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Concreto Com Fibras de Aco
Concreto Com Fibras de Aco
ISSN 0103-9830
BT/PCC/260
Conselho Editorial
Prof. Dr. Alex Abiko
Prof. Dr. Francisco Cardoso
Prof. Dr. João da Rocha Lima Jr.
Prof. Dr. Orestes Marraccini Gonçalves
Prof. Dr. Antônio Domingues de Figueiredo
Prof. Dr. Cheng Liang Yee
Coordenador Técnico
Prof. Dr. Alex Abiko
FICHA CATALOGRÁFICA
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
1.1. As fibras de aço
1.2. A matriz de concreto
2. O COMPOSITO E A INTERAÇÃO FIBRA-MATRIZ
2.1. Considerações gerais
2.2. Volume crítico de fibras
2.3. Comprimento crítico
2.4. Considerações práticas
3. O CONTROLE DO CONCRETO COM FIBRAS
3.1. Tenacidade
3.1.1. O controle da tenacidade em prismas
3.1.2. Sistema de medida da deflexão
3.1.3. Ensaios em placas
3.2. Trabalhabilidade e mistura
3.3. Resistência à compressão
3.4. Fadiga
3.5. Durabilidade
3.6. Resistência ao impacto
3.7. Outras propriedades e características
4. DOSAGEM DO CONCRETO COM FIBRAS
4.1. Estudo experimental
5. APLICAÇÕES
5.1. Concreto para pavimentos
5.2. Concreto projetado para túneis
5.3.Outras aplicações
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
RESUMO
Os materiais compósitos vêm sendo utilizados na construção civil desde a antiguidade. Mais
recentemente surgiram novos possibilidades tecnológicas, como os concretos reforçados com
fibras de aço. A adição de fibras de aço aos concretos minimiza o comportamento frágil
característico do concreto. O concreto passa a ser um material pseudo-dúctil, ou seja,
continua apresentando uma resistência residual a esforços nele aplicados mesmo após sua
fissuração. A alteração do comportamento é função das características das fibras e da
matriz de concreto e da sua interação. com isto o material passa a ter exigências específicas
para seu controle da qualidade, dosagem e mesmo aplicação, diferentes do concreto
convencional. Ao mesmo tempo, as possibilidades de aplicação do material são ampliadas. Para
algumas aplicações o concreto reforçado com fibras apresenta vantagens tecnológicas e
econômicas em relação ao convencional, como é o caso do revestimento de túneis e outras
aplicações do concreto projetado, dos pavimentos, dos pré-moldados e outras.
ABSTRACT
The composite materials have been used in civil construction since ancient times. Recently,
technological developments were achieved for this kind of materials, such as steel fiber
reinforced concrete. The use of steel fibers to strengthen concrete provide to this
composite a less brittle behavior. The concrete, with fibers, became a non-brittle material.
In other words, the concrete with steel fibers has a residual strength in the post-crack
performance, which depends on the fibers and matrix characteristics, and their interaction.
So, the steel fiber reinforced concrete has specific requirements for quality control, mix
design and applications, and these requirements are different from those related to plain
concrete. On the other hand, the more ductile behavior of steel fiber reinforced concrete
enlarges the possibilities of application. In some of them, the use of steel fiber reinforced
concretes will bring some technological and economical advantages, when compared with plain
concrete. Examples of these applications are tunnel linings and others shotcrete applications,
pavements, pre-cast concrete, and others.
1. INTRODUÇÃ0
Compósitos são materiais de construção civil cuja utilização já ocorria no Antigo Egito, como
nos reportam as Sagradas Escrituras. "Naquele mesmo dia o Faraó deu está ordem aos
inspetores do povo e aos capatazes: não continueis a fornecer palha ao povo, como antes, para
o fabrico dos tijolos" (Êxodo 5, -7).
Como o próprio nome já diz, os compósitos são materiais compostos basicamente por duas
fases: a matriz e as fibras. As fibras podem atuar como um reforço da matriz em função das
propriedades desta e das próprias fibras.
Em ambos os casos citados existe uma grande compatibilidade entre a fibra e a matriz,
podendo se esperar uma durabilidade satisfatória do conjunto. Isto não acontece com a
utilização de fibras de vidro em matrizes cimentícias. Neste caso ocorre a natural
deterioração da fibra por parte dos álcalis do cimento, o que demanda a utilização de uma
fibra especial, resistente a álcalis.
Além destas fibras também são aplicadas as de base orgânica que podem ser sintéticas e de
origem vegetal, como a já citada palha. São fibras de sisal, casca de coco, celulose, etc.
normalmente empregadas na produção de componentes como tijolos, telhas e cochos. Estas
fibras também apresentam o problema de garantia de durabilidade satisfatória quando
aplicadas em meios alcalinos, como é o caso das matrizes de base de cimento. No entanto,
podem representar uma alternativa muito interessante para a construção no meio rural ou até
de habitações populares onde as exigências de desempenho não são muito elevadas.
As fibras sintéticas como as de polipropileno e nylon vêm aparecendo até como uma
alternativa às fibras de amianto no reforço de matrizes de base cimentícia (HANNANT;
HUGHES, 198). Tal opção se deve mais aos problemas de saúde ligados ao manuseio do
amianto, reconhecidamente responsável pela asbestose, do que pelo desempenho
propriamente dito, uma vez que o amianto proporciona um maior ganho de desempenho quanto
a reforço mecânico do que as fibras orgânicas, sejam sintéticas ou vegetais, dada a excessiva
flexibilidade destas últimas. Nestes casos, a principal contribuição da fibra é transformar
matrizes tipicamente frágeis em materiais "quase dúcteis", como definiram BENTUR e
MINDESS (1990). Isto traz como vantagem. Um ganho de desempenho no que se refere a
esforços como impacto e redução da fissuração do material.
Um compósito que tem tido um aumento no volume de aplicação, inclusive no Brasil, são as
argamassas e concretos reforçado com fibras sintéticas (polipropileno e nylon). O Brasil já
conta com representantes comerciais e fabricantes destas fibras produzidas com o objetivo
de serem aplicadas como reforço secundário do concreto. Um ganho apreciável de
desempenho quanto ao controle de fissuração por retração plástica foi observado para
argamassas de reparo (FIGUEIREDO, 1998), onde o baixo módulo de elasticidade das fibras
é suficiente para inibir a propagação das fissuras. Quando o módulo de elasticidade da matriz
é maior as fibras de polipropileno tendem a apresentar uma limitadíssima capacidade de
reforço, como observaram. ARMELIN e HAMASSAKI (1990), ou mesmo ter questionado o
seu papel de controlador de fissuração originada por deformação plástica (TANESI, 1999).
Isto se deve ao fato dos cimentos atuais, em conjunto com os aditivos aceleradores de pega e
redutores de água, propiciarem um elevado ganho de resistência inicial e, em paralelo, do
módulo de elasticidade. com isto, as fibras de baixo módulo só têm possibilidade de atuar
como reforço num curto espaço de tempo após o lançamento, onde a cura bem feita já
garante os bons resultados. Para se entender melhor este aspecto deve ser observado o
gráfico da Figura 1.1, na qual se representa o trabalho de uma matriz hipotética reforçada
com dois tipos de fibras, uma de módulo de elasticidade alto e outra de módulo baixo, sendo
todas de comportamento elástico perfeito. A curva de tensão por deformação da matriz está
representada pela linha O-A, enquanto as linhas O-B e O-C representam o trabalho elástico
das fibras de alto e baixo módulo respectivamente. No momento em que a matriz se rompe
(ponto A) e transfere a tensão para a fibra de baixo módulo (ponto C) está apresenta uma
tensão muito baixa neste nível de deformação (σFIBRA de baixo módulo de elasticidade),
devendo ser deformada muito mais intensamente, até o ponto D, para garantir o mesmo nível
de tensão (σMATRIZ de módulo de elasticidade médio). Logo, a fibra de baixo módulo não
poderá oferecer uma capacidade de reforço após a fissuração da matriz para um dado
carregamento ou permitirá uma grande deformação do compósito com um consequente
elevado nível de fissuração (ponto D). Isto ocorreria supondo-se que a fibra de baixo módulo
tenha resistência mecânica suficiente para atingir o nível de tensão associado ao ponto
D(σMATRIZ de módulo de elasticidade médio). O que normalmente acontece é que fibras de
baixo módulo apresentam menor resistência mecânica, como pode ser observado pelos valores
apresentados na Tabela 1.1. Por outro lado, a fibra de alto módulo de elasticidade já
apresentará um elevado nível de tensão (σFIBRA de módulo de elasticidade alto) no momento da
ruptura da matriz, o que lhe permitirá atuar como um reforço já a partir do ponto B, caso sua
resistência não seja superada.
Figura 1.1: Diagrama de tensão por deformação elástica de matriz e fibras de alto e baixo
módulo de elasticidade trabalhando em conjunto.
As fibras de polipropileno, nylon e polietileno podem ser classificadas como fibras de baixo
módulo, o que restringe sua aplicação ao controle de fissuração quando as matrizes possuem
baixo módulo de elasticidade, como é o caso da retração plástica em argamassas. No entanto,
estás fibras podem vir a ser muito interessantes em aplicações onde o reforço da matriz não
é o principal objetivo. Neste caso se encontra, por exemplo, a proteção contra danos físicos
durante incêndios em túneis. Tal preocupação foi levantada após o acidente ocorrido no
Eurotúnel, onde um incêndio produziu o lascamento do revestimento de concreto devido à
tensão interna gerada pela pressão de vapor com total comprometimento do revestimento.
com a utilização de fibras de polipropileno evitou-se o problema pois, com o aumento da
temperatura, elas se fundiam produzindo um caminho livre para a saída do vapor de água
(RLE, 1997). Tal comportamento pode evitar a ruptura do revestimento pela pressão de vapor.
Muito deve ser estudado, ainda no sentido da obtenção de uma metodologia de dosagem e
controle das fibras de polipropileno no concreto para que seja possível um controle
satisfatório da fissuração. Isto ocorre por que não existem ainda métodos de ensaio
consensuais, sendo utilizada hoje uma grande variedade de anéis e placas com deformação
restringida, ora possibilitando o uso de agregados graúdos ora não, com diferentes níveis de
restrição e de condições de cura, etc. Tal fato origina uma grande variação nos resultados e
dificuldades na obtenção de correlações confiáveis com as condições práticas onde, mais uma
vez, a temperatura, a área superficial, o nível de ventilação, etc., têm uma fortíssima
influência e cuja parametrização nem sempre é facilitada (TANESI, 1999). Tais fatos não se
repetem para o caso das argamassas onde foram constatadas significativas reduções no
quadro geral de fissuração dada a ausência de agregados graúdos e menor módulo de
elasticidade do material. No estudo experimental desenvolvido por FIGUEIREDO (1998),
abordando argamassas de reparo, o controle da fissuração é fundamental. Isto ocorre
porque, se há a necessidade do reparo, o concreto já foi deteriorado, denotando a presença
de agentes agressivos, sendo as fissuras um caminho preferencial para o rápido ingresso dos
mesmos na estrutura.
Já as fibras de aço podem ser classificadas como fibras de alto módulo. Logo podem ser
consideradas como fibras destinadas ao reforço primário do concreto, ou seja, não se
destinam ao mero controle de fissuração. O Brasil já conta com fabricantes de fibras de aço
desenvolvidas especialmente para o reforço do concreto e a produção mensal dos mesmos já
ultrapassou a centena de toneladas. com isto, cresceu muito a importância econômica deste
material, o qual será objeto principal de analise neste trabalho. As vantagens do emprego do
concreto reforçado com fibras de aço são bem conhecidas do meio técnico internacional e
começam a ser nacionalmente. MINDESS (1995) chega a apontar a utilização de fibras no
concreto como de grande interesse tecnológico mesmo em estruturas convencionais de
concreto armado, onde, em conjunto com o concreto de elevado desempenho aumenta a
competitividade do material, quando comparado com outras tecnologias como a das estruturas
de aço por exemplo.
O foco deste texto é justamente o concreto reforçado com fibras de aço, principalmente no
que se refere aos aspectos tecnológicos.
As fibras de aço são elementos descontínuos produzidos com uma variada gama de formatos,
dimensões e mesmo de tipos de aço. Há três tipos mais comuns de fibras de aço disponíveis
no mercado brasileiro. O primeiro tipo a ser produzido foi a fibra de aço corrugada (Figura
1.2). Ela é produzida a partir do fio chato que sobra da produção da la de aço, tratando-se
portanto de uma sobra industrial. Este fio é cortado, no comprimento desejado, o qual varia
de 25mm, a 50mm, e conformado longitudinalmente para se obter o formato corrugado. Isto
tem por objetivo melhorar a aderência da fibra com a matriz. Tem como vantagens principais
o baixo custo e a pouca ou nenhuma interferência na consistência do concreto.
O segundo tipo de fibras de aço foi desenvolvido e posteriormente produzido com o objetivo
específico de atuar como reforço do concreto. Trata-se de uma fibra com ancoragem em
gancho e seção retangular (Figura 1.3) produzida a partir de chapas de aço que são cortadas
na largura da fibra e, concomitantemente, conformadas de modo, a se obter o formato
desejado da ancoragem em gancho.
O terceiro tipo de fibras de aço possui um formato similar ao do segundo com a diferença
básica na forma circular característica da seção transversal (Figura 1.4). Estás fibras são
produzidas a partir de fios trefilados progressivamente, até se chegar ao diâmetro desejado.
com isto, acabam por apresentar uma maior resistência mecânica (dado o seu encruamento), a
qual pode ser ainda maior quando da utilização de aços com maior teor de carbono.
Apresentam comprimentos variando de 25mm a 0mm e diâmetros de 0,5mm a 1,0mm.
FIGURA 1.4: Fibra de aço com ancoragem em gancho e seção circular solta (a) e em pentes
(b).
O concreto de cimento Portland já é, por si só, um compósito, formado por três fases
principais: a pasta de cimento, os agregados miúdos e os graúdos. Tem inúmeras vantagens
como, a capacidade de produzir estruturas com infinitas variações de forma. Também é capaz
de apresentar uma grande variação de suas propriedades em função do tipo de componentes
principais e de suas proporções, bem como de utilização ou não de uma grande variedade de
aditivos e adições. No entanto, o concreto, apresenta algumas limitações como o
comportamento de ruptura frágil e pequena capacidade de deformação, quando comparado
com outros materiais estruturais como o aço (MEHTA e MONTEIRO, 1994). Além disso, o
concreto apresenta resistência à tração bem inferior à resistência à compressão cuja relação
está, geralmente, em torno de 0,07 e 0,11. Este comportamento está associado às fissuras
que se formam ou já estão presentes no concreto, que prejudicam muito mais o material
quando solicitado à tração do que à compressão. De maneira muito simplificada, pode-se
entender este comportamento, típico dos materiais frágeis pelo modelo apresentado na
Figura 1.5. É bem intuitivo imaginar que dois cubos sobrepostos conseguem transferir tensão
pelo contato quando comprimidos, como ocorre quando se empilham caixas sobre as quais se
pretende apoiar alguma carga. Por outro lado, quando o conjunto é tracionado, como ocorre
quando desempilhamos as caixas, o conjunto não oferece resistência à separação, ou seja, tem
resistência à tração nula.
causando um aumento das tensões presentes nas extremidades das fissuras. Logo, a ruptura
na tração é causada por algumas fissuras que se unem e não por numerosas fissuras, como
ocorre quando o concreto é comprimido (MEHTA e MONTEIRO, 1994). Ligando-se este
conceito à teoria de GRIFFITH (1920) que associa a ruptura do material a uma energia de
superfície que deve ser formada, conclui-se que, por apresentar uma superfície total de
ruptura menor, o gasto energético associado à ruptura por tração no concreto é também
reduzido. Logo o trabalho de ponte de transferência de tensão que a fibra realiza através
das fissuras no concreto é um mecanismo muito interessante de aumento da energia
associada à ruptura do material e à restrição à propagação de fissuras conforme está
apresentado no próximo item.
No caso do concreto simples, apresentado na Figura 2.1, uma fissura irá representar uma
barreira à propagação de tensões, representada simplificadamente pelas linhas de tensão.
Este "desvio" irá implicar numa concentração de tensões na extremidade da fissura e, no caso
desta tensão superar a resistência da matriz, teremos a ruptura abrupta do material. Caso o
esforço seja cíclico, pode-se interpretar a ruptura por fadiga da mesma forma, ou seja, para
cada ciclo há uma pequena propagação das microfissuras e, consequentemente, um aumento
progressivo na concentração de tensões em sua extremidade até o momento da ruptura do
material. Assim, a partir do memento em que se abre a fissura no concreto ele rompe
abruptamente, caracterizando um comportamento tipicamente frágil. Ou seja, não se pode
contar com nenhuma capacidade resistente do concreto fissurado.
Quando se adicionam fibras ao concreto, este deixa de ter o caráter marcadamente frágil.
Isto ocorre pelo fato da fibra servir como ponte de transferência de tensões pelas fissuras,
minimizando a concentração de tensões nas extremidades das mesmas, conforme o ilustrado
na Figura 2.2. com isto tem-se uma grande redução da velocidade de propagação das fissuras
no concreto que passa a ter um comportamento pseudo-dúctil, ou seja, apresenta uma certa
capacidade portante pós-fissuração.
Com a utilização de fibras será assegurada uma menor fissuração do concreto (LI, 1992).
Este fato pode vir a recomendar sua utilização mesmo para concretos convencionalmente
armados (MINDESS, 1995). De qualquer forma, a dosagem da fibra deve estar em
conformidade com os requisitos de projeto, tanto específicos como gerais (ACI, 1988 e ACI,
1993). Deve-se ressaltar que o nível de tensão que a fibra consegue transferir pelas fissuras
depende de uma série de aspectos como o seu comprimento e o teor de fibras. Para melhor
entender estes aspectos deve-se introduzir o conceito de volume crítico de fibras que se
encontra melhor detalhado no próximo item.
A definição conceitual do volume crítico é a de que ele corresponde ao teor de fibras que
mantém a mesma capacidade portante para o compósito a partir da ruptura da matriz. Ou
seja, abaixo do volume crítico no momento em que haja a ruptura da matriz ocorre,
necessariamente uma queda na carga que o material tem capacidade de suportar. Acima do
volume crítico, o compósito continua aceitando níveis de carregamentos crescentes mesmo
após a ruptura da matriz. Este conceito se encontra ilustrado na Figura 2.3 onde se
encontram apresentadas curvas de carga por deflexão em prismas de concretos com fibras
rompidos à flexão. Existe um trecho elástico linear inicial correspondente ao estágio
pré-fissurado da matriz do compósito e outro, similar a um patamar de escoamento, onde, se
pode diferenciar o comportamento do concreto reforçado com teores abaixo, acima e igual ao
volume crítico.
FIGURA 2.3: Compósitos reforçados com fibras em teores abaixo (A), acima (B) e igual (C) ao
volume crítico de fibras durante o ensaio de tração na flexão.
A seguir será feita a dedução algébrica para determinação do volume crítico de fibras:
Definições iniciais:
Assim temos:
σc x Vc= σf x Vf + σm x Vm
σc x 1 = σf x Vf + σm x (1- Vfcrit)
Sabendo-se que:
Ec = Ef x Vf + Em x Vm = Ef x Vfcrit + Em x (1 – Vfcrit)
tem-se:
Temos como Vfcrit um valor da ordem de 0,31%. No entanto, este valor está associado a um
modelo de compósito apresentado por AVESTON, COOPER e KELLY (1971), onde as fibras
são continuas e perfeitamente alinhadas ao eixo de tensões principais.
Por está modelagem representada pela equação (5) chega-se a um teor de cerca de 0,4% em
volume para a fibra de aço e em torno de 0,8% para a fibra de polipropileno, o que não é
verificado nas condições práticas. Tal disparidade se deve ao fato das fibras normalmente
utilizadas serem descontinuas, ou seja, curtas e aleatoriamente distribuídas no concreto.
Assim, quando da ruptura da matriz, ocorrerá uma inclinação da fibra em relação à fissura
que não estará na posição ortogonal prevista pelo modelo de AVESTON, CUPPER e KELLY
(1971). Além disso, o comprimento de fibra que permanecerá embutido na. matriz e definirá a
carga de arrancamento que ela sustentará será, no máximo, igual é metade do seu
comprimento, caso a fissura. ocorra exatamente na metade do comprimento da fibra. Com
isto deve-se lançar mão de coeficientes de correção para o volume crítico que são função da
inclinação da fibra em relação à direção ortogonal à fissura e ao comprimento da fibra.
Obviamente este modelo não representa com precisão a realidade onde as fibras são
descontinuas e distribuídas randomicamente. Para corrigir estes desvios são normalmente
utilizados os chamados fatores de eficiência, que permitem uma maior aproximação do Vfcrit
teórico e aquele obtido experimentalmente.
TABELA 2.1: Valores para o fator de eficiência η1 majorador do volume crítico em função da
direção da fibra (HANNANT, 1978).
Orientação Valores de η1
cox KRENCHEL
1 direção 1 1
2 direções 0,333 0,375
3 direções 0,17 0,200
Este valor está associado ao volume de fibras empregado Vf. Desta forma a equação (1)
anteriormente apresentada ter a seguinte alteração:
σc = Ɛmu x Ef x η1 x Vfcrit + σmu x (1- η1 x Vfcrit) (6)
Assim temos que o Vfcrit corrigido em função da orientação da fibra corresponde ao Vfcrit sem
correção dividido pelo fator η1 . Isto corresponde a:
Vfcrit = (Ɛmu X Ec) / σfu x η1 (9)
Desta forma o valor determinado para Vfcrit de 0,31 % para compósitos de matriz de concreto
reforçado com fibras de aço passa a ser:
Vfcrit corrigido = Vfcrit/ η1 = 0,31/0,375 = 0,83
Adotou-se aqui o valor referente às fibras orientadas em duas direções, que é o normalmente
esperado para o concreto projetado, por exemplo.
O segundo fator de eficiência está associado à redução de desempenho provocada pelo fato
de se utilizar fibras descontinuas de comprimento reduzido. Este fator é determinado,
através do estabelecimento do comprimento crítico (1c). A definição do comprimento crítico
está baseada no modelo que descreve a transferência de tensão entre a matriz e a fibra
como aumentando linearmente dos extremos para o centro da fibra. Está tensão é máxima
quando a tensão a que está submetida a fibra se iguala à tensão de cisalhamento entre a fibra
e a matriz. Na Figura 2.4 se encontram apresentadas as situações possíveis de distribuição
de tensão na fibra em relação ao comprimento crítico, quais sejam: 1 = 1c, 1 > 1c e 1 < 1c, onde
1 = comprimento da fibra.
O comprimento crítico de unia fibra pode ser definido como aquele que, quando da ocorrência
de uma fissuração perpendicular à fibra e posicionada na regido média do seu comprimento
proporciona uma tensão no seu centro igual à sua tensão de ruptura. Quando a fibra tem um
comprimento, menor que o crítico, a carga de arrancamento proporcionada pelo comprimento
embutido na matriz não é suficiente para produzir unia tensão que supere a resistência da
fibra. Nesta situação, com o aumento da deformação e consequentemente da abertura da
fissura, a fibra que está atuando como ponte de transferência de tensões pela fissura será
arrancada do lado, que possuir menor comprimento embutido. Este é o caso normalmente
encontrado para as fibras de aço no concreto de baixa e moderada resistência. Quando se
tem um concreto de elevada resistência mecânica, melhora-se a condição de aderência entre
a fibra e a matriz e, nestes casos, é possível ultrapassar o valor do comprimento crítico
causando rupturas de algumas fibras.
Pode-se concluir, pela análise dos fatores de eficiência que, quanto mais direcionadas as
fibras estiverem em relação ao sentido da tensão principal de tração, melhor será o
desempenho do compósito. Como consequência prática, recomenda-se a utilização de fibras
cujo comprimento seja igual ou superior ao dobro da dimensão máxima característica do
agregado utilizado no concreto. Em outras palavras, deve haver unia compatibilidade
dimensional entre agregados e fibras de modo que estás interceptem com maior frequência a
fissura que ocorre no compósito (MAIDL, 1991). Está compatibilidade dimensional possibilita
a atuação da fibra como reforço do concreto e não como mero reforço da argamassa do
concreto. Isto é importante pelo fato da fratura se propagar preferencialmente na regido de
interface entre o agregado graúdo e a pasta para concretos de baixa e moderada resistência
mecânica. Assim, a fibra que deve atuar como ponte de transferência de tensões nas fissuras
deve ter um comprimento tal que facilite o seu correto posicionamento em relação à fissura,
ou seja, superior a duas vezes a dimensão máxima do agregado. Na Figura 2.5 se encontra
representado um concreto com compatibilidade dimensional entre agregado e fibra e na
Figura 2. outro onde isso não ocorre. Percebe-se que, quando não há está compatibilidade,
poucas fibras trabalham como ponte de transferência de tensões na fissura. Duas
A perda de eficiência da fibra inclinada em relação ao plano de ruptura pode ser ainda maior
para o conjunto caso a mesma não apresente ductilidade suficiente. Isto ocorre pelo elevado
nível de tensão de cisalhamento que a fibra é submetida nesta situação. Se ela não for capaz
de se deformar plasticamente, de modo a se alinhar ao esforço principal, acaba rompendo-se
por cisalhamento. Está situação é ilustrada na Figura 2.8.
FIGURA 2.5: Concreto reforçado com fibras onde há compatibilidade dimensional entre estás
e o agregado graúdo.
FIGURA 2.: Concreto reforçado com fibras onde não há compatibilidade dimensional entre
estás e o agregado graúdo.
FIGURA 2.8: Diferença de comportamento entre fibras dúcteis e frágeis quando inclinadas
em relação à superfície de ruptura.
3.1. Tenacidade
A definição da tenacidade pode gerar dúvidas. Alguns livros didáticos a definem como a área
total sob a curva tensão por deformação especifica (POLAKOWSKI e RIPLING, 19), o que
forneceria a energia absorvida por unidade de volume. Isto só seria aplicável
experimentalmente para o ensaio de tração direta do aço, por exemplo, onde a deformação
medida ocorre na mesma direção da tensão principal, sendo está facilmente determinada. No
caso dos concretos reforçados com fibras de aço é muito dificil realizar a determinação da
tensão após a fissuração da matriz. Para os compósitos, a definição mais aceita atualmente a
interpreta como a área sob a curva carga por deflexão (ACI, 1988; BENTUR e MINDESS,
1990; BALAGURU e SHAH, 1992), que representa o trabalho dissipado no material até um
certo nível de deflexão. Tal valor é o utilizado na avaliação dos compósitos e possui a
desvantagem básica de depender das dimensões do corpo-de-prova, bem como do sistema de
aplicação dos esforços.
Um dos métodos mais utilizados historicamente e que ainda vem servindo como referência
para o concreto é o ASTM C 10 18 (1994) proposto pela American Society for Testing and
Materials (ASTM), normalmente aplicado em conjunto com o método ASTM C78 (ASTM,
1984) para determinação da resistência à tração na flexão do concreto. Este ensaio é muito
similar, com relação à metodologia, ao ensaio prescrito pela Japan Society of Civil Engineers
(JSCE-SF4, 1984), alterando-se os critérios de medida do trabalho pós-fissuração do
concreto. Ambos são realizados em corpos-de-prova prismáticos carregados segundo quatro
cutelos. Além destes métodos existem os propostos pela EFNARC (European Federation of
Producers and Applicators of Specialist Products for Structures) (EFNARC, 199) que são
dois: um de punção de placas e outro de tração na flexão com, corpo-de-prova prismáticos, o
qual foi baseado no anteriormente proposto pelos noruegueses do NCA (Norwegian Concrete
Association) (ROBINS, 1995). Um resumo das características destes procedimentos se
encontra o apresentado na Tabela 3.1.
Os índices de tenacidade, obtidos pela norma ASTM C1018 (1994) e adotados pelas normas
espanholas (UNE 83-00, 1994 e UNE 83-07, 1994), correspondem à divisão do valor obtido
para a área total abaixo da curva carga por deflexão até um determinado nível de deflexão
pela área abaixo da mesma curva até o ponto de aparecimento da primeira fissura,
correlacionada ao trecho elástico. Os pontos de delimitação das áreas são definidos como
FIGURA 3.1: Curva carga por deflexão da norma ASTM C1018 (1994) tomando como
referência o material elasto-plástico ideal.
encontra apresentado na Figura 3.2. Em outras palavras, o material pode apresentar um baixo
desempenho quanto à resistência mecânica, e elevados valores para o índice de tenacidade.
A partir dos resultados obtidos para os índices de tenacidade (I5, I10, I20, I30), já
comentados anteriormente, é possível determinar as relações de tenacidade conforme o
apresentado pela norma ASTM C1018 (1994), conforme a equação (10).
100
R a ,b = * (I b − I a ) (10)
b−a
onde,
Ra,b = relação de tenacidade entre os índices com referência "a" e "b".
Ia e Ib = índices de tenacidade com referência "a" e "b".
100
R5.10 = * ( I 10 − I 5 ) = 20 * ( I 10 − I 5 )
10 − 5
Cálculo de R10.30:
100
R10.30 = * ( I 30 − I 10 ) = 25 * ( I 30 − I 10 )
30 − 10
100
R5.10 = * (10 − 5) = 20 * 5 = 100
10 − 5
100
R10.30 = * ( I 30 − I 10 ) = 5 * 30 − 10 = 100
30 − 10
Onde,
FT= fator de tenacidade na flexão (kgf/cm2 ou MPa)
Tb= tenacidade na flexão (kgf.cm ou J)
tb= deflexão equivalente a L/150 (cm ou mm)
b= largura do corpo-de-prova
h= altura do corpo-de-prova
L= vão do corpo-de-prova durante o ensaio
Todos estes índices vêm sendo criticados e não se conseguiu alcançar o consenso esperado.
Uma das críticas que é feita ao critério da JSCE-SF4 (1984) é o fato de não poder
diferenciar matrizes com diferenças grandes de módulo de elasticidade e comportamento
pós-fissuração que apresentem o mesmo nível de consumo de energia (MORGAN, MINDESS e
CHEN, 1995), respectivamente representados como os compósitos A e B da Figura 3.4. Em se
tratando especificamente do concreto, ou mesmo de uma outra matriz de propriedades
semelhantes, isto não se aplica, porque o trecho elástico, uma das principais origens do
problema, vai manter um comportamento razoavelmente uniforme. O maior problema é haver
uma combinação de fatores como o aumento da carga de pico e a diminuição concomitante da
energia absorvida no trecho pós-fissuração (compósitos A e C da Figura 3.4).
Uma outra limitação do critério JSCE-SF4 (1984) é o fato de se ter a avaliação do material
para uma única deformação, a qual proporciona uma elevada abertura de fissura (BANTHIA e
TROTTIER 1995a), distanciando as condições de avaliação do material da maioria das
condições de utilização do mesmo na estrutura. Além disso, o seu resultado, no que se refere,
à energia Tb, depende da geometria do corpo-de-prova (CHEN, MINDESS e MORGAN, 1994).
Para minimizar este aspecto lança-se mão de um artifício matemático, qual seja, calcular uma
tensão de tração na flexão através do modelo elástico. No entanto, após a fissuração da
matriz ocorre a formação de uma rótula que altera completamente a distribuição de tensões
ao longo da seção transversal do corpo de prova descaracterizando completamente o modelo
elástico. Tal comportamento está esquematicamente representado na Figura 3.5. Na verdade,
o valor de FT definido pela recomendação japonesa é uma simplificação relativamente
grosseira da realidade pois, a "resistência à tração na flexão" do compósito fissurado é dada
pela somatória de pequenas forças provenientes das fibras que trabalham como ponte de
transferência de tensão ao longo da fissura (Figura 3.5). Com isto, o modelo elástico proposto
pela JSCE-SF4 (1984) se distância ainda mais da realidade.
O critério JSCE-SF4 (1984) também é influenciado pela instabilidade pós-pico, apesar de sê-
lo numa intensidade bem menor que o critério da ASTM C1018 (1994) conforme o
FIGURA 3.6: Resultados individuais e curva média (Com maior espessura) obtida para uma
fibra com 3mm de comprimento incluindo a instabilidade pós-pico.
FIGURA 3.7: Curvas de carga por deflexão individuais e média (linha mais grossa) para a
fibra com 3mm de, comprimento, sem a região de instabilidade pós-pico.
Apesar de todas estas limitações, os índices da ASTM e JSCE continuam sendo utilizados
como parâmetros de avaliação dos concretos reforçados com fibras e, recentemente, foram
corroborados nas normas espanholas (UNE 83-00-94 e UNE 83-0794). Outros índices de
tenacidade vêm sendo propostos associados ao nível de desempenho apresentado pela fibra
após a ocorrência da, primeira fissura, como o adotado inicialmente pela Associação
Norueguesa do Concreto (Apud MORGAN, MINDESS e CHEN, 1995) (Tabela 3.2). Numa
concepção similar foi publicado pela EFNARC (199) um critério que define classes de
tenacidade associadas a tensão residual na flexão, conforme o apresentado, na Tabela 3.3 e
na Figura 3.8.
TABELA 3.2: Tensões residuais na flexão das classes recomendados pela Associação
Norueguesa do Concreto (Apud MORGAN, MINDESS e CHEN, 1995).
TABELA 3.3: Tensões residuais na flexão das classes recomendados pela EFNARC (199).
Até alguns índices alternativos vêm sendo propostos: BANTHIA e TROTTIER (1995a)
propõem um novo índice, o PCSm (resistência pós-pico a uma deflexão 'm'), o qual nada mais é
que o índice JSCE-SF4 (1984) que não utiliza a área relativa ao trecho pré-fissurado com a
possibilidade de ser calculado para diversos níveis de deflexões.
TABELA 3.4: Níveis de desempenho de tenacidade dados pela tensão residual na flexão
(MORGAN, MINDESS e CHEN 1995).
Como se pode observar, vários são os métodos de ensaio e maior ainda o número de critérios
para a determinação do índice de tenacidade através daqueles já normalizados ou mesmo
propostos. No entanto, os critérios propostos pela ASTM C1018 (1994) e JSCESF4 (1984)
são aqueles de maior aceitação por apresentarem a facilidade de serem determinados em
curvas de carga por deflexão originadas de um mesmo ensaio.
Cabe lembrar que, quando da adoção deste ensaio para o concreto projetado, o mesmo deve
ser realizado necessariamente em corpos-de-prova prismáticos obtidos através do corte de
placas moldadas, uma vez que o jateamento direto sobre os moldes distorceriam o resultado
pela oclusão da reflexão (FIGUEIREDO, 1997). Tal prática seria também recomendável para
concretos plásticos com fibras para evitar o chamado efeito de borda, que consiste no
alinhamento das fibras junto ao fundo e às laterais do corpo de prova. Com isto ocorre um
aumento induzido no desempenho do compósito dado o alinhamento das fibras à direção
principal de tensão durante a flexão. Como o corte dos corpos de prova encarece o custo de
controle, algumas normas recomendam a utilização de corpos de prova cujas menores
dimensões sejam, no mínimo, iguais ao triplo do comprimento da fibra (JSCE-SF4, 1984).
Para se garantir uma maior acuidade no levantamento da curva de carga por deflexão é
recomendável a utilização do controle eletrônico de deslocamento através de um transdutor
do tipo LVDT (Linear Voltage Diferential Transducer). O LVDT deve ser apoiado num suporte
denominado "yoke" (JSCE-SF4, 1984), o qual se encontra apresentado na Figura 3.10 e 3.11.
Tal sistema vem sendo apontado como aquele de maior confiabilidade (BANTHIA e
TROTTIER, 1995b), uma vez que a deflexão lida toma como referência o próprio
corpo-de-prova. A ASTM também adotou o sistema "yoke" para medida das deflexões a
partir de sua versão de 1994. Deve-se ressaltar que, caso seja adotado o apoio na base da
prensa, como mostra a Figura 3.12, sobre o LVDT incidirão também as deformações de cutelo
e do contato deste com o corpo-de-prova. Como alertou ARMELIN (1992) tais deformações
podem ser da mesma ordem de grandeza daquela obtida para a deformação de primeira
fissura. Além disso, haverá uma distorção na fase elástica até o ponto de aparecimento da
primeira fissura, devido à sobreposição das deformações dos cutelos. Na Figura 3.13 se
encontram apresentadas curvas obtidas pelos dois sistemas.
FIGURA 3.11: Sistema "yoke" montado em um corpo de prova para ensaio de tração na flexão
com deformação controlada.
FIGURA 3.13: Curvas obtidas com o uso de dois sistemas para a medição das deformações.
Apesar de todas as limitações, os ensaios prescritos pelas normas da ASTM C1018 (1994) e
recomendações da JSCE-SF4 (1984) são os mais largamente empregados e têm a vantagem
de poderem ser aplicados em conjunto. Com isto, pode-se medir os índices por ambos os
critérios e utilizá-los de maneira combinada. No caso dos índices de tenacidade obtidos
segundo a norma ASTM C1018 (1994) é fundamental a eliminação da região de instabilidade
pós-pico para se garantir a confiabilidade do resultado (FIGUEIREDO, 1997). Outra
possibilidade é a utilização de critérios mais modernos que levem em conta medidas da
tenacidade para vários níveis de deflexões, como do caso dos critérios da EFNARC (199). Da
qualquer forma, a adoção de um sistema de medição de deflexões como o "yoke" que elimine a
influência das deformações dos cutelos e do apoio destes no corpo-de-prova é imprescindível.
No entanto, os ensaios de tração na flexão em prismas têm todos uma grande limitação: não
possibilitam a avaliação comparativa de desempenho entre os concretos reforçados com
fibras e aqueles reforçados com telas metálicas. Para essa finalidade foram desenvolvidos os
ensaios em placas, os quais se encontram apresentados no próximo item.
O ensaio de punção de placas vem sendo sugerido na Europa recentemente como uma nova
forma de avaliação da tenacidade (ROBINS, 1995), logo o mesmo só se aplica para concretos
reforçados com fibras ou armadura convencional. Apesar de ter sido alvo de estudo a algum
tempo (VANDEWALLE, 1990), só recentemente passou à condição de recomendação
(EFNARC, 1996). O esquema de ensaio consiste no puncionamento de uma placa quadrada com
600mm de borda e 500mm de vão central, apoiada em seus quatro lados como apresentado na
Figura 3.14.
Este ensaio é o primeiro que vem sendo proposto para caracterização comparativa da
tenacidade dos compósitos de concreto reforçado com fibras de aço e tela metálica
(GOLAPARATNAM e GETTU, 1995). Além disso, ele traz a vantagem de uma "implementação
prática fácil para os resultados de tenacidade em certas aplicações como lajes sobre solo e
revestimento de túneis apontando um dobramento biaxial e outros efeitos estruturais"
(GOLAPARATNAM e GETTU, 1995). No entanto, o comportamento estrutural representado é
restrito, uma vez que a punção, no túnel, só ocorre no caso da utilização de tirantes e
chumbadores no revestimento primário, o que está normalmente associado aos túneis em
rocha, o que não é tão frequente para o caso do Brasil.
A comparação entre tela e fibra metálica surgiu devido a uma exigência natural de
comprovação de equivalência ou mesmo superioridade da nova tecnologia, para autoridades e
clientes, como apontou FRANZÉN (1992). Além disso, estes testes foram desenvolvidos e
executados no sentido de suprir a necessidade de conhecimento que possibilite a correta
especificação da fibra. “Uma possibilidade é realizar comparações simples e diretas entre um.
revestimento reforçado com telas com uma determinada posição e outro com fibras" e
calcular "o momento resistente teoricamente" (FRANZÉN, 1992). Com isto em vista, vários
foram os pesquisadores que realizaram ensaios comparativos entre tela e fibras, numa escala
o mais próxima possível da natural. O trabalho apresentado por MORGAN e MOWAT (1984)
foi um dos precursores e servem de referência para muitos autores (VANDEWALLE, 1990;
FRANZÉN, 1992; MELBYE, OPSAHL e HOLTMON, 1995).
Para assegurar uma boa precisão na leitura dos resultados de ensaio em níveis baixos de
deflexão, é recomendável a utilização de um método ligeiramente diferente do especificado
pela EFNARC (1996), estando as principais alterações descritas a seguir:
a) A deflexão é medida por um LVDT posicionado na parte inferior da placa e o seu suporte
se fixa na parte superior da alma do perfil de apoio da placa (Figura 3.15). A adoção deste
procedimento visou a diminuição ao máximo da parcela de deformação relativa ao suporte,
lida pelo equipamento.
c) O ensaio pode, ser realizado para vários níveis de deflexão (de 4 a 25mm) de modo, a se
correlacionar a mesma com a abertura média das fissuras da placa.
8197
Ep = ( D ) −1/ 3 , com r2=0,995 (12)
123
onde,
Ep = Energia absorvida durante o ensaio de punção (J) e
D = Deflexão medida no centro da placa puncionada.
de energia a ser absorvido pela placa para maiores deflexões. No exemplo da placa 189 a
energia absorvida pelo ensaio foi de 1669J enquanto a prevista pelo modelo foi de 1613J.
FIGURA 3.16: Curva de carga por deflexão obtida no ensaio de punção de placas.
FIGURA 3.17: Correlação entre os valores obtidos para a energia absorvida durante o ensaio
de punção e a deflexão.
Este ensaio apresenta a grande vantagem de ser o primeiro normalizado que, por ser
realizado numa escala maior que a dos corpos-de-prova prismáticos, permite avaliar
comparativamente o desempenho da fibra com outras formas de reforço, como a tela
metálica. Como a fibra vem a se apresentar como um substitutivo natural deste reforço em
túneis esta avaliação é bem interessante.
Alguns estudos têm sido desenvolvidos no sentido de se fornecer alternativas para sanar as
limitações do ensaio de, punção em placas quadradas como o proposto pela EFNARC (1996).
Como exemplo dessa tendência pode-se citar o trabalho desenvolvido por ALMEIDA (1999).
Sua proposta consiste na utilização de uma placa triangular com apoio descontínuo em cada
vértice e punção central conforme esquema apresentado na Figura 3.19. O autor aponta para
essa nova configuração de ensaio as seguintes vantagens quando comparada ao ensaio da placa
quadrada:
FIGURA 3.18: Resultados obtidos com ensaio de punção de placas reformadas com a fibra F2
da Tabela 3.2 em diversos teores e dois tipos de tela metálica.
da mistura. De maneira similar, fibras mais longas atuam na consistência do concreto. Tais
parâmetros podem ser representados em conjunto através do conceito do fator de forma que
consiste na relação entre o comprimento da fibra e o diâmetro da circunferência com área
equivalente à sua seção transversal. Assim, quanto maior for o fator de forma maior será o
impacto na trabalhabilidade do concreto. Por estas razões, aponta-se a adição da fibra como
um elemento redutor da trabalhabilidade dos concretos, podendo ocasionar prejuízos à sua
compactação e, consequentemente, à sua durabilidade e desempenho mecânico (BALAGURU e
SHAH, 1992) incluindo aí a própria tenacidade (BENTUR e MINDESS, 1990). No entanto,
estas informações precisam ser analisadas com mais profundidade a começar pelos métodos
de medida indireta da trabalhabilidade.
O American Concrete Institute (AC1 544.3R, 1993) recomenda três diferentes métodos para
a avaliação da trabalhabilidade do concreto com fibras. O primeiro e o mais simples é o
próprio abatimento do tronco de cone (NBR 7223), o qual pode não apresentar capacidade de
medida da consistência do, concreto quando o teor de fibras é elevado. O segundo método é o
que mede a fluidez do concreto com fibras submetido à vibração e forçado a descer por um
cone de abatimento invertido (ASTM C995-94), como mostra a Figura 3.20. Por último há a
indicação da utilização do VeBe (ACI Standard 211.3), apresentado na Figura 3.21, para a
determinação dos parâmetros de trabalhabilidade do concreto com fibras.
Num extenso estudo realizado por CECCATO (1998), foi demonstrado que o ensaio com o
cone invertido não é adequado para a avaliação da trabalhabilidade de concretos reforçados
com quaisquer teores de fibra, sejam altos ou baixos. Isto aconteceu por duas razões:
a) se o concreto é muito plástico acaba passando pela extremidade inferior aberta do cone
invalidando o ensaio e
b) se o concreto é muito coeso acaba por entupir a mesma extremidade inferior de modo a
impossibilitar a obtenção de qualquer resultado do ensaio.
alguns casos até 80 kg/m3 , (caso o fator de forma seja reduzido) o ensaio do abatimento do
tronco de cone mostrou-se adequado, para a medida da consistência de concretos reforçados
com fibras. O mesmo pesquisador comprovou experimentalmente a influência do teor da fibra
e do fator de forma na trabalhabilidade do material. Na Figura 3.22 se encontra apresentado
o gráfico obtido no ensaio VeBe de concretos reforçados com fibras de diferentes fatores
de forma e em vários teores. Nota-se claramente que à medida que se aumenta o teor de
fibras, aumenta-se o tempo de compactação dado pelo VeBe, devido à maior coesão do
material. Este aumento é tão mais intenso quanto maior for o fator de forma da fibra
utilizada.
Um outro problema que ocorre na prática dos pavimentos de concreto reforçado com fibras
de aço é o fato de algumas fibras surgirem na superfície produzindo pequenos pontos de
ferrugem. O critério adotado para se evitar esta ocorrência é basicamente estático uma vez
que as fibras oxidadas são incapazes de produzir a perfuração dos pneus. No entanto,
adotam-se abatimentos de tronco de cone relativamente elevados, ou seja, da ordem de
10cm. Isto pode gerar um outro risco para o concreto que é o da segregação da fibra
(CECCATO, 1998), cuja massa especifica é cerca de três vezes maior que a do concreto. Com
isto a fibra se afasta da superfície reduzindo o reforço nesta região e, consequentemente,
facilitando o aparecimento, de fissuras.
Outro problema associado à aplicação dos concretos com fibras é o aparecimento dos
chamados ouriços. Os ouriços são bolas formadas por fibras aglomeradas come, a
apresentada na Figura 3.23. No caso da incorporação destes ouriços no concreto, será
produzida uma redução do teor de fibra homogeneamente distribuído, como também um
ponto fraco (poroso ao extremo), no local onde o mesmo se alojar. No caso do concreto
projetado, se alguma proteção não foi providenciada, estes ouriços irão produzir
entupimentos de mangote, com sérios riscos à operação do processo. As causas da formação
dos ouriços estão invariavelmente associadas à mistura inadequada do material. E certo que
fibras de maior fator de forma irão produzir um maior risco de embolamentos. No entanto,
se a fibra é adicionada à betoneira de maneira descuidada, virando-se o saco ou caixa de
fibras de uma só vez por exemplo, o risco será muitas vezes maior. Por isso se recomenda
lançar a fibra em taxas controladas junto com os agregados, homogeneizando a mistura antes
do lançamento do cimento. uma alternativa, para minimizar este efeito é a utilização das
fibras coladas em pentes como as apresentadas na Figura 2.24. Quando os pentes são
misturados ao concreto, têm a sua cola dissolvida permitindo uma homogeneização facilitada
para o compósito.
FIGURA 3.23: Ouriço formado por FIGURA 3.24: Fibras coladas em pente.
Fibras de aço mal misturadas.
Uma alternativa para o esquema de ensaio proposto pela JSCE (JSCE-SF5, 1984b), foi o
utilizado por ZANGELMI Jr. (1999), o qual se encontra apresentado na Figura 3.26. Neste
caso, utilizaram-se três LVDTs ao invés de dois, e as deformações eram medidas tomando por
partida a altura total do corpo-de-prova. A adoção deste aparato foi justificada pelo fato de
se ter uma intensa fissuração do corpo-de-prova após atingir o pico de resistência. Com isto,
o apoio dos suportes dos LVDTs pode ser intensamente, prejudicado dificultando a leitura
das deformações na regido de trabalho pós-pico, a qual é deveras importante. Por outro lado,
um sistema como este apresenta grande dificuldade de caracterizar o comportamento
elástico do material antes da fissuração (como a determinação do módulo de elasticidade
longitudinal). Isto ocorre por se incluir deformações paralelas como acomodações do corpo de
prova junto aos pratos da prensa e aquela originada do estado não uniaxial característico da
região dos extremos do corpo de prova (ZANGELMI Jr., 1999). Este aparato fornece uma
evolução não linear do trecho pré-pico devido a estas deformações paralelas, o que levou
ZANGELMI Jr. (1999) a corrigir as curvas a partir da eliminação do trecho não linear inicial e
o deslocamento da curva para que a origem da mesma coincida com o ponto de encontro dos
eixos ordenados.
Da mesma forma que a tenacidade medida no ensaio de tração na flexão, a tenacidade medida
na compressão e o controle da fissuração apresentará um ganho quando da utilização de um
teor maior de fibras, ou mesmo fibras com maior fator de forma. Em seu estudo
experimental ZANGELMI Jr. (1999), não encontrou variações significativas nas
características elásticas e mesmo os valores de resistência do concreto quando do aumento
do teor de fibras.
3.4. Fadiga
A fadiga é a ruptura de um material por esforço cíclico, que ocorre num nível de tensão
inferior ao determinada durante o ensaio estático. Isto ocorre no concreto devido à
propagação das microfissuras existentes no material. À cada ciclo de carregamento as
fissuras tendem a se propagar diminuindo a área útil para transferência de tensão. Quanto
mais próxima a carga cíclica estiver da correspondente à resistência do material, menor será
o número de ciclos necessários para se atingir a ruptura do mesmo. Conforme o apresentado
no item 2.1, as fibras, atuando como ponte de transferência de tensão pelas fissuras reduzem
a propagação das mesmas possibilitando, o trabalho da estrutura de concreto por um maior
número de ciclos ou mesmo com um maior nível de tensão para a mesma vida útil.
Deve-se ressaltar que, com a utilização de fibras de aço, mesmo quando o concreto está
fissurado, continua apresentado capacidade portante, dado o seu comportamento
pseudo-dúctil, inclusive quanto a esforços cíclicos. Num estudo experimental com corpos de
prova pré-fissurados de concretos reforçados com fibras de aço com ancoragem em gancho,
com fator de forma igual a 60, num teor de 2% em volume, o mesmo suportou mais de 2,7 x
106 ciclos de tensões variando de 10% a 70% da resistência estática (NAAMAN e
HAMMOND, 1998). A restrição à propagação da fissura não está condicionada à utilização de
elevados teores de fibras como este. Mesmo pequenas quantidades de fibras representam um
ganho com relação à fadiga, como demonstraram LI e MATSUMOTO (1998) em seu estudo
teórico-experimental. Tal resultado é extremamente promissor para utilizações de concretos
reforçados com fibras de aço sujeitas a este tipo de esforço como é o caso dos pavimentos
rígidos.
3.5. Durabilidade
As dúvidas com relação à durabilidade do concreto reforçado com fibras de aço são
frequentes e, em grande parte, não estão tecnicamente embasadas. Isto se deve ao fato
natural de se observar fibras oxidadas na superfície de pavimentos e túneis, ou mesmo
No entanto, deve-se ressaltar o fato de que as fibras restringem a propagação das fissuras
no concreto. Como consequência direta da restrição à propagação das fissuras proporcionada
pelas fibras tem-se um aumento da resistência à entrada de agentes agressivos com
consequente aumento, da durabilidade da estrutura (CHANVILLARD, AITCIN e LUPIEN,
1989). Assim, é de se esperar que a estrutura apresente um desempenho superior com
relação é durabilidade com a utilização de fibras ao invés da armadura continua convencional.
Isto ocorre porque para que haja corrosão da armadura no concreto deve haver uma
diferença de potencial, a qual pode ser originada por diferenças de concentração iônica,
umidade, aeração, tensão no aço ou no concreto. HELENE (1986) aponta que a corrosão
localizada, apesar de intensa e perigosa, é originada quando os ânodos são de dimensões
reduzidas e estáveis, sendo portanto, rara no concreto armado. Tanto maior será a
dificuldade de se encontrar uma diferença de potencial numa armadura quanto menores
forem suas dimensões. Assim é o caso da fibra comparada com a armadura convencional com
barras continuas. Este fato, é confirmado, por pesquisas que induziram a um severo ataque o
concreto armado, com fibras. BENTUR e MINDESS (1990) relatam uma série de pesquisas
onde o desempenho do concreto reforçado com fibras foi superior ao convencional, seja com
ataques severos de cloretos, seja por efeito de congelamento. Mesmo com o concreto
fissurado a fibra apresenta uma capacidade resistente à corrosão, como, apontou o estudo
desenvolvido por CHANVILLARD, AITCIN e LUPIEN (1989), que não observou sinais de
corrosão e perda de seção transversal por este fenômeno quando a abertura de fissuras nos
pavimentos não ultrapassou 0,2mm.
Como aponta o ACI (1988), baseado numa série de pesquisas, a resistência aos esforços
dinâmicos como cargas explosivas, queda de massas, e cargas dinâmicas de compressão,
flexão e tração é de 3 a 10 vezes maior do que os valores obtidos para o concreto sem
reforço. Isto advém do fato de ser grande a quantidade de energia dissipada no concreto
com fibras. O acréscimo na dissipação de energia é proveniente da necessidade de se
arrancar a fibra da matriz para a ruptura do material. Todo o material dúctil apresenta maior
resistência ao impacto por proporcionar uma maior dissipação de energia pelas deformações
plásticas que é capaz de apresentar. De maneira semelhante, o material pseudo-dúctil
produzido pelo reforço de fibras de aço no concreto irá requerer um maior gasto energético
para a sua ruptura por esforço dinâmico.
Existem várias formas diferentes de ensaios para medir a resistência dos concretos
reforçados com fibras aos esforços dinâmicos. O mais simples destes métodos é o
preconizado pelo ACI (1989), o qual consiste na queda de uma massa sobre uma esfera de aço
que é apoiada sobre um determinado ponto fixo do corpo de prova. O ensaio é meramente
comparativo, isto é, possui um caráter qualitativo. Ele serve para avaliar o ganho de
desempenho que o concreto apresenta quando da adição de fibras de aço. O melhor
desempenho está associado ao material que exigir um maior número de quedas da massa para
se produzir uma primeira fissura e, subsequentemente, o colapso do material. O mesmo ACI
(1989) reconhece as limitações deste ensaio, incluindo, ai sua grande variabilidade, e
recomenda um outro ensaio instrumentado que permite a mensuração da tenacidade na
fratura, a dissipação de energia, a resistência última e sua respectiva deformação segundo
diferentes taxas de carregamento ou deformação. Para tal, o ACI (1989) prevê dois sistemas
básicos para o ensaio: a queda de uma massa guiada por duas colunas e o sistema de pêndulo
de Charpy. Em qualquer um dos casos deve ser providenciado um sistema eletrônico de
medida continua para deformação de modo a se obter as curvas de carga de impacto por
deformação. A resistência ao impacto e outros esforços dinâmicos são determinações
complexas, que exigem um cuidado especial de quem as executa.
A retração e a fluência são pouco afetadas pela adição de fibras. Ao menos é isto o que tem
apontado uma série de testes (ACI, 1988). Como estes fenômenos estão associados ao
movimento de fluidos dentro do concreto, a fibra representa pouca ou nenhuma restrição
quando o concreto permanece não fissurado. No entanto, quando a retração é restringida, as
fibras podem proporcionar um benefício no que se refere ao controle da fissuração. Em
testes utilizando anéis de COUTINHO (1954) alguns pesquisadores (ACI, 1988) mostraram
que as fibras contribuem para reduzir a quantidade de fissuras bem como sua abertura
média.
As fibras de aço têm um papel muito importante na definição do custo do concreto com elas
reforçadas. Mesmo com consumos regulares, abaixo do volume crítico, que já apresentam
grandes vantagens para a aplicação do material (SHAH, 1991), o custo por metro cúbico do
concreto pode dobrar. Assim, para se garantir a viabilidade econômica do CRFA, deve-se
lançar mão de metodologias de dosagem que otimizem o seu consumo, isto é, que definam o
mínimo consumo necessário para atender às exigências de desempenho. Cabe lembrar que a
viabilidade econômica do CRFA não está baseada única e exclusivamente no seu custo unitário,
mas na economia global que ele pode proporcionar.
foi 50 enquanto para 48MPa se obteve 35, ou seja, apenas 1,4 vezes menor. Tais resultados
levam a concluir que, para matrizes de maior resistência mecânica, deve-se lançar mão de
duas alternativas para se garantir o mesmo nível de desempenho quanto à tenacidade: ou se
utiliza um maior teor de fibras, ou se empregam fibras com elevado teor de carbono
(MORAES; CARNIO; PINTO Jr. 1998) para minimizar o efeito de ruptura das mesmas no
momento em que a matriz lhes transfere tensão. A escolha do maior ou menor teor de fibras
é a síntese da dosagem da fibra no concreto, enquanto a escolha da fibra deve seguir alguns
parâmetros, além da resistência da matriz e do seu próprio custo.
FIGURA 4.1: Curvas de dosagem segundo o critério ASTM C1018 para uma mesma fibra de
aço em concretos projetados via seca com diferentes níveis de resistência à compressão
(FIGUEIREDO, 1997)
A escolha da fibra deve levar em conta inicialmente a aplicação a que o concreto reforçado
com fibras se destina. Conforme já foi apontado no item 2.4, pode-se lançar mão de fibras
mais longas, caso o agregado empregado seja de maiores dimensões. No caso do concreto
projetado, há uma forte restrição com relação ao, comprimento da fibra, uma vez que o
concreto deverá passar por uma tubulação. O ACI (1984) recomenda que o comprimento da
fibra seja metade do diâmetro interno do mangote. Como os mangotes têm diâmetros
máximos da ordem de 63,5mm, o comprimento máximo da fibra seria da ordem de 32mm. No
entanto, para pequenas variações no diâmetro pode-se obter sensíveis alterações no
desempenho do material quanto à tenacidade por alterar o fator de forma (item 1.). No
gráfico apresentado na Figura 4.3. se encontra apresentado o resultado obtido, com os tipos
de fibras apresentados na Tabela 4. 1. e para uma matriz uniforme de concreto projetado de
resistência média em torno de 35MPa (FIGUEIREDO, 1997). A correlação de desempenho foi
obtida em função do número de fibras presentes na seção de ruptura. Percebe-se
nitidamente que fibras de menor fator de forma apresentam um maior desempenho para um
dado número de fibras presente na seção de ruptura. Isto ocorre devido à maior seção
transversal da fibra, o que proporciona uma maior área de, contato com a matriz e aumenta a
resistência ao, arrancamento individual. No entanto, como as fibras são dosadas não em
número mas em volume ou massa por metro cúbico de concreto, as fibras de menor fator de
forma estarão presentes em muito maior número na seção de ruptura, o que irá conferir um
maior desempenho global para um dado teor. Isto pode ser verificado, na figura 4.4. onde as
mesmas fibras têm seu respectivo, desempenho correlacionado com o consumo das mesmas.
FIGURA 4.2: Curvas de dosagem. segundo o critério JSCE-SF4 para uma mesma fibra de aço
em concretos projetados via seca com diferentes níveis de resistência à compressão
(FIGUEIREDO, 1997)
No caso dos concretos convencionais, o melhor desempenho pode ser obtido pelo aumento do
comprimento da fibra, conforme já foi apresentado no item 2.3. Um exemplo prático foi o
obtido por FIGUEIREDO, CECCATO e TORNERI (1997) que compararam o desempenho de
duas fibras de mesma seção transversal e comprimentos distintos. Uma fibra com 36mm de
comprimento e outra com 45mm, o que corresponde a fatores de forma de 33,6 e 42,0
respectivamente, uma vez que a seção transversal era retangular com 1,8mm por 0,5mm. As
duas fibras possuíam ancoragem em gancho. O concreto, possuía o traço de 1: 1,77:2,55:0,50
com um abatimento de 80±10mm. O consumo de fibras foi de 30 kg/m3 de concreto.
Realizou-se o ensaio com dez corpos de prova e determinou-se o fator de tenacidade segundo
o critério da recomendação BCE-SF4 (1984). As curvas médias obtidas no ensaio estão
apresentadas na Figura 4.5. Ressalte-se que a regido de instabilidade pós pico foi removida
no sentido de se verificar o desempenho do material sem essa interferência. Foi obtido um
valor de 1,53MPa para o fator de tenacidade da fibra curta e 2,4IMPa para a fibra longa, o
que corresponde a um ganho de desempenho de 57,5% no fator de tenacidade com 99% de
nível de confiança (FIGUEIREDO, CECCATO e TORNERI, 1997).
Uma das grandes vantagens da utilização de concretos com reforços de fibras em pequeno
volume (inferior a 1% em volume ou 80 kg/m3) é a sua pouca ou nenhuma influência nas
propriedades da matriz de concreto (FIGUEIREDO, 1997). A exceção fica por conta do
abatimento, sem no entanto interferir nas condições de compactação (CECCATO, NUNES e
FIGUEIREDO, 1997). Assim, a dosagem da fibra para uma dada matriz de concreto pode
ocorrer independentemente da dosagem da mesma, tendo por objetivo apenas alcançar o nível
de desempenho esperado quanto à tenacidade, sua principal preocupação. As únicas diretrizes
práticas para a matriz é a compatibilização do tamanho do agregado graúdo com o
comprimento da fibra e as demais considerações práticas descritas no item 2.4. Além disso, é
recomendável a utilização de, um teor de argamassa mínimo da ordem de 50% em conjunto
com certos limites máximos para a relação água/cimento e para a relação água/materiais
secos da ordem de a/c=0,55 e de H=11,5%, respectivamente (FIGUEIREDO, 1997). Isto é
automaticamente atendido, para o caso do concreto projetado (FIGUEIREDO, 1999) mas
pode exigir alguns ajustes para os concretos plásticos.
FIGURA 4.4: Fator de tenacidade em função do consumo de fibra por metro cúbico de
concreto projetado (FIGUEIREDO, 1997).
FIGURA 4.5: comparação de desempenho entre a uma fibra curta à (36mm) e a fibra longa
(45mm) segundo FIGUEIREDO, CECCATO e TORNERI (1997).
Assim, uma metodologia de dosagem do concreto com fibras deve levar em conta, além do
tipo de fibra a ser utilizada, as propriedades da matriz de concreto, a qual deve ser dosada
de modo a atender as exigências de desempenho quanto à trabalhabilidade, resistência à
compressão, resistência à tração na flexão, etc. (HELENE e TERZIAN, 1992). Esta
proposição é ilustrada pelo estudo experimental apresentado a seguir.
de resistência à compressão (20 MPa, 30 MPa, and 40 MPa) foram, adotados e os respectivos
traços, bem como a notação adotada, se encontram, apresentados na Tabela 4.2.
Tabela 4.3: Valores médios e desvio padrão das resistências e tenacidade obtidas no
programa experimental.
Figura 4.6: Curvas de carga por deflexão individuais e média para o concreto F20-40.
Figura 4.7: Curvas médias obtidas para os concretos com fck = 20 MPa.
Figura 4.8: Correlação entre resistência à compressão e resistência à tração na flexão para o
CRFA.
A
FT = −1 / 2 (13)
B ( 0,1*CF )
onde,
FT = Fator de tenacidade calculado, segundo a norma JSCE-SF4 (MPa).
A e B = Constantes, e
CF = Consumo de fibra (kg/m3)
9,77
FT = −1 / 2 (16)
11,03( 0,1*CF )
Coeficiente de determinação r2 = 0,979
Estas correlações se encontram apresentadas na Figura 4.9 onde a não linearidade das
mesmas é clara. Este ganho não linearmente proporcional de tenacidade com o aumento do
teor de fibra é explicado pelo modelo proposto por ARMELIN e BANTHIA (1997). Neste
modelo, quando maior for o teor de fibra, maior será a deformação plástica da regido
comprimida sobre a fissura que surge na parte superior do corpo de prova. Assim, a energia
dissipada nesta deformação plástica representa uma perda no desempenho do conjunto com
relação à tenacidade.
Como apresentado na Figura 4.9, pode-se observar um aumento no desempenho com relação à
tenacidade à medida que se teve um incremento na resistência mecânica da matriz. Isto pode
ser justificado neste caso pela melhora na aderência entre fibra e matriz proporcionada pela
maior qualidade da última o que aumenta a resistência ao arrancamento da fibra (BENTUR e
MINDESS, 1990). Esta constatação não é sempre encontrada para o CRFA, uma vez que, para
fibras longas e concretos de elevada resistência, a carga necessária para o arrancamento da
fibra é tão grande que pode levar à ruptura de algumas das mesmas, reduzindo o desempenho
pós-fissuração. Tal fato levou alguns fabricantes a produzir fibras de aço com alto teor de
carbono e, consequentemente, elevada resistência mecânica destinadas ao reforço de
concretos de elevada resistência, com desempenho nitidamente superior em relação às fibras
convencionais, principalmente quando possuem maiores comprimentos e utilizadas em baixos
teores (MORAES; CARNIO; PINTO Jr., 1998). Nestes casos, as fibras que ficam inclinadas
em relação ao plano de ruptura acabam tendo uma maior probabilidade de serem rompidas por
cisalhamento.
Figura 4.9: Correlações obtidas entre o fator de tenacidade e o teor de fibras para as
diferentes matrizes de concreto.
Por este estudo, experimental pode-se concluir que não é possível dosar a fibra de aço
independentemente das características da matriz de concreto. O modelo exponencial
apresentado por FIGUEIREDO (1997), apresentou-se como um interessante instrumento
5. APLICACÕES
a) Não existe a etapa de colocação das telas metálicas, o que reduz o tempo total de
execução da obra e o número de operários necessários para a execução dessa etapa da
execução do pavimento.
b) Há também uma economia de espaço na obra, uma vez que não é necessário estocar a
armadura.
c) As fibras não requerem o uso de espaçadores como as telas metálicas e, no caso de se
utilizar um concreto com consistência adequada e sem excesso de vibração, garantem o
reforço de toda a espessura de concreto do pavimento. Isto nem sempre ocorre com o uso
de telas metálicas, que podem ser deslocadas com a passagem de carrinhos de mão
deixando a parte superior da placa sem reforço.
d) As fibras também permitem o corte das juntas de dilatação sem a necessidade de barras
de transferência pré-instaladas. Além disso, as fibras reforçam as bordas das juntas
minimizando o efeito de lascamento nessas regiões.
e) Existe uma maior facilidade de acesso ao local da concretagem, podendo-se, em alguns
casos, atingir o local de lançamento do concreto com o próprio caminhão betoneira, o que é
quase sempre impossível quando da utilização de telas metálicas que impedem o livre
trânsito de pessoas e equipamentos após a sua instalação.
f) Não representam restrição quanto à mecanização da execução do pavimento.
No entanto, nem tudo é vantagem no uso das fibras. Como toda tecnologia o concreto
reforçado com fibras possui suas limitações e até desvantagens. Se por um lado a fibra
minimiza o quadro geral de fissuração do pavimento, isto, contribui para o aumento do risco
de empenamento do pavimento por retração diferencial (ALVAREDO, 1994). Portanto, a
observação dos cuidados relativos à cura é fundamental. Mesmo após a realização do correto
acabamento superficial do pavimento, algumas fibras ficam na superfície do concreto. Estas
fibras estarão particularmente susceptíveis à corrosão o que irá provocar o aparecimento de
um certo número de pontos de ferrugem no mesmo prejudicando, de certa forma, o aspecto
estético do mesmo.
São Paulo se caracteriza por ser uma das maiores concentrações mundiais com uma população
em torno de 15 milhões. Por esta razão, qualquer novo empreendimento da área de
transporte, onde a cidade apresenta problemas crônicos, irá implicar num grande custo em
termos de desapropriações. Este fato faz do Metrô e dos túneis rodoviários urbanos
alternativas economicamente viáveis, passíveis de construção.
Grandes somas vem sendo gastas recentemente em tentativas de melhoria das condições de
trânsito em São Paulo com a construção de túneis (CASARIN, 1996), sendo na sua grande
maioria pelo método NATM (New Austrian Tunnelling Method) onde o concreto projetado é
um elemento fundamental (CELESTINO, 1991 e ATTEWELL, 1995). Atualmente, a demanda
de novos túneis, notadamente para novas linhas do Metrô, são estimadas em dezenas de
quilômetros. Além das obras urbanas se destacam as rodoviárias, quer sejam federais ou
estaduais, como foi a Rodovia dos Imigrantes, onde o concreto projetado teve sua primeira
grande aplicação (FIASCO NETO, 1976). Tais obras se constituem num mercado promissor
para empresas de projeto, construção e controle de grandes obras.
a) A escavação - Quando a execução dos túneis ocorre em solos, o que é frequente no Brasil,
não se utiliza o corte da frente por meio de explosivos, mas se exige um elevado
desempenho do concreto com relação ao desenvolvimento resistências iniciais. O avanço
médio por ciclo de escavação dificilmente ultrapassa um metro e exige uma grande
velocidade de aplicação do revestimento.
b) Locação das cambotas - O uso de perfis calandrados ou pesadas treliças é creditado à
necessidade de suporte imediato e o mesmo acaba atuando como gabarito para a
execução do túnel. No entanto, pelas dificuldades de escavação, ela não permanece em
contato direto com o solo, não sendo carregada até o momento em que o concreto
projetado é aplicado e passe a ganhar resistência mecânica e permitir a transferência
de tensões na interação solo/estrutura.
Este método foi desenvolvido graças às concepções estabelecidas por RABCEWICZ (1964a,
1964b, 1965), e sua principal característica é de aproveitar à capacidade portante do maciço.
Permitindo um certo nível de deslocamento ao maciço, o nível de carregamento a que estará
submetido o revestimento será menor que o originalmente existente na região de escavação.
Na Figura 5.1. se encontra apresentada uma curva típica com diferentes níveis de reação do
suporte (MELBYE, 1994). O nível de tensão a que estará submetido o revestimento depende
da sua velocidade de ganho, de resistência e do momento em que o mesmo é aplicado. No caso
da utilização de um concreto simples, se houver ruptura do concreto pelo excesso de
deslocamento ou pelo elevado nível de carregamento, o túnel perde sua estabilidade. Quando
da utilização fibra, pode haver uma re-acomodação de esforços que levam o túnel a
estabilizar num nível de tensão mais baixo.
FIGURA 5.1: Diferentes tipos de reação do revestimento do túnel e sua interação com o
maciço.
Algumas das vantagens específicas do uso de fibras de aço no concreto projetado destinado,
à execução do revestimento de túneis estão listadas a seguir:
a) O concreto projetado reforçado com fibras de aço pode ser aplicado imediatamente após a
escavação. Assim, o risco de acidentes por desprendimento de parte do maciço, comum
em solos de argila dura fraturada como ocorre na região sul do município de São Paulo, é
reduzido.
b) A velocidade de execução do túnel é aumentada pela eliminação da fase de instalação da
cambota e tela metálica. No sistema tradicional, o ciclo completo de escavação de um
túnel de 50m de área de seção transversal demanda mais de quatro horas. Com a
utilização de fibras isto pode ser reduzido a cerca de três horas acelerando a execução
da estrutura e economizando em mão-de-obra. No entanto, este procedimento irá
acarretar uma maior exigência quanto à resistência inicial como demonstrou
CELESTINO (1996) e maiores riscos de ruptura do revestimento. Assim, um
revestimento primário em concreto projetado com fibras de aço que apresenta maior
capacidade de deformação para permitir a estabilização da estrutura num nível menor
de tensão, mostra-se compatível com as condições típicas de um túnel executado pelo
método NATM (figura 5.1).
c) Normalmente tem-se uma grande fissuração associada ao revestimento primário de
concreto projetado que deve acomodar as grandes deformações iniciais do maciço recém
escavado (ARMELIN et al. 1994), a qual deve ser reduzida com a utilização das fibras
que impedem a sua propagação (BENTUR e MINDESS, 1990).
d) A durabilidade do revestimento pode ser majorada com a utilização das fibras devido à
redução da fissuração, que é o caminho preferencial de entrada de agentes agressivos
no túnel, além do fato da fibra ser um elemento descontinuo e muito menos sujeito à
corrosão eletrolítica do que as barras continuas das telas ou cambotas.
e) Uma redução da reflexão pode ser conseguida com a eliminação da tela e,
consequentemente da sua vibração, além da eliminação de irregularidades, como as
cambotas.
A eliminação da cambota poderá trazer outras vantagens com a redução do consumo de aço
total e dos riscos de acidentes associados à sua locação.
5.3.Outras aplicações
No caso específico do concreto de alta resistência, onde a elevada resistência produz planos
de ruptura extremamente regulares por não contornarem os agregados, temos uma menor
área de superfície de fratura e, consequentemente, um material mais frágil (MEHTA e
MONTEIRO, 1994).
Em obras em que a estrutura está muito sujeita a esforços dinâmicos, como é o caso das
estruturas construídas em regiões sujeitas a abalos sísmicos ou mesmo sujeitas à fadiga por
esforço cíclico é viável a utilização de concretos reforçados com fibras para se minimizar o
dano causado por estes esforços e minimizar a fissuração da estrutura. Isto garante uma
maior vida útil para o material da estrutura, conforme o verificado em estudos experimentais
em vigas de ligação para paredes gêmeas sujeitas a esforços cortantes (WIGHT e ERKI,
1995).
A indústria de pré-moldados é outro grande campo de aplicação dos concretos com fibras
devido à maior velocidade de produção que sou uso proporciona. Isto advém do fato de
eliminar a demorada fase de instalação da armadura nas fôrmas previamente ao lançamento
do concreto.
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