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Suponha que uma carga de teste q seja abandonada em um ponto P pertencente ao campo
elétrico gerado por uma carga fonte Q fixa no espaço, ambas de mesmo sinal sem perda de
generalidade. Se levarmos em conta apenas a interação elétrica entre as cargas, notamos que
a carga de teste é acelerada devido à força elétrica repulsiva produzida pelo campo elétrico
gerado por Q em P . Do ponto de vista energético, podemos dizer que, após o abandono,
a carga de teste ganhou energia cinética (energia de movimento), veja ilustração na Figura
4.1.
Figura 4.1: Ao ser posicionada em P a carga de teste q é eletricamente repelida pela carga
fonte Q.
Sabemos que a energia não pode ser criada do nada. A energia cinética adquirida pela carga
teste q resulta da transformação de uma outra modalidade de energia. Dessa forma, nessa
linha de raciocínio, podemos dizer que ao posicionar a carga de teste q em P , ela armazena
uma quantidade de energia de energia só pelo fato de ter sido posicionada naquele ponto
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Capítulo 4 – O Potencial Elétrico e a Energia Potencial Elétrica Prof. Dr. Eduardo T. Matsushita
Essa energia potencial elétrica U pertence ao sistema composto pela carga fonte Q e pela
carga de teste q. Isso significa que, se a carga fonte Q não estivesse fixa, a energia potencial
elétrica seria convertida em energia cinética tanto para a carga fonte Q quanto para a carga
de teste q. Quando a carga fonte Q está fixa, como é o caso proposto, toda a energia
potencial elétrica fica atribuída a carga de teste q. A existência dessa energia potencial
elétrica é uma manifestação do caráter conservativo da força elétrica e, consequentemente,
do campo elétrico
∀P ∈ campo elétrico 7→ VP
VP indica a quantidade de energia potencial elétrica que uma carga de teste pode
armazenar, por unidade de carga, ao ser posicionada em P . A unidade de potencial
elétrico no SI é o
joule por coulomb = volt = V.
Por exemplo, quando dizemos que VP = 200 V significa que qualquer carga de teste posicionada
em P terá um acréscimo de 200 J/C na sua energia potencial. Logo, se posicionarmos uma
carga de teste q em P , a energia potencial elétrica armazenada será dada por
U = q · VP
1
O potencial elétrico só precisa de um valor algébrico para ser completamente especificado.
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Exemplo 16 Suponha que num certo ponto P de um campo elétrico a energia potencial
elétrica armazenada por uma carga de teste seja U = −2, 0 × 10−6 J. Qual o significado
desse resultado negativo de energia?
Solução: Isso significa que, em P , a carga de teste possui 2, 0 × 10−6 J a menos do que se estivesse no ponto
de referência (onde a energia potencial elétrica é zero). Assim, para ser levada até o ponto de referência, a
partícula precisa ganhar 2, 0 × 10−6 J.
Embora os valores dos potenciais elétricos dos pontos de um campo elétrico estejam
vinculados a uma escolha arbitrária do ponto de referência, a diferença de potencial
elétrico (ou d.d.p.) entre os pontos é sempre a mesma independente da escolha de referência.
2
Tal procedimento é análogo ao que fazíamos no curso de Física I ao calcular a energia potencial
gravitacional (Ug = mgh) de um corpo. Adotávamos como referência (Ug = 0) o plano a partir do qual era
definida a altura h do corpo.
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Solução: Para resolver esse exercício devemos levar em consideração que, embora a mudança no ponto
de referência mude o valor do potencial elétrico em cada ponto, a diferença de potencial entre os pontos
permanece constante, ou seja, independente da escolha do ponto de referência, devemos sempre ter VB −VC =
80 V, VB − VA = 100 V e VC − VA = 20 V.
VB − VC = 80 V ⇒ VB − 0 = 80 V ⇒ VB = 80 V
e
VC − VA = 20 V ⇒ 0 − VA = 20 V ⇒ VA = −20 V.
VB − VC = 80 V ⇒ 0 − VC = 80 V ⇒ VC = −80 V
e
VB − VA = 100 V ⇒ 0 − VA = 100 V ⇒ VA = −100 V.
Tanto o potencial elétrico VP quanto o vetor campo elétrico E(P ~ ) são propriedades de
cada ponto P de um campo elétrico e essas grandezas estão conectadas por um gradiente3 ,
ou seja,
~ ) = −∇V ~ P ~ )=− ∂V P ~i + ∂V P ~j + ∂V P ~k
E(P ⇔ E(P
∂x ∂y ∂z
3
O conceito de vetor gradiente será trabalhado na disciplina Cálculo Diferencial e Integral II.
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e`
WA→B independe da trajetória que liga A até B,
ou seja, qualquer que seja o caminho para ir de A
até B, o trabalho realizado pela força elétrica será
o mesmo.
Toda força que possui essa propriedade recebe o nome de força conservativa4 . Esse fato
nos mostra que trabalho realizado pela força elétrica só vai depender do ponto de de partida
(A) de q e do ponto de chegada (B), não importando a forma ou o comprimento da trajetória
realizada. Essa dependência é revelada pelo teorema a seguir:
e`
Teorema 1 O trabalho WA→B realizado pela força elétrica no transporte (deslocamento) de
uma carga de teste q desde um ponto A até um ponto B pertencente a um campo elétrico
é igual à diferença entre as energias potenciais elétricas armazenadas por q em A e B, ou
seja,
e`
WA→B = UA − UB .
Levando em conta ainda que UA = q · VA e UB = q · VB segue que
e` e`
WA→B = q · VA − q · VB ⇔ WA→B = q · (VA − VB )
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Um movimento é dito espontâneo quando a carga de teste q se desloca entre dois pontos, A
e B, apenas sob a ação da força elétrica gerada pelo campo elétrico, ou seja, não há agente
externo aplicando força em q para promover ou dificultar o seu movimento.
De acordo com Teorema do Trabalho-Energia (ou Teorema da Energia Cinética), o
trabalho Wtotal realizado pela força resultante atuante em q é igual a sua variação de energia
cinética entre os pontos A e B, ou seja, Wtotal = ∆K = KB −KA . Se desprezarmos os efeitos
gravitacionais nesse movimento, a força elétrica é a única força atuante em q de modo que
e`
Wtotal = WA→B e, consequentemente,
e`
WA→B = KB − KA .
e`
Por outro lado, como WA→B = UA − UB identificamos a seguinte igualdade
K B − KA = U A − U B
que nos conduz à relação de conservação da energia num movimento espontâneo entre os
pontos A e B de um campo elétrico:
m · vA2 m · vB2
KA + UA = KB + UB ⇔ + q · VA = + q · VB
2 2
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W realizado pela força F~ ao longo desse deslocamento é dado por W = |F~ | · |∆~`| · cos θ com
θ sendo o ângulo definido entre F~ e ∆~`. Note que essa expressão representa um produto
escalar6 entre os vetores F~ e ∆~`, ou seja,
Figura 4.2: Deslocamento de um bloco ao longo de uma superfície plana horizontal entre os
pontos A e B sob a ação de uma força F~ constante.
Agora queremos determinar uma expressão mais geral que permita calcular o trabalho
realizado por uma força variável 7 ao longo de uma trajetória qualquer. Para isto, vamos
considerar o deslocamento de uma carga de teste q submetida a ação de uma força elétrica
F~ ao longo de uma trajetória arbitrária entre os pontos A e B de um campo elétrico, veja
Figura 4.3(a).
Figura 4.3: (a) Deslocamento de uma carga de teste q ao longo de uma trajetória qualquer
ligando os pontos A e B. Em (b) é mostrado como as características vetoriais da força
elétrica atuante na carga de teste q vão variando ao longo da trajetória.
A Figura 4.3(b) mostra como a força elétrica atuante na carga de teste q vai variando
ao longo da trajetória. Isso ocorre porque, em geral, o campo elétrico vai mudando ao
longo dos pontos da trajetória. Dessa forma, para calcular o trabalho realizado pela força
elétrica não podemos utilizar, por questões óbvias, a expressão do trabalho de uma força
6
A Geometria Analítica nos ensina que A ~·B~ = |A|
~ · |B|
~ · cos θ com θ sendo o ângulo entre os vetores A~
~
e B.
7
Uma força é dita variável ao longo de um deslocamento se algum de seus atributos vetoriais (intensidade,
direção, sentido) se altera ao longo do deslocamento.
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constante já que a força elétrica é variável. Entretanto, podemos utilizá-la como ingrediente
na construção de uma expressão mais geral.
Vamos começar particionando a trajetória que liga A até B em uma infinidade de vetores
deslocamento infinitesimais que denotaremos por d~` como mostra a Figura 4.4. Como cada
d~` é um deslocamento retilíneo infinitesimal, a força elétrica F~ , nesse pequeno deslocamento é
praticamente constante, ou seja, num movimento infinitesimal a variação de F~ é desprezível.
Assim, num deslocamento infinitesimal, o trabalho dW realizado pela força elétrica pode ser
calculado pela expressão do trabalho de uma força constante, ou seja,
dW = F~ · d~`
Figura 4.4: Partição da trajetória que liga os pontos A e B em uma infinidade de vetores
deslocamentos infinitesimais d~`.
Esse tipo de integral é chamado no Cálculo de integral de linha (ou integral de trajetória)
porque ela é realizada ao longo de uma trajetória que liga os pontos de partida e de chegada.
Note ainda que, se levarmos em conta que F~ = q · E, ~ segue que
ˆ B ˆ B ˆ B
e`
WA→B = ~ ~
q · E · d` = q · ~ ~ e`
E · d` ⇔ WA→B = q · E~ · d~`
A A A
A relação fundamental
O Teorema 1 diz qual é o resultado dessa integração. Como a força elétrica (e, consequentemente,
e`
o campo elétrico) é conservativa, o resultado do WA→B independe da trajetória que conecta
os pontos A e B dependendo apenas da diferença de potencial elétrico entre esses pontos,
e`
ou seja, WA→B = q · (VA − VB ). Assim,
ˆ B ˆ B
q · (VA − VB ) = q · ~ · d~`
E ∴ VA − VB = ~ · d~`
E
A A
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~ · d~` = |E|
E ~ · |d~`| · cos φ.
Por um lado, já sabemos que a intensidade do vetor campo elétrico num ponto que está a
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~ = k · |Q| k·Q
uma distância r de Q vale |E| = (aqui removemos o módulo por estarmos
r2 r2
assumindo Q > 0). Por outro, note que se projetarmos ortogonalmente o vetor d~` na
direção da distância radial r na qual está contido o vetor campo elétrico identificamos
uma componente radial d~r de deslocamento de modo que, no triângulo retângulo formado,
|d~r| dr
identificamos que cos φ = = , ou seja, |d~`| · cos φ = dr. Logo,
|d~`| |d~`|
E ~ · |d~`| · cos φ = k · Q dr
~ · d~` = |E| ⇒ ~ · d~` = k · Q dr.
E
r2 r2
Observe que o desenvolvimento do produto escalar revelou que a variável de integração é a
distância radial r. Isso significa que fazer uma integração ao longo de uma trajetória entre os
pontos A e B equivale, na variável r, a uma integral ao longo da trajetória desde a distância
radial rA (que localiza o ponto A em relação à Q) até a distância radial rB (que localiza o
ponto B em relação à Q). Introduzindo essa informação na integração,
ˆ B ˆ rB
~ · d~` = k·Q
VA − VB = E dr
A rA r2
identificamos uma integral definida cuja resolução é trivial já que a primitiva principal é de
tabela8 . Resolvendo a integral:
ˆ rB ˆ rB rB
k·Q 1 1 1 1 k·Q k·Q
2
dr = k · Q · 2
dr = k · Q · − =k·Q· − + = − ,
rA r rA r r rA rB rA rA rB
k·Q
VP =
r
´ 1 ´ −2 r−2+1 1
8
2
dr = r dr = + const. = −r−1 + const. = − + const.
r −2 + 1 r
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O potencial elétrico de um ponto vai depender do meio (representado pela constante eletrostática
k), do valor algébrico da carga fonte Q (importante destacar que aqui não entra o módulo
de Q e sim seu valor algébrico que carrega sinal) e da distância r.
Figura 4.6: Hipérbole equilátera que representa o gráfico de V (r) para os casos Q > 0 e
Q < 0.
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V∞ = 0.
Claro que essa é uma ideia limite que diz que quanto mais longe estivermos da carga
fonte Q, o armazenamento energético tende à zero.
Para verificar esse fato, vamos considerar, separadamente, duas cargas fontes puntiformes,
Q > 0 e Q < 0, e para cada um delas representamos apenas uma particular linha de campo
elétrico, veja Figura 4.7.
Figura 4.7: Diminuição do valor do potencial elétrico ao longo do sentido de uma linha de
campo elétrico.
• Caso Q > 0
Note na Figura 4.7 que se caminharmos no sentido da linha de campo, no caso da
carga fonte Q > 0, estamos nos afastando dela (r → +∞). O potencial elétrico tem
sempre valores positivos que divergem para +∞ quando estamos muito perto da carga
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fonte (V0 = +∞) e vai para zero quando estamos indo cada vez mais no sentido do
ponto de referência (V∞ = 0). Logo, ao seguir o sentido da linha, sentido de +∞ para
zero, temos diminuição do potencial elétrico.
• Caso Q < 0
Note na Figura 4.7 que se caminharmos no sentido da linha de campo, no caso da carga
fonte Q < 0, estamos no aproximando dela (r → 0+ ). O potencial elétrico tem sempre
valores negativos que divergem para −∞ quando estamos muito perto da carga fonte
(V0 = −∞) e vai para zero quando estamos indo cada vez mais no sentido do ponto
de referência (V∞ = 0). Logo, ao seguir o sentido da linha, sentido do zero para −∞,
temos diminuição do potencial elétrico.
Logo, percorrendo uma linha de campo, tanto para Q > 0 quanto para Q < 0, seguindo
seu sentido, sempre ocorrerá decrescimento dos valores do potencial elétrico ao longo de seus
pontos.
O potencial elétrico VP é dado pela soma algébrica dos potenciais elétricos que as
cargas fontes original separadamente em P , ou seja,
N
X
VP = V1P + V2P + V3P + . . . + VN P ∴ VP = ViP
i=1
k · Qi
onde a parcela ViP = é o potencial elétrico criado por Qi no ponto P .
riP
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Solução: O trabalho realizado pela força elétrica no transporte de uma carga de teste q desde A até B é
e`
dado por WA→B = q · (VA − VB ). Temos q = 5, 0 µC mas precisamos calcular a d.d.p. VA − VB . Como temos
duas cargas fontes puntiformes, Q1 e Q2 , vimos que o potencial elétrico de um ponto pertencente ao campo
elétrico gerado por essas duas cargas é dado pela soma algébrica dos potenciais criados separadamente por
Q1 e Q2 no ponto. Então:
(9,0×109 Nm2 /C2 )·(2,0×10−6 C)
(
V1A = k·Q
r1A =
1
3,0×10−2 m = 6, 0 × 105 V
VA = V1A + V2A 9 2 2
(9,0×10 Nm /C )·(−3,0×10 C)−6 ⇒ VA = 6, 0 × 104 V
V2A = k·Q
r2A
2
= 5,0×10−2 m = −5, 4 × 10 5
V
onde as distâncias r2A e r1B , que possuem o mesmo valor, foram obtidas pelo teorema de Pitágoras uma
vez que são medidas das hipotenusas de dois triângulos retângulos idênticos de catetos com medidas iguais
3,0 cm e 4,0 cm. Logo, o trabalho da força elétrica é dado por
e`
WA→B = q · (VA − VB ) = (5, 0 × 10−6 C) · [6, 0 × 104 V − (−5, 4 × 105 V)] ∴ e`
WA→B = 3, 0 J
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puntiforme tem infinitas superfícies esféricas equipotenciais (uma para cada possível valor de
V ) concêntricas à carga fonte Q. Além disso, as linhas de campo elétrico são perpendiculares
9
às superfícies equipotenciais como pode ser observado na figura acima.
Podemos verificar que em qualquer deslocamento de uma carga de teste q entre dois
pontos pertencentes a uma mesma superfície equipotencial a força elétrica não realiza trabalho,
ou seja, se q for transportado de um ponto A até um ponto B, ambos pertencentes a uma
mesma equipotencial, segue
e`
WA→B = q · (VA − VB ) = 0 pois VA = VB .
Assim, a força elétrica só realizará trabalho no transporte de uma carga de teste q entre dois
pontos pertencentes a equipotenciais diferentes.
Solução: No desenho temos três esferas equipotenciais: uma de 6,0 V, uma de 3,0 V e uma de 1,0 V.
Queremos calcular o trabalho realizado pela força elétrica no transporte de uma carga de teste q = 1, 0 µC
desde A até C através da trajetória ABC. Veja que essa trajetória segue um caminho AB contido na esfera
equipotencial de 3,0 V e depois salta para o ponto C contido na equipotencial de 1,0 V. Como a força elétrica
é conservativa, o trabalho realizado pela força elétrica não depende da forma da trajetória e sim dos pontos
de partida (A) e de chegada (C). Levando em conta que VA = 3, 0 V e VC = 1, 0 V então:
e`
WA→C = q · (VA − VC ) = (1, 0 × 10−6 C) · (3, 0V − 1, 0V) ∴ e`
WA→C = 2, 0 × 10−6 J
9
Tal fato pode ser facilmente verificado pelas propriedades do vetor gradiente estudados na disciplina de
Cálculo Diferencial e Integral II. Se V (r) = constante ao longo de uma equipotencial, então em qualquer
ponto da superfície a taxa de variação de V (r) em qualquer direção é nula, ou seja, para todo ponto da
equipotencial temos ∂V
∂~u = 0 com ~u sendo um versor qualquer tangente à equipotencial no ponto. Por outro
∂V
lado, levando em conta que ∂~u = ∇V~ · ~u e que E~ = −∇V~ segue
∂V ~ · ~u = 0 ~ · ~u = 0 ~ · ~u = 0 ~ · ~u = 0 ~ ⊥ ~u.
= ∇V ⇒ ∇V ⇒ −E ⇒ E ⇒ E
∂~u
~ é perpendicular à equipotencial.
Logo, E
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É possível mostrar que essa energia também pertence a carga puntiforme Q1 . Para isto,
vamos repetir a montagem só que primeiramente fixando a carga puntiforme Q2 , veja Figura
4.9(a). Veja que num ponto localizado a uma distância r de Q2 (onde tínhamos fixado a
carga puntiforme Q1 na primeira montagem) o potencial elétrico vale V2 = k·Q r
2
. Fixamos,
agora, a carga puntiforme Q1 exatamente nesse ponto que dista r de Q2 , veja Figura 4.9(b).
A energia potencial elétrica armazenada por Q1 , nesse ponto, é dada por
k · Q2 k · Q1 · Q2
U = Q1 · V2 ⇒ U = Q1 · ⇒ U= ,
r r
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k · Q1 · Q2
U12 =
r12
A energia potencial elétrica total Utotal armazenada num sistema composto por N >
2 cargas puntiformes é a soma das energia potenciais elétricas referentes a todas as
interações de pares de cargas puntiformes que compõem o sistema.
Na Figura 4.10 temos exemplos de sistemas compostos por N > 2 cargas puntiformes.
Na Figura 4.10(a) temos um sistema com N = 3 cargas puntiformes. Por um processo
combinatório, é possível verificar que a quantidade de maneiras distintas que podemos
escolher duas cargas (que formam um par) nesse sistema de 3 cargas é igual a 3, ou seja,
temos 3 pares possíveis de cargas que vão contribuir para a energia potencial elétrica total
do sistema: (Q1 , Q2 ), (Q2 , Q3 ) e (Q1 , Q3 ) e perceba que as distâncias de separação entre as
cargas de cada par, r12 , r23 e r13 , formam, nesse sistema, os lados de um triângulo. Logo, a
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energia potencial elétrica total armazenada nesse sistema é a soma das energias potenciais
elétricas armazenadas nesses pares de carga, ou seja,
k · Q1 · Q2 k · Q2 · Q3 k · Q1 · Q3
⇒ Utotal = + +
r12 r23 r13
Figura 4.10: Exemplos de sistemas compostos por N > 2 cargas puntiformes. Em (a) temos
N = 3 cargas puntiformes e em (b) temos N = 4 cargas puntiformes.
Outro exemplo, que aparece na Figura 4.10(b), é um sistema com N = 4 cargas puntiformes.
Note que, por um processo combinatório, a quantidade de maneiras distintas que podemos
escolher duas cargas (que formam um par) nesse sistema de 4 cargas é igual a 6, ou seja,
temos 6 pares possíveis de cargas que vão contribuir para a energia potencial elétrica total
do sistema. Temos 4 pares cujas distâncias de separação formam os lados do quadrilátero
(Q1 , Q2 ), (Q2 , Q3 ), (Q3 , Q4 ) e (Q1 , Q4 ) e 2 pares cujas distâncias de separação formam as
diagonais: (Q1 , Q3 ) e (Q2 , Q4 ). Logo, a energia potencial elétrica total armazenada nesse
sistema é a soma das energias potenciais elétricas armazenadas nesses pares de carga, ou
seja,
Utotal = U12 + U23 + U34 + U14 + U13 + U24 (N = 4 cargas)
k · Q1 · Q2 k · Q2 · Q3 k · Q3 · Q4 k · Q1 · Q4 k · Q1 · Q3 k · Q2 · Q4
⇒ Utotal = + + + + +
r12 r23 r34 r14 r13 r24
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Solução: Como o sistema possui N = 3 cargas puntiformes, a quantidade de pares de cargas que contribuem
para a energia potencial elétrica total é uma combinação simples de 3 cargas tomadas 2 a 2, ou seja, 3 pares
de cargas. Observando o esquema do arranjo identificamos os pares: (q1 , q2 ), (q2 , q3 ) e (q1 , q3 ). Logo, a
energia potencial elétrica total do sistema é a soma das energias potenciais elétricas desses três pares,
k · q1 · q2 k · (−e) · (+e) k · e2
U12 = = ⇒ U12 = −
r12 a a
k · q2 · q3 k · (+e) · (+e) k · e2
U23 = = ⇒ U23 =
r23 a a
k · q1 · q3 k · (−e) · (+e) k · e2
U13 = = ⇒ U13 = −
r13 2a 2a
Então:
k · e2 k · e2 k · e2 k · e2 (9, 0 × 109 Nm2 /C2 ) · (1, 6 × 10−19 C)2
Utotal = − + − ⇒ Utotal = − ⇒ Utotal = −
a a 2a 2a 2 · (1, 0 × 10−3 m)
Logo:
10
O cálculo dessa combinação pode ser feito diretamente na calculadora usando a função do botão nCr.
Por exemplo, se eu quero calcular a combinação de 5 cargas tomadas 2 a 2 basta ir na calculadora e fazer
a seguinte operação: aperte sequencialmente o botão 5, o botão nCr, o botão 2 e o botão = obtendo o
resultado 10.
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Figura 4.11: Campo elétrico gerado por uma placa plana infinita uniformemente eletrizada
com uma densidade superficial de cargas σ > 0.
Essa imensa placa divide o espaço tridimensional em dois semi-espaços. Por exemplo,
para uma placa plana infinita horizontal, veja Figura 4.11(b), temos o semi-espaço acima da
placa e o semi-espaço abaixo da placa. Pode-se mostrar que essa placa plana infinita gera,
em todos os pontos de cada semi-espaço, um campo elétrico com as seguintes características:
• Sentido: “aponta contra” uma placa positivamente carregada e “aponta para” uma
placa negativamente carregada.
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Capítulo 4 – O Potencial Elétrico e a Energia Potencial Elétrica Prof. Dr. Eduardo T. Matsushita
sentido (todos apontam para cima) e a mesma intensidade (todos os vetores possuem o
mesmo tamanho). Tais características definem um tipo particular de campo que chamamos
de campo elétrico uniforme (ou C.E.U.). Dessa forma, num campo elétrico uniforme
todos os vetores campo elétrico são vetores constantes, ou seja, suas características vetoriais
(direção, sentido e intensidade) permanecem inalteradas ao longo dos pontos do campo
elétrico. Note que o campo elétrico definido no semi-espaço abaixo da placa plana infinita
também pode ser classificado como um campo elétrico uniforme pois todos os vetores E ~
possuem a mesma direção (perpendicular à placa), mesmo sentido (todos apontam para
baixo) e mesma intensidade (vetores do mesmo tamanho). Por outro lado, se visualizarmos
o campo elétrico gerado pela placa infinita agora considerando todo o espaço (ou seja,
considerando simultaneamente os dois semi-espaços), não podemos classificá-lo como um
~ tenham a mesma direção (perpendicular
campo elétrico uniforme pois, embora todos os vetores E
à placa) e a mesma intensidade (vetores do mesmo tamanho), ocorre uma quebra de uniformidade
no sentido desses vetores (acima da placa todos apontam para cima e abaixo da placa todos
apontam para baixo).
Podemos então estabelecer uma definição de um campo elétrico uniforme:
Um campo elétrico é dito ser um campo elétrico uniforme (C.E.U.) se o vetor campo elétrico
em cada ponto for um vetor constante, ou seja,
a mesma direção
~ ) possui o mesmo sentido
E(P para todo ponto P pertencente ao campo elétrico.
e mesma intensidade
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Capítulo 4 – O Potencial Elétrico e a Energia Potencial Elétrica Prof. Dr. Eduardo T. Matsushita
Figura 4.12: Campo elétrico gerado por uma placa plana finita (limitada) uniformemente
eletrizada. Em (a) temos a verificação experimental das linhas de campo geradas pela placa
finita e em (b) temos uma representação gráfica de algumas linhas de campo.
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Capítulo 4 – O Potencial Elétrico e a Energia Potencial Elétrica Prof. Dr. Eduardo T. Matsushita
Vamos descrever o campo elétrico gerado pelo capacitor de placas planas paralelas. Para
isto, consideraremos uma situação idealizada na qual as placas utilizadas são infinitas, veja
Figura 4.13(a). Observe que ficam determinadas três regiões distintas: uma entre as placas
e duas externas a elas. Consideremos três pontos arbitrários, cada um pertencente a uma
região definida pelo sistema montado. Em cada um desses pontos, queremos obter o vetor
campo elétrico resultante produzido pelas duas placas infinitas.
Figura 4.13: Cálculo do campo elétrico gerado pelo capacitor de placas planas paralelas.
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Capítulo 4 – O Potencial Elétrico e a Energia Potencial Elétrica Prof. Dr. Eduardo T. Matsushita
~ = |E
|E| ~ − | = |σ| + |σ|
~ + | + |E ⇒ ~ =
|E|
|σ|
,
2 · 0 2 · 0 0
ou seja, para todo ponto na região intermediária o campo resultante é um vetor de direção
perpendicular às placas, sentido da placa positiva para a placa negativa e intensidade
|σ|
constante igual a . Logo, concluímos que na região entre as placas planas infinitas temos
0
um campo elétrico uniforme, veja Figura 4.13(b).
Claro que, na prática, não é possível montar um capacitor utilizando placas planas
infinitas. Entretanto, em um capacitor montado com placas planas finitas como esquematizado
na Figura 4.14, notamos que nos pontos situados na sua região central o campo elétrico é
aproximadamente uniforme. Junto às bordas já observamos os efeitos de borda onde o campo
sofre variações que não podem ser desprezadas desviando completamente do comportamento
uniforme (quebra da uniformidade).
Figura 4.14: Efeitos de borda num capacitor de placas planas paralelas finitas.
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Figura 4.15: Determinação experimental das linhas de campo elétrico geradas por um
capacitor de placas paralelas finitas. Em (a) as placas estão ainda descarregadas. Em
(b) as placas estão uniformemente eletrizadas com cargas de mesma magnitude mas sinais
contrários.
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~ · d~` = |E|
E ~ · |d~`| · cos φ.
O fato de estarmos lidando com um campo elétrico uniforme e o fato de termos escolhido
uma trajetória retilínea facilitará drasticamente nossos cálculos. Observe que independente
do ponto considerado ao longo da trajetória retilínea, o vetor E ~ e o ângulo φ não mudam
~ 11
e, como consequência, |E| e cos φ são constantes ao longo da trajetória retilínea que liga
os pontos A e B. Por outro lado, o vetor deslocamento infinitesimal d~` está vinculado
a trajetória e não pode ser tratado com constante. Introduzindo essas informações na
integração:
ˆ B ˆ B ˆ B
VA − VB = ~ ~
E · d` = ~ ~ ~
|E| · |d`| · cos φ = |E| · cos φ · |d~`|
A A A
ˆ B
O que significa a integral |d~`|? Para a trajetória retilínea utilizada, o vetor d~` representa
A
um trecho infinitesimal dessa trajetória. Assim, essa integração está somando continuamente
os tamanhos dos trechos infinitesimais que compõem a trajetória completa, ou seja, essa
´ B no comprimento total LAB da trajetória retilínea que liga os pontos A e B.
soma resulta
Assim, A |d~`| = LAB de modo que
~ · cos φ · LAB .
VA − VB = |E|
11
A constância do campo elétrico vem do fato do campo ser uniforme e a constância do ângulo vem do
fato da trajetória escolhida ser retilínea.
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Observe na Figura 4.17(a) que podemos extrair um triângulo retângulo no qual LAB é a
medida da sua hipotenusa e d é a medida do cateto adjacente ao ângulo φ. Segue que
d
cos φ = ⇒ d = cos φ · LAB
LAB
de modo que, finalmente, obtemos
~ ·d
VA − VB = |E|
com d sendo a distância dos dois planos paralelos onde estão localizados os pontos A e B.
A expressão obtida nos permite identificar uma unidade oficial importante de intensidade
~ =
de campo elétrico no SI. Veja que, se isolando essa intensidade na expressão obtemos |E|
VA −VB
d
indicando podemos medir a intensidade de campo elétrico em volt por metro (V/m),
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• Consequência geométrica:
Fixe o plano que contém o ponto A. Diminuir a distância d significa fazer o plano que
contém o ponto B se aproximar do plano que contém o ponto A, veja 4.18(a). Quando
a distância zerar (d = 0), A e B estarão localizados no mesmo plano perpendicular,
veja Figura 4.18(b). Essa é a consequência geométrica de fazer d = 0.
Figura 4.18: Fixado o plano que contém A, a diminuição de d significa que o plano que
contém B está se aproximando do plano que contém A. No momento em que d = 0, os
pontos A e B estarão contidos no mesmo plano perpendicular às linhas de campo elétrico.
• Consequência eletrostática:
Por outro lado, fazer d = 0 na expressão da diferença de potencial VA − VB implica
VA − VB = 0 ⇒ VA = VB ,
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VA − VB > 0 ⇒ VA > VB ,
ou seja, no percurso ao longo do sentido da linha de campo o potencial elétrico vai diminuindo.
Por exemplo, quando dizemos que um campo elétrico uniforme tem intensidade de 200 V/m
significa que ao percorrer uma linha de campo, no sentido dela, o potencial elétrico diminui
200 V a cada metro percorrido.
O sentido das linhas de campo elétrico é sempre do potencial maior para o potencial menor.
A Figura 4.19 mostra três planos equipotenciais de um campo elétrico uniforme ilustrando
a diminuição do potencial elétrico ao longo do sentido das linhas de campo. VA que é o
potencial associado ao primeiro plano equipotencial é maior do que VB que é o potencial
associado ao segundo plano equipotencial que, por sua vez, é maior que VC que é o potencial
associado ao terceiro plano equipotencial. Levando em conta todo o dispositivo, o maior
potencial elétrico está na placa plana positivamente eletrizada e o menor potencial elétrico
está na placa plana negativamente eletrizada.
Figura 4.19: Os valores do potencial elétrico vão decrescendo no sentido das linhas de campo.
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Exemplo 22 Na figura ao lado,
representamos as linhas de um campo
elétrico uniforme. Sejam VA = 80 V e
VB = 40 V os potenciais elétricos dos pontos
A e B, respectivamente. As distâncias AC
e AB valem, respectivamente, 0,60 m e
1,0 m. Determine (a) o potencial elétrico
do ponto C e (b) a intensidade do campo
elétrico uniforme.
Solução:
(a) Notamos pelo desenho, que mostra a visão lateral das linhas de campo elétrico, que os pontos A e C
estão contidos numa mesma reta perpendicular às linhas de campo. Essa reta é a visão lateral de um
plano equipotencial. Logo A e C são pontos que pertencem ao mesmo plano equipotencial de modo que
VC = VA ⇒ VC = 80V
~ ·d ~ = VC − VB
VC − VB = |E| ⇒ |E|
d
com d sendo a distância de separação entre as equipotenciais nas quais estão contidas os pontos C e B.
Note que d corresponde à medida do cateto de um triângulo retângulo cuja hipotenusa é o segmento AB
que mede 1,0 m e o outro cateto é o segmento AC que mede 0,60 m. Aplicando o teorema de Pitágoras,
facilmente encontramos que d = 0, 80 m. Logo,
Solução:
(a) Uma vez que nós conhecemos a intensidade do campo elétrico uniforme, |E|~ = 8, 0 × 104 V/m, e a
distância entre os pontos A e B (que corresponde a distância das equipotenciais associadas a esses
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pontos), d = 0, 50 m, então
KA + UA = KB + UB
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