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Eu tenho uma amiga de infância, sempre fomos muito próximas, desde a escola, e como

ela morava na esquina da minha casa, todos os dias depois da escola brincávamos até
tarde na rua, e quando ela podia ia pra minha casa passar a tarde jogando. Os anos se
passaram e ela trocou de escola, perdemos um pouco do contato mas durante a
quarentena ficamos ainda mais próximas, comecei a frequentar a casa dela, conviver com a
família e até virei amiga da irmã dela, dividiamos segredos, histórias, tudo que melhores
amigas faziam, e como eu estava sempre na casa dela comecei a perceber que o padrasto
era um homem bem rígido, grosso, e tinha todas a características de uma pessoa tóxica,
depois de um tempo de convivência com essa amiga descobri que ele tinha um passado
violento, e que batia na mãe dela, bebia, tratava mal, ameaçava e tudo o que você pode
imaginar, mas que começou a frequentar a igreja e deu uma "mudada" e parou de ter
aquelas atitudes que tinha com a mãe dela.
O tempo se passou e essa minha amiga começou a se queixar que ele a tratava muito
mal e inclusive batia e se achava o superior ou até mesmo o pai dela, ele não deixava elas
usarem batom, se maquiar, usar certas roupas, ou até mesmo ir para alguns lugares, mas
como a família frequentava a igreja eu achava que aquelas atitudes eram mais pela religião
e como a mãe dela concordava não tinha muito a se fazer, até que essas queixas da minha
amiga referente a ele bater nela começaram a ficar muito frequentes, comecei a reparar na
forma que ele a tratava e cada vez mais ficava indignada com toda aquela situação, até que
ela me disse que ele chegava bravo do trabalho e sempre arrumava alguma desculpa pra
poder bater nela e era bem no período em que a mãe dela não estava em casa, ela me deu
detalhes de um dos ocorridos e falou que ele tinha encurralado ela na parede, e com o cabo
de vassoura a enforcou, ela chorava muito me contando, eu disse pra ela contar tudo o que
acontecia para mãe, porém ela morria de medo da mãe dela só conversar com ele e depois
as agressões ficarem piores e mais escondidas, e como a mãe dela era muito submissa a
ele, ficava aquele medo dela não acreditar ou tolerar essa situação, mas no mesmo dia ela
conversou com a mãe que falou com padrasto e ele disse que não faria mais nada e que só
estava a "educando", ficamos muito irritadas, mas ela não tinha muito o que fazer a não ser
torcer pra que ele não continuasse com as agressões. Então eu cheguei em casa e decidi
que iria fazer alguma coisa, mas o que aconteceria se eu denunciasse o padrasto da minha
própria amiga? Eu gostava muito da mãe dela, da irmã, de toda família em si, menos dele,
mas e se a mãe dela perdesse a guarda da filha? E se não desse em nada? E se
soubessem o que eu fiz e me afastassem dela? E se ela não tivesse coragem de falar toda
a verdade depois? Se eu conversasse com ela pra denunciar ela me impediria na hora, mas
eu não iria ver todas essa situação acontecer com a pessoa que eu mais amo sem fazer
nada! Então contei tudo o que estava acontecendo pra minha irmã mais velha que
denunciou na hora, e advinha quem atendeu o telefone? A vizinha da minha amiga que
morava do lado e desconfiava que algo estava acontecendo porém não podia denunciar,
porque daria conflito de interesses por ela trabalhar com isso e ser conhecida da família, e
lógico que minha amiga não era tão próximo dela pra contar o que acontecia ou buscar
ajuda, então nós contamos tudo o que acontecia na casa e a mulher disse que desconfiava
de algo e falou o que eu expliquei anteriormente.
Uns dias se passaram e essa minha amiga disse que o concelho tutelar veio na casa dela
e que ela teria que ir regularmente ao psicólogo e ser acompanhada pra ver se não estava
acontecendo algo, eu me fiz de chocada e ela estava muito abalada mas feliz por isso ter
acontecido, afinal de contas as agressões teriam que parar ou a psicóloga descobriria tudo
e ele iria ser preso, a mãe dela e o padrasto desconfiavam da vizinha que como já disse
trabalhava com o concelho tutelar ou da minha amiga mesmo, a pressão foi grande mas em
nenhum momento sabiam que tinha sido eu, inclusive nem minha própria amiga sabia, eu
me fazia de sonsa e indignada.Ele parou de bater nela porém ainda falava muita coisa ruim
e a tratava bem mal, mas ela aturava, já que a mãe seguia firme na igreja e por suas
crenças não separava dele.
O tempo se passou e tudo voltou, ele agora batia nela e na irmã e ameaçava a duas caso
contassem pra alguém e eu não fazia idéia de tudo que estava acontecendo, fiquei umas
semanas sem ir na casa dela porque tinha muitas provas na escola e quando resolvi ir a
polícia e o concelho tutelar levaram elas, eu levei um susto pois achei que o pior tinha
acontecido mas era só mais uma denuncia de alguém e como já tinha o histórico da minha,
a situação foi mais tensa, um dia se passou e eu estava preocupadíssima mas como ela
não tinha celular (inclusive por causa dele) eu não conseguia saber o que aconteceu antes
dela voltar pra casa, depois conseguimos conversar e ela me disse quebas agressões
tinham voltado e bem pior, e ele havia dado um soco no rosto dela que ficou marcado e a
vizinha do outro lado (que não era a do concelho tutelar) viu e conseguiu a confiança dela
pra confessar que foi ele que tinha feito isso, então ela denunciou e tudo isso aconteceu,
inclusive ele teve que sair imediatamente da casa e elas pegaram medida protetiva porém
teve mais uma notícia que foi um choque total...Ela me chamou no quarto e disse que ele
havia abusado sexualmente dela, ninguém sabia disso, nem mesmo a mãe, mas quando
ela foi levada pra dar depoimento sobre o soco que ele tinha dado chegou no limite e teve
forças pra contar tudo, ele ameaçava ele caso contasse sobre algo então ela segurou tudo
e guardou pra si, apesar da situação ter sido muito difícil ela disse que eu sempre estive do
lado dela e a ajudei nos piores momentos, sem nem mesmo saber, choramos juntas, graças
a aquela primeira denuncia e a segunda, minha amiga conseguiu se livrar daquele monstro,
que infelizmente continua solto e foi preso só por alguns dias, já que segundo a lei ele não
foi preso em flagrante, e pelo histórico doentio e violento dele minha amiga e a família dela
tiveram que ir morar em outra cidade já que ele estava ameaçando elas, infelizmente não
consegui me despedir dela, sinto muita falta mas sei que agora ela está segura e que amar
também significa deixar ir, deixo aqui minha história, o dilema era se denunciava ou não?
Mas eu agradeço muito por ter denunciado, ela poderia estar até hoje sofrendo calafa nas
mãos dele.
Se alguém passa ou já passou por algo parecido, DENUNCIE!

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