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2020, que ano atípico! Réveillon, férias, carnaval, prisão.

Ninguém há um ano acreditava que


esse vírus lá da china conseguiria atravessar oceanos e nos trancafiar. E quando chegou,
deixou a todos de cabelos em pé. Mão ressecadas e feridas de tão lavadas. Medo, sensação de
eminente perigo. Lá se vão oito meses desde que foi anunciado em nossas terras e que
provocou a maior sensação coletiva de pânico já vista em nossa sociedade moderna.

Como um Muro de Berlim particular afastou famílias, amigos, amores. Quanto maior o amor e
o cuidado dispensados maior a distância. Deixar de ver, de visitar, de tocar passou a ser prova
de afeto, de amor, de respeito e de boa vontade. Pais foram separados de filhos, se vê a mãe
não vê o pai. Se vê os pais não vê os avós. As crianças nosso tesouro, nosso maior bem, nosso
futuro, se tornara perigo, olhadas com desconfiança, medo porque pode por um gesto de
carinho receber o beijo da morte.

Trabalhar passou a não ser tão bom negócio. Afinal, o que vale mais? Dinheiro no bolso ou vida
para viver? E para quem emprega? Seria melhor produzir ou perder a vida de dezenas de
trabalhadores? Optou-se por parar. Interromper a economia nacional, como ocorria na
economia mundial, cidade a cidade, país a país. Mesmo porque isso não iria durar muito
tempo, dois meses no máximo. Certo? Errado. Ficamos presos, sem trabalho, sem dinheiro,
sem diversão, sem amigos, sem amores.

De repente começou-se a perceber que não acabaria assim tão rápido, que não passaria tão
facilmente esse tempo. Que não ficaríamos apenas alguns dias presos. De repente percebemos
que se tornara imprescindível aprender a sobreviver o maior tempo possível a esse monstro
microscópico, cheio de dentes, capaz de devorar de forma dolorosa, paulatinamente, nossa
nação. Doendo o coração do Brasil a cada filho que perdia para essa guerra.

A ótica mudou. Era preciso reagir porque logo os recursos começariam a faltar, porém não era
mais possível encher salas de reuniões, fazer assembleias em empresas, lotar filas de hospitais
e de bancos sem se colocar em risco. Foi preciso reaprender. Reinventar.

Não é possível trabalhar na sala da empresa, trabalham todos em casa. A loja continuou a
vender, o restaurante continuou a entregar, fábrica continuou a funcionar com o menor
número de pessoas necessária em seu ambiente e com todos quanto fosse possível
desenvolvendo suas atividades de casa. E-mails, reuniões, decisões, tudo acontecendo on-line,
cada um em sua casa. Santa tecnologia que permitiu que estivéssemos conectados.

O que antes afastava os membros da família dentro da própria casa e agora cumpria seu
verdadeiro papel aproximando os que se amam. Se as redes sociais tiravam a atenção dos
funcionários agora o patrão se servia delas para ligar seus clientes a seus funcionários.

E assim 2020 vem deixando suas lições de que basta mudar a ótica sobre as situações, coisas,
ferramentas, pessoas e elas mudam a influencia exercida sobre nós. E que mostrar a
importância de alguém em nossa vida não é encher de roupas e de sapatos e de coisas. Pra
que? Nem se pode sair para usar. Mostrar que alguém é importante hoje pode ser ficar longe,
pode ser vestir de plástico para dar um abraço ou ficar em casa quinze dias nas férias apenas
para poder visitar os pais. É ver o sorriso nos olhos e a gratidão pelo cuidado em uma lágrima
de saudade.

2020 esse ano que veio nos ensinar a amar diferente e colocar algumas coisas no lugar,
seguimos vivendo, com esperança, porém com mais cuidado.

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