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Eletricidade e Sonorização – Parte 1 –

Cálculo de estimativa de consumo

POSTED BY: FERNANDO BERSAN

Introdução

Compra-se uma fantástica mesa de som, um monte de periféricos,


amplificadores e caixas de som potentíssimas. Tudo do bom e do melhor. Mas
tudo isso precisa de eletricidade para funcionar. E na maioria das vezes,
acredita-se que basta conectar os aparelhos na primeira tomada de parede que
se encontrar. Completo engano: quase sempre as instalações elétricas que vão
atender os equipamentos de sonorização não são adequadas ou não recebem os
cuidados devidos.

Recentemente participei de um Workshop sobre mesas digitais da Yamaha. O


Aldo Linares, especialista de produtos da Yamaha, passou quase uma hora
enfatizando que as pessoas precisam ter muito cuidado com a eletricidade que
disponibilizam para as mesas digitais, e contou inúmeros casos em que o
usuário danificou a mesa digital (algumas de R$ 50.000,00) por problemas de
energia! O que ele não contou, mas todas as empresas fazem assim, é que a
garantia não cobre danos causados por problemas elétricos e erros de operação.

Também participei de um curso do IATEC, Operação de Sistemas de


Sonorização, onde o instrutor Fred Júnior passou uma manhã inteira falando
somente sobre Eletricidade, dizendo os cuidados básicos e contando casos
“bárbaros” de shows que ele fez (ou não fez) devido a problemas elétricos. Aliás,
os peazeiros que estavam lá também contaram muitas histórias (sempre tristes).
Em todas as histórias, os prejuízos eram de alguns milhares a até dezenas de
milhares de reais (imagine um show para 30.000 pessoas que é cancelado por
problemas elétricos). 

Problemas elétricos não poupam ninguém, nem os “grandes”. Uma artista de


renome nacional, fazendo um mega-show em um estádio de futebol, teve o show
paralisado por 20 minutos por causa justamente disso.

E este próprio autor já vivenciou problemas seríssimos devido a isso. Oito mil
pessoas reunidas e o som “acabou” porque alguém ligou um equipamento
indevido na rede elétrica.
Todos que lidam com a área de sonorização sabem que sem som não tem evento
– seja um culto ou um mega-show. Qualquer operador responsável leva o
material necessário e inclusive equipamento de backup, para o caso de alguma
eventualidade. Mas sem energia, não há som!

Ter energia elétrica disponível é até mesmo questão de segurança. Imaginem


um ginásio lotado quando falta energia. É necessário haver suprimento elétrico
de emergência – e sonorização e iluminação – para manter as pessoas calmas,
orientar a saída, etc. Sem isso, pode haver pânico, e a responsabilidade é toda
dos responsáveis pelo evento.

Não podemos esquecer que, quando acontecem problemas em um evento, é o


nome do organizador que estará sendo prejudicado. Ninguém quer saber se foi a
empresa X ou Y a responsável pela parte elétrica ou de sonorização. Todos
imaginam que a responsabilidade é do promotor do evento. O mesmo se aplica à
igrejas. As igrejas são as responsáveis pelos eventos que promovem. Uma pessoa
que visita um evento da igreja pela primeira vez e vivencia uma situação ruim
provavelmente terá grandes ressalvas em repetir novamente a visita.

Assim, o assunto Eletricidade é dos mais importantes. Mas também é dos mais
ignorados pelos operadores de som. Talvez pela simplicidade aparente – muita
gente acha que é só ligar tudo na primeira tomada que aparecer na frente.
Entretanto, o assunto é extremamente complexo (um engenheiro não fica 5 anos
na faculdade à toa). Um simples fio é muito mais que sua bitola. Um  disjuntor,
desses que todos temos em casa, na verdade pode ser de 4 tipos, de acordo com
a velocidade de disparo – e isso pode fazer muita diferença em um sistema de
sonorização.

Apesar da complexidade, o técnico de som tem obrigação de entender algumas


coisas, sob pena de ver seu trabalho comprometido por causa de problemas
elétricos. Podem acontecer danos aos equipamentos, insuficiência de
desempenho ou mesmo paralisação dos trabalhos de sonorização. Qualquer que
sejam as conseqüências, “vai sobrar” para o operador de áudio, e podem ter
certeza que não será nem um pouco bom!

Assim, tentaremos nesta série de artigos apresentar conceitos básicos e noções


gerais, que são necessárias para se evitar problemas que podem atingir o ser
humano nas suas partes mais sensíveis: os ouvidos (e o bolso). 

Para a turma dos medrosos (como este autor), saiba que o operador de som só
precisa ter noções, não precisa saber fazer instalações (eu falo sempre: “não sei”,
“não mexo”, “não encosto”, “tenho medo”, “não chego nem perto”). Mas o
operador precisa saber passar, na linguagem do engenheiro / eletrotécnico o
que ele precisa para que tudo funcione bem. É isso que vamos tentar ensinar.

Mas ficam dois alertas. O primeiro é o seguinte: para projetar um sistema de


energia adequado, é necessário um engenheiro eletricista ou pelo menos um
eletrotécnico. O assunto é extremamente complexo, há vários livros sobre isso.
Então, o que faremos aqui são apenas dicas básicas, simplificadas ao máximo –
o suficiente para que o operador de som possa conversar com o responsável pela
parte elétrica de forma satisfatória. E quem quiser se aprofundar, sugerimos
muito procurar um livro especializado.

O segundo é quanto ao perigo.  NÃO MEXA COM ELETRICIDADE se você não


tem formação específica para isso. Existe risco de MORTE. Aquelas caveiras
pintadas na frente de quadros de energia não estão lá à toa!

Estimando o consumo elétrico dos equipamentos

A primeira coisa que qualquer operador de som tem que saber é calcular o
quanto de energia elétrica seus equipamentos consomem. A tarefa é
extremamente simples. Pegue os manuais e procure, nas páginas de
especificações técnicas de cada aparelho, a seguinte especificação:

Consumo máximo: XXX Watts

Ou o equivalente em inglês ou outras línguas. Mesmo que esteja em língua


estrangeira será fácil, pois estará sempre expresso em Watts (padrão
internacional de potência). Esse valor corresponde em geral ao ao consumo
elétrico máximo do aparelho*. A partir daí, some todos os consumos (de todos
os equipamentos) e você terá o consumo elétrico máximo total do seu sistema de
sonorização.

*Não confundir, em amplificadores, o consumo elétrico (também chamado de


potência elétrica) com a potência útil do amplificador. O consumo elétrico é
sempre maior que a potência especificada do equipamento. A potência dos
amplificadores também é estimada em Watts, mas em geral vem acompanhada
dos valores 2 Ohms, 4 Ohms, 8 Ohms. Para mais informações sobre isso,
consulte: http://www.somaovivo.mus.br/artigos.php?id=145

Para tanto, vamos dar como exemplo o  sistema de sonorização de um


Anfiteatro. Esse sistema tem os seguintes equipamentos:

Mesa de Som Ciclotron VEGA 48MF – consumo máximo de 335Watts


4 amplificadores Ciclotron PWP 6000 – consumo máximo de 1.800 Watts cada
2 amplificadores Ciclotron PWP 4000 – consumo máximo de 1.320 Watts cada
1 Equalizador Ciclotron CGE 2313 – consumo máximo de 30Watts
1 Compressor Alesis RA3630 – consumo máximo de 25 Watts
4 microfones sem fio Shure modelo T4N – consumo máximo de 12Watts cada

Temos então:

Mesa de som = 335W


Periféricos / microfones sem fio = 103W
Amplificadores = (1800 x 4) + (1320 x 2) = 9.840 Watts.
Total: 10.278 Watts (arredondando, 10.300 Watts)

Note que as mesas de som e os periféricos têm consumo consideravelmente


menor que os amplificadores. Os grandes consumidores de energia em um
sistema de sonorização são sempre os amplificadores.

Os valores acima foram obtidos através dos manuais dos equipamentos ou


consulta ao site do fabricante. Mas nem sempre isso é possível, pois em alguns
casos o fabricante não mais existe ou não temos manuais.  A solução é simples,
bastando consultar o próprio equipamento. Muitos trazem escrito o consumo
máximo no painel traseiro e, se não existir esse dado, é possível calculá-lo
através do valor do fusível, aplicando a Lei de Ohm (um cientista que estudou a
eletricidade).

Potência (Watts) = Amperagem x Voltagem


Por exemplo, um equipamento com fusível de 4A em 110V* consome então

Potência = 4A x 110V = 440Watts

* Alguns aparelhos trazem escrito 110V, outros 115V, outros 120V, 125V ou até
127V, assim como 220V, 230V, 234V ou 240V.

Só que precisamos fazer esse cálculo em relação à nossa voltagem real, aquela
que encontramos na tomada. Na minha cidade, a voltagem é de 127V/220V,
mas existem cidades onde a voltagem é 120V/208V, outras onde é 115V/230V.
Mais adiante falaremos sobre isso. Assim, no exemplo acima, para uso na minha
cidade, teremos 4A em 127V, então:

Potência = 4A x 127V = 508Watts

O engenheiro que revisou esta série comentou que um aparelho de 4A em 110V


quase nunca alcançará esse valor de 508 Watts de consumo elétrico, que só
raras condições isso poderá acontecer. Segundo ele, o consumo na maioria das
vezes é inferior até mesmo que o consumo de 440 Watts (4A x 110Volts), devido
a algo chamado “Fator de potência”.   Quando o fabricante explicita o consumo
máximo no manual, ele leva em consideração esse parâmetro também.  Mas
neste caso, onde aplicamos a Lei de Ohm por não ter informação do fabricante,
precisamos pensar na pior das hipóteses que possam acontecer, e o consumo de
508 Watts é essa pior hipótese, e é o valor que deve ser considerado.

Alguns equipamentos, em geral de pequeno consumo (mas que precisam ser


levado em consideração), vem com fontes externas. A informação do consumo
elétrico costuma vir escrito na própria fonte. Esse é o valor que entrará no
cálculo do consumo total.

Voltando ao nosso exemplo, já calculamos que nosso sistema de sonorização


tem 10.300 Watts de consumo elétrico máximo, considerando-se apenas os
equipamentos de sonorização. Mas muitas instalações elétricas de sonorização
são compartilhadas também com os instrumentos musicais e seus acessórios.
Teclados, pedaleiras de guitarra/violão e cubos de instrumentos. Todos eles
apresentam  consumo elétrico e têm que ser levado em consideração no cálculo.
Aliás, cubos de instrumentos são amplificadores, e alguns tem consumos
elétricos bastante elevados. Vamos então colocar que o nosso consumo total seja
de 11.000 Watts (ou 11 KW, sendo K = 1000).

Além disso, é preciso incluir no cálculo uma folga para o sistema. Só que não é
possível precisar se a folga será de 10% ou de 30% ou outro valor qualquer. Cada
caso é um caso. No sistema do Anfiteatro que estamos usando de exemplo, se
considerarmos que o mesmo é pobre em periféricos e bem servido de
amplificadores (neste caso), podemos considerar uma folga pequena de 1.000
Watts, suficientes para a adição de um computador (200 a 300W) quando
houver gravação, e novos periféricos – módulos de efeitos, equalizadores,
compressores (50 a 150W cada um). Já em um sistema de menor porte, mas
onde novos amplificadores poderão ser necessários, é melhor calcular logo uma
folga bem grande.

Assim, podemos estimar o consumo máximo do sistema de exemplo em 12


KWatts. Esse valor inclui os equipamentos utilizados comumente, e uma folga
útil para adição de novos equipamentos, ainda que de uso esporádicos.

Este é o valor que vamos informar ao engenheiro eletricista ou eletrotécnico, e é


o parâmetro que ele usará para dimensionar o sistema elétrico do local (no-
breaks/geradores, bitola de cabos, disjuntores, etc). No próximo artigo,
aprenderemos noções básicas de como fazer esse dimensionamento.
Eletricidade e Sonorização – Parte 2 –
Dimensionamento do sistema elétrico
POSTED BY: FERNANDO BERSAN

O operador de um sistema de áudio sempre precisa saber a estimativa de


consumo elétrico máximo do mesmo, pois é a partir dessa informação que é
feito o levantamento dos cabos elétricos, disjuntores e outros equipamentos que
compõem o sistema elétrico de um local. No exemplo do artigo anterior, já
estimamos um consumo máximo de 12 KWatts (K = 1000) .

O ideal seria que todo o sistema elétrico desse local seja estimado para fornecer
continuamente essa quantidade de energia. Entretanto, é bom saber que
sistemas elétricos têm custo proporcional à capacidade (quanto mais energia
suportam, mais caros). Um sistema apto a suprir 12KW é bem mais caro que um
sistema apto a suprir 6KW, por exemplo. 

Mas aqui cabe um primeiro debate. Presenciei uma cena interessante neste
Anfiteatro. Mesmo sabendo que o equipamento todo consome 12 KWatts,
instalaram um no-break de apenas 6 KWatts. E houve uma discussão acalorada
entre um dos operadores e o eletricista. O eletricista alegava  que o no-break
tinha capacidade mais que suficiente, pois feitas medições com alicate
amperímetro, os equipamentos nunca haviam consumido um valor maior que 6
KW. Já o operador alegou que poderia haver momentos de picos, onde a
potência máxima do sistema (e o consumo máximo) seria atingida.

Ao final, chegou-se à conclusão que os dois estavam certos em suas posições.


Tudo depende do tipo de uso (por exemplo, o estilo musical) que os
equipamentos terão.

Enquanto mesa de som e periféricos tem consumo razoavelmente baixo e


relativamente constante (sem muita variação), o consumo elétrico de um
amplificador varia grandemente de acordo com o tipo de música que está sendo
executada. A partir de inúmeras medições, os profissionais da área
estabeleceram a seguinte tabela*:

 
Tipo de Programa Musical Consumo Típ

(com distorção nunca maior que 1%) em %


Sinal senoidal 100%
Ruído rosa, que se aproxima do aplauso 50%
Rock n’roll de alta compressão nos médios graves 40%
Trio elétrico com seu emprego típico 35% – 40%
Jazz moderno e os programas de show brasileiro 30%
Música ambiente 20%
Voz isolada de um cantor e a conversação contínua (pregação) 10%
Sistema de chamadas de uso pouco freqüente 1%
* Autoria de Ruy Monteiro e Rosalfonso Bortoni. Disponível
em www.studior.com.br/cabos.zip. A tabela aqui apresentada tem algumas
adequações de nome feitas pelo autor deste artigo.
Esses valores representam uma média de utilização (por isso o nome: Consumo
Típico) em relação ao tipo de música que é executada . Evidente que poderá
haver momentos em que potência máxima será exigida (um fortíssimo –
momento mais forte de uma música, ou então quando ocorre uma microfonia,
um “tiro”, um “estalo”, um microfone que cai no chão, um grito, etc), mas em
outros o sistema trabalhará “folgado” (pianíssimo – as partes mais suaves de
uma música, uma pausa no meio da pregação, etc).
Não custa lembrar que, para efeito de cálculo, eles consideram que o
amplificador nunca entra em regime de clipping – distorção. 
Para usarmos essa tabela proposta pelos autores, devemos ter em mente sempre
a pior hipótese de estilo musical que possa  acontecer.  Uma festa “rave”, cujas
músicas praticamente usam sinais senoidais puros por vários segundos, e
sempre tudo em volumes altíssimos, precisa considerar seu consumo típico em
100%.  Já um DJ, que executa nas festas som de rock de alta compressão
(músicas de CD´s quase sempre sofrem alta compressão), precisam considerar
um consumo típico de 40%.
Já para uma igreja, onde se alterna momentos de pregação e de música, o
sistema deve ser dimensionado para atender à pior hipótese, que é a de música.
Qual tipo de música? Cada igreja é um caso, mas não podemos descartar que às
vezes um hino é em estilo de rock mesmo. E é bom lembrar que de vez em
quando há uma microfonia, um cabo ruim gerando estalos, etc. Por mais que
isso seja indesejado, temos que levar em consideração todos esses fatores.
No documento dos engenheiros, eles propõem um cálculo que envolvem
parâmetros complicados, como Fator de Potência, Eficiência Energética,
Consumo em Repouso, etc. Alguns desses fatores têm que ser solicitados aos
fabricantes, já que raramente estão disponíveis nos manuais. Em resumo: o
método pode ser exato, mas muito complicado para a média das igrejas e
operadores de som. Já a nossa proposta é trabalhar diretamente com o valor de
consumo típico encontrado.
Assim, com base nesses dados, este autor propõe que o consumo típico de
igrejas seja calculado com base no valor de 50%. Muito provavelmente o valor
será exagerado, mas em eletricidade é sempre bom trabalhar com folga.
Assim,  sabendo-se o consumo elétrico máximo, chegamos ao valor de consumo
típico simplesmente dividindo-o por 2 (50%).
Consumo típico do sistema de som da igreja  = Consumo elétrico total estimado / 2
E é esse o valor que será levado ao dimensionamento do sistema.
No nosso exemplo, se nossos equipamentos de sonorização tem consumo
estimado de 12.000 Watts, metade disso (50%) é igual a 6.000 Watts! A partir
desse valor encontrado (6 KW) é feito o dimensionamento do sistema elétrico
do local. Dimensionar o sistema elétrico envolve três coisas: fios de energia,
disjuntores e sistema de fornecimento de energia (no-break/gerador).
Para nosso sistema de exemplo, ligado em 127V monofásico (uma fase – o
positivo, e um neutro – o negativo), teremos então:
a) disjuntor de 50A, pois 50A x 127V = 6.350 Watts
Na verdade, poderá até haver um disjuntor central de 50A, mas o mais comum é
dividir esta capacidade em vários circuitos (um conjunto de disjuntor mais as
tomadas a eles ligadas formam um circuito). No caso do Anfiteatro, temos dois
disjuntores de 20A para atender aos amplificadores mais um disjuntor de 10A
para atender à mesa de som e periféricos. Isso é interessante, pois se um
disjuntor dos amplificadores desligar, o som não some completamente, por
exemplo.
b) para o cálculo dos cabos, os engenheiros Ruy e Rosalfonso consideram que
um cabo flexível transporta aproximadamente 5A para cada 1 mm² de bitola*.
Então serão necessários cabos de energia de 10mm² de bitola. (10mm² x 5A =
50A), um para a fase e outro para o neutro. E 50A x 127V = 6.350 Watts.
*Quanto aos cabos, o cálculo exato do dimensionamento deles é bastante
complicado. Envolve o tipo do fio (flexível ou rígido), a bitola, o comprimento,
se é fio único ou se é paralelo (como nos cabos PP), o tipo de calha/canaleta por
onde passa, o local onde está instalado (se próximo a locais com altas
temperaturas), a temperatura ambiente e até mesmo a quantidade de emendas.
A estimativa de 5A para cada 1mm² é extremamente “conservadora” (existem
fios de 1mm² que chegam a transportar 18A em determinadas condições), mas
refletem exatamente a realidade da “pior hipótese”, tão comum em sonorização:
cabos flexíveis e paralelos, de grande comprimento, mal-emendados,
diretamente sob  o sol, etc.
Da mesma forma que no caso dos disjuntores, poderá haver fios principais de
10mm² (ligados ao disjuntor principal) e depois divide-se esses fios em outros
mais finos, mais práticos para trabalhar. No caso do Anfiteatro, os disjuntores
dos amplificadores são ligados com fio 4mm² e o disjuntor da mesa de som e
periféricos é ligado com fio 2,5mm².
c) No caso de haver sistema de fornecimento ininterrupto de energia,
precisaremos de um no-break ou gerador de 6KWatts úteis. Todo
no-break/gerador tem capacidade especificada em Volts x Amperes (VA, ou
mais comum ainda, KVA), mas é obrigatório levar em conta o seu Fator de
Potência e o tipo de carga, o que nem sempre vem especificado de maneira
clara. Um no-break de 8KVA, por exemplo, consegue alimentar 6KW de cargas
resistivas ou apenas 5KW de cargas indutivas. Sempre consulte o fabricante do
equipamento, pois o assunto é complicado mesmo.
Falaremos mais sobre no-breaks e geradores adiante.
Nosso sistema de exemplo também pode ser ligado em 220V (muitos sistemas
de sonorização de grande porte são 220V, adiante veremos porque), teremos
então:
a) disjuntor bipolar (2 pólos, 2 fases) de 30A*, pois 30A x 220V = 6.600 Watts
*Nota: não usamos disjuntor bipolar de 25A porque 25A x 220V = 5500 Watts,
valor abaixo do mínimo.
Da mesma forma que antes, esse disjuntor principal poderá ser dividido em
diversos circuitos.
b) os cabos continuam transportando 5A para cada 1 mm² de bitola,
independente de ser em 110V ou 220V. Só que instalações de 220V são
compostas de duas fases mais neutro. Como são duas fases, poderemos usar 2
fios de 5mm². Entretanto, esse valor não é comercial, então devemos usar cabos
imediatamente superiores, de 6mm². O neutro, por sua vez, já que é único,
continuará sendo de 10mm².
Também esses cabos de maior bitola serão divididos em circuitos menores, com
cabos de menor bitola.
c) No caso de haver sistema de fornecimento ininterrupto de energia,
continuaremos a precisar de um no-break ou gerador de 6KWatts úteis. A
potência do sistema permanece constante, não importa se 50A x 127V ou 30A  x
220V.
Lembrando que esse documento é apresentado de forma bem simples, para que
os operadores de áudio tenham noção de como as instalações são feitas e
dimensionadas. Existem inúmeras normas, regras e tabelas que devem ser
observadas. Consulte um engenheiro ou um eletrotécnico sempre!
E pronto, está feito o dimensionamento do sistema elétrico. São os valores
mínimos adequados para que não aconteçam problemas no sistema elétrico. É
possível usar mais que isso (cabos e disjuntores maiores, por exemplo), nunca
menos. Qualquer coisa menor que o especificado traz o risco do sistema
sobrecarregar (disjuntor desarmar, no-break desligar) no meio do evento, isso
na melhor das hipóteses. A pior hipótese é um incêndio.
Se no mercado não encontrarmos um determinado valor de disjuntor ou de
cabo, por exemplo, deve-se sempre comprar um valor acima, nunca abaixo. Por
exemplo, se não existisse fios de 10mm², apenas 8mm² ou 12mm², a nossa
escolha deve ser o fio de 12mm², nunca o de 8mm². E o disjuntor deve ser
adequado aos cabos instalados.  
Aliás, é bom comentar que disjuntores são feitos para proteger as instalações
elétricas (os fios) e não os equipamentos. Com a passagem de corrente elétrica,
os cabos ficam aquecidos, e superaquecimento (passar mais corrente elétrica
que o adequado) pode levar à destruição do isolante (a borracha isolante se
desfaz) e os cabos entram em curto-circuito, com um seríssimo risco de
incêndio. Os disjuntores nunca devem ter mais capacidade de corrente
(Amperes) que os fios a ele ligados. A proteção dos equipamentos é sempre
individual, em geral através de fusíveis.
Um pouco de prática…
O objetivo de mostrar como o dimensionamento do sistema é feito, como
mostrado acima, não é para que o operador de som faça o projeto elétrico da
igreja ou do local onde o sistema será instalado (ginásio, quadra, praça, salão,
etc). O objetivo na verdade é que, tendo que montar um sistema de sonorização
em algum lugar, o operador possa ANTES conferir o estado e o
dimensionamento da parte elétrica do local.
Muitas igrejas têm instalações elétricas semelhantes às residenciais. Se o
instalador seguiu a norma ABNT, toda a instalação é feita em fio único (não
paralelo), rígido, sem emendas, de pelo menos 1,5mm², ligado a um conector de
tomada que suporta, no mínimo, 10A  em 120V, e a um disjuntor de 10A  de
capacidade mínima. Nessas condições, temos 1200 Watts disponíveis para o
nosso sistema de sonorização. Isso se não houver mais nada instalado no
mesmo circuito elétrico (em outra tomada, mas ligado ao mesmo disjuntor).
O problema começa com a economia na construção. O eletricista (não
engenheiro nem eletrotécnico) fala que acha o flexível mais fácil e rápido de
trabalhar. Então o responsável pela  obra compra esse tipo de fio, pois há prazos
a cumprir e a obra já está toda atrasada. Só que, se era para comprar fio de
1,5mm² rígido, ele compra a mesma bitola, só que flexível, mas desconhece que
o fio flexível tem menor capacidade de corrente que o rígido de mesma bitola.
E na hora de comprar o fio, que deveria ser único, o responsável compra fio
paralelo (dois fios juntos, presos um ao outro), e faz tudo desse tipo de fio,
inclusive aproveitando todos os retalhos em emendas mal feitas e mal isoladas.
Na hora de comprar as tomadas, encontra duas com capacidade de 10A, mas a
que tem selo do INMETRO é bem mais cara que a outra, que não tem selo
nenhum (e não suporta os 10A que deveria).
E o (ir)responsável pela obra faz isso tudo tranquilo, já que tudo ficará
escondido do lado de dentro da tomada. Ninguém vai notar a diferença entre
uma tomada dentro da norma de outra fora da norma. E na hora que der um
problema, o construtor vai estar longe, bem longe dali.
Já que falamos em fios flexivéis e paralelos, vamos falar das extensões elétricas,
aquelas que usamos para “puxar” a energia de uma tomada distante. De nada
adianta termos uma tomada toda dentro da norma (1.200 Watts) se usamos
encaixado nela uma extensão com fio paralelo flexível de 1 mm², cujo valor de
corrente máxima é de aproximadamente 600 Watts (5A  x 120V). E esse é o fio
típico de uma extensão de energia dessas comuns! A capacidade máxima do
sistema de energia deixa de ser o da tomada (1.200 Watts) para o da extensão.
Se colocarmos 1200 Watts em uma extensão dessas, ela provavelmente
derreterá, poderá inclusive haver um risco de incêndio, pois o disjuntor não
atuará, já que não foi atingido o valor limite de corrente dele. Eu já vi isso
acontecer. Usar extensões, principalmente as finas, é um perigo. Elas são
necessárias, mas precisamos dar muita atenção à elas.
Por essas e outras, as locadoras de equipamentos costumam levar “extensões”
grandes (dezenas a centenas de metros), feitas de cabos bem grossos (6mm²,
10mm²), ligadas diretamente no quadro de disjuntores do local. Como eles
fazem eventos cada vez em um local diferente, e não podem atestar a qualidade
das instalações de cada local, eles preferem desprezar as tomadas já existentes
do próprio local e usar as suas próprias, as quais confiam, “puxadas direto da
fonte”.
Alguns casos reais envolvendo dimensionamento de instalações elétricas
Certa vez fui fazer um evento em uma cidade do interior do estado. O evento
seria para 1.000 pessoas no ginásio de uma escola (o único ginásio da cidade).
Estava levando uma mesa Ciclotron MIX 24 canais, um amplificador Ciclotron
DBK 720 para retorno e dois amplificadores DBK 3000 para PA. Então eu tinha:
Mesa de som: consumo de 100 Watts
Amplificador DBK 720: consumo de 350 Watts
Amplificadores DBK 3000: consumo de 1.200 Watts x 2 = 2.400Watts
Consumo total: 2850 Watts.
Arredondamento (incluindo a folga): 3.000 Watts
Consumo típico (50%): 1.500 Watts.
Do lado de onde estava montando o som havia uma tomada de energia. Estava
bem tentadora, exceto pelo fato de ser uma tomada bem velha, bem velha
mesmo. Coloquei o multímetro para testar e tinha 125V, perfeito. Mas, por
aquelas coisas que só Deus faz, tive o cuidado de desmontar a tomada para ver o
estado da fiação interna. Qual a minha surpresa quando o que vi foram fios de
telefone, ligando aquelas tomadas. Fios de telefone não tem sequer 0,5mm², e
não são feitos para suportar eletricidade. Instalar os equipamentos naquela
tomada seria certeza de dor de cabeça. A solução foi levar um cabo de 4mm² do
som até o quadro de disjuntores do ginásio.
Mas já houve situações onde não foi possível passar outro fio. Levamos
inúmeros equipamentos, mas descobrimos que a única instalação elétrica
disponível só agüentaria 1.200 Watts (disjuntor de 10A), e então tivemos que
sacrificar algumas coisas. Para não sacrificar muito o público, os
instrumentistas ficaram sem seus cubos e pedaleiras, abrimos mão de
periféricos e os amplificadores trabalharam com o atenuador em -3dB. Evidente
que houve reclamação, mas a outra hipótese era ficar sem som nenhum no meio
do evento.
Os exemplos acima foram em eventos fora da igreja. Mas nas igrejas também
acontecem muitos problemas. Igrejas antigas costumam ter instalações
subdimensionadas (20 anos atrás praticamente não havia computadores,
projetores, telões, etc). Foi isso que aconteceu com um amigo meu. A igreja dele
foi reformada, acrescentou-se um anexo, cresceu quase 50% do espaço. Por
causa disso, ganhou mais caixas e mais amplificadores. E a aparelhagem de som
também trocou de posição dentro da igreja. Mas no dia da inauguração do
“novo” templo, no segundo hino o disjuntor desarmou, e ele levou um bom
tempo para descobrir o problema. Quando finalmente conseguiu  ligar tudo
novamente, não demorou muito para o disjuntor desarmar novamente. E ele,
sem noções de eletricidade, não sabia o que fazer. Não sabia que, com os
acréscimos de equipamentos, ele passou a precisar de pelo menos um sistema
elétrico preparado para 15A, enquanto a tomada de energia da onde ele estava
situado era de apenas 10A.
O mais interessante foi ele contando a história e comentando “mas no ensaio
funcionou tão bom…” e eu falando “mas era ensaio, igreja vazia, menos volume,
menos potência, menos consumo…”
Já fiz inúmeros casamentos, e sempre cheguei bem cedo para montar tudo,
passar extensões elétricas para onde for necessário, testar tudo. E inúmeras
vezes vi a mesma cena: o pessoal da filmagem, com seus poderosos holofotes,
chega já próximo ao horário do evento e pedem para usar as nossas extensões,
nossas tomadas. Alguns dos holofotes chegam a ter 500W de consumo
constante. Eu nunca deixei, pois sei os problemas que podem causar, apesar de
vários protestos do pessoal da filmagem. Mas já soube muita gente que passou
sérios apertos por deixar a pessoa usar, e simplesmente o sistema elétrico do
local não agüentar. Em geral, o disjuntor desarma, mas houve um caso onde o
isolamento da extensão elétrica derreteu, fechou curto-circuito, o disjuntor
velhíssimo não desarmou e houve um princípio de incêndio. Tudo isso dentro
da igreja, no meio de um casamento!
O maior problema que enfrentei, com 8.000 pessoas e nada de som, foi causado
exatamente porque não atentaram para o dimensionamento do sistema elétrico.
Havia um no-break, que sempre funcionou para sustentar os trabalhos de
sonorização e projeção de vídeo (projetores também são consumidores vorazes
de energia elétrica). Mas naquele evento em especial, resolveram levar um
projetor 3 vezes mais potente (e com consumo três vezes maior). Em vez de um
projetor de 10 Amperes, um de 30 Amperes (faça as contas: são mais 2000
Watts de carga). O no-break desarmou no primeiro hino que foi cantado, foi
religado, desarmou novamente no segundo hino, foi religado, e no terceiro hino
o no-break não agüentou e estourou!
Falar de dimensionamento também importa em responder uma pergunta
interessante: 110V ou 220V? Porque os grandes sistemas de sonorização são
todos ligados em 220V? Já demos uma prévia para o assunto, mas há detalhes
que ficam para o próximo artigo.
Eletricidade e Sonorização – Parte 3 –
110V ou 220V?
POSTED BY: FERNANDO BERSAN

Já conhecemos uma das Leis de Ohm:

Potência (Watts) = Amperagem x Voltagem


Agora, vamos conhecer o “Efeito Joule”. Toda corrente elétrica passando por
meio de um condutor* (o fio), sofre perdas de energia (na forma de calor).
Quanto maior a distância e/ou menor a bitola do fio, maiores as perdas serão.

* uma dos campos de maior pesquisa e investimento no mundo todo são os


supercondutores, materiais que conduzem corrente elétrica com um mínimo de
perda.

Em eletricidade, essa é sempre uma questão preocupante. Se usarmos fios finos


demais, haverá muita energia perdida, o fio vai esquentar, e se esquentar
demais o isolante de borracha/PVC vai derreter, e se derreter teremos um belo
curto-circuito, e um curto-circuito pode gerar um incêndio. Já fios grandes
demais podem fazer com que desperdicemos grande parcela da  corrente
elétrica pelo caminho. 

Em sonorização, é a mesma coisa. É por isso que uma das regras da sonorização
é usar os cabos de bitola o maior possível, e fios de menor comprimento
possível, exatamente para evitar perdas. É por isso que existem inúmeras
tabelas de dimensionamento de cabos de ligação entre amplificadores e caixas
acústicas, como as existentes no documento já citado no artigo anterior. Tudo
isso para minimizar perdas.

Mas voltando ao assunto 110V ou 220V, vamos direto à fonte da energia, vamos
até uma usina hidrelétrica. A energia que uso na minha casa é produzida em um
usina situada há centenas, milhares de quilômetros de distância. Como fazer
para transportar uma enorme quantidade de energia (uma grande potência,
centenas de KiloWatts ou mesmo alguns MegaWatts) por uma grande distância?

Uma solução seria usar fios de bitola grande. Algo como “alguns metros” de
bitola. Infelizmente, impraticável, não só pelo custo quanto pela dificuldade de
manejo de um fio dessa bitola.
Outra solução seria usar metais mais nobres, com menos perdas. Ouro e prata
são condutores melhores que o cobre. Além do custo proibitivo, os ladrões
adorariam essa idéia.

Então, a solução é aplicar a lei de Ohm. Para uma mesma potência, quanto
maior for a Voltagem, menor será a corrente elétrica (a Amperagem, a
quantidade de elétrons percorrendo o fio). Menos elétrons percorrendo o fio
significa menos chance de um deles esbarrar no núcleo do átomo, menos
perdas.

As usinas costumam entregar a sua energia em até 750.000 Volts (isso mesmo,
750 mil Volts, o suficiente para “vaporizar” qualquer um que encoste nele).
Nessas condições, uma corrente de 5A (que pode passar tranqüilamente por um
fio de 1 mm²) significa:

Potência = V x A = 750.000 x 5A = 3.750.000 Watts = 3,75MW

O suficiente para abastecer uma grande cidade.

Essa é a tensão que encontramos naquelas enormes torres de transmissão que


vemos ao longo das estradas, atravessando todo um Estado.

Ao chegar nas cidades, essa enorme quantidade de energia é direcionada para as


subestações, onde elas são reduzidas para “apenas” 13000 Volts por grandes
transformadores, e distribuídas por grandes “ramais”, cada ramal abastecendo
uma determinada região da cidade (bairros). Essa é energia que podemos
encontrar nos fios mais altos de um poste, em geral os fios que ficam na
horizontal. A tensão continua alta para a corrente elétrica ser levada por
quilômetros de fios dentro das cidades.

Essa energia, em 13 KVolts, alimenta os transformadores, que estão espalhados


por toda a cidade. Estes transformadores reduzem as tensões para valores mais
“normais”, algo como 110V e/ou 220V, e é esta a energia que utilizamos no
nosso dia-a-dia.

Aliás, se pararmos para observar um poste, veremos que é assim. Na maioria


dos casos, veremos uma linha de alta tensão com três cabos elétricos, na parte
superior, na horizontal. São as chamadas fases R, S e T. A tensão entre uma fase
e outra 13kV. Esse circuito não possui neutro, pois o tipo de ligação é chamado
“Delta”. Mais a frente entenderemos essas ligações através de ilustrações.

Já mais embaixo no poste, veremos quatro cabos paralelos na vertical.


Geralmente de cima para baixo, é o Neutro, Fase 1, Fase 2 e Fase 3. A tensão
entre uma fase e outra é  geralmente de 220V, e a tensão entre fase e neutro é
127V. Só que esses valores podem variar de acordo com a cidade e a
concessionária. A figura do “Neutro” existe pois este circuito está na
configuração “Estrela”.

Porque a tensão entre uma fase e outra fase não seria 254V (o dobro de 127V)?
Ou porque a tensão fase-neutro não seria 110V (metade de 220V)?

Falamos nas configurações “Delta” e “Estrela”? É essa configuração que vai


determinar esses níveis de tensão. Observe a ilustração abaixo:

No circuito em vermelho temos a ligação da parte primária do transformador,


que recebe os 13.000V das fases de alta tensão. O circuito azul é a parte
secundária, que nos disponibiliza tensão de 127V e 220V. Estes valores são
assim pois existe uma fórmula que diz que as tensões de linha (por exemplo, se
você medir entre F1 e F3) será igual a tensão de fase (por exemplo, entre F2 e o
Neutro) vezes a raiz quadrada de 3 (que é aprox. 1,73). Experimente:
multiplique 127 por 1,73 e teremos os 220V, ou divida 220 por 1,73 e teremos
127V.

Mas, e 110V? Esta tensão existe quanto você tem uma bobina e dela tira um
circuito (um cabo elétrico) exatamente do meio dela. Existem transformadores
onde entram dois cabos elétricos e saem três. O esquema elétrico básico é este:

Finalmente, chegamos às tomadas elétricas da nossa casa ou igreja, onde vamos


ligar os nossos equipamentos. Mas porque  falamos 110V e 220V se o que
encontramos nas tomadas é 127V e 230V? Ou ainda 115V e 208V? Ou mesmo
120V e 240V?
Na verdade, tudo depende das tensões utilizadas em todo esse trajeto e do tipo
de transformadores instalados nas ruas pelas concessionárias. Podemos
encontrar um dos seguintes conjuntos de tensão:

110V / 220V; 115V/ 230V; 120V/240V; 120V / 208V; 127V/ 220V. 

A escolha do tipo de tensão depende da vontade da concessionária, da distância


da usina hidrelétrica, da tensão utilizada na rede de distribuição, vários fatores.
A concessionária do meu Estado, por exemplo, padronizou tensão 127V/220V
Ou seja, em todo o meu Estado, espera-se encontrar em qualquer tomada de
energia as voltagens 127V e/ou 220V. Em outros Estados, outras
concessionárias, os padrões podem ser outros. O Estado de São Paulo, que tem
várias concessionárias de energia, pode apresentar padrões diferentes entre
municípios.

Além disso, a voltagem encontrada em uma tomada varia de acordo com


distância do local em  relação ao transformador da rede elétrica. A tensão
nominal da minha cidade, por exemplo, é de 127V, mas a própria concessionária
informa que poderá variar de 133V (muito próximo ao transformador) a até
116V (muito longe do transformador). A tensão cai a uma taxa de 1V a cada
50m, aproximadamente, de distância. A carga instalada (quantidade de
equipamentos elétricos) na região também influencia no valor da tensão.

Nas cidades, as concessionárias colocam transformadores a cada espaço de 


algumas centenas de metros, de forma que a tensão não caia muito além da
tensão nominal. Mas na zona rural ou em cidades menores a situação pode ser
bem complicada. Não raro, os 220V viram 190V, 180V…

Note que não há problemas em encontrar 110V, 115V, 120V ou 127V, assim
como não há problemas em encontrar 208V ou 240V. Praticamente todos  os
equipamentos do mundo são fabricados para suportar essa faixa de voltagens,
de 110V a 127V e/ou de 208V a 240V. Na verdade, o mais comum é que eles vão
além disso, suportando por exemplo de 105V a 132V, de 200V a 250V. Alguns
fabricantes chegam a  fazer fontes que suportam trabalhar com qualquer tensão
entre 90V e 250V.

Aliás, é bom citar a diferença do 110V “e” 220V para o 110V “ou” 220V. Quando
um fabricante globalizado (que vende para o mundo inteiro) produz um
aparelho, ele adequa a alimentação para a energia que encontrará no local onde
o produto pretende ser comercializado. Por exemplo, existem equipamentos que
aceitam uma única tensão. Aqui no Brasil, vemos às vezes os Behringer que são
apenas 220V, feitos para o mercado europeu, onde 220V é a tensão mais
comum. Já os equipamentos comprados por aqui mesmo em geral são 110V, que
é a tensão mais comum em todo o país. Mas a maioria dos equipamentos possui
uma chave seletora de tensão de trabalho, 110V ou 220V. São os chamados
aparelhos bivolts. É sempre bom conferir as tensões de trabalho ANTES de
comprar, para não ter uma “infeliz surpresa” depois.

E também é bom deixar um alerta: bons projetos suportam melhor grandes


variações de voltagens. Maus projetos suportam menos variações. Por exemplo,
existem amplificadores áudio que não funcionam quando a tensão cai abaixo de
205V, enquanto outros de melhor projeto costumam agüentar trabalhar com até
185V. Evidente que isso trará conseqüências (isso influenciará na potência
deles),  mas pelo menos eles não desarmam e ficamos sem som.

As construções (casas, lojas, prédios) podem ser monofásicas, bifásicas ou


trifásicas. Mono (1), bi (2) e tri (3) se referem à quantidade de fases (fios
positivos – os que dão choque) que chegam à construção (e sempre um único fio
neutro – o negativo). A maioria das residências e comércios são bifásicos,
enquanto as indústrias geralmente são trifásicas, mas isso depende da carga e
do tipo de equipamento instalado, e pode ser solicitado à concessionária
converter um sistema para outro. Já sistemas monofásicos são mais comuns em
residências muito antigas, casas de baixa renda ou na zona rural.

Qualquer local que seja bifásico ou trifásico 127V (ou 110V ou 115V ou 120V)
pode também ter  tomadas 220V (ou 208V ou 230V ou 240V). Isso porque os
aparelhos 220V podem funcionar em duas configurações:

Ou funcionam com Fase (220V), Neutro e Terra (F, N, T), como o encontrado
nas cidades cuja tensão nominal é 220V, ou com F (127V), F (127V) , Terra
(duas fases e o neutro/terra), nas cidades onde a tensão nominal é 110V. A
figura acima mostra exatamente estas duas ligações.
É muito comum, em locais onde eventos que precisam de sonorização são
constantes,   encontrarmos tomadas padrão 110V e outras padrão 220V. Há um
motivo para isso, pois muitos sistemas de sonorização, principalmente os de
altas potências, só funcionam em 220V.

Aqui, cabe mais um alerta. Um aparelho com tensão ajustada para 220V,
quando ligado em 110V, “parece” funcionar, mas terá desempenho insuficiente.
Já um aparelho ajustado em 110V, quando ligado em 220V, costuma soltar
faíscas e fumaça, e depois o dono vai gastar um bom dinheiro no conserto.
Ligações mistas (onde existem tomadas 110V e 220V) precisam ser sempre
identificadas, muito bem identificadas (cada tomada acompanhada de uma
placa indicativa da tensão), para evitar esse tipo de problema. Na dúvida, teste
com o multímetro ANTES de conectar os aparelhos.

A maioria dos equipamentos de áudio, como mesas, consoles e periféricos,


trabalham tanto com 110V ou 220V. Os amplificadores de baixa potência
também, mas à medida que a potência (e o consumo elétrico) sobe, os
amplificadores bivolts começam a ficar raros e só encontramos aparelhos 220V.

Grandes sistemas de sonorização geralmente tem amplificadores ligados em


220V, de forma a minimizar os gastos com cabos, disjuntores. Como já vimos,
subindo a voltagem, estamos reduzindo a corrente elétrica, e os fios poderão ser
mais finos, as tubulações menos grossas, etc.

Vamos agora voltar ao nosso exemplo, do nosso sistema de sonorização que


precisa de um disjuntor de 50A e cabos de 10mm² (10mm² na fase e 10mm² no
neutro). Isso para ligação em 110V. Para ligação em 220V, ou seja, onde temos
duas fases, vamos utilizar cabos de 6mm² em cada uma das fases. Cabos
menores, mais baratos, mais fáceis de manejar.

Para uma locadora de equipamentos de som, que carrega seus equipamentos de


um lado a outro, imagine além do custo do cabo de AC de 10mm², também o
peso (muito maior) e a dificuldade para trabalhar com o cabo (manobrar,
enrolar, etc), sempre muito mais difícil que cabos de 6mm². Os profissionais
preferem trabalhar com 220V.

Por isso tudo, e também pensando em reduzir os fios internos e simplificar os


seus equipamentos, os amplificadores de alta potência acabam sendo fabricados
apenas em 220V.

Sistemas em 220V só não são bons para quem toma choque! O choque é muito
mais forte, causa mais danos à saúde. Para evitar isso, as locadoras fazem assim:
eles montam todo o sistema de som primeiro (todo mesmo) e só por último,
depois que tudo já está conectado e conferido, é que conectam os seus fios à
rede elétrica. O AC é sempre o último a entrar em funcionamento, exatamente
para evitar riscos de choques durante a montagem.

Para igrejas pequenas, onde as potência envolvidas não são grandes, talvez 110V
– que é o mais comum de encontrar – seja o mais prático. Para grandes eventos,
potências grandes, 220V traz vantagens. O mais importante é atentar para tal
informação antes de se adquirir aparelhos, para evitar problemas depois. E
também prestar atenção antes de ligar o aparelho na tomada. Aferir a voltagem
antes é uma prática sempre bem vinda.

Eletricidade e Sonorização – Parte 4 –


Ruídos, estalos, induções…
POSTED BY: FERNANDO BERSAN

Em um workshop que assisti, o palestrante contou uma história muito


interessante. A igreja comprou um sistema de som grande e caro. Tudo novo,
testes 100%, mas na hora do uso, acontecia um problema sério: às vezes
aparecia um barulho: hhhuuummm hhhuummm hhhuuumm. O pior é que o
barulho era completamente inconstante. Às vezes um hhhuuummm e demorava
para haver outros, às vezes eram vários seguidos, às vezes nenhum problema. A
igreja quis devolver tudo, e o lojista pediu para o palestrante ir verificar. Ele
assistiu ao culto e notou a existência do ruído. No outro dia, no mesmo horário,
em vez de assistir o culto ele foi circular pela igreja. Bem atrás da parede onde
ficam os equipamentos de som, havia a secretaria da igreja, e uma máquina de
xerox. Alguém, precisando de uma tomada para a xerox, foi do outro lado, no
som, fez um buraco na parede (solução extremamente prática, só precisa de
uma furadeira) e “puxou” uma das tomadas do som para a copiadora. E toda vez
que alguém pedia para tirar cópia… hhhuuummm.

Eu peguei um problema parecido, com uma geladeira bem velha (alguém se


lembra da marca Frigidaire?). Toda vez que o motor da geladeira armava (e
nesse instante ele consome muita corrente, o que em geral causa queda de
tensão), o amplificador da igreja “resetava” (desligava e armava novamente). O
som não chegava a sumir, mas distorcia e voltava. A igreja trocou de
equipamentos várias vezes sem sucesso, continuou com o problema, que
ninguém conseguia identificar, até o dia em que a geladeira deu defeito e a
levaram para o conserto, e alguém associou que, nos 15 dias que ela ficou longe,
os amplificadores funcionaram perfeitamente bem.

Na minha denominação, as igrejas costumam ter vários ventiladores. Pode ir em


qualquer templo e conferir: quando se liga o ventilador, dá um estalo no som.
Nunca vi uma que não tivesse, exceto na minha (onde eu mesmo convenci $$
um eletricista a fazer algumas alterações).

Todos os problemas relatados acima são causados por uma coisa só: existem
equipamentos que “sujam”, “contaminam” a rede elétrica local, e essa “sujeira”
vai parar nos equipamentos de áudio e, por fim, nos nossos ouvidos. Qualquer
motor (geladeira, copiadora, ventiladores, ar-condicionados, liquidificadores,
etc), qualquer reator (lâmpadas), até outros aparelhos eletrônicos têm a incrível
capacidade de introduzir induções (ruídos) na rede elétrica.

Solução? O ideal seria que os equipamentos de sonorização tivessem uma fase


(um dos fios positivos que entram na construção. Em geral são 2 – sistema
bifásico ou três – sistema trifásico) exclusiva para eles, sem mais nada
misturado, e assim sem nenhuma “sujeira”. Seria como se o fio continuasse
direto do poste para os equipamentos de áudio. Na minha igreja, quando eu
pedi para o eletricista identificar os ventiladores e as lâmpadas e tirá-las da fase
dos equipamentos de som (110V), resolveu na hora! Não mais acontecem estalos
quando alguém liga qualquer um dos ventiladores, nem fica o barulho de
hhhuummm típico dos reatores de lâmpadas. Uma das fases da minha igreja
agora é exclusiva do som, e as outras (minha igreja é trifásica) atendem a todo o
restante (ventiladores, iluminação, geladeira, bebedouro e ar-condicionado,
computador, projetor, etc).

Mas minha igreja é trifásica, o que facilita muito a esse tipo de trabalho. Para
igrejas bifásicas, que é o caso mais comum, é complicado fazer o mesmo. Não dá
para pendurar todos os outros equipamentos em uma única fase por causa de
uma coisa chamada “balanceamento de carga*”, e as conseqüências que isso
trás. Por exemplo, o relógio contador de energia registra sempre o consumo da
maior fase – colocar tudo em uma única fase vai aumentar a conta de energia.
Até é possível solicitar uma ligação trifásica, mas isso depende de um
engenheiro elétrico, fazer um novo projeto elétrico, novos gastos…

*As cargas existentes (os aparelhos elétricos) de um local devem sempre ser
divididos pelas fases, de maneira “equilibrada” (potências parecidas). Uma
residência com dois chuveiros elétricos, por exemplo, deve ter cada um ligado a
uma fase diferente. Isso porque o chuveiro consume muita energia
(aproximadamente 4.000 Watts), e colocar os dois chuveiros na mesma fase
poderá sobrecarregá-la (a fiação precisaria estar dimensionada para aguentar
8.000 Watts). Esse estudo é sempre feito na fase de projeto de uma construção.

Assim, o cenário ideal de ter uma fase apenas para os equipamentos de som é
algo realmente difícil de ser conseguido na prática. Mas há algumas coisas a
fazer, que podem minimizar os problemas de ruídos e sujeiras.

a) tenha um disjuntor exclusivo para os equipamentos de áudio. Não deixe no


mesmo “circuito elétrico” (o conjunto de tomadas atendidas por aquele
disjuntor) outros equipamentos que não os de áudio.

b) no balanceamento de carga, tente deixar os equipamentos de áudio junto com


outros equipamentos eletrônicos (que costumam gerar pouca ou nenhuma
sujeira) e com tomadas que raramente serão utilizadas.

c) iluminação* pode ficar junto com a sonorização**. Reatores de lâmpadas


fluorescentes costumam gerar ruído na faixa de 60Hz (o famoso “hum”) e seus
harmônicos (125Hz, 250Hz). A grande vantagem é que as lâmpadas são ligadas
antes do início do evento, e permanecem ligadas todo o tempo, ou seja, o ruído é
constante, e podemos atenuá-lo com o uso de equalizadores.

*iluminação “normal”, lâmpadas comuns, por exemplo. Holofotes, spots,


canhões de luz e outros similares tem consumo muito alto, e não devem ficar
ligados junto com o som. Mais uma vez, consulte um engenheiro elétrico ou
eletrotécnico!
** entre iluminação e motores elétricos para deixar junto com o som, prefira a
iluminação.

d) tente colocar equipamentos como motores (liquidificadores, geladeiras,


ventiladores, ar-condicionados, elevadores, etc) em outra fase, que não a do
som. Além deles também gerarem ruído de “hum”, eles causam estalos quando
ligados. Cada equipamento gera “estalos” em uma freqüência diferente (por
exemplo, a geladeira em 2KHz, o ventilador em 1KHz e o ar-condicionado em
500Hz), e não há equalizador que dê jeito, além do fato dos motores armarem e
desarmarem várias vezes durante o culto (geladeira, ar-condicionado). Motores
também causam variações na voltagem, sempre prejudiciais aos aparelhos – os
chamados “surtos de tensão”.

d) tenha aterramento. Equipamentos com possibilidade de aterramento


deveriam ser obrigatoriamente ligados com fio terra – e isso inclui a maioria dos
equipamentos de áudio. Os ruídos sempre “procuram” o aterramento, são
“drenados” por eles. Falaremos de aterramento mais adiante, em um artigo
próprio.

Todas essas são medidas simples, exigem muitas vezes apenas mudanças no
quadro de disjuntores, que um eletricista pode fazer a um custo mínimo. Para
quem não tem condições de fazer isso na sua igreja, um paliativo (não resolve,
mas minimiza) para o problema de induções são os filtros. Existe toda uma
gama de filtros que podem ser utilizados, de simples filtros de linha a
estabilizadores, passando pelos filtros de linha profissionais e pelos no-breaks.
Mas é assunto para o próximo artigo.
Eletricidade e Sonorização – Parte 5 –
Filtragem, Estabilização e Suprimento
alternativo de energia

POSTED BY: FERNANDO BERSAN

Já vimos que a energia elétrica que utilizamos pode estar contaminada com
“sujeiras” diversas, sendo estas sempre prejudiciais ao funcionamento dos
equipamentos eletrônicos, entre eles os equipamentos de áudio. Mas existem
equipamentos que podem minimizar ou mesmo eliminar esses problemas, e
será o nosso objeto de estudo neste artigo.

O primeiro passo, agora, é entender os tipos de sujeira que afetam a rede


elétrica. Em uma rede elétrica perfeita, a energia chega até o aparelho na forma
de uma onda do tipo senóide:

Só que, infelizmente, não vivemos em um mundo perfeito:

Os problemas que podem ocorrer são:


1) Alterações de freqüência. A freqüência padrão de funcionamento da rede
elétrica no Brasil é de 60Hz (e os equipamentos são preparados para trabalhar
assim). Esta freqüência pode sofrer alterações, apesar de ser bem raro. Em
geral, acontece em locais alimentados por geradores a diesel ou gasolina, sendo
provocada por aumentos do consumo elétrico e o tempo de resposta do gerador
insuficiente para atender essa variação. Uma grande alteração na freqüência
pode causar desde mal-funcionamento até sobreaquecimento, com possível
queima do  aparelho

2) Ruído de Linhas (Noise). Causada por interferências eletromagnéticas


introduzidas na rede elétrica pelo funcionamento de motores (ar-condicionados,
geladeiras, ventiladores, etc). Podem causar mal-funcionamento nos aparelhos.
O tipo mais facilmente observado são os “chuviscos” na imagem da televisão
causados pelos liquidificadores, em uma residência.

3) Brownout.  É causado por uma drástica redução da tensão da rede elétrica, 


impedindo o funcionamento dos aparelhos. Em geral, é causado por problemas
na rede elétrica da concessionária, ou rede elétrica sobrecarregada (por
exemplo, quando ocorre interrupção em uma das fases de uma rede elétrica
220V bifásica – 127V + 127V).

4) Apagão (black-out). Interrupção total do fornecimento de energia. Pode ser


causado por vários fatores, como sobrecarga elétrica (com conseqüente
acionamento de dispositivos de proteção – disjuntores), problemas na
concessionária, queda de postes, etc. O resultado é a incapacidade do aparelho
funcionar.

5) Sobretensão de rede. Situação onde a tensão da rede elétrica excede o seu


valor normal em até 100%, com duração que pode chegar a alguns segundos.
Causado por grande variação de carga sobre um sistema elétrico
subdimensionado. Pode provocar desde mal-funcionamento a até queima de
equipamentos.

6) Surtos de tensão. Também conhecidos como transientes ou spikes, é


caracterizado por um drástico aumento da tensão instantânea da rede (em
alguns casos, até 1000% a mais). Normalmente causado por raios (que não
precisam sequer atingir diretamente a rede elétrica, basta caírem próximos a
ela) ou transformadores que explodem. A conseqüência normal é a queima dos
equipamentos.

7) Distorção Harmônica. Alteração na forma de onda da rede elétrica. Pode ter


inúmeras causas, entre elas transformadores ou geradores defeituosos, presença
de motores na rede, etc. Podem causar mal funcionamento em alguns tipos de
aparelhos.

8) Subtensão de rede. Situação onde a tensão da rede elétrica cai abaixo do seu


valor normal, com duração que pode chegar a alguns segundos. Pode ocorrer
pelo acionamento de um equipamento elétrico de consumo muito alto. Em geral
causam poucos danos aos aparelhos, mas causam mal-funcionamento (perda de
rendimento) dos mesmos. O tipo mais facilmente observado são as lâmpadas
incandescentes, que diminuem de brilho quando a geladeira da casa é ligada.

9) Afundamento de tensão. Caracteriza-se pela diminuição momentânea do valor


eficaz da tensão elétrica. Causado por curtos-circuitos na rede ou
acionamento/desligamento de equipamentos que demandam grande consumo.
Causam mal-funcionamento de equipamentos.

Mesmo que um equipamento não aparente ter sofrido danos imediatos com a
ocorrência de algum destes problemas, seus efeitos cumulativos podem reduzir
a vida útil do equipamento.

Fazendo agora uma analogia, em que cada problema desses é uma doença, cada
doença vai exigir um tipo de remédio diferente. Para combater estas doenças,
existem 3 tipos de remédios: os filtros de linha, os estabilizadores e os no-
breaks/geradores. Vamos estudá-los. 

FILTROS DE LINHA

Os filtros nada mais são que componentes eletrônicos (como indutores,


capacitores e varistores) que são instalados no caminho percorrido pela energia
elétrica.
Os capacitores (os componentes em azul na figura acima) e os indutores (as
duas “rodas”) têm propriedades de filtragem de freqüência (passa-baixas e
passa-altas), eliminando assim possíveis problemas de ruídos que possam
existir. Já os varistores (as peças em amarelo, que estão na vertical) protegem
contra surtos de tensão. Os fusíveis protegem o próprio filtro contra excesso de
corrente (consumo máximo maior que o filtro pode suportar) e contra curto-
circuitos. A figura acima, inclusive, é de um projeto de filtro de linha simples
mas eficaz.

No comércio podemos encontrar vários aparelhos chamados de “filtros de


linha”, como o da figura abaixo:

Esse aparelho, além de (teoricamente) filtrar ruídos da rede e providenciar


proteção contra surtos, ainda tem a função de extensão de energia e de
providenciar múltiplos conectores (este acima transforma uma tomada em 5).
Entretanto, existem inúmeros “filtros” que são apenas extensões, sem função
alguma de filtragem, ainda que vendidos como tais. Veja:
O modelo acima não tem absolutamente nenhum componente de
filtragem/proteção, apenas o fusível (que é proteção para o próprio “filtro”). É
mera extensão. Já o modelo abaixo

traz, além do fusível, um único capacitor (à direita, no círculo vermelho). O nível


de proteção contra ruído é mínimo, insuficiente. O outro  componente à
esquerda é apenas uma resistência para ligação do led indicativo de aparelho
ligado. 

Infelizmente, essa é a realidade do nosso mercado. Os chamados “filtros de


linha” de baixo custo  quase sempre têm níveis de proteção ou inexistentes ou
insuficientes. Mas existem filtros “de verdade”, como este abaixo:
que tem uma série de componentes para proteção e filtragem, promovendo um
nível eficaz de filtragem e proteção. Só que o custo é bem mais alto. Este custa
na faixa de R$ 150,00. Bem diferente dos preços dos outros "filtros", quase
sempre abaixo de R$ 30,00.

Para quem trabalha com áudio, existem alguns filtros de linha profissionais (que
realmente filtram e protegem os aparelhos), construídos de forma a caber em
um rack padrão, de 19”. No Brasil, temos os produtos da Pentacústica
(www.pentacustica.com.br) e da Zerotron, ambos de fabricação nacional, e os
seguintes produtos importados: Fuman (de longe o mais famoso, com inúmeros
modelos), RackRider (produzidos também pela Furman) e Samson Powerbrite,
além de outras marcas.
Uma grande vantagem desses aparelhos é que possuem filtros específicos para a
atenuação de ruídos nas faixas audíveis, atuando melhor que modelos
projetados para outros usos (Informática,  por exemplo).

Os preços variam de R$ 300,00 (modelos mais simples) a até próximo de R$


1.000,00 (Pentacústica PC-8000 microprocessado), mas quando pensamos que
um possível problema vindo pela rede elétrica pode danificar milhares de reais
em equipamentos  é um investimento que vale mais que a pena.

Mas cuidado: da mesma forma que existem “filtros” que não filtram nada,
existem “filtros” em formato de rack que não passam de simples extensões.
Alguns tem até monitores de voltagem na frente, mas nenhum componente de
filtragem/proteção. São chamados de “tomadeiros”.

ESTABILIZADORES DE TENSÃO

Os filtros combatem os problemas de ruídos, distorções e surtos elétricos.


Entretanto, quando o problema é de tensão elétrica variando (sobretensão ou
subtensão), entram em cena os estabilizadores de tensão. São aparelhos que
conseguem, através de um transformador (por isso são grandes e pesados
quando comparados com os filtros), fazer pequenas correções de voltagem na
tensão.
Mas existem aparelhos e aparelhos. Alguns estabilizadores conseguem atuar
somente sobre variações de 5%, enquanto outros conseguem 10% ou mesmo
15%. Os fabricantes chamam isso de “estágios de regulação”. Quanto mais
estágios de regulação um estabilizador tiver, maior a sua capacidade de
estabilização.

Por exemplo, se tivermos um estabilizador de tensão nominal de 120V (saída


regulada em 120V) e +/-5% de variação, isso quer dizer que variações de +6V ou
-6V (126V a 114V) serão corrigidas para 120V. Se a tensão cair para 110V, por
exemplo, ele conseguirá ajustá-la em +6V, ou seja, para 116V. Já outros modelos
conseguirão ir além, fazendo ajustes de até +/- 12V (10%) ou até +/-18V (15%),
por exemplo.

Evidente que, quanto maior a variação suportada, melhor e mais caro será o
estabilizador, mas também maior e mais pesado ele será (pois exigirá um
transformador maior). A figura abaixo mostra um transformador.
Um alerta: o uso de um estabilizador não exclui o de um bom filtro de linha.
Como já falamos acima, para cada tipo de doença, um tipo de remédio.
Estabilizadores apenas atuam sobre problemas de variação de tensão de rede
elétrica, não atuando nada sobre sujeiras e sobre surtos de tensão.

Aliás, até 2007, os fabricantes de estabilizadores não tinham obrigação de


incluir um filtro de linha (apesar de alguns o fazerem). Entretanto, a partir de 1º
de janeiro de 2008, os estabilizadores são obrigados a incluir filtros de linha por
imposição da ABNT (NBR14373). Aliás, a melhor maneira de comprar um
estabilizador é verificando se o produto atende à essa norma e tem selo do
INMETRO.

Entretanto, é até raro ver estabilizadores sendo usado em sonorização por


alguns motivos. Os transformadores são grandes e pesados, ao contrário dos
filtros de linha (um filtro para rack tem apenas 4,4 cm de altura e peso próximo
a 5kg). Por outro lado, a maioria das fontes de equipamentos já é projetada para
suportar variações de tensões, tornando assim o uso de estabilizadores menos
essencial que o uso de filtros. Lembrando que isso depende do projeto do
fabricante. Além disso, o uso de no-breaks e geradores em geral dispensa o uso
de estabilizadores.

NO-BREAKS E GERADORES

E quando falta energia (apagão ou brownout) no meio de uma atividade


essencial? Para este tipo de problema, temos os no-breaks e os geradores.

Os no-breaks, por serem dotados de baterias (alguns usam baterias específicas,


outros usam baterias semelhantes às de automóveis), conseguem prover energia
por um tempo limitado (a duração da carga da bateria ou do conjunto de
baterias), muitas vezes o suficiente para dar instruções de saída e garantir a
segurança das pessoas em um evento, por exemplo.
Existem alguns tipos de no-breaks, em relação às tecnologias adotadas. Quanto
à tecnologia, temos os seguintes tipos:

– “line interactive”, também chamados de “standy-by”. Nesses, os equipamentos


são sempre alimentados pela rede elétrica comum. O no-break fica monitorando
a rede todo o tempo. Ao menor sinal de interrupção da energia, eles entram em
ação, passando a alimentar os equipamentos com a energia de suas baterias.

Esse tipo de no-break é de custo mais baixo, mas traz alguns problemas. Eles
não isolam os equipamentos da rede elétrica, e picos, transientes e outros
problemas podem passar por eles, chegando aos aparelhos. Ou seja, eles até
sustentam os equipamentos no caso de falta de energia, mas não fazem
estabilização nem filtragem (ou o fazem de modo muito simples). Alguns até
chegam a incorporar filtros de linha (a partir de 1° de janeiro de 2008, todos vão
incorporar) e estabilizadores, mas isso depende de fabricante para fabricante.

– “on-line”. Tipo de no-break em que a rede elétrica alimenta as baterias, e são


as baterias que alimentam os equipamentos conectados ao no-break. Em outras
palavras, os equipamentos ficam completamente isolados da rede elétrica,
sempre alimentados pela energia da bateria. 

Esse tipo de no-break na verdade faz três funções: filtra (a medida que isola os
equipamentos da rede elétrica), estabiliza (na medida que a energia que os
equipamentos recebem é sempre regulada e constante) e supre energia quando
houver algum problema de fornecimento. São excelentes, mas muito caros.
Quanto à forma da onda de saída, temos:

– saídas PWM, um tipo de onda quadrada que tenta “imitar” o comportamento


de uma onda senoidal (por isso chamada também de “semi-senoidal”).
Adequados para equipamentos com fontes chaveadas (em geral, informática).
Um no-break com saídas PWM costumam inserir bastante ruído audível em
equipamentos de áudio. São mais baratos.

– saída senoidal, onde a onda é idêntica à da concessionária. São mais caros,


mas garantem uma energia de melhor qualidade, sem introdução de ruídos.

A maioria dos no-breaks line-interactive também são PWM, assim como a


maioria dos no-breaks on-line são senoidais. Mas nada impede que haja um no-
break line-interactive de onda senoidal, assim como um no-break on-line PWM.

Pelas características explicadas acima, está claro que os melhores no-breaks


para uso com áudio são os senoidais on-line. Mas ainda assim, é necessário
consultar os fabricantes, perguntar se já foram testados com equipamentos de
áudio e se não apresentaram problemas de ruídos na faixa audível. E preparar o
bolso, pois são caros, muito caros.
Além de serem caros, no-break tem capacidade limitada. Em geral, o tempo de
duração da sua bateria é de alguns minutos a poucas horas. Para determinados
eventos (cultos, por exemplo), é o tempo suficiente para encerrar as atividades e
encaminhar as pessoas em segurança para a saída. 

Entretanto, há eventos que não podem ser interrompidos sob pena de grande
risco de segurança ou mesmo financeiro (um grande show, por exemplo). Por
causa disso, em sonorização de grandes eventos é mais comum contar com
grupos geradores, que nada mais são que motores de veículos (caminhões, em
geral) convertidos para produzirem energia elétrica. Eles tem grande
autonomia, e além disso podem ser reabastecidos com gasolina ou diesel sem
interrupção do funcionamento. E geradores profissionais (porque, assim como
os outros equipamentos, existem os que não tem bom desempenho), em geral
entregam energia estável e bem limpa, sendo necessário apenas trabalhar com
filtros de linha, para evitar os surtos que podem se formar quando
amplificadores de grande potência são ligados/desligados. 
Sobre geradores, é importante saber que alguns levam alguns minutos para
entrar em funcionamento e  começar a produzir energia de maneira estável.
Alguns locais adotam um misto de solução de no-break + gerador. O no-break
fornece energia de modo instantâneo, por alguns minutos, tempo suficiente
para o gerador entrar em operação.

Outro alerta: todos os equipamentos citados aqui (filtros, estabilizadores, no-


breaks e geradores) têm tensão de trabalho (alguns são 110V, outros são 220V e
outros são bivolts) e suportam uma amperagem máxima. Observe isso antes de
comprá-los. Não adianta nada comprar um filtro de 110V e 1.000 Watts se os
equipamentos tem consumo de 2.000 Watts e trabalham em 220V.

No caso de geradores e no-breaks, é obrigatório consultar o fabricante, pois são


equipamentos que tem um “fator de potência” bem diferente entre um modelo e
outro, e até mesmo potências que variam dependendo do tipo de aparelhos que
serão utilizados. Na dúvida, não deixe de consultar um engenheiro elétrico.

Apresentamos abaixo uma tabela resumo, para melhor entendimento.


Por último, um dos melhores meios de se evitar problemas na rede elétrica não
é somente com o uso de filtros, estabilizadores e no-breaks/geradores. É com o
uso de um aterramento bom e eficiente.  Mas fica para o próximo artigo, quando
se dará o encerramento desta série.

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