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Copyright © 2021 Van Coimbra

Capa: Ana Carolina Coimbra e Grazi Fontes


Revisão: Andréia Idalgo
Diagramação: Grazi Fontes

Esta obra foi revisada segundo o Novo Acordo Ortográfico


da Língua Portuguesa.
É proibida a reprodução total e parcial desta obra, de
qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico, mecânico,
inclusive por meio de processos xerográficos, incluindo o
uso da internet, sem permissão expressa da autora (Lei
9.610 de 19/02/1998).
Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com a
realidade é mera coincidência. Nenhum dos fatos narrados
e personagens citados são reais.

Todos os direitos desta edição reservados à autora


Vanessa Coimbra
SUMÁRIO
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Epílogo
Agradecimentos
Aquele dia saí mais tarde do que de costume do
escritório, quando cheguei em casa dei de cara com
Thomas na sala, nitidamente disfarçando que estava
chegando da rua; estava muito preocupado com meu filho,
a mãe diz que é a adolescência, o que também achei há
alguns meses, não acho mais.

— Oi, filhão, tudo bem?

— Oi, pai. Tudo. Boa noite.


— Filho? — Ele parou no meio da escada e me olhou
desgostoso. — Está chegando agora?

— Sim, boa noite, pai, estou com sono. — Virou as


costas e subiu.

Pensei em questioná-lo, puxar assunto, tentar


conversar um pouco... mas desisti. Acabei subindo
também, precisava tomar um banho e dormir.

Minha esposa dormia tranquilamente no quarto.


Parei por um breve instante olhando para mulher atraente.

Arrependimento não é a palavra certa. Há quinze


anos procuro essa palavra para descrever meu casamento,
e cheguei a conclusão de que ela não existe. Nesses
quinze anos, a sensação que tenho é que a cada dia as
coisas ficavam menos suportáveis.

Fui para o chuveiro e tomei uma ducha demorada,


Leila acordou assim que me deitei. Além de sermos
casados e criar nossos filhos debaixo do mesmo teto, a
única coisa que sempre existiu entre a gente foi uma vida
sexual ativa.

Ela olhou no relógio, fez uma cara feia e antes que


reclamasse puxei seu corpo quente colando ao meu e me
pus sobre ela. Nossos únicos momentos de intimidade
eram quando estávamos transando e quase os únicos em
que Leila não estava reclamando.
Acordei cedo como sempre, quando Leila desceu
pouco antes das crianças, perguntei sério:

— Onde Thomas estava ontem tão tarde? — Ela,


com certeza, não sabia, pela forma que me olhou.

— Até onde sei trancado no quarto, como sempre.

— Ele chegou junto comigo, mas não por isso, você


não sabia que ele não estava em casa. Ele também não
tem mais amigos ou, pelo menos, não os que tinha antes.
Por onde ele anda e com quem?

— Vou perguntar para ele, mas deve ser alguma


menininha aqui do condomínio mesmo...

— Sem essa de menininha, em que mundo você


vive? Não existe “deve”, precisamos cuidar e saber
exatamente o que nossos filhos fazem e com quem. Olha
aqui, chega de colocar uma barreira no meu
relacionamento com Thomas, ele está crescendo, você
não pode continuar tratando meu filho como um menino de
dois anos.

— Não coloco barreira entre vocês, você só precisa


entender que Thomas é um garoto sensível, ele é caseiro,
não dá para você arrastá-lo pelos lugares que frequenta.

— Ele pode ficar passeando no shopping com você,


ir tomar chá com senhoras ricas e entediadas, ou se
trancar no quarto por horas seguidas sem que saibamos
com quem ele se relaciona. Mas não pode ir pescar, nem ir
para fazenda, nem ir para meu escritório?

— E o que é que tem? Para de ser machista!

— Não teria nada se meu filho estivesse feliz com


isso. E, sou machista. E sorte sua por isso!

Leila sempre tentou manter Thomas afastado, dizem


que a mãe tem mais apego, mas o ciúme que ela tem dele
comigo já passou do ponto há muito tempo. Sempre
precisei de muita paciência para ter o mínimo de
momentos com meu filho. O que não acontecia com
Celina, minha filha, muito pelo contrário. E foi só pensar
na minha princesa, que ela apareceu:

— Bom dia, papai!

— Bom dia, princesa linda! — Sentou-se ao meu


lado na mesa.

— Bom dia, mãe.

— Celina, olha essa postura, e por que Miriam não


penteou esse cabelo direito?

— Eu quis assim.

— Está linda, meu amor. — Olhei bem sério para


Leila que estava a cada dia passando mais dos limites
com Celina.

— Vou mandar fazer uma progressiva no seu cabelo


cheio de frizz.

Não tinha a menor ideia do que aquilo significava, o


cabelo da Celina é lindo, muito lindo, mas como ela nunca
dava a menor atenção para a menina, resolvi não me
intrometer. Olhei no relógio e me levantei da mesa para ir
chamar o Thomas. Gritei da escada, já estávamos ficando
em cima da hora.

Deixei os dois na escola e fui para o escritório. Dei


de cara com Carla no estacionamento do Dantas
Dellatorres.

— Bom dia, gostosa!

— Bom dia, meu amor!

— Vamos fazer de conta que você veio me ver e não


aquele putanheiro do meu chefe?

— Vim ver os dois, podemos começar com você, se


você conseguir que Thierry prepare aquele café da manhã
dos deuses.

— Pra você, qualquer coisa.

Tomamos um café digno de realeza preparado por


Thierry no terraço.
— Como Thomas está? O convidei para almoçar nos
últimos cinquenta fins de semana. — Olhei atento para
ela.

— E?

— E, nada. Às vezes ele inventa uma desculpa,


outras ele simplesmente diz que não dá. Realmente vim
aqui hoje para ver você e Otávio, mas torci para que você
tivesse tempo e humor para que eu pudesse tocar neste
assunto.

— Sabe que sempre tenho tempo para assuntos


relacionados aos meus filhos.

— Sim, eu sei, me perdoe. Realmente sei que você é


um pai presente, só que todas as vezes que falamos sobre
Thomas acabamos em minha falta de comunicação com
Leila. E isso é chato.

— Mas a culpa não é sua, não sou cego, você foi


maltratada anos a fio por ela e esteve ali por Thomas. E
foi ótimo você vir hoje, acho que é coisa de madrinha
mesmo, estou muito preocupado com ele. Leila o manipula
e o ciúme dela com ele parece aumentar. Quando ele era
menor e não entendia as coisas, era mais fácil. Conseguia
persuadi-lo. Mas agora, ele parece que não quer traí-la ou
magoá-la, ela está sempre se colocando no lugar de
coitada e está cada dia mais difícil ele aceitar sair comigo,
vive trancado, não sai da internet, os amigos que tinha
não os vejo mais, ontem cheguei em casa, já havia
passado da meia noite, ele estava chegando também, não
quis dizer onde estava, ela nem sabia que ele não estava
em casa. Ela está conseguindo o que sempre quis, que ele
se afaste de mim, mas o que ela não percebe é que ele
está se afastando de todo mundo.

— José, isso é muito grave, a internet hoje é uma


arma letal. Ele está com uma idade crucial, essa transição
é muito difícil. Você precisa se impor, não dê opção, se
faça presente!

— Vou comprar uma guerra com ela, não tenho


problema com isso, meu medo é Thomas tomar partido e
se afastar ainda mais, sabe que ela não tem problemas
nenhum em usar as crianças em nossas desavenças, ela
não os poupa de nada.

— Quando Celina nasceu achei que ela fosse ser


pior com ela do que com Thomas por ser menina. Nem
acredito que até hoje faz o que faz por conta dele, e com
ela não.

— Sabe que sou apaixonado por aquela coisinha


maravilhosa? Nunca consegui entender, desde que Celina
nasceu tomei conta, trocava, cuidava, escolhia as roupas,
passeava com ela, coisa que para fazer com Thomas
chegou ao ponto de quase ter que agredi-la.
— E eu não sei?! Tudo muito louco. Mas José,
amanhã é sábado, coloca Thomas na parede, diz que já
marcou comigo no Jockey Club para um almoço, venha
mais cedo, vocês terão tempo para conversarem e quando
eu chegar terei uma conversa bem séria com ele. Por mais
que a vida toda ela tentou envenená-lo contra mim, ele
sempre me amou e me respeitou. Precisamos entender o
que está passando na cabecinha do meu menino.

Depois que Carla saiu, me atolei em trabalho, os


problemas estavam me sufocando e eu com trabalho
atrasado, precisava me concentrar no que existe soluções
concretas.

Marquei de começarmos os tramites na fábrica de


materiais esportivos no Sul de Minas Gerais, não tinha
mais como prolongar minha ida até lá.

Já era tarde da noite quando encerrei o dia de


expediente.

Acordei cedo no dia seguinte, Leila dormia ao meu


lado, era uma mulher linda, atraente e sexy, tínhamos uma
vida de merda, nunca nos entendemos, nunca nos
amamos, nem mesmo fomos apaixonados, mas tesão eu
tinha de sobra e ela era extremamente receptiva, passei a
mão em seu corpo quente e imediatamente ela se aninhou
a mim, ficamos na cama por mais de uma hora transando.
Depois que gozou virou para o outro lado e dormiu como
sempre, o que para mim era um alívio.

Tomei um banho demorado e fui direto para o quarto


do Thomas, forcei a maçaneta para entrar e acordá-lo,
mas a porta estava trancada. Bati com força.

— Thomas! Abra a porta! Thomas? — Leila saiu do


quarto vestindo sua camisola.

— O que você quer com ele?

Olhei com raiva para ela e voltei a esmurrar a porta


do quarto. — Thomas abra essa porra. Thomas?!

— José, para que está fazendo isso, deixa o menino


em paz!

— Você é louca, some da minha frente, Leila.


AGORA! Thomas! — Fiquei louco de raiva e dois segundos
depois, de preocupação.

— Filho! Abre essa porta, pelo amor de Deus! —


Peguei o celular e liguei para o seu número. Não ouvi
tocar, mas graças a Deus, ele atendeu.

— Oiii... — resmungou sonolento.

— Abre a porta do seu quarto.

— Hã? Pra quê?


— Agora. — Um minuto depois ele destrancou a
porta e se arrastou de volta para a cama. O fone de ouvido
na orelha e o celular ao lado do travesseiro.

— Você é surdo? Não quero essa porra trancada.


Levanta, vamos sair.

— Não tô afim.

— Não perguntei, levanta, toma um banho, agora,


Thomas. — Pelo meu tom de voz ele percebeu que estava
irado.

— Deixa o menino dormir, ele está com sono. Não


quero que ... — andei com ódio em direção a Leila.

— Te espero lá embaixo, Thomas. — Fechei a porta


segurei firme o braço da ordinária e a levei para o quarto.
— Qual é o seu problema? — Tentei não me descontrolar,
mesmo porque, minha preocupação era maior do que
qualquer coisa. — Você não percebe o que está
acontecendo? Você não vê que nosso filho está se
perdendo?

— Ele só estava com o fone, ele dorme ouvindo


músicas.

— Não sei se você é louca ou se faz, ele está


drogado, usou maconha, e sei lá mais o que. A única
pessoa com quem você "diz" se importar está berrando por
ajuda, você não consegue ver isso? Leila, não tente me
impedir de cuidar do meu filho, você vai conhecer o pior
de mim. — A ameacei com tanto ódio, que Leila deu um
passo para trás abraçando o corpo.

Desci para a cozinha e pedi para dona Zefa preparar


um café reforçado. Enquanto esperava Thomas descer,
liguei para o meu pai, não comentei o que estava
acontecendo, mas marquei com ele no fim do dia. Quase
uma hora depois ele desceu e devorou quase o café todo
em minutos.

— Para onde vamos?

Não respondi, olhava sério para ele tentando de


alguma forma buscar sabedoria para lidar com aquela
situação. Ele também não insistiu. Quando se deu por
satisfeito fomos em silêncio para o carro.

Ele estava desanimado, não queria fazer nada.

— Por que estou aqui?

— Minha companhia é tão ruim? É um sacrifício tão


grande me dar algumas horas do seu dia? Porque se for
assim tudo bem, não sou homem para ficar mendigando
atenção, amor de ninguém, nem de filho.

— Nada a ver. Só quero saber se tem alguma coisa


importante ou se podemos só não fazer nada?
— Sua madrinha vai vir almoçar conosco.

— Hã... sabe que a mãe odeia ela, né?!

— Ela não vai almoçar com a sua mãe, e sim com o


afilhado, que até onde sei não a odeia. Odeia?

— Não, claro que não.

— Também quero saber quando começou a fumar


maconha e se é a única droga, além da bebida, que está
usando. — Thomas ficou pálido, diminuiu os passos, achei
que fosse passar mal.

— Não, pai, tá doido... — balançava a cabeça que


não. Parei o obrigando a parar também.

— Minha pergunta foi quando começou, não se


começou; essa já sabemos a resposta. E pelo visto, quem
está doido é você. Mas não tem que ficar com medo de
mim. O maior castigo é você mesmo que está se dando.
Se tem um problema e acha que vai ficar melhor se
drogando, já digo logo que você está fodido. Mas,
responde a minha pergunta, e diz aí por que entrou nesta?
— Dei um tapa nas costas dele o incentivando a continuar
a andar, o que fizemos lentamente a caminho do
restaurante, em total silêncio.

Assim que sentamos pedi um café.


— Pai, eu não estou fazendo o que disse. — O
encarei nos olhos, não sustentou meu olhar e abaixou a
cabeça.

— Filho, você acabou de completar quatorze anos,


não precisa mentir, sempre fomos amigos. Não estou aqui
para te condenar. Só quero que saiba que você e sua irmã
são minhas únicas prioridades e motivo de viver, se algo
está errado com um de vocês, minha vida não faz sentido.
Agora que está crescendo, está na hora de se aproximar
mais de mim, não se afastar. Só entenda uma coisa,
Thomas, não tolero drogas... de nenhuma espécie, não
criei filho para ser um covarde, seja lá qual for o seu
problema, seja a porra de um homem e enfrente essa
merda de cara limpa, ou vai ser um fraco sem
personalidade, escondido atrás de um cigarro de maconha
ou um pino de cocaína?

Depois disso encontramos alguns conhecidos,


jogamos conversa fora e caminhamos em silêncio.

— Pai?

— Sim...

— Você gosta mais de mim ou da C?

— Amo os dois exatamente igual. — Ele me olhou


com desdém e tédio.
— Não é demagogia, Thomas, amo os dois na
mesma dimensão, com a mesma intensidade. Por que,
filho? Você acha diferente?

— Tento perceber de quem você gosta mais, só que


nunca consigo chegar a uma conclusão.

— E nunca vai. São exatamente na mesma medida.

— A mãe gosta mais de mim. — Falou pensativo.

Naquele momento não me dei conta do que aquela


frase significava.

— Você acha que eu deveria gostar mais de um dos


dois? Mais de você?

— Não. Deus me livre, dois chatos no meu pé, não


dá.

— Por que diz isso? Por que diz que sua mãe gosta
mais de você? — Ninguém tem dúvidas disso, é notório,
mas não é possível que a louca teve a pachorra de dizer
exatamente isso para as crianças. Ele ergueu os ombros.

— Sei lá, ela sempre fala que sou a razão da vida


dela.

— Ela deve falar isso para sua irmã também. — Nós


dois sabíamos que não era verdade, Thomas me olhou
sério, e antes que ele falasse alguma coisa senti vergonha
por mentir.

— Se tiver alguma coisa para me dizer, diga de uma


vez.

— Não, não tenho nada. Minha madrinha vai chegar


que horas? — Perguntou tentando mudar de assunto.

— Já deve estar quase chegando.

Sinto como se todo o caminho que percorri até aqui


fosse o caminho errado. Olho para meu filho e me
pergunto se conseguirei refazer o caminho a tempo, ou se
nunca chegarei aonde pensei que chegaria.
Logo em seguida Carla chegou, não consegui falar
sobre o absurdo que é a mãe deixar tão explícito a
preferência por ele. Deixei que os dois conversassem
bastante enquanto dava atenção a alguns colegas.

Quando resolvemos ir embora, depois de passar um


dia muito agradável, já era noite.

Celina estava sozinha com Miriam, a babá, desde


cedo. Fiquei puto de raiva.

— Vem cá, meu amor.


— Você me deixou sozinha. Você também só gosta
do Thomas?

— Claro que não, até parece... — Thomas me


encarou preguiçoso, como quem diz: até ela sabe. Peguei
Celina de uma vez e joguei-a para cima. — Tive uma ideia,
vem, vamos tomar um banho. — Quando foi que se tornou
tão evidente? Ela sempre deu mais atenção para Thomas,
sempre fez questão da presença dele, sempre o quis com
ela o tempo todo, o que nunca aconteceu com a minha
pequena, mas também nunca havia sido tão hostil, ela
está sendo quase que agressiva com a menina no último
mês.

Organizei uma mochila com algumas mudas de


roupas, chamei Thomas e pedi para fazer o mesmo.
Desembaracei seus cabelos enquanto ela reclamava. —
Não esquece do uniforme do colégio! — Fomos para casa
dos meus pais, o lugar preferido da minha pequena.
Dormiríamos lá, passaríamos o restante do fim de semana
e, antes de ir trabalhar na segunda-feira, deixaria os dois
no colégio.

Tinha colocado Celina para dormir, Thomas estava


em uma guerra com o avô no jogo de baralho. Quando
Leila enfim ligou.

— Você está tentando me afastar do meu filho?

— Você quer dizer filhos, né?


— Você entendeu.

— Onde você estava que deixou nossa filha sozinha


o dia todo?

— Você também a deixou sozinha.

— Achei que estivesse com a mãe.

— Era para ser uma visitinha rápida aos meus pais,


acontece que você conhece a minha mãe...

— Não quero saber. Você deixou Celina sozinha o


sábado todo, poderia ter levado-a para ver os seus pais,
ou me ligado e dito para ir buscá-la.

— Você quem quis ficar apenas com Thomas. Não


tenho culpa.

A maior parte do tempo eu a odiava. Ela era cruel,


não tinha o menor amor pela filha e era obcecada pelo
filho.

Quando nosso casamento chegou pela milésima vez


ao limite e que eu já estava mais fora de casa do que
dentro, ela engravidou da Celina, e não escondeu que foi
de propósito para o casamento não acabar. Dizia que tinha
medo de que eu sumisse com nosso filho, que fizesse a
cabeça dele para ficar comigo. Ela é doente. Apostou que
não a deixaria com um filho e grávida. E realmente não fiz
isso.

— Você é louca, cruel e minha paciência com você


está com os dias contados. — Desliguei o celular com
ódio. Como queria ter paz com os meus filhos, sonhava
criá-los sozinho, proporcionar a eles um pouco da criação
que recebi.

Eu e meu irmão fomos criados com amor, paz e


coerência, nossos pais nos amavam igualmente e sempre
soubemos disso, eles nos deram tanta atenção que nunca
tivemos a ideia de que um ou outro fosse mais amado,
mais querido...

Era desesperador ver meus filhos passarem por


coisas que nunca precisei passar, coisas pelas quais não
estava sendo capaz de poupá-los.

Foram duas semanas de brigas horríveis, Leila


acreditava na teoria da conspiração, que eu estava
tentado afastar Thomas dela, já com Celina, ela não se
preocupava. Nunca consegui entender, a meu ver, ela
achava que eu me importava mais com ele também, só
pode! Acha que é uma batalha, tem uma mente doentia. O
jogo dela era ter sempre Thomas dependente
afetivamente, o que estava perturbando a cabeça do meu
filho. Leila estava a cada dia mais insuportável.
Eu tentava dar toda a atenção e tempo que podia e
conseguia para as crianças, o que deixava-a mais irritada.

Olhava para minha esposa sempre impecável, os


cabelos loiros na altura dos ombros sempre lindos, um
corpo perfeito, os olhos quase negros em sua pele branca
bem cuidada. Não aparentava a idade que tinha, era
realmente uma mulher linda, porém amarga, egoísta e
totalmente doentia.

Celina estava bem triste porque eu teria que viajar a


trabalho no dia seguinte, então, combinei com eles que
os pegaria na escola para passar a tarde comigo no
escritório. Thomas fingia não gostar, mas se amarrava,
curtia pra caralho ficar com o padrinho, Carla tirou a tarde
de folga e passou o dia com a gente. Celina era tratada
por todos nós como a princesa que era.

Jantamos no terraço com Carla e Otávio e aproveitei


bastante a companhia dos meus pequenos.

Quando chegamos em casa Leila estava


descontrolada, Miriam disse que ela chegara a pouco e
que ficou louca quando soube que estávamos jantando
com Otávio e Carla. Coloquei Celina dormindo na cama,
enquanto ouvia os xingos, ofensas e ameaças.

— Cuida dela, Miriam.

— Pode ficar tranquilo, seu José.


Antes de sair do quarto, avisei:

— Amanhã vou viajar, qualquer coisa você liga no


meu celular.

— Pode deixar.

Quando cheguei na sala, Leila avançou em mim.

— Você está tirando eles de mim. Você quer me


deixar sozinha. Desgraçado!

— Thomas, vá tomar um banho e dormir, amanhã


você tem aula cedo. Virei as costas e fui para o quarto,
direto para o closet, peguei minha mala.

— Onde você estava que só deu falta dos seus filhos


agora? Avisei na hora do almoço que os padrinhos de
Thomas jantariam conosco, que não os traria para casa. —
Olhei no relógio. — Essa é a hora que costuma chegar em
casa, Leila? — Ela parou por um instante, pensei que
fosse se dignar a me dar uma satisfação, mas em seguida
continuou com suas merdas.

— Covarde, você vai nos deixar!

Thomas estava andando de um lado para o outro na


sala.

— Filho, fica de olho na sua irmã e se cuide, eu te


ligo.
Fiquei todo o resto daquela semana em Nova York,
conversei com Thomas e expliquei que não voltaria para
casa no fim de semana, mas que na segunda-feira cedo
estaria lá para levá-los para a escola.

E durante toda a semana foi assim... os buscava


cedo em casa e os deixavam na escola, e sempre que
possível jantava com eles.

Nunca fui fiel, também nunca tive uma amante,


sempre fui discreto, nunca a envergonhei, nem aos meus
filhos. Nunca me envolvi com ninguém, nunca fui
ciumento, nunca exigi nada além de respeito. Aos olhos
dos outros, eu a respeitava, com exceção dos meus
amigos, ninguém tinha nada para falar da minha conduta.

Não era a primeira vez que saía de casa pelos


mesmos motivos, brigas sem sentidos, violência na frente
das crianças, Leila não tinha limites, não era coerente a
maior parte do tempo, mas as vezes conseguia ir além.
Mas o pior é que já sabia o que viria a seguir.

Ela fingiria estar arrependida, e pela culpa e


consciência pesada que sentia em deixar meus filhos, eu
fingiria que acreditava.

O fato era que já não acho mais que o melhor é


estarmos todos juntos, de que eu deveria passar por cima
do meu orgulho e da minha certeza de que nada ficará
bem e assumir um relacionamento falido. Nunca me iludi,
nunca achei que fosse ser feliz, que um dia a amaria, mas
achei que seria o melhor para os meus filhos, eu
realmente acreditei nisto. Realmente acreditei que pelo
menos eles estariam bem. E agora? Agora preciso
descobrir um jeito de ficar com meus filhos. De Leila me
deixar ficar com eles.

Soquei o volante do carro, sentindo a dor na mão


encobrir a dor no coração, a única coisa que me afeta
realmente é a vida dos meus filhos, e a sensação que
tenho é que a cada ano tudo se torna mais difícil; as
crianças percebendo a fraude que é o relacionamento dos
pais. Uma mãe que expõe toda sua frustração e deixa
claro seu favorito entre os filhos, não entende o que é
ruim para ambos.

Minha vontade é entrar com o pedido de guarda total


e iniciar uma guerra. Mas, pensando nas crianças e no
que isso poderia lhes causar me, tira toda a coragem.

Mesmo com todos os nossos problemas fazia


questão de me manter presente.

Celina estava radiante, brincamos e tomamos chá


em sua cabana, com certeza precisaria de uma massagem
para colocar a coluna no lugar. Dona Zefa chamou-nos,
dizendo que o jantar estava pronto.
— Princesa, vá lavar as mãos e chame seu irmão.

— Posso falar com você depois da janta? — Leila


perguntou antes de nos sentarmos à mesa.

— Sim. — Só falava com ela o essencial.

Jantamos todos juntos. Depois que coloquei Celina


para dormir, me despedi de Thomas e fui conversar com
Leila.

Fiquei olhando-a em pé mexendo em tudo com uma


camisola transparente, curta e linda.

— O que você quer, transar? — Nem se deu ao


trabalho de negar.

— Tchau, Leila.

— José? Você não pode abandonar a sua família.


Você tem filhos.

— Eu sei, quem parece não saber é você. — Ela


parou e ficou pálida me olhando. Chegou mais perto.

— Tenho medo, sou insegura, depois que Celina


nasceu, não sei, acho que foi a depressão... Estou com
uma certa idade, você nunca me amou.

— Nem você a mim. E não coloque a culpa na sua


idade nem na Celina ou na gravidez, você sempre agiu
como lhe convém e não respeita ninguém com seus surtos
e sua violência.

— Voltei a ir ao terapeuta. Sei que errei, mas você é


meu marido.

— Por enquanto, Leila, não suporto mais isso.

— Não fala uma coisa dessas, por favor.

Ela estava muito perto, suas insinuações, sua mão


no meu peito, seu cheiro gostoso, e minha total falta de
resistência ao sexo feminino, falou mais alto como
sempre. Segurei Leila pela nuca que colocou as suas
mãos na minha braguilha, a carreguei com urgência para
cama.

— Porraaa!!! — Coloquei Leila montada em mim que


desceu beijando peito, barriga, arrancando calça, cueca e
me engolindo. Segurei seus cabelos e castiguei com raiva
sua boca, o pior que a filha da puta gostava. A puxei,
segurei firme sua cintura. Fiquei olhando aquela mulher
que fazia da minha vida um verdadeiro inferno, esfregando
a boceta molhada no meu pau, minha esposa, linda, seus
olhos quase negros, sua cara de safada, sua boca gostosa
que faz um boquete que é do caralho. Foi por causa da
porra deste boquete que fez o que quis com o idiota de
dezenove anos que fui um dia.
— Nunca consegui enfiar seu pau todo na boca. —
Debruçou e falou no meu ouvido.

— Mas você sempre disse que tamanho não era


documento. — A virei de uma vez, dei um tapa deixando
uma marca bem vermelha em sua bunda branca. Mordi sua
orelha. Ela sempre dizia isso para me provocar, sempre
querendo dizer que eu era inexperiente, um adolescente
com um pau grande que não sabia usar direito. Mas hoje
quem provoca sou eu. — Mas sou um bom aluno. —
Lambuzei a mão em sua boceta e passei devagar em seu
cu gostoso. — Vou gozar bem gostoso dentro deste cu. —
Rasguei a embalagem da camisinha.

— José... — falou chorosa. — Acha que vou


engravidar a essa altura da minha vida?

Não respondi de raiva. Lembrando que caí naquela


conversinha duas vezes.

Depois que tomamos um banho, estava vestindo uma


roupa, Leila parou me olhando.

— Para onde você vai? Não pode desistir desta


forma, seus filhos precisam de você, não pode me deixar
sozinha no pior momento.

Olhei para Leila, pensei em Celina que ainda


passaria pela adolescência, e em quanto meus filhos
ainda precisariam de mim.
E mais uma vez estava ali, tentando fazer com que
eles tivessem uma vida mais normal e amorosa possível.

Os dias pareciam normais, Leila continuava, como


sempre, enfurnada na casa dos seus pais. Não sei por
que, mas estava achando-a muito mais agressiva,
estressada e nervosa, com certeza. Só me intrometia
quando descontava sua raiva em Celina, o que acontecia
quase sempre.

Não tinha mais como adiar minha ida para o interior


de Minas Gerais. Antes de ir viajar tive uma conversa bem
séria com ela:

— Não quero saber o que está acontecendo, mas


você está passando dos limites com a Celina.

— Você diz que eu mimo o Thomas, mas faz a


mesma coisa com a Celina, e ainda tem coragem de me
julgar.

— Não distorça as coisas, não faço nenhum dos dois


se sentirem inferiores, não sou insolente...

— Celina é mal-educada, é inconveniente...

— Ela só é uma menininha que tenta chamar a sua


atenção o tempo todo, te admira e quer ser amada pela
mãe. Só tem seis anos, não consegue ficar imóvel para
não bagunçar o penteado e não borrar o esmalte das
unhas, você tem que discernir essas coisas, ela é pequena
Leila, precisa ter mais paciência.

— Não me diga como devo agir com os meus filhos,


você sempre acha que está certo. Ninguém está sempre
certo José, nunca ninguém te disse isso?

— Está dado o recado, Leila. Preciso ir, são quase


cinco horas de carro até lá.

— Nossa, você vai de carro?

— Gosto de dirigir, sabe disso, a estrada é boa,


Dutra e Fernão Dias até lá. Se for ruim, das próximas
vezes vou de helicóptero. Já me despedi das crianças.
Não sei que dia volto.

Agora que dei o start, cheguei à conclusão que o


trabalho de pôr a fábrica em ordem levaria no mínimo um
ano. Foi uma grande aquisição ao grupo Dantas
Dellatorres, com certeza, colheríamos muitos frutos, mas,
em contrapartida, me daria muito trabalho.

Havia alugado um chalé bem agradável, pois teria


que passar boa parte dos meus dias bem perto da
empresa no próximo ano, precisava organizar
metodicamente minha agenda.

Era o que estava pensando quando vi um anjo. É...


parecia um anjo na beira da estrada, mas muito gostosa
para ser um. Freei o carro. Hora de fazer amizade com as
locais, José. Baixei o vidro:

— Aceita uma carona, anjo? — A moça era linda.


Vestia calça e blusa de moletom.

— Não, obrigada! — sorriu. Ficou ainda mais linda.


Não parou de andar, devia estar com medo.

— Trabalho na fábrica, não precisa ter medo, só


estou sendo gentil.

— Agradeço, mas realmente não quero. Um bom dia


e bom trabalho.

Fiquei olhando aquele andar delicioso e meu pau


pulsou na calça. Que gostosa! Carinha de anjo. Mas não
tenho tempo para isso!

— Boa caminhada, mocinha.

No dia seguinte nem acreditei quando a encontrei no


mesmo horário novamente, estava atrasado, mas uma
carona, o número do telefone, e marco com ela para mais
tarde. Parei o carro:
— Aceita uma carona, anjo?

Se fez de rogada, sorriu e bem-educada, não


aceitou, sem dar nenhuma atenção. Não tenho nem tempo
nem paciência para ladainha. Arranquei com o carro, com
pressa e com raiva.

No dia seguinte estava nervoso com Thomas que


não atendia meus telefonemas, e quando atendeu estava
monossilábico, distante, mal respondendo minhas
perguntas. Assim que encerrei a ligação vi a garota da
estrada. Estava caminhando quase no meio do mato de
cara fechada, nem parei o carro, não dava, ela caminhava
rápido, precisei acompanhá-la lentamente.

— Olha que surpresa, deixa eu adivinhar... você não


quer uma carona?

Não foi educada como nos outros dias. Deveria estar


de mau-humor. Me olhou com cara de poucos amigos:

— Deixo meu carro na garagem para ser


importunada por caras mal-educados todas as manhãs
achando que sou obrigada a aceitar esmola.

Que grande filha da puta, mal agradecida, se acha


que vai ficar se fazendo de difícil para o idiota da cidade
cair igual um patinho, está muito enganada!
Olhei aquele corpinho lindo com atenção, para sua
carinha de anjo, indignado com tamanha grosseria, me
ignorou e continuou andando. Fiquei olhando aquela
garota bem-vestida, cabelo lindo e bem cuidado, que
almejava muito ver entre as minhas pernas o quanto
antes. Estava tentado em descer e persuadi-la, mas com a
raiva e o tesão que ela me deixou, não achei prudente.

Vou trabalhar que ganho mais, não tenho tempo para


isso.
— O que tem eu? — Pergunto entrando na cozinha.

— Estou falando para o seu pai e irmão que você


não é boba, muito pelo contrário.

— A senhora é a pessoa mais inteligente desta casa.

— Você não tem blusa inteira não, menina?

Olhei para minha barriga, vestia uma calça de


moletom e um top de academia deixando a barriga toda de
fora.
— Vou jogar uma blusa por cima quando estiver
saindo, paizinho.

— Maia, você não pode dançar para sempre, precisa


pensar em uma profissão.

— Dançar é uma profissão pai, eu não gosto de


estudar, não quero fazer faculdade de nada.

— Bora, Maia. — Meu irmão me acelerou.

— Beijo, mãe e pai.

Meu irmão me deixou a uns vinte minutos


caminhando do ponto de ônibus; aqueles vinte minutos de
caminhada eram o melhor momento do meu dia, colocava
meus pensamentos em ordem, conversava comigo e
sonhava. Sempre pensava sobre os medos que meu pai
sentia a meu respeito, entendo que se preocupe, ele não
acha que ser professora de ballet me sustentaria, e
sempre diz que já está velho, tem medo que eu não
consiga me manter... Pelo menos agora ele diz que
preciso de uma profissão, antes ele dizia que precisava de
um marido já que não gostava de fazer nada. Ele não tem
ideia de quanto uma professora de dança trabalha duro e
se desgasta, sei que para a maioria de nós é uma carreira
curta. Só não consigo me imaginar fazendo outra coisa.

Minha mãe também se preocupa, apesar de medir


mais suas palavras.
Consigo me imaginar casada, cheia de filhos, até
quero bastante isso, mas não consigo me imaginar na
faculdade. Ri de mim. Dei um pulo com o susto que levei
com a freada brusca que ouvi, o carro parou uns dois
metros a minha frente, não parei, continuei caminhando,
observei que não era um carro conhecido, era um carrão
bonito e bem chique, o vidro desceu e ouvi uma voz
grossa e linda.

— Aceita uma carona, anjo?

— Não, obrigada! — Sorri e dei com a mão, sem


parar de andar.

— Trabalho na fábrica, não precisa ter medo. Só


estou sendo gentil.

— Agradeço, mas realmente não quero. Um bom dia


e bom trabalho.

O carro demorou uns dois minutos para passar por


mim, e quando passou foi bem devagar.

— Boa caminhada, mocinha. — Sorri para ele e dei


tchau. Nossa! Que gato, que homão. Essa cidade está
ficando cheia de gente de fora trabalhando na fábrica, mas
esse aí nunca tinha visto.

No dia seguinte, assim que meu irmão me deixou no


entroncamento o tal homem lindo, de voz linda e carro
lindo, emparelhou do meu lado, distraindo os meus
pensamentos.

— Aceita uma carona, anjo?

— Não, muito obrigada! E bom trabalho. — Falei


para me ver livre e voltar a pensar. — O mal-educado nem
respondeu e foi embora. Bem típico desses ricos da
cidade de São Paulo, acham que a gente tem que dar
graças a Deus de tê-los aqui, e não podemos contrariá-
los. Não tenho paciência para isso.

— No dia seguinte, mais uma vez, o tal emparelhou


ao meu lado, estava com fones de ouvido, uma música
suave e baixa encantava meus ouvidos. Dei uma olhada
desdenhosa e realmente com ranço para o homem.

— Olha que surpresa, deixa eu adivinhar... você não


quer uma carona?

Com preguiça suspirei revirando os olhos e andando


mais rápido, fui bem grossa:

— Deixo meu carro na garagem para ser


importunada por caras mal-educados todos as manhãs
achando que sou obrigada a aceitar esmola. — Ele me
mediu de cima a baixo, com a surpresa bem escancarada
em seu rosto, mas não parei para saber se iria me xingar
ou algo do tipo. Continuei caminhando e voltei a atenção
para minha música. Ouvia o carro andando logo atrás de
mim por alguns segundos antes de passar e sumir na
próxima curva.

Cada dia que passava, mais pessoas novas


apareciam na cidade, a fábrica que estava à beira da
falência, começou a se recuperar e em contrapartida
trouxe pessoas de fora, a parte boa foi que aumentou
consideradamente os empregos na cidade, o novo
proprietário parecia estar bem empenhado em fazer as
coisas funcionarem direito. Muitos conhecidos que já
trabalhavam lá estavam sendo mais bem remunerados, e
novos serviços surgindo. Todos ganhavam, o comércio da
cidade aquecendo, a esperança tomava conta novamente,
depois do pânico que foi com o fechamento eminente da
fábrica que praticamente sustenta a cidade com seus
empregos diretos e indiretos.

De vez em quando, ia à choperia da cidade e via


muita gente nova por lá, uns homens bonitos... Mas nunca
vi o prepotente, lindo, que durante umas duas semanas
me ofereceu carona incessantemente. Depois que fui tão
mal-educada quanto ele, tenho certeza de que parava o
carro e falava comigo apenas para me provocar, não
estava nem aí se eu aceitaria ou não a carona, era nítido
sua ironia, sempre com um olhar superior e ranzinza.

Idiota, lindo, irritante, pirracento, mas nada era pior


que chegar para trabalhar no estúdio e dar de cara com
Carlos no estacionamento, já tinha meses que
terminamos, ele não lidou bem no início, mas depois,
sumiu como sempre e dei graças a Deus. Já tinha quase
dois meses que não o via.

— Oi, minha flor, queria ter te dado uma carona, mas


quando cheguei o seu ônibus já tinha saído.

— Bom dia, Carlos, infelizmente não posso parar


para conversar, preciso trabalhar.

— Maia, você está adiantada, vamos conversar? Por


favor, você precisa me desculpar, vamos tomar um café na
lanchonete, pode ser aí dentro do estúdio mesmo.

— Carlos, já te desculpei, não quero, nem tenho


tempo para conversar com você, não tenho rancor ou
raiva, só está na hora de você se convencer que nosso
namoro acabou, porque não tínhamos, nem temos nada
em comum. Você já reparou que em pouco mais de um ano
de namoro quase não temos momentos juntos, ou pelo
menos, não momentos que estávamos felizes só por
estarmos no mesmo lugar?

— A culpa é minha, não fui um bom namorado, mas


sei que errei e quero ter uma nova chance, quero te tratar
como você merece e vou ter toda paciência com você,
tudo será no seu tempo.

— Melhor você nem tocar neste assunto, não gosto


nem de lembrar. Já falei, Carlos. Não temos mais volta.
Olha, me escuta, eu deveria ter feito um boletim de
ocorrência e nunca mais olhar para você. Eu não ter feito
isso foi em consideração a sua mãe que estava passando
por uma tormenta tão grande com seu pai, ela não merecia
saber naquele momento, que o filho era capaz de fazer o
que você fez comigo. Mas já estou me arrependendo, pois
se acha que se não falei para minha família nem para a
polícia quer dizer que não repudio sua atitude, está muito
enganado. Não somos amigos, não seremos, você me
machucou, eu tive pânico, e sinceramente, estou ficando
com medo da sua perseguição.

— Maia, por Deus, não estou te perseguindo, só


achei que pudéssemos conversar.

— Achou errado, não quero conversar com você, por


isso te bloqueei. Não me procure novamente, ou nosso
término "amigável", pelo menos para os outros, vai virar
caso de polícia, e você deveria saber que não sou de ficar
jogando conversa fora.

Larguei-o plantado no estacionamento e entrei no


estúdio, possessa.

Meu namoro com Carlos foi conveniente, ele era


lindo, eu estava louca para namorar, pois nunca havia
namorado. Ele não saiu do meu pé por um ano. Não era
exatamente meu tipo de homem, mas na cidade inteira não
tinha nenhum mesmo. Seu pai me tratava muito bem e sua
mãe e irmã eram maravilhosas.

No início do namoro meus pais não me deixavam


sair, nem ir para a casa dele, eles nunca gostaram muito
do Carlos e achavam sua família bagunçada e
desestruturada. O que realmente era. O pai de Carlos não
cuida da sua família e vive traindo sua mulher, que sempre
fingia não ver. Até a secretária dele fazer um escândalo e
ir à porta da casa deles com fotos e vídeos, dizendo que
estava esperando um filho do safado.

E o pior, ela estava revoltada pois dizia que o seu


amante, no caso meu sogro, a estava traindo. Não sei se
era verdade, se ela perdeu ou fez um aborto, mas grávida
ela não está mais.

Foi bem no meio desta confusão que meu namoro


com Carlos acabou. Graças a Deus! De jeito nenhum
gostaria que tivesse sido como foi, mas de qualquer forma,
foi um alívio.

Assim que terminei de dar a primeira aula, o novo


professor de street dance, um gatinho que está me dando
a maior bola, apareceu na minha sala jogando o maior
charme:

— Maia, você tem um tempinho para me ajudar com


uma coreografia? Quero ver se dará certo.
Olhei o relógio na parede da minha sala. — Tenho
trinta minutos.

Foi, digamos, provocativo ao extremo nossa


dinâmica dançando. Ele é sensual e educado. Depois da
minha segunda aula, saímos para almoçar juntos.

Charles era engraçado e muito galanteador, sempre


que estávamos sozinhos me cumprimentava com um beijo
no canto da boca. Gostava da atenção que o professor
estava me dando, mesmo com as alunas, mães e algumas
funcionárias da escola se desdobrando em cem para
chamar a atenção do gatinho.

— Vai almoçar por aqui hoje, Maia? — Jessica, a


secretária do estúdio perguntou.

— Acho que sim. — Sorri sem graça, ela sorriu


debochada.

— Seu príncipe encantado não vem hoje, né? — Ri.


Pois era a pura verdade, já tinha mais de um mês que
Charles e eu não perdíamos uma oportunidade de sair
para almoçar e passar nosso tempo livre dançando ou
conversando. Todos diziam que formávamos uma
excelente dupla e amavam nos ver dançando.

Estávamos comendo uma salada, Jessica e eu na


lanchonete do estúdio quando ela me convidou para seu
aniversário.
— Você faz quando mesmo? — Perguntei com a
boca cheia de salada.

— É na quarta, mas vou comemorar sexta-feira, na


boate aqui perto. Já chamei o Charles delícia, ele disse
que vai.

— Vou tentar, mas meu pai enche tanto meu saco,


perturba tanto meus irmãos para que eu não volte sozinha
nem durma na casa de ninguém, tenho que elaborar
planos mirabolantes quando quero ir para qualquer lugar,
que preciso planejar direitinho.

— Vai tentar nada. Você vai sim!

— Jessica, essa salada não vai dar nem para o


cheiro, vou comer um pastel.

— Você pode, o tanto que corre, pula, voa, se joga,


queima esse pastelzinho em segundos.

Ela chegou o corpo um pouco para frente e


sussurrou: — Você ficou com ele? — Sorri achando
engraçado seu jeito de falar, tão baixo.

— Não, conversamos bastante, ele é bastante


ousado às vezes, mas nunca nos beijamos. — Não que eu
não tivesse afim, mas ele brinca tanto e entro na dele, ele
não toma iniciativa, também não vou sair agarrando o
homem. De uma coisa tenho certeza, não quero ter que
dar o primeiro passo, quero que um homem me deseje ao
ponto de não ter vergonha de nada, nem de receber um
não. Posso ser antiquada, mas cada mulher tem seu tipo
de homem e eu tenho o meu, e graças ao poder a nós
adquirido, posso querer o que quiser.

Pensando em um relacionamento, quero um como o


do meu irmão Danilo, ele se casou em quatro meses com
uma colega minha e eles são apaixonados. Quem olha de
fora acha que ele manda nela, mas só é preciso trinta
segundos de conversa com os dois para entenderem que
ele lambe o chão para ela passar, quase que literalmente.

Os homens da minha família são machos alfas, mas


vendo como eles tratam suas mulheres não há como negar
o fato de que tanto minhas cunhadas, quanto minha mãe
parecem satisfeitas e felizes acima de tudo seguras,
quando comparadas com algumas conhecidas, parentes e
colegas de trabalho com seus namorados, noivos e
maridos e todas as reclamações, infelicidade, abandono,
entre tantas outras coisas que escutamos... Não tenho
dúvidas do tipo de homem que quero.

— Por que a pergunta, alguém pediu para você


sondar?

— Não, ninguém, só acho ele meio estranho às


vezes.

— Estranho como?
— Depois falo, tenho que trabalhar. — Mal terminou
de falar e saiu correndo para a recepção, olhei e vi que
era Marília, nossa chefe, que estava chegando, essa era
um belo mau exemplo, vivia infeliz no casamento.

Era pelo menos uma crise por ano, e apesar de


parecer que não me importo, fico penalizada, sempre
escutando seus dilemas vendo-a chegar à conclusão de
que prefere sofrer com ele, do que sem ele.

Não demorou muito para Marília se sentar na minha


frente.

— Oi, Maia.

— Oi, chefe, está melhor?

— Ainda não, mas vou ficar, marquei com Rodolfo,


vamos sair para jantar e conversar.

— E tudo bem para você?

— Sim, eu que propus o encontro.

— Má, não tenho a menor ideia do que te dizer, não


tenho experiência para te falar algo que te ajudará.

— Você que pensa! Sempre consegue ver sobre as


emoções, não se deixa levar.
— Acho que isso é porque não me apaixonei,
acredito mesmo que quando a gente ama não consegue
enxergar com nitidez as coisas.

— Você é coerente e me traz paz. É sincera, até


demais, mas é melhor do que ser falsa. Preciso de um
choque de realidade.

— Aproveite a noite, e coloque na sua cabeça que


Rodolfo não vai mudar, se começar a falar sobre os
defeitos dele e suas frustrações, vai entrar num ouvido e
sair noutro, se quiser ficar com seu marido precisa
entender que ele tem o jeito dele, e que não está disposto
a mudar. Ou você aceita ou troca. Não te entendo, não
aceita nem quer trocar, parece que quer é sofrer.

Há anos que via a mesma história, os últimos cinco


teve pelo menos cinco separações, ela chegou até ficar
uns dias em casa em uma das vezes, sem que ele
soubesse, para ver se ele se preocupava, tomava alguma
atitude diferente, o que não aconteceu. Como Rodolfo
mesmo me disse, ele é sossegado, tem o jeito dele e ela
sempre soube... Não entende o porquê dela brigar tanto.

— Só queria que ele fosse atencioso, que se


importasse. Um pouquinho de ciúme também não faria
mal, né?

Segurei suas duas mãos:


— Má, você é feliz com ele?

— Não. Mas eu o amo. Quando ele está longe, como


agora, me sinto um nada, não quero ficar sozinha. Maia
tenho quase quarenta anos, filhos...

Não acho que ela o amava, ela só não SE amava, o


que era diferente.

— Marília, se você mesmo não se amar, se não for o


suficiente para si, se não se der o devido valor, quem te
dará? Ninguém. Você disse que separa dele para ver se
ele sente sua falta e te trate diferente, mas é você quem
sofre. Você está sofrendo desta forma, por quê? Por que
acredita que é tão ruim ficar sozinha? Sente-se uma
péssima companhia para si mesma? Por que está se
permitindo sofrer desse jeito? Pense: nenhum homem que
lhe permita derramar lágrimas por ele, vale à pena. Nem
seu marido e nem ninguém. Entendeu? — Ela ficou por um
longo tempo olhando para o nada, enquanto eu ainda
segurava suas mãos.

— Não me acho tão ruim.

— E não é. Você é feliz, intensa, apaixonada por


tudo e todos, é maravilhosa. Mas não parece acreditar
nisso. Marília se eu pudesse te dar um conselho, diria
para primeiro estar bem consigo mesma, só então tentar
se acertar com Rodolfo. Uma vez ele me disse que você
exigia o que ele não tem condições de te dar, porque ele
não sabe o que é, que desconhece.

— Quando? Quando ele falou isso, e por quê?

— Na apresentação que aquela companhia de dança


de Belo Horizonte veio se apresentar aqui, e que o dono
ficou dando em cima de você descaradamente o tempo
todo, que todo mundo percebeu, até comentaram, e você
levou tudo na brincadeira, lembra? Quando ficou só nós do
estúdio, Rodolfo disse que tinha visto, ainda brincou
falando que o homem até podia te secar e te cantar a
vontade, mas que quem dormia com você era ele. E aí,
com razão, você surtou. Sei que qualquer mulher gostaria
de ser zelada, cuidada se sentir amada. Você brigou,
xingou e foi embora chorando, todos nós te demos razão.
Mas foi quando ele disse que não conseguia sentir raiva e
brigar, mas sim, orgulho, percebi que sua luta era em vão.
Má, olha para mim, ele disse que se sentia como se você
exigisse que ele falasse mandarim, entende? Ou que
roube um banco. Disse que não consegue ser assim, que
não consegue sentir o que você deseja, e que acha
inadmissível ser da forma que você quer que ele seja.

— Porque ele não me ama.

Senti vontade de dizer que também achava, ou


melhor, que tinha certeza, mas nunca faria isso.
— Sou fraca. Fico pensando no que vão falar, no fim
de semana na casa dos meus pais em todos meus irmãos
casados, só eu separada, sozinha e sem perspectiva. Nos
pais dos colegas dos meus filhos.

— Só você sabe o que é mais suportável. — Ela não


sabe, nunca conseguiu ficar mais de uma semana
separada.

— Não sei. Estou com Rodolfo há quase vinte anos,


desde quando era adolescente, nunca cheguei a ficar sem
ele realmente perante todo mundo, nunca assumi a
separação.

Deitei a cabeça lhe dando toda a minha atenção,


acredito que realmente está chegando muito próximo ao
limite.

— Por que você é assim? Tão segura e tão esperta,


nem saiu das fraldas direito.

— Porque é muito fácil resolver a vida dos outros


Marília, sou a caçula, fui criada no meio de adultos e cinco
deles, homens. Eles não me deixam esquecer nem por um
dia que tenho que me amar mais que a qualquer pessoa,
que o homem que eu tiver deve me ter como sua
prioridade, e que nós mulheres temos um poder
sobrenatural, mas que a maioria de nós nem sabe que
existe ou não sabe usar.
"Todos eles sempre me dizem, cada um à sua
maneira, que uma mulher faz o que quer com um homem."
Meu celular tocou assim que aterrissei.

— Oi, filhão, tudo bem?

— Pai, vai chegar hoje?

— Filho, acabei de aterrissar em Nova York, tivemos


um problemão na empresa aqui, saí de Minas Gerais
direto para cá, o pai está tendo que se desdobrar em três.
Mas pretendo ir embora depois de amanhã garotão, e
podemos ir para a fazenda do seu avô no fim de semana
que vem, o que acha?
— Legal! Vamos para casa da vó com a mãe, ela que
pediu para eu ligar e saber se você vinha hoje.

— Cuide da sua irmã, assim que sair da reunião —


olhei no relógio, estava atrasado — ligo para vocês. O pai
te ama.

— Valeu... tchau.

Dois dias em Nova York, cheguei em São Paulo as


coisas estavam uma loucura, Otávio não trabalhava mais,
eram gestores, executivos, controllers, me ligando,
agendando reuniões. As funções na fábrica em Careaçu
continuavam a todo vapor, vistorias, reuniões. Samuel me
ligava de hora em hora.

— Caralho! Você só pode tá querendo me dá o cu.


Nenhuma mulher me liga tanto assim!

— Cara, se você vier resolver o problema com esse


fornecedor de couro, para não pagarmos uma multa de 20
milhões para Deksports, por não fornecermos as bolas, eu
te dou o que você quiser. Mas por favor, lida com esse
cara, porque eu estou prestes a ir preso, vou matá-lo, ele
acha que sou otário. José, é sério, estou perdendo a
paciência.

— Vou agendar uma reunião com ele aqui na


empresa essa semana, só vou conseguir estar aí na
semana que vem.
— Caralho, tem muito trabalho atrasado e problemas
por aqui!

Eu sabia, mas tinha trabalho aqui em São Paulo até


sexta-feira, e também havia combinado com Thomas de ir
para fazenda com eles no fim de semana, ele combinou
com meus sobrinhos, e fazia meses que não nos
reuníamos todos, as crianças estavam bem empolgadas.

As coisas em casa estavam aparentemente calmas,


saí da Dantas Dellatorres correndo na sexta-feira no fim
do dia, a fim de buscar as crianças, queria pegar a estrada
para a fazenda ainda hoje, quando cheguei, Leila estava
descontrolada.

— Como você combina uma coisa com duas crianças


e não comunica a mãe delas?

— Qual o problema de eles irem para a fazenda dos


avós com o pai por dois dias? — Não dei atenção, fui
tomar um banho e fazer minha mala.

Quando saí Miriam e Celina disseram que Leila


estava no quarto com Thomas.

— Papai, me ajuda a fazer minha mala.

— Senhor, nós já fizemos a mala, não é mesmo


Celina?
— Claro que quero ver o que a minha princesa está
levando para a fazenda. — Pisquei para Miriam. Ficamos
mais de trinta minutos tirando e colocando coisas dentro
da mala da Celina, que estava implorando por atenção, o
mais importante de tudo que estávamos levando era um
chifre de unicórnio, uma capa que deixava invisível, umas
maquiagens brilhantes e uma bota transparente. Minha
menininha era uma lindeza mesmo!

— Pronto, agora sim sua mala está adequada com


tudo que você realmente precisa. — Ela pulou no meu
pescoço, beijando meu rosto. Era exatamente para isso
que eu vivia.

Quando Thomas saiu do quarto dizendo que não iria


mais depois de ficar horas conversando com Leila, quem
surtou foi eu.

— Não vai? Que porra está dizendo? Por quê?

Olhei para Leila parada olhando para ele e pedi para


que Miriam levasse Celina para dar uma volta. Que
Thomas fosse para algum lugar, qualquer lugar, ele se
recusou a sair de casa.

— POR QUÊ?! — Vou matar essa mulher.

— Você não deveria ter planejado essa viagem sem


meu consentimento, amanhã é aniversário do meu primo,
já havia combinado de ir com Thomas.
— O QUÊ? NÃO! Você não está falando sério. Ela
não está falando sério, Thomas. É sério isso?

— Meu filho, ninguém te ama mais do que eu, seu


pai sempre quis te afastar de toda a minha família,
Antônio te adora, queria que ele fosse seu padrinho, ele
sempre foi o meu melhor amigo e seu pai nunca se
importa com a minha opinião, com a minha família, com os
meus amigos, só pensa nele, só a família dele que
importa, só os amigos dele que importam, Antônio é nosso
primo, sangue do seu sangue. Você sabe o quanto ele
gosta de você.

— Eu sei, mãe, só esqueci do aniversário dele, por


isso combinei com o vovô e com meus primos, mas não
vou mais, vou ficar com você.

— Aniversário do SEU primo de CINQUENTA anos e


quem tem que comparecer é o meu filho? Você só pode
estar de palhaçada. Ficou louca? Os primos do THOMAS
estarão na fazenda, pelo amor de Deus Leila, eles têm a
mesma idade, é insano da sua parte.

— Só a sua família que importa? — gritou.

— O aniversário do seu primo é tão importante que


ele nem lembrava.

— Vou ficar com a minha mãe, pai.


— Filho, você estava super empolgado para ir.
Mandou mensagem para seu avô, já arrumou suas coisas.
Combinou o campeonato de baralho, sua mãe vai
entender. Depois você dá os parabéns para o primo dela.

— Entender? Entender que você não consegue


respeitar a minha vontade, nem a vontade do meu filho,
ele não quer ir com você, ele vai comigo, ele já disse. Vai
você com a Celina.

— VAI VOCÊ COM A CELINA? VAI VOCÊ COM A


CELINA? Por que, ela não é prima do Antônio? Ela não é
NECESSÁRIA na foto de família?

— Não é isso, ela só é muito pequena, nem entende


nada.

— Você passa de todos os limites. — Sentia vontade


de esmurrar a filha da puta, dizer tanta coisa. Mas não iria
fazer o que ela faz, despejar tudo na frente do Thomas,
ele não merece isso. — Isso é loucura, você ficou louca. E
eu cheguei no meu limite. Thomas, você tem certeza de
que vai ficar com ela?

— Desculpa pai, vou ficar com a minha mãe, se


quiser e a Miriam não puder ir eu cuido da Celina. — Senti
tanta dó da minha filha naquele momento.

— Pode deixar que da minha filha cuido eu. —


Acabei sendo grosso com Thomas que não tinha culpa,
estava sendo manipulado. Não tinha como impedi-lo de
ficar com a própria mãe. Peguei as coisas da Celina
coloquei no carro e a encontrei na praça do condomínio.

— Papai!

— Obrigada, Miriam, até segunda.

— Tchau, princesa.

— Tchau, Mi. Papai, eu gosto da Mi, mas ela não


sabe nada.

— Não? Por que você acha isso? — Terminei de


fechar o cinto da cadeirinha e me sentei atrás do volante.

— Ela nem sabe arrumar uma mala.

— Ela é nova ainda, ela aprende.

— Você pode ensinar pra ela. Papai, cadê o Tho?

— Vai ficar com a mamãe, esse fim de semana é só


nosso!

Ela ficou olhando para frente sem dizer nada por um


bom tempo:

— Papai? Quando o Tho tinha seis anos a mãe


gostava dele?
Senti um gelo percorrer todo o meu corpo. A mesma
sensação que senti quando soube que seria pai, sabia
exatamente o que aquilo significava, que era verdade, mas
não sabia o que fazer.

— Sim, igual ela gosta de você, meu amor. — Uma


mentira necessária.

Celina estava se divertindo muito, amava ficar com


meus pais, amava minha cunhada e minha sobrinha, era a
caçula da família, e todos nós a mimávamos. Leila não se
importaria de me dar a guarda de Celina, o que ela não
quer é o divórcio. Tudo por status e dinheiro. Poderia dar
tudo que ela quisesse, e uma excelente pensão também.
Não importa quanto. Se me deixar ficar com Celina sem
confusão; Thomas confia em mim, sabe que estarei
sempre ao seu lado, que nunca vou julgá-lo. Por isso, que
sempre opta por ficar ao lado da mãe quando é preciso.
Sempre vou entendê-lo, ela não. Era o que eu pensava...

Afastei-me para ligar para o meu filho:

— Alô, pai. — Ele estava desanimado.

— Está fazendo o que, garotão?


— Jogando vídeo game.

— E a festa?

— Não tem uma festa, será um jantar. Não tem


ninguém por aqui agora.

— Posso ir te buscar. — Coitado do meu filho, ele


suspirou fundo e não disse nada. — Filho, sou o seu pai,
faço qualquer coisa por você, não tem problema você
mudar de ideia. Pego o helicóptero do seu padrinho, vou
te buscar.

— Não, pai, vou ficar por aqui com a minha mãe. —


Demorei a responder, estava com um nó na garganta.

— Se mudar de ideia, não importa a hora, eu vou


aonde você tiver.

— Tá bom. Vou desligar.

— Tchau, filhão...

— Pai, você é o melhor.

Não consegui responder, ele desligou. Mas com


certeza aquilo foi importante para ele.

Meus pais mantinham uma casa em São Paulo, por


minha causa e pelos meus filhos, em Porto Alegre, pelo
meu irmão e pelos meus sobrinhos, mas a verdadeira
paixão deles era essa fazenda no interior de São Paulo.
Eles adoravam viajar, e mais ainda estar conosco, como
eles mesmo diziam. Fomos criados com doses excessivas
de amor e muita disciplina. Meus pais se amavam, eram
companheiros e eternos namorados. Meu irmão e minha
cunhada eram apaixonados um pelo outro, não se
desgrudavam, e sempre percebi que eles tinham pena de
mim. Nunca me importei, nunca mesmo. Era como se eu
fosse um coitado, mas nunca soube o que era aquilo,
nunca soube o que de fato era o amor, essa paixão de que
eles tanto se gabavam. Agora, via que a falta de
sentimentos verdadeiros no meu relacionamento estava
afetando os meus filhos. Preciso pensar em dar uma vida
mais tranquila, harmoniosa, com muito amor para eles. E
com a Leila isso nunca acontecerá.

Cheguei em casa segunda-feira cedo, peguei


algumas coisas que precisava, algumas roupas, Leila
acordou e ficou olhando-me arrumar a mala.

— Celina ficará com meus pais essa semana, vou


fazer uma mala para ela. Eles gostariam que Thomas
fosse ficar com eles também, semana que vem vão viajar
e quando voltarem vão direto para Porto Alegre.

— Se ele quiser... — falou como se realmente fosse


indiferente. — Você está indo para onde?
— Vou viajar a trabalho. Mas assim que eu chegar
vamos colocar os pingos nos is. Não tenho mais condições
de jogar esse jogo, Leila. Pensa, procure um advogado...

— Não vou me separar de você, temos uma família,


nossos filhos precisam de mãe e pai, não os fiz sozinha.

— Sei disso. E é por isso que estou aqui até agora.


Mas para tudo tem um limite. Não está saudável para as
crianças. Nem para nós.

— Não. Você é o meu marido. Eu vou mudar.

Virei de frente para ela, que nunca, em todos esses


anos, havia pronunciado essa frase.

— Vou tentar, vamos tentar, nossos filhos realmente


precisam de nós.

— Quero que Thomas fique alguns dias com meus


pais. Comece mudando por aí.

Saí do quarto, ela veio andando atrás de mim,


Thomas saiu do seu quarto com a mochila na mão, pois eu
o deixaria no colégio.

— Para onde você está indo? Sou sua esposa,


preciso saber aonde meu marido vai.

— Para o fim do mundo! Em uma cidadezinha


chamada Careaçu, interior de Minas Gerais.
— José, estou falando sério, vou mudar, pelos
nossos filhos. Filho, conversa com seu pai, pede para ele
não ir embora. — Ela tentou pegar no braço do Thomas,
que se esquivou e saiu xingando, falando para ela não
tocar nele, estava com raiva. Olhei com ódio para ela que
não perdia a mania de colocar as crianças em nossas
discussões.

— Isso é um problema nosso, essa é uma outra


coisa bem importante que tem que mudar.

Fui conversando com Thomas no caminho até a


escola.

— Filho, estou indo trabalhar. Fim de semana o pai


estará em casa.

Todos dizem que não tenho paciência, que sou


intolerante, até agressivo às vezes. Claro que sou. Leila
drena minha paz, toda e qualquer paciência que eu possa
vir a ter, se não usar cada gota com ela, a mato.

Thomas estava todo estranho. Com raiva.

— Filho, você quer conversar? Podemos tomar um


café, você entra na segunda aula. Como foi seu fim de
semana?

— Tenho um trabalho importante agora.


— Deveria ter te obrigado a ir comigo.

— Não tenho quatro anos, pai, você não é assim,


louco.

— Seus avós vão ficar com Celina essa semana,


quero que tire uns dias para ficar com eles também. — Ele
não respondeu nada. — Qualquer coisa me liga, e se não
acontecer nada, me liga também. — Falei ao deixá-lo na
escola. Estávamos indo tão bem, não deveria ter ido para
fazenda e deixá-lo, mas não seria justo com Celina, que
porra!

Os seguranças das crianças não invadiam seus


espaços e privacidades, tentavam ficar o mais invisível
possível. Mas dei ordem para ficarem atentos ao Thomas,
e se certificarem por onde andou, mesmo dentro do
condomínio. Sem que ele percebesse, o que com certeza
não seria um trabalho fácil.

Fazia chamadas de vídeos o tempo todo para os


dois, e trabalhei como um louco, dezesseis a dezoito
horas por dia.

O mundo estava desabando na minha cabeça, mas


não me deixaria soterrar nunca, não mesmo.
Sexta-feira, assim que meu irmão me deixou no
entroncamento coloquei meus fones de ouvido e lembrei-
me do gatão mal-educado. Ele tinha sumido, faz tempo
que não me enche o saco. Mas ontem, quando passei de
ônibus pela praça, na volta para casa, vi um carro igual ou
muito parecido com o dele. Bocejei, senti meu rosto
queimar e ri, estava com sono depois de passar a noite
toda lendo um romance erótico maravilhoso, pensei no
Charles e me senti mais quente, estava super afim dele,
mas já estava ficando irritada. Ele era muito mole. Depois
de conversar tanto com Marília, reafirmei a ideia de que
precisamos nos conhecer bem, levar em consideração
nossos sonhos e desejos, como minha mãe sempre diz,
tudo tem que ser perfeito desde o início de um
relacionamento. Que não se deve atropelar as coisas e
ficar com o primeiro que aparecer, ela sempre dizia isso
por conta do Carlos, e agora que estou novamente
solteira, repete incessantemente. Estava quase chegando
no asfalto quando vi o carro ao meu lado.

— Bom dia, mocinha! Está mais linda hoje. — Tive


que controlar o riso, pois ainda estava com raiva do
prepotente. Não respondi e apertei os passos. Mais uma
vez ele emparelhou:

— Quer uma carona? — Falou debochado e foi


embora com ar de superior. Ele não me irritava
exatamente, era meio cômico.

Quando cheguei em casa, ajudei minha cunhada a


preparar o jantar, falamos do livro que ela me emprestou
e que eu lia escondido de todos, não era exatamente uma
conversa, já que ela falava e eu ria, e às vezes,
concordava.

— E o moleque mole do seu serviço?

— Mole mesmo e nem é moleque, já tem 28 anos e


nenhuma atitude de verdade, só brincadeiras. A Cláudia
disse que ele falou que “bem que eu poderia dar uns
beijos nele”. Vê se pode? Agora eu que tenho que tomar a
iniciativa, quer que eu o agarre!

— Os homens de hoje estão mal-acostumados. Por


isso que quando conheci seu irmão, enlouqueci. Ele nunca
me deu opção, e olha que ele disse que se controlou muito
porque eu era sua colega. No dia que o vi pela primeira
vez fiquei louquinha, mas no dia que ficamos, foi tudo...
me apaixonei, se ele não me quisesse seria aquelas
loucas e ficaria gritando aqui na sua porta.

— Uma vez só, né? Minha mãe ia te expulsar com a


vassoura.

— Vamos para choperia hoje?

— Estou caindo de sono, mas acho que quero ir.


Será que vocês vão voltar muito tarde?

— Depende de como estiver.

— Ah, vou sim.

Já era quase meia-noite quando a choperia


realmente lotou, vi os tops da fábrica, como as meninas
falavam por aqui. Jussara, irmã da minha cunhada Juliana,
chegou sua cadeira para mais perto de mim e cochichou:

— O esquadrão da morte chegou, aí eu me derreto


toda. Mas sabe como é, né? Finjo que nem ligo.
— Finge que nem liga nada, você ficou com um
deles.

— Com Samuel, fiquei algumas vezes, mas tipo, por


acaso, ele nunca nem tinha pedido meu telefone, também
não pedi o dele. Depois da festa na cachoeira que você
não quis ir comigo, nós ficamos, de verdade no caso, fui
para a cama com ele. — Ela falou essa última parte
cochichando. — Só então ele pediu meu número, e me
passou o dele.

— Está vendo, te fiz um favor não indo.

— Ah, tá. Pensa que ele ligou ou mandou


mensagem? Nada. Nem eu, lógico. Quando foi ontem, vê
se pode, ligou, eu nem atendi, depois mandou mensagem,
perguntando se iria vir aqui, isso ontem... tá?! — Ela
falava baixo, com classe e com poucos gestos. — Só
respondi hoje, aí perguntou se eu viria hoje. Disse que
não sabia. Aí falou que se eu fosse vir, pra eu mandar uma
mensagem. Até parece, capaz que vou ficar correndo atrás
de macho que me ignorou achando que eu fosse como
essas loucas que os considera um bilhete de loteria.
Minha mãe sempre diz: eu sou uma princesa, e minha mãe
não mente! — Rimos. — Olha a Juliana, acreditou e achou
o príncipe encantado!

— Está certíssima. Igual o Charles que quer que eu


vá para cima, vai morrer esperando. — Caímos na risada.
— Juliana que teve sorte, agora se não arrumar
alguém que faça o que seu irmão fez, não quero. — Rimos
mais.

— Estamos ferradas, subiu demais os requisitos —


falei rindo.

— Vamos acabar solteironas.

— Não fala isso, não. Quero me casar — falei sério.


Reparei que Juliana não estava a vista. — Sua irmã sumiu
com o meu irmão.

— Devem estar transando em algum lugar, eles só


fazem isso. Juliana disse que Danilo não consegue ficar
com as mãos longe dela, nem o pau...

— Credo, eles são nossos irmãos. Isso é nojento.


Preciso beber alguma coisa. Eu que fui buscar da última
vez, agora você vai. — Ela levantou toda animada. —
Pode deixar que vou, quero me exibir e quero que o
Samuel me veja. — Saiu toda, toda. fingindo não ter visto
o Samuel, que era um gato. Não tanto como o irritante,
insistente da estrada, se bem que nunca vi ele fora
daquele carrão, e dentro de um carro daqueles, qualquer
um fica lindo. Sorri para algumas pessoas que passaram,
um monte de gente falsa, as amiguinhas do Carlos, que
me odeiam, ainda têm coragem de me cumprimentar, dar
tchauzinho.
— Nunca fiquei tão feliz em ver alguém, já estava
achando que você era uma alma perdida caminhando
sempre no mesmo lugar. — Me arrepiei toda, a voz era
ainda mais grossa, ele era alto, forte e, meu Deus me
proteja! Olhando para ele segurando dois copos em pé na
minha frente, não consegui responder de imediato.
Quando me recuperei lembrei que ele é um grosso, mal-
educado. Ainda olhando para ele, revirei os olhos sem
disfarçar e olhei em direção ao bar, procurando Jussara
que estava ocupada com o Samuel dela.

— Desculpa minha falta de educação. Prazer, meu


nome é José. E me mandaram te entregar isso. — Ainda
bem que ele sabe que é mal-educado.

— Oi, obrigada. — Peguei o copo de caipirinha de


morango e coloquei em cima da mesa. Ele puxou a cadeira
do outro lado e se sentou. Olhei sério e fixamente para
ele, que pareceu não se importar com a minha indignação
em vê-lo sentar-se sem ser convidado. Meu Deus, que
homem cheiroso. Fechei os olhos e suspirei
profundamente, fingindo desagrado.

— Não vou te incomodar, só achei que poderíamos


nos conhecer enquanto nossos amigos conversam.

Não respondi nada, mas continuei olhando, eu sei


ser chata. Ele ficou me olhando tão intensamente que
senti minha pele esquentar.
— Você realmente não gosta que te ofereçam
carona. — Deu um sorriso irônico.

— Tenho certeza de que é exatamente isso que te


motiva a fazer.

— Não foi minha intenção desagradá-la.

— Ah foi, foi sim, mas pode ficar feliz, foi bem-


sucedido.

— Me perdoe. — Falou com cinismo e charme. Fui


tão cínica e charmosa quanto.

— Não... — Ele estava gostando do joguinho, e eu


estava ficando irritada, paciência não é uma das minhas
virtudes. — Quando ele esticou a mão para pegar a minha
em cima da mesa, não me movi e ele pousou a sua em
cima da minha e eu deixei, fiquei olhando e esperando
com calma. Sua mão estava quente, eu estava quente,
mas não deixaria que ele soubesse disso!

— José, não deveria, mas vou ser educada uma


última vez. Você deveria ir cantar de galo em outro lugar,
esse seu joguinho ridículo funcionará com alguma
interesseira por aí, eu só sinto ódio mesmo. Preciso de
verdade me controlar para não ser mais deselegante e te
ofender. E como não saio todas as manhãs da minha casa
para ser pirraçada por um mal-amado qualquer, também
não saio à noite para passar raiva enquanto tento beber
um drink depois de uma semana de trabalho.

Ele ficou nitidamente sem graça. Ficou me olhando


por um longo tempo, suas feições foram mudando
enquanto me encarava, não desviei o olhar, “nunca abaixe
seu olhar para ninguém”, meu pai e irmãos diziam.

Ficamos nos encarando e quando achei que ele


realmente me ofenderia, ele deu um gole em sua bebida
ainda me encarando. Olhou para a mão que eu não tirei do
seu toque, aquele era o meu espaço, não recuaria nem
mesmo a minha mão, ele era o invasor, ele que recuasse.

Pegou a minha mão, levou aos lábios e beijou:

— Você merece todo o meu respeito, e peço


desculpas por ser um imbecil. — Meneei a cabeça
concordando com ele, que era um imbecil, e ele mostrou
que também não recuaria. — Podemos começar de novo?
— Ele tinha outra postura, falava de forma gentil e ficou
ainda mais lindo.

— Me desculpa de verdade, estava brincando com


você, uma brincadeira de mau gosto. Entendi agora que
realmente te importunei.

— Não era uma brincadeira, você ficou com raiva


porque não caí de joelhos agradecendo a Deus por um
homem como você. — Ergui as sobrancelhas
desdenhando. — Me oferecer carona. E decidiu que já
que, eu, não estava imensamente agradecida, deveria ser
não só importunada, mas desrespeitada e subjugada. Ou
que talvez eu estivesse só fazendo um joguinho difícil
para o homem rico da cidade insistir.

— Você está certa, foi exatamente isso. Fui um


babaca, mas não me orgulho disso. E obrigado por me
deixar sem graça e com vergonha. Ah! Me sentindo
realmente ridículo, um menino mimado e mal-educado.

— Que bom! — Ele olhou com ar de riso, acabei


rindo e ele também.

— Você deveria rir mais. — Falou todo sedutor.

— Acho que você não entendeu...

— Nem você. — Sorriu lindamente. — Você tem toda


razão em dizer que fui um escroto, e não serei novamente,
pode confiar, mas não está na minha lista desistir de você.
— Achei engraçado, e revirei os olhos. — Mas me conta,
você vai para onde todos os dias de manhã? — Seu tom
foi educado e empolgado, não tinha como não começar
uma conversa.

— Trabalhar.

— Você trabalha onde? Posso saber seu nome?


— Maia, e trabalho em Pouso Alegre.

— Maia... desculpa? Te deixei sozinha. — Jussara


chegou se desculpando.

— Não exatamente. — Falei para ela acenando com


a cabeça para José.

— Esse é Samuel. — Me apresentou seu


acompanhante.

— Prazer, Maia. — Samuel pegou minha mão todo


charmoso e levou aos lábios. Mas antes de beijá-la, José
puxou minha mão da dele.

— Tira a mão dela — falou com cara feia. Dei risada.


Samuel levantou as duas mãos se rendendo.

— Só queria ser gentil e educado.

— Achei que quisesse um murro. — Brincou, mas


facilmente poderia ser verdade, e me arrepiei toda.

Os dois se sentaram e a conversa foi fácil e


agradável, gosto do jeito de Jussara, estávamos
começando a nos dar bem. Já eram quase três da
madrugada quando Jussara e Samuel foram dançar.

Muitas meninas dançavam livre entre as mesas.


Rebolavam e se insinuavam.
— Não vai dançar?

— Não, mas fique à vontade.

— Que pena, adoraria te ver dançar, acho que a


mulher fica ainda mais atraente dançando.

— Não danço em bares, boates e afins. — Sorri. —


Não me sinto confortável.

— Não sei se fico feliz ou triste. — Falou como se


realmente estivesse em dúvida.

Já passava das três da madrugada quando Juliana


mandou uma mensagem dizendo que estavam passando
para me pegar e que não iriam entrar. Depois que José
disse várias vezes que me levaria para casa uma hora
antes, decidi não alertá-los que estava indo embora. Falei
que iria ao banheiro, Jussara deu uma piscada, me
surpreendia cada vez mais com ela.

Passei no caixa e dei graças a Deus que não era


Karen que estava lá.

— Oi, Nethi, fecha a minha mesa, por favor.

— Tudo?!

— Sim, por favor. — Ela hesitou, mas fechou. Paguei


tudo. Quando saí, meu irmão estava encostando o carro.
Quando entrei os dois estavam de cabelos molhados, nem
quis saber por onde eles andavam.

— Foi muito bom vir beber com vocês. — Falei já me


deitando no banco traseiro, estava morrendo de sono.

— Sem drama. — Meu irmão falou.

No dia seguinte dava aula a tarde toda, de ballet e


jazz, no teatro da cidade. Eu e Saulo estávamos
ensaiando uma apresentação que faríamos em
comemoração ao aniversário da cidade vizinha.
Ensaiávamos das 11h às 12h50 e a partir das 13h minhas
aulas começavam e iam até às 19h.

Estava atrasada e resolvi ir de carro. Estacionei o


carro na praça, já passava das 11h um pouco, peguei
minha bolsa e saí disparada para o teatro, subi as escadas
correndo e vi Saulo se alongando no palco.

— Ah! Desculpa o atraso, dormi demais. — Me


sentei no chão, coloquei minha sapatilha, já estava de top,
meia-calça e saia por cima. Com os cabelos soltos.

— Que bom que chegou, estou ansioso para mostrar


uma ideia que tive, vai dar muita sensualidade a
coreografia.

Olhei para ele animada, adoro sensualizar, colocar o


fogo que tinha para fora em forma de dança.
Alonguei bem rápido e começamos. Algumas
pessoas entravam e ficavam nos vendo ensaiar, não
podíamos fechar o teatro da cidade, o que eu gostava
muito, preciso confessar que sou exibicionista.
Trabalhei sábado até às 11h na fábrica, precisava ir
embora.

— Por que você não fica aí? Ainda tem tanta coisa
para fazer... — Olhei para Samuel pensativo. Sim, poderia
mesmo ficar, o que vou fazer na empresa segunda-feira
posso muito bem fazer daqui, mas preciso ir ver meus
filhos, pegar Celina na casa dos meus pais.

— Tenho reunião segunda-feira cedo com o chefe e


com Edmond. Preciso preparar algumas coisas. —
Expliquei para Samuel.
— Você é quem sabe, detesto pegar estrada. Que
dia volta?

— Terça ou quarta-feira.

— Vamos almoçar, preciso te passar umas coisas e


acho que vamos precisar de mais braços na
administração.

Quando estávamos saindo, encontramos Daniel, seu


pupilo, e mais dois colegas de São Paulo. A cidadezinha
funcionava em torno da praça. A fábrica ficava em um
extremo na saída para a área rural. O restaurante ficava
na praça, esquina com o teatro, a calçada larga permitia
que várias mesas ficassem do lado de fora com um toldo
sobre elas, era simples, mas uma das melhores comidas
caseiras que já comi. Gostávamos de conversarmos sobre
trabalho ali.

Eles pediram cerveja, eu, uma água, pois dali iria


direto para casa, uma caminhadinha de horas dirigindo.

Paramos de falar para prestar atenção no carro


tentando estacionar, havia pelo menos cinco vagas, uma
ao lado da outra, cada uma daria para estacionar um
ônibus, e mesmo assim a pessoa não conseguia alinhar o
carro na vaga. Mauro falou suspirando:

— É ela. — Se ajeitando na cadeira para prestar


mais atenção.
— Diz pra ela que pego o carro nas costas e coloco
na vaga se ela quiser — indagou Cosme. Olhei para ele:

— Quem é?

— Meu sonho de consumo. — Mauro falou.

— E do resto da cidade toda. — Davi respondeu.

Quando a coitada enfim conseguiu estacionar e


desceu, meu corpo todo enrijeceu. Estava de meia-calça,
saia, tênis e a barriga de fora, abriu a porta traseira,
pegou uma mochila e saiu correndo para dentro do teatro.
Que delícia, preciso arrumar tempo para pegar essa
mocinha de jeito. Olhei feio para os putos da mesa.

— Podem tirar o olho, dormiram no ponto, essa aí é


minha e ninguém tasca!

— Não! Não, não... Nem fodendo... fala sério cara,


você já conseguiu...

— Porra nenhuma! Fala sério.

Cada um falou uma merda.

— Ele está mais perto do que qualquer um já esteve.


— Samuel riu. — Ela já até pagou a bebida dele.

A filha da puta pagou toda a conta antes de sair sem


se despedir, fiquei puto, puto pra caralho. Mas não ia
deixar Samuel acabar com a minha moral assim.

— É investimento, a garota é esperta está fazendo a


parte dela.

Fui tão avacalhado na mesa, até a amiga da Maia


chegar, e Samuel a chamou para sentar conosco.

— Oi, meninos, tudo bem? — Ela era educada e não


era deslumbrada como a maioria das amiguinhas lindas e
gostosas do pessoal; eu corria delas como o diabo da
cruz, fuja de problemas. Mas aquela delícia petulantezinha
e toda independente me deixou cheio de tesão.

— Sua cunhada está aí no teatro. — Comentei como


quem não quer nada.

— Eu sei, depois vou lá gravar uns vídeos para


postar no Instagram dela. E Maia é cunhada da minha
irmã.

Precisava ir embora, pegar Celina na casa dos meus


pais e conversar com Thomas. Estava louco de tesão pela
barbeirazinha. Agora entendi porque deixa o carro em
casa, imagino o perigo que é para ela e para os outros no
volante. Vi alguns jovens e até uns mais velhos entrarem
no teatro.

— O que eles fazem lá? — Perguntei para ninguém.


Quem respondeu foi a... Ju, eu acho.
— Maia dá aula de ballet, agora está ensaiando para
uma apresentação em Cambuí, e depois as aulas
começam.

— E fica aberto?

— Sim, qualquer um pode ir ver, vamos lá, depois?


— Levantei da mesa peguei minha garrafa d'água.

— Vou lá agora, avisar que ela precisa passar aqui


depois para pagar minha conta. — Falei sério e saí,
deixando todo mundo rindo na mesa.

Quando entrei e a vi dançando com um cara...


estaquei na hora. Não estava preparado para aquilo. PUTA
QUE PARIU! Fiquei duro na hora.

Uma música da atualidade tocava alto, ela dançava


tão provocante que tenho certeza de que alguns daqueles
moleques sentados nas cadeiras da plateia estavam
batendo punheta. Mentirosa. Não danço. Ah, safadinha,
vou te colocar para dançar bem gostoso no meu pau, você
não perde por esperar. Aquela carinha doce, inocente...
Olhava para ela imaginando tudo que faria quando
pegasse-a de jeito. Quando de repente, ela se virou e me
viu. Me encarou e de uma forma ainda mais sensual,
dançou, se insinuando deliberadamente, me deixando
louco.
Precisava sair dali o mais rápido possível ou não
voltaria para São Paulo.

Foram horas de viagem pensando em cada detalhe


daquele corpo. Em cada coisa que faria com ela. Ela não
perde por esperar.

Dei graças a Deus que Thomas ainda estava na casa


dos meus pais com Celina quando cheguei, jantamos e
fomos para casa. Mal saímos com o carro do
estacionamento, Celina já estava dormindo.

— Você está com a aparência melhor, filho. Quer


conversar sobre o que aconteceu no fim de semana
passado?

— Não aconteceu nada, pai. — Parei no farol e olhei


para ele mostrando que não acreditava.

— É que a mãe às vezes me deixa louco. — Não


queria desencorajá-lo.

— Em que sentido?

— Todos. — Foi curto e grosso.

Estava pensando em como continuar o assunto, mas


não queria que fosse com perguntas.

— Sei bem como é isso.


— Não, você não sabe não! Celina chorou a tarde
toda. — Falou rápido mudando de assunto. Pensei em não
responder e questioná-lo sobre o assunto anterior. Mas
deixei para outro momento.

— Por que?

— Não queria ir embora, queria ficar com a vovó e o


vovô. Em um determinado momento, a vó foi para o
quarto da Celina e depois que saiu vi que estava com os
olhos vermelhos.

— Quero conversar com você sobre isso, filho. —


Titubeei.

— Pode falar, não sou criança.

— Sei que não é. Estava decidido a me separar da


sua mãe, mas ela, pela primeira vez disse que vai mudar,
que agirá diferente... Vou dar esse tempo, vou exigir que
ela trate Celina melhor, dê um pouco mais de atenção para
ela.

Ele virou para os prédios que passavam na Avenida


Nove de Julho, falou baixo e pensativo:

— Duvido.

— Vou dar um voto de confiança, o último, pode ter


certeza.
Coloquei Celina no quarto, Thomas se recolheu sem
dar a menor atenção para a mãe, fiquei olhando para ela
que olhava para ele esperando pelo menos um “boa noite”
que não veio, achei que fosse atrás, cobrar, brigar, mas
veio até a mim e me beijou.

— O que aconteceu que ele está chateado com


você?

— Não aconteceu nada, acho que ele queria ter ido


para a fazenda, não deveria tê-lo convencido de ficar
comigo.

— Obrigado e chantageado? — Falei, indo para o


meu quarto, arranquei minha roupa fui direto para o
banheiro.

Quando entrei embaixo do edredom, Leila estava


nua me esperando. Cada estocada que dava, pensava no
que faria com aquela petulante quando fosse ela ali
embaixo de mim, recebendo meu pau todo dentro dela.
Vou mostrar para aquela gostosa onde vou enfiar sua
petulância.

Dormi pensando naquela pirracenta gostosa, em


como dançava e se insinuava para mim, Leila não aplacou
em nada meu desejo por aquela garota. Meu tesão pela
manhã era sempre maior, e acordar com Leila quentinha e
pelada foi um alívio.
Almoçamos juntos no domingo, Thomas não saiu do
telefone e Leila até que estava bem atenciosa com Celina,
mesmo tendo ficado com raiva por eu ter dispensado a
babá.

As coisas na Dantas Dellatorres se complicaram e


eu não conseguia sair da empresa, Otávio tinha surtado,
estava na merda, me ligava em cima da hora para eu
participar de reuniões em seu lugar, quase não ia para
empresa.

Meu telefone tocou às 6h20 da manhã, era Edmond,


de Londres, estava esperando documentos importantes.
Otávio ficara de enviar, pois precisava de autorizações
para alguns lances, mas Otávio não o atendia. Daniela sua
secretária pediu para que ele tentasse falar comigo. Fiquei
puto, peguei o celular enquanto esperava as crianças e
liguei para Otávio:

— Que porra Edmond quer?

— Não vou falar com Edmond agora, José, se puder


resolver bem, se não, foda-se.

Suspirei fundo, pensei no meu amigo que sempre


tinha tudo sobre controle, nunca perdia a compostura e
sempre foi extremamente responsável, nunca deixaria um
trabalho pendente por bobagens. Nunca imaginei o cara
mais bem resolvido, literalmente de quatro por uma
pirralha, como ele mesmo diz.
— Fica tranquilo, vou resolver.

Fiquei tão atarefado que já era quarta-feira e não


havia conseguido voltar para Careaçu, não conseguia tirar
a imagem da Maia dançando da cabeça.

Leila estava diferente, não estava sobrecarregando


Thomas, dava uma atenção para Celina que eu não
gostava, mas era melhor que nada.

A levava para o salão, faziam penteados nos


cabelos, passavam maquiagens e faziam as unhas, e por
isso Celina não podia correr, pular, brincar para não suar e
estragar tudo, começou a implicar com a comida da
criança, controlando calorias. Mas Celina ficava
maravilhada com a atenção que estava ganhando. E isso
para mim era o que importava.

Thomas cabulou aula, mas me jurou que não fez


nada de errado, só estava de saco cheio.

Estava visivelmente chateado com a mãe, mas de


jeito nenhum quis revelar nada.

Transei com Leila com a dançarina na cabeça todos


os dias, e mesmo já sendo quase fim da semana,
aproveitei a calmaria em casa e adiantei minha ida para o
interior. Passaria o fim de semana lá e a mocinha não me
escaparia.
Não a vi caminhando na sexta-feira.

— Por que não vão para a choperia? — Perguntei,


indignado para o Samuel, não queria ir para Pouso Alegre,
queria encontrar a bailarina.

— Vamos fazer um esquenta na choperia.

— Encontro vocês lá. — E com sorte, a minha presa.


— Maia, você vai comemorar o aniversário da
Jessica na boate hoje? — Charles perguntou enquanto me
agarrava pela cintura, estava louca para ir e ficar com ele.
Mas meus pais e suas chatices vão falar tanto, arrumar
tantos problemas por ser em Pouso Alegre, que para não
brigar, desisto.

— Não. Mas não fala nada para ela, tá? Vou mandar
uma mensagem depois explicando.

— Hmm... que pena...


— Ah é, por quê? — Cheguei mais perto, me
insinuando e o encorajando. Ele sussurrou no meu ouvido.

— Segredo...

Fiquei muito tentada a ir, cheguei em casa no meio


da tarde e já fui direto falar com a Juliana. Ela nem
pensou duas vezes.

— Estou louca para ir em um restaurante lá, vou


pedir para o seu irmão me levar, aí a gente dá uma
esticada e te pegamos depois.

— Ah! — falei desanimada. — Para jantar é muito


cedo. O pessoal combinou às 22h.

— Você janta com a gente, e depois te deixamos lá e


vamos para um hotel.

— Ah... deixa pra lá. Não vou servir de vela, e além


do mais, depois vocês irão querer dormir por lá e ainda
vão ter que me pegar. Danilo vai amar muito tudo isso. —
Revirei os olhos.

— Porque então você não se programa, vai sozinha,


na hora que quiser, quando estivermos voltando te ligo e
te pego onde você tiver. Pode falar para o meu sogro que
vamos te pegar. No meu gostoso mando eu, se estou
dizendo que vamos te buscar é porque vamos. — Piscou
para mim.
— Quando eu crescer, quero ser igual a você.

Danilo demorou para chegar, a janta atrasou,


demoraram tanto para sair de casa que acabei pegando
carona para ir com eles mesmo, saímos já passava das
22h.

— Não temos horário para voltar, tudo bem Maia? —


Meu irmão perguntou, era o mais normal de todos, menos
ciumento, só dizia sempre para eu me dar o devido valor e
me respeitar, mas era tranquilo. A não ser que tivesse um
motivo, daí acionava rapidinho o irmão briguento. Marcos
e Leonardo, os dois mais velhos, me tratavam como se
tivesse doze anos e todos os homens fossem me atacar.
Eles eram bem chatos. Leonardo estava morando no
Canadá, o mais velho e ciumento de todos.

— Problema nenhum, dormi a tarde toda, quero


aproveitar a noite, estou precisando arrumar um
namorado.

— Toda saidinha... Já falei, homem não respeita


mulher que não se dá valor. Aproveita, mas se cuida.

— Tá bom, pai.

— Fica provocando que entro na boate e mando


anunciar seu nome no alto-falante dizendo que seu pai
está na porta com uma cinta.
— Tem poucos meses que comecei a ter vida social
e você já quer acabar com ela?

— Amor, por que chegou tão tarde? — Minha


cunhada que estava vestida para matar, com um vestido
decotado vermelho, um salto altíssimo, perguntou.

— Ah, meu amor, problemas com carga, caminhões


atrasados, prejuízo. Nem quero falar disso, quero que me
faça esquecer do dia de hoje...

— Eu ainda estou aqui.

— Verdade, vou te deixar no próximo ponto. —


Brincou.

Estava ansiosa para encontrar o Charles gostoso.

— Não mandei mensagem para Jessica já que


estava indo, e já eram quase meia-noite quando Danilo
me deixou na porta da boate.

Da entrada, vi Jessica e Cláudia, e quando Jessica


me viu fez a maior festa. Cumprimentei todo mundo e me
sentei. A área vip era perfeita. Adorava essa boate.

— Charles disse que você não vinha, já estava


planejando a sua morte.

— Estou bem aqui. E cadê ele? — Ela fez uma


careta.
— Hum, ele está... hã... sabe a irmã da Biazinha que
não sai lá do estúdio? Então... Ela veio, mas olha Maia,
ela que tomou a frente, pegou ele de jeito. — Ela olhou na
direção que eles estavam e os vi em um beijo de novela.
Quando se separaram, ele me viu. Ficou meio sem graça,
ela o abraçou novamente, virei de costas senti tanta raiva.
Filho da puta. Ainda bem que eles demoraram para vir
para mesa, deu tempo para o sangue esfriar.

— Oi, Maia. — Ele veio me cumprimentar e ela veio


atrás, todo mundo sabia que estávamos nos paquerando,
inclusive ela que não saía de lá da lanchonete, sempre
nos via juntos. Ela veio rindo, fazendo uma brincadeira,
mas virei o rosto. E nem os cumprimentei direito, só
meneei a cabeça. Não ia disfarçar que estava com raiva.
Raiva não, ódio. Peguei uma bebida e me sentei, Jessica
ficou um pouco ali comigo, mas as músicas estavam
ótimas e resolveram ir dançar. Não costumava dançar em
boates. Também não costumava sair para boates.

Antes de namorar com Carlos eu era nova demais,


diziam meus pais e irmãos, mas também nem vontade de
ir eu tinha, depois que começamos a namorar saía pouco
com ele, que estudava fora e ficava muito tempo em São
Paulo. Mas já comecei a gostar dos bares e boates.

Olhava aquela boate vendo Charles, o banana, e a


biscatinha desocupada dançando, sassaricando pelo
salão, o arrependimento de ter vindo me esganava.
— Que bom encontrar alguém para pagar minha
conta. — A voz grossa dele no meu ouvido, aliado aquele
cheiro maravilhoso, me arrepiou do dedão do pé ao último
fio de cabelo, não me mexi, o susto fez meu coração
disparar e pensei que fosse sair pela boca. Quando ele
apareceu na minha frente todo lindo e confiante, achei que
fosse ter um treco. Continuei muda. Enquanto ele se
sentava do outro lado da mesa.

— Hum, a noite não está das melhores?

— Oi, que bom que você percebeu! — Ele colocou


uma caipirinha de morando na minha frente. Só então
percebi que estava com dois copos nas mãos. O dele era
uísque, com certeza.

— Espero que não seja o mais caro. — Apontei para


o copo dele, que me olhou sem saber do que se tratava. —
Seu uísque. Meu salário de professora e minha mesada
têm que ir até o fim do mês.

— Hum... Me perdoa, acho que esse aqui é o melhor


que eles têm na casa. Espero que seu cartão tenha limite.
A propósito: você está linda.

— Obrigada, você também. — Ele olhou para as


pessoas dançando na pista:

— Não se pode mais confiar nas pessoas, não é


mesmo, senhorita não sei dançar?
— Nunca falei isso. Disse que não dançava em
boates e afins.

— Seria perigoso, mesmo.

— Sem essa...

— É verdade. — Ele me encarou sério, segurou a


minha mão. — Você é linda, Maia, parece um anjo, mas
dançando... puta que pariu, é um demônio, um tesão.
Deixa qualquer homem louco. Vamos para um lugar mais
tranquilo, acredito que não vá perder nada. Quero você,
Maia. Vamos sair daqui?

Fiquei olhando para ele bem séria. Realmente queria


alguém determinado, mas não um forasteiro, piorou
alguém que acha que é só sorrir, ser gentil, trocar duas ou
três frases mais respeitosas que a bobinha vai cair de
amores e de joelhos.

— José, né? Olha, a gente já começou mal lá atrás.


Por que não nos faz um favor e vá pastar? Você acha que
sou o quê? Vamos para um lugar mais tranquilo? Acha
que só porque estou aqui sozinha de bode vou me abrir
toda pra você ou para qualquer um? Não sei que tipo de
pessoa que você está acostumado, mas eu não sou esse
tipo.

Ele me olhava com o maxilar travado, se controlando


para não explodir, ia me encarar até se acalmar e tentar
ser todo educado de novo, ou talvez se levantar e sair.

— Maia, olha bem para mim. Vou falar mais uma


vez. Eu quero você! Quero te beijar, quero te tocar, te
sentir, você não saiu da minha cabeça por nenhum minuto
essa semana, e não vou desistir. Já entendi que você não
é fútil, que não está na pista para negócio, agora é você
que tem que entender que não vou desistir. — Não falei
nada, mas senti meu rosto queimar. É exatamente isso
que espero de um homem, atitude. Mas um que eu tenha
um futuro, que possa namorar, casar e ter filhos. Não um
que vá me desvirginar e ir embora sem olhar para trás,
porque com certeza, não aguentaria por muito tempo com
aquela voz e determinação.

Cláudia chegou com mais duas colegas, e se jogou


nas cadeiras vazias na mesa.

— Oi, falaram todas arreganhadas para José, que foi


apenas educado em responder, sem nem sorrir. Cláudia
ficou com raiva, certeza que pela indiferença dele.

— Você deveria ir ficar com Charles, ele está


desesperado porque você viu a doidinha agarrando ele.
Vocês dois já estavam praticamente namorando, ele fez
aquilo para te provocar. Larga de ser besta, se eu fosse
você, ia lá e mostrava quem manda. Você sabe que é a
dona da porra toda.
Meu olhar de ódio e fúria, não inibiu a tagarelice da
Cláudia, que fez para o José entender que eu estava em
outra e sair. Ele me olhava fixamente, senti raiva dele,
dela, de mim e ao mesmo tempo tive uma ideia, além da
vontade.

— Cláudia, estou muito bem acompanhada, quero


que aquele banana vá catar coquinho na ladeira, para não
dizer um palavrão.

Jessica estava atrás de mim neste momento e não


perdeu tempo:

— Banana mesmo. Ai meu Deus! Olha quem está


chegando.

Virei para a porta e dei de cara com Marília.


Sozinha.

— Que maravilha! Que honra, você veio!

Marília se sentou, apresentei José a todas elas.


Marília também olhou admirada. José era o tipo de homem
com H maiúsculo. Charmoso, bonito, sexy, sabia o poder
que tinha e o que causava nas mulheres, mas o que mais
gostei dele é que era focado, ele me tinha como alvo. Era
educado, mas não deixava margem para gracinhas com
nenhuma outra, nem comigo, na realidade. Me dava
atenção, me olhava nos olhos, demonstrando todo seu
interesse, mas sem brincadeiras bobas e infantis.
Quando a mesa encheu, José trocou de lugar e
sentou ao meu lado. Muito perto. A esta altura ele havia
mandando descer uma garrafa de uísque, uma torre de
chope, e outra caipirinha para mim. E quando queria falar
alguma coisa, falava bem no meu ouvido, sempre
passando a mão pelo meu ombro me apertando contra seu
corpo.

— Antes de fugir, não esquece de pagar a conta.

— Não fugi, fui ao banheiro e meu irmão me mandou


mensagem bem na hora dizendo que estava me esperando
na porta.

Ele chegava muito perto enquanto eu falava, olhando


para meus lábios tão intensamente que precisava me
concentrar para não esquecer o que estava falando.

— E isso te impediu de ir dizer tchau?

— Talvez eu tenha fugido. Mas hoje não vou pagar a


sua conta, você está gastando de propósito. Vou pagar a
minha parte.

— A sua parte? Ele falou e mordeu o lóbulo da


minha orelha. Você precisa me dizer qual é a sua parte.
Vem, vamos até ali comigo? — Ele segurou a minha mão.

— Aonde?
— Ali em cima, — olhou para os camarotes. —
Estava lá com o pessoal quando te vi aqui. É rápido, a
hora que quiser voltar te trago. Olhei para o idiota do
Charles no outro lado conversando. Dei a mão para José:

— Já volto. — Falei para Marília e para Jessica.

— Maia, não vai embora antes de falar comigo.

— Não vou não, já, já estarei aqui.

José não soltou da minha mão. E quando passamos


perto de uma das pistas de dança que estava cheia me
colou na frente do seu corpo me fazendo suspirar.

Assim que terminamos de subir as escadas,


encostou-me na parede do grande hall, ele me
descompassava, sentia meu corpo ferver, minha
respiração erradicar, fiquei parada encarando sua boca,
esperando seu próximo passo. Seus movimentos eram
calmos, sem pressa, senti sua pegada firme na minha
cintura, cheirou e beijou meu pescoço com volúpia,
deixando-me ainda mais fogosa, com mais dificuldade
para respirar e muito desejo. Mordiscou minha pele,
lambeu, mordeu o lóbulo da minha orelha.

— Como eu quis isso, sentir seu cheiro, te tocar.

Ele colocou a mão na minha cintura por baixo da


blusa, me encostou ainda mais na parede. Seus lábios
carnudos e quentes tocaram os meus com propriedade,
enfiando os dedos nos cabelos da minha nuca, enfiando a
língua na minha boca, sugando tudo de mim com gula, me
invadiu, enquanto suas mãos passeavam por minhas
costas, seu toque era exigente, quente, sua boca mais
ainda. O melhor beijo que já tive, estava me deixando
completamente descontrolada. Enfiei as mãos por baixo da
sua camisa e senti sua pele, seus pelos, passei a unhas
com delicadeza por suas costas, ele gemeu na minha
boca, me puxando contra sua ereção, e foi a minha vez de
gemer. Só quando o movimento aumentou muito por ali
que ele se afastou, me senti abandonada. Estávamos
ofegantes, colou sua testa na minha, fez menção de falar,
mas desistiu, balançando a cabeça negativamente.

— Não deveria. — Fiquei chateada e me afastei do


seu corpo quente, gostoso e duro, dando um passo para o
lado.

— Não parecia estar tão ruim. — Fui rude. Mal


terminei de falar, ele me puxou com força, enlaçando com
um braço pela cintura, quase me fundindo a ele, com a
outra mão apoiando minha cabeça, invadindo meus lábios,
sua língua, suas mãos, seu corpo todo trabalhavam em
total sintonia para me desequilibrar e me tirar de órbita,
esse, com certeza, era o melhor beijo da minha vida.

Ouvi algumas risadinhas e com muito sacrifício


levantei as mãos e coloquei em seu peito, dando um leve
empurrão. Ele afastou a boca, depois o corpo e com muito
sacrifício, as mãos de mim. Ajeitou-se e em seguida
arrumou os meus cabelos com delicadeza. Deu-me um
selinho e levou-me para um dos camarotes que tinha ali.
Estava Samuel, Davi, mais um homem que eu conhecia, e
dois que nunca tinha visto. Cumprimentei todos com
educação. Mas todos me chamaram pelo nome. Mesmo
José não me apresentando a ninguém.

— E Jussara, Maia, não está por aí?

— Não. Não falei com ela por esses dias.

— O que quer beber, Maia? — Um dos colegas de


José que eu não conhecia perguntou, apontando para a
mesa no centro com várias bebidas diferentes. José olhou
rápido e sério para ele.

— Ela não quer beber nada que seja da sua conta,


Tom. — O homem, só ergueu uma das mãos em sinal de
paz todo sem graça.
— Vou pedir uma caipirinha para você.

— Não quero, quero uma água com gás, já bebi


demais. — José me encostou em seu corpo e beijou o meu
pescoço ao dizer:

— Assim eu me apaixono, meu amor.

— O que viemos fazer aqui em cima?

— Só precisava te beijar, já vou te tirar daqui


também, vamos embora?
— Já, já, vou mesmo, estou esperando meu irmão vir
me buscar.

— Maia... não. Não liga pra ele, diz que não precisa
vir, que não vai. De forma alguma vou te deixar fugir de
mim hoje.

Estava encostada no balaústre de vidro, vendo o


pessoal lá embaixo, José encostado em mim, com a mão
firme na minha cintura.

— Nunca fugi de você. — Falei olhando para o


banana do Charles conversando na mesa com o pessoal, e
agradeci mentalmente por ele ter ficado com a aquela
oferecida.

— Perdeu alguma coisa lá embaixo? Quer que seu


namoradinho te veja aqui comigo, fazer o que ele fez com
você, ciúme? — José falou sério, irritado, e se afastou de
mim. O camarote era grande o suficiente para ninguém
ouvir, mas não gostei do tom, ele não é nada meu, e se
acha que Charles é meu namoradinho e estou ali com ele
é porque sou uma bela de uma vadia. Olhei incrédula para
ele e saí. Sem dar tchau e nem disfarçar minha irritação.

Antes que chegasse na escada duas mãos fortes


enlaçaram minha cintura.

— Ooou! Pode parando por aí. Não falei nenhum


absurdo. Quando cheguei estava toda murcha e sua
amiguinha mal-educada foi bem explicativa.

— Não? Então acha que teria um namorado e ficaria


me agarrando com outro como uma puta?

— Ei... claro que não... não coloca palavras na


minha boca.

— Me solta, José. Agora é a minha vez de dizer: não


deveria. Não sou o que você está pensando, em nenhum
sentido. Não tenho namoradinhos, não passo noites com
homens. Você não vai encontrar em mim o que está
procurando. E mesmo que fosse verdade o que disse, não
tem o direito de me julgar, nem cobrar nada.

— Eu sei... — suspirou baixo, com as mãos na


cintura. — Sei que não tenho direito, o problema é que
quero ter. — Segurou a minha mão e descemos, queria me
levar para saída.

— José?

— Vamos só pegar um pouco de ar, sair dessa


muvuca.

— Preciso falar com a Marília. Só vou ver o que ela


quer comigo. — José não me soltou, estava gostando da
atenção que ele me dava, gostando bastante, para dizer a
verdade. Assim que Marília me viu, me chamou para ir ao
banheiro com ela.
Mal fechamos a porta ela parou, colocou as duas
mãos no rosto, sussurrou várias coisas que não entendi,
fiquei olhando achando engraçado.

— O que quero não tem nada de engraçado, e Maia,


já vim aqui com essa intenção, não é porque bebi um
pouco mais que vou te pedir isso, já estava pensando no
dia que conversamos. Decidi não voltar com Rodolfo e
continuar com a vida de merda que levava casada.

— Vocês não se acertaram? Não foi para o estúdio,


achei que...

— Não, e não vou voltar com ele, eu anulei tudo,


toda merda da minha vida, por ser uma medrosa, uma
idiota. Maia, para de falar, não posso perder a coragem.

— Tá, então fala logo. — Estava curiosa e queria


ficar com José um pouco mais antes do meu irmão vir me
pegar.

— Maia ele pode querer me matar se souber que vou


te envolver, mesmo que não entre em detalhe.

— Marília, pelo amor de Deus, fala logo.

— Preciso no número do celular do Leonardo.

— De quem?

— Do seu irmão, Leonardo. Você sabe quem é, né?


— Mas pra quê? Não entendi. Ele nem aqui.... noooo
Brasil.... taaa... — Fui diminuindo a minha voz, pensando
em cada palavra que Marília me disse. — Marília, você e
meu irmão?

— Maia, você vai me dar o número?

— Marília, não posso fazer isso sem perguntar para


ele. Nossa!

— Maia, por favor, não digo que foi você que falou.

— Marília, olha, você já bebeu, eu já bebi, me deixa


pensar um pouco. Depois a gente conversa. Vou pensar
com carinho. Vem, vamos.

— Está tudo bem, Maia? — José perguntou assim


que saí do banheiro.

— Acho que sim, só estávamos conversando. —


Saímos da boate e assim que chegamos na calçada, falei:

— José, tem uma lanchonete aqui na esquina que o


pessoal costuma ir comer, é tipo um ponto de encontro.
Vamos ficar lá, não vou sair daqui com você para lugar
nenhum. — Ele ficou me olhando, sem palavras eu acho.
— Quer entrar, ir encontrar com seus colegas?

— Só preciso pegar uma coisa no carro, vamos lá.


Nem o carro ele abriu, me encostou na porta e me
atacou. Eu já esperava por isso, digamos que até ansiosa.
José era exigente, me pegava com vontade, esfregava sua
ereção sem pudor no meio das minhas pernas. Me beijava
com gana. Suas mãos subiram por baixo da minha blusa, e
quando seguraram meus seios, voltei para realidade.

— Não. — Tirei suas mãos de mim, dei um passo


para o lado. — Nossa! Estamos no meio do
estacionamento. Pega o que ia pegar e vamos.

— Vem, vamos de carro, de lá já vou embora.

— Mas é na esquina... — Ele me pegou pela mão


deu a volta no carro, abriu a porta e me fez entrar. Assim
que entrou me puxou e me beijou, um beijo mais calmo,
mas me deu um fogo e fui de qualquer jeito para o seu
colo, ele tratou de me arrumar bem encaixada nele, me
esfregava nele fazendo o fogo aumentar mesmo de calça
jeans, tanto ele quanto eu.

— Ah, Maia, assim vou te comer aqui dentro, melhor


a gente sair daqui.

Saí do seu colo, não ia transar com ele ali, disso


tinha certeza, mas precisava de um pouco de compostura.

— Vamos para a lanchonete, estou com fome.


— Também estou com fome, e só você vai resolver o
meu problema.

— Para com isso, José, você me deixa sem graça.

— Quero te deixar sem roupa, toda suada, e você


não ficará sem graça de forma alguma.

— Você é muito safado, mas pode tirar o seu cavalo


da chuva, não vou para cama com você.

— Gosto muito do conforto de uma cama, confesso,


mas não tenho problema nenhum em te foder aqui no
carro.

— Para de gracinha e vamos. — Ele deixou o carro


estacionado na porta da lanchonete, quando entramos
passava um pouco das 3h, pedi um chocolate quente. José
não comeu, nem bebeu nada. — Me fala mais sobre você.
Está morando aqui?

— Não, estamos organizando cada setor da empresa


e montando uma equipe competente para assumir a
fábrica, depois disso conseguimos acompanhar tudo de
longe, sendo essencial minha presença esporadicamente.

— Hum... — Fiquei bem arrasada com a notícia, não


podia me enganar e cair na maior furada, me apaixonar, o
que era muito fácil, e ser largada, o que era uma certeza,
não podia me deixar ser usada e jogada fora. Ele
percebeu que não gostei do que disse.

— Maia... o importante é viver o momento, podemos


aproveitar muito, o trabalho aqui vai durar cerca de um
ano, ficarei dois, três dias por semana e estarei aqui pelo
menos uma semana por mês depois disso.

Ele nem ficará o tempo todo, meu Deus, que merda.

— Sabe, José? Não sou assim. E não quero ficar


assim, e mesmo se quisesse, minha família não permitiria.
Sei que quando a gente quer sempre se dá um jeito para
aprontar, tem muitas meninas aqui que os pais são
carrascos, machistas, controladores e ainda assim,
aparecem grávidas, pulam a janela de casa para sair. Mas
não é o meu caso, meus pais são bons, meus irmãos são
meio ciumentos, mas são irmãos perfeitos. Quero ser
respeitada, como minha mãe é pelo meu pai, como minhas
cunhadas são pelos meus irmãos. — José me olhava sem
nem piscar. — Desapontado, né? Ou mais obstinado? —
Ele permaneceu me olhando, sem piscar, parecia que não
estava ali.

— Nem uma coisa nem outra, estou admirado, por


sua sinceridade, por sua determinação, por saber
exatamente quem é e o que quer. — Sorri pela forma
gentil que falou. — Quantos anos você tem?

— Vinte. E você?
— Trinta e cinco.

— Uauu! Nem parece. José? — Perguntei intrigada.


— Você nunca quis casar? — Fiz a pergunta da melhor
forma que consegui.

— Querer não é a palavra. — Riu. — Casei-me muito


novo. Com a sua idade. A garota que eu ficava na época,
engravidou.

Devo ter ficado pálida. Senti meu sangue todo fugir,


gelar, não sei. Meus olhos encheram de lágrimas,
empurrei a cadeira para trás sentindo minhas mãos
trêmulas. Tudo, menos homem casado. Aí era demais para
mim. Deus me livre!

Antes que conseguisse levantar ele puxou minhas


duas mãos.

— Senta, não precisa ficar assim.

— Como assim?! Você é louco? Não. Pior, você é


casado! Me solta, tira essa mão de mim. — Estava muito
nervosa, mas mantinha minha voz baixa.

— Vou resumir para você não ficar assustada, tenho


dois filhos e meu casamento acabou há muito tempo, acho
que nunca começou.

— Como nunca começou se você tem dois filhos.


— Maia, não precisa exatamente se casar para ter
filhos. Mas sempre foi conturbado. Nunca fui apaixonado
por ela, nem ela por mim. — Se apressou em dizer. — Não
vamos falar sobre isso. Me fala sobre você agora.

— Não, não mesmo, vamos sim, falar sobre você. —


Ele levantou a sobrancelha e na hora me arrependi, não
tinha nenhum direito de cobrar nada dele. — Só preciso
saber se seu casamento realmente acabou.

— Sim, como falei, há muito tempo.

Ele veio mais para perto e me beijou, estávamos


sentados em uma área bem reservada e a lanchonete
ainda estava vazia, só depois das cinco que começava a
encher e não eram nem quatro horas ainda, só uma ou
outra pessoa entrava.

Cheirou meu pescoço, mordeu meu lábio inferior.

— Me conta tudo, quero saber tudo sobre essa


mocinha.

— Nunca fui casada e espero nunca na minha vida


ter que dizer essa frase.

— Qual? Não quer se casar?

— Casar eu quero, e muito, o que não quero é me


separar. Dizer: já fui casada, não sou mais.
— Ok, nunca foi casada, o que mais?

— Não tenho filhos. — Ri. — Ah! Não sei, minha vida


é bem normal, nada para falar.

Ele não me deixava falar uma frase completa, me


beijando, mordendo, chupando, lambendo. Era
simplesmente uma delícia só ficar ali recebendo toda
atenção que José me dedicava.

— Você é uma delícia, Maia, olha para mim.

— Então, me dê espaço para isso. — Brinquei.

— Vamos embora, te deixo em casa, ou posso te


levar para onde quiser, do que você tem medo?

— De você, ou de mim. De nós dois juntos, sei lá. —


Ele riu e me puxou pela cintura, eliminando qualquer
espaço entre a gente.

— Você vai acabar comigo. — Entre um beijo e


outro José falava absurdos no meu ouvido. — Estou
perdendo o controle Maia. — José atacou minha boca, me
apertando em seus braços, também estava perdendo o
controle, sentia minha calcinha toda molhada, coloquei as
mãos por dentro da sua camisa, sentindo sua pele quente,
unhando suas costas enquanto ele devorava a minha
boca.
— Atrapalho?! — Me afastei rápido de José,
sentando direito na cadeira.

— Danilo? Oi... é, você não ia... me ligar?...

— De forma alguma, sou José. — José respondeu


sua pergunta, cortando a minha gagueira, graças a Deus.
Estendeu a mão para o meu irmão que pensou mais de
dez vezes antes de cumprimentá-lo com ar de soberba.
Juliana estava com os olhos arregalados. Isso não era um
bom sinal.

— Paramos aqui para comer alguma coisa e íamos


te ligar. — Minha cunhada falou. Meu irmão estava me
encarando fixamente.

— Também viemos pegar um ar e comer alguma


coisa. — Falei apressada.

— Já que não teremos que te esperar, vamos


embora. Te espero no carro. — Ele pegou a mão da minha
cunhada e saíram.

— Tudo bem? — José perguntou passando a mão


pelo meu rosto.

— Hum, acho que sim. Acho que não deveríamos


ficar nos atacando assim aqui, é chato, olha as pessoas
olhando.
— Não me importo com as pessoas olhando, mas
poderíamos ter ido para um lugar melhor.

— Preciso ir, José.

— Calma, me dá o número do seu celular. — Ele


anotou, levantou e me deu a mão, fomos até o caixa ele
pagou meus dois chocolates quentes e não largou a minha
mão. O carro do meu irmão estava parado atrás do seu.
Ele abriu a porta de trás para mim, e me deu um selinho
antes que eu entrasse.

— Bom retorno para vocês. — Falou para meu irmão,


que não respondeu.

Deitei no banco, e senti um aperto no peito por


saber que ele voltaria para a boate e talvez, quase
certeza, não terminaria a noite sozinho, do jeito que ele
estava excitado levaria qualquer uma para cama. Sentei
novamente.

— Você precisava ser tão mal-educado?

— Educação é ficar se esfregando em uma


lanchonete, no meio de todo mundo? Ridículo.

— Melhor do que na rua, ou dentro do carro. — Ele


me olhou com raiva pelo retrovisor. Deitei novamente e fui
cochilando até chegar em casa.
Acordei às dez horas, mal consegui comer e já saí
correndo.

— Mãe, vou de carro. Estou atrasada.

— Maia, se quiser eu te levo. — Juliana gritou de


algum lugar.

— Então vamos agora, que estou atrasada. —


Detestava dirigir, além de dirigir muito mal.

— Menina do céu, que gato era aquele e que beijo,


vocês dois estavam literalmente se devorando.

— Nem fala, menina, ele é tudo que eu sonhei,


mas...

— Mas?

— Ele nem aqui mora, é separado, tem dois filhos,


além de ser quinze anos mais velho. O pior é que já estou
apaixonada... — brinquei. — Danilo falou alguma coisa?

— Não, você viu que ele veio atrás de nós até aqui
na cidade? — Virei rápido para ela.

— Não, não vi. Ai... Ju, ele é tão, ai... tão, tão tudo!
Por que tinha que morar tão longe?

— Acho que esse não é o pior dos problemas, sabe


como seu pai é com esse negócio de gente separada. —
Me afundei no banco do carro, suspirando pesadamente.

— Vou ficar bem longe dele, porque se não me


apaixono de verdade e você sabe bem o que esses caras
querem.

— Nossa! Mudando de assunto, amei seu vídeo novo


no insta. Uauuu, o que é aquilo, hein? Maia, mas vou te
falar uma coisa, você tem dupla personalidade, só pode!!
Até parece que tem uma irmã gêmea, tipo Ruth e Raquel
— gargalhou —, umas aí de uma novela que minha mãe
assistia, no caso, aquela do vídeo é a Raquel, a irmã do
mal. Os vídeos são muito... muito ousados, se seu pai vê,
ele cai durinho.

— Nem brinca com isso. Nem sei como começou,


mas já viu o tanto de seguidores que dá? Morro de
vergonha, sabia?

— Então, para.

— Vou parar, não com os vídeos de dança, mas vou


postar uns menos vulgares, mais parecidos comigo.

— Maia, você está se superando, menina. Quem te


viu quem te vê, toda quietinha, foi só terminar com Carlos
que colocou as manguinhas para fora. Está bem
ousadinha!!
— Não, quando comecei fazer os vídeos ainda
estávamos namorando, ele que filmava pra mim. E falando
de Carlos, preciso arrumar um namorado, urgente.

— Ai, ai dona Maia, não vai fazer bobagem, está se


coçando, né? — Nós duas caímos na gargalhada. — Olha,
não sou ninguém para dar conselhos, mas tome cuidado.
Só não vai se iludir, sabe que tem um monte de homem
que aparece por aqui todo sedutor, come geral e ainda
deixa umas de barriga cheia, o coração em pedaços, vai
embora e nunca mais volta. Você não merece passar por
uma coisa dessas, sempre foi obediente, respeitadora, é
uma menina de ouro, não merece sofrer.

— Por isso vou ficar longe dele, e por isso preciso


de um namorado.

— E o Carlos, não tem mais chance?

— Nem se fosse o último homem da Terra.

— E o professor do estúdio?

— Já era.

— Você acha que o bonitão vai te procurar de novo?

— Tomara, ou vou me sentir uma merda. Não,


tomara que não. Acho que não, ele estava afim de chegar
nos finalmente, e depois de toda educação do seu marido,
ele deve querer distância de mim. Pegou meu número e
nem me ligou. Deveria ficar aliviada.

— Prontinho! Princesa entregue! Vou para a minha


mãe, não sei que horas vou embora, quando sair avisa, de
repente estou aqui ainda, aí te levo.

— A Jussara vai vir pra gente gravar uns vídeos para


o meu Instagram, quero dar uma enrolada aqui na cidade
antes de ir embora.

Olhei infinitas vezes para o celular, e mais vezes


ainda para a porta do teatro enquanto ensaiava com
Saulo. Um tempinho depois, Jussara chegou, gravamos
uns vídeos maravilhosos para postar, Saulo participou de
alguns deles, estava tudo ótimo, mas a sensação de
agonia que sentia no peito era algo novo, não conseguia
parar de pensar nele. Será que é possível alguém se
apaixonar assim, de um segundo para o outro?
Jussara foi embora antes das aulas de ballet
começarem e voltou depois que acabaram.

— O que vai fazer hoje? Queria dar uma enrolada


aqui na cidade, mas não tem nada para fazer.

— Não mesmo. Vamos lá pra casa, podemos ir para


a choperia mais tarde.

— Não, preciso ir para casa, já saí ontem. —


Coloquei minha mochila no ombro e fomos juntas para rua.
— Nem sei como vou pra casa ainda, a Ju ainda está na
sua casa?

— Acho que está sim.

Pisei no degrau e vi o carro do José parado na


frente do teatro, senti um frio na minha barriga, me
arrepiei toda e o coração disparou.

Quando chegamos na calçada e ele saiu do carro


todo galã de novela:

— Oi, Maia, quer uma carona? — Falou com ar de


riso, literalmente me provocando.

— Maia, aproveita, vai que a Juliana já foi. —


Jussara falou baixo, só eu ouvi. Sorri para ele.

— Aceito. — Ele abriu a porta do carona, pegou


minha mochila, colocou no banco de trás, assim que
entrou me puxou e me beijou, não deu tempo para pensar,
só de retribuir. Ele agarrou meu rosto com as duas mãos e
devorou minha boca, chupando meus lábios, enfiando sua
língua exigente, com fome e gana. Quando me soltou
estava ofegante, como se tivesse dançado uma sequência
musical.

— Nós estamos no meio da rua no centro da cidade.

— Não conseguia esperar nem mais um segundo.


— Você é louco. José, preciso ir direto para casa.

— Nem pensar. — Olhei sério para ele. — Ainda é


cedo, fica só uma horinha comigo. Nunca te pedi nada.

— Essa carinha de pidão nem combina com você.

Não respondi seu pedido, queria que ele decidisse


por mim. E ele decidiu, passou direto pelo entroncamento,
foi direto para o chalé que estava alugando. Tinha quatro
chalés, eram muito lindos e aconchegantes, mas só era
um quarto e uma mini-cozinha, a área de lazer que era
boa, piscina, churrasqueira. Os donos dali eram um casal
de advogados da cidade, costumavam alugar para festas
de fim de semana antes do pessoal da fábrica aparecer na
cidade.

Ele estacionou na porta do chalé, deu a volta, pegou


a minha mão me encorajando a descer. Sabia que era uma
péssima ideia, não deveria ficar sozinha em um quarto
com ele. E eu estava certa.

Ele mal trancou a porta e me atacou. Me segurou


firme me beijando e andando comigo. Nem pisquei já
estava deitada com José sobre mim. Sentindo toda sua
excitação por cima da meia-calça de ballet, a saia já
estava embolada na minha cintura. Ele ergueu meu top e
sugou meu seio, arrancou de mim um gemido
descontrolado. Meu Deus. Não posso fazer isso. Preciso
pará-lo, mas não tinha nenhuma vontade. Ele soltou o seio
e foi para o outro, enquanto eu me contorcia toda embaixo
dele.

— José... José... Por favor. — Ele levantou a


cabeça, com um sorriso no rosto.

— Por favor, o que meu amor?

Fechei os olhos ouvindo-o me chamar tão


carinhosamente de meu amor, desejando mais que
qualquer coisa que fosse verdade. Sabendo que não era.

— Para. — Falei sério. — Por favor, pare! — Ele se


afastou um pouco, mas permaneceu sobre meu corpo.
Arrastei-me para cima, saindo de baixo dele e encostando
as costas na cabeceira da cama.

— Como sou mal-educado. Você quer beber alguma


coisa? — Ele beijou minha coxa, e senti como se fosse no
meio das minhas pernas. Fechei-as ainda mais. Ele
sorrindo, beijou a minha barriga, subiu direto para o meu
pescoço, e por ali ficou lambendo e beijando, eu estava
tão molhada, tão excitada que com certeza ele podia
sentir.

— Relaxa, Maia... não precisa...

— O que? — Segurei seus ombros, o afastando de


mim. — Sentir medo? Tarde demais. — Saí de baixo dele.
— Por favor, José, me leva embora. — Ele me olhou sério
por um bom tempo, sério demais, quase com raiva. Não
desviei o olhar. Ele se sentou na cama, ajeitou a ereção
enorme nas calças, colocou os pés no chão. Estava em pé
a sua frente.

— Qual é o problema, Maia? Você quer, sei que


quer, dá um passo para frente, dois para trás. Do que você
tem medo?

— De você. — Fui sincera. Mas ele pareceu não ter


me ouvido, ou não ligou, mesmo.

— Você tem alguém? É seu ex, o idiota da boate?


Não vou sair falando o que fizemos para ninguém.

Me deu vontade de dar um murro na cara dele, mas


estava escuro e provavelmente eu teria que sair correndo
depois. Pensei em xingá-lo, ofendê-lo, mas não o
conhecia, e de repente fiquei com medo. Dei um passo
para trás e saí quase correndo, abri a porta de trás do
carro e dei graças a Deus que não estava trancada.
Peguei meu celular no bolso da mochila. E comecei a
andar e discar o número do meu irmão. De repente, José
tomou o celular da minha mão, me assustando. O medo
percorreu meu corpo e senti vontade de chorar.

— Maia, pelo amor de Deus, você está com medo?


Medo de verdade? Calma, não vou fazer nada com você.
Por favor, calma, Maia. Olha, te levo embora. Tudo bem?
— Me senti idiota, não sei se porque estava acreditando
nele, ou por ter desconfiado. Suspirei pesado.

— Não precisa, vou pedir para alguém vir me buscar,


já te dei trabalho demais.

— Você até agora só me deu prazer. Trabalho


nenhum, eu que estou te dando trabalho. Não quero que
você saia daqui como se eu fosse um estuprador. Não
precisa sentir medo. — Ele me entregou o celular, eu
escrevi uma mensagem para a minha cunhada dizendo
onde estava, mas que não era para ela contar a ninguém.
Nunca fui de contar meus segredos, mas isso era
diferente, se ele me matasse, pelo menos alguém poderia
encontrar o meu corpo. Ai meu Deus, o que estou
pensado?

— Vem, vamos entrar. Você quer beber alguma


coisa?

— Não, bebi demais ontem. — Ele pegou uma


cerveja no frigobar.

— Senta aqui. — Apontou para a cadeira do outro


lado da pequena mesa, só havia duas cadeiras de
qualquer forma.

— Maia, me desculpa? Não quis te deixar com medo.


— Você não fez nada, é que de repente me senti
muito louca, em um quarto com um desconhecido, você
poderia fazer qualquer coisa. Eu fui imprudente.

— Você é surpreendente.

— Também estou achando. — Ri de nervoso

— Gostaria de curtir você o tempo que pudermos.


Você me encanta, fascina, me enche de tesão. Nada nos
impede de curtir o momento.

— Pode ser fácil pra você José, mas não é assim. A


gente não manda no coração. — Ele terminou a cerveja e
pegou outra, me oferecendo.

— Aceito um copo. — Estava com a boca seca. E


não queria ir embora e deixá-lo pensando que sou uma
louca infantil. — Quem te falou que eu tinha um
namorado?

— Sei lá, ouvi alguém comentar. E disseram que é


recente e que vocês namoraram bastante tempo.

— Um ano. E te falaram tudo isso e você nem


lembra quem foi.

— É por causa dele que tem medo de curtir, existe a


chance de voltarem?
— Não, não é por causa dele, e de forma alguma
existe a chance de voltarmos. Deus me livre. José, canso
de ver homens de fora chegando, cheios de amor e boas
intenções, seduz as meninas de família, depois vão
embora deixando-as com o coração partido na melhor das
hipóteses, porque a maioria fica com a barriga cheia.
Grávida. — Expliquei.

— Entendi. Maia, sei que você é uma menina de


família, você é muito cobiçada na cidade, me falou que
tem muita vontade em se casar, mas infelizmente, não
posso te oferecer um relacionamento. Não quero que crie
expectativas.

— É difícil, só fiquei com você ontem e hoje já


estava na sua cama.

— Sexo é uma coisa natural, meu amor...

— Para você pode ser. — Ele ficou me olhando, me


olhando, com uma cara estranha.

— Maia, você namorou um ano, certo? Você não é


virgem. — Senti meu rosto pegar fogo. Bebi toda a cerveja
que estava no meu copo, e meu rosto continuava
fervendo.

— É? Porra! Claro que é!


— Do que você está rindo? — Fiquei com raiva. —
Muito engraçado.

— Me desculpa, não estou rindo de você. É da


situação. Que só piora. Não, não piora exatamente, é uma
metáfora.

— Ok, não sou obrigada a ficar aqui sendo alvo de


chacota. — Levantei para pegar minha mochila que agora
estava no pé de sua cama. Ele me puxou e me abraçou,
deu um beijo delicado na minha boca. José me encostou
em seu corpo, me acendendo toda, estava perdida nas
mãos deste grande sem vergonha.

Senti a cama bater atrás da perna, ele me ergueu


pela cintura e me deitou no meio dela. Continuou sua
deliciosa tortura.

Enquanto ele fazia movimentos como se


estivéssemos fazendo amor, eu sentia seu membro duro
no meio das minhas pernas. Sua boca estava por todos os
lugares, sua língua passeava por meu pescoço, orelha,
sentia um fogo, de repente, um frio na barriga. José
falando bobagens no meu olvido.

— Ah... minha delícia, você vai me deixar louco.


Quero te sentir, vê o quanto você está molhada. Você já
gozou, Maia? Me deixa só te fazer gozar.

— Não, não, isso não, já estamos indo longe demais.


— Não vou te machucar, não vou te violar, só quero
te sentir.

Graças a Deus, meu celular começou a tocar neste


momento.

— Espera, José, preciso atender.

— Não, fica aqui, só mais cinco minutinhos.

— Não, José, preciso atender!

Era da minha casa. Respirei fundo, tentando


normalizar a respiração. E atendi.

— Alô...

— Maia? Onde você está, Maia? — Minha mãe


estava muito brava, começado a frase com meu nome e
terminando do mesmo jeito.

— Mãe, já estou indo, o que aconteceu?

— O que aconteceu? Maia, quando você chegar aqui


a gente conversa. Maia, quero você em casa em 30
minutos. Você ouviu, Maia? Trinta minutos!

— Tá, mãe, já estou indo. — Desliguei o celular


apreensiva, nossa, só porque fiquei um pouco mais na rua.
Eles já não ficavam tão bravos por isso.
— José, preciso ir embora agora, você pode me
deixar ali no entroncamento que peço para meu irmão ou
minha cunhada irem me pegar.

— Claro que não, vou te deixar em casa. Daqui até a


sua casa são quantos minutos?

— Uns dez.

— Então temos vinte minutos, ainda.

— Você estava ouvido?

— Ela não estava falando muito baixo, acho que


você está encrencada, deveria me deixar fazer você ficar
bem relaxada.

— Nossa, eu vou apanhar e você só pensa em...

— Em? Em te beijar? — Ele me pegou com uma


mão. — Em te sentir? — Me apertou na sua ereção. — Em
te ter? Só o que penso, desde o do dia em que a vi me
provocando naquele teatro.

— Não estava te provocando.

— Ah... você estava sim! Porque você tem um fogo,


aqui. — Ele pegou no meio das minhas pernas, por baixo
da saia, por cima da meia fio 80 e começou a massagear.
Fui ficando mole, mole, esquentando, rebolando junto com
sua mão, joguei os braços em cima do seu ombro, ele
invadiu minha boca. Não sei como, mas José me deitou e
ficou ao meu lado, passando a mão lenta e forte na minha
periquita, enquanto me beijava. Com os dentes, puxou
meu top para baixo e sugou meu seio, senti meu corpo
formigar, ferver, meus olhos encheram de lágrimas, senti a
mão quente de José em cima da minha entrada, nada
separava sua pele da minha. Ele largou meu seio, beijou
meu ouvido, chupou meu pescoço.

— Goza... goza pra mim. Só pra mim, minha delícia.

Nunca senti nada parecido na minha vida, gritei


erguendo meu quadril esfregando ainda mais minha
periquita na sua mão, sentia meus músculos se
contraírem, fiquei tão tensa que senti dor muscular. E de
repente, percebi a mão de José em forma de concha ainda
na minha abertura, estava tão molhada, fiquei com
vergonha, de tão molhada que estava. José, me beijava,
com carinho. Quando ele tirou a mão de dentro da minha
calcinha, senti meu rosto ferver ainda mais, queria me
enfiar embaixo da cama. Ele olhou os dedos todos
lambuzados e chupou gemendo rouco. Queria um buraco
para entrar dentro. Até que ele veio para cima de mim e
me beijou. Aí, esqueci de toda a vergonha que estava
sentindo.

— Vou deixar você retribuir, da próxima vez. Tudo


bem, meu amor?
— Não me chama assim. — Falei meio triste. Ele
beijou meu nariz e levantou com um volume absurdo na
calça, parecia de mentira.

— É só um jeito carinhoso. Maia, seus pais te


batem? — Perguntou sério.

— Não. Por quê?

— Você disse que iria apanhar.

— É pejorativo. Mas minha mãe está muito brava.

— Vem, ainda tenho quinze minutos.

— Você fez tudo isso comigo em cinco minutos?

— Quer mais? Mas se você gozar, me arranhando e


gritando do jeito que fez, não respondo por mim.

— Vamos embora, não posso confiar em você.

— Não, não pode e nem deve. — Me beijou como um


louco.

— Preciso ir ao banheiro.

Joguei uma água no rosto para tentar aplacar toda a


minha quentura, me recompus o melhor que pude e, logo
em seguida, saímos em direção a minha casa.
— José, me deixa aqui, minha casa é na próxima
curva. — Ele me olhou feio, e não disse nada. — É bem
ali, aquela rua já é a descida da minha casa. — Ele
embicou o carro e desceu. — José, o que você está
querendo? Que meus pais te obriguem a casar comigo?

— Ótima ideia. — Ele passou a mão do meu joelho


até minha virilha. — Seria um grande castigo te comer
todo dia.

— Estou só brincando para te deixar com medo. —


Para meu azar a porteira estava aberta, e assim que
minha casa apareceu, eu disse:

— José, é sério, já estou em casa, me deixa aqui,


não quero que ninguém te veja.

— Aquela é sua casa?

— Sim, consigo andar 100 metros. Por favor!

— Grande e bem bonita, Maia.

— Obrigada, agora preciso ir ser esfolada pela


minha mãe, que está muito brava comigo e nem sei por
quê.

— Maia, me dá um beijo, vou te ligar. Se cuida, foi


maravilhoso esse tempo que passei com você. — Olhei
para o meio de suas pernas, ele ainda estava duro.
— Nem tão maravilhoso.

— Dou um jeito. — Ele abriu a mão com cara de


safado, me beijou e foi embora. Só então andei lentamente
até minha casa.

Levei um susto quando vi meu pai vermelho como


quando está com muita raiva.

— MAIA! Onde você estava? — Ele não me deixou


responder. — Estava fazendo vídeos pornográficos?
Dei um passo para trás, minha mãe estava
igualmente com raiva. Meus dois irmãos estavam lá e
minhas cunhadas, com certeza, estavam escondidas. "Meu
Deus, que vídeos?" — pensei.

— Pra que você está fazendo isso, Maia? Que


vergonha. Nunca esperei isso de você. — Minha mãe
estava decepcionada.

— Eu sempre falei que essa merda de dança era


coisa de PUTA! — Parei, e meu corpo todo gelou, meu pai
nunca falou assim comigo, nunca me ofendeu ou usou
palavrões. As lágrimas escorreram do meu rosto sem
controle. Marcos deu um passo à frente se colocando
entre nós.

— Não é bem assim, pai. Calma, não ofende a Maia.

— Saia da minha frente, Maia é minha filha, falo com


ela como eu quiser e te quebro a cara se me desafiar.
Quer mandar? Vai procriar primeiro!

Meu pai estava com muita raiva, fiquei com medo,


meu irmão ficou nervoso e saiu da cozinha a pedido da
minha mãe.

— Foi para isso que comprei um celular do preço de


uma moto, pra você se filmar com o rabo de fora, se
esfregando em macho?

Não conseguia parar de chorar.

— Cadê essa merda? — Ele veio para cima de mim,


pensei que fosse apanhar do meu pai pela primeira vez.
Acho que todo mundo pensou, porque Danilo entrou no
meio e Marcos voltou como um raio com o grito de susto
que dei. Só queria que meu avô estivesse ali naquele
momento.

— Me dá, agora, essa merda! — Tirei o celular do


bolso de trás da calça com as mãos tremendo, e o
entreguei, para ele em seguida jogar na parede. Espatifou
meu telefone, depois pegou os cacarecos e jogou de novo.

— Maia, vá agora para o seu quarto e nem se atreva


a sair de lá. Nunca pensei que com vinte anos você iria me
aprontar uma dessas. — Minha mãe estava tentando me
deixar longe do meu pai. Agradeci por isso e corri para o
meu quarto.

Depois de mais de uma hora, ela entrou brava:

— Juliana disse que dá para apagar aquelas coisas


horrorosas da internet.

Não acredito que Juliana mostrou meus vídeos para


os meus pais. Eu vou matá-la! Deve ter contado que eu
estava na casa de um desconhecido também fazendo
coisas bem piores.

— Dá, mas precisava do meu celular. — Juliana


entrou no quarto neste momento.

— Usa o meu, Má.

— Má? Sua falsa!

— Calma, o que foi?

Minha mãe olhou para ela de cara feia.

— Então você sabia?


— Sabia, sim.

Merda! Não foi ela. Quem foi então?

— Me dá esse celular antes que não dê mais tempo


para apagar. — Troquei a conta dela pela minha, e
desativei a conta.

— Mãe? — A chamei chorando.

— Você me decepcionou muito, nunca achei que


faria nada escondido, mentir, nunca fez essas coisas
quando era mais nova, agora com vinte anos, ao invés de
nos deixar mais tranquilos, não, quer acabar com a nossa
vida.

Ela saiu e me deixou lá, com o celular da Juliana,


que entrou em seguida.

— Quem contou, Juliana?

— Foi o Leonardo, mas agora que você me acusou


estou ferrada, seu irmão vai me matar, mesmo depois da
bomba ainda não disse nada.

— Me desculpa, mas como o Leonardo lá do outro


lado do mundo ficou sabendo? Todo mundo é bloqueado.

— Pergunta para ele. Já usou meu celular? — falou,


de forma seca.
— Ju, por favor, não fique chateada comigo, não
estava pensando direito.

— Não é mesmo uma coisa que você anda fazendo


com frequência, não é? Espero que não tenha aprontado
nada na casa de um homem que nem conhece, seus pais
morrem. E ainda deixa ele te trazer até aqui.

— Quem viu?

— Só eu, que estava te esperando para te alertar,


mas Sandra veio atrás de mim e entrei para ela não ver.

— Ju, me desculpa, eu estou meio descontrolada


mesmo. Mas vou me centrar.

Peguei minha toalha e fui tomar um banho. Me enfiei


debaixo da coberta e não saí de lá por nada.

Ele disse que me ligaria, ainda bem que estou sem


celular. Nem acredito que deixei um cara que conheço há
uma semana fazer tudo aquilo comigo. Como fui
irresponsável, não me dei valor, nem respeito. Graças a
Deus não aconteceu nada de mais grave. Graças a Deus,
mesmo!

Deus me ajude, porque já estou apaixonada, eu sinto


que estou.
No dia seguinte meus pais nem olharam na minha
cara. O clima estava horrível. Meu pai queria me proibir
até de trabalhar, estava esgotada, frustrada, com raiva e
apaixonada. Pedi para meu irmão conseguir um atestado
médico para mim, ficaria em casa uma semana.

Na segunda-feira, após o jantar, Danilo foi conversar


comigo:

— Tudo bem?

— Não, claro que não! Por Deus, Danilo, tenho


apresentação no sábado. Não deveria ter ficado em casa
essa semana, tenho meus alunos.

— Maia, aproveita que está de atestado — frisou a


palavra “atestado” —, e aproveita para pensar em um
outro trabalho, fazer uma faculdade. Sabe que nossos pais
nunca vão considerar um emprego de verdade. Você pode
continuar com as aulas de ballet, mas que faça uma
faculdade simultaneamente.

— Posso ser uma professora de ballet, posso ser


coreógrafa, posso fazer cursos relacionados a dança. Eu
que parei no tempo, me formei e não fiz mais nada. Posso
ganhar dinheiro dançando.

— Quem vai pagar seus cursos? Você acha que o


pai vai investir em mais alguma coisa referente a dança,
uma coisa que ele quer que você desista? E Maia, você
nunca foi exatamente focada, você gosta, mas só isso.
Você se agarrou a isso para não estudar, sempre detestou
estudar. E não entendo o porquê, é tão inteligente, sempre
tirou notas altíssimas.

— Para não ficar de recuperação e ter que ir um dia


se quer a mais na escola. Danilo, preciso ir me apresentar.
E você que tem que me levar, o pai não pode ir. Não quero
que me veja dançando de forma alguma.

— Menina, o que você não aprontou na adolescência


quer aprontar agora depois de velha.

— Você que é velho. Danilo, por favor... maninho...

— Juízo, e a gente ainda não conversou sobre como


te peguei enganchada no playboy.

— Não acha que já tive o que mereci?

— Não, acho que você está enfiando os pés pelas


mãos, só precisa saber se é isso mesmo que quer. Não o
pai, a mãe, é você, só você tem que saber quem é e o que
quer. Você sabe?

Ele me deixou lá, pensando se realmente sabia


quem eu era e o que queria! Namorei um ano com Carlos,
ele estudava em São Paulo e só vinha de quinze em
quinze dias, às vezes, uma vez por mês. Nunca senti nada
de saudade, era totalmente normal. Mas eu estava com
saudade do José! Sentia suas mãos em mim, queria vê-lo,
beijá-lo. Estava apaixonada, por alguém que deve ter uma
mulher em cada cidade que passa. Com certeza, é um
expert em mulheres, em seduzi-las. Tem o melhor beijo do
mundo, seu toque é nos lugares certos, com a força certa,
decidido, ele é o homem que sonhei a vida toda. E eu,
bom, eu seria só mais uma para ele, uma que morreria de
amor e nunca mais iria querer ninguém, porque, se em
uma semana eu já idealizo uma vida sentindo o que ele
me fez sentir, ouvindo-o me chamar de meu amor. Imagina
em um ano, o que não sentiria por ele?

Tudo estava uma merda, e a minha dor era de estar


perdendo o pouco tempo que poderia ter com ele.

— Maia! — Ouvi minha cunhada gritando.

— Estou aqui fora.

— Tudo bem?

— Não, claro que não. Eu estou de saco cheio, já


tenho vinte anos e sou uma ameba.

— Fica calma, pelo menos você vai se apresentar no


sábado. Falou com Saulo?

— Sim e está tudo certo para apresentação.


— A Jussara me disse que o gatão lá da fábrica tem
perguntado por você.

— E o que ela respondeu? Ela não contou o que


aconteceu, né?

— Ela provavelmente não disse nada, minha irmã é


discreta, minha mãe nos deu educação.

— Desculpa, ela realmente é fantástica. Você sabe o


que eles conversaram?

— Não, mas posso perguntar. Vou mandar uma


mensagem.

Não passou cinco minutos ela respondeu.

— Oh, ela disse que ele perguntou se tinha


acontecido alguma coisa com você. Disse que até onde
ela sabia não, que tinha falado com você e que estava de
boa. Maia, meu amor,esse homem é muito experiente e
vivido para você, ele pode te fazer sofrer muito, você já
está caidinha por ele.

— Estou!! Ele é maravilhoso, carinhoso, é tudo que


eu sonhei na minha vida.

— Maia, vocês transaram? Você sabe que pode


engravidar, pegar uma doença...
— Nossa, não fizemos nada. É, quase nada, nada
irreversível. E não sou burra, Juliana, tá parecendo meu
pai e Leonardo, sei o que acontece quando se faz sexo. Já
tenho vinte anos, não quero mais ser tratada como uma
criança.

— Você está certa, mas não será fazendo coisas


irresponsáveis, se mostrando infantil, que conseguirá ser
respeitada. Você sempre foi coerente, é só se fazer ouvir.

Pensei que nunca fosse chegar sábado. Refleti muito


no que meu irmão e minha cunhada falaram, e em mim, no
que eu quero. E depois da minha apresentação, teria uma
conversa séria com os meus pais, só não conversei antes
para não dar nada errado, não correr o risco de não
conseguir ir e me apresentar em paz, e porque estava com
a consciência pesada; não sei por que diabos fiz e mantive
uma rede social escondida de todo mundo. Se precisei
esconder é porque eu mesmo não me orgulhava daquilo.
Passei dos meus próprios limites, muitas vezes dançando
seminua. Meu Deus, eu estava fazendo coisas que nunca
imaginei, que não me orgulhava, e a troco de nada.

Sempre sonhei em casar nova, vinte, vinte e um


anos, ter filhos, uma casa cheia. Mas nem namorado eu
tenho e ao invés de me preocupar em arrumar um, estava
rebolando na internet para milhares de pessoas.
Respirei fundo, tirei todos os pensamentos da
cabeça, me olhei no espelho e admirei o que vi.

Meu figurino era muito lindo, dourado, com muito


brilho. Já o tinha usado, há cinco anos, quando me formei
no ballet.

Preciso e quero arrumar um namorado. Vou me focar


nisto de agora em diante. Quero casar, quero ser mãe e
cuidar da minha própria família, deixar de ser a caçulinha
indefesa, incapaz, a menininha de porcelana perfeita dos
meus pais e irmãos, quero ser uma mulher, mãe e dona da
minha casa, quero uma família.

Ouvi as apresentações serem iniciadas. Meus irmãos


e cunhadas estavam lá. Tinha uns camarotes montados
para os ricos da cidade e das cidades vizinhas, a atração
principal era a cantora sertaneja Paula Fernandes, meus
irmãos tinham seu camarote, também livre acesso ao
palco, não porque eu dançava, acho que era o oposto.
Antes de entrar para abrir o show, minha cunhada veio
falar comigo.

— Jussara disse que seu gatão está aí e perguntou


por você. Dance lindo, faça-o se apaixonar. Você é uma
deusa, a deusa Maia, lembra?

— Você está me deixando nervosa, Ju. — Olhei para


o Saulo que estava me chamando. — Minha vez, até daqui
a pouco!
Dançaria para ele. Só para ele. Olhei da coxia, mas
não o vi. Avistei Davi em um dos camarotes. Ele, com
certeza, estaria lá.

"... adoraria te ver dançar, acho que a mulher fica


ainda mais atraente dançando."— Lembrei do que ele
disse. Vou dançar para ele.

As luzes do palco se acenderam, fomos anunciados,


elas então se apagaram, e nos posicionamos no palco. Foi
neste momento que eu o vi. Os primeiros acordes da
música A New Day Has Come, de Celine Dion, começou a
tocar, meu corpo se arrepiou e o frio percorreu toda a
minha coluna. Embalei-me até a frente do palco e no
momento que o refletor me iluminou, eram somente ele e
eu, ali.
Estava exausto, sobrecarregado, me dividindo entre
São Paulo, Careaçu, família e trabalho.

Mas a única coisa que me incomodava era Maia não


atender ao telefone, era não conseguir ouvir aquela voz
doce. Liguei domingo quase que o dia todo, segunda-feira
trabalhei igual a um condenado na fábrica, tinha que voltar
para São Paulo, mas me recusava sair dali sem falar com
ela antes, o que não adiantou de nada, pois, além de não
conseguir contato, ainda saí super atrasado e feito um
louco para estar no horário certo em São Paulo.
Resolvi o que podia e voltei às pressas para
Careaçu, Maia não olhava o celular desde que saiu do
chalé, as ligações caiam na caixa postal, perguntei para a
amiga dela, que me disse estar tudo bem. Era comigo o
problema? Será que os pais dela ficaram sabendo que ela
estava comigo e a castigaram? Não, a amiga falaria.
Falaria? Foi uma semana de merda, mas de muita
reflexão. Maia estava cravada na minha mente como
nunca uma mulher esteve.

Nunca me iludi em relação a nada, sou conhecedor


dos meus sentimentos, os controlo quando posso e os
solto quando não, sempre foi assim, e desde que
conversamos na lanchonete, senti vontades que nunca
havia se quer imaginado.

Me fez pensar que nunca havia tido um


relacionamento de verdade, nunca tinha namorado antes
de engravidar Leila, nunca me senti envolvido ao ponto de
querer mais do que sexo por uma mulher.

E as horas que passamos no chalé, com certeza,


nunca seriam suficientes, queria mais com ela, e não tinha
como. Não podia fazer isso com uma menina tão
maravilhosa.

Acordei com meu celular berrando depois de ter


passado a noite toda na choperia esperando Maia
aparecer, e nada.
— Thomas, tudo bem, filho?

— Pai, você vem para casa hoje?

Fechei os olhos e vi Maia sorrindo na minha frente,


ela se apresentaria hoje, na cidade vizinha, e era a minha
chance de vê-la. Suspirei fundo.

— Posso ir filho, o que aconteceu?

— Nada, minha mãe vai para casa da minha avó e


não quero ir. Ela está me infernizando. Só queria pedir
para você mandar ela me deixar aqui em casa.

— É só isso? Posso largar tudo aqui e ir pra casa.

— Não pai, não precisa, só não quero ir pra lá. Maior


saco. Fala com ela, já que agora ela está te obedecendo.

— Thomas, não fala assim da sua mãe. — Me sentei


na cama. — Respeite-a.

— Aham... — respondeu contrariado.

— Thomas, sua mãe não precisa me obedecer,


estamos simplesmente agindo de acordo um com o outro.

— Tá, tá bom, você vai pedir para ela?

— Vou, filho, vou falar com ela. Mas vou te


acompanhar de perto, não quero que saia nem que se
tranque em lugar nenhum.

— Isso é uma merda!

— Olha como fala comigo! Isso é o que anda


procurando, confiança a gente conquista, Thomas. Vou
ligar para ela, qualquer coisa me liga aqui.

— Se eu for ficar com alguém, tem que ser na sala,


no meio dos empregados?

— Não sou idiota, Thomas, quem usa droga não


trepa. Vou ligar para a sua mãe.

Com certeza aconteceu alguma coisa da última vez


que Thomas foi para a casa da família da Leila. O telefone
dela tocou três vezes.

— Oi, José.

— Leila, o que vai fazer na sua mãe?

— É o almoço de família que fazemos todos os


meses.

— Thomas não quer ir, Leila, você vai me falar o que


aconteceu no dia do aniversário do seu primo?

— José, não aconteceu nada, Thomas está meio


rebelde sem causa.
— Deixe-o em casa.

— Não, não...

— É para deixá-lo em casa. — Suspirou, resmungou,


e não disse nada. — A babá da Celina vai ficar em casa,
dona Zefa também.

— Tudo bem, vou fazer do jeito que você quer.

— Do jeito que Thomas quer, e porque não quer me


dizer o que aconteceu. E enquanto um dos dois não me
disser, não vou obrigá-lo a ir para lá.

— Tudo bem, José, Thomas fica, mais a babá da


Celina não. Ele vai ficar com a Zefa e seu capataz.

— Ricardo não é um capataz, ele cuida da


segurança de vocês muito bem.

— Não preciso disso.

— Mas meus filhos, sim. E quando tiver com eles,


você não tem opção.

Leila só saía com os seguranças quando estava com


as crianças, e nunca me importei com isso. Ela é adulta,
sabe muito bem o que faz da vida.

Trabalhei o dia todo na fábrica, e mandei vir de


Pouso Alegre as rosas que eu mesmo escolhi para levar
para Maia. Pela primeira vez não comprei o arranjo que
me indicaram nem as que minha secretária escolheu.

Tive uma crise de riso dentro do carro a caminho de


Cambuí ao perceber que estava nervoso, com receio de
não a encontrar ou pior, de que ela não quisesse falar
comigo. Mas me preparei para todas as possibilidades. Ou
esperava que sim.

O palco ficou totalmente escuro depois que


anunciaram Maia e o parceiro. Não desviei o olhar, não
queria perder nenhum detalhe, não tem nada mais lindo do
que uma linda mulher dançando. Quando o refletor
acendeu em cima dela.

— Porra! — Soltei o ar que estava prendendo nos


pulmões. Ela olhava fixamente para mim.

— Acho que o espetáculo tem dono. — Ouvi uns dos


filhos da puta falar. Um monte de barbados suspirando,
assoviando, elogiando, desejando. Mas, de repente, não
ouvia, não via, nada, nem ninguém.

Me faltou ar, cada detalhe do seu corpo ficaria


gravado para sempre na minha memória como o mais belo
quadro pintado.Único e exclusivamente para mim. Algo
aconteceu naquele exato momento, senti meu coração
palpitar, minha alma ganhar uma sobre vida. A beleza era
real, isso era incontestável, mas não era só isso. Parecia
um anjo pintado. O meu anjo.
Quando as primeiras palavras da música explodiram
no alto falante, tive certeza que era para mim.

A new day has come

(Um novo dia chegou)

A new day has come

(Um novo dia chegou)

I was waiting for solong

(Eu estava esperando por um longo tempo)

For a miracleto come

(Pela chegada de um milagre)

Every one told me tobe Strong

(Todos me disseram para ser forte)

Hold on and don'ts hed a tear

(Aguente firme e não chore nem uma lágrima)

Through the darkness and good times

(Então durante a escuridão e os bons tempos)

I knewI'd make it through

(Eu soube que eu conseguiria)


And the world thought I had it all

(E o mundo pensava que eu tinha tudo)

But I was waiting for you

(Mas eu estava esperando por você)

Hush, now

(Silêncio, agora)

I see a light in thesky

(Eu vejo uma luz no céu)

Oh, it's almost blinding me

(Oh, isto está quase me cegando)

I can't believe

(Não posso acreditar)

I've been touched by anangel with love

(Que fui tocada por um anjo com amor)

Era ela. Ela é o meu milagre que só agora tive a


certeza de que estava esperando. Nunca senti nada igual,
olhando para aquele anjo dançando, dançando para mim.
Ela estava dançando só para mim.
Tive que me controlar para não sair correndo quando
ela se curvou em agradecimento e deixou o palco.

Uma eternidade depois, ela entrou no camarote onde


estava os irmãos com suas esposas e alguns amigos.
Esperei todo mundo cumprimentá-la, entregar flores, via-a
me procurar com os olhos várias vezes, e sempre sorria
quando nossos olhares se encontravam.

Quando cheguei perto, com as rosas, ela iluminou


tudo com o sorriso que deu. Pegou-as com cuidado,
agradeceu, me cumprimentou com um beijo no rosto, achei
que o irmão da lanchonete era mal-educado, mas em
comparação ao outro, ele era uma flor. Nem se deu ao
trabalho de respondeu meu cumprimento. Se ele pensa
que vou recuar por causa de cara feia, ainda não me
conhece.

— Já que você dançou para mim. — Sorri


convencido, e o barulho era tanto que mal ela conseguia
me ouvir. — Preciso te pagar uma bebida, vamos? — Dei a
mão para ela. No mesmo momento, o troglodita surgiu
quase que no nosso meio.

— Quem é, Maia? — perguntou para ela me


ignorando.

— Sou José Alencar. — Falei com tanta raiva,


estendi a mão para ele, encarando-o. Ele olhou para
minha mão depois para mim. Fez um ar de riso, e apertou-
a com uma força desnecessária. Não retribui o aperto, o
entendia. Mas sorri debochado. Se virou para a irmã:

— Vai a algum lugar, Maia?

— Vou, apenas dar uma volta.

— Não se preocupe, trago-a de volta sã e salva.

— Não sou eu quem devo me preocupar, José


Alencar.

— Já venho! — Ela sorriu para ele, que suavizou a


expressão.

Saímos caminhando entre os camarotes, Maia


cumprimentava quase que uma pessoa sim, outra também.
Não teríamos muita privacidade, precisaria conversar com
ela da forma que dava.

— Maia, por que você não me atende, meu amor,


não olha minhas mensagens?

— Estou sem celular.

— Liguei muito, queria ouvir a sua voz. — Ela parou.

— Por que está fazendo isso, José? Agindo como


se...
— Como se estivesse completamente apaixonado
por você? Deve ser porque estou. Quero você para mim,
Maia. — Segurei-a pela cintura e a beijei. Ela se esquivou
do beijo.

— José, não quero que faça isso, você está indo


longe demais. Desafiando meus irmãos, me expondo, para
quê? Sei que parece que sou uma grande vagabunda, indo
parar na sua cama com tanta facilidade. Deve ter visto
meu Instagram e acha que pode fazer o que quiser.

Descemos uma escada e caminhamos entre as


pessoas.

— O que tem o seu Instagram? — Parei para


encará-la.

— Nada, nem tenho mais. Estou falando sério José,


vim conversar com você para deixar claro as coisas entre
a gente, não adianta ficar me dando buquê de rosas
maravilhosas, me chamando de meu amor, dizendo que
está apaixonado.

Sei que precisava primeiro resolver minha vida lá,


para iniciar uma aqui, mas não vou perder nenhum
segundo com Maia. Já perdi uma vida toda. Ela é minha
tábua de salvação e vou me agarrar a ela.

— Meu amor... — ela olhou para o outro lado


suspirando fundo. — Olha para mim. — Segurei seu rosto.
— Meu Deus! Como você é linda. Maia, nunca senti por
ninguém o que estou sentindo por você, e não tenho nem
idade nem vontade de ficar me enganando, ou de esperar.
Não quero te desrespeitar, te expor. — Respirei fundo. —
Quer namorar comigo?

Ela arregalou os olhos, depois riu desdenhosa.

— Eu aqui e você no mundo? Aí vamos namorar até


quando você enjoar ou não precisar mais vir pra cá?

—Não sei como faremos, mas estou totalmente


disposto a tentar de tudo. Me dá uma chance, vamos fazer
isso dar certo, eu farei dar certo.

— José, isso que você está falando é muito sério,


tenho uma família para dar satisfação, e não quero
namorar por namorar. Você sabe.

— Eu sei, não estou brincando com você.

— Se acha que se namorarmos as coisas ficarão


mais fáceis, está muito enganado, e não adiantaria nada
eu aceitar se minha família não aprovar.

Estava me enrolando de uma forma que jamais


conseguiria me soltar. Estava começando de trás para
frente. Mas não recuaria de forma alguma.
Passei uma mão em seu rosto, sentindo sua pele
macia. Maia fechou os olhos e na hora que a abracei ouvi
o cão de guarda.

— Maia, vamos? — Não quis soltá-la, mas ela fez


questão de se afastar.

— Já? Cadê o Danilo?

— Não volta para casa hoje, vamos. — Encarei o


homem a minha frente de mãos dadas com a esposa. Uma
mulher realmente bonita. Sabia que Maia era a caçula,
mas não sabia que a diferença de idade era tão grande.
Ele deveria ter a minha idade.

— Posso levá-la para casa.

— Pode deixar, não quero te dar trabalho.

— Trabalho algum, aproveito para falar com meu


sogro. — Era melhor provocá-lo do que socá-lo como
estava querendo. — Maia me olhou assustada.

— Se quero te namorar, preciso pedir para o seu pai,


não é, meu anjo? — Passei a mão carinhosamente em seu
rosto.

— Acho melhor o senhor ir devagar, pode se


equivocar.
— Pode ter certeza de que não vou, já tenho idade
suficiente para saber o que quero.

— Está aí uma coisa na qual concordamos, tem


idade mais do que suficiente, o oposto de Maia, que ainda
é uma adolescente que não tem noção do perigo.

— Não sou adolescente, Marcos!

Travei os dentes e os punhos, me controlando. —


Ledo engano, Maia é uma moça bem inteligente, sabe
muito bem o que quer e comigo ela estará sempre muito
bem protegida. E como estamos indo para o mesmo lugar,
faço questão de levar Maia. — Ele ia falando alguma
coisa, mas Maia interrompeu.

— Vou com ele, estaremos bem atrás do seu carro.


Marcos, pelo amor de Deus!

O troglodita me encarou antes de dar as costas.


Caminhamos a uma certa distância até o estacionamento,
já era tarde eu estava realmente cansado.

— Podemos entrar no carro e fugir, sabe disso, né?

— Ótima ideia.

— Quantos irmãos você tem?

— Três.
— E só piora ou o outro é melhorzinho?

— Só piora. O outro é muito pior. De verdade.

— Puta que pariu! A diferença de idade entre vocês


é bem grande.

— Sim, Danilo, o da lanchonete é o mais novo, tem


trinta. Marcos tem trinta e oito e Leonardo tem quarenta e
acha que é meu pai. Mas não precisa ficar muito
preocupado com esse último porque ele está morando no
Canadá há dois anos, pensei que fosse dar graças a Deus
quando ele foi, mas fiquei até doente. Vai entender, né!?
Acho que sou masoquista.

— Normal, ele é seu irmão, são muitos anos de


convivência, ele deve ter cuidado de você como um pai
mesmo.

— Verdade.

— Mas, independente de irmãos, pai, ou seja lá


quem for, quero você. — Ela me olhou sorrindo com
carinha de safada.
O irmão morava na cidade vizinha, onde Maia
passaria a noite. Estacionei na frente da garagem que o
carro havia acabado de entrar.

— Vem aqui! — Puxei-a para o meu colo, beijando


seu pescoço, sua boca.

— José seu safado, precioso entrar — falou sem


fôlego.

— Você ainda não aceitou o meu pedido.


— E como seria? Como dividiria sua vida, e por
quanto tempo? Quando não tiver mais que estar aqui, o
que será do nosso relacionamento?

— Não existe isso de quanto tempo, não sou


moleque, quero que seja minha. Mesmo porque, você já é,
só falta dizer sim. — Sussurrei em seu ouvido. Sei que
nossas vidas nunca mais seriam as mesmas,
principalmente a dela, mas contava que seus sentimentos
fossem tão fortes quanto os meus.

— Você nem aqui mora. — Respondeu se afastando


um pouco de mim.

— Maia, não posso largar tudo em São Paulo e me


mudar para cá.

— Aonde e com quem vai passar os fins de semana?

— Com você.

— E seus filhos?

— Com eles também.

— Como? Aqui?

— Sim, e você pode ir para São Paulo comigo


também, meu amor.
— Não, não posso, meus pais nunca deixariam. —
Olhei sério para ela. — José, você tem certeza de que
quer mesmo namorar comigo? O fato de namorarmos não
facilitará as coisas neste sentido. Meus pais são mais
velhos, antiquados.

— Acha que estou brincando com a gente? Não


importa o quanto será difícil, só preciso de você.

— José, você é um homem experiente, sabe que


estou muito envolvida, mas precisamos conversar, não
quero ser enganada, preciso saber sobre você, seus
filhos, sua ex-mulher. Meus pais não aceitarão fácil.

— Vou ir falar com seu pai amanhã.

— Não, amanhã não. Meus pais estão chateados


comigo, não é um bom momento, pretendo ter uma
conversa séria com eles.

— O que está acontecendo? Por que não a vi a


semana toda indo trabalhar nem consigo falar com você?
— Olhou-me sério e suspirou fundo, mas não respondeu
nada. — Farei qualquer coisa para ficarmos juntos, não
abrirei mão de você.

— Não quero ser colocada em segundo plano em


nenhum momento.
— Prometo que nunca será! — Agarrei-a pela
cintura, e beijei-a como se o mundo fosse acabar naquele
momento. Mas tendo a certeza de que era o início da
minha vida, da vida que eu escolhi.

— José?! Seu safado... Realmente preciso entrar,


segunda-feira conversamos. Tudo bem?

Antes de despedir-nos, abri a carteira e entreguei-


lhe um dos meus cartões de visita que utilizava com
clientes da empresa. Ali, continha todos os meus números
para contato, inclusive e-mail. — Para o caso de você não
ter decorado meu número! Dê um jeito de me ligar ainda
hoje, preciso ouvir a sua voz.

Fiquei parado em frente à casa mesmo depois que


Maia entrou e as luzes foram gradualmente se apagando.
Nunca me senti tão vivo, com tanta esperança. Estava
preparado para uma verdadeira guerra, mas estava
disposto a qualquer coisa.

Trabalhei domingo o dia todo, já estava no fim do dia


quando meu celular tocou e era um número desconhecido.

— Alô.
— José?

Respirei aliviado, encostei nas costas da cadeira e


apreciei aquela voz perfeita para mim. — Oi, meu amor!
Você conseguiu! — Ouvi sua respiração ficar mais
profunda. — Posso ir te buscar?

— Hoje não, já está tarde, preciso me preparar para


trabalhar amanhã.

— De quem é esse número?

— Da Jussara.

Conversamos por vinte minutos, nunca era o


suficiente, mas Maia tinha o poder de me dar paz, o
simples fato de falar com ela trazia sentido à minha vida.

Danilo deixaria Maia no ponto da praça antes das


7h, ela não sabia, mas a aguardava ali, em pé, impaciente.
Quando seu irmão parou o carro caminhei em direção a
eles abri a porta do passageiro:

— Bom dia, Danilo. — Me respondeu com um meneio


de cabeça. Olhou para Maia, que se despediu sem dar
satisfação, me cumprimentou com um beijo no rosto, o que
me deixou puto. Peguei sua mão e a levei para o meu
carro, precisava tirá-la dali o mais rápido possível.
— Uau! Quase me tira de dentro do carro em
movimento.

— Não aguento mais de vontade de te tocar, estou


viciado.

— Não sabia que estaria me esperando.

— Comunicação não é o ponto forte do nosso


relacionamento. — Quando me sentei atrás do volante ela
afivelava o cinto. — Vem cá, meu anjo. — Maia jogou os
braços sobre meus ombros e mordeu meu lábio.

— Eu também já estava com saudade.

— Então me mostra o quanto... — segurei sua


nunca, cheirei seu pescoço, ouvindo-a gemer baixo.
Passei a língua em seus lábios. — Ah, Maia, o que eu faço
com você? — Seus lábios macios acarinhavam a minha
alma, não me faltava nada nos braços dessa garota.

— O que faz comigo? Me leva para o trabalho. Não


posso chegar atrasada depois de faltar uma semana.

Tomamos café na lanchonete dentro do estúdio, e


combinei de buscá-la no fim do dia. Passei em uma loja ali
perto, comprei um celular igual ao que ela tinha.

E de lá, fui direto para a serraria D’Castro, fiquei


surpreso quando soube que era da família de Maia, uma
empresa próspera, bem-sucedida, conhecida e respeitada
em todo país.

Fiquei ainda mais surpreso com a sofisticação do


escritório. Me anunciei para a secretária e pedi para falar
com Sr. Edgar. Tomei um belo chá de cadeira antes
doMarcos aparecer tirando toda a paz que sua irmã havia
me dado há algumas horas.

— No que posso ajudar, José Alencar? — Ele era


sínico, estava me testando, queria me fazer perder a
paciência, o que ele não sabia é que tudo isso é
importante para Maia, o que se torna essencial para mim.
Quero Maia por completo, quero tudo dela, pai, mãe, e até
esses trogloditas chamados de irmãos.

— Acredito que sua intenção não seja essa. O que


não é exatamente um problema, fico grato apenas por não
atrapalhar se for possível.

— Poderia me acompanhar até minha sala?

Assim que adentramos a sala dele, Marcos virou-se


e disse:

— Meu pai não vai aceitar o namoro de vocês.

— Maia tem vinte anos, é maior de idade. Estou


tentando fazer tudo da forma que ela quer, mas só ela nos
impedirá de ficarmos juntos.
— Ela tem vinte anos, e ainda sim chora como uma
menina quando é contrariada. Tem vinte anos e nunca
passou um dia sem alguém de sua família, nunca
desobedeceu aos pais. Foi mimada e superprotegida,
como deveria ser uma caçula desejada e amada por todos.
Ela não é uma menina de vinte anos qualquer, ela tem
sonhos diferentes da maioria das meninas de hoje em dia.
Maia sonha em se casar, ser mãe. Você não é nem de
longe o que meus irmãos e eu gostaríamos para nossa
irmã, mas o fato de você demonstrar tamanho interesse já
nos basta. Ela terá que crescer algum dia, se decepcionar
e estaremos preparados para ampará-la no momento que
for preciso. Mas meu pai não acha que a filha que ele e
minha mãe desejaram tanto, corra qualquer risco de
sofrer.

— Não tenho nenhuma intenção em fazer Maia


sofrer, muito pelo contrário.

— Mas vai. Meu pai não aceitará o namoro de vocês.


Você vai se afastar dela? — Olhei sério e abismado para
ele.

— Foi o que imaginei. E o fato de: Maia estar


apaixonada, meu pai estar irredutível, e você... bom, o que
importa para você? É o troféu. Não precisa ser um gênio
para saber que isso fará da minha irmã a amante do
forasteiro, e isso destruirá seus sonhos. A destruirá. E
como meu pai e todos fazem questão de dizer: a filha é
dele, infelizmente não podemos fazer nada a respeito.

A esposa dele entrou na sala sem bater, me


impedindo de responder o que Marcos falava.

— Bom dia, seu Edgar está lá fora. Ele não irá


recebê-lo em sua sala. Se quiser terá que conversar
informalmente.

Ele estava conversando com Danilo no


estacionamento. Caminhamos Marcos e eu até seu pai,
que era muito bem apessoado e não aparentava a idade
que tinha.

— Seu Edgar, bom dia! Sou José. — Ele não me


cumprimentou, encarou os filhos esperando que nos
deixassem as sós, mostrando que os filhos até poderiam
tentar, mas quem mandava era ele, que está bem atento e
em ótima forma.

— Vá direto ao ponto — falou sem delongas.

— Vim pedir seu consentimento para namorar sua


filha. — O homem ficou vermelho, em pé no meio do
estacionamento.

— Para que quer namorar minha filha?


Não é possível, ele quer testar minha paciência,
mas nem tive tempo de responder.

— Você sabe para que serve o namoro? Nem em


uma casa decente você mora, acha que vai pegar a minha
filha e levar para um abatedouro no meio do mato? Maia
tem família! Acha que vai chegar nesta porra, ficar meia
dúzia de meses e destruir a vida da minha filha com o meu
consentimento? Quem você pensa que é? O cara que
largou mulher e filhos! E quer que eu lhe entregue a minha
Maia de mão beijada?!

Ele deu um passo se colocando a minha frente e


vociferou:

— NÃO com o meu consentimento!

O filho da puta me deixou plantado no meio do


estacionamento.

Maia não vai sofrer, ela não é o meu troféu e não


será amante do forasteiro. Eles vão se dobrar a mim, ou
meu nome não é José Alencar Brandão.

Não comentei para Maia que seu pai não havia


permito nosso namoro, nem que fui falar com ele, esperei
que eles dissessem a ela, mas pelo jeito, ninguém
comentou nada. Ela não aceitou, de forma alguma, o
celular que comprei.

Entrei em contato com uma corretora e consegui


alugar a casa do prefeito, praticamente pronta para morar.

Eu o venceria. Não tirava a razão dele como pai,


mas vou mostrar que não tenho a intenção de magoar,
nem de brincar com os sentimentos da sua filha.

No domingo mudei para a casa nova. Minha


secretária cuidou do que faltava no meio da semana,
coisas de cama, mesa e banho, contratou uma equipe de
limpeza, foi só trazer as malas.

Tentei falar com Maia, combinamos que ela me


acompanharia na mudança, mas não consegui e ela não
apareceu, estava muito puto com essa merda dela não ter
uma porra de um celular.

No fim do dia encontrei Samuel e os mesmos de


sempre, com algumas de suas colegas, no bar da praça. E
pelo que entendi, o assunto era Maia e os vídeos que
postava no Instagram.

— José, nos convida para sua casa nova, adoro a


piscina de lá. — Indagou uma oferecida que estava
acompanhando os caras no bar.
Não respondi, desconversei e chamei a garçonete,
precisava beber e arrumar um jeito de falar com meu anjo.

— Adorava os vídeos que a Maia postava. Você que


não a deixa mais postar? Todo mundo amava,
principalmente os garotos. — Ela rio e os caras
disfarçaram.

— Você tem algum vídeo aí? — Fui seco.

— Com certeza, todo mundo tem. Pera aí. — Fuçou


no celular. — Deixa-me aumentar o volume. — Quando me
entregou o aparelho, Samuel a fuzilava com os olhos.

Não acreditei no que estava vendo. Não que já não


tivesse visto vídeos semelhantes na internet, mas Maia? A
minha Maia?! Minha vontade era de estourar o celular
daquela vadia no chão. O vídeo acabou e o próximo era
mais vulgar. Meu Deus! Não dava para acreditar que a
minha Maia teria tão pouco decoro. Avancei o vídeo e
pulei-o para outro que ela dançava um funk com o filho da
puta da boate, o que trabalha com ela. Maia de quatro com
o short jeans aberto, a calcinha aparecendo e top,
esfregando a bunda no cara. Entreguei o celular para a
vadia. Meu ódio era tanto que não queria nem encontrar
mais com ela.

Já estava começando a anoitecer, os caras haviam


sumido com suas vadias do dia e ficou Samuel e eu.
— Você também tem os vídeos da minha mulher
salvo no celular?

— Esquece essa porra, cara, ela fez para te


provocar. O que mais tem é gente dançando na internet,
não viaja.

— Cadê a sua amiguinha? — Ele ergueu as


sobrancelhas com uma cara de poucos amigos.

— Respeito é bom, José.

— Desculpa cara, a Jussara não tem culpa do meu


ódio.

— Não, não tem, e não tem nada a ver com você.


Cuida do que é seu. Não é da sua conta onde Jussara
está.

— Já pedi desculpa. Pensei em ligar para ela...

— Caralho! Que porra é essa? Quer me foder?

— Maia está sem celular, elas podem estar juntas. E


Maia já me ligou do celular da Jussara. Calma. Porra!
Ficou louco?

— Não, só estou bêbado.

— E burro pra caralho, não dá a devida atenção para


a garota e quer cantar de galo. Homem que é homem sabe
o que quer, cuida e não fica com frescura. Depois não
adianta chorar.

— Vá se foder.

— Liga pra ela, vê se ela está com a Maia.

Fiquei esperando Samuel com o celular na orelha.

— Oi, Ju, tudo bem? Por onde você anda? Estou


aqui no bar da praça...

Ficaram conversando baboseira, o idiota estava


caidinho pela garota e se fazendo de difícil, vai se foder.

— Não, tudo bem, então, depois me liga. — Desligou


o celular todo pensativo e falou:

— Cara...

— Fala, porra!

— Ela está na casa da Maia, não entendi direito,


disse que depois ligava, mas de uma coisa tenho certeza,
o ex-namorado da Maia, o tal de Carlos, estava chegando
lá.

Não existe situação ruim que não possa ficar pior.


José não apareceu cedo no ponto da praça, não foi
me buscar no estúdio. Nem no dia seguinte. Com certeza,
estava com raiva por eu não ter aparecido no domingo
como combinamos.

Na quarta-feira quando ele não apareceu, de novo,


fiquei com muita raiva. Quando saí do trabalho fui direto
para a fábrica. Cheguei na portaria e pedi para falar com
José Alencar.

— Boa tarde, quem devo anunciar? — O homem


falou com cara de deboche.
Engoli o orgulho e raiva, imaginando a quantidade
de desesperadas que devia ir procurar pelos paulistas ali
na porta. Senti um pouco de vergonha, mas fui firme.

— Maia Azevedo. — Dois minutos depois apareceu


uma mulher toda apressada.

— Senhorita Maia, poderia me acompanhar, por


favor? — Entramos no setor administrativo da fábrica,
vários escritórios e, por fim, uma porta grande que
indicava a sala de José.

— Senhorita Maia, o Senhor José está em uma


reunião aqui na sala ao lado, mas tenho ordens de que
você deve aguardá-lo em sua sala. Ele logo a atenderá. A
senhorita gostaria de um café, uma água?

— Não, obrigada.

— Fique a vontade. Qualquer coisa, pode me


chamar.

Meneei a cabeça enquanto ela fechava a porta. Senti


o cheiro dele. A sala era ampla, logo na entrada tinha um
grande sofá, duas poltronas e um lindo tapete bege no
centro, um bar no canto direito repleto de garrafas
variadas, copos e taças, sua mesa era no centro, quase
encostada na parede dos fundos, enorme.
Caminhei por toda a sala, e só depois de algum
tempo reparei na mala atrás de uma poltrona.

Será que ele está indo embora? Ouvi um barulho na


porta e virei rápido. Ele estava lindo, de terno preto
parado no meio da porta aberta me encarando. Senti o
fogo subir pelo meu corpo, ao mesmo tempo que seu olhar
me media de cima a baixo.

Sem dizer uma única palavra José entrou, trancou a


porta sem deixar de me encarar e andou lentamente em
minha direção, passou a mão firme no meu rosto, senti frio
na barriga e meu corpo arrepiou todo. Seu cheiro era
inebriante. Achei que ele me beijaria, mas José deu um
passo atrás, me deu as costas e foi até o bar, se serviu e
com o copo na mão virou-se para mim. Ainda não tinha
nem mesmo me cumprimentado.

— Por onde você esteve, Maia? — Perguntou todo


cheio de razão, que no caso, ele até tinha.

— Oi, José, tudo bem com você? — Ele virou o


líquido do copo e o depositou no balcão do bar.

— Não. Não estou nada bem. Por onde você andou?

Não respondi. Ele que ainda não tinha parado de me


encarar por nenhum instante, andou em minha direção
novamente.
Senti suas mãos exigentes segurando meus cabelos,
nossos rostos colados:

— Vou facilitar para você: o que está fazendo aqui,


garota?

Senti como se tivesse levado um murro. Senti


vontade de chorar, meus olhos encheram de lágrimas.

— Responda, o que está fazendo aqui, Maia?


Quando lembrou que existo?

Tentei sair das suas mãos, mas ele me segurou


ainda mais forte. Uma lágrima rolou pelo meu rosto. E sem
esperar, senti sua boca dominar a minha.

— Ah! — Deixei escapar quando meu corpo se


chocou contra o sofá. Seu gosto, seu beijo, seu toque,
eram perfeitos.

Tomei fôlego e tirei minha boca da dele.

— Vim te ver, estou com saudade. — José mordeu


meu lábio em seguida passou a língua obscenamente por
eles. Gemi de tesão, senti como se sua língua estivesse
no meio das minhas pernas.

José segurou minha coxa e abriu minhas pernas, se


encaixando perfeitamente ao meu corpo.
Já não tinha mais controle, estava extasiada de
tesão, puxando José com mais força como se fosse
possível ele estar mais perto. Segurava seus cabelos
devorando sua boca como uma ninfa.

— Tira isso. — José arrancou minha blusa pela


cabeça. Não precisei falar nada, só puxei sua camisa para
fora da calça, desabotoamos apressadamente os botões e
nos livramos da peça.

— Aahh!!! Hummm... — Gemi alto com os chupões


que José dava nos meus seios.

— Maia, não vou parar... — José se afastou


totalmente de mim. Fui puxá-lo de volta, mas ele me
impediu. — Você entendeu? — Me agarrei a ele com
pernas, braços, me esfregando.

José segurou forte um punhado do meu cabelo pela


nuca, me prendeu ao seu corpo e me beijou. Fiquei mole
em suas mãos. Sua boca degustava com primor cada parte
do meu corpo, seu hálito quente nos meus mamilos me
deixava em total alerta para o tesão imenso que sentia
quando ele os sugava sem piedade, arrancando meus
gritos e gemidos.

Quase tive um orgasmo quando ele chupou e lambeu


minha barriga. Puxou e jogou longe minha calça de malha.
— Haaaa!!! — Rosnou como um animal com o nariz
enfiado na minha boceta por cima da calcinha. Afastou-a
para o lado e lambeu.

— Ah! José... ai, não vou aguentar. — Ele lambeu


com mais intensidade, gemi mais alto. Sua língua ora se
enfiava na minha boceta, ora passeava do meu anus ao
meu clitóris, as mãos de José seguravam minhas pernas
abertas. Comecei a rebolar em sua boca, gemi sem pudor,
ele ergueu os braços e alcançou os bicos dos meus seios.

— Goza na minha boca, minha cachorrinha no cio,


goza! — Sugou meu clitóris e girou meus bicos com os
dedos. Explodi em um orgasmo enfiando ainda mais a
boceta no seu rosto.

— Haaaaa, José!!! Ai!! Hummm... Hammm... José...

— Ah... minha ninfa, agora você vai gozar assim com


meu pau enterrado nesta boceta gulosa.

Em questão de segundos, José se despiu. Parou nos


meus pés me devorando com os olhos, segurou um deles
e o lambeu.

— HAAAA!!!! — gritei alucinada, senti como se


estivesse chupando meu clitóris novamente.

— Minha cadelinha gosta de gritar… Quero ouvir


seus gritos no meu ouvido enquanto eu te faço minha,
toda minha.

Estava desesperada por ele, o tesão dominava cada


célula do meu corpo.

— Já sou sua, completamente...

— Olha pra mim, Maia.

Parei ofegante olhando dentro de seus olhos, a


ansiedade não me deixava ficar quieta, rebolava sentido
seu pau roçar na minha entrada.

— Você é minha, só minha. Entendeu?

— Sim, só sua, para sempre.

José esfregou seu membro na minha entrada


encharcada, e se encaixou. Senti um frio percorrer da
espinha até a vagina.

— Tudo bem?

Balancei a cabeça que sim, mas estava apreensiva.


E ele percebeu.

— Te amo! — Fui surpreendida pela declaração dele.

Senti minha boceta ser alargada pelo pau grosso e


duro de José, que entrou um pouco e parou.

— Hammmm!!!
— Relaxa, meu amor, vai doer só um pouquinho, e
só desta vez.

José se enterrou dentro de mim, com um rosnado de


prazer, cravei as unhas em sua pele, mordendo meu
próprio lábio. Me arrepiei toda, sentindo José beijando e
lambendo meu pescoço, sua mão em meu seio me
estimulando e me incendiando.

Seus movimentos estavam me alucinando, o


desconforto deu lugar a um prazer maravilhoso, nossos
corpos se integraram perfeitamente se chocando em uma
cadência única e maravilhosa.

— Hã! Humm... José!

— Isso, meu amor, vem comigo, goza pra mim, goza


no meu pau.

José colocou a mão entre nossos corpos. —


Hammmmmm! — Gemi alto sentindo seus dedos no meu
clitóris e o ritmo acelerado. Seus gemidos, sua fúria
socando minha boceta.

— Vou gozar, vou gozar... José, eu vou...

— Goza! Porra... Vem Maia. Agora. Vem comigo,


agora!!!
Foi a melhor coisa que já senti na vida, o prazer
dominando meu corpo de uma forma jamais imaginada.
Nosso suor e gemidos se fundiram, nunca me senti tão
completa, tão satisfeita.

— Também te amo, José. — Me declarei.


Depois que saímos do banheiro me sentei na
poltrona e o júbilo extremo deu lugar ao êxtase. Olhei para
o sofá todo bagunçado e com uma mancha, nem consegui
processar.

“Não vou me arrepender.” — Pensei. Foi


maravilhoso. José estava estranho, foda-se, eu fiz o que
quis.

— Maia! — Virei rápido na direção do José, saindo


do estupor que me encontrava, com seu grito. — Estou
falando com você. — Ele estava cuspindo fogo pelas
ventas.

— Você vai embora? — Apontei para a mala. Ele


com ódio, passou as mãos no cabelo e rosnou:

— Já fui, Maia. Eu já fui! E você, minha mulher — riu


de raiva —, não tem a menor ideia, nem se deu ao
trabalho de querer saber onde eu estive nos últimos dias,
depois de ficar te esperando enquanto você estava com o
SEU NAMORADINHO, EM CASA! Qual é sua? Durante a
semana sou eu, nos fins de semana é ele?

Fiquei paralisada vendo José descontrolado. Olhei


para o sofá no qual há poucos minutos tive um dos
melhores momentos da minha vida.

— Preciso ir embora. — Olhei para a janela com as


persianas fechadas, e vi que não era mais dia. José com
ódio andou até a mesa e pegou as chaves do carro de
dentro de uma gaveta. De repente, parou.

— Por que você não me ligou, Maia? O que aquele


filho da puta estava fazendo na sua casa?

— Por que não foi me encontrar segunda-feira,


terça-feira, nem hoje? Eu não tinha como te ligar, você
sabia muito bem onde me encontrar. Não precisa arrumar
desculpas para se afastar, eu quis isso — apontei para o
sofá. — Não vou me arrepender, nem estou exigindo nada
de você. Não precisa estragar tudo agora.

— Maia, pelo amor de Deus! O que você está


falando? — Em uma fração de segundos, estava nos
braços dele. Encostei a cabeça em seu peito, enquanto ele
passava as mãos por minhas costas, me acarinhando e
beijando incessantemente minha cabeça.

— Você acha que o que eu queria de você era isso,


sua virgindade? Não sou tão bonzinho assim Maia, eu não
quero só o seu corpo, quero seu coração, sua alma.

Enfiei as mãos por dentro de sua camisa.

— Mas — levantou meu queixo e me fez olhá-lo nos


olhos —, não do jeito que está.

— Sei que não dá para ficar assim, estou tentando


falar com meu pai. Mas ele está me evitando, quis
conversar com ele várias vezes, mas ele não me ouve,
sempre diz que não tem tempo e mal fica no mesmo
ambiente que eu, chega tarde, quase não nos vemos mais.

— Meu amor, não quero saber do seu pai, da sua


mãe, dos seus irmãos, neles eu dou um jeito, preciso que
você. Você Maia! Leve a sério o nosso relacionamento.
Não quero, nem vou mais ter que ficar pedindo para um e
para outro te ligar, sem notícias. E que PORRA aquele
cara estava fazendo na sua casa? Por que não veio me
encontrar como havíamos combinado?

— José, meu pai teve um problema sério no sábado


com cargas roubadas e caminhoneiros reféns. Ele estava
uma verdadeira fera, meus irmãos estavam como uns
loucos. Não tinha clima para eu sair de casa. E no início
da noite, para acabar de completar, Carlos fez o favor de
aparecer em casa. O que achei bem-feito. Meu pai
descontou todo ódio que estava do mundo, nele. Só não o
agrediu porque minha mãe interveio, meus irmãos não
moveram um músculo para defender o imbecil da fúria do
Seu Edgar.

— Custa dar um telefonema? Uma mensagem do


telefone de qualquer pessoa?

— Me desculpa, o problema é que sou controlada


como um robô e quando vejo que estou seguindo
religiosamente as ordens insanas de todo mundo, já é um
pouco tarde, já passou. Depois da confusão, antes da
Jussara ir embora, pedi para me deixar usar o celular.
Tentei ligar várias vezes para você, mas só caía na caixa
postal. Não quis ligar do telefone de casa, fiquei com
medo de você retornar e meus pais ficarem mais bravos,
eu sei que não tenho mais idade para isso, mas
infelizmente essa é a minha realidade, José. Para ajudar,
Jussara disse que talvez te encontraria na choperia e te
daria o recado que tentei falar com você. Fiquei com muito
ciúmes, com raiva. Aí não tentei ligar mais.

— E o que veio fazer aqui hoje, Maia? — Perguntou


com a cara de safado. Senti minhas bochechas
queimarem. — Você veio me usar, dona Maia? — Me
apertou ainda mais ao seu corpo. Senti que estava duro
novamente.

— Queria que fosse homem o suficiente para dizer


na minha cara que não queria mais nada comigo, e não
simplesmente sumir.

— E aí, acha que fui homem o suficiente? — Beijou


meu pescoço.

Olhei o relógio de pulso dele.

— José, preciso ir, já vai dar 19h. Ninguém sabe


onde estou.

— Que ótimo, deveria sumir com você por dias, para


eles sentirem na pele o que ando sentindo.

Ele se afastou e foi até a sua mesa novamente, tirou


de uma gaveta o celular que tinha comprado.

— Se não quiser dizer para os seus pais que te dei,


tudo bem, diz que comprou ou esconde, mas não vou mais
ficar sem me comunicar com você. E não se preocupe, não
precisa falar com seu pai, com ninguém. Eu vou resolver
isso. Você é minha, Maia, sei que é importante para você,
e acredite, para mim também, não quero ter problemas
com a sua família, não quero que nada saia errado. Mas
precisamos dar um jeito de ficarmos juntos.

Ele estendeu a caixa do celular na minha direção.


Pensativo falou:

— Eu vi uns vídeos que você postava naquela porra


de Instagram. Entendo perfeitamente a raiva do seu pai.
Não dá para acreditar realmente que é você.

— Não estava fazendo nada demais, só estava


dançando, tinha muitos vídeos lá, nem todos eram... —
Parei sem saber que palavra usar. — Você não pode...

— Eram o quê? Fala. Não tem palavras para dizer o


que eram os “seus” vídeos? Maia, não gostei. Olho para
você não consigo ver a pessoa que estava dançando ali.
Você nem dança em público, caralho! Não aceito, nem
fodendo uma porra dessa. Pode me chamar de egoísta,
antiquado, possessivo, machista, sou tudo isso mesmo! Se
soubesse a ira que senti, homens querendo o que é meu!!!

— Ainda não era sua.

— Você é minha desde que nasceu, meu amor, foi


feita para mim.
— Não precisa ficar nervoso, não vou mais fazer
aqueles vídeos. — Passei as unhas por suas costas e
encostei a cabeça em seu peito.

— Não vai mais fazer vídeos, nem dançar daquele


jeito. — Ele chacoalhou a cabeça com força. — Meu amor,
não quero mais falar, nem pensar naqueles vídeos, me
deixa esquecer. O único lugar que vai dançar é no meu
pau.

Senti meu corpo todo dar sinal de vida, suas mãos


passaram para a minha bunda. Quando ele apertou gemi
de dor.

— Ai!

— Machucou, Maia?

Enfiei ainda mais a cabeça em seu peito com


vergonha.

— Maia, meu amor, te machuquei? Me responde.

— Não, só estou dolorida. Onde você estava, por


que a mala? — Mudei de assunto.

— Em São Paulo, cheguei hoje na hora do almoço.

— Desde quando você estava lá? — Senti aquela


sensação horrível.
— Domingo, já passava das 20h. Thomas brigou com
a mãe e me ligou. Foi uma noite de cão. Mas o dia
seguinte foi ainda pior. Ele fugiu de madrugada, passou o
dia todo desaparecido. Só foi aparecer na casa da
madrinha no fim do dia.

— Nossa, José! Ele está bem?

— Vai ficar, só estamos passando por uma fase ruim.

Eu sentia algo muito estranho em relação à família


do José, um mau pressentimento.

Enquanto José me levava para casa, coloquei meu


chip no celular novo. Consegui ligar para Jussara que me
falou que tinha passado a tarde no bar da praça e que
ninguém da minha família apareceu.

— Passei a tarde lá com você e com José, tá bom?

— Com certeza. Acabamos de sair de lá.

— Obrigada. Beijo.

— Maia, não vai precisar mentir por muito tempo. —


José me puxou para ele e mesmo estando dirigindo fui
para o seu colo.

— Não vou mostrar o celular.


— Não quero que tenha medo, faça o que você achar
mais prudente e o mais confortável possível.

— Não quero bater de frente só porque estou com


raiva.

— Já falei que não tem que se preocupar com isso,


vou conversar com seu pai, Maia. O mais rápido possível,
até o fim de semana dou um jeito. Se ele não aceitar, te
levo embora, sem você não fico, nem vamos ficar nos
escondendo.

José me deixou no quintal de casa.

— Maia, onde você estava? — Minha mãe


perguntou.

— Na cidade, no bar com Jussara, José e mais


algumas pessoas.

— Você deveria ter avisado que iria demorar,


ficamos preocupados, já vai dar 21h.

— Como? Não tenho telefone, fica difícil a


comunicação. — Fui para o meu quarto, precisava tomar
um banho, nem acreditava no que tinha acontecido.
Estava dolorida e ansiosa para vê-lo novamente, já estava
com saudade. Levei o celular para o banheiro e mandei
uma mensagem.
Maia 21h10

Já estou com saudade, vou dormir pensando em


você.

No mesmo momento meu celular tocou.

— Oi...

— Oi, meu anjo, ficou tudo bem por aí?

— Sim, onde você está? Que barulho é esse? — Fui


ríspida.

— No restaurante, vou jantar e ir para casa.


No dia seguinte peguei Maia cedo no ponto da
praça. Minha vontade era sumir no mundo com ela. De
repente, as coisas pareciam amarradas, não consegui
definir nada com Leila, os pais de Maia estavam
dificultando tudo. Assim que ela entrou no carro, agarrei-a.
Era maravilhoso brincar de adolescente com o meu anjo,
mas precisava dela ao meu lado o mais rápido possível.

— Bom dia! Está empolgado hoje.

— Sabe uma coisa que precisa urgentemente saber


sobre mim? — Falei para ela enquanto entravamos na
rodovia Fernão Dias.

— Hum, conta, quero saber tudo sobre você. — Ela


tinha o sorriso meigo e safado ao mesmo tempo.

Peguei sua mão e coloquei em cima do meu pau


duro. — Meu tesão pela manhã precisa ser domado.

— Ah, é?

— É! — Parei o carro no acostamento, tirei o cinto


dela, baixei sua calça e tirei apenas uma das pernas.

— Não acredito, o que vai fazer? — Maia ria e


beijava meu pescoço me deixando ainda mais duro. Abri
minha braguilha e a puxei mais para meu colo. Sua boceta
encharcada prontinha para mim. Enfiei um dedo, enquanto
massageava seu clitóris com a palma da mão. Maia era
extremamente sensível e receptiva, rebolava e se
lubrificava ainda mais.

— Vem Maia, senta no meu pau. Devagar! —


Segurei-a firme pela cintura. — Quero sentir sua boceta se
arreganhar me engolindo todo.

— Há! José...

— Isso, rebola no pau... — Segurava firme as coxas


da minha ninfa enquanto ela me enlouquecia com seu
cavalgar, sua respiração descontrolada, seus cabelos
balançando exalando um perfume maravilhoso, tirando
todo meu controle, senti o gozo vindo forte, as bolas se
contraindo. Enfiei a mão entre nossos corpos, e estimulei
seu clitóris. — Goza, Maia, goza comigo. — Era só o que
ela precisava para explodir gritando e gemendo. Me
proporcionando um dos melhores orgasmos que já tive. Na
porra de um carro, no meio da estrada.

Quando fui buscá-la, levei-a direto para a minha


casa. E pela primeira vez, consegui tê-la em uma cama, e
era desta forma que gostaria de passar todas as tardes da
minha vida, dentro da Maia. Não queria sair dali por nada.
Estávamos envolvidos em um clima de júbilo e êxtase.

Só em pensar que nada entre nós era concreto, que


teria que deixá-la em sua casa e ir embora, me apertava o
coração. Não quero namorar Maia, quero-a como esposa,
ao meu lado, todo o tempo.

— O que vou fazer sem você?

— Por que ficaria sem mim, vai me deixar? — Em um


impulso me coloquei sobre ela.

— Nunca! Não quero te deixar por nenhum segundo.


— Maia se afastou um pouco, me deitei ao seu lado e uni
nossas mãos.

— José? — chamou-me pensativa. — É... —


titubeou. — A gente, você, não deveria usar camisinha? —
Apertei sua mão olhando sério para a união das duas.

— Deveria — sussurrei mais para mim que qualquer


outra coisa.

— E se eu engravidar? — Olhei para Maia pensando


como seria ter um filho com o amor da minha vida, seus
pais seriam obrigados a aceitar nosso relacionamento.
Pensei por tempo demais, Maia esperava apreensiva a
resposta.

— Você terá que vir morar comigo, Maia, isso seria


maravilhoso. Mas não quero que ninguém pense que foi
por isso que ficamos juntos.

— Também não quero.

— Você realmente toma remédio?

— Não. — Falou séria. Não sei por que fiquei feliz.

— O jeito é você vir morar comigo imediatamente.


Você poderia ficar desde agora. — Falei sério. Vou até sua
casa e converso com seus pais.

— Seu bobo, é lógico que eu tomo remédio. Mas


você não teria como saber.

— Não, não teria. Devo confiar em você?

— Sempre! E eu, devo confiar em você?


— Depende... — falei em um tom de brincadeira,
mas minha vontade era de dizer não. Ela me olhava de
uma forma diferente quando estava desconfiada, Maia
tinha uma intuição muito apurada, tenho certeza de que
ela sabia que havia algo errado, ela só não sabia o que
era. Deu uma mordida forte no meu peito.

— Ah é, depende?

— Ai, sua cachorrinha, vou morder sua bunda!

Não toquei mais no assunto, tinha medo da sua


resposta, poderia até ser coisa da minha cabeça, mas
sempre tive uma intuição muito forte, não sabia
exatamente o que era, mas algo de errado existia.

Na sexta-feira foi a mesma coisa, transamos no


caminho para o estúdio e quando me pegou me levou
direto para um hotel em Pouso Alegre mesmo. Passamos
mais uma tarde maravilhosa. Pelo menos a tarde.

— Maia, vamos sair essa noite.

O bater do coração de José eram músicas para os


meus ouvidos, entre seus braços e o carinho de suas
mãos, eu era a pessoa mais feliz mundo.

— Porque não ficamos mais um pouco aqui


juntinhos, você pode fazer um jantar para mim e saímos
amanhã. Prefiro sair aos sábados, porque não tenho hora
para levantar no domingo.

— Seu pedido é uma ordem. Mas podemos pedir


uma pizza?

— Ótima ideia!

— Já te falei que por mim não te levaria mais


embora. E não é brincadeira, você deveria vir morar
comigo. Odeio que trabalhe naquele estúdio de dança.

Sentia muita raiva quando ele dizia para eu morar


com ele, fugir, ou coisa do tipo.

— Preciso tomar um banho, José.

— Vou te dar um banho bem gostoso, vem.

José me pegou no colo e levou para o banheiro.


Estava sentada em seu colo depois de acabarmos de
gozar, com o rosto enterrado em seu pescoço:

— José, o que você espera do nosso


relacionamento? — José poderia ir embora e não voltar
nunca mais. Não temos nenhum compromisso, não sei o
que posso esperar e tenho uma péssima intuição em
relação a tudo isso. Às vezes tento me preparar para sua
partida, fingir que tudo que estou vivendo com ele é uma
grande aventura e que tudo vai passar. Mas eu estou
perdidamente apaixonada, não sei como vou conseguir
sobreviver se ele sumir, se ele não me quiser mais.

— Você está preocupada com tudo o que está


acontecendo, eu sei. Sei que é tudo muito intenso para
você. Maia, eu não sei como vamos conseguir passar por
todos os obstáculos. Mas pode confiar em uma coisa: Eu
te amo, nunca senti nada parecido por ninguém na minha
vida, não estou brincando com você, com a gente. Vai ficar
tudo bem.

Assim que saímos do chuveiro José ligou o celular.


Só então percebi que estava desligado. E que eu nunca
ouvia o celular dele tocar, nem chegar mensagens, ele,
com certeza, o mantinha desligado. Constatar isso me vez
sentir vontade de chorar.

Antes de conseguir pedir a pizza, seu celular


começou a anunciar a chegada de várias mensagens e em
seguida, tocar. Ele estava sentado na poltrona e eu em
seu colo, não sairia dali. Não mesmo. Ele me olhou sem
saber o que fazer.

— Preciso atender, é meu filho.

Meneie a cabeça positivamente e me acomodei


ainda mais em seu colo.

— Oi, filhão!

— Pai, por favor, para essa mulher, eu não quero ir


para lugar nenhum com a minha mãe, ela está dizendo que
minha vó está doente, mas é mentira. Pai por favor, quero
ficar aqui com o meu avô, fala com a minha mãe. Pai, tô
de saco cheio. Que saco! — Consegui ouvir tudo que o
menino falou.

José se levantou me colocando sentada na poltrona,


visivelmente alterado.

— Cadê sua mãe? Me deixa falar com ela, agora.

O silêncio se fez por completo dentro do quarto,


para em seguida, José esbravejar.

— Que porra está acontecendo?

Ele se afastou ainda mais de mim. Parecendo um


animal enjaulado.
— Tudo bem, Thomas, filho, daqui a pouco estou aí.
— Ele falou olhando desolado para mim. Me empertiguei
na poltrona, levantei e comecei a colocar as minhas
roupas. José falou mais alguma coisa e desligou.

— Maia. — Pegou o meu braço, mas puxei de sua


mão e continuei a me arrumar. — Por favor, meu amor, me
ouve. Não fica com raiva. — Virei-me para ele.

— Não estou com raiva, estou só facilitando a sua


vida. — Terminei de me arrumar de qualquer jeito. Peguei
minha bolsa e saí do quarto, enquanto José terminava de
se vestir.

— Maia, para! Eu não vou. Eu ligo pra ele e digo que


não vou conseguir ir. Não fica assim, por favor. Vem cá. —
Me pegou pelo braço e me levou para o sofá.

— Venho te falando que as coisas não serão fáceis,


Thomas está com depressão, e de um tempo para cá não
quer saber da casa da família da mãe por nada, sei que
aconteceu alguma coisa, mas não tenho ideia do quê.
Neste momento, ela o pegou na casa dos meus pais e
estava o levando para lá. Ela sempre o manipulou, mas
não está funcionando ultimamente e isso faz com que os
dois briguem. Ele só pode contar comigo, prometi para ele
que estaria lá sempre que ele precisasse.

Ele segurou meu rosto com as duas mãos. — Quero


muito você ao meu lado, Maia, não desista de nós.
— Só me deixa em casa antes. — José pegou as
chaves de casa, a carteira e o celular. Eu não tinha o
direito de ficar chateada, nem um compromisso de
verdade temos.

— Maia, vem comigo?

Eu queria ser louca para largar tudo e ir embora com


ele.

— Não te conheço, José, não sei quem é você. —


Ele freou o carro imediatamente no meio do nada.

— Eu prometo que estou sendo o mais sincero


possível.

Possível.

José me puxou para seu colo, encostei a cabeça em


seu peito e senti sua respiração pesada. Ele voltou a
dirigir, suas mãos passeavam pelas minhas costas
enquanto eu ouvia seu coração disparado dentro do peito.
Não posso jogar esse jogo. Simplesmente não posso.
O ódio me dominava por completo, a filha da puta
sabe exatamente como chamar a minha atenção.

Liguei para o meu pai para saber melhor o que


aconteceu.

— Oi, filho, tentamos falar com você.

— Falei com Thomas, estou a caminho, o que


aconteceu?
— Leila veio aqui, fez o maior drama, insistiu tanto
para que Thomas fosse com ela, que mesmo contrariado
ele foi. Tentamos falar com você, mas seu celular estava
dando fora de área, e foi muito rápido, ela não ficou aqui
nem quinze minutos.

— Ela não vai aí há anos. Cadê a Celina?

— A Celina está aqui, graças a Deus ela nem


perguntou pela menina.

Não conseguia tirar Maia da cabeça. Meu coração


quase parou com a forma que se despediu, nunca imaginei
ser possível sentir um amor tão grande. Preciso parar
Leila, acabar com essa doença chamada de casamento.

Cheguei em casa passava um pouco da meia-noite,


Leila estava na sala falando no telefone com uma taça na
mão e visivelmente alterada, minha vontade foi de enfiar a
mão na cara dela.

Quando me viu desligou o celular rápido, passei


direto, se eu parasse, se olhasse, se falasse qualquer
coisa, não me seguraria, tenho certeza. Tentei entrar no
quarto do Thomas, mas a porta estava trancada.

— Thomas?! Abre a porta! Abre essa porta, filho! —


Ouvi barulho e em seguida a porta foi destrancada.

— Pai? — Entrei e tranquei a porta.


— Senta, Thomas, você sempre diz que não é mais
criança, agora vai conversar com seu pai como um
homem. — Ele ficou por um bom tempo me olhando, até
que resolveu sentar-se e começar a falar:

— Pai, só queria ficar na casa dos meus avós, minha


mãe está muito chata.

— Filho, preciso que você seja honesto comigo —


fui categórico.

— JOSÉ! — O grito veio de longe e foi ficando cada


vez mais perto, e mais alto, os berros da Leila eram de
desespero. Ela tentou abrir a porta e quando percebeu que
estava trancada se desesperou ainda mais. Não movi um
músculo.

— Pelo amor de Deus, José, minha mãe... ela está


morrendo. — Thomas, pulou da cama e destrancou a
porta. — Pelo amor de Deus, me leva para lá, pelo amor
de Deus, José, é a minha mãe.

Seus gritos, suas lágrimas, só me deixavam com


mais raiva, mas Thomas me olhava esperando minha
reação. Peguei o celular, liguei para Ricardo e pedi para
que a levasse.

— Você não vem comigo? Minha mãe pode não


chegar viva no hospital.
— Não, não sou médico. Vou ficar com Thomas,
vamos descansar.

— Thomas, meu filho...

— Thomas não vai. Se não sair daqui agora, nem


você vai, Leila. A PORRA DA SUA MÃE NÃO ESTÁ
MORRENDO? ENTÃO, CORRE CARALHO! — O demônio
saiu desnorteado, Thomas se sentou pensativo na cama.

— Achei que era mentira dela que minha vó estava


passando mal, só para eu ir pra lá.

— Por que, de repente, você não quer mais ir de


jeito nenhum para casa da família da sua mãe?

— Não é nada. Já falei. Eu estou cansado, eu não


tenho paz, estou de saco cheio, não aguento mais.

— Descansa, Thomas, mas amanhã vamos


conversar, entendeu? — Ele se jogou na cama e se cobriu
dos pés à cabeça. Saí e fechei a porta, não queria dormir
ali, mas não iria deixar Thomas sozinho, e não estava em
condições de dirigir mais nem cinco minutos, estava
exausto.

Tomei um banho, já era quase 2h quando me deitei


no quarto de hospedes, mesmo com muito sono e muito
cansado, não conseguia dormir pensando em Maia.
Mandei uma mensagem.
José 02h13

Não desista de nós.

A resposta chegou logo em seguida:

Maia 02h14

Não posso jogar esse jogo. Desculpa.

Sentei desnorteado na cama. Liguei para ela, só


chamou, chamou. Mas ela não atendeu.

José 02h15

Me atende, não faça isso comigo.

Tentei inúmeras vezes e nada. Continuei


incessantemente.
Maia 02h21

José, não posso falar, ninguém sabe que tenho


celular, quando voltar a gente conversa.

José 02h21

Meu amor, vou fazer tudo o que estiver ao meu


alcance para colocar as coisas em ordem e voltar o mais
rápido possível.

Maia era meu anjo salvador. Não voltaria nunca mais


para o inferno em que estava.

Leila sabia que as coisas haviam mudado e estava


fazendo de tudo para dificultar as coisas.

Thomas não quis sair do quarto, não quis comer,


dizia não estar se sentindo bem.

— Filho, por favor, vamos para casa dos seus avós,


podemos passar no médico.

— Pai, pelo amor de Deus. Só estou sem fome, com


um pouco de dor de cabeça, não consegui pregar os olhos
essa noite, me deixa só dormir e descansar.

A única coisa que podia fazer era dar esse tempo


para ele. Precisava tirar Thomas de casa para poder falar
com Leila. Mas a desgraçada sabia exatamente o que
estava fazendo. Liguei inúmeras vezes para ela sem
nenhum sucesso. Depois de um tempo, meu celular tocou.
Era ela:

— Desculpa, estou no hospital, estava no CTI.

— Estou indo até você, precisamos conversar.

— José, não vou deixar minha mãe sozinha para


escutar suas insanidades, você não é mais moleque. Sei
que Thomas não está bem, se eu estou aqui ele precisa do
pai. Você tem dois filhos, uma casa e esposa, não pense
que um rabo de saia vai desfazer a minha família. Eu
nunca permitirei. Eu sou a sua mulher. Ninguém vai
destruir a minha família. NINGUÉM!

— Você é louca!

— Não! Sou Leila Brandão, sua esposa. Não


esqueça disso. Ou vou ensinar direitinho como se “dança”.
Tenho certeza de que muita gente se machucará.

O sangue fugiu do meu corpo. Ela desligou o celular


e fiquei ali paralisado. Ela ameaçou a Maia. Como ela
sabia?
Assim que me acalmei, liguei para Maia.

— Oi. — Foi direta, como nunca.

— Tudo bem? Já saiu de casa?

— Ainda não, meu pai vai me levar.

— Meu amor, não me afaste de você.

— José, preciso ir, meu pai já está esperando.

Olhei no relógio ainda eram 11h da manhã. Era


mentira. Não disse nada, arremessei o celular na parede.

— INFERNO!

Thomas passou o dia deitado, sem ânimo para nada.


Mal comeu. A filha da puta mandou avisar que não voltaria
para casa.

— Filho, vamos jantar?

— Não quero, estou sem fome.

Sentei no pé de sua cama.


— Pai, não queria conversar — falou baixo. — Ainda
não quero.

— Tudo bem. O abracei forte, nunca precisei tanto


senti-lo em minhas mãos. Meu filho estava sofrendo, eu
estava sofrendo e não sabia como nos tirar dali.

Minha secretária conseguiu adiantar a consulta com


Elaine, a psicóloga do Thomas para segunda-feira.
Precisava conversar com ela.

— Vou te trazer uma sopa, tudo bem? — Ele apenas


meneou a cabeça que sim.

Como já esperava, ele não tomou mais de duas


colheradas.

Assim que saiu do quarto de Thomas, Ricardo


chegou me trazendo outro celular.

Várias mensagens chegaram de ligações perdidas,


de um número de celular que eu não conhecia. Não me dei
ao trabalho de ver nenhuma. Mandei várias mensagens
para Maia. Fiz ligação de vídeo. Ela simplesmente me
ignorou. Deixei algumas mensagens, mas nada dela
visualizar.

Foquei em meu filho, no trabalho e tentando


acreditar que Maia estivesse dormindo. Que assim que ela
acordasse no dia seguinte, iria me retornar.
Não havia pregado os olhos, saí do escritório às 5h
e fui ver como Thomas estava, não o encontrei na cama.
Ouvi-o vomitando no banheiro, quando coloquei a mão
nele percebi que estava queimando em febre. Peguei-o e
fui direto para o hospital.

Carla chegou às 9h.

— Por que não me avisou quando estava vindo?

— Ele foi bem atendido, a pediatra dele chegou


quase junto com a gente. Drª. Vanessa já pediu todos os
exames possíveis.

— Vi que já foram feitos. Vai tomar um café


enquanto ele dorme, eu fico aqui com ele, você está com
uma cara péssima.

Saí do quarto para tentar falar com Maia que não


atendeu de novo, as mensagens que eu havia mandado,
ela visualizou e não respondeu. Mas, neste momento
precisava dar atenção para Thomas, tentei não pensar no
pior em relação a Maia, estava sendo quase impossível.

Meu filho fez uma bateria de exames, praticamente


viram Thomas do avesso. E nada foi encontrado, não deu
nenhuma alteração em seus exames. No fim do dia, a
psicóloga da pediatria veio falar comigo. Perguntou onde
estava a mãe dele. Expliquei que estava em outro hospital
acompanhando a própria mãe e que ele estava fazendo
acompanhamento com uma profissional.

Thomas ficou em observação aquela noite, e mais


uma que eu não dormi. Maia não me atendeu no telefone e
não me respondeu.

Leila ainda estava no hospital com a mãe, Thomas


não havia mais vomitado nem apresentado febre, teve alta
e o levei para a casa dos meus pais, ele estava meio
desanimado, porém melhor. Na terça-feira cedo voltei para
Careaçu. Fui direto para sala do Samuel.

— Boa tarde, José.

— Para que me ligou?

— Maia, deixou um aparelho de celular comigo,


pediu para eu te entregar. — Pegou a caixa de sua gaveta
e colocou em cima da mesa.

— Era só isso? — Ele titubeou, com certeza tinha


muito serviço, mas acredito que viu na minha cara que não
tinha condições de falar sobre nada.

— Por ora, só.

Meu mundo parou e tudo virou um nada imenso,


peguei as chaves do meu carro e fui atrás dela.
Estava despedaçada, nem sei como estava
conseguindo fazer tudo como se nada estivesse
acontecendo.

Mais um dia estava me arrastando, respirei aliviada


quando chegou a hora do almoço e saí para não ter que
conversar com ninguém.

Caminhava pela calçada vendo as vitrines e


pensando em toda bagagem que ele carregava. De
repente senti José, virei para trás e vi seu carro quase me
alcançando, me deu vontade de sair correndo, não sei se
para ele ou dele. Freou ao meu lado.

— Entra, Maia. — Parei na calçada e virei de frente


para o carro, indignada. — Por favor, não posso ficar
parado aqui.
Ele não desistiria, o que imaginei? Que ele
simplesmente aceitaria o celular e ponto final?

Respirei fundo e entrei no carro, seria sincera com


ele. Ele foi direto para o hotel.

— Não, José, não quero entrar aqui.

— Maia, não temos onde conversar com privacidade,


não precisamos passar por isso no meio da rua, ou dos
outros. Sei que ainda não almoçou, nem eu, podemos
almoçar enquanto conversamos.

— Tudo bem, mas não quero almoçar, comi uma


besteira no estúdio. — Menti. E ele sabia. Pediu tudo que
eu gostava.

Veio para cima de mim com gosto de gás. Me


abraçou com desespero, beijou e cheirou meus cabelos e
pescoço.

— José, por favor, não foi o que combinamos, quero


realmente que me ouça. Precisamos esclarecer as coisas.

— Tudo bem, Maia. Sente-se, vamos conversar.

— Não quero mais. — Não sei por que disse isso


assim, nem porque disse só isso. José ficou por longos
minutos me olhando.
— Você nunca quis realmente, não é? Você
simplesmente estava entediada, queria um pouco de
aventura, sair da rotina, experiência. Só não contava que
o idiota aqui se apaixonaria. Não é mesmo?

— Não sou obrigada a ficar aqui sendo ofendida. —


Levantei da mesa com ódio, mas não saí, continuei
falando.

— É por isso que não te quero, você não é confiável,


não perde uma oportunidade de me ofender, não é
verdadeiro. Acha que sou idiota, a menininha da roça, que
vai enrolar, sabe-se lá até quando. Quando pretendia me
apresentar seus filhos?

Ele abaixou a cabeça, suspirou.

— O quanto antes...

— O quanto antes? Por que está assim, qual é o


problema?

— Maia, Thomas está passando por uma fase


horrível, não quero que nada dê errado entre vocês.
Suportaria qualquer coisa, menos você e meus filhos não
se entenderem. Preciso de um pouco de tempo, vou fazer
tudo dar certo.

— Tenha o tempo que quiser, José.


— Maia...

— Não. Se não me levar embora, vou chamar um


táxi. — Peguei o celular que havia comprado, ele ficou
olhando para o aparelho.

— É o mesmo número?

— Sim. Você pode me levar? — Ele parecia uma


estátua parado no meio do quarto.

— Posso.

Fomos em total silêncio até o estúdio. Olhei para ele


que olhava fixamente para frente.

— Tchau.

— Tchau. — Ele respondeu sem me olhar. Parecia


que estava em estado de choque. Mesmo depois que
entrei, o carro ficou parado no mesmo lugar, não
conseguia vê-lo lá de dentro, mas tinha certeza que não
tinha se movido. Desabei sem controle. Cláudia veio me
encontrar, desesperada.

— Maia, o que aconteceu, pelo amor de Deus, você


foi assaltada? O que aconteceu, Maia? Vem, senta aqui.

Ela me colocou sentada em sua cadeira atrás do


balcão da recepção, ainda bem que estava na hora do
almoço e não tinha ninguém por ali.
— Eu terminei tudo com José. Terminei o que nem
tinha começado. — Falei em pranto.

— Terminou por telefone?

— Não, ele estava ali, parado no estacionamento. —


Ela foi até a porta olhar.

— Ele ainda está lá. Porque não vai até ele e desfaz
essa merda? Porque pelo choro, não é exatamente o que
quer fazer.

Só balancei a cabeça negativamente.

No dia seguinte, Danilo não parava de me encarar


desde o momento que entrei no carro pela manhã, quando
chegamos na rua perguntou cheio de razão:

— Por que você está chorando desde ontem? Foi o


tal José?!

— Só se foi por telepatia. — Esbravejei. — Não


precisam mais se preocupar, não existe mais José. —
Comecei a chorar.

— Calma, Maia, já, já as coisas se encaixam. Ele


não vai desistir fácil de você. Ele foi ontem lá na serraria.

Olhei sério para Danilo. — Que horas? E foi fazer o


quê?
— De tarde, foi conversar com seu Edgar. Mas o pai
não o atendeu. Marcos e eu achamos melhor não nos
intrometermos.

— Ótimo, não sei por que ele foi lá, eu disse que
não queria mais nada com ele.

Danilo levantou as sobrancelhas sem acreditar no


que eu dizia.

— Agora pare de chorar que já estamos chegando,


ele provavelmente vai te arrancar de dentro do carro como
todos os dias.

— Não! Danilo, por favor, não quero falar com ele,


não quero vê-lo, me leva em Pouso Alegre? Por favor!

— Maia, o que esse cara fez pra você?

— Nada, eu juro, só estou com um mau


pressentimento.

— Se você não me falar vou ir atrás dele para


perguntar. Eu te levo em Pouso Alegre, mas você vai falar
exatamente o que está acontecendo.

— Não vai dar certo, vamos forçar a barra com o pai,


para no fim não dar em nada de qualquer jeito. Na sexta-
feira passada o filho dele ligou chorando, ele teve que sair
daqui para ir a São Paulo. Eu fiquei morrendo de ciúmes.
Ele me chamou para ir junto. Mas você sabe que, mesmo
se namorássemos, nunca poderia ir. Não de boa e sem
briga. Não tem como ser um relacionamento de paz.

— Você falou isso para ele?

— Não com essas palavras.

— E o que ele fez?

— Ele implorou para tentarmos, diz que dará um


jeito para tudo.

— E que horas foi isso?

— Falei ontem na hora do almoço, ele apareceu lá


no estúdio, mais ou menos umas 13h.

— Então, foi após tudo isso que ele procurou pelo


nosso pai na serraria, coitado. Acho que ele está mesmo
apaixonado por você. Deve ser difícil ficar entre filhos e
uma paixão.

— O problema não são os filhos, a menina, tadinha,


é pequena, e parece que não dá nenhum trabalho,
praticamente mora com os pais dele, parece que a mãe
não tem muito carinho e paciência com ela. O problema é
a ex-mulher, que parece que manipula o menino, e agora o
garoto está depressivo. Precisava ouvir como ele falou da
própria mãe. E José está com receio de me apresentar
para ele e piorar a situação do filho.

— Estou com dó do cara. Acho que ele realmente te


ama. E acho que você não o ama tanto. Precisa muito
amor, muita garra, ser muito forte para assumir uma
relação como essa. Você não precisa passar por isso. Se
você está certa da decisão que tomou, siga em frente, não
fique sofrendo desta forma.

— Vou seguir. — Ele me olhou desconfiado. Sei


exatamente o que ele está fazendo. Me desafiando, me
testando.

O que me faz voltar com os pensamentos


aterrorizantes, ele me quer, diz que me ama, sinto seu
amor tão forte e verdadeiro. E ainda sim, as coisas que me
diz me deixa em total alerta: vou te sequestrar, vamos
fugir?

Fugir? Por que fugir, José, o que você me esconde?

A tristeza era incontrolável. Terminei de arrumar


minha bolsa, peguei meu celular e vi as mil mensagens
que José vinha mandando. Não abri nenhuma, já era
sexta-feira e a única vontade que eu tinha era de me
deitar e esperar a minha vida toda passar.

Estava exausta, não andava dormindo muito, perdia


o sono com meus pensamentos tenebrosos, e a falta que
sentia dele me esgotava emocional e fisicamente.

Uma amiga foi dar aula no meu lugar no sábado,


ajudei minha mãe com os afazeres domésticos. Não queria
conversar com ninguém e me limitava a responder “sim”,
“não” e nada mais. Depois do almoço fui para o meu
quarto deitar e sofrer.

— Maia? — Minha mãe me chamou da sala. Não


respondi. Bateram na porta do meu quarto e entraram em
seguida. Me virei lentamente para ver meu pai parado na
porta. Fiquei olhando para ele esperando a bronca.

— O cara está aqui. Quer recebê-lo? — Meu coração


disparou e pensei que fosse sair pela boca. Olhei para
meu pai, espantada. Por que agora ele quer minha
opinião?

— Agora posso recebê-lo? Por que não o recebeu


quando ele quis conversar com o senhor? Por que não me
deixou namorar com ele? Está com pena de mim. Não
preciso disso, nem do senhor.

Meu pai me fuzilava com os olhos. Minha mãe entrou


no quarto.

— Não vou recebê-lo, principalmente aqui — cuspi


as palavras.
— Filha, não adianta ficar assim, acho melhor ir
conversar com ele. O pobre está despedaçado.

— Estamos do jeito que vocês queriam. Vocês


deveriam comemorar.

Meu pai saiu cuspindo fogo. Não dava para ouvir o


que estava acontecendo lá fora. Depois que minha mãe
saiu, corri para o quarto dela para ver da janela. José
estava entrando no carro, meu pai estava parado próximo
ao veículo.

Foi a coisa mais horrível que já vivi, vendo ele ir


embora. Quando o carro sumiu achei que não conseguiria
ficar em pé.

Corri para o meu quarto em seguida minha cunhada


entrou.

— Por que está fazendo isso? Ele disse que volta.


Maia, fiquei morrendo de dó. Ele foi impecável, educado,
firme, se fazendo de forte, mas está na cara que está só o
caco. Vai fugir dele até quando?

— Não estou fugindo, achei que seria mais fácil.

Me empertiguei na cama e olhei sério para ela.

— Sabe aquela coisa que todos dizem que eu tenho,


tipo um sexto sentido? Que sinto quando alguma coisa
ruim ou boa vai acontecer? — Ela meneou a cabeça que
sim. — Sempre foi assim desde quando eu era pequena.
Eu sinto que algo está errado, ou que alguma coisa ruim
vai acontecer.

— Maia! Para com isso, você gosta dele. Agora até o


seu pai já entendeu.

— Ju, por favor, não me leva a mal, só quero ficar


sozinha. Tá bom?

O domingo foi ainda pior, fiquei esperando ele


aparecer o dia todo e nada. Precisava me reerguer, já sofri
o suficiente. Levantei cedo na segunda-feira, tomei um
banho, me arrumei e fui trabalhar.

— É muito bom te ver assim, Maia. — Olhei para


Danilo com carinho.

— Obrigada! — José não estava no ponto da praça.


Foi bom, o dia não foi fácil, mas melhor do que os da
semana passada. José parecia estar se recuperando
também. Ele mandava bem menos mensagens. Mas
mandava diariamente. Não lia, não abria as mensagens,
não estava preparada para ler, nem ouvi-las.

Comecei a pensar em cada momento, no que sentia


quando estava nos braços dele, no amor que sentíamos
um pelo outro. Estava voltando do trabalho na sexta-feira
quando meu celular tocou, já estava desesperada de
saudade e repensando todas as minhas últimas decisões.
Olhei o visor com a foto do meu amor e sorri.Antes que a
ligação caísse, atendi.

— Alô... — ele não respondeu. — José?

— Maia! Meu amor, como é bom ouvi a sua voz.

Fechei os olhos, maravilhada com a voz dele no meu


ouvido.

— Não aguento mais ficar sem você.

— Onde você está, meu anjo?

Olhei pela janela do ônibus. Estava entrando na


cidade.

— Chegando no ponto da praça.

— Estou indo pra lá, me espera.


Chegamos juntos, não esperei-o descer e corri para
seu carro, entrei e me joguei no colo dele.

Beijei sua boca com desespero, montei em seu colo


toda estabanada, segurando seus cabelos como uma
esfomeada. José me pegou em minha bunda com as duas
mãos e me puxou para cima do seu pau.

— Ah! — gemi em sua boca.

— Vamos sair daqui. — Encostei a cabeça em seu


peito enquanto José dirigia. — O tesão era tanto que
rebolava em seu pau, lambia seu pescoço, mordia sua
boca. Sem desgrudar do seu corpo abri toda sua camisa,
passava as unhas em seu peito, senti minha calça úmida
com os fluidos da minha boceta encharcada, me esfregava
nele sem nenhum pudor.

— Eu sei o que você precisa... — José enfiou a mão


embaixo da minha blusa e segurou o bico do meu seio,
girando os dedos me fazendo sentir ainda mais tesão.
Esfregando o clitóris em seu pau duro, seus dedos
torturando o bico do meu seio, sua boca em meu pescoço
e ouvido, cheguei no limite, senti meu corpo ferver e
formigar. Segurando as duas mãos em seus ombros
aumentei o ritmo e mordi seu pescoço quando gozei
deliciosamente. Fui diminuindo o ritmo aos poucos, mas o
tesão continuava, não conseguia ficar parada. Ele parou o
carro de frente com a porta e saiu de dentro comigo no
colo.

Beijava seu pescoço, chupava e gemia enquanto ele


andava, e minha boceta inchada e gozada ia de encontro
com seu pau que mais parecia uma barra de aço.

— Calma, meu amor, já vou te dar o que você


precisa. Quero sentir essa boceta gulosa engolindo meu
pau todo.

A porta foi fechada e José me encostou na pilastra


ao lado. Chupou meu seio, foi beijando e abaixando até
minha barriga, desceu minha calça, me apressei a tirá-la
pelos pés e chutar para longe.

Abri sua calça abaixando só o necessário, José me


ergueu e me penetrou, urrando alto.

— Delícia... porra de boceta gostosa. José me


socava sem piedade. Suas mãos apertavam a minha
cintura e o som dos nossos corpos se chocando era
indecente...

— Ah, Maia, que saudade, saudade do seu cheiro,


da sua pele, dessa sua boca. Dessa boceta apertada!

Cada vez José me apertava mais e me metia com


mais força.

— Ah! José... mais forte! — Ele saiu de dentro de


mim. — Não, não... quero mais.

— Tenho certeza que quer, minha ninfa... — José me


virou rápido, o tapa que me deu na bunda ardeu, estalou
alto e elevou o tesão. Me curvou com brusquidão pela
nuca e se enfiou dentro de mim novamente. Gememos
alto.

— Ah, ah, ah...

— Isso minha cadelinha, grita.


José me socava como um animal, seu pau batia tão
fundo arrancando um frio agudo das minhas entranhas, me
deixando com um tesão descontrolado. Não precisou
muito para eu gozar com José me socando forte, quando
gritei seu nome ele soltou meus cabelos me trazendo para
ele, grudando nossos corpos, senti-o ainda mais fundo. A
intensidade com que José me possuía, beirava a dor, e
isso era excitante ao extremo.

— Ah, minha cachorra... Você nunca me espera,


precisa aprender a se controlar.

Com a mão no meu clitóris, estimulando meu seio,


me socando com fúria, sua voz grossa de comando no
meu ouvido... em segundos, não demorou para eu estar
quase gozando de novo, estava perdendo as forças.

— José... não vou aguentar, vou gozar...vou gozar...

— Goza! — sussurrou no meu ouvido. E eu obedeci.


O orgasmo foi tão intenso me fazendo tremer, tendo
espasmos descontroladamente. Tendo que ser amparada
por José que gozava junto comigo, seu esperma escorria
pelas minhas pernas, e ele ainda pulsava dentro de mim.

Depois que tomamos banho e fizemos amor embaixo


do chuveiro, deitei exausta e sonolenta na enorme cama.

— Meu amor, preciso participar de uma reunião, é


bem rápido, tira um cochilo que eu já volto.
— Não, não vou ficar aqui sozinha, me dá um
segundo, eu me arrumo rápido.

— Vou fazer daqui do escritório, uma


videoconferência, pode ficar deitadinha aí do jeito que
você está, nua. Eu já venho.

Antes de cochilar mandei uma mensagem para


minha mãe e não demorou meu celular tocou. Apaguei em
seguida e acordei com José beijando a minha boceta, e eu
podia, com certeza, ser acordada todos os dias daquele
jeito.

Estava deitada e suada no peito dele.

— Meu amor? — Olhei para ele, que imediatamente


começou a falar...

— Preciso te explicar algumas coisas, quero que


entenda a minha situação. Tenho um péssimo
relacionamento com a mãe dos meus filhos, sempre
acabava fazendo suas vontades para não ficar longe
deles. Não vou ficar aqui falando dela, só quero que saiba
que podemos ter problemas reais, principalmente porque
quero a guarda total dos dois, Maia.

— Ela te daria?

— A da minha filha, sim, do meu filho, com certeza


que não. Mas quero os dois, já estou conversando com um
advogado, e sei que será uma guerra.

Fiquei pensativa tentando entender o que aquilo


realmente significava.

— Maia? — Ele interrompeu meus pensamentos.

— Você pensa em um futuro para nós, ou está


brincando de namorar?

— Meu amor, é exatamente isso que quero te falar.


Não posso tirar meus filhos de São Paulo, com o meu
trabalho nem poderia morar tão longe de aeroportos.
Nunca tive ninguém, quando nosso relacionamento vir à
tona, minha ex-mulher vai fazer da minha vida um
verdadeiro inferno, e da sua também.

— O que está sugerindo? Para mantermos em


segredo nosso relacionamento? — Falei brava, virando o
corpo para ele.

— Me escuta, Maia, me deixa terminar.

— Fala, mas até agora não respondeu minha


pergunta.

— Escuta, quando for preciso, quando tudo estourar,


pois não vou esconder nada de ninguém, precisarei ficar
mais tempo em São Paulo, e de qualquer forma, o que
tenho que fazer aqui, não levará mais um ano.
— Entendi, entendi tudo, José! — Ele perdeu a
paciência.

— O que a senhorita entendeu? Diga, já que não me


deixa terminar de falar. — Não disse nada, não sei o que
pensar.

— Quero que venha morar comigo. — Foi categórico.


— Maia, foi isso que entendeu? Não vou ficar dias longe
da minha mulher, quero você ao meu lado. Se depender de
mim, nosso namoro não terá uma vida longa. Te quero
toda, só para mim. O que estava tentado saber de você, é,
se está disposta a assumir uma família inteira ao meu
lado, as crianças estão em fases cruciais...

— Seus filhos não são problema. Amasiar, juntar,


amigar; sim. Não quero ser uma mulher amasiada, sou a
única filha dos meus pais, minha mãe e eu sempre
sonhamos com o meu casamento.

— Vamos nos casar, eu prometo. Só espero que dê


tempo, que eu não precise ficar sem você, não vou
aguentar.

Já era noite quando José foi me levar.

Tinha mandado uma mensagem para minha mãe


dizendo que estava conversando com ele. Em seguida
meu pai me ligou, pediu para eu levá-lo para casa, que iria
ter uma conversa com ele também.
— Você quer desistir? — Perguntei sorrindo.

— Ainda dá tempo?

— Ah, é assim! — Ele soltou seu cinto e em


seguida, o meu.

— É assim, quer ver? Tira essa calça. E vem sentar


aqui no meu colo.

Não demorei um minuto para fazer o que ele


mandou. Sentei como ele gostava, em seu pau, bem
devagar, sentindo ele me arreganhar toda, gemendo,
enquanto ele dirigia. Era difícil acomodá-lo todo dentro de
mim, o sentia batendo em meu útero, grande, grosso me
deixava maravilhosamente dolorida.

— Isso, minha cadelinha me aperta... ah, porra.

José segurou com força minha cintura.

— Quica, porra! Quero sentir sua bunda batendo nas


minhas bolas.

Sua mão forte na minha cintura ditava um ritmo


rápido e forte. Sem controle José jogou o carro para fora
da estrada quase no meio do mato. Segurou minha cintura
com as duas mãos.

— Assim, caralho, me fode Maia, fode com força,


ahhhh... vadia gostosa, apertada do caralho!!! Vai cadela,
vou te encher de porra. Ahh! Toma... Hammmm!

José se enterrou em mim e ficou. Sentia seu pau


pulsar e jorrar seu sêmen quente lá dentro.

— Ah, Maia... caralho, como você é perfeita. Eu


precisava disso.

— Tem 20 minutos que gozou, José.

— Não esqueça pode ser minha última gozada.

— Não acredito que está com medo do meu pai.

— Nem eu.

Fui levantar do seu colo, mas ele não deixou.

— Vem cá, agora é a sua vez.

— Nem pensar. Vamos embora. E você vai ter que


me pagar depois.

— Pretendo estar vivo para isso.

Caí na gargalhada. José todo dono do mundo, com


medo do meu pai.

Entrei de mãos dadas na sala com ele. Danilo olhou


e riu:

— O aspirante foi promovido?


— Danilo!

— Você tinha dúvida? — José respondeu.

— José, não entra nas provocações do Danilo, ele


não bate bem da cabeça.

— Sempre soube, é nítido.

— José! — Sorriram e cumprimentaram-se;


educadamente.

Meus pais entraram na sala, José soltou a minha


mão para cumprimentá-los, eu estava extremamente
ansiosa.

— José, janta com agente?

— Mãe, vou só tomar um banho e vamos para a


choperia.

— Podemos jantar e depois vamos, Maia.

— Até parece que ele vai perder a boia. — brincou


Danilo.

— Acha que estou aqui por quê?

— Acho melhor eu ir tomar meu banho, então —


falei.

— Vou com você filha.


— Mãe, a senhora vai deixar o José com o Danilo e
o papai?

— Qualquer coisa é só procurá-lo no jardim quando


voltar. Vou deixar a pá fácil para você. — Danilo provocou.

— Não vou suportar esses dois. — Meu pai


esbravejou, olhou para Danilo. — Já suporto você e
Marcos o dia inteiro, mereço um pouco de paz. Vou
colocar os dois para cortar lenha. Fica mais fácil brigar
com um machado nas mãos.

— Pai!

— Ele vai sobreviver. Pode ir tomar seu banho em


paz. Vou beber para suportar. — Resmungou seu Edgar.

Seu Edgar foi bem razoável, pediu para eu respeitar


sua filha, sua casa e suas regras. Que meus filhos seriam
bem-vindos em seu lar.

Expliquei por cima que meu menino estava passando


por um momento complicado e ele me surpreendeu me
aconselhando, o admirei muito. Eu realmente quero trazer
os meus filhos para esse ambiente, fazer parte desta
família, me senti em casa como me sentia com os meus
pais.

No sábado, jantei na casa de Maia e saímos depois.


O domingo foi em família, almoço, bilhar, resenha, e muita
encheção de saco dos meus excelentíssimos cunhados.

Estava prestes a me despedir e convidar a Maia para


jantar e fazer amor, porque a safada passou o dia todo me
provocando, queria fodê-la sem dó, quando dona Ada, com
sua imensa simpatia, me intimou:

— José, você janta com a gente, viu? Nem pense em


ir embora antes do jantar.

— Não está mais jantando no seu Lao? — Marcos


zombou.

— Ele precisa recuperar o dinheiro das flores. —


Danilo alfinetou, eu caí na gargalhada.

— Está com ciúme? Amanhã mando para você


também, com cartão e tudo. Só não posso dizer o que
estará escrito, tem inocente na mesa.
— E que continue assim. — Meu pai esbravejou.
Marcos bateu nas minhas costas:

— Ele tem amor a vida, e dois filhos pequenos para


criar.

— Eu vou brigar com vocês. — Maia se levantou da


mesa esbravejando. — Seus inconvenientes.

— Por que você falou que eu era inocente? — Maia


perguntou brava assim que ficamos sozinhos. Já havia me
despedido de todos, estava indo embora. Parei na área,
olhei para meu anjo:

— Vem aqui, minha delícia, você vai brigar comigo?


Só porque... — Agarrei-a pela cintura, estava toda brava
de braços cruzados. — Você é a minha inocente?

— Sou? — Fez cara de safada, e tirou as minhas


mãos de sua bunda. — Acho que realmente sou, então,
por favor, me respeita, nada além de uns beijinhos.

— Maia, Maia... você não me provoca, te pego na


marra. — Apertei-a contra a minha ereção. — E sabe que
vai gostar.

Maia me abraçou, se esfregando.


— Ah minha ninfa gostosa! — Invadi sua boca
suculenta, o tesão no auge, enfiei a mão por dentro da sua
calça e encontrei sua boceta sedenta, quente e molhada.

— Ah! Porra... minha vadia. Preciso te foder. Agora!

A luz da sala foi acesa, e Maia me empurrou para


longe.

— Meu amor, acho melhor você ir, está na hora de


uma mocinha inocente dormir.

— Eu vou mesmo embora, antes que eu cometa uma


loucura.

A família da Maia era realmente ótima, tudo estava


perfeito entre a gente, precisava dar um jeito na minha
situação. Levei-a para o trabalho na quinta-feira cedo e de
lá, fui direto para São Paulo

Foi um tormento deixá-la, mas estava determinado a


resolver minha vida o mais rápido possível.

Ricardo me informou que Leila não estava em casa.


Resolvi ligar para ela.

— Alô.

— Onde você está?


— Bom dia, tudo bem, meu marido?

— Onde você está?

— Na casa da minha mãe, meu...

Desliguei o celular e fui direto para lá. Havia muitos


anos que não ia na casa da família desonesta da Leila.

Quando cheguei, nem chamei, entrei direto.

— José! — A prima da Leila praticamente gritou. Não


demorou muito para o circo estar armado. Leila apareceu
desconfiada, parou ao me ver e ficou me olhando:

— O pai pilantra dela apareceu e o primo que não


desgrudava, Antonio.

— Leila, aparentemente você voltou a morar com os


seus pais.

— Não seja ridículo, estou aqui desde ontem


apenas, preciso cuidar da minha mãe.

Olhei para a plateia:

— Uma filha exemplar, como sempre. Por falar em


filha, faz quanto tempo que você não vê a Celina. — Ela
pensou, mas nem deixei que falasse alguma merda. —
Não importa, não é isso que vim fazer aqui. Vim te dar
dois recados: arrume um advogado da sua confiança e não
me ameace nunca mais, ou vai sair deste casamento com
menos do que quando entrou. Acho que você me
entendeu. É melhor você dançar conforme a música. —
Virei as costas e saí. Ela era tudo, menos burra. Entendeu
que se ameaçar Maia, só ela perde.

Passei o resto do dia trabalhando. No fim do dia, fui


pegar as crianças na casa dos meus pais. Conversei com
eles, expliquei o que estava acontecendo, expliquei com
detalhes minha situação com a Maia.

— Assim que assinar o divórcio, peço Maia em


casamento.

— Filho, você está totalmente errado, você não


deveria ter feito isso com a menina, está mentindo, você
está colocando tudo a perder. — Minha mãe falou
exasperada.

— Já perdi tempo demais na minha vida, e não


conseguiria ficar longe dela por nada.

— Filho, é uma mentira muito grave, ela vai


descobrir.

— Espero que neste dia já estejamos casados no


papel e na igreja.

— Não vou fazer parte desta mentira, José.


— E o que a senhora vai fazer? Vai destruir a minha
felicidade, a que eu nem mesmo sonhava que existia até
conhecer o amor da minha vida?

— José, nunca ficaremos contra você, meu filho,


mas enganar a moça? Uma família inteira? Não pode
pedir isso para nós.

— Já não estou mais vivendo com a Leila, não traio


Maia, só preciso do divórcio.

Depois do jantar fui conversar com Celina. Thomas


já estava ciente:

— Meu amor, hoje vamos para nossa nova casa.

— Com a mãe também?

— Não, será só nós três, a mãe...

— Vocês se divorciaram?

— Quem te ensinou essa palavra, Celina?

— Tenho amigos na escola que falam isso dos pais


deles, é quando eles têm duas casas, que fica um pouco
com o pai, e um pouco com a mãe.

— É isso mesmo, minha princesa...


— Papai, eu quero ter só uma, quero ficar só na sua
casa, não quero ficar com a mãe. Ela vai me obrigar? —
Thomas me olhou sério, depois com pena para a irmã e
ficou esperando minha resposta. Ele também estava
confuso, só não tinha coragem para perguntar.

— Meu amor, não precisa se preocupar com nada


disso, o papai vai resolver tudinho com a mamãe, e
faremos o que for melhor para vocês. Você só tem que se
preocupar em me dar muitos beijinhos, porque estava
morrendo de saudades. — Puxei-a para o meu colo e a
enchi de beijos e carinho.

Assim que chegamos, Thomas e eu mudamos os


sofás da sala de TV de lugar para jogarmos videogame,
enquanto Celina estava deitada em cima fingindo, ora ser
uma princesa sendo carregada, ora uma equilibrista
tentando ficar em pé.

— Filha, senta, você vai cair.

— Não vou papai, eu sou esperta.

— Desde quando? — Thomas provocou.

— Eu sou sim, Tho, não sou papai?

— É, muito esperta. Mas pessoas espertas também


caem.
Nos divertimos e rimos muito. Mas depois de tanto
esforço estávamos exaustos, jogamos pouco.

— Agora vão para cama, amanhã tem aula cedo.


Coloquei Celina para dormir e fui para o escritório, tinha
muito trabalho, mas antes precisava falar com Maia. A
cada dia ficava mais difícil estar longe dela.

Estávamos no meio da conversa, Maia tomava conta


da tela do meu celular, quando Thomas entrou no
escritório de uma vez.

— Pai? — Olhei para ele, e pedi a Deus para que ele


não dissesse nada que pudesse prejudicar meu
relacionamento com ela.

— Fala, filho. — Olhei para tela do celular apoiado


na tela do notebook, Maia ficou séria, prestando atenção.

— Minha mãe quer falar com você, quer que volte


para casa e que nos leve. — Meu sangue gelou dentro do
corpo.

— Filho, sua mãe sabe que isso jamais vai


acontecer, e já falei que isso não é assunto para você se
preocupar, amanhã você tem aula cedo, vai dormir. — Ele
saiu e bateu a porta.

Voltei minha atenção para a tela do celular, Maia me


encarava fixamente.
— Você estava falando...

— Vai fingir que não ouvi o que seu filho falou?

— Desculpa, meu amor. Sinto tanta raiva por ela


usar as crianças. Não quero te envolver antes do tempo
em toda essa confusão. — Maia olhava com tanta
intensidade que parecia ver a minha alma, tenho certeza
de que ela sabia que algo estava errado, ela sentia,
mesmo sem ter noção do que realmente era.

— Já estou envolvida, José. Só gostaria que fosse


honesto.

— Meu amor, o mundo pode cair sobre mim que tudo


bem, só não posso ficar sem você, não fique triste ou
chateada, eu te amo, te amo como nunca amei ninguém.
— Seu olhar estava me matando, um misto de tristeza e
apreensão.

— Quando você voltar conversaremos melhor.

— Eu te amo, não esqueça disso. — Me joguei no


encosto da cadeira exasperado, precisava de um milagre.

Leila não quis, de forma alguma, conversar


pessoalmente, estava usando a mãe como desculpa, seu
Otávio e eu chegamos à conclusão de que era melhor
esperar um pouco mais e tentar um divórcio amigável. Ela
estava ciente, e não importa o quanto adie o resultado,
seria inevitável. Farei o possível para não a confrontar,
pelo menos não enquanto Celina estiver sob os meus
cuidados e da minha família.

Almocei com meus filhos e meus pais no sábado e


em seguida fui para Careaçu. Conseguiria pegar Maia no
teatro.
— José vai me pegar no teatro mãe, vamos nos
encontrar com Jussara e uns amigos dele, depois vamos
para boate em Pouso Alegre.

— Mas você não vai vir em casa nem para tomar


banho e se arrumar?

— Mãe, acabei de tomar banho, vou me maquiar e


trocar de roupa no teatro.

— Maia, Maia, vocês estão namorando, mas juízo


menina! José é um homem experiente, precisamos
conversar sério, precisa impor alguns limites, não pense
que é igual namorar aquele moleque.

Senti meu rosto queimar, imaginando tudo que José


e eu já fizemos, sempre achei que quando acontecesse
seria fácil falar com a minha mãe. Mas me enganei
amargamente, não conseguia nem imaginar pronunciar as
palavras.

— Maia! Meu Deus, não acredito! Por que você está


vermelha? Filha, vocês?! Maia, vocês foram para a cama?
Filha, sempre conversei com você... você já teve alguma
coisa mais íntima com José? Fala a verdade.

— Não, mãe. É que a senhora fica falando essas


coisas, fico com vergonha... — A parte da vergonha era
verdade.

Era maravilhoso estar com José, ele era tudo que


sempre sonhei em um homem, estava a cada dia mais
apaixonada, ele me mimava de todas as formas possível,
cada dia mais carinhoso; quer dizer, menos no sexo, nisso
ele era o oposto, cada dia mais bruto, mais exigente, e
isso era alucinante. Ficávamos juntos todo tempo possível,
transávamos em todos os lugares, possíveis ou não,
aproveitando cada segundo que tínhamos juntos. Pois
dividíamos a semana, ele ficava metade dela comigo a
outra metade com os filhos. E assim, o tempo ia passando.
— Nossa, que desânimo. — Cláudia zombou quando
cheguei na recepção do estúdio. Charles me olhou dos
pés à cabeça. Depois do dia da boate só conversamos
coisas profissionais. Não tinha raiva, mesmo porque, não
teria ficado com José naquela noite se não fosse por ele.

— Estou exausta, vou me arrastar para o ponto.

— Seu namorado ainda está em São Paulo? —


Cláudia enfatizou a palavra “namorado” para pirraçar o
Charles. Ela ficou mais puta do que eu por ele ter ficado
com a irmã da Biazinha. Antes que eu respondesse,
Charles perguntou:

— Quer que eu te deixe no ponto?

— Não, obrigada, Charles.

— Maia... por favor, é só uma carona, não tenha


raiva de mim, eu sei que fui um imbecil...

— Você É um imbecil. — Cláudia o corrigiu.

— Obrigada, Cláudia... Não precisa ajudar, não.

Nos despedimos da Cláudia e fomos saindo.


— Charles, não precisa mesmo, o ponto é bem ali,
não estou com raiva de você, não tem nada.

— É por causa do seu namorado, ele parece ser


excessivamente ciumento.

— Ele é, não excessivamente, mas na medida certa.


E como também sou, não gostaria que ele ficasse dando
carona para suas amiguinhas do trabalho, então, direitos
iguais, não é verdade?

Assim que pisamos no estacionamento, vi José. Meu


coração quase saiu pela boca acelerado.

Ele me alcançou no meio do caminho, me tirando do


chão, devorando minha boca.

Quando entramos no carro, pulei para seu colo,


ainda bem que o estacionamento estava vazio e os vidros
do carro eram muito escuros, impossível nos verem lá
dentro.

Montada em José, me esfreguei, sentindo suas mãos


em todas as partes do meu corpo.

— Estava com saudade! Você nunca ficou tantos


dias longe. — Me afastei de sua boca, totalmente
ofegante, para falar.
— Ah, meu amor, eu estou morrendo de saudade,
vamos sair daqui.

Pulei para o banco do passageiro, enquanto ele


dirigia sem tirar as mãos de mim.

Beijava seu pescoço, acariciava seus cabelos,


extremamente feliz por ele, finalmente, estar ali.

Fomos para o hotel de sempre. Mal entramos, ele


me prensou na porta.

— Maia... — sussurrou enquanto beijava e lambia


meu pescoço, arrancando minhas roupas de qualquer
jeito. — Como você me faz falta.

Abracei seu pescoço, ele me ergueu e eu o enlacei


com as pernas. Sem preliminares, José só abriu a
braguilha e se enterrou dentro de mim. Sem nenhum
controle, cheia de tesão, segurava seus cabelos
devorando sua boca, como uma ninfa.

— Ah!!! Hummm... — Gemi alto com os chupões que


José dava nos meus seios. — José, vou...

— Maia... agora não, garota. — Saiu de dentro de


mim, me colocando no chão, me bateu na bunda me
arrastando para a cama, pegou forte, um punhado do meu
cabelo pela nuca, me prendeu ao seu corpo e me beijou.
Fiquei mole em suas mãos. Sua boca degustava com
primor cada parte do meu corpo, seu hálito quente nos
meus mamilos me deixava em total alerta para o prazer
imenso que sentia quando ele os sugava sem piedade,
arrancando meus gritos e gemidos.

— Haaaa!!! — Rosnou como um animal com o nariz


enfiado na minha boceta. Abriu os grandes lábios e
lambeu.

— Ah! José... aí, não vou aguentar. — Ele lambeu


com mais intensidade, gemi mais alto, passeava do meu
anus ao meu clitóris, as mãos de José seguravam minhas
pernas abertas.

— Você é minha, essa boceta é só minha,


vadiazinha no cio.

— Haaaaa... José!!! Ai!! Hummm.... Hammm...


José...

— Ah... Minha putinha, você vai gozar com meu pau


enterrado nesta boceta gulosa. Minha cadelinha gosta de
gritar… Quero ouvir seus gritos no meu ouvido enquanto
eu te fodo.

Estava desesperada por ele, o tesão dominava cada


célula do meu corpo.

José se enterrou dentro de mim como um animal


feroz. Rugindo, gemendo. Ele também estava sem
controle, metendo forte, me chupando. Sentia minha
boceta ser alargada por seu pau grosso e grande.

— Hammmm!!!

Seus movimentos estavam me alucinando e


descontrolando a cada estocada, nossos corpos suados
em um só ritmo.

— Há! Humm... José!

— Isso, meu amor, vem comigo, goza pra mim, goza


no meu pau.

— Hammmmmm! — gritei alto sentindo seu ritmo


acelerado. Seus gemidos, sua fúria socando minha boceta.

— Vou gozar, vou gozar... José, vou...

— Goza! Porra, vem Maia, minha vadiazinha, agora


vem comigo, agora!!!

O prazer dominou meu corpo de uma forma jamais


sentida. Nosso suor e gemidos se fundiam, eu me sentia
totalmente parte dele. Eu o amava, e era totalmente sua.

José se tornou amigo dos meus irmãos e ele era


sempre muito bem-vindo em nossa casa. Meu pai gostava
realmente dele. Não que ele falasse isso, mas suas
atitudes mostravam tudo.
As noites de baladas, meu pai sempre o convidava
para dormir em casa ao me trazer, lógico que para dormir
no quarto de hóspedes. José não era nem louco de negar.
Sempre que ia dormir em casa, o sexo antes de
chegarmos era mais agressivo, mais exigente.

— Mais uma noite de sofrimento — falou enquanto


estacionava o carro.

— Obrigada, por gostar tanto da hospitalidade da


minha família.

— Sabe que é uma tortura dormir tão perto e não


poder te foder todinha. Acordo com tanto tesão, e pensar
em você quentinha e prontinha para mim a metros de
distância, me deixa desnorteado.

— Depois, eu que sou insaciável!

No dia seguinte, fizemos um churrasco.

— Já volto, vou arrumar umas coisas para trabalhar


amanhã — José bufou alto.

— Por que não pede demissão?

— Porque não. É o trabalho que tenho. — Todos nos


observavam.
— Pode trabalhar na fábrica, no setor que quiser,
comigo.

— Pode trabalhar na serraria. — Meu pai falou.

— Não vou parar de dar aula assim, preciso encerrar


um ciclo.

— E quando isso vai acontecer? — José perguntou


irritado, olhei para ele brava, mas foi meu pai que
respondeu:

— Estou ouvindo isso de ciclo tem anos.

— Chega! Quando Maia achar que deve fazer outra


coisa, ela fará.

Minha mãe acabou com a conversa fiada, deixando


meu pai e José quietinhos, nenhum dos dois eram doidos
de respondê-la.

No dia seguinte quando José foi me pegar no


estúdio, falou que teria que ir até São Paulo.

— Você chegou na sexta-feira, o que tanto tem que


fazer lá?

— Meu amor, realmente tenho que ir. Thomas me


ligou e está precisando de mim.

— Quando você vai?


— Hoje, só vou te deixar em casa.

Infelizmente, não era só a parte boa, José todas as


vezes que ia para São Paulo pedia para meus pais
deixarem eu ir junto, mas meu pai era irredutível.

Não apenas por não admitir que eu dormisse fora de


casa, mas o convívio do José com a ex-mulher e os
problemas que estava tendo com seu filho, eram a
desculpa perfeita que meus pais precisavam para não
permitirem.

Foi horrível vê-lo indo embora. E saber que estaria


com os filhos e provavelmente, com a mãe deles, me fazia
perder noites de sono. Esperava ansiosamente sua ligação
dizendo que estava voltando.
Leila havia dificultado de todas as formas um diálogo
amigável. O único jeito foi dar entrada nos papéis do
divórcio, e como a data da audiência de instrução e
julgamento foi marcada, a qualquer momento ela receberia
a intimação.

Quero aproveitar todo esse resto de semana e o fim


de semana com Maia, pois semana que vem ficarei em
São Paulo.

Meu celular tocou, era Thomas.


— Fala, filhão!

— Pai, você vai voltar quando? Não quero ficar com


a minha mãe, ela está louca, você disse que quando eu
precisasse...

— Meu filho, vou pedir para o motorista te levar para


casa dos seus avós. Vou sair daqui no fim do dia, estarei
aí mais tarde. Tudo bem?

— Valeu pai.

Sempre era horrível deixar Maia sabendo que ficaria


dias longe. Não tinha conversa com seu Edgar, ele não a
deixava ir comigo, mesmo dizendo que iríamos para a
casa dos meus pais. Deixei-a em casa e fui direto para
São Paulo.

Assim que peguei a Rodovia Fernão Dias meu


celular tocou. Vi que era Ricardo, meu corpo parou de
bombear sangue, dei ordem para que ele garantisse a
segurança dos meus filhos, tanto na casa “deles” quanto
na casa dos meus pais.

— Fala.

— Sr. José, dona Leila ficou descontrolada quando


recebeu a intimação, brigou até com Thomas, assim que
ele saiu para casa dos seus pais contra a vontade dela,
ela se trancou no quarto, depois de algum tempo sua
prima médica, Amanda, chegou com mais um casal, a
entrada deles no condomínio havia sido liberada há algum
tempo, nos fizeram abrir a porta do quarto, pois dona Leila
não respondia, nos deparamos com a Senhora
inconsciente no chão, vários remédios espalhados,
chamaram a ambulância.

— Ela está viva?

Raiva, ansiedade e até um pouco de desespero


tomava conta de mim. Fui direto para casa dos meus pais.
Celina já estava dormindo e Thomas estava agitado,
nervoso, mesmo não sabendo que a mãe simulou um
suicídio

Ele não quis conversar, como já estava tarde achei


melhor deixá-lo quietinho.

A cena meticulosamente calculada que Leila


encenou com a falsa tentativa de suicídio, surtiu efeito.

No dia seguinte cedo, Thomas nem na aula foi para


ir ver a mãe.

— Quem te falou que sua mãe estava no hospital,


Thomas? — Perguntei com ódio.
— O Antônio. Por que, acha que eu não tinha que
saber? Acha que sou criança? Não tem que esconder nada
de mim!

— Olha como fala comigo, Thomas, me respeita.


Antônio não tem nada que te ligar de madrugada. — E
antes que ele saísse com Ricardo, que o levaria para ver a
mãe, eu disse sério: — Não quero que sua irmã saiba de
nada disso. — Thomas saiu pisando duro, sem dar tchau
para ninguém.

— Filho, calma, não é fácil para ele. Imagina ficar


sabendo, assim que acorda, que a mãe tentou se matar?

— Porra nenhuma, mãe, ela simulou isso tudo. Acha


que Leila atentaria contra a própria vida? Primeiro chamou
e liberou a entrada da prima médica no condomínio,
depois tomou meio dúzia de comprimidos. Pelo amor de
Deus! Ela só ficou em observação, já vai ter alta. A filha
da puta não pensa que está destruindo a cabeça do filho!
— gritei com ódio.

Celina apareceu correndo na cozinha:

— O que foi, papai? — perguntou com carinha de


assustada.

— Nada meu amor. Vamos?

— Ainda não, eu preciso arrumar meu cabelo.


— Sério? Está tão lindo que pensei que já estava
pronta. — Sorriu iluminando o meu dia e voltou correndo
para o quarto.

Não liguei para Leila, estava acompanhando seu


estado à distância. Mas estava preocupado com Thomas,
então telefonei.

— Filhão! Você quer que mande te buscar?

— Pai, a minha mãe está doente, você não vai fazer


nada?

— Não. Podemos conversar sobre isso


pessoalmente.

— Não vai nem vir vê-la?

— Meu filho, o pai está trabalhando, estou te


esperando, aqui conversamos.

— Eu não vou.

— Tudo bem, no psicólogo você vai. Te vejo lá,


amanhã. — Encerrei a ligação.

Minha vontade era jogar o celular na parede. Meu


ódio por Leila estava tomando proporções inimagináveis,
minha vontade era entrar naquela casa, arrancar meu filho
dali e socar a filha da puta. Peguei o celular e fiz a única
coisa que poderia me acalmar naquele momento, liguei
para o meu anjo.

— Oi, meu amor, precisava ouvir a sua voz. — Ela


suspirou sorrindo e meu dia voltou para os trilhos.
Expliquei o que havia acontecido e que, por isso, não
tinha ideia de quando voltaria para Careaçu.

No dia seguinte às 16h, Ricardo deixou Thomas na


Av. Angélica, no prédio que Elaine atendia. Encontrei com
eles na recepção e dispensei Ricardo.

— Oi, filho, estou preocupado.

— Por que então não foi para casa me ver, ver a sua
esposa? — Foi mal-educado. Fiquei olhando sério para
ele.

— Fico muito feliz que já não está mais chateado


com sua mãe. — olhou-me sem graça e desviou o olhar. —
Você me disse há algumas semanas que não era criança,
que eu poderia contar com você.

— E você disse que daria uma chance para ela.

— Eu tentei, você é testemunha, mas isso não vai


mais acontecer. Não importa o que sua mãe faça. Não tem
mais volta. Thomas, e isso é um problema exclusivo
nosso, dela e meu. Filho, você precisa ser só o nosso
filho, não quero você tomando partido, não farei isso com
você e não vou permitir que ela faça. Entendeu?

Quando Elaine o chamou, entrei e pedi para


conversar, expliquei o que havia acontecido, do fim do
meu casamento e o que Leila fez. Só então Thomas
entrou, enquanto esperava pelo meu filho, Leila me ligou.

— Fala.

— José, você precisa vir pra casa. — Sua voz era


um mero sussurro, como se estivesse proferindo suas
últimas palavras. — Não tenho forças para cuidar de tudo
sozinha, nossos filhos precisam de você, eu preciso de
você.

— Vamos cuidar dos nossos filhos, Leila. Mas de


agora em diante, individualmente. O que eu puder fazer
por você eu farei, mas não vou voltar para casa. — Ela
começou a chorar, falsa e forçadamente.

— Você não pode me deixar neste estado, não vou


aguentar, vou morrer. Não tenho como ficar sozinha.

— Leila, você é uma mulher forte, determinada, é


linda e milionária. Arruma um advogado. Pode pedir o que
quiser. Pode ficar com todos os nossos imóveis, dinheiro,
podemos estipular uma pensão vitalícia no valor que achar
que precisa. E pode ficar tranquila, que vou cuidar das
crianças enquanto você não se recuperar totalmente. Por
que não faz assim, se levanta, toma um banho e me
encontra no escritório?

— José... Minha mãe está doente, não tenho forças


para nada, não faça isso comigo, sou a mãe dos seus
filhos, temos uma vida. — Mal conseguia ouvir sua voz. —
Você nunca foi covarde, nem cruel, estou te implorando,
volta para casa... Acha que eu consigo passar por um
divórcio no estado que estou? Nem a minha mãe ao meu
lado tenho, minha tia precisa voltar para Alemanha, ela
está se desdobrando para cuidar da minha mãe e me dar o
mínimo de atenção. A única coisa que quero é morrer. Por
favor, venha para casa e traga nossos filhos. Você é a
minha família. Me ajuda?

Em pensar que, se Deus não estivesse literalmente


colocado Maia no meu caminho, estaria preso a essa rede
de mentiras, esses jogos doentios que Leila sempre fez.
Não quero brigar, mas não vou ceder.

— Leila, vou esperar essa semana você se


recuperar. Uma semana. Estimo suas melhoras. —
Desliguei com ódio.

— Inferno! — A recepcionista me olhou assustada.


Tentei manter a calma enquanto esperava Thomas.
Respondi alguns e-mails, mandei mensagem para Maia.

— Pai?
— Oi, filho, estava distraído, vamos ou a Elaine quer
falar comigo?

— Vamos embora, ela não quer falar com você, quer


falar com a minha mãe. Vou pedir para ela vir na próxima
consulta comigo.

— Ótimo, vamos para casa do pai? Podemos pegar a


sua irmã e jantarmos.

Ele demorou uma eternidade para responder


enquanto caminhávamos em direção ao elevador.

— Pai, pode ser amanhã? Minha mãe já me mandou


um monte de mensagem.

— Thomas, pode ser quando você quiser, quer que


eu ligue para ela e diga que vai ficar comigo hoje?

— Acho melhor eu ir falar com ela, ela me fez


prometer que iria para casa hoje. Você me leva?

Se eu chegasse a uma pequena distância da Leila,


provavelmente a mataria de tanta raiva do que ela faz com
meu filho. Mas não permitiria que Thomas visse todo ódio
que sua mãe causa em mim, ele não tem culpa de nada.

— Vamos para o meu escritório, Ricardo te buscará


lá e te deixará na sua casa. Se mudar de ideia é só ligar,
vou com a sua irmã e quando você achar que pode se
juntar a nós, ligue.

— Por que não vai me levar em casa?

— Thomas, não entra neste jogo, não vou ceder


mais uma vez, não existe a possibilidade para sua mãe e
eu. Não deixa ela te usar, porque não vai adiantar, meu
filho.

Celina e eu fizemos compras e fomos jantar na casa


da tia Carla, que era perto de onde eu estava morando.

Celina brincava no seu tablet na sala enquanto Carla


e eu conversávamos tomando um café. Meu celular vibrou
no bolso, era ligação de vídeo da Maia. Atendi de
imediato, o que foi uma idiotice, Carla terminava de falar
alguma coisa.

— Oi, meu amor!

— Oie... Tudo bem? Estou morrendo de saudade,


quando você volta?

— Também estou...

— Onde você está? Quem é? — Olhei para trás,


Carla com seu shorts curto, blusinha colada e guardando a
louça no armário.

— É a Carla...
— Não quero saber!

— Maia é a madrinha do Thomas, vou apresentá-la...

— Não vou atrapalhar a noite de vocês, José! —


Desligou o telefone. Carla me olhou apreensiva.

— Por que você atendeu essa porra, sem nem me


falar nada?

— Porra! — Retornei exasperado a ligação, ela não


atendeu, tentei várias vezes, e nada, ela desligava sem
atender.

— Você é louco? A menina vê o homem dela na casa


de outra que ela nem conhece, praticamente pelada e
acha que ela vai atender o celular?

— Caralho!

— Ei... fala baixo, a Celina está na sala.

— Isso! A Celina. — Mandei uma imagem da Celina


para Maia, expliquei que já estava indo embora, que Carla
é minha melhor amiga, que adoraria que as duas se
conhecessem, mesmo que por telefone. E pedi para ela
me atender.

A resposta veio em forma de mensagem.


Maia 21:15

Não estou sabendo lidar com você longe de mim.


Não quero atender agora, estou com raiva, quando chegar
na sua casa, me liga.

— Ela me parece sensata, se fosse a Larissa faria


um escândalo, só para começar.

— Maia é perfeita, é o meu anjo.

— Você estava falando o que conversou com seu


Otávio, continua.

— Depois do que aconteceu ele me aconselhou a


esperar ela se recuperar, e tentar uma conversa saudável.
Ela pode alegar que a abandonei doente, e principalmente,
fazer as crianças acreditarem nisso.

— Oh, meu amigo, acho que você terá uma batalha


muito complicada pela frente.

— Eu sei, mas estou disposto a enfrentar qualquer


guerra para ficar em paz com a Maia e meus filhos.

— Deve estar na moda esse negócio de virgem.


Primeiro Otávio, agora você, não sei com qual dos dois
que me surpreendo mais. Se alguém me contasse, eu
apostaria o meu cérebro que era mentira.

— Pois é, e eu achando que Otávio tinha


enlouquecido de vez. Carla, vou para casa, preciso
conversar com a minha mulher.

— Boa sorte, meu amigo, qualquer coisa estarei


aqui.

Não consegui voltar para Careaçu naquela semana,


e quando venceu o prazo que havia dado para Leila, ela
me ligou:

— Fala.

— José, minha mãe está indo com a minha tia para a


Alemanha. Pensei em ir com elas. Conversar com meu
primo que é advogado, ficaria uns vinte dias por lá. E
quando voltasse, poderíamos nos sentar e resolvermos
tudo. O divórcio, nossos bens, a guarda das crianças.

Pensei por um instante, não adiantaria dizer não.


Era isso ou briga.

— Tudo bem, Leila. Mas já te adianto uma coisa.


Não abro mão da guarda das crianças. Você pode ter o
que quiser, desde que os dois fiquem comigo.
— Thomas já tem idade para decidir com quem ele
quer ficar José, você o trata como uma criança.

— Porque ele é uma criança. E sim, ele pode decidir


com quem ele vai morar, desde que a guarda seja minha.
Você não tem nada a perder com isso. Se decidir brigar
por eles terá que brigar por tudo, não te darei nada. Aí,
que vença o melhor advogado.

— Já entendi, José.

— Ótimo.
Entre idas e vindas de José para São Paulo, meu
ciúme, nossas tardes maravilhosas e nossos mundos
totalmente diferentes, completamos três meses de
namoro.

José entrou no seu escritório da fábrica e veio até a


mim que estava sentada em sua cadeira.

— Tudo pronto. Vamos?

Aproveitei que abaixou para me beijar e me pendurei


em seu pescoço. José me ergueu enquanto nos
beijávamos e me colocou sentada na mesa. Passei as
pernas em volta da sua cintura.

— Ah, minha cadelinha, deixa eu ver como essa


boceta gulosa está.

Só afastou a minha calcinha e circulou dois dedos


por minha entrada que ficou ainda mais molhada com o
estímulo. Gemi em sua boca e rebolando em sua mão.

— Você é uma puta gostosa que me deixa louco...


abra minha calça. Agora, me coloca dentro você, gostosa.

Com urgência e de qualquer jeito, abri a sua calça


enquanto ele me masturbava e sugava meus seios, já
estava quase gozando. Nunca resistia muito tempo. — Ah!
Que delícia, meu amor. Não vou aguentar!

— Aguenta, minha putinha, quero estar enterrado


nesta boceta quente e sentir você apertar meu pau quando
gozar.

— Então vem, vem logo... — Coloquei a cabeça


grande do seu pau na minha entrada e gritei com o
impulso que José me penetrou.

— Toma! É assim que você gosta... Arreganha mais


essas pernas, minha puta.
— José segurou fortemente meus cabelos pela nuca
e continuou me masturbando e socando com força, seu
pau grande batia fundo me dando doses extras de prazer,
e não aguentei mais. Me contraí, o abraçando apertado
com pernas e braços, enfiando as unhas em sua pele
gostosa, gemendo:

— Hamm...José! Hummmm!

— Ah... CARALHO!!! Isso, porra, esmaga meu pau


com essa boceta quente!

Suas metidas aumentaram, prolongando mais o meu


prazer. José atacou minha boca sugando meus lábios no
momento que senti seu líquido quente dentro de mim.

— Maia, Maia... Minha perdição.

Me limpei de qualquer jeito no banheiro e fomos.

José me ajudou a entrar no helicóptero, e assim que


estávamos todos prontos, decolamos.

Chegamos cedo ao Copacabana Palace, em


Copacabana, Rio de Janeiro.

Tudo estava espetacularmente organizado na suíte


maravilhosa que meu namorado romântico reservou para
comemorarmos nossos três meses de namoro. Mesmo
tendo que voltar para casa no fim do dia, foi tudo perfeito.
Tão perfeito que achei que José me pediria em
casamento. Mas infelizmente, isso não aconteceu e fiquei
realmente frustrada.

Se eu soubesse tudo que viria na semana seguinte,


teria parado o tempo naquele momento.

A ignorância muitas vezes é uma benção.

Voltamos e fomos direto para casa dele.

— Sabe qual é o meu sonho? — Ele perguntou.


Estava nua em seus braços mais uma vez. Na “nossa”
cama como ele costumava dizer. Passei a fantasiar uma
vida ao seu lado com os nossos filhos e os deles ali
naquela casa. Mesmo sabendo que seria quase que
impossível para José morar em uma cidade tão fora da
sua rota de serviço.

— Sei, e é o meu sonho também, você sabe.

— Fica. Fica pra sempre, vamos embora? — Ele


sempre dizia que seu sonho era passar a noite inteira
comigo, dormindo agarradinhos para fazermos amor ainda
sonolentos. Nunca tínhamos passado uma noite juntos,
também sonhava em acordar na mesma cama que ele.
Porém, o fato dele dizer que me amava tanto, de querer
tanto que eu fosse morar com ele, mas nunca ter me
pedido em casamento, mesmo sabendo que era importante
para mim, estava me deixando desesperada, com medo,
muito mesmo! E naquele momento, também me deixou
com raiva. Levantei rápido, ele tentou me pegar pelo
braço.

— Maia, volta aqui, o que foi?

— Preciso ir para casa, sabe que já deveria estar


descansando. Amanhã é um dia importante.

— Maia, meu amor, espera, vamos tomar um banho.

Ele pulou da cama enquanto colocava o meu vestido


de qualquer jeito.

— Vou tomar banho em casa. Precisamos ir.

José e eu praticamente não nos desentendíamos.


Mas algo estava me incomodando muito... E o fato de
termos passado um dia tão romântico e lindo, ele ter me
dado uma gargantilha espetacular, que deve ter custado
uma fortuna, estava me matando. Eu estava esperando um
anel, um anel de noivado. Estava me sentindo angustiada
e ele parecia não se dar conta disso, ou fingia que não
entendia.

Saí do quarto ainda me ajeitando e dei de cara com


um casal. Nem sei o que pensei, acho que nem pensei
nada. A situação foi totalmente estranha, fiquei muito sem
graça. Graças a Deus José estava bem atrás de mim.
O homem a minha frente cumprimentou.

— Oi, José.

Ele respondeu e nos apresentou:

— Otávio, esta é Maia, minha namorada, Maia este é


Otávio e esta é a Elizabeth, sua noiva, com quem estou
trabalhando.

Sentia as mãos de José apertar forte demais meus


ombros. A moça na minha frente era nova e muito bonita,
achei que fosse mais velha quando José dizia que
estavam trabalhando. Ela era meio antipática ou estava
incomodada com alguma coisa. A situação era estranha. E
mais uma vez meu sinal de alerta apitou.

— Não sabia que vocês viriam, vou levar Maia na


casa dela e já volto.

Nos despedíamos, no entanto, antes de sairmos


José fez questão de levá-los a um dos quartos.

Senti uma angústia horrível. Resolvi sair dali e


esperar José dentro do carro.

— Tudo bem, meu amor?

— Não sei, está?


— Maia, quero que esteja tudo bem, meu amor. Não
fique assim, eu faço qualquer coisa para te ver sorrindo, te
ver feliz.

— Nem qualquer coisa. Ele é o padrinho do Thomas?

— Sim, e dono da fábrica.

— Ela é noiva dele? Quantos anos ela tem? É com


ela que você trabalha, que fica até tarde da noite em
chamada de vídeo?

— Sim, e se não me engano, tem dezenove. Maia,


não quero que fique chateada. Hoje o dia foi maravilhoso,
faz três meses que você conheceu o meu escritório. É um
acontecimento muito importante.

— Seu bobo — falei rindo.

— Nosso dia foi maravilhoso, eu te amo cada


segundo mais.

— Eu também te amo.

José só cumprimentou meus pais e foi embora por


causa do amigo e sua noiva que estavam em sua casa.

— Tudo bem, filha? — Minha mãe perguntou


enquanto olhávamos o carro de José se distanciar. Virei
para ela e meu pai:
— Tudo ótimo, foi tudo tão lindo. Mas estou sentindo
uma angústia tão grande, uma coisa estranha. Um mau
pressentimento.

— Reza, pede para Deus interceder. Seja lá o que


for.

— Não é nada minha filha, bobagem, cansaço.

— Estou mesmo cansada, senti medo de voltar de


helicóptero no escuro. E amanhã tenho o espetáculo.

As turmas de ballet nas quais sou professora


voluntária, sempre se encerram bem antes do fim do ano.
Porque o teatro é alugado para diversas ocasiões. Todos
os anos arrecadamos muito dinheiro com a festa de
encerramento do ballet, este ano não poderia ter sido
diferente... Minha família e várias outras influentes na
cidade, colaboraram com boas doações em dinheiro,
ganhamos os figurinos, o som, e esse ano, a fábrica foi
excessivamente generosa. Quis matar José, mas como ele
mesmo disse: “não era para mim, não podia recusar”. Só
gostaria de saber o que o teatro faz com as doações que
recebe, afinal...

Saí do banho, coloquei um pijama e me joguei na


cama. Olhei para o celular em cima da mesa de cabeceira
e deu vontade de falar com o meu amor. Estiquei o braço
para pegá-lo e ouvi o som de uma mensagem chegando
bem na hora.
José 23:32

Está dormindo? Já estou morrendo de saudade. Te


amo, meu anjo!

Li, e no mesmo momento liguei para ele.

— Tudo bem? Como está os seus amigos?

— Acho que estão bem, saíram, devem ter ido para


a choperia.

— Você não quis ir?

— Sem você? De jeito nenhum, temos compromisso


amanhã.

— Verdade, preciso dormir. Boa noite, meu amor!

— Boa noite! Te amo, minha vida!

Acordei com o telefone tocando, achei que fosse o


despertador, precisei de alguns segundos para identificar
que era uma chamada, e era José.

— Oi, José, aconteceu alguma coisa?

— Bom dia, meu amor, aconteceu, eu preciso


desesperadamente de você.

Senti um frio percorrer meu baixo ventre. Me


espreguicei já com o tesão me dominando.

— Vem me buscar, preciso que me relaxe antes do


espetáculo.

— Agora.

Tomei um banho rápido, me arrumei e verifiquei se


não tinha esquecido de nada, grampos, redinhas de
cabelo, meias-calças extras para as minhas meninas.
Bateram na porta do meu quarto.

— Pode entrar. — Minha cunhada entrou toda feliz,


como ela era o tempo todo. Ri.
— Já está pronta? Ainda é cedo. Vai de carro?

— José vai vir me pegar.

— Hum! Por que tão cedo?

— Por que está me fazendo essas perguntas como


quem não quer nada, mas querendo?

— Maia, você precisa se proteger.

— De quem? — Ri.

— Sua boba, se proteger de doenças, de uma


gravidez, precisa usar camisinha.

Fiquei olhando para ela com vontade de rir e não


segurei, caí na gargalhada.

— O que é tão engraçado?

— Você está aqui a mando de quem? E o que


exatamente quer saber?

— A mando de ninguém, mas seu irmão estava me


dizendo que seus pais estão preocupados. Maia, só eles
mesmo para acharem que você e José não iriam transar. E
agora, acho que nem eles mais — falou pensativa.

— Vocês não precisam se preocupar, tá bom!?


— E por que não? — Perguntou com cara de safada.
E no mesmo momento ouvi a voz do José, em seguida a
porta foi aberta. Olhei para o meu amor, lindo e intenso,
fiquei molhada na hora. Nossos olhos não se desviavam,
era sempre mágico a forma como olhava para mim.

— Oi José. Tchau José.

— Tchau, Juliana.

José me alcançou, segurando meu rosto com as


duas mãos, possuindo minha boca, meu coração e minha
alma. Eu o amava um pouco mais todas as manhãs.

— Vamos logo ou vou trancar a porta e fazer amor


com você aqui mesmo.

— Aí você vai ser obrigado a se casar comigo. —


Provoquei.

— E isso seria o castigo? Já te falei que te comer


todo dia não seria nenhum sacrifício.

Pegou minhas coisas e saiu me puxando pelos


braços. Alcancei minha bolsa antes de passar pela porta.
Juliana estava na sala, pisquei rindo para ela. A
expressão de espanto dela foi a melhor.

Assim que entramos no carro, José pediu:


— Vem pro meu colo, vem! — Tentou me puxar pela
cintura.

— Não podemos, meus pais saíram e corre os o


risco de encontrar com eles no meio do caminho.

— Tudo bem, não seria legal encontrar seus pais


com meu pau enterrado na sua boceta.

Sua falta de pudor me deixa com mais tesão do que


o imaginado. Sentia meu corpo todo ferver.

— Se ficar me olhando desta forma, vou ligar o foda-


se.

— Não, tudo bem, vou me comportar. — Brinquei,


quando ele perguntou:

— Você conhece bem a Natália? — Olhei para ele


intrigada.

— Por quê? O que você quer com ela?

— Eu, nada. Elizabeth a conheceu ontem e ofereceu


um emprego, ela quer te perguntar alma coisa.

— Conheço ela a vida toda. Mas não sou amiga,


você sabe, mas acho muito legal. A Natália é tão
trabalhadora. — José estacionou o carro perto da porta.

— Ela quer falar com você.


Soltei o cinto, passei a mão por cima do seu
membro: — E eu quero falar com você. Em particular.

— Ah... Maia! Vamos ter a melhor DR que você já


teve. Sua safada. Minha cadelinha no cio.

Quando, finalmente chegamos na casa de José,


nossa DR demorou mais de uma hora, não conseguimos
nos entender na primeira vez.

— José... ah! — Gemi, gozando mais uma vez


montada em seu colo. José me socava como um animal
feroz.

— Não para, porra!

Suas mãos como garras na minha cintura ditava um


ritmo intenso e rápido. Me abraçou forte ao gozar, sentia
seu pau tão fundo dentro de mim. Seus braços me
envolvendo por completo transmitia a sensação de
segurança e proteção.

Saímos de lá e fomos direto para o escritório, onde o


casal estava.

— Bom dia! — Cumprimentei-os e os dois


responderam juntos.

— Sente-se, não vou tomar seu tempo, mesmo por


que, minha decisão já está tomada. — A antipática agia
como se a casa fosse dela e como se eu fosse obrigada a
lhe servir. O que tinha de linda, tinha de mal-educada.

Olhei com tanta raiva para aquela pirralha, se


sentindo dona da casa, que eu já agia como se fosse
minha. Tive vontade de virar as costas e largá-la falando
sozinha. Olhei as horas e tentei não mandá-la tomar
naquele lugar.

— Que bom, pois não tenho mesmo tempo a perder.


Tenho coisas e pessoas realmente importantes para
atender.

— Ai... Nossa, Maia! Me perdoe? Não quis ser mal-


educada. Vou falar para que você entenda. Conheci a
Natália e ofereci um trabalho para ela, essa é a parte da
decisão já estar tomada.

Ela aparentemente ficou com vergonha, chegou a


ficar vermelha.

— Entendi. Onde você a conheceu?

José e Otávio saíram da sala e nos deixaram


sozinhas. Olhei novamente as horas antes dela começar a
responder, para que entendesse que eu não tinha tempo a
perder com uma riquinha soberba

— Na choperia. Conversamos bastante, ela me disse


que você conseguiu um trabalho à ela num momento em
que estava precisando muito. Achei que poderia me dizer
alguma coisa. Se não se importar, lógico.

— Posso falar superficialmente. Ela trabalhou na


casa dos pais da minha chefe até eles morrerem. — Na
realidade, era os avós da Marília, mas isso era irrelevante
no momento. — Nós a indicamos para outras pessoas,
mas não conseguiu nada fixo, até onde sei, não é por falta
de competência, é que as pessoas não querem uma jovem
tão atraente em suas casas. Natália é muito bonita e tem
aquele corpão. Mas é extremamente responsável e uma
excelente mãe. Não sei mais o que dizer. Não somos
amigas, não exatamente. Ela é muito limpa... — Não tinha
mais o que falar dela como profissional. Eu gosto dela
porque ela sempre foi atenciosa comigo.

— Quero que ela seja minha secretária, minha


assistente pessoal na empresa. — Fiquei olhando para
ela. Natália sempre trabalhou com faxina, doméstica,
nunca em empresas como secretária, ainda mais dessa
dondoca.

— Você vai ficar morando aqui na cidade?

— Não, em São Paulo.

— Ela aceitou? — Como assim? Será que ela teria


coragem de deixar o filho. Não acredito nisto. — Nunca
achei que deixaria o filho, nem por uma semana.
— Na verdade não conversamos realmente, só falei
do emprego, não falei onde.

— Ah! — Coitada da Natália, ela deve ter criado uma


expectativa enorme. Quem sabe se eu falar com José ele
não arruma um emprego aqui na fábrica para ela? Por que
não pensei nisso antes? Também, faz tanto tempo que não
conversamos. Estou sempre com José.

— Você gosta dela, né? — Perguntou simpática.

Sorri pensando em Natália. — Sim, tenho um carinho


especial por ela, acho que ela nem sabe disso.

— E por que não diz?

— Como falei, não somos amigas de andar juntas e


trocar confidências, na realidade não tenho nenhuma
amiga assim. Sempre fui sistemática, não sou tímida, só
sou a caçula de três irmãos homens, fui superprotegida.
Era muito quieta, ninguém falava comigo, só a Natália.
Sempre dizia que eu deveria sorrir mais, me fazia
companhia até alguém vir me buscar na escola. Ela não
deve lembrar, é mais velha uns dois anos, sempre foi
popular, simpática, quando engravidou foi um tremendo
escândalo, coitada, e logo em seguida, a mãe morreu.
Seria uma ótima oportunidade para ela, só que lamento
em dizer que acho que ela não vai aceitar sua proposta.

— Espero muito que aceite.


— Você também gostou dela. — Ela não parecia a
riquinha sem noção do início da conversa.

— Sim, gostei. Não me pergunta o porquê, pois não


tenho a menor ideia.

— Sei que ela é honesta, trabalhadora e guerreira.


Agora, se você deve contratá-la, precisa bem mais que
uma fofoca.

— Não vejo como fofoca. Ela falou muito bem de


você, pareceu ser bem grata. — Fiquei sem graça,
principalmente por saber que elas falaram de mim.

— Acho que ela merece ter uma oportunidade de


verdade. Gostei muito dela e agora você me dizendo que
é honesta, só confirma minha percepção, eu a achei uma
pessoa de princípios. Acho que isso é mais do que
suficiente, todo o resto qualquer pessoa ensina e qualquer
um aprende, basta força de vontade e determinação. Vou
conversar com ela antes do espetáculo. Você tem o
endereço? E de verdade, me perdoe se fui grossa, foi sem
querer.

— Só se você me desculpar também, e eu nem tenho


a desculpa de que não quis ser grossa. — Caímos na
gargalhada.

— Tudo bem.
— Agora preciso ir.

— Vou na casa dela e de lá vou direto para o


espetáculo, às 15horas, né?

— Isso mesmo.

— Eu fiz ballet, era boa, gosto muito.

— Que maravilha, vamos relembrar qualquer dia


desses.

— Combinado.

Saímos os quatro de casa, cada um para um canto,


depois da má impressão, gostei da Lize e achei bem legal
ter um casal amigo do José para interagir, de repente
saber mais sobre a vida dele em São Paulo.

— Meu amor, estou morrendo de fome, nem tomei


café. — Falei quando estávamos dentro do carro. José
olhou para mim com cara de safado.

— Quer leitinho?

Olhei indignada para ele.

— Só estou brincando, Maia! Sua mente que só


pensa em sacanagem.— Sorriu malicioso. — Vamos
almoçar que já está na hora.
Estava quase tudo sob controle. Eu estava com
receio deque José não ficasse até o fim do espetáculo, ele
odiava me ver dançar com outro homem e a dança de
encerramento era extremante sensual, meu ciumento de
plantão iria surtar, e eu adoro provocá-lo. Só para poder
acalmá-lo depois.

Enquanto arrumava as crianças, fazia os coques,


entre outros detalhes, José apareceu com a Lize, deixou-a
lá e saiu.
— Oi! Fique à vontade, falta pouco, agora só mais
alguns coques e maquiagens, vai dar tempo. Tem algumas
que as mães já trazem prontas, a maquiagem eu mesma
gosto de fazer nas minhas pequenas para ficarem todas
iguais.

— Então, pode ir para a maquiagem que eu termino


esses coques. — Será que ela sabe fazer um coque,
tomara, ajudaria tanto. Deixei que fizesse um, me
surpreendi, ficou melhor que o meu.

Eu realmente amava minhas crianças, era difícil


colocá-las na linha, mas depois que entravam no ritmo,
eram obedientes e educadas.

— Dou aula de ballet clássico para as pequenas. —


Falei, puxando assunto. — E para uma turma grande já
avançada. Também tenho uma turma de jazz. Vou
participar de uma apresentação de hip hop com um dos
professores e farei a dança de encerramento. — Alguns
professores e alunos eram de outros lugares, que vinham
para deixar o espetáculo mais bonito.

Olhei para aquela menina mais nova que eu, já


noiva, tomando decisões, e eu nem dormir com meu
namorado podia. Ela, provavelmente, sabe mais sobre ele
do que eu.

— Tem uma dança bem sensual, José é tão


ciumento, ele vai ficar furioso, espero que fique até o fim.
Na realidade, eu quero muito que ele fique, é importante
para mim. Quero que ele entenda e participe da minha
felicidade, que torça para dar certo. Nunca vi homem mais
ciumento.

— Ah, não? É porque não conhece Otávio. Você pelo


menos vai fazer o espetáculo, eu nem subiria ali, ele não
deixaria. — Começamos a rir, será que ela disse isso só
para não me deixar sem graça?

— Ele falou para eu aproveitar muito, porque será o


último. — Rimos mais.

— Eles são todos assim. Mas Carla sempre diz que


José é o mais bravo.

— Eles quem? — Perguntei curiosa, mesmo sabendo


que ali não era o lugar certo, precisava prestar atenção no
que estava fazendo.

— Ah, me desculpa, é tipo o quarteto fantástico,


acho que desde o colégio: Otávio, Ramon, José e Carla.
Carla é uma mulher de tirar o fôlego e é igual a eles,
sabe? Toda dona do mundo, fico imaginando como eles
eram no colégio.

— Já ouvi falar de todos, já conversei com a Carla


por telefone e a vi de relance em um vídeo, mas nunca vi
fotos, nada, José não tem redes sociais. Ele diz que não
gosta.
— Eu também não tenho. — Lize falou pensativa.

— Nossa! Difícil hoje alguém não ter. — Respondi.

— Verdade!

— A Carla e Otávio são os padrinhos do filho dele?

— São sim.

Não queria continuar aquela conversa da forma que


estávamos, na correria. Achei melhor mudar de assunto,
para depois falarmos novamente, com mais calma e
atenção.

O espetáculo foi lindo, não estava esperando a


homenagem que fizeram. Falando dos anos que dediquei
meu tempo sem nenhum fim lucrativo, de quantas crianças
foram beneficiadas, foi tão emocionante que me derreti em
lágrimas.

Fiz a dança de encerramento com o coração


apertado eu sabia que teria uma decisão muito importante
para tomar. José já deixou bem claro que não ficará aqui
por muito tempo e que não vai manter um namora a
distância, sem contar que nem ele, nem meu pai me
querem dando aula de dança. Se eu quisesse eu daria.
Mas a única coisa que quero é José.
Cada movimento, cada giro, cada passo foi uma
despedida, eu sei exatamente qual é minha escolha.
Dancei com a alma, pois sabia que estava encerrando um
ciclo naquele momento.

Troquei de roupa muito rápido e saí pelo palco


mesmo. Olhei lá de cima e vi as expressões do meu pai e
do José. Eram praticamente a mesma. Tipo: graças a
Deus, acabou. Ri, pulei do palco e corri para os braços do
meu amor. Agarrei seus cabelos quando José me tirou do
chão e invadi sua boca suculenta.

— Se comporta, menina. — Meu pai esbravejou.


Todo mundo riu. Me deram parabéns, falaram como foi
lindo o espetáculo e a homenagem, fiquei sem graça. Mas
amei que tinha amigos do José ali junto com a gente.

Conversei com meu pai e disse que ficaria na cidade


com meu namorado. José completou que me levaria em
seguida; senti vergonha, frustração, meu sonho e o dele
também era de passarmos uma noite juntos, acordar um
nos braços do outro.

Lize e o Otávio foram na frente. Ficamos


conversando com meus pais e irmãos. Combinamos que
José levaria o casal de amigos para almoçar em nossa
casa no dia seguinte. Só depois, seguimos para a casa
dele.

— Preciso que me dê um banho.


— Com todo prazer, meu amor. Nem acredito que
acabou.

— Que acabou o que? — Me fiz de boba.

— O ballet, Maia, aqui as crianças só tinham você.


Agora você está livre para ir comigo para qualquer lugar.
— Apertou forte a minha mão, ele não estava brincando.

— Eu tenho um trabalho, José. — Ele me olhou tão


intensamente que nem precisou dizer nada. Ficamos o
restante do caminho em silêncio, chegando à casa demos
de cara com Otávio e Lize se esfregando no sofá. José
começou a bater palmas. Ele era tão descontraído com
eles.

— Puta que pariu! Vocês gostam dessa sala, né? —


falou fingindo que estava bravo.

— Vá se foder, cara! Dá um jeito nele aí, Maia, ele


precisa parar de cuidar da minha vida.

— Quer ficar pobre? Se eu parar de cuidar da sua


vida, o que será do futuro dos seus filhos?

Otávio não a deixou sair do seu colo e sussurrou


alguma coisa em seu ouvido. Foi motivo para José
continuar provocando.

— Que nojo. Preciso beber depois dessa.


Ele me levou para cozinha. Me encostou na pia e me
beijou.

— Quer uma cerveja antes do banho ou uma


caipirinha? — José aprendeu a fazer caipirinhas
maravilhosas e sei que perguntou isso para me agradar.

— Uma cerveja. Quero logo ir para banho.

— Minha ninfa safada. Querem cerveja? — Gritou


para os amigos.

— Duas! — Otávio respondeu.

Conversamos bastante sobre tudo que precisamos


fazer para que esse espetáculo acontecesse. Eles eram
muito educados, se mostravam interessados no que eu
dizia. E Lize era realmente muito legal.

Finalmente fomos para o banho e José me


proporcionou muito prazer e orgasmos. Após esse
momento de relaxamento de amor, resolvemos ir direto
para a choperia. Mal entramos e a oferecida da Karen veio
me provocar:

— Oi José, meu cliente VIP. Onde você quer que eu


coloque uma mesa?

— Não queremos uma mesa. — Respondi.


— Vai ficar em pé, gato? — Senti muito ódio dessa
puta. Só não fazia nada porque ela era assim com todos
os homens com dinheiro que apareciam.

— Obrigado, Karen, não queremos mesa. — José


falou sério. Ela quase me engoliu com o olhar.

— Precisando de qualquer coisa, estou aqui.

Sínica, safada, após isso foi dar em cima do Otávio,


sem nem se importar com a mulher dele. Puxei Lize pela
mão.

— Não liga, não, ela gosta de provocar. Eu


principalmente, não é mesmo José?

José me agarrou não dando espaço para conversa e


foi logo enfiando a língua na minha boca, me deixando
toda assanhada.

— Dá para parar de pornografia na frente da minha


mulher?

— Vai se foder! — José respondeu.

Encontramos Samuel e o pessoal. Mal nos sentamos


já começaram a beber chope, até eu que não costumo
beber, bebi. Mas logo em seguida minha caipirinha
chegou. Não sei como aquela sem noção tinha coragem de
me cumprimentar e ainda dar em cima dos homens a
minha volta e que já tinham suas parceiras. Sabia que
Jussara estava viajando e que ela e Samuel tinham um
lance, aquela puta precisava manter distância, mas
parecia mosca em cima de merda, não dava um tempo, ia
de um para outro... Estava ficando insuportável de
aguentar.

Vi Carlos de longe me olhando. Me deu sinal, fingi


que não vi. José já tinha brigado com ele no bar da praça,
foi horrível. Mas o idiota gostava de provocar e quando
estava bêbado era pior. Vi quando ele chamou a Karen e
em seguida ela veio com uma porção para nossa mesa.

— Por conta da casa! — Debruçou esfregando os


seios quase que no rosto do José, mas o pior foi me
entregar um bilhete do Carlos, não quero estragar nossa
noite. Merda!

Tinha conversado muito com Lize, ela parecia ser


uma menina legal. José me abraçou e quase infartei, achei
que ele tinha visto que a Karen me deu alguma coisa.

A Lize precisa me ajudar, só desaparecer com essa


merda. Não tenho o menor interesse em saber o que está
escrito. Me debrucei um pouco mais para falar com ela
sem que ninguém ouvisse:

— Lize, aquela louca me trouxe um bilhete, aposto


que é do meu ex, não quero ler, mas se soltar aqui e José
ver, não quero nem imaginar a merda.
— Me dá. — Ela disse discretamente.

— Joga fora, não quero nada que venha daquele


idiota, não devo nada para ele e o que ele quer é estragar
meu namoro.

Não sei o que aconteceu que José olhou para o


amigo depois para mim, como se soubesse que alguma
coisa estava errada. De repente, o casal se levantou e
saiu.

— O que aconteceu, Maia. Foi a Karen?

— Não sei, acho que não. — Logo os dois voltaram


e parecia estar tudo bem, provavelmente Lize conseguiu
se livrar do bilhete sem que Otávio visse.

Assim que tivemos uma oportunidade, pedimos


licença e dissemos que iríamos no banheiro. José fez
menção de ir junto, mas não deixei. Assim que entramos
no banheiro lotado ela pegou o bilhete que tinha colocado
no cós da calça.

— Posso ler?

— Você pode fazer qualquer coisa. Salvou a noite,


só tenho a te agradecer. — Leu em voz alta:

— Minha flor, você é perfeita demais, merece coisa


bem melhor que um desquitado com filhos, esse cara é
pilantra, você vai ver. Me dê uma segunda chance? Eu
juro que não vai se arrepender.

— Ele é um idiota, está vendo? Se José ver isso,


desta vez ele o mata.

— Otávio viu que me deu alguma coisa, posso


mostrar para ele depois?

— Não, Lize!

— Tudo bem. Vou ver o que faço, mas por enquanto


vou ficar com esse bilhete.

Levei um susto quando saímos do banheiro. O idiota


se colocou na minha frente:

— Maia, minha flor, por favor me escuta, vamos sair


ali fora? Longe desse barulho, me escuta só por cinco
minutos?

Olhei para Lize e a segurei para que não me


deixasse ali com aquele idiota bêbado, senti nojo e medo
lembrando-me do que ele já fez comigo.

— Não, Carlos, não temos nada para conversar, por


favor segue sua vida. Estou seguindo a minha.

Tentei sair, mas ele me segurou forte e puxou para


um canto. Puxei sem querer Lize comigo, senti um pânico
me dominando, nem eu sabia que tinha ficado sequelas
deste nível, me travando, me bloqueando e me levando
para o dia e o momento em que ele tentou... Não queria
ficar sozinha com ele nem por um segundo. Mas não tive
reação, como a maioria das vítimas de abuso.
— Você está bêbado, se meu namorado pegar você
com as mãos em mim, não vai prestar, você lembra bem o
que aconteceu da última vez, e ele nem era meu
namorado.

— Não tenho medo daquele merda, você vai se


arrepender se ficar com ele. Eu já te pedi perdão, eu me
arrependi muito, fui muito imaturo, estava bêbado...

— Como agora, Carlos. Me solta, não quero falar


com você.
— Solta ela! Ela já disse que não quer. — Lize
tentou puxar o meu braço de suas mãos, mas o imbecil
bêbado a xingou.

— Vai se foder, paulistinha do caralho. Minha flor,


nunca mais vou forçar a barra, vai ser no tempo que você
quiser, você precisa escutar o que tenho para dizer,
precisa escutar minhas desculpas.

— Eu já ouvi, já te desculpei, agora me solta! —


Gritei, irada com o idiota. Tentei puxar meu braço, sair de
suas garras, mas ele tinha muita força.

— Eu juro, nunca mais vou fazer isso, vamos


conversar com calma.

— Me solta!

— Solta ela! — Lize me puxou com força, mas o filho


do cão adorava uma plateia, seus amigos riam de longe.
Estava com vergonha e com ódio. Ele xingou a menina que
nada tinha a ver com tudo aquilo. O que será que ela
pensará de mim? Mandou a coitada calar a boca, enquanto
todos olhavam, alguns riam. Mas em seguida tudo virou
uma loucura, vi José acertando um murro com tanta força
no filho da puta que o sangue espirrou. Olhei para ver
quem me segurava com braços fortes. Era o namorado da
Lize.
Tentei me soltar e tirar José dali, mas o homem nem
se movia com as minhas tentativas. Parecia uma parede
de músculos.

— Tira ela daqui, Otávio! Tira ela daqui!

Na hora que José gritou para o amigo me tirar dali,


Marcos lhe acertou um murro. José ficou irreconhecível,
ele não parava de dar porradas, uma atrás da outra. Neste
momento os amigos covardes do Marcos seguraram José,
me desesperei:

— Não, não, pelo amor de Deus, parem! — Otávio


nos soltou e foi para cima do covarde que tentava segurar
José. E tudo se transformou em um verdadeiro inferno.
Uma gritaria. Otávio e José gritavam para alguém nos tirar
dali, no caso, Lize e eu.

— Tira elas daqui, agora!

Um homem me arrastou para longe. Eu não podia


deixá-lo ali com aqueles covardes, vi meu irmão que nem
me deu atenção, entrar na briga sem perguntar nada. Meu
Deus, o que eu fiz?

— Não, eu não vou! — Comecei a gritar. — Por


favor, tira ele de lá, não vale a pena. O homem conseguiu,
sem muito sacrifício, me levar para fora. Ele tentava me
fazer entrar em um carro grande, mas não queria sair dali
sem José de forma alguma.
— Por favor, dona Elizabeth, me ajuda. — Lize
entrou no carro numa boa, fiquei mais nervosa ainda, e
assim que aquele homem conseguiu, finalmente, me enfiar
dentro do carro, antes que conseguisse sair de lá, o
automóvel já ganhava velocidade, sendo pilotado por um
outro sujeito.

— Meu Deus, Lize, eles vão se matar por minha


causa, ele é um imbecil, não vale a pena. — Não
conseguia parar de chorar. Lize me abraçou e o desespero
tomou conta de mim. Se acontecesse qualquer coisa com
José, não me perdoaria nunca.

Sentia-me sem forças... Sentei no chão chorando,


não queria entrar em casa sem o meu amor, nem sei o que
pode ter acontecido com ele. Meu Deus! Tentava falar com
eles para voltarmos, ir ver como José estava, mas eles
pareciam não entender a minha língua.

— Senhoritas, vamos entrar. Eles ficarão bem,


chegarão em breve. — O homem falou alto, senti ódio e
vontade de fugir dali, ele não tinha nada que me obrigar a
deixar José para trás. Levantei e saí correndo em direção
ao portão, gritando.

— Eu não vou ficar aqui, enquanto ele pode estar


todo machucado por minha causa. — Estava quase no
portão quando o homem me segurou. Antes que
conseguisse fazer qualquer coisa vi José descendo do
carro que chegava. Tirou-me dos braços do estranho e eu
fui logo explodindo:

— Você está bem? Ele é um idiota, anda armado,


podia ter te machucado, não vale apena, meu amor, pelo
amor de Deus, por que você fez isso? — Entre lágrimas de
alívio olhei cada pedacinho do seu rosto, sua cabeça, seu
corpo e constatei que ele não estava machucado.

— Maia, meu amor olha para mim. Olha! Estou


ótimo, para, vamos entrar eu quero saber tudo o que
aconteceu. Tudo!

Ele estava furioso. Me encheu de perguntas, fiquei


mais nervosa porque não conseguia parar de chorar. José
perguntou bravo para a pobre da Lize:

— Você sabe, desde o início. Naquela hora na


choperia mais cedo, o que houve?

Ela não respondeu, se quer se mexeu.

— Lize, pelo amor de Deus! Me fala o que foi que


aconteceu. — José perguntou.

Ela nem olhou

— Não fala, Lize. — Pedi.

— Que porra é essa? O que vocês duas, que se


conheceram ontem, estão tentando esconder? Vou
descobrir, de qualquer jeito.

Lize me pegou pela mão e fomos nos sentar no sofá.

— Pega um copo com água para ela? — Ordenou


com raiva para José. — Maia, não tem o porquê esconder
isso dele, parece que você tem alguma culpa, o que não é
verdade, eu entendi muito bem o que ele fez com você.

— Não queria arrumar confusão, não gosto de


brigas. Mas não quero que ele pense mal de mim.

— Vou falar o que aconteceu, tudo bem? — José


voltou com a água. Apenas assenti.

— Ele queria que Maia fosse conversar com ele fora


dali, dizendo que precisava se explicar, que ela não
poderia ficar com você. Na hora que aquela mulher foi
levar uns petiscos entregou um bilhete para Maia. Íamos
jogar fora, mas como Otávio viu, preferi guardar para não
pensarem que era alguma outra coisa.

Ela entregou o bilhete para o noivo, que leu e


passou para José.

— Quando saímos do banheiro ele apareceu,


bloqueou nosso caminho e segurou Maia.

— Por que não foi me chamar? — Otávio perguntou.


— Maia estava com medo, não queria ficar sozinha.
Ele ficou pedindo perdão. E queria tirá-la dali.

— Que tanto esse cara quer seu perdão? Que porra


ele te fez?

Lize falou de uma vez, sem nem pensar.

— Ele tentou transar com ela a força.

Olhei assustada para ele, de repente todos fizeram


um silêncio absoluto. José ficou horrorizado, dava para
ver sua expressão de ódio. Só senti José me erguendo
como uma marionete, me colocando de pé em sua frente:

— Ele tentou te estuprar? ELE TENTOU TE


ESTUPRAR, MAIA?

Ele gritava e me sacudia pelos ombros. Meneei a


cabeça. José me largou e quis ir embora, mas ali era a
casa dele. Não tive culpa, quis dizer, mas estava sem
palavras. Seu amigo perguntou indignado.

— José, para onde você vai? — Otávio se colocou


em frente ao meu namorado, com um olhar preocupado e
raivoso que eu não havia presenciado ainda.

— Otávio! Não ouse me impedir! Sérgio vai ter que


atirar em mim.
Não entendi nada do que aconteceu em seguida,
mas José tentou bater no amigo, que desviou por pouco e
xingou:

— Porra!

— Porra um caralho, sai da minha frente.

— Maia está precisando de você agora, olha o


estado que ela está. Vai cuidar da sua mulher ou do cara
primeiro?

Não sei se entendi direito, ele não queria ir embora?


Nem estava com raiva de mim? Queria ir atrás do Carlos?
Ele ficou me olhando da porta e andou rápido até mim.
Ainda não tinha conseguido parar de chorar e quanto mais
nervosa, mais vontade de chorar eu tinha.

— Fica calma, vou cuidar de você.

Ele me abraçou pela cintura, ajoelhando-se em


frente a mim, agarrei-me a ele, queria dizer que se ficasse
comigo eu me acalmaria, mas minha voz não saía. Só
conseguia lhe fazer carinho e beijar sua cabeça,
agradecendo a Deus por ele estar bem. De repente, José
levantou pegou o celular e começou a falar com alguém.

— Preciso de uma equipe aqui, três, incluído você,


ao amanhecer. — Olhei-o sem entender.
— Com quem você estava falando?

— Com o chefe da minha equipe de segurança.

— Você tem uma equipe de segurança? Para quê?


— José pareceu ficar nervoso.

— Para cuidar da segurança dos meus filhos, da


minha casa. E agora a sua.

— Eu não preciso de um segurança.

— Não, precisa de três. Não discute comigo. Vamos


nos deitar. — José se virou para Otávio.

— Havia esquecido, amanhã depois da visita na


fábrica, vamos almoçar na casa da Maia.

Me levou para o quarto antes do amigo responder.


Andou direto para o banheiro e eu o segui. Ligou a água
da hidromassagem e sem dizer uma palavra, despiu-me
lentamente admirando meu corpo nu, em seguida e de
forma ágil, ficou completamente nu também. Ao entrarmos
na banheira, José sentou-se e me colocou entre suas
pernas.

— Quer me explicar o que ele fez com você?

Balancei a cabeça negativamente.


— Maia, eu te amo, não quero mais ficar sem você.
— Olhei para trás assustada.

— Por que está dizendo isso? Por que ficaria sem


mim? Você quer me deixar, quer terminar nosso namoro?
— Ele me abraçou forte, me prensando entre seu corpo,
relaxei um pouco e encostei a cabeça em seu ombro. Ele
não me soltava, não dizia nada, apenas sentia sua
respiração descompassada.

— Não vou te levar para casa, preciso dormir ao seu


lado, não era assim que gostaria de passar nossa primeira
noite. Mas não tenho condições de me afastar de você.

Foi a minha vez de não dizer nada, nem tinha


pensado em ir para casa, por um momento era como se
fosse a ordem natural da vida eu estar ali com ele, dormir
com ele, acordar com ele.

— Já esperei tempo demais. Não vou mais esperar


nada. Nada.

José estava nervoso, mas não estava entendendo


por que nem sobre o que ele estava falando... Ele me deu
banho, me secou, pegou uma camiseta sua e me vestiu.
Depois deu um passo para trás e ficou me observado com
carinho.

— Linda, você é perfeita meu amor.


Deitei no peito dele, escutando seu coração martelar
rápido e forte seu peito. Suas mãos me fazendo carinho e
sua mente com certeza muito longe dali.

Trocamos carícias, beijos, juras de amor, mas não


transamos, era o nosso sonho dormimos juntos, nos amar
até não aguentar mais e acordar nos devorando. Mas
acredito que como eu, não era esse dia que ele gostaria
de ter na lembrança.

Acordei e demorei alguns segundos para me situar,


olhei para José dormindo ao meu lado e meu coração
quase saiu pela boca de tanto amor. Eu quero isso todo
dia, por que ele não me pede em casamento, senhor Deus,
por quê? Fiquei por muito tempo olhando para seu rosto,
sentindo sua respiração em mim, até precisar ir ao
banheiro. Tentei tirar o braço do José de cima de mim,
mas ele me puxou para mais perto, me encoxando,
grudando meu bumbum em seu pau muito duro. Ainda
dormindo, começou a falar:

— Maia... — era um sussurro bem próximo ao meu


ouvido, sorri emocionada, ele me chamava enquanto
dormia. Me apertou mais em seu abraço se impulsionado
contra minha bunda, com seu pau que procurava abrigo.
Virei-me um pouco de lado e passei a mão por seu rosto,
sentindo a textura da sua barba, sua pele, era maravilhoso
e eu o queria para sempre. Abriu os olhos se deparando
com os meus, sorrindo para o homem da vida.
— Te amo! — Apenas movi os lábios. O sorriso que
me deu em troca fez meu coração disparar.

O celular dele começou a tocar sem parar quebrando


o clima. Ele olhou e constatou que era Otávio, atendeu e
só falou:

— Cinco minutos. — encerrou a chamada e


continuou falando comigo:

— Você vem comigo, vou apresentar a fábrica para a


Elizabeth, depois te levo em casa.

— José, acho melhor...

— Você vem comigo, Maia. Não vamos brigar por


bobagem, você vem comigo.

Eu adorei conhecer a fábrica, era tudo diferente de


como imaginei, quando entrei na sala do José, olhei para
aquele sofá onde ele me fez mulher, me fez dele, quando
desviei o olhar ele me encarava como se fosse me
devorar. Estava pensando o mesmo que eu. Mas, esta
visita demorou mais do que imaginei, eu precisava correr
para casa, não avisei meus pais que passaria a noite fora,
estava completamente ferrada. ——— Gente me desculpa,
não sei se vão fazer mais alguma coisa, mas eu tenho que
ir para casa. Primeiro para ser morta pelo meu pai, depois
para ajudar minha mãe no almoço, se tiverem que fazer
mais alguma coisa antes de ir, eu espero vocês lá. Se
puderem ir agora, vou ficar muito feliz em levar uma surra
na frente de vocês. — Todos rimos.

— Por que seu pai te mataria antes do almoço? —


Lize debochou da minha cara.

— Não durmo fora de casa, não avisei, José disse


que falou com meu irmão, mas mesmo assim.

— Ficaremos felizes em ver você apanhar. —


Zombou de novo.

— Vamos almoçar lá em casa, Natália? Podemos


pegar seu filho na sua casa. — Natália perguntou para
Lize. Ela havia aceitado a proposta de emprego e estava
super contente com o novo trabalho.

— Ainda vai precisar de mim, dona Elizabeth?

— Não para o trabalho, mas podemos mesmo pegar


seu filho e ir ver a Maia apanhar antes de fazer o almoço.
— Fiquei muito feliz quando a Natália me contou da
proposta que Lize fez para ela.

— Muito obrigada, mas preciso finalizar algumas


coisas antes de irmos, e quero ficar um pouco mais com
meu pai.

— Pode vir no carro com a gente. Deixamos você lá,


e depois vamos para casa da Maia.
— Me ver apanhar antes de fazer o almoço. — Falei
bufando, antes dela tirar sarro de mim mais uma vez.

Natália foi com Lize e Otávio. José me apresentou à


equipe de segurança, tinha me esquecido deles, mas
fiquei horrorizada, não vou de forma alguma andar com
ninguém atrás de mim. Como se eu fosse uma estrela de
cinema, meu Deus. Será que José tem dinheiro para pagar
isso?

— Pode tirar o cavalo da chuva! — Falei brava


quando entramos no carro. José me olhou como se não
tivesse entendido. — Não vou andar com ninguém atrás de
mim. Isso é ridículo, eu moro na roça. Não tem nem
cabimento uma coisa dessas. E sem contar que eles
devem custar uma fortuna. Você fiou louco!

Esbravejei horrores até chegar em casa, José não


contestou, não falou nada até descer do carro. Por fim
disse:

— Isso não é discutível, não se desgaste. Vem,


vamos entrar. — Entrou na minha casa e me deixou lá
parada entre o carro dele e o dos seguranças
brutamontes.

Entrei furiosa atrás deles.

— Como não é discutível? — Gritei. Mas ele já


estava cumprimentando meu pai e minha mãe, pegando
um pedaço de bolo de cima da mesa e comento como se
eu não quisesse matá-lo.

— Bom dia, minha filha.

— Ah, oi mãe, pai, bom dia, tudo bem?

— É o que queremos saber de vocês.

Fiquei olhando para José desafiadoramente. Como


quem diz: explica para eles. José virou de costas, se
serviu de café e disse:

— Maia precisa tomar um banho e tirar essas


roupas. Enquanto isso preciso te apresentar os
seguranças dela.

Falou para o meu pai. Fiquei perplexa. Virei as


costas e saí. Eu realmente precisava tomar um banho e
trocar de roupas, e vendo meu pai tão relaxado com José
entendi que provavelmente, com certeza, eu perderia a
batalha. Mesmo porque, era como meu avô dizia, José é
igualzinho meu pai. E meu pai adora isso.

Ouvi quando Lize e Otávio chegaram e fui recebê-


los.

— Vamos entrar, venham conhecer minha família,


nada muito normal, mas são gente boa.
— Vamos ajudar na cozinha. Sabe fazer alguma
coisa? — Lize me olhou assustada, não é possível que
uma mulher não saiba fazer nada.

— Qualquer coisa? — Levantei os ombros, ela ficou


ainda mais espantada e respondeu com cara de safada.

— Sei fazer muitas coisas, garota.

— Acho que isso não será muito útil na cozinha da


minha mãe.
— Sua tonta. Só conheço um dos seus irmãos.

— Sim, meu outro irmão que é marido dela, apontei


para Sandra, está na Bahia. Ele foi com meu avô, que tem
umas terras e quer colocar à venda. Só tem uma semana
que meu irmão foi e minha cunhada já está aí, sofrendo,
chorou a manhã toda.

— Fica aí falando de mim, mas quando José fica


dois dias na capital passa o tempo todo sofrendo pelos
cantos.

— Sei bem o que é isso, Otávio às vezes viaja, não


fica nem uma semana e eu já fico louca.

— Aí credo! Nem gosto de lembrar, quando


começamos a namorar, José ficava vários dias longe, hoje
não aguentaria mais tanto tempo. Sei que os filhos dele
estão viajando, quando chegarem, já falei que vou com ele
para São Paulo ou as crianças vêm para cá.

— Seu pai falou com ele quase agora, que quer


conhecer os pais dele e os filhos. — Contou-nos minha
cunhada, pensei que Lize falaria alguma coisa, mas ficou
quieta.

— Seu pai ficou bravo por que você dormiu fora? Ele
ficou sabendo da briga? — Tive a impressão que Lize
perguntou para mudar de assunto. Ou minhas
desconfianças estavam me fazendo imaginar coisas.
— Ele não ficou bravo exatamente, porque
teoricamente, eu tinha um motivo. Ele confia em mim. —
Esperei que ela entendesse e não dissesse nada na frente
das minhas cunhadas. — Ele acha que o casal, mesmo
com uma vida sexual ativa, se querem dormir juntos,
devem se casar. Eu também acho. Meus irmãos não
podiam trazer as namoradas para dormirem aqui, meu pai
os fez respeitarem as filhas dos outros. Ele quer que José
respeite essas coisas. E sim, meu pai está sabendo da
briga.

— Mas seu pai confia muito em você, namorou mais


de um ano e se guardou. Ele não acha que vai se perder
com um namorado que acabou de conhecer e que nem
conhece a família dele ainda. Você sabe que seu pai
gostou muito de José, por ter uma postura firme, não
abaixou a cabeça para ele e ainda assim, respeitou a
família toda.

Não era impressão, Lize estava extremante


desconfortável. Não sei o que era, mas alguma coisa de
errado tinha nesta história. Quando ficamos sozinhas,
pedi:

— Por favor, não fale que dormi com José, eu disse


que fiquei em outro quarto com você.

— Tudo bem. — Rimos.

Lize era muito prendada, nos surpreendeu.


— Nossa… mocinha, para uma moça rica você sabe
mesmo colocar a mão na massa.

— Nem sempre fui rica.

Minha mãe e eu olhamos para ela surpresas, acho


que minha mãe pensou o mesmo que eu. Ela era tão nova
e já tinha tanta experiência, lidando com gente poderosa,
achamos que ela havia nascido em berço de ouro. Mesmo
porque, ela tinha cara de rica e jeito de rica.

— Ainda sim, lá em casa, mesmo tendo muitos


empregados, sempre cozinhamos, lavamos, principalmente
quando vamos para a fazenda.

Ficamos ali conversando e cozinhando. Minha mãe


já sabia que eu queria saber um pouco mais da vida do
José. E sem delongas perguntou:

— Você conhece a mãe dos filhos de José?

— Só encontrei com ela umas duas vezes.

— Sabe Lize, aqui não acreditamos neste negócio de


separação, divórcio essas coisas. Confiamos muito em
José, colocamos ele dentro da nossa casa e hoje ele faz
parte da nossa família. Meu marido e eu conversamos
muito ontem à noite, precisamos saber sobre a vida dele,
conhecer sua família, porque o namoro dos dois está
andando muito rápido. Como ela é?
— Bom, como disse, conversei mesmo com ela umas
duas vezes e posso te garantir que não é só porque estou
aqui na frente de vocês que vou dizer isso, mas não tive
uma boa impressão. Ela me tratou com muita educação,
bem até, mas como diz Carla, uma amiga muito grande
deles e madrinha do filho mais velho de José, ela não me
"tratou bem", ela me bajulou porque sou a noiva de Otávio.
Os amigos dele, não gostam dela. O pouco que fiquei com
ela, não deixou a menina tomar suco de laranja, porque
tinha muitas calorias, nem brincar para não suar e
estragar a maquiagem.

— Pensei que a menina fosse pequena.

— Ela tem seis anos!

— Oh! Meu Deus! — Minha mãe e eu ficamos


impressionadas.

— Posso falar uma coisa para vocês? Vocês terão


muitos problemas com ela ainda, não sei o que José vai
fazer. Mas não acho que será fácil. Qualquer coisa pode
me procurar. Se eu puder, farei questão em ajudar.

Ela foi muito honesta, tenho certeza, mas a senti


extremamente preocupada. Lize acabou mudando o rumo
da conversa, deixando claro que não gostaria de
conversar sobre o assunto, e eu fiquei despedaçada. Meu
coração se apertou dentro do peito, novamente aquela
sensação de inquietação que eu andava sentindo...
Depois que nos juntamos aos homens, comecei a
prestar mais atenção em José, e percebi que Lize não
dirigiu sequer uma palavra a ele.

Não conseguia relaxar, meu coração estava doendo


de tão apertado, estava me sentindo sufocada, mas me
mantinha firme, vigilante e simpática.

Começaram a falar da briga. Minha cunhada disse


que todos na cidade estavam comentando.

— Eu não vi vocês lá. — Falei para Ju.

— Na hora em que chegamos, minha irmã e uns


amigos estavam em uma mesa perto da entrada, ficamos
por lá. Até que alguém chegou falando que José estava
brigando, e seu irmão já saiu louco, né?! Ele nem sabia o
que tinha acontecido e já estava dando porrada em todo
mundo.

Achei que Jussara estivesse viajando, será que ela


está fugindo do Samuel?

— Hoje em dia não dá mais para ficar brigando


assim, não é como na minha época. Mas se fosse eu,
tinha feito a mesma coisa, capaz que vão falar com a
minha mulher, quanto mais segurar. Fez bem, aquele
moleque sem respeito. Nunca gostei dele, uma família
toda bagunçada, o pai um putanheiro que não respeita a
mulher e as filhas. E meus filhos sabem, família é família,
primeiro nos defendemos, depois a gente se entende.

— E na hora em que cheguei lá, tinha uns daqueles


amigos dele, querendo entrar na briga. Otávio tinha
socado um. Da outra vez segurei José e eu mesmo tinha
falado para ele ficar longe da minha irmã.

— Amor, no começo você também não gostava de


José. — Minha cunhada zombou do Danilo.

— É que esses caras riquinhos chegam desfilando


seus brinquedinhos caros, se mostrando e passando o
rodo nas piriguetes da cidade, depois acham que é só
chegar e conquistar a mocinha ingênua da roça.

— Obrigada pela parte que me toca, maninho.

— É verdade.

— O que mudou? — Otávio perguntou.

— Sei lá, o cara é legal e cuida da minha irmã como


um homem. É responsável e peitou meu pai, meu irmão e
eu. De uma vez. O cabra é corajoso. Não se fez de
bonzinho e não desrespeitou minha família, e respeita
minha irmã.
Depois do almoço enquanto arrumávamos a bagunça
os homens voltaram para o galpão, foram jogar bilhar,
beber e falar sobre trabalho. Lize estava muito estranha,
não estava leve como no início e percebi que olhou com
raiva para José, não trocou uma palavra. Vou esperar a
oportunidade de ficar sozinha com ela e perguntar o que
aconteceu.

Ela foi para o galpão e fiquei fofocando com a minha


mãe.

— O que você achou, mãe?

— Não sei, acho que ela não gosta muito da ex-


mulher do José, pelo pouco que deu para perceber,
mesmo com ele tentando esconder... Porque você sabe
que ele esconde algumas coisas, né? — Minha mãe me
perguntou quase que desafiando. — Filha, seu pai me
chamou ali no quarto quase agora e falou que José disse a
ele que gostaria que você fosse conhecer os filhos dele lá
em São Paulo.

— E o que o pai falou?

— Ele mesmo quer conversar com você.

Ia insistir para a minha mãe dizer, mas vi José,


Otavio e Lize dar a volta na casa. Não falei nada para
minha mãe, peguei um copo de suco e fui ver se dava para
enxergar ou ouvir alguma coisa das janelas de algum
quarto. A janela do quarto de hóspedes estava fechada, e
quando cheguei perto ouvi a discussão.

— O que está acontecendo? Você ficou louco, não


vê o que está fazendo e está piorando as coisas a cada
segundo? Não quero mais participar disso. Ela é um ser
maravilhoso, entendo sua paixão, mas o que vai fazer
quando ela descobrir que você é casado? Essa família é
maravilhosa José. Tem noção?

— Eu sei, Lize. Eu sei sim, mas agora é tarde. De


qualquer forma, eu menti.

— Cadê a sua mulher?

— Sei lá daquela porra. Deve estar na Alemanha.


Não temos mais nada. Você sabe que ela vai fazer da vida
de Maia um inferno. Todos aqui vão me odiar, não estou
preparado para isso. Amo Maia. Gosto de todos, não
consigo mais me ver longe dessa família, quero que meus
filhos vivam isso, preciso dar um jeito de ficar com a
minha filha. Lize, você sabe como ela trata a menina. Ela
não vai aceitar uma separação amigável. Nem que eu dê
tudo que tenho para ela, e daria se ela não atacasse a
Maia. Há meses tirei tudo de casa, ela ainda nem viu. Tem
mais de 4 meses que quase não nos encontramos. Todo
mundo sabe como era meu casamento.

— Era, não. É! Eu não sei como você consegue. Me


sinto um monstro, ela vai me odiar, e juro que não queria
isso. É muito raro conhecer pessoas como ela na vida.
Não podemos perder assim.

— Não consigo, não posso e não vou viver sem


Maia. Lize! Otávio me conhece, nunca senti nada por
ninguém, nunca. Só te falo uma coisa: vou lutar. Vou lutar
a minha vida toda por duas coisas, por ela e pela minha
filha, juro que não sei o que eu vou fazer. Mas estou
disposto a tudo. Eu amo essa mulher mais que minha vida.
Lize, por favor...

— Por favor, o quê? Acha que vou falar alguma


coisa? Que quero ver o sofrimento dela? Ela te ama. Não
quero nem imaginar o quanto ela vai sofrer. Quero mesmo
ir embora, José, não sei o que pensar. Estou me sentindo
culpada, não deveria ter me aproximado tanto.

Sem força nenhuma deslizei até o chão, o suco que


estava em minhas mãos virou em meu colo.

A dor me deixou surda, cega e paralisada, meu peito


queimava descontroladamente e por um longo tempo
minha mente se tornou um nada imenso. O choro preso na
garganta me sufocava. Nada, eu não pensava nada,
apenas sentia a quentura das lágrimas em minha face
sem cessar.

A dor dilacerante dominou todo meu ser, e minha


mente acordou desesperada, gritando, chorando,
sangrando. Não, não, não!
José não faria isso comigo, não faria isso com a
gente, ele me ama. Ele não faria. Me recuso a acreditar,
eu ouvi errado, ele vai me explicar, tenho certeza, porque
ele quer que eu vá conhecer os seus filhos... Ele vai me
explicar, vai explicar...

Foi em negação que me arrastei até meu banheiro,


me enfiei de baixo d’água e chorei por muito tempo.

Não conseguia pensar em um futuro sem o meu


amor, sem o meu José. Meu Deus! Não conseguia
raciocinar nada, nada coerente passava pela minha mente.

Me troquei e fui encontrar Lize, não vou me abater.


Não vou.

— Desculpa, Lize, me molhei com suco.

— Estava conversando com suas cunhadas e com


sua mãe. Você precisa me ajudar a tirar meu noivo dali,
enquanto ele ainda consegue ficar em pé. Ele já bebeu
muito.

— Você me lembrou que preciso conversar com José


antes que ele não tenha nenhuma linha de raciocínio.
Vamos lá acabar com a bebedeira deles. — É mentira, ele
nunca faria isso comigo, ele não é casado. Cada passo
que dava obrigava a minha mente se calar.
Fomos todas para o galpão. Senti vontade de fazer o
que José sempre sugeria: fugir. Quero fugir com ele. Ele é
meu, só meu. Precisava pensar em outra coisa, resolvi
falar sobre os seguranças.

Olhei para ele com o peito apertado.

— José, não acho necessário esses seguranças


perdendo tempo comigo, é um absurdo andar nesta cidade
com esse carro caro, com um segurança, como se fosse
filha do presidente. — Ele reagiu muito mal. José sempre
foi intolerante, ele mesmo sempre diz.

— Isso não está em discussão, Maia. — Percebi que


estava embriagado. — Já falamos sobre isso. Você não vai
ficar andando por aí sozinha com aquele filho da puta te
perseguindo, ou você vai andar com os seguranças, ou
vou parar de trabalhar e eu mesmo vou andar com você o
tempo todo, de agora em diante você nunca mais vai
andar desprotegida, é bom você se acostumar, sua vida
vai ser assim agora. E outra coisa: nunca mais vai dançar
daquele jeito na frente dos outros, nem de nenhum jeito.
— Seu tom era bravo, falou e saiu em direção ao banheiro,
todos ficaram mudos. Fiquei incrédula.

— Filha, José está muito nervoso e pelo jeito com


razão, ele está com sangue nos olhos para pegar aquele
moleque. Seu irmão disse que o filho da puta já te abordou
várias vezes, vou falar com ele. José está certo em
relação a dança, é muito ruim para mim ver todo mundo te
olhando e babando. Imagina para ele.

— Tudo bem pai, mas eu não preciso de um guarda


costa para ir ao mercado. Olha aquele carro. Nem sei que
carro é. Isso deve custar uma fortuna, nem sei se ele pode
pagar por isso. Meu Deus! Ninguém entende que é um
gasto desnecessário. Nossa! — Não sei nada sobre. Ele é
rico assim?

— Não quero andar em um carro desses, nem ser


seguida o tempo todo. — José chegou por trás de mim,
aparentemente mais calmo. Olhou-me e disse:

— Maia, entenda uma coisa, já conversei com seu


pai e com seu irmão, eu preciso que você esteja em
segurança para eu conseguir trabalhar em paz. Não se
preocupe com dinheiro…

— José, são pessoas trabalhando, o tempo todo.


Isso vai ficar uma fortuna. Você não precisa gastar tanto.

— Maia, isso não está em discussão. Vamos a São


Paulo essa semana. E você vai conhecer minha vida,
minha família, seu pai já me autorizou a levá-la. Não
discute, por favor. Você sabe, depois de tudo que
aconteceu, do que conversamos, não posso te deixar
andando por aí e ficar tranquilo. É assim que será,
acostume-se com isso.
— Isso é um pedido de casamento? — A cunhada
falou.

— É um pedido não formal, quero que saibam que se


dependesse de mim eu não ia embora sem Maia daqui
hoje, nem nunca mais.

— Vamos devagar com andar que o santo é de barro.


— O pai de Maia falou, e encheu o copo de todos eles
novamente.

Lize conseguiu arrastar Otávio para fora do galpão.


Que era um bar muito do luxuoso, meu pai tinha orgulho
daquele cantinho dele, um espaço gourmet com tudo que
há de melhor. Não sei o que senti quando ela me abraçou,
acho que desespero.

— Tchau! Lize, foi maravilhoso te conhecer,


obrigada.

Quando me olhou com aqueles olhos lindos senti


vontade de chorar.

— Me perdoa, por favor, você é apaixonante. Quero


muito ser sua amiga. Me perdoe por tudo.

Ela me apertou forte, não consegui dizer nada.

Eles se foram e José e eu ficamos parados na porta


da minha casa. Ele me agarrou com força, estava bêbado
demais.

— Eu não vou te perder, você é o meu anjo. Não


quero ficar sem você nunca mais. Você entendeu, Maia?
Você entendeu?

Deixei que meu corpo se apertasse ao dele, queria


dizer que não, que não estava entendendo nada, mas
tinha medo, muito medo de que ele me explicasse.

Não dormi aquela noite. José estava no quarto de


hóspedes, muito perto para que eu ficasse sem ele.

Entrei no cômodo e tranquei a porta. Deitei-me ao


seu lado, achando que ele estivesse dormindo e antes que
eu me desse conta do que estava acontecendo, ele estava
sobre mim. Me beijando, tirando minha roupa e me
penetrando como um desesperado.
— Preciso ir para meu quarto, já são quase cinco
horas. — José encarava o teto há mais muito tempo sem
dizer nada.

— Nunca vivi.

Me apoiei no cotovelo para olhar para ele que


continuava encarando o teto.

— Percebo agora que nunca vivi, não depois dos


meus vinte anos. Não tinha desejos, vontades, sonhos e
nem medo.
— E do que tem medo, agora?

— De te perder ou aos meus filhos.

— E por que nos perderia? — Senti medo de sua


resposta, mas antes que ele voltasse a falar, bateram na
porta do quarto. Sentei rápido na cama, meu coração
quase saiu pela boca. Olhei para José que mal tinha se
mexido. Fui descer da cama, mas ele me puxou e falou
sério:

— Fica aí.

Ele levantou, colocou a calça enquanto eu fiquei


olhando para ele sem saber o que fazer. Bateram mais
uma vez. Meu pai vai nos matar. Pensei, olhei para o
banheiro, vou correr para lá.

— Nem ouse, você não vai se esconder. Fica


deitadinha aí, onde é seu lugar na minha cama.

Ele foi até a porta e a abriu quase toda. Danilo me


encarava parado como um soldado. José deu um passo
para o lado se colocando exatamente na sua frente, me
impedindo de vê-lo. Sem dizer uma palavra os dois
ficaram se encarando. Minha vontade era me levantar e ir
para o meu quarto, mas estava nua.

— Vocês vão arrumar problemas a essa altura do


campeonato? — Danilo esbravejou e se foi. José
continuou encarando o corredor por um tempo. Em
seguida fechou a porta, se sentou na cama e me puxou
para o seu colo.

— Disse para o seu pai que iria para São Paulo na


quarta-feira, mas acabei de mudar de ideia, vamos hoje.

— José, tenho que ir trabalhar.

— Não, você não tem. Você vai comigo para São


Paulo e vamos conversar. Pede demissão. Vamos hoje,
depois do almoço.

Aconcheguei-me em seu colo, ele me abraçou e


ninou como faz com uma criança. Sei que chegou o
momento que ele sempre dizia, onde eu teria que tomar
uma decisão. Eu o amo, não consigo me imaginar sem ele,
mas com toda certeza, não serei sua amante.

Fui para o meu quarto antes dos meus pais se


levantarem. Um pouco antes das sete horas estávamos
todos na cozinha, José tomava café com meu pai e
zanzava de um lado para o outro como barata tonta.
Quando Danilo entrou no cômodo, nem consegui olhar
para ele de vergonha.

— Bom dia. — Ele falou para todos. Mal respondi,


mas José parecia muito à vontade.
— Não vai trabalhar hoje, Maia? — Ele me encarou
para perguntar.

— Não. — Olhei para José em seguida para o meu


pai.

— Por que, filha? — Minha mãe perguntou.

— Precisei antecipar nossa ida para São Paulo. —


José respondeu.

— E ia me falar quando? — Meu pai brigou.

— Assim que tomássemos café. — José respondeu.

— E posso saber quando trará minha filha de volta?

— Seu Edgar, poderia mentir e dizer um dia


qualquer, depois inventar uma desculpa, mas não consigo
dizer o dia exato.

— Filha, e seu trabalho?

— Dona Ada, assim que voltarmos virei conversar


com vocês, mas quero que Maia peça demissão. Não faz
nenhum sentido ela se deslocar daqui para Pouso Alegre
todos os dias, sem nenhuma necessidade.

— Se acha que Maia vai ficar indo e vindo de São


Paulo com você, José, está muito enganado.
— Não é isso que quero seu Edgar, assim que
voltarmos, nos sentaremos e conversaremos. Eu tenho
uma reunião agora aqui na fábrica, virei buscar Maia
depois do almoço. — José me deu um selinho e se
despediu, Danilo e meu pai foram junto.

— Maia, agora nossa conversa é séria, você não é


mais criança, sabe o que José quer, não sabe?

Olhei para minha mãe que já era uma senhora, muito


linda e conservada, mas já tinha quase sessenta anos.
Será que ela acha que ainda sou virgem?

— Como assim, mãe?

— Filha, José vai querer que você se amigue com


ele. Ele pode até casar com você algum dia, mas sabe o
que acho: que ele quer ter certeza que você e os filhos
vão se entender para depois casar de verdade. E se não
der certo, ele não terá nenhum vínculo com você. Minha
filha, não se sujeite a uma coisa desta. Se dê o valor. Não
quero que se amigue com ele, nem com ninguém.

— A senhora acha mesmo que é isso?

— Filha, esse homem é louco por você, ele te ama.


É um homem rico, olha os seguranças dele! — cochichou.
— Por que não te pediu em casamento ainda? E por falar
em casamento, Maia...
Já não ouvia mais o que minha mãe dizia. A única
voz que vinha na minha cabeça era a voz de Lize.

— Maia! — Olhei para minha mãe. — Não se faz de


surda. Assim que você voltar vamos na ginecologista.
Você precisa tomar anticoncepcional, antes que seja tarde
demais. Que horas você saiu do quarto do José essa
madrugada?

Senti meu rosto queimar, desviei o olhar, peguei um


pedaço de pão.

— Maia?!

— Mãe, eu já tomo anticoncepcional. — Ela ia dizer


alguma coisa, bem na hora minha cunhada entrou na
cozinha.

— Bom dia... — falou desconfiada. — Tudo bem por


aqui?

— Tudo — respondi.

— Eu que pedi para o seu irmão ir ao quarto do


José.

— E como a senhora sabia que eu estava lá?

— Você acha que sou boba, Maia? Ouvi barulho e


fui ao seu quarto, adivinha só, você não estava lá. Pedi
para Danilo ir lá porque seu pai estava inquieto, se ele te
pega no quarto do José, não ia prestar.

— Desculpa, mãe?

— Até parece, Maia, acha que eu não iria? Acha que


me casei virgem?

— Mãe? — Fiquei abismada. Caímos na gargalhada.

Depois que enfim consegui tomar café, fui fazer a


minha mala. Não demorou, Juliana apareceu no meu
quarto.

— O Danilo quis morrer porque sua mãe exigiu que


ele fosse te chamar. Nossa eu ri tanto, ele ficou muito
bravo comigo, muito mesmo.

— Coitado, por que riu dele?

— Ele falando puto: “Caralho! Agora tenho que ser o


empata foda. Vou matar a burra da Maia que não sabe
nem levantar sem fazer barulho.” Maia de Deus! Você
bateu a sua porta, a porta do quarto dele, de hóspedes.
Para que fazer tanto barulho?

— Não percebi, estava ansiosa.

— Mas sua mãe demorou para chamar o Danilo. Ah,


eu amo esse vestido.
Olhei para a peça que estava em minhas mãos: —
Ju, nem sei como devo me vestir. José só anda impecável.
Você viu os amigos dele? O que é aquela Lize, linda e
super bem vestida.

— Mas nada demais, roupas lindas e simples. Você


tem roupas maravilhosas, comprou roupas lindas no ano
passado quando foi para o Canadá, nem usou tudo ainda.

— Nem sei quanto tempo vou ficar lá. Não posso


levar muita coisa, nem pouca. Ai, Ju, estou tão nervosa.
José falou que quando voltarmos vai conversar com meus
pais. E falou isso para eles. Disse que é para eu pedir
demissão, que não me quer mais trabalhando. Ele odeia o
Charles desde que viu os vídeos que fiz com ele.

— Ela vai querer que você fique acompanhando ele,


Maia. Quando ele tiver que ir ver os filhos.

— Meu pai falou que se ele tiver essa intenção, para


tirar o cavalo da chuva. Mas José disse que não era isso.

— Então vai te pedir em casamento.

— Não quero pensar sobre isso agora. Me ajuda a


terminar a minha mala?

Meu pai e Danilo vieram almoçar em casa, e vieram


cedo. Meu pai me chamou assim que chegou.
— Oi, pai.

— Senta aí. Maia você não é obrigada a fazer nada


que não queira. Sabe que vou te buscar na hora que
quiser. Se dê o respeito, respeita a casas dos pais dele e
de todos. Filha, não aceita ser desrespeita pelos filhos do
José. Não ia permitir que você fosse lá conhecer as
crianças dele, mas José foi muito honesto com seus
motivos.

— E quais foram os motivos dele?

— Que as crianças são a parte frágil, que eles nunca


tiveram que conhecer ninguém, que eles vão sentir como
se estivessem perdendo um pouco do pai e que se
estiverem em seu território seria melhor. Que terá os avós,
e que o irmão com os filhos também estarão lá. Acho que
ele está certo, ele é um ótimo pai. Um homem que não
cuida dos seus próprios filhos, não cuidam de ninguém.

— Conversamos sobre isso. Ele quer muito que tudo


saia perfeito.

— Maia, presta atenção nas suas ações. Tenha


compostura e educação, você é uma moça de família e
pelo jeito, vai conhecer a família toda, além dos filhos de
José. Mas já avisei para ele que você não vai ficar indo e
vindo. Esquece, quando ele quiser, ele trás as crianças
aqui pra casa. Queremos conhecer seus pais, já falei para
ele trazê-los o mais breve possível também.
— Eu sei, pai.

— Filha, qualquer coisa você nos avisa, não tenha


medo, nem vergonha. Leve seus cartões, trouxe um
dinheiro em espécie, deixa na bolsa. E não se esqueça
nunca que você tem casa, família, e que nós te amamos.
— Abracei-o forte.

— Obrigada pai, eu te amo.

Não demorou muito José chegou. Almoçamos todos


juntos, conversamos bobagem.

— Marcos chega hoje, né?! O vovô vem junto? —


Perguntei para o meu pai.

— Chegam no fim do dia, os dois. Parece que seu


avô vai sossegar o facho por aqui.

— Diz que deixei um beijo, para Marcos e para o


vovô, que estou morrendo de saudade que quando eu
chegar, vou ficar grudada nele por um mês. — José me
encarou sério quando terminei de falar.

Depois de muitas recomendações e despedidas,


conseguimos sair de casa com sua equipe de segurança
bem atrás de nós.

— Tudo bem? — Perguntei, porque José estava


muito sério. Ele me olhou de relance, colocou a mão em
minha coxa e suspirou.

— Com você ao meu lado estou sempre bem, Maia.

— Nós vamos direito para a sua casa? Tem alguém


lá? — Ele sorriu.

— Vamos para casa, e não, hoje quero você só para


mim.

— Você levava mulheres para sua casa antes de me


conhecer?

— Aluguei essa casa recentemente, nunca levei


mulher alguma para lá.

Meu coração disparou dentro do peito. Onde ele


morava antes de alugar essa casa? E ele tem condições
de comprar uma casa... Eu acho. Por que alugar? As
incertezas estavam me deixando transtornada.

— Maia, falou com a Marília?

— Hum, falei, mais ou menos... A Marília não precisa


mais tanto de mim como antes, desde que começamos a
namorar já não estava me dedicando tanto ao estúdio, já
tinha dito que não faria nenhuma apresentação com
Charles e as professoras assistentes são muito boas. Falei
que iria com você para São Paulo e que a professora
assistente poderia ficar com as minhas turmas, passei
tudo para elas. Ainda disse que precisaria conversar com
ela semana que vem, quando eu voltasse. Por que
precisou vir hoje?

— Não precisei.— Olhou-me rápido e não falou mais


nada.

— José, você está me deixando muito nervosa.

— Maia, eu precisava tirar você da sua casa, ficar


com você, dormir com você. Mas principalmente, te trazer
para o meu mundo, me apresentar de verdade a você.

— Não sei se quero a sua verdade.

O silêncio dominou o carro.


— O Danilo te falou alguma coisa, Maia?

— Não, minha mãe que falou, foi ela que viu que eu
não estava no quarto e o obrigou a ir me chamar, Juliana
falou que o Danilo ficou furioso, disse que não era empata
foda. — José me olhou rindo. — O que foi?

— Dever ser difícil ver a bebê da família crescer,


virar mulher.

— Não sou bebê, José!


— Ah... eu sei muito bem que não é!

José me contou sobre a amizade do quarteto, Carla,


ele, Ramon e Otávio. Não demorou muito e chegamos à
cidade de São Paulo.

— Chegamos no pior horário, o de pico, vamos


pegar muito trânsito até chegarmos em casa, é um pouco
antes do Morumbi. Temos que atravessar a cidade.

Ficamos duas horas no trânsito até que saímos da


Marginal Pinheiros. O bairro era bonito e sofisticado.
Entramos em um condomínio lindo, as casas eram
enormes e modernas. Os carros parados nas portas
pareciam de filme, só carros caríssimos. Fiquei olhando e
pensando em quanto dinheiro José tem.

— Chegamos, até que enfim.

Ele falou quando estacionou na frente de uma casa


grande e moderna. Fiquei olhando aquela imensa casa à
nossa frente. Ele segurou meu rosto com a mão e me fez
olhar para ele.

— Maia, você não tem noção do quanto eu sonhei


em entrar nesta casa com você. — Soltei meu cinto e o
abracei forte.

— Estou com medo. — Fui honesta.


— Eu sei, meu amor, eu sei.

De mãos dadas, entramos na casa. Fiquei


boquiaberta com a sala, tudo ali gritava dinheiro, muito
dinheiro. José parou atrás de mim e me abraçou, beijou
meu pescoço enquanto passava as mãos por minha
barriga, gritei quando ele me pegou no colo de supetão.

— Acho que você precisa descansar, vou te levar


para nossa cama.

— Não estou cansada. — Falei me agarrando a ele e


beijando sua boca. Fui colocada na cama com cuidado.
José me despiu vagarosamente. Arrancou sua camisa pela
cabeça, tirou a calça e os sapatos enquanto me devorava
com os olhos.

— Ah! — José jogou minhas pernas em cima dos


seus ombros, e lambeu minha boceta sedenta por ele. —
Haaaaaa! José... — Seu hálito quente, sua língua exigente
me devorando e suas mãos em meus seios, apertando e
girando os bicos, me fazendo rebolar em seu rosto,
gemendo alto. — José! Ah... hamm, hummm. — Me
contorcia de prazer em sua boca, com as unhas
enterradas em seus braços, gozando loucamente. —
Ahmm...Você vai me matar... José!

— Só de prazer... — Sua boca subia por minha


barriga, lambendo e mordendo. — Só de prazer, minha
vadiazinha fogosa. — Sugou cada seio lentamente me
dando doses extras de prazer, esfregando com carinho
minha boceta que, de tão encharcada, pingava. Seus
dedos espalhavam meus fluidos, me deixando cada
segundo mais molhada. — José! — Gemi seu nome
quando senti o dedo no meu anus.

— Quietinha, quero tudo de você hoje. Tudo!

Seu dedo me penetrou me arrancando um grito de


susto e prazer. Sua exigência me excitava, enquanto ele
comia meu cu com o dedo, sua boca devorava meus seios,
estava toda dominada por ele. Senti-o me alargando,
forçando a entrada de mais um dedo, tudo em mim
fervilhava, seu ritmo aumentou, sua mão me socava, o
orgasmo começou a se formar, senti vontade de me tocar,
queria gozar de novo, estava desesperadamente em
chamas.

— Não... Não tenha pressa meu amor!

José segurou meu braço e com uma habilidade


incrível, tirou os dedos do meu anus e colocou a cabeça
do pau.

— Ghammmm!!!

Seu rugido quase me fez gozar.

— Não, não vai gozar ainda, minha puta! Caralho...


isso, estrangula meu pau... porra!
Seu dedo circulava meu clitóris devagar, ele estava
se controlando para não meter tudo para dentro de uma
vez, ele levava os fluidos da boceta para o anus, se
movendo lenta e deliciosamente.

— Me fode! Fode meu cu com força, José!

— Puta gostosa do caralho! — José segurou minha


cintura como um animal.

— Ahhhhhhh! — Senti José me arreganhando, gritei,


gemi de perder o fôlego e implacavelmente, como um
animal, socava meu cu, gemendo, gritando meu nome. O
som dos nossos corpos ecoava junto com nossos gemidos.

— Goza! Goza minha cadela. — Apertando mais a


minha cintura, me fodendo com mais força, enfiou dois
dedos na boceta , num movimento de vai e vem,
acendendo ainda mais todo o meu corpo.

— Vadia! Hmmm... porra! Goza agora! Agora, Maia!

Nossos gemidos, gritos, suor e gozo se misturavam.


Foi simplesmente espetacular.

José caiu ao meu lado me puxando para ele.

— Maia... nunca mais vou te deixar ir embora. Quero


isso todos os dias da minha vida.
— Isso, o que? — Ele mordeu minha orelha, lambeu
meu pescoço.

— Seus gemidos... seus gritos... seus seios... sua


boceta e esse cu, porra!

Cada palavra veio acompanhada de uma carícia que


me deixava dengosa e excitada, gemendo sem controle.

— Maia...olha como você me deixa.

Ele pegou o pau duro com a mão e enfiou no meio


das minhas coxas.

— Nem consigo ficar mole, com você gemendo e


rebolando assim, minha putinha.

— Fico com muito tesão quando você me chama


assim... — José estava em cima e dentro de mim antes
que eu terminasse a frase.

— Vamos sair para jantar?—José perguntou


enquanto passava a toalha distraidamente pelo corpo, ele
era perfeito, me dava água na boca olhá-lo.
— Maia, se continuar me olhando assim, vou te jogar
naquela cama de novo.

— Posso cozinhar alguma coisa pra gente se tiver


ingredientes. Estou cansada, não quero me arrumar para
sair.

— Temos tudo em casa, mas podemos pedir alguma


coisa. Tenho uma ideia.

A comida japonesa que ele encomendou estava


maravilhosa, mesmo esgotada por não ter dormido a noite
passada, a viagem e as rodadas de sexo intenso, não
tiraram minha ansiedade.

— Como vamos fazer amanhã, você vai trabalhar?

— Em casa, não tenho reuniões, consigo fazer tudo


daqui.

— Você tem algo muito importante para me falar,


lembra?

— Meu amor, não quero conversar nada essa noite.


Estamos excessivamente cansados.

Ele estava adiando o que tinha para me dizer o


máximo possível. O problema é que não estava mais em
estado de negação e sim ansiosa, com raiva, queria
respostas. Mesmo não sabendo o que fazer com elas, já
tinha me preparado, e agora estava pronta para ouvir seja
lá o que fosse que ele tinha para me falar.

— Quando pretende me levar embora?

Ele parou de comer, seu semblante mudo, ficou


sério. Seu olhar era intimidador, mesmo assim continuei
encarando-o desafiadoramente.

— Não pretendo. — Falou sem quase mover músculo


nenhum. Olhei em volta, aquela sala de jantar sofisticada.

— Quão rico você é?

— Muito.

— Por que nunca me disse? — Ele levantou as


sobrancelhas, aparentemente indignado.

— Maia, você sabia.

— Não, eu não sabia, eu não sei de nada.

— Sim, você sabe.

Ele não estava falando só sobre ser rico, e


realmente estava certo. Eu que demorei a analisar
corretamente os fatos, pensando que ele já me levou de
helicóptero para uma das melhores suítes do Copacabana
Palace, me deu joias caríssimas de presente. Sim, por
isso, eu deveria saber. O que na verdade eu sempre
soube, era de que existia alguma coisa de errado.

— Meu amor, não fica assim, quero uma noite


especial com você, estou faminto e isso está muito bom.

— Está realmente uma delícia essa comida.

— Sabe o que me faz falta no fato de morar em


Careaçu? Bons restaurantes, comidas diferentes.

O jantar foi realmente uma delícia e assim que


terminamos. José recebeu um telefonema.

— Meu amor, preciso responder alguns e-mails. Não


vai demorar, tudo bem?

Ele pegou o notebook e fomos juntos para a sala de


TV. Deitei em um dos sofás gigantes para ler as
mensagens no celular, ele pegou um dos meus pés e
começou a fazer massagem enquanto digitava com uma
única mão. Parei de ler o que estava na tela do meu
celular e fiquei prestando atenção naquele simples gesto.
Ele lia atentamente a tela na sua frente, sua mão
esquerda passeava lentamente pela minha perna.

Isso deveria ser um sonho realizado, José, e em


nossa casa como meu marido, um lar, uma família.
“Casado”, ele não pode ser meu marido, porque ele
é marido de outra mulher. A dor me fez recuar e encolher
as pernas. Na hora José parou o que estava fazendo.

— Está cansada, meu amor? Vamos para cama, vem


cá!

Fechou o notebook e deixou-o em cima sofá, me


pegou no colo. Agarrei-me ao seu pescoço, estava
tentando ficar calma, esperar, mas meu coração estava
acelerado, não conseguia relaxar. Falei baixo ao pé do seu
ouvido:

— José, estou ansiosa, não quero dormir, vamos


conversar.

— Meu amor, olha, amanhã vamos ficar só nós dois.


Na quarta-feira tenho uma reunião muito importante de
manhã, empregos de muitas pessoas dependem dessa
reunião. Depois pegarei Thomas e Celina na escola e
vamos vir direto para casa. Vou apresentá-los e depois
vamos jantar na casa dos meus pais. Meu irmão com a sua
família já estão aqui, só para te conhecer.

— Você só esqueceu de dizer que tudo isso depende


da conversa que teremos amanhã, ou melhor dizendo: do
que você tem para me dizer. Porque tudo que você precisa
saber sobre mim eu já te falei. Só espero que você não
tenha esquecido. — Não consegui esconder o rancor na
minha voz, o encarava com determinação.
— Maia, eu te amo!

— Você ama a Maia que eu disse que era. E eu amo


quem você me disse ser, não o amaria de nenhuma outra
forma. Amar muitas vezes não é o suficiente para duas
pessoas ficarem juntas, José. — José me apertou mais
forte e caminhou em silêncio comigo nos braços.

— Hoje somos nós dois, agora vou fazer você


relaxar, meu anjo.
Maia dormia como um anjo ao meu lado, passei mais
da metade da noite velando seu sono e passaria toda a
eternidade se me fosse permitido. Recuso-me a acreditar
que seja tarde demais para eu ser feliz.

Não, não pode ser.

O dia já havia raiado quando consegui cochilar.

Ao acordar me deparei com aquele olhar intenso e


amoroso a poucos centímetros, fiquei excitado na mesma
hora. Puxei-a com firmeza grudando nossos corpos, lhe
mostrando o quanto já estava duro, seu sorriso me excitou
ainda mais. Toda dengosa, jogou a perna por cima das
minhas, me encaixei perfeitamente na sua boceta quente.

Fizemos um amor preguiçoso, tomamos banho


demorado e café na cama, mostrei toda a casa, cada
cômodo, nossa área de lazer. E quando dizia “nossa”, era
para ela entender que aquela casa era dela. O nosso lar, o
nosso começo.

Precisei responder uns e-mails e falar com Otávio.


Foi rápido, vinte minutos depois estava me preparando
psicologicamente para encontrar Maia na sala de TV.

O tempo estava passando, não poderia mais adiar o


inevitável. Precisava resolver a minha vida. O quanto
antes!

— Meu amor? — Sentei ao seu lado no sofá, ela se


empertigou, colocou o celular de lado me dedicando toda a
sua atenção. — Não tem um jeito fácil de dizer isso, Maia.

— Diga do jeito difícil, José, mas diga.

— Maia, quero que fique morando comigo. Sei


exatamente como se sente em relação em no “amigarmos”
como você diz. — Respirei fundo enquanto ela me
encarava fixamente sem esboçar nenhuma reação.
Continuei: — Maia, não sou mais um adolescente, quero
você ao meu lado.
— E por que não pede a minha em mão casamento
para os meus pais?

Sua voz era um sussurro, ela deixou de me encarar


e olhou para as próprias pernas cruzadas em cima do
sofá. Levantei exasperado.

— Eu não posso, Maia, sou casado legalmente com


a Leila. — Sua inércia me fazendo sentir como se o ar
quisesse me estrangular, enquanto Maia se mantendo
firme, encarando-me desafiadoramente, esperando uma
explicação. Sentei-me novamente.

— Maia, eu saí de casa várias vezes, meu


casamento a cada ano mergulhando mais intensamente
nas profundezas do inferno. Mas, no último ano esteve
pior. Fui covarde em não colocar um ponto final antes,
usando a desculpa que meus filhos sofreriam, mas eles já
estavam sofrendo. Da última vez, ela prometeu que
mudaria, que melhoraria com as crianças, e mais uma vez
eu cedi e voltei para casa. — Maia me ouvia atentamente.
— Mas isso foi... — meu coração estava prestes a sair
pela boca, nunca senti tanto medo de perder alguém.

— Continua, José. Isso foi o quê?

— Isso foi antes de te conhecer. — Maia, se


levantou calmamente, parou no meio da sala e disse:
— Ou você não está sabendo se expressar, ou eu
não estou conseguindo te entender.

Realmente estava tendo dificuldades em explicar


exatamente qual era a minha situação e como eu gostaria
que ela mergulhasse de cabeça junto comigo nesta guerra.

— Maia, sei que não é isso que sonhou, mas quero


você ao meu lado. Como minha mulher. — Ela estreitou os
olhos me olhando de uma forma que nunca havia feito
antes. — Meu amor, eu já estou entrando como pedido de
divórcio, só não queria que fosse litigioso, mas não terá
outro jeito. Eu prometo que vamos nos casar, na igreja, do
jeito como você quiser, só que neste momento eu te quero
comigo. Não quero esperar, não poderia continuar
mentindo para você. — Ela continuava muda, me olhando.
— Maia...

— Você me traiu esse tempo todo. Me fez de


amante...

— Não! Não Maia, não vá por esse caminho. Saí de


casa assim que te conheci, nunca te traí meu amor.

— Não!? Quando? Diga? Quando você saiu da sua


casa?

— Maia, me ouve...

— Me responde! — gritou.
— Assim que ficamos juntos, Maia...

— Por que você fez isso comigo? — Perguntou


séria, sem drama, apenas indignada.

— Fiz o quê? — Perdi a paciência, como se tivesse


alguma razão. — Te amei desesperadamente? Eu não sei.
Você simplesmente apareceu como um anjo salvador e me
deu esperança, me tirou da escuridão, senti o que jamais
havia sentido, consegui enxergar pela primeira vez um
futuro feliz. Eu estava angustiado, desesperado, sem
saber como sair e tirar meus filhos da escuridão, que era a
minha casa, a nossa vida. Eu estava morrendo! Caralho.
Você apareceu e me deu ar. Eu não poderia dizer: “não,
agora não estou pronto, tenho pendências.” Você é a
mensagem de Deus que eu nem sabia que precisava para
fazer alguma coisa da minha vida.

— Eu não sei quem você é.

— Eu menti, Maia, menti sobre a minha real


situação, mas não sobre quem sou, nem o que sinto. O
homem que te ama está parado bem aqui na sua frente.
Só tive medo de te perder e nunca mais me encontrar.
Anjo, não estou pedindo para você esquecer os seus
sonhos, eles passaram a ser meus também. Só teremos
que adiar um pouco, mas vamos realizá-los.

— Eu te amo, José, você sabe disso, mas o que falei


ontem é verdade. Nem sempre o amor é suficiente, talvez
eu não seja capaz de perdoar e esquecer.

— Maia, nosso amor é real, é verdadeiro e sim, é


suficiente. Eu farei você esquecer, me perdoar. Você
consegue se imaginar sem mim? Eu não consigo pensar
em dormir em outra cama, chegar e você não estar lá...
dormir no quarto ao lado ao seu é longe demais, como
posso me imaginar sem você?

Nossos rostos estavam a milímetros de distância,


abracei-a forte e assim ficamos, ela não falava, não se
mexia, apenas respirava. Eu acreditava no amor que ela
sentia por mim. Maia estava em uma guerra interna.
Estava magoada, se sentindo traída, brava, mas ela sabia
que o que eu dizia era verdade.

De repente, colocou de supetão as mãos no meu


peito me afastando rápido.

— Meu Deus, José, e meus pais? — Sua voz era de


desespero e medo. Mesmo que eu aceitasse essa loucura,
meus pais nunca iriam te perdoar, eles nem imaginam uma
coisa dessa... Eles acreditaram em você, confiaram, você
os traiu.

— Meu amor, não precisamos contar toda a verdade,


digo que nunca pensei que fosse querer me casar
novamente, ter outros filhos, por isso nunca me separei
legalmente. Não sei Maia, posso dizer qualquer coisa, só
devo a verdade sobre a minha vida a você.
— A única pessoa que você deve a verdade é a sua
mulher, a sua esposa! — Seu tom de voz foi se elevando.

— Você é minha mulher, você!

Ela virou as costas, me deixando desesperado na


sala.

— Maia, por favor... — Parou na porta do quarto ao


meu apelo, virou-se e, com lágrimas nos olhos, pediu:

— Me deixa ficar sozinha, por favor?

Minha vontade era de dizer não, que “eu” precisava


dela.

— Me perdoa? Juro que vou consertar tudo. — Maia


entrou e fechou a porta, me encostei na madeira e fiz um
pedido para Deus. — Não a tire de mim, eu imploro.

Caminhei para o escritório desnorteado, peguei o


celular e liguei para a Carla, ela mal disso “alô” e já fui
logo desabando...

— O que eu posso dizer, o que eu posso fazer, para


ela me perdoar, para ela entender?

— Onde ela está?

— No quarto, pediu para ficar sozinha.


— Respeita o espaço dela, mesmo porque, você não
quer que ela seja a dona desta casa? Ela precisa se sentir
assim. Não diga nada por enquanto, deixe-a pensar. Ela
vai te perdoar, mas não vai esquecer assim. É uma ferida,
José, que precisa ser limpa diariamente, medicada várias
vezes ao dia, e não pode ser cutucada, para só então
cicatrizar ao ponto de não ser lembrada.

— Eu sei, Carla! Mas para isso ela precisa ficar


comigo.

— Oh, meu amigo, tenta ficar calmo, tenho fé que


tudo dará certo.

— Carla, não posso acreditar que Deus faria essa


perversidade comigo. Eu não tinha noção do que era me
apaixonar, amar. Não me fazia falta, Ele não pode ter me
mostrado como é ser feliz e arrancar em seguida a minha
felicidade. Caralho!

— Calma, essa ansiedade e nervosismo não te


ajudará. Você precisa estar bem para ela. Maia vai
precisar de cuidados, você precisa estar preparado para
ampará-la quando ela vier a você.

— Vou trabalhar um pouco, pelo menos tentar.

— Qualquer coisa me ligue.


Havia exatamente duas horas que Maia estava no
quarto, e eu não tinha conseguido fazer absolutamente
nada. Não conseguia ficar mais tempo ali, enjaulado.
Caminhei até nosso quarto e bati na porta.

— Maia? Posso entrar? — não demorou a responder.

— Sim.

Ela estava parada olhando para a janela, seus


cabelos soltos, meio molhados de um banho recente. Parei
olhando para suas roupas, e não sei o que pensei, uma
calça jeans, uma blusa linda e os pés no chão.

— Vamos almoçar?

— Não.

Ela olhou com tristeza para mim, caminhou até a


cama e se sentou.

— Senta aqui.

Eu não queria ouvir o que ela estava prestes a dizer,


mesmo assim, sentei-me a sua frente.

— Não vou ficar morando com você...

— Maia...
— José, me escuta, tá bom? Vou tentar falar apenas
uma vez, se não me ouvir, não falo mais.

Fiquei sem reação, com um imenso aperto no peito e


um medo como nunca senti antes, ela continuou...

— Eu te amo, muito, sei que sabe disso, por isso me


trouxe para cá, para me dizer a verdade, sabendo que
aqui eu não teria para onde correr, que eu teria que
enfrentar de frente o problema, você contou como meu
amor, minha vontade de ter a minha família, minha. E você
não fez errado. Esse, com certeza, é o melhor cenário.

— Eu precisava te mostrar que não era mentira, te


apresentar meus pais, meus filhos.

— E eu queria muito conhecê-los e ainda quero, mas


não vou vir morar com você. Eu não quero que seja assim.
Nós vamos continuar namorando, fugindo para transar nos
domingos à tarde, no caminho para qualquer lugar
enquanto você dirige, e quando você assinar o divórcio,
nós nos casaremos. Quero dar essa alegria para os meus
pais, e principalmente para mim mesma. É o máximo que
eu posso fazer neste momento, estou muito magoada,
você não deveria ter mentido para mim.

— Eu não me arrependo e faria a mesma coisa, você


nunca me aceitaria, e não conseguia imaginar a
possibilidade de ficar sem você. Não posso me imaginar
dias longe...
— Também te quero todos os dias, mas não quero
ferir minha família, atropelar meus sonhos, não vou falar
para os meus pais, eles não iriam te perdoar. Mas você
não precisa aceitar.

— Maia, eu aceito qualquer migalha, qualquer coisa


para não te perder. Mas estou iniciando uma guerra com a
Leila, sei que terei que passar a maior parte do tempo
aqui, quero a guarda dos meus filhos, preciso mostrar que
posso cuidar deles diariamente. Maia, quase não vamos
nos ver, não vou ter paz com você a centenas de
quilômetros de mim! — Tentei puxá-la para meu colo.

— José, não! Não aja como se nada tivesse


acontecido.

Ouvimos batidas na porta, o som da campainha.


Maia me olhou.

— Quem é José? Não quero conhecer ninguém


agora.

— Não sei, não estou esperando ninguém. Não


pediram autorização para entrar no condomínio, só o
Thomas, meus pais e a Carla têm acesso liberado. — Não
paravam de bater. — Vou ver quem é.

Quando cheguei na sala estavam: Leila, Thomas,


Celina, seu Edgar, dona Ada e Juliana. Fodeu!
— Cadê a minha filha, seu filho da puta, mentiroso?
Seu Edgar vinha para cima de mim como uma fera
quando Celina gritou:

— Papai! — E correu para os meus braços. Abracei


minha pequena com tanta força lamentando pelo que ela
presenciaria naquele momento.

— Thomas, leva sua irmã para o parquinho, filho, por


favor? — Ela grudou no meu pescoço.

— Não vou, papai, quero ficar aqui com você.


— Não vou sair daqui pai.

— Meu amor, então você espera o papai lá no seu


quarto que preciso ter uma conversa de adulto. — Ela saiu
contrariada, mas foi.

— Desgraçado! — Seu Edgar veio para cima de mim,


mas dona Ada e Juliana entraram no meio, a ordinária
estava triunfante olhado aquela cena, Thomas estava
assustado.

— Calma, por favor, seu Edgar. O senhor tem que


me ouvir. — Olhei para Leila: — O que está fazendo na
minha casa? Porque você trouxe meus filhos para uma
situação destas, é isso que quer que eles vejam, é por
isso que quer que eles passem? Thomas, vá para o quarto
com a sua irmã.

— Pai...

— Agora, Thomas!

— Ele vai ficar comigo.

— Ele vai para o quarto agora e você vai se


arrepender amargamente por fazer os meus filhos
passarem por isso! — Minha vontade era matar essa
desgraçada.
Thomas estava saindo da sala quando Maia entrou.
Os dois pararam um de frente para o outro.

— Vá, Thomas! — gritei.

— Filha, você está bem? Pega suas coisas, vamos


embora. — Dona Ada caminhou rápido até ela assim que
Thomas sumiu de vista.

— Vocês precisam me ouvir. E você, saia da minha


casa! — apontei para Leila. Os seguranças estavam por
toda parte.

— Não adiantar mais fazer esse joguinho, José,


todos já sabem a verdade, você enganou essa pobre
menina, uma família toda, pensa que não sabia que estava
me traindo, você sempre fez isso, nunca respeito a mim e
aos seus filhos. Mas você é meu marido, não pode me
deixar só porque estou doente, quando mais preciso de
você. Temos uma casa, uma família, uma vida, José, você
não pode nos abandonar.

— Chega! — A desgraçada começou a chorar se


fazendo de vítima. Eu só queria matá-la. Meu ódio era
tanto, vendo aquela cena desprezível, seu Edgar
esbravejava com Maia, dona Ada pedindo para ela ir pegar
suas coisas, e a desgraçada chorando. Ela queria que eu
perdesse o controle e estava conseguindo. Olhei para
Maia que me encarava fixamente aterrorizada, precisava
tentar me controlar, focar no que era importante.
— Dona Ada, por favor, me escuta.

Levei um murro no rosto do seu Edgar, que estava


com sangue nos olhos.

— Não fala com a minha mulher, filho da puta. — Os


seguranças se manifestaram, dei sinal para não saírem do
lugar.

— Me ouça senhor, por favor, eu não sei o que ela


falou, mas é mentira.

— O que seus filhos disseram também é mentira?

— Não sei o que eles disseram, mas posso tentar


entender, ela sempre manipulou as crianças.

— Quero você e toda a sua merda longe da minha


filha. Não acredito que te considerei como um filho.

— Seu Edgar... — A sala foi tomada pelos meus


pais, meu irmão e minha cunhada.

— Filho, cadê as crianças? — Meu pai perguntou.

— Estão no quarto.

— Você foi buscá-los em casa para presenciar essa


cena de horror?
— Eu fui buscá-los, porque eles são meus filhos! —
Leila foi desaforada com a minha mãe.

— E lembrou disso só agora, depois de deixá-los por


meses? Lembrou que tem filhos?

Edgar estava impaciente esbravejando com a Maia.

— Eu estou doente, minha mãe está doente e meu


marido quase não vai para casa, vivendo como se fosse
solteiro, enganando todo mundo.

Eu vou matar essa desgraçada que chorava como


uma vítima.

— Maia, é mentira, você sabe que é mentira. Meu


amor. — Seu Edgar veio para cima de mim novamente,
mas consegui desviar desta vez.

Ricardo me deu um sinal, mas não dei atenção, em


seguida Juliana disse alto que Danilo e Marcos estavam
na porta do condomínio. Com certeza, era isso que
Ricardo estava tentando avisar. Dei sinal para ele liberar a
entrada deles. Agora sim, a merda estava completa.

Olhava para aquela vagabunda sem acreditar que


depois de tudo que aprontou ainda tinha coragem de fazer
uma cena desta. Uma desqualificada, baixa... Como fiquei
casado com uma rampeira da pior qualidade?
— Maia, meu amor...

— Maia, não é seu amor, minha filha não é nada de


um covarde, traidor, nem homem você é.

Danilo e Marcos entraram no meio daquela


confusão, eles iriam me ouvir, me ajudar a acalmar o pai
deles. Marcos parou no meio da sala, mas Danilo veio
para cima de mim.

— Filho da puta! — Foram dois socos tão bem dado


que o sangue vou do meu nariz.

— Nãoooo! Não! Para Danilo, não! — Maia gritou.

Meu irmão, meu pai, o pai dela, meus seguranças,


todos entraram no meio. Mas só senti a minha Maia
agarrada a mim, me abraçando para me defender.

Minha mãe estava desesperada, pedindo calma.

— Pelo amor de Deus, não façam isso com meu


filho, ela já sofreu demais. — O choro da minha mãe fez
todos parem. Celina entrou correndo, me chamando e
chorando na sala. Se agarrou nas minhas penas e mesmo
não querendo que ela me visse naquele estado, peguei-a
no colo, deitei a cabeça dela no meu ombro e tentei
acalmá-la. Quando procurei Maia ela já estava ao lado de
sua família. Thomas ao meu lado olhava incrédulo para o
meu rosto.
O silêncio se fez por poucos segundos.

— Como você, uma vagabunda, que teve um caso


com o primo a vida toda, tem coragem de fazer uma coisa
dessas? — Minha cunhada berrou, tentando avançar na
Leila, que por um segundo travou, mas como uma bela
vagabunda mentirosa que era, se recuperou rápido.

— Você me respeita, sua louca, mentirosa!

Olhei para minha cunhada e para o Thomas, não


queria que eles ficassem sabendo desta forma, nem de
forma nenhuma, sobre o caso da mãe.

— Ele já sabe, José, ele viu.

Minha cunhada gritou se referindo ao Thomas. Olhei


para o Thomas, que abaixou a cabeça, então era isso. Foi
no dia do aniversário do filho da puta. Não deixei Celina
levantar o rosto do meu ombro, suas mãos agarravam meu
pescoço. E pela primeira vez na minha vida, senti raiva do
meu filho, minha mãe pegou-a dos meus braços, virei de
frente para ele, o encarei sem acreditar que mesmo
sabendo da traição da mãe, foi capaz de dizer algo contra
mim para os pais da Maia.

— O que você falou para os pais da Maia? —


Perguntei com ódio.
— Pai, me desculpa? Eu não quero que a mamãe
tente se matar de novo.

Eu deveria matá-la. Eu vou acabar com essa peste,


ah, eu vou!

— Saia da minha casa! Agora!

— Eu vou, mas vou levar meus filhos.

Celina correu para os meus braços novamente,


gritando desesperada que não queria ir.

— Papai, não, quero ficar aqui, quero ficar com


você.

Peguei minha filha no colo mais uma vez, olhei para


a casa que sonhei em ter os melhores momentos com
Maia e meus filhos, vendo raiva, ódio, decepção,
estampado nos rostos das pessoas que eu mais amava,
pessoas que aprendi a gostar e respeitar, olhei para Maia
que estava totalmente perdida, o sofrimento dela com
certeza só não era maior do que o meu, ela nunca
mereceu passar por nada disso, nem ela, nem meus filhos.
Ela me amava, eu sei, mas respeitava, amava e o
principal, confiava em sua família.

Estava tudo perdido para mim, só me restava minha


filha e, por ela, eu teria o mínimo de dignidade. Segurei
firme minha filha no colo e esperei, para ver a única
mulher que amei na minha vida ir embora.

— Maia, vamos embora.

— O senhor poderia escutar o que meu filho tem a


dizer. — Minha mãe falou olhando para Maia, que estava
despedaçada, era impossível saber o que se passava pela
cabeça dela.

— Não quero saber o que ele vai dizer, quero minha


filha longe dessa baderna, dessa zona, disso aqui, não
importa quem está certo ou errado.

— Mais respeito com a minha família. Estamos


passando por um momento ruim, mas isso não te dá o
direito de nos desrespeitar. — Ouvi a voz do meu pai
defendendo sua família, que se não fosse por mim, não
precisaria passar por esse tipo de vergonha. Mas meu
olhar não saía dos olhos da Maia.

Minha cunhada tentou tirar a Celina do meu colo,


mas ela não soltava meu pescoço.

— Não vou falar de novo! — Seu Edgar gritou. —


Vamos filha, deixa suas coisas aí, depois mandamos
pegar.

— Pai, mãe, por favor... — Maia se virou de costas


para mim, de frente para o pai que estava indo em direção
a porta.

— Nada de por favor, Maia! Você não vai ficar nesta


casa, você tem família, vamos embora.

— Filha, essa guerra não é sua, meu amor, você é


nova demais para tudo isso.

— Vamos, Maia! — Marcos abriu a boca pela


primeira vez, eu acho.

Mas Maia não se moveu.

Seu Edgar parou na porta e a encarou. Maia olhou


para mim, com o rosto banhado em lágrimas.

— Eu te amo. — Falei alto e em bom tom. Não sei se


irei suportar vê-la partir. Abracei Celina no meu colo e
abaixei a cabeça. Senti a mão do Thomas no meu braço,
ficando ao meu lado.

— Maia, ou você vem agora, ou esquece que tem um


pai.

— Maia, vamos embora. — Dona Ada, esbravejou.


Se engana quem pensa que ela era boazinha.

— Desculpa me intrometer mais uma vez, mas


vamos conversar? — Minha mãe pediu
— Me desculpa, não quero desrespeitar a sua
família, mais Maia é só uma menina para se envolver em
uma relação como essa, não quero que ela passe por isso,
se for verdade o que essa mulher falou, José é um
monstro, e se não for, não sei do que ela seria capaz de
fazer contra a minha filha para conseguir o que quer.
Maia, sempre foi protegida e amada, foi criada em uma
família de respeito, de valores, não está acostumada nem
preparada para isso.

As lágrimas da Maia estavam me tirando o chão.

— Eu não estou mentindo, José é meu marido.

— Tira ela daqui. — Ordenei com ódio, para Ricardo.

— Não precisa, mesmo essa casa sendo por direito


minha, eu vou embora. Vamos filho?

Thomas deu um passo para trás.

— Eu não vou. — Foi rude.

— Pelo amor de Deus, meu filho, você não pode me


abandonar também, eu só tenho você.

Todos olharam para Thomas, depois para a Celina e


de volta para desgraçada.

— E a Celina? — Ele rosnou para ela. — Ela também


é sua filha e eu não vou. Vou ficar com meu pai.
Assim que terminou de falar olhou para mim
desconfiado. Meneei a cabeça e o abracei pelos ombros,
puxando-o para perto de mim. Ver Maia ir embora, seria a
morte. Mas eu sobreviveria, pelos meus filhos, só por eles.
Maia me olhou nos olhos, deu um passo para trás
em nossa direção, virou-se e caminhou para nós. Passou
a mão nas costas da Celina e abraçou a minha cintura.

— Mãe, eu não vou, podemos conversar? Por favor,


se vocês não querem escutar o José, me escutem.

— Maia, o que você está nos dizendo, Maia? Olha a


sua volta, filha, ficou louca? Você não terá paz, é isso que
quer para você? Eu não sou capaz de te ver em uma vida
dessas.
— Mãe, a senhora não pode me dar às costas.

— Maia, você acha que aguenta uma vida desta por


quanto tempo? Quando cair na real estará destruída, em
ruínas, e aí não pense que vai poder voltar para casa com
o rabo no meio das pernas, porque não vai! Se ficar, não
tem mais mãe. A escolha é sua. — Dona Ada, saiu
chorando e xingando. — Pode esquecer que tem família,
Maia!

Coloquei a Celina no chão e puxei meu anjo para


meus braços, Maia se fechou em meu peito e chorou, suas
mãos agarravam minha camisa com força e desespero.

Eu sabia que ela estava sofrendo, despedaçada


pelos pais que até então, só deram amor e segurança,
para neste momento lhe dar as costas. Mas eu os
entendia, se eu não fosse tão egoísta e dependente desta
mulher, não a deixaria ficar, ela realmente não merece
isso.

— Maia?Vamos, não brinque assim com a sua vida.

Ela se virou para Marcos que estava ao lado do


Danilo, era nítido que também estavam sofrendo por vê-la
daquela forma.

— Marcos, Danilo, por favor, não vão... me deixa


falar com vocês.
Nenhum dos dois parecia estar mais com raiva.
Danilo virou as costas e saiu tão rápido quanto entrou.
Olhei minha mãe com Celina no colo e vi suas lágrimas
escorrem assim como as da minha cunhada. Todos
naquela sala estavam segurando a respiração, até os
seguranças estavam tentando manter-se imparciais, mas
era impossível ver Maia forte como uma guerreira e ao
mesmo tempo frágil e sofrendo tanto sem esboçar
nenhuma emoção.

Marcos me encarou sério, preocupado, tenho certeza


de que eles jamais imaginaram que deixariam a caçulinha
da família ali. Meu anjo era uma verdadeira leoa.

— Eu vou cuidar dela — falei o encarando com


respeito. Marcos virou as costas e saiu.

Maia olhava a porta inerte. Minha mãe veio até nós,


tirou-a dos meus braços e sentou-a no sofá.

— Meu anjo, eles vão voltar atrás, eles só estão


nervosos e assustados. Você não estará sozinha por nem
sequer um segundo.

Minha cunhada agachou-se a sua frente.

— Eu quero que minha filha seja igual a você. Nunca


senti tanto orgulho de uma mulher na minha vida. Somos
sua família, você não ficará sozinha. — Pegando uma das
mãos de Maia na sua, continuou sorrindo — E vamos fazer
o possível para seus pais e irmãos enxergarem que não
somos tão ruins quanto pareceu.

Minha mãe olhou rápido para ela.

— Vamos ser honestos, parecíamos uma família de


loucos e briguentos, jogando merda no ventilador. Os pais
delas têm razão de ficarem horrorizados, a primeira
impressão que causamos foi digna de filme de terror.

Minha cunhada piscou para nós, eu abaixei e dei um


beijo em sua cabeça. Nunca poderia agradecer o
suficiente. Ela estava tentando fazer parecer que era
normal os pais agirem daquela forma, para Maia ter um
pouco de esperanças que tudo ficaria bem.

Eu faria qualquer coisa para que isso acontecesse,


mas com certeza não seria de um dia para o outro.

— Maia, eu sou a Helena, a mãe do José. Sei que


não foi como desejamos, mas é um prazer te conhecer.
Vamos deixar vocês conversarem agora.

Maia secou o rosto molhado de lágrimas com as


mãos e ergueu a cabeça.

— Não, não precisam ir. — Olhou para a Celina que


estava grudada nas minhas pernas e sorriu.

— Oi...
Celina não respondeu, peguei-a no colo e falei:

— Fale “oi” para Maia, meu amor. Vocês serão


grandes amigas!

— Oi. Papai, eu tô com fome. — Olhei no relógio e


depois para o Thomas.

— Vocês não almoçaram?

— Não.

Eram três horas da tarde.

— Posso fazer um lanche para você, quer? — Maia


perguntou para ela.

— Eu quero.

— Acho uma ótima ideia, também quero um —


completei.

— Ótima ideia, também quero um. — Thomas


acrescentou.

— Vocês podem me ajudar? — Maia perguntou para


a minha mãe e para a minha cunhada.

— Claro, vamos lá. Não conheço nada por aqui, vim


umas duas vezes apenas.

— Eu estou conhecendo a casa agora.


Minha mãe e minha cunhada comentaram enquanto
caminhavam com a Maia, para a cozinha. Olhei para
Celina no meu colo.

— Meu amor, você consegue tirar o uniforme da


escola, colocar uma roupa e lavar as mãos, sozinha? —
Ela sorriu e balançou a cabeça freneticamente que sim. —
Então, vai lá. — Thomas já tinha ido para o quarto.

— Maia não queria ficar. — Meu pai me olhou sem


entender. — Havia conversado com ela essa manhã,
contei toda a verdade, pedi para ela ficar morando comigo,
disse que não tinha mais a intenção de vê-la e ir embora.
Ela não aceitou. Disse que me perdoava por eu ter
mentido, mas que não se amigaria, pois não era a sua
vontade e não queria dar esse desgosto para sua família.
Disse que não contaria a verdade para eles porque eles
não me perdoariam, que continuaríamos namorando e que
só moraria comigo quando nos casássemos de verdade.
Não quero que ela sofra, tenho medo de ela não suportar
e desistir.

— Filho, ela te ama, e é muito mais forte do que


você imagina, qualquer garota na idade dela e da forma
que foi criada teria ido embora com a família, ela fez uma
escolha, em nenhum momento titubeou.

— José, achei que no menor problema que Leila


causasse, ela desistiria, me surpreendi. — Meu irmão
falou.

— Desde quando vocês sabem da Leila com o


primo? Desde quando Thomas sabe?

— Foi no dia do aniversário do pilantra. — Meu pai


falou.

Olhei para o meu irmão esperando uma resposta


para entender por que ninguém teve a pachorra de me
falar.

— Eu soube no caminho para cá, depois que Thomas


mandou mensagem para o pai contando o que estava
acontecendo, que as pais da Maia estavam lá na sua
casa...

— Minha casa é aqui!

— Ok, então, no caminho para cá, Betina falou que


ela tinha um caso com Antônio desde que Celina era
pequena, e o pai disse que ainda tinha. Que Thomas tinha
visto os dois...

Gelei ao ouvir “desde que minha filha era pequena”,


senti ânsia de vômito e um frio percorrer minha espinha.
Eles perceberam.

— Calma, José, Celina é sua filha, cara, não pira.


Espera aí, você também já sabia. Como? Desde quando?
— Meu irmão perguntou intrigado.

— Tem um mês que coloquei um detetive atrás dela,


preciso de toda munição que possível para conseguir a
guarda dos meus filhos, consegui coisas suficientes. Mas
não iria expô-la. — Meu irmão me olhou com raiva — Não
é porque sou bonzinho, só iria usar como moeda de troca.
E como ela é uma vagabunda que só pensa na imagem, as
chances de um acordo “amigável” era bem provável. —
Olhei para o meu pai. — Por que Thomas não veio
conversar comigo?

— Filho, Thomas confiou em mim, e pediu para que


eu deixasse que ele falaria com você.

— É... só que ele não falou.

Thomas entrou na sala.

— Pai, me desculpa — falou com a cabeça baixa.

— Levanta a cabeça. Me olha nos olhos e me


explica.

— Eu ia te contar, mas...

— Conta agora.

— Quando chegamos lá, de manhã, o Antônio estava


lá, todo mundo estava conversando, eu estava com muita
raiva por que... porque eu queria muito ter ido para a
fazenda. Minha mãe disse para eu não ficar de cara feia
porque seria muito chato mostrar para o Antônio que eu
não queria participar do aniversário dele.

Enquanto ele falava, eu sentia tudo ferver dentro de


mim, ódio puro.

— Aí, eu dei os parabéns e disse que ia na pista de


skate, mas estava com tanto ódio que não queria ver
ninguém, daí fui para o quarto de hóspedes porque
ninguém entra lá. Só que ouvi um barulho e me escondi
atrás da cômoda. Os dois entraram, primeiro ele e depois
minha mãe, não vi nada, só ouvi ela dizer que o amava, e
disse “isso é pra você”.

Já sabia o que era, mas deixei que ele falasse.

— Era um presente. Ele agradeceu, e os dois


ficaram mudos, esperei um pouco e espiei, eles estavam
abraçados, mas ele segurava uma chave de carro na mão.
Ele disse para ela não falar para ninguém que foi ela que
deu para ele. Se ela falasse mandaria devolver lá em
casa. Ele foi muito mal-educado até. Ela disse que os
meus avós já sabiam e a tia médica também. Ele disse
que ela sempre fazia isso e que era para aparecer, aí ela
disse que precisou da tia para ir comprar o carro, porque
se tivesse algum problema diria que só tinha emprestado o
dinheiro.

— E por que não me disse isso antes?


— Eu fiquei com muita raiva dela e disse o que tinha
visto, ela jurou que eu não tinha entendido direito, que ela
o amava como seu melhor amigo, como se fosse um
irmão, que sabia que ele estava precisando.

— Quem não precisa de uma SUV de duzentos mil


reais?

Olhei sério para o meu irmão. Ele ergueu as mãos e


pediu desculpas, não era hora para piadas.

— Ela jurou que não era nada do que eu estava


falando. Eu fiquei confuso e depois minha avó ficou doente
e aí ela tentou se matar... Eu não quero que a minha mãe
morra por minha causa.

Estava difícil controlar minha ira. Respirei fundo.

— E o que você falou para os pais da Maia?

— Quase nada, o pai dela não deixou. Eu não menti,


eu juro, eu não sabia quem eles eram, minha mãe mandou
eu falar quando você tinha saído de casa, exatamente. E
que você já havia feito isso antes, mas sempre voltava,
que não era a primeira vez, e pediu para eu confirmar, eu
não disse nada. Aí, o pai dela não deixou que eu falasse
mais nada.

— Thomas, você já tem quatorze anos, já deveria


estar comendo boceta, não se envolvendo em conflitos
dos seus pais, você não pode se envolver nesta PORRA!
— Celina escolheu bem essa hora para voltar para sala e
em seguida as mulheres. Maia me olhava assustada pelo
meu rompante.

— Celina e Thomas, vão lanchar, Maia preparou um


lanche maravilhoso para vocês. — Minha mãe disse e
levou os dois, só então tive a oportunidade de apresentar
Maia para o meu pai e meu irmão.

— Seja bem-vinda à nossa família, Maia. Estaremos


aqui se precisar de qualquer coisa. E com fé em Deus,
logo, logo as coisas vão entrar nos eixos.

— Obrigada, seu Estevão.

— Maia, nós moramos um pouco longe, mas


estaremos sempre à disposição. E estamos muito felizes
que tenha ficado.

Maia sorriu e agradeceu meu irmão, mas a única


coisa que ela não estava era feliz.
— Temos que ir, vocês precisam conversar e
descansar, esperaremos vocês em casa.

— Pai, eu posso ir com a minha avó?

Eu queria muito ter uma conversar bem sério com


Thomas, mas estava tão nervoso que achei melhor adiar.

— Vamos até o meu escritório, Thomas. — Assim


que fechei a porta despejei: — Presta bem atenção no que
vou te dizer: Você vai tomar postura de homem, o que
acontece na minha vida, na vida da sua mãe ou na da puta
que pariu não é da porra da sua conta, entendeu? Quando
você tiver um problema, resolva como homem. Ou você
acha que ter um pau no meio das pernas te faz um?
Quando a sua mãe te chamar para encher a sua cabeça,
tome uma atitude, não entre no jogo dela. Você é meu
filho, caralho! Você vai para a casa dos seus avós hoje,
porque seus primos estão lá. Mas chega de fugir.

— Tudo bem, pai.

— Levanta essa cabeça, Thomas! Meu filho? — Ele


me olhou como sempre, melancólico. — Vamos ficar bem.

— E a minha mãe?

— Ela também ficará bem, quantos amigos você tem


com pais divorciados?

— Muitos. Mas...

— Não tem mas, nós vamos ficar bem, todos vamos.

Depois que eles saíram, Maia olhou para Celina com


carinho e perguntou:

— Vamos tomar um banho?

Ela havia derramado vitamina no vestido de princesa


quando estava lanchando.
— Verdade, essa Cinderela está toda sujinha. — As
duas me olharam rindo.

— Não é Cinderela, pai... é Branca de Neve, eu te


falei aquele dia quando fomos comprar.

— Verdade, minha princesa, eu cometi um erro


imperdoável. — Celina olhava para mim, depois para Maia
toda intrigada, preciso conversar com ela e explicar tudo.

— Você quer que o seu pai te dê banho?

— Pode ser você. Ela pode pai? — Perguntou


realmente preocupada. Dei risada, porque ela é minha
vida, eu amo tanto esse serzinho, que dói.

— Claro que pode, meu amor, tudo que você quiser.


— Ela arregalou os olhos com carinha de feliz.

— Eu quero sorvete com chocolate, então.

Maia caiu na risada, a primeira vez que ela


realmente riu hoje.

— Ah, então eu também quero. — Falou ainda rindo.


— E eu vi um pote de sorvete no freezer. Só não sei se
tem chocolate.

— Tem, pai?
As duas confabulavam como se estivessem
arquitetando um plano. E eu soube naquele momento o
que realmente era felicidade. Nunca senti o que estou
sentindo agora, meu peito parece não caber no peito.

— Hum... acho que esse silêncio significa não.

Voltei a prestar atenção nas duas que estavam me


olhando com as sobrancelhas levantadas.

— Tem que ter, vamos procurar! — Celina correu


para a cozinha na nossa frente. Maia sorriu e foi atrás.

— Tem um monte! Um monte, pai, eu quero comer


todos!

— Tenho uma ideia, que tal cada um de nós


escolhermos um, e depois trocarmos?

— Enchemos nossas taças de sorvete, escolhemos


nossos chocolates, eu nem acreditava que comeria todo
aquele doce. Mas faria qualquer coisa para ver Celina e
Maia interagindo tão bem.

Coloquei Celina sentadinha no balcão, Maia e eu


pegamos o banco e nos sentamos na sua frente. Maia
olhava para sua taça, pensativa.

— Você tá triste por que a sua mãe também não


gosta de você?
Maia olhou para ela, espantada.

— Não estou triste, não meu amor.

— Tá sim, a sua mãe foi embora e não te levou, a


minha também não me levou.

Eu ia falar, mas a Maia não deixou.

— Eu estou um pouco triste, porque ela ficou brava


comigo, mas é normal as mães ficarem bravas. Depois
passa.

— Pai, eu nunca mais vou ir na minha casa?

— Você pode ir lá quando quiser. Lembra que o


papai, falou...

— Pai, eu não quero ter duas casas.

Maia parou, olhando espantada para Celina. —


Princesa, não precisa se preocupar com isso, o papai
promete que sempre vamos conversar e a sua vontade
será respeitada.

— Papai, ela também vai morar aqui com a gente?


Ela é minha madrasta?

— Sim, meu amor. Maia é minha mulher e aqui é a


casa dela também.
Ela ficou toda cabisbaixa.

— Celina, você acha que está tudo bem eu ficar


morando aqui? Porque você teria que me ajudar, sabe? Eu
não conheço ninguém... Eu tenho medo de ninguém gostar
de mim, tenho medo de ficar sozinha quando o seu papai
tiver que ir viajar, acho que se você não gostar de mim eu
vou sofrer.

— Eu vou gostar de você. — Celina respondeu


rápido. — Vou te ajudar. E você pode brincar com as
minhas amigas e comigo. — Ela parou e ficou pensando.
— Mas só no parque, as meninas fazem muita bagunça!

Senti meu rosto queimar de raiva. Isso era a típica


fala da mãe.

— Mas é legal fazer bagunça, depois você pode me


ajudar arrumar tudo. Você pode convidar suas amigas para
virem tomar chá da tarde com a gente, nós poderemos até
fazer cupcakes.

Os olhos da Celina brilhavam como duas bolas de


gude e o sorriso mais bobo estampando o rosto.

— Agora que terminamos o sorvete, a Branca de


Neve precisa ainda mais de um banho. Enquanto te dou
banho, o papai lava a louça e arruma a bagunça. Vamos?
Maia estendeu os braços e Celina se jogou em seu
colo. A emoção tomou conta de mim e por um segundo
achei que fosse chorar. Fiquei olhando as duas
desaparecerem no corredor e nem sei quanto tempo fiquei
parado ali agradecendo a Deus.

Terminei de arrumar a bagunça e fui para o escritório


responder alguns e-mails, deixar algumas coisas prontas
para a reunião do dia seguinte.

Maia apareceu na porta, parei o que estava fazendo


fui até ela, a envolvi nos meus braços tentando consolá-la,
mesmo sabendo que só o tempo a faria se sentir melhor.

— Deixei Celina assistindo desenho na sala, tem


algum problema ela ficar um pouco sozinha?

— Não, ela costuma ser obediente, só vou fechar as


janelas.

— Já fechei. Ela quer macarrão, e eu também. —


Maia me olhou triste. — Tentei ligar para a minha mãe. Ela
não atendeu.

Puxei-a de volta para os meus braços, beijei sua


cabeça. — Eles vão voltar atrás, Maia, só foram pegos de
surpresa, nem sabemos o que aquela desgraçada falou
para eles.
— Não quero pensar nisso agora, nem sei por que
liguei, vou ir preparar uma macarronada. Você olha a
Celina.

— Sim, senhora. — Dei um beijo de leve em seus


lábios.

Fui ao encontro da minha pequena na sala, que


estava assistindo quietinha, um desenho de princesa.
Sentei-me perto dela e puxei-a para deitar a cabeça em
minha perna.

— Quero te pedir uma coisa muito importante. — Ela


desviou totalmente a atenção da TV e me olhou. — É
sobre a Maia. Amanhã você pode não ir à aula e ficar aqui
com ela, cuidando para ela não ficar sozinha enquanto o
papai trabalha? Só amanhã? Porque é o primeiro dia dela
aqui com a gente e o papai tem uma reunião muito
importante, não posso ficar e fazer companhia à ela.

— Eu vou cuidar dela direitinho, papai. Ela é muito


linda, né? Papai, ela parece uma princesa! Ela sabe
dançar ballet e vai me ensinar, sabia?

— Sério? Que legal, princesa! Maia tinha um monte


de alunas da sua idade, você sabia?

— Ela me falou, e me falou também que nenhuma


era tão bonita igual eu.
— Isso é muito verdade! Vem, vamos ajudá-la a
fazer o jantar. — Peguei Celina no colo e fomos para
cozinha.

Depois do jantar, fomos todos para a sala ver TV,


Celina estava com muito sono e dormiu logo, Maia me
ajudou a colocá-la na cama. Quando entramos no nosso
quarto a peguei pelas mãos e a levei para o sofá, me
sentei junto com ela.

— Maia, sei que não é como você queria que fosse,


mas eu vou viver todos os dias da minha vida para que
nunca se arrependa de ter ficado comigo, eu prometo.

— Nunca me imaginei em uma situação desta, José.


Estou com medo, com raiva, se você tivesse dito a
verdade as coisas poderiam ter sido de outra forma.

— Meu amor, você tem todo o direito de ficar com


raiva, mas de qualquer forma ela teria feito algo, e talvez
eu não teria tido tempo de ter você. Sempre soube que
ela seria capaz de fazer qualquer coisa para nos separar.

— Mas, se ela não te ama, se até tem outro, por que


faz tanta questão de ficar com você?

— Status, aparência, dinheiro principalmente. Já


havia entrado com os papéis do divórcio, foi quando ela
simulou suicídio, numa outra vez ela fez uma ameaça não
explicita a você. Foi quando decidi arrumar provas contra
ela que pudessem me dar um poder de barganha. Logo em
seguida descobri o caso dela com o primo, aparentemente,
há uns cinco anos. Ela sustenta o filho da puta.

— Ela trabalha com o quê? —Ri de frustração, é


foda saber que fiz papel de idiota por tanto tempo, bancar
amante de puta tem que ser muito corno mesmo.

— Ela não trabalha, nunca trabalhou na vida, e


adivinha só, o apartamento onde ele mora quem comprou
foi ela.

— Como você descobriu?

— Dinheiro deixa rastro, Maia. E tenho imagens dela


com ele, entrando e saindo de hotéis, no apartamento
dele, entre outras coisas, o que faz com que eu tenha uma
vantagem sobre a guarda das crianças.

— José, você é tão rico para ela fazer tanta questão


assim? Estou ficando realmente assustada, já tentei
pesquisar sobre você na internet, mas não acho nada.

— Maia, o Grupo Empresarial Dantas Dellatorres é


um dos maiores do mundo. Sou o Diretor Operacional e
acompanho de perto toda parte financeira junto com
Otávio. Estou ao lado dele desde sempre.

— Por isso ele disse para o meu pai que você


deveria ser sócio dele.
— Eu seria o sócio do Otavio, tudo ali são nossas
ideias desde quando estávamos no colégio. Mas quando
nosso projeto estava para sair dos papéis e virar
realidade, Leila engravidou do Thomas e eu não quis
arriscar, trabalhei na empresa do meu tio onde era mais
seguro, precisava cuidar de uma família. Otávio nunca se
conformou, não houve um dia em que não me ligasse duas
ou três vezes para que eu me juntasse a ele, quase todos
os projetos passaram por mim, mas Otávio arriscou tudo,
fez empréstimos altíssimos, batalhou cada conta, fez mais
empréstimos para pagar os outros, praticamente não teve
vida. Ele conseguiu os parceiros certos, mas tomou muita
porta na cara, não foi fácil para ele. Quando, enfim
conseguiu se estabilizar, e não precisou mais se enfiar em
empréstimos pois já conseguia pagar os funcionários, foi
então que me juntei a ele. Durante uns cinco anos ele
não fez nenhuma retirada. Eu sei, por que sou eu quem
toma conta do dinheiro até hoje, tanto dele, quanto do
Grupo. Ele pagava os funcionários, muito bem por sinal, e
reinvestia. E é exatamente por isso que não aceito ser
sócio dele. Mas, o que eu quero dizer, é que somos
realmente milionários.

— Milionário! — sussurrou espantada. — Onde vim


parar? O que vou fazer da minha vida, o quê?
Eu estava cansada demais, preocupada demais e
com raiva demais. Precisava tomar um banho para tentar
colocar a cabeça no lugar e relaxar um pouco... disse isso
a José.

— Maia, sei que seu dia hoje...

— Foi o pior de toda a minha vida? — Ele me


encarou com tristeza.

Sei que era algo horrível para se dizer, mesmo


porque eu tinha uma opção, eu não precisava ter ficado.
Estava estressada e por isso explodi:

— Não faz essa cara, José. Foi sim, o pior dia da


minha vida! Você sabe que eu te amo, mas eu também
amo os meus pais. — Parei com raiva, no meio do quarto.
— Amava, porque não foi só eu que morri para eles, o
oposto é muito verdadeiro, não quero ver ninguém daquela
casa nem pintado de ouro. Eles são uma cambada de
Judas. — Eu já tinha perdido totalmente a compostura. —
Eu nunca, nunca dei nenhum trabalho, eu sempre estive
ali, obediente, remediando, esperando, e no momento em
que eu preciso de apoio... EU SÓ PEDI PARA ELES ME
OUVIREM! E nem isso foram capazes de fazer, eles
também morreram para mim. — José olhava para mim sem
dizer uma palavra, o que me deixou com mais raiva.

— Se você não fosse um mentiroso, egoísta, as


coisas não teriam chegado a esse ponto. Aquela
vagabunda, mercenária, ir atrás da minha família para
fazer inferno. Mas ela só foi porque você deu munição
para isso. — Ele me olhava de uma forma que eu não
sabia decifrar. Continuei.— Eu sei, eu sei, não precisa me
olhar deste jeito. Eu sei que tinha a opção de ir embora
com eles e sabe por que não fui?

— Não. Por que você não foi, Maia?

— Porque eu te amo, porque eles não me deixariam


vê-lo e minha vida viraria um inferno. Eu não iria poder
fazer mais nada. E EU NÃO IRIA QUERER FAZER MAIS
NADA. Porque eu amo um mentiroso! Agora, José, eu
estou a sua mercê, não tenho para onde ir, longe de tudo
que me é familiar, não tenho um emprego, não tenho uma
profissão... — as lágrimas escorriam. — Eu não sei o que
farei amanhã; amanhã no sentido literal da palavra.

— Vem aqui, para com isso.

José me envolveu em seus braços e me arrastou


para cama, chorei em seu peito até me acalmar.

— Você pode fazer qualquer coisa que quiser, mas


eu só quero que seja a minha mulher, que cuide do nosso
lar, de mim, da minha filha, e dos filhos que vamos ter.
Mas se quiser, pode abrir um negócio, fazer uma
faculdade, trabalhar em algum lugar. Qualquer coisa, eu
vou morrer de ciúme, vou fazer birra igual criança, vou
ficar doente todos os dias, só para que fique cuidando de
mim. Eu te amo tanto, que vou aceitar qualquer coisa,
desde que você esteja ao meu lado.

Me aconcheguei melhor no seu colo, pensando que


ter uma família era o meu sonho e meu objetivo. Pedi para
deixar de ser tratada como a caçulinha da casa, pedi uma
família e agora eu tenho, mesmo não sabendo por onde
começar, nem exatamente o que fazer, Deus atendeu o
meu pedido. E eu não iria me fazer de rogada ou de
vítima, vou ser a esposa que José quer e a que eu sempre
sonhei ser.

— Eu te amo e quero cuidar de você, da nossa casa,


da Celina e do Thomas, só não sei por onde começar.

— Você já começou, meu amor. O que fez pela


minha filha hoje é o que uma mãe de família faz para os
seus filhos. Ela nunca teve isso, esse carinho e atenção
gratuitos, apesar da minha mãe ser extremamente
atenciosa, Celina ficava com ela esporadicamente, foi
criada por babás, nunca podia trazer ninguém em casa
porque Leila não gostava de bagunças, e porque ela não
se dava bem com as mães dos amigos das crianças.

— Posso perguntar para a sua mãe qual é a rotina


da Celina durante a semana?

— Você pode tudo, meu amor. Mas a rotina da


Celina, da nossa casa e a nossa rotina, será você que
determinará. Tem uma empresa de limpeza que vem aqui e
cuida de tudo, minha secretária que tem resolvido esta
questão para mim...

— Claro... — sussurrei.

— O que a senhora disse? — Olhei para ele com as


sobrancelhas erguidas. — SENHORA, sim meu amor! Um
papel não muda nada, dona Maia, juro que vou resolver
tudo o mais rápido possível, mas enquanto isso a senhora
é uma mulher casada, a minha mulher, e não esqueça
disso! Quando me mudei, minha secretária achou que eu
precisaria de empregados fixos, mas não deixei que
selecionasse ninguém, porque tinha certeza de que a
minha mulher iria querer escolher ela mesma seus
funcionários.

— Pode apostar que vou, e onde está a babá da


Celina?

— Minha mãe a demitiu, porque ela não saía do


celular, e não interagia com a menina, não cuidava dela
com atenção. Mas, principalmente, porque sem babá, Leila
não ficava com Celina nem por uma hora. Ela nunca deu
um banho na filha, Maia, como você fez hoje. Você viu
como Celina ficou feliz?

— Meu Deus, José! Que judiação.

— Você pode contratar outra babá, vou pedir para a


Catarina, minha secretária, entrar em contato com você.
Daí você diz para ela quais os funcionários que vai
precisar.

Meu Deus! Eu não tenho ideia. Como cuidar de uma


casa tão grande, de um milionário? Não sei se ele recebe
pessoas em casa, se tudo tem que ser extremamente
organizados, tipo ter um mordomo, alguém para polir as
pratarias... Ri de mim.
— O que foi, do que a senhora está rindo? — Eu ri
ainda mais.

— De nada, bobagem. Que horas a Celina vai para a


aula? Quem a leva? Ela toma café? Que horas você sai
para trabalhar? Você toma café em casa?

— Ei, calma... — José me empurrou na cama e


montou em mim. Beijou meu pescoço, minha boca. — Você
está muito acelerada, tensa... — Massageou meus
ombros. E vi o volume na sua calça aumentando. — Você
precisa relaxar.

— Eu? Tem certeza?

— Absoluta.

Acordei com José me beijando e esfregando seu pau


duro como uma rocha no meio das minhas nádegas. Gemi
excitada e em segundos, ele estava dentro de mim.

Tomamos um banho preguiçoso e antes da sete


estávamos na cozinha preparando o café.

— Você não deveria ter dito para a Celina faltar para


ficar comigo.

— Tenho certeza que as duas vão se divertir muito.

Ele pegou a carteira no bolso, retirou dela um cartão


preto e estendeu em minha direção.
— É seu, mas está vinculado a minha conta, já abri
uma conta no seu nome, mas você precisa assinar os
documentos, vou pedir para a gerente vir aqui em casa
hoje ainda.

Olhei para o cartão que estava com o meu nome.

— Desde quando você mandou fazer esse cartão


para mim?

— Já tem um tempinho. Maia, mas não brigue


comigo, foi só precaução.

Suspirei fundo.

— Ok, não vou me estressar. — Ele me agarrou


roubando um beijo maravilhoso, enfiou os dedos em meus
cabelos com suas mãos pesadas, puxou-me de encontro
ao seu corpo, passou a mão na minha bunda subindo meu
vestido. Ri em sua boca, e o empurrei.

— Se comporta, a Celina pode acordar a qualquer


momento, e você vai se atrasar.

— Vamos pro quarto... Troco o café por uma


rapidinha. — De súbito, fui erguida e carregada no colo
para o quarto.

Não foi exatamente uma rapidinha, mas foi uma


delícia. As coisas estavam horríveis para nós da porta de
casa para fora, mas eu faria tudo para que nossa vida
fosse um conto de fadas, e enquanto ele fosse o homem
atencioso, carinho e cuidadoso comigo, eu seria a melhor
mulher para o meu insaciável... marido? Sim, meu marido,
mesmo que não fosse no papel. Ele era meu.

Me limpei rápido. — Tomo banho depois que você


sair, vou preparar o nosso café.

Estava terminando de colocar a mesa quando ouvi


passinhos, dei a volta na ilha e encontrei uma princesa
linda descabelada, com rosto de assustada, ela parou
assim que me viu.

— Bom dia, minha princesa, como você está linda


hoje. — Ela abriu um sorriso lindo e caminhou até a mim.
Peguei-a no colo e dei um monte de beijinhos em sua
bochecha, ela era uma criança adorável, e depois do que
José me falou sobre como a mãe a tratava, senti uma
necessidade imensa de enchê-la de amor.

— O que a minha princesa quer comer de café da


manhã? — Ela me abraçou pelo pescoço e ficou com a
cabeça deitadinha. Quando levantei o rosto dei de cara
com José nos olhando da porta da cozinha. Ele sorriu para
mim e chamou Celina.

— Ei, princesa? — Ela olhou rápido, sorrindo. —


Cadê o meu beijo? — Celina desceu e correu para beijá-
lo.
— Maia, tanto você quanto a Celina, aliás, todos
aqui em casa, Thomas e eu também, precisamos comprar
roupas. Não sei o que vocês pretendem fazer hoje, mas se
quiserem ir para o shopping, vou deixar o Ricardo com
vocês. Celina tem algumas peças de roupas que
compramos quando nos mudamos para cá, e os uniformes
da escola. E sei que você também não trouxe muita coisa.

— Pode deixar com agente. A gente vai gastar muito


dinheiro. — Pisquei para ela. Que sorriu com os olhos
arregalados. José se levantou para dar um beijo na filha,
mas ela grudou em seu pescoço, ele a carregou até a
garagem, enquanto me falava sobre a Catarina e Ricardo.

— Você pode me ligar a qualquer momento. Não vou


desgrudar do aparelho.

— Chega, vá trabalhar homem, me dá essa princesa


aqui. Vamos ficar bem. Não vamos?

— Pode ir papai, eu cuido da Maia, qualquer coisa a


gente pode tomar sorvete. — Falou como se fosse a
melhor ideia do mundo. É, não era tão ruim.

— Isso mesmo, qualquer coisa tomamos sorvete.

— E me liguem.

Peguei Celina no colo e virei para entrar em casa.


Parei com ela em meus braços e fiquei olhando para
aquela casa grande, tão luxuosa.

— Meu Deus, me ajuda! — Olhei para trás e o carro


do José estava parado, o vidro do motorista abaixado e
ele me olhava com admiração. Sorri para ele e entrei.
— Eu posso te ajudar também, Mai?

— Claro que pode, princesa. — Caminhei com Celina


nos braços até o seu quarto e agradeci a Deus por ela
existir e estar ali me fazendo companhia. — Vamos
arrumar sua cama. — Ela me ajudou a estender os lençóis
sem saber muito bem o que fazer. Ela era tão carente, não
consigo entender uma mãe não morrer de amor por uma
menina tão dócil e meiga.

— Eu tenho uma cabana no meu quarto. E tenho


muitas bonecas.
— Nós podemos comprar uma cabana e colocar
aqui, e também muitas bonecas.

— Mas não cabe neste quarto.

Uauuuuu. Olhei em volta, esse quarto era maior que


o meu. E o meu não era pequeno. Quer dizer, o quarto na
casa dos meus pais.

— Você acha que não cabe?

— Não cabe... — fez uma careta. — é muito pequeno


esse quarto, minha casa é muito, muito, muito mais
grande.

— Maior. Não é “mais grande” que se fala, é maior.


— Recebi um sorriso travesso em resposta.

—Você gosta de lá, Celina?

Ela ficou quieta, terminamos de arrumar a cama e


me sentei, ela veio imediatamente para o meu colo. Só
depois de algum tempo, respondeu.

— Só gosto do meu quarto. Mas eu não quero ir


morar lá, eu não vou, né, Mai?

— Sabe para onde você vai? — Fiz cócegas nela.

— Aaaiiiiiiii! Aahahahah...
— Para o banho! Vamos ficar lindas e cheirosas.
Primeiro você.

Dei banho nela, e olhei tudo em seu closet. Meu


Deus! Praticamente, só tinha vestidos de princesas.

— Todas essas roupas você comprou com o papai?


— Ela balançou a cabeça que sim, olhando para o
desenho no Ipad enquanto eu penteava seus cabelos.
José era um pai maravilhoso.

Olhei todos os armários da casa, closets,


despensas. Quase não tinha roupas de cama, mesa e
banho. Depois de fazer uma lista mental do que eu queria,
peguei Celina e levei comigo para o banheiro. Coloquei-a
sentada na poltrona que tinha ali e fui tomar banho. Ela
ficou me olhandosem piscar, tirei a roupa e entrei no
chuveiro lembrando do que o José tinha dito, ela nunca
dever ter tomado banho com a mãe.

— Amanhã eu posso tomar banho com você?

— Claro! Vamos fazer melhor, mais tarde quando a


gente chegar do shopping, podemos tomar um banho
juntas. O que acha?

— Eba!

Depois que terminei de me trocar, com uma Celina


grudada em mim, dando palpite, passando maquiagem...
Conseguimos ficar prontas. O barulho de um aparelho de
telefone berrava em algum lugar. Saí do quarto procurando
de onde vinha o som e dei de cara com Ricardo no meio
da sala.

— Ai, meu Deus! — Quase caí para trás.

— Me perdoa! O senhor José está preocupado


tentando falar com a senhora.

— Aqui, Mai... — Celina gritou e saí correndo,


assustada mais uma vez. Cheguei no escritório, ela estava
com o telefone na mão. Respirei aliviada.

— É o papai, ele quer falar com você. — Ela estava


em cima da cadeira para alcançar o aparelho em cima da
mesa.

— Celina, meu amor, essa cadeira tem rodinhas,


você não pode mais subir nela, tudo bem? Vem cá. —
Peguei-a no colo e sentei-a na mesa enquanto atendia ao
telefone.

— Oi, José.

— Meu Deus, Maia, o que aconteceu? Você quer me


matar do coração?

— Eu é que quase morri do coração. — sussurrei. —


O Ricardo, estava dentro de casa... — falei mais baixo.
— Eu pedi para ele entrar e te chamar, você sumiu,
cadê o seu telefone?

— Nossa, José! Como assim eu sumi? Tem duas


horas que saiu de casa, meu amor. Relaxa, estávamos
tomando banho. Dei banho e arrumei a Rapunzel, depois
foi a minha vez.

— E de noite nós vamos tomar banho juntas, papai.


A Mai deixou eu tomar banho junto com ela.

Celina chegou o rosto bem próximo ao aparelho de


telefone fixo que segurava no ouvido.

— Ela te chamou do quê? — Ele perguntou rápido.

— De Mai. Eu também me assustei na primeira vez.


É lindo, né?

— Lindo, eu te amo, Maia.

— Também te amamos.

— Meu anjo? — Ai meu Deus, o que foi agora?


Fiquei muda esperando o que diria. — Leonardo me ligou,
ele está desesperado para falar com você.

— Não vou atender, por isso que deixei meu celular


no silencioso, não quero falar com ele. Eu o atendi ontem,
ele gritou ordens como se falasse com um animal. Cansei,
José, não sou mais a obediente caçula da família Alencar,
sou a sua mulher e quero, o quanto antes, trocar meu
sobrenome.

— E vai, pode ter certeza.

— Ele te ofendeu? Não precisa atender ninguém.

— Não, ele não me ofendeu, só está preocupado.

— Não quero saber mais nada sobre ninguém da


minha família. Eles me deixaram no meio de uma guerra
sem nem olhar para trás. Eles morreram para mim. — E
mudei de assunto para ele entender que aquela conversa
havia acabado. — Pode pedir para a “sua” secretária me
ligar, agora, aqui neste número mesmo? E pode trabalhar
em paz, estamos bem e qualquer coisa a gente te liga.

— Tudo bem, se cuidem e Catarina já te liga. Maia,


te amo.

— Também, te amo.

Pedi para Catarina o telefone da empresa que ela


contratava, de forma insistente, pediu para que eu
dissesse o que queria exatamente para que ela mesma
resolvesse, mas fui bem-educada em dizer que eu
conseguia fazer uma ligação.

Agendei uma limpeza completa na casa para hoje e


algumas entrevistas para amanhã, para faxineira,
cozinheira e copeira. Chamei Ricardo e perguntei:

— Bom dia, Ricardo, desculpe-me ter me assustado


com você, eu estava distraída.

— Eu que peço desculpas, senhora Maia.

Ainda era estranho ouvir alguém me chamar de


senhora Maia.

— Ricardo, a equipe de limpeza chegará a qualquer


momento, como funciona quando não tem ninguém em
casa?

— Não se preocupe dona Maia, deixo um dos meus


homens aqui, ele receberá a equipe e os instruirá, caso
tenham alguma dúvida.

— Ótimo, então vou pegar minha bolsa, você nos


leva para o shopping?

— Sim, senhora.

Estávamos lindas, e me deu vontade postar uma foto


no Instagram.

— Olha como ficamos lindas, Celina.

— Podemos tomar sorvete de almoço? — Dei risada.


— Não, meu amor. Precisamos ter uma alimentação
mais saudável. Não podemos comer muita porcaria todos
os dias. — Ela fez uma carinha de pidona que quase me
convenceu, quase.

Terminávamos de almoçar quando meu celular tocou


com um número estranho.

— Alô!

— Oi, Maia, tudo bem? É a sua cunhada Betina,


José disse que você e Celina estão no shopping. Quero
saber se aceita companhia, ou melhor dizendo,
companhias.

— Claro! Celina e eu estamos terminando de


almoçar. Estamos no Shopping Iguatemi.

— Quando chegarmos aí eu te ligo para saber onde


estão, nos esperem para a sobremesa.

Não demorou muito e tínhamos companhia. Nos


encontramos numa doceria que Betina me indicou.

— Oi, Maia, como você está linda.

— Oi, obrigada, você também. Oi, dona Helena! E


essa princesa? — A mocinha abraçava e apertava Celina.

— Oi, minha linda. Essa é a Isabela.


— Mais conhecida como Bela, eu sou sua sobrinha.
— A menina toda mocinha e simpática me abraçou e me
deu um beijo no rosto. — Tenho certeza que sou a mais
linda de agora em diante.

— Você é mesmo muito linda! — Todos rimos, Celina


saiu do seu lugar e veio para o meu colo. Acho que
alguém aqui puxou ao pai, ciumenta. Dei um beijo em sua
bochecha. E as mulheres pararam nos olhando.

— Hum, já pediu princesa Rapunzel? — Betina,


percebeu que ela estava com ciúmes.

Ninguém tocou em assuntos desagradáveis enquanto


comíamos e todas as vezes que falava com a Bela, Celina
se manifestava.

— Quantos anos você tem, Bela?

— Tenho treze, e você?

— Vinte.

— Eu tenho seis.

— Eu sei, minha princesa, e já pensou qual será o


tema da sua festa de sete anos?

— Eu vou poder ter uma festa? — Celina perguntou


agitada. Olhei para dona Helena e para Betina sem saber
o que dizer.
— A família da Leila é de uma religião que não
comemora essas datas, aniversário, Natal essas coisas.
Mas sempre fazemos um bolo e cantamos parabéns para
eles.

— Se tiver tudo bem para o seu papai, podemos


fazer uma festa linda.

— Meu pai deixa. Não deixa,vó?

— Com certeza, deixa sim.

— Você não quer levar Celina no parque, Bela?

— Claro que quero.

Pagamos e andamos até os brinquedos atrás das


meninas.

— Ai, Maia, como você está?

— Estou bem, graças a Deus. Celina ficou em casa


hoje, não queria ter ficado sozinha.

— Maia, qualquer coisa que você quiser ou precisar,


pode me ligar, pode ficar em casa comigo enquanto as
crianças estão na escola. — Dona Helena falou.

— Muito obrigada, de verdade. — Celina acena para


nós do carrossel de xícaras.
— Maia, eu sei que foi tudo tão rápido, que você é
muito jovem e que não tem obrigação nenhuma com meus
netos. Mas Celina é tão carente, ela necessita de atenção,
tenho tanto medo de...

— Que eu vá embora?

— Maia, eu sei que você não tem obrigação de ficar,


de cuidar...

— Eu tenho. Tenho obrigação de cuidar da minha


família. Eu não vou a lugar algum, eu escolhi ser a mulher
do José, e mesmo não podendo casar imediatamente,
minhas responsabilidades são de uma mãe de família. Eu
escolhi o José, Celina e Thomas, e não importa o que
aconteça. Vou estar ao lado deles. — Dona Helena me deu
um abraço, emocionada.

— Meu filho está tão feliz, e vendo você com a


minha neta eu tenho até vontade de chorar, tenho tanto
medo de que você não suporte toda a carga que vem com
eles...

— Eu vou suportar, Dona Helena, eu só pareço


frágil.

— Maia, José tem toda razão, você é um anjo.

— Um anjo que precisa comprar roupas para uma


princesa que não sejam vestidos de princesas. — Rimos.
— Também preciso comprar algumas coisas para mim,
trouxe roupas para ficar apenas cinco dias. Mas olhei
algumas vitrines e quase caí dura.

— Maia, o único problema que você não tem é falta


de dinheiro. — Minha cunhada zombou, e minha sogra
balançou a cabeça concordando.

— Meu Deus, vocês são muito ricos, não sei ser rica
assim.

— Vocês, não. Só você.

— Temos uma vida confortável, Maia, mas não temos


tanto dinheiro quanto José. — Minha sogra completou.

— Entendi. José é podre de rico, vocês só são ricos.


— As duas caíram na gargalhada.

—Betina, que idade tem seu outro filho?

— Tenho mais dois, um de dezesseis, um de quinze


e a Bela de treze.

— Nossa, que sonho! Eu queria tanto ter irmãos da


minha idade, e uma irmã. Sempre quis ter mais de dois
filhos. Mas não sei se José vai querer.

— Claro que vai, e é bom começar logo, Celina já


tem seis. Dá para ter mais uns quatro. Dois meninos e
duas meninas.
— Sério, por que não teve mais uma menina?

— Maia, qual a parte de que não somos milionários


você ainda não entendeu?

— É mesmo, Betina, ainda dá tempo para ter mais


um ou dois. Para fazer companhia aos que virão em breve,
né Maia?

— Eu quero muito, mas só depois que José tiver


divorciado e nós estivermos casados. Aí eu engravido. E
Betina, tem que fazer primos para brincar com os meus
filhos, viu?

— Eu vou fingir que não estou escutando nada


disso.

Passamos uma tarde maravilhosa, foi muito bom tê-


las como companhia, me ajudaram a comprar quase tudo
que queria. Elas são animadas, minha sogra parecer ser
uma mulher justa e carinhosa. A Betina era um presente,
de tão maravilhosa.

Ricardo e outro segurança não saiam da nossa cola,


tiveram que carregar as sacolas para o carro várias vezes.
E José ligava e mandava mensagem de meia em meia
hora. Todo preocupado que ainda estava no escritório.

Antes de nos despedirmos, combinamos o jantar no


dia seguinte que seria no apartamento da dona Helena.
Quando chegamos em casa, Celina e eu, tive a
certeza de que nunca mais eu seria a Maia de antes,
aquela era minha casa, eu tinha uma nova família, uma
nova vida.
Não era fácil selecionar pessoas para conviver com
a gente diariamente. Já tinha entrevistado três
candidatas, duas para arrumadeiras e outra para
cozinheira, e não gostei de nenhuma delas. Olhei as horas
e aguardei a próxima mulher entrar no escritório, Ricardo
apareceu na porta e encaminhou-a até mim.

— Obrigada Ricardo, sente-se dona Rita. — Ricardo


nos deixou a sós. O currículo da mulher dizia que havia
trabalho vinte anos na mesma residência.

— Bom dia, moça linda!


— Dona Rita, me fala um pouco sobre a senhora.

— Dona Maia, certo?

— Não, só Maia, por favor. — Sorri para a mulher


simpática a minha frente.

— Tudo bem, a senhora é mesmo uma menina.


Trabalhei vinte e um anos na mesma casa, no início eu
fazia de tudo, era babá, cozinheira, arrumadeira, eles
eram novinhos, meus patrões, assim como a senhora, e só
tinham um filho pequeno, depois tiveram mais dois.Eles
melhoraram de vida, contrataram mais pessoas, mudaram
de casa, e passei a somente cozinhar e cuidar das
crianças. Depois que a mais nova foi embora fazer
faculdade em outro país, meus filhos já estavam criados,
eu quis descansar um pouco e aproveitar os meus netos e
meu marido. Montamos um depósito de materiais de
construção com o dinheiro que recebi dos anos
trabalhados. Meu marido sempre foi pedreiro, sabe?

Ela falava com uma serenidade, gostei dela.

— E deu super certo, tão certo que me trocou pela


secretária quatro anos depois.

— Nossa! Ah dona Rita, sinto muito...

— Não sinta, menina!Eu sofri muito, confiei muito,


mas foi o melhor, eu fingi muitas vezes que não via suas
sem-vergonhices, ele é mau caráter, foi um livramento de
Deus.

Depois que conversamos bastante, contratei dona


Rita, ela ficaria a semana toda.

— Posso começar agora, estou vendo que a senhora


não tem ninguém, faço tudo que é preciso, deixo a
jantinha pronta e vou para casa arrumar minhas coisas
para vir amanhã cedo de vez. E outra coisa, a senhora
pode ter calma para contratar os outros funcionários, até
posso te ajudar.

— Dona Rita, eu agradeço muito e vou precisar sim,


da sua ajuda, mas hoje não vamos jantar em casa, a
senhora pode ir para casa resolver suas coisas que fico te
aguardando amanhã pela manhã.

Me arrumei rápido depois que dona Rita foi embora,


porque tinha prometido que buscaria Celina na escola e já
estava na hora.

Ricardo parou o carro ao lado do portão, onde várias


auxiliares entregavam as crianças. Fiquei esperando
enquanto Celina estava sendo trazida por uma delas,
quando me viu, abriu aquele sorriso maravilhoso, peguei-
a no colo e agradeci a moça.

— Oi, princesa, como foi sua aula? — Coloquei o


cinto nela enquanto saíamos do estacionamento da
escola. — Ricardo, e o Thomas?

— Ele sairá mais tarde, dona Maia. E seu Estevão


virá buscá-lo.

Celina estava toda eufórica contando que havia


convidado as amigas para vir na sua casa nova, que tinha
uma madrasta que era muito boazinha.

Meu celular tocou, olhei e vi a foto da Juliana mais


uma vez no visor. Bloqueei suas mensagens e agora
bloquearei também suas chamadas, ela não pensou duas
vezes em virar as costas, nem tchau me deu, o que queria
agora?

— E também falei para a tia que eu tenho uma


madrasta boazinha.

— Você acha que eu sou boazinha, Celina?

— Eu acho — falou distraída. — A tia amou o meu


cabelo, disse que eu estava linda. Aí falei que foi você,
ela disse que está ansiosa para te conhecer.

— Eu também quero muito conhecê-la. Você gosta


da sua professora, princesa?

— Eu gosto muitão!!!

— Então, eu também gosto.


Estávamos chegando em casa quando Betina me
ligou.

— Oi, Betina!

— Oi cunhada, onde você está?

— Chegando em casa, fui buscar Celina na escola.

— Vem pra cá, vamos esperar vocês para o almoço.

— Betina, acabamos de entrar no condomínio,


vamos acabar atrasando o almoço de vocês.

— Nem pensar, é perto, podem vir, vamos esperar o


Thomas, e o almoço nem está pronto ainda, essa casa
está uma verdadeira bagunça, está parecendo a casa da
sogra. — Caiu na gargalhada, Betina era muito animada e
tinha um maravilhoso senso de humor.

— Tudo bem, vou entrar em casa para trocar a


roupa da Celina e em seguida iremos. — Encerrei a
ligação e liguei para José, que atendeu no primeiro toque
como um desesperado.

— Maia, oi meu amor, tudo bem?

— Oi... tudo bem, graças a Deus. José, estamos


chegando em casa, Celina e eu, e Betina nos chamou para
irmos almoçar na casa da sua mãe. Tudo bem? — Ouvi-o
soltar uma longa respiração.
— Claro que tudo bem, meu amor. Só reza para que
não tenha sido ela a fazer o almoço.

— Nossa, amor, coitada!

— Eu posso falar com meu pai, Mai?

— José, pode falar com uma princesa?

— Claro! Te amo e boa sorte.

— Vou contar para ela. — Falei antes de passar o


telefone para Celina. Que falou empolgada e rápido como
um rapper.

— Pai, todo mundo gostou do meu cabelo e a tia


falou que quer conhecer a Mai, eu disse que ela era muito
boazinha.

Celina falou sem parar, entrou em casa tagarelando,


e só deu tchau porque precisava trocar sua roupa.

Depois que coloquei um vestido nela, fiz uma bolsa


com uma muda de roupas e mais alguns itens de
necessidades, como minha mãe sempre fez comigo
quando íamos para casa dos nossos parentes, Ricardo nos
levou.O apartamento dos meus sogros não era longe.
Quando chegamos, já estavam todos em casa, seu
Estevão tinha acabado de chegar com Thomas. Dona
Helena e sua ajudante que haviam feito o almoço. E a
recepção foi como se eu já fosse da família há anos. Os
filhos da Betina eram lindos, extremamente educados e
bem-humorados como os pais, eles pareciam uma família
de comercial de TV.

— Oi, tia, prazer, eu sou o Gabriel, lindo como um


anjo, e esse é... bem ele não teve tanta sorte, mas é
legal...

— Oi, tia, sou o Matteo, quando ele falar qualquer


coisa é só balançar a cabeça, ele tem demência, não vai
entender nada mesmo.

— Meu Deus! —Betina entrou na sala, exclamando.


— Não assustem a Maia, coitada, quem deixou eles
soltos? Maia, sua linda, estou vendo que conheceu a
minha gangue toda, agora. Espero que nada mude entre a
gente. — Me abraçou sorrindo. Meu cunhado me
cumprimentou com um beijo no rosto e um abraço. Apenas
Thomas não se levantou do sofá. O cumprimentei de
longe.

O almoço estava maravilhoso, Betina e André


falaram que moravam em Porto Alegre, que tinham uma
construtora modesta e que os filhos amavam São Paulo.

— Eu vou vir fazer faculdade aqui. — Matteo falou


sério. — Capaz, que vou perder a oportunidade de me ver
livre dos meus irm... quer dizer, de estudar na melhor
cidade do país. — Piscou para a Isabela.
— Ah bom, porque se engana se acha que vai se ver
livre de mim assim tão fácil. Vou vir na sua mala.

— Estou achando que em breve teremos uma família


toda morando em São Paulo. — Falei para Betina, que
concordou comigo.

Celina não desgrudava de mim, era colo, pedindo


para ir ver qualquer coisa, ir com ela ao banheiro, estava
totalmente insegura. Thomas não me dirigia à palavra, só
via-o rindo ou falando quando estava conversando com os
primos ou jogando vídeo game.

Dona Helena atendeu um telefonema e em seguida


comentou que a mãe da amiguinha de Celina estava indo
para a pracinha do condomínio com a filha, se Celina
poderia ir junto. Como ninguém, nem Celina falou nada,
dona Helena me olhou e perguntou:

— Ela pode descer para brincar, Maia?

— Não. — respondi rápido — Sozinha? Ai gente, me


desculpa, sozinha não. — Pensei em perguntar como eles
faziam quando a Celina estava lá, mas já havia decidido
que tomaria conta da minha família da minha forma, e
nunca deixaria Celina de apenas seis anos ir sozinha, para
lugar algum. — Celina, princesa, você quer ir brincar na
praça? — Ela fez um biquinho pro lado, uma carinha de
quem queria, mas acho que não queria me contrariar,
como se fosse me deixar chateada.
— Quer, né?Vamos trocar de roupa que te levo. Vem,
vamos colocar uma bermuda e uma camiseta. — A
menina correu para o meu colo. Thomas parou de jogar e
nos encarava fixamente, não sei o que se passou na
cabeça dele.

— Tem roupa dela no quarto, mostra para Maia,


Celina.

— Não precisa, dona Helena, obrigada.Eu trouxe


roupa para ela brincar. Troquei-a e descemos com Bela
para encontrarmos a Bia, a amiguinha.

Celina chegou toda eufórica e correu para um


brinquedo no meio da praça onde estavam duas meninas
do mesmo tamanho que ela. Duas mulheres sentadas no
banco ficaram olhando para nós. Bela acenou, dando um
tchauzinho.

— Vamos lá, vou te apresentar para elas.

— Vamos. — Eu realmente não m importava com o


que pensariam de mim, nunca me importei, mas queria que
Celina tivesse uma vida mais normal possível, e isso
incluía as mães das amiguinhas simpatizarem comigo.

— Oi! — Nos cumprimentaram sorrindo.

— Bela, tudo bem, como está a sua mãe? — Uma


das mulheres perguntou.
— Tudo bem, Ellen, minha mãe está bem, acho que
já, já ela desce. Deixa eu apresentar a Maia.

— Já ia mesmo perguntar. — A mulher que era


simpática, mas parecia ser fofoqueira, disse. A outra
esperava ansiosa pela apresentação.

— Essa é Maia, a esposa do meu tio José.

As mulheres ficaram de boca aberta, depois do


susto, começaram sutilmente as perguntas e
especulações.

— Não sabia que ele estava separado.

— Também, não, e as crianças como estão lidando?


— A outra que não sabia ainda o nome, perguntou.

— Bem. — respondi.

— Hoje é normal, quando me separei as crianças


nem sentiram, o pai quase não ficava em casa. Hoje, a Bia
não gosta de ir para a casa do pai. Ela não se dá bem com
a madrasta, sabe?

Eu prestava atenção no que elas falavam, mas não


tirava os olhos da Celina correndo.

— Celina está morando com a sua avó, não é


Belinha?
Bela estava com os olhos grudados no celular.
Respondi para Ellen.

— Não, ela mora conosco.

— Sério? Você tem filhos?

— Não, por enquanto não.

— Menina, que bom para a Celina, nossa, cá pra


nós, a menina praticamente não tinha mãe.

— Ellen! — A outra repreendeu.

— É verdade, eu sei, conheço aquela lá desde que


Thomas estava no jardim de infância, ele brincava com
meu filho mais velho que tem quase a idade dele. Eles
também estudam na mesma escola, Bia estuda me mesma
sala da Celina, desde o Jardim 1, pergunta se alguma vez
a mulher foi em uma festinha da menina ou em reuniões?

— Mai, Mai, Mai... — Celina correu para mim com as


duas amiguinhas. — Elas podem ir lá em casa brincar? —
Celina pulou em mim. Estava sentada ouvindo todas as
fofocas atentamente, no meio das minhas pernas Celina
passava as mãos sujas em meus cabelos, me fazendo
prestar atenção nela.

— Claro que pode, quando elas quiserem.


— Eu falei que você é uma madrasta muitooooo
boazinha!!!

— E você também falou que sei fazer um monte de


brincadeiras legais?

As meninas pularam, correram, iam e vinham e as


duas não pararam de fofocar um minuto. Eu só ouvia e
balançava a cabeça.

— Mas menina, sem maldade viu, seu marido é um


deus grego, que homem mais lindo, a mulherada fica tudo
louca quando ele aparece na escola ou por aqui mesmo.

— Nossa, Ellen, o que a moça não vai pensar?

— Que não somos cegas, e nem vem com essa


carinha de santa, que você só falta derreter quando ele
vem buscar a Celina.

A outra mulher deu uma risadinha sem graça.

— Tudo bem, gente, eu me encanto todos os dias,


ele é um homem a ser admirado mesmo. — Respondi
apenas para ser simpática.

— Exatamente isso. Falou tudo, Maia. Mas ele não é


bobo não, né? Escolheu bem, você parece uma boneca de
tão linda. Ainda por cima, é simpática.
— Muito obrigada, vocês são lindas, e
simpaticíssimas. Espero-as lá em casa, e verei vocês em
breve também na escola.

— Só convidar que vamos com o maior prazer


passar uma tarde com você, levaremos as meninas para
brincar, enquanto poderemos conversar e colocar as
fofocas em dia. Vou te apresentar as outras mães,
conheço todas.

— Vocês estão morando onde?

— No condomínio Cyrela Legacy. É aqui pertinho.

— Conheço, claro que conheço, um condomínio dos


sonhos.

— Vamos combinar, ficarei muito feliz em recebê-las.


— Trocamos telefones, em seguida chamei Celina para
subirmos, precisava dar um banho nela e ajudar na janta.

— Sobreviveu! — Dona Helena comentou sorrindo


quando entramos.

— Celina, não, não, nem pensar em sentar no sofá


da sua avó com toda essa sujeira, vamos direto para o
banho. — chamei sua atenção antes que sujasse a sala
inteira. — Sobrevivi! E até que foi divertido. — Ri.
— Nós íamos descer, mas olhamos daqui e vimos
que você estava viva. Resolvemos deixar você encarar as
duas, sozinha. — Betina, zombou de mim.

— Ah, muito obrigada!

Dei banho na Celina, tomamos um café com bolo, e


só então ela desgrudou um pouco e foi para o quarto com
a Bela.

— Maia, é impressionante sua interação com ela.

— Eu tenho experiência com meninas da idade dela.


Professora de ballet por quase cinco anos.

— Mas você tem pulso, sabe impor limites. Ah,


minha filha, Deus te abençoe, e com certeza ele ouviu
minhas preces, tinha tanta dó da minha netinha, dos dois
na verdade, mas Thomas é uma outra situação. Você já
deve saber, não é mesmo? E para José... filha, você
trouxe vida para o meu filho. Deus é bom o tempo todo.

— Não é porque estou aqui na frente da minha


sogra, não, mas de verdade, José é um homem como
poucos, não conheço nenhum que aguentaria o que
aguentou por causa dos filhos, ver mulher se sujeitando
pelos filhos é normal, agora José, merece ser muito feliz,
ele é um paizão, um ótimo filho, tio, irmão e um cunhado
maravilhoso, ele até é meu cunhado preferido.
Betina era uma joia rara, de bem com a vida, uma
pessoa maravilhosa.
Já eram quase 19 horas quando cheguei na casa
dos meus pais, o jantar estava quase pronto. Depois de
cumprimentar a todos, fui falar com meu pai e irmão que
estavam na varanda.

— Tudo bem, José? — Meu irmão perguntou


preocupado.

— Bem demais, isso me assusta, achei que Leila


faria um verdadeiro escândalo, a maior confusão, mas até
agora não deu nem notícias.
— Sabe que isso não é um bom sinal vindo dela.

— Eu sei pai, mas vou esperar ela receber a


intimação. Não quero me preocupar mais do que já estou.
Thomas disse que ela ligou duas vezes, mas que nem
cogitou ir ficar com ela. Realmente não sei o que pensar,
mas pode ter certeza que estou me resguardado de todas
as formas possíveis, legais ou não.

— Não vá fazer nenhuma bobagem, pelo amor de


Deus, meu filho. Essas crianças dependem de você, e
Maia também. Que moça abençoada, ela é tão madura e
determinada, todos nós estamos estupefatos.

— E como Thomas ficou esses dias? Ele anda tão


cabisbaixo, estou muito preocupado. Conversei com a
psicóloga dele e as notícias não foram boas.

— Filho, estava conversando com a sua mãe, nós


também estamos muito preocupados, a Leila tem muito
domínio psicológico sobre ele. Tudo sobre ela o afeta
demais.

— Claro pai, ela é mãe dele.

— Não é só isso, ela sempre o sufocou demais.


Ontem, ele me falou que está muito chateado porque ela
ainda não foi conversar com a psicóloga. Ele passou
quase que a tarde toda no quarto, e estava realmente mal
com isso. Ele não está acostumado a ser colocado em
segundo plano por ela. — Meu irmão falou o que os dois
haviam conversado, e minha preocupação só aumentou.

— Oi, meus amores! A janta está na mesa, chega de


fofocarem os três e venham nos dar atenção. — Minha
mãe nos chamou.

—Eh... pai, o senhor não deve ser mais o mesmo.


Minha mãe nunca esteve tão carente.

— André, respeita o seu pai. Não estou carente


nada, muito pelo contrário.

— Cadê a Maia e a Celina? — Perguntei quando


cheguei na sala de jantar. Thomas deu de ombros com
cara de poucos amigos.

— A Maia, foi lavar as mãos da Celina, tio.

Bela acabou de fechar a boca e as duas apareceram


de mãos dadas.

— O que é isso no seu cabelo? — Passei a mão nos


cabelos da Maia e tirei um pedaço de barro. Ela olhou
para Celina rindo.

— É um presente da minha princesa favorita.

— José, Maia desceu para a praça hoje com a mãe


da Bia e da Duda. E olha só: ela está viva!
Olhei para minha cunha, e não aguentei, comecei a
rir.

— Tio, elas falaram com a tia Maia sem parar, por


mais de uma hora. — Bela falou indignada. Enquanto
Maia me olhava com ar de riso.

— E o que elas tanto falaram?

— Não importa, a única coisa que importa é que


quero você bem longe delas!

Ergui as sobrancelhas e todo mundo deu risada,


menos Thomas, que não olhava, não conversava, não
sorria. Por mais que o incluísse nos assuntos, suas
respostas eram monossilábicas. Mesmo com a pouca
interação de Thomas, foi um jantar maravilhoso.

Assim que chegamos em casa, Thomas deu boa


noite e foi para seu quarto. Celina não queria ir dormir de
jeito nenhum.

— Vamos princesa, o papai te conta uma historinha.

— Não quero, papai, não quero dormir.

— Você precisa dormir para ir para a escola amanhã


cedo.

— Não quero ir para a escola, quero ficar com a Mai.


Cadê Mai, papai?
— Ela está no quarto meu amor, ela está cansada,
precisa tomar um banho. — Celina saiu correndo do seu
quarto e invadiu o meu. Maia estava saindo do banheiro.

— Mai, Mai, eu não quero ir para a escola amanhã.


Fala para o papai que eu posso ficar com você.

Maia me olhou de canto de olho, como quem diz: eu


falei.

— Vem cá, meu amor, você precisa ir para a aula,


estudar, combinar com suas amigas um dia para elas
virem conhecer a sua casa nova.

— E você também, né?!

— Sim e eu, estava pensando em fazer um penteado


lindo para você arrasar na aula amanhã. O que acha?

— Eu posso escolher?

— Pode, mas para isso, precisamos dormir. Vem,


vou te contar uma história, vamos colocar um pijama bem
lindo, esses olhinhos já estão se fechando.

Maia não demorou dez minutos.

— Prontinho, princesa dormindo.

— Agora vou dar um banho na minha mulher que


brincou no barro hoje.
— Quero uma massagem também.

— Seu pedido é uma ordem, meu amor!

Fizemos amor por horas e nunca era o suficiente.


Olhava Maia dormir com a cabeça em meu braço, sua
perna dobrada em cima da minha coxa e sua mão
repousada no meu peito. Não poderia descrever jamais a
paz que sentia. Ter a mulher que amo, minha mulher,
dormindo tranquila e protegida em meus braços, era uma
sensação inenarrável. Me aconcheguei em seu corpo
quente para dormir totalmente satisfeito, como nunca
havia dormido antes.

Assim que terminei de coar o café, Maia chegou com


Celina pronta e linda, fui chamar Thomas para vir comer
conosco.

— Nem me lembrei de perguntar ontem como foram


as entrevistas. Você não gostou de ninguém?

— Hum, gostei sim. Celina, cuidado para não


derrubar leite no uniforme, meu amor. Na realidade,
contratei uma cozinheira, ela começa hoje e vai me ajudar
com a casa até que eu arrume as outras funcionárias.

— Que bom, a Carla nos convidou para jantar hoje.


O apartamento dela é perto daqui.

— Eu também vou? — Celina perguntou espantada.


— Claro que sim, princesa. — Maia respondeu.
Thomas prestou atenção na interação das duas durante
todo o café da manhã e parecia não estar muito contente
com o que via.

Enquanto Maia foi buscar a mochila de Celina,


chamei Thomas para irmos na frente, para o carro.

— Thomas, o que está te incomodando? Não gosta


da forma que Maia trata a sua irmã?

— Não pai, não é isso.

— Então, o que é? — Fui rígido.

— Não é nada, pai, não tem nada a ver.

— Sua irmã está sendo tratada, pela primeira vez,


como você sempre foi pela sua mãe. Você deveria ficar
feliz.

— Prontinho, meninos! — Maia colocou a Celina na


cadeirinha. — Tchau, Thomas, boa aula.

— Te amo, qualquer coisa me liga, e depois me diz


se podemos ir jantar com a Carla.

— Sim senhor, fica em paz. Também te amo.

Chegando ao escritório, comecei a refletir em todas


as mudanças que estavam acontecendo na minha vida
desde que Maia aceitou morar comigo. Minha mulher
mostrou uma força e maturidade que eu desconhecia. Já
sabia que ela era tinhosa, mas eu estava tão
orgulhosamente feliz... A relação dela com Celina estava
cada vez mais estreita, as duas pareciam ter uma
afinidade imensa e isso me deixava super satisfeito,
porque o que eu mais queria era poder ver minha
princesinha sorrir mais e deixar de lado aquela tristeza
que já havia se tornado parte dela e que acabava com
meu coração. Nenhuma criança deveria sentir-se rejeitada,
mas agora com Maia, ela estava genuinamente feliz.

As únicas coisas que ainda me preocupavam eram: o


fato de Thomas parecer incomodado com algo e viver
trancado no quarto, e sua mãe Leila, que ainda não havia
dado sinal de vida. Com certeza não esperava coisa boa
dela, devia estar aprontando algo.

O dia transcorreu bem, tive uma reunião que me


tomou praticamente todo o tempo, em um determinado
momento falei com Maia e acertamos tudo para o jantar na
casa de Carla. Encerrado o expediente, passei em casa
para buscá-los, novamente encontrei Thomas no quarto,
dormindo. Após falar com ele, seguimos todos para a casa
da minha amiga.

— Oi... meus amores! Uau, Maia, você é ainda mais


linda pessoalmente. Muito prazer, eu sou a Carla, fique à
vontade.
— Muito obrigada, e você com certeza é muito mais
linda pessoalmente também.

— Vem, vamos entrar, deixa eu apertar essa


princesa um pouco. E esse meu garoto, que está a cada
dia mais gato... Celina, quero te apresentar uma pessoa.

Carla apresentou Milena à Celina, que era sobrinha


de Larissa, sua namorada. Depois, apresentou-as à Maia
também. As crianças foram brincar, chamei Thomas para
interagir conosco, mas ele queria ficar na sala de TV
fazendo nada. No fim, acabou me obedecendo.

— Está ansioso para as férias, Thomas? — Larissa


perguntou.

— Não muito, nem sei se vou passar de ano, mesmo.

— Olha só, que ótimo momento para saber disso. —


Falei tranquilamente.

— E qual é o problema, Thomas, suas notas estão


ruins?

— Sim, muito.

— Filho, pode fazer aula de reforço, sabe que não


sou adepto a esse negócio de notas. Isso não significa
nada. Mas pelo menos, garante o ano.

— É, pode ser.
Carla olhou para mim nitidamente preocupada, e
mudou de assunto. Celina vinha toda hora pedir alguma
coisa para Maia.

— Estou encantada como ela gosta de você. Parece


Milena com Carla, coisa de Deus. — Larissa falou.

— Ela é uma criança perfeita, não tem como não se


apaixonar. Ela é companheira, carinhosa, preocupada, é
realmente um amor de criança.

— Mas você parece ter o dom, também.

— São muitos anos danado aula de ballet para


meninas da mesma idade, as vezes, até um pouco mais
novas.

— Você será uma excelente mãe.

Thomas olhou rápido para Larissa depois para Maia.


Que nem perceberam, mas Carla e eu sim.

— Por enquanto, não é...

Maia parou de falar na metade da frase e me olhou


com os olhos quase saindo do rosto.

— Tudo bem?

Ela balançou a cabeça que não.


— Gente, vocês me dão licença. Já volto.

Já havíamos praticamente terminado o jantar. Carla


se levantou e foi atrás dela. Larissa, tirou a mesa e a
ajudamos a servir a sobremesa, já havia passado um bom
tempo e nada das duas voltarem. Celina foi atrás da Mai,
como ela a chamava, a pronúncia saía quase como mãe, e
era lindo de ouvir. Mas voltou, minutos depois, assustada.

— Papai, a Mai está chorando.

— Fica aqui e ajuda a tia Larissa, já volto, fica aqui.


—Entrei no quarto de Carla sem bater.

— O que está acontecendo? Maia, meu amor, vem


cá. — Puxei-a para os meus braços.

— Calma, José, calma Maia.

Maia estava vermelha por ter chorado, mas estava


mais tranquila, aparentemente.

— Não foi nada, só fiquei um pouco nervosa. Já


passou.

— Nervosa com o quê?

— Com a minha menstruação, acabei de perceber


que está atrasada.
— E qual é o problema? — Ela olhou para mim deum
jeito que me arrependi de ter perguntado.

— Vamos, ainda tem a sobremesa.

Saiu do quarto me deixando lá olhando para Carla,


pensei sobre como seria maravilhoso ter um filho com a
minha Maia.

— José, ela tem razão em estar nervosa, tem uma


semana que a vida da garota mudou totalmente. Cidade,
Estado, amigos, família, trabalho... de uma hora para
outra não existe mais. E a única preocupação dela é com
a louca da Leila, com Thomas, que nitidamente não está
aceitando bem tudo que está acontecendo. Ela disse que
queria ter mais tempo para as coisas realmente entrarem
nos eixos e que Celina, com certeza, não está preparada
para isso. Eu concordo plenamente com ela.
No caminho para casa, passei em uma farmácia e
comprei todos os testes de gravidez que encontrei.

Thomas foi direto para o quarto, Maia foi colocar a


Celina para dormir e fiquei aguardando sem entender o
tamanho da minha ansiedade, lembrei de quando descobri
que Leila estava grávida do Thomas, achei que nenhum
sentimento fosse se igualar aquele, desespero, medo,
tantas incertezas...Eu amo meu filho, mas nada até hoje
foi mais desesperador do que quando descobri que teria
um filho.
Estava parado de frente para janela quando ela
entrou no quarto.

— Maia, você só percebeu agora que sua


menstruação está atrasada? — Não quero nem pensar que
ela só não foi embora com os pais por ter a possibilidade
de estar grávida. Ela ficou parada na porta me olhando
antes de responder, pensativa.

— Sim, só lembrei porque pensei no dia que teria


que tomar a injeção. Lembrei que achei que estaria
menstruada no dia do espetáculo. José, os testes que
comprou podem não dar o resultado correto, estou só uma
semana atrasada. A Carla acha que é toda a turbulência,
ela falou que é normal as emoções afetarem nosso corpo.

— Maia, meu amor, sei que agora não é um dos


melhores momentos para você engravidar. Eu entendo
sua preocupação.

— Para nenhum de nós, José. Você não se


divorciou, ainda estou construindo uma relação de
confiança com Celina, não quero que achem que eu só
decidir ficar com você por estar grávida.

— Você está certa, Maia, mas se estiver, vamos


conseguir tudo que iríamos da mesma forma. Faz os
testes, estou muito ansioso!
Maia entrou no banheiro com a sacola de testes na
mão. Alguns minutos depois saiu.

— Agora temos que esperar para ver os resultados.

Cinco minutos depois entramos no banheiro e todos


os testes haviam dado negativo. Maia respirou aliviada e
eu nem sei ao certo o que senti.

— Acho melhor fazermos um exame de sangue.

— José, eu também acho, mas não farei essa


semana, vou esperar.Semana que vem eu faço, de
repente, até lá nem precisará mais.

— Tudo bem, esperaremos uma semana.

— A Leila não entrou em contato? — Balancei a


cabeça negativamente.

— O que você pretende fazer?

Sentei na tampa do vaso enquanto ela jogava todas


as embalagens fora.

— O divorcio litigioso está correndo, e daqui apouco


sai, ela está fugindo de qualquer conversa amigável, não
sei se está mancomunando alguma coisa, mas o tempo
está correndo e a cada dia que ela não procura pelos
filhos, melhora a minha situação. Eu só me preocupo
mesmo é com a guarda das crianças. Preciso sentar e dar
uma explicação para Thomas, situar as coisas, a vida dele
principalmente, mas antes da parte jurídica se acertar, não
posso dizer como será, e sei que ele está perdido.
Conversei com a psicóloga dele e provavelmente esta
semana ela o encaminhará para o psiquiatra, pois ela
acha melhor entrar com os antidepressivos.

— Queria poder ajudar.

— Meu amor, você já está ajudando e muito, não


pense que Thomas está assim porque me separei, porque
estou com você. As coisas já estavam insustentáveis
antes de te conhecer, Maia. Thomas já estava mal, chegou
a usar drogas, se afastando de mim, mas também da mãe,
e de todo mundo. Mas agora, vem aqui que vou te dar um
banho.

Ficamos até tarde na cama no dia seguinte, seria um


fim de semana de conversa, Maia estava esparramada em
meu peito e era maravilhoso sentir seus cabelos entre
meus dedos. Era a primeira vez que ficava de bobeira na
cama até tarde com alguém.

— Maia, você falou com a sua cunhada ou com seu


irmão?

— Não. Nem vou falar. Você sabe que sua família


virá toda para cá hoje, né?
— Meu amor, tudo bem você estar chateada, mas
precisa falar sobre o assunto. — Ela se sentou na cama,
entrelaçou as pernas mantendo sua postura totalmente
ereta.

— José, eu estou com muita raiva de todos eles, se


eu abrir a minha boca para falar qualquer coisa, vou
xingá-los, excomungá-los. Não quero pensar neles, pois
nenhum deles pensou em mim, quero pensar na nova fase
da minha vida. Estou preocupada com tantas outras
coisas.

— Eu preciso ir para Careaçu segunda-feira...

— Vai dormir lá? — Mal me deixou terminar a frase


para perguntar indignada.

— Nossa casa está lá, Maia, você vem comigo,


preciso resolver muitas coisas, mas se tudo correr como
planejei, voltamos na quarta-feira.

— A Celina tem aula, tenho entrevistas com outras


possíveis funcionárias e não quero ir pra lá.

— Meus pais vão ficar aqui em São Paulo me


ajudando com as crianças enquanto não tiver tudo
resolvido, eles ficaram com Thomas e Celina. Mas se
quiser, podemos levá-la, peço para a escola mandar as
tarefas e podemos fazer com ela quando eu chegar do
trabalho.
— Não, não quero ir, não tenho nada para fazer
naquela cidade, Celina precisa de rotina e eu também,
preciso me adequar, me organizar, organizar a nossa
casa, e não será ficando de um lado pro outro que vou
conseguir.

Ela era fantástica, um rostinho tão angelical, mas na


verdade era um vulcão em plena atividade. Puxei rápido
seu corpo para baixo do meu e beijei sua boca atrevida
que ria e gemia na minha.

— Gostosa, toda minha, meu anjo, minha perdição.


— Falava entre um beijo e outro.

— Mai!? Maia!?...

Parei sobre a Maia escutando Celina chamar cada


vez mais perto.

— José, sai de cima de mim, vai pro banheiro com


esse pinto duro desse jeito, anda!

Roubei mais uns beijos antes de correr para o


banheiro e ouvir o meu amor respondendo.

— Oi, princesa, vem cá, a Mai está deitada.

Beijei muito a minha princesinha, deixei-as na cama


vendo alguma coisa no Ipad e fui conversar com meu filho.
Bati na porta do quarto.
— Thomas?

— Entra.

— Bom dia, filho!

— Oi.

— E aí, vamos me ajudar com os preparativos para o


churrasco? Daqui a pouco estão todos aí.

— Você nunca fez churrasco na nossa casa.

— Essa é a nossa casa Thomas, e você sabe que


fazer um churrasco em casa não era uma opção para a
sua mãe. Filho, convida seus amigos, aproveita o que
nunca tivemos. Você gosta de churrasco, sempre curtiu na
casa dos seus avós, dos seus padrinhos.

— Não gosto mais.

— Filho, você precisa entender que as coisas


mudam, você se esqueceu como minha situação com sua
mãe estava insustentável?

— Mas ela prometeu que iria mudar.

— Como? Transando com o primo dela todo dia? —


perdi a paciência. — Desculpa, você não tem nada a ver
com isso. Acontece, Thomas, que minha separação com a
sua mãe não pode ser a prioridade na sua vida. Você
continua tendo mãe e pai.

— Acho que só pai, porque minha mãe nunca vai me


perdoar por eu ter ficado com você e com a sua amante.

— Maia não é minha amante, nunca foi. Nunca mais


fale isso, eu exijo total respeito.

— Você ainda está casado com a minha mãe.

— Mas já não morávamos mais juntos quando


comecei a namorar a Maia. Ela nunca foi minha amante.
Você me disse que falou com sua mãe depois daquele dia
horrível, por que acha que ela está com raiva?

— Porque ela mesmo disse, ela falou duas vezes


comigo, ela estava triste, decepcionada, eu não deveria
ter deixado ela ir embora sozinha.

— Ela que te disso isso?

— Mas nem precisa, eu deveria saber, ninguém


nunca vai me amar como ela me ama.

— Meu filho, eu te amo.Eu te amo mais do que


qualquer coisa. E ela também te ama, está chateada, mas
tenha certeza de que vai passar. O amor de mãe, o amor
que ela sente por você não vai desaparecer, não deixará
de existir.
— Deixará sim, ela não ama a Celina como me ama.

— E você acha isso certo, filho? Sua irmã tem seis


anos, ela é uma criança inocente, nunca fez nada para
não ter o amor da própria mãe. Isso não te diz nada? Você
tem exemplos de família, olha sua avó com seu tio e
comigo, olha como a Betina, sua tia, trata os três filhos.
Não é preciso amar mais um doque o outro, nem tratar um
melhor que o outro, eu amo você e sua irmã exatamente
igual.

— Se eu quiser ficar com a minha mãe vai continuar


me amando da mesma forma?

— Claro que sim. — Falei com firmeza, mas meu


coração com certeza havia parado de bombear. — Filho,
não importa qual será a sua decisão, eu sempre estarei ao
seu lado, vou te amar de qualquer jeito, vou estar sempre
com você. Quero que saiba que eu quero muito ter a
guarda legal de vocês dois, e que mesmo tendo a sua
guarda, nunca vou te proibir de ficar com a sua mãe
quando e quanto tempo quiser. Você já tem quatorze anos,
confio em você, sua mãe te ama, mas, e sua irmã? E se
um juiz entender que os irmãos deverão ficar sob os
cuidados do mesmo tutor?A sua decisão tem 90% de peso
nesta disputa, e aí sua mãe vai ficar com Celina só para
me punir, imagina o que sua irmãzinha vai sentir? Mas,
independente de qualquer coisa, você precisa viver, sair
com seus amigos, trazê-los aqui em casa, namorar, distrair
essa cabecinha.

— Tá bom, pai, eu já vou te ajudar, primeiro vou


tentar falar com a minha mãe.

Saí do quarto do meu filho com ainda mais ódio


daquelafilha da puta.
Maia estava linda em um vestido bege soltinho e
rabo de cavalo, Celina estava praticamente igual, um
vestido da mesma cor e muito parecido, também usava
rabo de cavalo.

— Você está linda e gostosa, da vontade de te


arrastar para o quarto toda vez que te olho.

— Se comporta e me ajuda, leva essas duas


travessas lá para fora.
Sem sombra de dúvidas foi o melhor dia da minha
vida, minha filha corria solta pelo quintal, pulou na piscina
sem receios ou medos, minha família estava curtindo estar
na minha casa, meu filho estava se divertindo jogando
baralho com o avô e os primos. Ele era realmente muito
bom, e vê-lo sorrir me surpreendeu, já fazia algum tempo
que não o via demonstrar alegria.

Meu irmão era o mestre dos drinques, já estava


ficando bêbado, minha cunhada já estava, e até a minha
mãe ria e fala besteira, meio chapadinha.

— Maia, você não gostou dos meus drinques?

— Eu amei, André, a melhor caipirinha de morango


que já tomei na vida.

— Então vou fazer outra pra você. — Meu irmão


gritou, os drinques dele eram ótimos, tanto que cada vez
que preparava um para alguém, preparava outro para si
mesmo. Ele era o primeiro a dar PT.

— Não precisa, André, estou bem por hoje.Já bebi


duas.

— Pelo amor de Deus, Maia, você passou o dia todo


para beber duas caipirinhas. —Betina falou inconformada.
— Vem, você precisa ficar bêbada na primeira reunião de
família na sua casa. — Maia riu.
— Eu nunca fiquei bêbada na minha vida, e se eu
não gostar?

— Ah! Não acredito... Preciso resolver isso urgente.


— Meu irmão saiu de trás da ilha onde estava preparando
os drinques e andou até Maia. Ela realmente nunca bebia
muito, mas não sabia que nunca havia ficado bêbada. Nem
precisei intervir.

— Nem pensar, volta aqui André. Deixa a minha


norinha em paz. — Minha mãe obrigou André voltar para
onde estava e fazer um drinque para ela.

Ninguém tinha condições de ir para casa dirigindo,


achei que meu pai estava bem, mas quando se levantou,
concluiu:

— Acho que não foi uma boa ideia ficar biritando


sentado.

Meu pai se juntou a nós no balcão e já que tudo


estava perdido, resolvemos beber sem moderação. Meu
pai olhou para os netos sentados em uma mesa rindo de
alguma coisa no celular, para Celina e Bela que estavam
entrando em casa com a Maia. Me abraçou emocionado:

— Filho, pensei que você nunca seria feliz, como eu


pedi a Deus para te trazer felicidade e paz.
Meu irmão passou a camiseta no rosto para limpar
as lágrimas.

— Cara, você era tão infeliz, era tão triste olhar para
meu irmãozinho e não ver nenhuma alegria, nem
perspectiva de ser feliz. Não gostava de vim para cá,
pergunta para Be... Era doído ver o seu sofrimento, e você
agir como se tudo aqui fosse normal. A última vez que te
vi assim, rindo e feliz igual bobo, foi quando comeu aquela
debutante, filha da amiga da mamãe, no meio da festa no
quarto dos pais dela. Lembra?

Todo mundo começou a rir, minha mãe até cuspiu a


bebida que estava em sua boca.

— Minha amiga nunca mais falou comigo. — Rimos


ainda mais.

Betina já não conseguia levantar o copo. Maia havia


entrado com as meninas e já fazia bastante tempo...
Mesmo com minha embriaguês, fiquei preocupado com
ela, até que voltou para o ambiente em que estávamos.—
Amor, ande você estava, sumiu há horas?

— José, tem vinte minutos que entrei para colocar a


Celina para tomar banho, e arrumar um lugar para Bela
descansar. Já arrumei os quartos para todo mundo. Bela
vai dormir com a Celina.
— E o Thomas vai dormir com o Matteo,
agarradinhos. — Gabriel sempre provocando o irmão e o
primo. Matteo não perdeu tempo em devolver:

— E o Gabrielzinho está com ciúmes, vai ir dormir


chorando.

Thomas fechou a cara e não respondeu, não


brincou, nem olhou para os lados. Assim que a partida de
baralho que estavam jogando acabou, ele se levantou e
entrou, em seguida os meninos também entraram.

Ficamos os três, Maia se encaixou no meio das


minhas pernas e passamos mais algumas horas com toda
minha família deletando malfeitos meus desde quando eu
era um espermatozóide. Maia ria tanto, mais tanto, que
até lágrimas escorriam por seu olhos.

Com certeza, foi o melhor dia da minha vida.

Quando acordei minha mulher não estava mais na


cama, mas havia um copo com suco, que talvez fosse de
cenoura com limão, e comprimidos,.Nem sei para o que
era, mas engoli mesmo assim... coloquei tudo para dentro.
Depois que tomei um banho, estava me sentindo um pouco
gente. Ao entrar na cozinha senti o cheiro maravilhoso de
café, bacon e ovos.

Maia estava na mesa com Bela, Celina, meus


sobrinhos e Thomas. Nem acreditei.
— Bom dia, família! — Falei ao entrar e todos
responderam em uníssono, minha cabeça pareceu que
explodiria. Tive que dar um passo para trás, e os pestes
começaram a rir. — Bom dia, dona Rita, a senhora está
vendo como esses torturadores são cruéis?

— Bom dia, senhor José! Estou vendo, são terríveis,


não é mesmo? — Piscou para as crianças na mesa.

— Bom dia, meu amor! Tomou os remédios que


deixei para você?

— Tomei, obrigada. — Dei um beijo casto em sua


boca. — Já tomou café?

— Ainda não, só servi as crianças. Sua mãe acabou


de vir aqui e voltou para acordar todo mundo.

Peguei uma xícara de café e me sentei ao lado de


Thomas.

— Que horas acordaram? — Perguntei para todos,


para não deixar Thomas deslocado, ele nunca acordava
cedo e não vinha para a mesa até ser obrigado.

— Celina e eu acordamos era umas nove horas. —


Bela respondeu. — Quando saímos do quarto, tia Maia já
estava aqui preparando o café com a dona Rita.

— E vocês, meninos?
— Eu, quase no mesmo horário que a Bela. —
Gabriel falou. — O Matteo, a tia Maia pediu para eu
chamar, enquanto ela ia chamar o Thomas.

Olhei para Maia, espantado e com muito orgulho.

— Eu já estava acordado. Ela só me obrigou a vir


tomar café.

— Mas você gostou do pão quentinho, você não ia


gostar de perder a especialidade da dona Rita!

Ele deu de ombros, mas não discordou. Eu, a cada


dia, me apaixonava mais por essa mulher.

As crianças saíram da mesa, Maia ajudou dona Rita


trocar todas as louças e sentou-se ao meu lado, meu
irmão foi o primeiro a entrar, gritando!

— Puta que pariu, filho da puta, vai gritar no ouvido


da sua...

— Filho da puta, não, xinga o seu pai! — Minha mãe


falou furiosa para mim.

Só ergui as mãos. Não achei uma boa ideia xingar o


meu pai. Quando o corpo de Betina entrou na cozinha,
todo mundo riu. Ela colocou o dedo indicador na boca
pedindo silêncio e falou sussurrando.
— Por isso eu disse para você não beber, Maia... por
isso. Nossa alma, o espírito, eles te abandonam sozinha.

— Você viu que eu deixei comprimidos analgésicos e


garrafas d’água ontem à noite ao lado da sua cama?

— Eu vi, por isso estou ótimo, cunhada você foi


perfeita. Ontem, na hora que fui deitar eu vi e já tomei um,
de madrugada acordei, e tomei o outro.

— Eu não vi nada! —Betina falou chorosa. Maia


levantou, pegou um copo de suco e dois comprimidos,
fez-la beber.

— Você vai ficar boa já, já, tenho experiência em


cuidar de irmãos bêbados...

Ela se arrependeu de falar e parou. Minha mãe


imediatamente falou do cheiro da comida e perguntou para
ela o que era.

— Gentemmmmmm! Lembrei de uma coisa! Ai, meu


Deus...

Todos nós ficamos olhando para a Betina com o seu


rompante.

— José contou que Maia está gravida?

Foi um tal de: “é mesmo?”“Verdade?”“E aí?”“Está


mesmo?”
Maia me olhava sério.

— Meu Deus, José, imaginei de tudo, menos que


você fosse fofoqueiro. — Maia falou brava.

— Eu não era. — Todo mundo começou a rir.

— Então é verdade?

— Não, não é verdade.

Ninguém estava entendendo nada e percebi que


Maia não falaria, então expliquei da mulher maneira que
consegui o que estava acontecendo.

— Os testes que deram negativo.

— Ah... A chance de ser um atraso é muito grande,


principalmente por conta de todos os acontecimentos. —
Minha cunhada lamentou.

— Foi exatamente o que a Carla falou.

O dia foi maravilhoso e nos comportamos como


gente civilizada, ninguém ficou bêbado. Maia ajudou no
almoço e tudo saiu como ela queria. Mesmo estando tudo
perfeito, após comermos foi a hora das despedidas, meu
irmão viajaria a noite para Porto Alegre. Bela chorou,
porque odiava a cidade que morava e amava Celina, que
chorou porque não queria que Bela fosse embora. A
diferença de todas as outras vezes é que ela ficava
grudada em Betina o tempo todo, e era uma tortura para
Betina ir embora, pois Celina não soltava seu pescoço.
Desta vez ela chorou, abraçou todo mundo, e foi para o
colo da Maia. Abraçou o pescoço da minha mulher até que
dormiu. Sem todo o sofrimento de sempre.

— Vou colocá-la na cama.

— Ela não vai dormir a noite.

— Mas ela está cansada tadinha.

Maia saiu com Celina nos braços e eu fui atrás de


Thomas para ver se ele queria jogar um pouco de vídeo
game comigo, ele não quis, mas me chamou para uma
partida de baralho.

— Sabe que se você ganhar é porque eu deixei.

— Claro — concordei e sorri. Continuei...

— Amanhã, o pai vai na escola, vou ver como a


situação do mestre das cartas está, e dizer que você já
tem um futuro garantido na poker star. — Ele riu.

Mas como nada é perfeito na vida real, chegou uma


mensagem, e era a filha da puta.

Leila 15h30
Até quando vai fugir das suas responsabilidades? O
que você está fazendo comigo e com os

meus filhos é desumano, separar os filhos de uma


mãe é o pior dos pecados. Você não pode

tudo só porque é rico, José. Existe uma lei, vou lutar


pelos meus filhos, eu acredito na justiça.

Perdi o foco. Como ela pode ser tão dissimulada? O


que ela acha que conseguirá com isso?
Seu Otávio havia dito que não era para eu responder
absolutamente nada, que com certeza, ela estava
blefando. E foi o que fiz, ignorei-a, toquei minha vida,
mesmo estando muito preocupado com toda essa situação.
Infelizmente tive que ir para Careaçu, deixei acordado com
Otávio que daria instruções para Samuel agir sem a minha
presença.

Antes de sair, sentei e conversei com Thomas, Maia


e Celina. Estava muito preocupado, mas precisava
resolver as coisas lá para não precisar ir sempre.
Cheguei em Careaçu e fui direto para uma reunião,
assim que terminou liguei para Marcos.

Sentei no bar da praça e esperei que ele chegasse.


Marcos sentou na minha frente sem dizer uma palavra.

— Maia está bem, está chateada, mas vai passar.


Não te chamei aqui para tentar me justificar nem
desmentir ninguém. Mas quero que me perdoem. — Ele
não esperava por essa. — Não sou perfeito, muito longe
disso, mas nunca foi a minha intenção causar tanta dor
para Maia e para todos vocês. Acredite, eu também estou
sofrendo. Gosto verdadeiramente da sua família, quero
fazer parte dela, quero que meus filhos façam parte dela
também, não pela Maia, por mim. E gostaria muito de
poder ir falar com seus pais.

— Tenho certeza que Maia está bem. Ninguém é


perfeito José, toda família tem seus demônios. Mas meus
pais já têm uma certa idade, eles acharam que Maia
jamais...

— Escolheria ficar comigo? — Meu cunhado me


olhou impaciente por eu tê-lo cortado.

— ...tomaria uma decisão tão séria sob pressão e


por impulso. Maia sempre foi determinada, mas muito mais
cautelosa. Minha mãe está revoltada, mas meu pai,
coitado, está morrendo por dentro. Tenho certeza de que
se arrependeu amargamente pelo rompante que tomou em
colocar ela na parede. Eles foram contra tudo o que a
ensinaram a vida toda. Estão preocupados principalmente
pelo desequilíbrio da mãe dos seus filhos, mas com toda a
certeza, eles também estão orgulhosos. Maia foi criada em
um cabo de guerra. A sufocávamos de proteção, e em
seguida tentávamos fazer com que ela entendesse que o
mundo não era como na nossa casa, que as piores
pessoasescolhiam sempre a vítima mais frágil, pessoas
facilmente manipuláveis. E sempre tentamos fazer com
que ela não fosse essa pessoa.

— E fizeram um trabalho impecável, perfeito para


dizer a verdade, ela é forte, se impõe, e com certeza, Maia
não tem uma célula manipulável em seu corpo.

— Percebemos, nem os próprios pais conseguiram


manipulá-la.

— Preciso conversar com eles.

— Não é o momento, eles não vão te ouvir de forma


alguma. Com certeza, Maia ficaria ainda com mais raiva
por eles ouvirem você, sendo que não quiseram ouvi-la.
Eu mesmo tentei falar com ela, liguei no mesmo dia que
saímos de lá. Ela bloqueou a todos nós, cortou qualquer
tipo de comunicação. E é exatamente o que ela deveria ter
feito. Nós erramos, todos nós, ela precisava da gente ali,
de apoio, mesmo que fosse apenas na frente dos outros.O
que meus pais sempre nos ensinaram foi de não
enfraquecer a família na frente de ninguém. Depois nos
resolvemos, colocamos a verdade em pratos limpos e
apenas entre nós. E o que fizemos com a nossa
caçulinha? Estou com vergonha de encará-la. Eu deveria
ter ficado, deveria ter escutado o que ela queria dizer,
mesmo que fosse para discordar. Mas como tudo em
minha vida, nunca faço o que quero.

Com certeza Marcos estava desabafando.

— Você foi corajoso em chutar o balde e correr atrás


da sua felicidade, José.

— Marcos, eu tentei várias vezes, sempre soube que


não era ali que estava a minha felicidade e a dos meus
filhos. Mas sempre voltava atrás nas primeiras
adversidades. Tenho certeza que se não tivesse conhecido
a Maia, teria desistido mais uma vez. Nunca é tarde para
nada. Você só precisa de uma motivação.

Talvez ele não fosse feliz no casamento, ou


trabalhando ao lado do pai na empresa da família, ou
tantas outras coisas, mas ele estava tentando tomar
coragem para mudar alguma coisa em sua vida.

— Marcos, eu vou fazer o que for preciso para nossa


família se reintegrar.

— Pode contar comigo. Mas precisa agir no


momento certo.
Enquanto estava em Careaçu, falava o tempo todo
com as crianças e com Maia, ela estava conseguindo lidar
muito bem com os dois.

Resolvi tudo o que precisava na fábrica e na casa


que estava morando com os proprietários, e depois de
tudo certo, peguei toda a papelada necessária, e na
quarta-feira ao meio dia, voltei para São Paulo. Tínhamos
uma reunião muito importante com Lize e Samuel, mas
faria on-line. Não aguentava mais de saudade da minha
mulher.

Mal consegui dar atenção para eles ao chegar e fui


para o escritório me conectar à reunião, que se prolongou
até tarde. Quando finalmente terminou, as crianças já
estavam dormindo. Aproveitei para conversar com Maia.

— Conversei com Marcos.

— Hum.

— Maia, precisamos fazer as coisas voltarem ao que


eram, meu amor.

— Conheci a professora da Celina, ela é um amor.

— Tudo bem, vamos falar sobre isso em uma outra


hora, mas antes de falar sobre a professora da Celina,
preciso que venha até o escritório comigo.
Entreguei-lhe um documento para que lesse e
quando ela terminou a primeira página, me encarou
esperando alguma explicação.

— Antes de te explicar, dá uma lida neste também.

— José! Pra que isso assim com tanta pressa?

— Preciso que assine o contrato das duas casas, te


expliquei no dia que assinou a papelada da sua conta. É
apenas para ficar resguardada, agora essa casa é
unicamente sua e a de Careaçu também. Podemos passar
mais tempo lá nas férias das crianças. E Maia, tem mais
algumas coisas que preciso que você assine, vou te
explicar tudo direitinho. — Ficamos até tarde resolvendo
assuntos seríssimos. E só então, conseguimos nos curtir.

No dia seguinte, mesmo com muito trabalho na


empresa, não deixava minha mente se desligar da minha
mulher. Olhei no relógio num dado momento e me dei
contra de que naquela hora, provavelmente, Maia estava
pegando Celina na escola. Liguei imediatamente para ela.

— Alô!

— Oi, meu amor, vem você e a Celina almoçar


comigo aqui na empresa?

— Claro, amor! Daqui a pouco estaremos aí!


Não demorou muito e minhas princesas chegaram,
apresentei dona Catarina para Maia, também mostrei
minha sala e subimos para o terraço a fim de almoçar;
Celina adorava correr pelo espaço.

— José, esse lugar é lindo, nem parece que estamos


no meio de São Paulo com esse tanto de árvores, e o que
é esse lago com fonte?

— Realmente,estar aqui é como nos desligarmos do


mundo exterior. Bem ali, olha... — Apontei para um avião
que pousaria muito próximo de nós. — É o aeroporto
Campo de Marte.Parece que estamos à cinco minutos de
distância?

— Com certeza, não. Outra coisa, senhor José. —


Falou serrando os olhos e ficando ereta como quando
ficava brava. Olhou para Celina que estava sentada
observando os peixinhos na fonte. — A DONA Catarina
que escolhia até os seus lençóis, não é tão dona assim.
Toda malhada, simpática demais, prestativa demais,
eficiente demais. O que mais ela fazia para você?

— Meu amoooor. — Celina correu para o colo da


Maia.

— Mai, eu posso tomar sorvete? — Pediu com as


duas mãos no rosto da mulher mais linda do mundo, da
minha mulher, meu amor.
— Pode, mas sentadinha aqui para não se sujar,
nem sujar nada.

Agradeci mentalmente a Deus e pedi para que Maia


esquecesse essa história, eu não podia ficar sem
secretária neste momento, e não queria ter que mentir
para ela.

— E a Natalia, já está trabalhando aqui?

— Já, vou levar vocês lá quando sairmos daqui. Lize


e Otávio não vieram trabalhar na empresa hoje. Mas vou
marcar para eles irem lá em casa.

Maia convidou Natalia para ir em casa no sábado.


Seria bom ela conversar com uma colega, alguém que
se familiarizasse.

No dia seguinte, era dia de almoçar com Thomas, e


depois irmos para a psicóloga. Conversei com a Elaine, a
terapeuta, expliquei minha nova realidade, conversamos
muito, e ela não tinha boas notícias.

— Filho? Como foi os dias com Maia e Celina em


casa?

— Não gosto dela.

Fiquei olhando para ele sem entender, Thomas não


demonstrava não gostar de Maia.
— Você tem algum motivo, preciso saber de alguma
coisa?

— Ela quer ser nossa mãe, ela pode ser a sua


mulher, mas ela nunca será a minha mãe.

— De repente ela só quer ser amiga de vocês. Você


já se deu conta que ela está sozinha aqui, que ela só tem
a gente?

— Ela só tem você.

Não queria de forma alguma brigar com Thomas por


causa da Maia, não daria motivo para ele não gostar dela.

— Vou prestar atenção, se você se sentir


incomodado com qualquer coisa pode falar com o pai, tudo
bem? — Ele ficou me olhando como se eu fosse um louco,
e balançou a cabeça afirmativamente.

— Você conversou com a sua mãe essa semana?

— Falei, ela disse que no fim de semana vai vir


buscar Celina e eu.
Depois que Thomas disse que a mãe viria pegá-los
no fim de semana, José ficou uma pilha de nervos. Na
sexta-feira à noite depois do jantar tentei conversar com
ele:

— José, fica calmo, se ela não veio até agora, não


vai vir, ela está tentando te desestabilizar.

— E está conseguindo. Thomas estava até bem, mas


viu como ele ficou porque ela não apareceu? E Celina não
quer ir de jeito nenhum. Se eu impedi-la de levar os filhos
será um trunfo na justiça.
— Pai, pai...

— Thomas, estou na sala.

José sentou no sofá e esperou, Thomas entrou com


o rosto todo vermelho, com certeza tinha chorado, mas
estava tentando disfarçar.

— Pai, tenta achar a minha mãe, ninguém sabe onde


ela está.

— Ninguém quem, Thomas?

— Minha avó, meu tio, ninguém.

— Ligou para o Antônio? — José foi intransigente.


Thomas ficou parado olhando para ele sem nenhuma
reação, os dois se encaravam, José levantou do sofá
encarando o filho nos olhos. — Você não é mais criança
Thomas, ou é? O que você quer? Quer que eu saia
procurando a sua mãe para lembrá-la que ela tem filhos?
— José estava perdendo a paciência. — Fala! O que quer
que eu faça, quer que o corno aqui vá na casa do seu
priminho achar a puta da sua mãe?

— José?! Não...

— Não, Maia, sem intervenções, Thomas está


querendo me culpar pela mãe que tem. Mas ele não tem
mais seis anos. — Ele apontou o dedo no rosto do Thomas
com raiva. — Nada, nada! Ouviu? Nada, nem ninguém me
faz esquecer que eu tenho dois filhos e cumprir com as
minhas responsabilidades de pai. NUNCA! Não ouse me
culpar por quem aquela filha da puta é!

Ele virou as costas e saiu, deixando Thomas e eu


imóveis e sem reação na sala.

— Thomas, seu pai está nervoso com essa situação,


meu amor.

— O que você sabe? Acha que sabe de tudo? Acha


que é melhor que alguém?

— Acho que você acha que eu sou melhor que


alguém. E você acha isso porque eu realmente sou. —
Encarei-o de frente, não estava com raiva, mas não ia
deixar que ele se sentisse no direito de descontar suas
iras em mim. Não desviei o olhar, nem ele. — Não admito
que me desrespeite. Se acha que vai descontar a raiva do
mundo em mim está enganado. Exijo respeito. — Ele
abaixou a cabeça e me deu as costas, dando de cara com
o pai que havia voltado assim que Thomas gritou comigo.
Passou por ele e foi para o seu quarto.

Caminhei até José e o abracei, ele passou os braços


pelas minhas costas enfiando os dedos em meus cabelos.

— Me perdoe, meu anjo? Você não precisava passar


nada disso.
— Precisava sim, sou sua mulher e vamos passar
por isso, juntos. Você só não pode perder a paciência.
Olha, eu vou tomar um banho enquanto você vai conversar
com Thomas.

— Não vou ir conversar com ele, não falei nada do


que não gostaria. Não posso passar as mãos na cabeça
dele o tempo todo, ele já tem quatorze anos e está
tentando arrumar um culpado, ele tem que entender que
sou pai dele, não vou deixá-lo me manipular. Vem, vamos,
que dou esse tal banho em você, e ainda faço uma
massagem bem gostosa.

Acordamos cedo no dia seguinte, José saiu com


Thomas, aprontei Celina como uma princesa sem fantasia
e fui ajudar dona Rita no almoço.

— Não precisa dona Maia, Marta deixou tudo


cortado. Não precisa se preocupar com nada.

Marta estava de folga, era a ajudante da dona Rita.

— Cadê a nossa princesinha?

— Está atrapalhando o serviço da Dulci em algum


lugar. — Dulci era a arrumadeira. E também havia
contratado uma faxineira e o jardineiro com a ajuda e
olhos clínicos da dona Rita. Só não contratei nenhum
babá. Mesmo José achando que era extremamente
essencial.

— Senhor José já desistiu de convencê-la a


contratar uma babá? — Dona Rita perguntou.

— Ainda não. Mas não acho necessário por


enquanto.Ele acha que podemos querer sair a noite, ou
que eu queiria fazer algo sem ela.

— Já falei que fico com ela em qualquer momento, já


durmo aqui todos os dias, e a dona Dulci também já falou
que adora ficar com ela.

Dona Dulci também dormia no serviço, mas as


ajudantes de ambas, Marta e Cida, iam para casa todos os
dias. Eu estava completamente satisfeita com elas. Não
precisava de mais uma babá.

A campainha tocou, hoje era o dia que Natalia viria


me fazer uma visita. Fui recebê-la na porta.

Olhei aquele carrão, e quando o homem desceu e


abriu a porta para ela todo sedutor, o reconheci.

— Oi, Natalia. — Dei um abraço nela e outro em seu


filho. — Oi meu amor, como você está lindo, Valtinho.

— Oi, Maia. — Ela se virou para o homem—


Obrigada, Valter, nem sei como agradecer.
— Venho buscá-la, a hora que quiser. — Ele apertou
a mão do menino e disse: — Cuida da mamãe.

Ela ficou vermelha, agradeceu e entramos.

— Menina, esse é o segurança da Lize, ele é um


gato. Vocês estão...

— Não, pelo amor de Deus, Maia! Graças a Deus


você está aqui. Como é bom ver um rosto familiar. Está
tudo muito bom, não posso reclamar de nada, mas às
vezes tenho tanto medo.

— É normal, eu também tenho. Pera aí, vou chamar


a Celina para conhecer o Valter.

Celina veio correndo, sentamos no sofá ela ficou no


meio das minhas pernas como sempre.

— Celina esse é o Valter, ele é filho da Natalia,


amiga da Mai.

— Você quer brincar comigo?

— Quero. Posso mãe?

— Claro, filho.

— Vocês podem pegar alguns brinquedos para


brincar lá fora.
— Maia, que casa é essa, é maravilhosa.

— É linda, né? Me conta, como está a adaptação


aqui em São Paulo, no trabalho?

— Estou totalmente assustada para dizer a verdade,


tenho tanto medo de não dar conta do trabalho, preciso de
ajuda para fazer quase tudo, não sou capacitada para a
vaga. Aqui é tudo tão bom que não quero perder, Lize é
muito séria, ela é extremamente profissional, sabe? Nem
consigo acreditar que ela só tem dezenove anos e é
excelente para ensinar. Estou amando. E José é quase
Deus lá dentro. Dizem que ele manda até no Otávio. —
Rimos.

— Mas está faltando algo nesta história. Agora você


tem motorista?

— Nem me fala, Maia. Valter está me deixando


louca. Ele é tão cavalheiro, simpático, prestativo... Igual o
pai do Valtinho era... — falou triste.

— Natalia, não pode achar que todos os homens são


iguais aquele imbecil.

— Eu sei, mas é que acabei de chegar aqui, não o


conheço, não sei absolutamente nada sobre ele. Ele é tão
decidido, mas nunca ultrapassou meus limites. Ele é tão
sedutor. Está conquistando o Valter e os dois ainda tem o
mesmo nome. Ele fica dizendo que é um sinal de Deus. Eu
sou tão carente disso tudo, tenho medo de quebrar a cara.

— Eu estou aqui agora, você não está sozinha. E se


quiser conhecê-lo, vá com calma, deixa o Valter aqui
comigo, ele pode dormir aqui quando quiser.

— Nem acredito que você está aqui. Agora é a sua


vez, você disse que me contaria como tudo aconteceu.
Pode começar, sou toda ouvidos.

— Precisamos de uma bebida.

— Uau... Agora fiquei curiosa.

Já tínhamos tomado várias cervejas, Natalia ficou


chocada com o que aconteceu comigo.

José chegou com Thomas, almoçamos em um clima


maravilhoso, Celina e Valter estavam se dando
maravilhosamente bem.

Fomos para o bar da piscina e José fez uns drinques


para nós.

— Fiquei sabendo que está se saindo muito bem,


Natalia.

— Sério? — Natalia perguntou toda animada.

— Sim, só ouvi elogios, parabéns.


— Graças a Deus, estou muito feliz com essa
oportunidade. E você, Maia, está pensando em trabalhar
aqui em São Paulo?

José me olhou esperando a resposta.

— Não, por enquanto não quero trabalhar, quero me


encontrar aqui, cuidar de casa, da Celina.

— E de mim, se isso não for trabalho, não sei o que


é. — José falou rindo. Ele ficou por ali o tempo todo nos
dando atenção. Brincou com as crianças, fez mais
caipirinhas. Conversou bastante com a Natalia sobre o
funcionamento da Dantas Dellatorres.

No fim da tarde, Natalia disse que iria embora, as


crianças começaram a reclamar pedindo mais um pouco.

— Tia, deixa o Valtinho dormir aqui na minha casa, a


Mai é boazinha.

— Eu sei que ela é, princesa, ela é muito boazinha,


sempre foi. Sabia que eu conheço a Maia desde que ela
era do seu tamanho?

— Sério? — Até eu olhei para ela.

— Sim, ela era a menina mais linda da escola, de


trancinhas. Ela parecia uma princesa, igual a você.

Celina ficou toda sorridente.


— Então, ele pode dormir aqui, né?

— Outro dia ele dorme, não trouxemos nada para ele


ficar hoje.

— Mas...

— Nada de mais, Celina, vem cá. Diz para tia


Natalia, que tudo bem, que ele pode vir quando quiserem.
— Abracei a minha princesinha de frente para Natalia a
incentivando falar o que pedi. E ela disse bem murchinha,
mas disse.

Natalia olhou o celular, e achou uma coisa estranha.

— Olha para você ver como ele é preocupado. — Ela


me mostrou a mensagem que dizia que ele mandaria
alguém vir buscá-la, que de jeito nenhum era para ela
inventar de ir embora sozinha, que teve um problema no
trabalho.

— Está vendo como ele é atencioso? Eu estou


ferrada.

— Ou não. Mas vocês nunca ficaram?

— Não, nunca, mas ele às vezes chega tão perto,


mas tão perto, que eu sinto que vou derreter.

Caímos na gargalhada, olhei para José que estava


parado no meio do quintal, sério, falando com alguém ao
telefone. Espero que não seja problemas com a louca.

— Diz para ele que meu motorista vai te levar, para


ele não se preocupar. Vou pedir para o José mandar
alguém levá-la.

— Não precisa, Maia, eu peço um UBER.

— De forma alguma, você mora longe. Faço questão.

Assim que José se aproximou pedi para que


providenciasse alguém para levá-la. E logo depois que ela
e Valtinho foram embora, perguntei o que tinha deixado-o
preocupado. Estávamos na cozinha fazendo um café.

— Nem estou acreditando, Ramon que me ligou,


perguntando se eu estava sabendo de alguma coisa.

— Alguma coisa o quê, José? — Ele coçou a cabeça


pensativo.

— Não sei direito, mas parece que apareceu uma


mulher que Otávio teve um relacionamento; quer dizer,
nem isso, nada oficial. Otávio nunca teve ninguém
oficialmente, só a Elizabeth. Mas enfim, essa tal mulher
chegou hoje na casa dos pais dele e disse que está
grávida.

— O que? Meu Deus, José! Que loucura... Coitada


da Lize. Você conhece a mulher?
— A que está dizendo estar grávida? — Balancei a
cabeça afirmativamente. — Sim, sempre foi um problema
em potencial.

Coloquei uma xícara de café para ele, peguei a


minha e me sentei à mesa. Não quero nem imaginar o que
vai acontecer. Elizabeth tem uma personalidade muito
forte, ela tem dificuldade de lidar com os sentimentos, a
família de Otávio e ele mesmo, estão tentando
arduamente fazer com que ela se torne uma pessoa mais
acessível. Lize tem traumas que trouxe de uma infância
muito difícil, vivenciou situações bastante complicadas no
abrigo em que cresceu e pelos lares que passou.

Fiquei boquiaberta com o que José falou. Ele


percebeu e começou a me explicar tudo.

— Meu celular está tocando. — José falou tirando o


aparelho do bolso da calça. — Porra! Fala.

Nem precisou falar nada para eu saber quem era.

— Então, amanhã você quer pegar os “seus” filhos?


Claro, sem nenhum problema, estava mesmo pensando
emir viajar com a Maia e meus pais não estarão na cidade
durante a semana.
Reagi na mesma hora, negando enfaticamente com a
cabeça. Não iria viajar e deixar Celina, a menina não
queria ir com a mãe de jeito nenhum. Fora que eu mal
havia conseguido colocar a casa em ordem ainda. Não
tinha a possibilidade de José conseguir me tirar dali. Não,
não e definitivamente, não!

— Não, ainda não contratamos uma babá e talvez


nem iremos contratar. Eles estarão prontos às nove horas
em ponto.

— Por que fez isso? — Esbravejei. — Você sabe que


a Celina não quer ir. Eu não vou com você para lugar
nenhum! — gritei.
Estava impressionado com o amor que Maia e
Celina desenvolveram uma pela outra em tão pouco
tempo. A preocupação da Maia era de uma mãe, uma mãe
de verdade. Fui atrás dela no quarto para me explicar.

— Maia? Não precisa ficar preocupada, ela não vai


vir, ou pelo menos não vai pegar a Celina. Tenho certeza.
Maia, coloquei uma equipe dos melhores detetives que
encontrei para segui-la, não deixar nada, nada passar
despercebido. Ela está com problemas com o primo, seu
amante, eles estão brigando, ele está namorando com
outra pessoa e Leila está louca. Não veio buscar as
crianças na sexta-feira porque estava atrás do cara, que
tinha sumido com a tal namorada. Ela não tem tempo para
os filhos, ela quer brigar, quer que eu brigue, mas a
estratégia do seu Otávio é o oposto. Ela nem acreditou
quando eu disse que tudo bem. Leila nunca cuidou da
Celina; ela brigou com a cunhada, com a prima, a mãe não
está bem de saúde, para quê ela vai vir buscar a menina?
Confia em mim. Eu jamais deixaria minha pequena em
uma situação ruim com aquela louca.

— A pequena está mais para minha do que sua. Ela


já me adotou, não percebeu?—Maia falou, jogando os
braços nos meus ombros. Eu a ergui pela bunda e ela
passou as pernas em torno do meu quadril.

Às nove horas, Maia estava terminando de dar


banho na Celina, e eu fui acordar Thomas para saber se a
mãe falou que viria buscá-los. Combinei com Ramon de
almoçarmos juntos.

— Thomas, levanta filho, precisa tomar café, vamos


sair. — Ele sentou na cama e não disse nada. — Estou te
esperando na cozinha.

Fui falar com Ricardo, ele recebia todas as


informações dos investigadores.

— Onde ela está?


— Em casa, senhor José. Antônio chegou lá por
volta da meia noite e trinta e não saiu ainda.

— Tem imagens?

— Sim, temos tudo.

— Ótimo. Quero ser avisado imediatamente quando


eles saírem de lá.

— Pode deixar, senhor José.

Pelo que conversei com Thomas ele não tinha


ciência que a mãe viria, como havia imaginado. Não ficaria
esperando por ninguém e mesmo se ela viesse não
deixaria que levasse Celina. Assim que saí do quarto de
Thomas Maia me perguntou:

— E aí, José, Thomas sabe onde está a mãe?

— Não, nem que supostamente vinha buscá-los. Não


se preocupe, termina de se arrumar e vamos encontrar
meus amigos. Eles estão nos esperando.

Encontramos com o trisal – Carla, Larissa e Ramon


– e Milena na casa nova da família.
— Quando vocês pretendem mudar?

— Vamos fazer uma bela de uma reforma, primeiro.


A equipe é boa, mas sabe como é, não dá para dar um
prazo exato.

A casa era muito gostosa. Uma ampla e


aconchegante área de lazer. Jogamos bilhar. Carla
contratou um restaurante para o almoço e uma equipe
goumert que ficou a tarde toda servindo bobagens para as
crianças, bebidas entre outras coisas.

Estava na mesa com Ramon conversando sobre o


que havia acontecido com Otávio, quando Carla chegou e
ele perguntou:

— Conseguiu falar com Otávio?

Ela balançou tristemente a cabeça em negativa e se


sentou com a gente. Confesso que ainda era estranho ver
Ramon e Carla como um casal.

— Eu falei desde o início que a Monique era


problema. Mas ele sempre achou que tinha tudo sob
controle. Eu não sei se Lize perdoará isso. Ela ficou muito
puta quando soube que ele bancava Monique, chegou até
cogitar a separação.

— Não quero nem pensar nisso, Otávio não vive


mais sem aquela menina.
— Menina mesmo, dezenove anos. — Ramon disse
admirado.

— É, acontece que Lize é mais madura que nós


quatro juntos.

— Não precisa muito pra isso, né, meu amor? —


Rimos, enquanto Ramon agarrava minha melhor amiga,
confidente e comadre, senti um pouco de ciúme. Desde
que Carla batizou Thomas nunca mais transamos, fizemos
esse acordo de respeito total, ela era a melhor foda que
eu tinha tido até conhecer Maia, não era um ciúme de
cunho sexual, era algo muito maior. Nosso encontro aqui
na Terra, Carla, Ramon, Otávio e eu, era de alma. O
sentimento que tínhamos um pelo outro, o cuidado, não
era um privilégio para muitos.

Quando chegamos em casa e conseguimos ir deitar,


Maia me perguntou sobre Leila:

— José, você precisa tomar uma atitude legal a


respeito desta situação.

— Já está sendo tomada, meu amor. O divórcio


litigioso sai nos próximos quinze dias, e já tenho provas
embasadas para pedir a guarda das crianças, ainda sim,
temos um processo, seu Otávio já tentou de tudo para ela
passar a guarda amigavelmente, mas não deu em nada. —
Aconcheguei Maia no meio das minhas pernas fazendo
carinho em sua cabeça. — Acreditamos que no máximo em
um mês conseguiremos legalizar as coisas, pelo menos
com uma guarda temporária.

— Sei que para a justiça, trinta dias é um prazo


excelente. Mas para nós, que vivemos dia após dia,
parece uma eternidade. Quando você estava em Careaçu,
eu estava com muito medo de que ela aparecesse para
pegar Celina aqui, e principalmente na escola. Eu sei que
ela é mãe, mas Celina tem verdadeiro pânico que ela a
leve. Não sei o que eu faria.

— Eu sei o que você faria, e foi por isso que decidi


fazer aquele documento.Sabe que é falho, mas seria um
respiro se você precisasse quando eu estiver longe.

— Eu entendi, José, você sabe qual é a minha


opinião a respeito, mas enquanto não tiver a guarda legal
dela, não adianta de nada.

— Vou conseguir resolver tudo. — Acomodei a mão


em sua barriga, pensativo. Pensei em como seria diferente
criar um filho com Maia, sei que podemos esperar um
pouco mais, mas estou tão ansioso, realmente quero que
ela esteja grávida. — Ela tirou minha mão da sua barriga e
veio se acomodar no meu colo.

— Sabe... acho melhor eu ir dormir, porque amanhã


preciso acordar ainda mais cedo para irmos para a clínica.
— Se esfregou no meu pau, que acordou na hora.
— Dormir? Tenho outros planos para essa bocetinha
gulosa.

E a nossa noite foi maravilhosamente quente.

Deixamos Celina e Thomas na escola e fomos para


a clínica que Carla indicou para fazermos o exame de
sangue e sabera real condição de Maia. Ela quis
aproveitar para fazer uma consulta com uma ginecologista
e alguns outros exames.

— José, você não precisa ir trabalhar?Vou ficar bem.


Ricardo me leva para casa.

— Nem vou te responder, Maia. Até parece que vou


te deixar aqui. Você não está ansiosa?

— Não da forma que você está, nem parece que já


passou por isso duas vezes.

— Nunca passei por isso. Recebi a noticia sobre a


gravidez do Thomas, ela já estava de quase quatro meses,
cheguei em casa e estava Leila, seus pais e os meus,
com uma porrada de exames em cima da mesa, exames de
sangue, ultrassonografia... foi quase como tomar um tiro
de bala perdida, por alguns instantes não soube mais onde
estava, nem quem eu era. E na gravidez da Celina,
estava tentando me separar, pela primeira vez havia
realmente saído de casa, cheguei de viagem para ver
Thomas e de novo, ela me entregou uma porrada de
exames. Nunca participei do processo da dúvida, do
atraso da menstruação, essa expectativa que estou
sentindo agora.

— Você sabe que...

— Maia Azevedo de Castro? — chamaram o seu


nome.

— Vamos, e sim, sei que pode não estar grávida.

Ficamos horas na clínica, quando saímos já estava


na hora de pegar Celina na escola.

— Papai?! — Celina pulou no meu colo feliz da vida


ao me ver ali. — Cadê a Mai? — Abri a porta do carro,
para colocá-la na cadeirinha.

— Estou bem aqui, minha princesinha. — Maia virou


para trás e fez cócegas nas pernas dela, dificultando
prender o cinto de segurança.

— Da para vocês duas se comportarem?

Escutávamos uma música quando o meu celular


começou a tocar e o nome: “Jussara Careaçu” apareceu
na tela do som do carro. Maia me olhou como se fosse me
esquartejar.
— Por que você tem salvo o número do celular dela?
— Perguntou com ódio.

— Anotei naquele dia que você me ligou do celular


dela, para o caso de eu precisasse falar com você e não
conseguisse, meu amor! — Coloquei a mão em sua perna.

— Não coloca a mão em mim.Meu amor, nada! — Ela


tirou minha mão, e fez um gesto para Celina. — Não
pense que vou acreditar nesta conversinha fiada. Sei
muito bem que não fui a única por lá.

— Maia, é a verdade, eu nunca tive nada com sua


amiga... — Mal fechei a boca e a mulher ligou de novo.

— Atende, ou é um assunto particular? — Maia


desafiou, debochada.

— Alô.

— É o José?

— Pode falar, Jussara.

— Ai, graças a Deus!

Olhei para Maia que estava roxa de raiva.

— O que você quer?


— Quero falar com a Maia, ela me bloqueou. E
estou... — Uma outra ligação entrou na linha. Rejeitei,
pois não queria deixar nenhuma dúvida na cabecinha da
minha mulher.

— Não ouvi, pode repetir?

— Estou na porta da sua casa, quer dizer: na


portaria do seu condomínio. Pode falar para dona Maia
que só vou embora quando ela falar comigo.

— Na mesma hora Maia tirou o celular da bolsa e


atendeu.

— Alô. Ah, pode liberar a entrada dela, Rita, já


estamos chegando, você a recebe, por favor.

Olhei para ela com ar de riso. Ergui as


sobrancelhas.

— Não quero saber, pensa que esqueci a DONA


CATARINA?

— Oh, minha ciumentinha, não existe outra, nada,


ninguém.

Maia olhou para trás, Celina estava vidrada no


desenho novo que estava vendo.

— Vamos conversar, ainda, quero saber qual a


liberdade que ela tem para te ligar, por que tem seu
número e o nosso endereço?

— Não tenho nenhuma ideia de nenhuma das suas


perguntas, mas tenho certeza que ela poderá nos
responder. — Passei a mão em sua perna gostosa. — Eu
te amo, sabia?

Jussara estava em pé na sala quando chegamos.

— Eu não te fiz absolutamente nada. Você era a


minha única amiga, ou achei que era. — ela foi logo
despejando.

— Oi, Jussara!

— Oi?

— Desculpa? — Celina agarrou a perna da Maia. —


Deixa eu te apresentar, essa é a Celina, Celina essa é
minha amiga, Jussara. Ela não é dramática assim
constantemente. Ela é legal. Fala oi.

— Oi...

— Oi, meu Deus, como você é linda! Oi, José.

— Oi, Jussara. Meu amor, preciso ir para empresa,


vocês vão ficar bem?

— Vamos, só preciso falar com você um instante.


Celina, meu amor, você pode ficar aqui um pouco com a
Jussara?

— Tá, eu fico.

Maia me pegou pela mão e me levou para o nosso


quarto. Dei um tapa na sua bunda gostosa, sinto o maior
tesão quando ela fica brava.

— Acho que não dá tempo nem para uma rapidinha,


mas posso fazer você gozar em instantes. — Passei a
língua por seu pescoço até sua orelha.

— Hum, seu safado. — Gemeu dengosa.— Não me


provoca... vim falar sério. Você está bem? Não minta para
mim, eu vi que ficou decepcionado com o resultado do
exame. Meu amor, é melhor assim. Nós já atropelamos
demais as coisas.

— Você tem razão. Em todos os pontos. Fiquei


decepcionado, meio triste talvez, criei uma expectativa, e
realmente o melhor é esperarmos um pouco.

— Eu te amo!

— Ah, meu amor, meu anjo, eu te amo tanto. Mas


agora você tem uma amiga brava com você no meio da
sala e eu, muito trabalho me esperando. Promete que
qualquer coisa você me liga, por menor que seja?

— Não, só vou ligar se for extremamente necessário.


Encontrei o seu Otávio assim que entrei no andar da
presidência, onde também ficava a minha sala.
Conversamos sobre meu caso, havia passado todas as
informações e vídeos para ele.

— José, sabe que com o material que você já tem


pode conseguir na justiça tudo o que quer, preciso te dizer
isso como seu advogado. Mas, como diria para um filho,
você está certo em tentar um acordo amigável e o mais
breve possível para ter a guarda dos seus filhos. Tem uma
equipe vendo tudo que me mandou, áudios, vídeos,
relatos, ainda hoje vamos entrar em contato com o
advogado dela, explicando que não terão uma saída
melhor do que um acordo. Fica tranquilo.

— Confio no senhor.

— Acho que você é a melhor pessoa para conversar


com meu filho neste momento.

— Estava indo para a sala dele agora..

Otávio não estava em sua sala, mas sabia que não


havia saído do andar, fui para sala de reuniões, onde
achei que o encontraria.

Meu amigo estava deplorável.

Sentei-me ao seu lado e ficamos por um bom tempo


olhando a pista de pouso do aeroporto.

— Sempre te admirei, muito. — Ele me encarou ao


falar. — Mas hoje, percebo que minha admiração foi tão...
pouca! Tão nada... Eu tenho orgulho de ser seu amigo. —
meia garrafa de uísque já tinha se acabado.

— É uma honra ser seu amigo, Otávio. Você vai


passar por isso, será difícil, mas ficará tudo bem.

— Não vou sobreviver sem a Lize.


— Você não precisará, ela te ama, vocês vão
superar.

Otávio queria e precisava ficar sozinho. E eu sabia


que teria que fazer essa empresa funcionar. Lize havia me
passado tudo sobre a fábrica por e-mail. Estava perfeito,
até Celina entenderia, mas a fábrica era a minha menor
preocupação. Tínhamos Nova Iorque, Argentina, Londres e
Canadá que precisavam deuma atenção mais especial no
momento. Precisava pensar a respeito disso para ajudar
meu amigo.

Também tentei conversar com Lize sobre o que


estava acontecendo, mas ela não me deixou margem para
aprofundar nenhum assunto relacionado aos dois. Lizeàs
vezes me assustava de tão imponente, séria e determina,
com seus apenas dezenove anos.

Cheguei em casa extremamente tarde, entrei no


quarto e a cama estava vazia. Maia também não estava na
cozinha, nem na sala, fui até o quarto da Celina e a
encontrei dormindo na cama com minha princesinha, tirei
uma foto das duas juntas, meus amores. Depois peguei
minha mulher no colo.

— José...

— Oi, meu amor. — Ela agarrou meu pescoço, e foi


me beijando até chegarmos na cama.
No dia seguinte de manhã, dei de cara com Jussara,
só então lembrei que ela havia chegado um dia antes.

— Bom dia José, desculpa invadir sua casa. — Ela


falou sem graça, acho que pela cara que fiz por não ter me
lembrado dela.

— Bom dia, Jussara, a casa é sua, fique à vontade e


quanto tempo quiser, é muito bem-vinda.

— Obrigada!

Lize entrou na cozinha com Celina pronta para a


escola, já falei tanto para ela contratar uma babá, mas ela
está irredutível. Elas se encontraram uma na outra, coisa
de Deus.

— Bom dia, Jussara, dormiu bem? — Maia


cumprimentou a amiga.

— Claro, uma cama de rainha. — Sorriu.

— Senta e come, você precisa se alimentar


direitinho. — Jussara e eu olhamos para Maia que ficou
sem graça, arrumei um assunto rápido.

— Celina, vai chamar o seu irmão, por favor! Maia,


hoje o Thomas vai direto para a psicóloga e, meu anjo,
provavelmente vou chegar tarde em casa de novo,
qualquer coisa me liga.
A semana foi uma verdadeira loucura. Otávio estava
incontrolável, bebendo muito, quebrou tudo no andar da
presidência, entendia o que ele estava passando, morreria
sem a Maia. No fim da semana, o advogado da Leila enfim
deu um retorno, marcamos uma reunião para semana
seguinte.

Na sexta-feira, no fim do dia, Leila me ligou.

— Fala.

— Cadê o meu filho? Estou tentando falar com ele e


não consigo.

— O que você quer com ele?

— Eu sou a mãe dele, José, não preciso te dar


satisfação do que quero com o meu filho.

— Pense bem o que vai dizer para ele, Leila, se o


deixar esperando novamente, não terá nenhum acordo.
Nenhum.

— Vou ir buscá-lo hoje às 18h. — Desligou o


telefone. Desta vez, com certeza, ela iria pegá-lo, nunca
ficou tanto tempo sem ver Thomas e nem cogitou ver
Celina. Liguei para Maia.

— Oi...

— Maia, o Thomas está em casa?


— Está sim, jogando vídeo game com Jussara há
horas. Nem sabia que ela era tão boa. Os dois vão se
matar já, já.

— Que bom ouvir isso. Mas infelizmente, a mãe dele


disse que vai buscá-lo às 18h. Não consegui falar com ele,
você pode pedir para ele me ligar?

— E Celina, José?

— Calma, ela nem perguntou pela menina.

— Mas e se chegar aqui e quiser levá-la?

— Meu amor, você que decide se vai deixá-la ir ou


não. Mas pode acreditar, ela não vai querer.

— Deus te ouça, vou falar para Thomas que você


quer falar com ele.

— Te amo.

Maia convidou Natalia para passar o fim de semana


em casa junto com ela e Jussara. Como havia cogitado,
Leila nem sequer quis ver Celina, Thomas passaria o fim
de semana com ela e voltaria para casa na segunda-feira
depois da aula.

No sábado trabalhei na Dantas Dellatorres até a


hora do almoço e o resto do fim de semana no escritório,
de casa mesmo.
O dia mal havia começado quando o telefone tocou
na minha mesa. Antes que eu conseguisse escutar o que
dona Catariana estava dizendo, a porta foi escancarada e
Leila entrou como se fosse a dona da porra toda. Dona
Catarina veio logo atrás, exasperada.

— Dona Catarina, essa senhora não tem permissão


para entrar na minha sala desta forma, nem na empresa.
Não vou admitir um novo incidente.

— Sim, senhor. Desculpe-me, isso não se repetirá.

— O que quer invadindo a minha sala, Leila? Seja


breve. — Ela andou de um lado para o outro, foi no bar, se
serviu de uma água e ficou em pé na frente da grande
janela.

— Você está mais que ciente do meu envolvimento


com o Antônio, das coisas que aconteceram. José, preciso
que você entenda, você estava muito distante, eu fiquei a
cada ano mais insegura, ele estava sempre ali ao meu
lado como um amigo, mas a carência...

— Cala a porra da sua boca. Estou pouco me


fodendo do porquê ou com quem você trepava. Saia, eu
tenho mais o que fazer.

— Ainda não terminei e acho melhor você me ouvir,


por que qualquer decisão que eu tomar envolve os nossos
filhos.
— Não teste ainda mais a minha paciência, Leila,
que acabo com sua farra com apenas uma ligação para o
banco.

— Você pode parar de me ameaçar, sabe que eu sou


a mãe, a lei estará sempre ao meu lado, sou mulhere já
estou com uma certa idade.

Desgraçada!Tudo o que não quero é brigar, envolver


meus filhos e Maia em uma guerra infinita com essa
descompensada Só quero viver em paz, dar uma família
decente para as crianças é tudo o que eu sempre quis.
PAZ, a única coisa que sempre quis desde que Thomas
nasceu.

— Eu preciso de um tempo. — Ela prosseguiu,


andando calmamente pela minha sala. — Estou perdendo
o controle. Minha mãe vai ir passar 40 dias na Alemanha;
vou com ela.

Novamente essa conversinha de “tempo” e de “viajar


para a Alemanha”. Leila pensa que me engana.

— Temos uma audiência da guarda das crianças,


Leila.

— Eu sei, mas não estarei presente. O que vim falar


com você é isso, queremos ir esta semana, minha mãe
precisa de cuidados e com tudo que está acontecendo
comigo, ela só está piorando. Conversei com Thomas e
ele quer ir junto.

— Você ficou louca, o menino estuda, você não está


cuidando nem de você.

— José, Thomas tem quatorze anos, o que vai dizer


para ele? Você vai comprar uma briga com seu filho. —
Sorriu diabolicamente.

— O QUE VOCÊ QUER?

— Preciso de dinheiro. Você me deixou com um


único cartão.

— Com um limite altíssimo.

— Mas com limite, e praticamente, nada em dinheiro


na conta. — Eu ri de ódio. Ela continuou...

— Preciso de mais dinheiro, e um limite maior. Só


assim converso com Thomas. Invento uma desculpa e
convenço-o a ficar com você. Que ele está em aula, que
vamos tratar de doença, que serão apenas quarenta dias,
que quando eu chegar, ele estará quase de férias e
poderemos ficar mais tempo juntos. Se me der o dinheiro,
quando eu voltar, te dou a guarda definitiva deles. Se não
tiver bom pra você assim, se não me der o dinheiro, levo
meu filho e juro que farei tudo o possível para ele te odiar
e não querer nem mais voltar para o Brasil. E você sabe o
poder que tenho sobre ele.

Conversei com seu Otávio, que discordou totalmente


da minha atitude. Achou que eu estava me enrolando cada
vez mais.

Assim que cheguei em casa, entrei no escritório e


chamei Thomas para conversarmos.

— Tudo bem, meu amor? — Maia entrou logo atrás


de mim, percebendo que tinha alguma coisa errada.

Abracei minha mulher, que estava tão linda,


cheirosa.

— Não, preciso conversar com Thomas, a mãe dele


foi me chantagear hoje. E o que vou fazer depende da
conversa que terei com ele.

— O que ela quer?

— Dinheiro.

— Pai? — Thomas chamou, colocando a cabeça na


porta eentrando em seguida.
— Vou esperar vocês terminarem aqui para mandar
servir o jantar. Não tenham pressa. — Maia disse ao sair
fechando a porta.

— Você quer ir para a Alemanha com a sua mãe?

— Quero.

— Você está tendo aula, precisa cumprir com as


suas responsabilidades.

— Eu não vou conseguir recuperar esse ano, eu não


quero... eu não quero ficar aqui fingindo de família feliz.

— E que tal não fingir e ser feliz de verdade? Você


não tem motivos para ser infeliz, Thomas.

— Eu não gosto de morar aqui, não gosto da sua


mulher! Não gosto de ser tratado como qualquer um, não
gosto de ficar sem a minha mãe que sempre me priorizou
e me deu atenção absoluta.

— Entendi, você gostava quando você era a única


pessoa bajulada, sufocada dentro de casa. Agora, ser tão
amado quanto Celina te incomoda?

— A Celina é muito mais amada, a sua mulherzinha


acha que é a mamãezinha dela. Celinaaa pra cáaa,
Celinaaaa pra láaa. Para você sempre foi indiferente. Mas
vai acabar gostando mais dela também, porque ela trata a
sua AMANTE como mãezinha.

Ele estava tentando fazer com que eu brigasse com


ele pela forma hostil que falava sobre a Maia, o que a
psicóloga disse que aconteceria.

— Então, o seu problema é ver a sua irmã sendo


amada e tendo atenção. Não te reconheço mais, meu
filho. Fecha a porta ao sair.

Fui para trás da minha mesa. Sentei e esperei ele se


recuperar e sair, ficou por um tempo parado me olhando,
enquanto eu mandava uma mensagem para Maia vir até o
escritório, sem nem olhar para Thomas parado na minha
frente. Ele se virou, saiu e bateu a porta.

— Oi.

— Entra, fecha a porta. — Ela caminhou até a mim,


deu a volta e parou ao meu lado encostando a bunda na
mesa. — Leila quer uma quantia em dinheiro, e que eu
aumente o limite do cartão para não levar Thomas para
Alemanha, ele quer ir, tenho medo de perder meu filho, ela
tem cidadania alemã, Thomas e Celina também, ele pode
não voltar mais. Vou dar o que ela quer.

— Sua decisão já está tomada?


— Já, só quero que saiba o que está acontecendo.
— Maia me deu um beijo.

— Eu te amo, você é o melhor pai que uma criança


poderia ter.

Liguei para Leila, no mesmo momento. Maia segurou


minha mão me passando tranquilidade.

— Vou depositar um milhão de reais na sua conta e


dobrar o limite do seu cartão de créditos. Amanhã quando
eu chegar em casa, quero que Thomas esteja ciente que
não irá para lugar algum, não quero que fale com ele mais
depois disso.
— Maia, preciso voltar para a minha realidade, está
sendo um sonho ficar aqui, mas mesmo com raiva, preciso
voltar.

— Mas você disse que precisava de uma solução, e


não chegamos em nenhuma.

— Eu sei, mas invadi a sua casa, você e seu marido


precisam ter privacidade.

— Ah... pelo amor de Deus, Jussara, olha o tamanho


desta casa, com duas crianças e esse monte de
funcionários, acha o quê? Se não tivesse aqui
andaríamos pelados? José está trabalhando como um
louco, saindo cedo, chegando tarde, Otávio pelo visto está
cada vez pior. Estou morrendo de dó, tanto dele quanto da
Lize. Está sendo uma benção você estar aqui esses dias
me fazendo companhia.

— Tudo bem, não quero mesmo ir embora, vou


passar mais esse fim de semana, mas no início da semana
que vem preciso dar um jeito na minha vida. Preciso de
um emprego, de uma casa, de um tudo.

— Jussara, independente de qualquer coisa, você


precisa falar com Samuel, ele é o pai.

— Mas a culpa foi toda minha, Maia, ele nunca vai


acreditar que não quis dar o golpe da barriga.

— Você não pode se culpar assim, Jussara, os dois


erraram em transar sem camisinha, mas da mesma forma
que você esqueceu de tomar a pílula do dia seguinte, ele
também esqueceu de te lembrar. Se ele tivesse realmente
preocupado, teria te ligado, te mandado uma mensagem:
“Olha não esquece de tomar a pílula”, ou pelo menos: “Oi,
tudo bem por aí? Tomou a pílula?” Ele fez isso? Ligou ou
mandou mensagem?

— Não, e nos encontramos no centro da cidade na


segunda-feira de tarde, ficamos conversando, ele queria
me levar em casa, mas eu estava esperando a Juliana e
ele tinha que trabalhar.

— Então pronto, a culpa é tão sua quanto dele.

— Nossa, Maia, Thomas está tão triste, né, desde


terça-feira... A mãe dessas crianças é o cão, coitadas.

No sábado, pedi para Ricardo ir buscar a Natalia


cedo. José havia saído cedinho e Jussara estava
desolada com a questão da gravidez.

— Samuel me mandou várias mensagens ontem à


noite, pergunto se tinha dado tudo certo, que gostaria de
me ver e saber.

— E o que você disse para ele? — Natalia quis


saber.

— Nada, Natalia, eu não respondi a mensagem.

— Está parecendo a Maia, não responde ninguém,


vocês são muito complicadas.

— Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Eu


tenho motivos para não querer falar com ninguém, eles me
viraram as costas sem eu ter feito nada e no momento em
que eu só precisava de apoio. Agora Jussara, só precisa
de coragem para contar a verdade para o Samuel.

— Eu também, só precisava do apoio da minha mãe.


— Jussara, você não foi muito honesta com a sua
mãe que descobriu sozinha que estava grávida, e com
certeza, ela sabe que é do Samuel, e você ainda quer
negar, esconder o óbvio. Ela está se sentindo traída,
sempre foi sua amiga. — Natalia fez a observação mais
que certa.

— Mas pelo visto, não está mais chateada com a


Juliana. — Falei, pois as duas conversaram um bom tempo
pela manhã.

— Chateada eu estou, e ela também, não tive


coragem de contar para nenhuma das duas, mas ela
deveria entender que meu estado não é fácil, que eu não
estou conseguindo raciocinar direito. Ela disse que minha
mãe está a cada dia mais inconformada por eu não
confirmar quem é o pai do bebê e não ter dito a verdade.
Mas não quero falar mais sobre isso, enquanto uma das
duas não fizerem um milagre e me arrumarem uma
solução, vamos falar sobre outra coisa.

— Gente, estou tão preocupada, com tanto medo.


Lize não quer mais o senhor Otávio de jeito nenhum, eu
vim para trabalhar com ela, apesar de ser agora secretária
do dele, não tenho aptidão para ser a secretário do CEO
da Dantas Dellatorres, nem da Lize, para dizer a verdade,
é que ela estava disposta a me ensinar, e agora?
— Você é muito inteligente, aprende rápido, vai dar
conta. — Jussara quis levantar o ânimo da Natalia, mas
era uma situação realmente preocupante.

— Ela disse que nada mudaria, o senhor Otávio


está me tratando muito bem, totalmente diferente dos
outros funcionários. Vocês não têm noção, todos estão
com medo do homem, ele já mandou várias pessoas
embora essa semana sem nenhuma razão plausível. Lize
me disse que havia conversado com ele, e pedido para ele
me manter onde estava e que ela me ajudaria com o que
eu precisasse. Acho que só por causa dela, está me
tratando bem.

— Faça seu serviço e se achar que precisa de ajuda,


seja sincera e diga do que precisa.

— E o Valter, que a cada dia me deixa mais


admirada, ele é quente, chegar perto dele é desesperador
de tão bom. Vocês não sabem o que ele fez comigo essa
semana.

— Não, não sabemos, mas conta logo, não posso


passar vontade.

— Fomos almoçar juntos, lá mesmo. Quando


estávamos voltando, o corredor por onde passávamos
estava vazio, não sei o que disse para ele, acho que foi
que eu não o queria, que não tinha nenhuma vontade de
estar com alguém mais intimamente. Quando dei por mim
estava na parede com ele grudado em mim, seu corpo
cheio de músculos colado ao meu, as mãos agarrando
meus cabelos na nuca, ele se encaixou no meio das
minhas pernas me fazendo sentir como ele estava
excitado, e meu Deus do céu. Ele é um cavalo, se é que
me entendem. Ele cheirou todo meu pescoço, sua pegada
era forte, quase para doer; que pegada... ele mordeu
minha orelha e me beijou com tanto tesão, que achei que
fosse derreter nas mãos dele. Meninas, estou muito
perdida.

— Perdida? Você está é feita! Que ruim, né? Um


homem gentil, educado, atencioso, de pau grande e com
pegada. É, é ruim pra caralho! Só não vai fazer como eu,
engravidar e acabar com toda essa magia.

— Bate na boca, na madeira, onde quiser, mas isola,


eu já tive a minha cota de burrice.Eu amo meu filho, mas
não quero passar por isso novamente.

— Obrigada pela parte que me toca!

— De nada. — Rimos.

— Natalia, se permita, não deixe as oportunidades


passarem, olha minha história com o José, tinha tudo para
não ir para frente, se preserve mas viva, menina. Deixa o
Valtinho aqui hoje, e o convide para sair. E você Jussara,
nunca foi covarde, fala com o Samuel, diz a verdade, se
ele não acreditar em você, azar o dele. Sua mãe está
chateada com toda razão, Ju. Desculpa, mas ela sempre
foi tão honesta e amiga com vocês, não tinha porque você
esconder algo tão sério e importante dela, outra coisa, não
adianta você ficar mentindo, dizendo que não é o Samuel
o pai, ela já sabe.

— Vou conversar com eles pessoalmente, segunda


ou terça-feira vou embora, conversarei primeiro com a
minha mãe, depois vou ir falar com o Samuel. Se ele não
acreditar que não engravidei de propósito, problema dele,
se ele não quiser assumir o filho, azar o dele também.
Agora estou grávida, muito difícil arrumar um emprego,
vou precisar da ajuda da minha família, isso significa mãe
e irmã, só tenho as duas mesmo. Tenho certeza que minha
mãe não vai me deixar na rua.

— Estou ao seu lado, para qualquer coisa, pode


contar comigo.

— Ainda bem que você é rica agora, porque vou


precisar de todo tipo de ajuda, carrinho, conversa,
fraldas... — Caímos na gargalhada.

Jussara e eu convencemos Natalia a deixar Valtinho


dormindo aqui em casa e sair com o Valter, que veio
buscá-la rapidamente após uma mensagem que ela enviou
o convidando. As crianças ficaram super empolgadas
quando contamos que Valtinho passaria a noite aqui e,
não tardou muito a dormirem de tanto cansaço por
brincarem demais.

José chegou já era noite.

— Oi, meu amor.

— Oi, você parece exausto.

— E estou, sabe o que preciso? De um banho. Um


banho bem dado pela minha mulher gostosa.

José colocou a banheira para encher.

— A maldita embarcou para Alemanha. Espero que


fique por lá um bom tempo, e nos dê paz.

— Graças a Deus!

— Maia, tenho um outro assunto... — falou com as


sobrancelhas erguidas. — Jussara!

— Ah... ela disse que vai embora na segunda ou na


terça-feira, ela queria ter ido na quarta-feira, eu que pedi
para ela ficar mais um pouco.Desculpa, eu deveria ter
conversado com você antes.

— Não é nada disso, meu amor, estou grato por ela


estar aqui essa semana, não consigo te dar atenção, ela
está te fazendo companhia, nem gostaria que ela fosse
embora. O problema é o Samuel, ele comentou hoje
comigo que está atrás dela, que ela sumiu, que não tem
noção de onde está e que tem um assunto sério para
resolverem. Meu amor, ela precisa falar para ele que está
esperando um filho. Mesmo que ambos não queiram ficar
juntos, ele tem que saber. E como o cara fala que a mulher
dele sumiu e eu não digo que está na minha casa?

— Ela não é mulher dele e temos que respeitar o


tempo dela. Ela vai falar.

— Vem aqui, não quero mais falar em problemas.

Entramos na água quente da banheira, José sentou


e montei sobre ele. Suas mãos passavam pelas minhas
costas subindo e descendo lentamente. Eu beijava o
pescoço dele com gana, me esfregando em seu pau duro,
José segurou meu rosto comas duas mãos, e devorou a
minha boca, estava tão excitada, me ergui sobre ele e
encaixei seu membro na minha entrada sedenta. Sem ele
esperar, desci de uma vez.

— PORRA!

Senti minhas paredes internas alargarem de uma vez


só, também uma ardência e a cabeça do seu pau bater no
meu útero, gritei alto, enfiando unhas e dentes em sua
carne dura.

— Caralho!
Senti suas mãos feito garras na minha cintura,
pulsando todo enterrado dentro de mim. Seus braços me
envolveram, colando nossos corpos.

— Ah... minha gulosa. Tudo bem? — Falou se


movendo lentamente dentro de mim. Me erguendo com
braços forte, entrando e saindo enquanto me beijava.

— José... — Mordi seu lábio. Senti minha boceta


contraindo forte e apertando ainda mais seu pau.

— Ah! Isso gostosa, aperta meu pau, e goza, goza


pra mim.

A delicadeza do homem chegou ao fim, segurou


minha cintura com uma mão e meu cabelo com a outra e
meteu forte, fundo e rápido, arrancando gritos e gemidos.

— É assim que você gosta, não é minha vadiazinha?

Meus gemidos soavam cada vez mais altos, meu


corpo, cada vez mais quente, anunciava o orgasmo
maravilhoso ganhando força total e explodindo, me
deixando totalmente sem controle.

Gozamos juntos e mais outras tantas vezes durante


a noite afora, explorando cada canto do nosso quarto, da
nossa cama, assim como do nosso amor. Ter José era
maravilhoso e eu amava este homem a cada dia um pouco
mais. Sei que era recíproco.
Nunca pensei que a situação de Otávio chegaria
onde chegou, pela segunda vez Otávio quebrou tudo no
escritório, estava tendo que me desdobrar em mil para
manter as reuniões em dia. Já passava das seis horas da
tarde, quando Carla entrou sem bater na minha sala, como
sempre. Olhei para ela rindo.

— Que bom que mantemos os costumes, para que


bater, né?

— Oi, preciso de álcool. — Ela passou direto e foi


para o bar, serviu um martíni e voltou para a minha mesa,
terminei de escrever o e-mail que estava finalizando
quando ela entrou.

— Tentou falar com Otávio?

— Tentei! Mas estou preocupada com você também.


Como andam as coisas?

— O meu pior pesadelo está na Alemanha, graças a


Deus, e por enquanto, estamos livres de maiores
problema. O Thomas ficou bem pra baixo nos primeiros
dias. Mas parece que está caindo a ficha, ele ficou
revoltado quando soube que Antônio viajou com ela.

— Mas...

— Acho que também preciso de uma bebida. — Me


servi de uísque e voltei a sentar na frente da minha amiga.
— Maia tem vinte anos, não viveu nada ainda, largou tudo
para ficar comigo e não estou conseguindo nem dar
atenção para ela. Hoje vou ficar aqui nem sei até que
horas, ela, de repente assumiu praticamente sozinha uma
criança, um adolescente e uma casa, só problemas atrás
de problemas.

— Vocês conversaram sobre isso?

— NÃO! Porra, nem tempo para isso eu tenho, mal


estou conseguindo transar com a minha mulher.
— José, o início é sempre mais complicado,
somando tudo que vem acontecendo com Otávio, te
deixando totalmente sozinho e a frente da empresa por
aqui, é normal que se sinta sobrecarregado, sei que nada
está sendo fácil para você também. Mas você conseguiu
uma mulher excepcional, ela está ao seu lado, José, Maia
é uma mulher parceira e madura, conversa com ela,
explica sua situação, mesmo que você tenha certeza que
ela já saiba. Conta seus planos para quando todo esse
tormento acabar, que você quer lhe dedicar mais tempo.
Mulheres gostam de ouvir essas coisas, gostamos de
saber sobre os planos dos nossos parceiros.

— Maia é perfeita, você não tem noção de como ela


trata a Celina, de como parece amá-la.

— Ela com certeza a ama, e não só tenho noção,


como compartilho do mesmo sentimento, sinto um amor
tão grande pela Milena, que esqueço que ela não é minha
filha de verdade.

— Verdade! Você sabe exatamente o que estou


falando. Celina parece outra criança, mais segura, mais
feliz, menos dependente de todo mundo que chega perto.
E olha que Maia não dá moleza. — Meu celular tocou. —
Só um instante, preciso atender essa ligação, é o Samuel,
que nem sabe o problema que tem ainda, um problema
que se chama Jussara e está grávida. — Carla abriu a
boca espantada com a notícia. — Fala, cara, não diz que é
problema?Para me ligar a essa hora...

— Jussara está na sua casa! E não teve a decência


de falar aqui pro trouxa?

Suspirei fundo, coloquei o celular no viva-voz e


deixei em cima da mesa, peguei meu uísque e virei. Dei o
copo vazio para Carla que levantou e serviu mais uma
dose.

— Cara, você ligou para me esculachar ou quer


conversar?

— Puta que pariu! Falei pra você que a mulher tinha


sumido, que estava precisando conversar com ela.

— Samuel, Maia e ela me pediram para não


comentar que Jussara estava em casa, me desculpa, não
achei que ela tivesse alguma importância para você.

— Foda-se cara, qual é essa de importância?


Trabalho com você há mais de dez anos, somos amigos,
caralho!

— Você tem razão, infelizmente não consegui


raciocinar direito, não levei a sério o que me disse, mas
me escuta, não sei quem te falou que ela está na minha
casa, mas aproveita essa informação e venha conversar
com ela o quanto antes, se eu fosse você, agora.
Carla ergueu as sobrancelhas.

— Eu sabia, eu sabia, caralho! Me manda o


endereço, estou indo para sua casa, agora. — Desligou o
telefone.

— Se eu ficar paradinho aqui e só respirar, é capaz


de entrar problemas pela porra da janela, Carla.

— José, vai pra casa, descanse um pouco, fique com


a sua mulher.

— Não posso sair daqui enquanto Edmund não me


ligar, ele está em uma reunião e precisaremos de alguns
arquivos que por medida de segurança, só temos acesso
daqui. Alguns milhões estão em jogo e muitas cabeças.

— Olha, tenho que ir embora, se precisar de


qualquer coisa estou à disposição. Vinte e quatro horas
por dia, sete dias por semana.

— Eu sei, e obrigado por isso.

Cheguei em casa já passava das vinte e duas horas,


Maia estava conversando com Jussara na cozinha.

— Oi, meu amor! — Abracei minha mulher. Maia


sorrindo jogou os braços sobre meu ombro e me beijou.

— Está com fome? Tem uma lasanha maravilhosa.


— Fico satisfeito com essa tábua de frios, posso
dividir com vocês?

— Só... se fizer uma caipirinha de morango para


mim.

— Com muito prazer. A propósito, já, já teremos


visita. — Olhei para Jussara. — Samuel está vindo para
cá.

— Você falou para ele?

— Não, mas espero que você fale.

— Mas porque ele está vindo para cá, ele sabe que
estou aqui?

— Sabe, e não foi eu quem falei. Mas o convidei


para vir... na realidade incentivei-o a vir.

— Por que você fez isso, José? — Jussara falou


exasperada.

— Jussara, não podia mentir, você não precisa ter


medo de nada, conversa com ele. É uma coisa que terá
que fazer de qualquer jeito.

— Eu deveria ter ido embora, pra qualquer lugar.

— Jussara, não é nada disso, você é muito bem-


vinda, está fazendo companhia para Maia em um momento
muito importante, sou grato por estar aqui, não quero que
vá embora. Só conversa com ele.

— Depois da briga que tive com a minha mãe perdi


totalmente a coragem de falar com ele. Sem o apoio dela,
não sei o que vou fazer.

— Não fica assim, Jussara. — Maia falou. — Sua


mãe está brava, mas vai passar. Ela não te dará as
costas, tenho certeza. E outra coisa, você está aqui, não
tem que ir embora, pode ficar morando comigo, quando
seu bebê nascer, você arruma um emprego e acerta sua
vida.

— Vocês estão colocando pouca fé no Samuel. —


falei enquanto preparava a caipirinha.

— Independentemente de qualquer coisa, mesmo


que ele não vire as costas para mim, não vamos ficar
juntos, eu não quero. Sei que a essa altura não era para
ser dito uma coisa dessas, mas não acho justo conosco,
nem com ele nem comigo, só gostaria que ele acreditasse
que não foi de propósito, e que assumisse e amasse o
filho, nunca imaginei ter um filho sem pai, como eu e
minha irmã. É muito triste, nós sofremos tanto, sei que as
coisas estão diferentes hoje, mas tenho certeza que a
falta de um pai nunca será substituída, nunca doerá
menos.
Maia abraçou a amiga que chorava, terminei a
caipirinha e me juntei a elas no balcão da cozinha. Uma
hora depois o interfone tocou e eu liberei a entrada dele.
Antes que Samuel entrasse, falei com ela:

— Jussara, conheço Samuel há mais de dez anos,


sei que diante de uma situação como essa cada pessoa
tem uma reação, até hoje ele foi um homem honrado,
honesto e de caráter. Se vocês quiserem conversar no
meu escritório, fiquem à vontade, se decidirem ir para
qualquer lugar e não se sentir confortável, volte para cá,
posso até mandar um segurança acompanhar.

— José, Maia, por favor, fiquem aqui, não quero ter


uma conversa longa com ele. Fiquem pelo menos um
pouco, até a situação parecer confortável.

— Tudo bem, podemos ficar um pouco, não é meu


amor? — Maia me abraçou ao dizer.

— Sim, podemos. Vou recebê-lo. — Samuel parecia


calmo. — E aí cara, como foi a viagem?

— A mais longa da minha vida, mas foi bom.


Consegui me acalmar no caminho.

— Samuel, realmente...

— Esquece, não precisa dizer nada, você não tem


responsabilidade, nem culpa de nada.
— Vem, você precisa beber alguma coisa, Maia e
Jussara estão na cozinha.

— Boa noite. — cumprimentou-as ao entrar no


ambiente.

— Boa noite, Samuel, entra, fique à vontade. — Maia


respondeu e eu peguei duas cervejas, dei uma para ele e
me sentei.

— Por que não vamos para a sala?

— Aqui está ótimo, Maia. — Jussara respondeu


rápido.

— Jussara, você está bem?

— Estou. Samuel. Estou grávida! Não tomei a pílula


do dia seguinte, eu esqueci totalmente, juro por tudo que
é mais sagrado que não foi de propósito, eu não quero
nada que é seu, não quero forçar a barra entre a gente, eu
fiquei desesperada, minha mãe descobriu e... eu não fiz
de propósito.

— Ju, calma, não vim te acusar de nada. Mas por


que não me procurou?

— Não sabia o que te dizer.

Saímos de fininho, deixando os dois conversando e


fomos dormir.
— Meu amor, também preciso conversar com você.

— Precisa? — Falou dengosa na minha boca.

— Preciso. Sei que está pesado pra você, Maia, não


é essa a vida que quero te dar, as coisas saíram
totalmente do controle, mas eu vou ter mais tempo, vamos
nos divertir juntos, vou ser mais presente, as coisas...

— Meu amor, não tem nada pesado para mim. Está


pesado para “você”, com a empresa, os filhos, a ex-
mulher, a atual, minha família... Eu sei que não está sendo
fácil e que você está se culpando por tudo, como sempre
faz. Mas quero que tire essa ideia de que as coisas estão
pesadas para mim da sua cabeça. Eu estou bem, você é o
melhor marido que eu poderia ter, você é o meu sonho
realizado, me sinto segura ao seu lado, confio em você.
Eu te amo, e sei que as coisas vão entrar nos eixos em
algum momento, e o melhor de tudo, algo que sequer
terei como te agradecer um dia: a Celina. Ela é a minha
luz. E não importa quanto tempo leve para colocarmos
nossa vida “juntos” no lugar, eu estarei ao seu lado.

— Você é um anjo! Deus enviou você e vou acabar


pagando, por que estou comendo um anjo enviado de
Deus.

— Não sou um anjo, sou sua mulher, preciso de


atenção e de você bem fundo dentro de mim.
— É, você não é um anjo, não mesmo! É uma diaba!

Terminamos a noite regados a sexo safado e bruto,


do jeito que a gente gosta.

Levantei às seis horas da manhã e fui fazer um café.


Precisa enviar um arquivo, mas queria estar na cama
quando Maia acordasse. Assim que entrei na cozinha dei
de cara com Jussara chorando.

— Oi! O que houve? Você está bem?

— Oi. Sim, estou bem.

Voltei para o quarto e chamei a Maia. — Meu amor,


acorda.

— Oi, o que aconteceu?

— A Jussara está chorando lá na cozinha e pelo


visto, nem dormiu ainda.

— Como você sabe? — Perguntou, sentando na


cama.

— Levantei agora e dei de cara com ela lá.

Maia foi ao banheiro e em seguida foi ver a amiga.


Fui direito para o escritório, vinte minutos depois Maia
entrou com duas xícaras de café.
— Amor, por que levantou tão cedo?

— Preciso enviar um arquivo para o escritório do


Canadá. Não vou demorar, podemos voltar para a cama.

— Que ótimo, posso te esperar aqui?

— Só se for sentadinha aqui. — Afastei a cadeira


para ela sentar no meu colo.

Terminei o que precisava fazer e voltamos para a


cama, com Maia do jeito que eu gostava, empoleirada em
mim, no meu colo.

Fomos acordados por Celina quase dez da manhã.


Ela e o irmão já haviam tomado café. No fim, me dei conta
de que eu e Maia não falamos sobre Jussara após o
ocorrido de hoje cedo, então, perguntei.

— O que aconteceu, Maia, Samuel fez alguma coisa


contra a Jussara?

— Teoricamente não. Ela falou que ele não disse


nada exatamente. Que escutou tudo, toda a história por
não tê-lo procurado assim que ficou sabendo; falou sobre
o desentendimento com a mãe. Em seguida ele disse que
a entendia e que precisava ir embora, que não tinha
condições de continuar a conversar naquele momento,
mas que voltaria hoje. Ela disse que não conseguiu dormir.
Que havia pensado muito e que ligaria para mãe, pedira
perdão, que se humilharia para a mãe ajudá-la se fosse
preciso, mas nunca se humilharia para Samuel.

Conversei com Maia e falei o que estava pensando.


Logo após o almoço falamos com Jussara.

— Jussara, sabe a casa que José alugava, a casa do


prefeito?

— A sua casa, Maia. — A corrigi.

— Sim, verdade.Agora ela é nossa, José a comprou.


Jussara, você pode ficar lá, cuidando dela para mim, ela
está vazia mesmo, e não precisaria se preocupar com
nada, nem com nenhuma despesa.

— Ai Maia, muito obrigada, eu vou conversar com a


minha mãe, vou tentar falar com ela. Pedir perdão, não sei
se vou conseguir sozinha. Mas se não der certo, se não
nos acertarmos, eu aceito.

— Samuel não entrou em contato com você? —


Perguntei, ela balançou a cabeça negativamente. Não
acredito que trabalhei, bebi e até dividi mulheres com
alguém que não conheço, um covarde. — Não se preocupe
com as coisas do bebê, o enxoval é todo por nossa conta.

— Eu agradeço de verdade, neste momento a única


coisa que eu quero é a minha casa, a minha mãe, a minha
cama. Não quero parecer ingrata, vocês estão sendo
maravilhosos. Maia, você sabe que é a única pessoa que
tenho o mínimo de intimidade, gosto muito de você e só
tenho a te agradecer. Eu já viria para a sua casa antes de
descobrir que estava grávida, Juliana e eu combinamos
tudo, por isso já tinha seu endereço, ela já tinha até me
dado o dinheiro para a viagem, estávamos muito
preocupadas com você. Mas, olha,vir neste momento foi a
melhor coisa que já fiz na vida. Você não sabe o quanto
receber esse carinho e apoio estão sendo importantes
para mim.

Meu celular tocou e era Samuel.

— Fala.

— Estou chegando aqui no seu condomínio. —


Desliguei o celular e mandei uma mensagem para Ricardo
cuidar da liberação dele.

— Samuel está chegando.

— Vocês me dão licença, quero conversar com a


minha mãe.

Maia, foi fazer alguma coisa com Celina e eu fiquei


para conversar com Samuel, avisei para levá-lo para meu
escritório assim que ele chegasse.

Encarei a face do homem na minha frente e senti


ódio. Um homem maduro, estabilizado financeiramente,
agindo como um merda, covarde, filho da puta, minha
vontade era de dar uma porrada na cara dele.

— Não pensei que te veria tão cedo. — Fui grosso.


— Voltou para quê?

— Qual é o seu problema, cara? — Perguntou


indignado, como se fosse normal sua atitude.

— Meu problema? Eu não lido bem com covarde.

— Não sou covarde, caralho, eu precisava resolver


algumas coisas. Estou aqui...

— Trouxe a sua mãe?

— Vá se foder. Não sou obrigado a te dar satisfação.


Não da minha vida. — Deu as costas com raiva, mas antes
de sair parou e voltou andando até minha mesa.

— Eu não sou a porra de um covarde! Eu tinha


alguém, algo que quis muito, ou achei que queria, não
poderia fazer promessas, trair, enganar. Eu gosto de agir
com a verdade, e não julgo quem não age como eu.

— Samuel? — Ele não parou, não olhou. Merda. Fui


atrás dele. — Samuel? — Ele estava na porta para sair de
casa.

— Estou esperando Jussara no carro.


— Cara, eu também passei por isso. A diferença é
que eu tinha vinte anos, estava na faculdade, não tinha um
emprego, e o projeto todo da Dantas Dellatorres era não
só do Otávio, mas meu também, tive que abrir mão de
tudo pelo meu filho, e não pensei duas vezes, foi a
melhor escolha que fiz. Não consigo entender como um
homem vira as costas para uma mulher esperando um filho
seu.

— Eu não dei as costas para Jussara, não vou dar


as costas para o meu filho. Existe mais de uma forma de
se fazer a coisa certa.

— Cara, calma, espera ela aqui, ela está


conversando com a mãe. — Mesmo relutante e nervoso
comigo, Samuel esperou dentro de casa.

Maia apareceu em seguida, conversou um pouco


com ele sobre Careaçu, e quando Jussara chegou, os dois
saíram para conversar.

Jussara ligou para Maia e disse que não voltaria


para casa naquele dia. No dia seguinte chegaram pela
manhã, Jussara pegou suas coisas, agradeceu muito, e
foram embora.

— Espero que eles fiquem bem. — Maia pensou alto.

— Eu também. — Depois que Samuel disse que


tinha alguém, lembrei que muitas vezes bêbado ou
brincando, falava que seu coração tinha dona. Mas nunca
soube que ele era comprometido, sempre fora muito
discreto, mesmo com o alto salário não ostentou o que
tinha, tinha um ótimo carro, se vestia bem e mais nada.
Até onde sabia ele ainda morava com os pais. — Que
pensem principalmente no filho, e que de uma forma ou de
outra encontrem uma forma de criar a criança da melhor
forma possível. — Não fazer o que fiz.

— Temos nossos problemas, só podemos torcer e


apoiar. Agora quero a atenção do meu marido todinha para
mim.

Os dia que seguiram foram de paz, mesmo eu


trabalhando como um louco, quando estávamos juntos era
maravilhoso.
José quis aproveitar o feriado e combinou com os
pais e o irmão de irmos todos para a fazenda, Celina
estava extremamente empolgada enquanto Thomas
novamente arredio, passava a maior parte do tempo
trancado em seu quarto, José estava tentado entender o
que estava acontecendo.

Na tarde que iríamos viajar, antes dele chegar do


trabalho, fui para o shopping com a Celina e quando
chegamos escutei Thomas discutindo ao telefone. Ele
estava extremante alterado, pensei que fosse com o pai,
mas ouvi ele chamar: mãe.

Quando José chegou, já estava tudo pronto para


sairmos. Durante toda a viagem Thomas ficou de cara feia,
respondendo com ignorância tudo o que Celina ou José
falavam com ele. Fez questão de ser desagradável todo o
trajeto. E mesmo depois que chegamos, ficou de mau
humor e de cara feia para todo mundo.

Foi maravilhoso reencontrar a família,Betina e Bela


eram maravilhosas demais.

Seu Estevão olhou para todos nós na mesa do jantar


com um sorriso no rosto:

— Minha mesa está perfeita, como eu esperei por


esse dia! Ver meus filhos felizes e minha família completa.

Thomas levantou, derrubando a cadeira no chão e


saiu como um touro bravo. Todos pararam, seu Estevão
olhou para José:

— Não vai atrás dele, Thomas está passando dos


limites e precisa de rédeas. Chega de passar a mão na
cabeça dele, ou ele sempre achará que é uma vítima.

— Ele estava bem até semana passada. De repente


se transformou de novo. — José falou desolado.
— Hoje, quando Celina e eu chegamos em casa, ele
estava discutindo no telefone com a mãe. — José passou
a mão no rosto exasperado.

— Você está fazendo tudo que é possível, não se


sinta culpado, está pagando uma das melhores terapeutas,
está sempre disposto a conversar, dá amor, está fazendo o
impossível para manter a mente dele sã. Agora, precisa
ter atitudes de pai, impor limites e acabar com essa falta
de educação. Não vamos estragar a nossa noite, amanhã
terei uma conversa de homem para homem com ele.

Ficamos até muito tarde, bebendo e jogando


conversa fora.

Mesmo com os problemas de Thomas e com José


trabalhando praticamente o tempo todo, tudo estava
correndo maravilhosamente bem.

— José! Você sabia que hoje é feriado? Dá para sair


deste computador e deste telefone? — André gritou e
atirou um pedaço de pão no irmão. José pegou o pão e
comeu, mostrou-lhe o dedo do meio. Assim que José
desligou o celular, respondeu:

— Feriado nacional, sua anta, o Canadá e os


Estados Unidos não comemoram a Independência do
Brasil, não sabia disso, né?
— Ooo tio? — Gabriel chamou bravo. — Não fala
assim com meu pai, ele não tem culpa de ter nascido
assim. — Debochou e todos começaram a rir. — Pode
deixar pai, eu te defendo. — Completou, sério.

— Você é muito gentil meu filho, mas não precisa se


preocupar. — André entrou na brincadeira. Thomas saiu
de perto. Os dois primos eram os únicos com quem
Thomas mantinha o contado cordial.

Olhava para ele e não conseguia ver nada de


semelhante entre ele e os primos, ele e o tio, nem ele com
os avós, muito menos com o pai. Além da aparência, ele é
totalmente diferente em personalidade, gestos ou forma de
olhar. Ele não tinha nada de ninguém daquela família.

Fiquei observando Thomas o tempo todo e percebi


que, embora ele se desse muito bem com os dois primos,
tratava-os de forma diferente, sendo Matteo quem recebia
um tratamento “melhor”, várias vezes peguei Betina o
observando também, ela era totalmente ligada no que os
filhos estavam fazendo, seu jeitinho descontraído não
escondia a mulher perspicaz que era.

Depois que José parou de trabalhar, os homens


foram fazer um churrasco, e entre uma bebida e outra,
conversa vai, conversa vem, Betina mais uma vez tentou
me convencer:
— Maia, você precisa conversar pelo menos com os
seus irmãos. Sei que ficou chateada, mas essa raiva
precisa passar.

— Eu sei, mas agora isso não é meu foco.


Realmente estou magoada, mas não tenho mais raiva. Só
que eu não vou atrás de ninguém.

— Você bloqueou todo mundo, como quer que eles


te procurem? José disse que seus irmãos ligam todos os
dias.

— Eles sabem onde me encontrar. Sabem muito


bem onde me viraram as costas.

— Oh... minha filha, não guarde rancor assim da sua


família, eles te amam. Erraram, mas te amam. — Dona
Helena falou.

— Eu sei, mas juro que não é só a magoa, eu


preciso me preocupar com a minha família neste momento,
nossa! — Apontei para José. — Estou começando a me
adaptar na cidade, terminando de decorar minha casa.
Temos o Thomas com toda sua ira, o divórcio do José nem
saiu ainda, sem contar esse problema que está tendo na
empresa com a ausência do Otávio, tenho tanta coisa para
me preocupar, mas assim que eu e Joséestivermos com
mais tempo, as coisas entrando nos eixos, vou tomar uma
atitude em relação a eles. Ainda vai fazer um mês que
estamos morando juntos. Tudo é muito recente.
— Quero que tudo fique bem entre vocês, a família é
muito importante, tenho certeza que seus pais estão
sofrendo e sei que você também está, mesmo que não
tenha se dado conta ainda.

— Vamos ficar bem, mãe. — José a tranquilizou.

— Sei que vão, tenho certeza.

José e eu fugimos para o quarto na primeira


oportunidade. Assim que fechou a porta atrás me agarrou:
— José, meu amor, preciso de um banho... — Seu beijo
me calou, sua boca exigente devorando a minha com
maestria, arrancando suspiro e me fazendo esquecer do
que estava falando, baixou as alças do meu vestido
fazendo-o escorregar pelo meu corpo. Me carregou até a
cama, devorando cada pedacinho do meu corpo. Quando
sua boca alcançou minha entrada sedenta, gritei de tesão.
Tapei a boca com as duas mãos, afundando os
calcanhares no colchão com as pernas arreganhadas
enquanto ele devorava minha boceta.

— José... ah! Aahhh! — Rebolava


descontroladamente em sua boca, sua língua ágil
prolongando meu orgasmo.

José me pegou do jeito que gostava, com força e


urgência, suas mãos e boca me idolatravam enquanto me
subjugava com suas estocadas brutas. Gozei mais uma
vez em seus braços, só então, ele se entregou ao prazer,
rosnado e proferindo palavras desconectas. Só então,
José me deu o banho que estava precisando, agora mais
do que nunca.

Organizei minhas coisas no armário do banheiro e


disse:

— Vou deixar tudo arrumadinho do meu jeito aqui, e


estava pensandoem deixar algumas roupas também. Sua
mãe falou que esse quarto é nosso, que posso deixar o
que eu quiser e da forma que quiser.

— Você gostou daqui, né? — Balanceia a cabeça


afirmativamente.

— Quero vir sempre que possível. A Celina pode


correr solta e seus pais adoram esse lugar, sua mãe disse
que eles têm a intenção de passarem mais tempo por aqui,
já que agora não precisam se preocupar tanto com
Thomas e Celina. — Mal fechei boca e me arrependi. —
Ah, meu amor, me desculpa, não quis...

— Não peça desculpas, eles realmente deixavam de


viver suas vidas para cuidar dos meus filhos.
Principalmente da Celina, minha mãe sempre teve dó da
minha filha.

— Não fica triste, não mais, agora a Celina tem a


mim e eu a ela. Nada, nunca mais nos separará, nem
você. — Abracei o amor da minha vida. O safado me
enganchou em sua cintura e me levou para cama.

— Eu também te quero. — Esfregou o pau duro na


minha entrada.

— Você me tem. Todinha!

— Hum! Todinha? — Segurou o pau pela base e


esfregou na minha boceta encharcada até o meu anus.

— Mai?! Cadê a minha Mai? — Ouvi Celina


chorando. Empurrei José de uma vez e sentei rápido na
cama, procurei o roupão que ele havia tirado de mim.

— O que foi, Maia?

— Você não está ouvindo a Celina chorar? — José


ficou parado atento ao barulho, mas não fiquei para saber
se ele ouvia ou não. Encontrei Bela saindo do quarto de
mãos dadas com a ela chorando.

— O que aconteceu? — Perguntei enquanto pegava


Celina no colo.

— Acho que ela teve um pesadelo, tia.

— Obrigada Bela, vou levá-la para dormir comigo,


volte a dormir.

— Tá bom. Fica bem, tá princesa?


Quando virei, José estava bem atrás de nós.
Estendeu os braços para pegar Celina do meu colo.

— Vem com o papai que essa princesa está muito


pesada. — Mas a menina grudou no meu pescoço.

— Pode deixar, que a Mai leva minha menina. — A


deitei na cama.— Conta pra Mai o que aconteceu. — Fazia
carinho em seus cabelos, José se acomodou do outro
lado, apoiado ao cotovelo, e esperamos ela fungar e
começar a falar.

— Tive um “pensadelo” muito ruim.

— Um “pensadelo”? — José a imitou com humor.

— É, a Mai não tava lá, ela me deixou sozinha. Aí a


minha mãe me levou embora, pra sempre.

Dei um beijo em sua testa, e senti um aperto tão


grande no coração. Era muito triste saber que para uma
criança tão doce e boa quanto Celina, é um pesadelo estar
com a própria mãe. E só em imaginar uma coisa dessas
acontecendo, me desestabiliza. José nos olhava
atentamente.

— Meu amor, a Mai nunca vai te deixar sozinha, eu


prometo.
— O Tho disse que vai. Que você não é nada minha,
que nós temos que ficar com a nossa mãe, que ela vai nos
pegar de volta.

— Minha princesa, o papai não vai deixar, tá bom?!


Você só vai para onde você quiser.

— Eu não quero ir com ela, tá, eu não quero ir em


lugar nenhum, papai.

— Papai não vai deixar.

Celina dormiu em meus braços e eu nos braços do


José.

Acordei no dia seguinte quando José saiu do quarto.


Arrumei Celina no meio da cama e levantei para ir ao
banheiro. Ouvi um barulho de porta e a voz alterada do
José. Corri para ver o que estava acontecendo. Cheguei
ao quarto que os meninos dormiam e só estava Thomas,
em pé na frente do pai.

— Responde, oque você disse para Celina?

Thomas estava pálido, olhando para o pai, que


avançou nele. Segurou-o pelo colarinho.

— Você é homem para colocar pânico em uma


menininha e não tem coragem de dizer o que fez? — O
sacudiu e soltou na cama. — Você passou de todos os
limites, Thomas.

— O que está acontecendo aqui? — Meu sogro


chegou junto com André. José se quer olhou.

— Nunca mais ouse envenenar minha filha! Você não


é mais criança, Thomas. Se transformou em uma coisa
que nem sei nominar. Levanta! Levanta desta porra! Vira
homem. — Thomas estava encolhido no canto da cama.
Dona Helena entrou no quarto, grudou no meu braço e
olhava, apertando minha mão, mas ninguém falou nada.
Assim que Thomas ficou em pé, José lhe apontou o dedo:

— Você fez a sua escolha. Mas nunca vai arrastar a


Celina para a lama junto com você. Liga pra sua mamãe e
diz que está embarcando amanhã no primeiro voo para
encontrar com ela e seu padrasto. É disso que você
precisa para ser feliz, é isso que terá. Cansei. — José deu
as costas e saiu, fui atrás dele, Betina, os meninos e Bela
estavam na cozinha. José pegou um copo com água e foi
para a varanda. Olhei com pesar para ela, peguei duas
xícaras de café e fui me juntar ao meu marido. Ele me
abraçou com um dos braços e beijou minha cabeça.

— Eu te amo, meu anjo! Vem, não vou estragar


nosso dia, vamos tomar café em paz.

Voltamos para cozinha, estavam todos na mesa,


menos Celina e Thomas.
— Você fez o certo filho, Thomas não está dando
valor a sua determinação em ficar com eles, acha que está
ruim, deixa ele ver como é do outro lado, ou você será
sempre o vilão.

— Eu sei, pai, ele já sabe escolher, não é nenhuma


criança.

Todos começaram a se acomodar na mesa.

— Vou acordar a Celina para tomar café conosco. —


José me acompanhou. E ele mesmo acordou nossa
princesa que já sorria antes mesmo de abrir os olhos.

O café da manhã foi salvo por Gabriel e Betina, que


tinham um bom humor contagiante.

Logo depois nos despedimos e fomos embora. José


estava determinado a mandar Thomas para Alemanha com
a mãe. Ele estava certo, mas tenho certeza que vai se
arrepender, não suportará ficar sem o filho.
— José, você não quer pensar direito? Mandar o
Thomas para o outro lado do mundo, para longe de você
não é uma boa ideia, tenho certeza que não vai ficar
tranquilo aqui.

— Maia, minha decisão está tomada, Thomas estar


aterrorizando Celina, foi a gota d’água. Ele está me vendo
como um inimigo, alguém que quer afastá-lo da mãe.

Depois do jantar, José chamou Thomas no escritório,


se trancaram lá e ficaram por quase uma hora. Já estava
deitada quando ele entrou no quarto.
— Tudo bem?

— Conversamos, vou mandar Ricardo com ele até lá,


no avião do Otávio, ele está muito empolgado, mas não
conseguimos falar com a Leila.

Thomas não foi na aula no dia seguinte e José saiu


cedo, mas voltaria assim que conseguisse conversar com
ela para preparar a viagem de Thomas.

Às dez horas da manhã, Thomas saiu descontrolado


de dentro do quarto. Chorando, xingando, chutando
cadeira.

Estava conversando com Rita, saí da cozinha e fui


para sala de onde vinha os gritos do Thomas.

— A culpa é sua! — Gritou ao ficar na minha frente.


O encarei sem dizer uma palavra. Quando ele percebeu
que não conseguiria me afetar, pegou a cadeira e tacou
longe, pegou o vaso de cima da mesa e arremessou na
parede. Ricardo e mais um dos seguranças entraram na
sala. Pararam ao ver a cena, Ricardo me encarava
esperando alguma ordem, mas não falei nada. Thomas
continuou a arremessar e quebrar tudo que encontrava.
Ricardo foi em sua direção, mas o mandei parar com um
gesto de mão. Pensei em minha mãe, no meu pai, eles
saberiam exatamente o que fazer.

— Já chega! Pode parar agora. — Gritei com raiva.


— Você não manda em mim! Você se faz de
boazinha, mas é uma vadia safada! — Pegou umporta-
retrato do aparador e tacou em mim. Consegui me
defender com o antebraço, mas o vidro caiu no meu pé
fazendo um corte horrível.

— Filho da puta! Você é igual a sua mãe, ruim, odeia


ver as pessoas felizes, é egoísta, eu tenho pena do seu
pai por ter um filho como você. — Ele me encarava com
ódio. Olhou para o meu pé escorrendo sangue, Ricardo me
ajudou a ir sentar em uma cadeira. Enquanto Rita correu
para pegar a caixa de primeiros socorros.

— Você não passa de uma piranha, amante do meu


pai.

— Pelo menos ele não te abandonou por minha


causa. — Falei com raiva enquanto Rita se abaixava para
limpar o sangue que escorria.

— O corte foi fundo, acho melhor levar ela para o


hospital Ricardo, acho que terá que dar pontos.

— Minha mãe não me abandonou! — gritou.

— Que bom, e que ótimo que vai encontrá-la em


breve.

— Tomara que você morra!


O moleque ficou gritando enquanto Ricardo me
pegou no colo e me levou para o carro, a faixa que Rita
havia enrolado no meu pé já não segurava mais o sangue.

— Ricardo, a Celina, tem que buscá-la.

— Ainda faltam duas horas, já falei com o senhor


José também, qualquer coisa ele manda Wagner pegá-la.

— Não, não quero que a levem para casa. Não é


para mandar ninguém buscá-la. Vou ligar na escola.

Liguei na escola e pedi para servirem o almoço para


ela e que provavelmente atrasaria um pouco. Entrou outra
ligação no meu aparelho e vi que era José.

— Maia, você está bem? Estou indo te encontrar no


hospital.

— Não precisa, José, é só um corte.

Lógico que não adiantou falar nada, estava levando


os pontos quando ele chegou. Confesso que dei graças as
Deus, nunca havia ido no hospital sozinha, nunca levei
pontos, e foi só José me abraçar que as lágrimas rolaram.

— Quantos pontos? — José perguntou para o


médico.

— Dez, o corte foi fundo, acidentes domésticos são


extremamente perigosos. Precisa se cuidar, vou passar
uma relação dos alimentos que ela deverá evitar, e agora,
vamos tomar uma Benzetacil. Me agarrei ao José para o
enfermeiro dar a injeção. Assim que me liberaram, José
perguntou:

— Meu amor, o que aconteceu, como cortou o pé


assim? — José empurrava a cadeira de rodas até os
elevadores que levavam para o estacionamento. Não
respondi nada. Assim que entramos no carro, José atrás
comigo e Ricardo no volante, ele perguntou ao motorista:

— Quem foi buscar Celina?

O homem encontrou meus olhos no retrovisor e vi


José se enfurecer.

— Não deixei ninguém ir pegá-la. Pedi para servirem


almoço para ela que eu atrasaria um pouco, vamos passar
lá agora e levá-la para casa.

José me encarou desconfiado e sério. Rosnou baixo


para mim:

— O que está acontecendo?

— José, eu me cortei em um vidro que Thomas


quebrou, ele está muito nervoso, não sei o que aconteceu.
— Olhei para Ricardo no banco da frente que balançava a
cabeça negativamente. José me encarava fixamente
esperando algo amais. Sem muita paciência perguntou
novamente:

— Como você se cortou?

— Com um vidro.

— Isso eu já sei! — gritou.

— Eu fui pegar um caco quebrado e caiu no meu pé!


— gritei também.

— Tá, vem cá, não fique nervosa. Só estou


preocupado. — Me puxou para o seu colo e fiquei
aninhada até pararmos na escola para pegar Celina, que
ficou horrorizada ao me ver com o pé enfaixado.

Quando José entrou no quarto do Thomas para falar


com ele, chamei Ricardo e Rita na cozinha para conversar.

— Não quero que José saiba como Thomas me


ofendeu e que ele que me machucou, Rita falei para ele
que me cortei quando fui juntar o que Thomas havia
quebrado no seu surto. Vou falar tudo o que aconteceu,
menos como me agrediu verbalmente e que me tacou o
porta-retrato pesado de vidro.

— Por que está fazendo isso, Maia? — Rita


perguntou abismada.
— Para ele não deixar a raiva falar mais alto e
porque é isso que o Thomas quer, que o pai sinta raiva
dele por minha causa. Ele está esperando tudo de ruim,
mas de mim, ele não terá. Não vou dar esse gostinho para
ele. Além do que, José já decidiu o deixar ir morar com a
mãe, não vou ter que conviver com ele diariamente.

— Você está certa, dona Maia, ele está esperando


tudo, se falasse para o senhor José, com certeza ela
mataria o menino, mas sinto em te dizer que ele saberá o
que aconteceu.

— Ricardo, espero que você não faça isso. Não vai


ganhar nada.

— Não vou falar, mas ele saberá dona Maia.

— Espero sinceramente que não.

Rita, por favor, não tira o olho da Celina, não a


quero sozinha por nenhum segundo.

— Pode ficar despreocupada dona Maia.

Fui para a sala de TV, coloquei o pé que começava a


latejar para cima e cochilei.Acordei com José me pegando
no colo.

— Vou te colocar na cama, você precisa ficar


quietinha para não inflamar esses pontos.
José colocou vários travesseiros embaixo do meu pé
e sentou ao meu lado na cama.

— O que aconteceu, por que Thomas surtou deste


jeito?

— Ele estava muito assustado, nervoso e acuado.


Mas com certeza, foi a mãe. Ele disse que Leila acha
melhor ele a esperar aqui. Inventou uma história triste pro
menino e o dispensou. Resumindo, ela não o quer lá. E é
por isso que tenho certeza, que Thomas deve ir morar com
ela por um tempo. Para ele ver quem a mãe é. Não achar
que sou o culpado de tudo.

Bateram na porta. E José respondeu:

— Entre. — Rita entrou com um copo de suco.

— Dona Larissa, dona Carla e seu Ramon estão aí.

— Vou ir falar com eles. — José respondeu.

— Não, pede para Carla vir aqui, Rita, por favor. —


Não demorou muito Carla entrou no quarto.

— Oi, como vocês estão? — Olhou desconfiada.

— Maia levou dez pontos no pé, estou extremamente


preocupado, mas de resto, estamos bem. — Deu um beijo
no rosto da amiga.
— Vou ir falar com o Ramon. Aproveita e dá umas
recomendações para essa teimosa que quer ficar andando
pela casa. — Carla sorriu e sentou na poltrona perto da
cama. Assim que José saiu e fechou a porta falou:

— Você não falou. Se tivesse falado, José estava


derrubando essa casa.

— Não pense que sou boazinha. Estou pensado em


José, na Celina e na paz da minha casa.

— Você é muito sabia, Maia. Thomas me ligou


desesperado, disse que era para eu vir, que não sabia o
que fazer que havia te machucado, que os seguranças não
o deixaram sair e que o pai o mataria. Estávamos na praia,
Ramon e eu subimos correndo. Estava preocupada com o
que José faria com ele.

— Carla, sei que ele é seu afilhado, que o ama, mas


Thomas tem quatorze anos, sabe muito bem o que é
maldade. Ele é egoísta, não suporta ver ninguém feliz.
Ele não suporta ver as pessoas bem, e nem consegue
disfarçar, não existe nada neste garoto que lembre o pai,
nem a família do José.

Carla me olhou espantada, com os olhos


arregalados, percebi na hora que ela pensava o mesmo
que eu.

— Você pensa o mesmo que eu. — Afirmei.


— Se José sonhar com uma coisa dessas ele morre,
Maia, ou mata alguém. E ninguém pode afirmar isso.

— Tenho certeza, Thomas não é filho do José.

Estava chegando na porta quando ouvi Maia dizer


que não existia nada em Thomas que lembrasse a mim ou
a minha família. Parei, porque o baque acertou na ferida.
Tentei com todas as minhas forças não pensar sobre isso
desde que descobri que Leila tinha um caso com o primo.

Mas ouvir da Carla a mesma desconfiança, era


quase uma total afirmação. Desde quando ela acha isso?
Ou tem certeza e só não queria que Maia também tivesse?

Voltei para a sala. Não me lembrava do que estava


indo fazer no quarto, Carla foi conversar com Thomas, e
quando meus amigos foram embora me tranquei no
escritório com a desculpa de ter que trabalhar, mas não
conseguia me concentrar em nada.
Thomas entrou no escritório, fiquei observando-o
depois de sentar na cadeira a minha frente. Ele não
parecia comigo fisicamente, mas isso não quer dizer que
não seja o meu filho, ele é meu filho, larguei meus sonhos,
minha vida, tudo por esse menino que está sentando a
minha frente, ele é sim meu filho, o cara que darei a minha
vida para proteger se for preciso.

— Enquanto a minha mãe não volta quero ficar na


casa dos meus avós. — Foi ignorante.

— Não, você tem pai e mãe, ou com ela ou comigo,


Thomas, e já te avisei que nunca mais quero que quebre
nada dentro de casa. Nem daqui, nem de nenhuma outra.
Da próxima vez não ficará apenas sem mesada.

— Odeio essa casa, a sua mulher, odeio tudo isso.

— Tudo isso, o quê? Uma casa onde as pessoas


conversam, um lar onde podemos receber nossos amigos?
Odeia me ver feliz, ver a sua irmã feliz?

— E eu, eu não preciso ser feliz, nem a minha mãe?

— Fala baixo comigo, eu sou o seu pai. E você


realmente acredita que sua mãe esteja infeliz?

— Sim, ela está, eu sei o que está acontecendo,


você acha que ela não me contou? Fica se fazendo de
bonzinho e impedindo que eu fique com a única pessoa
que me ama de verdade.

— Você acha que a única forma de amar alguém de


verdade é odiando e maltratando as outras pessoas, o que
eu preciso fazer, maltratar a Maia e Celina, passar a mão
na sua cabeça e dizer que tudo que faz é lindo e está
certo? Se for esse amor que espera de mim, desista.

Ele levantou, saiu e bateu aporta, encarei o pedaço


de madeira por minutos sem fim.

Thomas e Celina são meus filhos, nada mudará isso.


No dia seguinte que senti dor de verdade, dona
Helena e seu Estevão vieram para me ajudar, e nunca
senti tanta falta dos meus pais na vida.

— Ei, você quase não comeu nada no café da


manhã, toma essa vitamina.

Peguei o copo da mão da minha sogra, e mesmo


sem vontade, fui bebericando.

— Maia, você quer contar a verdade para mim, o que


aconteceu, como machucou esse pé?
— O vidro do porta-retratos caiu no meu pé.

— Tudo bem, se quiser conversar estou aqui, tá


bom? O que a mãe dele disse? Não quis perguntar para o
José, ele está muito nervoso e sobrecarregado.

— Ela disse que em uma semana ou no máximo


duas estaria de volta. Thomas lhe disse que não queria
ficar aqui por nem mais um dia, ela falou que estava
cuidando da mãe, que estava muito abalada
psicologicamente, que precisava de um tempo, que ficaria
preocupada com ele se ele fosse para lá. E que por isso,
precisava desses dias. Para ele ficar aqui, que assim que
ela chegasse viria buscá-lo. E não atende mais o telefone.

— Não acho que ela queira ficar com nenhum dos


dois, essa é a real. — Acabei dando a minha opinião...

— Mas Thomas precisa ver que não é o pai que está


impedindo-o. Não entendemos porque está tão revoltado,
ele queria que os pais se separassem, sempre falou que
Leila o sufocava, preferia ficar com a gente. — Minha
sogra contou.

— Estou preocupada com José. Depois do que


aconteceu ontem ele ficou totalmente abalado.

Depois que Carla e Ramon foram embora José se


trancou no escritório, quando foi para cama já passava
das duas da madrugada e saiu às seis da manhã para o
escritório, a tristeza estampada no seu rosto, nem
conseguia disfarçar.

— Maia, sei que está sendo difícil para você, mas


não desista do meu filho, ele não irá suportar tantas
decepções.

— Por que tantas? — Ela abaixou a cabeça, e ficou


por longos minutos. Quando voltou a olhar para mim,
lágrimas escorriam pelo seu rosto.

— José ligou para o pai às duas da madrugada.

Olhei preocupada, meu coração disparou dentro do


peito, não conseguia nem imaginar o que ela diria, mas
fiquei em pânico mesmo assim.

— Fala dona Helena, pelo amor de Deus, o que ele


queria?

— Perguntou sem rodeios, José sempre foi muito


direto, se achávamos que Thomas não era filho dele.

Meu Deus, será que ele ouviu minha conversa com a


Carla? — pensei.

— E o que vocês disseram? — Ela ficou me olhando


sem realmente me ver, seus pensamentos estavam muito
longe dali.
— Estevão nunca conversa nada importante por
telefone, disse para José que viria conversar com ele
pessoalmente. Mas acho que isso já foi uma resposta.
Maia, depois de tudo, pensamos muito. Ela sempre foi
muito próxima do tal primo. Hoje, olhando os fatos, ela
bancando ele como dinheiro do meu filho, não duvido que
foi armação desde o início, Leila sempre foi mercenária.

— E Celina? — Sentei ereta e nervosa.

— Esse é mais um motivo de acharmos que Thomas


não é filho legítimo do José. Ela nunca se importou com a
Celina, depois que a menina nasceu tudo ficou pior do que
já era. Nossa teoria é que Celina é filha do José, e o
amante não aceitou. Ou pelo que estamos acompanhando
de toda loucura dela, é que ele arrumou a desculpa
perfeita para se afastar dela. Ele está com essa namorada
tem seis anos, a idade da Celina.

— Meu Deus! Dona Helena, se tudo isso for verdade,


o que será do José?

— Sei que você está escondendo alguma coisa, que


é muito difícil o que está passando, mas não o abandone,
ele só terá você e Celina.

— Dona Helena a senhora sabe mais do que está


falando, pode confiar em mim.
— Então vamos fazer assim: me fala a verdade,
confia em mim, e eu confiarei em você.

— Thomas me tacou o porta-retrato, me agrediu


verbalmente e fisicamente. Mas não quero que José saiba.
Só o deixará mais triste e angustiado.

— Oh, minha filha, você está sendo tão maravilhosa


na vida do meu filho. Você não merece viver assim. Mas
não quero que vá embora.

— Eu não vou. Não vou abandonar seu filho. Não


importa o que aconteça. Agora me conta o que você sabe.
Por favor.

— Já fizemos os testes de DNA. Thomas não é filho


biológico do José e Celina é. Fizemos na semana que
chegou, há um mês. Estávamos esperando a audiência
tanto do divórcio, quanto da guarda das crianças, para
sentarmos com José e conversar. Ou talvez nunca
dizermos, para ser honesta. Mas além de tudo isso, tem a
sua família. Seus irmãos conversam diariamente com José
e como ele não mede palavras, contou o que está
acontecendo, disse que machucou o pé depois de um
surto do filho, seu irmão mais velho está vindo do Canadá
para te ver. Sua mãe conversou comigo hoje cedo. Ela
quer que vá para casa.

— Não vou! — Tentei levantar de uma vez


esquecendo o pé machucado, senti uma dor lacerante. —
HAAAA! Droga... não vou largar meu marido, não quero
ninguém interferindo na minha vida. Se não puderam nem
me ouvir, qual o direito que acham que tem em interferir?

— Meu Deus, menina, olha seu pé.

Olhei para baixo e vi o curativo ensanguentado.

— Maia, eles não querem que largue o José, eles


aceitaram o relacionamento de vocês, só querem que você
fique mais perto. Vocês compraram uma casa perto de
onde seus pais moram, não é mesmo? Então, sua mãe
quer que fique por lá até tudo se acalmar. Mas agora,
precisamos fazer um outro curativo nesse pé e rezar para
não ter aberto nenhum ponto.

José chegou tarde, e só havia me ligado para


perguntar como estava o meu pé machucado e nada mais.
No dia seguinte, a mesma coisa, mal falou comigo durante
o dia, chegou quase meia noite, tomou um banho e deitou.
Fiquei com raiva, levantei com dificuldade da cama, fui
para o quarto da Celina e me deitei com ela, que já dormia
há horas. Estava cochilando quando senti as mãos dele
me erguendo da cama. Assim que entrou no nosso quarto
falou:

— Me perdoa, meu amor. Não percebi que estava


sendo um ignorante com você.
— Está mesmo, até parece que eu que sou a
culpada por tudo.

Ele me apertou em seus braços:

— Nunca mais repita uma coisa dessas, você é a


única coisa que está me segurando em pé. No dia
seguinte pela manhã, estávamos todos na mesa do café
da manhã, incluindo meus sogros. Thomas não me dirigia
à palavra nem eu a ele.

— Maia, falei com seus irmãos o que aconteceu. —


Thomas olhou para o pai, esperando o que ele diria.

— Falei para ela, meu filho.

— Maia, Leonardo chega hoje no fim do dia, o


convidei para passar a noite aqui em casa.

— Você não deveria ter feito isso sem meu


consentimento, mas aqui é a sua casa, você faz o que
quiser, e eu tenho que aceitar tudo e qualquer coisa.
Quem sabe ele nem precise passar a noite aqui, já vou
deixar minhas coisas arrumadas.

Fiquei em pé, todos na mesa do café me olhavam,


José ficou paralisado.

— Era isso que você queria? Conseguiu. — gritei


para Thomas e saí mancando da mesa. Celina desceu e
correu até a mim, segurou minha mão e fomos juntas para
o quarto.

— Mai, quem vai arrumar a minha mala?

— Eu. Onde a Mai for, você vai junto, tá bom?

— Tá. — Segurou forte a minha mão.

— Minhas meninas não vão para lugar nenhum. —


Virei-me para trás e vi José parado na porta.

— Celina, a Rita e a vovó estão indo na sorveteria,


só estão te esperando. Não esquece de trazer sorvete
para a Maia.

Quando ficamos sozinhos José me encarou:

— Que porra pensa que está fazendo?

— Poupando o seu tempo. Você acha que pode


decidir tudo, determinar minha vida, se quer ou precisa
que eu fique longe, seria muito mais digno da sua parte
falar primeiro e diretamente para mim.

— Não quero que vá para lugar nenhum, porra! Sua


mãe conversou com a minha essa semana e me deixou
mais desestabilizado do que já estava. Falo diariamente
com seus irmãos e você sabe disso. Não esconderia deles
que havia se machucado, Leonardo já estava para vir para
o Brasil, ele só antecipou a viagem. Maia, não posso nem
sonhar e te perder, nunca mais diga que vai me deixar.

— Não disse que iria te deixar, só iria fazer o que


aparentemente você quer, me distanciar, as coisas nesta
casa estão pesadas, você não conversa mais comigo,
chega de madrugada e mal amanhece o dia já saiu,
passou a responsabilidade da nossa rotina para os seus
pais. Não sei o que pretende fazer em relação ao Thomas
não querer ficar com agente, não sei de nada.Um dia,
Thomas acorda e decide quebrar tudo, no outro, seus pais
que estão cuidado de nós, no outro, você convida meu
irmão que está do outro lado do mundo para vir me
convencer a sair da minha casa. Está brincando comigo.
Só pode.

— Maia, pedi a ajuda dos meus pais porque não sei


o que fazer com Thomas, acho que além do que aconteceu
você está me escondendo algo ainda mais grave. Já pedi
para separarem toda filmagem do dia que Thomas quebrou
as coisas, e de dias antes. Já estão comigo há dias, só
não tive tempo para ver ainda.

Fiquei olhando séria para ele, merda, esqueci


completamente que tempos câmeras em todos os cantos
da casa.

— Maia! — José sentou e colocou as mãos no rosto.


— Estou me sentindo esgotado, preocupado com você,
com as coisas que estão acontecendo e com as que ainda
vão acontecer.

Me enfiei em seu colo, beijei cada pedacinho do seu


rosto.

— Eu te amo e vamos conseguir passar por tudo


isso. Sei que o pior ainda está por vir, mas temos um ao
outro, olha aqui para mim. Eu aproveitei que estou
tomando antibiótico e parei o anticoncepcional.

Ele parou de mexer as mãos que passeava pelas


minhas costas, me encarou tão sério que me arrependi de
ter dito isso.

— Mas posso ir tomar a injeção, José, só não te


comuniquei porque era uma vontade sua, mas podemos
esperar mais um pouco.

Na realidade ainda está dentro do período para


tomar a injeção. Só decidir não tomar mais.

— Não, não quero que tome, quero mais que


qualquer coisa continuar a nossa família em paz, não vejo
a hora de nos casarmos e termos nossos filhos. Não ter
que pensar em nada, nem em ninguém que não seja em
nós dois.

— Que horas meu irmão chega?


— Às dezessete e trinta. Um motorista irá buscá-lo.

— Estou com muita saudade dele, mas sei que


vamos acabar brigando. Não estou com paciência para ser
tratada como uma criança inconsequente.

— Você precisa ter um pouco de paciência com


todos eles, as coisas aconteceram rápido demais.

Celina entrou como um furacão no quarto.

— Comprei muitos sorvetes, vem Mai.

O resto do dia foi um complô entre meus sogros e eu


para deixar José ocupado ao ponto de não assistir as
filmagens.

— Não sei porque estamos fazendo isso, ele irá ver


de qualquer jeito. Estou achando melhor deixá-lo ver de
uma vez, depois tentamos acalmar a fera. — Meu sogro
falou impaciente.

— Quem sabe ele não esquece.

— Ele não vai, e Ricardo me falou que ele vai matar


o Thomas, que foi horrível.

— Não tem como apagar as imagens? — Perguntei,


meu sogro me olhou com uma cara de interrogação.
— Você quer fraudar imagens de uma câmera de
segurança de uma agressão contra você? Isso já não é
muito comum. E tem mais uma coisa, José criou todo o
sistema, é um dos mais inteligentes do mundo, a Dantas
Dellatorres vende esse sistema de segurança para o
mundo todo e o programa original foi feito pelo seu
marido.

Fiquei olhando para meu sogro incrédula.

— Ele vai matar o Thomas e vai querer me matar por


ter mentido.

— Vou mesmo.

Olhei para a porta e José estava parado me


fuzilando com os olhos. Fechei os olhos e suspirei fundo.

— Vocês querem me falar alguma coisa antes que eu


vá ver as filmagens que a minha mulher quer apagar?

— Filho, deixa isso como está, não vamos alimentar


o lobo mau que existe em nós. Maia que foi a prejudicada,
não quer dar mais atenção do que isso merece. Escuta a
sua mulher.

— Não vou nem te responder, pai. E você, Maia, vai


dizer o quê?
— Para você não ver. Thomas quer isso, quer que
brigue com ele por minha causa, ele precisa de um motivo
para me odiar, ele está tentando criar um.

— Aposto que conseguiu. — Virou as costas e


caminhou rápido para o escritório, trancando-se lá em
seguida.
José estava trancado há uns vinte minutos dentro do
escritório quando o motorista chegou com meu irmão. Foi
a melhor coisa que poderia acontecer naquele momento.
Vê-lo parado ali no meio da minha sala, me encheu de
emoções que estava fazendo de tudo para ocultar. Ele
andou rápido até a mim, e quando me agarrou em seus
braços me tirando do chão me agarrei a ele e chorei,
desesperadamente, convulsionando, estava morrendo de
saudade desse gigante que sempre me protegeu de tudo e
de todos.
— Eu amo você, Leo. Por que foi embora para tão
longe? Você me deixou sozinha...

— Oh, minha bonequinha, não fala isso, agora estou


aqui, tudo ficará bem.

Com Leonardo me mantendo firme em seu colo,


aninhei minha cabeça em seu pescoço e chorei até me
acalmar. Ele falava baixo em meu ouvido:

— Estou muito orgulhoso de você, da mulher forte


que se tornou, sabe que nenhum mal dura para sempre e
não sairei mais de perto de ti até tudo estar no seu devido
lugar.

Leo levantou a cabeça e mesmo estando de costas


senti a presença do José na sala.

— Boa noite, José.

Leo andou até ele comigo ainda no colo. E antes de


José apertar sua mão estendida, me segurou pelas costas
e me tirou de seu colo. Leo, deu seu sorriso torto, e
estendeu ainda mais a mão.

— Boa noite, Leonardo. Seja bem-vindo.


Infelizmente chegou em um momento que não poderei te
dar atenção, quem sabe Maia não para de mentir e te
conta a verdade enquanto vou ir resolver as coisas com
meu filho?
— José?

— Primeiro o Thomas, Maia.

— Ele não está em casa, seu pai saiu para


conversar com ele.

— Inferno! Vocês estão todos ficando loucos? O que


ele fez foi um crime, foi coisa de polícia!

Leonardo passou o braço no meu ombro e ficamos


parados olhando José esbravejar no meio da sala.

— Por quê? Por que você mentiu?

— Filho, calma, se não colocar a cabeça no lugar vai


acabar machucando seu filho. Ele precisa da nossa ajuda,
ele não é um menino ruim.

— Não? Ele é um ótimo garoto. Você sabe o que ele


fez com a minha mulher? Se você souber e tiver passando
a mão na cabeça do aspirante a marginal eu não te
reconheço mais.

— José, sua mãe não sabe, nem seu pai, não


exatamente, sou a única pessoa com quem você tem que
brigar.

— Você poderia me dizer o que está acontecendo,


bebê?
José olhou para meu irmão com ódio.

— Thomas me jogou um porta-retrato de vidro, foi


isso que machucou o meu pé. E olha: — mostrei o braço
roxo que José ainda não tinha visto.

Ele ficou paralisado olhando, depois de um instante


pegou o celular e esperou alguém atender.

— Trás esse moleque pra mim, agora.

Olhei para dona Helena, pedindo socorro.

— José, posso falar com você em particular?

— Não.

— Sim! E agora! — gritei. — Me leva para o quarto.


— Ele suspirou, me ergueu nos braços e me levou para o
quarto. Entrou e trancou a porta atrás de nós, me colocou
na cama e foi para o banheiro, saiu de lá secando o rosto
e o cabelo, pelo visto tacou a cabeça em baixo da
torneira.

— Se você não se acalmar, vou pegar a Celina e


pedir para o meu irmão me levar para Careaçu, você está
me deixando com medo.

— Eu? E não sentiu medo do Thomas tentar te


machucar novamente? — Falou indignado. — Não acredito
que escondeu algo tão grave. Mentiu sem pensar duas
vezes. Acho uma boa ideia você ir com a Celina para
Careaçu.

Fiquei muda olhando para o homem enfurecido em


minha frente. As coisas em relação ao filho só pioravam.

— Me perdoa? — pedi. — Nunca mais minto para


você. Meu amor, não queria que soubesse da verdade
porque sei que você está sofrendo, sei o quanto ama seu
filho e como gostaria que nós formássemos uma família.
Faria qualquer coisa para não ver essa decepção
estampada no seu rosto. Me perdoa?

— Vem aqui. — Ele me abraçou forte, desesperado.


— Eu te amo, Maia, e te perdoo, sempre, mas nunca mais
minta para mim, promete?

— Prometo.

— Não vamos mais mentir, por pior que seja o


problema. Não vamos construir nosso relacionamento
sobre mentiras, nem meias verdades.

— Prometo! Não vamos mais mentir um para o outro,


nunca mais.

— Vem, vamos conversar com seu irmão. Gostaria


que fosse para Careaçu com a Celina, posso pedir para
meus pais irem junto para te ajudar com ela e com a
casa.
— O que vai fazer com Thomas? — Perguntei
assustada.

— Não vou machucá-lo, Maia, Thomas é meu filho.


Mas depois do que ele fez, não pode ficar impune, não
podemos agir como se fosse normal. E não quero que ele
desconte a raiva em vocês. Também acho uma excelente
oportunidade para você conversar com seus pais, graças a
Deus as coisas andam melhorando na empresa, Otávio
está voltando a trabalhar. E vou ir buscá-las no início da
semana.

Sentamos para conversar com Leonardo, na mesa


para um café da tarde.

— O que está acontecendo? — Leo perguntou


diretamente para o José.

— Acabei de descobrir, porque vi nas filmagens que


pedi do dia em que Maia machucou o pé, que não foi da
forma que ela tinha dito, limpando os cacos.

— Thomas jogou o porta-retrato em mim.

— E por que mentiu, Maia?

— Thomas quer um motivo para me odiar Leo, e não


queria que José soubesse para ficar neste estado. Eu
errei, não vai mais acontecer.
— Já falei que estou muito orgulhoso de você. Por
se posicionar, por lutar pelos seus objetivos.

José olhou o celular e pediu licença para atender e


saiu, nos deixando sozinhos na sala de jantar.

— Ouvir isso de você me surpreende, achei que me


trataria como uma criança mimada.

— Sabe que sempre te considerei uma filha, que me


apeguei demais, superprotegi, e o quanto foi difícil ir
embora, ficar tão longe. Mas todos nós fazemos escolhas.
Depois do episódio dos seus vídeos no Instagram, percebi
que não era mais criança, você não quis mais falar comigo
depois disso. Não tiro a sua razão, fui escroto em ligar
primeiro para os nossos pais.

— Sei que vocês esperavam que eu fosse uma


boneca perfeita. Mas eu não sou.

— Ninguém é perfeito, boneca. Quando você decidiu


ficar morando com José e aconteceu toda a confusão, foi
bom para colocar cada um no seu devido lugar. Nossa
família age como se tudo fosse maravilhoso e perfeito,
mas as coisas não são assim, Maia.

Lembrei na hora da Marília.

— A Isadora não quis vir?


— Não, ela não tem nada para fazer aqui.

— Sério? — Perguntei espantada.

— Maia, Isadora saiu daqui do Brasil brigada com


nossos pais, irmãos, a única que ficou ilesa foi você.

— Por quê? Não sabia disso.

— Porque ela me pegou com a Marília, lá em casa.

— Pegou como?

— Maia... nos pegou na cama.

— A Marília me pediu seu número de telefone, achei


melhor não dar.

— Mas ela conseguiu assim mesmo. Não vamos falar


sobre isso agora. Quero e vou te contar todos os detalhes,
vou precisar de você, da sua força ao meu lado.

— Leo, não vou ser conivente com nada, eu gosto da


Isadora, quero que ela venha na minha casa.

— Maia, esquece a Isadora que você conheceu, ela


não existe mais.

José voltou com a Celina e dona Helena. Celina


correu para o meu colo, Leo ficou nos olhando com um
sorriso bobo no rosto. Abracei forte minha princesa e a
virei de frente para o meu irmão.

— Celina, esse é o seu tio Leonardo, irmão da Mai.


— Leo, ergueu a sobrancelha e deu um sorriso gigante. —
Leo, essa é a minha princesa Celina, ela é o amor da
minha vida, a força que Deus me mandou, eu amo essa
pequena mais do que qualquer coisa e qualquer um, ela é
a minha vida.

Leo estendeu os braços e a pegou do meu colo.

— Vem aqui dar um abraço bem apertado no tio. É


um prazer ter uma sobrinha tão linda.

— E princesa... — Celina falou despretensiosa.

— Claro que sim, uma verdadeira princesa. Você é


linda. — Deu um beijo no rosto da minha pequena e me
entregou-a.

— Sua filha é linda, perfeita e convencida como


você, Maia. — Abracei Celina e fiquei paralisada olhando
para o meu irmão. Olhei para dona Helena que estava com
os olhos cheio de lágrimas, para José, que tinha um
sorriso orgulhoso no rosto. Celina virou para mim e
perguntou:

— Eu sou sua filha, Mai?


— Claro! — Beijei seu pescoço a fazendo rir. — Quer
bolo? Senta aqui, vamos tomar café.

Depois que estávamos todos na mesa. Leonardo


comentou que havia reservado um hotel.

— Por que não vai ficar em casa?

— Preciso resolver algumas coisas, não quero


envolver nossos pais. Gostaria que fosse comigo. Já está
na hora de acabar com essa briga, eles podem ter errado,
mas são seus pais, não pense que vão vir aqui e pedir
desculpas.

— Eu sei, só não quero piorar as coisas, não quero


mais brigas, vou ficar muito mal se quiserem impor... eu fiz
uma escolha, só queria que respeitassem, não precisam
concordar. — José segurou a minha mão e a beijou. —
Também, não quero chegar lá sem o José, e a Celina tem
aula.

— Não chegará, vou com você. E lá você decide


quanto tempo quer ficar.

— Você realmente quer se livrar de mim.

— E da Celina. — José brincou.

— Quem era no telefone?


— Meu pai. Ele precisou ir até a fazenda resolver
alguns problemas e Thomas foi com ele. Voltam amanhã
no fim do dia.

Suspirei aliviada. Combinamos de sair cedo no dia


seguinte. Depois que coloquei Celina para dormir, fui
tomar um banho e arrumar nossas malas. Estava exausta,
o remédio abaixava minha pressão. Deixei José e
Leonardo bebendo e conversando e fui dormir.

Levantei cedo, José já não estava mais na cama


tomei um banho e fui acordar a Celina, quando estávamos
prontas fui procurar meu marido e ver meu irmão.
Encontrei os dois debatendo na mesa do café.

— Pelo prazer de pagar?

— Já reservei, é só passar lá e pegar.

— Para com essa bobagem. Vai com qualquer um


que tem aí, menos com o meu. — José sorriu.

— Qual é o problema de vocês?

— Bom dia, minha bela adormecida. — José falou


comigo a Celina respondeu achando que era com ela. Dei
um beijo de bom dia no meu marido e outro no meu irmão.

— Vocês dormiram juntos? Vocês dormiram?


— José fez charme, tentou me seduzir, mas falei pra
ele que não vou para a cama no primeiro encontro.

Arregalei os olhos, meu irmão sempre foi brincalhão,


mas falar isso na minha frente era novidade, e na frente
da Celina? Dona Helena que estava em pé no balcão
começou a rir. Eu olhei espantada para ele e depois para
Celina.

— Ela não entende nada, fica tranquila.

— Do que vocês estavam falando?

— Seu irmão quer alugar um carro, falei para usar


um nosso, e temos que levar um carro para deixarmos lá.
Vou pedir para o Ricardo providenciar.

Por fim, fomos em três carros.

Meu irmão com um, José dirigindo o nosso e Ricardo


com os seguranças no outro que deixaríamos em Careaçu
para qualquer eventualidade.

— Celina está dormindo?

Olhei para trás e confirmei com a cabeça.

— A filha da puta está no Brasil desde a madrugada


da sexta-feira para o sábado.
— A Leila?! — Perguntei espantada. Ele bufou
indignado.

— A própria.

— Como você sabe? Ela te procurou?

— Não, muito pelo contrário, está fugindo, mas tem


uma pessoa monitorando seus passos. Meu amor, ficaria
muito mais tranquilo se você e a Celina estivessem longe
quando eu for confrontar a ela e Thomas. Sei que você é
forte, que não se deixa abater, e gostaria muito de tê-la ao
meu lado. Mas, independente de saber disso, vou ficar
extremamente preocupado com vocês duas se estiverem
por perto. Medirei minhas ações, eu prometo, mas se
vocês...

— Entendi, José, fica tranquilo, vou ficar aqui com a


Celina, resolve as coisas com seu filho. Mas só essa
semana, não podemos mudar nossa vida, nossa rotina,
todas as vezes que tivermos um problema.

— Sei disso, essa semana vou colocar um ponto


final em metade dos meus problemas.

— Vamos esquecer isso por enquanto, estou ficando


nervosa, estou com medo dos meus pais brigarem na
frente da Celina, eu acho que não, depois de me deixarem
lá na sua casa sozinha não sei mais o que pensar das
atitudes deles.
— Não fica assim, eu sei ser persuasivo.

Passou a mão da minha coxa à minha virilha, me


provocando.

— Estamos falando dos meus pais, seu safado.

— Vai ficar tudo bem, confio no amor que eles


sentem por você.

Decidimos ir direto para casa. Quer dizer: para casa


dos meus pais. O carro do Danilo e do meu pai estava na
porta, o que significava que eles estavam em casa. Assim
que paramos, a porta da frente se abriu e meu pai saiu
com a cara de bravo. Não tive coragem de descer do
carro. Olhei para Celina dormindo no banco de trás, José
tirava o próprio cinto e desceu. Meu irmão desceu do carro
e os dois se abraçaram carinhosamente, mas sem
delongas. Senti vontade de correr para os braços do meu
pai, mas se ele me renegasse iria me destruir. Meus pais
eram tudo o que eu precisava neste momento. José
desceu e ficou parado ao lado da minha porta. Ele tentou
abrir, mas segurei, ele simplesmente aguardou o meu
momento.

Meu pai andou em nossa direção, passou por José e


abriu minha porta. As lágrimas escorriam dos meus olhos.
Ele me olhava sem piscar. Estendeu a mão para mim, eu a
segurei e desci. Envolvi meu pai no melhor abraço da
minha vida. Seus braços fortes me rodeavam enquanto
distribuía beijos em minha cabeça. E naquele momento,
minha vida voltou a fazer sentido, um alívio descomunal
me dominou.

— Me perdoa, pai? Eu te amo tanto, senti tanta a


sua falta.

— Também sentimos a sua. Vem, vamos ver sua


mãe, acabou de entrar no banho, achamos que vocês
chegariam só daqui uma hora ou mais.

— Pai, vem cá. — Estendi a mão para ele e


mancando dei a volta no carro, abri a porta de trás e tirei
com dificuldade a Celina da cadeirinha, todos ficaram
esperando, pacientemente.

— Meu amor, acorda, chegamos em casa. — Ela


abriu os olhos e o sorriso, como sempre. — Pai, essa é a
Celina, a razão da minha vida.

— Vem aqui com o vovô. — A pegou do meu colo,


enfiei o braço no dele e entramos, José ficou para trás
com Leonardo. Fomos direito para o quarto dos meus pais.
Minha mãe estava toda apressada terminando de se
arrumar quando nos viu, olhou para mim, para meu pai
com a Celina no colo e parou.

Sorri por vê-la tão linda, meus pais eram lindos, e eu


estava com tanta saudade deles. Abracei minha mãe, que
todos achavam que era a boazinha, mal sabiam que por
trás daquele rostinho, estava a verdadeira líder da nossa
família.

— Senti tanto a sua falta, mãe, nunca mais me


abandona.

— Não vou, se precisar te dou uma surra, mas não


te deixou para trás nunca mais.

Minha mãe olhou para Celina que nos olhava sem


nem piscar no colo do meu pai.

— Então, você é a princesinha Celina? Dá um beijo


na vovó.

Celina se debruçou no colo do meu pai e deu um


beijo no rosto da minha mãe. Meu pai a colocou na cama.

— Meu amor, não desce porque você está descalça.


— Sentei ao seu lado na cama e estiquei minha perna,
meu pé estava latejando.

— Essa é sua mãe, Mai?

— É sim, meu amor, ela não é linda? — Celina


balançou a cabeça pensativa e veio para meu colo. Todas
as vezes que existe mãe envolvida Celina fica grudada em
mim. Minha mãe me olhou e percebeu.

— Pai, deixa eu te pedir uma coisa?


— Já sei o que é Maia...

— Pai, por favor, ele me ama tanto, pai.

— É por isso que perdoamos esse filho... — Olhou


para a Celina e parou no meio da frase.

— E por que seu pai é igualzinho, e gosta dele.

— José sentiu tanto quanto eu a falta de vocês.


Precisamos de vocês ao nosso lado.

— Nós estamos. Filha, você não fez nada de errado.


E José tem toda razão em querer refazer a vida ao lado de
uma pessoa normal. — Minha mãe ergueu as
sobrancelhas. Meu pai ia saindo do quarto, eu gritei:

— Pai, pede para o José trazer o Crocs da Celina. —


Não demorou muito Juliana entrou com os Crocs na mão
e se jogou em cima de mim na cama.

— Mulher de Deus, você vai assustar a criança. —


Falei rindo. — Cadê o José?

— Foi levado para o fundo do quintal pelos irmãos


metralhas e o senhor coronel.

— Ai credo, sua boba.

— Como é bom tê-la de volta. E trouxe uma


princesa. Celina, você sabia que sou irmã da Jussara, a
amiga da Maia, que ficou na sua casa?

— É?! E cadê ela. Eu gosto de brincar com a Ju, ela


gosta de brincar de comidinha de verdade. — Celina deu
uma risadinha.

— A Jussara não mora aqui, mas ela vai vir te ver,


ela falou muito sobre você. Disse que você é mais linda do
que todas as princesas do mundo.

— Oi, será que posso conhecer a minha sobrinha? —


Danilo já chegou me abraçando, se jogando igual Juliana.

— Cuidado com o meu pé!

Depois de um tempo Sandra e Marcos chegaram,


meu pai, José e meus irmãos, ficaram mais de horas
conversando, da cozinha dava para ver que às vezes meu
pai se alterava, mas no fim, beberam, fizeram churrasco e
tudo ficou perfeito. Celina nunca poderia ser mais
paparicada.

— Graças a Deus você está de volta! — Jussara


falou pela milionésima vez.

— Você sabe que não pode beber, né?

— Claro que sei, não estou bebendo.

— Você só se tornou repetitiva. — Debochei.


— Não, sua insensível...

— Maia, ela só está totalmente emotiva. — Juliana


brincou.

— Desculpa, só estou brincando. Já sabe o sexo do


bebe?

— Ainda não, estou muito ansiosa, só não mais que


a minha mãe.

— E o Samuel?

— Ah, Maia... ele é presente, mas nem sei explicar,


não estamos juntos, sem promessas, nem namorando
estamos. Mas também não estamos separados. Às vezes
chego à conclusão que nunca mais vou ficar com ele. Que
seremos só os pais do bebê, mas não podemos nos ver,
que já sabe, né?! Não tenho controle, nunca tive, temos
uma química muito forte, mas acho que é só isso mesmo.

— Às vezes eu acho que ele é totalmente


apaixonado, a forma que como cuida dela, como olha, o
ciúme, mas parece que alguma coisa o trava, ai Maia, não
sei explicar, ele é muito honesto, conversou muito com a
minha mãe. Enche a Jussara de presentes, o bebê. Mas
não conseguimos entendê-lo.

— Mas você está bem com isso? — Perguntei para


Jussara.
— A maior parte do tempo sim, ele é muito
atencioso, muito, eu quero dizer demais, excessivamente.
Aí quando ele é só normal, parece estranho, mas acho que
são os hormônios.

Vi a Celina correndo descalça em volta do meu pai,


com os filhotes da nossa cachorra correndo em volta. Toda
suja de novo. Tinha dado banho nela depois do almoço,
mas parecia que estava rolando na terra há três dias.

— Gente, tenho que dar banho de novo na minha


pequena. Já vai escurecer. Já volto.

— Celina? Vem colocar o chinelo e tomar um banho,


Celina! — Os cachorros corriam tentando morder as
perninhas dela. — Celina, eles vão te machucar.

— Vão nada! Deixa a menina brincar. Não está frio.

— Vovô, eles são todos meus, tá?!

— Tá bom, são todos seus.

— Pai! Depois quando ela vier para cá vai querer os


cachorrinhos, aí quero ver o que o senhor vai falar.

— Eles são dela, estarão todas aqui.

— Os cinco cachorros? A minha mãe vai te matar,


pai.
Fiquei das dezessete às vinte horas tentando ir
embora. Quando enfim chegamos em casa, Celina estava
exausta, tomou outro banho e dormiu. Leonardo deixou as
coisas em casa e saiu.
— O que o meu anjo está pensando?

Olhei para o José que estava saindo do banho.

— De quando você tinha que ir para São Paulo e me


deixava aqui.

— Oh, meu amor, não fica assim. É tudo muito


diferente, agora.

Me enganchei em sua cintura quando ele abaixou na


cama para me beijar.
— Quem vai me dar banho? Quem vai matar minhas
vontades?

— Maia... Maia... Isso é covardia.

Tirei a toalha da sua cintura e joguei longe. Segurei


seu pau duro e o masturbei lentamente enquanto distribuía
beijos pelo seu peito e pescoço.

— Deita. — Bati no travesseiro ao meu lado. Meio


contrariado o dominador me obedeceu.

Engatinhei até o meio das suas pernas, segurei seu


pau com vontade e lambi da base a cabeça grande.

— Ah, PORRA!

— Quer que eu pare?

— Não ouse. — Rosnou.

Passei a língua, limpando todo pré gozo que


escorria. E com vontade abocanhei, engolindo tudo o que
conseguia, metade daquele pau. José era grande e
grosso. Nunca conseguiria colocá-lo todo na boca. Chupei
seu pau com gula, estava com tanto tesão.

— Hummm! — gemia de prazer o enfiando até a


garganta.

— Caralho de boca gostosa.


Segurei seu pau com as duas mãos pela base e o
lambi todo, girando a língua na sua glande. José me
encarava como se fosse me devorar a qualquer momento.
Com ar de riso e vitoriosa, lambia-o com vontade e
lentamente.

Ele segurou os lençóis com força, senti todos os


seus músculos contraírem. Circulei ainda com mais
pressão a cabeça do seu pau, e botei a língua para
receber seu gozo, o primeiro jato inundou minha língua. O
engoli todinho.

— Haaa! Porra... engole tudo, Maia, isso, minha


vadia.

José nem mole ficou, me virou de uma vez e se


enfiou com força dentro na minha boceta encharcada.

— Haaaa... Maia! Isso, aperta ainda mais meu pau.


— Estava com tanto tesão que minha boceta palpitava.

— Goza... meu amor, goza, minha putinha.

Gozei como uma louca, uma, duas vezes, e


passamos noite a dentro transando como dois insaciáveis
que éramos.

Mal dormimos, o dia estava quase amanhecendo


quando apenas cochilamos. Às sete da manhã já
estávamos de pé.
— Maia, cadê a porra da chave?

— Não vou dar. Você não vai dirigindo. O motorista


vai com você, depois ele volta. O Ricardo vai ficar aqui.

— Ok, você venceu.

Me pegou e colocou em cima da pia.

— Isso, me dá um tempo extra, e posso gastá-lo


enterrado dentro desta boceta gulosa.

Seu beijo era firme, sexy e maravilhoso... abri


minhas pernas, José colocou minha calcinha para o lado e
enfiou um dedo na minha abertura sedenta.

— Porra, Maia! Sempre pronta pro meu pau.

Ouvimos barulho de porta e a voz do meu irmão.


José me desceu da pia no momento exato que Leo entrou
na cozinha. Ele olhou para nós, sorriu e levantou as mãos.

— Bom dia! — Olhou em volta alheio ao que estava


quase acontecendo.

Disfarcei pegando as xícaras de café para colocar na


mesa. José chamou Ricardo para avisar que iria precisar
do motorista que veio com agente. E logo depois que
tomamos o café da manhã, voltou para São Paulo.
Voltei para dentro de casa e encontrei meu irmão
sentado no mesmo lugar.

— Onde você dormiu? — Perguntei bem séria com


os braços cruzados.

— Com a Marília.

— Por que fez isso? Não está preocupado em


magoar sua esposa, nem a Marília que já tem um coração
todo despedaçado? Você não á assim Leo, quer falar o
que está acontecendo?

— Quero. Preciso.

Peguei uma xícara de café e sentei na cadeira a sua


frente.

— Maia, você deu a sacudida que a nossa família


precisava para deixar de ser essa farsa de perfeição.

Me endireitei na cadeira, alarmada com o que viria


desta conversa.

— Quando Marília e eu fomos pegos, as coisas


estavam tão ruins para mim quanto estavam para ela. Isso
é sim, uma desculpa pela traição, mas aí você julga e vê
se é válida ou não.

— Não estou aqui para te julgar. Muito menos para


te absolver. Mas sou uma boa ouvinte, e só.
— Olho para você e nem consigo acreditar que
troquei as suas fraldas, que te vi nascer. E hoje é esse
mulherão. Tenho muito orgulho de você.

Minha vontade era de dizer que não podia dizer o


mesmo, mas não queria ser cruel.

— Faz quanto tempo que isso aconteceu, e por


quanto tempo vocês tiveram um caso?

— Três anos. Foi rápido e intenso. Quando Marília


ficou uns dias na casa dos nossos pais, nos tornando
amigos, muitas conversas, muitos choros, ambos
colocamos nossa felicidade nas mãos de outra pessoa, e
com certeza, isso nunca acaba bem.

— Leo, sempre achei que você amasse tanto a Isa,


nunca imaginei que sofria.

— Eu a amava.

— Você se apaixonou pela Marília?

— Sim, mas não é por isso que meu amor pela Isa
acabou, na realidade é o oposto.

Olhava para ele e pensava em como sempre fui


alienada, nunca prestei atenção na minha família.

— Sou casado há dezesseis anos, e fui me


decepcionando gradativamente. No início, achava normal
a Isa ser um pouco individualista pela forma que foi
criada, pelos avós, depois por tios, sempre tendo que
dividir suas coisas com os primos. Ela sempre se sentiu
largada pela mãe, e foi mesmo, o pai morreu muito cedo,
então sempre consegui arrumar desculpas para sua forma
egoísta de ser.

— Leo, Isadora realmente tinha mágoa da mãe, com


razão, a mulher foi trabalhar em outro país, largou a filha
com os avós, logo depois que o pai dela morreu, então,
ela praticamente perdeu o pai e a mãe de uma vez.
Mandava dinheiro e presentes caros, mas não veio nem
para o velório da própria mãe nem do pai. Nem para se
dar ao trabalho de encontrar outra pessoa para cuidar da
filha. Que lógico, todo mundo queria ficar para receber os
dólares que a mãe dela mandava. A mulher ficou mais de
dez anos sem vê-la. E você acha que isso é uma
desculpa? Eu chamo de motivo.

— Maia, sei que a Isa tem seus traumas, mas isso


não lhe dá o direito de mentir nem manipular a minha vida
como um joguinho. Ela sempre soube que eu era louco
para ter filhos, sempre soube! Quis isso desde o primeiro
ano de casados. Ela não queria antes de terminar a
faculdade, como sempre, lhe dei razão e esperei. Depois
era a casa, que ainda não estava pronta, trabalhei dia e
noite para terminar nossa casa. Depois era porque
trabalhava demais. Quando fizemos dez anos de casados
estava extremante frustrado, tínhamos uma casa boa,
ótimos empregos, uma vida estruturada, mas ela
simplesmente não queria mais nem conversar a respeito,
quando tentava, ela se estressava, comecei a ficar
preocupado e me sentir culpado, achei que ela tivesse
algum problema.

— Vocês foram ao médico?

— Maia, foi aí que começaram os conflitos, ela não


quis, disse que não tinha nada, e que simplesmente não
queria ter filhos, que nunca quis ter, que eu precisava
respeitá-la. Mas eu sou louco, ou essa é uma informação
muito importante para ser dada depois de dez anos de
casamento? Ter filhos é sim uma decisão que muda toda
sua vida e não os ter, também. Maia, achei que
conseguiria convencê-la, foram muitas conversas, mas
Isadora conversa tranquilamente sobre qualquer coisa,
menos sobre isso, então ela sempre brigava.

— Mas nem adotar? De repente, ela só não queira


gerar uma criança.

— Ela não quer filhos de forma alguma, Maia.

Ele levantou da mesa, andou nervoso pela cozinha.

— Estou tentando fazer você entender, não precisa


concordar, mas o pior não é nada disso, minha irmã. —
Ele estava exasperado.
— Maia, tem um pouco mais de um ano que quero
me divorciar, mas Isadora está doente. Ou melhor, se
fazendo. Eu me deixei enganar porque me acostumei a
estar com ela. Os últimos cinco anos, sem dúvidas, foram
os piores da minha vida. Depois de tantas brigas, da
Isadora me largar depois que me flagrou com Marília, senti
muita falta dela, eu realmente a amava, achei que meu
amor era o suficiente, que abriria mão do sonho de ser pai
para estar ao lado da mulher que eu amava, por isso fiz o
possível e impossível para ela me perdoar, ela perdoou,
mas disse que já tinha decidido mudar para o Canadá,
larguei tudo e fui com ela. No início, achei que fosse para
ficar mais perto da mãe. Mas escolheu outra cidade e nem
a visita.

— Quando fui para sua casa, te achei triste,


diferente, pensei que fosse por estar longe da nossa
família, também nunca entendi você ir embora, já que
continuava a trabalhar na nossa empresa. Achei que não
ficaria por lá muito tempo.

— Estava triste, entrei em depressão, leve, mas tive


que me tratar com um profissional. Sentia-me sozinho,
anulei todos os meus sonhos, deixei minha família, você,
que sempre foi a minha força. Um dia, a Isa desmaiou,
levei-a para o hospital, até achei que ela pudesse estar
grávida, questionei os médicos, e quando foram fazer os
exames, me disseram que ela não poderia estar grávida
pois era laqueada.
— Hã?!

— Ela vez uma laqueadura! Perdi o controle, briguei,


falei que era impossível, quase fui preso, mas por fim, era
exatamente isso.

— Leonardo, mas vocês começaram a namorar ela já


tinha feito? Ela era muito nova. Quantos anos? Vinte e
três?

— Vinte e dois. — Sorriu debochado.

— Lembra quando ela foi para o Canadá ver a mãe


dela? Ela disse que a mãe havia pedido para que ela
fosse, que gostaria de se explicar e ter um momento com
a filha. Eu achei maravilhoso, achei que poderia fazer com
que ela sentisse o amor de uma mãe e quisesse
engravidar.

— Ai meu Deus! Não acredito que ela inventou que


teve que tirar o apêndice.

— Pois é, então você lembra!

— Sim, claro que lembro, foi um pouco depois que


fiz quinze anos. Meu Deus, Leo, isso é muito... Nem sei o
que dizer.

— Não diga nada. Não ainda. Ela está com alguns


problemas de vitaminas no sangue, algo que é meio
gênico, se tratado direito, vida normal. Mas ela se deixa
debilitar para eu não sair de casa. Ela se tornou
extremante dependente, não porque precisa, porque ela
escolheu assim. Eu não tive coragem de ir embora e
confesso que muitas vezes acabo dormindo com ela. Mas,
na maior parte das vezes, não consigo olhar para ela. Não
a conheço, para mim, ela se tornou uma total estranha.

— Ainda nem consigo assimilar o que está me


dizendo.

— Imagine eu? E há alguns meses, Marília


conseguiu meu telefone. Voltamos a conversar como
antes, ela é tão carente, tem tantos sonhos. Sabe que
sempre fui protetor, e ela sempre quis ser protegida,
cuidada. Não sei em que momento, mas me vi mesmo de
longe, protegendo-a, tendo crises de ciúme, ela se
apegou a isso, eu tinha um novo sentido. Um dia, fiz um
puta show porque vi postagens dos irmãos dela em um
almoço de família e o ex-marido grudado nela, senti algo
tão ruim, não queria imaginar os dois reatando, ele a
tocando. Percebi que estava gostando dela. Sei que já
tenho quarenta anos, mas ainda tenho sonho de ser pai.
E como ela já tem três filhos, perguntei se ela era
laqueada. Ela disse que não. Perguntei se ela me daria um
filho.

Ele sentou na minha frente e me encarou com


lágrimas nos olhos.
— Ela disse que já havia me dado.

Fiquei em choque olhando para ele. Refazendo sua


última frase mentalmente. Quando enfim me dei conta das
datas, levantei tão rápido que a cadeira tombou.

— Jordana! Meu Deus! A Jordana, dois anos.


Leonardo, a Jordana é tua filha?

As lágrimas escorriam do seu rosto.

— Desde quando você sabe disso?

— Desde ante-ontem.

— Então, você não veio por minha causa.

— Desta vez não, maninha.

— Ela tem certeza? Por que aí, desculpa Leo, mas


ela separa e volta, separa e volta, nunca ficou muito
tempo separada.

— Ela diz que tem certeza absoluta, mas vamos


fazer o teste amanhã.

— Mas você não pareceu muito feliz quando chegou.

— Eu estou puto, muito puto! Eu vi as fotos da bebê


e Maia, ela é a minha filha. E eu perdi mais de dois anos
da sua vidinha, e o pior, ela acha que tem outro pai. E que
neste momento está com ela. Só isso me dá tanta raiva.
Eu a quero sob a minha proteção. Aquele babaca não
cuida da porra de ninguém.

— Ai meu Deus, Leo, você tem uma filha. LINDA! Ela


é uma criança perfeita, é linda demais, parece uma... —
Ele olhou para mim rindo, um sorriso de orelha a orelha.

— Uma boneca, você ia dizendo. Os olhos dela são


iguais aos seus. — Todo mundo diz que eu parecia uma
boneca, algumas pessoas dizem que eu me pareço até
hoje. Sempre achei que Jordana parecia com uma.

— Ah Marília, filha da puta, sempre diz que ama os


meus olhos.

— Respeita, não a xingue desta forma. Ok?

— Ai meu Deus! Agora lascou de vez. Você é tudo


que ela sempre quis e mais um pouco. Um chato,
ciumento.

— Falou a mulher do homem que tem ciúmes até do


irmão mais velho.

— Não, José não tem ciúme de você.

— Você se faz de boba, né, bebê? Arrancou você


dos meus braços, mas antes achei que você me matar com
o olhar. Sem contar que te chamar de bebê, faz ele me
olhar como um assassino.

— Você está exagerando.

— Estou? Ele não é ciumento, então?

— Na verdade...

Leo e eu caímos na gargalhada.

— Maia, estou em pânico, quero tanto que ela seja a


minha filha, não consigo pensar em um teste negativo.

— Confie em Deus, e vocês pode ter outros filhos se


decidirem ficar juntos.

— Estava com tanta raiva, por ela ter escondido um


filho de mim. Quando cheguei na casa dela, estava tão
nervoso e revoltado. Mas depois de ter ouvido tudo que
Marília sofreu, tanto por ter que voltar com o marido, como
por me ver tentar de todas as formas possível reconquistar
a confiança da minha mulher. Sem contar que ela
descobriu a gravidez, estava de quase dois meses e já
havia voltado para casa.

— Falou com nossos pais?

— Só para você, só vou falar depois que sair o


resultado, mas independente, vou tirar ela daquela casa
ainda essa semana, a quero comigo o mais rápido
possível.

— Leonardo, não vai mais voltar para o Canadá? —


Perguntei assustada.

— Com fé em Deus, não.

Falei com José algumas vezes durante o dia, minha


mãe veio para me ajudar a contratar alguém para trabalhar
em casa. Aqui, as coisas eram diferentes, não
contratávamos por empresas de serviços, era indicação.
Pessoas de confiança, alguém que já conhecíamos.

Leo, disse que não dormiria em casa, então


decidimos ir dormir na casa dos meus pais.

Depois que José encontrou com Thomas na empresa


para conversarem, não falei mais com ele.

Já era tarde, não queria ligar para atrapalhar,


também, me distrai conversando com minha cunhada
enquanto Celina se divertia com os seus cinco filhotes no
quintal.

Mas depois que a coloquei para dormir, que tomei


um banho, resolvi ligar. Já era mais de vinte e três horas.
Só chamou, tentei mais duas vezes, e nada.
Mandei mensagem, várias mensagens, depois de um
tempo ele visualizou, mas não respondeu.

Mandei uma mensagem para minha sogra, que


visualizou na hora e me ligou.

— Oi, Maia, tudo bem?

— Tudo, eu que quero saber se está tudo bem por


aí.

— José foi levar Thomas na casa da Leila, e ainda


não deu notícias.
Mesmas atitudes, resultados iguais. Por isso estava
determinado a mudar o jogo totalmente.

Conversei com meu pai e assim que ele chegasse


traria o Thomas direto aqui para o escritório.

Estava aguardando, quando os dois entraram na


minha sala.

— Oi, pai, como foi lá? Conseguiu resolver tudo que


precisava?
— Graças a Deus foi tudo bem, mas ainda tenho
algumas pendências.

— Obrigado, o senhor precisa de um descanso, está


com uma aparência, bem cansada.

Thomas o encarou em pânico.

— Acho melhor o senhor me esperar, vô, também


quero ir logo para casa.

— Está com medo, valentão? Olha em volta, vê a


quantidade de coisas que tem para usar como arma e me
atingir.

Meu pai me olhou sério. O encarei com firmeza:

— Obrigado, pai, até mais tarde.

— Tchau pra vocês, espero que conversem direito,


fiquem com Deus. — Meu pai saiu e deixou Thomas
desesperado.

— Sente-se Thomas, nossa conversa será longa. —


Liguei o monitor calmamente e coloquei o vídeo dele
agredindo a minha mulher. — Esse aí é você? Onde está
toda essa coragem, agora? — Ele não dizia nada. — Você
quer me dizer o que é culpa da minha mulher? — Ele
balançou a cabeça dizendo que não. Estava controlando a
minha raiva e ele sabia disso. Levantei, fui até o bar,
peguei um copo, minha garrafa de conhaque e voltei para
a mesa. Tomei uma bela de uma golada e esperei que
agisse rápido, porque rever aquela cena me desestabilizou
novamente.

— Por que me impediu de ir para a Alemanha com a


minha mãe? Quer que eu a abandone também? Achou que
eu fosse ficar feliz da vida fingindo que a sua mulherzinha
é minha mãe igual a Celina?

Bati o copo na mesa com tanta força que Thomas


saltou na cadeira.

— Presta bem atenção, moleque, se faltar o respeito


com a Maia mais uma vez na porra da sua vida, eu não
respondo por mim. — Olhei bem para ele. — Vou te
mostrar exatamente o que é ser uma vadia safada. —
Coloquei as filmagens que havia separado da sua mãe,
com o amante, antes de nos separarmos. O amante
sentando a mão na cara dela depois que ela agrediu a sua
namorada. Cenas cada vez mais baixas. Ele ficou roxo, os
olhos cheios d’água. Mencionou dizer alguma coisa. Mas o
impedi.

— Essa porra é culpa de quem? Mas não pense


garotinho da mamãe que é só isso. Vamos continuar o
show, vou te poupar dos piores detalhes desta merda. Se
quiser saber mais, pergunta para a santa da sua
mãezinha.
— Sabe por que você não está na Alemanha agora,
Thomas? — Pulei o vídeo para o dia que ela veio
barganhar meu filho por dinheiro. Ele estava chocado
ouvindo a desgraçada falar.

“— O QUE VOCÊ QUER?

— Preciso de dinheiro. Você me deixou com um


único cartão.

— Com um limite altíssimo.

— Mas com limite, e praticamente nada em dinheiro


na conta. — Eu ri de ódio,. Ela continuou...

— Preciso de mais dinheiro, e um limite maior. Só


assim converso com Thomas. Invento uma desculpa e
convenço-o a ficar com você. Que ele está em aula, que
vamos tratar de doença, que serão apenas quarenta dias,
que quando eu chegar, ele estará quase de férias e
poderemos ficar mais tempo juntos. Se me der o dinheiro,
quando eu voltar, te dou a guarda definitiva deles. Se não
tiver bom pra você assim, se não me der o dinheiro, levo
meu filho e juro que farei tudo o possível para ele te odiar
e não querer nem mais voltar para o Brasil. E você sabe o
poder que tenho sobre ele.”

Depois que pausei o vídeo ele continuou olhando


para o monitor sem nem piscar. Bebi de uma vez mais uma
dose de conhaque e levantei revoltado.
— Cansei, moleque ingrato! Cadê a santa Leila,
agora, sabe onde ela está? — Ele abaixou a cabeça, e
isso me deixou com mais ódio. — LEVANTA A PORRA DA
CABEÇA! ME RESPONDE, AGORA!

— Está cuidando da minha avó na Alemanha. —


Sussurrou. Bati a mão na mesa em sua frente.

— Está?! — Olhei para dentro dos seus olhos. —


Vamos ver mais um videozinho? Mas agora vamos ver ao
vivo. — Liguei as câmeras da minha antiga casa, todos os
cômodos apareceram no monitor. Vi um movimento na sala
e cliquei. Leila estava de camisola andando e gesticulando
para o amante sentado no sofá.

— Conhece essa sala, Thomas? Acho melhor


ouvirmos sua santa mãe. — Liguei o áudio e as
lamentações da puta ecoaram na sala.

— Não, nunca vou admitir te perder! Nunca.

O safado ficou em pé e se aproximou dela.

— Le, meu amor, não vai me perder. Podemos


continuar como sempre foi. — Ele a abraçou.

— NÃO! Eu faço qualquer coisa, não vou suportar


ver você com ela. Vamos voltar para a Alemanha,
montamos sua empresa lá eu consigo mais dinheiro. Já
ficamos tempo demais longe.
— Não vai conseguir mais dinheiro, Leila. — Ele a
soltou bravo. — Você foi burra! Bateu de frente com
aquele corno antes da hora, acha que até quando vai
conseguir tirar dinheiro do trouxa?

Tomas me olhou assustado com os olhos


esbugalhados. Mas voltou rápido sua atenção para a tela.
Aquilo já não me atingia mais e mostrar para Thomas
quem é a mãe dele era a minha libertação.

— Se você não tivesse se envolvido com aquela


vagabunda, agora poderíamos estar tranquilos. — Correu
para o cara.

— Não posso viver sem você. — Ele a abraçou e


começou a passar a mão em suas costas, sua bunda.
Arrancou sua camisola pela cabeça e eu desliguei os
monitores.

— Eu. Lutei. MUITO! Tentei de todas as formas


manter você e sua irmã longe de tanta sujeira. Mas
cheguei ao meu limite. Não vou mais fazer papel de
palhaço nem para você, meu filho. Você não é mais
criança, sabe exatamente o que quer.

— Pai, ela disse que você não me deixou ir com ela,


que cortaria todo o nosso dinheiro, e ela não teria como ir
cuidar da minha vó.
— Já basta, não se faça de vítima, seja homem e
arque com as consequências dos seus atos. Suas
escolhas, Thomas, dizem exatamente quem você é. Não
pense que vou passar a mão na sua cabeça por ser um
mau caráter, mentiroso, agressivo, cruel e covarde

— Eu não sou!

— Não? Vamos ver se não é. Faça você seu próprio


julgamento. Não vou muito longe, vamos pegar os fatos
mais recentes. — Comecei meus questionamentos e
observei bem cada reação do meu filho, conforme ia
confrontando-o. — Você pegou a sua mãe me traindo com
o primo. O que fez?; Você não tinha nenhuma obrigação
nem foi obrigado a dizer nada para os pais da Maia,
quando sua mãe o questionou, mesmo você sabendo da
traição dela, o que você fez?; Colocou pânico na sua irmã
de seis anos por não conseguir vê-la feliz?; Agrediu uma
mulher que não fez absolutamente NADA contra você;
Quebrou as coisas que EU trabalho para comprar. Você
consegue me dizer o que é uma pessoa que faz esses
tipos de coisas?

Ele não levantava a cabeça, e isso me deixou


extremante nervoso.

— Levanta, vou te levar para a sua mãe, até


chegarmos lá, já deu tempo para eles terem terminado de
trepar na casa que eu comprei para criar os meus filhos.
Já estávamos no meio do caminho quando Thomas
abriu a boca pela primeira vez.

— Não vamos pegar as minhas coisas?

— Mando entregar lá, depois. — Fui seco.

— Você não me quer mais na sua casa?

— Te quero feliz, e lá com certeza você não é.

— Você bloqueou o meu cartão.

— Sim.

— Você disse que respeitaria a minha escolha.

— Acha que cortei seu cartão porque quer morar


coma sua mãe? — Desviei os olhos rapidamente da
estrada e olhei indignado para ele. — Você realmente
acha isso? — Rosnei de ódio.

— Nunca mais você terá um real meu. Não como


mesada. Não te faltará nada, sua vida, seu padrão de
vida, nada mudará, mas mesada? Escuta o que estou te
dizendo, nunca mais na vida você receberá de mim. O que
você fez em casa não é digno de um homem, eu não
quebro as coisas dentro de casa, e sou seu que trabalho e
compro. Eu não levanto a voz para minha mulher, nunca
agredi nem a vagabunda da sua mãe. Eu sou um homem
honesto, trabalhador, não vou dar dinheiro para um
agressor, covarde. Você foi para cima de uma mulher
depois que ela estava machucada. Se Ricardo não tivesse
entrado na frente, você teria agredido-a ainda mais, a
MINHA MULHER. Vai trabalhar e virar homem. Ou pede
para sua mãe, ela pode reduzir a mesada do macho dela e
dividir com você.

— Você me odeia.

— Não tente achar culpados para seus maus feitos.


Ninguém é responsável pelas suas atitudes. Eu nunca vou
te odiar. Nem nunca mais vou passar a mão na sua
cabeça, no que depender de mim, você sempre será
responsável pelos seus atos.

Chegamos de surpresa na casa. Não havia nenhum


funcionário. Thomas subiu a escada gritando.

— Mãe, cada você? Eu sei que você está aqui.


Mãe?!

Fiquei esperando em pé no meio da sala. Alguns


minutos depois, Leila apareceu de vestido e cabelos
molhados com Thomas ao lado, ele, com o rosto vermelho
de choro. Senti uma dó tremenda do meu filho, essa
mulher não é uma mãe. É um castigo.

— Eu ia te ligar, cheguei exausta, ainda tenho um


monte de coisa para resolver.
Deitei a cabeça, a medi de cima a baixo e sorri para
ela.

— Você não me deve satisfação, Leila. Só vim trazer


Thomas. Amanhã mando suas coisas. E Thomas, se
precisar de um conselho, um amigo, do meu amor, se
sentir saudades, é só me ligar. E boa sorte.

— José, precisamos conversar.

— Sobre o quê?

— Em particular, José.

— Não, você nunca se preocupou em poupar


Thomas de nada. Quer conversar o quê comigo em
“particular”, eu tenho uma mulher Leila, e não a traio. —
Debochei.

— Me respeita, José. — gritou nervosa.

— Ah, claro! O que quer conversar? — Olhei no


relógio. — Você tem dez minutos, e o que tiver que falar,
será na frente do “meu” filho.

— Não tinha como manter o salário dos funcionários,


não tenho motorista para levar Thomas na escola, nem
quem cozinhe.

Meu sorriso aumentou no rosto.


— Pensei que Thomas poderia continuar alguns dias
com você, até a Catarina contratar outros funcionários, ou
recontratar os antigos.

Thomas olhou para ela. Permaneci mudo, deixando


ela se enforcar na própria corda.

— Oh, desculpa, Leila, essa não foi uma decisão


minha. Thomas já tem quatorze anos, ele é totalmente
dependente de você, ele não se adaptou a minha nova
realidade, acredito que ele teve seu total apoio para isso.

— Você quer separar os irmãos. Já chega o que fez


com a nossa família.

Olhei bem para o Thomas e suspirei.

— Filho, fica com Deus. O pai te ama. — Dei as


costas.

— Vou buscar a Celina, quero os meus dois filhos


juntos.

Ela não conseguia mais me desestabilizar, o que ela


podia tirar de mim, já tirou. Lutei pelo meu filho e perdi,
agora nada mais importava.

— Por que, acha que Thomas não conseguirá mais


te dar lucros comigo? Acha que com a Celina arrancará
mais dinheiro do corno aqui? Tenta, você é a mãe, mas a
justiça é para todos.

Saí com um sorriso sarcástico no rosto, a cabeça


erguida, mas meu coração deixei naquela sala. Uma dor
lacerante no peito. Dirigi como um robô para fora daquele
condomínio. Não conseguia me acalmar, a dor estava me
sufocando, o coração disparado. Joguei o carro para o
acostamento da Marginal Pinheiro e rosnei como um
animal, sentindo o líquido quente que escorria pela minha
face.

— HAAAAAAAAAAAAAAAAAAA! DESGRAÇADA!
HAAAAAAAAAAAA... POR QUE, PORRA? PRA
QUEEEEEEE?!

Precisei de muito tempo para conseguir me


controlar. Anos da minha vida passaram pela minha
cabeça. E pensar em tudo que vivi desde o dia que
cheguei em casa e descobri que seria pai, me abalava
num nível que não conseguia explicara. Já era tarde, mas
saber que Maia não me esperava em casa me deixava
ainda mais nervoso. Olhei no retrovisor, o carro com o
segurança estava parado atrás.

Dei a partida e fui direto para a FREEWIL.


Parei no bar e pedi uma garrafa de conhaque, avisei
Ramon que estava subindo e o encontrei no escritório.

— Que merda você está fazendo aqui?

Enchi novamente meu copo de conhaque e coloquei


a garrafa que trouxe do bar em cima da mesa.

Estava com tanto ódio, e tão transtornado.

— Só vim beber em paz. Pode ser? — Ramon pegou


um copo se serviu do mesmo que eu bebia e sentou no
sofá do outro lado da sala.

— Você não tem ideia do que é criar um filho e


perceber que falhou. FALHEI EM TUDO NA PORRA DA
MINHA VIDA! — Virei outra dose de conhaque, e mais
outra...

— Você é o melhor pai que conheço.

— Sou tão bom que meu filho prefere morar com


uma vagabunda mentirosa. Quero esquecer a merda que
fiz da minha vida esse tempo todo. Ou sou capaz de matar
alguém!

— José, se concentra na Celina e na Maia, você está


tendo uma chance maravilhosa de construir uma nova
família.

— NOVA?! Eu nunca construí uma família, cara. Sou


um bosta, uma verdadeira farsa. Tudo! TUDO! Uma
mentira. Acabei com a minha vida, Ramon. UM IDIOTA
MANIPULADO. — Andava de um lado para o outro naquele
escritório, sentindo o conhaque fazer efeito.

— José, viva de hoje em diante, deixe o que passou


para trás, você não tinha como fazer diferente.

— Com toda certeza, eu tinha. Fui uma marionete,


entreguei toda a minha vida nas mãos dos outros, me
deixei ser usado, fui um covarde que perdeu sem nem
lutar.

Sequei a garrafa de conhaque e continuei no uísque.


Não sei que horas Ramon conseguiu me enfiar dentro do
carro.

— Tobias, direto para casa, se ele quiser parar ou ir


para qualquer outro lugar, me ligue imediatamente.

— Porque além de corno, uma marionete de merda,


agora sou a donzela do Ramon.

— Isso aí, e gosto das minhas meninas protegidas


dentro de casa.

— Senta aqui. — Mostrei o meu pau. Sente na


menina. — Ele bateu a porta de trás e Tobias arrancou
com o carro.

No dia seguinte quando acordei, a sensação era de


que havia sido atropelado. A imagem do Thomas naquela
sala era como um loop infinito na minha mente. Me sentia
totalmente derrotado, um nada. Anos, uma vida de erros
atrás de erros, que me levou a um verdadeiro inferno, a
uma dor insuportável.

Levantei, ainda estava tonto, me joguei embaixo do


chuveiro, precisava de me recuperar o mínimo que fosse.
Depois de quase uma hora debaixo da água gelada,
coloquei uma camiseta e calça jeans e fui direto para a
garagem, minha cabeça parecia que iria explodir. Não
tinha condições de dirigir horas. Chamei o Darlan, um dos
novos motoristas e segurança, para me levar para
Careaçu. Preciso da minha mulher. Ela deve estar louca
de raiva, não coloquei meu celular para carregar, não
quero me explicar, nem conversar pelo telefone, preciso
vê-la. Tocá-la, saber que ela é real. E sonhar em começar
uma família.

— Darlan, meus pais estavam em casa?

— Sim, senhor. Seu Estevão saiu para caminhar e


dona Helena estava por lá. — Meneei a cabeça
agradecendo a informação.

Minha cabeça fervilhava, não conseguia relaxar e a


porra da cidade não chegava nunca.

Chegamos às treze horas. Ricardo, mesmo a


distância, coordenava toda a equipe de segurança com
primor.

— Senhor José, seu Ricardo avisou que a senhora


Maia está na casa dos pais dela com a filha de vocês.

A ansiedade foi a mil até chegarmos na casa dos


meus sogros. Quando o carro parou na frente da casa,
Maia saiu pela porta e veio ao meu encontro. A abracei
sem deixar que falasse nada.
— Meu amor, vamos para casa. Só preciso de um
pouco de paz.

— Celina saiu com a Juliana. Vou dizer para minha


mãe que volto mais tarde para buscá-la.

Não falamos nada o trajeto inteiro. Puxei Maia para


meus braços, ela encostou a cabeça no meu ombro,
passou os braços pela minha cintura e assim fomos até
em casa. Maia foi direto para cozinha e começou a passar
um café. Ela parecia chateada e eu sabia o motivo...

— Me perdoe? E me entenda, por favor.

— José, é muito fácil pedir perdão. Você tem noção


da minha preocupação?

— Eu sei. EU SEI! Mas você não tem ideia do que eu


passei e senti ontem. Você acha que é pelo fato de
Thomas ter decidido morar com a mãe? NÃO! — Fui até a
sala, para pegar uma bebida, mas antes de chegar no bar,
Maia gritou.

— Se veio até aqui para encher a cara de novo, vai


ficar sozinho. E não se atreva a vir atrás de mim.

Parei de costas para ela, passei a mão no rosto, ela


voltou para a cozinha e eu fui atrás.
— Eu não tinha condições de olhar para o rosto dos
meus pais... não tinha você ali. Minha ira chegou a um
ponto que achei que fosse explodir. Maia, eu tive a vida
meticulosamente manipulada, tudo que acreditei ser real,
SIMPLESMETE NÃO ERA. Eu fui obrigado a crescer, a
anular meus sonhos, a lutar para proteger... HAAAAA! —
Senti os dedos arderem com o soco que dei da porta da
geladeira. Maia veio até a mim, me puxou pelo braço e me
levou para o quarto.

— Meu amor, eu te amo, não vou suportar te ver


sofrer desta forma. — As lágrimas escorriam pelo rosto
dela enquanto falava.

— Nada foi real, apenas o meu sofrimento. Eu me


desesperei muitas vezes. Não me sentia capaz de ser um
pai. Passei noites em claros fazendo contas, trabalhando
dobrado para conseguir sustentar meu filho sem ter que
pedir a ajuda dos meus pais, entende? Quantas vezes eu
senti vontade de fugir, correr, sem saber o que fazer.
Maia... minha vida toda foi uma mentira. Tem noção como
eu me sinto dando conta disso tudo agora? Suportei uma
vida miserável, para conseguir dar amor, propor para os
meus filhos o mínimo. PARA QUÊ? Por anos me culpei por
tê-la engravidado, por não amá-la, tentava compensar lhe
dando dinheiro e tudo o que ela queria, porque amor eu
sabia que jamais seria capaz de lhe dar.
— Isso tudo passou, José... você não precisa
suportar mais nada.

Ajoelhei no meio das pernas da minha mulher e


chorei, ela sabia do que eu estava falando, mesmo tendo
a certeza de que nunca diria aquelas palavras em voz
alta. Mas ela sabia a dor que eu estava sentindo.

Contei o que havia acontecido, para onde tinha ido,


Maia não gostou nenhum pouco.

— Não queria encontrar com meus pais, Maia, hoje


saí de casa sem vê-los. Sei que pode ser insano, mas
acho que eles têm uma parcela de culpa por tudo que
passei. Está doendo demais. Quando penso na cena que
montaram para me dizer que a vagabunda estava grávida,
vejo os meus pais ali comigo. Eles poderiam ter feito
alguma coisa, não poderiam?

— José, seus pais são pessoas honestas, pessoas


boas, incapazes de enganar alguém. Eles sofreram a vida
toda por verem como você e as crianças viviam.

— O ódio e a dor não me deixam nem pensar, nem


ver as coisas desta forma.

Deitamos na cama e conversamos por horas. Maia


era uma excelente ouvinte, amiga, ela era o meu anjo.
Adormeci com ela deitada no meu peito, me fazendo
carinho.
Já era noite quando acordei, Maia havia colocado
meu celular para carregar. Resolvi dar uma olhada e vi um
e-mail do escritório do seu Otávio, em seguida uma
mensagem do próprio seu Otávio, pedindo para eu entrar
em contato assim que visse a mensagem. Sentei na cama
e liguei para ele.

— Boa noite, José, tudo bem?

— Boa noite, seu Otávio, espero que sim.

— Tenho uma ótima notícia. O juiz proferiu a


sentença, você é um homem divorciado.

Fiquei com o aparelho no ouvido sem saber o que


dizer. Livre. Estou livre de um fardo que nunca foi meu.

— José, meu filho, você está aí ainda?

— Desculpa, seu Otávio, acho que o senhor imagina


o alívio que estou sentindo.

— Eu imagino, sim, a guarda das crianças é


temporariamente sua. Isso pode mudar a qualquer
momento.

— Obrigada, essa noticia não poderia ter vindo em


melhor hora.

— Que notícia? — Maia perguntou entrando no


quarto, ela andava lentamente e mancando, odiava vê-la
machucada.

— Vem cá... — Bati na cama, ela se sentou e


colocou os pés para cima. Beijei lentamente sua boca,
fomos escorregando até estarmos deitados.

— Hummmm, a notícia era realmente boa. — Falou


entre um beijo e outro.

— Sou um homem totalmente livre para você, meu


amor. Você aceita a se casar comigo?

Maia parou incrédula, passei a mão em seu rosto


perfeito, parecia uma boneca. Seu sorriso foi ganhando
forma e sua felicidade estampou seu lindo rosto.

— Sim, é tudo que mais quero na vida.

Fizemos amor sem pressa, nos entregamos


totalmente um ao outro, era o início de uma nova fase,
uma fase baseada no amor.

Fomos buscar Celina já estava tarde. Contamos a


novidade para todos, e pedi para dona Ada, marcar a
primeira data possível na igreja. Mas ela disse que
marcaria para maio, o mês das noivas, que já estávamos
no fim do ano, que mal daria tempo para organizar um
casamento. Maia e eu concordamos, era o sonho de sua
mãe casar sua única filha.
Depois que colocamos Celina para dormir e
Leonardo avisou que não dormiria em casa, abri um vinho,
coloquei uma música no aparelho de som da sala e
convidei minha bailarina para uma dança.

Trabalhei de casa e na fábrica o resto da semana,


meus pais já haviam ido embora para o apartamento
deles, mas confesso que só de pensar em chegar na
nossa casa em São Paulo e não ter meu filho, imaginar
que poderia nunca mais tê-lo, não me animava a voltar
para lá. Celina não queria mais ir embora e por ela,
ficávamos morando não só em Careaçu, mas na casa da
vovó Ada.

Domingo depois do almoço foi o momento da


despedida. Celina chorou pelos “filhos” dela, no caso, os
cachorrinhos.

— O vovô e a vovó vão cuidar dos seus filhotes,


minha princesa. — Dona Ada a consolava.

— Celina, temos que ir para casa, se ficar chorando


assim não vamos mais vir passear aqui. — Maia falou
pegando ela do colo da mãe.

— Nós podemos vir sempre, mas temos que voltar


para a nossa casa, e sem choro, o papai tem que trabalhar
e você tem aula.
Thomas não havia entrado em contato comigo até a
terça-feira da semana seguinte. Nem acreditei quando
meu celular tocou e vi que era ele.

— Filho!

— Oi, pai.

— Está tudo bem?

— É, até que tá. Só liguei para... Na verdade para


saber se você iria me atender.

— Thomas, eu sou seu pai. — Passei a precisar


afirmar isso o tempo todo para ele. — Vou te atender
sempre.

— Tá bom, vou lá.

— Tchau, meu filho.

No dia seguinte, quando deixei Thomas com sua


mãe, o sistema de monitoramento da casa foi totalmente
desinstalado, com certeza ele falou para ela que eu ainda
mantinha o sistema, porque Leila sempre soube que
existia.

No sábado, duas amiguinhas da Celina com suas


mães, foram fazer uma visita em casa e Natalia também.
Meus pais haviam me mandado mensagem, mas
inventei uma desculpa, disse que não estaríamos em casa.
No meio da tarde, estava fazendo drinques para as
colegas da Maia quando Thomas me ligou.

— Fala, filho, tudo bem? — Tentava parecer natural,


mas só eu e Deus sabíamos o meu real estado.

— Oi, pai. — A voz dele não estava nada boa. —


Pai, eu queria conversar com você.

Pensei na hora em dizer que mandaria Ricardo


buscá-lo, mas não iria parecer ansioso.

— Podemos conversar quando quiser.

— Pode ser agora?

— Claro, vou pedir para o Ricardo ir te buscar.

— Pai, você está em casa?

— Sim, por quê?

— Podemos nos encontrar em algum lugar?

— Infelizmente não, meu filho, gostaria de conversar


com você aqui em casa.

— Tá bom. Acho que pode ser até melhor mesmo.


Não demoraram muito, e Thomas quando chegou foi
direto para o escritório, falei com Maia e entrei para
conversar com ele. Fechei a porta e dei um abraço
apertado no meu filho, que estava parado no meio da sala.

— Tudo bem? — Perguntei preocupado.

— Pai... — Ele baixou a cabeça.

— Levanta a porra da cabeça. Não abaixa a cabeça


para ninguém, Thomas.

— Pai, desde quinta-feira minha mãe não vai pra


casa.

Fiquei olhando para ele pedindo a Deus para que


não me pedisse para tentar encontrar a filha da puta.
Porque eu perderia todo resto de paciência que ainda
tinha com ele.

— Pai, eu errei com você, com todo mundo aqui,


mas não quero ficar contra a minha mãe.

— Thomas, o único problema é você achar que


precisa tomar partido entre um e outro, que para gostar da
sua mãe, tem que me odiar. Sua mãe é assim, você não
precisar ser.

— Eu posso ficar aqui hoje?


— Você pode ficar aqui quando quiser. Mas terá que
respeitar a Maia. Vai sentar e conversar com ela, nem
quero saber o que, mas precisa se retratar pelo que fez.
Essa casa é sua, e é exatamente por isso que precisa
fazer daqui um lugar tranquilo, respeitar sua família, dar
bons exemplos para sua irmã, e acima de tudo, permitir
que seja um lar de paz. Não é normal viver com ódio,
brigando.

— Minha mãe está ficando louca por causa do


Antônio, ele está acabando com a vida dela. Ela só briga e
chora o tempo todo. Ele grita com ela, ouvi ele dizendo
que eu fui igual a ela, por te preferido ficar com a minha
mãe.

— Filho, sua mãe que está acabando com a própria


vida. Nós, apenas nós, somos responsáveis pelo que os
outros fazem com a gente. Não transfira a culpa dela para
ninguém. E você sabe que não precisa presenciar isso,
mas escolheu estar lá. Amanhã ou depois não culpe a sua
mãe ou a mim, como te falei outro dia, você vem fazendo
suas próprias escolhas, terá que arcar com elas.

Conversei muito com Thomas, tentando fazê-lo


entender que o meu único objetivo sempre foi tornar a vida
dele e da irmã a melhor e mais harmoniosa possível.
Esperava de coração, que as minhas palavras e meus
conselhos conseguissem chegar ao seu coração e
surtissem efeito. Só queria ver meu garoto feliz, assim
como eu há muito, não me sentia.
José ficou muito tempo com Thomas no escritório e
quando saiu de lá me chamou:

— Meu amor, Thomas está no escritório, ele gostaria


de conversar com você. Você não precisar ir, ou não
precisa ser agora. Falei com ele, disse para deixar para
mais tarde, ou amanhã.

— Vai lá dar atenção para o pessoal que vou falar


com ele rapidinho.
Assim que entrei no escritório Thomas olhou para o
meu pé. Caminhei ainda mancando até a mesa de José e
sentei de frente para ele.

— Desculpa. — Falou de cabeça baixa.

— Thomas, não precisa pedir desculpas, mesmo


porque eu não vou te desculpar. — Imediatamente ele
olhou para mim. — Não tem perdão o que você fez
comigo, eu nunca te fiz mal, nunca te destratei, você sabe
que poderia ter me ferido mais grave do que feriu. Mas se
está arrependido ou pelo menos sabe que foi um erro o
que você fez, mude suas atitudes. Palavras não significam
nada.

— Então, você vai me odiar para sempre?

— Eu não te odeio, nunca te odiei. Mas não quero


que ache que cometerá erros e com uma simples palavra
irá resolver tudo. Se você quer se desculpar, aja
corretamente, uma ferida aberta física ou psicológica
precisa de tempo e remédio para ser fechada
completamente. O remédio para a nossa boa convivência
será o respeito.

— Eu vou te respeitar. Mas você nunca ocupará o


lugar da minha mãe.

— A única coisa que exijo é respeito. Não quero ser


a sua mãe.
— Mas quer ser a de Celina.

— Eu sou a mãe da Celina, mesmo porque, ela


nunca teve uma. — Fui extremante ríspida.

— Eu sei que minha mãe não tem muita paciência


com ela, mas é porque...

— Por favor! Não me venha com mentiras que nem


você mesmo acredita. Acabei de te dizer que quem tem
boca fala o que quer. São as atitudes que mostram quem
são as pessoas. Eu sei quem sou para a sua irmã. Eu a
amo, e sinto que ela me ama. Isso não significa que não
gosto de você; amor, afeto, carinho, cuidado não é
limitado, não gasta. Você pode sentir e ter por muitas
pessoas.

— Quero ficar bem com o meu pai, com você. Mas


quero ficar com a minha mãe também.

— E ficará, fica em paz. As coisas entraram nos


eixos, seu pai e eu só queremos paz.

— Eu também, quero.

— Vem, vamos comer alguma coisa e falar com as


pessoas, sua irmã está com saudade de você.

Thomas não era exatamente simpático, mas foi


educado, o que para mim já era o suficiente.
Cumprimentou Debora e conversou com Ellen, prometeu
que iria aparecer em sua casa para jogar com Junior, o
filho mais velho de Ellen.

José não conseguia disfarçar sua satisfação, e foi o


primeiro dia de um início de paz.

Jantamos os quatro em harmonia, pela primeira vez.

— Tho, eu tenho cinco cachorros.

— Cadê? Pai, eu nunca pude ter um cachorro.

— Agora pode, Thomas, mas os cinco estão na casa


dos pais da Maia.

— Eu te dou um.

— Mas eu queria um cachorro para morar comigo, só


que a minha mãe não deixa.

— Ainda bem que a Mai deixa. — Celina falou


pensativa.

— Você deixou ela comprar cinco cachorros?

— Não! — Falei rindo. — A cachorra do meu pai deu


cria, e a Celina se apaixonou pelos filhotes, meu pai disse
que eram todos dela.

— Ah... então são vira-latas. — Falou desanimado.


— Os cachorros vira-latas são os melhores, Thomas.
Mas não são vira-latas. Os pais têm pedigree. — José
falou para Thomas.

— Ela parece mais um cavalo. Não sei o que meu


pai vai fazer para manter seis cachorros daquele tamanho.

— Que raça que eles são? — Thomas perguntou.

— Dogue Alemão. — Respondi. — São todos pretos.


A Perola, mãe dos filhotes, apesar de enorme e parecer
brava, é super dócil, boazinha e estabanada. Não consigo
imaginar seis cachorros daquele tamanho no mesmo
ambiente.

— Eu quero ir ver os meus cachorrinhos... — Celina


falou toda dengosa.

— Eu tenho uma ideia, meu amor. Se você escolher


só um, somente um mesmo. Podemos ir buscá-lo. E pode
ir com a gente para todos os lugares. Mas você que vai
cuidar. Dar comida, brincar, ensinar ele a fazer xixi no
lugar certo, passear.

— Eu posso escolher só quatro, então.

— Que tal, só um mesmo? — Dei risada.

— Mas e eu? Também quero um cachorro.


— Hum... mas como vai fazer, porque sua mãe não
gosta de cachorro?

— Ele pode ficar aqui, pai.

— Não, quem vai cuidar do seu cachorro?

— Thomas, conversa com a sua mãe, acho que seria


muito bom para você ter um cachorro para te fazer
companhia. Quando você tiver aqui em casa por mim tudo
bem, desde que seja como disse para Celina, total
responsabilidade sua.

— Tá, vou conversar com ela. — Falou desanimado.

— Tá bom, Mai, vou escolher só um. Podemos ir


agora pegar o meu. Eu quero o que é pretão.

— Mas a Maia falou que todos são pretos. —


Thomas debochou da irmã.

— Eu sei, seu bobo, mas eu quero o mais preto de


todos.

— Preto é preto, burra! E não podemos ir agora, eu


nem falei com a mãe.

— Que tal irmos no fim de semana que vem, se seu


pai puder?
— Por mim tudo bem, as coisas já se normalizaram
na empresa. Graças a Deus. Podemos ir na sexta-feira.

— E se minha mãe não me deixar ficar com um


cachorro?

— Não sofra por antecedência, Thomas, conversa


com ela primeiro.

Naquela noite, José ficou com o filho até um pouco


mais tarde jogando, tomei banho, deitei e cochilei. Acordei
com ele se enfiando embaixo do edredom e se
encaixando perfeitamente em mim. Beijou meu pescoço:

— Te amo, tanto. — Me virei sonolenta para ele.

— É maravilhoso te ver desta forma, em paz, feliz e


completo.

— Feliz e em paz pode apostar que sim, mas


completo não. — Olhei para ele espantada. Ele me puxou
pela bunda encostado nossos sexos e roçando seu pau
duro em mim.

— Completo mesmo... — José veio para cima de


mim, abriu minhas pernas com o joelho. E me beijou com
paixão, sua língua invadia minha boca, exigindo espaço, o
espaço que era todo seu. José colocou seu pau duro na
minha entrada sedenta:
— Só depois de encher essa barriguinha e ver
nossos filhos quebrando tudo dentro de casa. — José
falava entre um beijo e outro. Segurei seu pau e esfreguei
no meu clitóris tentando aplacar um pouco o tesão que
sentia.

— Ah! José...

— Fala, minha cadelinha no cio... quer minha rola


toda dentro dessa boceta gulosa?

— Quero... me faz gozar e me fode com força. José,


preciso de você dentro de mim.

E foi exatamente o que meu marido fez. Uma, duas,


três vezes naquela noite. E sempre que gozava, se
enterrava ainda mais fundo dentro de mim e dizia que iria
fazer um moleque.

Sei que teremos muito trabalho pela frente, quando o


dinheiro da Leila acabar ela irá infernizar nossa vida, José
dizia. Mas o que era para estar no lugar, já estava.
Thomas voltou para casa da mãe na segunda-feira depois
da escola, continuava fazendo terapia, falava com o pai o
tempo todo por telefone, e almoçamos juntos na quarta-
feira na empresa. Combinamos de irmos para Careaçu, na
sexta-feira no fim da tarde.

— Falou com sua mãe sobre a viagem, meu filho? —


José perguntou enquanto almoçávamos.
— Falei, ela não disse nada. Acho que não prestou
muita atenção no que eu dizia. Pai, você pode voltar a me
dar a mesada? Minha mãe disse que só me daria até essa
semana, que eu precisava conversar com você.

— Meu filho, o que o pai te falou aquele dia, era


realmente verdade, você precisa pensar em alguma outra
coisa. — Thomas não disse nada, mas ficou chateado.

Conversei com José quando chegou em casa, e ele


explicou que não daria nunca, nunca mais mesmo dinheiro
para Thomas, que ele não iria alimentar uma relação entre
os dois baseada em interesse, que Thomas tinha alguns
defeitos muito graves e bens parecidos com os da mãe.
Falou que havia conversado com a psicóloga do menino e
ela o orientou a fazer oque achava correto, desde que
explicasse para ele o porquê das suas decisões. Meu
medo era Thomas ficar chateado e não querer mais vir
para nossa casa, ou não falar mais com o pai, José se
fazia de durão, mas aquelas crianças eram tudo na vida
dele. Mas, graças a Deus, tudo continuou bem entre eles e
todos nós.

Leonardo me ligou ansioso porque o resultado do


exame de DNA estava demorando para sair.

— Quando vocês vêm para cá?

— Amanhã no fim do dia, vamos chegar tarde já, lá


pelas 22h. Faz uma jantinha aí em casa pra gente, convida
a Marília e as crianças, Thomas também irá desta vez.

— Isto é uma ótima ideia. Vou combinar com Marília


e te aviso amanhã. Espero que o exame fique pronto.

— Também estou ansiosa, mas fica calmo, vai dar


tudo certo. Até amanhã.

Thomas foi direito da escola para casa na sexta-


feira, disse que preferia as roupas que estavam lá para
levar. Fez sua mala. As 16h José me ligou e pediu para eu
passar na empresa para pegá-lo e de lá irmos direto. A
viagem foi agradável, Celina dormiu.

— Minha mãe não deixou que trouxesse um


cachorro. Disse que não tem dinheiro para cuidar, que ter
um animal é caro. — Morri de dó.

— Ela está certa, um animal dá muita despesa


mesmo, mas o valor que estou depositando de pensão dá
e sobra para você ter um canil.

— Eu sei, foi a desculpa que ela arrumou. Mamãe


também disse que cachorros fendem e que de jeito
nenhum vai morar em uma casa com um animal fedorento.

Thomas conversou um pouco e logo se entreteve


com o vídeo game portátil, uma música suave tocava no
carro. Ricardo e Darlan estavam no banco da frente e nós
quatro nos bancos traseiros do Volvo de sete lugares.
Quando chegamos, Leonardo estava lá com a Marília
e os filhos dela. Eles haviam preparado um jantar para nos
receberem.

— Meu Deus, que cheiro maravilhoso é esse?

— Nosso jantar. — Leonardo falou aparecendo na


sala.

— Vem, Marília está na cozinha morrendo de


vergonha de vocês.

— Oi, chefe! — Entrei gritando na cozinha. Abri os


braços e nos envolvemos em um abraço carinhoso.

— Você é muito falsa, sabia? Nunca me contou


nada. — cochichei em seu ouvido.

— Me perdoe?

— Quem fez a comida?

— Eu.

— Então, perdoo.

Cumprimentei os meninos e fui ver a Jordana que


dormia no meio da cama do quarto em que Leonardo
estava ocupando.
— Pode chamar as crianças, a janta já está na
mesa.

Já passava das nove horas e as crianças estavam


famintas.

Thomas, Matheus e José, aparentemente se deram


super bem. Celina ficou no meu colo dengosa pelo sono o
tempo todo. A massa que Marília fez estava divina.

— Mãe, o Thomas tem o vídeo game que a gente


quer.

— Vocês estão sempre querendo um vídeo game


novo. Mas agora vão ter que esperar, será o presente de
Natal dos dois, e se vendermos o de vocês.

— Eu trouxe, podemos jogar, vocês vão dormir aqui?


— Matheus olhou para a mãe, mas quem respondeu foi o
Leonardo.

— Vamos, podem jogar até o dia amanhecer. — eu


ri.

— Não fala uma coisa dessas, eles acreditam.

— Já era, falou está falado. — Matheus de um tapa


e um soco na mão do meu irmão e João também.

— Quantos anos vocês têm? — José perguntou para


os meninos.
— Eu tenho 13, quase quatorze, faço em janeiro. —
Matheus falou.

— E eu tenho 12. Fiz mês passado.

— E vocês estão achando o quê da mãe de vocês


namorar o meu irmão chato? — Eu tinha muita intimidade
com as crianças.

— Ele não é chato não, só é mandão. Mas é legal.


Se ele não maltratar a minha mãe, e fizer ela feliz, por
mim, sem problemas. — Matheus falou.

— E você, João, o que acha do chato do meu irmão?

— Sei lá, a minha mãe está mais legal, rindo igual


boba, fica falando que está apaixonada, ele dá flores para
ela. Ela só vivia chorando.

— João?! — Marília o chamou toda sem graça.

— Sua mãe nunca mais vai precisar ficar chorando,


ok? Vou cuidar dela, e de vocês. Eu sei que vocês já são
homens feito. Não precisa de cuidados, mas quando
precisar de qualquer coisa, podem contar comigo.

— Até se a gente precisar de um vídeo game novo?

— João?! — Marília o chamou exasperada. Caímos


na gargalhada.
— Deixa ele se expressar, meu amor. — Os meninos
olharam para ele e começaram a rir. E a imitar Leonardo.

— É, meu amor! — Falavam rindo e com a voz mais


grossa.

— Acho que assim não vai rolar vídeo game. — José


falou provocando os meninos que eram sempre
brincalhões daquele jeito.

— Vou conversar com a mãe de vocês, se ela não


tiver nenhuma objeção eu dou o vídeo game de presente.

— Hmmmram. Há. Hummram. Haaa. — João fazia


uma dancinha.

Thomas olhava tudo cabisbaixo, ele simplesmente


não sabe lidar com a felicidade de outras pessoas, eu
tinha que comentar isso com o José, falar para ele prestar
atenção e comentar com a psicóloga.

Depois que jantamos, os meninos correram para o


quarto de Thomas, para jogarem, coloquei Celina na
minha cama.

— Meu amor, a Mai vai ligar a TV, e você fica


quietinha aqui, tá bom? Qualquer coisa é só me chamar.
— Ela estava tão cansada que só meneou a cabeça.
Enquanto tirávamos a mesa, os quatro, Marília
perguntou:

— Tem lugar aqui para todo mundo dormir? Não


quero dar trabalho.

— Tem um quarto para os meninos. Já deixei tudo


organizado lá para eles. E a Celina vai dormir comigo,
vocês podem colocar a Jordana para dormir no quarto
dela. — José me olhou rápido e surpreso.
— Não, ela dorme com a gente. — Meu irmão falou
rápido, e sorri para ele.

— Pode deixar a Celina dormir no quarto dela, Maia.


Jordana pode acordar durante a noite, e pode dormir
comigo.

— Com a gente. — Leo falou. E saiu em direção aos


quartos.

Voltou com um envelope nas mãos. Marília arregalou


os olhos.

— O que é isso, não acredito, saiu o resultado? Meu


Deus! Por que não me falou nada?

— Saiu hoje de tarde. Queria falar pessoalmente,


mas como ficamos com os meninos o tempo todo, não
consegui te avisar.

— O café está quase pronto, pessoal. — José


avisou, colocando as xícaras na mesa. Assim que ele
terminou, trouxe o bule para a mesa e sentamos com o
envelope no centro.

— Tenho certeza que os meninos não vão reagir


bem.

— Mas eles estão tão à vontade com o


relacionamento de vocês. — Falei, tentando lhes dar um
pouco de ânimo.

— Eles saberão que traí o pai deles, Maia. Não vão


gostar nada disso. Uma coisa é gostar do namorado da
mãe, outra é do amante, e do jeito que o pai deles é
covarde, fará de tudo para todos ficarem contra mim, meus
filhos, minha família. Ele já está fazendo isso com meus
pais e irmãos.

— Marília, você não tem que se preocupar com ele,


nem com ninguém, só com você. — Leo falou, segurando a
sua mão.

— Eu sei. Mas passei a vida toda pensando no que


as pessoas fossem falar, como iriam me tratar, é difícil
mudar os hábitos. Eu sei que vão me crucificar.

Impaciente, peguei o exame da mesa e o segurei


comas duas mãos.

— Pode abrir, Maia. — Marília falou. — Esse exame


é para vocês, porque eu tenho certeza.

Leonardo tirou o envelope da minha mão, abriu e


ficou por quase uma eternidade encarando o papel.
Olhava para José e Marília, e ninguém dizia nada. Estava
ansiosa, mas não queria quebrar o momento dele, seja lá
qual fosse seu pensamento neste momento. Ele levantou
lentamente os olhos, me encarou.
— Ela é minha filha. — Levantei da mesa e dei-lhe
um abraço tão forte, e juntos, choramos de alegria.
Agarramos Marília, e foi a maior felicidade.
Comemoramos, passando do café para vinho, rimos e
conversamos madrugada adentro.

— Amanhã precisamos levar minha filha para


conhecer os avós.

— Precisamos conversar primeiro com os meninos.


Leo, precisamos; não sei como vou fazer isso. Estou tão
feliz e com tanto medo.

— Vamos curtir esse fim de semana. Espera um


pouco, Leonardo, já esperou até aqui. Tenta resolver isso
entre vocês, os meninos parecem ser bem maduros, senta
e conversa com eles. — José aconselhou.

— Verdade, Leo, conta o que me contou. Eles são


inteligentes, sabem de todas as vezes que se separam.

— Acredito que se for algo bem conversado e


explicado, eles não ficarão felizes, mas não sentirão ódio
de mim. Sabe como as coisas são aqui. As pessoas falam,
apontam, os amigos tiram sarro na escola.

— Vou esperar para contar para os meus pais, e


para os moleques, vamos deixar tudo acertado esse fim de
semana. Na segunda-feira, sentaremos e conversaremos.
Mas vamos para o sítio sim, e vou falar sobre nosso
relacionamento. Não vou esconder nossa relação de
ninguém. Quem quiser compartilhar da nossa felicidade,
será bem-vindo, os demais, fodam-se.

No dia seguinte, fomos todos para a casa dos meus


pais. Os três meninos foram no Volvo com Ricardo, nosso
segurança e motorista; José, Celina e eu fomos no carro
que deixamos aqui, e Leo com o que emprestamos para
ele, com Marília e Jordana. Era lindo vê-lo interagindo
com ela. Agarrei-a com tanta força antes de sairmos de
casa, que ela me olhou com cara de brava. Era realmente
a filha do Leo.

Quando chegamos, Celina desceu correndo para os


braços do vovô, meus pais disfarçaram, mas levaram um
susto ao ver Marília e os filhos juntos com a gente, eles se
tocaram na hora que Leo e ela estavam juntos.

Matheus e João cumprimentaram meus pais, eles


conheciam tudo por aqui, de visitar, de festas, mas
principalmente, por terem ficado aqui há três anos quando
Marília se separou e passou uns dias aqui em casa com
eles.

Thomas ficou sem graça quando cumprimentou todo


mundo.

O café da manhã foi uma verdadeira loucura, mas


maravilhoso. Na hora em que fomos arrumar a bagunça,
levantei e peguei Jordana no colo. Imediatamente tivemos
dois problemas.

Celina ficou com muito ciúmes, mas o que fez todo


mundo parar foi a reação do meu pai.

— Maia? Vira pra cá. — Virei de uma vez para o meu


pai que ficou pálido na hora.

— Quantos anos ela tem?

— Meninos, mostrem o quintal para o Thomas, o


salão de jogos... — Leo, pediu para Matheus e João, que
estavam enrolando, conversando na mesa.

— Já vamos. — Continuaram enrolando.

— Ou então vão lavar louça, agora. — Os três


saíram como uns raios para o quintal.

Todo mundo estava esperando.

— Pai, mãe, essa é Jordana, minha filha.

Minha mãe se emocionou, tirou a menina da minha


mão. Meu pai saiu com raiva para o quarto. Nem olhou
para a neta. O que era muito estranho.

Meus irmãos comemoraram, minhas cunhadas


ficaram em êxtase. Leo explicou toda a situação para
todos, e que os meninos ainda não sabiam. Depois que
acalmaram os ânimos, Leo foi atrás do meu pai no quarto.
Minha mãe não desgrudava da netinha. Quando
escutamos os barulhos de porta batendo, a voz alterada
do meu pai, corremos para ver o que estava acontecendo.

Meu pai o segurava pelo colarinho, a boca de Leo


sangrava, ele deve ter o agredido.

— Você deixou uma filha para ficar com a sua


mulher do outro lado do mundo, como se nada tivesse
acontecido? Largou sua filha para outro homem cuidar? Eu
vou te matar!

José, entrou no meio, Marcos também. Leo não dizia


nada, nem se explicava.

— Falo o que aconteceu, Leo. — gritei.

— Se ele acredita em uma merda dessas é porque


foi um pai de...

— Cala a boca! Não se atreva a desrespeitar o seu


pai. — Minha mãe entrou bem na hora.

— Ninguém é obrigado a adivinhar nem reagir da


forma que você quer, você vai explicar tudo direitinho para
o sue pai.

Depois que meu pai se acalmou, deixamos os dois


conversando.
Graças a Deus, tudo ficou bem. Sem sombra de
dúvidas esse foi mais um fim de semana maravilhoso na
minha vida.

Celina estava com muito ciúme da Jordana, até


meus pais com a sua infinita sabedoria pegaram as duas
no colo e sentaram na sala.

— Celina, você é minha neta mais velha, já é uma


menina responsável, e precisa começar a ajudar ao vovô e
a vovó. — Celina ficou prestando atenção, enquanto
Jordana andava para lá e para cá com meu pai limitando
seu espaço.

— Está vendo a Jordana, né? Você precisa ser


responsável por ela, cuidar e ensiná-la.

— Ensinar o quê?

— Tudo, tadinha, ela não sabe nada, olha pra ela,


Ce. Você pode cuidar, ensinar e ser responsável por ela?
Só até ela fazer seis anos igual a você.

— Tá bom, eu cuido. Jordana, olha, vem, vamos


brincar de casinha, eu te ensino.

Foi a melhor coisa que eles fizeram, no fim da tarde,


Celina estava exausta, Jordana era um furacão, mas elas
brincaram e se divertiram muito.
Arrumei tudo cedinho no domingo, e fomos para a
casa dos meus pais, depois do almoço íamos embora de lá
mesmo.

— Celina — meu pai a chamou assim que


terminamos de almoçar —, você já escolheu a sua filhote,
né?

— A Celina ficou com a mais bonita. Eu queria ela.

— Mas ela é minha, João. — Celina esbravejou.

— O meu também é lindo. — João rebateu.

— Nosso, João, ele é nosso, e não vai se chamar


Banguelo de jeito nenhum.

Matheus e João levariam um, Celina outro, Thomas


havia escolhido um, mas não poderia levar. Ele parecia
estar bem com isso, mas agora, na hora que todos
levariam o seus, ele ficou desolado.

— Thomas, vou cuidar do seu. Quem sabe da


próxima vez que vier você o leva.

Estava morrendo de dó, ele concordou e se afastou


de todos. Minha mãe me olhou sério e minha vontade
ganhou força, chamei:

— Thomas, vem cá. — Ele olhou e praticamente se


arrastou de volta para perto de nós.
— O que foi?

— Pega o seu filhote, ele pode ficar lá em casa e


quando for para a casa da sua mãe, eu te ajudo a cuidar.
Ajudo, Thomas, você ainda será o responsável por ele.

— Jura? — Olhou para o pai, que deu com os


ombros.

— Isso é com vocês, eu até ajudo nos fins de


semana que você não tiver, mas durante a semana sabe
que não tenho tempo, terá que combinar tudo direitinho
com a Maia.

— Tá bom, obrigada, Maia, muito obrigada. — O


menino correu para pegar o filhote que tinha escolhido,
era o maior, mais desajeitado e estabanado, eu estava
ferrada.

— Eu também te ajudo, Tho, a tomar conta do Thor.

— Gostei do nome, Thomas, — Danilo falou. E a sua


como se chama, princesa?

— Bila.

— Que nome lindo. — Celina abriu aquele sorriso


lindo que me fazia derreter de amor.
Era incrível como as coisas estavam se encaixando
em nossas vidas. Thomas passava quase todos os fins de
semana em casa com a gente. E durante a semana,
sempre que possível dava uma passadinha também,
passeava com Thor, Bila e Celina, brincava um pouco e
depois Ricardo o levava para casa. O cachorro foi muito
bom para ele, José havia conversado com a sua psicóloga
sobre o egoísmo e ele não conseguir ficar feliz com a
felicidade da irmã, dos primos, nem de ninguém na
realidade, mas estávamos tentando.

Lize e Otávia haviam se entendido no fim das


contas, e após o casamento deles, me empolguei mais
ainda para o meu. Minha mãe estava preparando tudo com
tamanho amor e animação.

Mas ficamos tão ocupados com as festas de fim de


ano, que fizemos na casa dos meus pais, que não tivemos
tempo para ver nada do casamento. Foi o melhor Natal da
nossa vida. Como a família por parte de mãe de Thomas
não comemora essas datas, ele ficou conosco. Meus
sogros e cunhado também passaram no sítio dos meus
pais, foi o elo perfeito.
Em janeiro, começamos a programar as coisas.
Minha mãe e eu nos falávamos toda hora por telefone. Ela
queria que eu parasse de tomar anticoncepcional só
depois do casamento, falava que por conta da barriga iria
limitar as opções de modelos de vestido, que por sinal, ela
estava desesperada dizendo que estávamos mais do que
atrasadas.

— Fica tranquila mãe, não estou grávida, fiquei


menstruada hoje. — Fiquei péssima quando minha
menstruação desceu. Tentava fingir que não estava com
pressa, que tínhamos tempo, mas queria muito ter um
filho.

— Filha, não fique assim, você está ansiosa, tem só


dois meses que parou os remédios. E não fala como se eu
não quisesse que engravidasse. Me desculpa, minha filha,
estou querendo tanto que seu casamento seja lindo e
perfeito, que você não tenha que escolher um vestido
porque é o que serve, que não pensei na sua vontade de
engravidar.

— Tudo bem, ganhamos mais um mês.

— Maia, meu amor não fala assim. A mãe está


longe, não quero que fique sofrendo sem necessidade.

— Não estou. — falei chorosa.


Duas horas depois que desliguei o telefone, José
chegou em casa. Olhei o relógio, eram onze horas.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntei surpresa.

— Só estava com saudade, vem cá. Vim convidar a


mulher mais perfeita do mundo para almoçar comigo.

— Ah, meu amor, não quero sair de casa.

— Maia, não quero que fique assim todas as vezes


que ficar menstruada.

— Porque você veio para casa essa hora? Não


acredito que a minha mãe foi te incomodar no trabalho.

— Para com isso, vem cá.

José me carregou até o sofá e deitamos juntinhos,


ele me fazia carinho enquanto me contava o que andava
aprontando no trabalho.

Ele era simplesmente perfeito, e em seus braços eu


estava em paz.
Nunca tive tanta esperança em uma virada de ano.
Foi a melhor noite de Natal da minha vida. Toda minha
família misturada com a da Maia, os filhos da Marília, que
depois de todos os problemas estavam tentando se
adaptar a nova realidade, eles eram ótimos exemplos para
Thomas.

Meu ano começou com a premissa de uma vida nova


e maravilhosa. Maia estava ansiosa para engravidar. Eu
também estava, muito, mas não deixava que ela
percebesse. Tenho certeza que logo ela estará esperando
um filho meu.

Almocei com Thomas, ele foi para o escritório


comigo, para em seguida, irmos para a psicóloga.

— Thomas, sairemos em vinte minutos. — Falei


para ele que estava saindo da minha sala. — Não demora.

— Tá.

Thomas não aparecia, desliguei tudo e liguei para


ele, o toque era de uma chamada simultânea. Perguntei
para Catarina para onde ele tinha ido e fui atrás.
Encontrei-o no terraço próximo ao estacionamento da
diretoria.

Parei à uma certa distância e fiquei observando-o.


Ele estava irritado, com o rosto vermelho, era raiva,
caminhava nervosamente de um lado para outro como um
animal encurralado. Era a mãe, só podia ser.

— Filhão? — Ergueu a cabeça rápido e disse alguma


coisa, desligou o telefone e caminhamos em silêncio até o
carro.

Thomas não comentou nada, e seu estado de humor


era deplorável, emanava ódio.
— Filho, sabe que vamos no próximo fim de semana
para Careaçu, é aniversário do Leo, já deixa suas coisas
organizadas para ir com a gente.

— Depois de amanhã? — Perguntou espantado.

— Não, no outro, esse domingo vou para Nova York,


tenho trabalho lá, Maia vai comigo, voltamos
provavelmente na quinta-feira.

— Vocês vão levar Celina? — Perguntou com ódio.

Respirei fundo, parei o carro no farol e olhei para ele


que esperava a resposta me encarando indignado.

— Algum problema em sua irmã ir conosco?

— Por que não me chamou? É tudo para ela, a vida


dela é de princesa enquanto eu tenho que viver no inferno.

— É realmente, você “tem” Thomas, te obriguei a


isso, a viver e passar por tudo que está passando.

— Se você quer que eu finja que minha mãe não


existe, e aja como se a sua mulher fosse a minha mãe, vai
morrer esperando.

— Como ela sempre fez com a sua irmã. Lembro de


quando você sentia dó da Celina. Quantas vezes Celina
ficou sozinha em casa enquanto sua mãe viajava com
você, ia para shopping com você, para a casa da família
dela com você... Realmente não, eu não espero que você
seja tão mau caráter e cruel quanto. Mas também é
importante lembrar que está exatamente onde e da forma
que quer. E para sua informação, Celina não irá conosco,
ela ficará na casa dos pais da Maia, já que seus avós
estão viajando.

Quando chegamos no estacionamento do


consultório, Thomas desceu e bateu a porta do carro, eu
nem havia o desligado ainda. Subiu na frente e quando
cheguei no andar, ele já estava em consulta. Ficou lá por
mais de uma hora e quando saiu estava um caos, rosto e
olhos vermelhos, mas não estava mais com a expressão
de ódio de quando o encontrei no estacionamento.

Fomos direto para minha casa. Era sempre assim


que acontecia nos dias de terapia de Thomas, íamos para
lá juntos, e quando chegávamos, Ricardo o levava para
sua casa. Eu não iria mais naquela casa, nunca mais. —
Posso dormir na sua casa hoje, pai?

— Meu filho, é a sua casa, onde você deveria dormir


todos os dias. Não tem que pedir nada e sabe disso. Não
queira me magoar todas as vezes que está com raiva.

Ele não respondeu nada. No dia seguinte acordou


melhor, Maia me falou que passou o dia bem, deu atenção
para os cachorros. No fim da tarde, foi para casa da mãe.
Eu sempre tenho a esperança de ele não querer mais ir
embora.

Sexta-feira, quando cheguei em casa, Maia estava


uma pilha de nervos.

— Mãe... a senhora tinha dito que viria! — Falava


brava ao telefone.

Quando ela viu que estava parado na porta da sala


olhando para ela, foi para o escritório marchando e bateu
a porta.

Quando saiu de lá estava de cara feia.

— Oi, meu amor, temos algum problema? —


Perguntei receoso.

— Temos, minha mãe tinha dito que viria com meu


pai buscar a Celina, mas quem virá é a Juliana. Eles já
devem estar quase chegando. Que droga! Custava minha
mãe vir?

Ela foi falando e andando em direção ao quarto da


minha filha. Nem podia acreditar no que estava
acontecendo. Abriu a mala, colocou mais algumas coisas,
fechou e colocou no lugar de novo.

— Cadê a Celina?

— Está lá no quintal brincando com Valtinho.


— Maia, qual é o problema seu irmão e sua cunhada
ter vindo buscar a Celina, eu devo me preocupar?
Podemos ir juntos levá-la.

— Eu só acho que a Juliana não tem nenhuma


experiência com crianças. Se minha mãe dissesse que não
viria, eu teria ido levá-la hoje. Eu confio na minha mãe.
Em mais ninguém.

— Meu amor, vamos esperar eles chegarem, não


faça desfeita, eles estão me fazendo um favor.

— TE FAZENDO? Entendi, José, entendi tudo. Por


que não é mais explicito? Diga com todas as letras! — Ela
deu as costas e foi para o quarto.

— Para com isso, Maia, pelo amor de Deus, não quis


dizer nada. Não insinua coisas, nem coloque palavras na
minha boca. Você é e sempre será a mãe da Celina.

— Se pensasse assim não diria que eles estão te


fazendo um favor.

— Meu amor, não foi por mal, eu juro, não prestei


atenção nas palavras.

— Tudo bem, vou ir ajudar a dona Rita com as


crianças. Convidei Natalia e o Valter para virem comer uns
petiscos aqui, encomendei uma comida de boteco, vão
entregar as 19h.
Meu cunhado chegou às 18h e logo em seguida,
Natalia e Valter.

— Vamos ficar na área lá de fora, tem mais espaço


para as crianças brincarem e podemos ficar de olhos
neles. — Maia sugeriu, e fomos todos para área fechada
ao lado da piscina.

— Vai ver o vestido de noiva lá em Nova York, Maia?

— Ah, Ju, já que ainda não achei nada que eu


realmente goste, vou dar uma olhada, mas este não é o
objetivo. Porém já reservei alguns horários para
experimentar alguns modelos que vi pela internet.

— Mas vai ver sozinha?

— Eu só vou trabalhar na terça e na quarta-feira.

— Mas você não pode ver a noiva antes do


casamento.

— Vou sozinha, qual o problema? Se gostar de


algum, mando foto ou faço uma chamada de vídeo para
minha mãe. Não vejo problema.

— Mas a sua mãe, aposto que verá.

— Natália também vai casar, Ju, sabia disso?


— E como não fui convidada... — Juliana fez um
drama.

— Ainda não mandei convites, estamos fazendo tudo


correndo, esse senhor aqui está com uma pressa tão
grande. Parece até que está grávido. Vamos nos casar no
mesmo lugar que Lize e Otávio, será uma cerimônia
simples, só para os amigos e familiares, vocês com
certeza, receberão o convite, será enviado no início do
mês que vem. Nos casaremos no fim de março.

— Não quero dar tempo para ela querer desistir. Não


consigo ficar longe dessa mulher, ela já me deu um filho,
esperar mais o quê?

— É isso aí, cara. Passar logo pro nome, esperar pra


quê? Não é moleque pra ficar brincando de namoro. —
Danilo, falou.

— Cara, e que foda isso de vocês terem o mesmo


nome. E nem é um nome comum. Ele é um moleque de
ouro, foi muito bem educado.

— Obrigada, Danilo, meu pai tem os verdadeiros


méritos.

— Pode até ser. — Juliana falou. — Mas todo


mundo via o quão boa mãe você sempre foi. Você tem todo
mérito.
— Assim vão me fazer chorar, eu realmente sempre
tive muita ajuda do meu pai, e agora do Valter, só tenho a
agradecer.

— Quero engravidar em breve, estávamos esperando


para conseguirmos comprar nossa casa, mas agora que
conseguimos juntar o suficiente, não quero mais mudar.
Me apeguei demais em dona Ada e seu Estevão. Agora
estou fazendo todos os exames, assim que os resultados
saírem, vamos tentar.

— Não vejo a hora de ter uns quatro Danilinhos


correndo pelo quintal de casa.

— Gente, quatro é por conta dele.

Ficamos até tarde conversando, bebendo e rindo.


Quando entramos ainda fui tomar a saideira com Danilo,
quando entrei no quarto louco para pegar Maia, e tirar
todo aquele estresse, dei de cara com ela dormindo
agarradinha com Celina.

Acordamos tarde, então tomamos um brunch ao


invés de almoçar, Danilo e Juliana decidiram ir embora
para não chegarem tarde em Careaçu. Colocaram as
malas da Celina no porta-malas, e fomos nos despedir.

— Cara, muito obrigada por fazer toda essa viagem


para pegar nossa princesa.
— É minha sobrinha, a nossa mais velha. Não é,
princesa do tio? — Piscou para Celina, que sorriu toda
carinhosa. — Somos uma família, cara. E o tio vai até nos
cafundé do Judas se vocês precisarem. E de verdade, não
espero nada menos de você.

— Você é muito romântico. — zombei. Até Celina riu.

— Ju, pelo amor de Deus! Vê a tranca da porta


direito, não a deixa descer do carro sozinha, verifica se o
cinto de segurança está mesmo travado direitinho, não
deixa ela sozinha nem por um segundo, se for no banheiro
leva ela junto e coloca ela dentro do cubículo com você,
não deixa ela sentar, quando ela quiser fazer xixi, a
segure no colo. Não a coloque sentada nem naqueles
papéis. Vai me mandando notícias. Celina meu amor, por
favor, não deixe seu celular desligado, para a Mai poder
ligar para você. Juliana, qualquer coisa você me liga. —
Maia estava nitidamente preocupada.

Todos olhávamos para Maia com admiração,


ninguém a recriminou ou achou exagero, era totalmente
válido a preocupação dela com Celina, as duas foram base
uma da outra todo o tempo.

— Tenta não se preocupar demais, sei que é difícil,


mas pode ter certeza que nada vai acontecer com essa
princesa. Prometo.

Maia a colocou na cadeirinha. Encheu-a de beijos.


— Meu amor, tá tudo bem? Quinta-feira, eu vou te
buscar, tá bom? Seja uma boa menina e obedeça a vovó.
Eu te amo, minha vidinha.

Senti um nó na minha garganta, estava muito


emocionado com o que presenciava. O amor da minha
mulher pela minha filha, nossa filha, era palpável.

— Se comporta, minha princesa, papai te ama, e até


quinta-feira.

— Fala pra Mai que vamos nos divertir muito. E para


ela trazer muitos presentes.

Achei que Maia desabaria assim que o carro sumisse


de vista. Mas muito pelo contrário, foi terminar nossas
malas. Conversamos, ela pediu para ligar para o Thomas e
ver se ele queria algo especifico de lá. Conversou
normalmente várias vezes com a Juliana e com Celina
pelo celular.

E ficou extremamente aliviada quando soube


chegaram em casa, bem, e que Celina já estava sob os
cuidados de dona Ada.

Deitamos cedo, pois nosso voo era às sete horas da


manhã. Quando minha mulher colocou a cabeça no
travesseiro as lágrimas caíram torrenciais.
— Eu sei que é ridículo, mas desde que cheguei
aqui, Celina é minha companheira, minha parceira, tenho
medo dela achar que vamos abandoná-la como aquela
imbecil fez. Eu queria que ela fosse minha, só minha... E
se um dia ela quiser fazer igual ao Thomas, José? Mãe
tem muito poder... e se Leila um dia perceber o quanto
Celina é maravilhosa e querer recuperar o que está e
perdendo?

— Meu amor, isso nunca vai acontecer, e se


acontecesse Celina nunca te trocaria por nada. Ela não é
como Thomas, ela é amor, é carinho, Celina é minha filha,
tem uma genética de caráter.

Maia me encarou bestificada.

— Thomas tem um Transtorno de Conduta, a Dr.


Elaine o diagnosticou. Crianças com esse problema são
egoístas e insensíveis aos sentimentos dos outros e
podem assediar outras crianças, danificar, mentir ou furtar,
sem culpa.

— Nossa, José, você nunca me falou isso.

— A psicoterapeuta me falou sobre isso ontem. O


pior de tudo isso é que não sabemos como tratá-lo, pois, a
primeira providencia é afastar a criança de um ambiente
problemático e oferecer um ambiente rigidamente
estruturado, o que geralmente é o tratamento mais eficaz.
— José, vamos encontrar um jeito de lidar com isso.

— É, vamos sim. — Abracei Maia, e a consolei até


que pegasse no sono.

Chegamos na hora do almoço em Nova York e


aproveitamos a tarde para fazer compras, passear,
namorar, saímos para jantar e para a minha bailarina, não
poderia ser nada diferente do Eleven Madison Park. Maia
ficou encantada com os garçons que circulavam como
bailarinos em um número perfeitamente coreografado.

— José, meu amor, esse lugar é perfeito, nunca vi


nada mais lindo.

— Não posso dizer o mesmo. — Peguei sua mão e a


beijei sem desviar nossos olhares, Maia era simplesmente
linda. — Sou totalmente apaixonado, você é perfeita, não
acho que te mereço.

— Eu te amo.

— Eu te amo, mais.

Passamos a noite fazendo amor, conversando sobre


o futuro, a risada da Maia era bálsamo na minha vida. Eu
era totalmente feliz, nada me faltava.

Aproveitamos bastante a segunda-feira, fui com Maia


em uma loja que vendia vestido de noivas, fiquei em uma
sala de espera, enquanto ele experimentava os vestidos
que gostou, aproveitei para trabalhar. Respondi vários e-
mails, resolvi algumas coisas com Otávio. E bem antes do
que imaginei, Maia apareceu.

— Pronto, decidi, já escolhi meu vestido e o de


Celina, minha mãe também amou. Está tudo certo.

— Sério? Você vai escolher na primeira loja?

— E o primeiro vestido, foi paixão à primeira vista.


Coloquei os olhos e amei.

— Você é perfeita demais.

No dia seguinte, tive que ir trabalhar, e as coisas se


complicaram de uma forma que não imagina. Nem
consegui almoçar com Maia como havíamos combinado.
Já era mais de oito da noite, quando consegui sair do
escritório. No caminho para o hotel mandei uma
mensagem de voz, já que Maia não me atendia há mais de
uma hora.

— Meu amor, estraguei até o nosso jantar. A reserva


era até as 20h. Me perdoa, vamos pensar em alguma outra
coisa. — Abri a porta me desculpando, mas quando entrei,
escutei uma música baixa no ambiente. Velas acesas
estavam espalhadas pela sala, larguei minha pasta no
chão, e afrouxando o nó da gravata, segui o som da
música. Mas quando entrei no quarto e vi minha mulher
em uma lingerie, com cinta-liga preta, jogada na poltrona
com as pernas cruzadas no braço do móvel segurando
duas taças de champanhe, parei hipnotizado.

Maia, com a graça e delicadeza de uma bailarina,


levantou e caminhou até a mim. Me entregou a taça e me
deu um beijo breve nos lábios.

— Boa noite, meu amor! Senti sua falta. — Falou,


puxando minha gravata, me fazendo caminhar atrás dela
vendo aquela bunda perfeita quicando. Me fez sentar onde
estava. — Fiquei ociosa, então tive algumas ideias.
Tomara que apreciei.

Minha vontade era de devorá-la naquele momento.


Como um predador, bebi a champanhe. Apreciando cada
centímetro do seu corpo de cima a baixo. Meu pau ia
estourar a minha calça. Maia safadamente se afastou,
caminhou até o aparador e pegou um controle remoto,
colocou outra música e caminhou até o meio da sala.

— Hummm... acho que está apreciando! — Olhou


para o volume no meio das minhas pernas enquanto se
embalava com o toque da música. A garrafa de
champanhe estava na mesa ao meu lado, sentei com as
pernas arreganhas tentando dar espaço para o meu pau.
Enchi novamente a taça e fiquei admirando minha ninfa.

A cada acorde Maia ficava mais ousada.


Quando voz do James Alan Hetfield soou no alto-
falante, ao som de Nothing Else Matters Maia jogou os
cabelos em uma cena obscena, tive que usar todo meu
controle para deixá-la terminar.

Nunca mais conseguiria escutar essa música sem


ficar duro. Maia conseguia transformar a porra de um
heavy metal em um potente afrodisíaco.

So close no matter how far

(Tão perto, não importa o quão distante)

Couldn't be much more from the heart

(Não poderia ser muito mais do coração)

Forever trusting Who we are

(Para sempre confiando em quem somos)

And nothing else matters

(E nada mais importa)

Never opened my selfthis way

(Nunca me abri deste jeito)

Life is ours, welive it our way

(A vida é nossa, nós a vivemos da nossa maneira)


All these words I don't just say

(Todas essas palavras, eu não apenas digo)

And nothing else matters

(E nada mais importa)

Trust I seek and I find in you

(Confiança eu procuro e encontro em você)

Every day for usso mething new

(Cada dia para nós é algo novo)

Open mind for a different view

(Mente aberta para uma concepção diferente)

And nothing else matters

(E nada mais importa)

Cada passada de mão em seu corpo, cada rebolada


e jogada de cabelo, acelerava meu coração e sentia o
sangue do meu corpo todo no meu pau.

Ela cantava cada palavra olhando para a minha


alma, estava se entregando, dizendo o quanto confiava em
mim, em nós.
A letra da música traduzia o que seu corpo me dizia.

Quando Maia colocou as mãos cada uma em um


braço da poltrona, e montou em mim, acabou todo e
qualquer resquício de controle.

— Fim do show minha deusa, meu furacão, minha


perdição. — Maia atacou minha boca ainda rebolando
como uma ninfa no meu pau todo babado. Abriu minha
calça com maestria, chupando minha língua e gemendo
em minha boca.

— Porra, garota, assim você acaba comigo!

— Então vamos tentar assim: — Ela levantou e me


fez levantar. Me deu as costas e ficou de joelho na
poltrona, jogou os braços no encosto e olhou para trás,
seus lábios abertos sua língua passeava lentamente entre
eles, enquanto ela encarava meu pau.

— Caralho!Puta que pariu de mulher gostosa. —


Passei a cabeça do meu pau em sua boceta
magnificamente oferecida a ele, ela estava pingando e
fervendo. Me enfiei de uma só vez.

— PORRA!

— Ahaaaa!
— Vou direto para Careaçu, José. Não precisamos
passar em casa para nada, já que Thomas não vai com a
gente. — Maia estava ansiosa.

— Tem certeza?

— Tenho. Deixei tudo separado, os presentes que


comprei para a Celina nem todos vou levar para lá, só
levaremos o que comprei igual para as outras crianças. Já
despachei as outras malas para casa, segurei aqui
apenas o necessário.
— Tudo bem, consigo fazer o que preciso do
escritório da fábrica, amanhã.

— Se você precisar ficar em São Paulo, tudo bem.


Pode ir depois.

— Que maravilha, minha mulher está me


dispensando. Você ama mais a Celina do que eu?

— Que pergunta boba. Claro, José, não tem nem


comparação.

— Sorte a minha, e mais ainda a dela. Agora, sabe o


que estou pensando?

— Hum?!

— Naquela jogada de bunda que me fez gozar igual


um cavalo.

— Nossa, José! Quanta sutileza. — Ela riu.

— Sutileza? Não me lembro de você gostar de


sutilizas.

— Acho que aqui, no avião com outras pessoas eu


sou totalmente adapta a sutilezas.

— Estamos quase que isolados nestas poltronas,


consigo de comer tranquilamente sem ninguém ver.
— Ah é, José? Você tem prática em trepar com
qualquer uma na primeira classe?

— Não mesmo, meu amor, mas eu consigo te comer


em qualquer lugar.

Pousamos no aeroporto Internacional de Guarulhos


e seguimos direito para a casa dos meus sogros. Era
nítido que ela só relaxou depois que estava com Celina em
seu colo.

Quase tudo estava perfeito, mas Thomas estava me


deixando preocupado, ele não dizia a verdade, duas vezes
essa semana fez um verdadeiro show porque queira
dinheiro. Não cederia, não passei quinze anos sendo
otário da mãe, para seguir da mesma forma com meu filho.

O que era para ser só uma comemoração em família


virou um verdadeiro evento, como quase tudo na casa dos
meus sogros. Já era dia quando resolvi ir dormir, bêbado,
e acho que minha mulher estava muito brava comigo.

— Cadê a minha mulher? — Perguntei para meu


sogro que também estava comigo até aquela hora.

— Está na minha cama com a minha mulher e minha


neta, sua filha. — Me joguei no sofá e acordei já era meio
dia. Fui procurar Maia, que estava no quintal com Celina.
— Bom dia, meu amor! — Cumprimentei todo
desconfiado.

— Bom dia, José.

— Não fica chateada comigo, eu não sabia o que


estava fazendo. — Maia começou a gargalhar.

— Que desculpa original, José, vocês não têm


limites para beber. Danilo fez xixi dentro da gaveta,
Juliana está uma fera.

— Porra! — falei rindo. — Se eu fosse a Juliana


cortava o pau dele fora. — Falei alto para o pessoal na
cozinha ouvir.

— José?! Pelo amor de Deus, olha a Celina. Está


bêbado ainda?

— Desculpa, meu amor, eu não sei o que estou


fazendo.

— Vamos embora, temos que passar em casa ainda


e não quero chegar muito tarde em São Paulo.

— Só preciso comer alguma coisa, estou faminto.

Conversei com Leo e Marília, que iriam para São


Paulo no dia seguinte.
— Vamos chegar por volta das dezoito horas, mas
ficaremos em um hotel pertinho da sua casa. Somos em
cinco, não temos previsão de ir embora, acho mais
confortável desta forma. Já expliquei para Maia. Vamos
direto para sua casa, jantamos lá depois vamos para o
hotel.

Chegamos em casa e resolvemos sair para jantar


bobagem na rua. Tentei de todas as formas falar com
Thomas, mas não consegui.

Fui trabalhar no dia seguinte pela manhã e


aconteceu a mesma coisa em relação ao meu filho, não
conseguia falar com ele, soube que não foi para aula, mas
o garoto não atendia o telefone. Não consegui me
concentrar no trabalho e voltei para casa no meio da
tarde.

— Boa tarde, meu amor! Que cara é essa?

— Estou preocupado com Thomas, ele não me


atende, liguei para a casa dele e Leila disse que sei onde
meu filho mora, se eu tivesse realmente preocupado
saberia onde encontrá-lo. Mandei Ricardo até lá, ele disse
que Thomas estava em casa e que não me atendeu
porque não quis.

— E o que você vai fazer?


— De verdade, não vou fazer nada. Estou exausto
de tudo isso, nem sei porque ele está com tanta raiva de
mim, ele sabe exatamente o quanto dou de pensão para
ele e ela não tem nenhuma despesa além da comida, eu
pago todos os gastos do Thomas. Ele está tentando me
manipular como a mãe dele fazia. Não vou ceder, Maia.

— Sabe do que você está precisando? De um banho


relaxante, vem, vou cuidar de você.

— Não sabe o prazer que sinto quando ouço você


falando deste jeito.

José encheu a banheira e quem recebeu os cuidados


foi eu.

Idolatrei cada pedacinho do seu corpo, massageei


seus ombros com direito a chupadas em seu pescoço.
Ajoelhei no meio de suas pernas e tracei todo seu rosto
comas pontas dos dedos, José deitou a cabeça no encosto
da banheira, fechou os olhos e se deixou sentir. Desci as
mãos por seu peitoral musculoso, seus braços, suas
coxas, enquanto seu pau fazia de tudo para chamar minha
atenção. Me arrastei para cima dele, envolvi toda sua
ereção com os lábios da vagina e o esfreguei com
sofreguidão, num ritmo cadenciado, deslizava para frente
e para trás no seu comprimento. José continuou com a
cabeça deitada no encosto, mas me olhava nos olhos. Meu
tesão era tanto, ficava cada vez mais excitada, facilitando
mais e mais a fricção entre nossos sexos. Estava tão perto
de gozar. Me embalava, e me esfregava com mais força,
sentindo os músculos do meu marido em minhas mãos, em
minha vagina.

— Me coloca dentro de você, meu amor.

— Haaa... não vai dar tempo meu amor. — Deitei o


corpo em seu peito, enfiei as unhas nas suas costas, os
dentes em seu ombro e gozei descontroladamente. Antes
da letargia me dominar, José meteu forte dentro de mim,
arrancando um grito de prazer. E socando como uma
animal, se despejou fundo dentro de mim.

— Você realmente sabe me relaxar meu amor.

Beijei meu marido com tanta vontade, como se


fizesse anos que não o beijava.

Depois da segunda rodada, estava no closet


procurando uma roupa, estava pensativa. Quando aquela
sensação esmagadora apertou meu peito.
Peguei o celular na hora e liguei para Rita que
estava no parquinho com a Celina.

— Rita, tudo bem?

— Tudo dona Maia, estamos chegando na sorveteria,


vou dar um sorvete para a Celina e logo vamos para casa.

— Tudo bem, Rita, não tenha pressa. — Desliguei o


celular, mas a sensação ruim permanecia. José estava na
porta do closet me olhando atentamente.

— Amor, liga para o Ricardo, diz que Celina e Rita


estão na sorveteria no espaço gourmet aqui do
condômino, para ele ir tomar conta delas, não aconteceu
nada, só para acalmar meu coração.

Ele se virou e em segundos deu a ordem para o


Ricardo.

Respirava fundo tentando tirar aquela sensação do


peito quando lembrei que meu irmão estava na estrada,
Liguei para Marília, que não atendia, também para Leo, e
nada. Quando estava ficando desesperada Marília
retornou à ligação, disse que tinham se atrasado, mas que
em estava tudo bem.

Respirei um pouco mais aliviada, mas enquanto eles


não chegassem não ficaria em paz.
Enquanto Maia preparava um café para nós eu
respondia alguns e-mails na mesa da cozinha mesmo.

— Hum, que bolo maravilhoso, é do quê?

— Mandioca. Dona Rita que fez.

Estávamos terminando o café quando meu celular


tocou no bolso:

— É o Thomas. — Atendi. — Filho?


— Oi. Pai, minha mãe e o Antônio estão quebrando
tudo dentro de casa, ela trancou a casa com o sistema de
alarme, não consigo sair.

— Estou indo te buscar.

— O que foi, José?

— Thomas está trancado dentro de casa, e os dois


vagabundos estão quebrando tudo. — Falava enquanto
caminhava até o hall de entrada, peguei minhas chaves.
Maia parou na porta, Rita vinha chegando com Celina que
correu para os meus braços, estava uma pilha de nervo,
peguei minha filha no colo e a beijei.

— Vai com a Mai, o papai vai buscar o Tho.

— José? — Maia gritou. — Não vai, por favor!

— Eu já volto. — Estava muito nervoso só queria


tirar Thomas daquele antro.

Parei o carro na porta da frente da casa deles, desci


com raiva e quando me aproximei ouvi os gritos.
Principalmente da louca.

Tentei abrir mais não consegui, ela havia trocada a


senha, tanto das câmeras quando dos travamentos da
porta. Não me importei porque essa casa nada mais tem a
ver comigo.
Liguei para Thomas.

— Filho estou aqui na porta diz para a sua mãe que


se ela não abrir chamo a polícia.

Dez minutos depois Leila pareceu, sozinha; o


cafetão covarde como sempre não deu as caras. Estava de
calça, camisa e toda descabelada, parecendo uma louca.
Foi até o painel, parou ao longe de frente para mim, e
apertou o controle, abri a porta e entrei.

— Vai chamar meu filho. — Minha vontade era voar


no pescoço dessa vagabunda.

— Quem você pensa que é?

— Eu sou o dono dessa porra, o cara que te


sustenta, que sustenta o vagabundo covarde que te come.
Vai agora, sua puta, chamar meu filho.

— Thomas não vai com você para lugar nenhum.

— Agora, sua vagabunda! Acabou. Você e esse


viado, cafetão de puta pobre, tem duas horas depois que
eu sair daqui para deixar essa casa. Ou taco fogo em tudo
com vocês aqui dentro.

— Não, precisa ter esse trabalho. — O filho da puta


apareceu, falando no alto da escada, com uma mala na
mão.
— Estou tentando sair deste inferno já tem tempo.
Estava literalmente trancado aqui dentro. — Ainda teve
coragem de debochar da minha cara.

— Você não se atreva a sair daqui, Antônio. Você


não é nem louco. — Leila gritava descontrolada.

— Foi realmente um prazer, mas já não tem


nenhuma razão para eu continuar aqui.

— Thomas? — gritei com ódio, queria sair daquele


inferno de uma vez por todas, mas ele não aparecia.

— Temos uma vida!

— Você passou dos limites. Está louca, chega, não


vê que já deu? Me deixa em paz, me deixa cuidar da
minha vida. Vai cuidar da sua. Essa mulher está louca,
José, tira esse menino dos cuidados dela. Se você não
fizer eu mesmo faço. Não vou deixar meu...

— Cala a porra da boca. Filho da puta!

Leila saiu descontrolada e voltou em seguida.


Apertou o controle em sua mão e toda a casa foi trancada.

— CHEGA!!! — gritou. — Você me usou, tirou tudo


mim. Me fez pagar seus luxos, te sustentar, e as putas que
você bancava. Com o MEU sacrifício! Nunca me perdoou
por eu ter tido uma filha dele! — Ela gritava,
descontrolada e apontava na minha direção.

Thomas apareceu no andar de cima.

— Filho, desce. — falei.

— CALA BOCA! Quem dá as ordens aqui sou eu. —


Leila esbravejava fora de controle. — E você?! Acha que
pode tudo? Seu dinheiro e a inteligência que acredita ter...
nunca foram páreo para mim. Você é uma piada. — Leila,
vamos conversar, meu amor, podemos entrar em um
acordo. — O covarde choramingou.

— MENTIRA! Você não me fará mais de idiota,


Antônio!

— Destrava essa merda agora, Leila, se não me


deixa sair daqui jogo toda merda no ventilador. Vou
destruir o pouco que ainda te resta. — O filho da puta teve
coragem de ameaçá-la.

O ódio tomou conta de mim, iria colocar um basta


nesta novela mexicana de merda.

— Thomas, meu filho, volta para seu quarto agora!

— ELE NÃO É SEU FILHO! — Antônio disparou,


também estava fervendo de ódio... aquele desgraçado!—
Você é um corno, ele é meu filho. E duvido muito que
aquela menina seja sua filha também. Essa vagabunda
toda vez que ficava com raiva de você abria as pernas
para qualquer um. Ela deve ser filha de um dos seus
seguranças. Você não é homem para fazer. Filha.

— PAHHHH! PAHHHHH!

— CALA. A. PORRA. DA. SUA. BOCA!

Depois de toda adrenalina correndo no meu sangue.


Olhei para cima e vi Thomas, petrificado no alto da
escada.

— Maia, pelo amor de Deus, senta, você vai afundar


o chão.

— Não consigo, estou tão nervosa, meu coração


parece que vai sair pela boca, já era para o José ter
voltado, ele não me atende.

Andava com o celular na mão de um lado para o


outro, Thomas também não atendia o celular, já tinha três
horas que José havia saído para buscá-lo. Ricardo saiu de
casa tem uma hora para ir atrás dele e não dava notícias.

— Tenho certeza que aconteceu alguma coisa, Leo.


Alguma coisa grave.

Meu telefone tocou na minha mão. Levei um susto, e


atendi tremendo.

— Boa noite, Maia, sou o Otávio, advogado do José.

Não sei como cheguei até a mesa para me sentar.

— Só me diz que ele está bem? Pelo amor de Deus.


— Era melhor um advogado do que um médico. Pensei.

Quando cheguei na delegacia com Leonardo, havia


um monte de gente, desci do carro e entrei correndo, dei
de cara com um policial puxando José algemado de uma
sala para o fundo do corredor, corri em sua direção, mas
fui barrada por vários policiais que não saíam da minha
frente.

— JOSÉ?! — Ele virou em minha direção, mesmo


com o policial o puxando.

— Maia! Olha pra mim.

— Sai da minha frente! Por favor! Me deixe passar.


— Espera, PORRA! — José gritou com o policial que
o arrastava. Seu Otávio saiu de dentro da mesma sala e
falou alguma coisa, o guarda parou.

— Meu anjo. Eu não fiz o que estão falando. — José


gritava para eu poder escutar.

— Por favor, me deixem ouvir o que ele tem pra me


falar. Pelo amor de Deus. — Implorei chorando para os
guardas a minha frente. O que eu poderia fazer se
chegasse mais perto? Pelo amor de Deus.

Um deles deu um passo para o lado e eu corri, corri


pelo que pareceu uma eternidade até me chocar contra o
corpo do meu marido. O guarda teve que nos amparar
para que o impacto dos nossos corpos não nos
derrubasse.

— Olha pra mim. — Agarrada em seu pescoço não


conseguia parar de chorar. — Eles acham que matei o
amante da Leila. Eu não fiz isso, Maia. Só preciso que
você confie em mim.

— O que... Mas... José... — Minha mulher estava


devastada.

— Maia. Confia em mim? Meu anjo. Confia em mim!

Senti a mão de alguém no meu ombro, me debati


para que me soltasse, então ouvi a voz do seu Otávio.
— Precisamos ir, Maia. Vamos esclarecer tudo isso o
mais rápido possível.

O guarda voltou a arrastar José, seu Otávio me


amparava.

— EU CONFIO! Confio! Volta logo pra mim.


Promete!? — Ele não respondeu. E isso me desesperou.

Me virei e dei de cara com Leila, na porta da sala


que José tinha saído. Ela me olhava com triunfo e ar de
riso. Fiquei tão descontrolada que não tenho noção de
como cheguei na minha casa.

Horas depois o senhor Otávio chegou, também


Otávio, Carla, em seguida Ramon.

Leonardo já havia conversado com ele, mas eu


queria saber exatamente o que estava acontecendo.

— Maia, José se envolveu em uma discussão com


Leila e o amante. Dentro da casa dela, as imagens foram
registradas só até uma parte da discussão, depois as
câmeras foram desligadas. Um tempo depois Leila ligou
para a polícia, implorando por socorro, e quando os
guardas chegaram Antônio estava morto com dois tiros
certeiros no peito. José atira muito bem, e o que Leila
relatou é que nunca pegou em uma arma. A arma é do
José, e tem suas digitais nela. Thomas, pelo que parece,
viu tudo, mas não disse absolutamente nada, também não
desmentiu a versão da mãe de que José ficou
transtornado quando soube que não era pai do menino, e
o baleou. José ficará detido por ora.

Olhei para Leonardo buscando uma solução, mas ele


me encarava sem dizer uma palavra

— Ele não fez isso! — gritei para ele, e para todos


naquela sala.

— Maia, calma, não estou julgando. Dr. Otávio só


está dizendo que os fatos apontam para que ele seja o
maior suspeito. Além de ter sido preso em flagrante, o fato
de muitos jornalistas já estarem noticiando prejudica ainda
mais. Mas também posso estar falando bobagem.

— Não, não está, a impressa só complica tudo,


nestes casos. — Senhor Otávio falou preocupado.

— Minha equipe de imprensa já está tentando


amenizar os danos.

— Não acredito que aquele moleque vai deixar o pai


pagar por um crime que não cometeu. Não acredito!

— Maia, cadê a Celina? — Olhei para Carla.

— Está com a minha cunhada no hotel.

— Maia, acho melhor você sair da cidade, e não ir


para casa de parentes, se perdemos o controle, a
imprensa não lhe dará paz, tem algum lugar de
preferência?

— Não vou a lugar algum. — Fui curta e grossa com


Otávio. — Tem que haver um jeito de provar a inocência
dele. — Carla andou até a parede de vidro da minha sala
que dava para o jardim iluminado e a piscina. Colocou as
mãos nos bolsos e ficou parada olhando para fora. Fiquei
por alguns segundos olhando aquela cena. Ninguém acha
que ele é inocente. Nenhum dos seus amigos.

— Saiam todos da minha casa! — Fui enfática,


levantei e apontei para fora.

— Maia, nós amamos o José... — Ramon começou a


falar, mas não o deixei terminar.

— Quem ama o José sou eu! Não vou admitir que


ninguém duvide do caráter e da honestidade do meu
marido. Eu o conheço há oito meses, e tenho certeza que
por mais irado que aquele homem estivesse ele nunca
cometeria um assassinato. Ele sabia que Thomas não era
filho dele, ele sabia. Eu vi aquele homem chorar não por
ter tido sua vida totalmente manipulada e estragada no
auge das suas conquistas, mas por medo de perder o
filho, que nem dele era. O José é o homem mais íntegro e
honrado que já conheci na minha vida.

— Maia, não achamos que José tenha matado


aquele homem. Só não sabemos como vamos tirá-lo de
tamanha armação. Estamos preocupados com você e
Celina. — Carla tentou se retratar, mas tinha certeza que
alguma coisa estava mal contada.

— Não perca seu tempo se preocupando comigo ou


com Celina, Carla, por que não tenta arrancar daquele
moleque demoníaco a verdade? Vocês têm noção de que
meu marido pode ficar anos preso por um crime que não
cometeu? Que depois de sustentar e amar o filho do cara,
mesmo sabendo que ele não era o pai biológico, saiu
daqui como um louco para protegê-lo das pessoas que
roubaram toda sua liberdade e felicidade por mais de dez
anos? Isso é injustiça demais.

— Eu tentei falar com Thomas na delegacia, mas a


desgraçada não me deixou chegar perto dele. Ela me
odeia, Maia.

— Conversei com ela e com ele. Ofereci ajuda,


coloquei-os em um hotel de luxo, escutei sua história.

— Você fez o quê?! — Carla se indignou com Otávio,


tanto quanto eu.

— Meu pai me instruiu, gente. É uma jogada.

— Ela estava desolada, está sem dinheiro, a casa foi


interditada por tempo indeterminado. Não quero perdê-la
de vista. — Sr. Otávio explicou.
— Ela não é idiota Otávio, com certeza sabe que
você jamais ficaria a favor dela contra o José.

— Não fiquei a favor dela, deixei claro que faria tudo


para proteger o meu afilhado, que nunca sairia do lado de
Thomas, que independente de quem fosse o seu
verdadeiro pai, o único padrinho que ele tem sou eu. E
como ela é a tutora dele, estará sob meus cuidados
também, e será desta forma que vou pegar qualquer
deslize.

— Maia, nós vamos fazer o impossível para tirar


nosso amigo daquele lugar, para limpar seu nome. —
Ramon prometeu.

Seu Otávio me explicou algumas providências que


tomaria, prometeu não me esconder nada e me manter
informada, depois foi embora.

Carla, Ramon e Otávio, não queriam me deixar ali. A


cada cinco minutos de conversa eu tinha uma crise de
choro. Garanti que ficaria bem, que precisava de um
tempo para pensar. Leonardo garantiu-lhes que qualquer
eventualidade, entraríamos em contato. Depois de quase
os ter expulsados de casa, eles se foram com a promessa
que estaria voltariam no dia seguinte.

Devo ter conseguido cochilar por duas horas. E


antes das seis horas da manhã estava na cozinha com
meu café e minhas lágrimas, não conseguia acreditar no
que estava acontecendo. Leo acordou e só se fez
presente, e por horas fiquei olhando para o nada
pensando o que seria das nossas vidas. Eu esperaria por
ele quanto tempo fosse preciso. Mas não poderia jamais
ficar longe da Celina, a filha que Deus me deu. Será que a
justiça me daria a guarda dela? Não, não somos nem
casados. Mas eu daria um jeito, tenho um documento que
me daria pelo menos um pouco de tempo e mobilidade.
Encontrei Rita em seu quarto. Bati na porta e quando ela
abriu me joguei em seus braços:

— Dona, Maia, não se deixe abater, Celina vai


precisar muito da senhora.

— Vão me tirar ela, Rita, vão levá-la de mim.

— Oh Dona Maia, a menina não fica longe da


senhora, não. Ela é apegada demais.

— Preciso pensar em alguma coisa, ganhar um


tempo que seja.

Deitei na cama de Rita, chorei, ouvi, falei. Ela era


uma mulher forte e otimista, precisava ser forte também.
Muito forte.

Um pouco antes das nove, dona Helena e seu


Estevão chegaram desolados e revoltados. Minha sogra
me abraçou em prantos.
— O que fizeram com o meu filho, Maia? A culpa é
minha, eu deveria tê-lo protegido de tudo isso, era o meu
dever, eu deveria saber que era armação desde o início.

Não conseguia nem consolá-la, só conseguia chorar


e mais nada.
Quando pisquei, a casa estava cheia. Olhei para
Carla e Betina conversando e consolando dona Helena,
Leo tentando acalmar seu Estevão, Ramon e André no
canto conversando baixo. Larguei todos ali e fui para o
quarto, liguei para Marília, queria saber como Celina
estava e meu coração sangrou um pouco mais.

— Maia, ela quer ir para casa, fica perguntando por


você o tempo todo. — Marília fechou a boca e ouvi a voz
da Celina.
— Espera um pouco Maia, ela vai falar com você.

— Oi, meu amor! — Celina não disse nada, abriu a


boca a chorar, chorava de soluçar.

— Meu amor, escuta a Mai, minha princesa. Por


favor. Me ouve, por que você está chorando? — Ela
tentava falar, mas o choro compulsivo não deixava.

—Vemm, vem, Ma.ma.mai, vem me buscar.

— Tá bom, a Mai tá indo, não precisa chorar. Escuta,


tá me ouvindo?

— Hanrã...

— A Mai vai pedir para a tia Marília vir te trazer,


sabe quem está aqui em casa?

— Nã.não... quem?

— As duas vovós, e mais um montão de gente. Não


chora mais, tá bom?! Estou te esperando em casa.

Quando cheguei na sala seu Estevão berrava:

— Nunca, nunca vou perdoar esse moleque, ele é


um mau caráter, nós lhe demos amor, ele teve o melhor
pai que uma criança poderia ter. Nunca, nunca vou
perdoá-lo, não quero ver esse projeto de bandido nunca
mais na minha frente.
Ele gritava e gesticulava para o senhor Otávio, que
eu não tinha ideia que estava ali.

Depois que seu Estevão se acalmou consegui falar.

— Gente, preciso que vocês ajam com naturalidade,


a Celina está vindo para cá, não quero que ela perceba o
que está acontecendo.

— Maia, não é o momento, deixa ela um pouco mais


com sua cunhada, as coisas estão totalmente
descontroladas. — Minha sogra falou chorando.

— Não posso, ela estava em prantos, pedindo para


eu ir buscá-la.

— Maia, bom dia, podemos conversar antes que a


Celina chegue?

— Me desculpe, seu Otávio. Bom dia. Sim, podemos.


Vamos para o escritório. — Ele olhou para o meu irmão,
Leo:

— Pode nos acompanhar?

— Claro.

Minhas pernas tremiam, sentei no lugar do meu


marido e segurei com força os braços da cadeira.
— Maia, Leila requereu a guarda da Celina, e neste
caso a justiça é rápida, e mesmo que ela não tenha um
documento legal como o pai, que possui a guarda
temporária...

— Sr. Otávio, pode ser mais simples, por favor?

— Maia, ela é a mãe, na falta do pai, ela tem o


direito sobre as crianças. E Celina é um baú de ouro. A
qualquer momento ela pode aparecer com um assistente
social e um oficial de justiça para levar a menina.

— Tudo bem, Maia? — Leo perguntou.

Balancei a cabeça afirmativamente.

— Todos os bens do José foram bloqueados, Leila


também entrou com o pedido de uma fortuna para cuidar
das crianças traumatizadas. E o juiz, com certeza, dará.

— A vontade de Celina não tem nenhum valor?

— Infelizmente, neste caso não, ela tem seis anos, o


irmão está com a mãe, o vínculo de vocês é recente. Até
podemos entrar com o pedido de guarda para os avós,
mas pode levar muito tempo para termos um resultado. O
que aconselho é sentar e conversar com Celina, para que
entenda e queira estar com a Leila, tentar amenizar o
sofrimento dela.
Meneei a cabeça, e depois disso não ouvi
absolutamente mais nada, não sentia meus pés tocarem o
chão, e minha cabeça parecia que estava fora do meu
corpo. Só voltei a mim quando a porta foi escancarada e
um serzinho correu e se jogou nos meus braços.

Seu Otávio ficou imóvel e mudo nos olhando.

Agarrei minha pequena nos braços e não soltei mais.


Ele abaixou a cabeça, pigarreou. Coloquei ela sentada em
cima da mesa de frente para mim.

— Meu amor, precisamos conversar algumas coisas.


Tudo bem?

— Sim. — Virou de costas e pegou um grampeador.

— Olha pra Mai, sabe a Leila, sua mãe? — No


mesmo instante tive sua atenção total. — O Thomas não
fica um pouco com ela, e um pouquinho aqui com a gente?
Ela pediu para você também ir ficar com ela um pouco.

O choro da Celina ecoou alto pelo cômodo. Ela


berrava tanto que não conseguia falar. Se jogou da mesa
no meu colo. Grudou no meu pescoço, seu Otávio nos
olhava hipnotizado. Minhas lágrimas escorriam pelo rosto
e molhava a cabecinha dela. Ela não sabia se expressar
direito, só sabia que não queria ir. Minha mãe e dona
Helena apareceram, tentaram conversar, pegá-la do meu
colo. Mas Celina ficou agressiva como nunca tinha visto.
Levantei e fui para a sala com ela.

— Mai, eu quero ir pra casa da vó Ada. Cadê meu


pai?

Por ser um lugar longe, acredito eu que ela


imaginava que lá a desgraçada não iria buscá-la, mas com
certeza, seria o primeiro lugar que procuraria. Celina
estava fazendo um escândalo e eu não suportava ver
minha menina, que é tão meiga e feliz, sofrendo deste
jeito.

— Ela não é minha mãe!

— Não, ela não é, sua mãe sou eu, e não vou deixar
você sair de perto de mim. Mas agora você precisa parar
de chorar, olha o tanto de gente que está te olhando. E a
partir de agora não me chame mais de Mai, só de mãe.
Tudo bem?

— Cadê meu pai? — Engoli em seco.

— Ele teve que ir para Nova York de novo, trabalhar.


— Chamei Rita e pedi para ela dar um banho na Celina
para mim. E fui conversar com todo mundo.

— Gente, eu agradeço todo o apoio de vocês, mas


realmente preciso ficar sozinha, colocar a cabeça no lugar,
vou ir para minha casa em Careaçu com a minha mãe,
acredito que consigo ganhar alguns dias.

Depois que todos foram embora, fui ver Celina que


estava dormindo, deitei e fingi que dormia para conseguir
pensar, ainda era cedo e não queria ser incomodada.
Quando ela acordou, pedi para Rita levá-la para brincar no
parque, e fui conversar com meus pais e sogros que
haviam ficado para me ajudar.

Minha mãe e dona Helena me ajudaram a fazer as


malas, deixamos tudo organizado, pedi para Darlan
colocar as malas no carro deixar tudo pronto.

— Não quero viajar a noite, vamos sair amanhã


cedo?

— Não acho uma boa ideia.

— Gente, nenhum oficial de justiça virá de


madrugada aqui pegar uma criança.

— Verdade, podemos ir amanhã de manhã. —


Concordou minha mãe.

— Sogro, me mantenha informada, por favor.

— Não se preocupe com nada — disse —, vamos


cuidar do José, nós vamos conseguir, e logo, provar sua
inocência.
— Seus pais, vão ficar com você, vamos dormir em
casa, qualquer coisa é só ligar.

— Jantem aqui, assim que Celina chegar do play


com a Rita lhe dou um banho e jantamos, depois vocês
vão. — Falei aos meus sogros.

— Claro, só vou avisar a Betina que não vamos


jantar em casa hoje, falar para eles saírem para comer
alguma coisa.

— Tá bom, gente, vou tomar um banho.

Assim que coloquei o pé na rua Ricardo me abordou.

— Dona Maia, gostaria que eu a levasse em algum


lugar?

— Não Ricardo, quero caminhar um pouco, vou


encontrar a Rita e a Celina aqui na sorveteria. Só gostaria
que pedisse para alguém deixar as coisas dos cachorros
prontas para viajarmos amanhã de manhã, nesta correria
nem tinha lembrado deles. Teremos que ir de Volvo, os
dois ocupam muito espaço.

— Pode deixar dona Maia, eu mesmo resolvo isso.

— Obrigada.
— Mai?! — Celina saiu do escorrega e correu para
mim.

— Do que me chamou? — Perguntei com cara de


zangada. Ela colocou as duas mãos na boca e sorriu.

— Vem, vamos com a mãe! — A peguei no colo. Rita


nos alcançou.

— Fica em paz, tenha fé, vai dar tudo certo.

— Eu tenho fé, obrigada. Toma esse dinheiro, passa


na sorveteira e compre um pode de sorvete de milho que
minha mãe adora. Não enrola, anda normal como está
acostumada. Vou esperar você sumir, ficarei vigiando
como se estivesse esperando que você sumisse de vista
para pegar um carrinho e ir até a portaria. Lembre-se,
nenhuma palavra, vão revirar todas as câmeras. Tem um
bilhete embaixo do meu celular ao lado da minha cama, dá
um jeito de um deles descobrirem. — Dona Rita se afastou
conforme o nosso combinado.

— De milho? — Ela perguntou quando já tinha se


afastado o suficiente para quem estivesse ali, escutar.

— Sim, avisa minha mãe que vim ficar um pouco


com Celina. Que já, já vou para casa.

— Sim senhora.
Fiquei olhando o tempo todo para ver a hora em que
ela sumiria de vista, e assim que aconteceu peguei Celina,
destravei um carrinho que os morados circulavam dentro
do condômino e fui até a portaria. Do lado de fora havia
um ponto de táxi. Entrei em um com Celina, que não
estava entendendo nada.

— Pra onde a gente vai?

— Nós estamos indo para uma aventura de mãe e


filha. — Sorri para ela, que abriu o sorriso mais lindo do
mundo.

— Tá bom, mãe

— Parei no Shopping Cidade São Paulo, em seguida


pegamos outro táxi e fomos até a estação do Brás. Ao
adentrar a estação, nos misturamos no meio de todo
mundo, pegamos o trem sentido Guaianases, como Rita
havia falado. Sua casa era realmente muito longe. Graças
a Deus. Celina cochilava o tempo todo, mas amou a
aventura, tudo que os vendedores ambulantes passavam
vendendo dentro do trem ela queria. Bala, bola de sabão,
salgadinhos, chocolates, chaveiro, tudo que se possa
imaginar vendiam dentro daquele transporte coletivo, as
vendedores andavam de um lado para o outro sem se
segurar com o trem em movimento. Não sei como elas
conseguiam se equilibrar.
Depois de quase três horas, chegamos em Itaquera.
E foram mais trinta minutos para chegarmos na casa da
Rita. A casa dela era simples e aconchegante. Quase não
tinha nada para comer, mas comemos tanta besteira que
nem estávamos com fome. Dormimos do jeito que
estávamos, sem nem escovar dentes, saímos com a roupa
do corpo. Tinha pegado dinheiro suficiente, amanhã cedo
compro o necessário.

Acordamos já passava das nove, quando saí na rua


me surpreendi, era um bairro muito movimentado, várias
lojinhas. Compramos roupas, comida, brinquedos, comprei
um celular e cadastrei com o CPF da minha cunhada que
sabia de cor. Não falaria com ninguém, mas precisava ver
as notícias na internet. Graças a Deus o quintal da Rita
era na parte de trás, não precisava abrir a porta da frente
para nada.

Inventava todo tipo de brincadeira para justificar


para Celina o que estava acontecendo, e assim se passou
uma semana. Otávio estava conseguindo driblar as
fofocas, quase não aparecia mais nada sobre José na
internet. Mas sabia que ele continuava preso e o
desespero estava me dominando, todo e qualquer barulho
achava que era alguém que descobriu meu paradeiro e
levaria Celina embora. Naquela semana Rita não veio para
casa.

Na semana seguinte, graças a Deus ela apareceu.


Era tarde quando ela chegou.

— Rita, quase me matou de susto. Graças a Deus


está aqui. Vem, me conta, o que está acontecendo na
minha casa, como minha mãe ficou quando percebeu que
eu tinha fugido com a Celina.

— Dona Maia, todo mundo tinha certeza que a


senhora fugiria, ninguém se surpreendeu, nem seus pais.
Sua mãe só disse que achava que você sumiria lá da sua
cidade. Mas dona Maia, foi a melhor coisa que a senhora
fez, no outro dia, umas dez da manhã, chegou aquela
desgraçada com um monte de gente e uma viatura da
polícia, reviraram a casa.

— Nem me fala uma coisa dessa, Rita, só de


imaginar Celina ser arrancada na marra de casa começo a
tremer.

— Ninguém está fazendo nada para te achar, mas a


polícia vive indo lá. Ela deu parte de você como
sequestradora, mas parece que o advogado resolveu isso
aí. Porque a dona Helena disse que pediu para você tirar a
Celina desta confusão, aproveitar que as aulas dela não
haviam começado e viajar. Que você nem sabe que estão
atrás de você e como ela havia abandonada a menina,
ninguém imaginou que ela iria querer de volta.

— Rita, e José? Ninguém fez nada para inocentá-lo


ainda? O Ricardo não te falou nada?
— Ricardo mandou dizer que surgiu uma chance.
Mas que não podem dar bobeira, se não dá tudo errado.

— Uma chance? Meus Deus! Por favor, faça dar


certo.

— Não chore, dona Maia, seu José tem muita sorte


em ter a senhora como mulher e tantos amigos. Tenha fé,
vai dar certo.

No dia seguinte saímos de casa com Rita,


abastecemos os armários, conhecemos um pouco mais o
bairro muito excêntrico. Muitas pessoas na rua,
literalmente, ninguém andava nas calçadas, que eram
ocupadas por carros, montes de pedras, de areias.
Preparamos um almoço. E eu só pensava na chance que
tinham.

— Rita, que horas você sai de casa para chegar lá


na minha antes das sete da manhã?

— Às quatro da manhã, no primeiro ônibus.

— A gente vai embora, mãe?

— Ainda não, meu amor. Vamos ficar aqui na casa


da Rita mais alguns dias.

— Rita, você sabia que minha mãe está me


escondendo, para ninguém me levar embora?
Paramos as duas de mastigar e olhamos para ela,
que continuou comendo e falando como uma matraca.

— Eu que sou boba, viu? Hum! — Rita falou


surpresa.

Tinha que me segurar, manter um sorriso no rosto


para Celina não ver minha tristeza, então passava as
noites chorando e quando o dia amanhecia estava sempre
com um sorriso estampado novamente, como a minha
princesa.

Começamos a sair mais, não tinha condições de


ficarmos mais tempo trancadas, então, na parte da manhã
saíamos para passear. Comprar bobagens nas lojinhas de
R$ 1,99, mas que não tinham nada de R$ 1,99. De tarde,
levava Celina na pracinha ali perto, que ficava cheio de
crianças, conheci uma mulher que tomava conta de duas.

— Você não vem sempre? — Perguntei para Marcia.

— Só tomo conta deles duas vezes na semana.

— Eles parecem ser bonzinhos.

— São levados, mas educados, não param um


minuto. Mas adoro cuidar de crianças. Tenho três filhos.

— Nossa! Sério? E quem toma conta deles nos dias


que está trabalhando?
— Eles já estão bem grandinhos, o mais novo tem
quatorze anos e os gêmeos, têm dezesseis.

— Nossa! Não parece que tem filho de dezesseis


anos.

— Fui mãe com 18 anos, na época foi ruim agora é


muito bom já ter os filhos tudo criado. Você não é daqui,
não, né?

— Não, sou de Minas, vim passar uns dias na casa


da minha tia, aproveitar que minha filha está de férias.
Mas minha tia trabalha muito, acabo ficando sozinha.

— E seu marido? — Olhou para minha aliança.

— Nós estamos meio brigados, sabe? Mas a Celina


não sabe, acha que ele está viajando a trabalho.

— Se separaram?

— Não, estamos conversando, estou fazendo um


charme para voltar para casa.

— Tá certa, e eu que me separei e dividimos a casa


no meio, moramos quase no mesmo quintal, a sorte é que
me dou bem com a nova mulher dele. Eu moro aqui perto,
sempre venho comprar pão naquela padaria. — apontou
na direção em que se referia —, quanto te ver vou te
convidar para tomarmos um café.
— Combinado.

Mais uma semana se passou e eu já estava ficando


louca.

Quase todos os dias que não estava trabalhando


Marcia passava lá na praça e me levava para sua casa. Eu
realmente estava encantada com sua bondade, sua forma
de tratar os filhos, o ex-marido, sua esposa e os filhos
dela. Ela era um ser de luz. Estava fazendo esse bico
duas vezes por semana, era a única renda que tinha, e
ainda sim, comprava pão e leite todos os dias para seus
filhos e os enteados do ex-marido que estava em uma
situação financeira ainda pior.

Quando Rita chegou na semana seguinte, estava


quase enlouquecendo.

— Rita, pelo amor de Deus, me fale a verdade, José


ficará preso? Ele será condenado? Tem um mês Rita, o
que estão fazendo para tirar meu marido da cadeia? Rita,
Celina pergunta pelo pai cada dia mais; eu não aguento
mais ficar sem meu marido, Rita. — Caí de joelhos no
chão e chorei, chorei horrores. Rita me abraçou e me
deixou chorar até que eu perdesse as forças.

Rita não tinha nenhuma novidade.

— Ricardo me disse que aquela chance ainda


existia. Maia, falaram para José que você sumiu, ele ficou
transtornado, chegou a demitir o Ricardo, mas o coitado
conseguiu reverter.

— Não contaram para ele onde estou?

— Não, ninguém sabe, só Ricardo e eu. Sei que as


coisas estão muito difíceis dona Maia, mas tenha só mais
um pouco de fé.

— Estou tentando.

Depois que Rita voltou para a minha casa, comecei a


pensar o que faria se essa situação passasse a ser minha
nova realidade.

Preciso pensar em um lugar que eu possa morar,


que Celina possa estudar. O que vou fazer da minha vida
se José for condenado, meu Deus. O quê?
Corri para cima da Leila com medo de que ela
atirasse em mim. Tomei a arma de sua mão, só então vi
que estava de luvas. Desgraçada!

— Não me mata, José, não me mata. — Começou a


gritar como se realmente estivesse em pânico.

— Para de cena, Leila! Destrava essas portas,


Thomas liga para o SAMU. Corri para o corpo
ensanguentado no chão, tentei achar sua pulsação, mas
estava morto.
— Polícia, pelo amor de Deus, me ajuda! Meu ex-
marido matou meu namorado. Socorro! Me ajudem!

Olhei para minha mão com a arma. Encarei Leila


fazendo uma verdadeira cena para a polícia no telefone. E
gradativamente percebi na tragédia que havia me enfiado.
Thomas desceu as escadas e ficou olhando para a mãe,
tão incrédulo quanto eu.

Assim que ela desligou o telefone virou para ele:

— Filho, me perdoa?

— Mãe! Por que? Você... mãe você falou que foi...

— Meu filho me ouve. — Eu estava prostrado


olhando aquela cena como se fosse um filme de terror.
Minha alma parecia ter saído do corpo.

— Thomas, presta atenção, precisa pensar rápido


meu amor. Eu não tenho ninguém, não tenho dinheiro, vão
me jogar em uma cadeia e nunca mais vou sair de lá. Seu
pai é rico, poderoso, influente ele não ficará preso. Meu
filho, a única pessoa no mundo que tenho é você. Por
você eu fiquei com José, para te dar uma vida digna,
nunca pude viver a minha história, você sabe que só
temos um ao outro. Meu amor, o que será de você agora
que tudo foi descoberto. Sua avó está morrendo. Meu
filho, pelo amor de Deus.
O barulho altíssimo das sirenes não conseguiam
encobrir a voz ensurdecedora do monstro a minha frente
tentando convencendo uma criança a ser cúmplice de um
assassinato.

— DESGRAÇADA! VOCÊ ESTÁ TENTANDO


DESTRUIR A VIDA DO SEU FILHO!

— Você está ouvindo, Thomas, ele já nem te chama


mais de filho. Meu filho somos só nós dois, se eu for para
cadeia você estará sozinho...

Barulho de freadas na rua, a desgraçada colocou a


senha no controle, destrancou a casa e jogou o controle
no meu pé. Antes de conseguir pensar fui atirado no chão,
algemado, arrastado como um marginal e jogado no
camburão. Ainda não havia dito uma palavra, quando
chegamos na delegacia o delegado, um pouco mais
educado, perguntou se eu tinha um advogado, e se eu
queria dizer alguma coisa.

Me apresentei, ligaram para meu advogado,


trouxeram Leila e Thomas e colocaram-nos sentados do
outro lado da sala.

— A senhora quer dizer alguma coisa?

— Ele não é um homem ruim, só perdeu o controle.


— Falou em pratos. — Eu errei, tive um caso e José não
suportou saber que não era opai biológico do Thomas. —
Abraçou o menino ainda chorando escandalosamente.
Antônio o provocou, o humilhou, ele só reagiu.

Olhava para ela com ódio, eu realmente deveria ter


matado alguém; ela.

Assim que o senhor Otávio chegou expliquei com


detalhes o que aconteceu.

— Doutor, eu nunca peguei em uma arma na minha


vida, tenho pavor. Eu amava o Antônio, daria a minha
própria vida pela dele.

— É Thomas o seu nome? — O delegado perguntou.


Ele balançou a cabeça que sim.

— Onde você estava quando tudo isso aconteceu,


Thomas?

— Na escada.

— Então você viu o que aconteceu? — Ele balançou


afirmando.

— Quer nos contar o que você viu? — Ele me


encarou por segundos, baixou a cabeça e não disse uma
palavra.

— Ele não quer que o pai vá para cadeia. Ele


também não sabia a verdade sobre tudo que foi revelado.
Ele não vai querer de forma alguma, incriminar o pai.
— É isso, Thomas, é verdade o que sua mãe está
dizendo? — Sem levantar a cabeça ele a balançou
positivamente.

Senhor Otavio se manifestou, mas não tenho noção


do que foi dito desde então.

Olhava para o teto daquela cela mofada, degradante,


sufocante, e ainda sim agradecia por estar sozinho. A
cena se repetia em flashs na minha mente. Tinha que ter
alguma coisa que pudesse mudar o rumo das
investigações, alguma coisa que pudesse ajudar a
comprovar minha inocência.

— Aí bonitão, vamos dar uma volta.

Cheguei em uma sala, onde o seu Otavio me


esperava.

— Como consegue que nos deixe sozinhos?

— Você ainda é só um suspeito, sou um advogado


de respeito, não me sujaria a toa.

— Eu preciso falar com a minha mulher, seu Otávio.


— Você mesmo exigiu que ela não viesse até aqui.

— Mas pode conseguir uma ligação. Preciso ouvir da


boca dela que está tudo bem, que Celina está com ela.

— José. — Paralisei. Não queria ouvir o que ele


estava prestes a dizer.

— Não. Não seu Otávio, Celina não suportaria ficar


com aquela psicopata, e Maia não aguentaria ficar sem a
Celina, não me diz que a justiça tomou minha filha dela?

— Não. Não tomou.

— Quero falar com ela, sei que está com seu celular,
liga para ela, liga para Maia.

— José, Maia fugiu com a Celina, ninguém sabe o


paradeiro dela. Quando soube que a Leila tinha o direto de
ficar com a menina, Maia desapareceu com ela.

— QUE PORRA ESTÁ ME DIZENDO?

— Calma.

— Calma um caralho, quero a minha mulher e minha


filha. E meus seguranças? Ricardo? Ele, com certeza,
sabe. Quero vê-lo, quero o traga aqui hoje. Preciso ouvir
da boca dele o que aconteceu.
Fiquei transtornado, seu Otávio, nem ninguém
apareceram por dias.

— Visita.

Levantei em um pulo do chão, onde estava fazendo


flexão e acompanhei o guarda. Entrei na sala e quem me
esperava eram Otávio e Ricardo.

— Cadê a minha mulher? — Perguntei direto para


Ricardo.

— Senhor...

— Senhor minha rola! Você é pago para protegê-la.


— Avancei com tanto ódio nele, mesmo algemado queria
que ele desse conta da Maia. Otávio me segurou:

— Calma, porra! Você está louco? Estamos atrás


dela, vamos encontrá-la.

— Calma? É serio que está me pedindo calma?


Quando Elizabeth desapareceu por três dias você teve
calma? Minha mulher e minha filha estão desaparecidas
há quinze, com uma assassina desgraçada lá fora que não
pensaria duas vezes em matar as duas. Você sabe se já
não estão mortas? Some daqui, você não trabalha mais
para mim.

Os dois me encaravam, ora e outra se encaravam.


— Senhor, José, confia em mim?

Olhei dentro dos seus olhos, e o brilho da


honestidade estava lá. Onde sempre esteve.

— Senhor, eu vou achá-la. Não me perdoaria jamais


por uma falha tão grande. Vou achar as duas, e garantir
que nada as aconteça. Pode confiar em mim. Alguma vez
eu falhei?

Olhei para Otávio que meneou a cabeça. Eles


sabiam onde ela estava, e estavamas duas, protegidas.

— Ache a minha mulher. Eu a quero sã e salva.

— Sim, senhor, pode ter certeza disso.

Depois dos ânimos acalmados, sentamos e os dois


me colocaram a par da investigação que ambos estavam
fazendo em paralelo com a polícia.

— Ela é muito esperta, com certeza sabe que tem


câmeras espalhadas por todo quarto de hotel que a
coloquei, ela faz questão de contar a mesma história para
todos que vão até lá.

— Eu preciso sair daqui, não podem me deixar ser


transferido para um presídio, só temos mais duas semanas
e até agora não temos nada.
— Meu pai está cuidado para que sua permanência
aqui seja prorrogada por mais trinta dias caso seja
necessário. Temos pontas soltas isoladas, não são o
suficiente para ela se tornar suspeita, também, já seria
uma chance de conseguirmos que respondesse o processo
em liberdade.

— O que temos?

— A chamada de ligação para a polícia foi de uma


mulher em risco de morte. O que não condiz com o
discurso de que “você é um homem bom, só perdeu o
controle porque o amante o provocou”, que ela ainda está
mantendo. — Os guardas também relatam que a postura
dela não condiz com alguém que esteja em perigo.
Conseguimos que Thomas voltasse a fazer terapia com a
Elaine, que está de acordo em quebrar o sigilo se ele
disser algumas coisas.

— Outra coisa, ela disse que nunca havia pegado


em uma arma, mas estava frequentando um clube de tiro,
um que o Antônio já era sócio há alguns anos. Os tiros
dados foram certeiros, o primeiro já mataria, mas ela quis
garantir e o segundo saiu melhor colocado. E será feito a
reconstituição do crime, vai sair a data em breve. Isso
meu pai que deve te explicar como funciona exatamente.
Tenta ter calma.
— Preciso sair daqui para proteger minha mulher e
filha. Leila não pode colocar as mãos em Celina.

— A Maia compartilha do mesmo pensamento. Aqui


está o bilhete que ela deixou para os pais de vocês.

“Me desculpem, não posso e não vou permitir que


uma assassina tire minha filha de mim. E não posso
envolver vocês. Até que provem a inocência do meu
marido, será somente Celina e eu. Não importa quanto
tempo isso leve.”

— Essa mulher para mim, é a prova de que Deus


existe.

— Você não merecia nada menos do que ela está


sendo para você, meu amigo.

Estava cada dia mais difícil manter a sanidade neste


lugar, o tempo não passa, as investigações não
desenrolam, não sei onde Celina e Maia estão, não sei o
que será delas se eu for condenado. Maia não poderá ficar
escondida por anos.

Meus pensamentos era os piores dentro daquele


cubículo. Se eu tivesse matado a desgraçada, vadia,
ordinária, pagaria pelo meu crime com prazer. Maia e
Celina não estariam tendo que fugir.

— Vamos, tem visita, o cara mais visitado desta


porra.

Entrei e comecei a caminhar de um lado para o outro


dentro da sala, precisava me movimentar, na cela não
conseguia dar mais de três passos. Seu Otávio entrou:

— A reconstituição foi marcada, será dividida em


três partes, farão os três separados. No primeiro dia, Leila
e Thomas em horários diferentes, e você, no segundo dia.
José, você sabe que se eles acharem qualquer falha, um
deslize sequer nos fatos, te mandam sem escala direto
para a penitenciária. Mas o mais importe
é fazer observações que repute favorável à sua defesa.
Precisa de frieza, seja calmo, específico, se atente aos
detalhes, todos mesmo, mesmo os que achar que não são
nada.

Seu Otávio e eu conversamos por quase uma hora.


Me fez repetir incontáveis vezes a história.

— Meu filho, sua versão da história é totalmente


consistente. Você se sairá muito bem. Só não podemos
esquecer que estamos lidando com uma manipuladora de
criação, ela é mestre na arte de ludibriar. Mas estamos
atentos, precisamos de muito pouco para ela se tornar a
principal suspeita.
Foram os dias mais longos da minha vida. Nunca
estive tão ansioso.

Não consigo descrever o que senti quando coloquei


os pés na rua.

— Eu não vou conseguir viver sem a minha


liberdade, eu sou um homem honesto. — Falei para seu
Otávio assim que entramos no carro. Não aguentava mais
de saudade da minha mulher.

Foi uma das piores sensações que já tive quando


cheguei à casa que morei durante tantos anos.

Ficamos por horas refazendo incessantemente cada


detalhe desde que foi desligada as câmeras. Pelo que
imagino agora, foi no momento que ela saiu rapidamente
da sala e voltou com a minha arma. Que já falei infinitas
vezes que não havia levado comigo.

— E onde a arma estava? — Um dos peritos


perguntou enfaticamente, quase como um incentivo para
eu pensar.

— Não sei de onde ela tirou, provavelmente estava


neste aparador no corredor, porque ela se ausentou por
pouquíssimo tempo, não daria tempo nem para ir até a
cozinha. Ou estaria com ela, em seu corpo, e só se
afastou para desligar as câmeras sem que eu percebesse.
Quando acabou tudo, não conseguia me conformar
que era para aquela cela que eu teria que voltar.

“Vou te tirar daí, aguente só mais um pouco. Confia


em mim.”— Os pensamentos de que Maia estava ansiando
pelo meu retorno e confiava em mim, eram o que me dava
forças para acordar todas as manhãs e não perder a fé. A
saudade que eu estava da minha mulher e filha, doía no
meu peito.

Os dias passavam e o desespero tomava conta do


meu ser. Me sentia um fraco, burro, idiota... como minha
vida havia chegado a esse ponto?

— Aí! Bonitão! Visita.

Não queria visitas, nem levantar daquilo que


chamavam de cama. Acho que há três dias não levantava
daquele lugar, desde o dia da reconstituição.

— Bora! Não tenho o dia todo.

Me arrastei para a sala onde, com certeza, seu


Otávio me esperava. Dei um passo para dentro e parei.
Encarei o senhor que chamei de tio minha adolescência
toda.

— Vamos pra casa, meu filho.


As palavras dele ecoavam várias e várias vezes na
minha mente. Era imaginação? Alucinação?

— José? Vamos.

Não sei quais foram os procedimentos que tive que


fazer para sair dali. Só lembro-me de ver em pé, parados
na minha frente, Carla, Ramon e Otávio. Parei a um passo
deles e senti as lágrimas caírem. Agradeci mentalmente a
Deus por ter me dado amigos tão fiéis.

Recebi os abraços e carinho dos meus amigos.


Sabia que era apenas uma batalha, mas minha felicidade
era digna da vitória de uma guerra.

— Vamos pra casa. — Carla me puxou.

— Quer ver a minha mulher.

— Vamos primeiro para casa, seus pais e os pais da


Maia estão te esperando em casa.

— Eu quero ir direto encontrar a Maia. — Parei na


entrada do estacionamento. — Vocês sabem onde está a
minha mulher?!

— Claro, José, acha que o ser controlador iria


perder sua mulher de vista?

— Na realidade, perdi, e demorei três dias para


encontrá-la. — Ela é realmente esperta.
— Nem tanto, casou com José.

— Ramon não perde a oportunidade de demonstrar


seu ciúme. — Alfinetei. Mas estava com raiva, não sou
mais capaz de confiar em Ricardo. — Ricardo não poderia
ter deixado isso acontecer.

— Ele não deixou, eles armaram tudo tão bem, que


na filmagem, até parece que Maia, enganou ele e Rita, sua
outra cúmplice. Que por sinal, poderia trabalhar infiltrada
em qualquer organização. Os dois a protegeram e a
apoiaram como pais.

— Então me levem até ela.

— Acho melhor você fazer a barba, tomar um banho.


Você não está na sua melhor versão.

Quando cheguei no estacionamento e vi Ricardo,


não resisti, lhe dei um abraço, o pegando de surpresa, que
nem sabia o que fazer com as mãos.

— Obrigada, senti vontade de te matar.

— Nada melhor que uns dias na cadeia para o cara


sair do armário.

— Vai se foder, Otávio.

— Onde está o André? — Meu irmão simplesmente


não se manifestou de nenhuma forma todo esse tempo.
— André está de castigo, ele Betina e as crianças,
nem na escola eles foram esse ano ainda. Para Maia não
ser incriminada como sequestradora, forjamos uma viagem
deles para o exterior. Celina estava aos cuidados dos tios,
com autorização assinada por você e Leila há três anos
quando eles a levaram para Disney. Só algumas
alterações nas datas. E Maia era uma cidadã livre, nada a
impedia de viajar com eles. Então, seu irmão está há um
pouco mais de um mês escondido no sítio do tio da Betina,
no interior do Rio Grande do Sul. Na realidade estava,
agora já deve estar a caminho da sua casa, que virou um
verdadeiro campo de concentração.

Não dá para explicar em palavras a gratidão que


tinha por toda minha família, por terem acreditado em
mim, mesmo contra todas as evidências. Depois de rever
meus pais e meus sogros, tomar um banho e uma xícara
de café forte, não conseguia mais ficar sem a minha
mulher, precisava ver minha filha. Antes de sair virei para
eles:

— Obrigada por confiarem em mim.

— Vai buscar logo a minha filha, e para de


sentimentalismo. — Meu sogro falou rindo.
Tomei um banho junto com Celina e saímos para
comprar churros antes que escurecesse.

— Mãe, a gente mora aqui agora?

— Não, meu amor. Só estamos passando as férias.


Vamos para casa assim que o papai voltar de viagem.

Não sabia mais o que falar para ela. Segurei firme


sua mãozinha enquanto andávamos de volta para casa da
Rita. Minha mente era um turbilhão.
— Aceita uma carona, anjo?

Parei incrédula achando que minha mente estava me


pregando uma peça.

Antes que eu conseguisse me mexer senti os braços


do meu marido me apertando. Ele abaixou pegou a Celina
e nos apertava tanto. Eu só sabia chorar, chorar agarrada
em seus braços. Quando consegui falar, a única coisa que
saiu foi:

— Sim, obrigada. — Ele riu.

— Mãe, por que você está chorando?

José se afastou e nos olhou com o rosto banhado


em lágrimas e sorriso de orelha a orelha.

— A mamãe está chorando de felicidade.

— Agora a gente não está mais em uma aventura de


férias?

— Não, meu amor. Nossa aventura acabou.

Minha felicidade só aumentou quando pude abraçar


meus pais, meus irmãos. E ver Celina correndo naquela
casa, onde derramamos tantas lágrimas, não queria mais
morar ali. Conversaria com José para mudarmos depois do
casamento, que seria em um mês.
Não conseguia ficar longe do meu marido, por mais
de cinco minutos, queria me trancar em um quarto deitar a
cabeça em seu peito e ficar por um ano apenas ouvindo as
batidas do seu coração. As crianças jantaram mais cedo e
se recolheram. Enquanto jantávamos, José explicou:

— As pontas soltas que ela havia deixado não eram


o suficiente para acusá-la como suspeita. Já que eu teria
muitos motivos para matá-lo. Foi um trabalho de
formiguinha, mas seu Otávio disse que não poderia errar,
que teria que ter provas incontestáveis de que ela armou
para que eu fosse o único suspeito, que não iria tomar
nenhuma providência antes de ter todo o material que
achava necessário em mãos. Ramon conseguiu uma
testemunha que confirmou que ela estava há alguns
meses fazendo aula de tiro. Carla, conseguiu uma
gravação do Thomas, lhe dizendo que tinha medo de que
descobrissem a verdade. Essa frase solta poderia
significar muitas coisas, mas com todas as outras
evidências faria muito efeito na defesa. Otávio não poupou
dinheiro, meus bens ainda estão todos bloqueados, e
conseguiu a imagem dela tirando a arma do cofre. O
resultado da reconstituição do crime foi fundamental,
porque de onde estava, que foi confirmado por Thomas, as
balas teriam entrado de um outro ângulo.

Senti muita ânsia de vomito, e tive que sair correndo


para vomitar. José ficou ao meu lado segurando meus
cabelos enquanto eu colocava todo jantar para fora.
Depois que me limpei e escovei os dentes, fomos para a
sala.

Minha sogra trouxe um chá. José me olhou sério.

— Desde quando você vem vomitando?

— Eu não venho vomitando, eu vomitei agora,


aquela conversa estava me embrulhando o estômago,
senti ânsia só em imaginar a cena.

— Termina esse chá, e vá para cama minha filha,


você deve estar esgotada. — Minha mãe falou com
carinho.

— Vem, vamos pra cama. — Tomamos um banho


demorado, fizemos amor lentamente. E dormimos
agarradinhos.

— No meio da madruga Celina acordou chorando e


me chamando, levantei correndo, mas José já estava
chegando no quarto dela.

— Mãe...

— Vem, minha princesa, o papai te leva para a


mamãe.

— Assim que colocou a Celina no canto ao meu


lado, ela dormiu praticamente em cima de mim.
— Vocês dormiam na mesma cama?

— Sim, grudadinhas assim.

Quando abri os olhos encontrei os de José.

— Bom dia, meu anjo!

— Te amo tanto.

— Vamos tomar um café, estou faminto, e você


também deve estar.

Já era tarde, quase dez horas. Assim que coloquei o


primeiro pedaço de pão na boca a ânsia veio. Só não
vomitei porque não tinha nada no estômago.

— Vai dizer que é cansaço? —Meu pai disse com a


sua infinita delicadeza.

— Maia, quando você menstruou? — Dona Helena


perguntou assim, sem mais nem menos, no meio de todo
mundo. Fiquei pensando.

— Não menstruei depois do que aconteceu. A última


vez foi um pouco antes de viajarmos para Nova York.

— Maia, vai tomar um banho, vamos fazer logo esse


exame.

— Compra na farmácia. — Minha mãe disse.


— Não, quero certeza, vamos fazer uma
ultrassonografia, assim não tem erro.

— Mas tem umas caixas de teste de gravidez no seu


banheiro, dona Maia. — Rita me lembrou.

— Pode fazer o teste, mas vamos na clínica.

Fiz os três testes que tinha. Os três deram positivo.


José chorava tanto, que fez todo mundo chorar. Meu pai
todo durão, saiu do meu quarto com o rosto todo
vermelho, dizendo que tinha que ir ao banheiro. Não
fomos na clínica aquele dia, resolvemos já marcar uma
consulta de pré-natal para dois dias depois.

Fiz todos os exames e a ultrassonografia. Estava


tudo perfeito para uma gestação de seis semanas.

— Você sabe onde engravidou, né? — Olhei


intrigada para José.

— Provavelmente foi na cama ou no banheiro. —


Zombei.

— Tenho certeza que em um sofá. Mais


precisamente em um quarto de hotel em Nova York.

— Verdade, dá exatamente seis semanas.

— Do jeito que me fez gozar era impossível não


engravidar.
— Sabe o que eu quero, agora?

— Hummm?

— Te sentir gozar bem fundo dentro de mim.

Tivemos muito cuidado para contar para Celina.


Depois de tudo o que aconteceu, ela estava mais
dependente, ficava ansiosa quando o pai demorava para
chegar do trabalho. Acordava no meio da noite chorando.
Tivemos que levá-la a um psicoterapeuta.

Enfim, o dia do casamento chegou. A igreja estava


lotada, a mesma que aminha mãe casou. Meu vestido era
simplesmente perfeito. Celina foi a minha única daminha.
Só ela e eu, como no início da minha nova vida.

Ao me entregar para José, meu pai não resistiu e


chorou.

A festa foi inicialmente para 300 convidados,


terminou em 650. Foram dois dias de festas, e meu pai
não aceitou um real do meu marido, que ficou puto da
vida.
Minha mãe dizia que meu pai guardava o dinheiro do
meu casamento desde que nasci. Não sei se é verdade,
mas se tratando do meu pai eu não duvidava.

Não tivemos lua de mel. José ainda era um suspeito,


senhor Otávio disse que por pouco tempo, que já havia
provas suficientes contra Leila, que fugiu para Alemanha
no dia seguinte da reconstituição do crime. E pelo que
parece, também estava fugindo da própria família que a
queria atrás das grades. Ela matou o próprio primo de
primeiro grau.

Depois do casamento, enfim nossa vida começou a


ter uma rotina.

Estava com uma xícara de chá sentada na mesa do


café. José saiu do escritório me deu um beijo e sentou na
minha frente.

— Meu amor, você vai — enfatizou o “vai” — arrumar


uma babá essa semana. Se você não escolher eu mesmo
vou. Não tem como você ficar agachando para dar banho
na Celina, levá-la dormindo para cama, alguém para
brincar com ela enquanto você descansa. Para ir buscá-la
na escola.

— E o que as mães que não tem como contratar


alguém fazem quando engravidam do segundo, terceiro,
quarto filho? Os joga fora?
— Ok, eu contrato.

— Isso, contrata, escolha bem escolhido viu, porque


vai ficar você e ela.

— Meu anjo, você age como se não tivesse...

— Doente? É por que eu não estou!

— Não precisa ficar nervosa, só pensa, vamos


precisar de uma para depois que o bebê nascer.

Quando ficamos somente Rita e eu na cozinha, ela


disse:

— Dona Maia, ele está certo, seria muito bom


alguém para acompanhar o motorista até a escola, brincar,
quando o bebê nascer, ajudar. Não precisa deixar as
crianças para a babá criar, é só um apoio.

Rita e eu criamos um vínculo de amor e afeto muito


grandes, e foi na conversa com ela que tive uma ideia.
Falei com ela que também achou uma boa ideia. Liguei
para Marcia e fiz a proposta. Conversamos muito, ela
brigou comigo porque não havia me despedido. E no dia
seguinte, veio fazer a entrevista.

— Marcia, sei que tem seus filhos, que mora longe,


mas você foi a minha primeira e única opção. Gostaria de
alguém para dormir. Ficar a semana toda.
— Menina do céu, olhando para esse palácio nem
acredito que tomou café na minha cozinha.

— Ah, sua boba, eu amo a sua cozinha, e seu café é


maravilhoso.

— Olha, Maia, estou precisando muito. Meu ex-


marido até conseguiu um bico fixo pra fazer e a sua
esposa também está fazendo faxina alguns dias por
semana, mas nosso dinheiro não está dando pra nada.
Porque, minha filha, lembra dela?

— Claro, linda educada, sempre estudando. Seus


filhos são todos muito educados.

— Então, ela ganhou 75% de bolsa em uma escola


muito boa, mas mesmo assim temos que pagar os outros
25% mais a condução, mandar alguma coisa para ela
comer. Ela leva de casa, porque a comida lá é muito cara
e ela estuda quase que o dia todo. Meu ex-marido vendeu
a televisão dele, por mim ela não teria ido. Mas ele disse
que se tiver que vender um rim para ela não perder essa
oportunidade, ele venderá.

— Meu Deus, o que a esposa dele achou dele


vender a TV? Ela fez até rifa, menina. Tivemos menos de
dois meses para arrumar os dois mil reais.

— Ai Marcia, que coisa mais linda.


— Então, mas quanto é o salário?

— Três mil, todos benefícios, e pago a escola da sua


menina.

— Mentira?

— Não, não é.

— Você registra?

— Sim, claro, mulher.

— Meu Deus, é um milagre.

— Não mesmo, é trabalho, e o seu café também


ajudou.

— Quando eu começo?

— Ah, graças a Deus! Pode começar amanhã,


porque meu marido e a dona Rita estão pegando no tanto
no meu pé.

— Estarei aqui cedinho.

Celina adorou ver a Marcia, que sempre fazia


bolinho de chuva para ela comer. Marcia sempre viajava
com a gente para Careaçu, e realmente foi muito bom ter
alguém para me ajudar com a Celina, conseguia ficar mais
tranquila.
— Nossa, Maia, eu gosto tanto desta cidade. É uma
paz.

— Também gosto, mas gosto mais de São Paulo. —


Celina terminou de tomar o café e Marcia a levou para
brincar no playground que meu pai mandou fazer no
quintal de casa.

— Nossa, Marcos e Sandra estão demorando. —


Minha mãe falou preocupada. Olhei as horas, já eram dez
da manhã.

— Estão mesmo, a Sandra mandou mensagem que


iam sair às oito horas, já deu tempo para chegar aqui duas
vezes.

— Vocês já decidiram como o meu neto vai se


chamar? — Meu pai cobrou o José.

— Ainda não, sogro.

— Acho Edgar um nome lindo para se colocar no


meu neto.

— Mas esse será o nome do meu filho. — Marcos


entrou na cozinha falando.

— Como assim?

— Estamos grávidos. — Leonardo deu a notícia. Foi


a maior festa.
— Mas e se for menina? — Perguntei. — Não poderá
chamar Edgar.

— Aí o próximo chamará.

— Próximo? Nem pensar.

— Próximo sim, vamos ter cinco filhos.

As horas foram passando e nada do Marcos chegar


com a Sandra, nada de atenderem o telefone. Minha mãe
já estava desesperada, estávamos todos muito tensos
quando Leo recebeu uma ligação.

— Marcos, onde vocês estão?

Todo mundo olhava para ele que só escutava.

— Não, se está fechado, não tem problema nenhum.


Já foram na delegacia, fizeram a sua parte. Podem trazer,
na segunda-feira vocês resolvem isso.

Leo desligou o telefone com um sorriso no rosto, o


que deixou, todo mundo tranquilo.

— Diz menino, o que aconteceu?

— Como diria meu avô: só Deus colocando o trem


nos trilhos.
Meu avô estava na Bahia, vinha para Careaçu, só
para passear.

Não demorou Marcos chegou na casa dos nossos


pais, entrou segurando a mão de uma menina de uns 3
anos, atrás dele um menino do tamanho da Celina.
Quando Sandra entrou segurando um bebê, e uma menina
um pouco maior que Celina do lado, ninguém falava uma
palavra.

As crianças eram magras, bem magras, as roupas


nem poderiam ser chamadas de farrapos, era pior. Mas
estavam limpas.

— Oi, vocês já tomaram café? — Minha mãe


perguntou super simpática para as crianças, todas
olharam para a maior.

— Já, obrigada.

— Demos um café para eles na padaria. — Comprei


essa mamadeira, e dei leite puro para ele. Compramos
fraldas de todos os tamanhos. Só não tem roupa.

Sandra falava meio que no piloto automático.

— Lembra que eu falei que na casa do meu pai tinha


um parquinho, vou levar vocês lá. Marcos guiou os dois do
meio até a porta, mas a mais velha não se mexeu.
— Vamos lá Letícia, aqui no quintal. — A menina
estendeu as mãos para pegar o bebê do colo da Sandra
que fez que ia dar, mais mudou de ideia.

— Pode ir lá brincar, eu cuido dele.

— Eu fico com você. — A menina ficou. Sandra


sentou. A menina sentou ao seu lado na mesa.

— Pode falar Sandra, o que aconteceu? —


Perguntei.

— Meus pais morreram. — A menina falou com a voz


embargada.

— Não fica assim, seu pai morreu.

— Eu ouvi o médico falando que minha mãe também


vai morrer.

— Estávamos na Fernão Dias, próximo aquela


comunidade perto do rio. E aconteceu um acidente. O
caminhoneiro não parou, nós paramos para ajudar,
chamamos a ambulância, infelizmente o pai da Letícia
morreu na hora, e a mãe está gravemente ferida. Mas
estava falando, e disse que os filhos estavam na casa de
porta verde, com plantas na frente, era a única. Pediu
para levarmos para a assistente social.
— Vocês não têm nenhum parente, Letícia? — Minha
mãe perguntou.

— Só um tio, mas minha mãe não deixa a gente


sozinho com ele. Ele bebe muito e chama as crianças para
ir para casa dele.

— Entendemos.

— Minha mãe sempre diz que se acontecer alguma


coisa com ela, pra gente explicar pro assistente social
porque não podem deixar a gente com ele.

Letícia tinha dez anos, tamanho de oito e


responsabilidade de uma mãe, cuidava dos irmãos para os
pais que catavam sucata, trabalhar. Lucas, o menino
maior, tinha oito anos, a menina pequena, Bianca tinha
três, e o Bernardo tinha um aninho.

Depois de muito sacrifício a convencemos de ir


brincar com as crianças.

— Vocês vão entregar essas pobres crianças para o


sistema? Sabem que vão separá-los, né? — Leonardo
perguntou indignado.

— E o que vamos fazer?

— Vocês já não estão na lista de adoção? Deus


cortou a fila pra vocês.
— Marcos, são quatro crianças!

— A quantidade de filhos que teremos daqui a oito


meses.

— E são crianças... O que você disse? Vocês vão ter


mais um filho?

As pessoas sempre falam que você só sabe o que é


amar de verdade quando tem um filho. E conforme minha
gravidez foi avançando, comecei a sentir medo de que
meu amor pelo meu filho fosse muito maior do que o que
sentia por Celina. O que fez com que eu me aproximasse
mais, até mimava além da conta, várias vezes minha mãe,
Marília e até dona Helena chamaram minha atenção em
relação ao excesso de zelo, proteção e fazer todos os
gostos, não conseguia dizer não.

Quando Inácio nasceu, foi uma sensação única, mas


nem de longe meu amor por ele era maior do que pela
Celina. Eu os amava igualmente.
O que senti acompanhando a gravidez da Maia foi
algo inexplicável de bom. O amor que eu sentia no peito, e
a ansiedade em ver o rostinho do meu filho, era
inenarrável. E o ápice de qualquer felicidade que já senti
foi ver meu filho nascer. Fez com que me sentisse culpado
em relação a Thomas e Celina. Eu os amei, amei desde o
primeiro momento em que os vi, e os amo da mesma
forma, mas com Inácio foi empolgante, a realização de um
sonho. Hoje, vendo meu pequeno caminhar todo
desajeitado, tentando acompanhar a irmã, tudo fazia
sentido.
— Oi! No que está pensando?

— Que você ficou ainda mais linda grávida.

— Desde quando você começou a mentir?

— De agora. — Carla arregalou os olhos e a boca


indignada. Ri de sua surpresa. — Você está mais linda,
mas não era nisso que estava pensando. — Encarei seus
olhos. — Você acha...

— Não... esquece o Thomas, José, sei que é difícil,


mas é necessário. Não é saudável.

— Eu poderia ter feito diferente, eu deveria ter...

— José, você não pode mudar ou moldar uma


personalidade.

— Carla eu criei aquele moleque, eu poderia ter...


não sei. — Passei as mãos na cabeça tenso. — Acho que
a criação tem muito mais peso do que a genética na vida
de uma pessoa, eu falhei.

— José, quantos pais criam filhos da mesma forma,


um vira assassino, estuprador, bandido. Isso não existe.
Thomas teve bons exemplos, pessoas que o amavam e
cuidavam com carinho e atenção. Ele teve todos os tipos
de amor. O fato de se apegar mais ao da mãe já deveria
nos dizer alguma coisa.
— Você fala com ele, tem notícias?

— José, não vamos conversar sobre isso agora, hoje


é dia de felicidade, seu príncipe está fazendo um ano. Meu
Deus, ele é tão lindo e perfeito.

— Carla, eu sinto um vazio sem ele. Thomas foi o


centro do meu universo, por anos vivi por ele. Não me
importaria de não ser o pai biológico se tivesse valido
apena, se eu tivesse feito algo de bom. Mas todo meu
amor, tudo que fiz, que deixei de fazer por ele, foi em vão.
Só gostaria de saber como ele está. O que pensa disso.
Faz um ano que não vejo meu filho. Se você conversa com
ele, se tem notícias, me diz. — Carla começou a chorar.
As lágrimas escorriam sem controle pelo seu rosto. —
Vem, vamos sair daqui. — Fomos para uma sala vip do
salão de festas onde estava acontecendo o aniversário de
um ano do Inácio.

— O que aconteceu com ele?

— Não estou chorando por ele, só sinto pela sua dor.


Eu gosto muito do Thomas, mas nem de longe é o que eu
sentia antes, cada vez ele me magoa mais. Quando me
liga, sinto vontade de não atender. Sempre pedindo
dinheiro, sempre revoltado por alguma coisa, temos que
pesar, medir e pensar cada palavra que se diz para ele,
pois qualquer coisa que seja minimante diferente do que
ele gostaria de escutar, se torna agressivo, faz chantagem
emocional.

— Hoje, criando meus filhos com a Maia, percebo


como era errado o poder que dávamos para ele, sempre
priorizando o seu querer, suas vontades. Sempre tive que
brigar para estar com ele. E por fim, era ele quem decidia
se iria comigo, se ficaria com a mãe, na verdade no meio
de nossos desentendimentos, Thomas sempre foi a
estrela, e suas vontades atendidas prontamente.

— Não é só isso, José, Thomas é manipulador,


egoísta e só ama a si próprio, ele ficou ao lado da mãe
porque ele a manipula, quando ele não precisar mais, vai
descartá-la.

— Podemos conversar mais sobre ele outro dia?

— Sim, acho mesmo que é necessário.

— Só uma pergunta: ele te pede dinheiro?

— Sempre, e Otávio está lhe dando uma mesada.

— Não está falando sério! Não cortei sua pensão.

— Sim, nós sabemos, mas ele diz que a mãe fica


com tudo, no início acreditávamos, agora temos certeza
que não é bem assim.

— Você vai tirar seu nome dos documentos dele?


— Não. — Carla me olhou com tristeza e preferiu
não comentar nada. Quando voltamos para o salão de
festa, Otávio estava a nossa procura.

— Sentiu minha falta, amor? — Perguntei sedutor


para meu amigo.

— Estou grávida se me fizerem imaginar os dois


juntos vou vomitar. Por falar nisso, a Maia me falou que
parou essa semana com o anticoncepcional. — Abri um
sorriso.

— Preciso aumentar a produção para acompanhar o


reprodutor aí. — Caímos na gargalhada.

— Precisa melhor muito sua performance para


chegar perto.

— Larga de ser convencido. — Ramon chegou


alfinetando. — Se for uma competição, eu vou entrar
nessa porra.

— Estamos falando de uma disputa leal. Times de


dois, de três é foda.

— Otávio, cada dia mais frouxo.

Quando estamos juntos voltamos a ter dezesseis


anos e isso nunca mudaria.
Com Inácio no colo abri os meus e-mails e fui direto
no endereço do laboratório, estava pronto o resultado do
exame de sexagem fetal que Maia havia feito. Minha
esposa estava louca por uma menina, assim como Celina.

— Pai, fala logo! — Maia e Celina estavam do outro


lado da mesa do meu escritório. Assim que cheguei em
casa, as duas disseram que o exame estava pronto mas
não quiseram abrir sem que eu estivesse presente.

— Vocês estão muito ansiosas...

— José! Fala logo.

— Tá bom, fala garotão, fala pra elas que


desempatamos o jogo.

— Haaaaa! — Maia gritou comas mãos na boca.

— Não entendi, mamãe.

— É um menino, meu amor, mais um macho dentro


de casa.

— Hummm, tomara que seja fofo igual ao Inácio.


Mamãe, depois você pode ficar grávida de novo, né? —
Maia não queria mais filhos, disse que não importasse o
sexo, que seria o último.

— É, mas e se for mais um menino? — Ela


respondeu para Celina.

— Não tem problema, a gente fica com eles assim


mesmo, mamãe. — Cai na gargalhada. Éramos os carmas
das meninas.

— Sim, e eles até que são bonitinhos e fofinhos. —


Celina sorriu concordando.

Logo após o nascimento do Benjamin, Maia e Marília


decidiram abrir uma escola de ballet. No início fiquei puto,
não queria de jeito nenhum, não que minha opinião estava
sento pedida ou levada em conta. Mas Maia deixou claro
que ambas não dariam aula, ou participariam dos
espetáculos dançando, mas que gostariam de trabalhar
com algo que gostavam e que entendessem. O que
realmente funcionou. Elas eram implacáveis, a escola de
ballet, estava se tornando referência em São Paulo. Maia
sempre dizia que era um negócio prazeroso e
extremamente lucrativo, vê-la feliz era o meu maior prazer.

— Meu amor, como estou? — Olhei para minha


esposa que estava a cada dia mais linda e não conseguia
desviar os olhos.
— Perfeita... você está a cada dia mais linda, meu
amor. — Maia deitou a cabeça e me encarou com um
sorriso bobo no rosto.

— Com certeza posso dizer o mesmo! Sabe? Queria


te dizer uma coisa, mas com você me olhando assim... —
A agarrei pelos cabelos e tomei seus lábios. Maia era
fogosa, estava sempre pronta para mim. Enfiei a mão por
baixo do seu vestido, puxei a calcinha para o lado e
coloquei dois dedos entres seus lábios, senti sua
excitação escaldante, sua boceta encharcada do jeito que
eu gostava.

— Haaaa... porra! Depois você me diz o que quiser,


agora preciso desta boceta gulosa engolindo meu pau.

— Pai?! Oh, pai? Paiiii? — Me afastei rápido da Maia


que começou a rir da minha frustração.

— Vou para o banheiro. Já volto safada, e mais tarde


você não me escapa. — Enfiei os dedos na boca segundos
antes da minha dupla de furacões entrarem no quarto
correndo.

— Mãe, cadê meu pai?

— Está no banheiro. Não fiquem correndo, vão


chegar todos suados no aniversário do Di e do Lele. Cadê
a irmã de vocês, ela já está pronta?
— Ela está no quarto com a tia Marcia.

Estava sentado vendo as crianças correrem, o Be e


o Inácio eram extremamente apegados a mim, Maia ficava
com ciúmes, dizia que apenas Celina lhe dava atenção, aí
meus meninos ficavam comovidos e por alguns instantes,
ficavam grudados nela, mas em seguida já vinham para
mim.

Me pegava pensando em Thomas nesses momentos


de interação com as crianças, a maior parte do tempo
lembrando que nunca tive determinados momentos com
ele. Nunca me deixaram ser realmente pai dele.

— Passa rápido! — Olhei para o Leonardo que nem


vi que se aproximava.

— Verdade, parece que foi ontem.

— Seis anos, é muito foda vê-los assim. — Apontou


com a cabeça na direção dos gêmeos. — Cheguei a perder
as esperanças de um dia ter filhos. Minha princesa hoje
com quase dez anos, meus terroristas e ganhei dois
enteados que além de serem como filhos, são meus
amigos.

— A vida é surpreendente, também já cheguei a


perder as esperanças. Nunca nem passou pela minha
cabeça ter a vida que tenho hoje.
— O que estão falando? — Marcos perguntou,
parando ao nosso lado com Danilo.

— Que as crianças estão crescendo muito rápido.

— Nossa escadinha? — Danilo os chamavam assim,


porque Bernardo filho do Marcos, tinha oito, Inácio tinha
sete, os gêmeos Edgar Neto e Leonardo Filho, estavam
completando seis, meu caçula Benjamin e o Matheus filho
do Danilo, também cinco, inclusive faziam aniversario no
mesmo mês.

— Agora vamos ter que construir outra escadinha,


comecei a nova leva. E vocês terão que correr atrás do
prejuízo.

— Quem tem que correr atrás do prejuízo é você,


tem nem vergonha de dizer uma porra dessa. O viado tem
um filho, um, e quer botar banca. Cara, eu tenho cinco
filhos. Acha que sou igual a você que trepa de cinco em
cinco anos? — Leonardo falou indignado.

— Eu tenho quatro, tá longe de me alcançar


também, agora se der um gás alcança o José, que já nem
deve mais dar no couro mesmo.

— Estou no meu melhor momento, excelente


desempenho, que ver só, Maia? — Chamei acenando para
Maia vir até nós.
— Vá se foder. — Marcos deu um murro no meu
braço. — Deixa minha irmã quieta.

Chegamos em casa e coma ajuda da Marcia


colocamos todo mundo para dormir e enfim, minha esposa
era exclusivamente minha.

— Meu amor, vem cá. — Puxei-a para o meu colo.


Maia montou em mim só de roupão: — O que quer me
falar?

— Acho. — Maia rebolava no meu pau, e beijava


meu pescoço.

— Que. Agora. Quem precisa do seu pau dentro de


mim, sou eu. — Maia, tirou o roupão. Segurei seu rosto e
saboreei sua boca sentido meu pau deslizar, alargando a
carne quente e macia da sua boceta enquanto entrava.

— Caralho! Porra... isso, rebola. Hammmm! Tesão


da porra essa sua boceta apertada.

— Forte, me faz gozar, haaaaaa... José. — Perdi o


controle, a segurei com vontade e a soquei com força, o
som dos nossos corpos se chocando era música para os
meus ouvidos. Maia entrou em uma cadência frenética e
constante, estava tão excitada, gemendo e rebolando,
jogou os braços para trás e segurou em meus joelhos, sua
boceta toda lambuzada de prazer, brilhava para mim.
— Isso, delícia, rebola. Massageei lentamente seu
clitóris e foi o suficiente para Maia explodir, apertando
compulsivamente meu pau dentro dela.

— Hooooo! Ah... porra! — Puxei Maia para o meu


corpo e a abracei enquanto esporrava dentro dela.

Maia lambeu meu pescoço e sussurrou no meu


ouvido:

— Estou grávida.
A sensação de estar no caminho certo é
indescritível. Olho para minha esposa e agradeço a Deus
por ter me dado a chance de refazer a minha vida a
tempo, e por hoje estar onde sempre quis e achei que
estaria.

Não vou dizer que não sinto pelo que Thomas se


tornou, mas hoje não dói como doía antes. Sei que eu dei
o meu melhor, eu fiz tudo que era capaz, infelizmente, não
foi o suficiente, ou como a psicanalista diz: talvez nada
fosse o suficiente.
Quando Thomas fez dezoito anos colocou a mãe
para fora da casa que ele mantinha com a pensão que eu
dava e com a mesada do padrinho. Ele a agrediu, a deixou
na rua e voltou para o Brasil, quando vi as fotos de como
ele a machucou, fiquei horrorizado. Seu rosto estava
deformado, roxo, inchado, cortes espalhados, os olhos
nem abriam, fraturou costelas, pelo que disse foi por
chutes, ela estava no hospital e não sei porque infernos,
ela deu o meu telefone como número de emergência. Só
então tive certeza que realmente, nunca nada seria o
suficiente. Deixei claro que se não tirassem meus contatos
da ficha de uma criminosa, processaria o hospital alemão
e como a Alemanha se recusava em extraditá-la, a justiça
brasileira nunca pode prendê-la pela morte do amante.
Mas essa era uma página que havia virado em minha vida.

— Papai? Não “chola”. — Íris limpava minhas


lágrimas de emoção que não consegui controlar quando
Celina apareceu como a Cinderela no seu baile de
debutante. Era a hora da valsa, minha filha era
simplesmente perfeita, Maia pegou Íris do meu colo, secou
meu rosto e disse:

— Nossa princesa está pronta.

Foi um sonho espetacular conduzir minha princesa


pelo salão.
Depois da festa, meus pais resolveram que fariam
uma viagem. Desde que Íris nasceu, eles não saíram mais
de perto, como Bela estava morando e fazendo faculdade
em São Paulo, eles ficavam grudados nas netas, as três,
meus pais eram avós excepcionais para todos os netos,
mas tinham um xodó diferente por Íris. Eles tentavam
disfarçar, era até engraçado.

E é por serem tão bons que mesmo sentindo falta,


eles nunca, nunca mais tocarem no nome de Thomas,
tínhamos certeza que sofriam, principalmente meu pai.
Certa vez Maia me contou que eles se sentiam culpados
por eu ter me casado com Leila e assumido Thomas como
filho. Que eu era novo demais, que eles deveriam ter sido
mais cautelosos.

Para falar a verdade, eu também achava, hoje como


pai, ficava tão atento, mas não era magoa, raiva, nem
nada perto disso, sabia que meus pais eram tão honestos,
dignos, jamais pensariam que a cena que Leila e seus pais
criaram fosse um golpe, e realmente, transei várias vezes
sem camisinha com ela, as datas batiam.

E eu tinha que passar por tudo que passei para ter a


minha filha, e dar ainda mais valor na família que tinha.

Celina tinha um coração de ouro, Maia e ela eram


inseparáveis, a amizade entre as duas era de dar inveja
em qualquer um. Estava distraído quando Maia e Celina
romperam porta dentro do meu escritório, levei um susto.
Quando vi o rosto de Celina vermelho e banhado em
lágrimas, o susto triplicou.

— O que aconteceu? — Olhei para Maia, que era


nítido que também estava atordoada.

— Pai, eu vi o Thomas... — Falou soluçando. —


Pai... — Ela se jogou em meus braços e chorou
copiosamente por minutos sem fim. Maia mesmo tremendo
pegou água, sentei com ela no sofá, depois de algum
tempo Celina foi lentamente se recompondo, sentou ereta,
exatamente como Maia e respirou fundo:

— Pai, Thomas precisa de ajuda. Ele está sozinho.


Aquela mulher o abandou, pai. — Olhei sério para Maia
que abaixou a cabeça. Nunca contamos a verdade sobre
Thomas e Leila para ela, a deixamos no escuro, Maia e eu
queríamos protegê-la de tanta maldade, agora chegou a
hora dela saber.

— José, Celina transferiu uma quantia razoável de


dinheiro para a conta de Thomas. E ele foi extremamente
agressivo com ela.

— Onde diabos estava o seu segurança?!

— Eu pedi para ele nos deixar sozinhos um


instante. Estávamos no shopping, em um restaurante, e
estava tudo bem. Ele ficou agressivo de repente. Mas não
fez nada de grave.

— Nada?! — Maia se alterou. — Olha o braço dela.

A marca dos dedos dele estavam ficando roxos em


seu braço. E desta vez eu senti ódio daquele filho da puta.

— Ele conversou com ela, pediu ajuda, inventou uma


história triste. E pediu dinheiro, muito, mas como para
transferências altas ela precisa da minha autorização ou
da sua, Celina fez o máximo das duas contas que tem.
Mas para ele não foi o suficiente.

— Eu senti medo, pai. Ele puxou tanto meu braço,


ele falou igual um demônio, disse que eu tomei tudo dele,
que eu não prestava, que era igual àquela mulher, que
nem para ajudá-lo eu prestava. — Celina voltou a chorar.
— Não sou igual ela, eu amo meu irmão, pai, eu disse
que conseguiria mais, que falaria com você, aí sim, ele
ficou muito bravo. Pai, você precisa ajudar ele.

Celina tinha dezessete anos, era extremamente


infantil, mas foi necessário sentamos e sem esconder
nada, contamos tudo que vinha acontecendo, mostramos
as fotos do rosto de Leila depois que ele a agrediu, Celina
ficava pálida, horrorizada, e mesmo assim, depois de tudo
pediu, para eu ajudá-lo.
E com certeza, isso seria a última coisa que eu faria
no mundo. Expliquei que faria alguma coisa a respeito,
mas que não lhe daria dinheiro. Tentamos tranquilizá-la de
todas as formas, e ainda sim, ela sentia medo.

Depois que elas foram embora, chamei Otávio na


minha sala. Expliquei para o meu amigo o que estava
acontecendo.

— Você não tem nenhum contato com ele?

— Não. Não há alguns anos. José, Thomas é vil


demais, tentei ajudá-lo, ficou viciado em jogos, gosta de
dinheiro fácil, mas quando se envolveu com tráfico das
chamadas drogas da elite, foi o limite.

— Pois é, meu amigo. Desde que chantageou Celina


o vigio de perto, ele age como um play boy, vive enfiado
em confusão. Hoje tentou mais uma vez chegar perto da
minha princesa; decidi que era momento do nosso
reencontro.

Instantes depois recebi um chamado pelo telefone.

— Senhor, estamos com ele.

— Traga-o para cá. — Vinte minutos depois meus


seguranças entraram em meu escritório trazendo um
Thomas bem debochado.
— Oi, papai!

— Podem deixá-lo aí, e nos deixe. — Darlan


titubeou, mas saiu.

— Seu pai está no inferno. — Falei calmamente,


levantei fui até o bar, coloquei uma dose de conhaque e
me virei a tempo de vê-lo se recuperando do espanto.

— Você acabou com a minha vida, DESGRAÇADO!

— Ainda não! — Seus olhos se arregalaram,


realmente surpreso. Virei o conhaque coloquei o copo em
cima da mesa.

— Você nunca me enganou, eu sempre gostei mais


da minha mãe, você sempre priorizou a coitadinha da
princesinha... Você é patético, com discursos de pai
amigo, fingindo tentar levantar minha autoestima. O que
quer agora? Meu perdão?

— Sabe Thomas, sempre tive pena de você. Um


viado enrustido apaixonado pelo primo. Você sempre foi
um cão vira-lata comparado a MINHA filha, não só a
Celina, comparado com meus sobrinhos, o que era você?
Filho de uma cadela vira-lata, um vira-latinha que vai
morrer sem saber quem é o próprio pai, ou acha que seu
querido primo era a única opção? — Até a cor de seus
lábios sumiram. — Fiz caridade até demais com você.
Ele veio para cima de mim, e eu o soquei, foram
golpes atrás de golpes sem parar. Quando se afastou
debochei:

— Acha que um merdinha como você é páreo para


mim, por que é mais novo?

Olhar para sua cara maldita só me fazia lembrar da


Celina entrando chorando na minha sala.

— Se chegar a cinco quilômetros de distância da


minha filha, vou me certificar que vai passar o resto da
sua vida servindo esse rabo para os presos de Tremembé.
Entendeu?

— Minha mãe deveria ter te matado, desgraçado!

— Pois é... Isso é uma coisa que você puxou da


cadela. Dom de perder oportunidades.

Otávio entrou na minha sala como sempre, sem


bater. Olhou para a cena a sua frente, imóvel. Thomas
imediatamente abaixou a cabeça como um rato.

— Padrinho, preciso da sua ajuda. — Otávio olhou


para ele, deitou a cabeça e serrou os olhos.

— Ah, é? E para que seria? Para que um homem que


espanca a mãe, extorque a irmã adolescente precisa de
ajuda?
— Padrinho, estou devendo muito dinheiro, vão me
matar.

— É mesmo? E de quanto você precisa?

— Quatrocentos mil.

— Quatrocentos mim reais. — Otávio ergueu as


sobrancelhas.

— Não, quatrocentos mil dólares. Padrinho, pelo


amor de Deus, esse dinheiro não é nada para você, eu
juro que sumo da vida de vocês, nunca mais vão me ver
nem sequer ouvir falar de mim.

Não queria ouvir nada que dizia respeito a esse


homem que um dia eu amei mais que a mim próprio.
Peguei meu celular:

— Darlan, venha tirar esse bandido da minha sala.


— Otávio me olhou, e assentiu. Thomas saiu arrastado.

— Pai, não faz isso comigo.

— Não sou seu pai.

— Padrinho, por favor, estão me sentenciando a


morte.

Otávio andou até o meu bar, serviu-se uma bebida e


virou, não disse uma palavra, parou na janela, pegou o
celular, olhou pensativo para o visor.

— Preciso atender, é a Lize. — Saiu rápido da minha


sala. O celular dele não estava tocando.

Seis meses se passaram, Thomas não tentou mais


contato com Celina. Não tive mais nenhuma notícia dele
até aquele momento.

Olhava para Carla, Ramon e Otávio sentados na


minha frente, no escritório da minha casa, tentado
absorver o que acabara de ouvir. Quando vi o esquadrão
chegar sabia que alguma coisa estava errada. Mas não
esperava ouvir o que ouvi.

— Jurava que você havia pagado a dívida dele?

— Eu paguei, ele era meu afilhado, sei que se


acontecesse qualquer coisa com ele, todos nós
carregaríamos a culpa.

— O que adiantou, ele está morto! — Me alterei. —


Quando ficaram sabendo disso?

— Fiquei sabendo essa manhã. Leila me ligou, disse


que foi há vinte dias, mas que só ficou sabendo semana
passada. Pediu ajuda, que está em situação de rua na
Alemanha.
— Leila? — Olhamos todos para porta, Celina estava
parada esperando uma resposta.

— Sim, meu amor, ela. E tem mais uma coisa:


Thomas está morto.

Depois que Thomas morreu, Celina sofreu bastante,


minha eterna princesinha, minha melhor amiga, era o ser
mais iluminado que existia. E para acabar de completar,
Leila, conseguiu seu número de telefone.

— Mãe. — Celina entrou no meu quarto e se


aconchegou na minha cama. Era alguma coisa séria, parei
de me arrumar e olhei para ela. — Leila me ligou.

— Te ligou? — Repeti incrédula. Ela balançou a


cabeça que sim.

— Ela está vivendo de albergue em albergue. Disse


que está doente. Mãe, eu gostaria de ajudá-la, sei que ela
nunca sentiu nada por mim, e até agradeço por isso. Mas
não fará falta pagar pelo menos a moradia dela. Mas
quero saber sua opinião. Não sei se devo, tenho medo.

— Oh, meu amor, se você tem vontade deve ajudá-


la, não precisa ter medo, ela está longe, não precisa ter
contato. Faça a sua parte.

E foi isso que ela fez, a coisa certa, como sempre.

— Mãe. Mãe, não chora, são só dois anos, você


pode ir me ver quando quiser.

— Eu sei, minha princesa, só não sei como vou


conseguir ficar sem você, me desculpa, eu juro que tentei
me preparar, eu achava que seria mais fácil.

— Vai passar rápido, vamos nos falar todos os dias.


Íris, cuida da mamãe direitinho.

Celina foi estudar na melhor escola de ballet do


mundo, estava muito feliz, o único problema é que era do
outro lado do planeta. Não passou rápido, eu sentia muita
falta da minha melhor amiga. Nunca viajei tanto, como
nesses últimos dois anos, qualquer coisa era motivo de
pegar as crianças e ir ver Celina.

Ela conheceu um inglês lindo, se apaixonou, e dois


anos depois voltaram casados para casa. José quase
infartou. Ele queria matar o marido da Celina.
Foi complicado trazer o rapaz para dentro de casa.
Porque eles não tinham onde morar quando chegaram,
Ethan era de uma família simples, mas muito unida, a mãe
do rapaz de 28 anos ligava com frequência, preocupada,
pois Celina fica uma parte do tempo em casa e a outra
parte no hotelzinho barato que ele pagava com as
economias que trouxe. Ele era professor, mas não
aceitava nada dela. Ele a amava, era carinhoso, a
venerava, um tanto ciumento, mas nada fora do normal.
Era lindo ver como ele a olhava.

— Mãe, o Ethan não quer mais que eu fique longe,


nem eu quero. Mãe nós somos marido e mulher, quase não
durmo com meu marido. Sei que o pai vai ficar ainda mais
chateado, mas não pensamos direito, só quisemos
resolver nossas vidas, achei que poderíamos nos casar
aqui também, nunca pensei que meu pai fosse ficar tão
descontrolado. Tem um mês que chegamos e se dormir
com ele cinco vezes foi muito.

— Mas meu amor, você vai mudar para aquele hotel?


Eu pago algo melhor para vocês.

— Ethan nunca vai aceitar. Ele não é esnobe, mas


pela situação. Ele nem sabia que eu era tão rica. Mesmo
porque, eu tinha bolsa na escola de ballet. Nossos planos
eram ficar aqui em casa até Ethan conseguir um trabalho e
termos dinheiro para ter nosso apartamento. Mas agora...
as economias dele já estão acabando. Ele me quer ao seu
lado, como uma esposa deve estar.

— Ele está certo, meu amor. Vai ficar com o seu


marido, vou dar um jeito nesta situação.

Depois que Celina saiu para se encontrar com o


marido, gritei as crianças:

— Inácio, Benjamin e Íris, vão arrumar suas malas.


Coloquem roupas de inverno.

— Para onde vamos? — Inácio perguntou. — Vamos


para a Europa. — Inácio me olhou e balançou a cabeça
negativamente com uma expressão de riso no rosto. Inácio
era a sombra do pai, era Deus no céu e José na terra. Mas
meus filhos eram muito unidos. Eles cuidavam um do
outro, eram amigos, cúmplices, veneravam a irmã mais
velha, e estavam bem chateados com a situação.

— O que eu não faço pelas minhas irmãs? — Subiu


em cima do sofá e gritou: — Vou ligar para o senhor ogro.
Se preparem para guerra!

Os três saíram rindo. E foi dito e feito, uma hora


depois meu marido invadiu nosso quarto soltando faíscas
pelas ventas.

— Que merda você pensa que está fazendo?


— Não se atreva a falar comigo desta forma. Se
acha que vou fazer com a minha filha o que minha mãe fez
comigo, está muito enganado. Celina vai embora com o
marido, mesmo com medo e não querendo. Meus filhos e
eu estamos de mudança junto com ela. Se não quiser ter
um casamento a distância, pode pedir o divórcio.

— Você está LOUCA! ACHA QUE VOU PERMITIR


UMA MERDA DESSA?

— Eu não me lembro de ter pedido permissão. PARA


DE GRITAR! Você é um ignorante, pior que meu pai.
Parece que se esquece das coisas.

— Pai? — Inácio chamou da porta que estava


escancarada. Meu menino com quinze anos era do
tamanho do pai. José não deu atenção para ele.

— Você não vai para lugar nenhum, nem ninguém.


Nenhum dos meus filhos, nem Celina, nem Inácio, nenhum
deles. Se acha que vou ceder, e abrir os braços para
aquele aproveitador! Pode tirar cavalo da chuva, esse
teatro não vai funcionar.

— Pai, vou tomar conta da minha mãe e dos meus


irmãos enquanto essa situação não se resolve. — José
olhou para Inácio incrédulo.

— Você concorda com essa merda?


— Não vou deixar minha irmã sozinha em outro país,
sem família, pai. Você me ensinou a ser um homem e
proteger a minha família, não importa o que aconteça. —
Inácio deu com os ombros. — Então, mesmo que você
tenha ficado louco e esquecido, eu não esqueci, tenho
certeza que se Celina está com esse cara, é porque ele
merece.

José saiu do quarto como um trovão, e sumiu.

— Mãe, se o pai não voltar atrás, vamos ter quer ir


pra porra da Europa. — Riu de gargalhar.

— Deus é pai, filho, ele não há de deixar a gente ir


para aquele frio. E para de falar palavrão.

Três horas depois José chegou com Celina e Ethan.


Quando os três entraram na sala. Inácio teve uma crise de
riso. Ria e falava:

— Deus é pai! Obrigada meu Senhor... Porque, além


de ir para aquele frio do caralho, ter que deixar meu
corpinho quentinho aqui, era castigo demais. — Encarei
Inácio, que continuava rindo. Quando viu que eu o fuzilava
com os olhos parou me olhando.

— Que conversa é essa de corpinho quentinho? —


Todo mundo ria da cara dele, que não respondia nada. —
Inácio, você é um bebê. — José tentou segurar o riso, mas
não conseguiu.
E foi assim que descobri que Inácio estava saindo
com uma das minhas professoras de ballet de dezoito
anos. Quis demití-la, processá-la, mas por fim:

— Por que me escondeu que ele estava...


namorando? — José, terminou de secar o cabelo e me
olhou com ar de riso.

— Porque ele não está namorando, meu anjo. Inácio


está trepando. E acho que isso não é algo que os garotos
gostam de compartilhar com as mães.

— E com os pais, gostam?

— Meu amor, ele não compartilhou, mas vou buscá-


lo na casa da menina dia sim, dia não. Mas agora, vamos
parar de falar dos nossos filhos e vem aqui. Sabe? Depois
de todo esse dia estressante... — José me agarrou com
um braço e me arrastou para a cama. E resolvemos nossa
briga como gostávamos: fazendo amor.

E era engraçado como os filhos eram diferentes uns


dos outros. Celina era tranquila, nunca foi namoradeira,
não gostava de balada, teve um único namorado, Ethan.
Íris desde cedo dizia que iria namorar. O pai levava na
brincadeira, os irmãos diziam que teriam que passar por
eles, tadinhos.

Em sua festa de debutantes que foi tão espetacular


quanto a da irmã, peguei Celina conversando com ela:
— Você precisa conversar com a mamãe, Íris, não
pode esconder uma coisa dessas.

Dias depois, Íris entra no meu quarto chorando.

— O que foi?

— Não quero ir para a escola, mãe, estou passando


mal, muita cólica, mãe, por favor, quero ficar com você. —
Sabia que não era nada disso. José saiu do closet pronto
para trabalhar, olhou para Íris:

— Já está pronta?

— Ela vai ficar em casa comigo hoje, não está se


sentindo muito bem. — José nos beijou e saiu.

— Quer falar pra mãe o que está acontecendo?

— Mãe, estou apaixonada pelo Neto, já faz mais de


um ano, mas ele não ligava pra mim, aí no meu
aniversário eu o vi me olhando, sabe? Não como a irmã do
amigo. Você sabe, né? Aí, eu fui atrás dele, e o beijei.

Isso era realmente um problema sério. Inácio e Neto


eram melhores amigos, José mataria Neto, e Lize mataria
José.

— Ele correspondeu, mãe! Foi maravilhoso. Ele é


tão forte, tão lindo, e eu sei que ele gostou. Porque ele me
beijou de verdade, me pegou no colo e tudo. — Estava
ficando com medo do que exatamente ela iria me dizer.
Mas não quis assustá-la, então, só fiquei ouvindo.

— Mãe, mas depois ele não apareceu mais, as vezes


que fomos na casa dele, ele sempre inventa uma história e
saia. Aí, ontem eu liguei para o Inácio e ele estava no
clube, fui pra lá com o Ben, e dei de cara com o Neto. Não
deixei que fugisse de mim. Ele disse que foi um erro, que
eu era uma criança, que se sentiu mal por ter
correspondido o beijo, que não queria me magoar, que eu
era muito nova.

— Oh, meu amor... Neto está certo. Meu bebê, você


tem esse corpão de mulher, é tão linda, mas é só um
bebê. Imagina se Inácio ou seu pai pega Neto com você?

— Mãe, eu o amo, nunca vou conseguir gostar de


outra pessoa. E sei que ele sente alguma coisa, ele me
olha diferente, mãe, eu sinto.

— Meu amor, você é muito nova, se você acha que


nunca o esquecerá, que o ama, precisa aprender a
respeitá-lo. Se ele realmente sentir algo por você, não
precisará ficar indo atrás, porque desta forma ele vai te
achar uma criança mimada e burra, que não entende o que
ele diz. Dê um tempo, espera alguns meses. Viva sua
vida, o homem não pode achar que é o centro do seu
universo.

— Mas ele é o centro do meu universo, mãe.


— Mas ele não precisa saber disso.

Íris é muito nova, em alguns meses ela já terá


esquecido Neto.

Na semana seguinte, ela me contou que o viu, que


ele a cumprimentou e perguntou se ela estava bem.

— E o que você disse para ele?

— Que não, que só ficaria bem, quando nos


casarmos, que iria esperá-lo para sempre.

— Meu Deus, Íris, você parece sua mãe quando


coloca uma coisa na cabeça. O que o coitado te disse?

— Ele disse que era uma tortura ter que fugir de um


mulherão como eu, e que era para eu me comportar, que
ele estaria de olho em mim. Mãe, ele é tão carinhoso
comigo.

Íris não desistiu do Neto, e como era a caçula,


Celina e eu começamos a prestar atenção em como ele
agia com ela quando estava presente.

— Mãe, ele gosta dela.

— Também acho, Celina. Mas não fala nada para


ela, ele deve ter um motivo para se manter afastado.

E foi assim que se mantiveram por mais de um ano.


José e eu fazíamos aniversário no mesmo mês, em
maio, eu dia cinco ele dia quinze. E gostávamos de
comemorar juntos. Era para ser apenas um almoço, tudo
bem que para quase cem pessoas, só família e amigos
mais próximos. No meio da tarde, conversávamos e riamos
da Larissa contando algumas das presepadas do trisal,
quando de repente, Otávio levanta sério e xinga:

— Porra!

Quando olhamos, Inácio e Neto estavam trocando


socos. Na realidade, Neto mais se defendia. Eu sabia
exatamente o que era. José segurou Inácio, não foi
preciso segurar Neto.

— Que porra é essa? — José perguntou para Inácio


que abriu a boca. As meninas chegaram correndo de não
sei onde e pararam pasmas e apreensivas olhando.

— Inácio, pode responder? — José esbravejou. Pelo


jeito, Otávio sabia o porquê estava acontecendo. Inácio
não respondeu. Encarava com raiva o amigo, que se
endireitou.

— José. — José olhou estranho para ele, que


sempre o chamava de tio. Soltou Inácio. — Achei que
deveria comunicar primeiro o meu amigo para não termos
nenhum desentendimento, mas acho que não teria uma
forma fácil de dizer que quero namorar Íris.
— Primeiro o seu amigo? Acabou de falar que estava
no quarto com a minha irmã adolescente, seu puto do
caralho! — Todo mundo olhou para Neto espantado. Íris
nem respirava, tadinha, a boca do Neto sangrava.

— Inácio, cara, não me deixou terminar pra me dar


um murro, caralho. Não fiquei cinco minutos lá dentro.
Nem a porta eu fechei, só achei que para pedir a mão dela
em namoro precisava perguntar se ela queria.

— Neto, a minha filha tem dezesseis anos!— Neto o


encarava nos olhos, sua postura era impecável. Otávio
abraçou Lize e ficaram de lado, nitidamente não querendo
interferir.

— É, sou totalmente apaixonado pela sua filha de


dezesseis anos.

— E eu sou por ele, pai. E eu aceito o pedido. —


Minha filha se colocou na frente de Neto, que passou as
mãos em seus ombros e a colocou ao seu lado.

— Não!

— Não precisa responder agora, José. Pensa, gosto


verdadeiramente da Íris.

— Pai, o que está fazendo? Quantos anos é mais


velho que a minha mãe? Eu amo o Neto, se não me deixar
namorar com ele, vou namorar com um louco.
— Não vai mesmo! — Neto falou alto demais, eu ri.

— Calma, Íris, seu pai está nervoso.

— Você sabia disso? — José apontou o dedo para


Otávio.

— José, é o Neto, ele jamais brincaria com os


sentimentos da Íris. Vi meu filho desnorteado por um ano.
Os dois se gostam. A única coisa que podemos fazer é
apoiar.

— Se você acha que vai fazer o que quer, você está


muito enganado; se acha que será bagunçado, está muito
enganado. E você mocinha, prepare-se, porque as coisas
terão regras, e não adianta argumentar.

— Obrigada, papai, você é perfeito.

Íris era meiga, parecia uma boneca de porcelana, um


rostinho de anjo, e uma determinação e um fogo que não
cabiam em si. Na segunda-feira a levei na ginecologista e
iniciamos o anticoncepcional.

— Filha, você não precisa transar só porque está


tomando anticoncepcional.

— Não por isso, né, mãe?

— Íris? Menina, sossega esse facho. — Falei e me


arrependi imediatamente, não queria que ela pensasse
para falar comigo. — Parece eu, transei com seu pai pela
primeira vez, nem namorávamos ainda, no sofá do
escritório da fábrica de Careaçu.

— Mas você já tinha transado com outras pessoas?

— Não...

— Sério? — Perguntou toda empolgada.

Depois da nossa conversa baseada em confiança


mútua, meu relacionamento com Íris tomou proporções
maravilhosas. Quatro anos depois, Íris e Neto se casaram.

O casamento da década, os jornais e revistas


noticiavam. Festa para dois mil convidados. O vestido da
minha filha era o mais espetacular que já vi na vida.

— Casamos a mais velha e a mais nova.

— Não querendo te desanimar, mas tenho a


impressão que casar nossos filhos não será uma tarefa
fácil.

— José, sei que não foi fácil, mas estou feliz, tão
grata por termos conseguido mesmo, contra tudo e todos,
chegarmos até aqui.

— E eu te amo para todo o sempre, meu anjo!

— Eu também te amo, meu amor!


— Foi a sua confiança em mim, em nós, que nos
trouxe.

— Foi o seu amor por mim que me fez confiar em


você.

Fim
Agradeço a Deus, sempre! Por não me deixar
desistir nunca, me mostrando o lado bom de cada
dificuldade e que mesmo com todas as atribulações faz
tudo ter sentido.

Ainda a Ele por colocar pessoas maravilhosas no


meu caminho, pessoas essas que fazem toda a diferença,
e sem elas não valeria a pena.

Patrícia Menezes, obrigada por todo apoio, cada


palavra de força e por acreditar a vida toda em mim. Às
minhas BETAS, Sandra Almeida e Sandra Menezes, por
todo apoio, dicas e opiniões. À minha filha, Ana Carolina,
que se empenhou como pôde me ajudando em todas as
etapas de Confia em Mim. Ao meu marido, Lucio Peixoto e
minha caçulinha Maria Luiza, pela paciência.

Durante esse percurso pedi muito a Deus força, para


não me deixar sair do caminho, pedi incansavelmente
ajuda, e como sempre a resposta veio imediatamente, e
atende pelos nomes de Nicole Gassen e Rebeca Catarino,
são quatro braços, duas mentes e dois corações
maravilhosos me apoiando vinte e quatro horas por dia,
todos os dias da semana, elas não me dão um dia de
folga, rsrsrs. São minhas parceiras da madrugada, dos fins
de semana, minhas leitoras e amigas, obrigada por serem
incansáveis, por estarem ao meu lado em todas as
decisões, pelo apoio incondicional, vocês são perfeitas.

À minha assessora, revisora e amiga, Andréia Idalgo


pelo carinho, ajuda, orientações e por todo o trabalho em
conjunto realizado.

Aos meus leitores, que me enchem de orgulho e


fazem tudo valer à pena.

Obrigada!

Van Coimbra

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