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025
NTEGRAÇÃO DE FONTES RENOVÁVEI
SE
DE RECURSOS DE ARMAZENAMENTO NO
SISTEMA ELÉTRI CO BRASI LEIRO –
DESAFIOSEOPORTUNI DADES
OUTUBRO 2019
COMITÊ NACIONAL BRASILEIRO DE PRODUÇÃO E TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA
Outubro de 2019
1
SUMÁRIO
2
1. CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA INTERLIGADO NACIONAL
O Sistema Interligado Nacional (SIN) é um sistema hidro-termo-eólico de grande porte e de dimensões
continentais, com predominância de usinas hidroelétricas e com múltiplos proprietários e grandes usinas
distantes dos centros de carga, que são interligados por longas linhas de transmissão. Ao final de 2018, o SIN
tinha uma capacidade instalada de geração de mais de 161 GW e mais de 141.000 km de linhas de transmissão
em tensão igual ou superior a 230 kV. Essas características tornam o SIN um sistema quase ímpar no mundo,
de tal forma que o seu planejamento e a sua operação se revestem de grande complexidade, o que requer
estratégias, diretrizes e procedimentos com essa finalidade. Esse arcabouço referente ao planejamento e à
operação faz parte das atribuições, reponsabilidades e conceitos que são praticados, respectivamente, pala
Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). A Figura 1
apresenta a rede de transmissão do SIN, com destaque para as quatro regiões eletro-geográficas: Sul,
Sudeste/Centro-Oeste, Nordeste e Norte.
Nordeste
Norte
Sudeste /
Centro-Oeste
Sul
O Sistema Interligado Nacional é constituído por quatro subsistemas: Sul, Sudeste/Centro-Oeste, Nordeste e
Norte. A interconexão dos sistemas elétricos, por meio da malha de transmissão, propicia a transferência de
energia entre subsistemas, permite a obtenção de ganhos sinérgicos e explora a diversidade entre os regimes
hidrológicos das bacias. A integração dos recursos de geração e transmissão permite o atendimento ao
mercado com segurança e economicidade. A Figura 2 apresenta os grandes centros de geração interligados
por longas linhas de transmissão.
3
Nordeste
Norte
Sudeste /
Centro-Oeste
Sul
A capacidade instalada de geração do SIN é composta, principalmente, por usinas hidrelétricas distribuídas
em dezesseis bacias hidrográficas nas diferentes regiões do país. Nos últimos anos, a instalação de usinas
eólicas, principalmente, nas regiões Nordeste e Sul, apresentou um forte crescimento, aumentando a
importância dessa geração para o atendimento do mercado. As usinas térmicas, em geral, localizadas nas
proximidades dos principais centros de carga, desempenham papel estratégico relevante, pois contribuem
para a segurança do SIN. Essas usinas são despachadas em função das condições hidrológicas vigentes,
permitindo a gestão dos estoques de água armazenada nos reservatórios das usinas hidrelétricas, para
assegurar o atendimento futuro. Os sistemas de transmissão integram as diferentes fontes de produção de
energia e possibilitam o suprimento do mercado consumidor.
O Brasil se tornou um líder no mercado de energia eólica na América do Sul, atingindo um total de mais de
14 GW, em 2018. Em 2023, a capacidade instalada de eólica passará de 17 GW, representando um crescimento
de 20,2% no período (ONS, 2018). A Tabela 1 apresenta o percentual de participação de cada fonte de geração
na matriz energética brasileira em 2018, 2023 e o respectivo crescimento no período.
4
Tabela 1 – Evolução da Matriz de Energia Elétrica por Fonte
Fonte: PEN 2019-2023 (ONS, 2018); * 86% de Energia Renovável; (1) demais fontes
• 86% da matriz de energia elétrica brasileira são de fontes renováveis, com ênfase para as hidrelétricas, o
que torna o Brasil como a 2ª maior matriz renovável e modelo de energia renovável em nível mundial.
• Verifica-se um aumento considerável das fontes renováveis não convencionais, em especial a energia
eólica, atingindo 9% em 2018 da capacidade total de geração instalada no Brasil. A energia eólica deverá
atingir 10% desta matriz em 2023, com mais de 17.000 MW, dos quais 83% estão na região Nordeste do
Brasil.
• A energia solar fotovoltaica começa a despontar com previsão de atingir 2% desta matriz em 2023 com
mais de 3.000 MW de geração centralizada.
Em contraste com a matriz elétrica mundial, onde os recursos fósseis representam em torno de 70% da
geração de energia elétrica, a oferta brasileira de eletricidade advém, essencialmente, da hidroeletricidade.
Esta predominância de recursos renováveis baseada em fontes hídricas permite que a energia elétrica brasileira
tenha, simultaneamente, custos competitivos e sustentabilidade ambiental numa situação ímpar em termos
mundiais.
Conforme apresentado acima, o Brasil tem uma matriz verde. Em 2018, com 83% de sua geração de energia
oriunda de fontes renováveis, sendo a maior parcela de geração hidráulica 74% e 9% eólica, biomassa e solar
fotovoltaica. Segundo a Dra. Angelina Galiteva, Presidente do Conselho Mundial de Energia Renovável, o Brasil
é visto como modelo em energia renovável, afirmando em visita que fez ao Brasil em 2016: “O Brasil deve
sentir orgulho. É um garoto-propaganda”. A Figura 3 apresenta a capacidade instalada e geração no Brasil por
fonte, em 2018.
5
Figura 3 – Capacidade Instalada e Geração no Brasil em 2018
Fonte: PEN 2019-2023 (ONS); dados oriundos do ONS, disponível em
http://www.ons.org.br/historico/geracao_energia.aspx
As novas hidrelétricas serão majoritariamente do tipo a fio d’água (sem reservatório), localizadas distantes
dos grandes centros de carga, exigindo extensos sistemas de transmissão para o transporte de grandes
blocos de energia no período chuvoso e pequenos montantes nos períodos secos. Essas novas
hidroelétricas com grande capacidade de produção no período chuvoso, sem reservatório de acumulação,
e baixa produção no período seco, propiciam uma acentuada sazonalidade da oferta.
As demandas ambientais têm provocado restrições para construção e operação de usinas hidráulicas,
impactando fortemente nas características das novas fontes de geração hidráulica. Tendo em vista que
não estão sendo mais implantados reservatórios de acumulação, a capacidade total dos reservatórios está
sendo mantida, enquanto a carga cresce em média 3% ao ano. Desta forma, a energia armazenada nos
reservatórios em relação a carga total tem se reduzido a cada ano.
6
Figura 4 – Capacidade de Regularização dos Reservatórios das Usinas Hidráulicas
Fonte: Plano Decenal de Energia 2019 (EPE)
A queda de regularização das usinas hidráulicas devido às restrições ambientais causa as seguintes
consequências principais: maior dependência do período úmido das bacias do SIN; necessidade de
enchimento e esvaziamento dos principais reservatórios com periodicidade anual; redução da capacidade
do SIN de armazenar a geração das fontes intermitentes; uso mais intenso de geração térmica para a
garantia do suprimento energético e para o atendimento à ponta, com o consequente aumento dos custos
de operação; e, como consequência natural, aumento dos custos de expansão.
Esta queda da regularização do SIN aliada a redução das afluências aos reservatórios da região
Sudeste/Centro-Oeste e sobretudo da região Nordeste tem provocado um grande impacto no
replecionamento desses reservatórios que não foram reenchidos nos últimos anos. A Figura 5 e a Figura
6 apresentam a energia armazenada nas regiões Sudeste/Centro-Oeste e Nordeste, respectivamente.
Destaca-se a ocorrência em 2001 de um racionamento de energia nessas regiões, de junho/2001 até
fevereiro/2002, provocado por condições hidrológicas desfavoráveis nas bacias hidrográficas dessas
regiões.
100
87,2
87,8
90 82,8 84,0 83,0 81,9 88,2
82,3
77,7 80,1
80
70,9
70
62,7
67,6
58,4
60
59,7 58,9
%EARmáx
57,6
50
42,7
48,5 41,9
37,5
44,7 33,8
40 44,5 41,4
39,9 37,7 41,9
30 25,9
28,8
28,4 33,8
20
21,4 20,3
18,1
15,1
10
0
jan-01
jan-06
jan-11
jan-16
jul-03
mar-05
jul-08
mar-10
jul-13
mar-15
jul-18
fev-03
fev-08
fev-13
fev-18
out-04
out-09
out-14
nov-01
nov-06
nov-11
nov-16
mai-04
mai-09
mai-14
set-02
dez-03
set-07
dez-08
set-12
dez-13
set-17
dez-18
ago-05
ago-10
ago-15
abr-02
abr-07
abr-12
abr-17
jun-01
jun-06
jun-11
jun-16
7
100 96,7 97,3 99,2 96,0 99,1
90,1
90
85,2
81,2
76,7
80
70 66,2
60
60,8
51,5
%EARmáx
54,8 49,4
50 53,5
51,6
42,1 42,1
48,6 39,8
40
34,0
36,4 38,7
30 26,6
29,7
27,4 21,5
25,7
20
22,1
16,4
10 13,5 12,4
9,1
7,4 4,8 4,8
0
jan-01
jan-06
jan-11
jan-16
jul-03
mar-05
jul-08
mar-10
jul-13
mar-15
jul-18
fev-03
fev-08
fev-13
fev-18
out-04
out-09
out-14
nov-01
nov-06
nov-11
nov-16
mai-04
mai-09
mai-14
set-02
dez-03
set-07
dez-08
set-12
dez-13
set-17
dez-18
ago-05
ago-10
ago-15
abr-02
abr-07
abr-12
abr-17
jun-01
jun-06
jun-11
jun-16
Figura 6 – Energia Armazenada - Nordeste - 2001/2018
Fonte: Elaborado com dados ONS, disponíveis em: http://www.ons.org.br/Paginas/resultados-da-
operacao/historico-da-operacao/energia_armazenada.aspx
Em 2019, 18.000 MW de grandes usinas hidroelétricas (UHE) a fio d’água estarão em operação, 7.000
MW no rio Madeira (Jirau + Santo Antônio) e 11.000 MW no rio Xingu (Belo Monte). O pico de geração
durante o período úmido atingirá a capacidade total instalada e no período seco decrescerá a menos de
2.000 MW. Esta larga faixa (18.000 a 2.000 MW) é uma consequência natural das usinas a fio d’água cuja
geração real depende apenas da afluência às usinas.
Além dos 18.000 MW de grandes UHE a fio d’água, estarão em operação 15.000 MW de geração eólica
dos quais 12.000 MW na região Nordeste. Neste contexto, haverá grande dificuldade para alocar a geração
plena das usinas a fio d’água na curva de carga diária e armazenar esta geração nos reservatórios
existentes em outras regiões durante o período úmido das bacias que ocorre de dezembro a abril nas
regiões Norte, Nordeste e Sudeste/Centro-Oeste.
Conforme ressalta Oliveira (2011), assim como as hidrelétricas, a geração eólica necessita de reservatórios
que armazenem energia para garantir a confiabilidade do suprimento elétrico nos períodos em que os ventos
diminuem de intensidade. Os reservatórios hidrelétricos têm cumprido esse papel, aproveitando a relativa
complementariedade entre os fluxos de energia hidráulica e de ventos.
Haverá, portanto, uma alta probabilidade de perda real da geração das grandes usinas hidráulicas sem
reservatório mais a geração intermitente durante o período úmido, tendo em vista que será muito difícil
acomodar de forma plena a geração dessas usinas hidráulicas e a geração das fontes intermitentes.
Em relação aos impactos econômicos da geração a fio d’água, destaca-se o aumento da geração térmica
que será necessária para compensar a perda da geração das grandes usinas hidráulicas sem reservatório
mais a geração intermitente, conforme explicitado acima, com o consequente aumento dos custos
operacionais e também das emissões de CO2 com impacto direto no meio ambiente. Os custos totais
desse impacto dependem da geração das hidráulicas sem reservatório e da geração das fontes
8
intermitentes, que não será possível armazenar, mais a geração térmica adicional requerida, que podem
ser explicitados pela fórmula abaixo:
• Energia limpa e inesgotável – após a sua instalação, a energia eólica não produz qualquer tipo de emissões
e não se esgota ao longo do tempo;
• Tecnologia modular e escalonável – as aplicações eólicas podem tomar diversas formas, incluindo grandes
centrais, produção distribuída e sistemas para uso final;
• Estabilidade do preço da energia – ao colaborar na diversificação do mix energético, a energia eólica reduz
relativamente a dependência aos combustíveis convencionais, reduzindo a volatilidade dos preços de oferta
de energia em mercado;
• Desenvolvimento econômico local – os parques eólicos podem fornecer um fluxo financeiro estável para os
investidores nestas centrais e também para os proprietários locais que alugam os seus terrenos para a
implementação das turbinas eólicas que, consequentemente, também aumentam as receitas fiscais das
propriedades para as comunidades locais, promovendo a geração de emprego e renda;
Apesar dos inúmeros benefícios inerentes ao seu aproveitamento, a energia eólica apresenta alguns desafios
no que diz respeito a sua integração à rede elétrica. O principal desafio advém do fato de ser uma fonte não
despachável e fortemente variável no tempo, que apresenta uma reduzida garantia de potência e reduzida
previsibilidade que pode, em alguns casos, acarretar problemas de regulação de tensão. Essas características
e a constante necessidade que um sistema elétrico tem de, a cada instante, igualar a produção ao consumo
trazem novos desafios aos Operadores do Sistema de Transmissão (Transmission System Operators - TSOs),
pois para lidar com a variabilidade e incerteza da produção desta fonte de energia estocástica, fez-se
necessário aumentar significativamente os níveis determinísticos de alocação das reservas operacionais
(COUTO et al., 2015).
9
3.2. Evolução da Capacidade Instalada
Desde 2013, o Brasil integra a lista dos 10 países com maior capacidade eólica instalada no mundo (GWEC,
2013). Em 2018, o Brasil ficou na 7ª posição no ranking de países com maior capacidade eólica instalada.
A Figura 7 apresenta a evolução da capacidade instalada de geração eólica no Brasil, que atingiu mais de
14.000 MW, em 2018, e chegará a mais de 17.000, em 2023.
O Atlas do Potencial Eólico Brasileiro foi lançado pelo Ministério de Minas e Energia em 2001, indicando um
potencial nacional de 143 GW, com metade dele concentrado nos estados do Nordeste. Porém, este foi
avaliado para uma altura média de 50 metros, estado-da-arte naquele ano. Contudo, hoje a altura média é de
100 metros, o que aumenta consideravelmente a velocidade dos ventos e pode elevar o potencial do Brasil
para cerca de 300 GW. Diversos estados do Brasil já elaboraram o inventário de seu potencial eólico, a exemplo
dos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do
Norte, Pernambuco e Rio Grande do Sul.
1
realizado com o apoio da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), Ministério de Ciência e Tecnologia
(MCT) e Centro Brasileiro de Energia Eólica (CBEE) da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE.
10
Figura 8 - Velocidade Média Anual do Vento a 50 m de Altura
Fonte: FEITOSA, 2003
Em relação à localização geográfica dos parques eólicos existentes e futuros, a maioria das usinas eólicas está
localizada na Região Nordeste, que apresenta o maior potencial eólico, distribuídas no litoral dos estados do
Rio Grande do Norte e Ceará, sudoeste da Bahia, interior do Piauí, Pernambuco e Ceará. Na Região Sul, as
usinas eólicas estão localizadas na região litorânea e interior do estado do Rio Grande do Sul e interior de
Santa Catarina. A Tabela 2 apresenta a capacidade eólica instalada por subsistema das usinas supervisionadas
e não supervisionadas pelo ONS.
O Nordeste concentra 87% da capacidade eólica instalada no Brasil e a Região Sul 13%. A Figura 9 apresenta
a localização geográfica das usinas eólicas, onde é possível ver claramente as centrais localizadas no interior
(Bahia, Piauí, Pernambuco e Ceará) e no litoral (Ceará e Rio Grande do Norte) da região Nordeste. Os estados
do Rio Grande do Norte e Bahia concentram o maior número de usinas e juntos possuem 66% da capacidade
11
eólica instalada do Nordeste. A Figura 8 apresenta a evolução da capacidade eólica instalada por
subsistema.
Nordeste Sul
Figura 9 – Localização dos Parques Eólicos nas Regiões Nordeste e Sul do Brasil
Fonte: Google Earth, 2017
12
das turbinas eólicas é de 3m/s a 25m/s, conforme curva padrão de potência de uma turbina eólica
apresentada na Figura 11.
O Brasil possui o maior fator de capacidade 2 da geração eólica do mundo. Em 2015, o país registrou o primeiro
lugar no ranking mundial em fator de capacidade de geração eólica, com 38%. Em 2016, este valor aumentou
para 42%. A geração eólica do SIN dos últimos 3 anos em periodicidade mensal e fator de capacidade médio
a cada mês é apresentada na Figura 12. O fator de capacidade mensal para o período de 2016 a 2018 é
apresentado na Figura 13.
Devido à sazonalidade mensal dos ventos, o fator de capacidade é mais elevado no segundo semestre, cujos
valores situam-se em torno de 50%. No primeiro semestre, o fator de capacidade médio fica em torno de
30%, conforme apresentado na Figura 13.
2
o fator de capacidade é calculado como a relação entre a geração média mensal e a capacidade instalada a
cada mês.
13
Figura 13 - Fator de Capacidade Médio Mensal da Geração Eólica do SIN - 2016/2018
Fonte: ONS, 2018
De acordo com a Figura 13, observa-se uma maior variabilidade do fator de capacidade no período de março
a junho. Ressalta-se que, no primeiro semestre, o Nordeste está sob atuação de sistemas meteorológicos que
provocam precipitação no litoral Norte e Leste do Nordeste. A Tabela 3 apresentada a capacidade instalada
por estado, com indicação da geração e fator de capacidade verificado.
Tabela 3 - Capacidade de Eólica Instalada por Estado, Geração e Fator de Capacidade Verificado
em Agosto/2019
O Brasil tem o maior fator de capacidade de geração eólica no mundo, conforme dados apresentados na
Tabela 4. Isto é uma consequência das características dos ventos nos seus sites principais que apresentam
uma variabilidade regular, particularmente na região Nordeste, que isoladamente tem um fator de
capacidade de 45%.
14
Tabela 4 – Fatores de Capacidade de Geração Eólica no Mundo
Fator de Fator de
País País
Capacidade Capacidade
Japão
Brasil 42 % 25 %
Romênia
Espanha
Turquia 37 % 24 %
Holanda
México 35 % Itália 22 %
USA
33 % França 21 %
Austrália
Portugal
Dinamarca 29 % China 20 %
Inglaterra
Suécia Alemanha
27 % 19 %
Canadá Índia
Polônia 26 % - -
Fonte: Ministério de Minas e Energia, 2016
Para bem caracterizar de forma ampla o fator de capacidade da geração eólica nas regiões Nordeste e
Sul, apresenta-se na Figura 14 as curvas de frequência dos valores médios horários para o período de
01/2018 a 06/2019. Na região Sul o fator de capacidade máximo no período foi de 59%, enquanto no
Nordeste, o fator de capacidade máximo foi de 89%, ou seja, 30% superior ao máximo verificado no Sul.
Ressalta-se que, 20% dos dados do Nordeste apresentam um fator de capacidade superior a 59%. Além
disso, na região Nordeste 50% dos dados apresentam um fator de capacidade superior a 39%. É
importante salientar que esses valores não são fixos, pois dependem do histórico verificado da geração
eólica produzida.
No dia 06 de setembro de 2019 ocorreu novo recorde de geração eólica na região Nordeste. A geração
eólica média diária foi de 8.721 MWmed com um fator de capacidade de 73,8%, suprindo 87% da carga
15
dessa região; geração máxima diária de 9.488 MW às 21h07, com um fator de capacidade de 81%,
suprindo 90% da carga dessa região neste instante. O Nordeste foi exportador de energia durante todo
dia, em decorrência do alto desempenho da geração eólica, conforme pode ser visto na Figura 15, com
uma potência instalada de 11.782 MW.
No dia 18 de novembro de 2018, de 08:00 às 10:00 horas a geração eólica supriu a carga total da região
Nordeste com um fator de capacidade de 86% e uma capacidade instalada de 10.326 MW, conforme pode
ser visto nas Figuras 16 e 17.
13000
12000
11000
10000
9000
8000
7000
6000
5000
4000
3000
2000
1000
0
0:00
2:00
4:00
6:00
8:00
10:00
12:00
14:00
16:00
18:00
20:00
22:00
16
% Eólica na demanda NE e Fator de Capacidade (%)
120%
100%
80%
60%
40%
20%
0%
0:00
2:00
4:00
6:00
8:00
10:00
12:00
14:00
16:00
18:00
20:00
22:00
Figura 17 – Atendimento por Fonte do Requisito de Carga da Região Nordeste no Dia
18/11/2018
Fonte: Boletim Diário da Operação COSR-NE, publicado em 19/11/2018
O sistema regional do Nordeste está fortemente conectado às demais regiões, dessa forma não há
problema nenhum com o elevado nível de penetração eólica na região Nordeste neste dia. O ponto chave
é que este sistema deve ter um nível mínimo de inércia das demais fontes de geração para se manter
integro em caso de perda das interligações com as demais regiões. Este nível mínimo de inércia é
calculado através de estudos de desempenho de estabilidade transitória e dinâmica para cada condição
de operação do sistema elétrico.
Em relação ao período de baixo desempenho, são apresentados a seguir alguns exemplos marcantes.
No dia 18 de março de 2019 a geração eólica foi extremamente baixa ao longo do dia, chegando a ser
inferior a geração solar. Destaque-se que a geração solar com uma potência instalada de 1.168 MW
superou a geração eólica com 11.320 MW instalados na região Nordeste, ou seja GEOL = 9,7 x GSOL. A
Figuras 18 ilustra o atendimento do requisito Nordeste por fonte de geração e a Figura 19 apresenta a
geração eólica e solar.
Em fevereiro de 2019, ocorreu uma calmaria nos ventos da região Nordeste, de tal forma que em vários
dias a geração solar foi superior à geração eólica, conforme pode ser visto na Figura 20. Ressalta-se que
a capacidade solar instalada era quase dez vezes inferior a capacidade eólica instalada – GSOL (1.168
MW) e GEOL (11.320 MW).
9.000
Geração Eólica
8.000
Geração Solar 7.121 MW
7.000
6.000
3.000 2.223 MW
2.000
1.000
0
01/02/2019 01
01/02/2019 13
02/02/2019 01
02/02/2019 13
03/02/2019 01
03/02/2019 13
04/02/2019 01
04/02/2019 13
05/02/2019 01
05/02/2019 13
06/02/2019 01
06/02/2019 13
07/02/2019 01
07/02/2019 13
08/02/2019 01
08/02/2019 13
09/02/2019 01
09/02/2019 13
10/02/2019 01
10/02/2019 13
11/02/2019 01
11/02/2019 13
12/02/2019 01
12/02/2019 13
13/02/2019 01
13/02/2019 13
14/02/2019 01
14/02/2019 13
15/02/2019 01
15/02/2019 13
16/02/2019 01
16/02/2019 13
17/02/2019 01
17/02/2019 13
18/02/2019 01
18/02/2019 13
19/02/2019 01
19/02/2019 13
20/02/2019 01
20/02/2019 13
21/02/2019 01
21/02/2019 13
22/02/2019 01
22/02/2019 13
23/02/2019 01
23/02/2019 13
24/02/2019 01
24/02/2019 13
25/02/2019 01
25/02/2019 13
26/02/2019 01
26/02/2019 13
27/02/2019 01
27/02/2019 13
28/02/2019 01
28/02/2019 13
Nos dias 22 e 23 de março de 2019, a geração eólica do Nordeste cuja capacidade instalada era de 11.532
MW atingiu os seus menores valores em 2019: 201 MW às 08:11h e 196 MW às 08:12h, respectivamente,
com fator de capacidade de 1,7%, conforme apresentado na Figura 21.
18
201 MW às 08:11h 196 MW às 08:12h
Como fonte de potência há uma grande variabilidade da geração eólica ao longo do dia causando impactos
negativos sobre o sistema elétrico o que requer medidas estruturais e operacionais, ou seja, a máxima e
a mínima geração podem acontecer em qualquer hora do dia. A Figura 22 apresenta o comportamento
da geração eólica do Subsistema Nordeste no dia 26/09/2019, onde registrou um valor máximo de 8.591
MW e mínimo de 4.482 MW, ou seja, uma variação de 4.109, no período de 15h.
19
Para explicitar melhor este conceito, apresenta-se na Figura 23 a geração eólica e térmica para suprimento
da variabilidade da geração diária de parques eólicos individuais nas regiões Nordeste para o período de
setembro/2017 a julho/2019.
Como fonte de energia, a geração eólica apresenta uma característica sazonal, com a geração mensal
variando durante o ciclo anual. Os maiores valores de geração ocorrem na segunda parte do ano, durante
o período seco dos rios e bacias das regiões Nordeste, Norte e Sudeste, o que configura uma
complementariedade sazonal importante entre a geração hidráulica e eólica; a geração mensal é muito mais
previsível do que a geração diária e horária; a geração eólica mensal para cada ano é mais previsível do
que a geração hidráulica; e a produção anual das eólicas tem grande previsibilidade o que pode reduzir
a necessidade por geração térmica e hidráulica, de forma que este benefício é tão maior quanto maior
for o volume de geração eólica. Para explicitar melhor estas evidências, apresenta-se nas Figuras 24 e 25
o fator de capacidade médio mensal da geração eólica nas regiões Nordeste e Sul do Brasil,
respectivamente.
Como visto, a geração eólica como fonte de potência ou de energia tem impactos diferentes sobre o
sistema elétrico. Como fonte de potência ela causa impactos negativos enquanto como fonte de energia
agrega benefícios ao sistema de energia elétrica. Esta contradição traz um grande desafio que é reduzir
a sua grande variabilidade ao longo do dia. Para atingir este objetivo deve-se definir medidas para
responder à questão chave que a geração eólica apresenta, ou seja, como minimizar seus impactos
negativos causados como fonte de potência e maximizar seus benefícios como fonte de energia?
Nos últimos Planos Decenais de Energia (PDE), a necessidade de se contratar oferta para suprir
necessidades de potência vem sendo apresentada de forma explícita. Devido às dificuldades de expansão
hidrelétrica aliada a necessidade de atendimento aos usos múltiplos da água, a perda de potência por
deplecionamento nos reservatórios das usinas hidroelétricas é a maior causa da necessidade de potência
adicional. A EPE está desenvolvendo um estudo para responder a seguinte questão: “até qual nível de
armazenamento é economicamente benéfico deplecionar os reservatórios, equilibrando a expansão para
os requisitos de energia e potência?” (PDE, 2017). A resposta a tal pergunta não é simples, pois os atuais
modelos de operação se baseiam apenas nos requisitos de energia, representando a potência de forma
simplificada. As políticas operativas atuais não considerarem a potência de forma detalhada, dessa forma
os modelos deplecionam os reservatórios sem se preocupar com a gestão do recurso para atendimento
de curta duração.
21
4.2. Complementariedade entre a Geração Eólica do Litoral e do
Interior
De acordo com a análise do comportamento da geração eólica foram identificados dois perfis distintos
que, conforme a sua localização geográfica, foram classificados em Litoral e Interior. As centrais eólicas
identificadas como Litoral estão instaladas no continente em um raio de até 30 km do litoral e em
elevações não superiores a 100 metros do nível do mar. As demais são consideradas localizadas no
Interior. Dessa forma, todas as usinas da Bahia, Piauí e Pernambuco foram classificadas como do Interior,
bem como as usinas localizadas na Serra de Santana (interior do Rio Grande do Norte) e na Serra de
Ibiapina (interior do Ceará). Em 2018, a capacidade instalada de usinas eólicas supervisionadas no
Nordeste era de 11.118 MW, sendo 6.226 MW de usinas localizadas no Interior e 4.892 MW de usinas
localizadas no Litoral. A Figura 26 apresenta o mapa de elevação digital da Região Nordeste com a
indicação, em amarelo, da localização de algumas usinas eólicas.
As características do comportamento desta geração e o seu impacto na rede elétrica são objeto de estudos
permanentes. Através da experiência adquirida com a integração de parques eólicos no Brasil, constatou-se
22
que existe uma complementariedade diária entre a geração eólica de centrais localizadas no interior (Bahia,
Piauí, Pernambuco e Ceará) e no litoral (Ceará e Rio Grande do Norte), conforme mostrado na Figura 27.
Na Figura 28 são apresentadas as curvas de permanência para a geração eólica do Nordeste, biênio 2017-
2018, por patamar de carga leve e a Figura 29 apresenta as curvas para o patamar de carga média.
23
Figura 29 – Curvas de Permanência: Litoral e Interior para o Patamar de Carga Média
A partir das informações obtidas com os dados históricos, novos fatores de capacidade, baseados nas curvas
de permanências construídas a partir de séries históricas, estão sendo adotados nas análises realizadas para
representação da geração eólica nos estudos de médio prazo (PAR, PEL e Leilões de Energia). Dessa forma,
atualmente são utilizados os fatores de capacidade apresentados abaixo:
Esses valores adotados para fator de capacidade da geração eólica considera um risco de 5%, baseado no
risco atualmente adotado para a consideração de insuficiência da oferta de energia elétrica do SIN. Ou seja,
existe uma probabilidade de 95% de que a geração seja igual ou inferior aos valores escolhidos.
Anteriormente, os valores de despacho utilizados nos estudos não eram balizados por curvas de permanência
e representavam um “fator de risco” variável e em torno de 1%, o que corresponde a uma probabilidade de
99% de que a geração eólica seja igual ou inferior ao valor utilizado nas análises. Essa diferenciação permitiu
uma otimização da utilização da rede elétrica.
24
Figura 30 – Fator de Capacidade Mensal das Gerações Eólica e Solar FV da Bahia - 2018
Fonte: Elaborada com dados do ONS
Figura 31 – Fator de Capacidade Médio das Gerações Eólica e Solar FV da Bahia em 2018
Fonte: Elaborada com dados do ONS
25
Figura 32 – Complementariedade Anual das Ofertas no SIN de 2014 a 2017
Fonte: Elaborada com dados do ONS
Como a capacidade instalada de usinas hidráulicas é bem superior as demais fontes, a geração hidráulica é
preponderante no atendimento energético do Sistema Interligado Nacional, conforme apresentado na Figura
33. Porém, para o Nordeste, a geração eólica é preponderante no atendimento energético da região.
26
5. IMPORTÂNCIA DA GERAÇÃO EÓLICA PARA O ATENDIMENTO
ENERGÉTICO À REGIÃO NORDESTE DE 2010 A 2018
Antes de falar sobre o atendimento energético à região Nordeste, vamos descrever o atendimento
energético ao SIN, do qual a região Nordeste é um de seus quatro subsistemas regionais. Em função das
características do SIN, as interligações inter-regionais têm um papel fundamental nos intercâmbios
energéticos entre regiões para otimizar as disponibilidades existentes visando garantir o atendimento
energético do SIN. Por conta disto, as interligações entre as regiões Sul, Sudeste/Centro-Oeste, Nordeste
e Norte têm sido expandidas com o objetivo de aproveitar os excedentes sazonais de geração hidráulica
e de outras fontes existentes em cada região. Essas interligações funcionam como se fossem “usinas
virtuais” para as regiões recebedoras. Dentro deste contexto e de suas potencialidades, cada região tem
suas estratégias específicas de atendimento energético.
A principal oferta de energia elétrica da região Nordeste é de origem hidráulica e depende praticamente
do rio São Francisco. A capacidade máxima de armazenamento desta região é de 51.860 MWmed.mês,
representando 20% da capacidade de armazenamento do SIN. O rio São Francisco concentra 97% da
capacidade de armazenamento dessa região, distribuídos pelos reservatórios de Três Marias (31%),
Sobradinho (59%) e Itaparica (7%). Dessa forma, a geração hidráulica representa 43,7% da capacidade
instalada de geração do Nordeste. A geração térmica representa 25,3% e a geração eólica representa
31% da capacidade instalada de geração na região. A Tabela 5 apresenta a capacidade instalada por
fonte de geração em MW nos anos de 2018 e 2023 e sua participação percentual, bem como o crescimento
previsto para o período.
Fonte: PEN 2019-2023 (ONS, 2018); * 81.4% de Energia Renovável; (1) demais fontes.
Em caso de ocorrência de baixas afluências no rio São Francisco, o atendimento energético à região
Nordeste é feito prioritariamente pela importação de energia das regiões Norte, proveniente da UHE
Tucuruí, e Sudeste/Centro-Oeste, através das interligações Norte/Nordeste, Sudeste/Nordeste e
Norte/Sudeste. Nestas situações, o recebimento de energia das demais regiões é maximizado até o
esgotamento dos limites elétricos das interligações inter-regionais, desde que haja excedentes disponíveis
nessas regiões, para em seguida despachar a geração térmica da região NE, por razões de garantia
energética, além daquela que já é normalmente feita por ordem de mérito econômico nos programas
27
mensais de operação e suas revisões semanais. Caso não haja disponibilidade de excedentes nas demais
regiões, o despacho térmico por segurança energética é logo adotado. Em qualquer situação a geração
eólica entra prioritariamente como geração de base.
A UHE Tucuruí possui um ciclo anual bem definido de tal forma que no 1º semestre ocorre o seu
replecionamento e no 2º semestre o seu deplecionamento, seguindo uma curva que procura maximizar
o uso das suas disponibilidades, levando em conta que, historicamente, seu reservatório sempre reencheu
ao longo do 1º semestre do ano, com exceção de 2016.
O Sul está fortemente interligado à região SE/CO, por onde podem ser recebidos até 6.000 MWmed. Os
recursos de geração térmica, cuja capacidade instalada totaliza 5.000 MW, mais a importação de energia
possibilita o atendimento de cerca de 60% da demanda máxima deste Subsistema, conferindo-lhe uma
característica diferenciada dos demais subsistemas.
Na ocorrência de uma hidrologia desfavorável na região Sul, principalmente, na bacia do rio Iguaçu, onde
estão localizadas suas principais usinas e reservatórios, a estratégia de operação energética prioriza
inicialmente a maximização do recebimento de energia da região SE/CO, caso haja excedentes
energéticos, para em seguida fazer uso da geração térmica local, visando preservar a segurança do
atendimento eletroenergético da região.
A geração do subsistema, além das usinas com grandes reservatórios, provém principalmente de usinas
a fio d’água de média e grande capacidade, com destaque especial para a usina binacional de Itaipu
(14.000 MW). Devido a sua localização, a jusante da bacia do rio Paraná, tira proveito das vazões
regularizadas pelos reservatórios situados nas bacias dos rios Grande, Paranaíba, Tietê e Paranapanema.
A geração térmica convencional e nuclear representa cerca de 20% da demanda máxima desse
subsistema.
Por ser a usina situada mais a jusante da bacia do Paraná, a usina de Itaipu tem batido seguidamente
recordes mundiais de geração anual. Em 2006 e 2007, anos em que foram inauguradas mais duas
unidades de 700 MW, completando, assim, as 20 unidades previstas no projeto inicial. Nos anos recentes,
28
novos recordes mundiais foram atingidos. Em 2016, a geração média foi de 10.403 MWmed. A geração
média anual no período de 1999 a 2016 foi de 9.481 MWmed.
A região SE/CO está interligada às regiões Sul, Norte e Nordeste, o que possibilita uma intensa otimização
energética dos recursos de geração disponíveis entre as regiões. Entretanto, a região SE/CO, com cerca
de 60% da carga própria do SIN, é atendida principalmente através dos seus próprios recursos de
geração.
Pelas suas características, a região SE/CO apresenta uma grande inércia, de tal forma que as
transferências de energia com as outras regiões representam menos de 5% de sua oferta. Dessa forma,
num quadro de restrição de oferta, as transferências das demais regiões para o SE/CO, embora sejam
importantes, não são suficientes para evitar um eventual contingenciamento ditado por uma hidrologia
criticamente desfavorável.
Desta forma, as interligações inter-regionais têm sido operadas visando otimizar o uso dos recursos
energéticos de cada região, observando o ótimo sistêmico. Isto significa que os intercâmbios inter-
regionais serão definidos com o objetivo de procurar igualar a segurança energética entre as regiões, até
os limites elétricos de capacidade destas interligações.
Para que este princípio seja praticado de forma equitativa em todo o SIN, faz-se necessário que os
recursos energéticos excedentes em uma região sejam transferidos, via sistema de transmissão para
outras regiões que estejam mais carentes.
O ideal seria que as transferências de energia entre regiões não fossem limitadas pelas restrições de
transmissão existentes, assegurando, assim, a aplicação do princípio da equidade da segurança energética
em toda a sua plenitude para todo o SIN. Considerando que existem restrições de transmissão,
mecanismos são adotados para procurar nivelar ou compensar desigualdades entre as regiões,
provocados por estas restrições.
Para ilustrar precisamente este conceito, salienta-se o caso de uma região com disponibilidade sazonal
ter de exportar o máximo para atender as demais regiões que se encontram carentes. Caso estas
disponibilidades não sejam suficientes para o atendimento total das necessidades, devem ser seguidos
os seguintes passos:
3. Utilizar recursos de geração térmica, por ordem de mérito de custo, para compensar o que não pode
ser recebido plenamente pelas regiões deficitárias até os limites de transmissão existentes.
Os custos com a utilização destes recursos locais de geração térmica e/ou importação por cada região
são considerados de uso sistêmico e rateados por todos os Agentes de Consumo do SIN, através do
Encargo de Serviços Sistêmicos (ESS) por razões de segurança energética, aplicado a situações específicas
29
para bancar custos adicionais decorrentes da busca pela garantia da segurança do atendimento energético
do SIN.
• Garantir o atendimento aos requisitos energéticos e de potência do SIN ao longo do período crítico;
• Permitir o controle da gestão hídrica dos reservatórios de cabeceira para fins de uso múltiplo das águas
por todos os usuários. Caso contrário, todos sairão perdendo.
As principais restrições nos aproveitamentos das bacias hidrográficas do SIN são decorrência de razões
ambientais e de uso múltiplo dos recursos hídricos e, para cada caso, estão identificadas as flexibilizações
requeridas para maximização do uso dos recursos disponíveis para atendimento energético do SIN. Dentro
deste contexto é importante salientar que os requisitos locais não podem se contrapor ao objetivo maior
que é o atendimento energético nacional ao País. Cabe para isto identificar as ações necessárias para
mitigar os impactos locais provenientes da flexibilização das restrições existentes.
Desde o ano de 2010, o rio São Francisco passa por um período de extrema escassez hídrica, que se agravou
a partir de 2013. A vazão mínima defluente da UHE Sobradinho foi reduzida de 1.300 m³/s, em 2013, para
550 m³/s, em 2017. No período de 2014 a 2015 o reservatório de Sobradinho atingiu os menores níveis de
armazenamento do histórico, registrando apenas 1,04% no início de dezembro/2015. O reservatório da UHE
de Três Marias atingiu pouco mais de 2% no início de novembro/2014. Em relação às vazões naturais a
Sobradinho, o ano de 2015 foi o pior do histórico disponível (1931 a 2016). Desde o ano de 2010, vem-se
quebrando recordes, ano a ano, de escassez hídrica.
A crise hídrica fez com que o cenário de atendimento energético do Subsistema Nordeste fosse alterado, sendo
necessário buscar geração de outras fontes de energia, que não a hidráulica. A geração de energia passou a
não ser prioritária no rio São Francisco, sendo uma consequência da defluência mínima estabelecida para
permitir os usos múltiplos da água, quais sejam: irrigação, abastecimento humano, dessedentação de animal,
pesca, navegação e lazer. Nessa situação de baixas afluências no rio São Francisco, o atendimento energético
à região Nordeste tem sido feito na seguinte sequência de prioridade: (1) geração hidráulica das usinas do rio
São Francisco para a vazão mínima estabelecida; (2) geração eólica disponível e solar fotovoltaica; (3) geração
térmica despachada por ordem de mérito até o Custo Marginal de Operação semanal; (4) recebimento de
30
energia das demais regiões; e (5) complementação com geração térmica local por razões de segurança elétrica
para respeitar os limites de transmissão.
Em qualquer situação, as gerações eólica e solar entram prioritariamente como geração de base. O
recebimento de energia das demais regiões é feito através das interligações Norte/Nordeste, Sudeste/Nordeste
e Norte/Sudeste. Nestas situações, o recebimento de energia é maximizado até o esgotamento dos limites
elétricos das interligações inter-regionais, desde que haja excedentes disponíveis nessas regiões. Caso não
haja energia disponível em outras regiões, são despachadas usinas térmicas da região Nordeste, por razões
de garantia energética, além daquela que já é normalmente feita por ordem de mérito econômico nos
programas mensais de operação e suas revisões semanais. A Figura 39 ilustra o balanço energético e a
participação por fonte de geração no período de outubro/2009 a setembro/2019.
Em função da escassez hídrica que se exacerbou a partir do final de 2012, que implicou no início do processo
de redução da vazão mínima do São Francisco, foi necessário o aumento do despacho das usinas térmicas
para atendimento do Subsistema Nordeste, que foi largamente utilizada a partir de outubro de 2012. O
intercâmbio também teve papel fundamental no atendimento do Subsistema Nordeste, sendo utilizado em
larga escala durante todo o período de 2010 a 2018.
A Região Nordeste do Brasil apresenta forte dependência energética em relação às Regiões Norte e Sudeste,
uma vez que parte da energia consumida no Nordeste é importada. Porém, em meio à crise hídrica, uma fonte
de geração emergiu na matriz energética brasileira, que foi a geração de energia através da força dos ventos.
Essa crescente inserção de geração eólica vem reduzindo a dependência externa. A Figura 35 apresenta o
suprimento da carga da região Nordeste por geração eólica no período de 2010 a 2019, que se tornou
significativo a partir do meio de 2014.
31
Figura 31 – Suprimento da Carga da Região Nordeste por Geração Eólica de 2010 a 2019
Conforme pode ser visto na Figura 5, a energia armazenada na região Nordeste atingiu 4,8% em dezembro
de 2015, que é o menor valor no histórico mostrado de dezoito anos. Destaque-se que a geração eólica
emergente evitou um racionamento de energia na região Nordeste no ano de 2015.
Até julho de 2014, a geração hidráulica preponderava no atendimento à carga do Subsistema Nordeste. No
período de agosto/2014 a abril/2015, a geração térmica atendeu a maior parte da carga. Porém, em meados
de 2016, pela primeira vez na história, a geração eólica atendeu a maior parcela da carga do Subsistema
Nordeste, chegando a atingir 40% em setembro/2016.
Em 2016, a geração eólica foi a fonte de geração preponderante no atendimento à carga do Subsistema
Nordeste, atendendo em média 30% da carga, valor que tende a aumentar ao longo dos anos, contribuindo
para a redução da dependência externa. Devido à crise hídrica dos últimos anos que culminou com a redução
da vazão mínima no São Francisco desde abril/2013, a geração hidráulica ficou em segundo lugar, atendendo
25% da carga. A geração térmica atendeu em média 25% da carga e o intercâmbio 20%. As Figuras 36, 37
e 38 ilustram o percentual de contribuição de cada fonte no atendimento mensal à carga do Nordeste nesses
anos.
32
70%
59%
60%
51%
49% 49%
50%
42%
40% 39%
36%
29% 28%
30% 19% 26%
25%
20%
10%
0%
jan/17 fev/17 mar/17 abr/17 mai/17 jun/17 jul/17 ago/17 set/17 out/17 nov/17 dez/17
-10%
-20%
Geração Térmica Geração Eólica Geração Hidráulica Importação/Exportação Geração Solar
Assim, muitas lições foram aprendidas e muitas mudanças foram necessárias no que tange a operação para
atendimento energético do Subsistema Nordeste, que sempre teve até o ano de 2013 um atendimento
predominante pelas fontes hidráulicas. Destaca-se aqui o importante papel que as outras fontes de geração
tomaram no atendimento desse Subsistema, como as energias eólica e térmica e o recebimento de energia
de outras regiões. Como para qualquer desafio surgem as oportunidades, a crise hídrica do Nordeste emergiu
o papel importante da inserção das fontes renováveis como eólica e solar no atendimento à carga do Nordeste
do Brasil.
33
6. FATORES QUE MINIMIZAM OS IMPACTOS DA VARIABILIDADE
DAS NOVAS RENOVÁVEIS
6.1. Dispersão Espacial entre os Parques Eólicos - Efeito Portfólio
Apesar dos inúmeros benefícios inerentes ao aproveitamento da geração eólica, existe uma série de desafios
no que se refere à sua integração ao sistema elétrico. Como fonte de energia a geração eólica apresenta uma
boa previsibilidade mensal e anual. Porém, devido às características do vento, a geração eólica não é
despachável e varia fortemente no tempo, apresentando uma reduzida garantia de potência. Essas
características e a constante necessidade de se igualar a geração e o consumo do sistema elétrico, a cada
instante, trouxe novos desafios ao Operador Nacional do Sistema Elétrico. Pois, para flexibilizar o sistema a
fim de lidar com a variabilidade e incerteza da produção eólica fez-se necessário aumentar a reserva
operacional.
Do ponto de vista operacional, pode-se tirar proveito da suavização da curva de geração com a agregação dos
parques e dispersão espacial. A Figura 39 apresenta a geração eólica em diferentes formas de agregação para
o estado do Ceará. Verifica-se que as flutuações na produção eólica são atenuadas à medida que se aumenta
o número de usinas e a dispersão espacial dos parques, reduzindo assim o aparecimento de flutuações rápidas
e extremas de produção.
Vários autores apontam que a agregação de parques eólicos, mesmo que amplamente dispersos entre sim,
não é suficiente para mitigar eventos únicos quando um país inteiro está sujeito a determinadas condições
atmosféricas que apresentem uma estrutura coerente e que normalmente se estendem ao longo de vários
quilômetros, a exemplo das frentes frias (COUTO et al., 2015; WALTON et al., 2014; LACERDA, 2016). O Brasil
apresenta uma enorme vantagem devido a sua dimensão continental. Ressalta-se também que a região
Nordeste onde se encontra mais de 87% da capacidade eólica instalada do país, não está sujeita a atuação
de frentes frias.
34
6.2. Investimento na Modelagem da Previsão de Geração
O operador necessita de uma previsão precisa do montante de energia que será produzido pelos parques
eólicos com antecedência, para decidir a melhor distribuição de geração entre as demais fontes
controláveis. Para lidar com isso e, portanto, empregar efetivamente a energia eólica no sistema
brasileiro, o ONS iniciou o desenvolvimento de um modelo de previsão de energia eólica em 2016 que
está em operação desde 2017.
A energia produzida pelas turbinas eólicas é uma função da velocidade do vento na terceira potência, e
essas velocidades, por sua vez, são altamente variáveis. Esses dois fatores combinados tornam impossível
abordar o problema com modelos convencionais de séries temporais, especialmente para atender às
necessidades do operador de previsões de meia hora para até nove dias à frente. Uma metodologia nova
e original foi então desenvolvida, com base em previsões numéricas de vento e funções não lineares para
prever a produção de energia. A Figura 40 apresenta uma visão geral simplificada desse modelo. As caixas
com bordas azuis indicam etapas de aquisição de dados, as caixas com bordas laranja indicam o
processamento de dados estatísticos e as caixas com bordas verdes são as etapas reais de modelagem e
previsão.
A primeira ação é coletar informações históricas sobre geração e velocidade do vento de várias fontes.
Essas informações são tratadas para remover discrepâncias e preencher as observações ausentes.
A entrada para esta função é uma Previsão Numérica do Tempo (Numerical Weather Prediction - NWP),
especificamente, previsões de velocidade do vento, calculadas por modelos numéricos em vários centros
de pesquisa em todo o mundo. Essas previsões passam por pré-processamento estatístico semelhante, além
de uma etapa adicional destinada a remover seu viés e, assim, resultar em valores mais coerentes com a
localização e a altura específicas dos geradores eólicos. Diferentes entidades fornecem NWPs em
diferentes frequências (horárias, a cada três horas e outras). Portanto, juntamente com a remoção do
35
viés, essas séries passam por um segundo procedimento para fragmentá-las em valores de meia hora. As
previsões de velocidade do vento fragmentadas e imparciais de cinco modelos numéricos diferentes são
usadas com a função de ajuste anterior para produzir previsões de produção de energia.
Atualmente, o ONS utiliza as previsões de velocidade do vento de cinco NWP, cuja resolução espacial e
temporal é indicada entre parênteses: WRF (5 km; 1 h); GFS - Sistema Global de Previsão (25 km; 1h);
HRES - Modelo de Previsão de Alta Resolução (20 km, 3 h) e 51 Membros do ECMWF - Centro Europeu
de Previsões Meteorológicas de Médio Prazo e BAM (20 km, 1 h), que é utilizado apenas na previsão dos
últimos dois dias (oito e nove dias à frente).
Este procedimento produz cinco séries de previsão de energia distintas, que precisam ser combinadas em
uma única e final. Isso é feito por meio de uma combinação convexa dos cinco, com pesos calculados
com base nos desvios da previsão feita com cada NWP nos últimos dias. Posteriormente, foi desenvolvido
um modelo separado usando informações de supervisão em tempo real para adaptar e atualizar no tempo
real ao longo do dia as previsões feitas pelo primeiro modelo. Esse segundo modelo é usado para fornecer
uma previsão atualizada, aderente às condições atualmente observadas, aos operadores dos centros de
operação do ONS.
Na Figura 41 abaixo está um histograma dos erros cometidos pela previsão combinada de um dia à frente
na região Nordeste do Brasil no período de janeiro de 2017 a agosto de 2019. Esses erros são calculados
com base em uma série de meia hora, normalizada pela capacidade instalada total de nessa região.
Densidade
Figura 41 – Histograma dos Erros Cometidos pela Previsão Combinada de um Dia à Frente na
Região Nordeste de Janeiro/2017 a Agosto/2019
Para previsões do dia seguinte, a previsão combinada não é apenas imparcial, mas também apresenta
erros muito pequenos, da ordem de 2% no final da distribuição. Maiores detalhes poderão ser obtidos
em ONS (2016).
A implantação de parques de energia eólica e solar de forma integrada em um mesmo site na região
Nordeste do Brasil é uma importante medida com os seguintes objetivos: aproveitar a riqueza de vento
e sol nessa região; aproveitar a complementariedade entre essas fontes; compartilhar a rede de conexão
e de transmissão; obter ganhos de eficiência; e tornar estes projetos mais competitivos. A
complementariedade entre essas fontes na região Nordeste pode ser vista através das curvas diárias
típicas de geração eólica e solar apresentadas na Figura 42, o que justifica a integração dessas fontes em
um mesmo site.
36
Figura 42 – Curvas Típicas de Geração Eólica e Solar na Região Nordeste no Dia 09/03/2019
As Figuras 43 e 44 apresentam a geração e o fator de capacidade nos períodos de cargas leve (cor azul
claro), média (cor azul escuro) e pesada (cor vermelha) da geração eólica e solar, respectivamente, ao
longo dos meses do ano na região Nordeste. A geração eólica possui uma maior variabilidade ao longo
do ano do fator de capacidade médio, cujos valores variam de 20% a 60% e apresentam valores
semelhantes por condição de carga. A geração solar apresenta uma menor variabilidade do fator de
capacidade médio ao longo do ano na carga média, cujos valores variam de 55% a 69%.
Figura 43 – Geração Eólica e Fator de Capacidade nos Períodos de Cargas Leve, Média e
Pesada
37
Figura 44 – Geração Solar e Fator de Capacidade nos Períodos de Cargas Leve, Média e
Pesada
A Figura 45 mostra o primeiro parque híbrido de geração eólica e solar do Brasil – Fontes dos Ventos e
Fontes Solar – da ENEL Green Power em Tacaratu no estado de Pernambuco.
38
Sobre a integração “eólica + solar + baterias”, o relatório anual Renewables 2018 - Global Status Report
publicou: “Várias tecnologias, incluindo armazenamento de energia, evoluíram paralelamente às energias
renováveis e agora estão ajudando a integrar energias renováveis variáveis no setor elétrico”.
Portanto, agregar recursos de armazenamento para controle da potência disponibilizada pelas fontes
intermitentes e do fluxo de potência na rede de transmissão é de vital importância para atendimento
energético aos sistemas elétricos, em especial à Região Nordeste, devido ao seu elevado potencial eólico.
Com este objetivo, são feitas as seguintes propostas para implantação de recursos de armazenamento:
• Em parques eólicos e solares para controle da potência disponibilizada por essas fontes em um mesmo
site;
• Nas redes de distribuição para controle do fluxo de potência, reduzindo o investimento necessário para
expansão dessas redes;
• Nas redes de transmissão para controle do fluxo de potência, reduzindo o investimento para expansão
da rede de transmissão nos seguintes níveis:
No nível de 500 kV para controle do fluxo em subsistemas regionais e nas interligações inter-
regionais;
39
• Definir a expansão da rede de transmissão para eliminar restrições ao escoamento da geração
intermitente;
• Avaliar os investimentos requeridos para cada alternativa: expansão da rede de transmissão versus
implementação de meios de armazenamento.
Os meios de armazenamento seriam uma nova opção a ser avaliada na expansão da rede de transmissão
em comparação com as instalações convencionais como linhas de transmissão.
A implantação de meios de armazenamento pode ser viabilizada de duas formas considerando as regras
e procedimentos aplicados à expansão do sistema de transmissão:
• Contrato de Uso da Transmissão, que são os resultados dos leilões de transmissão para novas
instalações;
Os seguintes meios de armazenamento podem ser aplicados para esse fim nas redes de distribuição e de
transmissão: Baterias e Mobilidade Elétrica, especialmente nas redes de distribuição, Supercapacitores, e
o Conjunto Híbrido Turbina Elétrica + Baterias.
Com relação à Mobilidade Elétrica como meio de armazenamento, em um futuro próximo, é importante
citar que este meio apresenta variabilidade temporal e locacional, que deve ser adequadamente avaliada
a fim de tornar conhecida sua estatística de variação.
Os Supercapacitores apresentam as seguintes vantagens sobre as baterias: longo ciclo de vida; muito
rápido processo de carga e descarga; alta eficiência, maior do que 95%; baixa toxicidade dos materiais
usados; e menor volume. Entretanto, têm as seguintes desvantagens em relação às baterias: o montante
de energia armazenada por unidade de volume é muito menor do que as baterias; e a tensão depende
da energia armazenada.
O Conjunto Híbrido Turbina Elétrica + Baterias é um passo chave na evolução da nova geração de soluções
para armazenamento voltado para a rede de transmissão. Ele combina uma turbina elétrica com um
sofisticado software de gestão de potência, permitindo controlar o fluxo nessas redes através da descarga
rápida da bateria até que a turbina parta do zero e atinja a sua potência plena. Desta forma, quando a
geração eólica cai repentinamente, a bateria descarrega automaticamente, dando tempo para que a
turbina parta sem haver sobrecarga ou desligamento na rede de transmissão.
• A geração hidráulica é um recurso variável, cuja disponibilidade depende da ocorrência de chuvas nas
bacias aonde estão os reservatórios de acumulação;
• As novas usinas hidráulicas estão distantes dos centros de carga, o que requer a implantação de
extensos sistemas de transmissão;
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• A geração térmica é um recurso fixo, cuja disponibilidade depende apenas da existência de
combustível;
• A implantação de térmicas próximas aos centros de carga pode aumentar a segurança, a confiabilidade
e a qualidade do atendimento a esses centros;
• As fontes renováveis não convencionais, como eólica e solar, são fontes variáveis e não despacháveis,
seu volume depende da intensidade do vento e da radiação solar, respectivamente;
• As usinas hidráulicas com reservatório são o melhor meio para armazenar a geração das fontes
variáveis, reduzindo a necessidade de instalação massiva de outros meios de armazenamento, tal como
grandes baterias;
• A associação das hidráulicas com reservatório mais a geração renovável variável maximiza os
benefícios técnicos e econômicos que podem ser obtidos considerando as características de todas as
fontes disponíveis;
• As fontes renováveis variáveis, como eólica e solar, são muito importantes para suprir a demanda de
energia elétrica; porém essas fontes devem ser consideradas como complementares e não como
básicas, porque elas podem variar de forma abrupta e significativa em certos momentos e por períodos
de tempo;
• Definitivamente, a demanda de energia elétrica não pode ser suprida apenas por fontes renováveis
variáveis;
• Postas essas considerações, pergunta-se: qual seria o mix adequado de fontes para suprir a demanda
de energia elétrica considerando conceitos de segurança, eficiência e ambientais?
• A Matriz de Energia Elétrica deve ter um mix adequado de fontes com o objetivo de maximizar os
benefícios técnicos, econômicos e ambientais considerando as características de todas as fontes
disponíveis;
As hidráulicas com reservatório mais as fontes renováveis constituem uma vantagem estratégica
do sistema eletroenergético brasileiro que não pode ser perdida;
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A geração nuclear apresenta dois grandes desafios: o complexo e custoso processo de
descomissionamento das plantas nucleares e de seus equipamentos após o tempo de vida útil; e o
armazenamento dos resíduos (lixos) nucleares, especialmente a definição de locais adequados.
Diante desses desafios, estudos têm sido feitos para: aumentar a vida útil de plantas nucleares, de forma
similar ao que é feito com usinas convencionais em especial com as usinas hidráulicas; e melhorar o
processo de tratamento e reciclagem para reprocessamento dos resíduos nucleares.
• Realizar “Leilões Híbridos” para implantação de parques de energia eólica e solar de forma integrada
em um mesmo site, visando aproveitar a riqueza de vento e sol da região Nordeste do Brasil, agregando
recursos de armazenamento, como batérias.
• Implantar geração térmica de base a gás natural altamente eficiente, através de leilões específicos de
formar a permitir preços competitivos em relação às demais fontes. Esta geração seria despachada na
base, deslocando para cima a geração hidráulica, permitindo a recuperação e controle do nível dos
reservatórios, o que possibilita a operação associada das hidráulicas com a geração renovável variável
existente na região.
Outras necessidades fundamentais são: implantação de reservatórios de regularização, por menores que
sejam, associados às usinas hidráulicas; provimento do montante de inércia requerido para operação
segura do SIN, através da implantação de usinas térmicas a gás natural, de menores custos, e de usinas
nucleares; implantação de meios de armazenamento, conforme descrito detalhadamente no item 7; e
expansão adequada da rede de transmissão para escoamento seguro das grandes usinas hidráulicas
localizadas na região Norte e da geração eólica localizada na região Nordeste, conforme mostrado nas
Figuras 47 e 48.
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INTERLIGAÇÃO
MANAUS/BOA VISTA INTEGRAÇÃO DE
BELO MONTE - CC
AMPLIAÇÃO DA INTERLIGAÇÃO
NORTE-NORDESTE
INTERLIGAÇÃO USINAS
RIO TELES PIRES AO SIN
USINAS
FUTURAS
NO NE
INTERLIGAÇÃO USINAS
RIO MADEIRA AO SIN AMPLIAÇÃO DA INTERLIGAÇÃO
SUDESTE-NORDESTE
USINAS FUTURAS
NO SUL
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9. O NOVO CONTEXTO DAS DISTRIBUIDORAS DIANTE DA GERAÇÃO
DISTRIBUÍDA
A inserção da geração distribuída, mini e micro diretamente nos consumidores finais, bem como da
geração intermitente conectada na própria rede de distribuição, irá requerer uma profunda reformulação
na regulamentação do negócio e no modus operandi das empresas distribuidoras, que deverá envolver o
poder concedente, o regulador, o operador da transmissão e, sobretudo, as próprias empresas de
distribuição.
Essas empresas devem deixar de ser apenas responsáveis pela expansão, manutenção e operação das
suas redes elétricas, para se tornarem, também, operadoras de todo sistema de distribuição, englobando
a própria rede elétrica, bem como os geradores e os consumidores finais que estão conectados na sua
rede, ou seja, toda geração e carga que circula por esta rede.
Isto já está ocorrendo há bastante tempo no sistema elétrico europeu, com a transformação de cada
TRANCO (Transmission Company) em TSO (Transmission System Operator), que são responsáveis pela
gestão dos ativos e pela operação global do sistema de transmissão, e de cada DISCO (Distribution
Company) em DSO (Distribution System Operator), que são responsáveis pela gestão dos ativos e pela
operação global do sistema de distribuição em cada área de concessão.
No Brasil, desde 1998, foi criado o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), que é um ISO
(Independent System Operator), sendo responsável pela operação global da Rede Básica do SIN, não
sendo responsável pela gestão dos ativos desta rede, que é de responsabilidade das empresas de
transmissão que são concessionárias dessas instalações.
1) Incorporação às próprias empresas de Distribuição atuais que permaneceriam com a mesma estrutura
de organização setorial;
3) Criação do IDSO (Independent Distribution System Operator), que a exemplo do ISO da transmissão,
não é proprietário de ativos. Ela é diferente da 2ª opção citada acima, visto que a Distribuidora não
incorporaria as novas funções, que seriam atribuídas a esta nova entidade.
• Mudanças Demográficas, com a crescente urbanização das cidades e o crescimento da população, de tal
forma que hoje há mais de 7 bilhões e em 2050 haverá 9 bilhões de pessoas no mundo;
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• Mercados Emergentes, destacando-se que nos BRICS e na Ásia milhões de pessoas têm emergido para a
classe média de consumidores; na África e América do Sul milhões de pessoas têm acessado a classe baixa
de consumidores;
Idem para instalações e equipamentos com novas funcionalidades e cada vez mais eficientes;
Tecnologia e Inovação contribuindo para o aumento da produtividade e para preservar o meio ambiente;
Mudanças Climáticas, com o crescente e comprovado Aquecimento Global, cujas consequências já são
evidentes para toda humanidade, requerendo a efetivação de medidas concretas para reduzir a emissão
de CO2.
As consequências diretas dessas tendências globais são uma maior produção de alimentos, bens de consumo,
etc., com consequente aumento no consumo de energia. Esses fatos se traduzem em maior exploração dos
recursos naturais e em escassez de água, e, como consequência final, maiores impactos diretos sobre o meio
ambiente, o que implica na necessidade imperiosa de reciclagem de materiais e de água, para reduzir os
impactos sobre o ambiente. Esta é a realidade! Como diz George Santayana: “A Realidade é como ela é e não
como gostaríamos como ela fosse”, complementado por Lao Tsé: “Diante da realidade cabe ajustar os nossos
objetivos maiores seguindo o caminho do rio que contorna a montanha para chegar ao mar”. E este ajuste
terá de ser feito inexoravelmente com tecnologia e inovação a serviço da eficiência e do meio ambiente.
Definitivamente, é preciso aceitar a realidade e mudar para sobreviver.
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