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Setentrico e Hermes

Receio que o meu conhecimento, por tão pouco que é perante a imensidão
do Saber, não seja suficiente para satisfazer o seu quesito. Em todo o caso, agradeço,
comovido, a sensibilidade de consultar este pobre peregrino em busca de alguma luz.
Com muito pouco tempo hoje, mas só sobre "Hermés" o assunto daria livros
inteiros. Hermés grego, Mercúrio romano, também o "planeta" dum dos três princípios
alquímicos relacionado com o AR e com a fase "Albedo" ou "Obra ao Branco". É a fase
intermédia do processo alquímico, fase na qual ainda existe Dualidade. É interessante o dia
da semana que foi atribuído a Mercúrio, o dia do meio ou Quarta-Feira. Mas, em
Maçonaria, ocorre que Hermés foi assimilado pelos Gregos ao deus Thot egípcio, dador da
Civilização: a escrita, a medicina, a agricultura, as matemáticas... a ARQUITECTURA.
Porquê em Maçonaria? Porque esta é herdeira, não será talvez heresia dizer herdeira
directa dos Pitagóricos, dos Gnósticos, dos Hermetistas e Alquimistas, etc. das Escolas de
Alexandria, que se propagaram pelo Império romano, etc. Thot é uma referência
importante. Era um deus muito próximo de Osíris, o "morto que vive e que julga os vivos
que morrem..." nítido protótipo do Grande Mestre H:. - foi assassinado, a sua VIUVA
andou recuperando os seus "catorze pedaços", mas apenas encontrou "treze". O 14º pedaço
(o falo) deveria ser o Filho, Hórus, deus solar relacionado com o despertar da vida e da
Natureza, que vingaria seu Pai e se identificaria com ele, "morto mas vivo" repetimos, no
mundo interior e luminoso do Amenti, não "apenas" o mundo dos mortos, como se julga,
mas verdadeiro e luminoso "círculo dos deuses e imortais". Aliás, era lá que funcionava o
Tribunal de Osíris. Hermés, mensageiro dos deuses na Grécia, fazia a ligação entre estes (a
luz espiritual, interna) e os humanos mortais (a luz solar, externa) e, aliás, de todos entre si.
Thot, também, porque era o Escriba, aquele que dava forma física, visível, aos decretos dos
deuses.
Sobre "Setentrião", bem, como se sabe é termo utilizado em Maç:. para o
Norte, lugar dos AApr:., indicando (no hemisfério norte, onde tudo começou) a direçcão
do espaço privada da luz solar, talvez por isso a mais misteriosa, porque quando não brilha
a luz do sol físico, bem pode brilhar a luz espiritual, que, ao contrário da primeira, está
oculta, tem que ser descoberta... não é dada grátis, não é vendida, não se transacciona,
apenas se conquista por esforço e mérito próprio.
O Norte é o sentido do eixo da Terra, do eixo das coisas, em certo sentido
da Tradição Primordial (ver René Guénon por exemplo), donde, quando os CComp:. se
sentam ao sul (Meridião) eles estão voltados para o Eixo do Mundo, talvez,
simbólicamente indicando que eles estão a aprender a situar as "Sete Ciências Liberais" no
caminho da Unidade. Em algumas igrejas onde houve acção da Ordem do Templo, dá-nos
a sensação de que a capela do lado Norte seria algo importante, não apenas a direcção do
Oriente...
"Setentrião" era ainda o nome de código do trabalho (já terminado, ou não
se poderia falar dele) de uma secretíssima Fraternidade que manteve, durante todo o ciclo
do Cristianismo (Piscis ou Peixes), na Europa e depois nas Américas o culto altamente
iniciático e transcendente do Santo Sangue ou, se o quisermos, do Santo Graal, conforme
conhecimentos que são muito veladamente colocados "para fora", no Brasil, pela
Sociedade Brasileira de Eubiose.
É isto que me ocorre no momento sobre estes dois temas.
TFA António Vieira

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