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Martim Ghira Campos

TGL II

Cícero – Dos Deveres

Contexto Histórico

Cícero nasce em Roma em 106 a.C. e morre em 43 a.C. Cresce numa família de classe
média equestre e não tem grandes ligações familiares. Entra na vida pública em 81
a.C., tendo como primeira profissão a advocacia, algo que homens ambiciosos
abraçam para ter todos os apoios necessários à progressão política. Estas ligações que
consegue alcançar vão estar sólidas no memento da ascensão (81-79), mas vão
mostrar-se instáveis no período em que tem rivalidades políticas.

De 79 a 77, por não ter relações sólidas, é obrigado a exilar-se pelas más intenções dos
seus rivais, afastando-se assim da vida pública de Roma. Neste período da sua vida,
Cícero aproveita para aprofundar o seu conhecimento em filosofia, dirigindo-se a
vários centros, incluindo Atenas.

Volta para Roma em 77, sendo que a sua carreira política começa a progredir:

 75  Questor
 69  Edil
 66  Pretor
 63  Cônsul

Cônsul é o pico da sua carreira política, sendo que é nesse cargo que consegue opor-se
a uma espécie de conspiração para conseguir subverter Roma e as instituições
republicanas, conseguindo desmantelá-la, levando Catilina à morte. Tinha o apoio de
correligionários, dirigidos por Caio júlio Cesar.

Posto isto, é obrigado a deixar Roma novamente entre 59 e 57 devido a “guerras” com
os apoiantes de Catilina. Quando regressa deixa de ter um papel relevante na
condução dos assuntos políticos de Roma.

Entre 53 e 52 passa a ocupar o papel de sacerdote e entre 52 e 50, afastado dos


principais temas da política, ocupa um cargo numa província oriental (Cilícia),
aproveitando o afastamento para aprofundar conhecimentos e conhecer a filosofia.

No trajeto de Cícero vemos um político que usa o tempo fora da atividade política para
aprofundar conhecimentos. Não tem uma vida de oposição da política e da teórica,
tem sim uma vida de coincidência de ambas. Quando deixava de ter margem de ação
política, dedicava-se à vertente teórica.

Em 49 volta a Roma e encontra a cidade num estado de quase guerra civil (tempo do
primeiro triunvirato, Júlio Cesar, Pompeu e Crato numa disputa de poder em Roma.
Neste período, Cícero apoia a fação de Pompeu, fação essa que foi derrotada por Júlio
Cesar, algo mau para Cícero pois apoiou o lado perdedor. No entanto, Júlio Cesar
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concede a Cícero e ao seu filho um perdão, sendo que ambos podiam permanecer em
Roma, mas sem nenhuma influência política.
Em 47 mantém-se em Roma, mas afastado dos assuntos públicos e políticos, no
entanto, manteve-se sempre apoiante da fação contra César.

A vida pessoal também não estava boa, em 46 divorcia-se da sua mulher Terência,
arranjando outra chamada Ublilia. Em 45 perde a filha Tília, ficando apenas com um
herdeiro – Marco Tílio Cícero Júnior

Cícero e alguns partidários da República, continuavam a ver um perigo em César, visto


que o mesmo concentrava demasiados poderes nas suas mãos. César é assassinado
por Cássio e Brutus (ação apoiada indiretamente por Cícero), algo que levou a uma
reação contrária do povo romano, que passou a apoiar César e os seus partidários.
Cássio e Brutus tiveram então de se exilar, porque a causa republicana perdeu toda a
sua força.

Chegamos então ao período da obra, onde Cícero está em dificuldades, a causa


republicana perde a força e Marco António pretende suceder a César.

Cícero, com a pouca margem política que tinha, pretende afastar-se de Roma, também
pelo seu filho, em quem sempre depositou muitas esperanças, nomeadamente a nível
da educação. Por outro lado, Marco queria viver a vida em Roma, já que nunca
mostrou grande aptidão para os estudos, sendo precisamente por isso que Cícero o
envia para Atenas para prosseguir os estudos, ocupar o tempo e ser acompanhado por
tutores.

Cícero mantinha correspondência com um amigo seu em Atenas (Ático), e através dela
soube que o progresso do filho não corria da melhor maneira, pelo que decide ir ter
com ele.

Projeta a viagem para ir ter com Marco Júnior, no entanto, quando estava prestes a
embarcar, recebe a notícia de que Marco António vacila em Roma no que toca aos
ideais cesaristas e que vai convocar o Senado. Cícero vê nisto uma oportunidade
política para reavivar de novo os ideais republicanos, pelo que desiste da viagem para
ir ter com o filho a Atenas.

Mais tarde, Cícero percebe que as notícias eram falsas, seriam uma espécie de isco
para dificultar a reunião dos rivais de Marco António. É nesta altura que Cícero escreve
as Filípicas (argumentos e discursos contra Marco António, que mais tarde levam a
uma ordem para assassinar Cícero e cortar as mãos que as escreveram).

Cícero encontra-se num turbilhão político e decide escrever a obra “Dos Deveres”, de
modo a substituir a viagem que iria fazer a Atenas, dirigindo-se ao seu filho.

A obra foi escrita bastante rápido, sendo uma obra de circunstância, num período de
instabilidade política, pelo que não é uma obra bem acabada.
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Dos Deveres é uma obra inspirada num filósofo do século anterior, do estoicismo
médio – Panécio, que escreveu uma obra em grego chamada “Peri Tou Kathekontos”
Os dois primeiros livros são compostos com a obra de Panécio ao lado, sendo uma
réplica aproximada, não literal. O terceiro livro é Cícero ele mesmo, mais desapegado

O Livro 1 trata a Honestidade (Panécio/Cícero)


O Livro 2 trata a Utilidade (Panécio/Cícero)
O Livro 3 é uma comparação da honestidade com a utilidade (Cícero)

Cícero desenvolve a definição de Dever → Ação apropriada

Marco Júnior, mais tarde, sai de Atenas e junta-se ao exército com o consentimento de
Cícero. É possível que nunca tenha recebido a obra do pai. Dos Deveres é uma obra
com um forte cunho pessoal e todos os livros têm uma saudação que indica
precisamente o destinatário: “Marce Fili” (Marco Filho).

O tom da obra é formal, embora Cícero seja um pouco mais próximo no final. A obra é
uma chamada à ordem, onde Cícero desempenha o papel de bom pai e de conselheiro,
tentando orientar o filho numa fase critica e crucial da sua vida.

No início, Cícero incentiva Marco a ser fluente em duas formas de saber, duas línguas,
gregas e latinas. Relembra o prestígio da cidade em que se encontra, o prestígio do seu
mestre que o orienta (filósofo peripatético, ou seja, aristotélico) e dele mesmo
(Cícero).

Lembra o filho de ler as suas obras, incentivando o estudo e o estudo do pai, que se
intitula de “o melhor” na arte oratória, louvando os seus livros (Cícero elogia-se a si
mesmo). Cícero faz isto para recordar Marco que é uma pessoa célebre, tendo de
valorizar o nome que recebeu do pai.

Cícero foca-se na importância de o filho prosseguir o seu caminho, salientando que


siga o legado deixado pelo pai. Defende que se Marco escolher o que o pai lhe diz para
seguir, tem maior probabilidade de ser bem-sucedido.

Cícero está consciente que o glamour da vida militar tem uma grande influência na
vida do filho, pelo que ele não desautoriza esse interesse do filho pela carreira militar,
no entanto, recorda-o que essa glória é muito caduca e desaparece facilmente. Para
um Romano, ter glória e reconhecimento é muito importante, podendo ser obtidos
por feitos militares, no entanto, a glória duradoura tem de ser conquistada de outra
maneira.

Paradoxo → é na adolescência que temos de decidir que tipo de pessoa vamos ser e
que estilo de vida vamos levar, no entanto é precisamente na adolescência que a
imaturidade é maior e a imbecilidade é tremenda. Segundo Cícero, o futuro é
escolhido de acordo com:

1) Seguir as escolhas e hábitos dos pais


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2) Seguir o que a maioria prefere


3) Sorte

Cícero não é um filósofo estoico, é sim académico (segue o ceticismo da nova


academia), mas neste momento em que tem de chamar o filho à ordem, a melhor
escolha é escolher os estoicos como fonte da sua obra, adaptando a modalidade do
seu discurso ao estoicismo.

O Estoicismo

O estoicismo é uma escola que propõe uma doutrina física e ética, que começa com
Zenão de Cítio. Com a morte de Crisipo, encontramo-nos no estoicismo antigo. A
segunda fase é o estoicismo médio com Panécio e Possidónio. O Estoicismo novo ou
imperial, já reúne autores como Epicteto e o imperador Marco Aurélio.

A escola estoica ganhou ascendência por desenvolver o conceito de LOGOS, pouco


desenvolvido por Aristóteles e outros filósofos.
Logos → para os estoicos, é uma espécie de energia que atravessa todas as coisas, com
qualidades divinas e que cria uma conexão entre todos os seres vivos. Todos os seres
vivos são conduzidos por esta razão. Está sobre o domínio da lei que domina todo o
universo

O estoicismo é uma filosofia materialista, visto que para o estoico só existe aquilo que
causa ação numa coisa ou que pode sofrer ação de outra coisa. Temos uma matéria
ativa – o logos – que está presente em todo o universo e que determina todo o
acontecer (é uma filosofia do destino que está pré-determinada à partida).

Para agir de acordo consigo mesmo e com a sua natureza, o homem tem de conhecer
a forma como o logos influi nele e em todo o universo. Compete ao homem
compreender, adaptar-se e seguir esse logos

Agir de acordo com a natureza, agir com a razão, agir em conformidade consigo,
significa o mesmo de agir de acordo com o logos, logo, para agir corretamente, temos
de nos adaptar às condições do logos.

Os estoicos identificaram movimentos internos na alma do homem que o impedem de


agir corretamente, as paixões:

 Medo
 Desejo
 Prazer
 Tristeza

Para o sábio poder ser livre e agir de forma perfeitamente adequada de acordo com o
que a natureza exige dele, necessita de aniquilar por completo as paixões, que são
movimentos irracionais que não nos permitem agir corretamente.
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O estoico está muito ligado à APATIA, algo necessário para aniquilar todas as paixões
da alma. É daqui que sai um herói, que no meio de qualquer dificuldade, mantêm
sempre a serenidade, um comportamento impassível, que não se deixa perturbar por
nenhum movimento, inconstância, nenhuma forma descontrolada de agir: é uma
fortaleza e nada o abate ou demove.

Nas suas palavras e ações, o estoico revela essa constância.

O sábio já sabe que deve ser assim, portanto age em conformidade com aquilo que é e
deve ser.

O único bem supremo é a virtude ela mesma, que se adquire com o uso correto do
logos, dependendo apenas de nós próprios. Para o estoico, o mal não existe, o que há
é uma interpretação subjetiva. Para eles, todos os incidentes maus tratam-se de
pequenos “gritos” no meio da harmonia geral

É através do estoicismo que surge a ideia de uma ligação entre todos os seres
racionais, a existência de uma Humanidade, uma comunidade humana. O logos junta
todos os homens numa comunidade universal.

Ou se é sábio ou se é louco → ou se atinge o ideal ou não se atinge.

Inicio da Obra

Um dever é “realizar ações apropriadas”, agir de acordo com a natureza, com o logos.
A investigação do dever é dupla → procura do bem supremo e procura de orientar a
prática da vida

Dentro da procura de orientação da prática da vida, existem duas formas de dever:

 Deveres Absolutos → deveres perfeitos que só competem ao sábio que sabe os


deveres que tem que cumprir e a razão última que os fundamenta. Ele sabe o
quê e o porquê.

 Deveres Médios (deveres que vamos abordar)

Cícero quer educar bem o filho, no entanto não o quer transformar num sábio, quer
sim fazer com que este siga os deveres intermédios, que se aproximas dos sábios.
Cícero não dá um plano para o filho se tornar sábio, disponibiliza sim um conjunto de
regras que fazem com que as pessoas comuns pareçam sábios caso as sigam (não se
tornam sábios, aproximam-se de um)

“Age como se fosses um sábio sem o seres”. Seguindo as regras de Cícero, agimos
como se fossemos sábios, sem realmente o sermos.
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Os deveres intermédios são ações adequadas que devem ser cumpridas com o
objetivo ideal de nos tornarmos em sábios. São aqueles que permitem progredir de
um estado para outro, sendo adequados a quem está longe do ideal da perfeição.

Duas Investigações: Honestidade e Utilidade

Quando determinado ato é realizado, fazemos a pergunta: é honesto ou não?

A segunda pergunta é: a ação é apta como um meio para atingir outro fim? (é útil?)

Por fim, a última duvida provém do facto de por vezes o Útil entrar em conflito com o
Honesto (tema do livro III, comparação entre o útil e o honesto)

Livro I

1. Honestidade

Divisão das fontes do honesto:


 Procura da verdade (conhecimento)
 Manutenção dos laços sociais (solidariedade)
 Grandeza da alma (magnanimidade)
 Decoro (moderação)

Como se chega a estas subdivisões? Fazemos como os estoicos e perguntamos à


natureza qual é a pauta do meu agir. As inclinações fundamentais existem no homem
porque o logos atua nele

→ A natureza, que é racional, inclina o homem para a sua


autoconservação/conservação de si (impulso fundamental e básico)

→ O homem tem e compartilha o instinto de conservação da espécie (reprodução)


com todos os animais. No entanto, o logos faz com que o homem se torne consciente
de si e consiga ir mais além, fazendo uma ligação entre o passado, o presente e o
futuro (diferindo dos animais)

→ O mesmo logos que nos leva a conservar e a manter a espécie, implanta em nós
laços comunitários para com os próximos e para com os outros, de maneira a manter
os laços sociais (vida em sociedade). Esta é a razão da interdependência, sendo que o
homem é por natureza Comunitário

→ A razão também inclina a alma humana para o desejo de procura da verdade

→ O logos inclina o homem para não o levar a submeter-se a todo o tipo de homem

→ A Grandeza de alma é outra inclinação natural do homem

→ Inclinamo-nos também para um certo sentido de beleza, elegância, ordem (decoro)


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Manutenção dos laços sociais

Comporta duas partes, sendo que são necessárias duas virtudes para manter os laços
sociais entre os homens → Justiça e Generosidade

Justiça → não causar dano a terceiros. Abster-me de uma ação que prejudique o outro

Generosidade → Utilizar os bens comuns para benefício da comunidade e os


particulares para benefício próprio/de cada um.

Suma → NÃO PREJUDICAR E BENEFICIAR

Justiça

A justiça é onde reluz o esplendor de toda a virtude. Existem dois tipos de justiça:

 Forma ativa → Quando realizamos uma ação que prejudique outros (prática do
mal)

 Forma passiva → Quando temos oportunidade de agir de forma a proteger


outros de uma injustiça e não o fazemos

Agimos sempre de forma honesta quando agimos de acordo com a razão, de acordo
com a natureza, cumprindo os nossos deveres. O contrário acontece quando a alma é
invadida pelas paixões (impulsos)

Razões que levam um homem a ser injusto (justiça ativa)

Porque é que cometemos ações para lesar outros? A primeira razão é o Medo, medo
de ser prejudicado por outro, levando o homem a agir primeiro. O medo que alguém
me lese, leva-me a ser o primeiro a atacar.
A segunda razão é o Desejo, desejo excessivo de riqueza, paixão, honra e glória.
Desejo de assegurar um fim pessoal, dificultando o salvaguardar dos laços sociais.

Quando na nossa alma, as paixões do medo e do desejo dominam, há uma tendência


para cometer injustiças

A manutenção dos laços sociais entra em perigo sempre que uma destas paixões entra
em jogo. A injustiça cometida é sempre influenciada pelo medo e desejo, sendo que a
razão em nós deixa de atuar e pomos em causa a manutenção dos laços sociais.

Razões que levam um homem a não proteger outro de uma injustiça (justiça passiva)

Muitas vezes não queremos chatices, inimizades, poupando-nos de salvar alguém de


uma injustiça devido a certos estudos ou ocupações pessoais
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“O fundamento da justiça reside, não obstante, na boa fé (Fides – confiança), isto é, na


fidelidade e na verdade dos compromissos assumidos”

Só somos justos e capazes de manter os laços sociais, se a título prévio conseguirmos


cumprir um valor tipicamente Romano → FIDES

O primeiro princípio a ser observado para a manutenção dos laços sociais é


precisamente a justiça, tratando-se de uma espécie de fidelidade. É uma espécie de
pacto bem firme a respeito da nossa palavra, estabelecendo uma confiança
inquebrantável entre um homem e outro. Para Cícero, esta confiança na palavra dada
entre dois homens é o fundamento da Justiça.

Quando se dá a palavra, cumpre-se até ao fim, mesmo que isso implique o maior
prejuízo pessoal. A palavra é inegociável

Generosidade

Há um dever de generosidade para com o outro. Para que um ato seja generoso, é
necessário ter em conta três condições:

1) Não lesar ninguém (justiça), isto é, para ser verdadeiramente generoso, não
podemos causar dano a ninguém

2) Não exceder os nossos próprios limites

3) Cada um deve ser beneficiado segundo o seu mérito

1 → Para se ser verdadeiramente generoso, em primeiro lugar é necessário ser-se


intrinsecamente justo. Existe uma prioridade da justiça sobre a generosidade. A
verdadeira generosidade é aquela que se exerce sem lesar ninguém.

2 → A benevolência não pode ser maior do que os próprios meios, já que aqueles que
ambicionam ser mais generosos do que as circunstâncias lhes permitem, estão a ser
injustos para com os seus próximos, causando dano aos que estão sob o seu encargo.
Quando pretendemos mostrar-nos demasiado generosos, isso mostra uma tendência
para o desejo excessivo de glória ou fama.
Quem dá mais do que aquilo que tem, comete um erro, causando dano a outrem, logo
é injusto e não pode ser verdadeiramente generoso

3 → Cícero enumera três virtudes que devem ser premiadas: Modéstia, temperança e
justiça. Num ato generoso, devemos procurar alguém com estas virtudes, virtudes
essas que são necessárias para o mérito. Esse mérito é essencial na escolha de quem
devemos beneficiar.

Estas são as condições para se praticar a generosidade. Cícero vai agora questionar-se:
que medida e hierarquia devem ter os vários círculos da comunidade a generosidade?
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Cícero considera que há uma solidariedade no meio da comunidade a que chamamos


Comunidade do Género Humano. Os homens associam-se uns aos outros, reunindo-se
numa espécie de sociedade natural.

O logos associa esta comunidade numa sociedade de interdependência universal, mas


que também se deve traduzir em compromisso (eu tenho deveres para com o outro)

Existem três formas de comunidade e laços sociais:


Comunidade do género humano → pátria → família

Para Cícero, a hierarquia dos deveres é:

1) Pátria
2) Família
3) Comunidade do género humano

Para ele, não existe nenhum elo social mais querido do que a pátria, que pode
englobar a família (patriotismo romano). Um exemplo disto é quando Cícero regressa a
Roma porque a Pátria o chama, abdicando de ir ter com seu filho a Atenas.

Grandeza de Alma

A justiça mantem-se a primazia, ou seja, não existe grandeza de alma se não se exercer
em primeiro lugar a justiça

Está associada à coragem em momentos de aflição ou perigo, ou seja, a grandes feitos


militares. Está também associada a uma independência de alma/liberdade

“Quanto maior se é na grandeza de alma, mais se deseja ser o primeiro ou o único”.


Esta magnificência e destaque que se obtém através da realização de grandes feitos
militares, pode dar por si só origem a uma ânsia excessiva → ser o primeiro e único.
Isto leva a que a tentação para desrespeitar a justiça seja enorme. A grandeza de alma
tem este perigo intrínseco e está associada à obtenção de glória

O romano faz a distinção entre honra e glória, sendo a glória uma espécie de
reconhecimento público mais excelente do que a honra. A honra obtém-se através de
um reconhecimento por parte dos nossos pares. Com a glória, não só somos
reconhecidos pelos nossos pares, mas também pela multidão, sendo um
reconhecimento mais universal e generalizado.

A grandeza de alma está então associada a esta glória, mas é preciso ter cuidado,
porque o desejo excessivo de glória pode conduzir a uma violação da justiça,
prejudicando os outros, sendo uma glória falsa → A realização de grandes feitos
militares, por si só, representa grandeza de alma, no entanto, para ser verdadeira, é
necessário cumprir os deveres de justiça
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O desejo de reconhecimento público não está a ser condenado por Cícero, no entanto,
só praticamos grandes ações quando não estamos diretamente a querer alcançar a
glória. Quando a glória é o fim último, os grandes feitos não geram grandeza de alma.

Então:

1) A verdadeira grandeza de alma só se obtém respeitando a hierarquia da justiça


2) Está associada à glória
3) A base da grandeza de alma não esta presa a essa finalidade, mas sim às
próprias ações que refletem essa grandeza de alma

Um espírito absolutamente corajoso e grande é reconhecido nas seguintes condições:

1. Ter desprezo pelas vicissitudes exteriores que possam perturbar o espírito, não
se deixando abater por nada externo ou espiritual (por nenhum homem ou
qualquer circunstância da vida. Uma aniquilação de todas as paixões:

a. Cupiditate (desejo)
b. Metu (medo)
c. Agritudine (tristeza)
d. Voluptate (prazer)
e. Iracundia (cólera)

2. Realização não só de feitos grandes e uteis, mas também em grande número,


árduos, cheios de perigos tanto para a vida como para o resto

Aquilo que nos permite realizar estes feitos de forma constante ao longo de um
período de tempo reconhecível, é a primeira condição. Os grandes feitos só estão ao
alcance de quem mostra independência e tranquilidade de espírito, sendo a causa
eficiente esse mesmo desprezo, aproximando-nos do ideal da APATIA.

O prazer em excesso é condenado por Cícero, prazer esse que foge ao controlo da
razão. No entanto, ele não defende a completa aniquilação das paixões, diz sim que as
mesmas têm de ser moderadas, submetendo-se à razão.

Cícero quer apenas extinguir o desejo excessivo, submetendo-o à razão, de maneira a


que nada seja feito sem ponderação ou cuidado → TEMPERANÇA

Cícero acrescenta a cólera às paixões humanas que devem ser controladas, isto porque
se trata de um valor romano com uma função política muito importante, que se reflete
na grandeza de alma. A cólera é a ira, uma paixão de tal forma intensa, que coloca o
homem numa incapacidade de agir com a razão.

Posto isto, nada é mais importante que a CLEMÊNCIA, uma espécie de espírito de
reconciliação, de contenção no momento de aplicar um castigo, que apenas se obtém
com o afastamento da cólera do espírito.
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Em termos públicos, a clemência manifesta-se como uma alma grande. Ser um político
que tem poder e é reconhecido como clemente, acaba por ter efeitos em Roma
bastante benéficos para capitalizar uma espécie de fama importante para as
aspirações políticas. Um líder clemente é um líder grande.

A clemência revela uma superioridade da alma para com o outro, manifestando-se


como uma contenção da crueldade na aplicação de um castigo. Ser clemente, no
entanto, não é perdoar, é sim justiça. A clemência continuar a significar a aplicação do
castigo, sendo compatível com a severidade, no entanto, uma severidade controlada.
Por isso a clemencia é um valor romano e um justo meio entre a crueldade e a
misericórdia.

Se um castigo for muito cruel ou excessivo, cria-se uma predisposição naquele que
está a ser castigado que o leva a querer cometer injustiças futuras, pondo em risco a
manutenção dos laços sociais (fides, justiça e generosidade). A cólera tem então de ser
dominada através da clemência, de modo a ser possível atingir a grandeza de alma e a
conseguir a manutenção dos laços sociais

A partir desta perspetiva da grandeza de alma, Cícero volta a falar dos filósofos que se
afastam da vida pública, fazendo referência a Platão. No entanto, não se trata de uma
critica, isso acontece porque querem a sua independência de espírito, para viver em
tranquilidade. O que está em confronto aqui é a vida teórica e a vida política.

A opção pela vida pública parece ser mais exigente e útil. Cícero diz que podemos
aceitar aquelas que se afastam da vida pública, no entanto, a Grandeza de Alma é mais
necessária para aqueles que optam por se manter na vida prática e política.

Há dois caminhos de vida:

1) Aqueles que para garantir tranquilidade e paz de espírito se afastam da vida


política e se dedicam ao ócio (estudo por excelência ou por questões de saúde)

2) Aqueles que se dedicam à vida pública, sendo que estes têm maior virtude ou
grandeza de alma porque é mais difícil manter a tranquilidade e paz de espírito
no meio da confusão da vida pública do que na tranquilidade do refúgio no ócio

Cícero compara então o modo de vida PRÁTICO, com o modo de vida DOS FILÓSOFOS
que procuram uma independência da vida ativa.
O refúgio pelo ócio é uma opção motivada pela liberdade e independência social, a
noção de não ter ninguém a quem obedecer.

A vida retirada dos cargos públicos é mais fácil e tem menos custos, enquanto que a
vida pela prática política é uma decisão mais custosa, mas com mais benefícios para a
república.

A opção de deixar a vida pública para se dedicar ao estudo é uma opção aceitável, mas
que não merece aprovação. Aqueles que se afastam da vida politica devido ao
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desprezo do poder, devem ser depravados, sendo que já não devemos ser
condescendentes nesta situação. Aqueles que se dedicam à vida pública e a abraçam
com o sentido de contribuir para o bem comum e da república, esses precisam de
grandeza de alma.

Para Cícero, existe uma primazia da vida prática face à vida filosófica, isto porque
considera que a grandeza de alma do politico é necessariamente maior do que a do
filosofo que apenas pratica uma vida contemplativa → aquele que ingressa na vida
pública necessita de mais grandeza de alma para desempenhar corretamente a sua
missão do que aquele que se refugia no ócio.

A vida política também é superior à vida militar, sendo que feitos políticos mostram
tanta ou mais grandeza de alma que os militares.

Tal como Cícero hierarquiza as fontes do honesto, ele também hierarquiza os modos
de vida. Atrás, na perspetiva da justiça, quando os filósofos se afastam da vida prática
para não cometerem injustiças, estão a compactuar com a injustiça (não cometem
injustiça, mas fogem à possibilidade de ajudar outros a cair em injustiças, logo são
injustos). Agora, na grandeza de alma, Cícero segue o mesmo caminho, dizendo que
ambos os estilos de vida são motivados pela procura de uma independência, mas a
opção com mais valor é a vida prática → Cícero salienta mais uma vez a sua
preferência pela vida prática, a vida ativa.

Sabedoria e Procura da Verdade

A forma como se trata as fontes do honesto, indica a sua hierarquia. A sabedoria é


entendida como uma espécie de virtude que se fundamenta na inclinação natural de
conhecer. Todos os homens têm uma inclinação natural para procurar a verdade.

Tal como na justiça, Cícero afirma haver dois erros a evitar na procura da
aprendizagem:

1) “Não devemos tomar o desconhecido por conhecido e aceitá-lo


imediatamente”. Não devemos assumir que conhecemos aquilo que não
conhecemos. Devemos dedicar mais tempo ao estudo, mais tempo a tratar
desses assuntos. Devemos evitar a ignorância, não assumindo o desconhecido
como conhecido e aceitá-lo, procurando despender mais tempo a estudá-lo.

2) “O facto de algumas pessoas conferirem assuntos obscuros e difíceis, embora


sendo desnecessários”, ocupando demasiado tempo a estudá-los. Despender
demasiado tempo com temas que não merecem tanta atenção, pois são
obscuros e difíceis, sendo desnecessários e com pouca utilidade.
Há, no entanto, assuntos que devem ser estudados, porque são dignos,
meritórios e têm uma dimensão prática → Astrologia (previsão do eclipse de
Caio Suplício que deu a vitória de Roma), geometria, dialética e direito civil.
Cícero considera os estudos unicamente teóricos desnecessários. Aceita
estudos de assuntos difíceis, se os mesmo tiverem uma aplicação prática para a
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comunidade do género humano, sendo importante não ficar apenas pelo


teórico.

A preferência pela prática na justiça (dentro da manutenção dos laços sociais) e na


grandeza de alma, mostra-se mais uma vez dentro da procura da verdade. A procura
da verdade só é legitima se se verificar uma melhoria das condições (saúde, bem-estar,
paz pública…). As matérias sem utilidade para além do próprio estudo, são condenadas
por Cícero

Para além disso, o estudo nunca nos deve afastar de uma vida ativa, ou seja, dedicar-
me a um estudo ainda que com aplicação prática, mas que me afaste de uma vida
ativa, é contra o dever.

Qual é a fonte do honesto que tem mais importância? Quando ações honestas
entram em conflito entre si, o que deve o homem fazer? (comparação das fontes do
honesto)

Cícero tenta provar que a vida prática tem primazia sobre a vida teórica. Os deveres
que se originam da manutenção dos laços sociais, são mais de acordo com a natureza
do que os que se formam com a aprendizagem

Argumentos:

1) Suponhamos que um homem é autossuficiente e tem tudo à sua disposição, e


que para além disso tem a possibilidade de dedicar todo o seu tempo ao
estudo de todas as coisas que merecem ser aprendidas, no entanto, não podia
ver nenhum homem, acabando por se apartar da sociedade. Não se encontrará
afastado da vida real? Não estará alienado? Incompleto?
Uma vida totalmente contemplativa é abstrata, artificial, alienada.

2) A maior de todas as virtudes é a sabedoria. Mas sendo assim, não deveria ser a
procura da verdade a fonte do honesto mais importante? Para isto bater certo
com a primazia dada à vida ativa, Cícero acrescenta a convivência social dos
homens uns com os outros e com os deuses. A sabedoria é o conhecimento de
todas as coisas humanas e divinas, incluindo a convivência com os outros.
Portanto a maior virtude é uma sabedoria com uma forte componente prática
para além da teórica normal

3) Todo o conhecimento, refletir e conhecer, na natureza é incompleto se não


tiver uma aplicação prática na ação humana (repetido de anteriormente)

4) A Pátria é o fundamento da estabilidade e segurança, segundo Cícero, a


manutenção dos laços sociais deve estar em primazia e na mesma é
necessariamente precisa a Pátria

Cícero é, portanto, um homem político e a procura da sabedoria é secundária. É


verdade que existem homens que ensinam gerações, mas sempre com o intuito de
Martim Ghira Campos

estes serem uteis à comunidade, sendo uma vida prática e contemplativa em


simultâneo.

Decoro

É uma divisão muito especifica. Note-se que definimos dever como ação apropriada -
uma ação que devo realizar e que se adequa a qualquer coisa que é suposto eu
desempenhar, realizar, isto é, a um contexto. Embora não definindo o dever
literalmente, isso torna-se patente nesta divisão da honestidade. Vai-se referir ao
decoro, o que se associa a atos convenientes ou adequados: aquilo que é conveniente
é honesto e o que é honesto é conveniente.

Se cumprirmos as três divisões do honesto, se as cumprirmos, estamos a agir de forma


apropriada. Apropriada em relação a quê? Agir conveniente, conhecendo a verdade,
mantendo os laços sociais e sempre com grandeza de alma, na devida ordem e
hierarquia, estamos a agir de forma apropriada com a nossa natureza (razão). A
natureza racional é aquela que é comum a todos os homens, por isso, genérica -
natureza racional.

Mas há uma forma de agir diferente, que é o agir de forma autêntica, de acordo
connosco próprios. Nesta quarta divisão do honesto, vai falar de agir
convenientemente face a peculiaridades pessoais (que dizem respeito a mim). São
qualidades que não sendo genéricas, não merecem ser criticadas (ex: espirituoso),
porque são singulares à minha personalidade - são elementos que me tornam único,
que me fazem realizar-me enquanto ser humano, na minha essência única, o reduto da
minha personalidade. Mas devem ser moderadas, e o decoro é, então, uma forma de
agir conveniente face à minha singularidade, controlando-a para que se aja de acordo
com a nossa natureza. Hoje em dia, esta visão clássica não existe tanto, porque cada
um procura em si e em experiências aquilo que o diferencia dos outros - realizamo-nos
se conseguirmos ser especiais, singulares, irrepetíveis.

Livro II

2. Utilidade

Cícero entende como útil tudo aquilo que é apto como um meio para a obtenção de
um fim. O costume tornou o termo impreciso, uma vez que há um grande flagelo na
vida dos homens → a separação de um ato honesto e útil, isto porque achamos que há
coisas uteis que podem ser desonestas, bem como há coisas honestas que nos são
prejudiciais.

O que se vai tentar fazer é demonstrar que tudo aquilo que é verdadeiramente útil é
intrinsecamente honesto e tudo aquilo que há de intrinsecamente honesto é o que há
de mais útil. Para Cícero, a utilidade e a honestidade andam de mãos dadas.

Cícero vai abordar algumas coisas uteis ao homem, como ouro, terra, abelhas, tempo…
Martim Ghira Campos

No entanto nada disso nos é acessível sem a atividade de outros homens (teor prático
novamente). Aquilo que há de mais útil em tudo o que diz respeito à vida humana, é a
ação conjunta dos homens para obtermos as coisas indispensáveis à vida. Aquilo que
há de mais útil ao homem, é o homem em si.

Neste livro vamos falar da utilidade em relação aos meios para obtenção de um
determinado fim. As finalidades são como obter e manter o poder, e como alcançar a
glória. O próprio poder e glória são finalidades, mas para o político podem ser usadas
para outras coisas uteis, sendo que não nos preocupamos apenas com a finalidade.

Aquilo que nos é útil, só é útil se houver meios para o nosso uso. Aquilo que há de
mais útil ou prejudicial é a ação dos homens sobre os outros. Como conseguir que a
ação conjunta dos outros possa redundar em benefício próprio, isto é, para que sirva
as minhas finalidades? Como posso alcançar e manter o poder sobre os outros?

A nível político e militar, nada é possível de ser feito sem a congregação de homens em
torno do nosso projeto. Para que os outros contribuam de forma dedicada e constante
nos nossos projetos, é necessária virtude, sendo a sua função a de conciliar o coração
dos homens e os seus interesses. Para interligar todos os cidadãos com o político, é
necessário reconhecimento público acerca do valor do humano, isto é, GLÓRIA.

As virtudes/fontes do honesto não são só válidas por si mesmas para o homem agir de
forma adequada à sua natureza, mas também são o que de mais útil existe para um
político. Promovem a ação correta e são também o meio mais apto para a
concretização dos nossos fins (uteis)

Como se alcança o poder e a glória?

Os homens concedem o poder a outros por várias razões: esperam benefícios,


admiram-nos, confiança (essencial numa sociedade livre), medo, esperança…

Para alcançar e manter o poder, é necessário afastar o ódio, nenhum homem quer ser
odiado, uma vez que o ódio é o pior para fomentar laços entre os homens.

Mas é melhor ser temido ou amado? Nada é mais apropriado para defender e manter
o poder do que ser amado, e nada é menos recomendável do que ser temido.

Para Cícero, o medo é uma paixão estoica, algo irracional, tendo consequências
imprevisíveis e gerando uma rápida dissolução dos laços. Logo, é preferível ser amado
do que temido. O medo é uma má garantia para a longa duração.

Quando o laço social se baseia no medo, estamos perante uma tirania (medo do tirano
perante os súbditos e vice-versa). Quando a paixão domina perante a razão, os laços
de obrigação são mais suscetíveis a ser dissolvidos.
Martim Ghira Campos

Para manter laços e a fidelidade dos outros, a chave do poder está na benevolência,
sendo que a generosidade (benevolência) é a virtude que mantém o laço de obrigação
de forma mais duradoura.

Para manter o poder de forma mais duradoura, devemos cumprir a segunda virtude da
manutenção dos laços sociais, a Generosidade, sem violar a justiça (não ser mais
generoso do que aquilo que se tem, não roubar ao outro e premiar aqueles que
merecem)

A Glória manifesta a forma mais perfeita de reconhecimento público. A glória é uma


espécie de reconhecimento público com um estatuto superior à honra

Honra → forma de reconhecimento público daqueles que têm igual valor a mim
Glória → exige honra (reconhecimento dos pares) e reconhecimento da multidão em
geral, sendo um reconhecimento mais alargado e importante.

Um bom político necessita de ter este reconhecimento, esta glória. O político necessita
de poder e glória, que podem ser vistos como meios para congregar homens em torno
dos seus projetos

A obtenção de glória reside em 3 condições:

1) Ser estimado pela multidão


2) Ter a confiança da multidão (a multidão depositar-lhe toda a sua fé)
3) Ter a admiração da multidão

Quais os meios para adquirir estas três condições?

1) O mais útil é cumprir a segunda fonte da manutenção dos laços sociais, a


benevolência, sendo importante para obter a estima da multidão. A melhor
maneira de alcançar a estima é ser generoso, mas, se não se poder ser
generoso, pelo menos devemos parecer generosos. Ser e parecer são coisas
essenciais para o desempenho de um político para alcançar a estima da
multidão.
Um bom político encontra meios para ser generoso, ou pelo menos parecer
generoso, de modo a não negligenciar a sua imagem. No entanto, Cícero vai
defender que para parecer ser, o melhor é mesmo ser

2) A confiança só é conseguida de duas maneiras: praticando a justiça (aquilo que


é mais útil para a obtenção de glória é novamente a primeira fonte do honesto)
e devemos ser prudentes, sendo a prudência uma espécie de sabedoria prática
em busca da verdade.
Confiamos nos homens que parecem ser mais inteligentes que nós e que
tomam decisões certas. Entre prudência e justiça, a justiça é mais importante
para a confiança
A confiança manifesta-se se eu for justo, sendo um bem em si, mas também
útil (mais uma vez o útil e o honesto estão ligados)
Martim Ghira Campos

3) O meio mais eficaz para alcançar a admiração pela multidão é através da


grandeza de alma. Tendemos a admirar as pessoas onde detetamos virtudes
excelentes e excecionais, e desprezamos aqueles que não mostram ter
virtudes. A maioria dos homens cede às paixões, por isso admiramos todos os
que as desprezam e que não se deixam abater pelas mesmas, suportando tudo
com grandeza moral e de espírito (grandeza de alma inclui esse desprezo por
coisas externas e a realização de feitos grandiosos)

A justiça tem primazia sobre as três condições para alcançar a glória, sendo por isso o
meio mais útil para a obtenção do poder e da glória (é a rainha das virtudes)

A verdadeira glória possui as suas raízes. O raciocínio final é o seguinte: a glória é algo
que deve ser procurado e cimentado. A verdadeira glória baseia-se nas ações e não na
reputação. A gloria mais duradoura não se baseia na reputação do parecer ser, é
melhor sermos de facto. O que é mais útil para a glória é a própria justiça, só
cumprindo as fontes do honesto é que temos este reconhecimento duradouro.

A melhor maneira de triunfar é ser e parecer, apesar de existirem circunstâncias em


que só podemos parecer ser. Um bom político cria as condições para parecer e ser ao
mesmo tempo.

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