carbono, posteriormente transformados em metano (TCHOBANOGLOUS; BURTON;
STENSEL, 2003).

O processo de digestão anaeróbia ocorre em quatro estágios principais: hidrólise,


acidogênese, acetogênese e metanogênese, sendo que em cada estágio estão
envolvidos diferentes microrganismos (FERNANDES, 1997).

a) Hidrólise: É primeira fase da digestão anaeróbia. É realizada por


microrganismos hidrolíticos, que convertem compostos orgânicos complexos
(proteínas, carboidratos e lipídios), em compostos solúveis (aminoácidos,
açúcares solúveis, ácidos graxos) (ANDREOLI; VON SPERLING,
31

FERNANDES, 2001). A hidrólise é um processo lento e suscetível a vários


fatores, entre estes: temperatura, tempo de residência, composição do
substrato, tamanho das partículas do substrato, concentração de ácidos
orgânicos voláteis e pH no meio (CHERNICHARO; 2010).

b) Acidogênese: Nesta fase, os produtos solúveis oriundos da fase de hidrólise


absorvidos e metabolizados no interior das células de microrganismos
fermentativos acidogênicos (produtores de ácido), sendo transformados em
compostos mais simples, como ácidos graxos voláteis (acético, propiônico e
butírico), álcoois, ácido lático, gás carbônico, hidrogênio, amônia e sulfeto de
hidrogênio, além de novas células (FRANCISQUETO, 2007). A acidogênese é
realizada por um grupo diversificado de microrganismos anaeróbias estritas,
dos gêneros Clostridium, Bacteroides, Ruminococcus, Butyribacterium,
Propionibacterium, Eubacterium, Lactobacillus, Streptococcus, Pseudomonas,
Desulfobacter, Micrococcus, Bacillus e Escherichia (ABREU, 2007).

c) Acetogênese: Os microrganismos acetogênicos promovem a conversão dos


produtos da acidogênese em compostos que formam os substratos para a
produção do metano, servindo como base para as arqueas metanogênicas.
(CHERNICHARO, 2010). Existem dois grupos de microrganismos
acetogênicos, o primeiro grupo é responsável pela conversão de ácidos
(propionato, butirato, etc.) em ácido acético, CO2 e H2. Já o segundo grupo,
transformam ácido acético, CO2 e H2 em acetato, que, junto ao CO2 e H2 que
não forem consumidos neste processo, serão utilizados pelas arqueas
metanogênicas na produção de metano (ANDREOLI; VON SPERLING;
FERNANDES, 2001).

d) Metanogênese: a metanogênese é a etapa final da decomposição anaeróbia.


Nela, os produtos do segundo grupo de microrganismos acetogênicos são
convertidos em metano e dióxido de carbono pelas arqueas metanogênicas. É
importante ressaltar que a metanogênese também é realizada por dois grupos
de microrganismos, sendo um grupo responsável pela produção de metano a
partir de CO2 e H2 (arqueas metanogênicas hidrogenotróficas), e outro pela
32

conversão de acetato em metano e bicarbonatos (arqueas metanogênicas


acetoclásticas). Podendo ocorrer a presença de um terceiro grupo, responsável
pela interconversão de H2 e CO2 em acetato (microrganismos
homoacetogênicos). Além dos processos citados, o meio fermentativo pode ter
a presença de sulfato e nitrato, substratos utilizados pelos microrganismos
nitrato-redutores (BNR) e sulfato-redutores (BSR), que promovem a conversão
destes substratos, junto com H2, em amônia e sulfeto (CHERNICHARO, 2010).
Segundo Silva et al. (2002), em reatores anaeróbios, o sulfeto pode provocar
efeito inibitório nas arqueas metanogênicas, e além disto à presença de sulfato,
em altas concentrações, causa uma variação na rotina metabólica da digestão
anaeróbia, causando competição entre os microrganismos e prejudicando a
metanogênese.

3.2.1.1 Fatores que influenciam o processo de Digestão Anaeróbia

Como todo processo biológico, a eficiência da digestão anaeróbia depende do


potencial metabólico dos microrganismos presentes no meio, da biodegradabilidade
dos substratos, e das condições ambientais, que vão determinar a sobrevivência dos
microrganismos responsáveis pela degradação da matéria orgânica, e a taxa de
conversão dos substratos, que influencia diretamente a produção de biogás.

i) Microrganismos

As espécies de microrganismos presentes nos digestores anaeróbios diferem de


acordo com o tipo de substrato, a fase da digestão, e consequentemente com as
condições do meio, tendo em vista que possuem diferentes nichos ecológicos, com
condições ótimas para o seu desenvolvimento.

Como existem diversas espécies de microrganumos presentes no processo de


digestão anaeróbia, é necessário avaliar estas populações fase a fase.

Vários autores têm estudado a diversidade microbiana em reatores anaeróbios,


principalmente na fase de metanogênese, tendo em vista que é nela que ocorre a
produção de metano, essencial para o reaproveitamento energético do biogás.

Para reatores anaeróbios de lodo de esgoto as principais espécies de arqueas


metanogênicas (Domínio Archea, Filo Euryarchaeota) encontradas são:
33

Methanosarcina barkeri, Methanobrevibacer ruminantium, Methanobrevibacer


arboriphilus, Methanobacterium formicicum, Methanobacterium thermoautotrophicum,
Methanococcus voltae, Methanotrix soehngenii e Methanotrix sp.) (MACARIO;
CONWAY DE MACARIO, 1988).

Sendo encontradas diferentes espécies em reatores anaeróbios que tratavam outros


resíduos orgânicos, como Methanobrevibacter acididurans (em reator para tratamento
de resíduo de destilaria de álcool, com pH e temperatura ótimos de 5 e 35ºC,
respectivamente), Methanobacterium congolense (Reator com casca de mandioca
crua, pH ótimo de 7 e temperatura ótima de 35ºC) e Methanoculleus palmolei (Reator
para tratamento da água residuária contendo óleo de palma, pH ótimo de 7 e
temperatura ótima de 40ºC) (CUZIN et al., 2001; SAVANT et al., 2002; ZELLNER et
al., 1998).

ii) Temperatura

O controle da temperatura no processo de digestão anaeróbia é determinante no bom


funcionamento do processo, uma vez que este parâmetro influencia a atividade
biológica dos microrganismos e, assim, a velocidade com a qual ocorre o processo de
digestão e de biodegradação dos compostos (ANGELIDAKI; SANDERS, 2004).

As arqueas metanogênicas são bastante sensíveis a variações de temperatura,


principalmente a elevações. Desta forma, o processo deve ocorrer na faixa de 20ºC a
45ºC para as mesofílicas e de 45ºC a 60ºC para as termofílicas (SOUZA, 1984).

Existe um consenso dos autores sobre a temperatura ótima para a produção de


metano pelas arqueas metanogênicas mesofílicas (acetoclásticas/responsáveis por
70% da produção de metano), sendo essa temperatura equivalente a 35ºC (ALVES et
al., 2005; MONTEGGIA, 1997).

Devido a isto, os testes para avaliação da atividade metanogênica dos substratos da


digestão anaeróbia (potencial de produzir metano) são realizados nesta temperatura.
(AQUINO et al., 2007).

iii) pH e alcalinidade

O pH é outro parâmetro que influencia o desempenho da digestão anaeróbia, pois tem


efeito na atividade metabólica dos microrganismos, e nas reações do meio, podendo
34

afetar ainda a toxicidade de diversos compostos (LETTINGA; HULSHOF POL;


ZEEMAN, 1996). Além disso, o pH é um indicativo do equilíbrio do sistema e da
estabilidade da digestão (NAYONO, 2009).

Os grupos de microrganismos envolvidos no processo de digestão anaeróbia


possuem diferentes valores ótimos de pH para seu desenvolvimento. Para os
microrganismos hidrolíticos e acidogênicos este pH se situa na faixa de 5,2 a 6,3, já
para as arqueas metanogênicas, a faixa é entre 6,3 e 7,8. As arqueas metanogênicas
são mais sensíveis a variações no pH, e quando este se encontra fora da faixa citada,
a metanogênese é cessada. Já os microrganismos hidrolíticos e acetogênicos são
capazes de atuar em faixas diferentes de pH sem que sua atividade diminua
significativamente (TCHOBANOGLOUS; BURTON; STENSEL, 2003;
CHERNICHARO, 2010).

Em ambiente com ambas as culturas coexistindo, a faixa ótima de pH abrange 6,8 a 7,4
(BITTON, 2005). É comum encontrar relatos de digestores anaeróbios alimentados com
dejetos de animais que apresentam valores elevados de pH (> 7,5) mas em condições de
estabilidade (LI; LIU; SUN, 2015).

As mudanças bruscas de pH também afetam negativamente o processo de digestão


anaeróbia, para evitar estas mudanças e manter o pH dentro de uma faixa adequada
para o desenvolvimento dos microrganismos, é importante a manutenção de uma
capacidade tampão nos reatores (CHERNICHARO, 2010).

A alcalinidade representa a concentração de bases, de sais de ácidos inorgânicos


fracos (bicarbonato, borato, silicato e fosfato) e de sais de ácidos voláteis (acetato,
propionato, butirato, entre outros) e não voláteis (benzoato, lactato, humato, entre
outros) em um sistema. Estes compostos, em solução, promovem a dispersão de
ânions no sistema, que reagem com o excesso de [H+], contribuindo para o controle
do pH. Logo, este parâmetro estima a medida da capacidade de um sistema
neutralizar ácidos (CORREIA, 2014).

A alcalinidade em sistemas anaeróbios pode ser parcial (que é equivalente a


alcalinidade devido aos íons bicarbonato, medida até um pH de 5,75), intermediária
(devido aos ácidos voláteis, medida a um pH de 4,3), e total, que é a soma das duas
(PEREIRA; CAMPOS; MONTERANI, 2009). Na faixa de pH da digestão anaeróbia (6
35

– 7,5) a alcalinidade é quase que completamente dependente do gás carbônico, sendo


utilizada como parâmetro a alcalinidade parcial (CHERNICHARO, 2010).

Deublein e Steinhauser (2011) afirmam que a alcalinidade total no processo de


digestão anaeróbia deve ser mantida entre 1.500 e 3.000 mgCaCO3/L, afim de
fornecer adequada capacidade de tamponamento. Estudos de digestão anaeróbia em
batelada sugerem a utilização de concentrações em torno de 2.500 mgCaCO3/L
(RAPOSO et al., 2011a).

Caso a composição do resíduo não proporcione a formação de alcalinidade, torna-se


necessária a complementação por meio da adição de compostos químicos, tais como
bicarbonato de sódio (NaHCO3), bicarbonato de amônio (NH4HCO3), carbonato de
sódio (Na2CO3), cal virgem (CaO) ou cal hidratada (Ca(OH2)). O bicarbonato de sódio
é de fácil manuseio, bastante solúvel e não eleva o pH facilmente caso dosado em
excesso (SOARES, 2015).

Um importante parâmetro para avaliação da alcalinidade é a determinação da relação


da alcalinidade intermediária (AI) com a alcalinidade parcial (AP). De acordo com
Ripley, Boyle e Converse (1986), valores de AI/AP superiores a 0,35 indicam a
ocorrência de distúrbios no processo de digestão anaeróbia, sendo a faixa de 0,1 a
0,35 considerada típica para o bom funcionamento da digestão anaeróbia.

No entanto, Lili et al. (2011) realizando experiências em digestores anaeróbios com


resíduos alimentares e agrícolas, verificaram que a máxima produção de metano pé
atingida quando a relação AI/AP está entre 0,3 e 0,4. Como resultado do trabalho, os
autores produziram o Quadro 1, que apresenta valores para a relação AI/AP e o
significado com relação ao comportamento da digestão anaeróbia.
36

Quadro 1 – Valores da relação AI/AP para reatores anaeróbios e condições


encontradas

Relação AI/AP Condição do reator

< 0,2 Relação alimento/microrganismo Crítica - Reator em falha

0,2 a 0,3 Baixa relação Alimento/microrganismo – Reator em subcarga

0,3 a 0,4 Faixa de maior produtividade de metano

0,4 – 0,45 Reator em sobrecarga, excessiva produção de ácidos voláteis

> 0,45 Colapso da metanogênese

Fonte: Adaptado de Lili et al. (2011) e Chernicharo (2010).

iv) Relação C:N

A concentração de nutrientes presente no digestor tem grande importância no


desempenho do processo, uma vez que é essencial para assegurar o crescimento
microbiano e a síntese de enzimas e cofatores indispensáveis para as reações
bioquímicas e metabólicas (SILVEIRA, 2009).

Segundo Mara e Horan (2003), os nutrientes necessários em maior quantidade


(macronutrientes), durante o processo anaeróbio, são nitrogênio, fósforo e enxofre. O
carbono constitui na fonte de energia para os microrganismos, e os macronutrientes,
com mais enfoque para o nitrogênio, são responsáveis pelo crescimento microbiano.

No processo de digestão, os microrganismos utilizam o carbono disponível no meio


cerca de 30 a 35 vezes mais rápido do que conseguem converter o nitrogênio, por
isso, a relação ideal entre estes nutrientes presente no inóculo deve ser da ordem de
30:1 (IGONI et al., 2008).

Deublein e Steinhauser (2011) citam que a relação C:N:P necessária pelos


microrganismos para realização da digestão anaeróbia é de 350:7:1, sendo menor a
necessidade de nitrogênio nas etapas de hidrólise e acidogênese (100:5:1) do que na
metanogênese (120:5:1).

Com relação as concentrações de macronutrientes e micronutrientes necessários


para o desenvolvimento das arqueas metanogênicas, Lettinga, Hulshof Pol e Zeeman,
(1996) apresenta os valores contidos na Tabela 2.
37

Tabela 2 – Concentrações médias de micro e macronutrientes necessárias para os


microrganismos metanogênicos

Concentração Concentração
Macronutrientes Micronutrientes
(g/kg SST) (g/kg SST)
Nitrogênio 65 Ferro 1.800
Fósforo 15 Níquel 100
Potássio 10 Cobalto 75
Enxofre 10 Molibdênio 60
Cálcio 4 Zinco 60
Magnésio 3 Manganês 20
- Cobre 10
Fonte: Adaptado de Lettinga, Hulshof Pol e Zeeman (1996).

v) Substâncias inibidoras

Diversas substâncias têm o potencial de atuar como inibitórias do processo anaeróbio,


e podem estar presentes tanto na composição do substrato a ser inserido no reator
para a digestão, quanto serem formadas no processo, como subprodutos do
metabolismo dos microrganismos (CHERNICHARO; 2010). O controle do processo é
essencial para evitar o acúmulo de cargas inibidoras e o comprometimento do
sistema.

Segundo Chernicharo (2010) e Formagini (2015), a presença de bicarbonato de


amônia, resultante da digestão de compostos ricos em compostos protéicos ou uréia,
é benéfica ao sistema, como fonte de nitrogênio e como tampão para mudanças de
pH. No entanto, o bicarbonato pode originar o íon amônio (NH4+) e a amônia livre
(NH3), que podem se tornar inibidores em elevadas concentrações no meio. Para a
amônia livre, uma concentração acima de 150 mg/L contribui para a inibição da
metanogêse. Já o íon amônia tem como limite máximo de segurança concentrações
da ordem de 3000 mg/L.

A inibição também pode ser causada por sulfetos, se presentes em níveis elevados
no sistema, afetando tanto as arqueas metanogênicas, quanto os microrganismos
redutores de sulfato, responsáveis por sua produção (PAULA JR; FORESTI, 2009).
No processo anaeróbio, o sulfeto é produzido nas formas de S2-, HS- e H2S em
solução, e H2S no biogás. Em geral, em meio ácido, a toxicidade do sulfeto à
metanogênese é maior que em meio neutro ou alcalino, pois o sulfeto não ionizado
38

pode atravessar a membrana celular dos microrganismos (CALLADO; DAMIANOVIC;


FORESTI, 2017).

Com relação aos metais pesados, estes são tóxicos para os microrganismos da
digestão anaeróbia. Porém, o efeito dos metais sobre os microrganismos aumenta de
acordo com a diminuição do pH, pois em pH ácido, os metais pesados ficam mais
solúveis, e assim, podem interferir no metabolismo dos microrganismos (LOPES;
BARBOZA; SILVEIRA, 2013).

vi) Biodegradabilidade do resíduo

A biodegradação de um material é um processo de modificação física ou química


causada por atividade biológica, sob certas condições de calor, umidade, luz,
nutrientes minerais e orgânicos adequados. Neste processo, há a transformação de
um material, pela ação de microrganismos, gerando como produtos: dióxido de
carbono, água, biomassa, sob condições aeróbias ou, metano, dióxido de carbono e
biomassa, sob condições anaeróbias (KRUPP; JEWELL, 1992).

Segundo Von Sperling (2005), a matéria orgânica presente no meio pode ser inerte
ou biodegradável:

- Inerte: não biodegradável.

- Biodegradável: pode ser rapidamente biodegradável se constituída por moléculas


simples e lentamente biodegradável quando se constitui de moléculas complexas.
Nesse caso, o material precisa passar por um processo de hidrólise para ser
convertido em moléculas mais simples e assim serem assimilados pelos
microrganismos.

De uma forma geral, pode-se dizer que quanto maior o percentual de Sólidos Totais
Voláteis (STV) em relação aos Sólidos Totais (ST) mais biodegradável é o material
(maior teor de matéria orgânica), e assim, maior será o potencial de produção de
biogás de um substrato (BRASIL, 2016).

Entretanto, segundo Firmo (2013), a utilização isolada deste parâmetro pode levar a
equívocos, pois alguns materiais apresentam elevados índices de STV e são
classificados como moderadamente, lentamente ou não biodegradáveis, como é o
39

caso dos têxteis (98% de STV), plásticos (87 de STV%), borracha e couro (74% de
STV), papel e papelão (81% de STV).

Isto pode ocorrer, pois de acordo com Vilela (2015), os sólidos voláteis são
subdivididos em sólidos voláteis biodegradáveis (SVB) e sólidos voláteis refratários
(SVR), possuindo a lignina, dificilmente degradada, como exemplo de SVR.

No entanto, Li, Yuan e Yang (2009) afirmam que é possível a degradação de parte da
lignina, celulose e hemicelulose por microrganismos anaeróbios, dependendo das
condições dos sistemas, exigindo, porém, um alto tempo de detenção hidráulica.
Benner, Maccubbin e Hodson (1984) citam que o tempo de detenção necessário para
a lignina iniciar sua degradação, em meios anaeróbios, é da ordem dos 250 dias,
sendo a celulose e hemicelulose mais facilmente degradadas. Por isto, muitas vezes
são utilizados na degradação de materiais lignocelulósicos processos auxiliares de
pré-tratamento, como enzimas, tratamento térmico, dentre outros.

vii) Codigestão Anaeróbia

A codigestão anaeróbia consiste no processo de degradação simultânea de dois ou


mais substratos na digestão anaeróbia, de modo que a produção de biogás seja
reforçada por meio do tratamento em conjunto dos resíduos (MATA-ALVAREZ et al.,
2011). Assim, a mistura de vários tipos de resíduos tem efeitos positivos, não só no
próprio processo de degradação anaeróbia, como também a nível econômico
(BRAUN; WELLINGER, 2002).

A codigestão contribui para melhorar o desempenho da digestão anaeróbia, uma vez


que promove um melhor equilíbrio da relação C:N:P (carbono: nitrogênio: fósforo), das
concentrações de macro e micronutrientes, pH / alcalinidade, atuando ainda na
diluição de compostos inibidores ou tóxicos (MATA-ALVAREZ et al., 2014).

Assim, resíduos ricos em carbono (alta relação C:N), como culturas agrículas,
normalmente são utilizados como cossubstratos para digestão anaeróbia de resíduos
ricos em nitrogênio, como dejetos de aves, suínos e bovinos, de forma a otimizar o
processo (MATA-ALVAREZ et al., 2014).
40

viii) Inóculos

Em conjunto com substratos, podem ser utilizados inóculos, como lodos de ETE
(Estação de Tratamento de Esgoto), resíduos resultantes da atividade agropecuária
(dejetos bovinos e suínos), que atuam fornecendo uma população ativa de
microrganismos acetogênicos e metanogênicos, visando acelerar o processo (ALVES,
2015).

A utilização de inóculo é um processo de tratamento conjunto, com diferentes tipos de


substratos, os quais se compensam quanto às suas características físico-químicas e
aumentam a produção de biogás. Os inóculos desempenham um papel importante no
início do processo anaeróbio, pois equilibram as populações de microrganismos
(SHAH et al. 2014).

3.2.2 Biogás

Como produto da digestão anaeróbia temos uma mistura de gases, conhecida como
biogás, um combustível gasoso com alto potencial energético e pode ser utilizado para
geração de energia elétrica, térmica ou mecânica (SOUZA; PEREIRA; PAIVA, 2004).

A fração de cada gás presente no biogás é determinada pelas características do


resíduo e as condições de operação do processo de digestão, conforme discutido
acima. Sua composição básica é metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2), sendo
que a concentração média de metano no biogás geralmente fica em torno de 65%
(COLDEBELLA, 2006). Em linhas gerais, a constituição típica do biogás é a seguinte:

Quadro 2 – Composição típica do Biogás


Gás Teor no Biogás (%)

Metano CH4 50 – 80
Dióxido de carbono CO2 20 – 40
Hidrogênio H2 1–3
Nitrogênio N2 0,5 – 3
Gás sulfídrico e outros H2S, CO, NH3 1–5

Fonte: WELLINGER; MURPHY; BAXTER (2013).

Como visto no Quadro 2, a concentração dos componentes do biogás pode variar em


função do desempenho da digestão anaeróbia. Os principais componentes do biogás
41

são o CO2 e CH4. Como o poder energético do biogás é decorrente da concentração


de metano, uma elevação no percentual de CO2 no biogás é indesejável (KIRAN et
al., 2016).

A produção de CO2 (gasoso) na digestão anaeróbia ocorre principalmente nas fases


de hidrólise e acidogênese, assim, o alto percentual deste gás no biogás normalmente
é decorrente de mudanças na alcalinidade e no pH do biorreator, que ocasionam
diminuição da metanogênese (KIRAN et al., 2016). O hidrogênio (H2) é um composto
intermediário significativo, que regula o desempenho dos microrganismos
acetogênicos, uma vez que é utilizado por estes como substrato, logo, a sua alta
concentração no biogás (acima de 3%) indica um desequilíbrio no processo, que
geralmente é acompanhado de um aumento na concentração de AGV no digestor
(MOLINA et al., 2009).

O teor de metano da mistura de biogás depende a biomassa, particularmente o estado


oxidativo do carbono encontrado nas matérias-primas. Quanto mais reduzido o
carbono, maior o teor de biogás em metano (GUJER; ZEHNDER, 1983). Além disso
a composição da matéria orgânica também influencia o potencial de produção de
biogás e de metano, sendo estimado, para carboidratos, lipídios e proteínas, os
valores presentes na Tabela 3 (DROSG; BRAUN; BOCHMANN, 2013).

Tabela 3 – Potencial teórico de produção de metano dos componentes dos substratos

Substrato BMP CH4 (%) CO2 (%)


(mLCH4/gSTVadic.)

Carboidratos 746 50 50
Lipídios 1390 72 28

Proteínas 800 60 40

Fonte: Adaptado de Drosg, Braun e Bochmann (2013).

Assim, teoricamente quanto maior o teor de lipídios de um substrato, maior o potencial


teórico de produzir metano. No entanto, os valores atingidos na prática são muito
menores devido ao material não degradável e à demanda de energia dos
microrganismos. É preciso ressaltar que as condições do processo também
influenciam, sendo recomendado o uso do teste BMP (Biochemical Methane
Potential), que visa simular a degradação anaeróbia do substrato em condições
42

controladas, de forma a contabilizar a quantidade máxima de metano produzida


(DROSG; BRAUN; BOCHMANN, 2013).

Drosg, Braun e Bochmann (2013) citam que na prática é esperada uma redução de
até 50% do potencial teórico de produção de biogás para o obtido no teste BMP. A
Tabela 4 apresenta valores médios obtidos para o BMP de resíduos orgânicos em
diversas pesquisas.

Tabela 4 – Potencial de Produção de metano obtido em ensaios BMP para resíduos


orgânicos
Substrato BMP Referência
(mLCH4/gSTVadic.)

Elbeshbishy, Nakhla e Hafez (2012); Zhang,


Resíduos alimentares 221 a 873
Leeb, Jahnga (2011); Hobbs et al. (2018)

Frutas 180 a 732 Gunaseelan (2004)


Vegetais 190 a 400 Gunaseelan (2004)
Kafle e Chen (2013), Massét e Saady (2015),
Dejetos bovinos 79 a 280 Riggio et al. (2017), Shen et al. (2018)
Amaral et al. (2016), Kafle e Chen (2013),
Dejetos suínos 180 a 568 Shen et al. (2018)
Esterco de Frango 275 Shen et al. (2018)

Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).

3.2.2.1 BMP – Biochemical Methane Potential

O teste BMP - Potencial Bioquímico de Metano é, atualmente, o método mais confiável


para determinar a taxa máxima de produção de metano na digestão anaeróbia, que é
um parâmetro chave para avaliar a viabilidade de implementação de uma planta em
escala real, bem como sua otimização (ELBESHBISHY; NAKHLA; HAFEZ, 2012).

O teste é realizado por meio do monitoramento do volume do biogás gerado pela


digestão anaeróbia de substratos orgânicos, e do teor de metano contido no mesmo,
de forma a avaliar a conversão da matéria orgânica e assim, a capacidade de
biodegradação dos resíduos pela digestão anaeróbia (SILVA; MORAIS; ROCHA,
2016).

O BMP é desenvolvido em reatores/frascos com volumes de 250 mL a 1000mL, sendo


que os frascos devem ser preenchidos em até no máximo 80% de seu volume
43

(HOLLIGER et al., 2016). Geralmente, a duração do teste é entre 20 e 100 dias, sendo
que a temperatura utilizada varia de 30 a 35 ºC, para garantir as melhores condições
de crescimento dos microrganismos metanogênicos mesofílicos (RAPOSO et al.,
2011a).

Enquanto o teste BMP visa a avaliação da biodegradabilidade de resíduos orgânicos


pela digestão anaeróbia, o teste AME (Atividade Metanogênica Específica) visa a
avaliação da atividade metanogênica do inóculo, ou seja, determinar a capacidade
máxima das arqueas metanogênicas contidas no inóculo converterem qualquer
substrato orgânico em biogás/metano (AQUINO et al., 2007; SILVA et al., 2018).

Apesar dos aparatos utilizados serem em sua maior parte, iguais, assim como a
metodologia de realização, os testes possuem diferenças principalmente em relação
aos substratos utilizados. Enquanto no teste AME os substratos orgânicos utilizados
são substatos pré-determinados em metodologias, como sais de acetato, mistura de
ácidos graxos voláteis (AGV) em proporções definidas, incluindo ainda, a adição de
uma solução de nutrientes para auxiliar no processo de degradação, no teste BMP,
em vez de nutrientes e substratos simples, são utilizados substratos complexos, que
são os resíduos sobre os quais se quer avaliar a biodegradabilidade anaeróbia
(AQUINO et al., 2007; SILVA et al. 2018).

Segundo Holliger et al. (2016), os testes BMP são classificados em manométricos e


volumétricos. Nos métodos manométricos o volume de gás produzido é medido
indiretamente por meio da pressão exercida por sua produção sobre um sensor
(membrana transdutora de pressão) que fica acoplado ao frasco onde é desenvolvido
o processo de digestão anaeróbia (frasco de reação).

Isto é possível, porque na calibração do sistema é estabelecida uma correlação entre


a pressão medida e a quantidade de metano presente dentro do frasco de reação,
assim, o registro diário da pressão permite determinar a taxa diária de produção de
metano (AQUINO et al., 2007). Um exemplo de um equipamento para medição
manométrica (respirômetro manométrico) é mostrado na Figura 4.
44

Figura 4 – Sistema de BMP do tipo manométrico

Fonte: AQUINO et al. (2007).

O sistema da Figura 4 utiliza uma solução de NaOH para absorção do dióxido de


carbono, de forma que a pressão do gás a ser medida corresponde a apenas CH 4
(metano). O teste é finalizado após estabilização do sistema (AQUINO et al., 2007).

Já os métodos volumétricos, se baseiam na determinação do volume de biogás ou


metano produzido em um frasco reacional que contém a mistura (inóculo + substrato
a ser testado) (AQUINO et al., 2007). O biogás é capturado no frasco de reação e
levado a um frasco com uma solução, na medida que o frasco com a solução é
preenchido com gás, um volume da solução equivalente ao de gás, é empurrado para
fora do frasco, preenchendo uma proveta, de forma que o volume de gás é medido
diariamente (JAWED; TARE, 1999). A Figura 5 apresenta um esquema do teste BMP
com medição volumétrica.

Figura 5 – Teste BMP tipo volumétrico

Fonte: AQUINO et al. (2007).


45

A solução com a qual o gás entrará em contato pode ser água destilada, ou uma
solução de NaOH 15%, no caso de ser água destilada apenas o volume de biogás é
aferido, já com uma solução de NaOH, o CO2 contido no gás é absorvido pela solução,
e o volume descolado corresponde ao volume de metano (CH 4) (RAPOSO et al.,
2011b).

Nesse procedimento, frascos de vidro são inoculados com o substrato a ser avaliado
junto com o inóculo, e incubados à uma temperatura de 30 ºC a 35 ºC por um período
que varia de 7 a 45 dias, a medição do volume de biogás/metano é diária e o teste
deve ser finalizado quando a produção acumulada de biogás/metano se estabilizar.

O valor do potencial máximo de produção de biogás/metano do substrato é obtido


dividindo-se o volume de biogás/metano produzido durante todo o teste pela
quantidade adicionada de sólidos totais voláteis no início do experimento (AQUINO et
al., 2007; HOLLIGER et a., 2016). Ainda é possível obter o BBP ou BMP diário,
dividindo-se o valor pelo período de duração do experimento (dias).

3.3 DIGESTÃO ANAERÓBIA DA BORRA DE CAFÉ

A digestão anaeróbia de borras de café começou a ser estudada na década de 1980,


onde o foco era avaliar a influência de diferentes temperaturas, inóculos e
configurações de biodigestores na eficiência do processo (KIDA et al., 1993; KIDA;
IKBAL; SONODA, 1992; KOSTENBERG; MARCHAIM, 1993; IKBAL; KIDA; SONODA
1994; LANE, 1983; OI; TANAKA; YAMAMOTO, 1980).

Nos anos 80 e 90, percebeu-se que a baixa biodegradabilidade de alguns compostos


presentes na borra de café (lignina, celulose e hemicelulose) contribuía para a
diminuição da eficiência do processo. Além disto, verificou-se que a alta produção de
ácidos graxos voláteis e a possível geração de compostos tóxicos pela degradação
da borra de café eram prejudiciais as arqueas metanogênicas, microrganismos
responsáveis pela produção de metano no processo de digestão anaeróbia (KIDA et
al., 1993; KIDA; IKBAL; SONODA, 1992; KOSTENBERG; MARCHAIM, 1993; IKBAL;
KIDA; SONODA 1994; LANE, 1983; OI; TANAKA; YAMAMOTO, 1980).

Dentre os estudos realizados, pelo conhecimento da baixa biodegradabilidade da


borra de café, Oi, Tanaka e Yamamoto (1981), propuseram a avaliação de métodos
46

de pré-tratamento do resíduo, de forma a auxiliar na quebra de compostos e


disponibilidade de nutrientes para a produção de metano. Os autores notaram que a
aplicação de dioxano, e de enzimas celulolíticas e hemicelulolíticas contribuíam para
duplicar a taxa de biogás produzida na digestão anaeróbia mesofílica (37ºC) de borra
de café, obtendo uma produção de biogás de 0,2 Nm³/kg STV (200 NmL/gSTV) após
o pré-tratamento.

Lane (1983) avaliou a digestão anaeróbia de borras de café em condições mesofílicas


(entre 36 e 40ºC), em reator contínuo, visando identificar sua aplicabilidade a longo
prazo. A autora constatou que até os 80 dias de realização do processo, a digestão
anaeróbia era viável, produzindo uma taxa de biogás de 0,54 m³/kg (540 mL/g). No
entanto, após 80 dias, a produção de biogás entrava em declínio, chegando a 25% da
taxa média, não sendo verificados sintomas comuns deste problema, como a
acidificação do meio, nem o aumento do teor de CO2 no biogás gerado.

Ainda, foi percebido que com a adição de glicose no meio, outras populações de
microrganismos não foram afetadas, apenas as arqueas metanogênicas, confirmando
que a causa da inibição da produção de biogás foi devido a liberação de compostos
tóxicos oriundos da borra de café (LANE, 1983).

Lane (1983) ainda realizou o pré-tratamento com dioxano, descrito por Oi, Tanaka e
Yamamoto (1981), visando confirmar sua aplicação, e não obteve resultados
satisfatórios. A autora cita que tratamentos sem a aplicação do pré-tratamento com
dioxano se mostraram muito mais eficientes na produção do biogás do que os que
tiveram aplicação do solvente, concluindo que este pré-tratamento não é ideal, além
de ser impraticável, por razões de custo e segurança.

Kostenberg e Marchaim (1993) constataram que a produção de biogás a partir da


digestão anaeróbia termofílica da borra de café industrial também era possível,
alcançando, uma produção de metano de 0,26 m³/kg STV (260 mL/gSTV) com o uso
de dejetos bovinos como inóculo (R/I = 1,0) e a uma temperatura de digestão de 55ºC.
No entanto, os autores notaram a presença substâncias inibidoras ao processo de
metanogênese, intensificadas pela digestão termofílica, e um aumento do teor de
ácidos graxos voláteis, que contribuiu para o declínio na produção do biogás.
47

Um outro fator a ser observado é que o tipo de digestão utilizado pelos autores, a
digestão termofílica, requere temperaturas próximas de 55º C, e necessita de uma
fonte de calor extra, o que diminui a quantidade útil de biogás/metano produzida, além
e intensificar a liberação de compostos inibidores, sendo necessário um estudo de
viabilidade para sua aplicação (KOSTENBERG; MARCHAIM, 1993).

Kida, Ikbal e Sonoda (1992), Kida et al. (1993) e Ikbal, Kida e Sonoda (1994) avaliaram
diferentes configurações de reatores para a digestão anaeróbia termofílica de borras
de café (oriundas do processamento do café expresso), comparando processos uni e
multi estágios. O processo com único estágio, foi desenvolvido em um reator tubular
horizontal (Roller Bottle Reactor – RB), já o multi-estágio, em reatores de liquefação
(CSTR – Reator perfeitamente agitado) e gaseificação (AFBR ou RALF - Reator
anaeróbio de Leito Fluidizado), para hidrólise e metanogênese, respectivamente.

Os autores verificaram que não houveram diferenças na produção de biogás entre os


processos (único e multi-estágios), observando-se uma excessiva produção de ácidos
graxos voláteis, acompanhada do declínio do pH e da produção de biogás nos
reatores RB e CSTR, uma vez que a acidificação excessiva do meio é prejudicial as
arqueas metanogênicas (IKBAL; KIDA; SONODA, 1994; KIDA; IKBAL; SONODA,
1992; KIDA et al., 1993).

Devido aos problemas encontrados para estabilização do processo de digestão


anaeróbia citados anteriormente, os estudos sobre a digestão anaeróbia da borra de
café não avançaram nos anos 2000. Porém, a partir de 2010 foi percebido que
digestão anaeróbia de resíduos lignocelulósicos em conjunto com outros substratos
(codigestão) aumentava a taxa de produção de biogás. Este fato, aliado ao contínuo
crescimento do consumo de café no mundo, motivou a realização de novas pesquisas
com o foco na codigestão, incentivadas principalmente por multinacionais do ramo
(CLEARFLEAU, 2018).

A codigestão anaeróbia contribui para uma melhor viabilidade e estabilidade do


processo, balanceando a relação C:N na mistura, remediando a deficiência de
micronutrientes e oligoelementos, melhorando a capacidade de tamponamento, e
contribuindo para a diluição de compostos inibitórios ao processo de digestão da borra
48

de café, que é o seu maior fator limitante, conforme avaliado por Lane (1983) (KIM et
al., 2017).

Segundo Wu et al. (2010), uma adequada razão C:N, estabelecida por meio da
codigestão, é essencial na conversão da biomassa lignocelulósica em metano. Isto
porque a borra de café, assim como outros resíduos lignocelulósicos, é rica em
carbono e pobre em nitrogênio, possuindo uma relação C:N de até 35:1 (KIM et al.,
2017).

Desta forma, a monodigestão da borra de café pode resultar num rendimento de


metano significativamente baixo, uma vez que a relação C:N deve estar entre 20 e
30:1 para o adequado desenvolvimento da metanogênese. Com a mistura de um
cossubstrato rico em nitrogênio, como dejetos de animais (C:N entre 10 e 19) e
resíduos alimentares (C:N entre 8 e 18), pode-se fazer o balanceamento desta relação
(RYNK et al., 1992; SAWATDEENARUNAT et al., 2015).

A codigestão ainda complementa a falta de oligoelementos essenciais na borra de


café, que apesar de possuir concentrações adequadas de ferro (PUJOL et al., 2013),
é deficiente em outros oligoelementos essenciais como cobalto, níquel, molibdênio,
selênio e tungstênio (KIM et al., 2017; SAWATDEENARUNAT et al., 2015). Esses
metais, embora presentes em quantidades minúsculas, são considerados vitais para
sustentar as arqueas metanogênicas, podendo ser advindos de outros resíduos
utilizados na codigestão (SAWATDEENARUNAT et al., 2015).

Sawatdeenarunat et al. (2015) citam que só com o ajuste da relação C:N pela
codigestão de resíduos lignocelulósicos com resíduos ricos em nitrogênio, é possível
aumentar a produção de biogás em até 71%, sendo necessário avaliar cada caso.

Diversos estudos têm demonstrado benefícios na codigestão anaeróbica de borra de


café com outros substratos, reduzindo a inibição da produção de biogás
principalmente pelo balanceamento da relação C:N, e na diluição de compostos
inibidores ou tóxicos, sendo percebido grande influência do tipo de cossubstrato
utilizado no desempenho da digestão anaeróbia, além do tipo de digestão utilizada e
a relação resíduo:inóculo.
49

Qiao et al. (2015) avaliando a codigestão anaeróbia termofílica (55ºC) de borra de café
obtida em uma indústria no Japão e lodo do processo de tratamento das águas
residuárias da mesma indústria, obtiveram resultados favoráveis. Os autores
verificaram que uma relação de 1gDQOBorra/1gDQOLodo fornecia valores de BMP
correspondentes a 279mLCH4/gSTVasic, com teor de metano no biogás de 55 a 59%, e
uma taxa de remoção de DQO de 80%, num período de 25 dias.

No entanto, quando a relação R:I (resíduo:inóculo) foi aumentada (chegando a 9:1),


foi percebida uma produção excessiva de AGV nos reatores, acompanhada de uma
queda no pH (chegando a 6,3), e da inibição da produção de biogás/metano. Os
resultados obtidos por Qiao et al. (2015) evidenciam a importância do balanceamento
da relação C:N no processo de digestão anaeróbia, principalmente para estabilidade
do sistema.

Neves, Oliveira e Alves (2004), utilizaram o processo mesofílico (37ºC) para


codigestão de borras de café industrial, resíduo de cevada e de chicória, nas
proporções de 45%, 32% e 23%, respectivamente, com lodo de UASB como inóculo,
obtendo uma produção de metano de 280 NmL/gSTVadicionada. A relação R/I utilizada
pelos autores foi de 2,61 (gSTV), e como resultado encontraram um teor de metano
no biogás de 85%, e uma redução de ST de 67% e STV de 80%, demonstrando a
viabilidade do processo.

Os autores não apresentaram dados sobre as relações C:N utilizadas, sendo


importante observar a ausência de inibição no processo de codigestão, que ocorreu
durante 100 dias. Neste ponto ressalta-se que o período do teste BMP desenvolvido
por Neves, Oliveira e Alves (2004), foi acima do aplicado por Qiao et al. (2015),
indicando que os substratos avaliados eram de difícil degradação.

Shofie et al. (2015) como continuação do trabalho de Qiao et al. (2015), realizaram a
codigestão termofílica (55ºC) de borra de café industrial com resíduos do
processamento de leite, lodo de ETE (UASB) e águas residuárias do processo de
produção do café solúvel, em um reator CSTR, nas proporções de 14,6%, 12,2%,
7,9% e 65,3%, respectivamente.

Neste trabalho, os autores utilizaram uma relação R:I, resíduo: inóculo, de 1:1,2, em
termos de gSTV obtendo uma produção de metano de 138 mL/gSTV (61% CH4 no
50

biogás), com eficiências de remoção de ST, STV e DQO de 46, 50%, e 54%,
respectivamente (SHOFIE et al., 2015).

Avaliando os resultados, Shofie et al. (2015) concluíram que o processo de digestão


se mostrou ineficiente, ocorrendo a inibição total do processo aos 35 dias, mesmo
após o balanceamento da relação C:N. Os valores alcançados de produção de metano
e de remoção de DQO também se mostraram bastante inferiores aos obtidos por Qiao
et al. (2015).

Os resultados obtidos por Shofie et al. (2015) corroboram com no trabalho de


Kostenberg e Marchaim (1993), que também utilizaram a digestão termofílica de borra
de café industrial a 55ºC com uma relação R:I próxima de 1, e perceberam inibição do
processo. Kostenberg e Marchaim (1993) atribuíram a inibição a formação de
substâncias que foram prejudiciais as arqueas metanogênicas, já Shofie et al. (2015),
verificaram que a inibição foi acompanhada de um aumento da relação AI/AP
(alcalinidade intermediária/alcalinidade total, que chegou a 0,51, indicando um
aumento excessivo da concentração de ácidos voláteis no reator.

Abouelenien et al. (2016) estudaram a codigestão mesofílica e termofílica de esterco


de aves, resíduos de mandioca, coco e borra de café (doméstica) utilizando lodo de
UASB como inóculo, nas porcentagens de 17,5%, 0,65%, 1,05%, 2,5%, 75%, com
uma relação Resíduo:Inóculo de 1:3 e um teor de sólidos de 20%.

Os autores obtiveram uma produção de metano de 562 mLCH4/gSTVadic. no


experimento mesofílico, e 297,6 mLCH4/gSTVadic no termofílico, valores 70%
superiores a digestão de esterco de aves com o lodo do UASB, demonstrando que a
mistura de resíduos utilizada foi eficiente no balanceamento de nutrientes
(ABOUELENIEN et al., 2016), ainda é importante ressaltar que os valores obtidos para
produção de metano com a digestão mesofílica foram quase o dobro da termofílica.

Valero et al. (2016) utilizando borra de café doméstica como substrato da digestão
anaeróbia e a fração líquida do lodo de um biodigestor de dejetos bovinos como
inóculo, numa relação R:I de 2:3 (gSTV), alcançou uma produção de metano de 135
mLCH4/gSTVadic., ao fim de 35 dias, não sendo observada inibição no processo. Vitez
et al. (2016) também avaliaram a digestão anaeróbia deste tipo de borra utilizando
inóculo de um digestor de resíduos alimentares, na razão R:I de 4 L : 40 g.
51

Apesar de Vitez et al. (2016) obterem uma faixa de produção de metano de 271–325
mlCH4/gresíduo, o estudo não forneceu valores em gSTV, que pudessem ser
comparados com os obtidos por outros autores.

Ressalta-se que o tipo de digestão desenvolvida nos dois trabalhos, Valero et al.
(2016) e Vitez et al. (2016), foi úmida (acima de 90% de umidade) e mesofílica, e que
ambos não perceberam inibição no processo de digestão, apesar de não ter sido
utilizado nenhum outro cossubstrato, apenas o inóculo, indicando que os inóculos
utilizados (lodo de um biodigestor de dejetos bovinos e lodo de digestor de resíduos
alimentares) foram eficientes para o desenvolvimento do processo e na atenuação de
uma possível inibição.

Kim et al. (2017) buscando identificar qual era o melhor substrato para a digestão
anaeróbia de borra de café doméstica desenvolveu o processo para misturas de
borras de café e outros três substratos, resíduos alimentares, biomassa algal, lodo
aeróbio proveniente do sistema de lodos ativados e soro de leite. Cada substrato foi
misturado a borra de café nas proporções de de 0%, 25%, 75% e 100% em massa
seca. Como inóculo foi utilizado lodo de um biodigestor que tratava águas residuárias
e resíduos alimentares e a razão R:I utilizada foi 1 (gSTV).

Como resultados, os autores observaram que, em 30 dias de experimento, o maior


potencial de produção de metano foi obtido pela digestão anaeróbia dos resíduos
alimentares com 25% de borra de café (355 mLCH4/gSTV), valor praticamente igual
ao obtido para a digestão dos resíduos alimentares sem cossubstrato (360
mLCH4/gSTV), indicando que os resíduos alimentares podem ser utilizados como um
cossubstrato eficiente na digestão anaeróbia de borras de café.

Ressalta-se que a produção de metano da mistura com 75% de resíduos alimentares


e 25% da borra de café foi 13,5% superior ao obtido com a monodigestão anaeróbia
da borra de café, demonstrando que lodo do biodigestor foi um inóculo adequado ao
processo.

Luz et al. (2017) avaliaram a digestão anaeróbia de borra de café doméstica utilizando
dejetos bovinos como inóculo, numa relação R:I de 1,5 (gSTV). Os autores
alcançaram uma produção de metano de 250 mL/gSTV, com uma redução de 50% da
DQO.
52

Girotto, Lagagnolo e Pivato (2018) estudaram a influência de diferentes relações R:I


no processo de digestão anaeróbia mesofílica de borras de café utilizando lodo de
UASB como inóculo. Com resultado, os autores obtiveram uma produção de biogás
de 560 mLCH4/gSTV, e de metano de 360 mLCH4/gSTV, para a relação
resíduo:inóculo igual a 2:1 (gSTV), cerca de 10% superior aos obtidos para as
relações de 0,5:1 e 1:1.

Conforme os estudos citados, percebe-se uma grande variabilidade com relação aos
parâmetros de realização da digestão anaeróbia da borra de café, como temperatura,
teor de umidade da mistura, tipos de substratos e inóculos utilizados, relação
resíduo:inóculo, além do tempo de detenção da mistura no reator.

Ainda existe uma falta de padronização na literatura, uma vez que muitos trabalhos
apresentam os valores de potencial de produção de metano considerando a massa
de Sólidos Totais Voláteis (STV), outros, considerando a massa de resíduo
adicionada, sendo encontrados valores ainda com base na DQO adicionada. Outro
problema é relacionado a padronização do volume de metano gerado, que deveria
estar nas Condições Normais de Temperatura e Pressão (CNTP), sendo apresentado
em NmL ou NL, o que não ocorre na maior parte dos trabalhos encontrados.

Desta forma, para subsidiar o desenvolvimento deste trabalho, fez-se um apanhado


das principais pesquisas neste tema e dos parâmetros adotados na digestão
anaeróbia da borra de café, apresentando-se a taxa de produção de biogás/metano
para cada estudo, conforme o Quadro 3.
53

Quadro 3 – Relação de trabalhos que realizaram a digestão anaeróbia de borra de café

Temp. Tempo Resíduo/Inóculo BMP %


Autores Resíduos pH Nutrientes Alimentação
ºC (dias) (gSTV/gSTV) (mLCH4/gSTV) Metano

Borra de café
333
Lane (1983) industrial (solúvel) 37ºC 6,8 80 0,5 Sim Diária 56-63%
mLCH4/gSTV
e Lodo UASB

Borra de café
Kostenberg e
industrial (solúvel) 260
Marchaim 55ºC 7,7 61 - Não Diária 60%
e Lodo DA¹ mLCH4/gSTV
(1993)
dejetos bovinos
Borra de café +
Neves,
Resíduo de 280
Oliveira e 37ºC 7 125 2,61 (ST) Não 1 vez 85%
Cevada + Chicória mLCH4/gSTV
Alves (2004)
+ Lodo UASB
Borra de café
Qiao et al. 279
industrial + Lodo 55ºC 7 185 1:1 (DQO) Sim Diária 59%
(2015) mLCH4/gSTV
Café
Borra de café
Shofie et al. industrial + Operado em 138
55ºC 7 225 1: 1,2 Sim 61%
(2015) efluente + soro de ciclos mLCH4/gSTV
leite + Lodo UASB
Borra de café +
Valero et al. 135
Lodo DA¹ dejetos 38ºC 7,20 35 2:3 Não 1 vez -
(2016) mLCH4/gSTV
bovinos

Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).


54

Quadro 3 – Relação de trabalhos que realizaram a digestão anaeróbia de borra de café (cont.)

Temp. Tempo Resíduo/Inóculo BMP %


Autores Resíduos pH Nutrientes Alimentação
ºC (dias) (gSTV/gSTV) (mLCH4/gSTV) Metano

Borra de café +
Vitez et al. Lodo DA¹ 271–325
37ºC 7 22 - Não 1 vez 55-61%
(2016) resíduos mLCH4/gSTV
alimentares

Borra de café +
Kim et al. Resíduos 304 – 347
35ºC - 28 1 Não 1 vez -
(2017) alimentares + NmLCH4/gSTV
Lodo DA¹

Luz et al. Borra de café + 250


37ºC 7 22 1,5 Não 1 vez 53,7%
(2017) Dejetos bovinos mLCH4/gSTV

Girotto, 360
Borra de café +
Lavagnolo e 35ºC - 20 0,5; 1; 2 Não 1 vez NmLCH4/gSTV 70%
Lodo de UASB
Pivato (2018) (R/I = 2)

Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). Nota¹: Lodo DA é o lodo do digestor anaeróbio.
55

A partir dos resultados apresentados na literatura para a produção de metano a partir


da borra de café, percebe-se que os maiores valores foram obtidos por Kim et al.
(2017) e Girotto, Lavagnolo e Pivato (2018), que apresentaram BMP acima de 300
NmLCH4/gSTV. Ressalta-se que ambos utilizaram a digestão mesofílica, e que Kim et
al. (2017) utilizaram um cossubstrato (resíduos alimentares), e lodo de biodigestor
como inóculo (R:I de 1:1 gSTV), já Girotto, Lavagnolo e Pivato (2018), trabalharam
apenas com a borra de café e o lodo de UASB, numa relação R:I de 2:1 (gSTV).

A grande maioria dos estudos mostrados no Quadro 3, adotam um pH neutro inicial,


compatível com pH ideal para a digestão anaeróbia (CHERNICHARO, 2010). Com
relação a temperatura de operação dos digestores, Pfeffer (1979) cita que, apesar da
digestão anaeróbia ser desenvolvida tanto em temperaturas na faixa mesofílica (30 a
45ºC), ou na faixa termofílica (45 a 60ºC), devido a necessidade de controle de
temperatura e o alto custo de energia necessária para tal, os processos termofílicos
são menos recomendados, uma vez que demandam temperaturas mais altas, e
consequentemente maiores gastos.

Além disso, os trabalhos de Kostember e Marchaim (1993) e Shofie et al. (2015)


verificaram inibição do processo de digestão anaeróbia em temperaturas termofílicas,
o que não foi verificado na maioria dos trabalhos que utilizaram digestão mesofílica.
Ambos trabalham citam que isto pode ter ocorrido pelo alto teor de lipídios da borra
de café (5-7g/L), uma vez que a digestão termofílica promove maiores taxas
metabólicas e maior produção de AGV (ácidos graxos voláteis), que podem causar a
interrupção da atividade metanogênica. O mesmo problema foi verificado por
Angelidaki, Petersen e Ahring (1990), utilizando resíduos ricos em lipídios e por Lane
(1983), que avaliou a digestão anaeróbia termofílica da borra de café.

Quanto a operação dos digestores (contínua ou única), é possível verificar que existe
uma grande diversidade de métodos utilizados. O mesmo acontece para o tempo de
retenção adotado, que varia de 22 a 225 dias. Estes parâmetros variam de acordo
com a finalidade da digestão anaeróbia e com a facilidade de degradação dos
substratos. Para avaliação do potencial máximo de produção de metano (BMP), são
utilizados processos com uma única alimentação, conforme metodologia apresentada
por Aquino et al. (2007) e Holliger et al. (2016).
56

As pesquisas sugerem ainda que a codigestão da borra de café com outros resíduos
orgânicos, além dos inóculos, podem melhorar o balanço de nutrientes, e a
performance do digestor (QIAO et al., 2013), sendo utilizados como cossubstratos
resíduos alimentares, resíduos de grãos, dentre outros. Como inóculos, o Quadro 3
mostra a realização de pesquisas com esterco bovino, lodo de café, lodo de ETE, e
lodo de biodigestores, obtendo-se melhores resultados como lodo de UASB e de
digestores anaeróbios.

Já a relação Resíduo/Inóculo apresenta variação entre 0,5 a 2,61 gSTV/gSTV,


dependendo dos cossubstratos utilizados na digestão anaeróbia. Para processos com
utilização apenas da borra de café, resultados interessantes foram obtidos por Girotto,
Lavagnolo e Pivato (2018), com uma relação R/I ótima de 2.

Já para processos com resíduos orgânicos, como alimentares, Neves, Oliveira e Alves
(2006) apresentam que é aconselhável uma relação de no máximo 1:1. Os resultados
obtidos por Kim et al. (2017) corroboram com esta afirmação, uma vez que, em
misturas de borra de café e resíduos alimentares, com uma relação R/I de 1:1,
obtiveram uma produção de metano variando de 304 – 347 NmlCH4/gSTV.

Com relação ao potencial de produção de biogás/metano, as pesquisas apresentam


resultados promissores. Exemplo disso é que, se comparada com a produção
estimada de biogás entre os diferentes substratos utilizados na digestão anaeróbia
(Tabela 4) apresentada na seção anterior, a borra de café apresenta potencial de
produção de metano dentro da faixa encontrada para resíduos amplamente utilizados
como substratos em biodigestores, como resíduos alimentares e dejetos de animais.

No entanto, tem-se que, apesar dos diversos estudos realizados até o momento, ainda
não foi definida uma relação ótima entre resíduo e inóculo durante a partida de
reatores, nem o melhor inóculo a ser adicionado à Borra de Café, principalmente
devido à grande heterogeneidade dos resíduos e inóculos disponíveis.

Um outro ponto pouco avaliado é a mistura da borra de café com resíduos orgânicos,
que muitas vezes são gerados no mesmo local, como restaurantes presentes nas
indústrias de café e nas instituições geradoras da borra. Estas lacunas demonstram a
importância da presente pesquisa uma vez que estes são os principais pontos
abordados neste estudo.
57

4 METODOLOGIA

4.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

4.1.1 Revisão de Literatura

O referencial teórico utilizado para desenvolvimento do trabalho está sendo obtido,


principalmente, a partir do Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (Capes). As principais bases de dados utilizadas são:
Web of Science e Science Direct.

Além disso, são utilizados os bancos de dados online de instituições de ensino


superior, como Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp) e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), do Banco de
Teses e Dissertações da CAPES, da Biblioteca Digital Brasileira de Dissertações e
Teses (BDTD), dentre outros.

Os descritores utilizados para as buscas bibliográficas foram extraídos da Biblioteca


Virtual em Saúde (BVS) e da Compendex (Engineering Village), e são: Spent coffee
grounds; Biogas; Coffee waste; Anaerobic digestion e Biomethanization.

4.1.2 Delineamento do Estudo

Esta pesquisa pode ser classificada, em relação ao seu delineamento, em quatro


parâmetros, abordagem, natureza, objetivos e procedimentos (SILVEIRA;
CÓRDOVA, 2009).

Quanto à abordagem, esta pesquisa é classificada como quantitativa, uma vez que o
objetivo é quantificar a produção de biogás a partir da digestão anaeróbia da borra de
café (doméstica e industrial), junto a resíduos alimentares.

Em relação à natureza, a pesquisa é aplicada, pois possui um fim prático, o de resolver


problemas relacionados aos temas de gestão de resíduos sólidos e energias
renováveis. Focando nos objetivos, trata-se de uma pesquisa explicativa, visando
explanar sobre o assunto escolhido.

Por último, quanto aos procedimentos, a pesquisa é classificada como experimental,


uma vez que a pesquisa busca a realização de experimentos com o intuito de
quantificar a produção de biogás a partir da digestão anaeróbia da borra de café.
58

4.2 DELINEAMENTO EXPERIMENTAL

O experimento consiste na digestão anaeróbia de borras de café (doméstica e


industrial), utilizando como cossubstratos resíduos alimentares, e como inóculo, lodo
de UASB. O experimento foi realizado em duas etapas. Na primeira, avaliou-se a
digestão anaeróbia da borra de café doméstica (Etapa 1), e na segunda, da borra de
café industrial (Etapa 2).

O delineamento do experimento é inteiramente casualizado (DIC), sendo realizadas


misturas de diferentes proporções dos resíduos estudados (borra de café e resíduos
alimentares) com teores de 0%, 25%, 50% e 75% de borra de café em peso seco
(Figura 6). O inóculo foi adicionado em uma quantidade fixa para todos os tratamentos,
de forma a se manter constante a relação resíduo/inóculo (R/I).

Um tratamento foi composto apenas de lodo (controle negativo), de forma a se


determinar o potencial de produção de biogás do inóculo, para que este não
interferisse na análise dos substratos. O experimento foi realizado em triplicata (Figura
6). Também foi avaliado o potencial de produção de biogás apenas com os resíduos
alimentares (controle positivo), que já é reconhecido na literatura como um substrato
de alto potencial.
59

Figura 6 – Planejamento do experimento

Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).

O tipo de planejamento escolhido para execução dos ensaios desta pesquisa foi o
Planejamento Fatorial Cruzado ou Multinível. O Planejamento Fatorial foi escolhido
pela necessidade de se verificar o efeito de duas ou mais variáveis (fatores) de
influência (independentes), sendo neste estudo consideradas, na 1ª etapa, o
percentual de adição da borra de café doméstica e dos resíduos alimentares, e na 2ª
etapa, o percentual de adição da borra de café industrial e dos resíduos alimentares.
60

Optou-se por utilizar o Planejamento Fatorial Cruzado para abranger todas as


possíveis combinações dos fatores e níveis estudados. As variáveis de pesquisa
utilizadas neste estudo são mostradas no Quadro 4.

Quadro 4 – Variáveis envolvidas nesta pesquisa


Tipo de Variável
variável
pH
DQO
ST, STV
Carbono Orgânico Total
Dependente Fósforo Total
Nitrogênio Total Kjeldhal
Alcalinidade Total
Relação Alcalinidade Intermediária/Alcalinidade Parcial
Volume de biogás
Percentual de adição de Borra de Café Doméstica (0%, 25%, 50%, 75%)
Independente Percentual de adição de Borra de Café Industrial (0%, 25%, 50%, 75%)
Percentual de adição de Resíduos Alimentares (0%, 25%, 50%, 75%)
Características das borras de café doméstica e industrial
Características dos Resíduos Alimentares
Controle Lodo utilizado como inóculo no processo

Temperatura do processo
Procedimento para o teste BMP
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).
61

4.3 METODOLOGIA EXPERIMENTAL

A metodologia experimental utilizada é mostrada no fluxograma abaixo (Figura 7).

Figura 7 – Etapas da metodologia experimental

Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).

Antes de iniciar o experimento foi necessário a execução de um pré-teste, para


realização do ajuste das condições ideais para realização do teste BMP. Após o pré-
teste foi determinado que seria utilizada uma quantidade de 50g de inóculo em cada
frasco, uma relação R/I de 1, e que seria realizada a correção do pH, de forma com
que todos os reatores apresentassem pH 7 no início do teste. Estes ajustes foram
62

condizentes aos parâmetros encontrados na literatura para o teste BMP, conforme


discutido anteriormente.

4.3.1 Montagem do Aparato Experimental

A montagem do Aparato experimental consistiu na montagem e adequação do


equipamento a ser utilizado no teste. Os materiais utilizados foram:

- Incubadora: Para manutenção de uma temperatura constante (35ºC) durante a


execução do teste foi necessário a montagem de uma incubadora (Figura 8a e Figura
8b). A incubadora foi adaptada a partir de uma geladeira adaptada, utilizando uma
resistência circular (215W/110V) para aquecimento e um termostato para
ajuste/manutenção da temperatura. Também foi instalado um microventilador
(120x120x28mm) para circular o ar de forma uniforme por toda a incubadora. Este
esquema é mostrado nas Figuras 8b e 8c. Foram executados vários testes para
verificar se a temperatura era mantida constante em toda a incubadora, sendo esta
considerada adequada para a realização do experimento (Figura 8a).

- Reatores: Para montagem dos reatores foram utilizados frascos tipo Schott âmbar,
de 250 mL, com proteção antigota, visando a máxima vedação do conjunto. Os frascos
âmbar visam evitar a penetração de luz, e assim, qualquer influência no processo de
digestão anaeróbia. Para completa vedação dos frascos foram utilizadas borrachas,
nas quais foram inseridos os conjuntos (mangueira/seringa) para passagem do gás
gerado.

- Frascos para medição do biogás: Para que o volume de biogás produzido nos
reatores fosse contabilizado foi utilizado um conjunto frasco Schott /Erlenmeyer. Cada
frasco Schott (3) foi enchido com água e acoplado a um reator (1) com o auxílio de
uma mangueira (Figura 9). O objetivo era coletar o gás no reator com auxílio de uma
mangueira e direcioná-lo ao frasco Schott com água. A medida que o frasco com água
(3) era preenchido com o volume de gás produzido, o mesmo volume de água era
coletado no Erlenmeyer (4) (Figura 10).

Como para cada etapa do teste BMP foram utilizados 18 reatores, foram necessários
18 conjuntos frasco Schott/Erlenmeyer.
63

Figura 8 – Montagem da incubadora


(a) (b)

(c)

Fonte: Acervo pessoal de Roberta Arlêu Teixeira (2019).


64

Figura 9 – Montagem dos frascos Figura 10 – Esquema dos reatores

Fonte: Acervo pessoal de Roberta Arlêu Fonte: Acervo pessoal de Roberta Arlêu
Teixeira (2019). Teixeira (2019).

4.3.2 Coleta dos Substratos e do Inóculo

4.3.2.1 Borra de Café

A borra de café industrial é proveniente de uma indústria de café localizada no


município de Viana/ES, que gera aproximadamente 1000 kg/dia do resíduo.

O processo de obtenção da borra de café industrial consiste nas etapas descritas na


Figura 1. A borra de café industrial foi coletada em uma caçamba, onde normalmente
é armazenada antes de ser utilizada no processo de geração de energia da empresa,
que consiste na combustão (em conjunto com outros resíduos) para geração de
energia (Figura 11).
65

Figura 11 – Caçamba utilizada para armazenamento da


Borra de Café

Fonte: Acervo pessoal de Roberta Arlêu Teixeira (2019).

A coleta procedeu como disposto na NBR 10.007 (ABNT, 2004b). Após a coleta, a
borra de café industrial foi encaminhada para o Ifes/Campus Vitória, para realização
do experimento.

A borra de café doméstica foi coletada no restaurante do Ifes/Campus Vitória (Figura


12). O processo de geração da borra se dá pela infusão à quente do pó de café. Não
existe variação no tipo de café utilizado, sendo que, durante todo o período de
realização do estudo, o pó de café utilizado foi proveniente de uma mesma marca.

Para avaliação da quantidade de resíduo de borra de café doméstica gerada no


restaurante foi realizada a coleta e pesagem deste resíduo, em um recipiente
identificado, durante 14 dias, obtendo-se valores médios diários de geração de 2,1
kg/dia, correspondendo a 8,14 % dos resíduos orgânicos gerados no restaurante.
66

Figura 12 – Coleta da Borra de Café Doméstica


(a) (b)

Fonte: Acervo pessoal de Roberta Arlêu Teixeira (2019).

4.3.2.2 Resíduos Alimentares

Os resíduos alimentares, assim como a borra de café doméstica, são provenientes do


restaurante do Ifes/Campus Vitória. Tendo em vista que estes resíduos iriam ser
utilizados em mais de uma etapa do experimento e devido a variabilidade no cardápio
do restaurante durante a semana, foi realizado um estudo da composição gravimétrica
dos resíduos alimentares gerados no restaurante.

Os tipos de resíduos e etapas considerados na amostragem foram escolhidos tendo


como base os trabalhos de Silva (2014), Granzotto (2016) e Mayer (2013).

Foi definido que a segregação se daria de acordo com a forma de geração do resíduo
(preparo, pós-cozimento e resto-ingestão), sendo que os resíduos do preparo eram
divididos de acordo com os postos de trabalho, uma vez que já existia uma divisão
prévia de tarefas entre os colabores. As categorias avaliadas são mostradas na Figura
13.
67

Figura 13 – Categorias de resíduos geradas no restaurante

Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).

A amostragem dos resíduos alimentares gerados no restaurante foi realizada no


período de 12/09/2017 a 25/09/2017, de segunda a sexta-feira. Após a geração, os
resíduos eram segregados em recipientes específicos pelos funcionários do
restaurante conforme mostrado na Figura 14.

Para aumentar a confiabilidade da coleta, os resíduos, por recipiente, eram dispostos


em uma lona (Figura 15), e era realizada a inspeção visual para verificar a presença
de algum outro tipo de resíduo misturado. Se esta fosse confirmada, o resíduo era
retirado e inserido no seu respectivo recipiente.

Após coleta dos recipientes, era feita a pesagem dos resíduos em uma balança da
marca MARTE modelo LS 200, com capacidade para 200 kg, e resolução de 1g, a
balança se encontrava devidamente calibrada, e com selo INMETRO. A massa e o
volume de cada recipiente vazio eram conhecidos.
68

Figura 14 – Local de geração dos resíduos do preparo

Limpeza de
carnes

Cascas / Folhas
e Talos

Fonte: Acervo pessoal de Roberta Arlêu Teixeira (2019).

Figura 15 – Realização da inspeção visual nos resíduos

Fonte: Acervo pessoal de Roberta Arlêu Teixeira (2019).

Ao final da amostragem foi obtida uma amostra representativa (Figuras 16, 17, 18 e
19), com composição definida conforme Tabela 5. Para obtenção da amostra a ser
utilizada no experimento, partiu-se para adição de água, na proporção 2:1
(água:resíduo), em massa, este valor foi encontrado como parâmetro nos trabalhos
realizados por Silva (2014), Granzotto (2016) e Mayer (2013), que também utilizaram
digestão anaeróbia, com resíduos alimentares.
69

Tabela 5 – Composição da amostra representativa dos resíduos alimentares


gerados no restaurante

Tipo de resíduo % do total gerado no restaurante


Cascas 13,95
Folhas e Talos 16,69
Carne crua 4,62
Outros resíduos do preparo 18,32
Resto-ingestão 4,80
Balcão self-service 41,61
Total 100,00
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).

Figura 16 – Resíduo de cascas (esquerda) e de folhas e talos (direita)

Fonte: Acervo pessoal de Roberta Arlêu Teixeira (2019).


70

Figura 17 – Resíduo de carne (a) e “outros” (b)


(a) (b)

Fonte: Acervo pessoal de Roberta Arlêu Teixeira (2019).

Figura 18 – Resto-ingestão (esquerda) e resíduo da bancada self-service (direita)


(a) (b)

Fonte: Acervo pessoal de Roberta Arlêu Teixeira (2019).


71

Figura 19 – Trituração dos resíduos para composição da amostra (esquerda) e


amostra pronta (direita)

Fonte: Acervo pessoal de Roberta Arlêu Teixeira (2019).

4.3.2.3 Lodo de ETE

O lodo utilizado na pesquisa é proveniente da ETE Ulisses Guimarães (Figura 20),


situada na Rua Dom Pedro I, s/n, no bairro Ulisses Guimarães, no município de Vila
Velha – ES, com coordenadas geográficas 20º26’32”S e 40º20’41”W (WGS 84).

A ETE Ulisses Guimarães realiza o tratamento dos efluentes advindos dos bairros de
Ulisses Guimarães, 23 de Maio, João Goulart, Normília da Cunha e Terra Vermelha,
no município de Vila Velha, totalizando uma população de aproximadamente 19 mil
habitantes.

O fluxograma da ETE (Figura 21) contempla as seguintes etapas: tratamento


preliminar, reator anaeróbio de fluxo ascendente (UASB), filtro biológico aerado
submerso (FBAS), decantador secundário (DS) e sistema de desinfecção por
ultravioleta (UV). São dois conjuntos dotados de UASB+FBAS+DS que foram
dimensionados para tratamento de uma vazão média de 15 L/s cada, totalizando
30L/s.
72

Figura 20 – Localização da ETE Ulisses Guimarães

Fonte: GOOGLE EARTH (2019).

Figura 21 – Fluxograma da ETE Ulisses Guimarães

Fonte: Fornecido pela CESAN (2019).


73

Os esgotos sanitários provenientes da rede coletora passam inicialmente pela etapa


de tratamento preliminar composto por gradeamento (médio) e caixa de areia, para
remoção de sólidos grosseiros e areia. A remoção de óleos e graxas é realizada por
meio de uma caixa separadora desses.

Após o tratamento preliminar, o esgoto é encaminhado, por recalque, para o reator


UASB, onde ocorre a digestão anaeróbia do esgoto, e são removidos os sólidos em
suspensão e parte da matéria orgânica solúvel. No topo do UASB também existe uma
unidade de gradeamento fino e caixa de areia circular, com o objetivo de
complementar o tratamento preliminar.

Após o UASB, o esgoto é direcionado por gravidade ao Filtro Biológico Aerado


Submerso (FBAS), onde ocorre a remoção da matéria orgânica não digerida no UASB,
sendo por fim, direcionada ao decantador secundário (DS). O decantador secundário
promove a clarificação do efluente do FBAS que é direcionado por gravidade para a
etapa final do tratamento que compreende desinfecção por ultravioleta, a qual
promove significativa redução no número de organismos patogênicos presentes no
efluente.

Os lodos gerados na lavagem dos FBAS+DS são recirculados para o UASB com a
finalidade de promover a estabilização e adensamento. Os lodos gerados no UASB
são drenados, por descarga hidráulica, para as células do leito de secagem onde o
teor de sólidos no lodo passa de cerca de 5% para 30% após desaguamento natural.
O lodo da ETE é desaguado em leitos de secagem e posteriormente o lodo seco é
disposto em aterro sanitário.

Os gases gerados no reator anaeróbio são direcionados para um queimador de biogás


e o efluente tratado é lançado no corpo receptor denominado Canal da Draga que é
um afluente do Rio Jucu.

Para realização desta pesquisa, o lodo foi coletado da manta de lodo do Reator UASB
1, a 1,2 metros de altura (Figura 22) e encaminhado para a realização do experimento.
Antes da montagem do experimento, o lodo foi aclimatado na incubadora, a 35ºC por
24 horas.
74

Figura 22 – Coleta do lodo anaeróbio na ETE Ulisses Guimarães

Fonte: Acervo pessoal de Roberta Arlêu Teixeira (2019).

4.3.3 Caracterização dos Substratos e Inóculo

Os resíduos utilizados no estudo (borra de café doméstica e industrial, resíduos


alimentares e lodo de ETE) foram caracterizados conforme os parâmetros físico-
químicos de interesse para a digestão anaeróbia, conforme mostrado no Quadro 5.

As análises físico-químicas foram realizadas nos Laboratórios de Química e de


Monitoramento Ambiental do Ifes/Campus Vitória, com exceção das análises de NTK,
que foram realizadas em parceria com o Labsan/UFES. Todas as análises foram
realizadas em triplicata.

Quadro 5 – Parâmetros analisados nos substratos e inóculo


Parâmetro Método de análise
pH 4500 HB B (APHA, 2005)
Demanda Química de Oxigênio (DQO) 5220 D B (APHA, 2005)
Sólidos Totais (ST) 2540 B B (APHA, 2005)
Sólidos Totais Voláteis (STV) 2540 E B (APHA, 2005)
Carbono Orgânico Total (COT) Adaptado de Davies (1974)
Nitrogênio Total Kjehdal (NTK) 4500 Norg (APHA, 2005)
Fósforo Total (PTotal) 4500 P (APHA, 2005)
Alcalinidade Total (AT) 2320 B (APHA, 2005)
Alcalinidade Intermediária (AI)
Ripley, Boyle e Converse (1986)
Alcalinidade Parcial (AP)
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).
75

4.3.4 Execução do Teste BMP

Para realização do teste BMP, nas duas etapas, seguiu-se a metodologia proposta
por Owen et al. (1979) e adaptada por Holliger et al. (2016). Foi utilizado o aparato
experimental descrito no item 4.3.1.

4.3.4.1 Preparo e Caracterização dos Reatores Anaeróbios

Para o preparo dos reatores anaeróbios, foi definido que seria utilizado um volume útil
de 40% do reator, deixando 60% do seu volume, 150 mL, como headspace (Figura
23). Essa escolha foi resultado do ajuste do pré-teste, uma vez que utilizando-se o
dobro deste volume foi obtida uma quantidade muito alta de biogás, que inviabilizou
as medições.

Figura 23 – Esquema dos reatores

Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).

Para o cálculo das quantidades de resíduos e de inóculo por frasco adotou-se uma
relação resíduo/inóculo de 1 gSTVresíduo/gSTVinóculo, que foi a mais adequada conforme
a revisão de literatura (Quadro 3). Devido esta relação, o processo de digestão
desenvolvido foi do tipo úmido, uma vez que os reatores continham mais de 95% de
umidade.

Para saber o volume útil máximo a ser utilizado nos frascos, primeiro realizou-se o
cálculo do volume necessário para os frascos apenas com lodo, tendo em vista que
possuem menor teor de STV (%), e, consequentemente, seria necessária uma maior
76

quantidade de resíduo por frasco. Como os resíduos alimentares e o lodo se


encontravam bastante líquidos, e as borras de café não foram compactadas para o
experimento, estimou-se a densidade dos mesmos com auxílio de uma proveta,
obtendo, para todos os resíduos, uma densidade de 1g/cm³, ou 1g/mL.

Assim, procedeu-se o cálculo da quantidade máxima de gSTV por frasco,


considerando uma quantidade de lodo de 100g (máxima quantidade de material nos
frascos com apenas lodo), que ocuparia 100 mL do frasco. As proporções dos
substratos, inóculo e água contidos em cada frasco são mostradas nas Tabelas 6 e 7,
considerando as duas etapas do experimento.

Tabela 6 – Quantidades adicionadas (em massa) dos substratos e inóculo nos


frascos da Etapa 1
Reator Borra de café Resíduos Lodo de ETE Água
doméstica (g) Alimentares (g) (inóculo) (g) (g)

RDLODO 0,00 0,00 100,00 0,00

RD0% 0,00 4,55 50,00 45,45


RD25% 0,48 3,41 50,00 46,11
RD50% 0,95 2,28 50,00 46,77
RD75% 1,43 1,14 50,00 47,43
RD100% 1,91 0,00 50,00 48,09
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). *Nota: Os tratamentos foram realizados em
triplicata.

Tabela 7 – Quantidades adicionadas (em massa) dos substratos e inóculo nos frascos
da Etapa 2
Reator Borra de café Resíduos Lodo de ETE Água
industrial (g) Alimentares (g) (inóculo) (g) (g)

RILODO 0,00 0,00 100,00 0,00


RI0% 0,00 3,84 50,00 46,16
RI25% 0,42 2,88 50,00 46,70
RI50% 0,83 1,92 50,00 47,25
RI75% 1,25 0,95 50,00 47,80
RI100% 1,66 0,00 50,00 48,34
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). *Nota: Os tratamentos foram realizados em
triplicata.
77

O lodo utilizado como inóculo foi pré-incubado a 35ºC por 36 h, visando a


desgaseificação e a aclimatação da biomassa.

Após preenchimento dos frascos com as quantidades de substratos e inóculos


indicadas nas Tabelas 6 e 7, fez-se a adição de 0,05 g de bicarbonato de sódio
(NaHCO3) por grama de STV adicionados, em todos os reatores, visando manter o pH
nos reatores dentro da faixa adequada para a produção de biogás, e para garantir a
capacidade de tamponamento.

A quantidade de bicarbonato utilizada foi adotada a partir dos trabalhos de Griffin e


Raskin (1998), Flor (2006), Coelho (2014) e Magalhães (2018), considerando os
valores limite de toxicidade do íon sódio (Na+ ) para os microrganismos não fossem
ultrapassados: 3500-5500 mg(Na+ )/L (GRIFFIN; RASKIN, 1998; SOSNOWSKI et al.,
2003).

Em seguida, os reatores foram caracterizados de acordo com os parâmetros definidos


no Quadro 6.

Quadro 6 – Parâmetros analisados nos reatores antes do teste BMP


Parâmetro Método de análise
pH 4500 HB B (APHA, 2005)
Demanda Química de Oxigênio (DQO) 5220 D B (APHA, 2005)
Sólidos Totais (ST) 2540 B B (APHA, 2005)
Sólidos Totais Voláteis (STV) 2540 E B (APHA, 2005)
Carbono Orgânico Total (COT) Adaptado de Davies (1974)
Nitrogênio Total Kjehdal (NTK) 4500 Norg (APHA, 2005)
Fósforo Total (PTotal) 4500 P (APHA, 2005)
Alcalinidade Total (AT) 2320 B (APHA, 2005)
Alcalinidade Intermediária (AI)
Ripley, Boyle e Converse (1986)
Alcalinidade Parcial (AP)
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).

4.3.4.2 Incubação dos Reatores

Depois da montagem dos reatores, seguindo a metodologia proposta por Owen et al.
(1979) e adaptada por Holliger et al. (2016), realizou-se a expurga de oxigênio dos
reatores, com a utilização de nitrogênio gasoso, durante 2 min, a 1 psi (Figura 24).
78

Este procedimento teve como objetivo o estabelecimento de um meio anaeróbio para


o desenvolvimento dos microrganismos.

Figura 24 – Expurga do O2 com nitrogênio gasoso

Fonte: Acervo pessoal de Roberta Arlêu Teixeira (2019).

Após a expurga, os reatores foram vedados, as mangueiras de silicone conectadas


entre o frasco com água (3) e o reator (1), e o teste BMP foi iniciado (Figuras 25 e 26).
Foi colocado um pote com água no fundo da incubadora tendo em vista a saturação
do ambiente com vapor d’água, evitando a evaporação da água coletada nos frascos
tipo Erlenmeyer.

Figura 25 – Incubadora e frascos Figura 26 – Esquema para quantificação


montados no início do experimento do biogás produzido nos reatores

Fonte: Acervo pessoal de Roberta Arlêu Teixeira (2019).


79

Os frascos foram incubados a 35º C+- 1ºC, por 45 dias. Conforme mostrado na Figura
26, a medida que o biogás era produzido no reator (1), uma pressão no frasco com
água (2) foi exercida, sendo responsável pelo deslocamento da água para o frasco
Erlenmeyer (3). A medição do volume de água contido no frasco Erlenmeyer
corresponde ao volume de biogás produzido diariamente.

4.3.4.3 Monitoramento da Produção de Biogás

A produção de biogás foi medida diariamente, durante todo período dos testes (Etapa
1 e Etapa 2).

Para medição do biogás, interrompia-se a saída de gás, prendendo a mangueira


ligada ao reator e ao frasco com água com um clipe. A saída de água também era
interrompida fechando a válvula que ligava o frasco com água ao frasco Erlenmeyer.
A água contida nos frascos tipo Erlenmeyer era contabilizada com auxílio de uma
proveta (Figura 27). Após a medição, os frascos com água eram preenchidos com um
volume de 250 mL de água e reconectados aos reatores. Em seguida era retirado o
clipe da mangueira e a saída de água era reaberta.

Figura 27 – Medição do biogás produzido

Fonte: Acervo pessoal de Roberta Arlêu Teixeira (2019).

A fim de se padronizar os resultados encontrados para produção de biogás, foi


realizada a transformação do volume gerado para as condições normais de
80

temperatura e pressão (CNTP). A metodologia utilizada para esta conversão foi


adaptada de Aquino et al. (2007). Considerando a pressão atmosférica do local
onde foram realizados os experimentos, e sendo a temperatura de incubação de
35 °C (308 K), a partir da Equação 1 obtém-se o fator de correção para o
experimento nas condições de laboratório, conforme mostrado a seguir.
𝑃1 𝑥 𝑉1 𝑃2 𝑥 𝑉2
𝐿𝐴𝐵 = 𝐶𝑁𝑇𝑃 (1)
𝑇1 𝑇2

Onde:

P1 = 1 atm = Pressão do biogás produzido;


P2 = 1 atm = Pressão nas CNTP;
T1 = 308 K = Temperatura de execução do teste BMP (35ºC);
T2 = 273 K = Temperatura nas CNTP;
V1 = Volume gerado de biogás (medido na proveta);
V2 = Volume de biogás corrigido para as CNTP.

Assim, chega-se na Equação 2:

𝑉2 = 𝑉1 𝑥 0,886 (2)

4.3.4.4 Caracterização dos Reatores ao Final do Teste

Após o período do teste BMP (45 dias), os reatores foram abertos e o material contido
nos reatores (material digerido) caracterizado conforme os parâmetros definidos no
Quadro 7.
81

Quadro 7 – Parâmetros analisados nos reatores após o teste BMP


Parâmetro Método de análise
pH 4500 HB B (APHA, 2005)
Demanda Química de Oxigênio (DQO) 5220 D B (APHA, 2005)
Sólidos Totais (ST) 2540 B B (APHA, 2005)
Sólidos Totais Voláteis (STV) 2540 E B (APHA, 2005)
Carbono Orgânico Total (COT) Adaptado de Davies (1974)
Nitrogênio Total Kjehdal (NTK) 4500 Norg (APHA, 2005)
Fósforo Total (PTotal) 4500 P (APHA, 2005)
Alcalinidade Total (AT) 2320 B (APHA, 2005)
Alcalinidade Intermediária (AI) Ripley, Boyle e Converse (1986)
Alcalinidade Parcial (AP)
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).

4.3.5 Avaliação dos Resultados do Teste BMP

Após a coleta dos dados de caracterização dos substratos e inóculo, dos reatores
(antes e após o teste BMP) e da produção de biogás, procedeu-se a análise estatística
descritiva dos dados, obtendo-se a média das repetições realizadas, assim como o
desvio padrão e o coeficiente de variação. Por fim, os dados foram comparados com
literatura de forma a contribuir na avaliação do desempenho da digestão anaeróbia.

Os resultados dos testes foram submetidos ainda a uma análise estatística, por meio
da análise de variância (ANOVA) a um nível de confiabilidade de 95%, com o auxílio
do software Statistica 7.0., e ao teste de Tukey, visando identificar se os percentuais
utilizados de borra de café influenciaram no processo de digestão e na produção de
biogás.

Com os dados tratados, procedeu-se a determinação do Potencial Bioquímico de


Biogás (PBB) e de Metano (PBM) das misturas de resíduos avaliadas. O PBM foi
determinado com a utilização do balanço de massa de DQO dos reatores. Por último
foi realizado o cálculo do potencial energético do biogás produzido em cada reator.

4.3.5.1 Potencial Bioquímico de Biogás

Para a determinação do Potencial Bioquímico de Biogás (BBP) utilizou-se a


metodologia descrita por Holliger et al. (2016). Segundo esta metodologia o BBP é
dado pela divisão do volume total de biogás produzido durante a realização do teste
82

(45 dias), pela massa inicial de STV adicionada em cada reator (Equação 3). O valor
obtido é multiplicado por 𝑓 para corrigir o volume de acordo com as Condições
Normais de Temperatura e Pressão – CNTP.

𝑉𝑎𝑐𝑢𝑚𝐵𝑖𝑜𝑔á𝑠
𝐵𝐵𝑃𝑅𝑒𝑎𝑡𝑜𝑟 = [𝑓 𝑥 ( )] (3)
𝑀𝑎𝑠𝑠𝑎𝑆𝑇𝑉 𝑅𝑒𝑎𝑡𝑜𝑟

Onde:

- 𝐵𝐵𝑃𝑅𝑒𝑎𝑡𝑜𝑟 = Potencial de produção de biogás em cada reator (NLBiogás/gSTV);


- 𝑉𝑎𝑐𝑢𝑚𝐵𝑖𝑜𝑔á𝑠 = Volume total de biogás (mL) gerado nos 45 dias de experimento, em
cada reator;
- 𝑓 = Fator de correção do volume de biogás para as CNTP = 0,886 (seção 4.3.4.3);
- 𝑀𝑎𝑠𝑠𝑎𝑆𝑇𝑉𝑅𝑒𝑎𝑡𝑜𝑟 = Massa de STV adicionada por reator (g).

Como foi utilizado um inóculo nos reatores, o BBP do lodo (reator RDlodo) foi subtraído
dos obtidos nos outros reatores, de forma a evitar sua interferência no resultado.

4.3.5.2 Potencial Bioquímico de Metano

Para determinação do Potencial Bioquímico de Metano (BMP) utilizou-se o balanço


de massa de DQO do sistema, conforme metodologia descrita por Lobato,
Chernicharo e Souza (2012) e por Andreoli, Von Sperling e Fernandes (2001),
realizando uma adaptação para o teste BMP em questão.

No balanço de massa considerou-se que a DQO removida no sistema (cada reator)


foi utilizada pelos microrganismos na conversão de biogás (Figura 28), uma vez que
os resíduos utilizados no processo não apresentavam concentrações consideráveis
de sulfatos e, pelo fato das únicas saídas do sistema serem o biogás e o material
digerido presente nos reatores ao final do teste.
83

Figura 28 – Esquema do balanço de massa em termos de DQO

Fonte: Adaptado de Andreoli, Von Sperling e Fernandes (2001).

Assim a equação global do balanço de massa em termos de DQO em cada reator, é


mostrada pela Equação 4.

𝐷𝑄𝑂𝐵𝑖𝑜𝑔á𝑠 = 𝐷𝑄𝑂𝐼𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 − 𝐷𝑄𝑂𝐹𝑖𝑛𝑎𝑙 (4)

Onde:

- DQOBiogás = é a DQO convertida em Biogás;


- DQOInicial = é a DQO inicial (g/kg) contida em cada frasco;
- DQOFinal = é a DQDO (g/kg) final em cada frasco;

De acordo com Chernicharo (2010), a produção teórica de metano a partir da DQO


removida na digestão anaeróbia pode ser estimada pela Equação 5:

𝐶𝐻4 + 2𝑂2 → 𝐶𝑂2 + 2𝐻2 𝑂 (5)

(16g) + (64g) → (44g) + (36g)

Onde:

CH4 = Metano; O2 = Oxigênio; CO2 = Gás carbônico; H2O = Água.

Avaliando a Equação 5, pode-se concluir que 1 mol de metano (CH4) requer 2 moles
de oxigênio (O2) para a oxidação completa gás carbônico e água. Desta forma, cada
16 gramas de CH4 produzido correspondem à remoção de 64 gramas de DQO do
efluente.
84

A partir desta informação, Lobato, Chernicharo e Souza (2012) citam que a produção
volumétrica de metano durante o teste pode ser encontrada pela expressão mostrada
na Equação 7.

𝐷𝑄𝑂𝐶𝐻4 𝑥 𝑅 𝑥 𝑇
𝑄𝐶𝐻4 = (9)
𝑃 𝑥 𝐾𝐷𝑄𝑂

Onde:

𝑄𝐶𝐻4 = Produção volumétrica teórica máxima de metano (L.d-1);


𝐷𝑄𝑂𝐶𝐻4 = DQO convertida em metano (gDQO.d-1);
𝑃 = Pressão atmosférica (1 atm);
𝐾𝐷𝑄𝑂 = DQO correspondente a um mol de CH4 (0,064 gDQO.CH4.mol-1);
𝑅 = Constante dos gases (0,08206 atm.L.mol-1.K-1);
𝑇 = Temperatura reacional do reator (35ºC = 308K).

Após o cálculo da produção volumétrica de metano, a mesma foi multiplicada por 45,
que é o tempo de duração do teste, em dias. Como resultado, obteve-se o Volume
acumulado de metano (𝑉𝑎𝑐𝑢𝑚𝐶𝐻4 ), utilizado para calcular o Potencial Bioquímico de
Produção de Metano em cada reator por meio da Equação 8.

Após o cálculo da produção volumétrica de metano nos reatores, procedeu-se o


cálculo do Potencial de Produção de Metano utilizando a Equação 8.
𝑉𝑎𝑐𝑢𝑚𝐶𝐻4
𝐵𝑀𝑃𝑅𝑒𝑎𝑡𝑜𝑟 = [𝑓 𝑥 ( )] (8)
𝑀𝑎𝑠𝑠𝑎𝑆𝑇𝑉 𝑅𝑒𝑎𝑡𝑜𝑟

Onde:

- 𝐵𝑀𝑃𝑅𝑒𝑎𝑡𝑜𝑟 = Potencial de produção de metano em cada reator (NmLCH4 /gSTV);


- 𝑉𝑎𝑐𝑢𝑚𝐶𝐻4 = Volume total (mL) de CH4 gerado nos 45 dias de experimento, em cada
reator;
- 𝑓 = Fator de correção do volume de metano para as CNTP = 0,886 (seção 4.3.4.3);
- 𝑀𝑎𝑠𝑠𝑎𝑆𝑇𝑉𝑅𝑒𝑎𝑡𝑜𝑟 = Massa de STV adicionada por reator (g).
85

4.3.5.3 Potencial Energético da Codigestão anaeróbia

O cálculo do potencial energético da digestão anaeróbia foi realizado para todas as


misturas avaliadas, de acordo com a metodologia proposta por Lobato, Chernicharo e
Souza (2012), mostrada na Equação (9). Devido a escala desenvolvida para o BMP
neste trabalho ser pequena (não foram utilizados biodigestores em tamanho real e sim
reatores), o valor do potencial energético foi expresso por quilograma de resíduo
adicionado.

𝑃𝐸𝐶𝐻4 = 𝑄𝐶𝐻4 𝑥 𝐸𝐶𝐶𝐻4 (9)

Onde:

𝑃𝐸𝐶𝐻4 = Potencial energético disponível (MJ. kgResíduo-1.dia-1);


𝑄𝐶𝐻4 = Produção normalizada de metano (Nm3.kg-1.dia-1);
𝐸𝐶𝐶𝐻4 = Energia calorífica decorrente da combustão do metano (35,9 MJ/Nm 3)
(PAGLIUSO; REGATTIERI, 2008).

Afim de comparar o potencial energético disponível com o consumo médio de energia


elétrica por habitante foi realizada a conversão de unidades, conforme Equação (10).

( 𝑃𝐸𝐶𝐻4 𝑥 103 )
𝐸𝐶𝐻4 = (10)
86400

Onde:

𝐸𝐶𝐻4 = Energia elétrica produzida (kWh. kgResíduo-1.d-¹);


𝑃𝐸𝐶𝐻4 = Potencial energético disponível (MJ. kgResíduo-1.d-1);

Foi considerado 1 dia como tempo de operação da planta de digestão.


86

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 CARACTERIZAÇÃO DOS RESÍDUOS E INÓCULO

5.1.1 Etapa 1

Os resultados obtidos com a caracterização físico-química dos substratos (borra de


café doméstica e resíduos alimentares) e do inóculo utilizados na Etapa 1 são
mostrados na Tabela 8. São apresentados os valores médios obtidos nas triplicatas,
com o desvio-padrão. Todos os dados foram validados estatisticamente,
apresentando coeficiente de variação abaixo de 0,5%.

Tabela 8 – Resultados da caracterização físico-química dos resíduos e inóculo


utilizados na Etapa 1
Parâmetros Borra de café Resíduos
Lodo de ETE
avaliados doméstica alimentares

pH 6,0 - 5,4 - 7,1 -


Umidade (%) 64,100 ± 0,110 86,900 ± 0,050 97,960 ± 0,006
ST (%) 35,900 ± 0,110 13,100 ± 0,050 2,040 ± 0,006
ST (g/kg) 358,970 ± 1,080 131,040 ± 0,630 20,360 ± 0,060
STV (g/kg) 293,590 ± 1,170 123,130 ± 0,540 11,200 ± 0,030
STV/ST 0,820 - 0,940 - 0,550 -
DQO (g/kg) 83,200 ± 0,350 107,200 ± 0,420 35,500 ± 0,090
COT (g/kg) 76,270 ± 0,850 61,470 ± 0,180 2,900 ± 0,013
1
C (% M.S. ) 21,250 - 46,910 - 22,330 -
NTK (g/kg) 2,300 ± 0,010 3,500 ± 0,010 0,170 ²
N (% M.S.1) 0,642 - 2,670 - 1,308 -
C:N 33:1 - 18:1 - 17:1 -
PTotal (g/kg) 0,400 ± 0,001 0,970 ± 0,001 0,160 ± 0,001
1
PTotal (% M.S. ) 0,110 - 0,740 - 1,230 -
C:N:P 189:6:1 - 63:4:1 - 18:1:1 -
Alcalinidade Total 300,0 ± 0,100 675,0 ± 0,150 1100,0 ± 1,650
(mgCaCO3.L-1)
AI/AP³ 0,5 - - - 0,10 -
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).
Nota¹: % Massa Seca.
Nota²: O desvio padrão para o parâmetro NTK do lodo de ETE foi menor que 0,001, com CV < 0,5%.
Nota ³: A Alcalinidade Parcial (devido a formação de bicarbonato) dos resíduos alimentares encontrada
foi nula, devido o pH inicial ser inferior a 5,75, pelo método de Ripley, Boyle e Converse (1986).
87

Avaliando os resultados da caracterização da borra de café doméstica, verifica-se que


esta possui pH ácido (6,0), dentro da faixa descrita pela literatura (4,5 a 6,3) (DAI et
al., 2019; GIROTTO; LAVAGNOLO; PIVATO, 2018), porém fora da faixa ideal para o
desenvolvimento das arqueas metanogênicas (6,3 a 7,8), o que indica a importância
da codigestão e da utilização de um inóculo adequado, conforme apresentado nos
estudos de Lane (1983), Rynk et al. (1992), Wu et al. (2010), Sawatdeenarunat et al.
(2015) e Kim et al. (2017).

Os teores de ST, STV e da relação STV/ST também foram semelhantes aos


apresentados na literatura, sendo encontrados valores de ST entre 35 e 92%, e de
STV de 80 a 98% (CABRAL; MORIS, 2010; GIROTTO; LAVAGNOLO; PIVATO, 2018;
LI; STREZOV; KAN, 2014; VITEZ et al., 2016). Avaliando a relação STV/ST da borra
de café doméstica, verifica-se que a mesma foi superior a 0,7, o que indica uma
tendência de fácil biodegradação e, consequentemente, um alto potencial
biometanogênico deste substrato (RAPOSO et al., 2011b).

A DQO da borra de café doméstica permaneceu dentro da faixa encontrada nos


trabalhos para este tipo de borra, variando de 21 g/kg a 379,5 g/kg (KIM; KIM; LEE,
2018; LI et al., 2015). Porém, as concentrações de COT e NTK foram inferiores as
encontradas nos trabalhos de Girotto, Lavagnolo e Pivatto (2018), Kim et al. (2017),
Kim, Kim e Lee (2017) Luz et al. (2017) conforme visto na Tabela 1.

Alguns estudos apresentam valores de NTK entre 23,3 e 34 g/kg, correspondendo em


torno de 1,5 a 3,4% da matéria seca da borra de café. Já a concentração de COT, por
sua vez, varia de 148 a 266,4 g/kg (32 a 71,6% da matéria seca) (CAETANO et al.,
2014; KIM et al., 2017; KIM; KIM; LEE, 2017; LUZ et al., 2017a; VITEZ et al., 2016).

No entanto, concentrações de NTK semelhantes as desta pesquisa foram obtidas por


Santos (2009) e Caldeira (2015), que estudaram formas de secagem da borra de café
e valorização da borra de café para produção de biodiesel, respectivamente. Em suas
pesquisas, os autores obtiveram valores de NTK da ordem de 2,0 g/kg,
correspondendo a um teor abaixo de 1% em massa seca. Já os valores de COT
obtidos nesta pesquisa se aproximam aos da pesquisa de Vitez et al. (2016), que
encontraram um teor de 32% de COT (M.S.).
88

Apesar da variabilidade dos valores de COT e NTK encontrados na literatura e obtidos


neste trabalho, a relação C/N permanece entre 17:1 e 35:1, dentro da faixa
apresentada na literatura (Tabela 1). Assim, provavelmente as variações encontradas
para COT, NTK e DQO se deram por diferenças na composição dos cafés originários
das borras estudadas.

O conteúdo de fósforo total presente na borra doméstica deste trabalho também foi
inferior à faixa encontrada na literatura. Os trabalhos de H’ng et al. (2018) e Marinho
(2014) apresentam uma concentração de fósforo de 1,2 a 7,2 g/kg, enquanto nesta
pesquisa a concentração obtida foi de 0,4 g/kg.

A relação C:N obtida para a borra doméstica se apresentou acima do requerido para
o bom desempenho da digestão anaeróbia (C:N de 20 a 30:1), demonstrando um
déficit de nitrogênio no meio. De forma similar, a relação C:N:P, que deveria estar
entre 125:7:1 e 350:7:1 (CHERNICHARO, 2010; DEUBLEIN; STEINHAUSER, 2011),
apresentou-se ligeiramente inferior ao requerido (189:6:1), em razão da baixa
concentração de nitrogênio na borra de café. Desta forma, infere-se que para alcançar
uma melhor disponibilidade de nutrientes para os microrganismos atuantes na
digestão anaeróbia, seja necessária a mistura da borra de café com outros substratos
com maiores teores de nitrogênio e fósforo, como lodo de ETE e resíduos alimentares.

Ainda foi avaliada a alcalinidade da borra de café, porém apesar desta ser um
parâmetro importante para a digestão anaeróbia, não foram encontrados valores
correspondentes na literatura. Comparando os resultados da alcalinidade com os
valores requeridos para a digestão anaeróbia, infere-se que a borra doméstica
necessita de uma complementação deste parâmetro, de forma a tornar a alcalinidade
total próxima a 1500 mgCaCO3.L-1, e a relação AI/AP entre 0,30 e 0,40, o que pode
ser alcançado com o uso de cossubstratos e inóculos, além da solução tampão
(DEUBLEIN; STEINHAUSER, 2011; LILI et al., 2011; RIPLEY; BOYLE; CONVERSE,
1986;).

Com relação aos resíduos alimentares, verifica-se que as características são


semelhantes às contidas nos trabalhos avaliados, conforme pode ser visto na Tabela
9. O pH obtido para os resíduos alimentares da Etapa 1 (5,4) se encontra dentro dos
89

valores reportados na literatura (Tabela 9), que variam de 4,7 a 6,5, mas, fora da faixa
ideal de pH para a digestão anaeróbia (6,3 – 7,8) (CHERNICHARO, 2010).

Tabela 9 – Características dos resíduos alimentares encontradas na literatura

ZHANG; CHEN;
GRANZOTTO GUERI LEEB; ZHANG;
Parâmetro LOS (2016)
(2016) (2016) JAHNGA WANG
(2011) (2015)
pH 5,3 - 6,4 6,0 4,7 6,5 5,2

ST (g/kg) 146,95 - 321,43 152,8 175,50 181,00 26,00


STV (g/kg) 127,78 - 299,75 129,88 164,62 170,14 24,96
STV/ST 0,86 - 0,93 0,85 0,93 0,94 0,96
DQO (g/kg) 189 - 341 - 190,06 - -
COT (% M.S.) 50,22 44,40 45,60 46,67 -

NTK (% M.S.) 1,09 2,36 1,99 3,54 -


C:N 46:1 19:1 23:1 13:1 -
Alcalinidade
825,00
Total - - - -
(mgCaCO3.L-1)

AI/AP¹ - - - - -
Fonte: Adaptado de Chen, Zhang e Wang (2016), Granzotto (2016), Gueri (2016), Los (2016) e Zhang,
Leeb e Jahnga (2011).
Nota¹: A Alcalinidade Parcial (devido a formação de bicarbonato) dos resíduos alimentares encontrada
por Chen, Zhang e Wang (2015) foi nula, devido o pH inicial ser inferior a 5,75, pelo método de Ripley,
Boyle; Converse (1986).

Considerando o teor de ST e STV dos resíduos alimentares estudados, estes foram


ligeiramente inferiores a maior parte dos valores apresentados na Tabela 9,
provavelmente devido ao fator de diluição adotado neste trabalho (1:2). No entanto,
resultados obtidos foram semelhantes aos encontrados por Silva (2014), que realizou
a mesma diluição utilizada neste trabalho, e uma coleta semelhante na fonte de
geração. A relação STV/ST também foi superior a 0,7, confirmando a tendência a
biodegradabilidade dos resíduos.

A DQO dos resíduos alimentares apresentou-se inferior à maior parte dos trabalhos
apresentados na Tabela 9, sendo semelhante ao valor obtido por Silva (2014),
indicando que a forma de obtenção dos resíduos teve influência nas suas
características.
90

A relação C:N, por sua vez, se apresentou dentro da faixa mostrada na Tabela 9. No
entanto, assim como para a borra de café doméstica, também não foram encontrados
trabalhos que apresentasse valores da relação C:N:P para os resíduos alimentares.
A partir dos resultados encontrados, verifica-se que as concentrações de nitrogênio e
fósforo são superiores nos resíduos alimentares do que na borra de café, o que pode
contribuir para um maior equilíbrio de nutrientes para a digestão anaeróbia.

Quanto à alcalinidade total dos resíduos alimentares, percebe-se que esta não é uma
característica levantada com frequência nos trabalhos, apesar de sua importância, e
que os resultados obtidos nos diferentes trabalhos possuem uma grande variabilidade.

Dentre os trabalhos estudados, Chen, Zhang e Wang (2015) apresentaram um valor


de alcalinidade total de sua amostra de resíduos alimentares semelhante a encontrada
neste trabalho. Assim como no presente trabalho, a alcalinidade encontrada pelos
autores é correspondente apenas aos ácidos voláteis (pelo pH dos resíduos ser
inferior a 5,75), o que indica que a relação AI/AP estava acima da requerida para um
bom desempenho da digestão anaeróbia (0,40), assim como nesta pesquisa (RIPLEY;
BOYLE; CONVERSE, 1986).

Com relação ao lodo de ETE utilizado na Etapa 1, sua caracterização foi bastante
semelhante ao encontrado na literatura (Tabelas 10 e 11). Pode-se verificar, pela
Tabela 10, que o lodo utilizado é classificado como um lodo secundário anaeróbio, o
que é confirmado pela sua origem (Reator tipo UASB).

O pH do lodo da Etapa 1 foi considerado um pH neutro, se encontrando dentro da


faixa ideal para o desenvolvimento da digestão anaeróbia (CHERNICARO, 2010). Os
valores de ST, STV e STV/ST se mostraram dentro da faixa encontrada na literatura
(Tabela 11), sendo verificado que o lodo se encontrava estabilizado (STV/ST <0,7),
ou seja, com baixa quantidade de matéria orgânica putrescível, mas com uma alta
quantidade de biomassa, propícia à degradação dos substratos utilizados
(ANDREOLI; VON SPERLING; FERNANDES, 2001).
91

Tabela 10 – Valores de ST e da relação STV/ST para diversos tipos de lodo


% Sólidos
Tipo de lodo Relação STV/ST
Totais
Lodo primário 0,75 - 0,8 2,0 - 6,0
Lodo secundário anaeróbio 0,55 - 0,6 3,0 - 6,0
Lodo secundário aeróbio (LA CONV.) 0,75 - 0,8 0,6 - 1,0
Lodo secundário aeróbio (AER. PROLONG.) 0,65 - 0,7 0,8 - 1,2

Lodo de lagoa de estabilização 0,35 - 0,55 5,0 – 20


Lodo primário adensado 0,75 - 0,8 4,0 - 8,0
Lodo secundário adensado (LA CONV.) 0,75 - 0,8 2,0 - 7,0
Lodo secundário adensado (AER. PROLONG.) 0,65 - 0,7 2,0 - 6,0

Lodo misto adensado 0,75 - 0,8 3,0 - 8,0


Lodo misto digerido 0,60 - 0,65 3,0 - 6,0
Lodo desaguado 0,60 - 0,65 20 – 40
Fonte: Adaptado de Andreoli, Von Sperling e Fernandes (2001).

Tabela 11 – Características do lodo de UASB utilizadas como inóculo em diferentes


trabalhos
IZUMI
CABBAI et GADELHA HALLAM VILELA
Parâmetro et al.
al. (2013) (2005) (2016) (2015)
(2010)
pH 7,2 7,3 6,3 7,7 7,5
ST (g/kg) 22,20 22,00 100,00 29,00 53,39
STV (g/kg) 11,10 8,00 51,00 19,14 36,90
STV/ST 0,50 0,37 0,51 0,66 0,69
DQO (g/kg) 16,83 18,00 - 19,10 89,60
COT (% M.S.) 27,77 31,32 - 32,40 73,40
NTK (% M.S.) 3,10 4,31 - 5,60 2,59
C:N 9:1 7:1 - 6:1 33:1
P (% M.S.) 1,36 0,2 - - -
C:N:P 20:2:1 157:22:1 - - -
Alcalinidade Total - 11.500,00 864,68 - -
-1
(mgCaCO3.L )
AI/AP¹ - 0,50 0,13 - -

Fonte: Adaptado de Cabbai et al. (2013), Gadelha (2005), Hallam (2016), Izumi et al. (2010) e Vilela
(2015).
Nota¹: AI/AP: Alcalinidade Intermediária/Alcalinidade Parcial.
92

Ruan et al. (2017) avaliando a influência da relação STV/ST do inóculo (lodo de UASB)
na produção de metano a partir da digestão anaeróbia de resíduos alimentares
obtiveram uma produção máxima com uma relação STV/ST de 0,55, próxima a
encontrada no lodo da Etapa 1, o que demonstra que o lodo utilizado é considerado
adequado para o desenvolvimento da pesquisa.

A DQO do lodo foi semelhante à encontrada nos trabalhos de Cabbai et al. (2013),
Gadelha (2005) e Izumi et al. (2010), e corrobora com os resultados da relação
STV/ST, indicando que o lodo apresentava menor quantidade de matéria orgânica que
os substratos, estando estabilizado.

A relação C:N do lodo, no entanto, se apresentou ligeiramente superior aos trabalhos


de Cabbai et al. (2013), Gadelha (2005) e Izumi et al. (2010), porém, dentro da faixa
encontrada na literatura (Tabela 11). Devido a borra de café apresentar uma relação
C:N acima do recomendado pela digestão anaeróbia (33:1), os resíduos alimentares,
junto com o lodo de ETE podem atuar no balanceamento desta relação, uma vez que
possuíram relações C:N de 18:1 e 17:1, respectivamente.

Quanto à relação C:N:P obtida para o lodo da Etapa 1, esta foi inferior a encontrada
nos trabalhos mostrados na Tabela 11, e ao recomendado para a digestão anaeróbia.
Apesar disso, infere-se que esta característica possa auxiliar no balanceamento geral
da relação C:N:P nos reatores estudados.

Os valores obtidos para a alcalinidade total e da relação AI/AP do lodo da Etapa 1


estão dentro da faixa encontrada na literatura (Tabela 11), porém, fora da faixa ideal
para o desenvolvimento da digestão anaeróbia, o que indica a necessidade de adição
de uma solução tampão no sistema, realizada na montagem dos reatores. Esta
compensação de alcalinidade foi realizada em todos os trabalhos descritos na Tabela
11, mesmo os que não realizaram a determinação da alcalinidade do lodo.

5.1.2 Etapa 2

Os resultados obtidos com a caracterização físico-química dos substratos (borra de


café industrial e resíduos alimentares) e do inóculo utilizados na Etapa 2 são
mostrados na Tabela 12. Assim como na Etapa 1, são apresentados os valores
93

médios obtidos nas triplicatas, com o desvio-padrão. Todos os dados foram validados
estatisticamente, apresentando coeficiente de variação abaixo de 0,5%.

Tabela 12 – Resultados da caracterização físico-química dos resíduos e inóculo


utilizados na Etapa 2
Parâmetros Borra de café Resíduos
Lodo de ETE
avaliados industrial alimentares

pH 6,6 - 6,5 - 7,0 -


Umidade (%) 64,740 ± 0,080 83,95 ± 0,070 97,800 ± 0,003
ST (%) 35,260 ± 0,080 16,05 ± 0,070 2,200 ± 0,003
ST (g/kg) 352,560 ± 1,100 160,49 ± 0,776 22,00 ± 0,013
STV (g/kg) 351,230 ± 1,084 151,90 ± 0,730 11,66 ± 0,008
STV/ST 0,990 - 0,94 - 0,530 -
DQO (g/kg) 107,900 ± 0,530 263,40 ± 1,290 22,600 ± 0,212
COT (g/kg) 69,870 ± 0,340 42,980 ± 0,120 1,600 ± 0,006
1
C (% M.S. ) 19,820 - 26,780 - 22,340 -
NTK (g/kg) 0,950 ± 0,001 3,500 ± 0,001 0,200 ²
N (% M.S.1) 0,270 - 2,180 - 2,790 -
C:N 74:1 - 12:1 - 8:1 -
PTotal (g/kg) 0,020 ± 0,001 0,360 ± 0,001 0,270 ± 0,001
PTotal (% M.S.1) 0,004 - 0,220 - 3,770 -
C:N:P 4508:61:1 - 119:10:1 - 6:1:1 -
Alcalinidade Total 900,00 ± 0,120 815,00 ± 0,160 1005,00 ± 1,450
(mgCaCO3.L-1)
AI/AP³ 0,40 - 0,8 - 0,12 -
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).
Nota¹: % Massa Seca.
Nota²: O desvio padrão para o parâmetro NTK do lodo de ETE foi menor que 0,001, com CV < 0,5%.

De acordo com a Tabela 12, verifica-se que o pH da borra de café industrial se mostrou
ligeiramente acima do descrito na literatura (Tabela 1), e superior ao da borra
doméstica (Tabela 8). No entanto, o valor obtido para a borra industrial (6,6), está
dentro da faixa ideal para a digestão anaeróbia, e para o desenvolvimento das arqueas
metanogênicas.

O teor de umidade e a concentração de sólidos totais da borra de café industrial


também foram bastante semelhantes à borra de café doméstica, estando dentro da
94

faixa descrita na literatura (Tabela 1), o que indica que estes parâmetros geralmente
se mantêm uniformes de acordo com o tipo de borra gerado.

No entanto, a concentração de sólidos totais voláteis (STV) na borra industrial foi


superior à encontrada na doméstica, obtendo-se uma relação STV/ST de 0,99 para a
primeira, enquanto para a borra doméstica esta relação ficou em 0,82. Isto indica que
a borra industrial possui maior teor de matéria orgânica do que a doméstica, o que
pode ser confirmado pelos valores de DQO para a borra industrial, superiores aos da
borra doméstica da Etapa 1.

Os valores de STV da borra industrial desta pesquisa foram semelhantes aos obtidos
por Kostenberg e Marchaim (1993), que encontraram um teor de STV de 99,46% para
a borra oriunda do processamento do café solúvel, em uma fábrica em Israel, e por
Qiao et al. (2015), com 99,1% de STV para a borra proveniente de uma fábrica de
café solúvel no Japão. No entanto, os valores de DQO obtidos por Qiao et al. (2015),
foram muito superiores ao descrito nesta pesquisa, chegando a um valor de 555
gDQO/kgBorra.

Neves, Oliveira e Alves (2006), estudando a borra industrial gerada em uma fábrica
de Portugal, encontraram valores de STV/ST próximos aos desta pesquisa (0,97), com
concentrações de DQO semelhantes (111 gDQO/kgBorra), apesar da borra estudada
pelos autores se encontrar mais úmida do que a desta pesquisa, com 22% de ST.

A relação C/N da borra de café industrial se situou ligeiramente acima da faixa


determinada pela literatura, que varia de 17:1 a 57:1 (BALLESTEROS; TEIXEIRA;
MUSSATTO, 2014; PUJOL et al.; 2013, QIAO et al., 2015). A diferença entre o valor
obtido e os encontrados na literatura ocorreu provavelmente devido à baixa
concentração de nitrogênio encontrada na borra de café industrial, uma vez que o teor
de carbono se encontra dentro da faixa mostrada na Tabela 1. Ressalta-se que a baixa
concentração de nitrogênio também foi percebida na borra de café doméstica,
mostrada no item anterior, indicando que pode ser uma característica do café utilizado.

A concentração de fósforo de apenas 0,02 g/kg, encontrada na borra industrial


resultou em um desbalanceamento na relação C:N:P, com valores muito acima da
faixa determinada para o bom desempenho da digestão anaeróbia. Esta relação foi
95

ainda superior a relação C:N:P obtida para a borra doméstica, que também
apresentou baixo teor de fósforo.

Pelos baixos teores de nitrogênio e fósforos encontrados na borra industrial, as


relações C:N e C:N:P se apresentaram bem acima da requerida para um bom
desempenho da digestão anaeróbia, indicando a necessidade da codigestão e da
utilização de inóculos com maiores teores de nitrogênio em sua composição, assim
como foi discutido acima, para a borra doméstica (Etapa 1).

Apesar da alcalinidade total da borra industrial ser superior à apresentada pela borra
doméstica, o valor obtido foi inferior ao requerido para a digestão anaeróbia (1500
mgCaCO3.L-1). No entanto, a relação AI/AP da borra industrial apresentou resultados
favoráveis, sendo equivalente a 0,40 (LILI et al.; 2011), o que pode contribuir para um
melhor desempenho na degradação da matéria orgânica e na produção de
biogás/metano, quando estabelecido o processo de digestão anaeróbia.

Comparando os resíduos alimentares e o lodo de ETE utilizados nas etapas 1 e 2,


verifica-se que mesmo sendo mantido um padrão para obtenção dos resíduos, que
foram coletados no mesmo local nas duas etapas, houve variações com relação aos
parâmetros analisados. Infere-se que estas diferenças foram ocasionadas por
flutuações no cardápio do restaurante, do qual os resíduos alimentares foram obtidos,
e nas características do esgoto recebido na ETE Ulisses Guimarães, que forneceu o
lodo do UASB.

Para os resíduos alimentares foram verificadas diferenças nos parâmetros pH, DQO,
e nas concentrações de COT e NTK. O pH na Etapa 1 foi considerado levemente
ácido (5,4), no entanto, na Etapa 2, o pH obtido foi de 6,5, dentro da faixa ideal para
o desenvolvimento das arqueas metanogênicas (6,3 a 7,8) (Tabela 9).

A DQO obtida na Etapa 2 foi praticamente o dobro da obtida na Etapa 1,


provavelmente devido à contribuição de alimentos com maior carga orgânica. Apesar
das quantidades e tipos de alimentos utilizados na composição da amostra serem as
mesmas para as duas etapas, pode ter ocorrido dos resíduos gerados após preparo
dos alimentos na Etapa 2 possuírem mais carga orgânica que os da Etapa 1. No
entanto, apesar desta diferença, a DQO dos resíduos alimentares na Etapa 2 também
está dentro da faixa determinada pela literatura (Tabela 11).
96

Com relação aos teores de ST e STV, os resíduos alimentares na Etapa 2


apresentaram valores superiores aos da Etapa 1, estando dentro da faixa encontrada
na literatura (Tabela 9), apesar de ser realizada a mesma diluição da Etapa 1.

A concentração de COT nos resíduos alimentares da Etapa 2 foi inferior à obtida na


Etapa 1, e como a concentração de NTK permaneceu a mesma, a relação C:N teve
um decréscimo na segunda Etapa. Este decréscimo propiciou uma relação C:N de
12:1, que pode equilibrar o balanceamento de nutrientes na codigestão, uma vez que
foi encontrada uma alta relação C:N para a borra de café industrial.

No entanto, houve um decréscimo na concentração de fósforo nos resíduos


alimentares, que teve uma redução de quase 70% na 2ª Etapa, o que resultou na
relação C:N:P de 119:10:1. Assim mesmo que se tenha um melhor balanceamento
para a relação C:N, vale ressaltar que a baixa concentração de fósforo pode impactar
engativamente no desempenho da digestão anaeróbia, uma vez que a relação C:N:P
obtida para a borra industrial, encontrou-se muito acima do recomendado para a
digestão anaeróbia.

Quanto à alcalinidade total e à relação AI/AP foram percebidas diferenças entre os


resíduos alimentares das duas etapas. A alcalinidade total dos resíduos alimentares
da Etapa 2 foi superior à obtida na Etapa 1, assim como o pH dos resíduos.
Provavelmente esta diferença foi causada por algum item adicionado na mistura de
resíduos alimentares na Etapa 1, que diminuiu a alcalinidade e o pH. No entanto,
apesar da relação AI/AP obtida na Etapa 2 ser inferior a Etapa 1, ainda é considerada
acima do limite para o bom desempenho da digestão anaeróbia, podendo provocar
desequilíbrios.

Avaliando o lodo utilizado na Etapa 2, verifica-se diferenças principalmente de acordo


com a relação C:N. Um ponto interessante é que a umidade e o teor de sólidos voláteis
do lodo permaneceram semelhantes, o que auxiliou na montagem do experimento,
garantindo-se uma concentração de sólidos voláteis semelhante para as duas etapas
do experimento.

A relação STV/ST obtida para o lodo da Etapa 2 foi bastante próxima à da etapa 1.
No entanto, ligeiramente inferior à faixa de classificação determinada para lodo
secundário anaeróbio (Tabela 10). Apesar disto, o lodo também deve ser classificado
97

quanto à origem, no caso de um reator UASB, sendo também considerado um lodo


secundário anaeróbio, estabilizado (STV/ST <0,7), conforme Andreoli, Von Sperling e
Fernandes (2001).

A DQO do lodo da Etapa 2 também se situou dentro da faixa encontrada na literatura


(Tabela 11), porém inferior à obtida na Etapa 1. No entanto, percebe-se uma alteração
na relação C:N, provavelmente devido a flutuações do sistema, uma vez que na Etapa
1 o lodo possuía relação C:N de 17:1, passando a 8:1, na Etapa 2. Este fator pode ser
benéfico para a digestão anaeróbia da borra de café industrial, uma vez que a mesma
apresenta uma relação C:N superior ao recomendado.

Quanto aos valores de alcalinidade total e da relação AI/AP do lodo, estes


permaneceram praticamente constantes nas duas etapas.

Após a avaliação dos substratos e inóculos utilizados nas duas etapas do


experimento, verifica-se que a borra de café doméstica, apesar de apresentar pH e
relação STV/ST inferiores a borra de café industrial, possui um melhor balanceamento
de nutrientes (C:N:P), o que pode contribuir para um melhor desempenho na digestão
anaeróbia. No entanto, é preciso avaliar o comportamento da mistura de resíduos, e,
o desempenho dos reatores anaeróbios na produção de biogás, que será discutido no
próximo item.
98

5.2 PROTOCOLO PARA ANÁLISE DE BMP DE RESÍDUOS ORGÂNICOS

Com a realização da pesquisa bibliográfica no contexto deste trabalho, verificou-se


que não existe um protocolo oficial para o teste do Potencial Bioquímico de Metano
(Teste BMP). Ainda, não foram encontrados na literatura, dados sobre os parâmetros
considerados para realização do teste com os substratos utilizados neste
experimento, nem uma padronização com relação ao aparato experimental.

A norma ISO 11734 (ISO, 1995) apresenta um escopo para a execução do ensaio
BMP de resíduos orgânicos utilizando lodo proveniente do tratamento de efluentes ou
resíduos como inóculo. No entanto, esta norma não trata dos parâmetros operacionais
a serem seguidos no teste. Tendo em vista a existência de grande variabilidade em
relação as características dos substratos orgânicos, que influenciam nas condições
de execução do teste BMP, são necessários estudos envolvendo as melhores
condições para o desenvolvimento do teste a partir dos diferentes tipos de resíduos.

Apesar da literatura apresentar vários estudos envolvendo o a digestão anaeróbia de


resíduos de café, existem muitas divergências com relação as condições de
realização do teste, como o aparato experimental, a razão Resíduo:Inóculo a ser
utilizada, a concentração de Sólidos Totais Voláteis por frasco, pH, unidades utilizadas
para quantificação do Potencial Bioquímico de Produção de Metano, dentre outas.

Desta forma, foi elaborado um protocolo com o objetivo de oferecer uma padronização
a execução de teste BMP a partir da digestão anaeróbia de borras de café (doméstica
e industrial) e resíduos alimentares, com o objetivo principal de orientar futuros
estudos sobre o tema.

Para elaboração do protocolo foram realizados estudos envolvendo a digestão


anaeróbia dos resíduos alimentares e da borra de café, visando identificar os
parâmetros que forneciam condições adequadas para realização do teste, conforme
a norma ISO 11734 (ISO, 1995), e seguindo as recomendações de Holliger et al.
(2016), que apresentam diretrizes para execução de testes BMP.

O protocolo proposto é mostrado no Apêndice A.


99

5.3 PRODUÇÃO DE BIOGÁS E DE METANO

5.3.1 Potencial Bioquímico de Biogás (BBP) e de Metano (BMP)

Os resultados da produção de biogás e metano nos reatores das etapas 1 e 2 são


mostrados nas Figuras 29, 30, 31 e 32. Após a realização da ANOVA, verificou-se que
todas as porcentagens de borra de café utilizadas nos reatores foram significativas
para a produção de biogás e de metano (Tabela 13), assim, procedeu-se a realização
do teste de Tukey, cujo resultado é mostrado nas Tabelas 14 e 15, junto com os
valores encontrados de BBP e BMP nos reatores avaliados.

Tabela 13 – Resultado da ANOVA para o Potencial Bioquímico de Biogás (BBP) e


de Metano (BMP) obtido nas Etapas 1 e 2
Etapa

Soma dos Grau de Valor p-


Parâmetro Variância Significância
quadrados liberdade de F valor

BBP (NmL/
1513764 5 302753 3024,5 0,000 SIM
gSTV)
1
BMP (NmL/
706011 5 141202 5595,0 0,000 SIM
gSTV)
BBP (NmL/
2016378 5 403276 2593,5 0,000 SIM
gSTV)
2
BMP (NmL/
777276 5 155455 3354,1 0,000 SIM
gSTV)
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).

Tabela 14 – Potencial Bioquímico de Biogás nas Etapas 1 e 2

Reator Etapa 1 BBP (NmL/gSTV)¹ Reator Etapa 2 BBP (NmL/gSTV)¹

RDLODO 231,45 ± 0,96 (a) RILODO 203,04 ± 0,91 (f)


RD0% 317,14 ± 0,99 (b) RI0% 589,80 ± 0,14 (e)

RD25% 629,00 ± 0,33 (c) RI25% 676,90 ± 0,23 (g)

RD50% 298,50 ± 0,76 (d) RI50% 330,26 ± 0,56 (b)

RD75% 571,03 ± 1,01 (e) RI75% 393,92 ± 0,71 (h)

RD100% 186,62 ± 0,21 (f) RI100% 137,26 ± 0,67 (i)


Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). Nota¹: O Potencial bioquímico de biogás/metano foi expresso
em termos da massa de STV adicionada nos reatores (substrato).
100

Tabela 15 – Potencial Bioquímico de Metano nas Etapas 1 e 2


Reator BMP % CH4 no Reator BMP % CH4 no
Etapa 1 (NmLCH4/gSTV)¹ Biogás Etapa 2 (NmLCH4/gSTV)¹ Biogás

RDLODO 77,51 ± 0,51 (a) 34% RILODO 74,44 ± 0,46 (a) 37%

RD0% 135,42 ± 0,59 (b) 43% RI0% 311,87 ± 1,20 (g) 53%

RD25% 344,99 ± 1,08 (c) 55% RI25% 350,82 ± 1,33 (h) 52%

RD50% 131,34 ± 0,48 (d) 44% RI50% 139,97 ± 0,65 (b) 42%

RD75% 300,59 ± 0,95 (e) 53% RI75% 188,20 ± 1,01 (i) 48%

RD100% 60,09 ± 0,15 (f) 40% RI100% 57,82 ± 0,21 (f) 42%
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). Nota¹: O Potencial bioquímico de biogás/metano foi
expresso em termos da massa de STV adicionada nos reatores (substrato).
101

Figura 29 – Potencial de Produção de Biogás dos reatores da Figura 30 – Potencial de Produção de Metano dos reatores da
Etapa 1 (Borra Doméstica) Etapa 1 (Borra doméstica)

Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).

Figura 31 – Potencial de Produção de Biogás dos reatores da Figura 32 – Potencial de Produção de Metano dos reatores da
Etapa 2 (Borra Industrial) Etapa 2 (Borra Industrial)

Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).
102

De acordo com os resultados apresentados nas Tabelas 14 e 15, pode-se perceber


que os resíduos alimentares apresentaram diferenças com relação ao Potencial de
Produção de Biogás/Metano nas duas etapas, mesmo com o cuidado para manter
uma amostra representativa dos resíduos alimentares gerados no restaurante.

Os reatores que tinham apenas resíduos alimentares (RD0%), na Etapa 1,


apresentaram um BMP abaixo do citado na literatura (221 a 873 NmLCH4/gSTVadic),
como mostrado na Tabela 4. Diferente da Etapa 2, que teve o reator RI0% como
segundo maior resultado da produção de metano, e manteve a produção de biogás/
metano dentro da faixa apresentada na literatura.

Este fato demonstra que a amostra dos resíduos alimentares da Etapa 1 não estava
totalmente adaptada às condições da digestão anaeróbia, ou continha algum
composto inibidor. Esta hipótese pode ser ancorada nas diferenças observadas na
caracterização dos resíduos alimentares das duas etapas, com relação ao pH (ácido),
a relação C:N (12:1), e a DQO, superior à obtida nos resíduos alimentares da Etapa
1. Ressalta-se que mesmo realizando a correção do pH e da alcalinidade para todas
as amostras, alguma inibição pode ter sido responsável pela baixa produção de biogás
e metano no reator.

A produção de biogás/metano verificada nos reatores que continham somente Lodo


(RLODO), apresentou-se, em ambas etapas, dentro da faixa de 29 a 183,11
NmLCH4/gSTVadic, relatada na literatura para o BMP de lodos de UASB (ASSIS, 2017;
ALVES, 2016). Pode-se afirmar ainda, que o inóculo se encontrava adequado para o
ensaio BMP, uma vez que nas duas etapas apresentou um BMP próximo a 25% do
maior BMP obtido em cada etapa (HOLLIGER et al., 2016).

Com relação aos reatores que continham borra de café, verificou-se que para na Etapa
1, os melhores resultados foram obtidos para os reatores com 25% e 75% de borra
de café doméstica (RD25% e RD75%), com um BMP de 344,99 e 300,59
NmLCH4/gSTVadic, respectivamente. Na Etapa 2, por sua vez, apenas o reator com
25% de borra de café industrial (RI25%) manteve a produtividade atingida na Etapa 1,
com 350,82 NmLCH4/gSTVadic, similar a obtida no reator RD25%.

Os valores de BMP encontrados nestes reatores foram semelhantes aos


103

apresentados por Kim et al. (2017), que utilizaram resíduos alimentares e borra de
café doméstica como substratos da digestão anaeróbia. Utilizando uma relação
resíduo:inóculo de 1:1, mesma utilizada nesta pesquisa, os autores relataram ter
obtido um BMP de 308 mLCH4/gSTV para a mistura com 25% de borra de café. No
entanto, os autores utilizaram lodo de digestor anaeróbio (esgotos e resíduos
alimentares), diferente do inóculo utilizado neste trabalho (lodo de UASB).

Kim et al. (2019), também avaliaram a produção de biogás a partir da codigestão de


borra de café e resíduos alimentares utilizando o mesmo inóculo de Kim et al. (2017),
numa razão R:I de 2:1 (gSTV). Os autores verificaram um BMP de 350 mLCH4/gSTV
para a mistura com 33% de borra de café e 67% de resíduos alimentares, valores
próximos aos obtidos deste trabalho para os reatores RD25%, RD75% e RI25%.
Importante ressaltar que a maior produção alcançada pelos autores foi de 535
mLCH4/gSTV, para a digestão com 100% de resíduos alimentares.

Segundo Kim et al. (2017), este fato se dá pelas características dos resíduos
alimentares, uma vez que são altamente biodegradáveis, possuindo um adequado
balanço de nutrientes. No entanto, no presente trabalho verificou-se que a adição das
borras de café doméstica e industrial foi benéfica ao processo de digestão de resíduos
alimentares, promovendo maior equilíbrio nutricional. Na Etapa 1, provavelmente as
cargas inibitórias foram neutralizadas pela adição dos percentuais de 25% e 75% de
borra. Na Etapa 2, por sua vez, que possuía uma amostra adequada de resíduos
alimentares, a adição de 25% de borra manteve o desempenho na produção de
biogás/metano.

Ressalta-se ainda que a produção de biogás e metano obtida para RD25%, RD75% e
RI25%, se situa dentro da faixa encontrada na literatura para resíduos amplamente
utilizados como substratos da digestão anaeróbia, como resíduos alimentares, dejetos
bovinos, suínos e esterco de frango, conforme pode ser visto na Tabela 4. Estes
estudos evidenciam a viabilidade da codigestão anaeróbia das borras de café
estudadas com resíduos alimentares, e lodo de UASB, nas proporções utilizadas
neste trabalho.

Os resultados de BBP e BMP obtidos neste trabalho para os reatores RD25%, RD75% e
RI25%, foram, em média, 30% superiores aos obtidos pela maioria dos trabalhos
104

mostrados no Quadro 3. Nota-se, porém, que os percentuais de metano no biogás


foram inferiores, uma vez que a faixa apresentada pelos trabalhos varia de 53,7 a
70%.

Os valores obtidos para produção de metano dos reatores que continham apenas
borra de café (RD100% e RI100%), no entanto, foram muito inferiores aos presentes na
literatura (Quadro 3), para as duas etapas, sendo a produção de biogás/metano
nestes reatores inferior a produção do inóculo (RD0% e RI0%). Devido a isso, infere-se
que tenha havido inibição da digestão anaeróbia nestes reatores, uma vez que a partir
do 25º dia há um declínio acentuado da produção de biogás e de metano, que fica
quase nula (Figuras 29, 30, 31 e 32).

A inibição do processo de digestão anaeróbia de borras de café também foi verificada


nos trabalhos de Kostenberg e Marchaim (1993) e Shofie et al. (2015), aos 25 e 35
dias, respectivamente, de desenvolvimento do processo de digestão anaeróbia
termofílica, atribuindo esta ao excesso de AGV formados pela transformação dos
lipídios presentes na borra de café. Apesar da inibição, os autores obtiveram valores
de BMP de 260 mLCH4/gSTVadic (KOSTENBERG; MARCHAIM, 1993) e 138
mLCH4/gSTVadic (SHOFIE et al., 2015). No entanto, estes trabalhos trazem valores
fora da CNTP para a produção de metano, o que dificulta uma comparação mais
assertiva.

Lane (1983) também verificou a inibição do processo de digestão anaeróbia de borras


de café, porém em um período de 80 dias. A autora atribuiu a inibição a liberação de
algum composto tóxico pela degradação da borra de café, uma vez que mesmo
adicionando nutrientes, a digestão foi inibida.

Dinsdale, Hawkes e Hawkes (1996) avaliando a digestão anaeróbia de águas


residuárias da indústria de café solúvel com um alto teor de borra de café, também
identificaram a ocorrência de inibição, tanto para a digestão mesofílica, quanto para a
termofílica, aos 35 dias. Os autores atribuíram a inibição à presença de altos níveis
de lipídios nos digestores (oriundos do efluente), compostos por ácidos graxos de
cadeia longa (AGCL), que se mostraram tóxicos as populações de microrganismos
envolvidos da acetogênese e metanogênese.

Segundo HWU et al. (1998) concentrações acima de 100 mg/L de lipídios no meio
105

promovem a inibição das etapas de acetogênese e da metanogênese, pelo fato dos


AGCL formados na degradação dos lipídios, quando em grandes quantidades, se
aderirem a parede celular das bactérias acetoclásticas e das arqueas metanogênicas,
impedindo o consumo de nutrientes pelos mesmos, e causando sua morte.

Provavelmente este foi o motivo do colapso nos reatores RD100% e RI100%, que
continham 100% de borra de café, no entanto, o desempenho destes reatores frente
a outros parâmetros de interesse para a digestão anaeróbia será discutido com mais
detalhe no item 5.4.

Angelidaki, Petersen e Ahring (1990) também encontraram problemas no


desempenho da digestão anaeróbia termofílica de dejetos bovinos ricos em lipídios,
verificando inibição após 25 dias do início do processo. A inibição foi acompanhada
por um alto teor de AGV, principalmente de ácido oleico, no entanto, após adição de
íons de Ca+ nos reatores, estes voltaram a apresentar bom desempenho na produção
de biogás e metano.

Segundo Hanaki, Matasuo e Nagase (1981) e Angelidaki, Petersen e Ahring (1990), a


inibição causada pelos AGCL pode ser aliviada evitando choques de carga orgânica
no sistema, adicionando bentonita e íons de cálcio, e promovendo um período
adequado para aclimatação da biomassa aos substratos.

Ainda, Hwu e Lettinga (1997) verificaram que as bactérias termófilas são bem mais
suscetíveis a toxicidade do que as mesófilas. Este fato corrobora com os resultados
apresentados por Kostenberg e Marchaim (1993) e Shofie et al. (2015). Estes autores
verificaram uma rápida inibição no processo de digestão termófila anaeróbia, diferente
de Lane (1983), cuja inibição foi percebida apenas após 80 dias de início do processo,
realizando a digestão mesófila.

Desta forma, infere-se que nas condições do presente estudo, a codigestão anaeróbia
mesofílica, utilizando resíduos alimentares como cossubstratos da borra de café e
lodo de UASB, contribuiu para atenuar uma potencial inibição do processo, uma vez
que foi possível atingir altos níveis de produção de metano, comparando com a Tabela
4 e Quadro 3.
106

Luz et al. (2018) e Girotto, Lavagnolo e Pivato (2018) verificaram ausência de inibição
no processo de digestão anaeróbia mesofílica de borras de café, no entanto, os
autores utilizaram como alternativa o pré-tratamento da borra. Estes autores
verificaram ainda que os pré-tratamentos térmico e alcalino da borra são capazes de
evitar a inibição no processo de digestão anaeróbia mesofílica de borras de café.

Luz et al. (2018) determinaram o Potencial de Produção de Metano a partir da digestão


anaeróbia de borras de café após pré-tratamento térmico por carbonização
hidrotermal nas temperaturas de 180ºC, 220ºC e 250ºC. A digestão anaeróbia foi
conduzida utilizando dejetos bovinos como inóculo, numa razão R:I de 1 gSTV. Os
autores alcançaram valores de BMP de 491, 465,5 e 367 mLCH4/gSTV, para os pré-
tratamentos com 180ºC, 220ºC e 250ºC, respectivamente. Sendo que o teor de
metano no biogás foi de 67% para a temperatura de 180ºC, 61%, para 220ºC e 62%
para 180ºC.

Os resultados obtidos por Luz et al. (2018) indicam que o pré-tratamento atenua a
toxicidade dos AGCL, pelos altos valores de BMP obtidos, uma vez que promovem a
liberação de maiores quantidades de açúcares, decorrentes da conversão de celulose
e hemicelulose presentes na borra de café.

Comparando os resultados do pré-tratamento a 250ºC houve pouca diferença entre


os valores encontrados pelos autores e os reatores RD25% e RI25%, avaliados neste
trabalho. No entanto, para os pré-tratamentos a 180ºC e 250ºC, esta diferença se
torna considerável, uma vez que os autores alcançaram BMP até 30% superiores aos
obtidos nos reatores RD25% e RI25%.

Girotto, Lavagnolo e Pivato (2018), avaliando a digestão anaeróbia de borra de café


doméstica lodo de UASB, após pré-tratamento alcalino com NaOH, também não
verificaram inibição no processo. Os autores alcançaram uma Potencial de Produção
de Metano da ordem de 350 NmLCH4/gSTVadic., para uma razão R:I de 1 (gSTV), a
mesma utilizada neste trabalho. O valor obtido por estes autores foi 6 vezes superior
ao obtido para as borras de café doméstica e industrial neste trabalho, indicando que
o pré-tratamento alcalino é satisfatório para evitar o processo de inibição.

Ainda que Girotto, Lavagnolo e Pivato (2018) tenham alcançados valores


consideráveis de BMP, em comparação aos desta pesquisa para os reatores que
107

continham apenas borra de café (RD100% e RI100%), os valores obtidos por estes
autores foram muito semelhantes aos BMP dos reatores com 25% de borra de café
(RD25% e RI25%). Isto indica que a codigestão é uma alternativa ao pré-tratamento, na
proporção de 25% de borra de café para 75% de resíduos alimentares.

Os valores obtidos para o BMP dos reatores com 50% de borra de café e 50% de
resíduos alimentares (RD50% e RI50%), foram semelhantes nas duas etapas, assim
como o RI75%, e bastante inferiores aos encontrados na literatura. Isto provavelmente
ocorreu pelo desbalanceamento de nutrientes e alcalinidade no processo, conforme
será discutido no próximo item.

Os teores de metano obtidos nas duas etapas da digestão anaeróbia para os reatores
com 25% e 75% de borra de café estão dentro da faixa encontrada na literatura
(Quadro 3). No entanto, os reatores que tiveram indícios de inibição (RDLODO, RILODO,
RD50%, RI50%, RD100%, RI100%), apresentaram teor de metano entre 34 e 42%, bastante
inferior a faixa obtida nas diversas pesquisas avaliadas.

Comparando o desempenho da produção de biogás e metano da digestão anaeróbia


da borra doméstica (Etapa 1), com a da borra industrial (Etapa 2), percebe-se que a
produção de biogás/metano foi bastante semelhante para os reatores com 25% de
borra de café (RD25% e RI25%), 50% (RD50% e RI50%), e 100% (RD100% e RI100%).

No entanto, para o reator RD75%, na Etapa 1, foi alcançada uma produção de biogás
quase o dobro da obtida com a borra industrial (RI75%). Ainda, o reator RD75%
apresentou uma produção equivalente a obtida para o RI0%, que continha apenas
resíduos alimentares. Isto indica que para a borra de café doméstica, as porcentagens
ideais de mistura para a codigestão são 25% e 75%. Já para a borra industrial, ainda
que um bom resultado tenha sido alcançado para o RI75%, a porcentagem de 25% de
borra se mostrou ideal.

5.4 AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE DIGESTÃO ANAERÓBIA

Os resultados obtidos na caracterização dos reatores da Etapa 1 (borra doméstica)


são mostrados na Tabela 16, e da Etapa 2 (borra industrial), na Tabela 17. São
apresentados os valores médios obtidos nas triplicatas, com o desvio-padrão. Todos
108

os dados foram validados estatisticamente, apresentando coeficiente de variação


abaixo de 0,5%.

Após obtenção dos resultados, procedeu-se a realização da ANOVA dos dados e a


comparação de médias pelo Teste de Tukey.

As Tabelas 18 e 19 apresentam o resultado da análise de variância (ANOVA) dos


parâmetros avaliados nas Etapas 1 e 2, respectivamente.
109

Tabela 16 – Resultados da caracterização físico-química dos reatores da Etapa 1 (Borra doméstica) no início e no final do teste

RDLODO RD0% RD25% RD50% RD75% RD100%


Parâmetro
Início Final Início Final Início Final Início Final Início Final Início Final

Média 7,03 8,04 7,02 8,25 7,07 7,93 7,03 7,63 7,08 7,19 7,05 6,65
pH
DP ± 0,03 ± 0,02 ± 0,01 ± 0,03 ± 0,01 ± 0,01 ± 0,03 ± 0,02 ± 0,03 ± 0,01 ± 0,01 ± 0,03
Média 22,60 17,76 22,68 15,60 22,61 6,66 22,71 13,42 23,10 7,34 22,80 17,86
ST (g/kg)
DP ± 0,05 ± 0,07 ± 0,01 ± 0,07 ± 0,04 ± 0,01 ± 0,02 ± 0,66 ± 0,08 ± 0,03 ± 0,01 ± 0,04
% Remoção ST Média 21,45 31,23 70,53 40,91 68,23 2168
Média 11,19 9,12 11,42 7,92 11,61 2,36 11,46 4,14 11,91 2,98 11,23 5,95
STV (g/kg)
DP ± 0,01 ± 0,04 ± 0,01 ± 0,04 ± 0,01 ± 0,01 ± 0,02 ± 0,02 ± 0,03 ± 0,01 ± 0,02 ± 0,02
% Remoção STV Média 25,68 35,42 72,68 43,93 70,05 29,36
STV/ST Média 0,50 0,47 0,50 0,47 0,51 0,48 0,50 0,47 0,51 0,48 0,50 0,45
Média 32,81 25,50 33,87 22,21 34,91 8,60 34,62 18,43 34,20 9,61 32,44 22,97
DQO (g/kg)
DP ± 0,09 ± 0,07 ± 0,11 ± 0,10 ± 0,15 ± 0,04 ± 0,16 ± 0,09 ± 0,11 ± 0,02 ± 0,15 ± 0,09
% Remoção DQO Média 29,08 34,43 75,30 46,56 71,91 29,21

Média 2,90 1,12 7,78 0,64 7,26 0,92 6,29 1,77 6,16 3,00 5,6 3,83
COT (g/kg)
DP¹ ± 0,01 - ± 0,01 - ± 0,01 - ± 0,01 - ± 0,01 ± 0,01 ± 0,01 ± 0,01
Média 0,17 0,06 0,45 0,03 0,35 0,10 0,35 0,04 0,30 0,21 0,25 0,09
NTK (g/kg)
DP¹ - - - - - - - - - - - -
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). *Nota¹: Os valores de Desvio Padrão que não foram mostrados foram menores que 0,01, com CV <
0,5%.
110

Tabela 16 – Resultados da caracterização físico-química dos reatores da Etapa 1 (Borra doméstica) no início e no final do teste
(continuação)

RDLODO RD0% RD25% RD50% RD75% RD100%


Parâmetro
Início Final Início Final Início Final Início Final Início Final Início Final

Média 0,16 0,06 0,23 0,01 0,21 0,02 0,20 0,01 0,18 0,04 0,17 0,04
Fósforo (g/kg)
DP¹ - - - - - - - - - - - -
C:N Média 17:1 20:1 17:1 20:1 21:1 9:1 18:1 45:1 20:1 14:1 23:1 44:1
Alcalinidade Total Média 2.545 3.596 2.527 4.597 2.557 3.499 2.521 3.387 2.566 2.053 2.565 2.589
(mgCaCO3.L-1) DP ± 9,00 ± 13,72 ± 9,50 ± 11,94 ± 9,10 ± 13,34 ± 8,45 ± 9,99 ± 9,41 ± 7,30 ± 9,32 ± 7,17
Alcalinidade
Intermediária / Média 0,10 0,14 0,42 0,88 0,33 0,28 0,45 0,83 0,33 0,19 0,26 0,49
Parcial (AI/AP)
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). *Nota¹: Os valores de Desvio Padrão que não foram mostrados foram menores que 0,01, com CV <
0,5%
111

Tabela 17 – Resultados da caracterização físico-química dos reatores da Etapa 2 (Borra industrial) no início e no final do teste

RILODO RI0% RI25% RI50% RI75% RI100%


Parâmetro
Início Final Início Final Início Final Início Final Início Final Início Final

Média 6,96 7,49 7,09 7,96 7,10 7,37 7,02 7,30 6,97 7,66 7,00 7,60
pH
DP ± 0,02 ± 0,01 ± 0,02 ± 0,02 ± 0,02 ± 0,03 ± 0,01 ± 0,01 ± 0,01 ± 0,03 ± 0,03 ± 0,02
Média 22,71 15,84 24,91 7,34 23,70 5,75 24,07 11,94 23,25 9,26 23,84 17,27
ST (g/kg)
DP ± 0,03 ± 0,01 ± 0,03 ± 0,01 ± 0,02 ± 0,01 ± 0,02 ± 0,601 ± 0,02 ± 0,01 ± 0,03 ± 0,01
% Remoção ST Média 30,20 70,50 75,70 50,50 60,1 27,70
Média 12,02 7,98 13,17 3,57 12,57 2,73 12,80 5,80 12,83 4,54 12,52 8,79
STV (g/kg)
DP ± 0,01 ± 0,02 ± 0,01 ± 0,01 ± 0,02 - ± 0,02 ± 0,01 ± 0,03 - ± 0,02 ± 0,01
% Remoção STV Média 33,61 72,84 82,70 54,75 70,99 46,85
STV/ST Média 0,51 0,43 0,53 0,49 0,53 0,47 0,53 0,49 0,53 0,51 0,53 0,48
Média 21,67 12,87 22,60 4,93 22,87 3,96 20,14 9,75 23,10 6,94 19,56 13,02
DQO (g/kg)
DP ± 0,07 ± 0,03 ± 0,11 ± 0,02 ± 0,10 ± 0,01 ± 0,09 ± 0,08 ± 0,11 ± 0,02 ± 0,09 ± 0,07
% Remoção DQO Média 44,12 78,20 78,23 54,75 64,67 29,88

Média 1,61 0,62 7,67 1,07 6,76 0,77 7,13 1,35 6,41 0,47 7,45 1,54
COT (g/kg)
DP¹ - - ± 0,01 - ± 0,01 - ± 0,01 - ± 0,01 - ± 0,01 -
Média 0,20 0,17 0,32 0,06 0,29 0,07 0,22 0,04 0,22 0,04 0,21 0,04
NTK (g/kg)
DP¹ - - - - - - - - - - - -
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). *Nota¹: Os valores de Desvio Padrão que não foram mostrados foram menores que 0,01, com CV <
0,5%.
112

Tabela 17 – Resultados da caracterização físico-química dos reatores da Etapa 2 (Borra industrial) no início e no final do teste
(continuação)

RDLODO RD0% RD25% RD50% RD75% RD100%


Parâmetro
Início Final Início Final Início Final Início Final Início Final Início Final

Média 0,26 0,08 0,27 0,04 0,27 0,02 0,27 0,06 0,27 0,03 0,26 0,05
Fósforo (g/kg)
DP¹ - - - - - - - - - - - -
C:N Média 8:1 4:1 24:1 18:1 24:1 11:1 32:1 33:1 29:1 12:1 36:1 39:1
Alcalinidade Total Média 2.528 3.310 2.549 3.558 2.591 3.162 2.579 3.091 2.561 3.678 2.576 2.987
(mgCaCO3.L-1) DP ± 8,04 ± 11,32 ± 9,62 ± 14,87 ± 9,61 ± 11,84 ± 11,71 ± 6,12 ± 11,35 ± 11,30 ± 9,02 ± 4,64
Alcalinidade
Intermediária / Média 0,19 0,16 0,40 0,21 0,32 0,26 0,48 0,87 0,31 0,20 0,21 0,54
Parcial (AI/AP)
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). *Nota¹: Os valores de Desvio Padrão que não foram mostrados foram menores que 0,01, com CV < 0,5.
113

Tabela 18 – Resultado da ANOVA para os parâmetros avaliados no final do teste da


ETAPA 1 (p<0,05)

Soma dos Grau de Valor p-


Parâmetro liberdade
Variância Significância
quadrados de F valor
pH inicial 0,001 5 0,00 0,0 0,950 NÃO
pH final 16,190 5 3,24 125,4 0,000 SIM
% Remoção
2,209 5 0,44 2366,8 0,000 SIM
ST
% Remoção
1,899 5 0,38 1445,8 0,000 SIM
STV
% Remoção
1,963 5 0,39 697,0 0,000 SIM
DQO
C:N Inicial 4188,530 5 873,71 101,3 0,000 SIM

C:N Final 10.610,240 5 2.122,05 272,8 0,000 SIM


Alcalinidade
Total Inicial 381.669 5 76.334,00 1,904 0,111 NÃO
(mgCaCO3.L-1)
Alcalinidade
Total final 45.140.502 5 9.028.100,00 5.250,7 0,000 SIM
(mgCaCO3.L-1)
AI/AP
0,693 5 0,139 1.155,2 0,000 SIM
Inicial
AI/AP
5,447 5 1,089 4.758.5 0,000 SIM
Final
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).
114

Tabela 19 – Resultado da ANOVA para os parâmetros avaliados no final do teste da


ETAPA 2 (p<0,05)

Soma dos Grau de Valor p-


Parâmetro liberdade
Variância Significância
quadrados de F valor

pH inicial 0,002 5 0,00 0,0 0,878 NÃO


pH final 2,503 5 0,50 116,6 0,000 SIM
% Remoção
1,835 5 0,37 1241,1 0,000 SIM
ST
% Remoção
1,900 5 0,38 1445,8 0,000 SIM
STV
% Remoção
1,826 5 0,37 3925,4 0,000 SIM
DQO

C:N Inicial 4188,530 5 837,71 101,3 0,000 SIM

C:N Final 5.800,340 5 1160,07 1222,2 0,000 SIM


Alcalinidade
Total Inicial 7320 5 1464 1,0 0,406 NÃO
(mgCaCO3.L-1)

Alcalinidade
Total final 3331208 5 666242 318,6 0,000 SIM
(mgCaCO3.L-1)
AI/AP
0,562 5 0,11 668,38 0,000 SIM
Inicial
AI/AP
3,541 5 0,71 5582,4 0,000 SIM
Final
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).

Conforme pode-se verificar, por meio das Tabelas 18 e 19, as porcentagens de borra
de café e de resíduos alimentares adicionadas foram significativas para todos os
parâmetros avaliados nos reatores das duas etapas (p<0,05), exceto para o pH inicial
e a Alcalinidade Total Inicial, que foram parâmetros de controle para realização do
teste, não devendo variar de acordo com o reator.

Infere-se assim, que o teor de borra de café, doméstica e industrial, aplicado (nos dois
testes) influenciou no processo de codigestão anaeróbia. Além da ANOVA, foi
realizado o Teste de Tukey visando identificar diferenças entre os tratamentos.
115

O desempenho das diferentes proporções de borra de café (doméstica e industrial) e


resíduos alimentares adicionadas nos reatores frente aos parâmetros avaliados é
discutido abaixo.

5.4.1 pH

Os valores de pH dos reatores no início e no final das Etapas 1 e 2 são mostrados nas
Figuras 33 e 35. O resultado do teste de Tukey para cada Etapa é mostrado nas
Figuras 34 e 36.

Conforme visto nas Tabelas 16, 17, 18 e 19, o pH de início, em todos os reatores, se
mostrou adequado para o desenvolvimento da digestão anaeróbia nas Etapas 1 e 2,
não apresentando variação entre os tipos de reatores, o que era esperado pelo pH ser
um fator de controle do processo, sendo realizado o tamponamento do sistema no
início dos testes (com bicarbonato de sódio).

Pode-se perceber, no entanto, que houve uma variação entre o pH inicial e o pH final
nos reatores das duas etapas (Figuras 33 e 35).

Na Etapa 1 verificou-se que quanto maior o teor de borra de café doméstica na


mistura, menor foi o pH obtido ao final do teste (Figura 34). Enquanto os reatores
RDLODO, RD0%, RD25% e RD50% apresentaram um aumento no pH durante a digestão
anaeróbia, no reator RD75% o valor inicial foi mantido, e no RD100%, reduzido.

No entanto, apenas os reatores RD50%, RD75% e RD100% conservaram o pH dentro da


faixa ideal para a metanogênese, sendo a produção de biogás/metano nos reatores
RD50%, e RD100% inferior aos reatores RD75% e RD25%, este último que apresentou pH
acima do recomendado para a digestão anaeróbia.

Considerando a Etapa 2 (Figura 35), percebe-se que o pH dos reatores sofreu um


acréscimo ao final do teste, se apresentando, no geral, dentro da faixa recomendada
para a digestão anaeróbia durante o período avaliado. Apenas o reator RI0%
apresentou pH ligeiramente superior a esta faixa, o que não influenciou no
desempenho do mesmo, uma vez que obteve um BMP de 311,87 NmL/gSTV, inferior
apenas ao reator RI25%, com um BMP de 350,82 NmL/gSTV.
116

Assim como ocorrido nos reatores RD100%, Luz et al. (2017) também verificaram
redução do pH na digestão anaeróbia de borras de café, utilizando, entretanto, dejetos
bovinos como inóculo. Depois de uma semana do start up dos reatores pelos autores,
o pH foi reduzido de 7 para 5, sendo necessária a adição de uma agente tamponante
para evitar a inibição do processo.

Após a realização da correção do pH para 7, este foi aumentando gradativamente, até


alcançar 8,5 ao final da digestão, diferente do ocorrido para o reator RD100%, no qual
foi verificada uma redução do pH ao final do teste, mesmo sendo realizado o
tamponamento.

No entanto, assim como no estudo de Luz et al. (2017), o Reator RI100%, da Etapa 2,
também apresentou um acréscimo no pH durante o processo, passando de 7 para um
pH de 7,6 ao final da digestão anaeróbia.

Apesar da diferença no comportamento do pH durante o teste BMP, os reatores


RD100% e RI100% apresentaram potenciais de produção de biogás e metano
estatisticamente iguais, sendo o BMP de 60,09 NmL/gSTV e 57,02 NmL/gSTV,
respectivamente. Percebe-se, entretanto, que este potencial é inferior ao obtido para
o inóculo nas duas etapas, o que é um indicativo de ocorrência de inibição no
processo, conforme discutido na seção anterior.

Boe et al. (2010) afirmam que apesar do pH ser um parâmetro importante no controle
da digestão anaeróbia, as condições do reator são melhores avaliadas a partir da
alcalinidade, uma vez que a utilização isolada do pH como indicador de estabilidade
pode revelar-se pouco sensível a variações de acumulações de ácidos caso a
capacidade tampão seja suficiente para neutralizar os ácidos produzidos, o que pode
ocasionar variações de pH muito lentas e tardias.

Desta forma, para compreender melhor o que aconteceu no processo de digestão foi
avaliada a Alcalinidade Total e a relação AI/AP no início e fim do teste BMP, nas
Etapas 1 e 2.
117

Figura 33 – Valores de pH nos reatores no início e no final Figura 34 – Resultado do Teste de TUKEY para o pH final dos
dos testes (Etapa 1 – Borra doméstica) reatores (Etapa 1 – Borra doméstica)

Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).

Figura 35 – Valores de pH nos reatores no início e no final Figura 36 – Resultado do Teste de TUKEY para o pH final dos
dos testes (Etapa 2 – Borra industrial) reatores (Etapa 2 – Borra industrial)

Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).
118

5.4.2 Alcalinidade Total e Relação AI/AP

Com relação a Alcalinidade Total Inicial nos reatores, a mesma foi considerada um
parâmetro de controle do processo, não sendo verificadas diferenças entre os valores
obtidos nos reatores das Etapas 1 e 2 pela análise estatística (Tabelas 18 e 19).
Importante ressaltar ainda que a Alcalinidade Total Inicial em todos reatores (das duas
etapas) (Figuras 37 e 39), se apresentou dentro da faixa recomendada por Raposo et
al. (2011a) como ideal para a digestão anaeróbia, em torno de 2.500 mgCaCO 3/L.

Contudo, a relação AI/AP, mostrada nas Figuras 41 e 44 se mostrou variável entre os


reatores no início do teste para as duas etapas, chegando a valores superiores ao
recomendado para a digestão anaeróbia, nos reatores RD0%, RD50% e RD100% na Etapa
1, e RI50%, na Etapa 2. Este fato pode ter contribuído para o baixo desempenho de
produção de metano nestes reatores, uma vez que uma alta Alcalinidade Intermediária
indica um aumento da concentração de AGV, que em excesso, provocam a queda
excessiva no pH, inibindo a metanogênese (RIPLEY; BOYLE, CONVERSE, 1986; LILI
et al., 2011).

Segundo Ripley, Boyle e Converse (1986) e Lili et al. (2011) valores de AI/AP
superiores a 0,4 indicam a ocorrência de distúrbios no processo de digestão
anaeróbia, sendo a faixa de 0,1 a 0,35 considerada típica para o bom funcionamento
da digestão anaeróbia. Lili et al. (2011) também apresentam que valores de AI/AP
entre 0,3 e 0,4 proporcionam um maior potencial para produção de metano, o que foi
observado nos reatores RD25%, RD75%, na Etapa 1, e RI0%, RI25%, RI75%, na Etapa 2.

Os reatores RD0%, RD50% e RI50% apresentaram uma produção de metano próxima a


135 NmLCH4/gSTV, quase a metade da obtida nos reatores com maior BMP nas duas
etapas, RD25% e RD75%, (Etapa 1), com 344,99 NmLCH4/gSTV e 300,59
NmLCH4/gSTV, e RI0% e RI25% (Etapa 2). com 311,87 NmLCH4/gSTV e 350,82
NmLCH4/gSTV, respectivamente. Desta forma, a alta relação AI/AP pode ter
contribuído para o baixo desempenho destes reatores, provavelmente, por algum
desequilíbrio causado no sistema no fornecimento de nutrientes.

Neste ponto infere-se que as misturas com 25% e 75% de borra de café promoveram
um maior balanceamento do sistema com relação a alcalinidade, o que demonstra um
119

efeito sinérgico positivo entre as borras de café utilizadas e os resíduos alimentares,


nestas proporções.

Avaliando a Alcalinidade Total Final dos reatores, observa-se que os valores ficaram
dentro da faixa recomendada para a digestão anaeróbia (1000 e 5000 mgCaCO 3/L),
(TCHOBANOGLOUS; BURTON; STENSEL, 2003), para as duas etapas. Além disso,
foi observada a correspondência entre as variações da Alcalinidade Total e do pH nos
reatores, sendo percebido que um aumento da Alcalinidade Total correspondeu a um
acréscimo do pH, ocorrendo o mesmo para redução.

Assim como observado nos reatores, RD0%, RD50% e RD100% na Etapa 1, e RI50%, na
Etapa 2, Shofie et al. (2015), avaliando a monodigestão anaeróbia de borras de café,
obtiveram valores excessivos para AI/AP. Os autores obtiveram valores de AI/AP da
ordem de 0,51, chegando a 0,98 ao final do processo, atribuindo este aumento a
produção de AGV, que contribuiu na inibição da atividade metanogênica.

No presente trabalho, os reatores RD100% e RI100% apresentaram uma relação AI/AP


inicial dentro da faixa adequada para a digestão anaeróbia. Apesar disto, verificou-se
que estes reatores foram responsáveis pelo menor valor BMP obtido nas duas etapas,
chegando, ao final do processo de digestão com uma relação AI/AP próxima a 0,5.
Este valor indica um excesso de produção de AGV nestes reatores, que pode ter
provocado o colapso da digestão anaeróbia, assim como verificado por Shofie et al.
(2015).

Este fato corrobora com os resultados obtidos por Lane (1983), Kostenberg e
Marchaim (1993) e Dinsdale, Hawkes e Hawkes (1996), que verificaram uma elevada
produção de AGV na digestão anaeróbia de borras de café, devido à alta concentração
de lipídios neste resíduo.

Gonçalves (2012), cita que as arqueas metanogênicas são mais sensíveis que as
bactérias hidrolíticas e acidogênicas a elevadas concentrações de ácidos graxos
voláteis (AGV). Súbitas variações deste parâmetro podem aumentar a competição
interespécies podendo alterar os caminhos fermentativos existentes e consequente
quantidade e qualidade do biogás final, o que provavelmente ocorreu nos reatores que
apresentaram uma alta relação AI/AP.
120

Como esperado, os reatores que tiveram melhor desempenho na produção de metano


nas Etapas 1 e 2 apresentaram valores de AI/AP dentro da faixa citada por Lili et al.
(2011) como a que potencializa a produção de metano (0,3 a 0,4).
121

Figura 37 –Alcalinidade Total nos reatores no final dos testes Figura 38 –Teste de TUKEY para a Alcalinidade Total Final
(Etapa 1 – Borra doméstica) (Etapa 1 – Borra doméstica)

Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).

Figura 39 –Alcalinidade Total nos reatores no final dos testes Figura 40 –Teste de TUKEY para a Alcalinidade Total Final
(Etapa 2 – Borra industrial) (Etapa 2 – Borra industrial)

Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).
122

Figura 41 – Valores obtidos para a relação AI/AP na Etapa 1

Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).

Figura 42 – Resultado do Teste de TUKEY para a relação AI/AP Inicial


na Etapa 1

Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).


123

Figura 43 – Resultado do Teste de TUKEY para a relação AI/AP Final na


Etapa 1

Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).

Figura 44 – Valores obtidos para a relação AI/AP na Etapa 2

Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).


124

Figura 45 – Resultado do Teste de TUKEY para a relação AI/AP Inicial na Etapa 2

Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).

Figura 46 – Valores obtidos para a relação AI/AP Final na Etapa 2

Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).


125

5.4.3 Relação C:N

Os valores obtidos para a relação C:N, apresentaram variabilidade nas duas Etapas,
devido aos teores de Carbono e Nitrogênio encontrados nos substratos e inóculos
(Figura 47 e Figura 49). Também foi realizada a avaliação da relação C:N:P no início
e final dos reatores, porém, este parâmetro não foi significativo para este trabalho,
apresentando valores muito inferiores a faixa descrita na literatura para o bom
desempenho da digestão anaeróbia.

Na Etapa 1, verificou-se que apenas os reatores com 25%, 75% e 100% de borra de
café (RD25%, RD75% e RD100%) apresentaram valores adequados para o desempenho
da digestão anaeróbia (entre 20 e 30), conforme definido por Chernicharo (2010)
(Figura 47).

No entanto, ao final do teste BMP, apenas os reatores RD25% e RD75% mostraram


reduções na relação C:N, com valores próximos da relação ideal ao final do processo
de degradação da matéria orgânica, (Figura 47). Isto corrobora com os resultados
apresentados para a remoção de ST, STV e DQO, e alcalinidade nestes reatores,
indicando que houve estabilidade no processo de digestão anaeróbia (Tabela 16).

A partir do Teste de Tukey, Figura 48, verifica-se ainda que os valores de C:N inicial
para os reatores RD25% e RD75% foram considerados estatisticamente iguais, o que
indica que este valor de relação C:N (entre 20 e 21) foi o mais adequado para partida
da digestão anaeróbia de borras de café doméstica, nas condições estudadas.

No entanto, as relações C:N destes reatores ao final do processo se mostraram


diferentes, visto que o reator RD25% apresentou uma menor relação C:N, indicando
uma melhor eficiência na degradação da matéria orgânica, e corroborando com os
resultados de remoção de ST, STV e DQO obtidos para este reator.

Para o reator RD100%, apesar deste apresentar uma relação C:N inicial adequada para
a digestão anaeróbia, foi verificado um baixo desempenho no processo de digestão,
sendo observado um aumento excessivo da relação AI/AP e da relação C:N para este
reator ao final do teste. Infere-se que a digestão neste reator tenha sido instável,
gerando uma grande quantidade de AGV provocando a inibição do processo.
126

Segundo Sgorlon et al. (2011), a principal causa da elevação da relação C:N durante
o processo de digestão anaeróbia é a morte de microrganismos, o que foi percebido
neste trabalho, uma vez que o reator RD100% apresentou indícios de toxicidade,
provocando a inibição do processo de digestão anaeróbia, provavelmente pelo
excesso de lipídios presentes na borra de café doméstica.

Avaliando a relação C:N inicial dos reatores RD0% e RD50%, percebe-se que as
mesmas foram inferiores a faixa recomendada, o que, aliado a elevada alcalinidade
intermediária, pode ter contribuído para um desempenho ineficiente da digestão
anaeróbia nestes reatores. Ainda, uma baixa relação C:N inicial, como a obtida para
estes dois reatores, pode promover uma maior disponibilidade de nitrogênio na forma
de amônia, o que causa um aumento do pH no meio (verificado nos reatores) e a
inibição da metanogêse, pela toxicidade da amônia aos microrganismos, o que
provavelmente ocorreu (CHERNICHARO, 2010).

Wang et al. (2014) estudando o processo de digestão anaeróbia utilizando resíduos


alimentares como substratos, a 35ºC, também observaram inibição para relações C:N
de 15:1 a 19:1. No entanto, a partir de uma relação de 20:1 os autores verificaram um
aumento na produção de metano, chegando a uma relação ótima de 25:1. O mesmo
ocorreu nos trabalhos de Nielson e Angelidaki (2008), Schievano et al. (2010) e
Silveira (2017), que verificaram inibição da metanogênese para relações C:N abaixo
de 20, indicando que baixas relações C:N promovem um excessivo aporte de
nitrogênio no sistema, contribuindo para a toxicidade pela amônia liberada.

Já para a Etapa 2, Figura 49, os reatores com 0%, 25% e 75% de borra de café
industrial foram os que apresentaram relações C:N adequadas para o início do
processo de digestão anaeróbia. No entanto, avaliando-se os resultados por meio do
teste de Tukey (Figura 50), verifica-se que os valores apresentados para os reatores
RI0%, RI25%, RI75% e RI100% são estatisticamente iguais, o que indica que a relação C:N
do reator RI100% também estava adequada.

Porém, ao final do teste, foi verificado que apenas os reatores 25% e 75%
apresentaram valores compatíveis com o final do processo de digestão anaeróbia,
pelo balanceamento da relação C/N, aliado a relação AI/AP.
127

É provável que assim como ocorrido na Etapa 1, tenha havido uma produção
excessiva de AGV nos reatores com 100% de borra de café (RI100%), devido ao
excesso de lipídios na borra de café, ocorrendo, assim como no reator RD100%, a morte
de microrganismos, o que aumentou a relação C:N ( SGORLON et al., 2011).

Com relação ao reator RI0%, apesar do mesmo apresentar uma relação C:N final
inferior a inicial, essa era superior ao valor esperado para a estabilização da matéria
orgânica (CHERNICHARO, 2010). Apesar disto, os valores de eficiência de remoção
de matéria orgânica neste reator foram elevados, assim como os valores obtidos para
produção de biogás e metano, inferindo que houve um processo estável.

O reator RI50% apresentou uma excessiva relação C:N no início e no fim do


experimento. Isto contribuiu para o baixo desempenho do reator, uma vez que uma
elevada relação C:N inicial causa um excessivo consumo de nitrogênio no início do
processo, com posterior inibição, pela falta deste nutriente (RISBERG, 2015). Os
valores obtidos para a relação C/N do RI50% corroboram com os resultados
apresentados a seguir para a remoção de ST, STV e DQO neste reator, que foram
excessivamente baixos, assim como o BBP e BMP, mostrados nas Tabelas 14 e 15.
128

Figura 47 – Valores obtidos para a relação C:N nos reatores da Etapa 1

Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).

Figura 48 – Resultado do Teste de Tukey para os valores obtidos para


a relação C:N inicial da Etapa 1

Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).


129

Figura 49 – Resultado do Teste de Tukey para os valores obtidos


para a relação C:N inicial da Etapa 1

Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).

Figura 50 – Valores obtidos para a relação C:N na Etapa 2

Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).


130

Figura 51 – Teste de Tukey para os valores obtidos para a


relação C:N inicial da Etapa 2

Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).

Figura 52 – Teste de Tukey para os valores obtidos para a relação C:N final
da Etapa 2

Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).


131

5.4.4 Remoção de Sólidos Totais e Sólidos Totais Voláteis

Com relação a remoção de Sólidos Totais (ST) e Sólidos Totais Voláteis (STV),
percebeu-se uma correlação entre a remoção destes e o desempenho dos reatores
na produção de metano. Os resultados obtidos são mostrados nas Figuras 53 a 60.

Na Etapa 1, os reatores que tiveram melhor desempenho foram RD25% e RD75%, com
uma remoção de 70,5% e 68% de ST, respectivamente e de 72,7% e 70% de STV. Já
na Etapa 2, obteve-se maiores porcentagens de remoção com os reatores RI0% e
RI25%, sendo 71% e 82,7%, respectivamente para ST, 73% e 78% para STV.

Os valores de remoção de sólidos obtidos nas duas etapas foram superiores as


pesquisas que utilizaram borra de café. Kim et al. (2017), avaliando a digestão de
Borra de café doméstica com Resíduos alimentares e lodo de biodigestor, alcançaram
remoções de STV na faixa de 20 a 25%, inferiores aos obtidos nesta pesquisa para
os reatores com codigestão. No entanto, os valores obtidos pelos autores se
assemelham a eficiência de remoção de sólidos obtidos para os reatores RD100% e
RI100%, indicando que este comportamento é esperado para a monodigestão
anaeróbia da borra de café.

Apesar da baixa remoção obtida por Kim et al. (2017), os autores atingiram um BMP
da ordem de 300 NmLCH4/gSTV, para todas as porcentagens de borra adicionadas
(0%, 25%, 50%, 75% e 100%) próximos aos valores encontrados nos reatores R0% e
R25% na Etapa 2, e R25% e R75% na Etapa 1, e superiores aos encontrados nos outros
reatores. Infere-se que o melhor desempenho encontrado por Kim et al. (2017) para a
o BMP da monodigestão anaeróbia da borra de café tenha sido pela melhor
aclimatação entre o inóculo utilizado pelos autores (lodo de biodigestor que tratava
resíduos alimentares e efluentes), e a borra de café.

Shofie et al. (2015) avaliando a codigestão de Borra de café industrial + efluente +


soro de leite + Lodo UASB, numa relação resíduo:inóculo de 1:1,2 obtiveram valores
de remoção de ST e STV de 46% e 50%, respectivamente, também inferiores aos
obtidos nos reatores R25% e R75% na Etapa 1 e R0% e R25% na Etapa 2, desta pesquisa.

No entanto, os valores atingidos por Shofie et al. (2015) são semelhantes aos reatores
RD50% e RI50% e superiores aos obtidos na monodigestão (RD100% e RI100%). Os autores
132

atribuíram esta baixa eficiência de remoção a instabilidade dos digestores devido a


excessiva relação AI/AP encontrada, que causou a inibição do processo. O valor de
BMP obtido pelos autores (138 mLCH4/gSTV) também foi inferior aos encontrados
nesta pesquisa, sendo superiores, no entanto aos apresentados pela monodigestão
(RD100% e RI100%).

Os reatores que apresentaram baixa remoção de ST, STV e DQO (RD0%, RD50%,
RD100%, RI50%, RI100%), como discutido acima, apresentaram um desbalanceamento
de nutrientes, causado pela inadequada relação C/N e, pela excessiva formação de
AGV no processo de digestão anaeróbia, que contribuíram para uma menor produção
de biogás/metano.
133

Figura 53 – Valores de Remoção de ST nos reatores no início e Figura 54 – Resultado do Teste de TUKEY para a Remoção
no final dos testes (Etapa 1 – Borra doméstica) de ST (Etapa 1 – Borra doméstica)

Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).

Figura 55 – Valores Remoção de ST nos reatores no início e no Figura 56 – Resultado do Teste de TUKEY para a Remoção
final dos testes (Etapa 2 – Borra industrial) de ST (Etapa 2 – Borra industrial)

Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).
134

Figura 57 – Valores de Remoção de STV nos reatores no Figura 58 – Resultado do Teste de TUKEY para a Remoção de
início e no final dos testes (Etapa 1 – Borra doméstica) STV (Etapa 1 – Borra doméstica)

Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).

Figura 59 – Valores Remoção de STV nos reatores no início e Figura 60 – Resultado do Teste de TUKEY para a Remoção de
no final dos testes (Etapa 2 – Borra industrial) STV (Etapa 2 – Borra industrial)

Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).
135

5.4.5 Demanda Química de Oxigênio

Os resultados obtidos são mostrados nas Figuras 61 a 64. Pode-se perceber que a
conversão de DQO nas duas etapas foi condizente com o desempenho dos reatores
para remoção de ST, STV e para a produção de biogás/metano.

Na Etapa 1, assim como para a remoção de ST e STV, os reatores que tiveram melhor
desempenho foram RD25% e RD75%, com uma remoção de DQO de 75,3% e 71,91%,
respectivamente. O reator com 25% de borra apresentou um melhor desempenho
para remoção de DQO, como se pode ver na Figura 61, assim como para a produção
de metano. No entanto as relações STV/ST foram muito semelhantes para os dois
reatores, assim como a relação AI/AP e a relação C/N (Tabela 16).

No entanto, foi percebida uma diminuição no pH dos reatores com 75% de borra
doméstica, ao final do teste, indicando que foi produzida uma quantidade de ácidos
além do que a alcalinidade conseguiria neutralizar. Ainda foi obtido ao final do teste
uma relação AI/AP próxima ao limite para a digestão anaeróbia, corroborando com o
afirmado. Isto pode ter contribuído para um menor desempenho na produção de
metano deste reator, assim como na remoção de ST, STV e DQO.

Na Etapa 2, os melhores resultados para remoção de DQO foram obtidos a partir dos
reatores com 0%, 25% e 75% de borra industrial, corroborando com os resultados
obtidos de remoção de ST, STV e de produção de biogás/metano.

Infere-se que o menor desempenho dos reatores de 0% e 75%, na Etapa 2, em


relação ao reator com 25% de borra de café industrial, se deveu a instabilidades no
sistema. O reator com 0% apresentou pH final superior a faixa determinada pela
digestão anaeróbia, além de um aumento excessivo da alcalinidade, que pode ter
ocorrido por uma produção excessiva de amônia no processo, uma vez que a relação
C:N obtida não teve grande redução.

Já para o reator com 75% de borra de café industrial, provavelmente teve um menor
desempenho pela redução excessiva da relação AI/AP, que ficou próxima do limite
aceitável para digestão anaeróbia (0,2).

Os valores de remoção de DQO encontrados nas duas etapas foram superiores a


literatura, que apresenta uma média de 50 a 54% de remoção de DQO para a digestão
136

anaeróbia de borra de café com outros substratos (LUZ et al., 2017; SHOFIE et al.,
2015). No entanto esta faixa é próxima a encontrada para os reatores que continham
apenas borra de café RD100% e RI100%, indicando que a melhor eficiência de
degradação da matéria orgânica obtida neste trabalho, se deu pela sinergia benéfica
entre os substratos utilizados (borra e resíduos alimentares).
137

Figura 61 – Valores de Remoção de DQO nos reatores no Figura 62 – Resultado do Teste de TUKEY para a Remoção de
início e no final dos testes (Etapa 1 – Borra doméstica) DQO (Etapa 1 – Borra doméstica)

Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).

Figura 63 – Valores Remoção de DQO nos reatores no início e Figura 64 – Resultado do Teste de TUKEY para a Remoção de
no final dos testes (Etapa 2 – Borra industrial) DQO (Etapa 2 – Borra industrial)

Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019). Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).
138

5.5 ESTIMATIVA DO POTENCIAL ENERGÉTICO DA CODIGESTÃO ANAERÓBIA

A partir da medição da produção do biogás nos reatores, pode-se avaliar o potencial


energético da codigestão anaeróbia nas duas etapas, utilizando a metodologia
descrita na seção 4.3.5.3.

Foram utilizados dois cenários, de acordo com a fonte geradora dos resíduos, a saber:

- Cenário A: Instituição de Ensino

Com o estudo de amostragem dos resíduos alimentares gerados no restaurante da


instituição de ensino (item 4.3.2.2), calculou-se a geração diária destes resíduos,
correspondendo a uma média de 0,172 kg/refeição.dia. Também foi levantada a
geração de borra de café na instituição, que tem como origem tanto o restaurante,
como as salas administrativas, que possuem cafeteira. O total gerado destes resíduos
na instituição é mostrado na Tabela 20.

- Cenário B: Indústria de café

Após a coleta da borra de café industrial, foram fornecidos dados sobre a geração
deste resíduo por parte da fonte geradora (1000 kg/dia). Não foi possível a aquisição
de dados sobre a geração de resíduos alimentares por parte da indústria, assim,
estimou-se a produção diária de resíduos alimentares com base no valor médio de
resíduos alimentares gerados por refeição, obtidos no Cenário A. Como era conhecido
que 400 funcionários almoçavam na empresa, foi possível estimar a quantidade de
resíduos alimentares geradas por dia.

A Tabela 20 apresenta a geração de resíduos alimentares e borra de café (doméstica


e industrial) por cenário.

Tabela 20 – Geração de borra de café (doméstica e industrial) e de resíduos


alimentares em cada cenário avaliado

Resíduos alimentares Borra de café


Cenário
(kg/dia) (kg/dia)

A : Instituição de Ensino 25,8 3,4

B : Indústria de Café 68,8 1000


Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).
139

Em seguida, calculou-se o Potencial Energético e a Energia fornecida por cada reator


das Etapas 1 e 2, considerando a quantidade de resíduo adicionada (kg) (Tabela 21),
de acordo com a metodologia apresentada na seção 4.3.5.3.

Tabela 21 – Potencial energético da codigestão anaeróbia nas Etapas 1 e 2


Energia fornecida
Potencial energético
Etapa Reator (kWh/ kgresíduo.dia)
(MJ/kgresíduo.dia) x 100
x1000
RDLODO 0,10 0,29
RD0% 0,25 0,69
RD25% 0,63 1,74
1
RD50% 0,22 0,61
RD75% 0,56 1,56
RD100% 0,13 0,36
RILODO 0,07 0,19
RI0% 0,53 1,50
RI25% 0,61 1,70
2
RI50% 0,25 0,68
RI75% 0,34 0,93
RI100% 0,10 0,29
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).

Como era esperado, comparando as Tabelas 15 e 20, os reatores que apresentaram


maior potencial de produção de metano possibilitaram uma maior produção de
energia. Além disso, foi possível estimar o potencial energético dos teores ótimos
obtidos neste trabalho (RD25% e RI25%), que serão úteis para subsidiar novas
pesquisas nesta área.

No entanto, foi proposta a avaliação do potencial de produção de energia a partir das


misturas avaliadas, para os cenários apresentados anteriormente. A energia fornecida
nos dois cenários avaliados é mostrada na Tabela 22.

No cenário A foi considerado o consumo de 3,4 kg de borra de café doméstica para


todas as dosagens, sendo que para o reator RD0% foi considerado o consumo de 25,8
kg de resíduos alimentares (Tabela 20), que é o total gerado pelo restaurante da
instituição.

Já no cenário B foi considerado o consumo de 1000 kg de borra de café industrial e


68,8 kg de resíduos alimentares (Tabela 20), ajustando-se as proporções conforme
os reatores.
140

Em cada cenário foi considerado um período de 30 dias.

Tabela 22 – Potencial de Energia fornecida de acordo com os cenários avaliados

Borra de Resíduos Energia


Lodo
Cenário Reator café Alimentares fornecida
(kg)
(kg) (kg) (kWh/d)

RDLODO 300,00 0,00 0,00 2,59


RD0% 280,00 0,00 25,80 6,35
RD25% 360,00 3,40 24,56 20,23
A
RD50% 180,00 3,40 8,19 3,50
RD75% 120,00 3,40 2,73 5,91
RD100% 90,00 3,40 0,00 1,00
RILODO 1.000,00 0,00 0,00 5,77
RI0% 890,00 0,00 68,32 43,9
RI25% 1.185,00 9,83 68,22 57,74
B
RI50% 1.775,00 29,47 68,13 29,54
RI75% 3.550,00 88,39 68,13 65,76
RI100% 30.000,00 995,92 0,00 138,81
Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).

Após o cálculo da geração diária de energia nos dois cenários (Tabela 22), percebe-
se que o maior potencial de fornecimento de energia no Cenário A advém da mistura
de 25% de borra de café, com 75% de resíduos alimentares, com 20,23 kWh/d. Já no
Cenário B, pelo fato da borra de café ser gerada em ordem de 1 tonelada por dia, a
energia fornecida pela monodigestão se torna superior à das misturas, com uma
geração de 138,81 kWh/d.

Ponderando sobre o Cenário A, que é uma instituição de ensino, pode-se considerar


que o consumo de energia elétrica por estudante é de 0,74 kWh/d. Este dado foi
retirado do trabalho de Souza e Jota (2006) que avaliaram o consumo de energia
elétrica em escolas públicas brasileiras, chegando a valores entre 0,07 a 1,41 kWh/d,
dependendo do tipo de escola. A partir do consumo médio de energia por estudante,
pode-se calcular que a codigestão da borra de café doméstica e os resíduos
alimentares estudados (na proporção de 25% de borra de café doméstica e 75% de
resíduos alimentares) poderia atender o consumo de energia referente a 27 alunos,
correspondendo a 1% do total de alunos da instituição.

Considerando o Cenário B, não foram encontrados dados sobre o consumo de energia


por funcionário na indústria de café, assim, adotou-se, para fins de comparação, o
141

consumo médio diário de energia por funcionário de uma empresa qualquer, no Brasil,
sendo este valor de 1,687 kWh/d (IPEEC,2018). A partir deste valor, encontra-se que
a energia produzida a partir da codigestão anaeróbia de 100% de borra de café
industrial poderia atender ao consumo energético de 82 funcionários, 20,5% do total
de funcionários da empresa.

Comparando os dois cenários, verifica-se que a implantação da codigestão anaeróbia


da borra de café e de resíduos alimentares é mais viável na indústria, que gera uma
maior quantidade destes resíduos. No entanto, é preciso ressaltar que o Cenário A se
apresenta como uma ferramenta interessante para auxílio em atividades de ensino na
área de sustentabilidade.
142

6 CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a realização deste trabalho pode-se verificar que existe um potencial de


produção de biogás e metano a partir da codigestão anaeróbia de borras de café
(doméstica e industrial) e resíduos alimentares, utilizando lodo de UASB como inóculo,
numa relação Resíduo:Inóculo de 1:1.

Os melhores desempenhos nos ensaios BMP avaliados foram obtidos para as


proporções de 25% de borra de café (doméstica ou industrial) e 75% de resíduos
alimentares, que forneceram um BMP de 344,99 NmL/gSTV (RD25%), 350,82
NmL/gSTV (RI25%) e para 75% de borra doméstica e 25% de resíduos alimentares,
com um BMP de 300,59 NmL/gSTV (RD75%), estando dentro da faixa encontrada para
substratos típicos utilizados na digestão anaeróbia, como resíduos alimentares,
dejetos bovinos e suínos.

- Com relação a caracterização das borras de café (doméstica e industrial), dos


resíduos alimentares e do lodo utilizado como inóculo, foi observado que, com
excessão do pH e da relação C:N da borra industrial, os resíduos apresentaram
características semelhantes à faixa apresentada na literatura. Além disso, os dados
obtidos podem ser utilizados como base no desenvolvimento de outras pesquisas que
utilizem os resíduos estudados.

Verificou-se ainda que os substratos apresentavam características adequadas ao


processo de digestão anaeróbia, de forma que as mesmas se complementavam.
Apesar da relação C:N da borra de café (doméstica e industrial) se encontrar acima
de 30, para os os resíduos alimentares e o lodo de ETE (nas duas etapas) foram
obtidos valores inferiroes a 20, indicando que a mistura forneceria valores entre 20 e
30, ideais para o desenvolvimento da digestão anaeróbia, o mesmo foi percebido para
o pH, alcalinidade e a relação AI/AP.

- O protocolo para os testes BMP desenvolvidos também foi considerado adequado,


uma vez que permite alcançar valores de produção de biogás e metano compatíveis
com o aproveitamento energético das misturas de resíduos avaliadas. Ainda, o
protocolo se apresenta como uma ferramenta bastante útil para a condução de novos
estudos nesta temática, sendo definidos fatores importantes para o desenvolvimento
da digestão anaeróbia das borras de café e dos resíduos alimentares estudados:
143

=> O aparato experimental utilizado resultou no adequado desenvolvimento do


experimento;

=> A relação Resíduo:Inóculo aplicada para as misturas de borra de café (doméstica


e industrial), resíduos alimentares e lodo de UASB (R:I de 1gSTV/gSTV), proporcionou
uma produção de biogás/metano compatível com a obtida na literatura para resíduos
já utilizados como substratos na digestão anaeróbia;

=> As concentrações de STV utilizadas em cada reator possibilitaram além de um bom


desempenho na digestão, uma medição eficaz do biogás gerado diariamente, que foi
realizada 1 vez por dia;

- A metodologia utilizada para obtenção do Potencial de Produção de Biogás e de


Metano foi considerada adequada, obtendo-se valores compatíveis com os
encontrados na literatura para os resíduos estudados. O bom desempenho obtido
para a produção de biogás/metano para as misturas citadas (RD25%, RD75% e RI25%)
se deve às características dos resíduos avaliados, que apresentaram sinergia nas
proporções utilizadas, contribuindo para que os parâmetros (pH, Alcalinidade Total,
AI/AP e relação C:N) apresentassem valores adequados para o desenvolvimento da
digestão anaeróbia durante todo o período do teste BMP.

Os reatores RD25%, RD75% e RI25% também apresentaram eficiências de remoção de


DQO, ST e STV acima de 70%, sendo superiores aos estudos envolvendo a digestão
anaeróbia da borra de café.

Para as misturas que continham 100% de borra de café (doméstica ou industrial)


verificou-se a inibição do processo, obtendo-se valores de BMP abaixo dos
apresentados pelo inóculo (nas duas etapas) e pela literatura. Provavelmente isto
ocorreu pela alta concentração de ácidos graxos de cadeia longa (AGCL) gerados a
partir degradação de moléculas lipídicas (presentes em grande quantidade na borra
de café doméstica e industrial), uma vez que os mesmos podem ser tóxicos às
bactérias acetogênicas e arqueas metanogênicas, inibindo a produção de biogás.

Ao final do teste pode-se verificar que mesmo as borras doméstica e industrial


apresentando algumas diferenças com relação a concentração de nutrientes,
alcalinidade e concentração de sólidos totais voláteis, estas só influenciaram para a
mistura com 75% de borra industrial (RI75%), que apresentou uma diminuição na
produção de biogás/metano decorrente da relação C:N obtida e da alta produção de
144

ácidos graxos durante o processo. Para as outras misturas os valores foram


semelhantes, indicando que o comportamento das borras foi semelhante.

- O Potencial energético da codigestão anaeróbia estimada a partir de dados de


referência da literatura foi proporcional aos valores obtidos para a produção de
biogás/metano em todos os reatores. Avaliando a aplicabilidade da tecnologia para os
locais estudados percebe-se que, sob o ponto de vista econômico, a implantação de
digestores na indústria de café solúvel teria maior viabilidade em função da sua escala.

Em ambientes institucionais, onde a produção de borra de café doméstica


proporcionalmente menor, seria importante aprofundar estudos incluindo outros
resíduos orgânicos gerados nestes locais para ampliar o potencial. Cabendo destacar
que ao se ampliar a análise, considerando os ganhos ambientais, e tratando-se de
instituição de ensino o uso da tecnologia como ferramenta de estudo e difusão do
conhecimento.
145

7 RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS


A partir da realização deste trabalho, recomenda-se:

- Avaliação do potencial de produção de biogás e metano a partir da borra de café


com outros substratos, principalmente da indústria do café, visando uma solução
sustentável para estes resíduos;

- Realização de ensaios de degradação anaeróbia com borras de café doméstica e


industrial hidrolisadas (por exemplo em condições ácidas) de forma a fornecer
informações sobre a etapa de hidrólise dos compostos lenho-celulósicos. Além de
determinar se esta etapa é limitante ao processo de degradação anaeróbia, uma vez
que foi percebida a inibição do processo para a digestão que utilizou apenas borra de
café pela alta liberação de ácidos graxos voláteis;

- A realização de ensaios com alimentação contínua, simulando as condições reais de


degradação da borra de café e viabilizando a adoção deste sistema pelos
responsáveis por sua geração.

- Avaliação da viabilidade econômica de implantação de digestores anaeróbios,


operando nas condições indicadas neste estudo, para os teores de misturas avaliados
(25%, 50% e 75% de borra de café).
146

REFERÊNCIAS

ABIC - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DO CAFÉ. Indicadores da


indústria de café no Brasil – 2015. Rio de Janeiro, 2016. Disponível em: <
http://www.abic.com.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=61#5103>. Acesso
em 01 abr. 2017.

ABIOGÁS – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE BIOGÁS E BIOMETANO. Proposta de


Programa Nacional do Biogás e do Biometano. ABIOGÁS: São Paulo. 2018. 80p.
Disponível em: https://docs.wixstatic.com/ugd/e3a792_993f6eb7580b4628ae5eb655
20984fca.pdf>. Acesso em 10 jan. 2019.

ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10.004:


Resíduos sólidos – Classificação. Rio de Janeiro, 2004a. 77 p.

ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10.007:


Amostragem de resíduos sólidos. Rio de Janeiro, 2004b. 25 p.

ABOUELENIEN, F.; NAMBA, Y.; KOSSEVA, M.R.; NISHIO, N.; NAKASHIMADA, Y.


Enhancement of methane production from co-digestion of chicken manure with
agricultural wastes. Bioresource Technology, v.159, p.80-87, 2014.

ABRELPE – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE LIMPEZA PÚBLICA


DE RESÍDUOS ESPECIAIS. Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil - 2017.
ABRELPE, São Paulo. 2017. 74 p.

ABREU, E. F. Estudo da diversidade microbiana metanogênica em reatores


UASB tratando esgoto sanitário. 2007. 105 f. Dissertação (Mestrado em
Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos) - Universidade Federal de Minas
Gerais, 2007.

ACEVEDO, F.; RUBILAR, M.; SCHEUERMANN, E.; CANCINO, B.; UQUICHE, E.;
GARCÉS, M.; INOSTROZA, K.; SHENE, C. Spent coffee grounds as a renewable
source of bioactive compounds. J. Biobased Mater. Bioenergy, v.7, p. 420-428,
2013.

ALBUQUERQUE NETO, H. C.; MARQUES, C. C.; ARAÚJO, P. G. C. GONÇALVES,


W. P.; MAIA, R.; BARBOSA, E. A. Caracterização de resíduos sólidos orgânicos
produzidos no restaurante universitário de uma instituição pública (Estudo de caso).
In: XXVII Encontro Nacional de Engenharia de Produção, 27., 2007, Foz do Iguaçu.
Anais eletrônicos... Foz do Iguaçu: ABEPRO, p. 1-10, 2007. Disponível em: <
147

http://www.abepro.org.br/biblioteca/enegep2007_tr650481_0422.pdf>. Acesso em
01 abr. 2017.

ALVES, J. F. M. Valorização de resíduos por co-digestão anaeróbia. 2015. 184 f.


Dissertação (Mestrado em Sistemas de Energias Renováveis) - Instituto Politécnico
de Viana do Castelo, Portugal, 2015.

ALVES, R. G. C. M.; BELLI FILHO, P.; PHILIPPI, L. S.; HENN, A.; MONTEIRO, L. W.
S. Digestores anaeróbios para tratamento de dejetos suínos – avaliação de partida
para diferentes configurações de reatores. In: CONG. BRAS. ENG. SANITÁRIA E
AMBIENTAL, 23., Anais..., Campo Grande, 2005. 7 p.

ALVES, I. R. F. S. Avaliação da codigestão na produção de biogás. 2016. 168 f.


Tese (Doutorado em Engenharia Civil) - Universidade Federal do Rio de Janeiro,
2016.

AMARAL, A. C.; KUNZ, A.; STEINMETZ, R. L. R.; SCUSSIATO, L. A.; TÁPPARO, D.


C.; GASPARETO, T. C. Influence of solid-liquid separation strategy on biogas yield
from a stratified swine production system. Journal of Environmental Management,
v. 168, p. 229-235, 2016.

ANDREOLI, C.V.; VON SPERLING, M.; FERNANDES, F. Lodo de Esgotos:


Tratamento e Disposição Final. Belo Horizonte: UFMG, p. 465-482, 2001.

ANEEL – AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Atlas de energia


elétrica do Brasil. 3. ed. Brasília, 2008.

ANEEL – AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Banco de Informações


de Geração de Energia Elétrica. 2018. Disponível em: <
http://www2.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/Combustivel.cfm>. Acesso em
01 mar. 2018.

ANGELIDAKI, I.; PETERSEN, S. P.; AHRING, B. K. Effect of lipids on thermophilic


digestion and reduction of lipid inhibition upon the addition of bentonite. Appl.
Microbiol.Biotechnol. v.33, p.469-472, 1990.

ANGELIDAKI, I.; SANDERS, W. Assessment of the anaerobic biodegradability of


macropollutants. Reviews in Environmental Science and Bio/Technology, v.3,
n.2, p. 117-129, 2004.
148

ANP – AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO. Anuário Estatístico Brasileiro do


Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. Brasília, DF, 2009. 236 p.

APHA - AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION. Standard Methods for the


examination of water and wastewater. American Public Health Association,
American Water Works Association, Water Environmental Federation, 21th ed.
Washington. 2005. 937p.

APPELS, L.; LAUWERS, J.; DEGREVE, J.; HELSEN, L.; LIEVENS, B.; WILLEMS,
K.; IMPE, J. V.; DEWIL, R. Anaerobic digestion in global bio-energy production:
Potential and research challenges. Renew Sust Energy, v. 15, n. 9, p. 4295–4301,
2011.

AQUINO, S. F.; CHERNICHARO, C. A. L; FORESTI, E.; SANTOS, M. L. F.;


MONTEGGIA, L. O. Metodologias para determinação da atividade metanogênica
específica (AME) em lodos anaeróbios. Engenharia Sanitária e Ambiental, v. 12, n
2, p. 192-201, 2007.

ASSIS, T. I. Codigestão anaeróbia de esgoto sanitário e lodo algáceo em um


reator UASB. 2017. 170 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Ambiental) -
Universidade Federal do Espírito Santo, Espírito Santo, 2017.

BALLESTEROS, L.F.; TEIXEIRA, J.A.; MUSSATTO, S.I. Chemical, Functional, and


Structural Properties of Spent Coffee Grounds and Coffee Silverskin. Food
Bioprocess Technol. v. 7, p.3493-3503, 2014.

BAUTISTA-LAZO, S.; SHORT, T. Introducing the all seeing eye of business: a model
for understanding the nature, impact and potential uses of waste. Journal of
Cleaner Production, v.40, p. 141-150, 2013.

BENNER, R.; MACCUBBIN, A. E.; HODSON, R. E. Anaerobic Biodegradation of the


Lignin and Polysaccharide Components of Lignocellulose and Synthetic Lignin by
Sediment Microflora. Applied and environmental Microbiology, v.47, n. 5, p.998-
1004, 1984.

BITTON, G. Wastewater Microbiology. 3. ed. New Jersey, USA: John Wiley &
Sons, 2005. 765 p.

BOE, K.; BATSTONE, D.J.; STEYER, J.P.; ANGELIDAKI, I. State indicators for
monitoring the anaerobic digestion. Water Research, v.44, p.5973 - 5980, 2010.
149

BRASIL. SECRETARIA NACIONAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL. Conceitos


para o licenciamento ambiental de usinas de biogás. 1 ed. Brasília, DF:
Ministério das Cidades, 2016. 147 p.

BRASIL. Lei n. 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de


Resíduos Sólidos; altera a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras
providências. Diário Oficial da União, Brasília, n. 147, 03. ago. 2010, Seção 1, p. 3-
7. 2010a. Disponível em: < https://www.jusbrasil.com.br/diarios/7190464/pg-1-secao-
1-diario-oficial-da-uniao-dou-de-03-08-2010/pdfView>. Acesso em: 02 abr. 2017.

BRASIL. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Gestão de resíduos orgânicos.


2017a. Disponível em: < http://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/residuos-
solidos/gest%C3%A3o-de-res%C3%ADduos-org%C3%A2nicos#o-que-fazer>.
Acesso em 23 mar. 2017b.

BRASIL. Lei n. 13.576, de 26 de dezembro de 2017. Dispõe sobre a Política


Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio) e dá outras providências. Diário Oficial
da União, Brasília, n. 247, 27. dez. 2017, Seção 1, p. 4-5. 2017b. Disponível em: <
https://www.jusbrasil.com.br/diarios/DOU/2017/12/27/Secao-1>. Acesso em: 02 abr.
2018.

BRASIL. MCTI – MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA. Emissões de Gases


de Efeito Estufa no Tratamento e Disposição de Resíduos. Brasília, DF: MCTI,
2010b.

BRASIL. MME – MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA. Resenha Energética


Brasileira 2018 – Ano base 2017. Brasília: MME. 2018. 31 p.

BRASIL. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA E AGROPECUÁRIA. Projeções do


agronegócio 2016/2017 a 2026/2027. Brasília: MAPA. 2017c. 127 p.

BRAUN, R.; WELLINGER, A. Potential of Co-digestion. IEA Bioenergy, p. 1–16,


2002.

BRUM, S. S. Caracterização e modificação química de resíduos sólidos do


beneficiamento do café para produção de novos materiais. 2007. 138 f.
Dissertação (Mestrado em Agroquímica) - Universidade Federal de Lavras, Minas
Gerais, 2007.
150

CABBAI, V.; BALLICO, M.; ANEGGI, E.; GOI, D. BMP tests of source selected
OFMSW to evaluate anaerobic codigestion with sewage sludge. Waste
Management, v. 33, p. 1626-1632, 2013.

CABRAL, M. S.; MORIS, V. A. Reaproveitamento da borra de café como medida de


minimização da geração de resíduos. In: ENCONTRO NACIONAL DE
ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 30., 2010, São Paulo. Anais eletrônicos... São
Carlos: ENEGEP, 2010. 9p. Disponível em: <
http://www.abepro.org.br/biblioteca/enegep2010_tn_stp_121_788_17072.pdf>.
Acesso em 05 jan. 2018.

CAETANO, N. S.; SILVA, V. F. M.; MATA, T. M. Valorization of Coffee Grounds for


Biodiesel Production. Chemical Engineering Transactions, v. 26, p. 267-272,
2012.

CAETANO, N. S.; SILVA, V. F. M.; MELO, A. C.; MARTINS, A. A.; MATA, T. M.


Spent coffee grounds for biodiesel production and other applications. Clean
Technol. Environ. Policy, v. 16, p. 1423-1430, 2014.

CALDEIRA, D. C. A. Valorização da Borra de Café: Otimização da Produção de


Biodiesel por Catálise Enzimática. 2015. 192 f. Dissertação (Mestrado em
Engenharai Química) - Instituto Superior de Engenharia do Porto, Portugal, 2015.

CALLADO, N. H.; DAMIANOVIC, M. H. Z.; FORESTI, E. Influência da razão


DQO/[SO42- ] e da concentração de Na+ na remoção de matéria orgânica e sulfato
em reator UASB. Eng. Sanit. Ambient., v. 22, n. 2, p.381-390, 2017.

CAMPOS-VEGA, R.; LORCA-PINA, G.; VERGARA, H.; OOMAH, D. B. Spent coffee


grounds: A review on current research and future prospects. Trends in Food
Science & Technology, v. 45, n. 1, p. 25-36, 2015.

CCEE – CÂMARA DE COMERCIALIZAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA.


Desempenho das usinas à biomassa cresce 14% no primeiro trimestre de 2016.
2016. Disponível em: <https://www.ccee.org.br/ccee/documentos/CCEE_377835>.
Acesso em 03 mar. 2018.

CHEN, S.; ZHANG, J.; WANG, X. Effects of alkalinity sources on the stability of
anaerobic digestion from food waste. Waste Management & Research, v. 33, n. 11,
2015.
151

CHERNICHARO, C.A.L. Princípios do Tratamento Biológico de Águas


Residuárias – Vol. 5 – Reatores Anaeróbios. Belo Horizonte: DESA, 2010. 246 p.

CLEARFLEAU. Nestle Fawdon Factory. 2018. Disponível em: <


https://clearfleau.com/portfolio/nestle-fawdon-factory-ad-plant/>. Acesso em 07 jan.
2019.

COELHO, F. D. P. Determinação e análise do efeito da trituração de FORSU


como pré-tratamento para a digestão anaeróbia. 2014. 56 f. Dissertação
(Mestrado em Engenharia Biológica) - Universidade de Aveiro, Portugal, 2014.

COLATTO, L.; LANGER, M. Biodigestor – resíduo sólido pecuário para produção de


energia. Unoesc & Ciência – ACET, Joaçaba, v. 2, n. 2, p. 119-128, 2011.

COLDEBELLA, A. Viabilidade do uso do biogás da bovinocultura e suinocultura


para geração de energia elétrica e irrigação em propriedades rurais. 2006. 74 f.
Dissertação (Mestrado em Engenharia Agrícola), Universidade Estadual do Oeste do
Paraná, Paraná, 2006.

CONAB. Companhia Nacional de Abastecimento. Acompanhamento da safra


brasileira: café, Safra 2016-2017 – 4º Levantamento. Brasília, v. 3, n.4, 2016. 82p.

CONAB. Companhia Nacional de Abastecimento. Acompanhamento da safra


brasileira: café, Safra 2018 – 4º Levantamento. Brasília, v. 5, n.4, 2018. 84p.

CORREIA, G. T. Contribuição ao estudo e modelagem matemática de reator


anaeróbio de leito granular expandido (EGSB) tratando água residuária da
suinocultura. 2014. 136 f. Tese (Doutorado em Engenharia Química) - Universidade
Federal de São Carlos, São Paulo, 2014.

CRUZ, R.; MENDES, E.; TORRINHA, A.; MORAIS, S.; PEREIRA, J.A.; BAPTISTA,
P.; CASAL, S. Revalorization of spent coffee residues by a direct agronomic
approach. Food Res. Inter., v. 73, p.190-196, 2015.

CUZIN N.; O. A. S.; LABAT, M.; GARCIA J. L. Methanobacterium congolense sp.


nov., from a methanogenic fermentation of cassava peel. Int. J. Syst. Evol.
Microbiol. v. 51, 489-493, 2001.

CABRAL, M. S.; MORIS, V. A. Reaproveitamento da borra de café como medida de


minimização da geração de resíduos. In: ENCONTRO NACIONAL DE
ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 30., 2010, São Paulo. Anais eletrônicos... São
152

Carlos: ENEGEP, 2010. 9p. Disponível em: <


http://www.abepro.org.br/biblioteca/enegep2010_tn_stp_121_788_17072.pdf>.
Acesso em 01 fev. 2019.

DAI, Y.; ZHANG, K.; MENG, X.; LI, J.; GUAN, X.; SUN, Q.; SUN, Y.; WANG, W.; LIN,
M.; YANG, S.; CHEN, Y.; GAO, F.; ZHANG, X.; LIU, Z. New use for spent coffee
ground as an adsorbent for tetracycline removal in water. Chemosphere, v. 217, p.
163-172. 2019.

DEUBLEIN, D.; STEINHAUSER, A. Biogas from Waste and Renewable


Resources: An Introduction. WILEY-V CH: Weinheim, 2011. 450 p.

DINSDALE, R.M., HAWKES, F.R., HAWKES, D.L. The mesophilic and thermophilic
anaerobic digestion of coffee waste containing coffee grounds. Water Res. v. 30, p.
371-377, 1996.

DROSG, B.; BRAUN, R., BOCHMANN, G. Analysis and characterisation of biogas


feedstocks. In: WELLINGER, A., MURPHY, J. D.; BAXTER, D. (eds) The Biogas
Handbook: Science, Production and Applications. Cambridge/UK: Woodhead
Publishing, p.52-84, 2013.

DUARTE, D. D. V. Biogás no Brasil: Desafios à Implementação do Biogás


Gerado a Partir de Biomassa de Origem Animal. 2017. 61 f. Dissertação
(Mestrado em Economia) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
2017.

DURÁN, C. A. A.; TSUKUI, A.; SANTOS, F. K. F; MARTINEZ, S. T.; BIZZO, H. R.;


REZENDE, C. M. Café: Aspectos Gerais e seu Aproveitamento para além da Bebida.
Rev. Virtual Quim., v. 9, n. 1, 2017. 28 p.

EBA – EUROPEAN BIOGAS ASSOCIATION. Statistical Report 2017. Disponível


em: < http://european-biogas.eu/2017/12/14/eba-statistical-report-2017-published-
soon/>. Acesso em 03 mar. 2018.

ELBESHBISHY, E.; NAKHLA, G.; HAFEZ, H. Biochemical methane potential (BMP)


of food waste and primary sludge: influence of inoculum pre-incubation and inoculum
source. Bioresource technology, v. 110, p. 18–25, 2012.

EMBRAPA – EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Produção


dos Cafés do Brasil equivale a 36% da produção mundial em 2018. Embrapa,
Brasília, 30 mai. 2018. Disponível em: < https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-
153

/noticia/34724227/producao-dos-cafes-do-brasil-equivale-a-36-da-producao-mundial-
em-2018>. Acesso em 02 jan. 2019.

FAAIJ, A.P.C. Bio-energy in Europe: changing technology choices. Energy Policy,


v.34, p.322-342, 2006.

FERNANDES, C. Esgotos Sanitários. 1. ed. João Pessoa: Ed. Univ./UFPB, João


Pessoa, 1997. 435p.

FERNANDES, A. S.; MELLO, F. V. C; THODE FILHO, S.; CARPES, R. M.


HONÓRIO, J. G.; MARQUES, M. R. C.; FELZENSZWALB, L.; FERRAZ, E. R. A.
Impacts of discarded coffee waste on human. Ecotoxicol Environ Saf., v. 141, p.
30-36, 2017.

FIRMO, A. L. B. Estudo numérico e experimental da geração de biogás a partir


da biodegradação de resíduos sólidos urbanos. 2013. 286 f. Tese (Doutorado em
Engenharia Civil) - Universidade Federal de Pernambuco. 2013.

FLOR, A. P. C. P. Comportamento de reactores anaeróbios tratando a fracção


orgânica dos resíduos sólidos urbanos. 2006. 203 f. Tese (Doutorado em
Ambiente e Ordenamento) - Universidade de Aveiro, Portugal, 2006.

FORMAGINI, E. L. Produção de metano e ácidos orgânicos a partir da digestão


anaeróbia da vinhaça. 2015. 119 f. Tese (Doutorado em Tecnologias Ambientais) -
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso do Sul, 2015.

FRANCISQUETO, L. O. S. Comportamento de reatores UASB frente a variações


horárias de esgoto sanitário. 2007.178f. Dissertação (Mestrado em Engenharia
Ambiental) - Universidade Federal do Espírito Santo, Espírito Santo, 2007.

FREITAS, G.C.; DATHEIN, R. As energias renováveis no Brasil: uma avaliação


acerca das implicações para o desenvolvimento socioeconômico e ambiental.
Revista Nexos Econômicos, v. 7, n. 1, p. 71-94, 2013.

FURTADO, M. C. Avaliação das oportunidades de comercialização de novas


fontes de energias renováveis no Brasil. 2010. 126 f. Dissertação (Mestrado em
Engenharia Elétrica) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.

GADELHA, E. P. Avaliação de inóculos metanogênicos na aceleração do


processo de degradação da fração orgânica dos resíduos sólidos urbanos.
2005. 126 f. Dissertação (Mestrado em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos) -
Universidade de Brasília, Brasília, 2005.
154

GIROTTO, F.; LAVAGNOLO, M. C.; PIVATO, A. Spent Coffee Grounds Alkaline Pre-
treatment as Biorefinery Option to Enhance their Anaerobic Digestion Yield. Waste
Biomass Valor, v. 9, p. 2565-2570, 2018.

GMI – GLOBAL METHANE INICIATIVE. A Global Perspective of Anaerobic


Digestion Policies and Incentives. GMI: Washington/DC, 2014. 39 p.

GO, A.W.; CONAG, A.T.; CUIZON, D.E.S. Recovery of Sugars and Lipids from Spent
Coffee Grounds: A New Approach. Waste and Biomass Valorization, v. 7, p.1047-
1053, 2016.

GOSWAMI, D. Y.; KREITH, F. Energy Efficiency and Renewable Energy


Handbook. 2. ed. CRC Press, 2018. 1624 p.

GRANZOTTO, F. Uso de biodigestor anaeróbio no tratamento de resíduo


orgânico de restaurante. 2016. 99 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia
Química) - Universidade Federal de Santa Maria, Rio Grande do Sul, 2016.

GRIFFIN, M. E.; RASKIN, L. Methanogenic population dynamics during start-up of


anaerobic digesters treating solid waste and Biosolids. Bioresource technology, v.
57, n. 3, p. 342-355, 1998.

GUARDABASSI, P. M. Sustentabilidade da biomassa como fonte de energia


perspectivas para países em desenvolvimento. 2006, 126 f. Dissertação
(Mestrado em Energia) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.

GUERI, M. V. D. Avaliação do processo de digestão anaeróbia de resíduos


alimentares em reatores batelada e semi-contínuo. 2017. 97 f. Dissertação
(Mestrado em Bioenergia) - Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Paraná,
2017.

GUJER, W.; ZEHNDER, A. J. B. Conversion processes in anaerobic digestion.


Water Science and Technology, v.12, p.127-137, 1983.

GUNASEELAN, V. N. Biochemical methane potential of fruits and vegetables solid


waste feedstocks. Fuel and Energy Abstracts, v. 36, n. 5, p. 403-403, 2004.

H'NG, P. S.; CHAI, E. W.; CHIN, K. L.; PENG, S. H.; WAN-AZHA, W. M.;
HALIMATUN, I.; GO, W. Z.; KHOO, P. S.; LEE, C. L.; RAJA-NAZRIN, R. A..;
155

ASHIKIN, S. N. Evolution of Organic Matter Within Sixty Days of Composting of


Lignocellulosic Food Industry Waste in Malaysia. Compost Science & Utilization, v.
26, n. 1, 2018.

HALLAM, J. M. Efeito da relação substrato/inóculo na partida de reator


anaeróbio para digestão de resíduos alimentares. 2016. 104 f. Dissertação
(Mestrado em Engenharia Civil) - Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Rio
Grande do Sul, 2016.

HOBBS, S. R.; LANDIS, A. E.; RITTMAN, B. E.; YOUNG, M. N.; PARAMESWARAN,


P. Enhancing anaerobic digestion of food waste through biochemical methane
potential assays at different substrate: inoculum ratios. Waste management, v. 71,
p. 612-617, 2018.

HOLLIGER, C.; ALVES, M.; ANDRADE, D.; ANGELIDAKI, IRINI; ASTALS, S.;
BAIER, U.; BOUGRIER, C.; BUFFIERE, P.; CARBALLA, M.; DE WILDE, V.;
EBERTSEDER, F.; FERNANDEZ, B.; FICARA, E.; FOTIDIS, IOANNIS; FRIGON, J.-
C.;LACLOS, H. F.; GHASIMI, D. S. M.; HACK, G.; HARTEL, M.; HEERENKLAGE, J.;
HORVATH, I. S.; JENICEK, P.; KOCH, K.; KRAUTWALD, J.; LIZASOAIN, J.; LIU, J.;
MOSBERGER, L.; NISTOR, M.; OECHSNER, H.; OLIVEIRA, J. V.; PATERSON, M.;
PAUSS, A.; POMMIER, S.; PORQUEDDU, I.; RAPOSO, F.; RIBEIRO, T.; RUSCH
PFUND, F.; STROMBERG, S.; TORRIJOS, M.; VAN EEKERT, M.; VAN LIER, J.;
WEDWITSCHKA, H.; WIERINCK, I. Towards a standardization of biomethane
potential tests. Water Sci. Technol., v.74, n.11, p.2525-2522, 2016.

HWU, C. S.; LETTINGA, G. Acute toxicity of oleate to acetate-utilizing methanogens


in mesophilic and thermophilic anaerobic sludges. Enzyme and Microbial
Technology, v. 21, n.4, p. 297-301, 1997.

HWU, C. S.; TSENG, S. K.; YUAN C. Y.; KULIK, Z.; LETTINGA, G. Biosorption of
long-chain fatty acids in UASB treatment process. Water Res., v. 32, p.1571-1579,
1998.

IGONI, A. H.; AYOTAMUNO, M. J.; EZE, C. L.; OGAJI, S. O. T.; PROBERT, S. D.


Designs of Anaerobis digester for producing biogás from solid-waste. Applied
Energy, v. 85, p.430-438, 2008.

IKBAL; KIDA, K.; SONODA, Y. Liquefaction and Gasification during Anaerobic


Digestion of Coffee Waste by Two-Phase Methane Fermentation with Slurry-State
Liquefaction. Journal of Fermentation and Bioengineering, v. 77, n. 1, p. 85-89,
1994.
156

IPCC - Intergovernmental Panel on Climate Change. Climate Change 2014:


Impacts, Adaptation, and Vulnerability. United Kingdom: Cambridge University.
2014.

IPEA – INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Diagnóstico de


Resíduos Sólidos Urbanos – Relatório de Pesquisa. Brasília, 2012a. 82 p.

IPEA – INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Diagnóstico dos


Resíduos Orgânicos do Setor Agrossilvopastoril e Agroindústrias Associadas.
Brasília, 2012b. 134 p.

IPEA – INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Diagnóstico dos


Resíduos Sólidos Industriais. Brasília, 2012c. 74 p.

ISO – INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION.


ISO 11734: Water quality -- Evaluation of the "ultimate" anaerobic biodegradability of
organic compounds in digested sludge -- Method by measurement of the biogas
production. Geneva, 1995. 13 p.

IZUMI, K.; OKISHIO, Y. K.; NAGAO, N.; NIWA, C.; YAMAMOTO, S.; TODA, T.
Effects of particle size on anaerobic digestion of food waste. International
biodeterioration & biodegradation, v. 64, n. 7, p.601-608, 2010.

JANISSEN, B.; HUYNH, T. T. Chemical composition and value-adding applications of


coffee industry byproducts: A review. Resources, Conservation & Recycling, v.
128, p. 110-117, 2017.

JAWED, M.; TARE, V. Microbial composition assessment of anaerobic biomass


through methanogenic activity tests. Water SA, v. 25, n. 3, p. 345-350, 1999.

KAFLE, G.; KIM, S. H. Anaerobic treatment of apple waste with swine manure for
biogas production: Batch and continuous operation. Applied Energy, v. 103, p. 61-
72, 2013.

KAWAICHI, V. M.; MIRANDA, S. H. G. Políticas Públicas Ambientais: a experiência


dos países no uso de instrumentos econômicos como incentivo à melhoria
ambiental. In: CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA,
ADMINISTRAÇÃO E SOCIOLOGIA RURAL, 46., Rio Branco. Anais eletrônicos...
Rio Branco: SOBER, 2008. 22 p. Disponível em: <
http://www.sober.org.br/palestra/9/692.pdf>. Acesso em 20 jun. 2017.
157

KIDA, K.; IKBAL; SONODA, Y. Treatment of Coffee Waste by Slurry-State Anaerobic


Digestion. Journal of Fermentation and Bioengineering, v. 73, n. 5, p. 390-395,
1992.

KIDA, K.; IKBAL; TESHIMA, M.; SONODA, Y.; TANEMURA, K. Anaerobic Digestion
of Coffee Waste by Two-Phase Methane Fermentation with Slurry-State Liquefaction,
Journal of Fermentation and Bioengineering, v. 77, n. 3, p. 335-338, 1994.

KIM, J.; KIM, H.; BAEK, G.; LEE, C. Anaerobic co-digestion of spent coffee grounds
with different waste feedstocks for biogas production. Waste Mangement, v. 60, p.
322-328, 2017.

KIM, J.; KIM, H.; LEE, C. Ulva biomass as a co-substrate for stable anaerobic
digestion of spent coffee grounds in continuous mode. Bioresource Technology, v.
241, p. 1182-1190, 2017.

KIM, D.; KIM, J.; LEE, C. Effect of Mild-Temperature Thermo-Alkaline Pretreatment


on the Solubilization and Anaerobic Digestion of Spent Coffee Grounds. Energies, v.
11, n. 4, p. 865-879, 2018.

KIM, J.; BAEK, G.; KIM, J.; LEE, C. Energy production from different organic wastes
by anaerobic codigestion: Maximizing methane yield versus maximizing synergistic
effect. Renewable Energy, v. 136, p. 683-690, 2019.

KIRAN, E. U.; STAMATELATOU, K.; ANTONOPOULOU, G.; LYBERATOS, G.


Production of biogas via anaerobic digestio. In: LUQUE, R.; LIN, C. S. K.; WILSON,
K.; CLARK, J. (Org.). Handbook of Biofuels Production. 2. ed. Amsterdam:
Woodhead Publishing, p. 259-301, 2016.

KONDAMUDI, N.; MOHAPATRA, S.K.; MISRA, M. Spent coffee grounds as a


versatile source of green energy. J. Agric. Food Chem. v. 56, p.11.757–11.760,
2008.

KOSTENBERG, D.; MARCHAIM, U. Solid waste from the instant coffee industry as a
substrate for anaerobic thermophilic digestion. Wat. Sci. Tech., v. 27, n.2, p. 97-107,
1993.

KRUPP, L. R.; JEWEEL, W. J. Biodegradability of modified plastic films in controlled


biological environments. Environ. Sci. Technol., v. 26, n. 1, p 193–198, 1992.
158

KWON, E. E.; YI, H.; JEON, Y. J., Sequential co-production of biodiesel and
bioethanol with spent coffee grounds. Biores. Technol. v. 136, p. 475-480, 2013.

LANE, A. G. Anaerobic digestion of spent coffee grounds. Biomass, v. 3, n. 4, p.


247-268, 1983.

LETTINGA, G.; HULSHOF POL, L. W.; ZEEMAN, G. Biological wastewater


treatment. Part I: Anaerobic wastewater treatment. 1 ed. Wageningen: Lecture
notes, Wageningen Agricultural University, p.17-28, 1996.

LI, K.; LIU, R.; SUN, C. Comparison of anaerobic digestion characteristics and kinetics of
four livestock manures with different substrate concentrations. Bioresource
Technology, v. 198, p. 133-140, 2015.

LI, J.; YUAN, H.; YANG, J. Review: Bacteria and lignin degradation. Frontiers of
Biology in China, v.4, n.1, p.29-38, 2009.

LI, X.; STREZOV, V.; KAN, T. Energy recovery potential analysis of spent coffee
grounds pyrolysis products. Journal of Analytical and Applied Pyrolysis, v. 110,
n.1, p. 79-87, 2014.

LOBATO, L. C. S.; CHERNICHARO, C. A. L.; SOUZA, C. L. Estimates of methane


loss and energy recovery potential in anaerobic reactors treating domestic
wastewater. Water Science and Technology, v.6, p. 2745-2753, 2012.

LOPES, F. S.; BARBOZA, K.; SILVEIRA, J. Energia da Biomassa. Bolsista de


valor, v. 3, 2013. 3 p.

LOS, F. J. Avaliação da geração de biogás a partir da biodigestão anaeróbia da


fração orgânica de resíduos sólidos municipais utilizando dejeto animal suíno
e bovino. 2016. 51 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Sanitária e Ambiental) -
Universidade Estadual do Centro-oeste, Paraná, 2016.

MACARIO, A. J. L.; CONWAY DE MACARIO, E. Quantitative immunologic analysis


of the methanogenic flora of digestors reveals a considerable diversity. Applied and
Environmental Microbiology, v. 54, p. 79-86, 1988.

LUZ, F. C.; CORDINER, S.; MANNI, A.; MULONE, V.; ROCCO, V. Anaerobic
Digestion of Liquid Fraction Coffee Grounds at Laboratory Scale: Evaluation of the
Biogas Yield. Energy Procedia, v. 105, p. 1096-1101, 2017.
159

LUZ, F. C.; VOLPE, M.; FIORI, L.; MANNI, A.; CORDINER, S.; MULONE, V.;
ROCCO, V. Spent coffee enhanced biomethane potential via an integrated
hydrothermal carbonization-anaerobic digestion process. Bioresource Technology,
v. 256, p. 102-109, 2018.

MACÊDO, A. D.; PEREIRA, J. S.; CHAVES, L. O.; CONCEIÇÃO, C. V.; MONTEIRO,


R. O.; MATOS, L. J. B. L. Extração do óleo da borra de café visando a produção de
biodiesel. IN: SIMPÓSIO NACIONAL DE BIOCOMBUSTÍVEIS, 9., Teresina:
BIOCOM, Anais... 2016. Disponível em:
<http://www.abq.org.br/biocom/2016/trabalhos/70/8617-20360.html>. Acesso em 01
abr. 2018.

MAGALHÃES, G. V. V. Avaliação da biodigestão anaeróbia de residuos


orgânicos: Ensaios de potencial bioquimico de metano (BMP) e projeto piloto
de um biodigestor em escala real. 2018. 131 f. Tese (Doutorado em Engenharia
Civil) - Universidade Federal do Ceará, Ceará, 2018

MARA, D.; HORAN, N. Handbook of Water and Wastewater Microbiology. 1. ed.


Academic Press, 2003. 832 p.

MARCOVITCH, J.; MACHADO FILHO, C. A. P.; FERREIRA, G. T. C. A Governança


Ambiental e seus Compromissos. São Paulo: FEA/USP, 2019. Disponível em:
https://www.usp.br/mudarfuturo/cms/. Acesso em 04 dez. 2018.

MARINHO, A. R. C. Tratamento e valorização biológica carvalho de resíduos


orgânicos. 2014. 133 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia do Ambiente) -
Universidade de Aveiro, Portugal, 2014.

MARQUES, R. F. P. V. Impactos ambientais da disposição de resíduos sólidos


urbanos no solo e na água superficial em três municípios de Minas Gerais.
2011. 96 f. Dissertação (Mestrado em Recursos Hídricos e Sistemas Agrícolas),
Universidade Federal de Lavras, Minas Gerais, 2011.

MASSÉT, D. I.; SAADY, N. M. C. High rate psychrophilic anaerobic digestion of


undiluted dairy cow feces. Bioresource Technology, v. 187, p.128-135, 2015.

MATA-ALVAREZ, J.; DOSTA, J.; MACÉ, S.; ASTALS, S. Codigestion of solid


wastes: A review of its uses and perspectives including modeling. Critical Reviews
in Biotechnology, v. 31, n.2, p.99-111, 2011.
160

MATA-ALVAREZ, J., DOSTA, J., ROMERO-GUIZA, M.S., FONOLL, X., PECES, M.,
ASTALS, S. A critical review on anaerobic co-digestion achievements between 2010
and 2013. Renewable and sustainable energy reviews, v. 36, p. 412-427, 2014.

MAYER, M. C. Estudo da influência de diferentes inóculos no tratamento


anaeróbio de resíduos sólidos orgânicos. 2013. 70 f. Dissertação (Mestrado em
Ciência e Tecnologia Ambiental) - Universidade Estadual da Paraíba, Paraíba, 2013.

MOLINA, F.; CASTELLANO, M.; GARCÍA, C.; ROCA, E.; LEMA, J. M. Selection of
variables for online monitoring, diagnosis, and control of anaerobic digestion
processes. Water Science and Technology, v.60, n.3, p.615-622, 2009.

MONTEGGIA, L. Proposta de metodologia para avaliação do parâmetro de Atividade


Metanogênica Específica. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA
SANITÁRIA E AMBIENTAL, 19., 1997, Foz do Iguaçu, Anais ... 1997. 13 p.

MURTHY, P. S.; NAIDU, M. M. Recovery of phenolic antioxidants and functional


compounds from coffee industry by-products. Food and Bioprocess Technology, v.
5, p.897–903, 2012.

MUSSATTO, S. I.; CARNEIRO, L. M.; SILVA, J. P. A.; ROBERTO, I.C.; TEIXEIRA, J.


A. A study on chemical constituents and sugars extraction from spent coffee
grounds. Carbohydrate Polymers, v. 83, p. 368-374, 2011.

MUSTAFA, M. Y.; CALAY, R. K.; ROMÁN E. Biogas from Organic Waste - A Case
Study. Procedia Engineering, v.146, p.310-317, 2016.

NAYONO, S. E. Anaerobic digestion of organic solid waste for energy


production. 2009. 152 f. Tese (Doutorado em Engenharia) - Universität Fridericiana
zu Karlsruhe (TH), Alemanha, 2009.

NEVES, L.; OLIVEIRA, R.; ALVES, M. M. Anaerobic co-digestion of coffee waste and
sewage sludge. Waste Management, v.26, p.176–181, 2006.

NGUYEN, P.H.L.; KURUPARAN, P.; VISVANATHAN, C. Anaerobic digestion of


municipal solid waste as a treatment prior to landfill. Bioresource Technology, v.98,
p. 380-387, 2007.
161

NIELSEN, H. B. E ANGELIDAKI, I. Strategies for optimizing recovery of the biogas


process following ammonia inhibition. Bioresource Technology, v. 99, n. 17, p.
7995-8001, 2008.

OI, S.; TANAKA, T.; YAMANOTO, T. Methane Fermentation of coffee gounds and
some factors to improve the fermentation. Agric. Biol. Chem., v. 45, n.4, p.871-878,
1981.

OLIVEIRA, V.R.; FREIRE, F.M.; VENTURI, R.; CARRIJO, O.A.; MASCARENHAS,


M.H.T. Caracterização química de substratos para produção de hortaliças.
Horticultura brasileira, v.21, n.2, Suplemento 1, p.288-291, 2003.

ONU – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. The Millennium Development


Goals Report 2015. New York, 2015. 75 p. Disponível em: <
http://www.un.org/millenniumgoals/2015_MDG_Report/pdf/MDG%202015%20rev%2
0(July%201).pdf>. Acesso em 01 dez. 2018.

OWEN, W. F.; STUCKEV, D. C.; HEALV, J. B.; YOUNG, L. Y.; MCCAGRV, P. L.


Bioassay for monitoring biochemical methane potential and anaerobic toxicity, Water
Research, v. 13. p. 485-492, 1979.

PAULA JR, D. R.; FORESTI, E. Sulfide toxicity kinetics of a UASB reactor. Brazilian
Journal of Chemical Engineering, v. 26, n. 4, p. 669-675, 2009.

PEDRAS, B. M.; NASCIMENTO, M.; SÁ-NOGUEIRA, I.; SIMÕES, P.; PAIVA, A.;
BARREIROS, S. (no prelo). Semi-continuous extraction/hydrolysis of spent coffee
grounds with subcritical water. Journal of Industrial and Engineering Chemistry.
2019. Disponível em:
<https://reader.elsevier.com/reader/sd/pii/S1226086X19300012?token=34F67528C5
CACFAF60974617F85192A7AD03F5F3D7518A606D6E4393AB4213AEB37DDB78
D210680C81EEBB08F439926D>. Acesso em 05 jan. 2019.

PEREIRA, E. L.; CAMPOS, C. M. M.; MOTERANI, F. Efeitos do pH, acidez e


alcalinidade na microbiota de um reator anaeróbio de manta de lodo (UASB)
tratando efluentes de suinocultura. Ambi-Agua, Taubaté, v. 4, n. 3, p. 157-168,
2009.

PFEFFER, J. T. Anaerobic digestion processes. In: In First International Symposium


on Anaerobic Digestion, University College, Cardiff, p. 15-36, 1979.
162

PAGLIUSO, J. D.; REGATTIERI, C. R. Estudo do aproveitamento da energia do


biogás proveniente da incineração do chorume para a geração de eletricidade.
Revista Brasileira de Ciências Ambientais, n. 16, p. 32-38, 2008.

PUJOL, D.; LIU, C.; GOMINHO, J.; OLIVELLA, M. À.; FIOL, N.; VILLAESCUSA, I.;
PEREIRA, H. The chemical composition of exhausted coffee waste. Ind. Crops
Prod., v. 50, p. 423-429, 2013.

QIAO, W., TAKAYANAGI, K., SHOFIE, M., NIU, Q., YU, H.Q., LI, Y.Y. Thermophilic
anaerobic digestion of coffee grounds with and without waste activated sludge as co-
substrate using a submerged AnMBR: system amendments and membrane
performance. Bioresource Technology, v.150, p. 249-258, 2013.

QIAO, W.; SHOFIE, M.; Takayanagi, K.; LI, Y. Thermophilic anaerobic co-digestion of
coffee grounds and excess sludge: long term process stability and energy
production. RSC Adv., v. 5, p.26452-26460, 2015.

RAMALAKSHMI, K.; RAO, L. J. M.; TAKANO-ISHIKAWA, Y.; GOTO, M. Bioactivities


of low-grade green coffee and spent coffee in different in vitro model systems. Food
Chemistry, v. 115, n.1, 79-85, 2009.

RAPOSO, F. FERNANDEZ-CEGRI, V ; BORJA, R ; BELINE, F ; CAVINATO, C ;


DEMIRER, G ; FERNANDEZ, B ; FERNANDEZ-POLANCO, M ; FRIGON, J ;
GANESH, R ; KAPARAJU, P ; KOUBOVA, J ; MENDEZ, R ; MENIN, G ; PEENE, A ;
SCHERER, P ; TORRIJOS, M ; UELLENDAHL, H ; WIERINCK, I.; WILDE, V.
Biochemical methane potential (BMP) of solid organic substrates: evaluation of
anaerobic biodegradability using data from an international interlaboratory study.
Journal of Chemical Technology & Biotechnology, v. 86, n. 8, p. 1088-1098,
2011a.

RAPOSO, F.; DE LA RUBIA, M. A.; FERNÁNDEZ-CEGRÍ, V.; BORJA, R. Anaerobic


digestion of solid organic substrates in batch mode: An overview relating to methane
yields and experimental procedures. Renewable and Sustainable Energy Reviews,
v.16, p. 861-877, 2011b.

REGO, E. E.; HERNANDEZ, F. D. M. Eletricidade por digestão anaeróbia da vinhaça


de cana-de-açúcar: contornos técnicos, econômicos e ambientais de uma opção. In:
ENCONTRO DE ENERGIA NO MEIO RURAL, 6., Campinas. Anais
eletrônicos... Campinas: USP, 2006. 10 p. Disponível em:
<http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=MSC000000002
2006000100053&lng=en&nrm=abn>. Acesso em: 26 Mar. 2018.
163

REN21. Renewables 2018 Global Status Report. Paris: REN21. 2018. 325 p.

RIGGIO, S.; HERNANDÉZ-SHEK, M. A.; TORRIJOS, M.; VIVES, G.; ESPOSITO, G.;
VAN HULLEBUSCH, E. D.; STEYER, J. P.; ESCUDIÉ, R. Comparison of the
mesophilic and thermophilic anaerobic digestion of spent cow bedding in leach-bed
reactors. Bioresource Technology, v. 234, p. 466-471, 2017.

RIPLEY E.; BOYLE, C.; CONVERSE, C. Converse JC. Improved alkalimetric


monitoring for anaerobic digestion of high strength wastes. Water Pollut
Control Fed., v. 58, n.5, p.406-411, 1986.

RISBERG, K. Quality and function of anaerobic digestion residues. 2015. 56 f.


Tese (Doutorado em Ciências da agricultura) - Swedish University of Agricultural
Sciences, Suécia, 2015.

RYNK, R.; VAN DE KAMP, M.; WILLSON, G. B.; SINGLEY, M. E.; RICHARD, T. L.;
KOLEGA, J. J.; GOUIN, F. R.; LALIBERTY JR, L.; KAY, D.; MURPHY, D. W.;
HOITINK, H. A. J.; BRINTON, W. F. On-Farm composting handbook. Northeast
Regional Agricultural Engineering Service: Ithaca/N.Y., 1992. 204 p.

SANTOS, J. C. P. Secagem de borra de café em secador ciclônico. 2009. 77 f.


Dissertação (Mestrado em Ciência de Alimentos) - Universidade Federal de Lavras,
Minas Gerais, 2009.

SAVANT, D. V.; SHOUCHE, Y. S.; PRAKASH, S.; RANADE, D. R.


Methanobrevibacter acididurans sp. nov., a novel methanogen from a sour anaerobic
digestor. Int. J. Syst. Evol. Microbiol., v. 52, p.1081-1087, 2002.

SAWATDEENARUNAT, C.; SURENDRA, K. C.; TAKARA, D.; OECHSNER, H.;


KHANAL, S. K. Anaerobic digestion of lignocellulosic biomass: Challenges and
opportunities,” Bioresource Technology, v. 178, p. 178-186, 2015.

SCARLAT, N.; DALLEMAND, J. F.; FAHL, F. Biogas: developments and


perspectives in Europe. Renewable Energy, v. 117, p. 1-50, 2018.

SCHIEVANO, A.; D'IMPORZANO, G.; MALAGUTTI, L.; FRAGALI, E.; RUBONI, G.;
ADANI, F. Evaluating inhibition conditions in high-solids anaerobic digestion of
organic fraction of municipal solid waste. Bioresource Technology, v. 101, n. 14, p.
5728-5732, 2010.
164

SHAH, F. A.; MAHMOOD, Q.; SHAH, M. M.; PERVEZ, A.; ASAD, S. A. Microbial
Ecology of Anaerobic Digesters: the Key Players of Anaerobiosis. The Scientific
World Journal, 2014. 21 p.

SHEN, J.; ZHAO, C.; LIU, Y.; ZHANG, R.; LIU, G.; CHEN, C. (no prelo). Biogas
production from anaerobic co-digestion of durian shell with chicken, dairy, and pig
manures. Energy Conversion and Management, 2018. 10 p.

SHOFIE, M.; QIAO, W.; LI, Q.; TAKAYANAGI, K.; LI, Y. Comprehensive monitoring
and management of a long-term thermophilic CSTR treating coffee grounds, coffee
liquid, milk waste, and municipal sludge. Bioresource Technology, v. 102, p. 202-
211, 2015.

SILVA, M. C. P. Avaliação de lodo anaeróbio e dejeto bovino como potenciais


inóculos para partida de digestores anaeróbios de resíduos alimentares. 2014.
115 f. Dissertação (Mestrado em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos)
- Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais, 2014.

SILVA, A. J.; VARESCHE, M. B.; FORESTI, E.; ZAIAT, M. Sulphate removal from
industrial wastewater using a packed-bed anaerobic reactor. Process Biochemistry,
v. 37, n.9, p. 927-935, 2002.

SILVA, C.; ASTALS, S.; PECES, M.; CAMPOS, J. L.; GUERRERO, L.; Biochemical
methane potential (BMP) tests: Reducing test time by early parameter estimation.
Waste Management, v. 71, p. 19-24, 2018.

SILVA, G. A.; MORAIS, J. A. M.; ROCHA, E. R. Proposta de procedimento


Operacional padrão para o teste do Potencial Bioquímico do Metano aplicado a
resíduos sólidos urbanos. Eng Sanit Ambient., v.21, n.1, P. 11-16, 2016.

SILVA, M. A., NEBRA, S. A., MACHADO SILVA, M. J., SANCHEZ, C. G. The use of
biomass residues in the Brazilian soluble coffee industry. Biomass and Bioenergy,
v. 14, p. 457 - 467. 1998.

SILVEIRA, D.T.; CÓRDOVA, F.P. In: GERHARDT, T.E.; SILVEIRA, D.T. (Org.).
Métodos de Pesquisa. 1 ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009. 120 p.

SILVEIRA, G. S. Estudo da co-digestão anaeróbia de lamas domésticas com o


efluente da indústria de fermentação da levedura do pão da empresa Mauri
Fermentos. 2009. 106 f. Dissertação (Mestrado em Energia e Bioenergia) -
Universidade Nova de Lisboa, Portugal, 2009.
165

SILVEIRA, M. R. R. Potencial de produção de biogás da codigestão anaeróbia


termofílica de resíduos de frutas e verduras e lodo de esgoto primário. 2017. 92
f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Química) - Universidade Federal de Santa
Catarina. Santa Catarina, 2017.

SKOVSGAARD, L.; JACOBSEN, H. K. Economies of scale in biogas production and


the significance of flexible regulation. Energy Policy, v. 101, p. 77-89, 2017.

SOARES, M. G. Efeito da suplementação de cobalto na biodigestão anaeróbia


de vinhaça de cana-de-açúcar em reator termofílico de leito estruturado. 2015.
86 f. Dissertação (Mestrado em Ciência e Engenharia Ambiental) - Universidade
Federal de Alfenas, Minas Gerais, 2015.

SOARES, L. S.; MORIS, V. A. S.; YAMAGI, F. M.; PAIVA, J. M. F. Utilização de


Resíduos de Borra de Café e Serragem na Moldagem de Briquetes e Avaliação de
Propriedades. Matéria (Rio J.), Rio de Janeiro, v. 20, n. 2, p. 550-560, 2015.

SOSNOWSKI, P.; WIECZOR, A.; LEDAKOWICZ, S. Anaerobic co-digestion of


sewage sludge and organic fraction of municipal solid wastes. Advances in
Environmental Research, v.7, p. 609-616, 2003.

SOUZA, M. E. Fatores que influenciam a digestão anaeróbia. Revista DAE. v.44,


n.137, jun, 1984.

SOUZA, A. P. A.; JOTA, P. R. S. Índices de Desempenho Energético para o Setor de


Escolas Públicas – Estudo de Caso da Cidade de Itabira – MG. In: ENCONTRO 112
NACIONAL DE TECNOLOGIA NO AMBIENTE CONSTRUÍDO, 11., 2006,
Florianópolis. Anais... Florianópolis: ENTAC, p. 882-891, 2006.

SOUZA, S. N. M.; PEREIRA, W. C.; PAVA, A. A. Custo da eletricidade gerada em


conjunto motor gerador utilizando biogás da suinocultura. Acta Scientiarum
Technology, v. 26, n. 2, p. 127-133, 2004.

STREITWIESER, A. Comparison of the anaerobic digestion at the mesophilic and


thermophilic temperature regime of organic wastes from the agribusiness.
Bioresource Technology, v. 241, p.985-992, 2017.

TCHOBANOGLOUS, G. BURTON, F. L. STENSEL, H. D. Wastewater Engineering:


Treatment and Reuse. 4 ed. Nova York: McGraw-Hill, 2003. 823p.
166

TODA, T. A. Minimização de resíduos do processamento do café solúvel


através do reaproveitamento da borra para extração de óleo utilizando solvente
renovável. 2016. 111 f. Dissertação (Mestrado em Ciências) - Universidade de São
Paulo, São Paulo, 2016.

UE – UNIÃO EUROPÉIA. Directiva 2001/77/CE do Parlamento Europeu e do


Conselho, de 27 de Setembro de 2001, relativa à promoção da electricidade
produzida a partir de fontes de energia renováveis no mercado interno da
electricidade. Bruxelas: UE, 2011. 8 p.

VALERO, D.; MONTES, J. A.; RICO, J. L.; RICO, C. Influence of headspace


pressure on methane production in Biochemical Methane Potential (BMP) tests.
Waste Management, v. 48, p. 193-198, 2016.

VIA PÚBLICA; CLIMATE WORKS. Estudo de alternativas de tratamento de


Resíduos sólidos urbanos. Incinerador mass burn e biodigestor anaeróbio.
2012. 41 p. Disponível em: < http://polis.org.br/wp-content/uploads/BIODIGESTAO-
e-INCINERACAO.pdf>. Acesso em 05 jan. 2018.

VIEIRA, A. C. Caracterização da biomassa proveniente de resíduos agrícolas.


2012. 72 f. Dissertação (Mestrado em Energia e Agricultura) - Universidade Estadual
do Oeste do Paraná, Paraná, 2012.

VILELA, F. R. Biometanização: estudo da influência do lodo e da serragem no


tratamento anaeróbio da fração orgânica dos resíduos sólidos urbanos
(FORSU). 2015. 229 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Hidráulica e
Saneamento) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.

VIOTTO, L. A. Projeto e Avaliação econômica de sistemas de Secagem de


Borra de Café. 1991. 295 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Alimentos).
Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 1991.

VITEZ, T.; KOUTNY, T.; ŠOTNAR, M.; CHOVANEC, J. On the spent coffee grounds
biogas production. Acta universitatis agriculturae et silviculturae mendelianae
brunensis, v. 64, p. 1279-1282, 2016.

VON SPERLING, M. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de


esgotos. Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental:
Universidade Federal de Minas Gerais, 2005. 452 p.
167

WANG, S.; RUAN, Y.; ZHOU, W.; LI, Z.; WU, J.; LIU, D. Net energy analysis of
small-scale biogas self-supply anaerobic digestion system operated at psychrophilic
to thermophilic conditions. J. Clean. Prod. v. 174, p.226–236, 2018.
WANG, X.; LU, X.; LI, F.; YANG, G. Effects of Temperature and Carbon-Nitrogen
(C/N) Ratio on the Performance of Anaerobic Co-Digestion of Dairy Manure, Chicken
Manure and Rice Straw: Focusing on Ammonia Inhibition. PLoS One, v. 9, n. 5,
2015.

WANGEN, D. R. B.; CARDOSO, M. T. R.; FREITAS, R. O. F.; FERNANDES, E. F.;


DUARTE, G. M. PINTO, A. F. J. Borra de café na produção de mudas de alface,
Lactuca sativa L. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO, 35., 2015,
Natal, Anais eletrônicos... p. 1-3, 2015. Disponível em: <
http://eventosolos.org.br/cbcs2015/arearestrita/arquivos/2541.pdf>. Acesso em 01
abr. 2017.

WBA – WORLD BIOGAS ASSOCIATION. Igniting biogas growth around the


world. 2018. 8 p. Disponível em: <https://www.compost.it/attachments/article/1317/
UK-AD-and-WORLD-BIOGAS-EXPO-2018-BROCHURE>. Acesso em 05 jan. 2019.

WELLINGER, A.; MURPHY, J.; BAXTER, D. The biogas handbook Science,


production and applications. Cambridge/UK: Woodhead Publishing, 2013. 501 p.

WU, X., YAO, W., ZHU, J., MILLER, C. Biogas and methane productivity by
codigesting swine manure with three crop residues as an external carbon source.
Bioresource Technology, v. 101, p. 4042–4047, 2010.

XU, F.; LI, Y. GE, X.; YANG. L.; LI, Y. Anaerobic digestion of food waste -
Challenges and opportunities. Bioresource Technology, v. 247, p. 1047-1058,
2018.

YOUSUF, A.; KHAN, M. R.; PIROZZI, D.; WAHID, Z. A.; ATNAW, S. M. Economic
and Market Value of Biogas Technology. In: Singh, L.; KALIA, V.C. (Org.). Waste
Biomass Management – A Holistic Approach. 1 ed. Nova York: Springer, p. 137-
158, 2017.

ZANETTE, A. L. Potencial de aproveitamento energético do biogás no Brasil.


2009. 105 f. Dissertação (Mestrado em Ciências em Planejamento Energético)
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.

ZHANG, L.; LEEB, Y. W.; JAHNGA, D. Anaerobic co-digestion of food waste and
piggery wastewater: Focusing on the role of trace elements. Bioresource
Technology, v. 102, n. 8, p. 5048-5059, 2011.
168

ZELLNER, G.; MESSNER, P.; WINTER, J.; STACKEBRANDT, E. Methanoculleus


palmolei sp. nov., an irregularly coccoid methanogen from an anaerobic digester
treating wastewater of a palm oil plant in North-Sumatra, Indonesia. Int. J. Syst.
Evol. Microbiol., v. 48, 1111-1117, 1998.
169

APÊNDICE A - PROTOCOLO PARA TESTES BMP UTILIZANDO RESÍDUOS


ALIMENTARES E BORRA DE CAFÉ COMO SUBSTRATOS

1 Apresentação

O Teste BMP (Biochemical Methane Potential) é uma metodologia utilizada para


avaliação da biodegradabilidade anaeróbia de substratos orgânicos. Como resultado
do teste BMP é obtida a quantidade máxima de biogás (BBP) ou metano (BMP) que
um substrato pode produzir a partir da digestão anaeróbia.

2 Objetivo

Descrever os procedimentos necessários para execução do teste BMP a partir da


digestão anaeróbia de borras de café (doméstica e industrial) e resíduos alimentares,
utilizando lodo de UASB como inóculo.

3 Definições

- BBP (Biochemical Biogas Potential): Potencial de geração de biogás a partir da


digestão anaeróbia de um substrato orgânico [1].

- BMP (Biochemical Methane Potential): Potencial de geração de metano a partir da


digestão anaeróbia de um substrato orgânico [1].

- Borra de café doméstica: Resíduo obtido após a infusão do pó de café.

- Borra de café industrial: Resíduo gerado na produção do café solúvel, após a


extração dos sólidos solúveis.

- Digestão anaeróbia: processo de decomposição da matéria orgânica por via


anaeróbia, ou seja, na ausência de oxigênio molecular, onde microrganismos
anaeróbios ou facultativos promovem a degradação da matéria orgânica complexa,
gerando compostos mais simples, solúveis, assimiláveis pelos microrganismos [2].

4 Princípio do método

Baseia-se na avaliação do potencial de geração de biogás ou metano de um substrato


orgânico, utilizando um inóculo com uma biomassa ativa, como lodo de biodigestores
de resíduos orgânicos. Para desenvolvimento do teste é utilizado um aparato
experimental de bancada, composto por reatores anaeróbios e um sistema de
medição do biogás ou do metano. Os reatores são alimentados no início do teste com
170

uma proporção conhecida de Resíduo e Inóculo (R/I), geralmente de 0,5 a 2gSTV, e


vedados [1].

O monitoramento da produção de biogás e metano é realizada durante 45 dias. Após


o teste é calculada a produção acumulada de biogás ou de metano, que é dividida
pela massa substrato adicionada, que é o valor do BMP, no caso da medição de
metano, ou do BBP, para o biogás. Deve ser feito um teste para determinação do
potencial BMP ou BBP do inóculo, subtraindo-se do valor total obtido no teste com o
substrato.

5 Materiais e equipamentos

5.1 Materiais

- Resíduos:

Borra de café doméstica;

Borra de café industrial;

Resíduos alimentares;

Lodo de UASB;

- Reagentes:

Bicarbonato de sódio (NaHCO3);

Água;

- Insumos:

Frascos Erlenmeyer;

Frascos tipo Schott Transparente e Âmbar;

Provetas de 100 mL, 50 mL, 25 mL e 10 mL;

Mangueira;

Seringa;

Borracha rígida para vedação (tipo rosca);

Equipo de soro;

Cilindro de Nitrogênio gasoso;


171

Caneta e papel.

5.2 Equipamentos

Incubadora que funcione a 35ºC ± 1ºC.

6 Fluxograma do teste

O fluxograma para execução do teste é mostrado na Figura 1 (Anexo).

6. 1 Aparato experimental

O aparato experimental utilizado para contabilização da produção de biogás/metano


pode ser do tipo manométrico (medição da pressão gerada nos reatores e conversão
para o volume de metano), ou volumétrico, com auxílio de um frasco preenchido com
uma solução (água ou NaOH), que recebe o biogás gerado no reator, convertendo o
volume de biogás em líquido, que é coletado e aferido, conforme metodologia descrita
por Aquino et al. (2007) [3].

O aparato experimental do tipo volumétrico (Figura 2, no Anexo) deve ser composto


por um frasco tipo Schott de cor âmbar (utilizado como reator anaeróbio) (1), um frasco
tipo Schott transparente (3) que será preenchido com água e um frasco tipo
Ernlenmeyer para coleta da água deslocada no frasco (4) pela produção de
biogás/metano. É aconselhável que os frascos tipo Schott tenham um volume de
250mL.

Conforme a Figura 2 (Anexo), deverá ser utilizada uma mangueira para coleta do gás
no reator (1) e transporte para o frasco (3), a mangueira pode ser conectada aos
reatores (1) e aos frascos com água (3) com auxílio de uma seringa, para maior
vedação (5), mostrada na Figura 3 (Anexo). Para transporte da água deslocada pelo
gás no frasco (3) deverá ser utilizado um Equipo soro (6), de acordo com a Figura 3
(Anexo).

O aparato experimental deve conter uma incubadora que garanta a temperatura de


35ºC ± 1ºC.

6.2 Coleta dos substratos e inóculo

Substratos: Os substratos devem ser coletados no máximo 1 semana antes do início


do experimento. Após a coleta, estes devem ser armazenados em um refrigerador a
4ºC até a data de sua utilização. Os substratos devem ser caracterizados inicialmente
172

com relação a concentração de Sólidos Totais (ST) e Sólidos Totais Voláteis (STV)
para montagem dos reatores.

Inóculo: O inóculo deve ser coletado de um digestor que esteja em funcionamento


(UASB ou Digestor Anaeróbio de resíduos orgânicos), também com antecedência
máxima de 1 semana. Após coleta, o inóculo deve ser armazenado em refrigerador a
4ºC. Antes do início do experimento, o incóculo deve ser incubado a 35ºC por 3 dias,
tendo em vista a sua desgaseificação e a aclimatação da biomassa. Assim como os
substratos, o inóculo deve ser caracterizado quanto concentração de ST e STV para
montagem dos reatores.

6.3 Montagem dos reatores

6.3.1 Definição das quantidades de substratos e inóculo por reator

Volume preenchido do reator: Os reatores devem ser preenchidos com a mistura de


substratos e inóculos de forma que seja alcançado um headspace de no mínimo 20%.

Relação Resíduo/Inóculo: A quantidade de resíduo e inóculo utilizados no teste deve


obedecer a relação Resíduo/Inóculo de 1 gSTVResíduo/1gSTVInóculo, tendo em vista o
melhor desempenho da digestão anaeróbia e da produção de metano. Deve-se
observar ainda a concentração de STV por reator, que deve ser de 10 a 60 gSTV/L
[1].

6.3.2 Inoculação dos reatores

Após o cálculo das quantidades de substratos e inóculo os reatores devem ser


inoculados.

Ajuste do pH: O pH nos reatores antes do teste deve ser padronizado, estando em
torno de 7. Para tal, deve ser utilizado um agente tamponante, como bicarbonato de
sódio (NaHCO3). A dosagem de bicarbonato deve respeitar os valores limite de
toxicidade do íon sódio (Na+) para os microrganismos anaeróbios: 3500-5500
mg(Na+)/L [4] [5].

Expurga do O2: Após o ajuste do pH é necessária a expurga do O2 nos reatores para


estabelecimento de um meio anaeróbio para o desenvolvimento dos microrganismos.
A expurga de oxigênio deve ser realizada com nitrogênio gasoso, durante 2 min, a 1
psi.
173

Vedação dos reatores: Os reatores devem ser vedados para evitar perda de biogás
no processo. Para tal deve ser utilizada uma borracha rígida, que funcionará como
uma rosca de vedação (Figura 4a e 4b no Anexo). Após inserção da vedação, os
frascos devem ser fechados com a tampa de origem.

6.3.3 Execução do teste BMP

Após montagem, os reatores devem ser incubados a 35ºC +- 1ºC, durante 45 dias. A
medição do biogás/metano produzido deve ser diária, sempre no mesmo horário. Nos
experimentos que utilizam o método de medição volumétrico, deve ser colocado um
frasco com água junto aos reatores de forma a saturar o ambiente com vapor d’água,
evitando a sua evaporação dos frascos Erlenmeyer. A medição nos experimentos
volumétricos deve ser realizada com provetas.

6.3.4 Cálculo do Potencial de Produção de Biogás e Metano

Após o final do teste, o volume de biogás/metano produzido deve ser corrigido para
as CNTP, considerando as condições de execução do teste, conforme a Equação 1.
Em seguida, deve ser calculado o Potencial Bioquímico de Biogás ou Metano,
expresso em termos de NmL/gSTVadicionada, de forma a auxiliar na comparação dos
resultados obtidos na literatura (Equação 2).

𝑃1 𝑥 𝑉1 𝑃2 𝑥 𝑉2
𝐿𝐴𝐵 = 𝐶𝑁𝑇𝑃 (1)
𝑇1 𝑇2

Onde:

P1 = Pressão do biogás/metano produzido;


P2 = Pressão nas CNTP;
T1 = 308 K = Temperatura de execução do teste BMP (35ºC);
T2 = 273 K = Temperatura nas CNTP;
V1 = Volume gerado de biogas/metano;
V2 = Volume de biogas/metano corrigido para as CNTP.

𝑉𝑎𝑐𝑢𝑚
𝐵𝑀𝑃𝑅𝑒𝑎𝑡𝑜𝑟 = [𝑓 𝑥 ( )] (2)
𝑀𝑎𝑠𝑠𝑎𝑆𝑇𝑉 𝑅𝑒𝑎𝑡𝑜𝑟

Onde:

- 𝐵𝑀𝑃𝑅𝑒𝑎𝑡𝑜𝑟 = Potencial de produção de biogás/metano em cada reator (NmL/gSTV);


174

- 𝑉𝑎𝑐𝑢𝑚 = Volume total (mL) de biogás/metano gerado nos 45 dias de experimento,


em cada reator;
- 𝑓 = Fator de correção do volume de biogás/metano para as CNTP = 0,886 (seção
4.3.4.3);
- 𝑀𝑎𝑠𝑠𝑎𝑆𝑇𝑉𝑅𝑒𝑎𝑡𝑜𝑟 = Massa de STV adicionada por reator (g).

7 Referências

[1] HOLLIGER, C.; ALVES, M.; ANDRADE, D.; ANGELIDAKI, IRINI; ASTALS, S.;
BAIER, U.; BOUGRIER, C.; BUFFIERE, P.; CARBALLA, M.; DE WILDE, V.;
EBERTSEDER, F.; FERNANDEZ, B.; FICARA, E.; FOTIDIS, IOANNIS; FRIGON, J.-
C.;LACLOS, H. F.; GHASIMI, D. S. M.; HACK, G.; HARTEL, M.; HEERENKLAGE, J.;
HORVATH, I. S.; JENICEK, P.; KOCH, K.; KRAUTWALD, J.; LIZASOAIN, J.; LIU, J.;
MOSBERGER, L.; NISTOR, M.; OECHSNER, H.; OLIVEIRA, J. V.; PATERSON, M.;
PAUSS, A.; POMMIER, S.; PORQUEDDU, I.; RAPOSO, F.; RIBEIRO, T.; RUSCH
PFUND, F.; STROMBERG, S.; TORRIJOS, M.; VAN EEKERT, M.; VAN LIER, J.;
WEDWITSCHKA, H.; WIERINCK, I. Towards a standardization of biomethane
potential tests. Water Sci. Technol., v.74, n.11, p.2525-2522, 2016.

[2] CHERNICHARO, C.A.L. Princípios do Tratamento Biológico de Águas


Residuárias – Vol. 5 – Reatores Anaeróbios. Belo Horizonte: DESA, 2010. 246 p.

[3] AQUINO, S. F.; CHERNICHARO, C. A. L; FORESTI, E.; SANTOS, M. L. F.;


MONTEGGIA, L. O. Metodologias para determinação da atividade metanogênica
específica (AME) em lodos anaeróbios. Engenharia Sanitária e Ambiental, v. 12, n
2, p. 192-201, 2007.

[4] GRIFFIN, M. E.; RASKIN, L. Methanogenic population dynamics during start-up of


anaerobic digesters treating solid waste and Biosolids. Bioresource technology, v.
57, n. 3, p. 342-355, 1998.

[5] SOSNOWSKI, P.; WIECZOR, A.; LEDAKOWICZ, S. Anaerobic co-digestion of


sewage sludge and organic fraction of municipal solid wastes. Advances in
Environmental Research, v.7, p. 609-616, 2003.
175

8 Anexos
Figura 1 – Fluxograma para realização do teste BMP

Fonte: Elaborado por Roberta Arlêu Teixeira (2019).

Figura 2 – Detalhe do aparato experimental do tipo volumétrico

Fonte: Acervo pessoal de Roberta Arlêu Teixeira (2019).


176

Figura 3 – Detalhe dos frascos

Fonte: Acervo pessoal de Roberta Arlêu Teixeira (2019).

Figura 4a – Detalhe da borracha de Figura 4b – Frascos vedados


vedação

Fonte: Acervo pessoal de Roberta Arlêu Teixeira (2019).

Você também pode gostar