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Centro Paula Souza

Etec Jacinto Ferreira de Sá


Técnico em Canto

HINO DE OURINHOS – HISTÓRIA E ANÁLISE

Ágata Marie Souza Petroski*

Resumo: O presente trabalho tem como temática o hino de Ourinhos e o


concurso de sua escolha. Ele apresenta uma comparação entre as leis que
deram origem à composição, uma análise da música com base em uma
transcrição em partitura e mais informações sobre o concurso, além de
entrevistas com pessoas relevantes no contexto.
Palavras-chave: Ourinhos. Hino. Preservação da memória.

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho gira em torno do hino da cidade de Ourinhos - SP, que foi
composto no ano de 1991 por Fernando Cavezale. A pesquisa tem o intuito de
resgatar e reunir informações sobre o concurso de escolha do hino de
Ourinhos, assim como também sobre o próprio hino, se justificando pela
importância da preservação da memória que é uma parte importante da cultura
de um povo, e pode facilmente se perder com o passar dos anos se não for
devidamente perpetuada. Isso é reforçado por Pereira e Bonfim (2022, p. 5): “A
preservação patrimonial e cultural material e imaterial tem sido de suma
importância para a formação de identidade coletiva, e da preservação de
memória histórica de uma sociedade”, ou seja, é necessário armazenar dados
e acontecimentos históricos para que eles estejam disponíveis no futuro, e não
corram o risco de caírem no esquecimento, levando com eles parte da história
e da identidade de um povo.
A história do hino de Ourinhos se vê relevante nesse contexto porque é um
tema que se encontra propenso ao esquecimento, pelo motivo da falta de
armazenamento de dados em arquivos físicos e digitais, desse modo, há o
objetivo de responder, por meio de pesquisas bibliográficas e pesquisas de
campo, a seguinte pergunta: Como é e como surgiu o hino de Ourinhos?

*Aluna do curso Técnico em Canto, na Etec Jacinto Ferreira de Sá - agarie42@gmail.com


Como referencial teórico estão sendo utilizado nomes como o do doutor André
Pires do Prado, que escreveu textos sobre o patrimônio cultural ourinhense, e o
ex-prefeito doutor Clóvis Chiaradia, que fez a aprovação das leis que deram
início ao concurso de escolha do hino de Ourinhos, além de material escrito por
Bruna Silva Pinto Pereira, bacharelanda em História pelo Centro Universitário
Internacional UNINTER, em 2020, que escreveu sobre a importância da
preservação da memória, e das mestrandas da UNESP de 2020 Mariana
Mamedes dos Santos e Laís da Silva Rodrigues e o Professor Doutor Evandro
Fiorin, que escreveram sobre a história de Ourinhos.
O artigo apresenta um breve contexto sobre a cidade antes de começar a falar
e se aprofundar no hino de Ourinhos, com uma análise feita sobre sua melodia
e letra.

2 CIDADE DE OURINHOS - SP
Ourinhos é uma cidade com cerca de 295,818 km² de extensão, localizada no
sudoeste do estado de São Paulo, tendo como cidades limítrofes Canitar,
Santa Cruz do Rio Pardo, São Pedro do Turvo e Salto Grande no estado de
São Paulo, e Jacarezinho no estado do Paraná. O município é banhado pelos
rios Pardo, Paranapanema e Turvo, e a população é de cerca de 115.139
pessoas (IBGE, 2021).
A cidade se originou no ano de 1908, quando a Sorocabana Railway Company
construiu um trecho de linha férrea indo em direção ao Rio Paraná, fazendo
com que uma civilização se iniciasse na área, movimentando uma economia
baseada na própria ferrovia, no café, no trabalho dos imigrantes e no comércio,
como explica PRADO (2021, p. 41):
A economia firmava-se no cultivo do café, no trabalho dos
ferroviários, dos imigrantes mineiros, japoneses, italianos, espanhóis),
na atividade ceramista das olarias implantadas pelos italianos na Vila
Odilon, no comércio de bens de subsistência, nos armazéns de
ferragem e na agricultura.

Inicialmente Ourinhos era distrito da cidade de Salto Grande, mas no dia 13 de


dezembro de 1918, ela se tornou um município, na mesma época em que a
Estrada de Ferro da Sorocabana chegou até a cidade de Assis. No ano de
1925 a ferrovia alcançou Cambará, e em 1928 Ourinhos se tornou sede da
ligação ferroviária entre os dois estados, havendo implantação de várias
instalações importantes para os trens, como uma oficina, almoxarifado e pátio
de manobras. Na segunda metade do século XX, porém, a atividade ferroviária
e o cultivo de café começaram a decair, abrindo espaço para o cultivo de cana-
de-açúcar, que é importante para a cidade até os dias de hoje.

3 HINO DE OURINHOS
O hino de Ourinhos foi composto no ano de 1991 por Fernando Henrique Mella
Ribeiro, ou Fernando Cavezale, como era chamado, durante o concurso de
escolha do hino de Ourinhos, e é um dos símbolos cívicos da cidade, que
contribuiu para a formação da cultura ourinhense, exaltando aspectos
importantes do município, como sua história e sua geografia. Fernando
Henrique Mella Ribeiro nasceu dia 14 de maio de 1963, e faleceu dia 6 de
junho de 2021, de Covid-19. Ele era publicitário e foi secretário da Cultura entre
os anos de 2013 e 2016. Trabalhou também na redação do Jornal da Divisa, e
tinha uma paixão muito grande pela cidade, tendo sido considerado um ilustre
cidadão.
Jornalista, publicitário, empresário, músico e compositor, Fernando
Henrique Mella Ribeiro (Fernando Cavezale) foi um cidadão
politicamente ativo no município. Além de compositor do hino, Ribeiro
atuou como Secretário de Cultura entre os anos de 2013 e 1016.
Faleceu em 05 de junho de 2021, vítima da Covid-19. O funeral de
despedida foi realizado ao som do hino que compôs. Deixa-se aqui
uma homenagem “in memoriam” ao ilustre cidadão. (PRADO, 2020,
p. 45).

3.1 LEIS SOBRE O HINO DE OURINHOS


A história do hino de Ourinhos teve origem com a aprovação da Lei nº 749,
criada dia 12 de maio de 1966, assinada pelo prefeito da época, Carmelingo
Caló. Ela instituiu um concurso visando a escolha de um hino oficial para a
cidade, e apresentava uma série de regras que deveriam ser cumpridas na
realização do concurso.
De acordo com essa lei, o hino deveria ser escrito por um brasileiro nato ou
naturalizado, de forma original, utilizando compasso binário simples ou
composto, em estilo militar, com uma só tonalidade, respeitando rigorosamente
as regras de harmonização, instrumentação e prosódia musical. Além disso,
essa lei não permitia o uso de gírias, termos estrangeiros, neologismos e nem
a citação do nome de pessoas na letra do hino, mas exigia a presença de
poesia, rimas e ritmo em seu texto, que deveria ter entre 14 e 30 versos, com
um número entre 4 e 12 sílabas métricas em cada.
A entrega das propostas para o concurso ocorreria na forma de partituras para
piano, e haveriam prêmios para os finalistas: “Ficam instituídos os seguintes
prêmios: $500.000 cruzeiros ao primeiro colocado; $250.000 ao segundo,
$100.000 ao terceiro, $50.000 ao quarto e quinto colocados, e aos demais
concorrentes um diploma de participação do certame”. (Ourinhos, 1966).
Também vale ressaltar que as únicas especificações que essa lei tem para a
escolha dos jurados são as que dizem que eles teriam que ser brasileiros,
entendidos no assunto e um total de nove pessoas, sendo que cinco deles
deveriam ser escolhidos pela Câmara Municipal, e quatro pelo Poder
Executivo, com a eleição de um presidente da comissão julgadora.
Em 26 de maio de 1966 foi criada a Lei nº 754, que instituiu basicamente três
mudanças da Lei nº 749. A primeira mudança foi a restrição dos possíveis
participantes do concurso para apenas ourinhenses nativos, ou brasileiros que
residiam em Ourinhos há no mínimo dois anos, não permitindo mais a
participação de qualquer brasileiro; a segunda foi uma diminuição no número
de elementos no júri, que passou a ser de cinco jurados indicados pela Câmara
Municipal e pelo Chefe do Executivo, em vez de nove; e a terceira mudança foi
a redução do valor dos prêmios: “Ficam instituídos os seguintes prêmios:
Cr$300.000 ao 1º colocado, Cr$250.000 ao segundo, Cr$100.000 ao terceiro,
diplomas com a classificação do 1º ao 5º colocado e aos demais concorrentes,
diploma de participação do certame”. (Ourinhos, 1990).
Mesmo após essa mudança na Lei nº 749, ela não entrou em vigor, e o
concurso só foi mesmo acontecer após a criação da Lei nº 3185, no dia 5 de
setembro de 1990. Essa lei possui muitas características em comum com as
leis anteriores, como a temática baseada na história e nas tradições da cidade
de Ourinhos, e a obrigatoriedade de originalidade da obra. Há também,
algumas diferenças nela em comparação com as outras, como a falta de
especificações para a composição da música, que não precisaria mais seguir
as tradições militares, sendo permitida qualquer fórmula de compasso, e
qualquer número de versos, dando mais liberdade criativa para os
concorrentes.
Essa lei também passou a apresentar mais exigências para os membros da
comissão julgadora, que deveria ser composta por sete pessoas escolhidas
pelo Poder Executivo e pelo Poder Legislativo, sendo dois historiadores, dois
regentes, um de corporação musical e outro de coral, um escritor e um
compositor popular, ambos com obras publicadas, e um musicólogo, com a
eleição de um deles para Presidente do júri.
Nesta última lei, houve também uma mudança do prêmio para Cr $10.000,00
ao 1º colocado, Cr $5.000,00 ao 2º colocado, Cr $3.000,00 ao 3º colocado, e
diplomas de participação para o restante dos concorrentes. A forma de entrega
das músicas também foi alterada, para fita cassete com a gravação da música,
em vez de partitura. No dia 15 de novembro de 1991, o hino composto por
Fernando Cavezale recebeu oficialmente o título de hino de Ourinhos.

3.2 ANÁLISE DO HINO DE OURINHOS


Houve uma partitura produzida por Vera Lúcia Ribeiro Neli, irmã do Fernando
Cavezale, mas ela foi perdida com o tempo. Por conta disso, será utilizada a
partitura a seguir (imagens 1, 2 e 3), que foi transcrita pelo músico Eduardo
Marinho Bueno. Ao analisá-la, fica evidente a importância da mudança das
exigências na última lei sobre o concurso do Hino de Ourinhos, pois há
algumas características na composição final que não seriam aceitas se o
concurso tivesse seguido as Leis nº 749 e nº 754.
A música pode ser dividida em três partes, uma para cada estrofe da letra,
sendo a melodia da primeira semelhante à da segunda. As duas, porém, são
bem diferentes da terceira parte, que se repete meio tom acima no final. O hino
inicia-se no tom de Mi maior, e mais adiante modula para o tom de Fá maior, o
que não era permitido nas primeiras leis que falavam sobre o concurso, além
disso a composição não segue as regras das marchinhas militares,
apresentando uma fórmula de compasso quaternária, e não binária, como é a
tradição.
A prosódia da música não é perfeita, mas não chega ao ponto de ser
considerada desagradável. É possível observar lugares onde a sílaba tônica de
algumas palavras não se alinha com o tempo mais forte no compasso, como
durante as palavras “varonil”, “esculpiu”, “canaviais” e “integração”. Durante o
trecho “hoje os horizontes” não há espaço para a palavra “os” então tanto na
gravação como na melodia da partitura esse pedaço acaba se tornando “hoje
horizonte”. Um detalhe muito interessante que a música apresenta está na
terceira parte “no sudoeste paulista é a força que avança (…)” onde tanto a
melodia quando a aliteração presente na letra pela repetição do som de S se
assemelha muito ao barulho de uma locomotiva, retomando a importância que
os trens tiveram para o surgimento e desenvolvimento da cidade.
A letra também possui mais peculiaridades, como a presença de apenas três
rimas, sendo todas elas rimas ricas, entre um substantivo e um verbo ou entre
um substantivo e um adjetivo. São elas “terra” com “encerra” e “lida” com
“sofrida”, na primeira estrofe e “ideal” com “final” na última.
No geral, a primeira estrofe fala sobre o povo e o trabalho que ele teve para
construir a cidade que Ourinhos se tornou, desde o primeiro pioneiro que
chegou ao território, junto com a linha do trem. Ele retrata o município como
berço de pessoas fortes, determinadas e que amam sua terra. A segunda
estrofe foca na natureza da cidade, falando sobre o solo de terra roxa, que na
verdade é vermelha e recebeu esse nome por meio dos imigrantes italianos
que vieram para o Brasil no século 19 e chamavam o solo de “terra rossa”, que
significa “vermelha” em italiano mas era entendida como “roxa” pelos
brasileiros, dando origem ao nome. Esse solo é muito fértil e propício para o
cultivo, principalmente de grãos, de cana-de-açúcar e de café, o que a torna
outro fator muito importante no desenvolvimento da cidade.
Essa mesma estrofe também cita a cidade como cercada de água e céu, e
também menciona os três rios que banham ela “Pardos, Panemas e Turvos”,
ressaltando a importância deles e a beleza de Ourinhos. A última estrofe fala
sobre a localização geográfica da cidade, que está na divisa entre o estado de
São Paulo e o Paraná, e também sobre a busca de um futuro melhor, fazendo
associações com os trilhos de um trem, que fazem referência à história da
cidade, que se originou e se desenvolveu com grande influência da estrada de
ferro.
3.3 MAIS INFORMAÇÕES SOBRE O HINO E O CONCURSO DE
ESCOLHA DO HINO
Algumas das coisas que foram descobertas durante as entrevistas na cidade
de Ourinhos (apêndices A, B, C e D) foram que o atual diretor da Escola
Municipal de Música, Wilson Pereira, fora convidado para participar do júri do
concurso, porém ele se recusou e acabou participando como intérprete de dois
grupos que enviaram composições, um com Benedito Pimentel, e outro com
Sidney Chierentin. Outros nomes que também estavam inseridos no contexto
do concurso de escolha do hino de Ourinhos são: Vanderli, como cantora de
um grupo, Lino Ferrari, dono da empresa Oncinha, como jurado, Nilson Ferrari
como tecladista de um grupo e Gerson, como guitarrista de um grupo. O
estúdio que fez o arranjo da gravação do hino é do maestro Nelson Ayres, e fse
localizava na cidade de São Paulo.

Uma das primeiras pessoas a escutarem o hino de Ourinhos foi o amigo de


infância do autor, Enzo Aurélio Fittipaldi, em um mercado. Durante a
composição do hino, o autor estava pensando na ideia de uma marcha rancho,
para acompanhar a letra que estava pronta há algum tempo, desde quando ele
saiu do tiro de guerra. A música foi apresentada pela primeira vez ao público na
voz de um coral de crianças que estudavam na Escola Estadual Maria do
Carmo Arruda da Silva, escolhidas pela diretora Vera Lúcia Ribeiro Neli, irmã
do autor, que as acompanhou tocando piano.

Uma das vozes que interpreta a gravação original pertence a Vânia Bastos,
que era amiga do autor e da sua família. Ela trabalhava cantando jingles e
hinos para gravadora em São Paulo, e só foi descobrir que Fernando foi quem
havia composto o hino, após seu falecimento.

4 CONCLUSÃO

Após a pesquisa realizada pode-se constatar que o hino de Ourinhos é uma


música muito importante para o município, que foi composta por um ourinhense
que amava muito sua cidade, com inspiração de sua história, e geografia, e
com a valorização de sua beleza natural. Algumas informações foram
descobertas nesse artigo, mas ainda há muita coisa que ainda pode ser
resgatada a respeito do hino de Ourinhos, e do concurso de sua seleção. É
esperado que esse artigo abra portas para pesquisas futuras mais profundas,
ajudando na preservação deste símbolo cívico, e auxiliando na preservação da
memória e da cultura ourinhense.
HINO DE OURINHOS – HISTÓRIA E ANÁLISE

Abstract: This paper is about the Ourinhos’ anthem and the contest that it was
chosen. It presents a comparison between the laws that originated the
composition, an analysis of the song based on a transcription and more
information about the contest, as well as interviews with relevant people on the
context.

REFERÊNCIA

PRADO, André Pires do. Leis e políticas para a elaboração da memória e do


patrimônio cultural em Ourinhos: um breve inventário. Revista Geografia e
Pesquisa, Ourinhos-SP, v. 14, n.1, p. 40-61, 2020. Disponível em
<http://vampira.ourinhos.unesp.br/openjournalsystem/index.php/geografiaepesq
uisa/article/view/348>. Acesso dia 10 de julho de 2022.
SANTOS, Mariana Mamedes dos; FIORIN, Evandro, RODRIGUES, Laís da
Silva. Ourinhos: história e patrimônio ferroviário e industrial. 2020. Disponível
em
<https://publicacoes.amigosdanatureza.org.br/index.php/gerenciamento_de_cid
ades/article/view/2567> . Acesso dia 19 de maio de 2023.
PEREIRA, Bruna Silva Pinto. A importância da preservação da memória e do
patrimônio histórico-cultural da cidade de Palmas de Monte Alto – BA. 2022.
Disponível em < https://repositorio.uninter.com/handle/1/822> acesso dia 30 de
setembro de 2022.
OURINHOS, Lei nº 3185, de 05 de setembro de 1990. Disponível em
<https://leismunicipais.com.br/a/sp/o/ourinhos/lei-ordinaria/1990/318/3185/lei-
ordinaria-n-3185-1990-institui-concurso-visando-a-selecao-do-hino-oficial-de-
ourinhos-e-da-outras-providencias>. Acesso dia 30 de setembro de 2022.
OURINHOS, Lei nº 749, de 12 de maio de 1966. Disponível em
<https://leismunicipais.com.br/a/sp/o/ourinhos/lei-ordinaria/1966/75/749/lei-
ordinaria-n-749-1966-institui-o-concurso-para-escolha-do-hino-oficial-de-
ourinhos>. Acesso dia 28 de abril de 2023.
OURINHOS, Lei nº 754, de 26 de maio de 1966. Disponível em
<https://leismunicipais.com.br/a/sp/o/ourinhos/lei-ordinaria/1966/76/754/lei-
ordinaria-n-754-1966-altera-os-artigos-2-e-8-e-seu-1-artigo-10-e-11-da-lei-n-
749-de-12-de-maio-de-1966-que-institui-concurso-para-escolha-do-hino-oficial-
de-ourinhos>. Acesso dia 28 de abril de 2023.
Conheça as características da terra roxa ou terra vermelha. Canal Rural, 2014.
Disponível em: <https://www.canalrural.com.br/noticias/conheca-caracteristicas-
terra-roxa-terra-vermelha-53932/>. Acesso dia 24 de maio de 2023.
Ourinhos. IBGE, 2020. Disponível em:
<https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sp/ourinhos/panorama>. Acesso dia 26 de
maio de 2023.

APÊNDICE A - Transcrição de entrevista com Enzo Aurélio Fittipaldi,


professor de Educação Física.

Além de professor de educação física, Enzo era amigo de infância, muito


próximo do autor.
Legenda: A - Ágata Marie Souza Petroski.
E - Enzo Aurélio Fittipaldi.
Entrevista:
E - O que você precisa saber? Porque eu não sei todos os detalhes da música, o
que aconteceu é o seguinte, eu e o Fernando, a gente se olhava, não precisava
nem falar, a gente se conhecia tão bem, nós fomos criados juntos, a vida inteira,
moramos juntos no Rio de Janeiro, primeiro conjunto que ele tocou foi o meu
conjunto, depois tocamos juntos no Rio de Janeiro, e tal. Aí quando foi ter o
concurso ele falou "você ficou sabendo?" Eu não posso olhar, mas acho que foi
em 1992 ou 1993.
A - Um.
E - Noventa e um?
A - Um.
E - Ah é, um dia, ele falou assim pra mim "você viu que vai ter um concurso?"
Porque nós amávamos Ourinhos, nós éramos entusiastas, nós fizemos em 82 e 83
um festival de canção aqui de Ourinhos, chamava FOCA, Festival Ourinhense da
Canção. A gente era entusiasta, sabe? A gente adorava. A gente começou com
música a partir de festival. A gente não queria fazer cover, mas o cover acabou
acontecendo. Mas a gente participou de vários festivais. Inclusive o Fernando tinha
mais de 300 músicas, que provavelmente vão se perder.
A - Trezentas?
E - Muito mais de trezentas. Tem uma música que o nosso conjunto gravou,
chamava Único, foi uma música que ele fez pensando em mim. Teve uma época
que ele era sambista também. O Fernando era publicitário. Se você falasse assim
"Fernando, tô querendo fazer uma música sobre essa mesa aqui, do pé quebrado,
pode ser uma baladinha." Cinco minutos. Cinco minutos e a música tava pronta,
sabe ele era assim.
A - Mas então, você compôs junto com ele? Você tava no grupo dele no concurso?
E - Não. Aí foi assim. Ele falou assim "você viu que bacana? Vai ter um concurso"
e eu falei "que legal!" e ele "vamo participar?" eu falei "vamo" né, porque a gente
era apaixonado por Ourinhos, e a gente discutiu várias coisas e eu disse que se eu
fosse fazer, ia ter que falar do que Ourinhos tem de bom né? Mas Fernando foi
muito inteligente né, eu dei as minhas opiniões, ele deu as opiniões dele, tal né.
Dai ele foi embora. Passou o tempo e já tinha aberto a inscrição. Ele disse "você já
fez a música?". Mas eu não sou compositor. Aí eu conversei com meus irmãos que
sabem mais de harmonia e tal, e eles se interessaram muito. Aí eu fiquei meio
frustrado por mim mesmo, porque eu queria ter participado desse processo. Aí ele
passou de novo e eu falei "olha Fernando, está acontecendo assim e eu não vou
participar" e ele disse "então eu posso mostrar a minha música pra você. Eu fui a
primeira pessoa que ouviu o hino de Ourinhos. Ele pegou no carro o violão,
sentou lá no mercado, tava vazio o mercado, e tocou. Ele falou "esse pedaço aqui,
olha, eu fiz assim pra parecer a locomotiva"
A - Sabia!
E - É, o Fernando era muito, muito inteligente, então ele falou "eu falei dos rios"
que Ourinhos é praticamente uma ilha né, " eu falei que antigamente era café, e
hoje os horizontes são canaviais". Ai eu disse assim "Fernando, você já ganhou
esse concurso" e ele ficou meio assim, porque era inseguro sabe? "será que tá
bom?" e eu falei "não, não acho que tá bom, está ótimo!" Olha eu conheço hino de
várias cidades e até hoje nunca vi nenhum hino que chega nem perto do nosso, só
que a grande frustração dele foi que ele achou que ele ia cantar. Nossa ele ficou
tão chateado.
A - Foi uma gravadora, né?
E - Foi, eles pegaram e tal. E aí ele ganhou o concurso, tinha um prêmio em
dinheiro, se não me engano foram cinco músicas que participaram. Só tinha cinco.
O segundo lugar foi o Wilsinho, não foi? O Wilson Roberto Pereira?
A - Se eu não me engano ele participou como intérprete em dois grupos.
E - O Wilson Roberto?
A - Sim.
E - Ah mas ele tinha uma música dele, eu lembro.
A - Ele tinha uma música dele?
E - Tinha.
A - Ah mas eu perguntei pra ele!
E - O Fernando falou que ele foi o segundo colocado, que era a segunda melhor
música.
A - Aha.
E - E daí ele veio todo eufórico, contente. O prêmio em dinheiro era representativo,
não ia mudar a vida dele. Nosso sonho era fazer um show na FAPI e tocar no
Chacrinha. O Chacrinha ele conseguiu, você sabe disso?
A - Ele tocou no Chacrinha?
E - Ele cantou no Chacrinha e foi buzinado. Mas ele fez uma coisa terrível. Tinha a
Monique Evans e ele era apaixonado pela Patricia Pillar. E ela tava no juri, a
Monique. Daí o Chacrinha perguntou pra ele antes dele cantar "se você fosse
casar, com quem você casava? Com a Monique Evans ou com a Adriana
Oliveira?" e ele falou "eu não casava com nenhuma das duas, eu casava com a
Patrícia Pillar".
E - Mas então é isso.
A - Obrigada!

APÊNDICE B - Transcrição de entrevista com Renato Neli, sobrinho do


autor do hino.
Renato é filho de Vera Lúcia Ribeiro Neli, irmã do autor.
Legenda: A - Ágata Marie Souza Petroski.
R - Renato Neli.
A - Olá, boa tarde Renato, tudo bem? Eu sou aluna do técnico em canto na
Etec, e estou fazendo meu TCC sobre o Hino de Ourinhos, e queria saber se
você teria alguma informação sobre o hino ou sobre o autor, você poderia me
ajudar?
R - Boa tarde, tudo bem? Posso tentar te ajudar sim, o que você precisava
saber?
A - Tudo sim, obrigada. Você estava envolvido enquanto o Fernando
compunha o hino? Você sabe se ele compôs sozinho?
R - Ele compôs sozinho sim, e quando ele compôs, ele disse que pensava em
um ritmo chamado "Marcha Rancho"...
A - Hummm que interessante.
A - Você se lembra de mais alguma coisa que ele comentou sobre a
composição?
R - Só que na hora da produção virou esse que a gente conhece.
R - Ele amava Ourinhos demais!!
A - A produção foi feita por uma empresa de fora, né?
A - Eu imagino! Para ter composto um hino tão completo sobre a cidade.
A - Você sabe se seria possível achar a fita original que ele enviou para o
concurso em 1991, ou uma gravação dele, ou partitura, ou coisa assim?
R - Foi considerado o hino mais bonito do estado, pela melodia e letra, você
sabia disso?
A - Não sabia! Realmente não tem comparação com outros hinos que a gente
ouve por aí.
R - Não me lembro se tem... A Partitura não existiu...
A - Entendo...
A - Você sabe por quem ou por qual instituição ele foi considerado o hino mais
bonito do estado?
R - Hummm... Me lembro que saiu em algum jornal falando sobre isso, mas já
fazem 32 anos, não me lembro.
A - Realmente faz muito tempo.

APÊNDICE C - Transcrição de entrevista com Wilson Pereira, diretor da


Escola Municipal de Música de Ourinhos.

A entrevista teve o auxílio da aluna de técnico em canto Karolaine Costa dos


Santos de Andrade.

Legenda: A - Ágata Marie Souza Petroski.

Entrevista:

W - Wilson Pereira.

K - Karolaine Costa dos Santos de Andrade.


A - É, você... Você lembra como é que foi? Você participou do concurso né?
W - Sim.
A - Você mandou uma composição então?
W - Não. Na época eu fui convidado para ser júri, participar do júri, mas aí tinha
dois amigos meus que fizeram hino, e daí eu fui como intérprete.
A - Intérprete!
W - Intérprete do Pimentel e do Chierentin. Esse Chierentin, eu e um pessoal
de Ourinhos fomos como intérpretes.
A - Pimentel e Chierentin?
W - É, Pimentel e Chierentin, é. Pimentel é Benedito Pimentel
A - Benedito Pimentel.
W - É, Benedito Pimentel, que fez um hino. E o Sidney Chierentin fez dois
hinos... um hino.
A - Fez um?
W - É, um hino.
A - Qual que era o nome dele mesmo?
W - Sidney Chierentin.
A - Sidney Chierentin?
W - É, Sidney Chierentin. Ele era funcionário da prefeitura, se aposentou... Pois
é né. E o Fernando Cavezale.
A - Só eles três participaram, que você lembre?
W - É... acho que foi só eles mesmo...
A - Só eles três?
W - Será que tinha mais alguém... Eu acho que era só os três. O Fernando
Cavezale, o Benedito Pimentel e o Sidney Chierentin.
A - Você lembra quem eram os jurados?
W - Era o... Lino Ferrari.
A - Lino Ferrari?
W - Lino Ferrari.
A - Que que ele é?
W - Ele era músico e dono da Oncinha.
A - Dono da Oncinha!
W - Isso, dono da Oncinha. Lino Ferrari era. E a Professora Fernanda.
A - Professora Fernanda?
W - É, professora Fernanda, eu acho que era a professora Fernanda Saraiva.
A - Saraiva?
W - É professora de português. Se não me engano. Nossa, faz tempo pra
caramba né.
A - Faz tempo, foi em noventa e um né?
W - Noventa e um né. Foi o ano que meu filho nasceu.
A - Olha só!
W - Olha só.
A - Não dá pra esquecer desse ano.
W - Não! Não tem como.
W - Noventa e um é. (x2)
W - E, então teve, fui convidado para ser júri, como eu ia participar, eu decidi
sair fora, onde é que ia entrar no lugar, aí eu participei com dois hinos, como
intérprete, não como...
A - Você interpretou os dois hinos?
W - Os dois hinos! Eu montei um grupo, tinha uma cantora, a Vanderli cantava.
A - Vanderlei?
W - Vanderli.
W - Vanderli.
A - Ela cantou os dois hinos?
W - Eu acho que sim... Ai eu não, mas eu acho que foi sim.
W - Tinha o Nilson Ferrari no teclado.
A - Nilson Ferrari.
W - Nilson Ferrari que é sobrinho do Lino Ferrari (essa parte eu não entendi,
02:55 min)
W - Tinha os Gerson.
A - Gerson?
W - É japonês tocando comigo, no lupo.
A - Tocava o quê?
W - O Gerson tocava guitarra.
W - Eu não lembro se o Serginho tava. O Serginho tava sim. O Serginho e o
José cantando, era eu.
A - Serginho, o que?
W - Luiz Sérgio.
A - Luiz Sérgio?
W - É. Ele era músico da banda né! Então a gente cantava, a gente tinha uma
dupla eu e ele. Então cantou, eu, o Serginho, e a Vanderli.
A - Cantou os três?
W - Nós três cantamos.
A - Nas duas músicas que vocês foram intérpretes?
W - Eu acredito que sim. Eu não lembro... Foi as duas músicas sim! As duas
músicas.
W - Eu lembro mais ou menos dos hinos. Foi sim, foi os dois.
A - Você sabe se existia algum hino antes do concurso?
W - Olha, tem uma história, um senhor uma vez falou comigo na rua, me deu
uma partitura, que ele falou que era o primeiro hino de Ourinhos, só que eu
nasci em 61, então tô desde 61 nele a música em Ourinhos. Foi Amélio de
Carvalho, ele foi o precursor da música.
A - Qual era o nome dele?
W - Amélio de Carvalho.
A - Amélio de Carvalho?
W - Ele foi praticamente o precursor da música, então eu nasci no meio de
músicos, numa banda de música. E eu nunca tinha ouvido falar, o único que eu
sei que foi feito em noventa e um né? Fernando, foi o único que eu sei que é
oficial.
A - Você tem essa partitura ainda?
W - Não.
A - Ah...
A - Se tem algum registro, ou alguma coisa desses outros hinos que você
participou? Dos outros que participaram do concurso?
W - Olha, eu não sei. Quem pode ter já até faleceu. Eu não sei se o Chierentin
A - Quem?
W - Chierentin, o nome dos autores. Eu falo Chierentin assim, mas é
Chierentin. Mas ele tem, a partitura entendeu?
A - Onde que eu encontro ele?
W - Humm, boa pergunta.
A - Boa pergunta.
W - Boa pergunta. Deixa eu ver, ele trabalha na prefeitura não sei se ele se
aposentou. Mas no cadastro, ele trabalhava no cadastro não sei se ele se
aposentou. Entendeu? Lá eles podem informar você, onde você encontra ele.
Uma pessoa que eu, o Fernando eu não, ele tava falando pra mim, não sei se
você conversou. Comentou com você, a irmã do Fernando.
A - A irmã?
W - A irmã do Fernando, e ela tocou o hino no dia. Ela ensaiou o coral pra tocar
o hino. É a irmã do Fernando, a professora, mãe do Renatinho, Renato Neli.
Conhece o Renatinho? A mãe do Renatinho.
A - Você conhece pessoalmente?
K - Conheço.
A - Ahh.
K - Eu falava com ele.
W - O Renatinho? Ou a mãe dele?
K - O Renatinho.
W - O Renatinho então. A mãe do Renatinho, ela é irmã do Fernando,
entendeu, e ela participou, ela tocou piano na época, e ela montou um coral
infantil, que tinha lá, a terceira parte que era "no sudoeste paulista é a força
que...", então é a criança que canta, ela tinha o coral.
A - Legal!
W - O marido dela é o Moisés que já faleceu, já. Não lembro como é, to
pensando, mas não vem na cabeça. Bom, uma pessoa quem mais... A dona
Haide
A - Dona Haide?
W - É Haide Chiara Dia.
A - Haide?
W - Haide Chiara Dia.
W - Ela foi secretária de educação na época, ela pode de repente saber mais
coisa né?
A - Lá em noventa e um ela foi?
W - É noventa e um.
A - Você sabe se existe algum documento? Foi documentado esse concurso
em algum lugar, ou escrito de alguma outra forma?
W - Bom deve ter né. Eu acho, na prefeitura deve ter.
A - Na prefeitura?
W - É. As vezes sim né.
A - Deve ter né, importante.
W - Tem a gravação oficial.
A - A gravação oficial é aquela...
W - A gravação tem.
A - Uhum.
W - É. A gravação oficial tem sim. Não sei se tem partitura. Quem fez o arranjo
foi Nelson Ayres.
A - Fez o arranjo depois?
W - É, por exemplo, foi classificado aqui em Ourinhos, aí depois o menino foi
pra São Paulo, pra fazer o arranjo e tals, gravar, foi o Nelson Ayres.
A - Nelson?
W - Nelson Ayres.
A - Ele é lá de São Paulo?
W - Ele é de São Paulo!
A - E foi ele que fez o arranjo? Que foi gravado lá também?
W - Lá também.
A - Quem que gravou?
W - Um estúdio lá dele.
A - Um estúdio? Sabe o nome?
W - Estúdio dele.
A - Estúdio dele?
W - É. Certeza que é dele o estúdio, porque ele fez o arranjo, tem os músicos
dele e tal, muita coisa ele fez no piano e teclado né. Se perceber que tem muita
coisa sintetizada né.
A - É dá pra perceber, que não é instrumento, né?
W - É, é mais eletrônico né.
A - Uhum.
W - Então tem muita coisa que ele fez, no estúdio dele mesmo, ele só
aproveitou o coral, algum, como é que fala. É acústico né, mas eletrônico né.
A - Eu acho que é por aí mesmo, tem mais alguma coisa, que você possa dar
de informação, concurso.
W - Então, é isso aí né, não tem mais.
A - Nossa, mas já tenho vários nomes, muita responsabilidade.
W - A você pode procurar, entendeu? Não sei se tem algum livro da história de
Ourinhos.
A - Eu achei alguns artigos mais nenhum livro, livro.
W - Diário... É... Jornal antigo. Jornal "Divisa", o jornal de visa que fazia as
matérias da prefeitura, então deve ter algum...
A - Na biblioteca né?
W - Na biblioteca, se procurar por exemplo arquivos antigos de noventa e um,
não lembro o mês, mas noventa e um né.
A - Foi em noventa e um.
W - É então. Você procura saber lá.
A - Foi de noventa pra noventa e um.
W - Noventa pra noventa e um?
A - Foi, se eu não me engano foi.
W - Foi na passagem do ano haha.
A - Hahaha, foi mais ou menos.
A - Porque parece que fizeram a lei começaram, a distribuir, a concurso,
concurso, em noventa, e em noventa e um, foi quando veio o hino mesmo,
aconteceu o concurso, mas eu acho que eles estavam divulgando em noventa,
se eu não me engano, eu li isso.
W - Eu não sabia, não lembrava disso aí.
W - E na época eu estava envolvido com a cultura, não tinha a secretaria de
cultura na época, era departamento de cultura.
A - Departamento
W - É, não existia secretaria de cultura. Não existia isso aqui, não existia nada.
A - Não existia o prédio ainda?
W - Não, isso aqui não, isso aqui foi 2003. Aí começou em noventa e três. Não
começou não, a ideia dele começou em noventa e três, a ideia do prédio né.
Que a gente tinha, não existia secretaria de cultura, então a Neuza Fleuri que
foi a primeira secretária de cultura.
A - Neuza?
W - Neuza Fleuri.
W - Foi a primeira secretaria de cultura né, então ela entrou como diretora de
cultura porque a cultura pertencia a educação, tem a secretaria municipal,
educação, esporte e cultura.
A - Tudo junto.
W - É tudo junto, quem mandava era a secretaria de educação, aí quando a
Neuza entrou, ela entrou como diretora de cultura, a sala da diretoria de
cultura, era embaixo do teatro, não tem o teatro do centro, tem os balão ali das
mulher, tem uma salinha do lado, era ali.
A - Ali?
W - Ali era a diretoria de cultura, então não tinha nada, aí quando o Clauri que
é o pai do Lucas, ele ganhou, ai colocou ela como diretora de cultura, a
primeira coisa que ela fez, o que, que existe de cultura pra trabalhar, só tinha
banda, só produzia banda, não produzia mais nada, existia sim, mas oficial era
só banda, existia grupo de teatro, existia professor de música, músicos na
cidade, mas oficial só existia banda, hoje em dia fala assim, alguma coisa com
cultura, aí começou, veio a escola de música, teve a ideia de montar a escola
de música, tal né. Essa é a história do centro cultural.
W - Aí surgiu a ideia, bom a gente tá no lugar, para abrigar a cultura, aí em
noventa e quatro, começaram a fundação.
A - Construíram aqui?
W - É, construíram aqui. Aí aqui ficou um esqueletão, não tinha as paredes,
não tinha nada, só um esqueletão de concreto, aí o pai do atual prefeito perdeu
a eleição, o outro prefeito largou.
A - O que?
W - O outro prefeito que entrou, que é o Gil, largou mão disso aqui, pra que eu
vou fazer lá escola de música, centro cultural pra quê? Largou aqui. Ficou.
A - Largou? Desistiu, deixou alta...
W - É largou aqui. Ficou o esqueletão aqui, ficou um tempão o esqueleto aqui.
Bom, vocês não eram nem nascidos na época.
A - Não.
W - Então ficou aquele esqueletão parado aqui, aí o quando o Claudimir
ganhou para prefeito, e a Neuza voltou como secretária de cultura, aí foi feriado
de cultura na época do Clauri, ai depois na época do Toshio manteve a
secretaria, aí quando o Claudemir voltou, ela voltou a ser secretaria de cultura.
Ai que terminaram isso aqui e inauguraram. Tanto é que a rampa lá embaixo
rachou no dia da inauguração.
A - Rachou?
W - É rachou...
A - E como que subia?
W - Não, só cedeu um pouquinho assim...
A - Ah tá!
W - Mas não é essa rampa aqui, é aquela rampinha que tem lá embaixo.
A - Ah, tá...
W - Não tem uma entrada ali, pra rua de cima aqui, na quina aqui, é uma
rampinha, antigamente tinha um laguinho ali, como que fala...? Era um espelho
d'água, tinha um laguinho assim né, se consegue pegar peixe.
A - Uma fonte?
W - Não, não tinha fonte, era só um negócio pra colocar água, não deu certo.
A - Dá pra ver porque hoje não tem.
W - Então é isso.
W - Ágata?
A - Ágata.
W - Você é?
K - Karol.
W - Karol. Ah você é, sempre esqueço, então valeu alguma coisa?
A - Valeu, valeu muito.

Apêndice D - Transcrição de relato de Maria Alice Ribeiro, irmã do autor


do hino de Ourinhos.
Então, o Fernando escreveu a letra do hino logo após o tiro de guerra. Depois
de um tempo que ele compôs a música para a letra, por ocasião do concurso
pra escolher o hino de Ourinhos.

A minha irmã Vera, Vera Lúcia Ribeiro Neli, que era diretora da escola Maria do
Carmo passou a música para uma partitura, e o Fernando quis que o hino
fosse cantado por um grupo de crianças. Então a Vera escolheu algumas
crianças da escola Maria do Carmo para cantar o hino no dia do festival,
porque ele via as crianças cantando o hino nas escolas, né? Então ele queria
que fosse assim.

Ele era muito jovem, e de cara assim o hino encantou a todos. Todos mesmo.
Assim desde a primeira vez, mas naquela época o Fernando trabalhava para o
partido contrário, né, ele era do do Claury, trabalhava para o Claury e o atual
governo era do Clóvis Chiaradia, né? Doutor Clóvis. E a Haide fazia parte da
escolha do hino, dos jurados. Então de acordo com a dona Haide, no momento
eles pensaram em não escolher o Fernando que ele era do partido contrário ao
partido do Doutor Clóvis, mas daí o próprio Doutor Clóvis, prefeito de Ourinhos,
disse não, que isso nada tinha a ver com política, e que eles tinham que
escolher. O vencedor tinha que ser o melhor.

E assim foi, o hino venceu, e depois teve que ser gravado pela orquestra
sinfônica em São Paulo, a dona Haide que levou para ser gravado pela
Orquestra Sinfônica em São Paulo. Aí veio uma história que eu fiquei sabendo
a partir da morte do Fernando. A Vânia Bastos, minha amiga de infância, né,
nossa amiga que muitas vezes o Fernando trouxe pra Ourinhos, pra cantar,
enquanto secretário de cultura, nós éramos próximos. Ela não sabia que o
Fernando era o autor do hino de Ourinhos até o momento da morte dele. Foi
quando ela entrou em contato e falou “Alice, é o Fernando? Eu não sabia que
era o Fernando o autor do hino.”

Aí ela me contou uma outra história, que ela estava com o Euler em São Paulo,
ela fazia jingles. As pessoas chamavam “precisamos de uma voz, um tenor,
precisa um contralto” aí eles chamavam e tinha que ir correndo, pegar um táxi
pra lá, gravava a voz sozinha assim, ou as vezes em dupla, não sei, e daí nem
sabia pra que iria servir. As vezes era uma frase só, um refrão, assim para eles
montarem os jingles. E os hinos também das cidades.

Então ela foi chamada pra gravar o hino e o Euler tava junto, aí diz que eles
pegaram um táxi que justamente o motorista do táxi era de Ourinhos. Aí ela foi,
gravou, não sabia que estava gravando o hino de Ourinhos, uma das vozes do
hino de Ourinhos. No fim que ela viu o nome da dona Haide lá aí ela falou “não,
é o hino de Ourinhos, né” porque ela viu o nome da dona Haide. Mas ainda não
sabia que o hino era do Fernando e nunca soube, enquanto o Fernando era
vivo.

Aí o Fernando doou o hino de Ourinhos para a cidade, um gesto de amor,


porque ele amava muito essa cidade, e sem direitos autorais, para que ele
pudesse ser tocado em qualquer lugar sem direitos autorais. Por isso que não
se pronunciava acho, o nome do Fernando quando tocava o hino, né. E muita
gente não sabia que ele era autor do hino, até o momento do falecimento dele,
muita gente. Foi uma doação de amor mesmo pra cidade. E foi assim que foi
feito. Foi apresentado no teatro municipal, com a Vera, minha irmã, ao piano, e
um grupo de crianças do Maria do Carmo, pela primeira vez. Esse lindo hino de
Ourinhos do qual nós temos muito orgulho.

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