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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIÊNCIAS RURAIS


CURSO DE AGRONOMIA

Anderson Luiz Fagan

INFLUÊNCIA DA SISTEMATIZAÇÃO COM DECLIVIDADE


VARIADA NA PRODUTIVIDADE DE MILHO EM ÁREAS DE
ROTAÇÃO COM O ARROZ IRRIGADO

Santa Maria, RS
2022
Anderson Luiz Fagan

INFLUÊNCIA DA SISTEMATIZAÇÃO COM DECLIVIDADE VARIADA NA


PRODUTIVIDADE DE MILHO EM ÁREAS DE ROTAÇÃO COM O ARROZ
IRRIGADO

Trabalho de conclusão de curso, apresentado ao


Curso de Agronomia, da Universidade Federal de
Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para
obtenção do título de Engenheiro Agrônomo.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Mirta Teresinha Petry

Santa Maria, RS
2022
Anderson Luiz Fagan

INFLUÊNCIA DA SISTEMATIZAÇÃO COM DECLIVIDADE VARIADA NA


PRODUTIVIDADE DE MILHO EM ÁREAS DE ROTAÇÃO COM O ARROZ
IRRIGADO

Trabalho de conclusão de curso, apresentado ao


Curso de Agronomia, da Universidade Federal de
Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para
obtenção do título de Engenheiro Agrônomo.

________________________________________________
Mirta Teresinha Petry, Dr.ª (UFSM)
(Presidente/Orientadora)

________________________________________________

Santa Maria, RS
2022
AGRADECIMENTOS

A Deus, Jesus e Maria nossa mãe medianeira, por me proporcionarem tudo na minha
vida e não me desampararem jamais.
A minha mãe Lenir, que nunca mediu esforço para me proporcionar tudo que era
necessário.
A minha namorada Bianca, que esteve ao meu lado durante esses anos, renunciando a
muita coisa nesse meu período acadêmico e sempre se colocando à disposição em inúmeras
situações.
Aos meus irmãos Franciel e Tiago, dois parceiros que tenho para vida toda, embora
nossas relações sejam conturbadas em determinados momentos (risos).
A minha madrinha Cassiane, pelas inúmeras conversas e conselhos. Aos tios Roque,
Matheus e Vicente por serem homens do campo com quem sempre pude contar. As queridas
tias Carme e Vera, e todos os meus queridos primos.
Aos meus dois mentores durante o curso, os professores Mirta e Juliano, por serem
fantásticos e do bem, sempre dispostos a ajudar.
A todos os meus colegas de curso e de laboratório, em especial ao Cassio Ferrazza,
Henrique Argenta e Bruna de Villa, pessoas às quais sempre serei grato.
Ao meu amigo Paulo Henrique e Toni, palmeirenses em busca do mundial, meu
agradecimento e abraço.
RESUMO

AUTOR: Anderson Luiz Fagan


ORIENTADORA: Mirta Teresinha Petry

A INFLUÊNCIA NA SISTEMATIZAÇÃO COM DECLIVIDADE VARIADA NA


PRODUTIVIDADE DE MILHO EM ÁREAS DE ROTAÇÃO COM O ARROZ
IRRIGADO

O estudo foi realizado em uma lavoura comercial de doze (12) hectares, pertencente a uma
propriedade localizada no município de Cachoeira do Sul, onde foi introduzida a cultura do
milho em rotação com o arroz irrigado, em área de várzea. Uma vez que o milho é uma planta
que possui o sistema radicular diferente do arroz, foi necessário adaptar este talhão, visando
uma drenagem do ambiente e possibilidade de irrigação através do sistema sulco-camalhão.
Para isto, fez-se a correção da topografia do terreno, através da sistematização com a
declividade variada (suavização), técnica que consiste na eliminação de elevações (coroas) e
depressões (lagoas), deixando a superfície com uma declividade pendente definida de 5% (ou
seja, 0,05 m em 100 m). O primeiro passo para a realização do projeto de suavização foi fazer
o levantamento planialtimétrico da área com o auxílio de uma base móvel de RTK e receptores
GNSS. De posse do mapa planialtimétrico, mediante a utilização de um software específico,
definiu-se as zonas de corte e aterro. A profundidade dessas operações (corte e aterro) foi
limitada em 5 cm, no sentido do sulco. Assim, o trabalho buscou investigar qual a influência da
suavização na produtividade do milho. Para isso, confrontamos o mapa de corte e aterro com o
mapa da produtividade gerado pela colhedora.

Palavras-chave: Milho, Irrigação, Drenagem, Suavização, produtividade, levantamento


planialtimétrico.
ABSTRACT

THE INFLUENCE ON THE SYSTEMATIZATION WITH VARIED SLOPE ON


CORN PRODUCTIVITY IN ROTATION AREAS WITH IRRIGATED RICE

AUTHOR: Anderson Luiz Fagan


ADVISOR: Mirta Teresinha Petry

The study was carried out in a commercial crop of twelve (12) hectares, belonging to a property
located in the municipality of Cachoeira do Sul, where corn was introduced in rotation with
irrigated rice, in a floodplain area. Since corn is a plant that has a different root system than
rice, it was necessary to adapt this plot, aiming at a drainage of the environment and the
possibility of irrigation through the furrow-ridge system. For this, the topography of the land
was corrected, through the systematization with the varied slope (smoothing), a technique that
consists in the elimination of elevations (crowns) and depressions (ponds), leaving the surface
with a defined slope of 5 % (ie 0.05 m in 100 m). The first step in carrying out the smoothing
project was to carry out a planialtimetric survey of the area with the aid of a mobile RTK base
and GNSS receivers. With the planialtimetric map, using a specific software, the cut and fill
zones were defined. The depth of these operations (cut and fill) was limited to 5 cm, in the
direction of the furrow. Thus, the work sought to investigate the influence of smoothing on corn
productivity. For this, we compare the cut and fill map with the productivity map generated by
the harvester.

Keywords: Corn, Irrigation, Drainage, Smoothing, productivity, planialtimetric survey.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Estação RTK AgGPS 542 captando sinais dos satélites em tempo real e transmitindo
para os receptores GNSS .......................................................................................................... 12
Figura 2– Monitor TMX 2050 ilustrando a informação recebida Nave-900 ........................... 13
Figura 3– Plaina Agrimec equipada com antena receptora e válvula controladora que emite as
zonas de corte e aterro .............................................................................................................. 14
Figura 4- Monitor TMX 2050, indicando ao operador as zonas de corte ................................ 15
Figura 5– Modelo de escarificador utilizado para descompactação do solo na área do estudo 15
Figura 6– Conjunto trator e escarificador, realizando a operação de descompactação na área
antes da construção dos camalhões .......................................................................................... 16
Figura 7– Aplicação de calcário para a correção da acidez do solo ........................................ 16
Figura 8– Imagem aérea da operação de calagem .................................................................... 17
Figura 9– Inicio da operação de confecção dos camalhões ..................................................... 17
Figura 10- Área suavizada, com declividade definida, quando não se faz necessária a realização
de sulcos profundos, maiores que 25 cm, pois a declividade auxilia na velocidade de
escoamento da água ................................................................................................................. 18
Figura 11– Camalhoneira SulcoSystem da KLR implementos ............................................... 19
Figura 12– Camalhoneira vista de outro ângulo, com os discos que servem para cortar a palhada
caso tenha e realizar a amontoa, seguida do rolo destorroador e compactador ....................... 19
Figura 13– A semeadora utilizada com rodas motrizes deslocando-se pelos sulcos (a);
conFiguração de linhas pareadas, com espaçamento entre linhas de 30 cm e 60 cm entre um
camalhão e outro totalizando 90 cm (b). .................................................................................. 20
Figura 14– Trator realizando a semeadura do milho com bitolas ajustadas para 1,8 m ........... 21
Figura 15– Cultivo bem estabelecido, com o espaçamento entre fileiras de 30 cm ................. 21
Figura 16– Pré-projeto sendo conFigurado no Google Earth ................................................... 22
Figura 17– Cardeneta de campo desenvolvida no software Qgis ............................................. 22
Figura 18– Software pipeplanner calculando a vazão e dimensionando o diametro de mangueira
e furação ................................................................................................................................... 23
Figura 19– Politubo instalado próximo a cabeceira do talhão pronto para ser pressurizado ... 24
Figura 20- S 760 com a plataforma para cultura do milho esvaziando o graneleiro ................ 25
Figura 21– Sensores do ActiveYield™ no tanque do graneleiro, calibrado automaticamente
para o rendimento do milho ...................................................................................................... 25
Figura 22– Modelo digital de elevação da área, construido a partir dos pontos coletados a campo
.................................................................................................................................................. 26
Figura 23–Modelo digital de suavização, limitando a profundidade e indicando as zonas de
corte e aterro. Usado quando se usa a tecnologia sulco-camalhão ........................................... 26
Figura 24–Área suavizada, sem existência de lagoas e coroas, com declividade variada definida,
área pronta para construção do camalhão e apta para irrigação por sulcos .............................. 27
Figura 25- Mapa de produtividade, gerado pela colhedora, aponta os pontos de maior e menor
produtividade dentro do talhão ................................................................................................. 29
Figura 26- Interpolação dos mapas. Mapa de corte e aterro sobre o mapa da produtividade
correlacionado zonas de corte e aterro com a produtividade do talhão .................................... 29
Figura 27– Gráfico da distribuição da produtividade em função das zonas de corte e aterro (- 5,
0 e 5 cm) ................................................................................................................................... 30
Figura 28– Gráfico da distribuição da produtividade em função das zonas de corte e aterro (- 5,
0 e 5 cm) ................................................................................................................................... 31
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 9
1.1 OBJETIVO GERAL ...................................................................................................... 11

2 MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................ 12


2.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA EXPERIMENTAL ................................................ 12

2.2 LEVANTAMENTO PLANIALTIMÉTRICO .............................................................. 12

2.3 SISTEMATIZAÇÃO COM DECLIVIDADE VARIADA (SUAVIZAÇÃO) ............. 13

2.4 CORREÇÃO DA FERTILIDADE, ESCARIFICAÇÃO .............................................. 14

2.5 CONSTRUÇÃO DO CAMALHÃO ............................................................................. 16

2.6 PLANTIO ...................................................................................................................... 18

2.7 IRRIGAÇÃO E MONITORAMENTO ......................................................................... 19

2.8 COLHEITA ................................................................................................................... 22

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................... 23


3.1 MODELO DIGITAL ELEVAÇÃO .............................................................................. 23

3.2 PRODUTIVIDADE DO MILHO .................................................................................. 24

3.3 MANEJO E MONITORAMENTO DA IRRIGAÇÃO..................................................26


4 CONCLUSÃO ................................................................................................................. 28
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 29
9

1 INTRODUÇÃO

As áreas que constituem o ecossistema chamado várzea ou terras baixas encontradas na


metade sul do Rio Grande do Sul (RS), sendo áreas caracterizadas pela deficiência de drenagem
natural, permanecendo com alta umidade ou alagadas em boa parte do ano. Os principais solos
encontrados são os Planossolos e os Gleissolos, conhecidos como solos hidromórficos
(THOMAS; LANGE, 2014). Esses solos são rasos com pequena profundidade de perfil,
apresentam uma sequência de horizontes A + E, com baixa condutividade hidráulica do solo
saturado, e um horizonte B praticamente impermeável (STRECK et al., 2008). Por se tratar de
um ambiente com característica de superfície plana e de difícil drenagem, o cultivo de arroz
irrigado por inundação se tornou a principal atividades nestas áreas de terras baixas (PARFITT
et al., 2017). O restante da área é utilizado para culturas de sequeiro, como soja, milho e
pecuária de corte (WINKLER,2018). Embora o arroz irrigado seja a principal atividade agrícola
destas áreas da metade sul do estado do Rio Grande do Sul, o cultivo de culturas de sequeiro
como soja e milho tem tido um crescimento expressivo nos últimos anos, entretanto, estas áreas
onde não há intervenção de melhorias de drenagem e irrigação os cultivos de sequeiros
apresentam baixas produtividades (MARCHESAN, 2016).
A economia na agricultura no sul do RS passou a se modificar a partir dos anos 2000,
como consequência do aumento no preço das commodities, sobretudo a soja (OLIVEIRA et al.,
2017). O significativo aumento nos custos de produção do arroz, tradicionalmente baseados em
várias operações de preparo do solo, com pouco ou nenhum incremento no rendimento do arroz,
aliado a introdução de invasoras de difícil controle, fez com que novas estratégias de produção
fossem utilizadas nessas áreas (THEISEN et al., 2017). A introdução de culturas de sequeiro
como a soja em rotação é benéfica para a cultura do arroz, pois, quebra ciclo de pragas, doenças
e plantas daninhas, principalmente o arroz vermelho, planta de difícil controle pela utilização
de herbicidas não seletivos como o glifosato. Outra questão é a possibilidade de implantação
do arroz em sistema plantio direto e a incorporação de nitrogênio (N) ao sistema, pela fixação
biológica de N (CASSOL, 2017). A diversificação de culturas nesses ambientes de terras baixas
possibilita um aporte financeiro que a cultura do arroz não tem proporcionado ao longo dos
últimos anos.
Da mesma forma que a soja, o milho apresenta um potencial considerável de inserção
neste ambiente produtivo, considerando seu alto potencial de produtividade quando
adequadamente manejado, representando um aporte de retorno financeiro maior para a
10

propriedade, além de reduzir a dependência de importação do cereal no Rio Grande do Sul


(PARFITT et al., 2014).
A soja e o milho possuem características fisiológicas e radiculares diferente do arroz,
não tolerando estresse hídrico (MARCHESAN, 2016). Para alcançar uma estabilidade
produtiva, é necessário que se faça intervenções mecânicas no solo, melhorando drenagem do
ambiente (WINKLER et al., 2013). A drenagem é o processo em que toda água superficial é
retirada da lavoura, com o intuito de torná-lo apto ao aproveitamento agrícola. Através da
melhoria desta drenagem que se obtém melhores condições para cultivos de sequeiros nesses
ambientes (SILVA; PARFITT, 2004).
Uma das técnicas utilizadas para melhorar as condições de drenagem desses ambientes
de terras baixas é a sistematização com a declividade variada (também chamada de suavização),
técnica que consiste em gerar uma zona de corte e aterro, onde são retiradas as elevações
(coroas) e aterradas as depressões (lagoas) (WINKLER, 2018). Além de proporcionar
benefícios ao manejo e ao desenvolvimento das culturas, através da economia e controle da
lâmina de água, a suavização melhora a eficiência dos insumos, melhorando a drenagem
superficial. A suavização também permite a utilização da tecnologia sulco-camalhão que, além
de auxiliar no escoamento da água, possibilita a irrigação por superfície através do sulco
formado no intervalo entre os camalhões, fazendo o uso de politubos de irrigação (SILVA et
al., 2006). No entanto é necessário analisar as aptidões destas áreas, áreas não aptas a introdução
da tecnologia sulco–camalhão necessitam de correção na superfície, esta correção é realizada
através da suavização (PARFITT et al., 2017).
A suavização do terreno é realizada por meio do sistema GNSS–RTK. O primeiro passo
se inicia a partir do levantamento planialtimétrico da área, onde é determinada uma altura de
malha de pontos na lavoura, coletando-se aproximadamente 400 pontos por hectare. Após a
coleta desses pontos, eles são processados por um software específico que gera o modelo digital
de elevação do ambiente (MDE) (BUENO et al., 2020). Estas zonas que sofrem intervenção
mecânica podem ter sua fertilidade afetada. Segundo Parfitt et al. (2014), as zonas de corte e
aterro elaborados no projeto de suavização são uma ferramenta útil para recuperar estas áreas
que sofreram intervenção mecânica, pois estão mapeadas e podem ser adicionados corretivos e
fertilizantes químicos ou orgânicos nesses locais.
11

1.1 OBJETIVO GERAL

O objetivo principal desse trabalho foi avaliar a interferência da suavização na


produtividade do milho usando mapas de colheita sobrepostos sobre as áreas de corte e aterro.
12

2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA EXPERIMENTAL

O estudo foi realizado em Cachoeira do Sul, localizado na região central do Rio Grande
do Sul, à margem esquerda do rio Jacuí. A Fazenda onde o estudo foi conduzido encontra-se
com as seguintes coordenadas geográficas: latitude 30°12'1.02"S e longitude 52°56'51.16"O.
O trabalho foi realizado por meio de uma pesquisa-ação, utilizando-se uma lavoura
comercial de doze (12) hectares, com a cultura do milho (Zea mays). Em anos anteriores, essa
área era cultivada com o arroz irrigado (Oriza sativa). O solo é caracterizado como um
Planossolo, pertencente a unidade de mapeamento Vacacaí (STRECK et al., 2008).

2.2 LEVANTAMENTO PLANIALTIMÉTRICO

Para fazer o levantamento planialtimétrico, fez-se o uso das geotecnologias; na um quadriciclo


(Figura 1), equipado com o monitor TMX – 2050 e o receptor NAV-900 da Trimble (Figura 2)
foram utilizados. Ambos são influenciados por uma estação móvel de rádio RTK, também da
Trimble AgGPS 542, instalado nas proximidades do talhão. A estação corrige os sinais dos
Satélites em tempo real, transmitindo para o receptor o que pode ser visualizado no monitor.
Nesta etapa ocorreu a coleta de dados planialtimétricos da área. Com o auxílio do
software WM-Form, da Trimble, o levantamento pode ser processado e o produto foi a geração
de um mapa em 3D do relevo dentro do talhão.

Figura 1- Estação RTK AgGPS 542 captando sinais dos satélites em tempo real e transmitindo para os
receptores GNSS.

Fonte: (Bertrão. E, 2021).


13

Figura 2– Monitor TMX 2050 ilustrando a informação recebida (Nave-900).

Fonte: (Bertrão. E, 2021).

2.3 SISTEMATIZAÇÃO COM DECLIVIDADE VARIADA (SUAVIZAÇÃO)

Com dados fornecidos pelo levantamento, gerou-se o projeto de suavização utilizando


o software WM-Form. No projeto de Suavização estipulou-se as zonas de corte e aterro, para
corrigir a superfície eliminando coroas e lagoas. Limitou-se a profundidade destes cortes e
aterros, informando o sentido do sulco de acordo com a declividade do terreno.
Em um segundo momento realizou-se as operações de campo. Estas foram realizadas
por um conjunto de trator e plaina (Figura 3), ambos equipados com tecnologia Trimble. O
sistema utilizado foi o Fieldlevel II e a válvula controladora da plaina foi a TWM; o monitor
TMX-250, instalado no trator (Figura 4), antena G25 com base RTK, tendo um ponto
georreferenciado para executar o mapa de suavização. A plaina de 4,8 metros de comprimento,
da marca Agrimec, foi acoplada a um trator da marca Massey Fergunson, série 7415, 215 CV
com câmbio dyna 6.
14

Figura 3– Plaina Agrimec equipada com antena receptora e válvula controladora, que emite as zonas de corte e
aterro.

Fonte: (Hoerbe. D, 2021).

Figura 4- Monitor TMX 2050, indicando ao operador as zonas de corte.

Fonte: (Bertrão. E, 2021).

2.4 CORREÇÃO DA FERTILIDADE, ESCARIFICAÇÃO

Nesta etapa do trabalho foram realizadas operações de escarificação com o implemento


TERRUS GTS-S (Figura 5), tratorizado pelo Massey Fergunson série 7415, 215CV (Figura 6).

Figura 5– Modelo de escarificador utilizado para descompactação do solo na área do estudo

Fonte: (Google, 2022).


15

Figura 6– Conjunto trator e escarificador, realizando a operação de descompactação na área antes da construção
dos camalhões.

Fonte: (Hoerbe. D, 2021).

A adubação foi realizada com base na interpretação da análise de solos utilizando o


Manual de Adubação e Calagem para os Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina
(COMISSÃO DE QUÍMICA E FERTILIDADE DO SOLO-RS/SC, 2016). Os dados químicos
apresentados pelo produtor, resultantes da análise de solo, e que serviram para a recomendação
de adubação foram: profundidade do solo de 0 a 10 cm, índice SMP de 6,4, matéria orgânica
de 1,4%, pH em água de 6,0, CTHpH7,0 de 12,6 cmolc/dm3, teor de P em 10,50 mg/dm3, teor de
K em 50 mg/dm3 e classe textural 3.
A correção da acidez havia sido executada pelo produtor antes da construção dos
camalhões, sendo distribuído calcário dolomítico com PRNT 80%, conforme apresentado na
(Figura 7 e 8).

Figura 7– Aplicação de calcário para correção da acidez do solo.

Fonte: (Hoerbe. D, 2021).


16

Figura 8– Imagem área da operação de calagem.

Fonte: (Fagan. A, 2021).

A adubação foi determinada para a cultura do milho, considerando como sendo primeiro
cultivo e com expectativa de rendimento de 12 Ton/ha. Os teores de matéria orgânica, fósforo
e potássio foram classificados como baixo (COMISSÃO DE QUÍMICA E FERTILIDADE DO
SOLO-RS/SC, 2016). A demanda de nitrogênio foi suprida com aplicação de 170 kg/ha,
divididos em três aplicações. A primeira ocorreu na adubação de base (20 kg/ha), enquanto as
de cobertura foram nos estádios V3 (75 kg/ha) e V6 (75 kg/ha), representados, respectivamente,
por 3 e 6 folhas completamente expandidas. Totalizando as aplicações no sulco de semeadura
e de cobertura, também foram aplicados 230 kg/ha de P2O5 e 160 kg/ha de K2O (60 kg/ha na
semeadura).

2.5 CONSTRUÇÃO DO CAMALHÃO

Os camalhões foram construídos logo após a suavização e o preparo do solo. Foram


construídos camalhões com 90 cm de espaçamento de centro a centro, com altura aproximada
de 20 cm, (Figuras 9 e 10). Esse formato é resultado da combinação do arranjo de soja e milho
e proporciona a adequação da distância entre sulcos às bitolas mais comuns dos tratores e
implementos, uma vez que os rodados devem transitar pelo sulco. A camalhoneira da KLR foi
o implemento utilizado na confecção do camalhão (Figuras 11 e 12).
17

Figura 9- Inicio da operação de confeção dos camalhões.

Fonte: (Kostulsk, 2021).

Figura 10–Área suavizada, com declividade definida, quando não se faz necessária a realização de sulcos
profundos, maiores que 25 cm, pois a declividade auxilia na velocidade de escoamento da água.

Fonte: (Kostulsk, 2021).

Figura 11– Camalhoneira SulcoSystem da KLR Implementos.

Fonte: (Google, 2022).


18

Figura 12– Camalhoneira vista de outro ângulo, com os discos que servem para cortar a palhada caso tenha e
realizar a amontoa, seguida do rolo destorroador e compactador.

Fonte: (Google, 2022).

2.6 PLANTIO

A semeadura do milho foi realizada em cima dos camalhões, em 14/10/2021, com um


espaçamento entre linha de 30 cm usando a cultivar foi híbrido Pionner 3016, em população
estimada de 75.000 pl/ha. Para realizar o plantio utilizou-se o trator marca Massey Fergunson
e semeadora também Massey Ferguson, série MF 513(Figuras 13a e 13b), equipada com
sistema de plantio precision plante, configurada com 8 linhas, onde duas linhas com o
espaçamento de 30 cm permaneceram na zona de cultivo, ou seja, em cima dos camalhões
(Figura 14), tendo a linha de adubo ao centro das duas linhas pareadas (Figura 15).

Figura 13– A semeadora utilizada com rodas motrizes deslocando-se pelos sulcos. a configuração de linhas
pareadas, aonde a seta vermelha indica o espaçamento entre linhas de 30 cm; a seta amarela indica o
espaçamento de 60 cm entre um camalhão e outro totalizando 90 cm indicado pela seta preta

60 cm
30 cm

(a). (b)
Fonte: (a) (Fagan. A, 2021). Fonte: (b) (Hoerbe D, 2022).
19

Figura 14– Trator realizando a semeadura do milho com bitolas ajustadas para 1,8m.

(Fonte: Cassol. G, 2021).

Figura 15– Cultivo bem estabelecido, com o espaçamento entre fileiras de 30 cm.

(Fonte: Hoerbe. D, 2022).

O tratamento de sementes realizado pelo produtor foi composto pelo inseticida


Dermacor, herbicida Poncho e inoculação com 5 ml/kg de Azospirilum spp. Para o controle de
plantas daninhas e pragas, foram realizadas aplicações terrestres (Crucial e Primatop), no dia
14/10/2021 e duas aéreas (Perito, Diflumax, Cadette e Nativo), em 29/10/2021 e 16/12/2021,
respectivamente.

2.7 IRRIGAÇÃO E MONITORAMENTO

A irrigação foi realizada em duas etapas, aonde a primeira delas consiste na elaboração
do projeto de irrigação (Figuras 16, 17 e 18). Nesta fase, os projetos foram desenvolvidos no
20

escritório, levando em consideração os pontos de bombeamento para alocar os politubos


(mangueiras), o comprimento de sulco a vazão da bomba para dimensionar o diâmetro da
mangueira e de furação.

Figura 16– Pré-projeto sendo configurado no Google Earth.

(Fonte: Fagan. A, 2022).

Com o auxílio de programas gratuitos (Google Earth Pro, Qgis e Pipe Planner),
disponíveis na web, executou-se a arquitetura do projeto, alocação, dimensionamento e
diâmetro de furação dos politubos. Para o monitoramento da irrigação, é preciso conFigurar o
Pipe Planner com informações como o sentido e o comprimento do sulco, além da vazão da
bomba. A partir desta informação, o software fornece o tempo de cada irrigação, diâmetro do
politubo e dos furos a serem efetuados. A diferença no diâmetro de furos está relacionada ao
comprimento dos sulcos, uma vez que, esse diâmetro permite compensar a vazão, de forma que
a água atinja o fim dos sulcos ao mesmo tempo.

Figura 17– Caderneta de campo desenvolvida no software Qgis.


21

Fonte: (Fagan. A, 2022).

Figura 18- Software Pipe Planner, calculando a vazão e dimensionando diâmetro de mangueira e de furação.

Fonte: (Fagan. A, 2022).

Com o sistema de irrigação instalado (Figura19) lâmina fixas de 50 mm são aplicadas


por irrigação. As irrigações são engatilhadas com base na variação do armazenamento de água
no solo (∆ARM), seguindo o modelo de Thornthwaite & Mather (1955), simplificado por
Pereira et al. (1997). A variação de armazenamento considerou os seguintes componentes do
BH, conforme a Equação 1:

Figura 19– Politubo instalado próximo a cabeceira do talhão pronto para ser pressurizado.

Fonte: (Fagan. A, 2022).

ARM = P + I − ETc
Onde: Em que, ∆ARM é variação do armazenamento de água no solo (mm); P é precipitação
(mm); I é irrigação (mm) e ETc é evapotranspiração da cultura (mm dia-1). O ARM inicial foi
calculado a partir da capacidade de água disponível do solo (CAD), conforme a equação 2.
CAD = ( CC −  PMP )  Z

Onde: CAD é a capacidade de água disponível do solo (mm); θCC é a umidade do solo na
Capacidade de Campo (cm3 cm-3); θPMP é a umidade do solo no Ponto de Murcha Permanente
22

(cm3 cm-3) e Z é a profundidade efetiva do sistema radicular (mm). Para esse solo, usou-se uma
CAD de 80 mm, considerando uma profundidade efetiva das raízes de 42 cm. O fator de
depleção para a não ocorrência de stress (p) foi de 0.5, segundo proposto por Allen et al., (1998).

2.8 COLHEITA

A colheita foi realizada por serviços terceirizados, em 16/03/2022. Utilizando uma


colhedora John Deere série S760 (Figura 20), maquina altamente tecnológica com sistema
ActiveYield™ (Figura 21), um sistema que garante a precisão do rendimento da colheita.

Figura 20– S 760 com a plataforma para cultura do milho esvaziando o graneleiro.

Fonte: (Google, 2022).

Figura 21– Sensores do ActiveYield™ no tanque do graneleiro, calibrado automaticamente para o computar o
rendimento do milho.

Fonte: (Google, 2022).


23

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 MODELO DIGITAL ELEVAÇÃO

No final da operação de levantamento tem-se uma malha de pontos amostrados. Estes


pontos foram armazenados no próprio monitor TMX-2050 e posteriormente exportados em uma
unidade de armazenamento (pen drive). Após o processamento destes dados no WM-Farm,
gerou-se o modelo digital de elevação da área (MDE). No MDE pode-se observar que as
diferença de cotas em pontos do talhão (Figura 22) inviabilizam o sistema sulco-camalhão,
havendo a necessidade de correção da superfície, com a suavização.

Figura 22– Modelo digital de elevação da área, construído a partir dos pontos coletados a campo.

Fonte: (Fagan. A, 2022).

Com base na interpretação do mapa planialtimétrico (Figura 22), foi possível determinar
as zonas de corte e aterro, determinando a profundidade desses cortes (Figura 23). Com isso, o
projeto de suavização foi realizado visando a irrigação por sulcos, sendo retiradas todas a
rugosidade da superfície e definindo a pendente de caimento do talhão.
Dessa forma, a suavização do terreno padronizou o caimento do talhão em 0.05 m (5%)
de declividade a cada 100 metros. Os resultados da uniformidade variada da área são
apresentados na (Figura 24). A suavização da área, além de definir o sentido do sulco e facilitar
o escoamento da água, também reduziu a amplitude da diferença de cotas do ponto mais alto e
mais baixo do talhão para 0,75 m.
24

Figura 23- Modelo digital de suavização, limitando a profundidade e indicando as zonas de corte e aterro.
Usado quando se usa a tecnologia sulco-camalhão.

Fonte: (Fagan. A, 2022).

Figura 24– Área suavizada, sem existência de lagoas e coroas, com declividade variada definida, área pronta
para construção do camalhão e apta para irrigação por sulcos.

Fonte: (Fagan. A, 2022).

3.2 PRODUTIVIDADE DO MILHO

O mapa da produtividade de grãos, gerado pelo sensor de produtividade ActiveYield™


da colhedora John Deere série S760, é apresentado na (Figura 25). Os mapas de rendimento são
produzidos a partir do processamento de dados de uma colheitadeira adaptada, que possuía um
25

sistema de posicionamento do veículo integrado a um sistema registrado de rendimento. A


produtividade de grãos, pelo mapa de produtividade gerado, oscilou de 0,1 a 13,6 Ton/ha
dependendo do ponto analisado. A maior fração de área do talhão obteve produtividades em
um intervalo de 5 a 5,9 Ton/ha. A sobreposição de mapas de corte e aterro com o mapa de
produtividade (Figura 26), pode ajudar a compreender os efeitos da movimentação do terreno
na produtividade de grãos.

Figura 25– Mapa de produtividade, gerado pela colhedora, aponta os pontos de maior e menor produtividade
dentro do talhão.

Fonte: (Fagan. A, 2022).

O gráfico de distribuição da produtividade em função das zonas corte e aterro (Figura


27), mostrou uma maior concentração de baixa produtividade nas áreas em que foi realizado o
aterro de ± 5 cm. Já nas áreas que não houve corte, isto é, cortes em 0 cm, se observou maiores
produtividade. Uma hipótese para explicar a baixa produtividade é a formação de lagoas nas
áreas de aterro, oriundas de a uma zona de aterro não corrigida ou suavização mal realizada.
Sabendo que o milho é uma cultura não tolerante ao encharcamento da raiz, a produtividade de
grãos é limitada.
26

Figura 26– Interpolação dos mapas. Mapa de corte e aterro sobre o mapa da produtividade correlacionado zonas
de corte e aterro com a produtividade do talhão.

Figura 27– Gráfico da distribuição da produtividade em função das zonas de corte e aterro (- 5, 0 e 5 cm).

(Fonte: Fagan. A, 2022).

3.3 MANEJO E MONITORAMENTO DA IRRIGAÇÃO

As irrigações aplicadas e precipitações ocorridas durante o ciclo de desenvolvimento do


milho são apresentados na Figura 28. Foram aplicadas oito irrigações de 50 mm, totalizando
27

400 mm de lâmina bruta. Embora a irrigação tenha contribuído para manter a umidade do solo
em níveis aceitáveis, o rendimento ficou abaixo do esperado, o que pode ter sido influenciado
pelas zonas de corte e aterro e cultivo de milho imediatamente após a suavização, o que também
foi detectado por Parfitt et al. (2014).

Figura 28– Gráfico da precipitação, irrigação da área e água disponível no solo.

Fonte: (Bukert. L, 2021).


28

4 CONCLUSÃO

O levantamento planialtimétrico serve como base para projetos de suavização. O projeto


de suavização pode servir tanto para melhorar a drenagem do ambiente, como também para
irrigação por sulcos.
A suavização com declividade variada dos solos de terras baixas no RS possibilita a
diversificação da matriz produtiva desses ambientes. As geotecnologias disponíveis
possibilitam conhecer mais sobre os efeitos produzidos por esta técnica. Fatores como os
atributos físicos do solo, da fertilidade e a consequência do impacto na produtividade da cultura
do milho, sendo assim o desenvolvimento de pesquisas em áreas de suavização se torna
fundamental para o aprimoramento técnico das tomadas de decisões e ajustes dos projetos.
Através dos resultados gerados pelo mapa de colheita da colhedora podemos observar
que houve impacto na produtividade do milho, pois ao retirar a rugosidade do terreno, o aspecto
topográfico foi melhorado, melhorando aa drenagem do ambiente e possibilitou que sistema
recebesse irrigação por superfície.
A correlação entre as zonas de corte e aterro com a produtividade do milho pode ser
observada na queda de produtividade, tanto nas áreas de aterro, como nas áreas de corte, em
relação aos locais dentro do talhão que não precisaram de intervenção mecânica.
29

REFERÊNCIAS

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forming options for southern Brazil. Journal of irrigation and drainage engineering, v.
146, n. 8, p. 1-8, 2020.

CASSOL, G. V. Sistemas de implantação, irrigação e alterações fisiológicas de plantas de


soja sob cultivo em terras baixas. Tese de Doutorado. Universidade Federal de Santa Maria,
p. 140, 2017.

COMISSÃO DE QUÍMICA E FERTILIDADE DO SOLO-RS/SC. Manual de calagem e


adubação para os Estados de Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Viçosa, Sociedade
Brasileira de Ciência Solo – Núcleo Regional Sul, 2016. 376 p.

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baixas. Revista Eletrônica Competências Digitais para Agricultura Familiar, Tupã, v. 2,
n. 1, p. 4-19, 2016.

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properties. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 38, p. 315-326, 2014.

PARFITT, J. M. B. et al. Soil and water management for sprinkler irrigated rice in Southern
Brazil. In: Advances in international rice research. Rijeka: InTech, p. 3-18, 2017.

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áreas de várzeas do Rio Grande do Sul. Pelotas: Embrapa Clima Temperado-Circular
Técnica (INFOTECA-E), 2006. 14 p.

SILVA, C. A. S.; PARFITT, J. M. B. Drenagem superficial para diversificação do uso de


solos de várzea do Rio Grande do Sul. Pelotas: Embrapa Clima Temperado-Circular
Técnica (INFOTECA-E), 2004. 10 p.

STRECK, E. V. et al. Solos do Rio Grande do Sul. 2.ed Porto Alegre: UFRGS:
EMATER/RS-ASCAR, 2008. 222 p.

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Evangraf, 2014. 128 p.

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WINKLER, A. S. Efeito da declividade do terreno sobre o armazenamento superficial de


água em áreas sistematizadas. Tese de Doutorado. Universidade Federal de Pelotas, p. 69,
2013.

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