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Introdução
E este próprio autor já vivenciou problemas seríssimos devido a isso. Oito mil
pessoas reunidas e o som “acabou” porque alguém ligou um equipamento
indevido na rede elétrica.
Todos que lidam com a área de sonorização sabem que sem som não tem evento
– seja um culto ou um mega-show. Qualquer operador responsável leva o
material necessário e inclusive equipamento de backup, para o caso de alguma
eventualidade. Mas sem energia, não há som!
Assim, o assunto Eletricidade é dos mais importantes. Mas também é dos mais
ignorados pelos operadores de som. Talvez pela simplicidade aparente – muita
gente acha que é só ligar tudo na primeira tomada que aparecer na frente.
Entretanto, o assunto é extremamente complexo (um engenheiro não fica 5 anos
na faculdade à toa). Um simples fio é muito mais que sua bitola. Um disjuntor,
desses que todos temos em casa, na verdade pode ser de 4 tipos, de acordo com
a velocidade de disparo – e isso pode fazer muita diferença em um sistema de
sonorização.
Para a turma dos medrosos (como este autor), saiba que o operador de som só
precisa ter noções, não precisa saber fazer instalações (eu falo sempre: “não sei”,
“não mexo”, “não encosto”, “tenho medo”, “não chego nem perto”). Mas o
operador precisa saber passar, na linguagem do engenheiro / eletrotécnico o
que ele precisa para que tudo funcione bem. É isso que vamos tentar ensinar.
A primeira coisa que qualquer operador de som tem que saber é calcular o
quanto de energia elétrica seus equipamentos consomem. A tarefa é
extremamente simples. Pegue os manuais e procure, nas páginas de
especificações técnicas de cada aparelho, a seguinte especificação:
Temos então:
* Alguns aparelhos trazem escrito 110V, outros 115V, outros 120V, 125V ou até
127V, assim como 220V, 230V, 234V ou 240V.
Só que precisamos fazer esse cálculo em relação à nossa voltagem real, aquela
que encontramos na tomada. Na minha cidade, a voltagem é de 127V/220V,
mas existem cidades onde a voltagem é 120V/208V, outras onde é 115V/230V.
Mais adiante falaremos sobre isso. Assim, no exemplo acima, para uso na minha
cidade, teremos 4A em 127V, então:
Além disso, é preciso incluir no cálculo uma folga para o sistema. Só que não é
possível precisar se a folga será de 10% ou de 30% ou outro valor qualquer. Cada
caso é um caso. No sistema do Anfiteatro que estamos usando de exemplo, se
considerarmos que o mesmo é pobre em periféricos e bem servido de
amplificadores (neste caso), podemos considerar uma folga pequena de 1.000
Watts, suficientes para a adição de um computador (200 a 300W) quando
houver gravação, e novos periféricos – módulos de efeitos, equalizadores,
compressores (50 a 150W cada um). Já em um sistema de menor porte, mas
onde novos amplificadores poderão ser necessários, é melhor calcular logo uma
folga bem grande.
O ideal seria que todo o sistema elétrico desse local seja estimado para fornecer
continuamente essa quantidade de energia. Entretanto, é bom saber que
sistemas elétricos têm custo proporcional à capacidade (quanto mais energia
suportam, mais caros). Um sistema apto a suprir 12KW é bem mais caro que um
sistema apto a suprir 6KW, por exemplo.
Mas aqui cabe um primeiro debate. Presenciei uma cena interessante neste
Anfiteatro. Mesmo sabendo que o equipamento todo consome 12 KWatts,
instalaram um no-break de apenas 6 KWatts. E houve uma discussão acalorada
entre um dos operadores e o eletricista. O eletricista alegava que o no-break
tinha capacidade mais que suficiente, pois feitas medições com alicate
amperímetro, os equipamentos nunca haviam consumido um valor maior que 6
KW. Já o operador alegou que poderia haver momentos de picos, onde a
potência máxima do sistema (e o consumo máximo) seria atingida.
Tipo de Programa Musical Consumo Típ
Em sonorização, é a mesma coisa. É por isso que uma das regras da sonorização
é usar os cabos de bitola o maior possível, e fios de menor comprimento
possível, exatamente para evitar perdas. É por isso que existem inúmeras
tabelas de dimensionamento de cabos de ligação entre amplificadores e caixas
acústicas, como as existentes no documento já citado no artigo anterior. Tudo
isso para minimizar perdas.
Mas voltando ao assunto 110V ou 220V, vamos direto à fonte da energia, vamos
até uma usina hidrelétrica. A energia que uso na minha casa é produzida em um
usina situada há centenas, milhares de quilômetros de distância. Como fazer
para transportar uma enorme quantidade de energia (uma grande potência,
centenas de KiloWatts ou mesmo alguns MegaWatts) por uma grande distância?
Uma solução seria usar fios de bitola grande. Algo como “alguns metros” de
bitola. Infelizmente, impraticável, não só pelo custo quanto pela dificuldade de
manejo de um fio dessa bitola.
Outra solução seria usar metais mais nobres, com menos perdas. Ouro e prata
são condutores melhores que o cobre. Além do custo proibitivo, os ladrões
adorariam essa idéia.
Então, a solução é aplicar a lei de Ohm. Para uma mesma potência, quanto
maior for a Voltagem, menor será a corrente elétrica (a Amperagem, a
quantidade de elétrons percorrendo o fio). Menos elétrons percorrendo o fio
significa menos chance de um deles esbarrar no núcleo do átomo, menos
perdas.
As usinas costumam entregar a sua energia em até 750.000 Volts (isso mesmo,
750 mil Volts, o suficiente para “vaporizar” qualquer um que encoste nele).
Nessas condições, uma corrente de 5A (que pode passar tranqüilamente por um
fio de 1 mm²) significa:
Porque a tensão entre uma fase e outra fase não seria 254V (o dobro de 127V)?
Ou porque a tensão fase-neutro não seria 110V (metade de 220V)?
Mas, e 110V? Esta tensão existe quanto você tem uma bobina e dela tira um
circuito (um cabo elétrico) exatamente do meio dela. Existem transformadores
onde entram dois cabos elétricos e saem três. O esquema elétrico básico é este:
Note que não há problemas em encontrar 110V, 115V, 120V ou 127V, assim
como não há problemas em encontrar 208V ou 240V. Praticamente todos os
equipamentos do mundo são fabricados para suportar essa faixa de voltagens,
de 110V a 127V e/ou de 208V a 240V. Na verdade, o mais comum é que eles vão
além disso, suportando por exemplo de 105V a 132V, de 200V a 250V. Alguns
fabricantes chegam a fazer fontes que suportam trabalhar com qualquer tensão
entre 90V e 250V.
Aliás, é bom citar a diferença do 110V “e” 220V para o 110V “ou” 220V. Quando
um fabricante globalizado (que vende para o mundo inteiro) produz um
aparelho, ele adequa a alimentação para a energia que encontrará no local onde
o produto pretende ser comercializado. Por exemplo, existem equipamentos que
aceitam uma única tensão. Aqui no Brasil, vemos às vezes os Behringer que são
apenas 220V, feitos para o mercado europeu, onde 220V é a tensão mais
comum. Já os equipamentos comprados por aqui mesmo em geral são 110V, que
é a tensão mais comum em todo o país. Mas a maioria dos equipamentos possui
uma chave seletora de tensão de trabalho, 110V ou 220V. São os chamados
aparelhos bivolts. É sempre bom conferir as tensões de trabalho ANTES de
comprar, para não ter uma “infeliz surpresa” depois.
Qualquer local que seja bifásico ou trifásico 127V (ou 110V ou 115V ou 120V)
pode também ter tomadas 220V (ou 208V ou 230V ou 240V). Isso porque os
aparelhos 220V podem funcionar em duas configurações:
Ou funcionam com Fase (220V), Neutro e Terra (F, N, T), como o encontrado
nas cidades cuja tensão nominal é 220V, ou com F (127V), F (127V) , Terra
(duas fases e o neutro/terra), nas cidades onde a tensão nominal é 110V. A
figura acima mostra exatamente estas duas ligações.
É muito comum, em locais onde eventos que precisam de sonorização são
constantes, encontrarmos tomadas padrão 110V e outras padrão 220V. Há um
motivo para isso, pois muitos sistemas de sonorização, principalmente os de
altas potências, só funcionam em 220V.
Aqui, cabe mais um alerta. Um aparelho com tensão ajustada para 220V,
quando ligado em 110V, “parece” funcionar, mas terá desempenho insuficiente.
Já um aparelho ajustado em 110V, quando ligado em 220V, costuma soltar
faíscas e fumaça, e depois o dono vai gastar um bom dinheiro no conserto.
Ligações mistas (onde existem tomadas 110V e 220V) precisam ser sempre
identificadas, muito bem identificadas (cada tomada acompanhada de uma
placa indicativa da tensão), para evitar esse tipo de problema. Na dúvida, teste
com o multímetro ANTES de conectar os aparelhos.
Sistemas em 220V só não são bons para quem toma choque! O choque é muito
mais forte, causa mais danos à saúde. Para evitar isso, as locadoras fazem assim:
eles montam todo o sistema de som primeiro (todo mesmo) e só por último,
depois que tudo já está conectado e conferido, é que conectam os seus fios à
rede elétrica. O AC é sempre o último a entrar em funcionamento, exatamente
para evitar riscos de choques durante a montagem.
Para igrejas pequenas, onde as potência envolvidas não são grandes, talvez 110V
– que é o mais comum de encontrar – seja o mais prático. Para grandes eventos,
potências grandes, 220V traz vantagens. O mais importante é atentar para tal
informação antes de se adquirir aparelhos, para evitar problemas depois. E
também prestar atenção antes de ligar o aparelho na tomada. Aferir a voltagem
antes é uma prática sempre bem vinda.
Todos os problemas relatados acima são causados por uma coisa só: existem
equipamentos que “sujam”, “contaminam” a rede elétrica local, e essa “sujeira”
vai parar nos equipamentos de áudio e, por fim, nos nossos ouvidos. Qualquer
motor (geladeira, copiadora, ventiladores, ar-condicionados, liquidificadores,
etc), qualquer reator (lâmpadas), até outros aparelhos eletrônicos têm a incrível
capacidade de introduzir induções (ruídos) na rede elétrica.
Mas minha igreja é trifásica, o que facilita muito a esse tipo de trabalho. Para
igrejas bifásicas, que é o caso mais comum, é complicado fazer o mesmo. Não dá
para pendurar todos os outros equipamentos em uma única fase por causa de
uma coisa chamada “balanceamento de carga*”, e as conseqüências que isso
trás. Por exemplo, o relógio contador de energia registra sempre o consumo da
maior fase – colocar tudo em uma única fase vai aumentar a conta de energia.
Até é possível solicitar uma ligação trifásica, mas isso depende de um
engenheiro elétrico, fazer um novo projeto elétrico, novos gastos…
*As cargas existentes (os aparelhos elétricos) de um local devem sempre ser
divididos pelas fases, de maneira “equilibrada” (potências parecidas). Uma
residência com dois chuveiros elétricos, por exemplo, deve ter cada um ligado a
uma fase diferente. Isso porque o chuveiro consume muita energia
(aproximadamente 4.000 Watts), e colocar os dois chuveiros na mesma fase
poderá sobrecarregá-la (a fiação precisaria estar dimensionada para aguentar
8.000 Watts). Esse estudo é sempre feito na fase de projeto de uma construção.
Assim, o cenário ideal de ter uma fase apenas para os equipamentos de som é
algo realmente difícil de ser conseguido na prática. Mas há algumas coisas a
fazer, que podem minimizar os problemas de ruídos e sujeiras.
Todas essas são medidas simples, exigem muitas vezes apenas mudanças no
quadro de disjuntores, que um eletricista pode fazer a um custo mínimo. Para
quem não tem condições de fazer isso na sua igreja, um paliativo (não resolve,
mas minimiza) para o problema de induções são os filtros. Existe toda uma
gama de filtros que podem ser utilizados, de simples filtros de linha a
estabilizadores, passando pelos filtros de linha profissionais e pelos no-breaks.
Mas é assunto para o próximo artigo.
Eletricidade e Sonorização – Parte 5 –
Filtragem, Estabilização e Suprimento
alternativo de energia
Já vimos que a energia elétrica que utilizamos pode estar contaminada com
“sujeiras” diversas, sendo estas sempre prejudiciais ao funcionamento dos
equipamentos eletrônicos, entre eles os equipamentos de áudio. Mas existem
equipamentos que podem minimizar ou mesmo eliminar esses problemas, e
será o nosso objeto de estudo neste artigo.
Mesmo que um equipamento não aparente ter sofrido danos imediatos com a
ocorrência de algum destes problemas, seus efeitos cumulativos podem reduzir
a vida útil do equipamento.
Fazendo agora uma analogia, em que cada problema desses é uma doença, cada
doença vai exigir um tipo de remédio diferente. Para combater estas doenças,
existem 3 tipos de remédios: os filtros de linha, os estabilizadores e os no-
breaks/geradores. Vamos estudá-los.
FILTROS DE LINHA
Para quem trabalha com áudio, existem alguns filtros de linha profissionais (que
realmente filtram e protegem os aparelhos), construídos de forma a caber em
um rack padrão, de 19”. No Brasil, temos os produtos da Pentacústica
(www.pentacustica.com.br) e da Zerotron, ambos de fabricação nacional, e os
seguintes produtos importados: Fuman (de longe o mais famoso, com inúmeros
modelos), RackRider (produzidos também pela Furman) e Samson Powerbrite,
além de outras marcas.
Uma grande vantagem desses aparelhos é que possuem filtros específicos para a
atenuação de ruídos nas faixas audíveis, atuando melhor que modelos
projetados para outros usos (Informática, por exemplo).
Mas cuidado: da mesma forma que existem “filtros” que não filtram nada,
existem “filtros” em formato de rack que não passam de simples extensões.
Alguns tem até monitores de voltagem na frente, mas nenhum componente de
filtragem/proteção. São chamados de “tomadeiros”.
ESTABILIZADORES DE TENSÃO
Evidente que, quanto maior a variação suportada, melhor e mais caro será o
estabilizador, mas também maior e mais pesado ele será (pois exigirá um
transformador maior). A figura abaixo mostra um transformador.
Um alerta: o uso de um estabilizador não exclui o de um bom filtro de linha.
Como já falamos acima, para cada tipo de doença, um tipo de remédio.
Estabilizadores apenas atuam sobre problemas de variação de tensão de rede
elétrica, não atuando nada sobre sujeiras e sobre surtos de tensão.
NO-BREAKS E GERADORES
Esse tipo de no-break é de custo mais baixo, mas traz alguns problemas. Eles
não isolam os equipamentos da rede elétrica, e picos, transientes e outros
problemas podem passar por eles, chegando aos aparelhos. Ou seja, eles até
sustentam os equipamentos no caso de falta de energia, mas não fazem
estabilização nem filtragem (ou o fazem de modo muito simples). Alguns até
chegam a incorporar filtros de linha (a partir de 1° de janeiro de 2008, todos vão
incorporar) e estabilizadores, mas isso depende de fabricante para fabricante.
Esse tipo de no-break na verdade faz três funções: filtra (a medida que isola os
equipamentos da rede elétrica), estabiliza (na medida que a energia que os
equipamentos recebem é sempre regulada e constante) e supre energia quando
houver algum problema de fornecimento. São excelentes, mas muito caros.
Quanto à forma da onda de saída, temos:
Entretanto, há eventos que não podem ser interrompidos sob pena de grande
risco de segurança ou mesmo financeiro (um grande show, por exemplo). Por
causa disso, em sonorização de grandes eventos é mais comum contar com
grupos geradores, que nada mais são que motores de veículos (caminhões, em
geral) convertidos para produzirem energia elétrica. Eles tem grande
autonomia, e além disso podem ser reabastecidos com gasolina ou diesel sem
interrupção do funcionamento. E geradores profissionais (porque, assim como
os outros equipamentos, existem os que não tem bom desempenho), em geral
entregam energia estável e bem limpa, sendo necessário apenas trabalhar com
filtros de linha, para evitar os surtos que podem se formar quando
amplificadores de grande potência são ligados/desligados.
Sobre geradores, é importante saber que alguns levam alguns minutos para
entrar em funcionamento e começar a produzir energia de maneira estável.
Alguns locais adotam um misto de solução de no-break + gerador. O no-break
fornece energia de modo instantâneo, por alguns minutos, tempo suficiente
para o gerador entrar em operação.