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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DO TOCANTINS/CAMETÁ


CURSO: LETRAS/ LÍNGUA PORTUGUESA 2012
DISCIPLINA: LATIM I

Trabalho apresentado ao curso de Licenciatura


em Letras-Habilitação em Língua Portuguesa
Universidade Federal do Pará campus
universitário do Tocantins – Cametá, como
requisito básico para obtenção de conceito parcial
da disciplina Latim I sob orientação do Professor
Doriedson Rodrigues.

Denise Costa Araújo

CAMETÁ-PA
2015
AS DECLINAÇÕES LATINAS E SUA INFLUÊNCIA NO PORTUGUÊS ATUAL

A língua sofre alterações com o passar do tempo, pois se sabe que esta não é uma
unidade estável, imutável, mas que é dinâmica e está suscetível a mudanças, como bem
aponta Carlos Faraco, afirmando que “as línguas humanas não constituem realidades
estáticas; ao contrário, sua configuração estrutural se altera continuamente no tempo” (1991,
p.9). Essas mudanças podem ocorrer no campo sintático, morfológico, fonético, semântico,
pragmático e lexical, podendo acontecer dentro de um mesmo sistema linguístico, como
também no momento em que alguns idiomas dão origem a outros.
Assim, observando este segundo caso, se uma língua é fruto de outra língua,
consequentemente haverá traços dessas modificações, traços estes ou que se mantêm, ou que
se modificam em partes, ou que mudam completamente. E estes poderão ser apresentados
através de um estudo diacrônico da língua.
A língua portuguesa é um desses exemplos bem claros de mudanças que ocorreram
com o passar do tempo. Vale lembrar que esta é uma das denominadas línguas românicas
advindas do latim. O latim era o idioma falado na Itália Central, em uma região chamada de
Lácio, atual Roma, idioma esse que se expandiu junto com as conquistas territoriais romanas.
Com a queda do Império romano o latim perdeu-se como unidade, dando origem assim a
outras várias línguas, como o Francês, Português, Espanhol, etc, as línguas românicas
(CARDOSO, Zélia, 2005).
Deste modo, neste trabalho falar-se-á como era o sistema nominal latino, focalizando
as 5 (cinco) declinações, e quais os traços que permaneceram, mudaram parcialmente ou
foram suprimidos no português.
Para começar é preciso entender que os nomes em latim “se flexionam assumindo
formas diferentes conforme o caso gramatical em que estejam sendo empregados, o número e,
na maioria das vezes, o gênero” (CARDOSO, 2005, p.18). Este termo caso gramatical é
estranho ao português, mas no latim os nomes assumem formas diferentes, e para isso recebe
desinências especiais, dependendo do caso em que estejam, ou seja, da sua função sintática
que representa na frase (CARDOSO, 2005).
Segundo Paulo Rónai (2006), os casos gramaticais latinos são seis, a saber: o
nominativo (é caso do sujeito e do predicativo do sujeito); o acusativo (é o caso do objeto
direto); o genitivo (corresponde ao adjunto restritivo); o dativo (é o objeto direto); o ablativo
(adjunto circunstancial ou adverbial); e o vocativo (é a interpelação).
Assim cada nome pode assumir um conjunto de formas dependendo do caso em que
estejam, a esse conjunto se dá o nome de declinação. Segundo Cardoso (2005, p. 22),
“declinar um nome é enunciar as suas formas, caso por caso”. No latim existem seis grupos de
declinações que corresponde aos substantivos: os que apresentam vogais temáticas, são estas -
a-, -o-, -i-, -u- e -e- e os que não apresentam vogal temática, que são incluídos entre os
substantivos de vogal temática -i-, tendo desse modo cinco declinações.
As declinações possuem uma desinência especifica para indicar o caso, o número e
também o gênero neutro. Como citado anteriormente, os nomes também recebem desinências
especiais para indicar a função sintática na frase, ou seja, a que casos pertencem. Sobre isso
Valéria Monaretto e Caroline Pires apontam:

O latim era, em sua morfossintaxe e ao contrário das línguas românicas, uma língua
sintética, na qual as diferentes estruturas morfológicas e funções sintáticas eram
exprimidas pela flexão; logo, as informações de gênero, número e funções exercidas
pelas palavras no contexto eram traduzidas pelas terminações de caso das palavras;
porém, pouco restou das declinações do latim clássico no latim vulgar e,
consequentemente, nas línguas românicas (2012, p. 159).

Dessa forma no latim não importava a ordem das palavras na frase, mas a sua
desinência que indicaria que função ela exerceria no contexto. No entanto, o latim passou por
um processo de simplificação durante a dialetação para as línguas românicas. As desinências
desaparecem no português (como também nas outras línguas), “dessa forma, a função
sintática não seria mais marcada pela morfologia do caso dos nomes, mas pela ordem das
palavras na oração que se tornou mais rígida e fixa” (MONARETTO; PIRES. 2012. p. 158).
Ou seja, dependendo da posição dos sintagmas na frase, terão uma função sintática.
No latim existiam três gêneros gramaticais, o masculino, o feminino e o neutro, e
estes eram reconhecidos pelos suas terminações, porém com o a simplificação do latim para
as línguas românicas e o desaparecimento dessas terminações ocorreu uma “confusão”
resultando no desaparecimento do gênero neutro. As autoras Monaretto e Pires (2012, p.169),
justificam esse desaparecimento da seguinte forma,

o desaparecimento do neutro deu-se pela confusão com o gênero masculino dos


casos nominativo, vocativo e acusativo que possuíam terminações idênticas para
ambos os gêneros. Além da confusão morfológica, também se presenciou, na época,
uma confusão fonética pela queda, no latim vulgar, do –s e –m final nas palavras.

Por esse motivo, não se podia mais distinguir as formas masculinas cantu (s) e hortu
(s), das neutras templu (m) e cornu (m). E apagando a marca fonética que as distinguia, por
analogia as neutras foram agrupadas ao grupo das masculinas, ocorrendo da mesma forma
com os nomes terminados em -a, agrupados ao grupo das femininas. No português atual as
palavras neutras são absorvidas ora pelas palavras de gênero masculino, ora pelas de gênero
feminino, tendo ainda algumas palavras com a noção de neutralidade, como os pronomes
aquilo, isso, algo, tudo.
As línguas românicas trouxeram como inovação a criação dos artigos, estes não
existiam no latim, e vieram para ajudar e facilitar o uso da língua, pois era grande e longo
apreender todas as terminações. Além disso, o artigo passou a determinar os nomes e a indicar
o gênero dos mesmos, pois não tem mais as desinências que eram as quais designavam os
gêneros. Um exemplo são as palavras, planeta, cometa, nestas são os artigos que vão indicar
quais os seus gêneros gramaticais.
Vale ressaltar ainda que um dos traços dessa evolução do latim para o português
atual, encontra-se nos gêneros masculinos e femininos do português atual, estes tem sua
origem nas desinências do caso latino acusativo, na qual “sendo o acusativo de segunda
declinação (-um ) responsável por formar os nomes masculinos e o acusativo de primeira
declinação (-am ) responsável pelos nomes femininos” (COUTINHO apud MONARETTO;
PIRES. 2012. p.162). Por exemplo, templum>templu>templo, rosam>rosa> rosa.
Portanto, do latim para o português ocorreram varias mudanças, como, a fixação das
palavras na oração, a simplificação através da retirada das desinências, o desaparecimento do
gênero neutro, o surgimento do artigo com a função de determinar os nomes e indicar o
gênero, etc. Assim estudar e conhecer essas mudanças proporciona ao individuo entender a
sua própria língua, bem como sua estrutura sintática, morfológica e fonológica.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARDOSO, Zélia de Almeida. Iniciação ao latim. São Paulo: editora Ática, 2005.

FARACO, Carlos Alberto. Linguística Histórica. São Paulo: Editora Ática, 1991.

MONARETTO, Valéria Neto de Oliveira; PIRES Caroline de Castro. O que aconteceu com o
Gênero neutro Latino? Mudança da Estrutura Morfossintática do Sistema Flexional nominal
durante a Dialetação do Latim ao Português Atual. Revista Mundo Antigo. Ano I, V. 01, N.
02. Dezembro, 2012. p. 155-172.

RONAI, Paulo. Curso básico de latim, I: gradus primus. São Paulo: Cultrix, 2006.

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