Você está na página 1de 27

0

Universidade de São Paulo

INDÚSTRIA DE FERTILIZANTES

Bruno Favaretto Montenegro - N°USP 12675830


Gabriel Solano Fleury de Charmillot - N°USP 12552815
Giovana Cruz Hostalácio - N°USP 12551303
Leonardo Castro Moreira - N°USP 12674850
Lucas Henrique Ventura Marques Biscaro - N°USP 12555818
Marcos Teixeira Magalhaes Lima - N°USP 11806451

São Paulo, São Paulo, 12/05/2022


1

RESUMO
Este relatório tem por objetivo abordar as diferentes faces e particularidades da Indústria
de Fertilizantes no Brasil, perpassando por conceitos básicos relacionados aos fertilizantes até
a discussões que permeiam esse ramo industrial. Aborda-se, ainda, de maneira detalhada, os
aspectos econômicos dessa indústria - sua relação com a agropecuária, seus principais players,
a segmentação do mercado, a cena mundial dessa indústria e os impactos geopolíticos
associados, além do Plano Nacional de Fertilizantes. Ademais, os impactos e outros aspectos
ambientais atrelados à indústria de fertilizantes são objeto de estudo desta obra e, por fim, é
propiciada uma abordagem detalhada dos fluxogramas de processo associados a esse ramo da
indústria química e de sua regulamentação.

SYNOPSIS
This report aims to address the different faces and particularities of the Fertilizer Industry
in Brazil, covering basic concepts related to fertilizers to discussions that permeate this
industrial branch. The economic aspects of this industry are also discussed in detail - its
relationship with agriculture, its main players, market segmentation, the world scene of this
industry and the associated geopolitical impacts, in addition to the National Fertilizer Plan.
Furthermore, the impacts and other environmental aspects linked to the fertilizer industry are
the object of study of this work and, finally, a detailed approach to the process flowcharts
associated with this branch of the chemical industry and its regulation is provided.
2

Sumário
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 4
1.1 Classificação dos fertilizantes ........................................................................................... 4
1.2 Matéria Prima ................................................................................................................... 5
1.3 A indústria de fertilizantes e o agronegócio ..................................................................... 6
2 ASPECTOS ECONÔMICOS ........................................................................................... 7
2.1 Mercado de Fertilizantes e Atratividade ........................................................................... 7
2.1.1 Segmentação do mercado de fertilizantes por setor .................................................. 8
2.2 Cenário global ................................................................................................................... 8
2.2.1 Produção .................................................................................................................... 9
2.2.3 Consumo .................................................................................................................. 10
2.2.3 Competição de mercado e principais indústrias no mundo ..................................... 11
2.2.4 Efeitos da Pandemia ................................................................................................ 11
2.2.5 Efeitos da Guerra na Ucrânia................................................................................... 11
2.3 Cenário Nacional ............................................................................................................ 12
2.3.1 Escala de Produção Nacional .................................................................................. 13
2.3.2 Dinâmica de mercado e relação: Brasil x Mundo.................................................... 14
2.4. Tendências e perspectivas .............................................................................................. 15
2.4.1. Plano nacional de fertilizantes (PNF) e a diminuição da dependência ................... 15
2.4.2. Embrapa, Plano de ação e Investimentos ............................................................... 16
3 IMPACTOS AMBIENTAIS ........................................................................................... 17
4 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA ..................................................................................... 20
4.1 Processo para produtos nitrogenados .............................................................................. 21
4.2 Processo para produtos sulfúricos................................................................................... 21
4.3 Processo para produtos fosfatados .................................................................................. 22
4.4 Processo para produtos fosfatados .................................................................................. 22
4.5 Etapa de granulação e mistura ........................................................................................ 23
4.6 Regulamentação .............................................................................................................. 23
5 CONCLUSÃO.................................................................................................................. 24
6 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................. 25
3

Índice de Figuras
Figura 1 - Esquema explicativo sobre produção de fertilizantes ................................................ 5
Figura 2 - Entrega de fertilizantes por cultura, 2010 (em%) ...................................................... 6
Figura 3 - Previsão de participação de receita de fertilizantes secos e líquidos em 2030 .......... 7
Figura 4 - Segmentação do Mercado por Indústria .................................................................... 8
Figura 5 - Principais continentes produtores de fertilizantes no mundo .................................... 9
Figura 6 - Divisão da produção mundial de fertilizantes em toneladas por espécie de nutriente
.................................................................................................................................................. 10
Figura 7 - Consumo em Milhões de toneladas de fertilizantes por país (2018) ....................... 10
Figura 8- Maiores empresas de Fertilizantes do Mundo .......................................................... 11
Figura 9 - Dependência externa por fertilizantes...................................................................... 12
Figura 10 - Importação brasileira de fertilizantes na última década......................................... 13
Figura 11 - Volumes de entregas, produção e importação de fertilizantes por ano no Brasil, em
milhões de toneladas ................................................................................................................. 13
Figura 12 - Principais locais de origem do cloreto de potássio em 2018 ................................. 14
Figura 13 - Principais locais de origem de fertilizantes fosfatados em 2018 ........................... 14
Figura 14 - Principais locais de origem de fertilizantes nitrogenados em 2018 ....................... 15
Figura 15 - Processo de eutrofização ........................................................................................ 18
Figura 16 - Processo de Bioacumulação................................................................................... 19
Figura 17 - Fluxograma geral do processo de produção de fertilizantes .................................. 20
Figura 18 - Fluxograma de produção de fertilizantes nitrogenados - ureia e nitrocálcio ......... 21
Figura 19 - Fluxograma de produção de compostos sulfúricos ................................................ 21
Figura 20 - Processo de produção de fertilizantes fosfatados .................................................. 22
Figura 21 - Processo de obtenção do cloreto de potássio ......................................................... 23
Figura 22 - Etapa de granulação ............................................................................................... 23

Índice de Tabelas
Tabela 1 – Custos e Benefícios da Expansão do Saneamento no Brasil de 2016 a 2016..Error!
Bookmark not defined.
Tabela 2 – Equilíbrio financeiro dos operadores do ponto de vista tarifárioError! Bookmark
not defined.
4

1 INTRODUÇÃO
A indústria de fertilizantes é o ramo da indústria química responsável pela produção de
fertilizantes em seus mais diversos tipos. Para seu entendimento, deve-se primeiramente
abordar o conceito de fertilizantes e suas classificações.
Inicialmente, vale ressaltar que o termo fertilizante refere-se a qualquer material, orgânico
ou inorgânico, natural ou sintético, que fornece às plantas um ou mais elementos necessários
ao seu desenvolvimento normal.
Quanto aos elementos químicos presentes nos fertilizantes (conforme a quantidade ou
proporção), estes podem ser divididos em macronutrientes primários (nitrogênio, fósforo e
potássio), macronutrientes secundários (cálcio, magnésio e enxofre) e micronutrientes (boro,
cloro, cobre, ferro, manganês, molibdênio, zinco, sódio, silício e cobalto).
Do ponto de vista industrial, o nitrogênio (N), o fósforo (P) e o potássio (K) são os mais
importantes e originam a classificação usual dos produtos da indústria segundo o elemento
essencial contido, ou seja, em fertilizantes nitrogenados, fosfatados e potássicos,
respectivamente.

1.1 Classificação dos fertilizantes


De forma mais detalhada, os fertilizantes podem não só serem classificados nas três
categorias mencionadas, mas também em:
 Fertilizante mineral: produto de natureza fundamentalmente mineral, natural ou
sintética, obtido por processo físico, químico ou físico-químico, fornecedor de um ou
mais nutrientes de plantas;
 Fertilizante orgânico: produto de natureza fundamentalmente orgânica, obtido por
processo físico, químico, físico-químico ou bioquímico, natural ou controlado, a partir
de matérias-primas de origem industrial, urbana ou rural, vegetal ou animal, enriquecido
ou não de nutrientes minerais;
 Fertilizante organomineral: obtido a partir da mistura física ou combinação de
fertilizantes minerais e orgânicos;
 Fertilizante mononutriente: que contém apenas um macronutriente primário;
 Fertilizante binário: que contém dois macronutrientes primários;
 Fertilizante ternário: que contém os três macronutrientes primários;
 Fertilizante com outros macronutrientes: que contém os macronutrientes secundários,
isolados ou misturados, ou ainda com outros nutrientes;
 Fertilizante com micronutrientes: que contém micronutrientes, isoladamente ou em
misturas destes, ou com outros nutrientes;
 Fertilizante mineral simples: formado, fundamentalmente, por um composto químico,
contendo um ou mais nutrientes de plantas;
 Fertilizante mineral misto: resultante da mistura física de dois ou mais fertilizantes
minerais;
 Fertilizante mineral complexo: formado por dois ou mais compostos químicos,
resultante da reação química de seus componentes, contendo dois ou mais nutrientes.
5

1.2 Matéria Prima


O pleno funcionamento da indústria de fertilizantes depende de um fator que, no Brasil,
assume característica limitante: a disponibilidade de matérias-primas. A falta de disponibilidade
de matérias-primas básicas é inclusive uma das principais razões pelas quais o Brasil,
atualmente, mais importa fertilizantes do que os produz nacionalmente.
No caso específico da indústria de fertilizantes, as matérias primas necessárias para a
concretização da cadeia produtiva podem ser divididas em dois grupos (básicas e
intermediárias), conforme ilustrado na figura abaixo:
Figura 1 - Esquema explicativo sobre produção de fertilizantes

Fonte: Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA), 2020

As matérias primas básicas desta indústria são amônia anidra, enxofre, rocha fosfática e
sais de potássio, enquanto os ácidos nítrico, sulfúrico e o fosfórico figuram entre as matérias
primas intermediárias.
Ademais, no que tange ao uso de enxofre pela indústria de fertilizantes, mais de 90% do
enxofre do mundo é utilizado para a produção de ácido sulfúrico, cuja finalidade principal é
a produção de fertilizantes, segundo a Petrobras.
Ainda nesse tópico, deve-se ter atenção para o gás natural, cuja participação na cadeia
produtiva dos fertilizantes é extremamente importante, estando os custos deste ligados aos
preços daquele. Essa relação se encontra no fato de o gás natural ser o principal insumo na
produção dos fertilizantes nitrogenados e o maior componente do seu custo produtivo,
representando entre 70% e 75% no caso da ureia.
Acerca disso, o Projeto de Lei nº 6.407/2013 prevê medidas para fomentar a indústria
brasileira de gás natural, visando ampliar a competição na oferta e na movimentação desse
produto, reduzindo a tributação incidente em sua comercialização. Dentre as justificativas
para a propositura do PL 6.407/2013, é enfatizada, pelos seus defensores, a necessidade de
estabelecimento de uma política de preços de gás natural transparente e competitiva
nacionalmente, razão pela qual é proposto o retorno do controle de seus preços e dos critérios
de reajuste, os quais passariam a ser estabelecidos, conjuntamente, pelos Ministros de Estado
de Fazenda, de Minas e Energia e de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Com
a implementação dessa medida, as indústrias nacionais ganhariam força frente à grande
indústria multinacional, de forma que a alta taxa de importação tenderia a diminuir com o
tempo.
6

1.3 A indústria de fertilizantes e o agronegócio


O Brasil é um país totalmente dependente da indústria de fertilizantes, o que decorre do fato
de que o Brasil é um país cuja economia é pautada fortemente no agronegócio e, como visto,
os fertilizantes são primordiais para a potencialização da produção agrícola. Logo, um país com
uma estrutura econômica similar à do Brasil depende desses insumos.
No país, algumas culturas são responsáveis por um maior consumo de fertilizantes do que
outras, o que está relacionado não só a um maior volume de produção, mas também a uma
maior necessidade de nutrientes para um cultivo mais eficiente. Abaixo, encontram-se as
principais culturas consumidoras de fertilizantes nacionalmente e a porcentagem dos
fertilizantes utilizados no Brasil que são destinados à cultura:
Figura 2 - Entrega de fertilizantes por cultura, 2010 (em%)

Fonte: Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA), 2021

Cinco principais culturas concentram o consumo no país: soja, milho, cana-de-açúcar,


café e algodão. Em 2010, elas representaram mais de 75% do total de fertilizantes
consumidos. A soja, que é a principal cultura consumidora, com 36%, utiliza pouco
nitrogênio e muito potássio para sua produção.
Vale ressaltar que o Brasil apresenta um comportamento peculiar no que tange à produção
de fertilizantes em comparação com outras regiões do globo, tais quais América do Norte e
Europa. No Brasil, a produção industrial de fertilizantes é principalmente dos potássicos, e
não dos fosfatados e nitrogenados, os quais representaram 38%, 29% e 33% da produção,
em 2010, respectivamente. Esse comportamento também possui forte correlação com o perfil
agrário brasileiro, voltado para espécies predominantemente cultivadas nacionalmente
devido às condições climáticas.
Como mencionado anteriormente, o Brasil apresenta uma grande produção agrícola e sua
demanda por fertilizantes é maior do que as indústrias nacionais de fertilizantes conseguem
atender. Dessa forma, o consumo brasileiro desses insumos tem como principal fonte o
mercado externo, por meio da importação. Isso também decorre do fato de que a demanda
por fertilizantes (fruto do crescimento da produção agrícola brasileira) não ter sido
acompanhada do crescimento da indústria nacional de fertilizantes, o que provocou um
desbalanceamento entre oferta e demanda.
7

2 ASPECTOS ECONÔMICOS
Os fertilizantes possuem suma importância para a economia global e, especialmente, a
brasileira, visto a escalabilidade de produção e consumo agrícola anual do país, atuando como
uma commodity essencial para alavancar a produção de outros insumos básicos, por exemplo
soja e trigo. Além disso, o crescimento populacional expressivo nos últimos anos acarretou em
um aumento da demanda por alimentos, consequentemente, trazendo uma necessidade cada vez
maior na utilização de fertilizantes que, indiretamente, ao balancear a relação de oferta e
demanda ajuda no controle da inflação e a alta de preço dos produtos.

2.1 Mercado de Fertilizantes e Atratividade


O valor de mercado de fertilizantes foi estimado em US$ 193,3 bilhões em 2021 e deve
chegar a US$ 240 bilhões até 2030, de acordo com um novo relatório de pesquisa da Global
Market Insights Inc. fornecendo nutrientes essenciais às culturas, incluindo nitrogênio, fosfato,
potássio e outros nutrientes que promovem a fertilidade do solo.
Tabela 1 - Dados para projeção de receita e crescimento

Fonte: GM Insights, 2022

O mercado de fertilizantes do segmento seco representou mais de 80% de participação na


receita em 2021 e se espera que o tamanho do mercado de fertilizantes secos ultrapasse US
$200 bilhões até 2030. Os fertilizantes secos são mais baratos que os fertilizantes líquidos e não
requerem condições específicas de armazenamento e, para melhorar a eficácia do fertilizante,
os secos são frequentemente combinados com outros compostos granulares. Na maioria das
vezes, eles são mantidos em temperatura ambiente, pois em um ambiente frio, os fertilizantes
secos não se depositam nem salgam, logo, para tratamentos intensivos pré-plantio, os
fertilizantes secos são mais eficazes. Além disso, comprar fertilizantes secos a granel
economiza dinheiro.
Figura 3 - Previsão de participação de receita de fertilizantes secos e líquidos em 2030

Fonte: GM Insights, 2022


8

Analisando outra segmentação desse mercado, os fertilizantes orgânicos gerarão uma


demanda de produtos de cerca de 11,5 milhões de toneladas até 2030. Em comparação com os
fertilizantes inorgânicos, os orgânicos geralmente são mais seguros de usar e não são tão
concentrados, como também, não são tóxicos e são seguros para o meio ambiente. Portanto, as
indústrias os consideram os melhores para uma variedade de plantas e culturas e, sua aplicação
regular não compromete o equilíbrio biológico do local de plantio e contribui para melhorar a
fertilidade do solo. Além disso, a crescente conscientização ambiental, bem como as
consequências negativas do emprego de fertilizantes inorgânicos ou sintéticos, ajudou muitos
agricultores em sua transição para a agricultura orgânica, que se beneficiam do aumento da
demanda do consumidor por produtos agrícolas orgânicos.

2.1.1 Segmentação do mercado de fertilizantes por setor


O segmento agrícola gerará mais de US $100 bilhões até 2030 e a indústria de fertilizantes
provavelmente será alavancada por aplicações desse insumo em atividades no campo, como
cultivo de plantas e culturas alimentares básicas. Além disso, o aumento da demanda por arroz,
milho, trigo, milho, arroz em casca e cevada nas economias em desenvolvimento impulsiona o
mercado de fertilizantes nos próximos anos. Desse modo, futuramente, o uso de fertilizantes
para aplicações rurais será impulsionado usando-os em áreas agrícolas para repor os minerais
essenciais presentes naturalmente no solo, como nitrogênio, fósforo e potássio.
Figura 4 - Segmentação do Mercado por Indústria

Fonte: GM Insights, 2022

2.2 Cenário global


A longo prazo, as inovações tecnológicas do setor, juntamente com a crescente demanda por
N, P e K e fertilizantes com micronutrientes, devem impulsionar o crescimento do mercado. No
entanto, restrições regulatórias e ambientais e altos custos de produção provavelmente atuarão
como desvantagens na indústria.
A Ásia-Pacífico é o maior mercado de fertilizantes e representa cerca de 47,7% do mercado
geral em 2021. O Sudeste Asiático é o maior consumidor de fertilizantes na Ásia-Pacífico, com
a China representando aproximadamente metade do consumo. A demanda por fertilizantes
nitrogenados na Ásia é registrada como forte. No entanto, espera-se que o mercado de
fertilizantes potássicos cresça significativamente nos próximos anos. Espera-se que a demanda
no Sudeste Asiático cresça ainda mais com o uso crescente de ureia revestida com neem,
aumento da transferência direta de benefícios aos agricultores e rápida adoção de fertilizantes
solúveis em água.
9

Na região da Ásia-Pacífico, o arroz é uma grande cultura consumidora de nitrogênio. A fim


de impulsionar a produção agrícola no país, o governo tailandês apoiou os agricultores
fornecendo subsídios para insumos agrícolas.

2.2.1 Produção
Os 6 maiores exportadores de fertilizantes são Rússia, China continental, Canadá, Marrocos,
Estados Unidos da América e Arábia Saudita. Coletivamente, esses principais fornecedores
responderam por mais da metade (52,6%) dos fertilizantes exportados globalmente em 2021.
Entre os continentes, os países da Europa venderam o maior valor em dólares de fertilizantes
exportados durante 2021, com embarques avaliados em US$ 29,6 bilhões ou 35,9% do total
mundial. Logo atrás, em segundo lugar, ficaram os exportadores asiáticos com 34,8%, enquanto
13,4% dos embarques internacionais de fertilizantes vieram da América do Norte. Outros 13%
foram enviados de exportadores da África.
Figura 5 - Principais continentes produtores de fertilizantes no mundo

Fonte: Modor Intelligence, 2021

Quanto aos diferentes tipos de fertilizantes exportados, cerca de quatro quintos (80,4%) eram
produtos à base de nitrogênio. Os fertilizantes potássicos representam 15,5% comparados aos
fosfatados com 2,7%. Excluindo as subcategorias de fertilizantes minerais ou químicos, o outro
tipo de fertilizantes são os fertilizantes animais ou vegetais, que representaram os 1,4%
restantes.
A ureia, DAP e MOP são os principais produtos para fertilizantes de nitrogênio, fósforo e
potássio, respectivamente. O fosfato de diamônio (DAP) contém 46% de fosfato (medido em
P2O5 ) e 18% de nitrogênio. O cloreto de potássio (MOP) contém 60% de potássio, medido em
K2O. Eles têm uma grande participação de mercado e são amplamente negociados em todo o
mundo. A ureia contém 46% de nitrogênio e sua participação no consumo de nitrogênio está
aumentando. A maior parte da capacidade de nitrogênio novo e gasoduto no mundo está na
forma de ureia. O fosfato de monoamônio (MAP) contém 46% de fosfato e 11% de azoto.
10

Figura 6 - Divisão da produção mundial de fertilizantes em toneladas por espécie de nutriente

Fonte: YARA, 2018

2.2.3 Consumo
A demanda de fertilizantes é influenciada pela evolução da área plantada e rendimentos, o
mix de culturas, preços de safras e razões de preços de fertilizantes por safra, regimes de
subsídio de fertilizantes, regulamentos de manejo de nutrientes, práticas de reciclagem de
nutrientes e inovação. O nitrogênio é de longe o maior nutriente, respondendo por quase 60%
do consumo total
Os fertilizantes de fósforo (fosfato) e potássio são aplicados principalmente para melhorar a
qualidade das culturas. Ademais, a aplicação anual nem sempre é necessária, pois o solo
absorve e armazena esses dois nutrientes por um período maior em comparação com o
nitrogênio, logo, o nitrogênio deve ser aplicado todos os anos para manter os rendimentos e a
biomassa. Vale ressaltar que o Brasil consome quantidades substanciais de fosfato e potássio
devido à sua significativa produção de soja.
Figura 7 - Consumo em Milhões de toneladas de fertilizantes por país (2018)

Fonte: YARA, 2018


11

2.2.3 Competição de mercado e principais indústrias no mundo


O mercado de fertilizantes está consolidado e os principais players representam uma grande
fatia, enquanto as demais empresas de fertilizantes representam uma parcela menor do mercado.
Os principais players do mercado são Yara International ASA, The Mosaic Company, Nutrien
Limited, EuroChem Group, CF Industries, PhosAgro, Bunge Limited, K+S Aktiengesellschaft
e Groupe OCP, entre outros.
Figura 8- Maiores empresas de Fertilizantes do Mundo

Fonte: YARA e Mosaic, 2022

Com base em algumas atividades recentes da Yara, empresa número 1 na produção de


fertilizantes, é possível abstrair os próximos passos do mercado e qual o objetivo dos players
inseridos. Nesse sentido, analisa-se a atuação da Yara nos últimos 2 anos:
 Em janeiro de 2020, a Nutrien Ltda comprou a Agrosema Commerical Agricola Ltd
para expandir suas raízes no crescente mercado agrícola brasileiro.
 Em agosto de 2020, a Yara East Africa introduziu um fertilizante de micronutrientes,
Yara Microp, para melhorar os rendimentos de milho no oeste do Quênia. Yara
Microp é um produto misturado com nitrogênio, fósforo, nitrogênio amoniacal,
enxofre e zinco, permitindo que as plantações de milho cresçam mais rapidamente e
produzam maiores rendimentos.
 Em setembro de 2021, a Yara adquire a Finish colan para expandir seus negócios de
fertilizantes orgânicos, o que mostra o compromisso da empresa em desempenhar
um papel maior nos negócios de fertilizantes orgânicos.

2.2.4 Efeitos da Pandemia


Desde o surto de COVID-19, a indústria de fertilizantes foi significativamente afetada em
muitas partes do mundo desde o início da pandemia. Devido à escassez de mão de obra e ao
fechamento de algumas fábricas de fertilizantes localizadas nos complexos químicos
integrados, os embarques foram afetados no processo inicial de bloqueio. A China, sendo o
epicentro da pandemia, foi muito impactada no início. No entanto, as condições no país se
estabilizaram e as taxas de produção aumentaram para todos os fertilizantes. Portanto, observa-
se que o efeito geral do COVID-19 na indústria de fertilizantes é moderado.

2.2.5 Efeitos da Guerra na Ucrânia


A invasão russa da Ucrânia eleva substancialmente o risco de interrupções no comércio global
de fertilizantes. A Rússia é o maior exportador mundial de fertilizantes, respondendo por 23% das
exportações de amônia, 14% das exportações de ureia, 10% das exportações de fosfato processado
e 21% das exportações de potássio, segundo dados do The Fertilizer Institute. Os principais
destinos dos fertilizantes da Rússia são Brasil (21%), China (10%), EUA (9%) e Índia (4%).
12

Comparado aos EUA, o Brasil será afetado diretamente, pois o Brasil importa 85% de seus
fertilizantes. A oferta nos EUA deve ser um problema menor, pois os EUA têm uma produção
doméstica robusta. No entanto, os agricultores dos EUA provavelmente enfrentarão preços mais
altos devido à interconexão global da indústria global de fertilizantes. Em 11 de março, ambas
as nações anunciaram planos para apoiar a produção adicional de fertilizantes para lidar com
os custos crescentes.
Levantamento realizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)
mostra que os preços pagos pelo agronegócio brasileiro aumentaram até 5,8% em apenas uma
semana. Em dólar, o valor pago pelos fertilizantes derivados de ureia atingiu US $642 a
tonelada no porto de Paranaguá, no Paraná, na quinta-feira, 24. O valor é 5,8% superior aos US
$607 registrados uma semana antes, em 17 de fevereiro, segundo a CNA.
Os fertilizantes derivados de cloreto de potássio (KCl) tiveram aumento de 1,1% no mesmo
período, para US$ 867 a tonelada em Paranaguá. Já os fertilizantes do tipo fosfato
monoamônico (MAP) tiveram alta de 0,5%, para US$ 971 a tonelada. A CNA nota que o preço
desses insumos já estava em trajetória de alta, e a tendência se intensificou com a escalada dos
problemas geopolíticos.

2.3 Cenário Nacional


Atualmente, o Brasil é responsável por cerca de 8% do consumo global de fertilizantes,
sendo o quarto do mundo, atrás apenas de China, Índia e Estados Unidos, sendo principal
nutriente aplicado no Brasil é o potássio, com 38%, seguido por cálcio, com 33%, e nitrogênio,
com 29%. Além disso, a maior cultura agrícola brasileira é a soja, que demanda mais de 40%
dos fertilizantes aplicados.
O Brasil tem importância no mercado mundial não somente pelo expressivo volume de
insumos consumidos internamente, mas também pelo fato de sua demanda estar se concentrar
no segundo semestre, o que possibilita relativo poder de barganha ao país. O consumo nacional
depende principalmente do preço recebido pelos agricultores (renda), sendo influenciado
também pelo preço relativo dos fertilizantes (relação de troca), política agrícola (crédito de
custeio, preços mínimos etc.), expectativa de preços futuros e evolução da tecnologia agrícola.
A velocidade de crescimento da demanda brasileira tem superado a taxa de crescimento
mundial e seu atendimento tem ocorrido via aumento de importações. O país deixou de ser
exportador de fertilizantes para ser um grande importador entre 1992 e 2020. Mais de 80%
(oitenta por cento) dos fertilizantes consumidos no Brasil são de origem estrangeira, de maneira
que a produção nacional responde por menos de 20% (vinte por cento) da demanda do país.
Figura 9 - Dependência externa por fertilizantes

Fonte: Planalto, 2020


13

Figura 10 - Importação brasileira de fertilizantes na última década

Fonte : Farm Doc Daily, 2022

2.3.1 Escala de Produção Nacional


Em 2021, as entregas de fertilizantes ao consumidor final somaram 45,855 milhões de
toneladas de janeiro a dezembro do ano passado, alta de 13% ante o ano anterior (40,564
milhões de toneladas). Em dezembro, as entregas atingiram 3,314 milhões de toneladas, 0,1%
acima de igual mês do ano anterior.
A produção nacional de fertilizantes intermediários aumentou 7,3% em 2021, para 6,990
milhões de toneladas. Foram 663,95 mil toneladas de adubos intermediários produzidos em
dezembro, 20,5% acima de igual mês do ano anterior. A importação de adubos intermediários
aumentou 19,3% no ano passado, para 39,201 milhões de toneladas. Só em dezembro foram
importados 3,560 milhões de toneladas, 20,4% acima de igual período de 2020.
As exportações do produto em 2021 totalizaram 683,83 mil toneladas, alta anual de 17,1%.
Em dezembro, o volume exportado chegou a 40,37 mil toneladas, queda de 32% na comparação
anual.
Figura 11 - Volumes de entregas, produção e importação de fertilizantes por ano no Brasil, em milhões de
toneladas

Fonte: Mercados Agricolas, 2021


14

2.3.2 Dinâmica de mercado e relação: Brasil x Mundo


Dado o porte agrícola do Brasil, o país tem um papel importante no mercado global,
justamente por ser o 4º maior consumidor global, logo, diversos países veem o Brasil como um
potencial parceiro para importações. Ademais, como já dito, a entrega do produto no país é de
origem, majoritariamente, estrangeira.
Quanto à origem dos produtos importados pelo Brasil, em 2018, os principais países
exportadores de fertilizantes potássicos foram Rússia, Canadá, Bielorrússia, China, Israel,
Marrocos, Argélia, Egito, Alemanha e Estados Unidos. Os principais locais de origem do
cloreto de potássio foram Canadá (32%), Rússia (26%), Bielorrússia (18%) e Israel (11%)
Figura 12 - Principais locais de origem do cloreto de potássio em 2018

Fonte: Planalto, 2020

Em relação aos fertilizantes fosfatados, em 2018, os principais países exportadores foram


Rússia, Canadá, Bielorrússia, China, Israel, Marrocos, Argélia, Egito, Alemanha e Estados
Unidos. E os principais locais de origem foram Marrocos (25%), Rússia (14%), Estados Unidos
(13%), Arábia Saudita (12%), Egito (11%) e Israel (9%). Os principais países exportadores de
MAP (fosfato monoamônico) foram Marrocos, Rússia, Arábia Saudita e Estados Unidos. Para
DAP (fosfato diamônico), Estados Unidos e Marrocos foram os principais locais de origem.
Egito e Israel foram os principais de SSP (superfosfato simples), e Marrocos, China e Israel de
TSP (superfosfato triplo).
Figura 13 - Principais locais de origem de fertilizantes fosfatados em 2018

Fonte: Planalto, 2020


15

Em relação aos fertilizantes nitrogenados, os principais locais de origem foram Rússia


(23%), China (16%), Argélia (12%), Catar (8%), Nigéria (6%) e Emirados Árabes Unidos (5%).
Os principais países exportadores de ureia foram Argélia, Rússia, Catar, Nigéria, Emirados
Árabes Unidos e Egito. A Rússia foi o principal local de origem do nitrato de amônio e China
e Bélgica foram os principais de sulfato de amônio.
Figura 14 - Principais locais de origem de fertilizantes nitrogenados em 2018

Fonte: Planalto, 2020

2.4. Tendências e perspectivas


Dentre os próximos passos da indústria nacional de fertilizantes, o foco estará no
aproveitamento das capacidades internas de produção no Brasil, a fim de diminuir a
dependência de importações e insumos estrangeiros e, simultaneamente, investir em pesquisa e
desenvolvimento, de modo a mitigar os danos causados ao meio ambiente e aprimorar algumas
propriedades dos fertilizantes, como nível absorção de nutrientes do solo entre outros. Essas
pretensões, são projetos governamentais de longo prazo que, consta em um documentado no
Plano Nacional de fertilizantes e terá como apoio a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária)

2.4.1. Plano nacional de fertilizantes (PNF) e a diminuição da dependência


Em 11 de março de 2022, o governo brasileiro instituiu um plano para diminuir sua
dependência de importações depois que a invasão russa da Ucrânia causou um gargalo global
na cadeia de suprimentos. O programa, que visa reduzir as importações brasileiras de
fertilizantes dos atuais 85% para 45% até 2050, inclui uma nova política tributária para o setor
e dá apoio a empresas privadas para ampliar a capacidade de produção de fertilizantes. Em
2021, o Brasil importou mais de 41 milhões de toneladas de fertilizantes, um recorde, 21% a
mais que no ano passado.
O plano brasileiro tem 80 metas e 130 ações específicas para aumentar a produção nacional
de fertilizantes. O programa também inclui: (a) incentivos para aumentar o uso de fertilizantes
orgânicos; (b) investimentos financeiros em pesquisa; e (c) visitas a produtores de todo o país
pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para promover o aumento da
eficiência no uso de fertilizantes e insumos no campo. As diretrizes do PNF também abordam
expansão da capacidade instalada de produção e melhorias na infraestrutura e logística
nacionais. O governo diz que só o esforço da Embrapa deve reduzir a demanda do Brasil em
20% na safra 2022/23. Especialistas dizem que alguns solos têm um fertilizante residual da
temporada passada. Se for analisado corretamente, é possível postergar um percentual do
16

componente para a próxima safra, mas com potencial queda de produtividade. O Brasil tem
duas, às vezes três, safras por ano.
A elaboração do plano teve seu início no ano passado e, com a sua instituição, foi criado o
Conselho Nacional de Fertilizantes e Nutrição de Plantas, órgão consultivo e deliberativo que
tem por objetivo coordenar e acompanhar a implementação do Plano Nacional de Fertilizantes.
Além da redução da dependência externa, o PNF ainda apresenta oportunidades em relação
a produtos emergentes como os fertilizantes organominerais e orgânicos (adubos orgânicos
enriquecidos com minerais, por exemplo) e os subprodutos com potencial de uso agrícola, os
bioinsumos e biomoléculas, os remineralizadores (exemplo, pó de rocha), nanomateriais, entre
outros.

2.4.2. Embrapa, Plano de ação e Investimentos


A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) utilizou dos recursos do Fundo
Nacional de Desenvolvimento Tecnológico (FNDCT) para investir nos próximos dois anos R$
23 milhões no desenvolvimento de tecnologias para atender as Rede FertBrasil e PronaSolos.
Além disso, tem uma ação de curtíssimo prazo que deve iniciar na primeira quinzena de abril,
a chamada Caravana Fertbrasil, uma caravana de pesquisadores e técnicos da Embrapa que vão
visitar todas as regiões produtoras do Brasil, orientando os produtores a fazer melhor utilização
dos fertilizantes que têm à sua disposição. O grande objetivo é aumentar a eficiência do uso de
fertilizantes no Brasil.
Espera-se um aumento de eficiência de 60% para até 70% ainda em 2022, o que pode gerar
uma economia da ordem de 1 bilhão de dólares para a agricultura brasileira no uso racional de
fertilizantes. É uma medida de curtíssimo prazo que pode realmente ter um impacto
significativo já na próxima safra de verão, que começa em setembro. Esse é o primeiro pilar,
são dois pilares de ações que a Embrapa vai desenvolver este ano para apoiar a agropecuária
brasileira.
O segundo pilar é o uso de um conjunto de tecnologias que vão reduzir a dependência de
importação de fertilizantes. É um trabalho que já vem sendo feito e vai ser fortalecido. Esse
segundo pilar tem alguns componentes. O primeiro é o uso de biofertilizantes. Em 2019, a
Embrapa colocou no mercado brasileiro um biofertilizante chamado BiomaPhos. São duas
bactérias que descobrimos que, quando você aplica no solo, elas atuam sobre o fósforo que está
no solo e deixa o fósforo mais disponível para a planta. Com isso, o produtor tem que usar
menos fosfato, menos adubo.
17

3 IMPACTOS AMBIENTAIS
De acordo a Lei 12.305, os resíduos industriais são aqueles gerados nos processos
produtivos. Eles variam com cada tipo de indústria e podem ser sólidos, líquidos ou gasosos.
Geralmente, os resíduos líquidos e gasosos são dispersos nos rios e nos esgotos, e pelo ar,
respectivamente. Enquanto, os sólidos são destinados a aterros e lixões, ou amontoados em
depósitos.
A norma ABNT NBR 10004 classifica os resíduos com perigoso (classe 1), ou não
perigosos (classe 2). Além disso, os não perigosos podem ser divididos em Não Inertes (Classe
2 A) e os Inertes (Classe I2 B).
Com o aumento da população nos últimos 50, a demanda por alimentos subiu
proporcionalmente no contexto mundial. Consequentemente, a o setor industrial de fertilizantes
produziu mais resíduos e, também, mais toxinas dispersas pelo meio-ambiente.
Nesse contexto, os resíduos são produzidos desde a mineração da matéria-prima. A
atividade de extração de minérios é uma das atividades que mais geram impactos ambientais.
Na obtenção dos minérios fosfatados, os principais resíduos são: material estéril, magnetita,
rejeitos da unidade de concentração, líquidos provenientes da drenagem oleosa, lama e rejeitos
do processo de flotação dos minérios.
Para a extração, cerca de 30 a 40 metros de espessura de material estéril é retirado. E,
posteriormente, é colocado em pilhas que causam impactos ambientais por meio de efluentes
tóxicos ou radioativos, alterando a paisagem.
Ademais, a água que bombeia no fundo da cava carrega contaminantes provenientes das
rochas ou das operações de lavra, além dos resíduos de vazamentos de veículos e máquinas.
Cerca de 85% da massa alimentada na usina de beneficiamento é lama, rejeitos magnéticos
ou rejeitos de flotação. Os rejeitos são dispostos em bacias de contenção, enquanto os rejeitos
magnéticos são postos em pilhas.
Já na indústria de fertilizantes, o fosfogesso, resultado do processo de obtenção do ácido
fosfórico(P2O5) é produzido em uma razão de 5 para 1 em massa. Ou seja, 1 tonelada de ácido
para 5 toneladas de fosfogesso. Ele é armazenado em pilhas, as quais apresentam as seguintes
características: possuem alto pH, alto teor de fluoretos, sulfatos, e fosfatos totais.
Portanto, o líquido proveniente dessas pilhas é altamente tóxico. Entretanto, esse material
ainda pode ser reaproveitado no setor de construção civil, como matéria prima.
Sobre as emissões atmosféricas, a reação entre a polpa de rocha fosfática ultrafina e o ácido
sulfúrico, em um misturador, gera gases contendo fluoretos, vapor d’água e material
particulado. Além disso, a produção do TSP (superfosfato triplo) e do SSP (superfosfato
simples), geram os mesmos resíduos, os quais podem ser reutilizados em outras etapas do
processo. Dessa forma, o principal problema está relacionado com a emissão de material
particulado. Esse tipo de efluente pode ser tratado com um filtro manga, que separa os gases
das partículas.
Entres os resíduos líquidos, o processo de lavagem de equipamentos, veículos e máquinas
é o principal responsável pela contaminação da água. Nesse sentido, ela se mistura com ureia,
nitratos, sulfato de amônio, e micronutrientes; assim como efluentes gerados no laboratório de
qualidade.
18

Tabela 2 - Principais resíduos por segmento de fertilizante

Fonte: Repositório UFU, 2017

Outras implicações ambientais dos fertilizantes são a bioacumulação e a eutrofização. Esta


caracterizada pelo aumento de nutrientes nos rios e lagos, decorrentes do aumento de nitrogênio
e fósforo na água, causa o surgimento excessivo de organismos como algas e cianobactérias.
Um ambiente eutrofizado acaba adquirindo uma coloração turva e a quantidade de oxigênio
diminui, o que causa a morte de várias espécies.
Com o surgimento dessas algas, a luz solar não penetra na superfície das águas, o que diminui
a oxigenação, e consequentemente, impede a vida de animais e plantas aquáticas.
Posteriormente, é possível tratar esse problema, mas é um processo caro e a longo prazo.
Figura 15 - Processo de eutrofização

Fonte: Biologia NET, 2020


19

Bioacumulação se trata do processo pelo qual substâncias (ou compostos químicos) são
absorvidas pelos organismos. Nesse sentido, os elementos tóxicos despejados no meio
ambiente, como resíduos industriais, ou pela utilização dos fertilizantes, são acumulados ao
longo da cadeia alimentar. Esse processo é denominado biomagnificação, uma vez que a
alimentação ao longo da vida de um ser vivo, aumenta a concentração do material tóxico no
topo das cadeias alimentares. Assim, esse impacto ambiental afeta diretamente a sociedade,
uma vez que os seres humanos podem consumir diariamente animais ou plantas repletas de
material tóxico. Segue um exemplo desenvolvido por figura retirada do livro “Living in the
environment” (Scott Spoolman and G. Miller, 2011)
Figura 16 - Processo de Bioacumulação

Fonte: Living in the environment, 2011

Em relação aos aspectos energéticos, a média mundial de gasto de energia com a indústria
de fertilizantes está em 1,2%. Todavia,o Brasil gasta cerca de 2%, quase o dobro da média
mundial.
Além disso, o processo de síntese da amônia é responsável por gastar 92,5% da energia de
toda a indústria. Isso demonstra a alta quantidade de calor necessário para produzir a amônia,
além do alto montante dessa substância.
Embora esse setor industrial não seja relativamente o que mais gasta energia, ele é bastante
expressivo. Nessa perspectiva, os domicílios no Brasil são responsáveis por cerca de 10% do
gasto energético no país. Considerando que existem 70 milhões de habitações nacionais, é
possível afirmar que o setor de fertilizantes consome o equivalente a, pelo menos, 8 milhões de
domicílios em média (considerando a média mundial, que está abaixo do gasto do setor no
Brasil).
20

4 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA
A complexidade do processo de produção de fertilizantes NPK se dá principalmente devido
à quantidade de processos ocorrendo simultaneamente, bem como a interdependência destes -
produtos oriundos de um processo são utilizados como reagentes em outros. O fluxograma geral
é organizado de uma forma parecida com a figura abaixo:
Figura 17 - Fluxograma geral do processo de produção de fertilizantes

Fonte: DIAS et al., 2006

Para explicar os processos mais detalhadamente, esse fluxograma será dividido em


quatro setores, sendo eles: produção de produtos nitrogenados, sulfúricos, fosfatados e
potássicos. Os produtos de cada um desses setores serão utilizados na mistura final.
21

4.1 Processo para produtos nitrogenados

Os fertilizantes nitrogenados são os mais utilizados em todo o mundo, com mais de 100
milhões de toneladas usadas anualmente (TRAGE, 2019). Alguns dos exemplos de fertilizantes
nitrogenados utilizados na produção agrícola são a uréia, a amônia em solução aquosa, o nitrato
de amônio, o sulfato de amônio e o nitrocálcio (VITOSH, 1983).
O fluxograma abaixo ilustra a produção de alguns desses compostos:
Figura 18 - Fluxograma de produção de fertilizantes nitrogenados - ureia e nitrocálcio

Fonte: DIAS et al., 2006 (adaptado).

O processo de produção dos fertilizantes nitrogenados utiliza como principal matéria prima
o gás natural, obtido através da destilação do petróleo em uma refinaria. Este gás natural é então
combinado com o ar atmosférico, fontes de hidrogênio e nitrogênio respectivamente, para a
realização de uma síntese de Haber-Bosch (N + 3H → 2NH ), gerando como produto a amônia.
2 2 3

Por fim, a amônia é utilizada em dois processos: reação com gás carbônico em pressão e
temperatura altas para síntese de ureia; e reação com ácido nítrico para produção de nitrato de
amônio e nitrocálcio.

4.2 Processo para produtos sulfúricos


Os produtos sulfúricos são usados em especial como reagentes ou catalisadores para a síntese
de outros fertilizantes nitrogenados e fosfatados, como o sulfato de amônio e o superfosfato
simples.O fluxograma abaixo mostra a síntese de alguns compostos sulfúricos úteis para a
produção dos fertilizantes NPK:
Figura 19 - Fluxograma de produção de compostos sulfúricos

Fonte: DIAS et al., 2006 (adaptado).


22

O processo usa como matéria prima a pirita, um dissulfeto de ferro mineral extraído por meio
do processo de extração Frasch: bombeia-se uma quantidade de água superaquecida até o
subsolo, fazendo com que o enxofre presente na pirita derreta; o enxofre então é obtido na forma
de dióxido de enxofre (SO ) (NEHB et al., 2006).
2

Esse dióxido de enxofre é reagido com água para a síntese de ácido sulfúrico, que será usado
como reagente em vários processos, com destaque para sua reação com a amônia, gerando como
produto o fertilizante sulfato de amônio.

4.3 Processo para produtos fosfatados


Os fertilizantes fosfatados são também importantíssimos na produção agrícola, e são
consumidas cerca de 50 milhões de toneladas por ano (TRAGE, 2019). Há diversos tipos de
fertilizantes de composição baseada em fosfato, com destaque para os superfosfatos simples e
triplo, as rochas fosfáticas aciduladas, os fosfatos monoamônico (MAP) e diamônico (DAP) e
os polifosfatos (VITOSH, 1983).
O fluxograma abaixo traz o processo de produção de alguns desses compostos:
Figura 20 - Processo de produção de fertilizantes fosfatados

Fonte: DIAS et al., 2006.

A matéria prima principal é uma rocha fosfática, que é extraída mineralmente, tratada para
remoção de impurezas e moída. Essa rocha tratada é então usada para a síntese do ácido
fosfórico, e esses dois compostos, juntamente ao ácido sulfúrico, agem como reagentes para a
produção dos fertilizantes fosfatados: termofosfato, superfosfatos simples e triplo, fosfato
monoamônico (MAP) e diamônico (DAP) e a rocha parcialmente acidulada.

4.4 Processo para produtos fosfatados


Os fertilizantes de composição potássica são amplamente utilizados no Brasil, e possuem
importância no cenário mundial, sendo utilizados a uma taxa de aproximadamente 40 milhões
de toneladas por ano (TRAGE, 2019). Alguns fertilizantes de natureza potássica são: o cloreto
de potássio, o sulfato de potássio, o sulfato de potássio-magnésio, o hidróxido de potássio e o
nitrato de potássio (VITOSH, 1983).
O fluxograma abaixo apresenta o processo de obtenção do cloreto de potássio:
23

Figura 21 - Processo de obtenção do cloreto de potássio

Fonte: DIAS et al., 2006.

4.5 Etapa de granulação e mistura


Por fim, todas as substâncias fertilizantes são misturadas e passam por um processo de
granulação, visando atingir a textura adequada. Após este processo, o fertilizante NPK está
pronto para distribuição, comercialização e uso.
Figura 22 - Etapa de granulação

Fonte: DIAS et al., 2006.

4.6 Regulamentação
O processo de produção e comercialização de fertilizantes no Brasil é regulamentado pelo
Decreto nº 50.146/61, assinado pelo então presidente Juscelino Kubitschek em 27 de janeiro de
1961.
O decreto estabelece que todo fertilizante produzido ou comercializado no Brasil deve estar
devidamente registrado em órgão federal competente, e que este registro deve detalhar sua
origem e composição. Neste registro da composição, é obrigatório a especificação do teor de
N, P2O5 solúvel em água ou em ácido cítrico 2%, K2O solúvel em água e CaO + MgO solúveis
em HCl. Além disso, essa regulamentação estabelece que os teores de N, P2O5 e K2O podem
variar apenas dentro de 1% do valor esperado. Por fim, é expressamente proibido o uso de
substâncias sem utilidade fertilizante ou técnica, as chamadas “cargas”, e de fontes de
nitrogênio não tratadas, como pelos de animais, resíduos de curtume ou lã (SENADO
FEDERAL, 1961).
24

5 CONCLUSÃO
A partir das informações pesquisadas ao longo do trabalho conclui-se que a indústria
fertilizante é uma indústria com grande importância atualmente. No Brasil, a indústria química
no geral tem aumentado o número de importações ano a ano, de forma que o déficit comercial
no setor atingiu valores elevados, o que aumenta a vulnerabilidade externa do país.
O setor de fertilizantes é o segmento que representa um terço do déficit citado, e o fertilizante
cloreto de potássio é o item que possui 90% de dependência externa. O agronegócio também é
afetado por esse setor, uma vez que o aumento na produção de grãos (maior produção brasileira
que representa 23% do PIB), aumenta a necessidade de um aumento na produtividade da terra,
que pode ser obtida por meio de fertilizantes. Sendo, portanto, um segmento de enorme valor
estratégico.
Por fim, é importante ressaltar a correlação desse setor com o contexto atual de guerra na
Ucrânia. Existem diversos projetos planejados para reduzir a dependência externa brasileira,
todavia, aquela com maior perspectiva é a do pré-sal pois poderão elevar a disponibilidade de
gás natural, utilizado como matéria prima para a fabricação dos nitrogenados. Podemos
perceber que no cenário de guerra, que afetou drasticamente a exportação de gás natural, essa
alternativa se torna ainda mais necessária.
25

6 BIBLIOGRAFIA
 DIAS, V. P.; FERNANDES, E. A indústria química e o setor de fertilizantes, 2006.
BNDES Setorial, 2006. Disponível em:
https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/bitstream/1408/2025/1/A%20ind%C3%BAstria%2
0qu%C3%ADmica%20e%20o%20setor%20de%20fertilizantes_P_A.pdf. Acesso em:
28 jun. 2022.

 Decreto Nº 50.146, de 27 de Janeiro de 1961. Senado Federal, 1961. Disponível em:


https://legis.senado.leg.br/norma/472729/publicacao/15702578. Acesso em: 28 jun.
2022.

 MORAES, Michelle. O que são Fertilizantes? Saiba a Importância para a Agricultura.


AGROPÓS, 2020. Disponível em:https://agropos.com.br/o-que-sao-
fertilizantes/#:~:text=O%20uso%20de%20fertilizantes%20%C3%A9,para%20sustent
abilidade%20econ%C3%B4mica%20e%20ambiental. Acesso em: 28 jun. 2022.

 Fertilizer Market revenue to cross USD 240 billion by 2030, says Global Market
Insights Inc. GlobeNewswire, 2022. Disponível
em: https://www.globenewswire.com/en/news-
release/2022/05/18/2445865/0/en/Fertilizer-Market-revenue-to-cross-USD-240-
billion-by-2030-says-Global-Market-Insights-Inc.html. Acesso em: 28 jun. 2022.

 PULIDINDI, K.; PRAKASH, A. Fertilizer Market. GMinsights, 2022. Disponível em:


https://www.gminsights.com/industry-analysis/fertilizer-market. Acesso em: 28 jun.
2022.

 Yara Fertilizer Industry Handbook. Yara, 2018. Disponível em:


https://www.yara.com/siteassets/investors/057-reports-and-
presentations/other/2018/fertilizer-industry-handbook-2018-with-notes.pdf/. Acesso
em: 28 jun. 2022.

 VOLOTÃO, R. A.; ALMEIDA, J. P. Produção Nacional De Fertilizantes. GOV, 2020.


Disponível em: https://www.gov.br/planalto/pt-br/assuntos/assuntos-
estrategicos/documentos/estudos-estrategicos/sae_publicacao_fertilizantes_v10.pdf.
Acesso em: 28 jun. 2022.

 CHANG K. M. Gestão Ambiental Na Indústria De Fertilizantes: Diagnóstico Inicial


Dos Resíduos. Repositório UFU, 2017. Disponível em:
https://repositorio.ufu.br/bitstream/123456789/20597/5/Gestaoambientalna.pdf.
Acesso em: 28 jun. 2022.

 Russia-Ukraine Crisis Ignites Fertilizer Prices at Critical Time for World Crops. Gro
Intelligence, 2022. Disponível em: https://gro-intelligence.com/insights/russia-ukraine-
crisis-ignites-fertilizer-prices-at-critical-time-for-world-crops. Acesso em: 28 jun.
2022.

 Fertilizers. OEC, 2020. Disponível em: https://oec.world/en/profile/hs/fertilizers.


Acesso em: 28 jun. 2022.

 SOUZA, N. 21 maiores fábricas de fertilizantes do Brasil. Só Hélices, 2022. Disponível


em: http://sohelices.com.br/21-maiores-fabricas-de-fertilizantes-do-
26

brasil/#:~:text=As%20quatro%20maiores%20f%C3%A1bricas%20de,segundo%20lug
ar%20com%20quase%2020%25. Acesso em: 28 jun. 2022.

 Entrega de fertilizantes bate recorde no Brasil em 2021, diz Anda. Canal Rural, 2022.
Disponível em: https://www.canalrural.com.br/noticias/agricultura/entrega-de-
fertilizantes-bate-recorde-no-brasil/. Acesso em: 28 jun. 2022.

 NAKAGAWA, F. Preço de fertilizantes sobe até 5,8% no Brasil em uma semana com
guerra na Ucrânia. CNN Brasil, 2022. Disponível em:
https://www.cnnbrasil.com.br/business/preco-de-fertilizantes-sobe-ate-58-no-brasil-
em-uma- semana-com-guerra-na-
ucrania/#:~:text=Os%20fertilizantes%20derivados%20de%20cloreto,para%20US%24
%20971%20a%20tonelada. Acesso em: 28 jun. 2022.

 Preço do fertilizante cloreto de potássio atinge maior patamar desde janeiro de 2008 e
preocupa o produtor rural. CNA Brasil, 2022. Disponível em:
https://cnabrasil.org.br/publicacoes/preco-do-fertilizante-cloreto-de-potassio- atinge-
maior-patamar-desde-janeiro-de-2008-e-preocupa-o-produtor-
rural#:~:text=Dados%20do%20projeto%20Campo%20Futuro,em%20rela%C3%A7%
C3%A3o%20%C3%A0%20de%20mar%C3%A7o. Acesso em: 28 jun. 2022.

 SEVERO, K. Plano Nacional de Fertilizantes ficará para dezembro. Jovem Pan, 2021.
Disponível em: https://jovempan.com.br/opiniao-jovem-pan/comentaristas/kellen-
severo/plano-nacional-de-fertilizantes-ficara-para-dezembro.html. Acesso em: 28 jun.
2022.

 Fertilizer Market. RESEARCHDIVE, 2022. Disponível em:


https://www.researchdive.com/6194/fertilizer-market. Acesso em: 28 jun. 2022.

 SEVERO, K. Fertilizantes: conheça as tendências para 2022. Jovem Pan, 2021.


Disponível em: https://jovempan.com.br/programas/hora-h-do-agro/fertilizantes-
conheca-as-tendencias-para-2022.html. Acesso em: 28 jun. 2022.

 Embrapa recebe 23 milhões para investir em pesquisas para Rede FertBrasil e


PronaSolos. Embrapa, 2022. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-
noticias/-/noticia/69298011/embrapa-recebe-23-milhoes-para- investir-em-pesquisas-
para-rede-fertbrasil-e-pronasolos. Acesso em: 28 jun. 2022.

Você também pode gostar