Você está na página 1de 17

ESCOLA DE SARGENTOS DE LOGÍSTICA

CURSO DE FORMAÇÃO E GRADUAÇÃO DE SARGENTOS


CURSO DE MATERIAL BÉLICO
ARTIGO CIENTÍFICO

FABIO LUIZ BOLDUAN DA SILVEIRA


GUILHERME RODRIGUES COSTA DOS SANTOS
LEONARDO PEREIRA DE SOUZA
RUBIA DE PAULA DOS REIS

2º SGT CIRO VINÍCIUS DE SOUZA RIBEIRO BARBOSA


(ORIENTADOR)

APRIMORAMENTO DOS ARMAMENTOS BÉLICOS AO COMBATE MODERNO

RIO DE JANEIRO
2022
FABIO LUIZ BOLDUAN DA SILVEIRA
GUILHERME RODRIGUES COSTA DOS SANTOS
LEONARDO PEREIRA DE SOUZA
RUBIA DE PAULA DOS REIS

APRIMORAMENTO DOS ARMAMENTOS BÉLICOS AO COMBATE MODERNO

Artigo Científico apresentado à Escola de


Sargentos de Logística - Es S Log como
requisito parcial de conclusão do Curso de
Formação e Graduação de Sargentos de
Material Bélico.
Orientador: 2º Sgt Ciro Vinícius de Souza
Ribeiro Barbosa.

RIO DE JANEIRO
2022
RESUMO: A Guerra é uma arte, assim como qualquer outra, mesmo quando a intenção é
influenciar vidas. E, como arte, depende de motivação, técnica, estratégia e melhores formas
para que a engrenagem artística funcione. Nesse sentido, ao longo da História, podemos
perceber a evolução da Arte da Guerra, até chegar a Guerra Moderna. Com isso, pensar
teoricamente cada processo evolutivo que a guerra passou, foi essencial para o aprimoramento
do Material Bélico. Desde a sua 1º Geração a 4º Geração, vamos nos conscientizando o que
levam os seres humanos a entrarem em conflito e a forma como esse conflito é realizado.
Assim, das diferenças entre o civil e o militar, zona de conflito e zona urbana, estratégia de
ataque e força bélica, veremos que, atualmente, na Guerra Moderna, essa separação não é
mais a tônica para o combate, nem mesmos atores que entram em conflito. Hoje, a assimetria
da Arte da Guerra é o paradigma que determinará o conflito, assim como nas artes em geral.
Dessa maneira, está preparado para esse novo conflito, com esses novos atores e as novas
formas de se fazer a guerra, nomeará vitorioso de derrotado. Sabendo disso, o Brasil buscou
entender essa modernidade do conflito bélico e aprimorou seu armamento para está
condizente com esse novo tipo de combate: o Combate Moderno.

Palavras chaves: guerra assimétrica, combate moderno, aprimoramento bélico, fuzil IA2

ABSTRACT: War is an art, just like any other, even when the intention is to influence lives.
And, like art, it depends on motivation, technique, strategy and better ways for the artistic
gear to work. In this sense, throughout history, we can see the evolution of the Art of War,
until reaching Modern Warfare. With this, theoretically thinking about each evolutionary
process that the war went through, was essential for the improvement of the War Material.
From its 1st Generation to the 4th Generation, we are becoming aware of what lead human
beings to enter into conflict and the way in which this conflict is carried out. Thus, from the
differences between the civil and the military, conflict zone and urban zone, attack strategy
and war force, we will see that, currently, in Modern Warfare, this separation is no longer the
tonic for combat, nor are the actors who enter in conflict. Today, the asymmetry of the Art of
War is the paradigm that will determine conflict, as in the arts in general. In this way, he is
prepared for this new conflict, with these new actors and the new ways of making war, he will
name victorious and defeated. Knowing this, Brazil sought to understand this modernity of
the war conflict and improved its weaponry to be consistent with this new type of combat: the
Modern Combat.
Keywords: asymmetric warfare, modern combat, warfare enhancement, AI2 rifle
1. INTRODUÇÃO
Após a Revolução Francesa de 1789, a guerra tornou-se um pesadelo para o povo, já
que era representado, tanto por um governo, quanto por uma força militar, ambos defendendo
sua liberdade. Agora o homem torna-se um cidadão e um soldado, capaz de cumprir os
deveres políticos e militares que lhe eram atribuídos. Essa associação da política e guerra, em
um nível que inclui, o homem comum, é um aspecto muito interessante da guerra no início da
era moderna.
Dessa forma, notamos que a guerra, na Europa moderna, teve um outro significado,
assim que o pilar “governo-militar-povo” foi estabelecido como normal e essa guerra não era
mais um estado de status especial, como era anteriormente. Tal ascensão, na prática militar,
está diretamente relacionada às reformas políticas que a Revolução Francesa promoveu,
lutando pela Nação e pela Liberdade dos Franceses. HOBSBAWAN (1977), pinta um retrato
verídico sobre a política de guerra, durante os primeiros anos da Revolução Francesa e como
as pessoas comuns foram colocadas em ação na defesa de um ideal, ponto norteador do
conceito da Era Moderna.
Conceitos como “guerra” e “nação” não são em si as figuras impopulares para a
história do capitalismo, que teve como triste consequência as duas grandes guerras mundiais
do século XX. HOBSBAWAN, por causa do contexto histórico e cultural da Revolução
Francesa, vai nos dizer que a obrigação patriótica e a destruição do inimigo são os
combustíveis para o confronto.
A guerra por um país livre, igual e fraterno foi um dos muitos legados deixados pela
Revolução e se espalhou pela Europa durante as Guerras Napoleônicas. Portanto, para
compreender a construção da história do conceito de “guerra”, na Europa depois de 1789, é
importante compreender as experiências políticas e sociais decorrentes desse processo. A
guerra será considerada, então, como um conceito moderno, assim como uma nação, porque
queremos garantir que ambos sejam construídos historicamente.
Com isso, para discutir semanticamente a “guerra”, traçamos seu significado pela
história e entendemos a resiliência permanente e a fragmentação simbólica e cultural que
passou e sofreu o conceito em questão. Para o significado moderno do conceito de "guerra",
entendemos que foi fincado durante a grande agitação política e militar europeia durante o
início do século XIX. A partir disso, podemos mergulhar nos conceitos de Gerações de guerra
e entendemos como se deu a evolução do pensamento do fazer a guerra e o aprimoramento do
armamento, do combate e das estratégias da guerra.
2. AS GERAÇÕES DA GUERRA E O APRIMORAMENTO DAS ARMAS

2.1 A 1º, a 2º e a 3º Gerações da Guerra

A Guerra de 1ª Geração começou com o Tratado de Westfália, em 1648, e continuou


até 1860. Sua principal característica foi o uso do “Princípio da Massa”, cujo objetivo é focar
no poder de combate no espaço e no tempo. Além disso, esta foi uma batalha de linha e
coluna, com batalhas legítimas, campos de batalha diretos e profundos e bem organizados. Há
uma clara lacuna entre o “militar” e o “civil”. A ascensão da Guerra de 1ª Geração foi a
campanha napoleônica.
Lind (1989) nos comunica que, em meados do século XIX, o campo de batalha
começou a se desintegrar e se tornar um problema. Com isso, fizeram os exércitos
desenvolverem novas táticas de guerra, já que o combate de primeira linha acabou se tornando
obsoletas e suicidas. Assim, na cultura da guerra, que outrora estava associada à área em que
operava, estava cada vez mais em conflito com ela.
Ademais, foi desse conflito que eclodiu a Guerra da 2º Geração, no período de 1860 à
Primeira Guerra Mundial. Criado pelo exército francês durante e, logo depois, a Primeira
Guerra Mundial, buscou soluções para o fogo em massa de artilharias indiretas. O objetivo
principal era reduzir o tempo de combate e a doutrina foi resumida pelos franceses como ‘a
artilharia conquista, a infantaria ocupa’. Armas e equipamentos foram desenvolvidos ou
renovados, especialmente canhões, fuzis e metralhadoras, que resultaram em mais fogo do
que movimento. O poder de fogo era controlado de forma centralizada e pontual, com planos
e ordens específicos.
Já Paiva nos alerta que, nestas batalhas, consideradas de 2ª geração, “os processos
eram rigorosos e a disciplina era mais eficaz do que a ação” (Paiva, 2010). Ou seja, havia
preocupações com as regras organizacionais e operacionais, limitando a estratégia em
encontrar soluções diferentes, que acabou prejudicando a consecução dos resultados/objetivos
almejados.
Assim, continua o escritor, “a guerra ainda era feroz e contenciosa. O atacante
‘empurra a linha’ e o defensor ‘segura a linha’, pois não havia possibilidade de cobrir e se
movimentar” (Paiva, 2010). Assim, com o uso de máquinas, tanques, aviões e explosivos
pesados dá início a 3º Geração da Guerra, já na II Guerra Mundial.
Uma vez que, com o resultado da Primeira Guerra Mundial, foi desenvolvido pelo
exército alemão, uma nova tática de confronto, muitas vezes chamado de Blitzkrieg, ou guerra
de manobra, portanto, a força motriz era principalmente as ideias e o planejamento de
combate. Além disso, o uso de rifles, tanques, aviões e explosivos pesados foi particularmente
proeminente. Percebendo que não tinham uma forte indústria de armas, os alemães criaram
essas novas táticas. Esse tipo de guerra é baseado na velocidade, surpresa e inteligência, além
do esforço físico, não apenas no poder do fogo e da colisão, como antes. De acordo com Lind
(1989), na 3ª Geração, a tática é ficar atrás do inimigo para depois atacá-lo.
A guerra não é mais uma corrida de empurra, em que as tropas tentam capturar ou
avançar a linha, já que a Guerra de 3º Geração era indireta. Logo, a Guerra de Manobra, ao
contrário da Guerra de Atrito, visa desabilitar sistematicamente o combate direto, ao ganhar
uma posição lucrativa. Além das mudanças nas táticas, também há mudanças na cultura
militar. O soldado desta geração se concentra no exterior, na situação, no inimigo e no efeito
que a situação exige.

2.2 A 4º Geração da Guerra

Quando pensamos na guerra anterior ao século XVIII, ficou muito claro que ela se deu
entre dois ou mais estados nacionais, sob o comando da monarquia e, na maioria das vezes,
como Maquiavel aponta corretamente, era comandada exércitos de mercenários. No entanto, a
ação militar mudou drasticamente, especialmente durante o século XX e, mesmo agora, no
século XXI. Atualmente, podemos dividir a guerra em quatro tipos distintos: guerra norma,
guerra de destruição em massa, guerra indireta e guerra assimétrica.
Uma guerra normal é aquela que é travada entre exércitos, com nações bem
organizadas e estáveis e uma divisão clara entre civis e soldados. Sua principal característica é
o conflito entre países. Após a Segunda Guerra Mundial e durante a Guerra Fria, a principal
ameaça eram as armas destrutivas. Embora muitos anos tenham se passado, as armas
nucleares contribuíram para a necessidade de diferentes planejamentos estratégicos,
armamentos e organizações de unidades. Não obstante, hodiernamente, como nunca antes,
está claro que uma nova guerra com armas destrutivas parece impossível, porém, quem
acredita que o que foi apresentado em Hiroshima e Nagasaki elimina a “arte da guerra” está
errado. Em vez disso, enfatizou e encorajou outras formas de guerra.
Muitos dos conflitos, após a Segunda Guerra Mundial, foram conflitos armados que
criaram uma série de guerras irregulares, como terrorismo, insurreição e movimentos de
contraterrorismo, entre outros. Curiosamente, neste tipo de guerra – irregular – não há a
definição de um campo de batalha, uniformidade ou divisões geográficas e as diferenças entre
civis e soldados.
Após os chamados ataques terroristas dos Estados Unidos, em 11 de setembro de 2001,
além das mudanças na política de defesa internacional, surge um novo tipo de guerra, a guerra
assimétrica. Segundo Costa, a guerra assimétrica, “talvez possa ser descrita, como já foi dito,
como uma guerra mundial, ou como uma guerra, não limitada ao mundo.” (S/d: 04) Esse novo
tipo de guerra foi chamado de Guerra de 4º Geração e, pelos autores chineses Liang e
Xiangsui como “Guerra além dos Limites”, na qual argumentavam que para alcançar a vitória
neste tipo de guerra, os métodos utilizados na guerra superam as operações militares:

“(...) deverá “combinar” todos os recursos de guerra à sua disposição e utilizá-los


como meios para a condução da guerra. E até mesmo isso não será suficiente. Ele
terá de combinar aqueles recursos de acordo com as exigências das regras da vitória.”
(1999: 205)

Assim, Liang e Xiangsui argumentam que a Guerra Assimétrica pode se manifestar


das seguintes formas: guerra psicológica; guerra econômica; guerra com armas convencionais;
guerra radiológica, nuclear ou radioativa; guerra biológica, bacteriológica ou viral; guerra
cibernética, eletrônica ou informática; e guerra química. Ele lembra que nesse tipo de conflito,
que também é considerado a guerra mental, de forma complexa. A Guerra de 4ª Geração visa
se beneficiar não só das mudanças ocorridas desde a última grande guerra, como também as
mudanças políticas, sociais, econômicas e tecnológicas. Ao lado dos Estados Unidos, novos
protagonistas surgiram, como organizações não governamentais, como: Al-Qaeda, Hamas,
Hezbollah e, aqui na América do Sul, as FARC e o tipo principal de ação são baseados nas
táticas e procedimentos da guerra assimétrica. Desta forma, o Estado perde seu protagonismo
na arte de guerrear.

“A Guerra de Quarta Geração (4GW) exige muito mais inteligência, análise e maior
capacidade de disseminação para servir a um sistema de comando altamente flexível.
Ela engloba elementos de gerações de guerra anteriores; tal fato exige que nossas
forças estejam preparadas para lidar com mais esse aspecto. Neste sentido, é
fundamental que os líderes façam uma análise apurada da guerra que estão prestes a
entrar. Esta complexa mistura de gerações de guerras e a sobreposição de suas
arenas políticas, econômicas, sociais, militares e de meios de massa dificultam, mais
do que nunca, a determinação do tipo de guerra que estamos entrando.” (Cel T.X.
Hammes, USMC, “The Evolution of War: The Fourth Generation”)
Existem quatro ideias centrais para entender a guerra da 4ª Geração. A primeira está
no campo de batalha, que engloba toda a comunidade inimiga. A segunda visão é a
dependência em declínio de logística centralizada. A terceira é a grande ênfase no controle da
guerra, na qual o poder das “únicas” forças e o poder de fogos deixarão de ser elementos de
grande proveito. A quarta e última visão baseia-se na destruição do poder interno do inimigo;
em vez de destruí-lo fisicamente.

2.2 O combate moderno

As atividades de ataque são importantes no contexto de batalhas assimétricas. De


acordo com as experiências significativas contra forças irregulares, em diferentes locais do
mundo, destacam-se três diretrizes principais: estabelecimentos de forças pequenas,
inteligentes e mortais, que possam operar de maneira altamente fragmentada. Entretanto, a
ideia é ser altamente estratégico, para evitar a letalidade de civis, já que, com a indefinição do
local de combate, pode haver civis junto com os atores não-estatais de guerra.
Cada vez mais, trabalhar contra as forças irregulares em todos os seus aspectos requer
forças especializadas. Neste contexto, destaca-se as forças de operações, com uma
diferenciada seleção de pessoal, treinamento intensivo em operações militares assimétricas e
fornecimento de armas, munições e equipamentos especiais.
Seguindo essa tendência internacional, em 2002, o Exército Brasileiro lançou a
Brigada de Operações Especiais (BdaOpEsp), cuja base era o 1º Batalhão de Forças Especiais
(1º BFEsp), o “Batalhão Antônio Dias Cardoso”, uma força especial de renome mundial, com
um histórico notável de experiência em operações especiais no confronto de forças irregulares.
A Brigada inclui recursos de Forças Especiais, Ações de Comando, Desempenho Psicológico
e elementos especiais de combate, além de segmentos de apoio ao planejamento. Apesar de
relativamente novo, o BdaOpEsp já possui uma série de equipamentos especiais e um bom
currículo de atuação, mesmo fora do território nacional, como foi o caso da oportuna e bem-
sucedida libertação de cidadãos brasileiros, durante a catástrofe que devastou a Costa do
Marfim e a presença de uma Força Tarefa Especial composta por brasileiros no Haiti.
2.3 O Aprimoramento do Material Bélico no Brasil e o Fuzil de Assalto IA2

Durante as quatro gerações da guerra, com o ambiente de combate sendo alterado na


evolução histórica – do campo de batalha do passado as zonas urbanas atuais, percebe-se, que
hoje, o combate à curta distância não exige um armamento com grandes alcances. Ademais,
ao vislumbrar as guerras das 1º Geração até a 4º Geração, identificamos que, em meio a atual
geração da guerra, os soldados não levam apenas seu armamento, carregam consigo um
conjunto de equipamentos necessários para confronto em zonas de batalhas assimétricas, com
forças de combate irregulares e para que atendam as estratégias de inteligência essenciais ao
Combate Moderno. Visto isso, identificamos, na evolução do Fuzil utilizado pelo Exército
brasileiro, duas diretrizes básica: diminuição do tamanho e do peso, além do poder de fogo
aumentado para atender o tempo de combate cada vez menor.

Figura 1: Carabina Comblain modelo

Fonte: Armas Brasil. Disponível em: <http://www.armasbrasil.com/SecXIX/declinio/


ArmasFogo/comblain.htm. Acessado em 28/06/2022.

Utilizados pelas Forças Armadas brasileiras em 1873, o modelo belga Comblain


(Figura 1) permaneceu como arma militar padrão até 1892, quando foi substituído pelo
modelo Mannlicher. No entanto, ainda seria usado durante a Revolução Federalista, a Revolta
da Armada e a Guerra de Canudos.

“O funcionamento da arma era relativamente simples: o bloco da culatra era móvel,


descendo verticalmente em um trilho quando a alavanca de armar – que também
servia de guarda-mato – era puxada para baixo. Isso abria a câmara e permita a
colocação de um cartucho. Este era do tipo chamado de Boxer, de ouropel, ou seja,
feito de uma folha de latão enrolado, fabricado localmente nos laboratórios
pirotécnicos de Campinho (RJ), Menino de Deus (RS) e de Cuiabá (MS). Este tipo
de cartucho, preferido para todas as armas usadas pelo Exército (mas não pela
Marinha, que muitas vezes usava munição importada), era simples, barato e de fácil
fabricação (exigia menos de metade das operações que eram necessárias para os
cartuchos inteiriços), mas causava uma série de problemas em alguns dos
equipamentos usados, especialmente nas Winchesters e nas metralhadoras, de forma
que começou a ser substituído por volta de 1891, por um cartucho normal, inteiriço.”
(http://www.armasbrasil.com/SecXIX/declinio/ArmasFogo/comblain.htm)

Comblain continuou a ser uma arma padrão para o Estado até 1892, quando
Mannlicher o substituiu. Ele continuou a ser usado depois, na Revolução Federalista, na
Revolta da Armada e em Canudos. Na polícia, continuou a ser usado por décadas, citado por
seu uso pela polícia da Paraíba, na Revolta das Princesas dos anos 1930.

Figura 2: Carabina Mannlicher

Fonte: http://www.armasbrasil.com/SecXIX/declinio/ArmasFogo/mannlicher.htm. Acessado em 28/06/2022.


O fuzil alemão de 1888, Mannlicher (Figura 2), é chamado nos manuais do Exército
Brasileiro de ponto de partida para a palavra “Fuzil”, tornando “a primeira arma de repetição
de uso geral da infantaria brasileira a usar cartuchos de pólvora sem fumaça, com alta
velocidade inicial e de calibre reduzido” (ARMAS BRASIL).

“os modelos 1888 foram revolucionárias por uma série de aspectos: era a primeira
arma de repetição de uso geral da infantaria brasileira, a primeira que usava
cartuchos de pólvora sem fumaça, de alta velocidade inicial e a primeira de calibre
reduzido (7,92 mm versus o normal até então, de 11 mm). Além disso, era
municiada com cinco cartuchos colocados em um carregador metálico. Este ficava
na arma até o último cartucho ser disparado, sendo descartado automaticamente em
seguida, característica que aumentava em muito a cadência de fogo possível da arma,
especialmente em relação às de carregador tubular.”
(http://www.armasbrasil.com/SecXIX/declinio/ArmasFogo/mannlicher.htm)

Figura 3: Fuzil Mauser 08 - Mosquetão

Fonte: Fuzil%20Mauser%2008%20-%20Mosquetão.html. Acessado em 28/06/2022.

As armas Mauser foram particularmente valiosas durante as duas guerras mundiais.


Desenvolvido pelos irmãos alemães Wilhelm Mauser e Peter Paul Mauser, adotado pelo
Império de fundação da atual Alemanha, em 1884, e adquirido pelo Brasil, dez anos depois,
em 1894, pela empresa Ludwing Loewe.

“O Mosquetão Mauser 08 era a arma mais utilizada no 7º GACosM. Todos os


exercícios militares formavam uma combinação de soldado e mosquetão. Sua
munição era de formato pontiagudo, calibre 7x57 mm, que também era utilizada
pela metralhadora Hotchkiss. O fuzil Mauser 08 usado na nossa época, era fabricado
na Tchecoslováquia.” (Fuzil%20Mauser%2008%20-%20Mosquetão.html)

O governo brasileiro decidiu mudar o modelo 1895 para um modelo mais moderno e
adotou o Mauser 1898, conhecido no Brasil como modelo Mauser 1908 (Figura 3), ano em
que as armas chegaram ao país.

O M964 de 7,62 mm (Figura 4) é um dos fuzis mais populares do mundo. Foi


desenvolvido pela empresa belga Fabrique Nationale (FN), suas origens foram em 1946,
quando a FN estava procurando construir um novo rifle de assalto.

“FAL no Brasil apresenta variações (quatro versões) de acordo com as


características das tropas a que pertence. Com a nomenclatura de Fuzil 7,62mm
M964 12 (FAL) para as tropas convencionais do Exército e Fuzileiros Navais,
7,62mm M964 (Pára-FAL) para o fuzil com coronha rebatível e Fuzil Metralhador
7,62mm M964 (FAP) conhecido como Fuzil Automático Pesado versão mais pesada
e voltada para o apoio de fogo. Há também uma versão adaptada para o calibre.22
empregada para fins de adestramento, atualmente quase em desuso.” (Barbosa, 2017)

Versões aprimoradas do FAL surgiram com a intenção de suprir a demanda da tomada


de consciência diante das novas necessidades que as guerras da 4º Geração exigiam.
Imbuídos na evolução das armas no mundo, o Exército Brasileiro, em parceria com a
Indústria de Material Bélico (IMBEL), lançou em 2008 um projeto para desenvolver suas
novas armas. O fuzil IA2, no entanto, é uma variante do fuzil 5.56 MD97L, projeto lançado
em 1995 e testado em 1997, daí o nome. O processo de integração do MD97L como Material
de Emprego Militar (MEM) ocorreu no final de 2002 e início de 2003. Após a aquisição do
local de testes, iniciou-se seu teste operacional, que foi interrompido em 2008 devido a alguns
defeitos encontrados no projeto. Naquela época, o desenvolvimento do IA2 começou com
sucesso. (Figura 5)

Figura 5: Fuzil IA2

Fonte: https://www.imbel.gov.br/. Acessado em


28/06/2022.

“O Fuzil de Assalto IA2 5,56 atende aos requisitos estabelecidos pelo Exército,
tendo sido aprovado e adotado como armamento padrão da Força Terrestre. Com
regimes de tiro automático, semiautomático e repetição – para lançamentos de
granadas de bocal visa atender às necessidades operacionais das forças militares e de
segurança. Utilizando novas tecnologias, conceitos e materiais poliméricos, as armas
da família IA2 são mais leves, ergonômicas e de melhor maneabilidade. Seus trilhos
picatinny, dispostos em toda a superfície superior da tampa da caixa da culatra e em
todas as faces do guarda-mão, permitem o acoplamento de diversos dispositivos, tais
como lanternas táticas, apontadores laser, lunetas de visada rápida, lunetas de visão
noturna ou lunetas de precisão, punhos táticos e lançador de granadas,
transformando os fuzis num verdadeiro sistema de armas.” (Manual do Usuário
IMBEL. Operação e Manutenção Fuzil de Assalto/Carabina 5.56 IA2)
Dessa maneira, como se pode observar no próprio Manual do Usuário do IA2, esse
material bélico de fabricação brasileira atende as necessidades contemporâneas da tecnologia
de armas para o Combate Moderno. Entender a evolução da arte da guerra e os novos
paradigmas é estar consciente do novo pensamento dos atores diferenciados da guerra e o
ideal de guerra, longe de uma zona de combate específica, como nas guerras das primeiras e
segundas gerações e como o poder de fogo e estratégia de combate das guerras da terceira
geração. Atualmente, com as teorias surgidas das guerras da quarta geração, e o mundo cada
vez mais tecnológico, um armamento de guerra necessita ser estratégico para essa nova guerra
– leve, dinâmico, letal, fácil manuseio, preciso e diverso em novos equipamentos.
Consequentemente, há a necessidade de força humana cada vez mais especializada, testada,
treinada para essa nova conjectura de guerra, tanto no lado “estratégico-bélico”, quanto no
lado “psicológico-bélico”. Por fim, para elucidar a evolução do IA2, diante dos novos
requisitos de armamento para a Guerra Moderna, nos parâmetros de tamanho, peso, calibre e
quantidade de tiro, deixamos o quadro comparativo (Tabela 1) de forma a evidenciar que,
para a guerra assimétrica, imbuída de variedade de tecnologia bélica, precisão de combate,
brigas por estratégias, pouco tempo de combate e zona de conflito não determinada, o Fuzil de
Assalto IA2 é um equipamento ideal para esse novo combate.

Tabela 1: Comparativo entre o IA2 e o FAL.

Fonte:
http://ebrevistas.eb.mil.br/AC/article/view/1053/1059.
Acessado em 28/06/2022
3. CONCLUSÃO
As Guerras foram essenciais para a história do mundo como a gente conhece hoje.
Todo processo evolutivo que nos deparamos, está intrinsecamente ligado à disposição das
nações para o conflito. Hoje, as grandes potências mundiais lutaram ora defendendo seu
território, ora expandindo sua noção de limite territorial. Ademais, quanto mais mergulhamos
na história dos Estados, como hoje as nações são conhecidas, deparamo-nos que, na evolução
das Guerras, mais entendemos que a defesa de um ideal centrasse na disposição das nações a
entrarem em guerra.
Outrossim, desde a Revolução Francesa, que instaurou o conflito por ideal, foi
possível teorizar as estratégias usadas em combate, determinando as Gerações para a guerra.
A partir disso, os pesquisadores da área dialogaram com as modificações do conflito, que os
permitiram traçar parâmetros que delimitaram a arte de fazer guerra e puderam coadunar com
a evolução dos equipamentos bélicos. Dessa forma, no processo de aprimoramento do
armamento bélico, o objetivo figura-se a atender as exigências da batalha desde a guerra da 1º
Geração até a guerra da 4º Geração. Nesse sentido, se nesta as armas precisam alinhar
tecnologia às capacidades humanas, aquela as armas precisavam atender apenas ao instinto
heroico dos mais bravo dos homens.
De outro lado, além das motivações para o conflito, identificamos que a forma
pragmática da guerra também evoluiu historicamente. Se, na 1º Geração a guerra se realizou
em zonas de combate delimitadas e entre Estados organizados, após a Revolução Francesa,
com as mudanças da ordem social das nações, a guerra passou a não mais diferenciar o civil
do militar, chegando até as zonas urbanas, como vimos na Segunda Guerra Mundial e isto
gerará mudanças para o tempo do combate, necessidade de precisão dos armamentos, poder
de fogo e estratégias de inteligência.
Com os avanços tecnológicos, a indústria bélica pôde desenvolver-se de forma a
atender as demandas da 4º Geração da Guerra, buscando armamentos capazes de atingir aos
novos parâmetros surgidos desse processo histórico do conflito armado. Com isso, o Exército
Brasileiro ingressou na corrida armamentista, mesmo que tardiamente, construindo o Fuzil de
Assalto IA2, que engloba todas as especificações observadas neste trabalho para o
Armamento do Combate Moderno.
Em suma, para onde a indústria armamentista irá se desenvolver, não sabemos,
suponhamos que, com o avançado caminho tecnológico que estamos vivendo e o advento do
mundo virtual, talvez essa será a tônica dos conflitos das próximas gerações.
4. REFERÊNCIAS
ARMAS BRASIL. Comblain. Disponível em:
<http://www.armasbrasil.com/SecXIX/declinio/ ArmasFogo/comblain.htm>. Acesso em: 28
de junho de 2022.

BARBOSA, CAP INF Fabrício Maximiano. CONDOP PARA LETALIDADE DAS


PEQUENAS FRAÇÕES: ESTUDO SOBRE EFICIÊNCIA DE CALIBRES E
ARMAMENTOS ATUALMENTE DISPONÍVEIS. In:
https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/2839/1/Tcc_Inf_Maximiano_Esao.pdf.
Acessado em 30 de junho de 2022.

BRASIL. Manual de Campanha C 17-20, FORÇAS-TAREFAS BLINDADAS, 2002.

COSTA, Darc. Visualizações da Guerra Assimétrica. Centro de Estudos Estratégicos.


Disponível em: http://www.esg.br/uploads/2009/03/darc7.pdf

CLAUSEWITZ, Carl Von. Da Guerra. São Paulo: Ed. WMF Martins Fontes, 2010.

FUZIL MAUSER NO BRASIL . In: http://www.cporpa.eb.mil.br/index.php/qrcode/623-qr-


code-1. Acessado em 28/06/2022

FUZIL 7,62 M964 - FAL FUZIL 7,62 M964A1 – PARAFAL. Manual do Usuário. In:
https://www.imbel.gov.br/phocadownload/produtos/manuais/fz-ca/manual-fz762m964.pdf.
Acessado em 28 de junho de 2022.

HOBSBAWM, Eric J. A era das revoluções: Europa 1789-1848. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1977;

IMBEL. Produtos. Fonte: Site Oficial da IMBEL:


<http://www.imbel.gov.br/index.php/produtos/fuzis>, acessado em 26 de junho de 2022
JOUVENEL, Bertrand de. As origens do Estado moderno – uma história das ideias
políticas do século XIX. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978;

KEEGAN, John. Uma História da guerra. São Paulo: Companhia das Letras, 1995;

LIANG, Qiao & XIANGSUI, Wang. “A Guerra além dos limites: conjecturas sobre a
guerra e a tática na era da globalização”. Beijing: Pla Literarute and Arts Publisnhing
House. Fevereiro 1999 - Disponível em:
https://www.egn.mar.mil.br/arquivos/cepe/GUERRAALEMLIMITES.pdf

LIND, William S., A face em mudança da guerra: na quarta geração. 1989. Disponível
em: http://www.mcamarines.org/files/The%20Changing%20Face%20of%20War%20-
%20Into%20the%20Fourth%20Generation.pdf

Mannlicher. Disponível em:


<http://www.armasbrasil.com/SecXIX/declinio/ArmasFogo/mannlicher.htm> Acesso em: 28
de junho de 2022.

MAGNOLI, Demétrio (org.). História das guerras. São Paulo: Contexto, 2006;

PAIVA, Luiz Eduardo Rocha. Guerras de Quarta Geração ou mais uma falácia travestida
de sapiência? In: JOBIM, Nelson; ETCHEGOYEN, Sérgio e ALSINA, João Paulo.

QUEIROZ, C. Sistema de Armas IMBEL IA2. FORÇAS TERRESTRES, 127-138, 2015.

TOLSTOI, Liev. Guerra e paz. Belo Horizonte: Itatiaia Editora, 2008;

Você também pode gostar