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— Eu quis assim.
— E?
— Não tô afim.
— Pai?
— Sim...
— Por que diz isso? Por que diz que sua mãe gosta
mais de você? — Ninguém tem dúvidas disso, é notório,
mas não é possível que a louca teve a pachorra de dizer
exatamente isso para as crianças. Ele ergueu os ombros.
— Pode deixar.
— Tchau, Leila.
— Estranho como?
— Depois falo, tenho que trabalhar. — Mal terminou
de falar e saiu correndo para a recepção, olhei e vi que
era Marília, nossa chefe, que estava chegando, essa era
um belo mau exemplo, vivia infeliz no casamento.
— Oi, Maia.
— Valeu... tchau.
— Papai!
— Tchau, princesa.
— E a festa?
— Tchau, filhão...
— Trabalhar.
— Tudo?!
— Por que você não fica aí? Ainda tem tanta coisa
para fazer... — Olhei para Samuel pensativo. Sim, poderia
mesmo ficar, o que vou fazer na empresa segunda-feira
posso muito bem fazer daqui, mas preciso ir ver meus
filhos, pegar Celina na casa dos meus pais.
— Terça ou quarta-feira.
— Quem é?
— E fica aberto?
— Em que sentido?
— Por que?
— Duvido.
— Não. Mas não fala nada para ela, tá? Vou mandar
uma mensagem depois explicando.
— Segredo...
— Tá bom, pai.
— Sem essa...
— Aonde?
— Ali em cima, — olhou para os camarotes. —
Estava lá com o pessoal quando te vi aqui. É rápido, a
hora que quiser voltar te trago. Olhei para o idiota do
Charles no outro lado conversando. Dei a mão para José:
— Maia... não. Não liga pra ele, diz que não precisa
vir, que não vai. De forma alguma vou te deixar fugir de
mim hoje.
— José?
— De quem?
— Maia, por favor, não digo que foi você que falou.
— Vinte. E você?
— Trinta e cinco.
— Mas?
— Não, você viu que ele veio atrás de nós até aqui
na cidade? — Virei rápido para ela.
— Não, não vi. Ai... Ju, ele é tão, ai... tão, tão tudo!
Por que tinha que morar tão longe?
— Então, para.
— E o professor do estúdio?
— Já era.
— Você é surpreendente.
— Alô...
— Uns dez.
— Preciso ir ao banheiro.
— Quem viu?
— Tudo bem?
— Tudo bem?
— Oi, José.
— Não, não...
Hush, now
(Silêncio, agora)
I can't believe
— Ótima ideia.
— Três.
— E só piora ou o outro é melhorzinho?
— Verdade.
— Com você.
— E seus filhos?
— Como? Aqui?
— Alô.
— José?
— Da Jussara.
— Vá se foder.
— Cara...
— Fala, porra!
— Não, obrigada.
— Tudo bem?
— Hammmm!!!
— Relaxa, meu amor, vai doer só um pouquinho, e
só desta vez.
— Ai!
— Machucou, Maia?
— Obrigada. Beijo.
— Oi...
— Ah, é?
— Há! José...
— Ah é, depende?
— Ótima ideia!
— Oi, filhão!
Possível.
Maia 02h14
José 02h15
José 02h21
— Você é louca!
— INFERNO!
— O quanto antes...
— É o mesmo número?
— Posso.
— Tchau.
— Ele ainda está lá. Porque não vai até ele e desfaz
essa merda? Porque pelo choro, não é exatamente o que
quer fazer.
— Ótimo, não sei por que ele foi lá, eu disse que
não queria mais nada com ele.
— Ela te daria?
— Ainda dá tempo?
— Nem eu.
— Pai!
— Alô.
— Vocês se divorciaram?
— Hammmm!!!
— Valeu pai.
— Fala.
— Eu não vou.
— Por que então não foi para casa me ver, ver a sua
esposa? — Foi mal-educado. Fiquei olhando sério para
ele.
— Fala.
— Pai?
— Oi, filho, estava distraído, vamos ou a Elaine quer
falar comigo?
— Também estou...
— É a Carla...
— Não quero saber!
— Caralho!
— Fala.
— Já entendi, José.
— Ótimo.
Entre idas e vindas de José para São Paulo, meu
ciúme, nossas tardes maravilhosas e nossos mundos
totalmente diferentes, completamos três meses de
namoro.
— Hamm...José! Hummmm!
— Oi, José.
— Eu também te amo.
— Agora.
— De quem? — Ri.
— Tchau, Juliana.
— Tudo bem.
— Agora preciso ir.
— Isso mesmo.
— Combinado.
— Quer leitinho?
— Verdade!
— São sim.
— Posso ler?
— Não, Lize!
— Me solta!
— Porra!
— Seu pai ficou bravo por que você dormiu fora? Ele
ficou sabendo da briga? — Tive a impressão que Lize
perguntou para mudar de assunto. Ou minhas
desconfianças estavam me fazendo imaginar coisas.
— Ele não ficou bravo exatamente, porque
teoricamente, eu tinha um motivo. Ele confia em mim. —
Esperei que ela entendesse e não dissesse nada na frente
das minhas cunhadas. — Ele acha que o casal, mesmo
com uma vida sexual ativa, se querem dormir juntos,
devem se casar. Eu também acho. Meus irmãos não
podiam trazer as namoradas para dormirem aqui, meu pai
os fez respeitarem as filhas dos outros. Ele quer que José
respeite essas coisas. E sim, meu pai está sabendo da
briga.
— É verdade.
— Nunca vivi.
— Fica aí.
— Maia?!
— Tudo — respondi.
— Desculpa, mãe?
— Não, minha mãe que falou, foi ela que viu que eu
não estava no quarto e o obrigou a ir me chamar, Juliana
falou que o Danilo ficou furioso, disse que não era empata
foda. — José me olhou rindo. — O que foi?
— Ghammmm!!!
— Muito.
— Maia, me ouve...
— Me responde! — gritou.
— Assim que ficamos juntos, Maia...
— Sim.
— Vamos almoçar?
— Não.
— Senta aqui.
— Maia...
— José, me escuta, tá bom? Vou tentar falar apenas
uma vez, se não me ouvir, não falo mais.
— Pai...
— Agora, Thomas!
— Estão no quarto.
— Oi...
Celina não respondeu, peguei-a no colo e falei:
— Não.
— Eu quero.
— Eu ia te contar, mas...
— Conta agora.
— E a minha mãe?
— Muitos. Mas...
— Tem, pai?
As duas confabulavam como se estivessem
arquitetando um plano. E eu soube naquele momento o
que realmente era felicidade. Nunca senti o que estou
sentindo agora, meu peito parece não caber no peito.
— Claro... — sussurrei.
— Absoluta.
Suspirei fundo.
— E me liguem.
— Aaaiiiiiiii! Aahahahah...
— Para o banho! Vamos ficar lindas e cheirosas.
Primeiro você.
— Eba!
— Oi, José.
— Também te amamos.
— Também, te amo.
— Sim, senhora.
— Alô!
— Vinte.
— Eu tenho seis.
— Que eu vá embora?
— Meu Deus, vocês são muito ricos, não sei ser rica
assim.
— Eu gosto muitão!!!
— Oi, Betina!
— Bem. — respondi.
— Eu posso escolher?
— Sim, muito.
— É, pode ser.
Carla olhou para mim nitidamente preocupada, e
mudou de assunto. Celina vinha toda hora pedir alguma
coisa para Maia.
— Tudo bem?
— Mai!? Maia!?...
— Entra.
— Oi.
— Cara, você era tão infeliz, era tão triste olhar para
meu irmãozinho e não ver nenhuma alegria, nem
perspectiva de ser feliz. Não gostava de vim para cá,
pergunta para Be... Era doído ver o seu sofrimento, e você
agir como se tudo aqui fosse normal. A última vez que te
vi assim, rindo e feliz igual bobo, foi quando comeu aquela
debutante, filha da amiga da mamãe, no meio da festa no
quarto dos pais dela. Lembra?
— E vocês, meninos?
— Eu, quase no mesmo horário que a Bela. —
Gabriel falou. — O Matteo, a tia Maia pediu para eu
chamar, enquanto ela ia chamar o Thomas.
— Então é verdade?
Leila 15h30
Até quando vai fugir das suas responsabilidades? O
que você está fazendo comigo e com os
— Hum.
— Alô!
— José?! Não...
— Claro, filho.
— Mas...
— Tem imagens?
— Alô.
— É o José?
— Oi, Jussara!
— Oi?
— Oi...
— Tá, eu fico.
— Eu te amo!
— Confio no senhor.
— José...
— Obrigada!
— Fala.
— Oi...
— E Celina, José?
— Te amo.
— Dinheiro.
— Quero.
— Oi.
— De nada. — Rimos.
— Graças a Deus!
— PORRA!
— Caralho!
Senti suas mãos feito garras na minha cintura,
pulsando todo enterrado dentro de mim. Seus braços me
envolveram, colando nossos corpos.
— Mas...
— Mas porque ele está vindo para cá, ele sabe que
estou aqui?
— Samuel, realmente...
— Fala.
— Com um vidro.
— Vou mesmo.
— Não.
— Prometo.
— Pegou como?
— A própria.
— E o Samuel?
— Ah, PORRA!
— Com a Marília.
— Quero. Preciso.
— Eu a amava.
— Sim, mas não é por isso que meu amor pela Isa
acabou, na realidade é o oposto.
— Desde ante-ontem.
— Na verdade...
— Eu não sou!
— Sim.
— Você me odeia.
— Sobre o quê?
— Em particular, José.
— HAAAAAAAAAAAAAAAAAAA! DESGRAÇADA!
HAAAAAAAAAAAA... POR QUE, PORRA? PRA
QUEEEEEEE?!
— Filho!
— Oi, pai.
— Eu também, quero.
— Eu te dou um.
— Ah! José...
— Me perdoe?
— Eu.
— Então, perdoo.
— Ensinar o quê?
— Bila.
— Tá.
— Cadê a Celina?
— Eu te amo.
— Eu te amo, mais.
— PORRA!
— Ahaaaa!
— Vou direto para Careaçu, José. Não precisamos
passar em casa para nada, já que Thomas não vai com a
gente. — Maia estava ansiosa.
— Tem certeza?
— Hum?!
— PAHHHH! PAHHHHH!
— Hanrã...
— Nã.não... quem?
— Claro.
— Não, ela não é, sua mãe sou eu, e não vou deixar
você sair de perto de mim. Mas agora você precisa parar
de chorar, olha o tanto de gente que está te olhando. E a
partir de agora não me chame mais de Mai, só de mãe.
Tudo bem?
— Obrigada.
— Mai?! — Celina saiu do escorrega e correu para
mim.
— Sim senhora.
Fiquei olhando o tempo todo para ver a hora em que
ela sumiria de vista, e assim que aconteceu peguei Celina,
destravei um carrinho que os morados circulavam dentro
do condômino e fui até a portaria. Do lado de fora havia
um ponto de táxi. Entrei em um com Celina, que não
estava entendendo nada.
— Tá bom, mãe
— Se separaram?
— Estou tentando.
— Filho, me perdoa?
— Na escada.
— Quero falar com ela, sei que está com seu celular,
liga para ela, liga para Maia.
— Calma.
— Visita.
— Senhor...
— O que temos?
— José? Vamos.
— Mãe...
— Te amo tanto.
— Hummm?
— Mentira?
— Não, não é.
— Você registra?
— Quando eu começo?
— Como assim?
— Aí o próximo chamará.
— Já, obrigada.
— Entendemos.
— Estou grávida.
A sensação de estar no caminho certo é
indescritível. Olho para minha esposa e agradeço a Deus
por ter me dado a chance de refazer a minha vida a
tempo, e por hoje estar onde sempre quis e achei que
estaria.
— Quatrocentos mil.
— O que foi?
— Já está pronta?
— Porra!
— Não!
— Não...
— José, sei que não foi fácil, mas estou feliz, tão
grata por termos conseguido mesmo, contra tudo e todos,
chegarmos até aqui.
Fim
Agradeço a Deus, sempre! Por não me deixar
desistir nunca, me mostrando o lado bom de cada
dificuldade e que mesmo com todas as atribulações faz
tudo ter sentido.
Obrigada!
Van Coimbra