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Edna Cardozo Dias

Advogada
Consultora jurídica e ex professora universitária
Doutora em Direito pela UFMG

ANIMAL
1ª Edição – 1996

Belo Horizonte – Minas Gerais


S.O.S Animal

© 1996
EDNA CARDOZO DIAS

Editor
Edna Cardozo Dias

Arte-final
Aderivaldo Sousa Santos

Revisão
Da Autora

Cardozo, Edna
S.O.S ANIMAL / — Edna Cardozo Dias: Belo
Horizonte/Minas Gerais - 1996 - 1ª edição – 1996.
162p.

1. I.Título.

Pedidos desta obra


Compras por internet site:
amazon.com.br e pela amazon.com:
e-mail: ednacardozo@gmail.com

Impresso no Brasil
Todos os direitos reservados

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EDNA CARDOZO DIAS

Editado por Liga de Prevenção da


Crueldade contra o Animal

CGC19.136.639/001-27

Sociedade civil sem fins lucrativos – REG. 59.324, Livro A,


em 20/12/83 – Jero Oliva

Extinta em outubro de 2015

Edição 1996, texto original. Primeiro livro dedicado à


educação sobre direito dos animais e visando a abolição
animal no Brasil.

Apenas o capítulo “Como defender os animais em Juízo”


foi atualizado.

1996

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S.O.S Animal

Boletim mensal criado em 1983 vira livro

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EDNA CARDOZO DIAS

Edna, presidente fundadora da LPCA e Toulouse

Dedicatória
À gata Toulouse, uma amiga de todas as horas

E a todos animais que sofrem por causa dos homens.

Edna Cardozo Dias

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S.O.S Animal

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EDNA CARDOZO DIAS

AGRADEÇO

Aos meus pais, e a todos os amigos que me


incetivaram a escrever este livro, em especial ao
Eduardo Nicolai, Iracema de Moura, Deise Jankovic,
Beatriz MacDowell, Rosely Acosta Bastos, Fabiana
Paganucci, Maria Irene de Melo Neves, Ana Maria
Pinheiro, Rossini Camargo Guarnieri (in memorian),
Geuza Leitão de Barros, Neuza Peter, Wilma
Kowalski, Milly Shar Manzolli, Dagomir Marquezi,
André Campos Figueiredo e aos jornalistas que
sempre publicaram meus artigos em defesa dos
animais, em especial Mário Viégas (in memorian),
Paulo Quintino dos Santos, Ivo Cardoso, Antônio
Bernardes e Antônio de Freitas (in memorina).

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S.O.S Animal

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EDNA CARDOZO DIAS

SUMÁRIO

Apresentação .......................................................................................... 11
“SOS Animal”, abrace essa bandeira de luta e amor .............................. 13
Prefácio – Amor aos animais .................................................................. 15

CAPÍTULO I
Animais de Consumo
Criação intensiva .................................................................................... 19
O porco, coitado, não tem vez mesmo.................................................... 22
Corrida de porcos ................................................................................... 24
Até as galinhas sofrem ............................................................................ 25
As mazelas da criação de bois ................................................................ 27
Os abusos na matança ............................................................................. 30
O que é abate humanitário ...................................................................... 33
Gastronomia criminosa ........................................................................... 34

CAPÍTULO II
Animais de Laboratório
A crueldade da vivissecção ..................................................................... 37
Os animais para fins militares ................................................................. 47
Beleza sem crueldade ............................................................................. 49
Métodos substitutivos para experiência em laboratório ......................... 51
Tortura refinada ...................................................................................... 54
Os falsários da medicina ......................................................................... 57
Fraude, violência em um mundo poluído ............................................... 61
Vivissecção, abolição já! ........................................................................ 63

CAPÍTULO III
Engenharia Genética
Engenharia genética, uma ameaça .......................................................... 67
Animais são transformados em farmácias vivas ..................................... 69

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S.O.S Animal

CAPÍTULO IV
Animais Domésticos
Cavalos torturados .................................................................................. 73
Amizade e afeição .................................................................................. 76
A convivência afetiva dos animais.......................................................... 78
Quando o cavalo é escravo ..................................................................... 79

CAPÍTULO V
Animais Silvestres
Caça, uma permanente ameaça aos animais ........................................... 81
Tráfico de animais .................................................................................. 86
Por um circo sem animais ....................................................................... 89
Arena da exploração ............................................................................... 90
Como romper o coração de um elefante ................................................. 91
Os circos marinhos ................................................................................. 93

CAPÍTULO VI
O Animal nos Esportes
Tiro ao pombo é um esporte perverso .................................................... 95
Briga de galo........................................................................................... 98
Briga de canário .................................................................................... 100
Rodeio e vaquejada .............................................................................. 104
Touradas ............................................................................................... 105

CAPÍTULO VII
O Animal nas Escrituras Sagradas ........................................................ 113

CAPÍTULO VIII
O Animal e a Lei
Como defender os animais em juízo ..................................................... 121
Conceito jurídico de fauna.................................................................... 122
Fauna doméstica ................................................................................... 123
Fauna Silvestre Brasileira ..................................................................... 127
Se você deseja fazer denúncia de maus tratos aos animais................... 129
Surge o terceiro setor – Como fundar uma ONG ................................. 134

Nós somos a LPCA............................................................................... 157

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EDNA CARDOZO DIAS

APRESENTAÇÃO

SOS ANIMAL
Este livro foi o primeiro grito abolicionista em favor dos
animais no Brasil.

Publicado em 1996 nasceu sob a forma de boletins do mesmo


nome- SOS ANIMAL (De 1982 até 1996), editado pela Liga de
Prevenção da Crueldade contra o Animal- LPCA; entidade brasileira
de defesa e proteção aos animais, fundada e presidida por Edna
Cardozo Dias. Os boletins eram distribuídos gratuitamente via correio
para outras entidades de proteção aos animais de todo pais, imprensa,
professores, autoridades governamentais e não governamentais.

Como era na época a única obra de conscientização no Brasil


sobre o sofrimento animal, em 1996 a autora Edna Cardozo Dias
resolveu sintetizar o tema no livro SOS ANIMAL que revolucionou
a história do Direito Animal no Brasil, abrindo consciências e
reunindo cada vez mais adeptos para a causa.

Neste livro Edna Cardozo Dias leva a humanidade a refletir


sobre as atrocidades cometidas contra os animais nos esportes,
entretenimento, na ciência, para fins alimentares, bélicos, e muitos
outros. Sugere medidas legais e políticas públicas para melhorar a
condição dos animais no mundo. Divulga palavras de escrituras
sagradas e estudos científicos para minorar o sofrimento dos animais.
E ao final orienta as pessoas de como defender os animais em Juízo,
elencando as leis vigentes e apontando as autoridades competentes
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S.O.S Animal

para receber denúncias, e ensina os remédios legais apropriados para


essa defesa.

Dada sua importância histórica, e depoimentos de pessoas


que mudaram a consciência após a sua leitura, sua autora resolveu
disponibilizar o livro no formato E book para que a nova geração o
conheça. E para que SOS ANIMAL continue contribuindo para o
processo de libertação animal.

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EDNA CARDOZO DIAS

“SOS Animal”, abrace essa


bandeira de luta e amor

Todos os anos, no Brasil e em todo mundo, milhões de


animais são agredidos pelo homem e explorados pelos interesses
econômicos. A discriminação e opressão de outras espécies tem
origem nos sistemas religiosos e filosóficos ocidentais. Hoje, a
exploração dos animais foi transformada em um negócio
multimilionário, responsável por muitas atrocidades:

Milhares de animais são fraudulentamente torturados em


laboratórios, onde são submetidos a todo tipo de tortura física
e psicológica para testes de armas, cosméticos, pesticidas,
drogas, medicamentos e a eletrochoques e todo tipo de privação
e castigo para estudos comportamentais.

Milhares de animais são condenados à prisão perpétua em circos


e zoológicos e são forçados a executar números incompatíveis
com sua natureza biológica.

Milhares de pássaros e animais silvestres são capturados em


seu país de origem e privados de sua liberdade, com a única
finalidade de lucro.

Milhares de animais são caçados, mortos ou feridos, sofrendo


e morrendo lentamente presos em armadilhas ou atingidos pela
arma do homem, com sede, fome, dor e gangrena, nas florestas.

Milhões de animais domésticos e silvestres são criados em

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S.O.S Animal

sistemas de confinamento, sem nunca ver a luz do sol, exceto


no dia de sua morte, quando o homem utilizará sua carne ou
sua pele.

Milhões de animais são transportados para longas distâncias


em comboios e gaiolas superlotadas, mal ventiladas, vivendo o
dia-a-dia do estresse, da fome, do medo e da morte.

Milhões de animais são abatidos, sangrados e carneados, todos


os dias, para consumo, inteiramente conscientes, por métodos
brutais. Os cavalos têm seus pés serrados, para a carne perder
o odor com a sudorese provocada pela dor e depois são abatidos.

Em Santa Catarina, todos os anos os bois são supliciados até a


morte, em uma cerimônia denominada Farra do Boi. Assim que
o boi é solto quebram-lhe os chifres, cegam-no, dão-lhe
pauladas e facadas, até que horas depois, quando morrer em
lenta agonia, sua carne é dividida.

No Tiro ao Pombo as aves são mortas com a única finalidade


do homem exercitar sua pontaria.

Os animais só contam com a ajuda de pessoas como nós.


Eu... você. Participe!

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EDNA CARDOZO DIAS

PREFÁCIO

Amor aos Animais

D isse Deus: “Produza a Terra os seres viventes segundo as


suas espécies animais: animais domésticos, répteis e selvagens.
Façamos o homem à nossa imagem e semelhança... domine ele sobre
os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todo réptil que se
arrasta na Terra”.

As atitudes generalizadas de domínio e maus-tratos nasceram


da crença bíblica de que Deus outorgou ao homem o domínio sobre
todas as criaturas viventes, criando o mesmo à sua imagem e
semelhança. Tudo isto era mais que uma crença, era um dogma de
fé.

No início do império romano homens e mulheres


consideravam as matanças de seres humanos e animais como fonte
normal de entretenimento. Santo Tomás de Aquino afiançou o
dualismo ontológico judaíco-cristão e, nos meados do século XIX,
o Papa Pio IX não permitiu estabelecimento, em Roma, de uma
sociedade de proteção aos animais.

O pensamento filosófico ocidental continuou assentado nessa


dualidade ontológica, que legitimou toda sorte de exploração dos
animais. Assim seguiram o Romantismo, o Humanismo, que colocam
o homem no centro do universo. Com o racionalismo de Descartes
difundiu-se na Europa a prática da dissecação de animais vivos, que
15
S.O.S Animal

só é comparável à demência que a sustenta. Os primeiros pensadores


dissidentes que apareceram na Renascença foram queimados como
hereges.

Poucos anos depois, Darwin revolucionou o conhecimento


humano com a teoria da evolução e o homem ficou sabendo que não
é uma criação especial de Deus, mas o resultado de milhões de anos
de evolução. E que, apesar de todas as suas sutilezas tecnológicas, é
um recém-chegado à Terra. Somente no século passado é que foi
capaz de mover-se em terra, mar e ar, com velocidades maiores que
as do leopardo, das doninhas e dos morcegos. A tecnologia do homem
ainda tem um longo caminho a percorrer, antes de igualar-se à
eficiência e à diversidade dos outros mamíferos. Áreas inteiras
permanecem inescrutáveis, ou fora do alcance da compreensão
humana.

Hoje a filosofia e a ciência já admitem a unidade do cosmo.


E nessa unidade não há hierarquia. Cada espécie está apta a exprimir
o seu potencial específico. As mesmas necessidades fundamentais
se encontram no homem e no animal, principalmente a de se
alimentar, de se reproduzir, ter um habitat e ser livre. A cada
necessidade fundamental corresponde um direito fundamental
inerente ao conjunto de seres vivos.

Mas, sob a desculpa de que existem outros problemas mais


urgentes a serem resolvidos, as autoridades têm abandonado a
proteção animal à caridade pública. Nós afirmamos com convicção
que o sofrimento dos animais não diminui os flagelos humanos, não
poderá impedir a convulsão social e nem acabará com a injustiça e
com os oprimidos. Este é um eterno pretexto egoísta para deixar
sofrer os animais sem lhes prestar socorro. Aquele que não sente
compaixão pelos animais não tem o direito de falar das torturas
humanas. Para as mãos do justo tudo que vive é sagrado. Todos os
seres são nutridos pelo mesmo sangue vital, todos os corações em

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EDNA CARDOZO DIAS

paz pulsam no mesmo ritmo, bombeando o sangue pelas veias, artérias


e capilares. Os indivíduos e espécies vêm e vão, enquanto a vida
prossegue seu curso. Os indivíduos representam os seus papéis, mas
não são o objeto principal do processo. Todos os seres são entes que,
como o homem, estão profundamente absorvidos na aventura de viver.
E, aprender a viver e deixar viver, é assunto urgente para a
humanidade. A tarefa de conservação reclama, também, compreensão.

A pretensão do Homo sapiens levou-o até a trocar o nome


“natureza” por meio ambiente, como algo que existe apenas para ele
com o propósito de servir a fins humanos. Do fundo do mar aos
cumes das montanhas, das florestas tropicais aos icebergs polares,
das algas marinhas às baleias, da serpente ao elefante, da borboleta
ao condor, tudo é considerado meio ambiente, o universo em torno
de nós onde todo ser vive e morrer “ad majorem gloriam hominis”.
As formas de vida são chamadas de recursos. Nós não só presumimos
que somos o centro do universo, mas reduzimos a Terra a uma
acumulação de bens que existem como uma fonte da qual podemos
retirar livremente tudo o que queremos ou necessitamos. Deveríamos
abandonar nossa confortável e antropocêntrica posição e avançar
em direção a um entendimento de mundo onde a natureza e os animais
recuperassem suas dignidades e não tratá-los como escravos.

O movimento de libertação do animal exigirá de nós um


altruísmo maior que qualquer outro, como o feminismo, o racismo,
já que os animais não podem exigir sua própria libertação. A defesa
dos seres mais frágeis é uma responsabilidade que o homem tem que
assumir. Como seres mais conscientes temos o dever não só de
respeitar todas as formas de vida, mas o dever de tomar todas
providências necessárias para evitar o sofrimento de outros seres.

A paz no mundo só chegará quando o homem aprender a


amar os animais, as plantas, as águas, as pedras, o espaço e os astros.
A paz exige que exista harmonia entre as inúmeras expressões da

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S.O.S Animal

natureza. A terra e os que nela habitam são governados por leis


naturais e espirituais. Aquele que realmente quiser se unificar com
Deus, terá que se harmonizar com as Leis da Criação, e então, o
instinto de matar e de destruir, cederá lugar ao verdadeiro amor. O
amor que arde em nosso coração é a chave da nossa união com toda
vida.

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EDNA CARDOZO DIAS

CAPÍTULO I
ANIMAIS DE CONSUMO

CRIAÇÃO INTENSIVA
A criação intensiva de gado,
galinhas e porcos torna-se cada vez usada
na produção de carne, leite e ovos. Estes
animais são criaturas que muitas vezes
nunca viram a luz do dia, vivem em
espaços pequenos e recebem doses
maciças de hormônios e antibióticos para
o crescimento e engorda.

A criação extensiva, o pequeno


agricultor que cria o seu gado solto a pastar pelas terras já está ficando
no passado.

GALINHAS: As galinhas passam até mais de dois anos em


gaiolas tão pequenas que não podem mexer as asas, sem nenhum
descanso para os pés. Recebem hormônios, luz ultra-violeta e acabam
leucêmicas. Muitas morrem de estresse ou colapso. Pelo fato de
viverem condições anti-naturais e estimuladas por luz artificial
costumam comporta-se agressivamente umas com as outras ou
deprimidas pelo tédio e frustração. Para prevenir a agressividade
criadores cortam as pontas de seus bicos, pressionando-os contra
um aço quente. Se feito sem perícia é uma operação extremamente
dolorosa. As mutilações não são necessárias na criação extensiva.
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S.O.S Animal

PORCOS: A maior parte dos porcos é criada em total


confinamento. O rabo é cortado porque o estresse do confinamento
leva-os a morder o próprio rabo. Vivem em espaços pequenos com o
mínimo de conforto. Muitos sofrem de obesidade, artrite e
infertilidade. Os animais devem ser criados sem privações sociais
ou qualquer outro tipo de privação.

GADO: Muitas vezes o gado é criado em locais superlotados,


sem sombra ou abrigo para proteção contra o tempo. Sua dieta de
alta caloria poderá causar-lhe acidez estomacal e abcesso no fígado.
A má-nutrição e o estresse levam-no a contrair doenças, para cuja
cura recebe doses maciças de antibióticos que permanecem em sua
carne, o que é nocivo para o consumidor. Os hormônios, também,
são muito nocivos à saúde dos carnívoros.

Para a carne de vitela, separa-se o bezerro da mãe com apenas


alguns dias de vida é aprisionado em um local onde não pode se
locomover, com o rabo cortado e um balde de focinho servindo de
mordaça, só recebe alimentos líquidos para que sua carne fique branca
e macia. Nem é preciso dizer que ficam anêmicos.

Isto tudo sem falar nas privações que sofrem durante o


transporte e do cruel abate. O ideal seria que fossem abatidos perto do
criadouro, inclusive porque tal medida evita a perda de peso do animal.

Defesa: Os defensores dos direitos dos homens e dos animais


precisam se unir para alertar a consciência de cada um e da sociedade,
pois o grande público ignora as condições reais da criação dos animais
de consumo. A Liga de Prevenção da Crueldade contra o Animal
está agindo porque deseja que o consumidor se nutra de produtos
derivados de uma criação não poluente, apesar de rendosa, e que
respeite as necessidades fisiológicas e comportamentais dos animais.

É ao consumidor que cabe se opor a estas práticas. A criação


industrial, embora ilegalmente, vem usando técnicas que se utilizam

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EDNA CARDOZO DIAS

de drogas que alteram a qualidade do produto, cuja absorção pode se


tornar perigosa. A saúde do homem está ameaçada por estas
substâncias. Lutar contra a criação industrial é defender os direitos
do homem particularmente do Terceiro Mundo, é defender os direitos
do animal; é defender os direitos do produtor que quer vender
produtos de qualidade; dos direitos do camponês que deseja
permanecer ligado à terra; é fazer uma aliança entre produtor-
consumidor. Mas, são interesses financeiros que estão em jogo. Jogo
de grandes sociedades agro-alimentares multinacionais que
transformaram os criadores independentes em proletários
dependentes delas. Os criadores se tornaram vítimas de um sistema
que reduz o animal a um objeto, agrava a fome no mundo e arruina o
pequeno camponês. Ora 1/3 dos cereais do globo é destinado a
alimentar animais de consumo dos países ricos.
Enquanto se desenvolve a fome nos países do 3o Mundo nos
países ricos o super consumo de alimento carnívoro aumenta
espetacularmente o número de doenças cardiovasculares. Só uma lei
em escala mundial poderá por fim a este escândalo.

Muitas pessoas se tornaram vegetarianas como forma


individual de protestar contra os maus tratos na criação, transporte e
abate de animais.

Mas, quem não for vegetariano, poderá, pelo menos, pensar


em qual animal sofre menos antes de adquirir produtos de origem
animal.

Lucro: A Liga de Prevenção da Crueldade contra o Animal


vem lutando exaustivamente por uma vida mais humana para os
animais de consumo. Ora, é preciso que o criador possua não apenas
as qualidade profissionais, mas, também, as do coração, que possua
uma consciência profissional e uma consciência humana. Mas, o
que verificamos é que o criador brasileiro só vê no animal um objeto
de rentabilidade e é incapaz de fazer uma distinção entre um ser

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S.O.S Animal

vivo e outras mercadorias. As razões econômicas e o lucro ignoram


as leis e os mais elementares princípios morais.
Bibliografia consultada:
Farm Animals - Humane Society of the United States
Revista da “O euvre D’Assistance des Bêtes D’Abattoir”

O PORCO, COITADO, NÃO TEM MESMO VEZ

Durante milênios, o homem teve uma associação estreita com


os animais. Domesticou-os e vivia com eles. Esta relação homem/
animal mudou, radicalmente, nas últimas décadas, com o
desenvolvimento da tecnologia. A vida dos animais de consumo
mudou por completo. Eles já não usufruem de pasto, liberdade de
movimento, não podem correr, limpar-se, sentir a terra em suas patas
e nem cuidar de suas crias. A vida lhes é negada e o ar que respiram
é viciado e irritante. São mantidos em jaulas pequenas e áridas, onde
são concebidos artificialmente, crescem, são desdentados, engordados
e enviados a seu destino, o matadouro. Este sistema de confinamento
total é um campo de concentração, onde é possível criar muitos porcos
em pouco espaço. Tudo é automático para economizar mão-de-obra,
possibilitando a um só homem vigiar os animais.

O SUPLÍCIO DOS PORCOS

Para economizar trabalho e tempo, as porcas são inseminadas


artificialmente e conduzidas a uma jaula estreita, onde ficam presas
com correntes curtas e são mantidas na escuridão para se acalmarem.
A comida é servida a cada dois ou três dias e lhes dão a metade da
ração para aumentar o lucro. Depois de 16 semanas, pouco antes de
nascerem os filhotes, são levadas a outra jaula, onde há mais
restrições. Lá são obrigadas a manter uma só posição para que suas
tetas estejam expostas aos leitões. Com três semanas, os leitões são
separados, desdentados e enviados a outra instalação e postos em

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EDNA CARDOZO DIAS

jaulas coletivas. Cortam-lhes os rabos, os dentes caninos e os castram,


para, depois, conduzi-los a jaulas individuais. Duas ou três semanas
após o parto, a mãe regressa à área de inseminação, onde recebe
doses maciças de hormônio para entrar no cio novamente.

O ESTRESSE

Os animais não têm alívio para o tédio e falta de movimento.


Quando há luta entre eles, os menos agressivos não podem escapar e
nem mostrar a seus agressores os sinais de submissão. Muitos sentem
tanto medo que não se atrevem a se mover, outros chegam a morder
as barras de ferro das jaulas. A carne desses animais é pálida e
gelatinosa, contém muita água e adrenalina, não é passível de uma
boa sangria após o abate e se decompõem rapidamente. As patas dos
animais confinados sobre pisos de concreto desenvolvem lesões
dolorosas, ocasionando pressão sobre os músculos das pernas, joelhos
e ombros, o que vem causar artrite. Além disso, um ambiente fechado
pode ser um foco de contaminação por microorganismos. Os animais
em confinamento total têm pouca resistência às bactérias, o que leva
à administração de antibióticos na comida e na água. Para que comam
mais, lhes dão arsênico e para engordar lhes dão hormônios.

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S.O.S Animal

O porco não é um animal sujo e apático. Em liberdade, é


absolutamente ativo durante o dia, mantém sua cama limpa e tem
grande instinto maternal. É inofensivo, adaptável e interessado por
tudo que o rodeia. Pode, inclusive, aprender o seu nome. é, portanto,
muito mais que carne, é capaz de sensações conscientes e aspira a
uma vida conforme as leis de sua espécie.

Esta é uma tradução resumida de “La voz de los animales”,


publicada no boletim da Associacion de Lucha para Evitar la
Crueldad com los Animales - México.

CORRIDA DE PORCOS

“Pigmalion está na frente. Hantrak está em segundo lugar,


com Flying. Frank é o terceiro. Boaris Karloff vem avançando.
Pigmallion atinge a meta final”. Sob os gritos da multidão excitada
o vencedor saboreia o bolo de chocolate, que é o troféu do vencedor.
Estamos assistindo a uma corrida de porcos, nos EUA. Ao contrário
das corridas de cavalo, o ticket das apostas é gratuito. É o 10o ano
que as corridas acontecem, de Ohio a Iowa.

No treino para as corridas é usada a mesma técnica que Pavlov


inventou para treinar seus cães. Os porcos ficam presos. Abre-se um
portão, enquanto uma tigela de comida é colocada na linha de
chegada. Toca-se um sino e os porcos correm para a comida. Os
animais são forçados a repetir a operação de 20 a 25 vezes, três
vezes ao dia. Depois de quatro dias, os porcos aprendem o jogo. Em
um típico dia de trabalho são realizadas 22 corridas, cinco porcos
para cada corrida, cada um correndo quatro ou cinco vezes. Um
quadro enumera o número de vitórias de cada animal e o melhor
tempo dos cinco primeiros colocados em cada corrida.

Na corrida de obstáculos, os porcos precisam saltar até


dezesseis barras. E para aprenderem a fazê-lo, depois de submetidos
a muita fome, o alimento é colocado após a barra, para obrigar o

24
EDNA CARDOZO DIAS

animal a saltar em busca da comida. Por razões desconhecidas as


fêmeas parecem ser melhores corredoras e saltadoras, que os machos.
Mas, a estrela, depois da fama já tem o seu destino selado: depois de
uma trégua para produzir filhotes recebe o seu ticket de entrada no
matadouro.

Isto demonstra que o homem é um animal carnívoro agressivo,


capaz de reduzir os animais a vítimas patéticas de grandes negócios,
e possui inusitada capacidade de racionalização. O homem vem
abusando de seu domínio sobre os animais e menosprezando seus
sentimentos.

O vegetarianismo, o respeito à vida e a não-violência, eis a


nossa luta.

ATÉ AS GALINHAS SOFREM

A criação intensiva de aves é uma revolução recente, tem


menos de 50 anos e começou pouco antes da II Guerra Mundial, nos
EUA, quando os criadores se empenharam em especializar-se em
criar aves e produzir ovos para o governo e o exército. Ministrando
vitamina A e D às aves, descobriram que era possível criar um grande
número delas dentro de grandes instalações. Com a adição das
vitaminas, determinaram que os animais não necessitariam mais de
sol ou exercício para que os ovos se desenvolvessem. Com essas
teorias, começaram a construir grandes instalações para produção
em grande escala. Com o descobrimento dos antibióticos, julgaram
que essas aves podiam viver sem sucumbir a enfermidades que uma
vida tão insalubre lhes impunha. Assim, doses maciças de antibióticos
foram acrescentados diariamente em sua água e comida...

O ESTRESSE E AS ENFERMIDADES

As galinhas que são mantidas em condições naturais ao ar


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S.O.S Animal

livre podem viver de 15 a 20 anos, mas as que se encontram enjauladas


na criação industrial só vivem cerca de um ano e meio. Sua capacidade
para produzir ovos é diminuída pelo estresse e monotonia que lhes
causa o confinamento. Quando já não é proveitoso mantê-las, são
retiradas das gaiolas e a força são lançadas em outros engradados e
levadas num caminhão, durante longo e penoso percurso, até avícolas,
onde serão abatidas. Se tiverem sorte, um cutelo especial as
insensibilizará antes que sejam introduzidas num caldeirão de água
fervente para, finalmente, serem convertidas em comida processada
para animais e pessoas.

As aves confinadas sofrem agressões das outras aves. Há


brigas entre elas e as menos agressivas não podem mostrar submissão
como se lhes dita a natureza. Algumas vivem tão amedrontadas que
não podem sequer mover-se para comer ou beber; encolhem-se e
morrem. Outras permanecem em contínuo movimento e pânico
neuróticos. Há gaiolas em que as aves não podem sequer esticar as
asas e a cabeça e têm que permanecer agachadas em postura
antinatural.

O bico das aves poedeiras é cortado duas vezes. Primeiro


quando tem uma semana, depois, na 12a ou 20a semana. Para baratear
o custo, recomenda o criador fazer-se 15 aves por minuto. Um
cortador muito quente causa feridas em seus bicos; um outro muito
frio causa úlcera na raiz do bico... Ademais, línguas cortadas ou
queimadas são muito comuns. Alguns criadores cortam-lhes, também,
os dedos de suas patas, para que não possam usar suas garras.

O ambiente das aves na criação industrial é um antro de


contaminação e micróbios. As aves sofrem com os gases fortes de
amoníaco que emanam das toneladas de fezes, que atraem ratos e
insetos. Desenvolvem problemas em suas patas e pernas, devido ao
fato de se encontrarem paradas sobre pisos de arame, que deformam
sua anatomia natural.

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EDNA CARDOZO DIAS

O CUSTO PARA NOSSA SAÚDE

Já é comprovado cientificamente que a adição sistemática


de hormônio, antibióticos e drogas na alimentação e nosso sangue,
têm consequências graves para nós. Há enfermidades que já não
respondem aos antibióticos como antes, entre elas pode-se citar a
septicemia, pneumonia, o tifo, a meningite, e certas doenças venéreas.

A CRIAÇÃO INTENSIVA

Nos países que pertencem à Comunidade Econômica


Européia há um regulamento, desde 1985, que obriga que em cada
caixa de ovos haja a inscrição: “Ovos de Galinhas Enjauladas” ou
“Ovos de Galinhas em Liberdade”. A Suíça foi o primeiro país a
fazer desaparecer progressivamente o sistema de criação de galinhas
em bateria. Foi aprovada lei que obrigou a reconversão dos criadouros
de criação intensiva, até 1991, em criação extensiva, onde todas
galinhas estarão livre, com suas patas na terra. A Alemanha Ocidental
e a Suécia têm seguido essa política e se espera que todos os países
da Comunidade Econômica Européia sigam-lhe o exemplo.

Bibliografia consultada:
La Voz de los Animales no 55, 1987, tradução de Deise
Jankovic

AS MAZELAS DA CRIAÇÃO DE BOIS

Na América Central e América do Sul a indústria de carne


vem destruindo as florestas tropicais. A agroindústria tem obrigado
milhões de pássaros, macacos e outras espécies a abandonarem seu
habitat, com a derrubada das matas. Muitas das espécies estão sendo
dizimadas com a destruição do ecossistema.

27
S.O.S Animal

Os matadouros são grandes poluidores de rios e lagos,


derramando neles resíduos venenosos e restos de animais. A criação
de gado e outros animais exige mais tempo, terra, energia e água que
o necessário para produzir o alimento equivalente em vegetais. Uma
dieta vegetariana pura possibilitaria alimentação a uma população
maior que a existente nos dias de hoje. Entretanto, com uma dieta
puramente carnívora seria impossível alimentar toda a população da
Terra. Em 1984, 40% do grão produzido no mundo foram utilizados
para alimentar os animais em regime de criação intensiva, nos países
desenvolvidos. Se os mesmos grãos tivessem sido destinados à
alimentação do ser humano, teriam sido suficientes para alimentar
toda a terra. Isto, sem esquecer que o Brasil vem exportando grande
quantidade de grãos, enquanto seu povo morre de fome. A injustiça
social e a destruição do meio ambiente caminham lado a lado.

A criação de bovinos no Brasil tem sido responsável pela


fome, pelo desemprego e a desertificação. O solo é calcinado pelo
fogo durante a estação seca, o pasto não é considerado cultura, e
portanto, não recebe adubação e manutenção do solo. Os pastos
queimados são susceptíveis à erosão do solo, perdendo sua
produtividade e a qualidade e prejudicando a alimentação e saúde
do gado. O uso do fogo e a falta de manejo do gado levam ao
desemprego e ao êxodo rural, à destruição das florestas, da fauna e
dos recursos da água e do solo.

A pecuária moderna confina o animal em pequenos espaços


e estimula seu crescimento com doses maciças de hormônios. Fora a
crueldade a que são submetidos os animais este sistema contamina o
produto com resíduos de antibióticos e hormônios cancerígenos.

Para a criação de gado sem agressão ao meio ambiente


deveriam ser aproveitadas as pastagens naturais como os pampas
gaúchos e os cerrados do centro-oeste do País.

O abate clandestino e a saúde - Os abates clandestinos são


feitos, a todo momento, a céu aberto, em qualquer local: pasto, curral,

28
EDNA CARDOZO DIAS

estrada. São feitos pelos próprios açougueiros. Utilizam folhas de


bananeiras ou panos para forrar o chão. O boi leva uma machadada
na cabeça e fica tonto, troca as pernas e cai. Um facão é enfiado no
pescoço do boi e o magarefe pula em cima do lombo do animal para
fazer o sangue sair mais rápido. Do lado fica um tanque para onde
escorrem as fezes, o “chorume”, um caldo esverdeado de
excrementos. O chorume escorre por debaixo do boi abatido e os
mosquitos rondam por toda parte, pousando nas poças de sangue. O
animal é eviscerado e esquartejado no chão, sem nenhuma higiene.
São abatidos animais doentes e esquartejados outros já mortos.

O transporte da carcaça é feito em carros próprios do


açougueiros, exposta ao tempo. No abate clandestino não há qualquer
fiscalização sanitária “antimortem” do animal, nem tampouco no
transporte da carcaça e na comercialização. Também, não é feito o
exame “pós-mortem” dos animais, expondo o consumidor ao risco
de zoonoses, como cicticercose, tuberculose, etc... Desta forma, o
açougueiro não paga ICM e o consumidor compra uma carne suja e
contaminada.

OS ABUSOS NO PROCEDIMENTO MODERNO

Transporte: Condições deficitárias, falta de espaço; escassez


de empregados competentes; falta de cooperação na provisão de
alimentos e água; medidas deficientes para uma descarga segura.

Mercado: Infecção causada por contato com outros animais


enfermos, tratamento brutal dos empregados; falta de água limpa e
comida adequada, cólicas por excesso de alimento antes do transporte
ao mercado para obtenção de maior peso.

Matadouros: Falta de espaço; falta de empregados eficientes;


separação adequada; comida e água deficitárias, perturbações
causadas por ruídos ou tratamento negligente, proteção inadequada
contra os extremos climatológicos.

29
S.O.S Animal

Exame anti-mortes: Inspecção pouco efetiva pela escassez


de peritos, falta de tempo para um exame detalhado.

MÉTODOS DE ABATE: ARCÁICOS E CRUÉIS

Sangria: Hemorragia interna pelo retardamento da sangria,


sangria imperfeita por estar o animal consciente, locais infectados
por micróbios, sobretudo em locais, cujo abate é clandestino e no
frigomato (onde os animais são mortos e derrubados em cima de
dejeções fecais e a carne fica infestada de moscas).

Abusos nos processos de matança:

- Tombar animais plenamente conscientes com cordas ou


correntes antes da matança.

- Pendurar animais vivos inteiramente conscientes por uma


das patas, procedendo à sangria, sem qualquer insensibilização.

OS ABUSOS NA MATANÇA

Histórico - No Brasil , antes do Mercosul exigir uma


legislação que adote dmétodos humanitários de abate, eram

30
EDNA CARDOZO DIAS

permitidos os seguintes métodos de matança:

1. Seccionamento dos grandes vasos sem nenhuma


insensibilização: Os animais de pequeno porte são suspensos de
cabeça para baixo, por uma das patas e têm os vasos do pescoço ou
base do coração cortados a faca. O animal inteiramente consciente,
fica tenso de pavor pelo tratamento brutal e cheiro de sangue dos
companheiros. Se cair na poça de sangue é dependurado novamente.
Eles se debatem deslocando coxo-femurais, articulações, etc.

2. Insensibilização antes da sangria: no caso de animais de


grande porte, para segurança dos funcionários, a Marreta, instrumento
milenar, é comumente usado. Como o cérebro do animal é de tamanho
reduzido, o golpe que exige precisão é falho, atingindo chifre, olho
focinho. Na prática verificou-se que um marreteiro precisa desferir
de dois s seis golpes para derrubar o boi. O Bulbo Choupa consiste
no seccionamento da medula alongada, na altura da nuca do animal
(espaço atlanto-ocipital) por meio de instrumento semelhante a uma
lança. Este método reduz o ritmo respiratório e prejudica a sangria.
A jugulação cruenta, método israelita é muito cruel. O boi é degolado,
enfiando-se os dedos em seus olhos ou narinas para torcer o pescoço
e pendurado consciente, para sangria. Tem que sustentar centenas
de quilos, em intenso sofrimento e dor causado pelo corte da garganta
e pela posição a que está submetido, até que sobrevenha a morte.

CONSIDERAÇÕES HIGIÊNICAS

Para os especialistas da Organização Mundial de Saúde o


estado físico e psíquico do animal no momento do abate influi na
qualidade da carne. Afirmam ele s que o “estresse” deve ser abolido
no momento da morte, porque causa diminuição da taxa de glicogênio
muscular, importante na formação de ácido lático, que por sua vez é
necessário para obtenção do PH ideal da carne (5,6 a 6,2), e assim
diminuir o crescimento de bactérias responsáveis pela putrefação. A
agonia prolongada acumulará toxinas que se depositam no produto

31
S.O.S Animal

final causando certos tipos de câncer no consumidor. Não podemos


deixar de citar a contaminação do sangue e do corte provocado pela
sangria, motivada pela rejeição de materiais estomacais e dejeções.

CONSIDERAÇÕES ECONÔMICAS

O abate humanitário diminui a perda do produto, os acidentes


de trabalho e aceleram o ritmo de produção dos estabelecimentos de
abate. Estudos feitos nos EUA constataram que a sangria feita em
animal consciente causa perda econômica de U$ 1,50 por cabeça,
como resultado da condenação de parte da carne apresentada com
lesões com prejuízo de milhares de dólares anuais. Os acidentes de
trabalho ocorrem em dobro num ritmo de 26,7 homens/hora ao invés
de 13,4. Com as técnicas modernas também se verifica maior número
de animais/hora abatidos.

CONCLUSÃO

Os animais devem estar descansados, descontraídos, e


relaxados não só na hora do abate, mas nas horas que antecedem a
sua morte. Devem ser manuseados corretamente, por pessoas
adequadamente selecionadas e treinadas a fim de poupar-lhes medo,
sofrimento e excitação. O Regulamento de Inspeção Industrial e
Sanitária dos Produtos de Origem Animal, no Brasil, exige a
insensibilização antes do abate. O que falta é o cumprimento da lei.

Bibliografia consultada:

El Bienestar de los Animales Sacrificados para la Produccion


de Carne - WSPA - Folheto da SOZED.

32
EDNA CARDOZO DIAS

O QUE É ABATE HUMANITÁRIO, SEGUNDO A


ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE?

É aquele que torna inconsciente os animais, previamente à


sangria, e esta insensibilização é instantânea e eficaz.

Podemos dividir os métodos de insensibilização modernos


em três tipos:

- Químicos (Gás - CO-2);

- Elétrico (Choque Elétrico);


- Percussão mecânica.

O químico e o elétrico são mais indicados para animais


de porte pequeno como: suíno, ovinos, caprinos e também
bezerros.
A insensibilização pelo CO-2 ou Dióxido de Carbono
(que é um gás inodoro e incolor, e não inflamável), é um processo
altamente eficaz em julgado por experimentações feitas no
homem, a perda de consciência é rápida e total (estudos do Prof.
B.H.C. Matheus - The Physiological Laboratory, Downing
Street, Cambridge 7.1.53).
Elétrico - É a passagem da corrente elétrica pelo cérebro
do animal.
Percussão mecânica - Consiste na utilização de armas
33
S.O.S Animal

especiais que munidas de um cartucho propulsionam um êmbolo


central que penetra instantaneamente no cérebro do animal. A
arma é sempre encostada na cabeça, no ponto indicado. A rês
entra imediatamente em coma cerebral e está pronta para ser
sangrada.

GASTRONOMIA CRIMINOSA
Se há um exemplo de gastronomia criminosa, este é o
consumo de coxas de rãs.
Quando a noite cai - na hora de entrar em ação - as rãs
são capturadas, sem nada compreender. São empilhadas em
sacos, que, quando cheios, são bem amarrados em carros ou
bicicletas, fazendo-as conhecer as primeiras consequencias do
domínio do homem. Muitas poderão estar mortas na chegada,
mas todas morrerão. Algumas receberão choques elétricos no
crânio e suas peles servirão para produzir pulseiras e bolsas.
Outras serão cortadas ao meio, sem anestesia, inteiramente
conscientes, com faca de cozinha, para serem servidas em
restaurantes, como prato fino. A mutilação não as torna
inconscientes; a cabeça e o dorso ainda vivos, são descartados
e o animal pode levar mais de uma hora para morrer. O sistema
nervoso central dos anfíbios difere dos mamíferos e o animal é
tolerante à falta de oxigênio, podendo agonizar horas pela perda
de sangue e trauma.
Por outro lado as rãs são capturadas em áreas de
plantação de arroz, cana de açúcar, etc., onde se alimentam de
insetos, evitando pestes. E como resultado da captura das rãs
verifica-se a proliferação de pragas e o uso indiscriminado do
DDT, além do aumento da incidência de encefalite e malária,
nas crianças.
No Brasil, usa-se, também, o congelamento da rã viva

34
EDNA CARDOZO DIAS

ou jogá-la viva na água fervendo, como se faz com a lagosta e


camarões.
O Brasil é um dos países exportadores de rã, ao lado da
Índia, Bangladesh, Indonésia, México, Filipinas e Tailândia. Em
1986, a Índia organizou a 1a Conferência Mundial sobre o
Comércio de Coxas de Rãs, e preconizou como método
humanitário de abate, o choque elétrico.
Mas, como a ciência, ainda, não comprova tal método
como humanitário, a Liga de Prevenção da Crueldade contra o
Animal e entidades internacionais se opõem a esse tráfico, por
motivos humanitários e ecológicos e propõem moratória para a
captura e abate de rãs, até que técnicas comprovadamente
humanitárias sejam descobertas.
Bibliografia consultada:

Animals International no 20 - 1986 - pg. 10 e 11


Animals International no 19 - 1986 - pg. 7
Animaux Magazine n o 132 - 1985 - pg. 17 e 19 -
Bougrain-Dubourd Allain

PATÉ DE FOIE GRAS


Para a produção do paté de foie gras, alimento caríssimo,
que não chega à mesa do povo, milhares de gansos são
alimentados mecanicamente até que se produza uma estamose
hepática, considerada como uma doença do fígado. Os animais
recebem superalimentação até que seu fígado se dilate até o
triplo do seu tamanho natural. Passados três meses as pernas do
animal podem fraturar pelo excesso de peso e pela imobilidade.
Seus principais produtores são a França e a Hungria.

35
S.O.S Animal

CARNE DE VITELA
Bezerros recém-nascidos, durante três meses recebem
apenas alimento líquido e ficam imobilizados em pequenos
boxes, para que sua carne fique bem macia. Como ficam
estressados e mordem as grades e o próprio rabo são metidos
em focinheiras. São abatidos ainda na primeira infância para a
produção de carne tenra.
Você tem realmente esta fome?

36
EDNA CARDOZO DIAS

CAPÍTULO II
ANIMAIS DE LABORATÓRIO

A CRUELDADE DA VIVISSECÇÃO

Você sabe o que é vivissecção? É o ato de praticar toda sorte


de operações em animais vivos com o objetivo de executar
experimentos em nome da ciência.

A vivissecção é, ainda, autorizada e tolerada na maior parte


dos países, sob a condição de se suprimir o sofrimento dos animais
utilizados. Na realidade, costuma-se negligenciar estes deveres
elementares de humanidade.

As vítimas: cães, gatos, macacos, coelhos, cobaias, ratos,


camundongos, etc., são submetidos a provas cruéis e abandonados
sangrando, feridos, queimados, até que a morte venha terminar com
esse suplício.

Para que serve? A vivissecção é um perigo para a saúde do


homem e uma crueldade para com os animais. O único meio de se
fazer progredir a ciência é estudar as causas e efeitos de uma doença
na cabeceira do próprio doente.

O sadismo: alguns dos experimentadores são sádicos, como


provam seus atos e suas personalidades agressivas e necrófilas.

37
S.O.S Animal

O proveito e a ambição: o proveito é evidente. Muitos


experimentadores não são especificamente sádicos, mas os
experimentos representam para eles um meio cômodo de publicar
inúmeros artigos e fazer carreira. Eles se tornam professores
universitários sem grandes esforços intelectuais, já que o avanço
profissional depende do número das publicações e não da qualidade.
Existem pesquisadores honestos que querem abandonar os métodos
vivisseccionistas, mas estão dominados pela rotina e pelo temor de
desagradar aos superiores.

Pelo bem da humanidade: é em nome desta mentira que os


experimentadores a praticam. É incontestável que as conclusões
tiradas da vivissecção são, geralmente, sem valor para o homem, em
virtude das diferenças fisiológicas e bioquímicas entre as espécies.
A talidomida, por exemplo, é teratógena no homem, coelho, babuíno
e não é no rato e no macaco. A cortisona é teratógena no camundongo
e no coelho, a aspirina é teratógena no rato e no macaco, a adrenalina
e insulina são teratógenas nos ratos e camundongos e não são para o
homem. Poderíamos continuar indefinidamente e demonstrar a
inutilidade dos experimentos com animais.

É preferível experimentar nos animais que nos homens: isto


é o que se diz, mas os experimentos continuam com os homens,
muitas vezes com farto noticiário na imprensa, como é o caso da
menina que recebeu coração de macaco e o homem do coração de
plástico.

Anestesia: uma mentira dos pesquisadores. Os pesquisadores


só costumam aplicar anestesia nos animais nas operações cirúrgicas
em virtude de comodidades evidentes. Mas, a maioria dos
experimentos são realizados sem anestesia para não alterar as funções
orgânicas e perturbar as “pesquisas”. E como aplicar anestesia em
um animal que sofre uma experiência durante dias e semanas?

A vivissecção deve ser abolida: sua abolição será um grande


passo no domínio do progresso moral e científico e contribuirá para
extinguir a idolatria da violência e da força brutal.
38
EDNA CARDOZO DIAS

Os mais bárbaros
experimentos em animais
vivos são: testes com
cosméticos, cigarro e
álcool; Draize Test; LD
50; testes comportamen-
tais na área da psicologia;
testes armamentistas,
entre outros.

COSM É T I C O S ,
TABACO E ÁLCOOL

A alternativa para
tais testes é simplesmente
não fazê-los, já que
podem ser usados
ingredientes que são
reconhecidamente
inofensivos, através da
experiência humana.
Muitas empresas produzem produtos cosméticos, que não foram
testados em animais e são seguros para a saúde humana. É incrível
que os animais, ainda, estejam sendo utilizados para testes de cigarro
e álcool, quando se sabe há anos os danos que tais produtos causam
à saúde humana.

DRAIZE EYE IRRITANCY TEST

Shampoos, pesticidas, herbicidas, produtos de limpeza e da


indústria química são testados em olhos de coelhos conscientes. Este
teste existe desde 1944. As substâncias são testadas nos olhos de
coelhos albinos presos em aparelho de contenção, que não recebem
sedativos para aliviar a dor, sendo que o teste dura vários dias, durante
os quais a córnea e a íris são examinadas para se verificar a ulceração,

39
S.O.S Animal

a hemorragia, a irritação, a inchação, e a cegueira. O Draize Test é


também condenado cientificamente, pois os olhos dos coelhos são
estruturalmente diferentes dos olhos humanos.

LD 50, DOSE LETAL EM 50%

Introduzido em 1927,
consiste em administrar aos
an im ai s u m a do se de
produtos tais como
pesticidas, cosméticos,
drogas, produtos de limpeza
e verificar a toxidade, com a
morte de 50%. A forma
comum é a ingestão forçada
por via bucal, usando-se um
tubo, que vai até o intestino.
Outras formas incluem
injeções, inalação forçada de
vapores e aplicação de
substâncias na pele. Os sinais de envenenamento incluem lágrimas,
diarréia, sangramento dos olhos e boca, convulsões. Não se dá

40
EDNA CARDOZO DIAS

medicamento para aliviar o sofrimento dos animais. Os resultados


variam de uma espécie para outra e de indivíduo para indivíduo.

EXPERIMENTOS NA ÁREA DA PSICOLOGIA

Muitos dos mais cruéis experimentos se realizam na área da


psicologia, no estudo comportamental. Estes experimentos incluem
privação da proteção materna e privação social, na inflicção de dor
para observação do medo; no uso de estímulos aversivos como
choques elétricos para aprendizagem e na indução dos animais a
estados psicológicos estressantes. Os animais são, ainda, submetidos
a operações para retirada de parte do cérebro para observação das
alterações comportamentais. Os choques elétricos, a dor, a privação
de alimento e água são usados para a aprendizagem. A indução ao
estresse é utilizada para testar drogas já conhecidas como anti-
depressivos, soníferos, sedativos, estimulantes e tranquilizantes.

EXPERIMENTOS ARMAMENTISTAS

Os animais são submetidos a radiações de armas químicas e


biológicas, assim como às descargas de armas tradicionais. São
expostos, ainda, a gases e baleados na cabeça, para estudo da
velocidade dos mísseis. Usa-se a desculpa de que tais testes são feitos
por razões defensivas, mas na realidade sempre podem ser usados
com propósitos ofensivos. E não se justifica o uso de animais para a
guerra, cuja única responsabilidade cabe à espécie humana. Não se
justifica infligir dor ao animal com o propósito de nos destruir a nós
mesmos.

Outros testes absurdos são aqueles que pretendem demonstrar


fatos já conhecidos, devendo-se usar métodos modernos como o
computador e o vídeo. O uso de curare como anestésico, também, é
muito cruel, pois o animal fica paralisado, mas inteiramente
consciente e sensível. Costuma-se, ainda, usar um mesmo animal
para mais de um experimento, assim como para experimentos
prolongados, o que é inadmissível.

41
S.O.S Animal

EXPERIMENTOS EM INVERTEBRADOS

Grande parte daqueles que desejam evitar e abolir o


sofrimento animal, têm concentrado sua atenção em mamíferos e
pássaros, principalmente pela sua afeição ao ser humano e sua beleza.
O homem, ainda, hesita em estender os direitos do animal aos
invertebrados.

O mundo abriga diversas espécies de animal, a maioria


invertebrados.

Para muitas pessoas a aparência alienígena dos invertebrados


não os faz candidatos à compaixão. Mas, a sua aparência não deveria
afetar nossa ética de julgamento. JS Baker, D Sc (Oxon) FRS, que
desenvolveu experiências em lagostas e caranguejos é quem diz:

“Os invertebrados parecem superficialmente tão diferentes


de nós que há uma tendência em supor que eles não possuem
consciência e de pensar que devemos tratá-los como máquinas.
Muitos deles, entretanto, possuem sistema nervoso e sensorial, e
suas células, vistas sob microscópio, são similares às nossas”.

Os polvos e a lula são muito usados em experimentos. São


submetidos a dolorosos experimentos neurológicos e
comportamentais, inclusive treino para desenvolvimento de tarefas
usando-se choques elétricos como punição, também choques elétricos
com destruição de partes do cérebro são aplicados. Os animais exibem
evidentes sinais de conflito mental e emocional, adotando posturas
anormais e mudando a cor.

Outro exemplo se deu no Queen Mary College, Londres, onde


abelhas foram imobilizadas em argila modelada e um buraco foi feito
em seus cérebros, onde se injetou drogas, matando-as para estudo de
canais nervosos.

Sob a desculpa de que os invertebrados agem


automaticamente e não são capazes de sentir, os vivissectores dão
choques elétricos, agulhadas, etc., em amebas, vermes, águas vivas,
42
EDNA CARDOZO DIAS

como castigo e comida como recompensa, no desenvolvimento de


seus experimentos.

ë verdade, que devido à sua vida tão curta os invertebrados


têm uma curta aprendizagem e seu repertório inato de comportamento
é, sobretudo, o reflexo. Mas, muitos invertebrados têm demonstrado
capacidade de aprendizagem.

Não será surpresa quando a ciência confirmar que os


invertebrados sentem dor e são capazes de sofrer, porque a dor é um
fenômeno biológico, associada com a destruição de tecidos,
condiciona o animal a evitar tudo o que lhe cause dor. Qualquer
pessoa pode chegar a esta conclusão observando o animal em seu
ambiente natural. De qualquer forma, como é impossível dizer o que
o outro ser está sentindo (inclusive o ser humano), deve-se dar ao
animal o benefício da dúvida.

Considerando, ainda, que os invertebrados constituem 96%


da população do planeta, as entidades de proteção ao animal devem
assegurar que os direitos do animal se estendam a todos os animais,
vertebrados ou invertebrados.

Bibliografia consultada:

Buav Factsheet - British Union for the Abolition of


Vivisection

Tradução resumida de Edna Cardozo Dias

OS ANIMAIS EM PROGRAMAS ESPACIAIS

A era espacial começou em 1957 com o lançamento do


Sputnik I e, em como todas as outras áreas do progresso científico,
os animais foram usados, sobretudo em vôos que apresentam risco
de vida. Muitos animais foram usados, os EUA preferiram os primatas
e os russos os cães.

Entre 1950 e 1954 o programa de balões estava no apogeu e

43
S.O.S Animal

ratos, gatos, cães e macacos eram lançados a altitudes imensas por


período de 28 horas. No primeiro foguete lançado, viajou o macaco
Albert, preso em um pequeno cone, que morreu no lançamento por
falha do sistema.

Albert II foi preparado para vôo similar e embarcou


totalmente amarrado com fios de nylon, com agulhas fincadas nas
pernas e peito, para gravar as batidas do coração, e uma máscara na
cara, tudo para que seus primos homo-sapiens mostrassem sua perícia.
Albert II morreu por falha no sistema de aterrissagem. Outros animais
morreram e Baker e Abel, macacos rhesus, foram parte de uma viagem
espacial bem sucedida. Amarrados, com roupas espaciais, eram
alimentados por tubos colocados até seus estômagos. Abel morreu
cinco dias depois da chegada, quando se retiravam as agulhas de seu
peito e Baker está vivo, assentado em sua gaiola de metal. Os humanos
astronautas recebem medalhas e os animais recebem sentença de
morte ou de prisão perpétua.

Enquanto isso os russos estavam preparando seu primeiro


cão para vôo, Layka. Antes de 1960, 40 animais foram lançados em
vôos. Bugrov e seus companheiros lançavam cães no ar, com roupas
espaciais e a 110 km e 3 minutos depois da partida o cone onde
estavam os animais se separava, os pára-quedas se abriam e os animais
aterrorizados, sem nada compreender, desciam. Os atuais lançamentos
dão aos cientistas a oportunidade de acumular cada vez mais abusos,
com estudos psicológicos e de gravidade. Ratos, porcos, macacos
são colocados em maquinários sofisticados para medir pressão,
controle de temperatura, funções do fígado, colocados em vácuos. E
agora serão usados pelos russos para desenvolver sistemas biológicos
de futuras naves interplanetárias a fim de suprir os cosmonautas com
alimentos frescos durante os vôos de longa duração.

OS ANIMAIS EM PESQUISAS DENTÁRIAS

As pesquisas dentárias em animais têm tido pouca


publicidade. Macacos, ratos, camundongos e cães têm sofrido
dolorosos experimentos e morrido.
44
EDNA CARDOZO DIAS

Ratos são alimentados por 21 dias com açucares e bactérias


são introduzidas em suas bocas para decomposição dos dentes. Os
animais são mortos e as cabeças são removidas para estudo do
desenvolvimento da cárie. (Archives of Oral Biology - 1981, vol.
26, p. 625)

Filhotes de macacos rhesus são alimentados com dietas de


doces por dois anos, para testes de vacina contra cárie. As raízes dos
dentes enfraquecem, com a dieta usada, fixados nos maxilares com
cimento dentário, por até 62 meses, quando os animais são, então,
mortos e o tecido da boca é estudado, já inflamado. (Journal of Dental
Research, 1980, vol. 159, p.2793)

Outros animais têm fios introduzidos na base do dente para


causar inflamação nas gengivas (Britsh Dental Journal, 9.7.83). Cães
tiveram suas gengivas separadas dos ossos para testar a toxidade de
produtos usados na indústria dentária, como resinas e soluções para
bochecho e drogas.

Na experiência da vacina contra cárie, anos e anos os macacos


comem doces e recebem aplicação de várias drogas para testes de
vacina. Além da dor os animais sofrem o estresse do isolamento, das
jaulas inadequadas e da dieta anormal para a espécie. Acabam ficando
diabéticos.

Estas experiências são inaceitáveis, principalmente porque


não têm validade científica. As cáries resultam de dieta inadequada
e má escovação dos dentes. Servem, pois, para confundir o progresso,
jamais preveniram uma só lesão bucal.

Segundo a British Union for the Abolition of Vivisection são


os interesses comerciais que motivam estes experimentos e não a
saúde humana. Quem se beneficiará com a venda das vacinas?
Indústrias de chocolate, Coca e Confederações das Indústrias de
Doces financiam estes experimentos que jamais beneficiarão o
homem.

45
S.O.S Animal

Bibliografia consultada:

Buav Factsheet - British Union for the Abolition of


Vivisection

Tradução resumida de Edna Cardozo Dias

OS EXPERIMENTOS NAS ÁREAS DA PSICOLOGIA E


NEUROFISIOLOGIA

Muitos dos experimentos mais dolorosos se realizam no


campo da psicologia. Um dos exemplos mais cruéis se refere a
experimentos no cérebro de animais vivos, incluindo cortes, coágulos,
remoção de tecidos cerebrais, assim como estímulos mediante
choques elétricos e químicos. Em quase todos os experimentos se
utilizam mais de dez animais. Mas, os mais freqüentes são os
experimentos cuja finalidade é averiguar a reação dos animais diante
das diversas formas de castigo. Um castigo habitual é o eletrochoque.
Os métodos utilizados pelos professores é naturalmente adotado pelos
estudantes e, desse modo, torna-se possível obter um doutorado em
psicologia eletrocutando os animais.

A fome e a sede são utilizadas não só como prêmio e castigo,


mas na obtenção de resultados óbvios e triviais, como observação da
morte e comportamento dos animais em inanição.

Harlow e Suomi resolveram desenvolver estudos sobre as


privações sociais e tiveram a “fascinante” idéia de induzir animais à
depressão construindo mães de trapo para os bebês mono. As
conclusões não foram surpreendentes: uma criatura ultrajada procura
proteção na mãe e a privação materna gera condutas anormais
diversas.

Exposição ao frio e calor excessivo, febre experimental para


observação do 1’EEG são outras formas de tortura. E, na verdade,
os experimentos com os animais nada nos podem ensinar sobre os
humanos.

46
EDNA CARDOZO DIAS

Bibliografia consultada:

Liberation Animal - Peter Singer - pág. 55 a 83

OS ANIMAIS PARA FINS MILITARES

Desde a antigüidade os animais são utilizados em guerras.


Antes de Cristo, os elefantes e cavalos faziam as vezes de tanques de
guerra. Os camelos e dromedários, também, experimentaram as
mesmas agonias e mortes em combates sangrentos. Os cães foram
mobilizados desde o antigo Egito, quando eram lançados aos inimigos
com pontas de ferro na coleira e, nas últimas guerras mundiais,
munidos de máscaras de gás. Na época da pirataria, serpentes e
abelhas eram lançadas contra o inimigo e, recentemente, gatos e
carneiros carregados de explosivos. Em 1942, depois do ataque de
Pearl Harbor pelos japoneses, os americanos largaram no Japão
nuvens de camundongos munidos de mini-bombas incendiárias. Os
golfinhos muitas vezes foram transformados em torpedos vivos,
quando homens utilizavam a sua inocência para atos militares
vergonhosos. Dos pássaros, a pomba foi a que mais utilizaram para
fins militares, já que é dotada de excepcional faculdade de orientação,
servindo de mensageira. Isto tudo sem contar os animais que são
dizimados ocasionalmente por bombas, tanto silvestres como animais
domésticos. Os campos são minados e os animais são assassinados
no afã do homem de destruir outros homens e dominar outras raças.

É preciso desaparecer esta loucura destrutiva dos homens


que se combatem. Praticamente não existe guerra entre os animais,
no sentido humano do termo, apenas uma dura luta pela vida, ditada
pela Lei da Natureza.

Usados para a guerra - O Instituto Sueco de Pesquisa para a


Paz revela que fabulosas somas de dinheiro são empregadas em
pesquisa de armas biológicas e químicas. Foi assim que os EUA
gastaram milhões de dólares para importar macacos para suas
experiências armamentistas.

47
S.O.S Animal

O lazer - Nos laboratórios de Wright-Patterson, Ohio, utiliza-


se, cotidianamente, macacos e coelhos para experimentos. O raio
laser é emitido em direção aos olhos, que entram em ebulição e
explodem, causando cegueira definitiva. Nos primatas o calor intenso
do raio queima a carne até os ossos em uma fração de segundos,
restando apenas uma nuvem de fumaça (Science et Vie no 670, junho
73). Um fuzil de laser químico portátil, atravessando um corpo
colocado a 8 km de distância, deixa um buraco de 7 a 8 mm (como se
sabe, a não ser com experiências?)

Arma nuclear - Utilizavam-se cabras. Continua-se a expor


animais às terríveis queimaduras das explosões nucleares. Milhares
de cães foram alimentados com alimentos que continham doses de
radiação 200.000 mil vezes mais fortes que as suficientes para fazer
sucumbir um homem em zonas de radioatividade. Conseqüência:
queimaduras internas (Special Dernière, no 204).

Arma necrosante - Experimentada em ratos. Ela destrói a


mucosa por meio de gás e a presença de água neste momento faz
com que o corpo se necrose e desapareça em fumaça (emitida pela
televisão RTB). A arma de fósforo branco inflama o ar e deixa a
vítima em carne viva durante meses.

Granada - Ao explodir libera milhares de partículas que


penetram no corpo, numa trajetória sinuosa, provocando desgastes
irreparáveis. A imprensa mostrou herbívoros em agonia com ensaios
desta arma. Também mostrou as costas de humanos atingidos por
este projétil, porque este experimento se fez, também, com os homens,
na Indochina, durante a guerra do Vietnam.

Bomba explosiva CS - Destrói os pulmões e as vísceras. É


experimentada em animais.

Bomba de cloro - Bem como a bomba desfolhante, queimam


os corpos interna e externamente, já que a bomba atira dardos que
não podem ser extraídos, causando uma terrível agonia. Sabemos
com que terrível eficácia a bomba de “napalm” foi experimentada

48
EDNA CARDOZO DIAS

na Indochina.

Assim, as atividades de laboratórios preparam a guerra.

Bibliografia consultada:
La voix de bêtes - no 83 - pág. 18

Folheto da Ligue Française contre la Vivisection

BELEZA SEM CRUELDADE

Para satisfazer seu próprio narcisismo o homem tem


inflingido sofrimento a milhares de criaturas na produção de artigos
supérfluos e para seus prazeres transitórios. Por trás da história de
milhares de produtos de beleza existe o sofrimento e a crueldade.
Segundo a American Fund for Alternatives to Animal Research, com
sede em New York, estima-se que mais de um milhão de animais
morrem, cada ano, em testes de cosméticos e produtos de beleza. Os
fabricantes escondem do público os métodos obscenos que usam.
Em 1979, na Inglaterra, 30.548 animais foram usados para testes de
cosméticos. Os principais métodos usados são: irritação da pele,
irritação dos olhos e ingestão do produto. É difícil imaginar, que
alguém com o mínimo de consciência, continue a comprar cosméticos,
fabricados às custas de tais abusos.

Teste de irritação da pele: Relata a American Fund for


Alternatives to Animal Research, que os porcos da índia são utilizados
para testes de loções adstringentes e loções pós-barba. O método de
preparação da pele para o teste é muito doloroso. Primeiramente,
seu pelo é raspado. Depois, pressiona-se uma fita adesiva no local e
puxa-se brutalmente. Repete-se a operação até a pele ficar
supersensível. Então é colocado o irritante químico, que é coberto
com ataduras e deixado por um ou dois dias, quando se examinar o
estado da pele. (Não é preciso dizer que queimaduras são o resultado
frequente). Este procedimento foi desenvolvido nos EUA por dr. J.H.
Draize e Food & Drugs Administration (FDA) e são agora rotineiros
e conhecidos como “Draize patch test”.
49
S.O.S Animal

Teste de irritação dos olhos: Um dos métodos de testar


shampoos é pingar substâncias concentradas nos olhos de coelhos
albinos, para avaliar o grau de irritação. Isto resulta em inflamação,
inchação, cegueira e destruição da córnea. Frequentemente, a
substância é pingada por vários dias e a lesão é avaliada pela extensão
da área injuriada. Para que os animais não se movam são imobilizados
em aparelhos de contenção, de forma que a sua cabeça fique fora do
aparelho, enfiada num orifício, de forma que não possam se mover.
Os olhos são mantidos abertos com clips ou fita adesiva. Os animais
não recebem tratamento, depois. Os coelhos são usados porque seus
olhos não lacrimejam e, então, o produto não escorre.

É fácil imaginar como deve sofrer um coelho usado para testes


de shampoo. Basta se lembrar como foi doloroso, você deixou cair
sabão nos olhos. Mas, é claro, você podia enxaguar, o que não é o
caso do coelho, que não pode se mover e não se testa nele o sabão
doméstico, mas uma substância concentrada, que pode, até mesmo,
destruir sua visão.

Ingestão: A ingestão forçada é lugar comum nos testes de


batons, pó facial e make-ups. Os animais são forçados a ingerir grande
quantidade de material e seus órgão, frequentemente se queimam ou
se rompem. O objetivo é verificar se o produto mata 50% dos animais
e o teste se chama LD 50 (dose letal em 50%). O animal entra em
convulsão e estado de choque quando o material é introduzido, por
meio de tubos, em seu estômago. Sofre até a morte, pois qualquer
intervenção prejudicaria o resultado do teste. Um teste imoral e
absurdo, segundo Lord Platt, membro da Medical Research Council.

Ratos usados para testes de antiperspirantes: O rato é


colocado de barriga para cima e suas patas são envolvidas em sapatos
apertados, tipo tubos, para prevenir a evaporação de secreção úmida.
O antiperspirante é colocado em uma só pata, para se fazer a
comparação com o pé que não recebeu o produto.

Os estudos em animais são inconclusivos e insatisfatórios. A


Liga de Prevenção da Crueldade contra o Animal, a exemplo da
50
EDNA CARDOZO DIAS

American Fund for Alternatives do Animal Research, sugere às


pessoas que só comprem produtos que não tenham sido testados em
animais (a entidade supra - AFAAR - tem uma lista de produtos que
oportunamente serão divulgados pela LPCA, já que no Brasil as
multinacionais tomaram conta deste mercado) e que não contenham
produtos animal, exceto o mel, cera e lanolina.
MÉTODOS SUBSTITUTIVOS PARA EXPERIÊNCIAS
EM LABORATÓRIOS
Técnicas que recorrem à química, às matemáticas, à
radiologia, à microbiologia, e outros meios permitem evitar o
emprego de animais vivos em experiências de laboratório.

Depois, que se descobriu ser impossível extrapolar ao homem


as informações obtidas em experiências praticadas sobre animais
vivos em razão da especificidade das espécies. Esforçou-se então
para se encontrar métodos de experimentação mais eficazes. Estes
métodos que substituem a vivissecção recorrem a um grande número
de disciplinas, entre as quais a biogenética, as matemáticas, a
virologia, a bioquímica, a radiologia e a microbiologia. Podemos
ressaltar entre os métodos desenvolvidos a cultura tissular, a utilização
de microorganismos e invertebrados inferiores, elaboração de
modelos matemáticos, enquetes junto ao público e estudos
epidemiológicos. Os meios audiovisuais são utilizados pelos
professores nas escolas e pelos pesquisadores em seus trabalhos de
rotina.

CULTURA CELULAR

As culturas celulares são cada vez mais usadas pelos


laboratórios industriais e de pesquisa (sobretudo para vacinas) no
estágio dos primeiros ensaios. Chama-se cultura celular a técnica
que consiste em cultivar células isoladas fora de seu meio normal.
Estas células são provenientes de fontes humanas, animais e vegetais.
Os tecidos humanos podem ser obtidos na ocasião das operações
cirúrgicas, biópsias, autópsias, ou retirados de fetos ou placentas.
Os tecidos animais podem ser buscados nos matadouros ou em
51
S.O.S Animal

animais de laboratório abatidos humanamente. As células podem


viver, crescer e multiplicar mediante recebimento de substâncias
nutritivas, fora de seu meio natural. Algumas têm um potencial de
vida limitado, outras podem viver indefinidamente, permitindo
estudos de vários meses. Um só doador é necessário. A cultura celular,
também, é menos onerosa, produz resultados científicos mais
confiáveis. O inconveniente é que o meio artificial da cultura pode
provocar transformações estruturais e bioquímicas nas células ou a
perda de alguma função específica. Outras pesquisas se fazem
necessárias para solucionar este obstáculo.

UTILIZAÇÃO COMBINADA DE TESTES

Uma segunda técnica que implica a cultura de tecidos vivos


é a cultura orgânica. Como seu nome indica ela exige a conservação
em vidro de parte ou todo de um órgão de maneira a salvaguardar
sua estrutura fundamental e seus caracteres bioquímicos. As culturas
orgânicas são mais difíceis de conservar e são utilizáveis apenas
durante algumas semanas.

As bactérias e os organismos unicelulares são frequentemente


utilizados como instrumentos de experiência.

A utilização combinada destes testes com outros métodos


tais como ensaios químicos, modelos matemáticos, enquetes
epidemiológicas, não só reduzirá o número inaceitável de animais
empregados nas escolas, laboratórios industriais e universidades, nos
centros de pesquisas, como será proveitosa para os estudantes, os
homens de ciência e o grande público.

CARTA MUNDIAL DOS ESTUDANTES POR UMA


CIÊNCIA E UMA BIOLOGIA SEM VIOLÊNCIA

1. Como estudante ser-me-á reconhecido o direito e a


possibilidade de estudar e exercer uma ciência que não
impliquem em nenhuma violência;

52
EDNA CARDOZO DIAS

1. Ser-me-á dada a possibilidade desta escolha materialmente,


intelectualmente e moralmente;

2. Eu Terei Direito A Uma Cláusula De Consciência Para


Recusar Prática Experimentais Violentas Que Me Sejam
Impostas E Que Infrinjam A Declaração Universal Dos
Direitos Dos Homens E A Declaração Universal Dos
Direitos Do Animal;

3. Não se poderá exercer sobre mim, em um estabelecimento


de ensino, sanções disciplinares ou administrativas porque
eu invocarei esta cláusula de consciência;

4. Ser-me-á, também, reconhecido o direito de objetar contra


aplicações violentas da ciência nas quais tentem me
implicar;

5. Eu agirei com dignidade na minha reivindicação do direito


ao estudo e ao exercício de uma ciência não violenta;

6. Eu Invocarei A Presente Carta Contra Práticas


Experimentais Violentas Sobre O Homem E Sobre O
Animal, Que Me Sejam Impostas Nos Meus Estudos Ou
Na Minha Profissão;

7. Eu defenderei e divulgarei o espírito desta Carta para que


a Ciência seja um caminho de compreensão, de simpatia e
de paz para a humanidade, o animal e a natureza.

OS FINS JUSTIFICAM OS MEIOS? Eis um paradoxo. OU


O ANIMAL É DIFERENTE DE NÓS E NESTE CASO A
EXPERIÊNCIA NÃO TEM RAZÃO DE SER, OU ELE É COMO
NÓS E NÃO LHE DEVERÍAMOS INFLIGIR PROCEDIMENTOS
QUE NÃO ACEITARÍAMOS PARA NÓS MESMOS.

Bibliografia consultada:

Forum - março/82 - pág. 10 - RIDDE L. Rosemary - Expert


Scientifique

53
S.O.S Animal

TORTURA REFINADA

Na vivissecção os animais nunca são curados, pelo contrário,


são inoculados com doenças.

Desde que Claude Bernard, em 1825, transformou os porões


de sua casa em laboratório privado de vivissecção, a crueldade dos
experimentos vem se tornando mais refinada.

No século XX, o famoso Ivan Pavlov, discípulo de Elia Cyon,


que por sua vez era discípulo de Claude Bernard “descobriu” o que
os gregos já sabiam: a lembrança do alimento podia provocar a
salivação e imediata secreção de sucos gástricos no cão e no homem.
Seu trabalho representa um monumento remarcável da futilidade da
vivissecção.

O professor Monakow e o dr. Minkovsky da Universidade


de Zurich desenvolveram diversas experiências em cérebros de gatos
e cães, no curso das quais extirparam os olhos dos animais.

L’American Journal of Physiology, março 1923, conta que


gatos foram aprisionados em sacos com a cabeça de fora e colocados
perto de um cão furioso que latia, para observação do medo. Outros
foram asfixiados para observação da morte.

A revista médica inglesa, Le Lancet, de maio de 1930, relata


uma experiência sobre um grupo de cães cujos intestinos foram
saturados para impedir a defecação. A morte se deu após uma agonia
de 5 a 11 dias.

Arthur A. Ward, relata no Journal of Neurophysiology, março


de 1947, EUA, que para medir as ondas cerebrais dos gatos injetou
substâncias químicas em seus cérebros. Uma hora depois da injeção
os gatos começavam a vomitar, gritar, ter espasmos, até chegar a um
violento ataque de natureza epiléptica.

Experiência similar foi desenvolvida no Laboratory for


Neuropsychiatry Researd, Baltimore, onde eletrodos foram aplicados

54
EDNA CARDOZO DIAS

no cérebro de gatos, levados a convulsões por choques elétricos. As


experiências se prolongaram até a morte dos animais que chegaram
a viver até três semanas (Proceedings of the Society for Experimental
Biology and Medicine, vol. 65, 1947).

Os aparelhos de tortura foram se tornando mais refinados.


Em 1942, R.L. Noble e J.B. Collip inventaram o Tambor Noble-
Collip, onde os animais eram postos para rolar protuberâncias
metálicas de instrumento rotativo, para “estudo” de choques
traumáticos sem hemorragia, em animais não anestesiados.

A cadeira Ziegler, 1952, é uma cadeira onde o macaco se


assenta com a cabeça e as grandes partes do corpo descobertas,
propiciando toda sorte de manipulação.

A prensa de Vlalock foi inventada por dr. Alfred Blalock,


podendo exercer pressão de até 2500 kg, com a finalidade de
arrebentar os músculos das patas dos cães, sem quebrar os ossos.

O canudo de Collison costuma ser implantado no cérebro de


gatos e macacos para facilitar a passagem repetida de agulhas
hipodérmicas, eletrodos, etc...

Ressaltando a inutilidade das experiências, é bom lembrar


que o American Journal of Physiology, outubro de 1949, descreve
uma descoberta “remarcável”. Colocando-se massa indigesta, através
de sonda, no estômago de cães, na hora da refeição comeram menos.

No centro químico da armada de Maryland, 1950, pombos


colocados em ambiente com cinco graus negativos, para observação
de quanto tempo poderiam resistir ao frio e à fome. Conclusão:
levaram 114 horas para sucumbir.

Macacas que tiveram seu fluxo menstrual desviado para


orifício artificial levaram anos para morrer. Conclusão: este método
experimental pode prometer muito, outras experiência serão
necessárias.

55
S.O.S Animal
O American Journal of Physiology, vol. 194, no 2, 1958, relata
experiências em que os rins de cães foram extirpados, concluindo-se
que os cães sem rins são diferentes.

Para testes de tranqüilizantes combinações sempre novas são


injetadas no cérebro dos animais, seja porque o público descobre a
inutilidade dos produtos já existentes ou porque se torna impossível
esconder a sua nocividade.

Excitantes, como NMA foram injetados em caudas de gatos,


que apresentaram furor, tremuras, movimentos desordenados, etc...

O Journal of Comparative and Physiological Psychology, vol.


55 no 1, 1962, conta que macacos rhesus aprenderam a saltar sobre
uma prancha para escapar de choques. Depois colocaram dois
macacos e uma só prancha.

Pombos drogados receberam choques em seus órgãos


genitais, para se verificar se as bicadas que eram obrigadas a dar na
chave para alcançar alimento, aumentavam com o castigo.

Para estudo do mecanismo da insônia vários gatos foram


privados de sono até ficarem loucos. Nos testes de fumo os animais
são obrigados a fumar 12 horas por dia, por toda a vida.

Todas estas atrocidades podem conceder um doutorado ou


até um prêmio Nobel ao executor. Isto é vivissecção!

Bibliografia consultada:

Ces Bêtes qu’on Torture Inutilement - RUESCH Hans

Liberacion Animal - SINGER Peter

56
EDNA CARDOZO DIAS

OS FALSÁRIOS DA MEDICINA

Vivissecção é o ato de praticar toda sorte de experiências em


animais vivos, com o objetivo de executar experimentos em nome
de ciência. A sua propagação se tornou possível graças a impostura e
às subvenções que ela envolve. São, também, realizadas por
indivíduos que desejam fazer uma carreira curta com publicação de
trabalhos.

Os conhecimentos adquiridos com os experimentos em


animais não podem ser extrapolados ao homem, em virtude da
especificidade das espécies. As doenças artificialmente provocadas
nos animais por inoculação, choques elétricos e feridas, nada têm a
ver com as doenças adquiridas espontaneamente pelos homens.
Muitas substâncias que são teratógenas para os homens não são
teratógenas para os animais e vice-versa. As grande catástrofes da
farmacologia foram testadas em animais, como a talidomida,
benoxapofrene, chlorofenicol, clioquinol, depo-provera, isoprenalina,
stilboestrol, etc.

Outros medicamentos que não são nocivos para o homem


são para certos animais como a aspirina, a insulina, a cortisona, a
penicilina, o clorofórmio, etc.Os vivisseccionistas costumam dizer
57
S.O.S Animal

que a vivissecção é indispensável ao desenvolvimento da medicina


e da biologia. No entanto, as grandes descobertas da medicina não
são devidas à vivissecção.

A introdução da assepsia, de anti-sépticos, do éter, do ópium,


do curare, da cocaína, da morfina, do clorofórmio e de outros
anestésicos, que têm importância fundamental para a cirurgia, não
se deve à vivissecção. Já a aquisição de habilidade cirúrgica só é
possível através do contato cotidiano com os pacientes. É preciso
ser primeiro um assistente e depois um cirurgião. Os animais são
morfologicamente diferentes.

A descoberta de instrumentos e o conhecimento de fatos de


vital importância para o diagnóstico, também nada devem à
vivissecção como o termômetro, o microscópio, a bacteriologia, o
estetoscópio, o oftalmoscópio, o raio X, a auscultação, o microscópio
eletrônico.

O mesmo podemos dizer do desenvolvimento da vacinação


e de todas substâncias com base na digitalina, atropina, iodo, quinino,
nitroglicerina, radium, penicilina, só para citar os mais conhecidos.

Assim, a esperança de vida nada deve à experimentação


animal. O prolongamento da vida humana e a consequente diminuição
da mortalidade infantil se devem mais a uma melhor alimentação e
hábitos de higiene, que aos novos medicamentos. A maioria dos
remédios é só paliativo e não atinge a causa, além de gerar efeitos
colaterais nefastos.

Ademais, as experiências efetuadas nos animais acabam por


ser repetidas nos homens.

As experiências de Pavlow, que recebeu prêmio Nobel por


torturar animais, são repetidas nos homens, até hoje, como métodos
de se obter a lavagem cerebral.

As experiências neurológicas em que gatos e macacos têm


seus cérebros perfurados, mutilados e traumatizados por choques
58
EDNA CARDOZO DIAS

elétricos só tiveram uma aplicação prática: têm servido aos regimes


ditatoriais para aplicar torturas em prisioneiros políticos.

Depois que o prof. Delgado aplicou choques em macacos, o


engenheiro eletrônico Shafer achou natural colocar eletrodos no
cérebro de recém-nascidos.

Mais recentemente as vacinas de Aids estão sendo testadas


no Zaire. As vítimas costumam ser seres que não podem protestar:
órfãos, crianças abandonadas, débeis mentais e indigentes.

Nos EUA, onde o aborto é legalizado, conforme relata o livro


“Babiers for Burnin”, 1974, fetos foram vendidos para
experimentação. Estando os bebês oficialmente mortos, foram
mantidos vivos, sem que a mãe soubesse, para experiências diversas
como o câncer, leucemia, transplantes, etc...

Apesar de ser extremamente cruel para os animais e um perigo


para a saúde humana a vivissecção continua sendo feita pelas
indústrias farmacêuticas, bélicas, cosméticas e outras,
subvencionadas pelo governo, com o dinheiro dos contribuintes.

Uma das experiências absurdas são os testes de pesticidas e


cosméticos nos olhos de coelhos albinos.

Milhões de animais são submetidos à ação de veneno,


queimaduras, choques traumáticos até a morte, ao congelamento, a
sirenes estridentes, extirpação de glândulas e órgão, são colocados
para rolar tambor Noble-Collip e imobilizados em aparelhos de
contenção para experiências sem anestesia. Outro crime é a aplicação
do curare para imobilizar o animal, que continua consciente e sensível
à dor.

Os psicotrópicos, que têm levado o homem ao vício, são,


como qualquer outro produto, testados de forma ignóbil.

Nos testes de tranquilizantes um grupo de gatos, em geral


200, são confinados em espaço pequeno e recebem choques elétricos.

59
S.O.S Animal

Loucos de dor e terror se atacam. Feridos e agonizantes são


substituídos por outros que recebem doses de tranquilizantes. Se o
novo grupo de gatos leva mais tempo para ficar nervoso, o
tranquilizante é considerado bom.

Para testar os analgésicos serra-se a cauda de gatos com uma


pinça cirúrgica e registra-se seus gritos de dor. Depois da
administração de analgésico a causa é serrada de novo e os decibéis
são comparados com os precedentes. Usa-se, ainda, implante habitual
de eletrodos no cérebro dos gatos para registrar ondas cerebrais dos
animais submetidos a picadas e injúrias diversas.

Isto tudo só vem demonstrar que a vivissecção além de inútil


é indigna do ser humano que se diz civilizado, só pode ser comparável
à denúncia que a sustenta. Ela vem sendo praticada por razões de
ganho fácil, carreira curta, curiosidade e sadismo.

Bibliografia consultada:

Ces Bêtes qu’on Torture Inutilement- RUESCH Hans - pág.


10 a 26

Les Faussaires de la Science - RUESCH Hans

Liberacion Animal - SINGER Peter

The Animal Wefare Institute - 1985 - Beyond the Laboratiry


Door

Schar-Manzoli Milly - 1987 - Guida di Farmaci e Vaccini

Le Tabou des Vaccinations - Shar Manzoli - 1994

Experimentation Animale - Lolemar Vernon - 1992

Manuale di Defesa Immunologica - Shar Manzoli Milly

Vivisection, Science or Sham - Kuprimel Roy

60
EDNA CARDOZO DIAS

The Replacement of Animals in Biomedical Research

Ligue Suisse contre la vinisection -1981

La parole des medicins de LIMAV - ATRA - 1990

Medici per Labolizione della Vivisezione - ATRA - 1990

Vivisection is a Scientific Fraud - Ruech Hans - 1985

Vivisection et Vivisectionrs - Stiller Herbert e Stiller


MaRGOT - atra - 1986

FRAUDE, VIOLÊNCIA E UM MUNDO POLUIDO

Hoje a violência reina em toda nossa sociedade: violência


armada, violência química, violência energética, violência alimentar,
violência sobre o meio-ambiente. Todo nosso sistema econômico e
social se tornou um campo de batalha, onde a destruição foi elevada
ao nível de doutrina, devendo conduzir à felicidade do homem. É aí
que se situa a vivissecção.

A experimentação animal tem sido uma metodologia


sistemática para avaliar a utilidade e os riscos ligados aos produtos
introduzidos no nosso meio ambiente e que podem afetar o homem e
a sua natureza: substâncias agroquímicas, substâncias industriais,
os cosméticos, a radioatividade, os armamentos e toda gama de
medicamentos.

Entretanto, mesmo quando os experimentos em animais ou


estudos epidemiológicos sobre o homem indicam a toxicidade ou a
cancerogenocidade de uma substância medicamentosa ou industrial,
ela continua sendo fabricada em grande quantidade, ao invés de ser
interrompida. Exemplo: o Stilboestrol, que no princípio dos anos 40
já se havia descoberto causar tumores em animais. Os primeiros casos
de nocividade do entero-viofórmio e do mexafórmio (anti-diarréicos),
para o homem, foram publicados em 1935. Em 1960 ele fez 11.000
vítimas no Japão, mas só foi proibido em 1979. Conhecemos os

61
S.O.S Animal

efeitos secundários graves do Butazolidin, Tanderil e Voltarem


(antiinflamatórios), mas estes medicamentos foram consumidos, em
trinta anos por 180 milhões de pessoas.

Nas sociedades ocidentais, a pesquisa científica,


particularmente a biologia e a medicina, são tidas como a última
verdade. Entretanto, no curso dos últimos anos, inúmeras fraudes
científicas, cujos resultados foram falsificados ou inventados, foram
descobertas e denunciadas no livro “The Betrayers of the Truth”, de
W. Borad e N. Wade, como os casos de Andrea Doria, o do
medicamento Naprosyn (antiartrítico), supostamente testado pelo
Laboratório Bio-Test de Northbroo (1975) e o prof. Harl Illmensee
(Suiça - pesquisa de transmissão hereditária de câncer). No afã de
publicar trabalhos, angariar subsídios e ganhar prêmios acadêmicos,
os pesquisadores falsificam suas pesquisas e as revistas científicas,
bem como as autoridades universitárias são reticentes quando se trata
de denunciar colegas.

Poucos medicamentos são capazes de curar definitivamente


uma doença ou abreviar a sua duração. Segundo A. Lwoff, Prêmio
Nobel de Medicina, 30% das doenças contemporâneas são oriundas
de medicamentos, cujos efeitos secundários não são previsíveis com
a experimentação animal.

Fala-se pouco na origem da Aids. A princípio dizia-se que


ela veio de macacos verdes, da África, depois que um pesquisador
teria sido mordido por animal ou que as vacinas de pólio, fabricadas
com células de rins de macaco foram infectadas. Hoje, um número
crescente de cientistas rejeita essas hipóteses e acordam em dizer
que a Aids foi criada artificialmente pelo homem, em laboratório,
seja por acaso, seja em pesquisas militares. A Declaração de Berna
ressalta que o orçamento anual da OMS representa três horas do que
é gasto com pesquisas militares. Estima-se que as despesas de três
meses de armamento permitira alimentar a população do mundo por
vinte anos.

62
EDNA CARDOZO DIAS

Nós nos opomos à vivissecção por que somos pela vida.


Somos pelo respeito de seu equilíbrio, sob todas as formas e contra
toda idéia de dominação, pois é ela que engendra violências
destrutivas.

Bibliografia consultada:

Pasternack Denise - Supprimons la vivisection

Schar-Manzoli Milly - Sida Story

Os cães greyhounds, usados para corridas, quando param de


ganhar nas pistas são mortos, abandonados à mingua ou envenenados.
Outros são enviados a laboratórios de experimentação, onde são
torturados, mortos e jogados na lata de lixo.

E não é só nos laboratórios que sofrem.

Passam a vida aprisionados e amordaçados.

Para aprender a correr, ou seja, para aprender a perseguir


iscas mecânicas na pista, são usadas iscas de animais vivos (coelhos).

VIVISSECÇÃO, ABOLIÇÃO JÁ

os crimes contra os seres vivos não podem ficar impunes

O que ocorre com os animais, breve acontece com o homem.


Há uma ligação em tudo (Jefe Settel - 1854)

Do ponto de vista ético, um dos maiores argumentos repetidos


pelos experimentadores a favor da vivissecção é que ela evita os
experimentos com seres humanos, o que é contra a ética deles. Isto é
falso! A experimentação humana se desenvolve de maneira oculta e
paralela.

Em 1976, Ciba-Geigy pulverizou um pesticida, galecron,


sobre plantações de algodão no Egito, onde trabalhavam voluntários,
com idade de 10 a 18 anos. Nos anos 70, um eminente pediatra

63
S.O.S Animal

inoculou o vírus da hepatite B em crianças de 3 a 9 anos, no Institution


Willow Brook, nos EUA, afim de estudar a doença. Entre 1971 e
1976, 12.000 pares de rins retirados de fetos, já no terceiro trimestre
da gestação, foram mantidos vivos e enviados pela Japan Air Lines,
de Seul aos Laboratórios Flow Inc (Maryland, EUA), filial da General
Research Corp. Isto representou um frete de 2.073 kg em 517
expedições, em pacotes com a seguinte etiqueta: “Órgãos humanos
sem valor comercial”. Flow Inc revendeu as células 6.000 vezes mais
caro que o preço de compra.

Na Inglaterra um feto só é considerado vivo com 28 semanas.


Na Califórnia pode-se abortar durante toda a gravidez. A criança
nascida do aborto é socialmente inexistente e até a idade de um ano
servirá a experimentos médicos ou militares. Quando começar a
andar, será morta e incinerada. Como os animais!

Durante vinte anos dr. White, em Cleveland, nos EUA,


transplantou cabeças de animais e conseguiu manter vivas cabeças
isoladas de macacos. Esta cena foi mostrada em uma cadeia de
televisão suíça; dr. White segurando uma xícara de café com uma
das mãos e uma cabeça viva com olhos desesperados; na outra,
encharcada do sangue que escorria das narinas do animal. Com muito
orgulho ele explicou que sua técnica estava pronta para ser utilizada
com os homens. E assim foi. Paralelamente, nos EUA, em Cleveland
e na Finlândia, em Helsinki, doze fetos de 12 a 21 semanas, extraídos
por cesarianas, foram transportados vivos para os laboratórios e
decapitados. A cabeça foi isolada cirurgicamente, mantida viva por
perfurações e durante uma hora e meia os sábios estudaram o
metabolismo cerebral dos glucídeos.

Em 1981 a Squibb ofereceu US$10.000 a três médicos para


o fornecimento de 14 mulheres que desejavam abortar, mas que
aceitaram esperar o fim da gravidez. Durante a gravidez foram
infectados com medicamentos contra hipertensão arterial. Depois
do aborto o recém-nascido foi dissecado para se estudar o efeito do
medicamento.

64
EDNA CARDOZO DIAS

Na área da química a Environmental Protection Agency abriu


um crédito de 30.000 ao dr. R. Tabet para testar pesticidas em centenas
de fetos. Na cosmetologia cremes para regeneração da pele são feitos
com fetos abortados por cesariana. E os sábios não pararam aí. Os
fetos são, ainda, utilizados para pesquisas nucleares, biológicas e
químicas.

Não poderíamos deixar de lembrar da menina Baby Fae, que


em 1984, morreu com um coração de macaco, na Califórnia. Nem
das crianças usadas para manipulação genética na colônia alemã de
Dignidad, no Chile, em 1987. Também as vacinas contra a Aids foram
testadas em seres humanos no Zaire, segundo denunciou o New York
Times.

E o que dizer da descoberta de uma quadrilha no Paraguai


que teria em seu poder sete crianças brasileiras para a extração de
órgão nos EUA? Segundo investigadores paraguaios, organizações
de traficantes alugam no Rio de Janeiro ventres de mães indigentes,
que são levadas a Assunção para ter os bebês e recebem previamente
uma quantia pelos “serviços prestados”. Médicos inescrupulosos
mutilam os corpos e extraem os órgãos vitais das crianças para utilizá-
los posteriormente em transplantes que beneficiam apenas os ricos.

Para utilização de homens e animais, sem problemas de


consciência e com a opinião pública, os primeiros são chamados
pelos cientistas de material biológico e os segundos de detritos,
objetos ou conjunto de células. E, assim, uma ciência biomédica
doente e perigosa se edifica sobre a mutilação, o sofrimento e a morte
dos seres vivos - HOMENS E ANIMAIS.

Bibliografia consultada:

M. Kalmar Jacques - La vivisection de l’animal au foetus


humain

Supprimons la vivisection - Pasternack Denise

Sida Story - M. Schar-Manzoli Milly


65
S.O.S Animal

66
EDNA CARDOZO DIAS

CAPÍTULO III
ENGENHARIA GENÉTICA

ENGENHARIA GENÉTICA,
UMA AMEAÇA
Monstros poderão fazer parte de nosso dia-a-dia
Os extraordinários avanços da engenharia genética e da
biotecnologia estão transformando em realidade sonhos da ficção
científica.

A partir do momento em que a ciência aprendeu a mexer no


código genético já foram criadas bactérias que evitam a formação de
geadas, porcos que crescem mais e produzem mais carne comendo a
67
S.O.S Animal

mesma quantidade de ração dos porcos comuns e até bode com pêlo
de ovelha. Em 1983 cientistas americanos produziram um animal
com cabeça e chifres de cabras e corpo e pêlo de ovelha, que batizaram
do geep, contração de goat (bode) e sheep (ovelha). Em agosto de
1987 a revista Nature noticiou a transferência de um gene de ovelha,
responsável por um gene rico em proteína, para embriões de ratas,
que cresceram e produziram leite com a proteína do leite de ovelha.

Também em 1987, no Congresso de genética, realizado em


Roma, o cientista J. Morr. Jankowski denunciou que, na década de
60, nos EUA, uma fêmea de chimpanzé foi fecundada com sêmen
humano e a gravidez continuou durante um mês, até ocorrer um aborto
espontâneo. Esta experiência foi realizada por um especialista em
patologia cromossômica, cujo nome não revelou.

No México, após 17 anos de pesquisa, a Universidade


Nacional anunciou a geração da minivaca, conseguida através de
“seleção natural intensiva”. A vaquinha fornece quatro litros de leite
por dia.

E os franceses chegaram a produzir a vaca do traseiro


avantajado, através de manipulação genética. Este ser sofria fraturas
com facilidade e tinha dificuldade de ter parto normal.

Mais recentemente, o escritório de Patentes e Marcas dos


Estados Unidos anunciou a concessão da primeira patente de um
animal criado a partir de técnicas de engenharia genética e
biotecnologia. A patente foi concedida a pesquisadores da
Universidade de Harvard, que fizeram alterações genéticas no rato,
a ser usado em pesquisas de câncer.

Não são apenas as armas nucleares que agora nos ameaçam,


já que caminhos existem, que podem nos levar a uma guerra
biotecnológica.

Já em 1984 o Wall Street Journal insistiu que a explosão de


um laboratório de armas biológicas provocou uma epidemia de antraz

68
EDNA CARDOZO DIAS

na cidade soviética de Sverdlovski, em 1979.

Em 1968 um modelo matemático foi aplicado para criar uma


epidemia de gripe em Hong Kong. E o mais diabólico é o esforço de
militares, que trabalham no sentido de buscar um vírus semelhante
ao da Aids, que por sua extrema capacidade de mudar torna ineficaz
um antibiótico ou vacina.

O homem está enveredando por caminhos desconhecidos e


perigosos e, se novas técnicas de transferência de genes forem
aplicadas à pesquisa de armas biológicas, históricas de terror e
monstros farão parte de nosso dia-a-dia.

O aparecimento de armas biológicas e a criação de seres de


laboratórios nos levam e refletir sobre a necessidade de se controlar
a ciência e a tecnologia.

ANIMAIS SÃO TRANSFORMADOS EM FARMÁCIAS VIVAS

Desde que o homem aprendeu a dominar a engenharia


genética vem transformando as espécies animais, o que mais parece
uma prática de alquimia negra.

Em Beltaville, no estado de Massachussetts, porcos


pertencentes ao Laboratório de Reprodução do Departamento de
Agricultura dos EUA, receberam um gene adicional retirado de ratos,
capaz de produzir a proteína WAP. O objetivo é fazer com que as
leitoas se transformem em farmácias vivas, dando leite de rata para
ser usado como bioreator e, dessa forma, produzir drogas
cicatrizantes, antivirais e outras.

Outra mudança pretendida é a redução da quantidade de


lactose no leite, para melhorar a qualidade dos sorvetes. Essa
substância congela na forma de cristais, prejudicando a
homogeneidade da massa. Como se vê a engenharia genética também
pode servir para satisfação do paladar humano e melhores lucros na
indústria alimentícia.

69
S.O.S Animal

Do outro lado, biólogos norte-americanos acabam de dar um


“grande passo” n a busca de um substituto para o sangue humano.
Pesquisadores da DNX, empresa de biotecnologia de Princeton, EUA,
conseguiram fazer com que porcos geneticamente modificados
produzissem hemoglobina humana (pigmentação do sangue que leva
oxigênio às células). Os pesquisadores injetaram em três embriões
de porcos, cópias dos dois genes responsáveis pela produção da
hemoglobina humana. Segundo eles a descoberta é um marco na
procura de um substitutivo ao sangue humano, ou seja, da força vital
do homem.

Mais recentemente, os pesquisadores norte-americanos


conseguiram criar, mediante manipulações genéticas, animais que
produzem proteína humana em quantidade suficiente para formar
verdadeiras granjas moleculares. Tudo começou quando os
especialistas norte-americanos da Escola Veterinária da Universidade
Tuffs, de Grafton, desenvolveram cabras cujo leite contém uma
proteína utilizada no tratamento de doenças cardíacas.

Outros cientistas escoceses do Instituto de Fisiologia Animal


e Pesquisa Genética de Edimburgo obtiveram três ovelhas cujo leite
contém uma enzima utilizada contra o enfisema.

“Graças” aos médicos Timothy Mac Donnel e Stanley


Korsmeyer a humanidade “já conta” com um rato criado
especialmente para desenvolver grandes populações de células B
envelhecidas, capazes de, vagarosamente, formar linfomas malignos.
Esses animais podem, também, causar anormalidade em outros genes
que atuam na formação do câncer. Isto é uma grande oportunidade
para a indústria farmacêutica fabricar novos medicamentos
experimentais para cura do câncer. Apesar de existirem mais de
100.000 medicamentos disponíveis no mercado, os casos de doença
crônica dobraram num período de 50 anos. E, segundo a Organização
Mundial de Saúde, apenas duzentos medicamentos cobririam o
absolutamente necessário.

Novas espécies de rato vêm se multiplicando. Cientistas


70
EDNA CARDOZO DIAS

americanos criaram ratos cujo cérebro acumula os mesmos depósitos


fibrosos que caracterizam o Mal de Alzheimer. Até então, esta doença,
que destrói lenta e progressivamente as células cerebrais ligadas à
memória e ao raciocínio, não ocorriam em animais.

Desde setembro de 1991, a Continental Produtos Biológicos


- multinacional sediada em Miami - está comprando cérebros de
coelhos no Brasil, de onde adquire 40% da produção necessária à
fabricação de tromboplastina - técnica utilizada em exames de
laboratório para determinar o tempo de coagulação do sangue. O
produto é transformado em pó em São Paulo. São necessários 1.200
cérebros para produzir um quilo de medicamento. São, portanto,
sacrificados vários coelhos em favor de uma só vida humana.
Ademais, é um negócio muito lucrativo, já que o quilo do produto
está valendo de US$ 700 a US$ 1.000, no mercado internacional.

Uma empresa em Palo Alto, na Califórnia, está se preparando


para fornecer um produto inédito: um rato que tem órgãos humanos
funcionais em miniatura. Michael Mc Cune e Donald Mosier
implantaram nos rins de ratos recém-nascidos, tecidos retirados de
fetos humanos. Estes seres servirão para estudar as doenças humanas.

Na corrida para a cura da Aids, até os cavalos entraram no


páreo. Aqui mesmo, no Brasil, foi noticiado que o cantor Cazuza,
portador de Aids, engordou 15 kg graças ao tratamento com injeções
à base de sangue de cavalo novo.

O sangue de cavalos vem servindo ainda, para a fabricação


do medicamento suíço chamado Lymphoser, utilizado para a aplasia
da série vermelha - doença que paralisa a produção de glóbulos
vermelhos. Linfócitos produzidos pelo ser humano são injetados na
corrente sanguínea do cavalo e o sistema imunológico do animal
reage criando anticorpos. Depois de quatorze dias todo o sangue do
animal é retirado para a fabricação do remédio. Depois de passar por
esse processo umas cinco vezes, o cavalo fica tão depauperado que
os cientistas o matam.

71
S.O.S Animal

Em seu próprio benefício o homem tem se mostrado capaz


de destruir quantas vidas lhe parecer necessário. “O atual homem
civilizadamente bárbaro, acabou por se tornar o maior selvagem
técnico de todos os tempos da história humana”. (Waldo Vieira)

A ecologia neo-humanista diz que devemos viver


responsavelmente em todas as esferas de nossa vida individual, que
devemos servir coletivamente a toda criação como se fora nossa pois
toda vida é nossa família e o universo é nosso lar.

72
EDNA CARDOZO DIAS

CAPÍTULO IV
ANIMAIS DOMÉSTICOS

CAVALOS TORTURADOS

Recentemente um jornal de circulação nacional denunciou


as más condições de vida dos cavalos utilizados para produção de
soros contra venenos de animais peçonhentos, nos Institutos Butantã
e Vital Brasil. O que mais chocou a opinião pública foi a história de
814, um cavalo que foi utilizado por quatorze anos pelo Butantã. a
vida média de um cavalo nesses institutos é de 4 a 5 anos, mas 814
resistiu não se sabe como. Suas costas sangravam continuadamente,

73
S.O.S Animal

já havia perdido um olho, sofria terríveis cólicas de fígado e, mesmo


assim, era envenenado e sangrado, como todos os outros.
Representantes de diversas entidades, como Liga de Prevenção da
Crueldade contra o Animal, Grupo Tucuxi, Apasfa e Uipa visitaram
a Fazenda S. Joaquim, para apreender o animal, mas ele estava tão
fraco, que não resistiria à viagem. Dias depois o Instituto divulgou a
morte de 814 “por cólica noturna”. O laudo necroscópico divulgado
pelo Butantã descrevia o fígado de 814 e mais dois animais que
morreram no mesmo dia, como “em adiantado estado degenerativo”.
814 não era a única vítima, foi apenas um símbolo dos infelizes
animais do Butantã.

O soro antiofídico é o único medicamento para o veneno de


cobra, atualmente. A produção das ampolas no país é feita por três
institutos de pesquisas: o Butantã-SP, Fundação Ezequiel Dias-MG
e o Instituto Vital Brasil-RJ.

O processo da fabricação de soros consiste em se injetar


veneno de cobra, escorpião ou aranha na região lombar dos cavalos
para que seus organismos produzam anticorpos. O impacto do veneno
é tão forte que ele precisa ser recebido em três dosagens. Os cavalos
são amarrados em um tronco, sem chance de defesa e recebem em
dias alternados, as doses do veneno. Cheios de dor arrastam-se até o
cercadão, onde descansam alguns dias e voltam ao tronco para serem
sangrados. Alguns dias de descanso e recomeça o martírio, que só
termina com a morte do animal.

A solução é destinar novos incentivos para a pesquisa da


produção de soro sintético, cuja pesquisa estava, primeiramente,
sendo desenvolvida na Universidade Federal da Bahia, departamento
de Imunologia, pelo dr. Manoel Barral e Antônio Pinto. O método
consiste em isolar a crotoxina - uma substância contida no veneno
de cobra - e injetá-la no cavalo para produção de anticorpos. Esses
anticorpos são fundidos com células do mieloma para a produção de
anticorpos monoclonais híbridos, que podem ser mantidos em
laboratórios por tempo indeterminado, também, reproduzidos em

74
EDNA CARDOZO DIAS

laboratórios em escala industrial, pela capacidade de multiplicação


da célula.

Já o núcleo de Pesquisas de Produtos Naturais de


Universidade do Rio de Janeiro vem estudando as possibilidades de
se combater veneno de cobras, aranhas e escorpiões utilizando plantas
medicinais e comprovou que a Eclipta Prostata, conhecida como erva-
botão, tem propriedades antiofídicas, segundo anunciou seu diretor
dr. Walter Mors.

O interesse pelo emprego das plantas como antiofídicos


começou em 1980 quando o pesquisador japonês Koji Nakanishi
verificou a eficácia do medicamento Específico Pessoa, remédio
popular utilizado há anos pelos cearenses para neutralizar venenos
de picadas de animais e fabricado pelo Laboratório Frota, Ceará.

NOVIDADE

Outra pesquisa de grande importância é a que vem sendo


desenvolvida pelo Instituto Butantã e o Instituto de Pesquisas
Energéticas e Nucleares (IPEN) e que poderá levar à descoberta da
primeira vacina antiofídica. Consiste na diminuição da toxicidade
do veneno da cobra através da irradiação de raios gama, mantendo a
sua capacidade de provocar no organismo a liberação de anticorpos
que neutralizam o veneno. Se os pesquisadores conseguirem zerar a
toxicidade mantendo a capacidade de fabricar anticorpos, a vacina
estará pronta.

O método tradicional, que é secular, representa grande risco


para a saúde, podendo ser considerado oncológico, pois o ser humano
recebe células de outro animal. Além do mais os anticorpos que
combatem o veneno se juntam a outros que não têm essa finalidade.
Outro fator negativo do método é a grande distância entre o local do
acidente e os centros de produção do antídoto. Um indivíduo picado
por cascavel, por exemplo, tem de 8 a 10 horas para tomar o soro,
depois do que entra em estágio irreversível.

75
S.O.S Animal

AMIZADE E AFEIÇÃO

Absorvidos pelos problemas de sobrevivência pessoal o


homem raramente é estimulado pela variedade e riqueza do mundo
vivente, e sua própria condição de domínio conferiu-lhe uma
sensação de isolamento dos outros organismos. Com o crescimento
das cidades passou a conviver, apenas, com aqueles animais que
trouxe para viver consigo; os cães, que trouxe para guardar a casa;
os gatos, que trouxe para proteger os celeiros contra os roedores; as
vacas, porcos, galinhas e outros animais que cria para consumo; os
cavalos, burros e jumentos, que utiliza para transportes.

Com a chegada da era industrial o animal de estimação foi


se tornando cada vez mais importante na vida do homem moderno.
Sua função social na célula familiar cresce dia a dia, pois ele é uma
compensação para o estresse, a solidão e a carência afetiva da vida
hodierna. A evidência mostra que são até mesmo vitais para a saúde
humana, dizem os cientistas. Podem baixar a pressão alta e prolongar
76
EDNA CARDOZO DIAS

a vida dos cardíacos. Ele é, às vezes, o único interlocutor de um fim


de vida desesperançoso, fazendo o idoso se sentir útil. É o
companheiro de uma criança deixada só em casa. Psicólogos e
pediatras são unânimes em reconhecer que a responsabilidade que a
criança forçosamente terá com seu animal de estimação despertará
nela a responsabilidade coletiva, no mundo escolar e social;
despertará nela o respeito ao próximo, sendo uma verdadeira
aprendizagem de solidariedade e respeito à vida. É, também, seu
primeiro contato com a natureza e a ecologia.

Em todos os níveis de escala social o homem tem sempre


mais necessidade da companhia afetiva e desinteressada do animal.
Mas, isto lhe impõe deveres que está longe de assumir plenamente.
O número catastrófico de animais abandonados dão o testemunho
cruel deste fato.

Antes de adotar um animal a pessoa tem que se conscientizar


de que isso lhe impõe uma responsabilidade. Cada um tem o direito
de possuir um animal de sua escolha, sob a condição de assumi-lo,
respeitá-lo, não infringir as leis, não incomodar os vizinhos com
barulho e falta de higiene. Ser responsável pelo animal é mais que
oferecer-lhe comida e abrigo. Significa dar-lhe atenção, carinho,
cuidados, mantê-lo a salvo dentro de sua propriedade e, muitas vezes,
despender tempo e dinheiro quando ele estiver doente. Significa ser
responsável por ele durante toda sua vida, abandonar um animal é
um ato de muita crueldade. Significa, também, não deixá-lo cruzar
de forma anárquica e poluidora, mas manter um controle de natalidade
não deixando nascer animais que serão abandonados nas ruas. Os
veterinários estão aptos a orientar as pessoas sobre os meios que
podem ser utilizados para este controle, como esterilização, a
vasectomia e os anticoncepcionais.

É muito importante, ainda, que cada um eduque o seu animal


com gentileza, paciência e carinho. Os castigos são a pior forma de
educar um animal, só servirão para torná-lo nervoso e amedrontado.
Educar um animal não significa transformá-lo num robô e nem numa

77
S.O.S Animal

estrela de circo, significa ensiná-lo a conviver com o homem.

O bem-estar do animal exige uma constante atenção de seu


dono, não apenas uma atenção quando isto convém a ele. A carência
afetiva e solidão poderão causar problemas psicológicos no animal.
Em troca de sua lealdade o animal merece seu carinho e sua atenção.

A CONVIVÊNCIA AFETIVA COM OS ANIMAIS

Entre os protetores dos animais são numerosas as pessoas


que têm respondido ao apelo dos asilos e creches no socorro de seres
humanos. Contudo, nos indignamos de constatar que as pessoas,
frequentemente, culpam os proprietários de animais domésticos pela
tragédia da fome. Na concepção dessas pessoas o animal está
roubando o alimento do homem.

Repetimos que devemos nos sensibilizar pelo problema da


fome e da miséria, bom como agir dentro de nossas possibilidades.
Mas, é falso pensar que existe uma relação entre os pratos das crianças
e os dos animais, e pensar que esvaziando uns, encheremos os outros.

A Comunidade Econômica Européia estoca excesso de carne,


manteiga e produtos leiteiros. Malgrado essa produção excedente, o
drama da fome e da miséria permanece. Ao problema da distribuição
de alimentos podemos ajuntar o custo de transporte. O principal
responsável pela fome é o sistema que implanta a injusta distribuição
das riquezas e da terra.

O AMOR AOS ANIMAIS NÃO É UM LUXO

Porque aqueles que se revoltam com alimentação de cães e


gatos não se indignam com a propaganda, que vemos na televisão,
da alta costura, das jóias, da gastronomia refinada, das bebidas
alcoólicas e de outras atividades luxuosas, que não são vitais, nem
ao alcance de todos?

Já no que concerne à afeição ao animal, podemos dizer que é


uma necessidade sentimental que atinge todas as classes sociais de

78
EDNA CARDOZO DIAS

nossa população. Em nossa sociedade industrializada,


desnaturalizada, informatizada e robotizada, os animais são uma
“compensação para os que, cada vez mais, se ressentem no plano
afetivo.

Bibliografia consultada:
Animaux Magazine - março/abril/1985 - n o 1313 -
NUNGESSER Roland - Président National de la SPA - França

Domestic - Animals - Humane Society of the United States

QUANDO O CAVALO É ESCRAVO

A primeira sociedade protetora dos animais foi fundada na


Inglaterra em 1824 por um nobre inglês que adorava cavalos, a Royal
Society for the Prevenction of Cruelty to Animals, que hoje é talvez
a mais forte do mundo e que mantém um abrigo para cavalos velhos
e doentes.

Em 1845, na França, o Conde de Grammont, escandalizado


com as brutalidades das quais os cavalos eram vítimas, fundou a
Société Protectrice des Animaux, que até os dias de hoje continua
atuante.

No Brasil, Maria Stael de Carvalho Palhinha publicou vários


artigos em defesa dos cavalos nas primeiras décadas do século, que
compilou no livro “Os Pósteros”, marco histórico da proteção animal
em nosso país.

Os cavalos continuam, entretanto, sendo verdadeiros escravos


da sociedade. São submetidos, geralmente, a trabalhos superiores às
suas forças, sem descanso conveniente e alimentação adequada; são
esporeados e chicoteados impiedosamente se têm dificuldade em
subir ladeiras sob pesada carga; quando escorregam ou se assustam
são igualmente castigados; são expostos a causticantes raios solares
e ao frio excessivo. Quando a velhice os torna inválidos são levados
aos matadouros ou estourados nos rodeios, ou abandonados à mingua.
79
S.O.S Animal

Segundo o “Shopping News” de 19.07.81 (revista “Cães &


Cia” no 28, pág. 100) é assim que se mata um cavalo nos frigoríficos
e matadouros do Brasil: “depois de permanecer por 24 horas sem
alimento e sem água é colocado em uma estufa de altíssima caloria.
E, ainda com vida, tem as quatro patas cortadas, para que, com o
suor abundante, seja eliminado de sua carne o odor que caracteriza
os equídeos. Agonizante, é tonteado com marretas na cabeça e
choques elétricos de alta voltagem. Tem o seu couro retirado e só
então é abatido”. A carne costuma ser exportada.

As vítimas do Instituto Butantã são verdadeiros heróis. São


criados na Fazenda S. Joaquim, em São Roque, perto de São Paulo.
Nenhum deles tem nome. Durante a vida são envenenados e sangrados
até a morte, pelo bem da humanidade.

Será isto justo? Parece que o homem no lento caminho da


evolução vem alcançando sua inteligência plena em detrimento do
altruísmo.

Deveriam, sim, nos lembrar que todo nosso passado foi


construído no lombo destes servidores fiéis; fortes, porém pacíficos;
pacientes, dóceis e amigos. Nós somos herdeiros de seu trabalho
gratuito e deveríamos tratá-los com reconhecimento e humanidade.
Em toda civilização deixaram o seu labor sofrido como herança a
toda humanidade.

Como bem observa Pe. Vieira, autor de “O jumento nosso


irmão”, os escravos não foram libertados pela Lei Áurea e sim pelos
jumentos, que os substituíram em seu trabalho, comendo apenas uma
espiga de milho por dia.

80
EDNA CARDOZO DIAS

CAPÍTULO V
ANIMAIS SILVESTRES

CAÇA, UMA PERMANENTE


AMEAÇA AOS ANIMAIS
Os primeiros seres humanos praticavam a caça de
subsistência. Hoje, nossa espécie está atingindo cinco bilhões de
indivíduos que caçam por quatro razões: por alimento, para proteger
animais domésticos e plantações, por dinheiro (na venda de peles,
couros e presas) e por esporte.

A África é o último continente onde os animais de caça ainda,


são, considerados como um meio para prover alimento para as pessoas
locais. Os colonos do deserto de Kalahari, na Botswana, e as tribos
do Vale Bisa, no Zambia, são, talvez, os últimos sobreviventes de
uma sociedade primitiva caçadora. Estudos de antropólogos,
entretanto, mostram que nenhuma delas depende da caça para
sobrevivência.

Uma sociedade que realmente considera a caça como meio


essencial para sua prosperidade são os Inuits do Alaska, conhecidos
como esquimós. Hoje, os Inuits perseguem as baleias com
equipamentos sofisticados, pois os métodos tradicionais de caça estão
extintos. Dizer que se caça para preservar a identidade cultural de
um povo seria absurdo. Devem se preservar tradições positivas e
harmoniosas e não a matança de baleias. A Terra não pode mais
suportar a matança de uma espécie em risco de extinção, como a

81
S.O.S Animal

baleia branca, para garantir ganhos econômicos.

Fazendeiros, em muitos países, exigem que o governo permita


a caça de animais silvestres predadores para prevenir perdas
econômicas. Mas, como a seleção requer um conhecimento muito
correto da estrutura da população da espécie, isto tem causado grandes
desequilíbrios nos ecossistemas, como ocorreu com os crocodilos
do Nilo, os cangurus da Austrália, a vicunha do Peru e os coiotes e
lobos da América do Norte.

Caçadores com armadilhas matam milhões de animais


silvestres em todo o mundo, todos os anos, por suas peles. A esta
cifra acrescente-se um adicional de outros milhões de animais
abatidos anualmente em fazendas e criadouros comerciais autorizados
pelos poderes públicos. Os animais usados para a indústria de pele
são capturados em armadilhas pelas pernas. Esses equipamentos
causam horas e até mesmo dias de sofrimento ao animal aprisionado,
até que o caçador apareça e o estrangule. Tudo isso para a produção
de supérfluos. Enquanto o incentivo econômico existir a caça ilegal
das espécies continuará a proliferar, acobertada pelos criadouros
autorizados e pela caça amadora.

A caça por esporte é também conhecida como caça amadora.


Amador, como expressa Aurélio Buarque de Holanda, significa
aquele que faz por prazer, não visa lucro. Esse é, pois, o grande
objetivo para o esporte de caça feito pelos ricos. Quer seja um caro
safári (hoje já contamos com pelo menos duas agências de safáris no
Brasil), quer seja uma temporada de caça, o propósito é o mesmo -
perseguir e matar animais inocentes por divertimento. Esse é um
negócio fantástico, também, para os supridores de armas, munições,
roupas e outros equipamentos de caça.

Qualquer que seja a razão alegada, a caça é uma atividade


inaceitável, e de difícil controle, se considerarmos a incompetência,
a omissão, a falta de estrutura e burocracia dos órgão fiscalizadores.

A caça é uma repugnante herança da realeza européia. Não é

82
EDNA CARDOZO DIAS

nada ecológica, como defendem os aficcionados, pois trata-se de um


assassínio e carnificina de animais. Se a perseguição de animais
obcecava a nobreza, hoje a obsessão é sofisticar os meios de
perseguição, captura e morte. As armas de longa distância não
permitem à vítima sequer avistar ou pressentir o inimigo e emitir
sinais de apaziguamentos ou se retirar em fuga. A caça só serve para
fazer os homens selvagens, cruéis e destruidores.

A VERDADE SOBRE O MANEJO DA FAUNA

O principal argumento usado pelos caçadores, auto-


intitulados ecológicos, para matar suas presas, é a necessidade de
evitar a superpopulação de uma determinada espécie - naturalmente
a que vai ser caçada. O equilíbrio ecológico numa cadeia alimentar
acontece naturalmente, se houver vegetais para alimentar os
vegetarianos. Esses mantêm os vegetais produtivos e alimentam os
carnívoros, que por sua vez mantêm a população de seres
vegetarianos em equilíbrio. Uma característica sábia da natureza é
que existem mais vegetais que seres vegetarianos, e mais seres
vegetarianos que seres carnívoros. A forma de se evitar o
83
S.O.S Animal

desequilíbrio é assegurar a existência de ecossistemas de tamanho


necessário para suportar a vida dos animais silvestres.

A CAÇA DO SÉCULO XX

Os caçadores asseguram que a emoção da caça não é devida


à morte, mas devido à busca. A expansão no negócio de criação de
animais em cativeiro para posterior caça, conta uma história diferente.
Os animais são aprisionados em jaulas e soltos, quando caçadores
pagam altas taxas para neles atirar. Este tipo de caça, muito praticado
nos EUA, prova de vez que ela é um assassinato. não é praticada
para rastrear o animal, nem pela sua carne, nem para proteger o gado
ou reduzir a alegada superpopulação da vida selvagem. É praticada
por excitação, como no estupro seguido de morte. É socialmente
inaceitável.

CAÇA COM CÃES

Na caça com cães o animal é perseguido, acuado e morto. O


objetivo do caçador parece ser o de fazer sofrer a presa o maior
tempo possível, com a perseguição implacável. O animal é levado à
extrema fadiga, a ponto de morrer de infarto, se por acaso consegue
escapar, ou é salvo por alguma pessoa. Se o caçador não atira nele,
os cães o devoram vivo. Esta modalidade de caça não é pratica,
apenas, nas florestas. Existem as fazendas de caça, onde pode-se
praticá-la, mediante pagamento em dólar, por cabeça de animal
abatido. Disse Mantagne, que “para os caçadores, caçar sem matar
era como ter relações sexuais sem ter orgasmo”. Para Thomaz Morus,
“a caça é a mais vil, baixa e abjeta carnificina”.

A PEGADA DA MORTE

Um animal preso em armadilha de dentes demora muito para


morrer... Durante dias e noites costuma tentar se livrar da armadilha,
chegando a roer sua pata para se safar.-. Com a pata presa e ferida,
ossos fraturados em contato com o gelo, experimenta a dor, o medo,
a sede e a fome. De repente o caçador chega com seu porrete e o

84
EDNA CARDOZO DIAS

levanta para golpeá-lo. O animal, em seu desespero, pode dar um


puxão tão forte para se livrar da armadilha, que se soltou, mas lá
deixa sua pata. O caçador o alcança e desfere vários golpes em seu
focinho e sua cabeça, até matá-lo sem estragar sua linda pele. Quinze
minutos depois está morto.

MODA ASSASSINA

Os animais de fazenda de peles passam a vida em pequenas


gaiolas, até a morte. Nas latas de lixo são jogados os corpos depelados
dos animais executados em massa. Para preservar a pele são mortos
por administração de veneno ou por eletrocução. Presos em espaços
exíguos, o tédio e o estresse do cativeiro, leva-os à loucura. Costumam
bater a cabeça nas telas, desesperadamente, urrando e gemendo, sem
que ninguém venha em socorro. Dezenas de animas são necessários
para confecção de um único casaco. A perfeição das peles artificiais
dispensa essa chacina injustificável.

ATIRANDO EM ESPÉCIES RARAS

Enquanto um grande número de espécies ameaçadas e em


perigo estão sendo reduzidas, um número razoável de animais raros
está sendo usado como alvo. Sejam lobos, ursos ou esquilos, os
caçadores não resistem à tentação de eliminar a vida silvestre. Para
os maiores troféus, para inclusão nos livros de recordes, molduras
para parede, fotos de álbum e lucros rápidos, os colecionadores matam
dentro e fora do nosso país. Além de ser cruel, a caça lança um futuro
negro para as espécies sobreviventes no planeta. O urso cinzento
está em perigo de extinção, não só por ser um belo troféu, mas porque
na Ásia todas as suas partes são vendidas tal como peças de um
carro desmanchado, para alimento e remédios.

Bibliografia consultada:

The American Hunting Myth - Baker Ron, 1985

Caça ecológica, aberração ética - artigo de Berna Vilmar,


publicado no Jornal do Brasil, em 14/01/91.
85
S.O.S Animal

Carta Aberta aos Ecologistas - Lanuza Cacilda - agosto de


1988 - Grupo Seiva

Revista National Geographic de setembro/1991 - volume 180,


no 3, pág. 106 a 132, tradução de Ana Maria Pinheiro

Animals Agenda - setembro de 1991 - artigo de Pacelle


Wayne, tradução de Ana Maria Pinheiro.

TRÁFICO DE ANIMAIS

A importação de aves exóticas, especialmente de papagaios


do Brasil, alcança níveis tão altos na Europa e EUA que a Environmet
Investigation Agency - EIA, publicou um relatório alarmante, em
que descreve com detalhes e ilustrações fotográficas, as condições
em que são transportados esses animais, muitos dos quais chegam
mortos a seu destino. Este relatório, que recebeu o título “Vôo para
Extinção” (Flight to Extinction) denuncia que a Comunidade

86
EDNA CARDOZO DIAS

Econômica Européia não instrumentaliza mecanismos para impedir


esta depredação e penalizar a importação de pássaros raros.

MORTE MARCA COMÉRCIO ILEGAL

Os animais vendidos em feiras são torturados desde a captura.


Nas exposições e transporte, vários animais são colocados na mesma
gaiola, sem comida ou água, o que provoca um nível de estresse que,
muitas vezes, os leva à morte. Para os animais parecerem dóceis, e
facilitar o transporte, as penas das aves maiores, como papagaios e
araras, são cortadas ou mutiladas. Os olhos dos melros são furados
ou as retinas queimadas com o calor de um cigarro. As aves, sem
enxergar, não voam e ficam sobre os dedos de qualquer pessoa. Os
pássaros canoros têm sua barriga machucada por compressão, e,
assim, sentindo dor, não param de cantar, mas morrem, no máximo,
dois dias depois.

VÔO FATAL

Na forma, o tráfico de espécies protegidas é semelhante ao


de drogas, mas o primeiro leva uma vantagem: embora seja proibido,
não é penalizado. Ou seja, a mercadoria é apreendida, mas o
contrabandista não é preso. Por esta razão, o tráfico de drogas está
87
S.O.S Animal

ligado ao tráfico de animais, que além de não ser punido, serve de


apoio para a lavagem do dinheiro de narcotráfico. Na Europa os
principais pontos do comércio de espécies protegidas estão em
Portugal, na Grécia, na Itália e, sobretudo, na Espanha. Atende a
todo tipo de consumidor, a começar por comerciantes de pele, de
marfim, de cascos de tartaruga, de bicos de ave, de troféu de parede
e animais exóticos vendidos como animais de estimação.

BRASIL ABASTECE CARTEL

O Rio de Janeiro e a baixada fluminense são o pólo do


comércio ilegal de animais. Somente na feira de Caxias pelo menos
dois mil animais são vendidos a cada domingo. Em Feira de Santana-
BA, no Centro de Abastecimento de Feira e até mesmo nas ruas
Marechal Deodoro e Av. Senhor dos Passos, bem no centro, araras,
papagaios, tucanos, gatos-do-mato e pássaros são vendidos e
traficados para outros países. Na Amazônia os animais, além de
traficados por via aérea, são levados via fluvial para o mercado de
Iquitos, no Peru, e mercado Ver-o-Peso, em Belém-PA. Quanto mais
raro o animal, mais alto o preço. Noventa por cento dos animais
vendidos em feiras são aves. As domesticadas são mais caras que as
recém-capturadas.

OS CIRCOS

No século XVIII, na Europa, artistas denominados


genericamente saltimbancos, se exibiam em praças públicas: eram
equilibristas, malabaristas, mímicos, saltadores, acrobatas,
ilusionistas, dançarinos, domadores de animais, ventrílocos, etc...
Nos meados desse século, criaram-se recintos de diversões populares,
ao ar livre, onde se realizavam combates simulados a cavalo, provas
de equitação, caça a servos e javalis e até mesmo lutas entre animais.
Com o desenvolvimento do hipismo na Espanha, e principalmente,
na Inglaterra, também surgiram companhias de “volteio”. Foi quando
o inglês Philip Astley resolveu, ao inaugurar em 1770 o Astley’s
Amphitheater of Arts, intercalar números de cavalos com espetáculo
de saltimbancos. Assim se criou o primeiro circo moderno. Em 1783
88
EDNA CARDOZO DIAS

Astley inaugurou, na França, o Amphithéatre Anglois. As grandes


capitais européias manifestaram total aceitação do novo gênero
artístico. Em pouco tempo a nova arte se espalha pelo mundo todo,
isso em parte devido ao nomadismo dos saltimbancos. Os circenses
aventuravam-se por todas as regiões do globo, tendo destaque o
palhaço, que com sua linguagem mímica vencia as diferenças
idiomáticas.

No Brasil, apesar de se encontrar registro da presença de um


equestre que dançava sobre cavalos em 1828, o Manuel Antônio da
Silva, só em meados do século XIX é que o noticiário da imprensa
passou a ocupar-se dos circos. Podemos citar companhias importantes
como Circo Garcia, Circo Romano, Circo Orlando Orfei, Circo
Mágico Tihany, Circo Panamericano, sendo que a maioria insiste
em conservar o costume primitivo e cruel de exibir animais.

Hoje não faz mais sentido a exibição de animais em circo no


atual estágio da civilização. As crianças gostam do circo por causa
do trapézio, do palhaço e dos acrobatas. O circo do artista Marcos
Frota não exibe animais em suas apresentações.

POR UM CIRCO SEM ANIMAIS – POR UM


CIRCO MAIS HUMANO

A vida para um animal de circo é difícil e exigente. Os animais


atores são vítimas patéticas de grandes negócios. São exibidos e
explorados para divertimento dos homens. Seus sentimentos são
menosprezados e abusa-se do domínio do homem sobre eles. Estes
animais necessitam mais de compaixão, que de admiração. O fato de
serem obrigados a executar números contra a sua natureza deve
provocar indignação e lástima, sendo uma diversão nociva, pois
desperta o regozijo daqueles que infringem dor e sofrimento a outros
seres vivos.

VO CÊ SABI A Q UE EM 90% DO S CASO S NO


TREINAMENTO DOS ANIMAIS DE CIRCO ELES SÃO:

89
S.O.S Animal

- Treinados por meio de golpes, fome e espantosa crueldade?

- Encerrados dia e noite em pequenas jaulas com espaço


necessário, apenas, para se porem de pé e nas quais viajam de um
lugar para o outro por quilômetros?

ARENA DE EXPLORAÇÃO

Imagine-se passando o resto de sua vida num pequeno


cômodo sem mobília, sem livros para ler, preso num caminhão que
roda por várias horas, balançando de um lado para o outro na
escuridão até que, eventualmente, pare e quando você possa olhar
para fora veja sempre uma paisagem diferente para seus olhos. Depois
de um pequeno repouso você é obrigado a entrar num palco cheio de
luz e de barulho. E decida se quer saltar, fazer coisas engraçadas
enquanto ao seu redor todos gritam e riem - de você! Um horrível
pesadelo? Não, a vida de um animal de circo. Esses lindos animais
que precisam viver em florestas passam a vida prisioneiros para
diverti-lo. Você se diverte vendo-os degradarem-se dessa maneira?
Já está crescendo o número de crianças que gostam de ver o animal
como ele é e não acham graça nenhuma em vê-lo comportar-se de
forma antinatural. E acham isto muito triste. Eles gostam do circo,
do palhaço, do trapézio, do acrobata, da música e do excitamento. E
pedem um circo onde não se explore os animais. O leão não foi
criado para viver numa carroça. O tigre, não foi criado para se exibir
sobre o dorso de um cavalo ou para saltar através de um círculo de
fogo. O golfinho não foi criado para passar a vida num aquário sujo.
O animal deve ser respeitado por aquilo que ele é e não por aquilo
que fazemos dele depois de deturpar a sua natureza. Combater o
racismo, aceitar o direito à diferença, é também, reconhecer que cada
espécie animal tem sua personalidade. No circo, o estado psicológico
e fisiológico dos animais é modificado. A promiscuidade, a
exiguidade dos locais, a alimentação discutível das espécies
encarceradas provocam uma agonia condenável. Esta
responsabilidade cabe, também, ao público, que se deixa conduzir
alheio à miséria animal, porque pagou para vê-lo em cenas que

90
EDNA CARDOZO DIAS

despertem medo ou riso, cenas exóticas e tristes, um cortejo de


misérias.

Você sabia que os animais no circo são submetidos a


condicionamentos cruéis para aprenderem o seu número? O elefante,
desde filhote, é dominado pela torção das orelhas ou objetos que
lembram ratos. As trombas e o septo não contam com proteção contra
esses animais, por isso dormem com as trombas enroladas. São
atingidos, também, por arpões. Os felinos, que não se submetem a
prêmios e castigos, são dominados pelo chicote ou pelo fogo. Pelo
menos uma vez na vida são queimados na testa para que não se
esqueçam da dor.

É revoltante verificar que quando aplaudimos o “espetáculo”


de exibição dos animais no circo estamos na verdade aplaudindo a
vitória do homem sobre a natureza, o êxito absoluto na tentativa de
se escravizar o animal - “vejam como sou mais forte e mais
inteligente, vejam como eles estão inteiramente dominados,
submetidos e entregue à minha vontade, aos meus caprichos”- vejam
e aplaudam a humilhação e a violência do mais forte contra o mais
fraco!

COMO ROMPER O CORAÇÃO DE UM ELEFANTE

Os elefantes começam a ser dominados, desde a selva, onde


são capturados, antes mesmo de serem levados para os circos e zôos.
Em Sumatra, conta a repórter, que nativos rodearam uma manada de
elefantes, para proceder à captura, e os encurralaram usando gongos,
matracas e rifles, para assustá-los. Os animais, em pânico, se
deslocaram, correndo em direção ao curral, já armado, onde foram
acuados. Foram, depois, acorrentados de forma que a cabeça ficasse
entre as estacas e que as orelhas os impedissem de escapar. As trombas
foram mantidas amarradas, esta era uma parte da lição. A manada
foi deixada dias com fome, recebia apenas água e alimentos
suficientes para se deixar manejar. Escolheu-se um elefante, que foi
levado para um cercado, onde entrou atraído pelo alimento, com as
patas atadas, para que pudesse dar pequenos passos. Lá permaneceu
91
S.O.S Animal

por duas semanas, para a sua primeira lição. Foi montado por um
mahout e recebia pequenas rações, até que se acostumou a ser
montado. Chegou, depois, a hora da lição mais importante. Os nativos
seguravam cordas amarradas em suas patas e tromba. A cabeça foi
liberada do cepo, em que estava enganchada e amarrada.
Aparentemente, o elefante estava livre, mas se tentava correr os
homens puxavam as cordas presas às patas e ele tombava no solo.
Depois de vários tombos, só caminhava onde era levado. Alguns
homens caminhavam atrás do elefante e golpeavam-lhe a parte
traseira com bambu. A parte mais delicada do animal se encontra na
raiz da cauda, onde era golpeado sem piedade, sendo esfolado e até
sangrar. Não lhe permitiam voltar a cabeça. Os homens que
seguravam a corda atada à tromba, logo puxavam-na. Também, não
podia correr, pois faziam-no tropeçar. O animal seguia, gemendo,
debaixo do sol quente, que sua pele mal podia suportar. Então baixou
a cabeça e ecoou um longo e estremecedor gemido. Com o coração e
espírito rotos, reconheceu que estava à mercê dos demônios. Estava
pronto para obedecer ao que lhe obrigassem a fazer. Recebeu comida,
foi levado ao rio para banhar-se, já sem as cordas nas patas e nunca
mais voltou ao cepo, onde permaneceu amarrado. Era um elefante
domado.

Mas, nem sempre é assim. Certa vez um elefante resistiu,


segundo relatou o sr. Boon, ao autor do artigo, e tentou atacar um
homem, com sua tromba, recebendo um golpe que sacudiu todo o
acampamento. Um mahout o montou, e puxaram-lhe as patas traseiras
até que caiu de bruços, rolou pela terra, o corpo coberto de poeira.
Quatro vezes foi derrubado e, depois, deixaram-no descansar até a
tarde. Começaram tudo de novo, aplicando-lhe golpes de bambu e
arrastando-o com as cordas. Como não se subjugava, um homem
enterrou-lho um agulhão na cabeça e lhe fez cortes nas orelhas.
Fizeram-no dar voltas e voltas, com o sangue escorrendo. Apareceu
o Rajá, que repreendeu os treinadores e mandou que o elefante
voltasse a ser amarrado no cepo, onde soltou gemidos por toda a
noite. Condoído, o sr. Boon pegou o seu rifle e pôs fim a seu suplício,
com um tiro.
92
EDNA CARDOZO DIAS

Ao olhar um elegante treinador de circo em seu uniforme


você crê que ele é um grande domador? O coração do elefante já foi
rompido muito antes de que ele ou você pudesse tê-lo conhecido.

(Dados publicados no “Real New York”, em 25.02.1955


segundo relato de Brian O’Brien. Tradução resumida de Edna
Cardozo Dias de publicação de “La voz de los Animales”, no 38,
1984, México)

OS “CIRCOS’ MARINHOS

A detenção de golfinhos e focas para exibição em espetáculos


aquáticos é chamada de Circo Marinho. Os cientistas, através de
observações destes animais em liberdade, concluíram que possuem
grande inteligência, o que nos faz refletir sobre a sensibilidade que
possuem. Desde a sua chegada e aprendizagem experimenta a fome
até aprenderem a executar o número. Triste destino têm que cumprir,
pagando tal preço por sua beleza e sua docilidade. Estes animais
cativos são obrigados a executar até quatro ou cinco vezes por dia
números antinaturais para sua morfologia e fatigantes, dentro de
pequenas bacias. As bacias são contaminadas por micróbios de águas
que não são renovadas; os desastres são frequentes e os golfinhos
são caríssimos. Os apresentadores apelam para a publicidade para
recuperar os prejuízos e o público desavisado, é atraído aos
espetáculos, mal informado sobre a vida dos animais, enquanto tais
atrações são exportadas pelo mundo inteiro.

O lucro é o único objetivo dos diretores de circos, sem pensar


que só a morte libertará estes animais de uma triste vida dentro de
uma pequena bacia. NÃO DEVERÍAMOS FORÇAR UM ANIMAL
A EXECUTAR NÚMEROS QUE A SUA NATUREZA NÃO LHE
PERMITE FAZER APÓS MILHÕES DE AOS DE EVOLUÇÃO.

Bibliografia consultada
La voix de Bêtes - no 83 - pág. 32 e 33

93
S.O.S Animal

94
EDNA CARDOZO DIAS

CAPÍTULO VI
OS ANIMAIS NOS ESPORTES

Tiro ao pombo é um esporte perverso


Este esporte não passa de um extermínio. Os pombos são
levados para a arena em caixas de metal, simetricamente dispostas
no chão a 27 metros de distância do atirador. Sob um comando
eletrônico, por fichas, uma dessas caixas se abre sem que o atirador
saiba de antemão. Se o pombo cai ferido ou morto dentro de um raio
de 16 metros, o atirador marca ponto e continua a prova. Se

a ave for abatida a uma distância superior a 16 metros ou


conseguir sobreviver e voar além desse limite, o atirador, que pode
disparar até dois tiros de cada vez, perde o ponto. Em até quinze
tiros ele tem direito a errar um pombo. Caso erre mais de uma vez,
estará então eliminado da prova. O campeão é aquele que não deixa
de matar nenhum pombo nos dias de competição.

Milhares de aves são mortas, para servir de alvo a atiradores


sequiosos de provar sua boa pontaria. A condescendência social para
com essa prática só poderá corromper a nível infra-humano a nossa
juventude, deformando-lhe a consciência e criando raízes para futuros
genocidas. Um país que autoriza a matança de seus pássaros é um
local propício à escravidão e à barbárie. Comprazer-se com a matança
de animais é preparar-se para o crime. O homem é o único animal
que mata de propósito e tem que trabalhar para se redimir da culpa
de tão odioso privilégio.

95
S.O.S Animal

Nós não podemos aceitar impavidamente a vigência de leis


que outorgam ao homem o direito de se deleitar com a dor e de
exercitar suas baixas paixões na realização de um festival de sangue.
Torna-se, pois, urgente a mudança da nossa atual legislação, no
sentido de se proibir o tiro em alvos vivos. Quem quiser demonstrar
sua boa pontaria, que use alvos mecânicos. Já existe, em uso, o
chamado “pato doido”, que é uma máquina que arremessa pratos
por sobre a copa das árvores. Existe, ainda, a “fossa olímpica”, um
total de quinze máquinas a arremessar pratos numa velocidade de
até 140 quilômetros por hora e nas alturas e direções as mais variadas.
Existem métodos substitutivos que possibilitam ao cidadão a
oportunidade de apregoar sua perícia na arte de atirar, sem que seja
necessário matar.

Nós, da Liga de Prevenção da Crueldade contra o Animal,


esperamos que os legisladores sigam a nossa rota, pois acreditamos
que a proteção animal poderá se transformar num verdadeiro tratado
de paz, em todas as latitudes. Segundo a nossa razão, é tão absurdo o
massacre das espécies quanto toda forma de racismo.

BRIGA DE CÃES

Um cão criado para


briga vive abrigado no escuro,
deitado sobre os próprios
excrementos. Para descarregar a
tensão constante ele morde a
correia que o aprisiona. Seu
treinamento é terrível: antes de
tudo ele é obrigado a correr
durante horas por percursos
longos ou sobre esteiras
rolantes. É obrigado a vencer
obstáculos e, para fortalecer os
músculos do maxilar ele é obrigado a puxar com os dentes charretes
96
EDNA CARDOZO DIAS

com 800 quilos de ferro. Isto durante horas. Esta é a vida de um pit
bull treinado para as brigas.

Sua alimentação é composta de animais feridos, mas ainda


vivos, o que serve para torná-lo mais feroz. Na maioria das vezes a
vítima é um gato propositalmente ferido. O cão o recebe como
recompensa depois do treinamento cotidiano. Esse cão é treinado
para agredir e matar depois de receber determinados sinais , tais
como ter uma ponta de cigarro apagada em sua testa.

O treinamento para combate submete o cão a várias torturas,


como por exemplo coleiras elétricas. Cada vez que ele não satisfaz
seu instrutor ele é punido com uma descarga elétrica.

Uma briga de cães consiste em colocar dois cães pit bull


terrier, previamente treinados, para se confrontarem em uma luta
sangrenta. A regra é simples: vence o animal que sobreviver a 30
minutos de assalto. Se ambos desistirem o juiz decide quem venceu.
Uma briga dura de dois a três combates. O cão campeão, depois de
costurado, é preparado para novo combate, que costuma ser fatal,
pois o pit bull ataca a vítima mordendo sua jugular e a solta depois
de morta, se não houver intervenção. A capacidade de nunca
retroceder por medo, desenvolvida na raça através da seleção da
criação, prepara um exemplar de “boa linhagem” para continuar
lutando por duas ou mais horas, independente da desidratação,
exaustão, fadiga muscular ou qualquer outra sensação de desgaste.
Dependendo de sua determinação para lutar um cão pode valer
milhares de dólares. O critério de seleção de um cão é sempre
testando-o em um combate.

Na primeira metade do século passado era comum na Europa


as brigas entre cães e touros. Por isso, a raça inglesa Bull Terrier -
cruzamento do Bulldog, o antigo terrier inglês branco e o Pointer
espanhol - deu origem a esse novo cão, que pode ter sua agressividade
instigada e é valente, a ponto de preferir morrer a largar sua presa.
Segundo os criadores de Natal, sua mordida pode eqüivaler a uma
tonelada e ele é capaz de estraçalhar qualquer animal.
97
S.O.S Animal

Na Ásia é comum as brigas entre esses cães e os ursos. O


divertimento consiste em amarrar um urso a uma corda e, depois
soltar os bull terriers para atacá-lo. Como os dentes e as garras dos
ursos são arrancadas não podem se defender dos cães que lhe mordem
e arrancam pedaços. Um só urso pode passar por esta terrível prova
três vezes por dia e centenas de vezes por toda sua vida.

O primeiro projeto de lei em defesa desses animais, foi em


1822, na Inglaterra. De autoria de Richard Martin pretendia proibir
as brigas entre pit bull e touros. Não logrou aprovação . Essas brigas
cresceram, principalmente, depois de 1835, quando se proibiram as
arenas de touros.

Sabe-se que no Brasil as brigas de cães, apesar de proibidas


são realizadas na clandestinidade e que a promoção dessas rinhas já
chegou em Minas Gerais, e sobretudo na Bahia, acontecendo em
casas particulares. São ilegais e não deixam rastros de existência
organizada no Brasil, apesar se ter notícias delas em todo nordeste e
sul do país.

Na maioria das vezes, quando um pit bull é adotado como


animal de companhia, ele se torna dócil. Mas, acontece que à menor
demonstração de agressividade seus proprietários se assustam
condenando-os a viver em correntes curtas e cubículos ou desfazem
dele. Devolvem-no aos criadores ou os doam a criados que os levam
para a difícil vida de favela.

No nosso entendimento criar cães para brigas e promover


brigas de cães é crime e pode ser enquadrado na Lei 9.605/98.

BRIGA DE GALO

Por volta de um ano o galo já está preparado para a briga e


passará por sessenta e nove dias de trato. No trato o animal é
pelinchado - o que significa ter cortadas as penas de seu pescoço,
coxas e debaixo das asas - tem suas barbelas e pálpebras operadas.
Iniciou, pois uma vida de sofrimento, com o treinamento básico. O

98
EDNA CARDOZO DIAS

treinador segurando o animal com uma mão no papo e outra no rabo,


ou então, segurando-o pelas asas, joga-o para cima e deixa-o cair no
chão para fortalecer suas pernas. Outro procedimento consiste em
puxá-lo pelo rabo, arrastando-o em forma de oito, entre suas pernas
separadas. Depois, o galo é suspenso pelo rabo, para fortalecer suas
unhas na areia. Outro exercício consiste em empurrar o animal pelo
pescoço, fazendo-o girar em círculo, como um pião. Em seguida, o
animal é escovado para desenvolver a musculatura e avivar a cor das
penas, é banhado em água fria e colocado ao sol até abrir o bico, de
tanto cansaço. Isto é para aumentar a resistência.

Chega, então, a hora do treinamento de cotejo, quando o galo


é posto para brigar com outro, só para treinamento, usando buchas
nas esporar e biqueiras de borracha no bico. A biqueira que prende
os dois bicos, é para treinamento do tiro de pé e a biqueira que prende
o bico superior é para que o galo possa prender o seu adversário,
sem machucá-lo. A biqueira é retirada para se verificar o rendimento,
mas nesta fase os animais são separados antes de se machucarem.

O galo passa a vida aprisionado em gaiola pequena, é privado


de sua vida sexual normal, só circulando em espaço maior, nas épocas
de treinamento, quando é posto na passadeira, que mede 2m de
comprimento de 1m de largura.

Chega a hora do galo ser levado às rinhas. Depois da parelha


(escolha dos pares), vem o topo, que é a aposta entre os dois
proprietários. São, então, abertas as apostas e as lambujas. Os galos
entram no rodo calçados com esporar postiças de metal e bico de
prata (o bico de prata serve para machucar mais ou para substituir o
bico já perdido em luta). A luta dura 1h15m, com quatro refrescos de
5m. Se o galo é “tucado” (recebe golpe mortal)ou é “meio-tucado”
(está nocaute) a platéia histérica aposta lambujas, que são apostas
com vantagens para o adversário.

Se o galo ficar caído por 1m o juiz autoriza o proprietário a


“figurar” o galo (tentar colocá-lo de pé). Se ele conseguir ficar de pé
por 1m a briga continua. Se deitar é perdedor. O galo pode ficar de
99
S.O.S Animal

“espavorido”, quando leva uma pancada muito dolorosa e abandona


a briga.

Se a briga durar 1h15m sem um deles cair há empate e o topo


perde a validade. Faz-se apostas até sobre o refresco.

Galo carreirinha é aquele que percorre o rodo correndo até


cansar o outro que está correndo atrás dele para depois abatê-lo.
Galo canga é aquele que cruza o pescoço dele com o do outro,
forçando para baixo até que o adversário perca a postura de briga. O
galo velhaco é aquele que, no meio da briga, entra por debaixo das
penas do adversário, quando está sendo atacado e depois o pega de
emboscada.

Tudo isto comprova que as brigas de galos são cruéis e só


podem ser apreciadas por indivíduos de personalidade pervertida e
sádicos.

BRIGA DE CANÁRIOS

O principal argumento dos rinheiros para justificar essas


disputas é o fato de que os canários brigam espontaneamente na
natureza.

A ave tem de fato o sentimento de posse da terra, que se


manifesta por meio do canto. O território será tanto maior, quanto
for a extensão do canto. O canto do canário tem grande alcance em
por conseqüência, na natureza vive em território amplo e em casais.
No estado silvestre essas aves só lutam para defender o território
onde vão se acasalar e ter sua prole. Nunca por instinto de luta. Dessa
forma as lutas só acontecem na época da reprodução, a partir de
agosto e setembro, e terminam pela fuga inevitável do vencido.
Durante o fim do outono e do inverno, vivem em bandos sem território
e não há nada que os faça lutar.

Ademais, quando há invasão de território nem sempre


acontece a briga. Os animais tem um código de comunicação, que
permite um diálogo antes da disputa. Os pássaros eriçam as penas
100
EDNA CARDOZO DIAS

para intimidar o adversário que, também, pode fazer sinais de


apaziguamento e abandonar o território, pondo termo à disputa.

Outro argumento usado pelos rinheiros é que as competições


tem o objetivo de apurar a raça e defender a espécie da extinção.

Muito pelo contrário do que dizem, na natureza o animal se


preserva melhor, pois um canário que foge ou perde seu território,
pode constituir um novo e reproduzir, e ser um bom reprodutor,
independentemente de ser bom de briga. Considerando que nem todos
os canários servem para briga e que o cativeiro não é necessário para
preservar a espécie, o que os rinheiros estão aprimorando? Ninguém
aprimora uma raça em cativeiro para o bem da própria raça; no fundo
isso é sempre feito para lucro do homem. Uma das coisas mais difíceis
é criar uma espécie em cativeiro e reintroduzi-la na natureza. Não só
pela dificuldade de adaptação da espécie, como pela exiguidade de
áreas apropriadas.

Os canários para briga são alimentados com sementes de


maconha e o remédio Melhoral dissolvido em água. Além disso, o
estímulo sexual, provocado pela presença da fêmea e da aplicação
de massagem no peito dos bichos, é usado para atiçar os animais
contra um outro pássaro. O perdedor não tem perdão: se sobreviver
à ira do adversário morre esmagado nas mãos do criador revoltado
com sua derrota. E se ganhar não fica com a fêmea, é guardado para
outra rinha.

Na verdade o objetivo das rinhas é ganhar dinheiro com as


apostas e com a comercialização das aves, um negócio
multimilionário, onde os canários são um instrumento cruel de
exploração financeira.( Edna Cardozo Dias, in SOS ANIMAL)

OS RODEIOS

Os rodeios surgiram no velho oeste da América do Norte, no


final do século IX.

101
S.O.S Animal

Os homens que trabalhavam com o gado costumavam rodeá-


lo e laçá-lo a fim de recolhê-lo, donde o surgimento da palavra rodeo.

A título de divertimento passaram a exibir e disputar atos de


destreza e bravura na montaria, o que acabaram transformando o
que era uma brincadeira em brutalidade e selvageria.

No Brasil os rodeios costumam figurar como atração popular


em exposições de gado. Hoje, se organizam festas de peões boiadeiros
com a finalidade de se disputar prêmios milionários, que enriquecem
os promotores e os participantes do evento.

Nos rodeios há duas modalidades de montagem: cavalo e


touro.

O rodeio em cavalo tem três estilos de montaria. O que os


diferencia é basicamente os equipamentos utilizados, que obrigam a
mudança do jeito de montar: cutiano, estilo tipicamente brasileiro,
que usa sela, sedém e rédeas. O saddle bronc usa sela americana sem
pita. O bareback é outro estilo de sela americana, bem pequena, e
com pequena alça para apoio da mão.

Na montaria de touros usa-se o sedém e uma corda americana


envolvendo o tórax com nó de ajuste ( peiteira), em que o peão segura
com uma das mãos.

Juizes de pista avaliam o desempenho do conjunto. Uma


dupla de palhaços salva-vidas ajuda o peão que vai ao chão a livrar-
se de possível investida do touro. Uma madrinha ajuda a tirá-lo da
montaria.

Depois que o locutor anuncia a abertura dos rodeios, a


imagem de Nossa Senhora Aparecida é levada para dentro da arena,
saudada por fogos de artifício e desfile de bandeiras, além da oração
silenciosa de cada peão, que pede proteção e fama.

Os cavalos e touros de rodeio não são bravios nem


indomáveis. São mansos e em geral estão no último estágio de miséria.

102
EDNA CARDOZO DIAS

Quando saltam e corcoveiam para derrubar o cavaleiro, estão apenas


procurando fugir da dor, que lhes é deliberadamente imposta para
fazê-los parecer furiosos.

Não só durante o espetáculo, como antes da partida e nos


treinos, são espicaçados e esporeados e tem seus órgãos vitais
comprimidos de maneira insuportável, às vezes com feridas abertas
ou cicatrizes recentes provocadas pelos treinos, e por cordas grossas
e ásperas.

Para o animal pular, saltar e corcovear é que são utilizados o


sedém, as esporas, as peiteiras, além de choques elétricos nos órgãos
sexuais.

O sedém consiste em uma tira de crina de animal que é


fortemente amarrada no flanco inguinal ( virilha) do animal. O
resultado é a compressão dos uréteres ( canais que ligam os rins à
bexiga ). O prepúcio, o pênis e o escroto são, também, comprimidos,
o que faz o animal saltar desesperado, procurando se desvencilhar
do incômodo e da dor.

As esporas pontiagudas são usadas nas botas dos peões e


servem para fincar o animal no baixo ventre, peito, pescoço e cabeça,
podendo até cegá-los.

As peiteiras são cordas de couro fortemente amarradas em


torno do peito do animal, causando-lhes lesões e dor. No boi são
colocados sinos nas peiteiras. As peiteiras promovem a sensação de
asfixia, cansando medo e derrame de adrenalina. Seu objetivo é fazer
o animal pular para se desvencilhar da dor.

Nos rodeios de touros, eventualmente, se colocam até gatos


debaixo da sela, tudo no intuito de fazer o animal saltar.

Os laços são usados na modalidade de pega garrote, calf


roping e bulldog, entre outras, e causam a queda do animal, que
sofre luxações e fraturas.

103
S.O.S Animal

Outra modalidade é a “mesa da amargura”, colocada no centro


da arena para que o animal nela colida.

Antes de entrar na arena os animais são provocados com


choques elétricos e estocadas com instrumentos contundentes, para
enfurecê-los.

Fraturas em pernas e pescoços são o resultado mais freqüente.

Muitos desses animais são comprados nos matadouros e


depois de estourados nos rodeios são novamente vendidos aos
matadouros.

VAQUEJADAS

A vaquejada é um espetáculo genuinamente brasileiro e


nasceu na cidade de Santo Antão, em Pernambuco. Dois vaqueiros,
um denominado puxador e o outro esteireiro , montados em cavalos,
acompanham um boi desde a saída da sangra ( box feito para a largada
da rés) até a faixa de julgamento . Ali devem tombar o boi ao chão,
arrastando-o brutalmente, até que mostre as quatro patas. Caso
queiram aumentar os pontos com o feito, no ato da derrubada, o boi
tem que cair de patas para cima.
104
EDNA CARDOZO DIAS

As chamadas apartações que eram feitas até a primeira metade


deste século nos sertões nordestinos eram presenciadas por multidões
que se deslocavam de grandes distâncias para ver as atrocidades
impostas aos animais. Isso era feito no tempo em que o gado era
criado em campos abertos. Depois das épocas invernosas os criadores
se juntavam e arrebanhavam o gado para fazer o devido
reconhecimento de propriedade do animal pela marca registrada do
fazendeiro ( feita com ferro quente). A derrubada era feita no final
da operação, quando os bezerros já haviam sido reconhecidos através
de suas mães. Cada rês que era mutilada na queda era sacrificada
para servir de pasto aos participantes. As apartações já não existem
hoje, depois que o gado passou a ser criado em mangas de terras
cercadas pelos latifundiários .

No entanto, as vaquejadas continuam com maior freqüência


a cada ano que passa. Os animais usados em vaquejadas sofrem
luxações e hemorragias internas, devido ao tombo.E não é só o
sertanejo que participa da “ derrubada do boi”. Hoje em dia, já vem
entrando em cena empresários, profissionais liberais e outras
categorias profissionais, como se essa prática fosse um esporte. Todo
este tormento que sofrem os animais é para ganhar prêmios oriundos
de rateio das inscrições pagas pelo vaqueiro.

Um mau costume de peões nordestinos é carregar um lâmina


ou pedaço de osso cortante, escondido na luva, para decepar a cauda
do boi, ao mesmo tempo em que o tomba. A vaquejada, sem dúvida
nenhuma, se configura como simulacro de touradas, e envolve
crueldade contra o animal.

TOURADAS

São Paulo sediou, de 23 a 25 de fevereiro o I Encontro


Hispano-Brasileiro de Tauromaquia. O evento pretende ser o ponto
de partida para a criação da Associação Brasileira de Aficionados e
Criadores de Touro Bravo, hoje com quinhentos integrantes. A colônia
espanhola no Brasil, e principalmente o criador de touros Fernando
Marselhas, pretendem trazer as touradas para o Brasil, com claras
105
S.O.S Animal

intenções de lucro, com a desculpa de divulgar a cultura deles em


nosso país.

A TOURADA E SEUS PRINCIPAIS PERSONAGENS

Considerada festa nacional na Espanha, a tauromaquia é uma


lide que teve origem nas idades clássicas e orientais e, inclusive na
época paleolítica, conforme demonstram as pinturas rupestres. Em
Portugal e na França ela se desenvolve com modalidades próprias, e
na América espanhola, o México domina o movimento taurino.
Colômbia, Equador, Peru e Venezuela são os países sul-americanos
onde a tourada também é praticada. Às vezes as corridas se realizam
em “ Plazas Mayores” dos povoados, cujas saídas são obstruídas.
Porém os locais mais usados são as “ Plazas de toros”. A de Sevilha
data de 1707 e a primeira construída em Madri é de 1743. A disposição
do anel ou redondel é semelhante á de um circo romano, com um
espaço circular de areia no centro, onde ocorre a lida, rodeado por
uma arquibancada mais ou menos alta, destinada aos matadores. A
tourada a cavalo foi praticada, no início por personagens da
aristocracia, auxiliados por pagens. Depois, passou a ser praticada
por pessoas rudes Cada toureiro tem como ajudantes o picador que
vem a cavalo e os “banderillos”. Os toureiros rezam diante de um
altar privado antes de entrar na arena. Os picadores e outros
subalternos descem as ruas em carros abertos, os clarins anunciam a
entrada da “ cuadrilla”, e está armado o circo, de onde o boi só sai
morto.

A PREPARAÇÃO

Antes da corrida o boi é preparado da seguinte forma: são


colocados tufos de papel molhado em seus ouvidos, seus chifres são
cortados para que se desoriente, vaselina é colocada em seus olhos
para nublar sua visão, chumaços de algodão são colocados em suas
narinas para obstruir sua respiração, soluções irritantes são passadas
em suas pernas para que cambaleie, agulhas são inseridas em seus
órgãos genitais. Seus chifres são lichados, para que fique mais
indefeso. Depois de drogado é confinado em cubículo escuro, o “
106
EDNA CARDOZO DIAS

chiquero”, com o intuito de lhe incutir terror. Fortes laxativos são-


lhe ministrados na véspera, para que enfraqueça e sacos de areia são
colocados na altura dos rins. É assim que se prepara um touro para a
brava luta.

Os cavalos, também, sofrem preparação. Suas cordas vocais


são cortadas, seus ouvidos tampados com chumaços de papel molhado
e seus olhos são vendados.

A BRAVA LUTA

Quando o touro é solto e a caminho da arena, já lhe cravam o


primeiro arpão. O animal entra na arena desorientado, procurando
um meio de sair. O picador fere com uma lança o pescoço do touro.
Teoricamente, deve penetrar apenas a ponta de aço de 3 centímetros,
mas sempre cravam também os 11 centímetros que seguem até a
base da haste, o que representa uma ferida de 14 centímetros de
profundidade e até 40 centímetros de extensão. Alguns picadores
retorcem a lança para aumentar a penetração, apoiam-se no cabo ou
ferem o costado, para provocar uma hemorragia abundante ou ferir
o pulmão. Cada touro recebe uma média de 3 a 4 golpes de lança.

Os “ banderillos” enterram afiados arpões metálicos com 5


centímetros ou mais de ponta e cabos enfeitados nas mesmas feridas
abertas pelas lanças, ou perto delas. As “ banderillas” balançam à
medida que o animal corre e investe contra os picadores, aumentando
ainda mais a área ferida. Essas feridas e as “ banderillas” presas ao
pescoço impedem que o touro levante a cabeça. Se o touro mantivesse
a cabeça erguida, o “ matador” precisaria subir numa escadinha para
matá-lo, o que não seria muito prático.

O matador crava a espada de quase um metro, de modo a


tentar lesionar o coração ou algum vaso sangüíneo importante. Isto
não ocorre quase nunca. Na realidade, o pulmão é sempre atingido e
o animal cai vomitando sangue, sufocado em sua própria hemorragia.
A essa altura, o touro já está quase morrendo, urinando
descontroladamente, com suas funções vitais em colapso. Ferozmente

107
S.O.S Animal

acossado, aterrorizado o animal cai não só sangrando, mas chorando.


Finalmente, é dado um golpe com o intuito de secionar a medula
espinhal, Se a medula não é secionada mas apenas danificada, o
animal fica semi-paralisado, ainda vivo. Isto não impede que sua
orelha seja cortada, seu rabo cortado e que seja arrastado ainda vivo
para ser esquartejado.

AS NOVILHAS

Na Espanha são realizadas as touradas cômicas, em que anões


e palhaços substituem os “ matadores” e bezerros entram no lugar
do touro. Os bebês sofrem uma morte prolongada e agonizante. Em
alguns eventos, chimpanzés são vestidos como matadores. Este é
um dos mais deprimentes espetáculos da Terra.

No México os bezerros são usados em escolas de touros,


onde alunos de 14 a 20 anos massacram o pobre animal. Este ritual
covarde está mais para vodu e hitlerismo que para esporte ou cultura.

Touradas. Extinção já!

FARRA DO BOI

Todas as Semanas Santas, em Santa Catarina, descendentes


de açorianos, associando o boi a entidades pagãs, supliciam bois até
a morte, representando a linchamento a vitória do cristianismo sobre
os mouros.

Munidos de paus, pedras, açoites e facas, participam da farra,


homens, mulheres, velhos e crianças. Assim que o boi é solto a
multidão o persegue e agride incessantemente. O primeiro alvo são
os chifres, quebrados a pauladas. Em seguida tem os olhos perfurados.
Se o animal foge para o mar é arrastado pela multidão e o suplício
continua. Seus cascos às vezes são arrancados e o animal é obrigado
a correr pelas ruas com as patas em carne viva. A tortura só termina
quando o animal, horas depois, já com vários ossos quebrados não
tem mais forças para correr às cegas, sendo definitivamente abatido
e carneado para um churrasco. “ O bicho pula e escoceia, tenta cornear
108
EDNA CARDOZO DIAS

os mais próximos, mas a lâmina aguda de mil facas e até canivetes


transformam-no em uma posta de sangue. Abrindo caminho ele
corre...e tropeça... e cai. Porrete em riste, os mais selvagens já
lambuzados de sangue da vítima malham, malham até a morte do
indefeso. Está consumada a Farra do Boi.” ( descrição de João Manito,
Revista Brasília).

Tudo veio a público com uma carta da escritora Urda Kluger


ao Jornal o Globo, no ano passado e cuja cópia chegou às mãos do
jornalista e ecologista Dagomir Marquezzi, de “ O Estado de São
Paulo”, por uma sócia da Liga de Prevenção da Crueldade contra o
animal, Renate Marianne Perez, de Campinas. Dagomir Marquezzi
encabeçou a campanha em sua coluna Recado Ecológico, que agora
alcançou vulto internacional, chegando a ser tema até de teses de
mestrado.

Por trás desse tumor social, como bem chamou Dagomir


Marquezzi, existe uma máfia dos criadores de gado ( nessa época o
preço do boi aumenta), dos donos de restaurantes do litoral
catarinense ( compram boi e entregam aos pescadores em troca de
fornecimento preferencial do peixe, empresários ( que oferecem boi
como brinde para a festa), frigoríficos ( que alugam o boi para o
suplício).

109
S.O.S Animal

Enquanto os adultos praticam a farra do boi as crianças


praticam a farrinha. São bodes e até filhote de gato, nada escapa,
noticiou o Diário Catarinense, de 13 de abril de 1987. Crimes
cometidos por crianças, mas guiadas por aduldtos, os mestres.

As entidades ambientalistas logo se mobilizaram para deter


esta barbárie: Em 3 de março de 1988 Ana Maria Pinheiro protocolou
representação junto à Coordenadoria de Defesa dos Direitos da Pessoa
Humana e Interesses Difusos do Ministério Público Federal.

Em 25 de novembro de 1988 a Liga de Prevenção da


Crueldade contra o Animal, através de sua presidente e advogada,
Edna Cardozo Dias, encaminhou petição à Promotoria de Justiça do
Estado de Santa Catarina, para propositura de medida cautelar e ação
Civil Pública contra o Governo de Santa Catarina, bem como petição
à Assembléia Legislativa pedindo que o Senhor Governador e fosse
julgado por crime de responsabilidade.

Em 26 de abril de 1989 as entidades do Rio de Janeiro


APANDE - Associação Amigos de Petrópolis, Patrimônio, Proteção
dos Animais e Defesa da Ecologia, Liga de Defesa dos Animais,
SOZED - Sociedade Zoofila Educativa e Associação Protetora dos
Animais, ajuizaram Ação Civil Pública contra o Estado de Santa
Catarina, que foi julgada procedente , em Recurso Extraordinário
pelo Supremo Tribunal Federal, uma vez que não teve decisão
favorável em Santa Catarina. O relator Francisco Resek deu parecer
favorável á proibição da Farra do Boi, que entretanto deixou o
Supremo para ser representante do Brasil na Corte Internacional de
Haia. O Ministro Maurício Correa pediu vistas do processo a fim de
tumultuar, mas sua estratégia não surtiu efeito.

Em 12 de abril de 1990 a União em Defesa da Natureza


encaminhou denúncia ao Dr. Romeu Tuma, então Secretário da
Receita Federal e Diretor da Polícia Federal, referente a crimes de
sonegação fiscal relacionados com a Farra do Boi, com a afirmação
de utilização do caixa 2 para a compra e doação de bois por parte de
políticos catarinenses.
110
EDNA CARDOZO DIAS

Em 23 de março de 1992 as organizações Quintal de São


Francisco, União Internacional Protetora dos Animais - UIPA,
Associação Protetora dos Animais São Francisco de Assis - APASFA,
TUCUXI - Grupo de Proteção ao Boto, APANDE - Liga de Prevenção
da Crueldade contra o Animal, União em Defesa da Natureza,
Associação de Amparo aos Animais, Sociedade Norte- Mineira
Protetora dos Animais, dirigiram denúncia ao Dr. Aristides Junqueira,
então procurador Geral da república, solicitando providências legais
do Ministério Público.

Foram várias viagens realizadas pelos ecologistas a Santa


Catarina e Brasília no intuito de coibir a Farra. Lideraram
incansavelmente o movimento Ana Maria Pinheiro, Sônia Fonseca,
Claudie Dunin, Edna Cardozo Dias, Fernanda Colagrossi, Lya
Cavalcanti, Márcio Augelli, Dorival Valverde, Antônio Carlos
Gandara Martins, Deise Jankovic, João Cabral, Renate Marianne
Perez, entre outros.

O Deputado Fábio Feldman propôs projeto de lei tipificando


como crime a realização de festejos com morte de animais, não tendo
acabado de percorrer todos os seus trâmites regimentais.

Mas, nada disso foi capaz, até agora de deter a fúria da


multidão de sanguinários e o sadismo latente no ser humano. Atos
de vandalismo criminosos, martírios atrozes são praticados contra
animais inofensivos, tudo com o consentimento das autoridades
governantes e religiosas, que outorgam patente de cultura a esta
selvageria: a vergonha nacional por excelência, o passaporte da
interioridade moral e intelectual de um povo. O Governo de Santa
Catarina criou uma comissão de Estudos que considerou a Farra do
Boi como movimento cultural. Nem os mangueirões para a realização
do espetáculo foi suficiente para tornar a vigilância policial eficiente.

Podemos chamar de pacíficos cidadãos que, para se divertir,


assassinam boi e vacas a pontapés, pedradas e navalhadas? Podemos
chamar de pacíficos demagogos desonestos, que liberam o direito
de torturar os animais ao arrepio da lei? Um país civilizado pode
111
S.O.S Animal

continuar ignorando esses crimes e esses atentados aos direitos de


qualquer ser vivo? Podemos classificar a Farra do Boi como a neo -
incultura brasileira em toda sua glória. Festa que o governo
catarinense, que se diz democrático, qualificou de manifestação de
cultura popular catarinense.

Um autêntico conceito de cultura é unicamente aquilo que


eleva o homem acima do instinto e o leva a viver em harmonia com
a ética, rejeitando do passado tudo o que, atavicamente o mantenha
na brutalidade e grosseria.

112
EDNA CARDOZO DIAS

CAPÍTULO VII
OS ANIMAIS NAS
ESCRITURAS SAGRADAS

Ao longo da história os grandes mestres declararam o seu


amor pela vida e pela natureza. Mas, os homens e os sacerdotes
acrescentarem-lhe sua patologias, ideologias, interesses e delírios.
Os grupos religiosos foram agentes devastadores ou omissos, que é
o mesmo que cúmplices. O pensamento cartesiano, em que se fundou
a ciência é anti-ecológico e os cientistas andam dizendo que para se
defender a natureza é preciso ter curso de ecologia. E foi preciso a

113
S.O.S Animal

ecologia entrar na moda e se inventar a palavra holismo para que


esta força terráquea chamada religião se pronunciasse.

Na verdade todos os Mestres sempre pregaram o amor aos


animais.

No judaísmo, Moisés falou sobre vegetarianismo, na gênese:


- “E disse Deus: Eis que vos tenho dado toda erva que dá semente
que se acha sobre a face da Terra; e toda árvore em que há fruto de
árvore que se dê semente e vos servirá para comer e para todo animal
(gênesis I - Bereshit - 29).

Moisés condenava a prática de sacrifícios: “Que me importa


o sangue de mil touros, de mil carneiros, de milhares de cabras? diz
o Senhor. Julgai com justiça, sede misericordioso para vossos irmãos,
não calunieis a viúva, o pupilo, o estrangeiro; não pense mal o vosso
coração. A misericórdia e a justiça aprazem ao Senhor muito mais
que as vítimas” (Zacarias VII - Os VI Miq. - Prov. XXI, 3.

Jesus, o Cristo, fundador do cristianismo, tinha grande amor


pelos animais. No século passado foi encontrado no Tibet um
evangelho em aramaico - O Evangelho da Vida Perfeita - onde consta
a seguinte declaração de Jesus: “Em verdade , eu digo, aqueles que
aproveitam da injustiça infligida a uma criatura de Deus não podem
ser honrados nem tampouco tocar as coisas sagradas e aprender os
mistérios do reino dos Céus, todos aqueles cujas mãos estão
manchadas de sangue ou boca se tornou impura pela carne”.

Em 1937 foi publicado o Evangelho Essênio da Paz, pelo


discípulo João. Este evangelho encontra-se na biblioteca secreta do
Vaticano em aramaico e foi escrito por seu discípulo preferido, seu
confidente, aquele que durante a última ceia apoia a cabeça em seu
peito e recebe seus ensinamentos secretos, aquele que se encontra
ao pé da cruz no último momento. O 4° Evangelho é o único que foi
escrito por um único autor como indicam os estudos filosóficos. Um
dos principais ensinamentos do 4° Evangelho é o conceito de unidade
de tudo que tem vida, porque Jesus veio para ensinar a fraternidade

114
EDNA CARDOZO DIAS

universal. Neste Evangelho está registrado que Jesus disse: “Quem


mata, mata a si mesmo; quem come carne retirada de animais, come
o corpo da morte. Cada gota desse sangue se transforma em veneno”.

E depois disse: “ Deus deu por intermédio de Moisés, dez


mandamentos aos vossos antepassados . Esses mandamentos são
duros disseram vossos antepassados, e não puderam guardá-los.
Quando Moisés percebeu teve compaixão de seu povo e não quis
que ele perecesse. (...) Por isso quebrou Moisés as duas tábuas de
pedra em que estavam escritos os dez mandamentos e deu ao povo
dez vezes dez em lugar deles.

Jesus continuou: “ Deus ordenou aos vossos maiores: “ Não


Matarás”. Mas, eles tinham o coração endurecido e mataram. Moisés
desejou então que eles, pelo menos, não matasse homens, e permitiu-
lhes matarem animais. E o coração dos vossos maiores endureceu-se
ainda mais , e eles mataram homens e animais igualmente. Mas eu
vos digo: não mateis nem homens, nem animais, nem o alimento que
vai para a vossa boca. Pois, se comerdes comida viva, a mesma vos
vivificará, mas se matardes a vossa comida, a comida morta vos
matará também. Pois a vida vem da vida, e da morte, só vem a morte.
Tudo que mata o vosso alimento mata-vos o corpo também. E tudo
que mata o vosso corpo mata a vossa alma. E vosso corpo torna-se o
que são os vossos alimentos, como o vosso espirito se torna o que
são os vossos pensamentos.

E em outro trecho: “Para este fim vim ao mundo, para pôr


fim a todas oferendas sangrentas e ao ato de comer carne de bestas e
aves”.

Durante dezenove séculos a Igreja Católica espalhou a crença


no primado da Terra no universo e no reinado do homem.

O Concílio de Nicéia, no ano 325 obrigou a doutrina de João


ase separar da Igreja de Pedro e seu evangelho passou pelo crivo dos
corretores, que ocultaram e deformaram palavras de Jesus, como

115
S.O.S Animal

estas: “Os animais são nossos irmãos, que partilham conosco do


mesmo alento eterno”.

No islamismo, Maomé tentou insultar respeito por tudo


quanto foi criado, sejam homens, animais, plantas, pedras ou água.

O profeta sempre repetia que toda vida é sagrada e tem direito


à preservação, dando grande ênfase à recompensa depois da morte
pela gentileza com toda criação viva, e declarou: “Aquele que sente
compaixão por um pardal e poupa sua vida,

Alá será complacente com ele no dia do julgamento, mas


aquele que mata, mesmo um pardal ou um ser menor, sem razão
justificável, será responsável perante Alá (Ahmad, Al-Nasai). E
acrescentou: “Não mate uma criatura viva que Alá fez sacrossanta”
(Corão 6:152 e 17:33).

Quando o Santo Profeta migrou de Medina para Meca o povo


costumava cortar a corcova dos camelos e a cauda das ovelhas, e
comia essas partes, enquanto os animais permaneciam vivos para
usos futuros. Ele, então, ordenou que se parasse com essa bárbara
prática, e disse:

“Qualquer parte que se corte do animal enquanto estiver vivo


é carniça e é ilegal comê-la”. Ele proibiu, ainda, que se negociasse
qualquer parte de um animal antes de sua morte.

De acordo com os ensinamentos islâmicos causar sofrimentos


às criaturas de Deus, não se justifica em nenhuma circunstância.
Assim, o Santo Profeta proibiu o espancamento de animais, bem
como marcá-los com ferro. Certa vez ele viu um cavalo marcado em
sua face e disse: “Possa Alá condenar aquele que marcou o animal”.

No Bhagavad-Gita, um dos livros sagrados do hinduísmo,


encontramos o seguinte ensinamento de Krishna: “Aquele que Me
vê em todas as partes, em todas as coisas e em tudo que é manifestado
ou imanifestado, esse eu nunca abandono, e ele a Mim. Aquele que,

116
EDNA CARDOZO DIAS

estando consciente da realidade adoras a Mim, que habitem tudo e


em todos os seres, também estará em Mim, qualquer que seja sua
forma de viver (Bhagavad-Gita VI-30/1).

A unidade da vida se manifesta, por exemplo, na concepção


hindu dos avatares, que são encarnações dos deuses. Para os hindus
são encarnações de Deus: matsya ou peixe; kurma ou tartaruga;
vararha ou javali; narasimha ou homem-leão; vamana ou anão; Rama,
Krishna e Buda. A salvação não é exclusiva dos homens, os animais
também podem alcançar a salvação. E não existe favoritismo dos
deuses para com os homens. Alguns animais são associados aos
deuses como Lord Ganesha, que é associado ao elefante, a serpente
com Shiva, Durga com leão, Sarasvati com pavão, etc. A vaca é um
dos animais mais sagrados e matar uma vaca é um dos pecados
capitais. O Código Védico adverte que se alguém matar e comer a
carne de uma vaca, ele retornará e será morto quantas vezes quantos
são os pelos do corpo do animal morto.

Krishna diz que todos os seres vivos são filhos do Espírito


Supremo e que Ele está no coração de todos. “Eu sou o pai que dá a
semente”.

O membros do movimento jainista, ao qual pertencia Gandhi,


pautam sua vida na não violência, são vegetarianos e reverenciam a
natureza ao extremo. São vários os santuários do jainismo, onde
animais injuriados podem ser tratados.

No povoado de Deshnoke, no templo Karni Mata os ratos


passeiam livremente enquanto os devotos oram. Os sacerdotes do
templo e os ratos comem nas mesmas tigelas e bebem água no mesmo
lugar. Os sacerdotes dizem que “ os ratos são mensageiros dos deuses
, e que os sacerdotes do templo ao morrerem alcançarão a libertação
nascendo como ratos. Os ratos, ao morrerem renascerão como
sacerdotes.”

117
S.O.S Animal

À luz do Bhagavad-gitã ( 16.1.3) ahimsã , ou não violência,


significa não impedir a vida progressiva de qualquer de qualquer
ser. Os animais também estão progredindo em sua vida evolutiva,
transmigrando de uma categoria de vida animal para outra. O
fundamento mais amplo da idéia de ahimsã é o de que todas as
criaturas tem uma identidade entre si, como forma de uma única
realidade divina e cósmica. Neste sentido, qualquer violência
praticada contra qualquer criatura rompe a unidade.

O príncipe Sidarta Gautama, o Buda, fundador do Budismo,


também pregava o vegetarianismo, o fim do sacrifício de animais, o
amor, a benevolência e a compaixão por todas as criaturas. Eis um
pequeno trecho de um sermão, contido no Pitakas, livro sagrado do
budismo: “Quem sacrifica aos deuses os seus maus desejos e vis
paixões compreende a inutilidade de banhar de sangue animais
inocentes e aras dos altares... O homem implora a misericórdia dos
deuses e não tem misericórdia para com, os animais para os quais
ele é como um deus”. E terminou dizendo: “Feliz seria a Terra se
todos os seres estivessem unidos pelos laços da benevolência e só se
alimentassem de alimentos puros, sem derrame de sangue. Os
dourados grãos que nascem para todos dariam para alimentar e dar
fartura ao mundo”.

Ensina o TAO , filosofia chinesa fundada por Lao Tsé, que


todos os seres se fundem numa só unidade. Quando cai o véu da
ilusão o Ser nos é revelado em sua plenitude, em sua unidade com
tudo que vive. Essa unidade abole todas as diferenças e nos inspira a
não causar dano a nenhuma criatura. Só aquele que é abençoado por
esta unidade entende que é o sentimento da diferença que sujeita
nosso espírito à perturbação.

Os espíritas crêem na existência das almas dos animais. Para


eles, se a visão de almas humanas constitui uma boa demonstração
em favor da sobrevivência humana, só se pode constituir, também,
uma boa demonstração relativamente em favor da sobrevivência
animal. Em seu livro “Os animais têm alma?”, Ernesto Bozzano relata

118
EDNA CARDOZO DIAS

130 casos, extraídos de livros e revistas científicas de estudos


metafisicos e de visão post-mortem, fenômenos telepáticos e
supranormais com animais. Isto demonstra a existência de uma
subconsciência animal e serem os animais depositados das mesmas
faculdades supranormais da subconsciência humana. Para os espíritas,
como para as filosofias orientais os animais são seres em evolução,
como os demais seres da natureza, o reino mineral, o reino vegetal, o
reino animal e o reino hominal.

Os ensinamentos em defesa dos animais e da natureza são


milenares, mas o homem terá que vencer a sua cobiça, o seu egoísmo
e sede de poder para libertar sua consciência um na com a vida que
palpita em torno de todos e de tudo. Sem amor, jamais esta unidade
poderá ser percebida.

119
S.O.S Animal

120
EDNA CARDOZO DIAS

CAPÍTULO VIII
O ANIMAL E A LEI

COMO DEFENDER OS ANIMAIS EM JUÍZO

Este é o único capítulo que foi atualizado e não conserva a


redação original

Desde os tempos antigos os animais tem sido vítimas da


irresponsabilidade, da torpeza e da crueldade humanas. A omissão
daqueles que desaprovam tais barbaridades, mas preferem nada fazer,
também é grande. Mas, existem, ainda aqueles que desejam socorrer
os animais de alguma forma e trabalhar para um mundo melhor, e
não o fazem por não saberem a quem recorrer ou o que fazer. Vamos,
pois, enumerar alguns instrumentos para esta luta.

AGRESSÃO AOS ANIMAIS E OS MEIOS PARA


COMBATÊ-LA

Instrumento
Legislação A quem recorrer
jurídico
Constituição Federal

Artigo 225: Incumbe ao Poder Público:

VII - proteger a fauna e a flora,


vedadas, na forma da lei, as práticas
que coloquem em risco sua função
ecológica, provoquem a extinção de
espécies ou submetam os animais à
crueldade.

121
S.O.S Animal

Instrumento
Legislação A quem recorrer
jurídico

§ 7º Para fins do disposto na parte


final do inciso VII do § 1º deste
artigo, não se consideram cruéis as
práticas desportivas que utilizem
animais, desde que sejam
manifestações culturais, conforme
o § 1º do art. 215 desta
Constituição Federal, registradas
como bem de natureza imaterial
integrante do patrimônio cultural
brasileiro, devendo ser
regulamentadas por lei específica
que assegure o bem-estar dos
animais envolvido. (Emenda 96/19)

Legislação ordinária Regulamentação do art. 225, VII da CF

Praticar ato de abuso, maus-tratos, 1 - Ministério Público Ação Penal


ferir ou mutilar animais silvestres,
domésticos ou domesticados, nativos 2- Polícia Civil Ação de indenização
ou exóticos. por danos, movida no
Juízo Cível
Lei 9 605, de 12 de 1º: Incorre nas mesmas penas quem 3- Polícia Militar
fevereiro de 1998 realiza experiência dolorosa ou cruel
em animal vivo, ainda que para fins Ação Civil Pùblica
didáticos ou científicos, quando 4- Juizado Criminal de
art. 32, 1º e 2º existirem recursos alternativos. Pequenas Causas Òrgãos estaduais que
tiverem diretoria de
2º: A pena é aumentada de um sexto a 5 - Justiça Estadual protecão à fauna e lei
um terço, se ocorre morte do animal específica criando
infrações e penalidades.

Lei 5 197, de 3 de Caça , comércio e criadouros não 1-IBAMA 1- Ação Civil Pública
janeiro de 1967 legalizados

Dispõe das penalidades nos 2 -Polícia Florestal 2- Ação Popular


e Lei 9 605, de 12 de
fevereiro de 1998 âmbitos administrativo, civil e
penal 3-Polícia Federal 3- Ação Penal
Decreto 6514, de 21 4Procuradoria da
de setembro de 2008 República 4- Processo
administrativo
5- Justiça federal/estadual

Òrgãos ambientais
estaduais e municipais.

CONCEITO JURÍDICO DE FAUNA

A fauna doméstica é constituída de todas as espécies que


através de processos tradicionais de manejo tornaram-se domésticas,
possuindo características biológicas e comportamentais em estreita
dependência do homem.
122
EDNA CARDOZO DIAS

A fauna domesticada é constituída por animais silvestres,


nativos ou exóticos, que por circunstâncias especiais perderam seus
habitats na natureza e passaram a conviver pacificamente com o
homem, dele dependendo para sobrevivência, podendo ou não
apresentar características comportamentais dos espécimes silvestres.
Os animais domesticados perdem a adaptabilidade aos seus habitats
naturais e, no caso de serem devolvidos à natureza, deverão passar
por um processo de readaptação antes da reintrodução.

A fauna silvestre brasileira é constituída de todas as espécies


que ocorram naturalmente no território brasileiro, ou que utilizem
naturalmente esse território em alguma fase de seu ciclo biológico.

A fauna silvestre exótica é constituída de todas as espécies


que não ocorram naturalmente no território brasileiro, possuindo ou
não populações livres na natureza.

FAUNA DOMÉSTICA

Segundo o Código Civil Brasileiro os animais domésticos


são bens móveis suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção
por força alheia. Em direito recebem o nome de semoventes. São
considerados propriedade de seus donos e os abandonados estão
sujeitos à apropriação. No caso de lesão a um animal doméstico o
seu dono pode exigir indenização ou ressarcimento do dano, no Juízo
Cível, a todo aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência
ou imprudência, agredir seu animal ou lhe causar prejuízo.
È necessário que o artigo 82 do Código Civil brasileiro seja
alterado, para que os animais deixem de ser considerados coisas e
para consolidar o entendimento de que não são objeto de direito. De
forma que o reconhecimento legal de que os animais são seres
sensíveis dotados de sensibilidade, e/ou o reconhecimento expresso
na lei de que não coisas, viria, sem dúvida, dinamizar a eficácia das
leis de proteção aos animais. De outro lado isto iria incentivar e
respaldar o judiciário para aplicar as leis sob o ponto de vista dos
animais, criando novos paradigmas para interpretação no campo do

123
S.O.S Animal

Direito Civil. Assim como no âmbito do Direito Penal Ambiental se


aplicam princípios peculiares que divergem do Direito Penal clássico,
é hora do Direito Civil clássico agasalhar novos princípios em favor
dos animais. Os interesses dos animais devem ser levados em conta
na interpretação e aplicação das leis. Temos que aplicar uma justiça
além da humanidade e criar uma justiça para a biodiversidade.

Com o advento da Lei 9 605, de 12 de fevereiro de 1998, que


dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de
condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, qualquer abuso ou
maus tratos aos animais, tanto domésticos, silvestres, como exóticos
é crime punível com pena de detenção e multa. Esta mudança não só
acompanha a legislação de países mais adiantados, como adequa a
legislação ordinária à Constituição Federal, que veda as práticas que
submetem os animais à crueldade. No caso da mortandade de animais
ser causado por poluição a pena é mais severa, ou seja de reclusão.

Os maus abusos e maus tratos aos animais está tipificado no


art 32 da referida lei. Em 2019 foi proposto o PL nº 1.095/19, para
aumentar a pena do art. 32, que recebeu a sanção presidencial no dia
29 de setembro de 2020, batizada de Lei Sansão, que, por meio da
criação de uma qualificadora, aumentou a pena para o crime de maus-
tratos, quando a vítima for cão ou gato, para os patamares de 02
(dois) a 5 (cinco) anos de reclusão. A nova lei 14.064/20 veio a alterar
o art.32 da lei de crimes ambientais ( lei 9.605/98), ao acrescentar o
parágrafo 1º A. (atualizado de acordo com a Lei Sanção)

A nova Lei de Crimes ambientais abrandou as penas relativas


aos animais silvestres, talvez pela rejeição social ocorrida com as
penas estabelecidas pela Lei 7 653, de 12 de fevereiro de 1988, que
alterou a Lei 5 197/67, transformando em crimes inafiançáveis os
atentados aos animais silvestres.

Na lei 9605/98 a fauna silvestre é constituída por todos


aqueles animais pertencentes às espécies nativas, migratórias e
quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que tenham todo ou parte

124
EDNA CARDOZO DIAS

de seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do território


brasileiro, ou águas jurisdicionais brasileiras.

São crimes puníveis com pena detenção de seis meses a um


ano e multa:

A matança, perseguição, caça, apanha, utilização de


espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a
devida permissão, autorização ou licença ou em desacordo com estas.
O ato de impedir a procriação da fauna, assim como a venda, a
exposição à venda, a exportação, a guarda, a detenção em cativeiro,
a utilização e o transporte de ovos, lavras e espécimes provenientes
de criadouros não legalizados também estão sujeitos à pena de
detenção.

A guarda doméstica do animal, se este não estiver ameaçado


de extinção poderá deixar de ser penalizada pelo Juiz.

Em contrapartida, quando o crime for cometido contra espécie


rara ou ameaçada de extinção, em período proibido à caça, à noite,
com abuso de licença, em unidade de conservação, com instrumentos
que causem destruição em massa, a pena é agravada.

A caça profissional enseja o aumento da pena até o triplo.

A introdução de espécimes no país é punida, também, com a


pena de detenção, porém de três meses a um ano e multa.

A pena de reclusão ficou mantida para a exportação de peles


e couros de anfíbios e répteis em bruto ( 1 a 3 anos, e multa).

Só estão isentos de pena o abate de animal para saciar a fome,


quando ficar caracterizado o estado de necessidade; o abate para
proteger a agricultura, rebanho, lavouras e pomares, se expressamente
autorizado pelo órgão competente

Nos crimes previstos na Lei 9 605/98 a ação penal é pública


incondicionada.

125
S.O.S Animal

Nos crimes de menor potencial ofensivo ( penas de prisão


até um ano) a proposta de aplicação imediata da pena restritiva de
direitos ou multa, prevista no art. 76 da Lei 9 099, de 26 de setembro
de 1995, somente poderá ser formulada desde que tenha havido prévia
composição do dano., de que trata o artigo 74 da mesma lei, salvo
em caso de comprovada impossibilidade. Quando a pena não
ultrapassar um ano de prisão o Juízo competente é o das pequenas
causas. Aqui é preciso se atentar para o fato de que no caso de extinção
da punibilidade previsto na Lei 9 099/95, esta, nos casos de crimes
ambientais, dependerá de reparação do dano, ressalvada
impossibilidade. será feito um laudo de constatação de reparação do
dano, podendo o prazo ser prorrogado. A declaração de extinção da
punibilidade, também, dependerá do referido laudo de constatação
de reparação do dano.

Quando a pena prevista ultrapassar o período de um ano a


competência é da Justiça Estadual, quando for animal doméstico e
Se o animal for silvestre a competência é da Justiça Federal, e da
Justiça Estadual, onde não for sede da Justiça Federal

No caso do Juizado de Pequenas Causas, logo que tomar


conhecimento do fato a Polícia Civil deverá lavrar termo
circunstanciado do ocorrido e encaminhar imediatamente ao Juizado
de Pequenas Causas, com o autor do fato e a vítima, requisitando os
exames periciais necessários. A composição dos danos civis também
poderá ser homologada neste Juízo e terá eficácia de título a ser
executado no Juízo Civil competente.
A lei 14.064/20, através da inserção do parágrafo 1º A no art
.32 da lei 9.605/98, alça o crime de maus tratos e abuso a cães e
gatos a uma categoria superior, deixando de ser considerado um crime
de menor potencial ofensivo. Antes os maus tratos/ abusos com
animais (cães e gatos) gerariam o Termo Circunstanciado de
Ocorrência no âmbito do Juizado Especial Criminal ( conforme Lei
nº 9.099/95). Permite-se a partir de agora a prisão em flagrante do
agressor/abusador, sem aplicação da fiança, não cabendo mais a

126
EDNA CARDOZO DIAS

aplicação dos institutos da transação e da suspensão condicional do


processo. Trata-se de ação penal pública incondicionada.

Além disso, o Agressor ainda é proibido de deter a guarda do


animal maltratado/abusado. Cabe busca e apreensão do animal pela
polícia desde o início das investigações, além de multa e prisão
(flagrante).

Por tratar-se a crueldade contra os animais de ação pública


incondicionada qualquer cidadão poderá recorrer ao Ministério
Público , que é titular da ação penal, através de uma representação.
Pode, ainda, procurar diretamente o Juizado de Pequenas Causas (
onde houver) para apresentar representação oral, que será reduzida
a termo.(quando não se tratar de cão e gato) A materialidade do crime
pode ser comprovada por boletim médico, testemunhas, fotos ou
provas equivalentes. Releve-se que nos casos de ação pública
incondicionada a autoridade é obrigada a agir independentemente
de queixa.

FAUNA SILVESTRE BRASILEIRA

Os animais da fauna silvestre brasileira são propriedade da


União, considerados bem de uso comum do povo. Isto significa que
eles estão sob o domínio eminente da Nação, ou seja, o seu uso está
sujeito a regras administrativas impostas pelo Estado. O órgão
responsável pelos animais da fauna silvestre brasileira é o Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente - IBAMA, e órgãos estaduais e
municipais de acordo com a distribuição de competência prevista na
Lei complementar 140/2011 . A caça esportiva está proibida em todo
território nacional, a caça comercial está proibida em quaisquer
circunstâncias e a caça científica está sujeita a regras. Os criadouros
da fauna brasileira dependem de autorização do Instituto Brasileiro
de Meio Ambiente – IBAMA ou órgão estadual, que só será dada
para os comerciais, conservacionistas e científicos, mediante o
cumprimento de algumas normas. A competência para autorização e
fiscalização está repartida entre os três entes da federação depois da

127
S.O.S Animal

edição da Lei complementar 140/2011. A criação amadora está


proibida. As sociedades ornitofílicas dependem de registro no
IBAMA e o transporte de animais de Guia de Trânsito. As denúncias
sobre caça ilegal e criadouros clandestinos, e demais irregularidades,
devem ser dirigidas ao IBAMA e à Polícia Florestal. A penalidade
aplicável, no âmbito administrativo é a multa administrativa, além
das obrigações de fazer ou deixar de fazer.

As penalidades penais e administrativas, assim como os


crimes contra a fauna silvestre estão previstos na Lei 9 605/98, artigos
29 a 37 .

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

Da definição de meio ambiente e recursos ambientais da Lei


da Política Nacional do Meio Ambiente ( Lei 6 938, de 31 de agosto
de 1981) conclui-se que a fauna silvestre brasileira é meio ambiente
e, portanto está sob a tutela da Ação Civil Pública.

A Ação Civil Pública pode ser proposta pelo Ministério


Público, pelos órgãos ambientais e pelas entidades de defesa do meio
ambiente. O cidadão comum poderá se valer dela, pois, através do
Ministério Público, provocando a iniciativa deste mediante
representação.

As principais características da Ação Civil Pública são as de


que ela é uma ação que objetiva a condenação pecuniária e
cominatória, ou seja, encerra a possibilidade de determinar o
cumprimento da obrigação de fazer ou deixar de fazer. E de outro
lado ela aceita o ajuizamento de medida cautelar para, de pronto,
estancar qualquer ato reputado danoso aos objetivos da própria lei.

DA AÇÃO POPULAR

A Ação Popular pode ser proposta para se obter a invalidade


de quaisquer atos ou contratos administrativos lesivos à fauna. Deve
se dirigir à autoridade que praticou o ato.

128
EDNA CARDOZO DIAS

O cidadão capaz para propor a presente ação terá que ser


brasileiro, vale dizer, estar de pleno gozo de seus direitos cívicos e
políticos. Somente a pessoa física munida de seu título de eleitor
poderá propor a ação.

EXERCENDO A CIDADANIA AMBIENTAL

Com a crescente onda de violência e a avassaladora


devastação ambiental a questão da proteção da fauna assume uma
dimensão política e passa a fazer parte obrigatória do exercício da
cidadania. O problema tomou amplitude planetária e os direitos dos
animais tornaram-se um dever de todos os seres humanos.

( do livro “ O liberticídio dos animais, de Edna Cardozo Dias.


Livraria Minas Gerais: telefone: (031) 222 26 14).

SE VOCÊ DESEJA FAZER DENÚNCIA DE MAUS TRATOS


AOS ANIMAIS

O que fazer? Embora cada caso seja diferente, em termos


gerais, deve-se fazer o seguinte:

Se a crueldade for algo que possa ser impedido, então, impeça


imediatamente. Por exemplo: se um cavalo, cão ou gato está sendo
surrado, impeça. Mas, aja com precaução, pois uma pessoa capaz de
maltratar um animal é violenta.

Se você tiver uma câmara fotográfica, tire fotografia. Se tiver


uma máquina filmadora, filme. Se o animal for ferido ou envenenado
leve-o ao veterinário e peça um laudo médico. Os laudos da Escola
de Veterinária são documentos de fé pública, em virtude de emanarem
de um órgão oficial. Procure testemunhas para serem arroladas.

A crueldade contra animais domésticos é um crime, punível


com prisão, multa ou penas alternativas.. Por ser a pena de prisão
prevista até um ano, você pode procurar diretamente o Juizado de
Pequenas Causas. Se você quiser fazer uma denúncia por escrito
coloque o maior número de informações possíveis:

129
S.O.S Animal

Seu nome, endereço e telefone.

O nome e endereço das pessoas envolvidas.

Data, hora e lugar do delito.

Nome e endereço das testemunhas.

Placa do veículo envolvido, se for o caso .

Relatar o fato com o máximo de detalhes e o mínimo de


emoção.

O atentado aos animais silvestres é crime punível com pena


de prisão e multa, que pode ser substituída por penas alternativas.
Deve ser denunciado no Ministério Público Federal ou no Juizo
Federal. Onde não for sede do Juízo Federal no Juízo Estadual.

Ação Penal

Nos crimes de menor potencial ofensivo ( penas de prisão


até um ano) a proposta de aplicação imediata da pena restritiva de
direitos ou multa, prevista no art. 76 da Lei 9 099, de 26 de setembro
de 1995, somente poderá ser formulada desde que tenha havido prévia
composição do dano., de que trata o artigo 74 da mesma lei, salvo
em caso de comprovada impossibilidade. Quando a pena não
ultrapassar um ano de prisão o Juízo competente é o das pequenas
causas. Aqui é preciso se atentar para o fato de que no caso de extinção
da punibilidade previsto na Lei 9 099/95, esta, nos casos de crimes
ambientais, dependerá de reparação do dano, ressalvada
impossibilidade. Será feito um laudo de constatação de reparação
do dano, podendo o prazo ser prorrogado. A declaração de extinção
da punibilidade, também, dependerá do referido laudo de constatação
de reparação do dano.

Quando a pena prevista ultrapassar o período de um ano a


competência é da Justiça Estadual, quando for animal doméstico e
se o animal for silvestre a competência é da Justiça Federal, e da

130
EDNA CARDOZO DIAS

Justiça Estadual, onde não for sede da Justiça Federal

No caso do Juizado de Pequenas Causas, logo que tomar


conhecimento do fato a Polícia Civil deverá lavrar termo
circunstanciado do ocorrido e encaminhar imediatamente ao Juizado
de Pequenas Causas, com o autor do fato e a vítima, requisitando os
exames periciais necessários. A composição dos danos civis também
poderá ser homologada neste Juízo e terá eficácia de título a ser
executado no Juízo Civil competente.
Do lado direito: Como ficou o art 32 da lei 9605/98 para
crimes cometidos contra cães e gatos após a sanção da lei 14.064/20.

Causar maus-tratos* em animal Causar maus-tratos*em cães e


silvestre, domesticado ou doméstico gatos
(com exceção de cães e gatos)

Reclusão de 2 a 5 anos+ multa+


Detenção de 3 meses a 1 ano+ multa.
proibição da guarda.

C r i m e d e m e n o r p o t e n c i a l Não é crime de menor potencial


ofensivo(cabe transação penal e ofensivo(não cabe transação penal
suspensão condicional do processo). nem suspensão condicional do
processo)

Em regra, não gera a prisão do Pode gerar a prisão do condenado,


infrator sendo aplicadas medidas desde que não seja caso de
despenalizadoras. substituição da pena privativa de
liberdade por restritiva de direitos.

Se, em decorrência da conduta, Se, em decorrência da conduta,


ocorre a morte do animal, haverá ocorre a morte do animal, também
aumento de 1/6 a 1/3. haverá aumento de 1/6 a 1/3.

Permanência de animais em apartamentos

O desenfreado crescimento da população e o êxodo rural


fizeram surgir as megalópolis, os grandes edifícios e o condomínio
131
S.O.S Animal

horizontal. Isto, em muito aumentou as obrigações de vizinhança e


os litígios e discórdias entre vizinhos.

Os direitos e deveres dos condôminos dos edifícios de


apartamentos estão regulamentados no Código Civil (nos capítulos
Dos Direitos de Vizinhança) e pela Lei 4.591, de 16 de dezembro de
1964.

A presença de animais em apartamentos tem sido, de um lado,


um grande alívio para o stress e a solidão do século XX. De outro,
tem sido alvo da implicância e intolerância de pessoas egoístas e
individualistas. O exame do tema recomenda que se faça,
preliminarmente, as seguintes distinções:

1. Se a Convenção de Condomínio é omissa a respeito, ou se


proíbe apenas a permanência de animais que causem
incômodo aos demais condôminos, o direito de
permanência é líquido e certo, desde que não viole as
disposições constantes dos arts. 10, III e 19, da Lei de
Condomínio. Vejamos:
"Art. 10: É defeso a qualquer condômino:

III. destinar a unidade à utilização diversa da finalidade do


prédio, ou usá-la de forma nociva ou perigo ao sossego, à salubridade
e à segurança dos demais condôminos".

E no art. 19: "Cada condômino tem o direito de usar e fruir,


com exclusividade, de sua unidade autônoma, segundo suas
conveniências e interesses, condicionadas, umas e outros, às normas
de boa vizinhança, e poderá usar as partes e coisas comuns, de maneira
a não causar dano ou incômodo aos demais condôminos ou moradores,
nem obstáculo ou embaraço ao bom uso das mesmas por todos".

Ou seja, se a presença do animal não fere os direitos de


vizinhança, o morador possuidor de animal está exercendo o seu
legítimo direito de propriedade. Os litígios que surgirem serão
resolvidos em função da prova produzida, testemunhais e as demais

132
EDNA CARDOZO DIAS

permitidas em direito.

2. Se a convenção contém proibição expressa da permanência


de animais, embora esta tenha caráter normativo e força contratual,
neste caso, não se pode ater ao formalismo. Ao dispor de norma
genérica, forçosamente os condôminos vão se deparar com situações
que não se poderia taxar de ilícitas, como a permanência no edifício
de pequenos cães inofensivos, peixes, tartarugas, aves canoras ou
gatos, que são animais de índole contemplativa e silenciosa.
Indiscutivelmente, esses animais não perturbam "a segurança, o
sossego e a saúde" dos moradores do prédio, conforme exigência do
Código Civil, não se podendo, pois, falar em conduta ilegal.

Ao aplicar uma norma a doutrina recomenda que não se


restrinja à interpretação literal, mas que se leve em conta a sua
finalidade, que, no caso, é a de impedir que os condôminos molestem
uns aos outros. Na interpretação da norma, o que se deve levar em
conta, pois, é a inteligência que melhor atenda à tradição do Direito,
afastando-se a exegese que conduza ao vago, ao irrazoável e ao
absurdo. É preciso avaliar aquilo que sucede no meio social e
perquirir-se em cada caso, se o animal está sendo nocivo.

Já em 1975, um juiz deu ganho de causa ao proprietário do


animal. Vejamos o recurso julgado pelo tribunal:

"Condomínio - cachorro em apartamento - Proibição pela


Convenção - Cláusula interpretada com observância da Lei 4.591/64
e art. 554 do Código Civil. Embora haja na convenção condominial
cláusula proibindo animal em apartamento, tolera-se ali a permanência
de cachorro, quando desse fato não resultar prejuízo ao sossego, à
salubridade e à segurança dos condôminos (2. TA-CIVIL - I Câmara,
ap. sumaríssimo, 29200 - Santos - rel. Juiz Menezes Gomes j. 16.6.75,
v.u.)".

Também em São Paulo, o Tribunal de Justiça já proclamou:

"Não se vêem razões que possam influir, senão o regulamento,


para a retirada do animal do apartamento. Entretanto, o regulamento,

133
S.O.S Animal

por si, não deve prevalecer, quando se é certo e intuitivo que outra
foi sua finalidade, ou seja, permitir a permanência no edifício de
animais visivelmente prejudiciais ao sossego e à saúde dos
condôminos.

Dispondo de forma geral, naturalmente não estabeleceu


exceções. E, nesse caso, estariam igualmente incluídos no dispositivo
regulamentar pequenos animais, como peixes e tartarugas,
possivelmente ignorados dos condôminos, mas igualmente abrangidos
pela disposição regulamentar. A norma, seja jurídica ou regulamentar,
tem que ser interpretada inteligentemente, em consonância com a
finalidade, e não de forma arbitrária, que não condiz com o interesse
comum que procurava ressalvar (AC da 3a Câmara Civil, na Apelação
174, 731, Rel Ferraz Sampaio)".

De todo exposto, conclui-se que, ainda que a Convenção


proíba a permanência de animais em prédio, se na hipótese não há
violação do Código Civil e dos arts. 10, III e 19 da Lei de Condomínio,
o animal pode ser mantido, mesmo sob protestos do síndico.

SURGE O TERCEIRO SETOR - COMO


FUNDAR UMA ONG

1. Mobilização da sociedade civil organizada

O associativismo, de caráter político, no Brasil, começou


nos meados de 1964, sobretudo com a atuação das pastorais da Igreja.

As associações civis, com o objetivo de pressionar o Poder


Público em questões de interesse público, começaram a ser criadas
nas décadas de 70 e 80. Eram organizações sem fins lucrativos de
origem privada voltadas para a prestação de serviços de interesse
coletivo, criadas nos termos do Código Civil, sendo associações ou
fundações privadas. Ficaram conhecidas como Organizações Não
Governamentais - ONGs.

ONG é sigla de Organização Não Governamental, uma figura

134
EDNA CARDOZO DIAS

que não existe no ordenamento jurídico, mas tem reconhecimento


cultural, político e sociológico. São organizações formadas de forma
espontânea pela sociedade civil para execução de atividades cujo
cunho é de interesse público. A forma societária mais usada é a
associação civil sem fins lucrativos, estruturada por estatuto e voltada
para interesses coletivos ou difusos.

O Terceiro Setor tem um conceito mais abrangente que as


Organizações Não Governamentais - ONGs no modelo dos anos 80,
pois inclui amplo espectro de instituições voltadas para serviços na
área de saúde, bem-estar-social, educação, meio ambiente, ou para
interesses de grupos específicos da população. Pode-se dizer que o
crescimento do Terceiro Setor é um fenômeno global.

2 - Terceiro Setor

O Terceiro Setor é mais abrangente que o assistencialismo


por se tratar de um movimento politizado. O Terceiro Setor possui
estrutura formal fora do estado, não tem fins lucrativos, é constituído
por pessoas jurídicas de direito privado, cuja adesão é voluntária e
produz bens e serviços socio-ambientais. Podemos citar como
exemplos de organizações do Terceiro Setor as cooperativas, as
associações e fundações privadas.

O Terceiro Setor é formado pelas entidades da sociedade civil,


enquanto o Estado é formado pelo Primeiro Setor, e o Mercado pelo
Segundo Setor.

Tem sido expressiva a expansão do Terceiro Setor no Brasil.


De um lado pelo redescobrimento do princípio da subsidiariedade e,
de outro, pela crise do Estado como prestador de serviços públicos.
O neoliberalismo e sua política de intervenção mínima do Estado
contribuiu para fortalecer esse princípio, que na verdade, surgiu com
as encíclicas papais que pregavam que uma entidade superior não
deve realizar os interesses da coletividade inferior, quando esta puder
supri-los por si mesma de maneira eficaz. Esta teoria surgiu como
um novo modelo de Estado que pretende restringir a atuação do Poder
Público , com a devolução à sociedade civil das matérias de interesse
135
S.O.S Animal

geral que possam por elas ser realizadas de maneira satisfatória. O


Estado atua subsidiariamente para garantir os direitos sociais.

Na década de 80, estas entidades tiveram grande visibilidade,


devido à queda da ditadura e apoio da mídia, abrindo caminhos para
a participação cidadã. Atualmente, existe a possibilidade dessas
entidades fazerem parcerias com Governos, empresas e, devido à
informática e à formação de redes, a comunicação entre elas se tornou
mais ágil, mais dinâmica e, consequentemente, mais eficaz.

A parceria designa todas as formas de sociedade, que sem


formar uma nova pessoa jurídica, são organizadas entre os setores
público e privado, para a consecução de fins de interesse público.

3. Histórico do voluntariado no Brasil

Segundo a Agência de Educação para o Desenvolvimento a


evolução do voluntariado no Brasil teve como marco as seguintes
datas:

1543: Foi implantada a primeira Santa Casa de Misericórdia,


onde padres e freiras atendiam aos doentes

1910: Foi introduzido o escotismo, incentivando nos jovens


o ideal de servir.

1930: Delinearam-se as primeiras iniciativas governamentais


de cunho assistencialista.

1935: O governo de Getúlio Vargas sancionou a lei da


Declaração de Utilidade Pública que regulamenta a colaboração do
Estado com as instituições filantrópicas.

1942: Em plena ditadura do Estado Novo, Vargas criou a


Legião Brasileira de Assistência - LBA, que subsistiu até a era Collor
( 1990-1992).

1950-1960: Marco inicial da mobilização da sociedade civil,


lutando por causas específicas e arrebanhando adeptos.

136
EDNA CARDOZO DIAS

1970-1980: Associações não governamentais européias


passaram a buscar parceiros em todo Planeta para trabalhos a serem
realizados no Terceiro Mundo, o que serviu de exemplo e modelo
para todo o mundo. O feminismo e o ambientalismo ampliaram o
leque de atuação dessas entidades.

1993: Foi criado o Conselho Nacional de Segurança Alimentar


- CONSEA, que daria origem, dois anos depois, ao Programa
Comunidade Solidária. Em 1996 o Programa adotou diretrizes de
articulação entre o setor público e privado com vistas à formação de
parcerias para as políticas públicas. A ação voluntária e a cidadania
foram incentivadas.

1998- Promulgada a Lei 9.608, de 18 de fevereiro de 1998


que regulamenta o trabalho voluntário nas entidades sociais e procura
evitar ocorrência de problemas nas relações trabalhistas. A Lei
considera trabalho voluntário a atividade não remunerada, prestada
por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza, ou a
instituição privada de fins não lucrativos, que tenha objetivos cívicos,
culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência so-
cial. O trabalho voluntário não gera vínculo empregatício ou qualquer
direito trabalhista. É efetuado mediante a celebração de termo de
adesão entre a entidade pública ou privada, e o prestador do serviço
voluntário.

2001: A Organização das Nações Unidas - ONU declara o


Ano Internacional do Voluntário1, e promulga a Declaração do
Voluntariado, que:

1. Reconhece a cada homem, mulher e criança o direito de se


associar, independente de raça, religião, condição física, social ou
econômica.

Extraído e adaptado. Gestão do trabalho voluntário em organizações sem fins lucrativos.


1

De Ana Domeneghetti, São Paulo: Editora Esfera, 2000;

137
S.O.S Animal

2. Respeita a dignidade e cultura de cada ser humano;

3. Oferece seus serviços, sem remuneração, dentro do espírito


de solidariedade e esforço mútuo;

4. Detecta necessidades e estimula a atuação da comunidade


para a solução de seus próprios problemas;

5. Está aberto a crescer como pessoa através do voluntariado,


adquirindo novas habilidades e conhecimentos, desenvolvendo seu
potencial, autoconfiança, habilidades e conhecimentos,
desenvolvendo seu potencial, autoconfiança, criatividade e
capacitando outras pessoas a resolverem seus problemas;

6. Estimula responsabilidade social e promove solidariedade


familiar, comunitária e internacional.2

4. Movimento ambientalista no Brasil e no mundo

Foi a partir de 1968, que o movimento ambientalista nos


EE.UU ganhou força e várias associações surgiram pelo mundo. No
princípio era um movimento de denúncias e protestos. E por força
dessas denúncias a ONU realizou, em 1972, em Estocolmo, a primeira
conferência internacional para debater sobre o tema meio ambiente,
que resultou na Declaração de Estocolmo.
No Brasil, em 1955 Luiz Henrique Roessler, pioneiro da
consciência ecológica no país, fundou em São Leopoldo – RS a
primeira entidade ecológica para a proteção da natureza, e começou
a publicar crônicas no “ Correio do povo”. Hoje a entidade sobrevive
com o nome de União Protetora do Ambiente Natural – UPAN.
Em 1958 foi fundada a Fundação Brasileira para a
Conservação da Natureza, no Rio de Janeiro, e que teve sua ação
tolhida pelo regime militar.
Em 1967, o Centro Mineiro para Conservação da Natureza,
foi fundado em Viçosa, por Roberto da Silva Ramalho e outros

Extraído de Voluntariado. Gestão de trabalho voluntário em organizações sem fins lucrativos,


2

de Ana Maria M.S. Domeneghetti. São Paulo: Esfera, 2001

138
EDNA CARDOZO DIAS

professores da Universidade Federal de Viçosa.


Em 1971, o engenheiro José Antônio Lutzenberger fundou a
Associação Gaúcha de Proteção à Natureza – AGAPAN, que teve
grande atuação nas questões nucleares e na regulamentação do uso
de agrotóxicos.
Desde então o número de entidades ambientalistas só tende
a crescer.
As primeiras iniciativas ambientalistas e a criação de
entidades em defesa da natureza seguiram uma corrente chamada
conservacionista, composta de cientistas e cidadãos interessados em
salvar os ecossistemas para uso e gozo da humanidade.
Depois da cúpula da ONU em Estocolmo, surgiu a corrente
que podemos chamar de preservacionista, que sonhava com o mínimo
de interferência antrópica nos ecossistemas nativos.
A corrente mais moderna, os ecologistas ou ambientalistas
lutam por valores essenciais, como justiça social, não violência,
respeito à natureza, responsabilidade, solidariedade com as gerações
futuras.
Só na segunda metade da década de 80, o movimento
ecológico atingiu seu apogeu, com o processo de redemocratização
do país. O movimento ecológico participou ativamente das diretas
já e da redação da Constituição da República Federativa do Brasil.

Foi, também, no início da década de 80 que foi criada a Liga


de Prevenção da Crueldade contra o Animal - LPCA, que
revolucionou o movimento de proteção animal trazendo para o Brasil
uma nova plataforma de atuação incluindo questões como tráfico de
animais, caça, pesca, animais de consumo, animais usados para
experimentação, animais usados para diversão e lutas, além da
proteção da população de animais urbanos. Isto trouxe a proteção
animal, independente da natureza jurídica dos animais, doméstico
ou silvestre, para o âmbito do Direito Ambiental. Desde então a LPCA
teve decisiva influência na modernização da legislação de proteção
ao animal no país, tendo sido contemplada a proteção animal na
Constituição Federal e na Lei de Crimes Ambientais.

139
S.O.S Animal

Com a realização da Conferência das Nações Unidas para o


Meio Ambiente e Desenvolvimento – CNUMAD, em 1992, também
conhecida como Cúpula da Terra, o movimento ambientalista atingiu
o seu auge e as associações proliferaram.

A causa ambiental entrou na plataforma dos políticos e teve


adesão dos partidos políticos e dos diversos segmentos da sociedade.

5- Associações sem fins lucrativos no Brasil


5.1.- Associação

O Código Civil , Lei 10.406/2002, em seu artigo 44 considera


pessoas jurídicas de direito privado, as associações, as sociedades e
as fundações.

A existência legal de uma pessoa jurídica de direito privado


se inicia com o registro do ato constitutivo , no respectivo registro,
quando necessário deve haver autorização do Poder Executivo, sendo
obrigatória a averbação de todas as alterações por que passar o ato
constitutivo.

Associação é uma entidade de direito privado formada pela


reunião de pessoas que se organizem para fins não econômicos. As
fundações exigem um capital inicial para sua fundação e estão sujeitas
ao controle do Ministério Público Estadual, a quem cabe o controle
da gestão patrimonial.

As associações ou fundações serão representadas em juízo


por quem os estatutos designarem, ou se este for omisso por seus
diretores.

A criação é simples. No caso das associações os associados


devem se reunir para elaboração, bem como a aprovação dos estatutos,
cujo sumário deve ser publicado no Diário Oficial, bem como para a
eleição da diretoria. Conforme já foi dito, a ata de fundação e o
Estatuto devem ser registrados no Cartório de Pessoas Jurídicas.
Depois disso a entidade deve ser cadastrada na Secretaria da Receita

140
EDNA CARDOZO DIAS

Federal, para obtenção do CNPJ- Cadastro Nacional de Pessoas


Jurídicas.

O Estatuto é a lei orgânica ou regulamento de qualquer corpo


coletivo, ou o conjunto de regras que orientam a vida de uma
instituição. O Estatuto deve conter a denominação, os fins e a sede
da associação bem como o tempo de sua duração; os requisitos para
admissão, demissão e exclusão de associados; os direitos e deveres
dos associados; as fontes de recursos para sua manutenção; o modo
de constituição e funcionamento dos órgãos deliberativos; as
condições para alteração das disposições estatutárias e sua dissolução.

5.2- Fundação

Para criar uma fundação o seu instituidor deve fazer por


escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres,
especificando- o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a
maneira de administrá-la ( art. 62 do Código Civil). A fundação
somente poderá se constituir para fins religiosos, morais, culturais
ou de assistência. De acordo com a vontade de seu instituidor aqueles
a quem for cometido o encargo da aplicação do patrimônio deverão
redigir seu estatuto submetendo-o à aprovação do Ministério Público.
Um ou mais instituidores poderão constituir uma fundação pelas
formas estabelecidas. Velará pelas fundações o Ministério Público
do Estado onde situadas. Para que se possa alterar o Estatuto de uma
fundação é preciso o quorum de dois terços de seus dirigentes, não
contrariar ou desvirtuar o fim desta e a aprovação do Ministério
Público.

5.3- Títulos e isenções

As organizações do Terceiro Setor procuram obter títulos e


certificados pelos quais possam comprovar sua condição de entidade
reconhecida pelo poder público como útil à coletividade; torne-as
legalmente aptas a receber fomentos econômicos como subvenções
ou isenções fiscais; possam participar de fóruns ou conselhos em
órgãos públicos.

141
S.O.S Animal

A titulação das entidades no Brasil passa pela utilidade


pública ( municipal, estadual, federal) e certificação de entidade
beneficente de assistência social, concedido pelo Conselho Nacional
de Assistência Social – CNAAS.

5.3.1- Utilidade Pública

A declaração de utilidade pública – DUP foi criada no âmbito


federal pela Lei 91, de 28 de agosto de 1935, ainda em vigor, como
simples benesse do poder público em reconhecimento a certas
entidades, a princípio como título honorífico. Entretanto, normas
posteriores passaram a exigi-la para doações dedutíveis do imposto
de renda, doações da administração pública e isenção da cota patronal
da seguridade social.

O Decreto 50.517, de 2 de maio de 1961 regulamentou sua


concessão por iniciativa do Presidente da República e também por
solicitação do interessado, ficando o processo a cargo do Ministério
da Justiça. A partir da Lei 9.249/95, as doações das pessoas jurídicas
foram incentivadas. Elas também podem realizar sorteios e receber
subvenções e auxílio da União e de suas autarquias.

As entidades sem fins lucrativos deverão, ainda, apresentar,


junto ao Ministério da Fazenda, uma declaração anual de isenção.
Para que as doações sejam dedutíveis precisam obter declaração de
utilidade pública federal.

Para ser declarada de utilidade pública, a entidade precisa


ter personalidade jurídica, executar serviços de interesse coletivo e
não remunerar sua diretoria pelos mesmos. As pretendentes ao título
devem estar funcionando regularmente, o que deve ser atestado por
autoridade local e demonstrado pelo relatório das atividades sociais.
Se a utilidade pública pretendida for a federal, deve ser apresentado
o demonstrativo financeiro. As utilidades públicas estaduais e
municipais são conferidas por lei ordinária, e devem ser pleiteadas
através de um representante do legislativo. A utilidade pública federal,
conforme esclarecido acima, é requerida junto ao Ministério da

142
EDNA CARDOZO DIAS

Justiça. A utilidade pública é um dos meios de que o Poder Público


se vale para apoiar entidades privadas que prestem serviços
necessários à coletividade, geralmente por convênios.

Os convênios são acordos firmados por entidades públicas


de qualquer espécie, ou entre estas e organizações privadas, para
realização de objetivos ou interesses comuns dos partícipes.

Os efeitos e derivados da obtenção do título de utilidade


pública foram disciplinados por inúmeras leis, e possibilitam dedução
fiscal do imposto de renda, doações de pessoas jurídicas, acesso a
subvenções e auxílios da União e suas autarquias, possibilidade de
realizar sorteios quando autorizados pelo Ministério da Justiça.

5.3.2- Certificado de filantropia

O Conselho Nacional de Serviço Social, depois de 1943


passou a controlar as obras públicas e sociais privadas. O certificado
de entidade de fins filantrópicos, concedido pelo Conselho, surgiu
em 1959, com a Lei 3.577/1959.

Instituições filantrópicas ( amigas do homem) são as que se


dedicam à prestação de serviços de caráter assistencial e direto às
populações em estado de exclusão social. Na terminologia do Terceiro
Setor, filantrópicas são as entidades que têm certificado de
Beneficência de Assistência Social, e por isso recebem imunidades
tributárias previstas na Constituição Federal, especialmente das
contribuições previdenciárias.

5.3.3- Cadastro de Entidades Ambientalistas no Ministério


do Meio Ambiente

Entidades ambientalistas são as que tem como finalidade


prevista no estatuto a defesa do meio ambiente. As entidades
ambientalistas que queiram podem, também, se registrar no Cadastro
Nacional de Entidades Ambientalistas - CNEA, junto ao Conselho
Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, do Ministério do Meio
Ambiente, em Brasília. Para tal é preciso estar em funcionamento
143
S.O.S Animal

por dois ou mais anos e cumprindo suas finalidades estatutárias. A


vantagem de tal registro é poder eleger representante de sua região
geográfica ( uma ONG sediada em sua região) para compor o
CONAMA, e, assim, participar das decisões da Política Nacional do
Meio Ambiente no país.

A democracia participativa foi favorecida com a criação de


conselhos e fórums para as deliberações governamentais.

5.3.4- Qualificação como OSCIP - Organização da Sociedade


Civil de Interesse Público.

A figura das OSCIPs surgiu, pois, em 1999, pela Lei 9.790,


de 23 março de 1999, criada para qualificar as entidades que tenham
interesse público. A sua instituição se deu por iniciativa do Conselho
de Comunidade Solidária, vinculado ao Programa Comunidade
Solidária do governo federal. A comunidade solidária tem por objetivo
mobilizar esforços disponíveis no governo e na sociedade . A palavra
de ordem é somar esforços para gerar recursos humanos, técnicos e
financeiros, e seu princípio é a parceria. As ações da Comunidade
Solidária são orientadas por um Conselho Consultivo e uma
Secretaria Executiva.
O Conselho Consultivo da Comunidade Solidária, que
materializa uma parceria entre governo e sociedade, no âmbito do
Governo Federal é composto por 11 Ministros de Estado, a Secretaria-
Executiva da Comunidade Solidária e 21 personalidades da sociedade
civil, tendo como atribuições:
mobilização da sociedade

implementação de experiências inovadoras

A Secretaria-Executiva da Comunidade Solidária, vinculada


à Casa Civil da Presidência da República e que representa um espaço
de coordenação e articulação, envolvendo:
os Ministérios Setoriais;

144
EDNA CARDOZO DIAS

os Estados e Municípios; e

a Sociedade Civil

Para o desenvolvimento de seus trabalhos conta com o apoio


técnico do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA do
Ministério do Planejamento e Orçamento.

Para a consecução dos seus objetivos foi criada Interlocução


Política do Conselho da Comunidade Solidária, para promover um
diálogo entre os setores.

O documento que serviu de base para as discussões sobre a


reformulação do marco legal “Terceiro Setor” surgiu na Comunidade
Solidária, em sua sexta rodada de Interlocução Política, em 1997.

A Interlocução Política vem contribuindo para a construção


de um entendimento estratégico em torno das questões consideradas
prioritárias, e possibilitando discussões sobre ações a serem adotadas
pelo Estado e pela sociedade.

A Interlocução tem como escopo um consenso nos temas


debatidos formulando sempre uma pauta para os diálogos entre
governo e sociedade. Por parte da sociedade são envolvidos
organizações da sociedade civil, movimentos sociais, sindicatos,
intelectuais, especialistas da matéria, bem como conselheiros da
comunidade solidária.

A associação qualificada como Organização da Sociedade


Civil de Interesse Público- OSCIP , pelo Ministério da Justiça, de
acordo com a Lei 9.790/99 deverá obedecer às exigências de natureza
jurídica do Código Civil. Poderá acumular a qualificação de OSCIP
e utilidade pública, que são qualificações distintas. As principais
diferenças da OSCIP são o processo de qualificação pelo Ministério
da Justiça e maior facilidade no acesso a recursos públicos pela
celebração do Termo de Parceira para execução de projetos. A
regulamentação para celebração dos Termos de Parceria é fornecida

145
S.O.S Animal

pela própria Lei e pelo Decreto 3.100/99, que o regulamenta. As


OSCIPs podem optar por remunerar seus dirigentes.

5.3.4.1- Termo de Parceria

Para efetuar a transferência de recursos públicos para as


organizações da sociedade civil, a legislação anterior à Lei 9.790/99
adota os convênios como principal forma de operacionalização. Outra
forma são os contratos, que devem obedecer às determinações da
Lei 8.666, de 21 de junho de 1993 (Lei das Licitações). A Lei 9.790/
99 criou o Termo de Parceria, um instrumento jurídico de fomento e
gestão das relações de parceria entre as OSCIPs e o Estado.

A forma de aplicação do dinheiro do Termo de Parceria é


mais flexível que a do Convênio. A prestação de contas do Termo de
Parceira, também é mais simples do que a dos Convênios ( que devem
seguir as Instruções Normativas da Secretaria do Tesouro Nacional),
devendo ser feita diretamente ao órgão parceiro, por meio de relatório.

O Termo de Parceria é um instrumento alternativo de


relacionamento entre o poder público e a sociedade civil para o
fomento e execução de atividades de interesse público, que possibilita
introduzir mais agilidade à execução de um projeto.

A qualificação de uma entidade como OSCIP não implica na


celebração de um Termo de Parceria. A parceria é uma possibilidade
existente para aquelas entidades que possuem titulação.

A inexigibilidade de licitação é uma das grandes vantagens


da OSCIP. O Termo de Parceria não possui natureza contratual, o
que afasta a possibilidade de aplicação generalizada do procedimento
licitatório.

5.3.4.2- Irregularidades e punições

Havendo indícios fundados de malversão de bens ou recursos


de origem pública, os responsáveis pela fiscalização representarão
ao Ministério Público, e Advocacia Geral da União, para que entrem

146
EDNA CARDOZO DIAS

em Juízo visando a indisponibilidade dos bens da entidade e o


seqüestro dos bens dos seus dirigentes, bem como do agente público
ou terceiro, que possam ter enriquecido ilicitamente ou causado dano
ao patrimônio público.

É vedada às entidades qualificadas como Organizações da


Sociedade Civil de Interesse Público a participação em campanhas
de interesse político-partidário.

6. Atividades administrativa de fomento e seus instrumentos

O fomento concedido pela Administração às entidades


tituladas, sejam elas de utilidade pública, filantrópicas ou OSCIPs,
se justifica como estímulo a atividades que favoreçam o bem-estar
geral, sem expandir a máquina estatal. Nesse caso a atividade
administrativa de fomento procura satisfazer fins de interesse coletivo
por meio de atividades dos particulares, diferenciando-se do serviço
público, por ser facultativa, embora tenha que obedecer ao principio
da legalidade, e por ser executada de forma indireta.

No Brasil a atividade de fomento econômico pode se


concretizar por meio de subvenções, auxílios ou contribuições.

A subvenção social é a concedida a instituições públicas ou


privadas de caráter assistencial ou cultural, sem finalidade lucrativa.
Ela só deve ser concedida quando for mais econômico para o Estado
conceder recursos à iniciativa privada do que prestar os serviços
diretamente. A entidade privada beneficiada terá que possuir os
requisitos exigidos por lei. O cumprimento da subvenção se dá
mediante abertura de conta específica, em banco oficial.

O auxílio e as contribuições podem ser dados para custear


despesas de capital, isto é, aquelas que podem gerar serviços, riquezas,
e produzir um incremento ao Produto Nacional. A diferença entre os
dois é que o auxílio deriva diretamente da lei de orçamento ( § 6º do
art. 12 da Lei 4.320) e a contribuição deriva de lei especial. Cabe à
entidade interessada apresentar um plano de aplicação dos recursos

147
S.O.S Animal

e pleitear a concessão de auxílio ou contribuição.

9 - O que é mobilização social

Mobilizar é convocar vontades, e não pessoas. Convocar


discursos, decisões para um objetivo comum. Para se obter êxito é
necessário que a mobilização envolva um ato de paixão, que a
convocação leve as pessoas a fazerem uma escolha, que essa escolha
se transforme em uma ação que contamine seu quotidiano.
Os envolvidos devem estar conscientes de que a participação
é um ato de liberdade. E que a participação é um valor democrático
consagrado nos fundamentos da República Federativa do Brasil.

É fundamental, para o exercício da cidadania, que o tecido


social seja fortalecido por meio da criação e desenvolvimento de
ONGs. A Constituição Federal emprestou tamanha relevância à
cidadania que em seu artigo 1º , parágrafo único, declina:

“ Todo poder emana do povo , que o exerce por meio de


representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta
Constituição”.

Sem dúvida nenhuma a Assembléia Constituinte, de maneira


expressa, está dizendo que a ordem social é construída pelos cidadãos.
E se assim é, a mudança é possível. Somos responsáveis por essa
mudança. Temos que aceitar a responsabilidade pela realidade que
vivemos, ela é resultado de nossas ações e escolhas passadas. Mas
sabendo que podemos modificar nosso futuro, que podemos
transformar a realidade.

Só podemos discutir a democracia a partir de uma


cosmovisão, o homem dentro de seu meio. Esta é a forma correta de
se ver o mundo. A democracia é construída a cada dia, é nossa
responsabilidade construir nossa própria democracia. Ninguém, nem
a Constituição por si só podem nos dar a democracia, temos que
construí-la.

148
EDNA CARDOZO DIAS

Cidadão é muito mais que pessoa a física com registro civil.


Cidadão é a pessoa capaz de criar ou transformar, com outros, a
ordem social .

Para mobilizar vontades deve-se começar pela formulação


de um imaginário, tal como fizeram Moisés, Kennedy e Betinho:

Moisés: Vamos para uma terra onde jorra o leite e o mel.


Kennedy: Na próxima década vamos levar o homem a pisar
na lua.
Movimento ambientalista: Vamos salvar a Terra!

A mobilização engloba os atores sociais, que são aqueles que


vão criar um grupo e se esforçar por materializar seus objetivos.
Os produtores sociais, que são pessoas ou instituições que
tem capacidade de criar condições para que o processo de mobilização
ocorra de fato. Essas formulam um imaginário convocante.

O editor social é aquele que dá forma à mensagem,


adequando-a a cada grupo de reeditor.

O reeditor social é a pessoa que tem público próprio, como


um pároco, um professor, um cantor, um artista, etc.

O sucesso do empreendimento exige que o campo de atuação


seja bem definido, que os atores tenham informações claras sobre
seus objetivos, suas metas, a situação atual da realidade, e das
prioridades da mobilização a cada momento.

O público convocado precisa se sentir seguro quanto ao


reconhecimento, valorização, respeito à sua forma de ser e de pensar.
Ninguém está disposto a correr o risco de ser incompreendido ou
rejeitado.
Todos precisam estar confiantes na sua capacidade de
contribuir para alcançar os objetivos, para estimular novas adesões.
As pessoas precisam se sentir poderosas para fazer mudanças.

149
S.O.S Animal

A mobilização social não se faz com heroísmo. As mudanças


são constituídas no cotidiano por pessoas comuns, que se dispõem a
atuar coletivamente, visando alcançar propósitos compartilhados.

O remédio para a inércia social é trabalhar com o conceito


de cidadania, um dos fundamentos da nossa República.

A coletivização de um movimento é atingido quando se


alcança o sentimento e a certeza de que aquilo que se faz, em seu
âmbito de atuação, está sendo feito por outros, com os mesmos
propósitos e sentidos.

10- Meio ambiente e seus desafios

A inserção competitiva do Brasil em uma economia global


pode fazer da defesa ambiental uma vantagem competitiva.

A defesa desse patrimônio depende da adoção de um modelo


de convivência democrática, temos que aprender a estar no mundo,
vivendo com respeito ao próximo e à natureza. Não adianta conseguir
dinheiro destruindo nosso patrimônio ambiental, ou fazendo da
qualidade de vida privilégio de alguns. Todos tem direito ao meio
ambiente equilibrado, e de outro lado uma sociedade não será rica se
a riqueza não estiver ao alcance de todos.

10. Conclusão

Hoje sabemos que temos que preservar a natureza não apenas


para a nossa sobrevivência, mas para resgatar a beleza, a exuberância,
a perfeição e o equilíbrio dos processos naturais como valores. O
direito tem uma função primordial nesta nova ética.
As relações de estado X sociedade são profundas e temos
que inaugurar um novo Estado – O Estado de Direito Ambiental. O
direito como fator de transformação social é capaz de implementar a
mudança.
Só com a participação da coletividade é possível se alcançar
a transparência na gestão do patrimônio público e, a segurança de se
agir no interesse público, afastando de vez a corrupção e privatização
150
EDNA CARDOZO DIAS

dos bens ambientais. A forma mais de eficaz de participação é a


instituição de entidades.
A participação popular na gestão ambiental deve se dar nos
processos legislativos, administrativos e num segundo momento nos
processos judiciais, e sua voz terá mais força quando vier de uma
pessoa jurídica representativa de um grupo.
“ Se o povo liderar, os líderes seguirão”. ( provérbio chinês
de autoria desconhecida).

DIAS, Edna Cardozo. “ Como fundar uma ONG”.


www.sosanimalmg.com.br

DOMINEGHETTI, Ama Maria M. S. Voluntariado. Gestão


do trabalho voluntário em organizações sem fins lucrativos. São
Paulo: Esfera, 2001.

FERRAZI Elisabeth. OSCIP- Passo a passo. Saiba como obter


a qualificação de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público
e firmar Termo de Parceria. Brasília: Agência de Educação para o
Desenvolvimento – AED, 2003. Coleção Fazendo Acontecer, vol. 3.

FERRAZI Elisabeth. OSCIP. Saiba o que são organizações


da Sociedade Civil de Interesse Público. Brasília: Agência de
Educação Ambiental para o Desenvolvimento, 2002. Coleção Prazer
em conhecer, vol. 4.

Fundação Francisco: Desafios e perspectivas do movimento


ambientalista no Brasil. Relato do Seminário ocorrido em Brasília
entre 28 e 30 de setembro de 1995.

Governo do Estado de Minas Gerais: Fundação João Pinheiro,


da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão. OSCIP: Um novo
modelo de parceria na execução de políticas públicas em Minas gerais.
Belo Horizonte, 2004. Curso de Capacitação, material de apoio 1.

Governo Federal: Comunidade solidária. OSCIP, Organização


da Sociedade Civil de Interesse Público. Brasília, 1999.
151
S.O.S Animal

ROCHA, Silvio Luiz Ferreira da. Terceiro Setor. Coleção


Temas de Direito Administrativo, vol. 7. Malheiros Editores. São
Paulo: 2003.

Sociedade de pesquisa para a vida selvagem e educação


ambiental. Prática para o sucesso de ONGs ambientalistas. Curitiba:
1997.

WERNECK Nísia Maria Duarte e TORO José Bernardo.


Mobilização Social “ um modo de construir a democracia e a
participação”. Ministério do Meio Ambiente, Associação Brasileira
e Ensino Agrícola Superior – ABEAS, UNICEF, 1997.

Informação bibliográfica do texto:

Dias, Edna Cardozo. O terceiro setor e o Meio ambiente.


Fórum de Direito Urbano e Ambiental – FDUA, Belo Horizonte,
ano3, n. 17, p.1895~1902, setembro/outubro de 2004.

Liga de Prevenção da Crueldade contra o Animal, sua história

Desde criança sempre tive enorme preocupação com a justiça


. Lembro-me que costumava brincar de juri simulado, onde
representava o papel de advogada de defesa. Descendente de
franceses, os ideais que animaram a revolução francesa - “ igualdade,
liberdade e fraternidade”- são corolários de minha personalidade. E
foi cheia de ilusões que ingressei na faculdade de Direito para logo
verificar que as leis não fazem necessariamente a justiça. A
preocupação com os oprimidos me levou aos mais oprimidos de todos
os seres - os animais- que constituem hoje o sub-proletariado mais
explorado da terra.

Meu amor pelos animais, também, data da infância. Por um


instinto nato sempre me recusei a ingerir carne e ovos, cujo sabor e
odor me causavam repulsa. Comia-os forçada pela minha mãe, mas
ultrapassada a infância logo abandonei o hábito. Muitas vezes os
animais me seguiam nas ruas. Certa vez um cão desconhecido me
seguiu até a sala de aula, e a única forma dele deixá-la foi eu me
152
EDNA CARDOZO DIAS

retirar com o animal. Quando visitava uma casa em que houvesse


um animal, este logo vinha se aninhar no meu colo ou pedir carinho,
mesmo os mais ariscos.

De formas que o trabalho assistencial a que me dediquei


inicialmente, em outra entidade, foi uma consequência natural e
espontânea do meu modo de ser e de viver. O primeiro passo foi
levar alimento e remédios a animais abandonados em um abrigo de
Belo Horizonte. Pela primeira vez tive um contacto direto com a dor
e sofrimento jamais imaginados. Na mesma época me apercebi o
quanto o homem pode ser insensível e indiferente à sorte dos animais
e potencialmente mais perigoso e selvagem que qualquer ser da Terra.
Resolvi, então, desenvolver um trabalho educativo e contactei
diversas entidades do exterior, solicitando material de pesquisa, e
com as quais mantenho contacto até hoje. Descobri desolada, que
existiam crueldades muito maiores que aquelas com as quais eu estava
convivendo, como a vivissecção, o abate cruel de animais, a criação
intensiva, a medicina exótica com ingestão de órgãos de animais, a
malvzdeza que envolve o trafico de animais e a caça, e até festejos
com apedrejamento e linchamento de animais, na Espanha.

Foi quando decidi fundar uma entidade que trabalhasse no


sentido de reverter a atual condição do animal, de formas que ele
possa ser considerado como um indivíduo com seus direitos próprios,
conforme sua natureza biológica, seus instintos sociais e sua
sensibilidade. E, foi, pois no intuito de colaborar com os órgãos
governamentais na implementação de medidas de proteção aos
animais que fundei, em dezembro de 1983 a Liga de Prevenção da
Crueldade contra o Animal .

O seu objetivo mais importante, entretanto, é a


conscientização do público da necessidade de se proteger nossos
irmãos menores e de lhes proporcionar melhores condições de vida.
para isto a Liga edita o boletim S.O.S. Animal , periódico de
distribuição gratuita, com o objetivo de informar e conscientizar as
pessoas, que foi transformado no livro do mesmo nome. Editou, ainda,

153
S.O.S Animal

o livro O Liberticídio dos Animais, ambos de autoria de Edna


Cardozo Dias.

No plano político vem pleiteando novas medidas legislativas


em favor dos animais tendo preparado um Código de Proteção aos
Animais e vários outros projetos. O principal objetivo nesta área é
transformar em crime todos os atentados aos animais,
independentemente de serem eles silvestres, domesticados ou
exóticos. A entidade está sempre discutindo com as autoridades os
principais problemas do animal.

Mantém um departamento jurídico para receber denúncias


desde que acompanhadas de provas e de testemunhas. E, para orientar
as pessoas entidades no sentido de tomar as providências jurídicas
cabíveis no caso de violação das normas vigentes. Neste sentido
preparou um manual intitulado “ Como Defender os animais em
Juízo”, que distribuiu gratuitamente a todas as entidades protetoras
de animais do país.

As principais metas da Liga são: trabalhar para que a


vivissecção seja substituída por métodos alternativos; divulgar as
vantagens do vegetarianismo; deter a exploração desenfreada dos
animais, a destruição dos ecossistemas e o extermínio e deformação
das espécies pela manipulação genética; defender o direito de
liberdade inerente a todo ser vivo e de cada espécie; trabalhar pela
proibição do uso de animais para entretenimento, esporte e disputas.

Hoje a Liga conta com representantes em vários Estados do


País e, inclusive, uma representante na Europa. Somos, hoje, uma
rede de solidariedade e devotamento em defesa da vida e da não
violência. Acreditamos que a solidariedade, fundamentada no respeito
por todo ser vivo e na harmoniosa interdenpendência de tudo que
vive, é o único caminho para a paz. E que todo caminho para a paz
(ordem) e o progresso passam pela eco-irenologia ( oikos=
casa+ireinos=paz=logos=estudo).Um mundo digno da Consciência
humana será um mundo inspirado pela alta concepção ética da vida,
concebida a um nível de todo ecossistema. A ordem só virá de uma
154
EDNA CARDOZO DIAS

adesão profunda do ser humano aos princípios de liberdade, de justiça,


de igualdade e de solidariedade entre todos os seres vivos.

O movimento de libertação do animal vai exigir um altruísmo


maior que qualquer outro, já que o animal não pode exigir sua própria
libertação. Não importa a indiferença ou escarneo de alguns, não
importa que nem todos possam compreender nossos ideais, enquanto
existir um só animal que seja sofrendo por causa do homem estaremos
lutando.

Nota: A Liga foi extinta em 2015, mas sobreviverá para que


as suas palavras continuem a ecoar em favor dos animais, e para que
fique tudo gravado na história do Direito Animal no Brasil.

Quem é Edna Cardozo Dias

Edna Cardozo Dias é uma advogada brasileira com


especialização em Direito Público, Ambiental e Animal.
Bacharel em Direito pela PUC - Faculdade Mineira de Direito
- Belo Horizonte.
Doutora em Direito pela Faculdade de Direito da
Universidade Federal de Minas Gerais (Primeira tese no Brasil, na
área do Direito, sobre direito dos animais- 2000).
Especializada em Criminologia pela Academia de Polícia
Civil de Minas Gerais - Belo Horizonte.
Pós graduada em Direito Público pela Fundação Educacional
Monsenhor Messias, Faculdade de Direito de Sete Lagoas – MG

É autora da primeira tese de doutorado sobre direito dos


animais no Brasil, defendida junto à Faculdade de Direito da UFMG,
intitulada “A tutela jurídica dos animais” (1ª edição 2000, 2ª edição
atualizada 2018), levando ao mundo acadêmico a primeira semente
para a formação de uma teoria dos direitos dos animais.

Foi também a primeira a primeira jurista a lecionar no Brasil


a disciplina sobre Direito dos animais, junto à PUC/MG, em 2001.

155
S.O.S Animal

Foi a primeira coordenadora de Defesa dos Animais, no


município de Belo Horizonte, em 2016.

Autora dos livros ”SOS ANIMAL” (1983 - Esgotado), “O


Liberticídio dos Animais” (1997) e “Crimes Ambientais” (1998 -
Esgotado), “A tutela jurídica dos animais” (1ª edição 2000 -, 2ª edição
2018, Editora Amazon.com), e “Manual de Direito Ambiental” (2003
- Esgotado) Editora Mandamentos – BH). Direito Ambiental no
Estado Democrático de Direito, Editor Fórum (2013).

Foi conselheira seccional da OAB/MG (2013-2015 – 2016/


2018).

Presidente fundadora da Comissão dos Direitos dos Animais


da OAB/MG – (2013/2018), Presidente fundadora da Comissão de
Direito Urbanístico da OAB/MG. (2006/2013). Membro suplente do
Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, representante
das ONGs da região sudeste, por um mandato. Membro da Comissão
de Meio Ambiente da Ordem dos Advogados do Brasil, seção de
Minas Gerais (1993/1994 e 2001/2003). Membro do Conselho
Deliberativo da Associação Brasileira das Mulheres de Carreira
Jurídica em 2001. Membro da Comissão Extraordinária de Defesa e
dos Direitos dos Animais do Conselho Federal da OAB (2015 e
mandato 2019/ 2021). Presidente do Instituto Abolicionista Animal
– IAA (2016-2018)

Deu início à campanha que redundou na criminalização dos


maus tratos aos animais em 1984, o que culminou no artigo 32 da
Lei 9.605/1998. Atuou na aprovação do capítulo do meio ambiente
da Constituição Federal de 1988 e foi a representante das ONGs de
proteção aos animais na audiência pública realizada em 05/06/1988
na Câmara dos Deputados, em que foi entregue o capítulo do meio
ambiente ao Senador relator. Vem trabalhando para alterar o Código
Civil brasileiro a fim de mudar o status jurídico dos animais, para
que deixem de ser “coisas”.

156
EDNA CARDOZO DIAS

Nós somos a LPCA

Edna, Thomaz e Iracema – manifestação na Pça da Liberdade

Deise Jankovic

Eduardo Nicolai de Oliveira

157
S.O.S Animal

Geuza Leitão de Barros


Gilda Cardozo Dias

Iracema de Moura

Iracema de Moura

Sérgio
Maldonado
Jorge Askar

158
EDNA CARDOZO DIAS

Edna Cardozo Dias

Beatriz MacDowell,
que não está na foto,
foi representante na
Europa da LPCA

Renata

Rosely Acosta Bastos

159
S.O.S Animal

Ana Maria Pinheiro

Maria Rita Brandão

Edna e Maria
Irene de Melo
Neves

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EDNA CARDOZO DIAS

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