Texto de opinião:

Otimista Cético
Duas palavras contraditórias que juntas
deixam o leitor na dúvida. O que quer dizer com isto?
De que vai falar? Surpreendam-se, mas vou falar sobre
o Covid19. Sobre esta situação que vivemos. Sobre
estar fechado em casa, estar assustado e começar a
sentir-se paranoico, ansioso, irracional, desocupado,
insatisfeito e tudo o mais.
Quem me conhece sabe que sou uma pessoa
otimista. Que tenho uma estranha forma, por vezes
até irritante, de encontrar um lado positivo em quase
todas a situação. Se está a chover é bom para os rios,
se está sol é bom para ir para a natureza, se está
demasiado calor é bom para ir para os rios, se está
demasiado frio é bom para ficar em casa. É sempre
bom para alguma coisa!?!? GH
Agora estão à espera que eu diga que a
pandemia do covid também é boa para alguma coisa!
Desenganem-se. Não o farei, pelo menos agora!
Perderia a simpatia do leitor que, provavelmente,
prefere ler um outro texto mais pessimista sobre o
assunto. Não vou dizer que tem coisas boas, mas como
otimista, digo-vos que nem tudo é mau e que podemos
tirar algum partido da situação. Que podemos olhar à
volta e perceber que oportunidades nos dá. (Não
estou a falar de oportunidades de negócios de
máscaras, aplicações fraudulentas ou entrega de
comida em casa). Estou a falar de ter a mente ocupada,
agir com naturalidade, aproveitar o tempo extra que
nunca temos, estar em família, cozinha saudável,
exercício físico, leitura, organizações. Preparar
projetos, alimentar sonhos e cultivar amizades.
Eu recuso-me a ficar deprimido e ansioso
porque estou fechado em casa, porque estou há
demasiado tempo com a minha família, porque não
vou café, por não vejo os meus familiares e, esta agora
é a melhor, “porque não vou ao trabalho”.
Hilariante!!! Quantos de vocês gostam
verdadeiramente de ir trabalhar? O meu patrão e
colegas que me desculpem, mas as saudades de ir
trabalhar ainda não me atingiram! É verdade que aqui
falo de barriga cheia porque, pude manter o meu
posto de trabalho à distância, ainda que não esteja a
ser fácil.
É evidente que todos estamos a sofrer. Alguns
estão a perder os empregos e outros os rendimentos.
Alguns setores da economia vão demorar a recuperar.
Mas, pelo menos, ainda não estamos a perder a vida
de familiares para o vírus. Pelo menos aqui pela região,
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ainda estamos no início e muitos já estão a fritar os
miolos por estar por casa. Assim sendo, felizes dos que
ainda vão trabalhar porque saem de casa, têm
trabalho e rendimento. Mas esses também se
lamentam por ainda não terem sido mandados para
casa! Ponto da situação… os que ainda vão trabalhar
querem proteger-se e os que estão recolhidos, já não
aguentam mais esta situação. 
Pois eu, como alguns dos leitores não estou
em nenhum destes dois grupos. Conformo-me com os
condicionamentos, mantenho a cabeça ocupada, evito
procrastinar (a arte de deixar para data indefinida o
que não apetece fazer agora) e tento tirar o melhor
partido da situação. Mas qual é a situação? Estar
fechado em casa, há mais dum mês, com 3 das pessoas
que mais gosto do mundo. Estar na casa que,
meticulosamente, escolhemos para morar e,
cuidadosamente, preparamos para que seja
confortável e tenha tudo o que precisamos para
conviver, descansar, relaxar, mas também trabalhar e
até fazer exercício. Viver numa cidade pacata e
sossegada onde não se passa quase nada, mas
também não faltam os bens essenciais e ainda não ter
nenhum familiar ou conhecido comprovadamente
infetado. Sair à rua para as necessidades essenciais
como passear o cão, fazer compras e fazer exercício ao
ar livre. Aaaahhh???!!! Fazer exercício ao ar livre!?
Sim, considero seguro e recomendável sair
para correr pela natureza ou caminhar pelas zonas
mais tranquilas da cidade (todas). Podemos fazê-lo
fora de horas para sermos mais zelosos. Iremos
encontrar 2 ou 3 pessoas no máximo, a uma distância
de segurança e certamente que não vamos tocar em
objetos ou superfícies com as mãos, tirando a porta do
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prédio que podemos acautelar com um lenço, luva ou
manga. Iremos respirar ar fresco, cansar as pernas, FRQWUD
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desanuviar a cabeça e ainda, poderemos estar a
reforçar as nossas defesas imunitárias e certamente a
nossa senilidade. 
Mas de volta a casa… há ainda tanto para
fazer que esta quarentena talvez não me chegue. Na
verdade precisava de duas ou três como esta para
organizar aquelas caixas fechadas há anos, os livros
das prateleiras, os papeis do IRS, a roupa velha, as
fotografias, os anexo e as reparações… Há ainda tanto
para fazer de bricolage que até penso contratar um
“faz tudo” que venha de fato de astronauta ajudar a
pôr tudo em ordem. A lâmpada que pisca, a porta que
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não tranca, a janela que tem folga a pinga da
banheira… (Os trabalhadores das reparações também
precisam sobreviver) Ah! E sobra ainda um bocadinho
de tempo para ler e também para escrever. Porque
não um primeiro texto de opinião?
E fora de casa, como andam as coisas? Um
otimista cético também olha pela janela e vê o mundo
lá fora? Preocupa-me a economia, o emprego, os lares,
as famílias com crianças pequenas em casa, os idosos
isolados, a criminalidade, a mendicidade, as pequenas
e médias empresas, os setores mais afetados e os
profissionais de saúde (assim como os dos
supermercados). O turismo, a estética, o lazer, os
artistas… todos aqueles que, numa sociedade
civilizada, deram por garantida a sobrevivência
vendendo bens e serviços que não são de primeira
necessidade. A cultura, as viagens, a restauração e o
divertimento são as áreas que podemos abdicar
primeiro, em situação de crise.
Acho que Portugal fez bem parar enquanto
não era muito tarde, mas terá de repensar bem a
urgente retoma das atividades económicas. Não falo
em retoma a normalidade. Não creio que isso possa
acontecer. Mas é urgente educar a população para
algum tipo de retoma. Temos de voltar aos postos de
trabalho, temos que voltar a usar transportes públicos,
temos que voltar às escolas e aos restaurantes.
Eventualmente, voltaremos a viajar e a fazer turismo.
GD

GH GH
GH
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Não da mesma forma! Re-educados! Vamos aprender
a ter outros comportamentos e cuidados redobrados.
Ficaremos menos afáveis, menos calorosos com os
amigos, os vizinhos e os idosos? Talvez um pouco, mas
aprenderemos a viver mais protegidos do contágio de
doenças? O Covid19 não é a única doença
transmissível de pessoas para pessoa!
Temos muito a aprender e a evoluir com toda
esta má fase das nossas vidas. Aprender que podemos
viver mais tempo por casa, que podemos ter um estilo
de vida mais calmo. Que podemos fazer exercício físico
em casa, que podemos gastar menos combustíveis,
que podemos trabalhar mais à distância. Que o
ambiente agradece se nós abrandarmos o nosso ritmo
desenfreado. Que nos podemos ajudar e ser solidários,
mesmo mantendo a distância higiénica. D
D
Se leram até este ponto, reflitam! Não estou
a cuspir para o prato do vizinho nem bater no peito
gritando imunidade aos efeitos desta crise. Estou a
apelar que sejam gratos pelo que têm e façam um
esforço de adaptação. Há ainda muito para fazer por
casa e o retorno à normalidade vai demorar ou poderá
nunca acontecer. Temos de aprender a viver de forma
mais segura e contida. Mas vamos continuar a viver, a
realizar sonhos e a ser felizes. Aprendamos com estes
momentos menos bons e não se esqueçam… Vai ficar
tudo bem!
Nelson Cunha

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