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Propriedades dos materiais e a relação com a dimensão

e a geometria das suas estruturas: uma questão


interdisciplinar

Paulo Henrique Camani1


Camila Petrucci dos Santos Rosa2
Rubens Pantano Filho3
Derval dos Santos Rosa4

Atualmente, o debate sobre interdisciplinaridade tem ocupado


amplo espaço no âmbito das pesquisas científicas. Com a chamada pós-
modernidade, em que se apresentam questões que envolvem investigações
cada vez mais complexas, criou-se a necessidade de olhares a partir das
diversas áreas do conhecimento. Essa problematização vem sendo
colocada pela necessidade de discutir as formas como os novos saberes
deverão ser produzidos.
No panorama histórico, construído desde o século XVI, observa-
se uma tendência de considerar os conhecimentos em divisões
especializadas na forma de áreas e/ou disciplinas científicas específicas.
Não obstante a relevância dessa possibilidade, quando pensamos nos
objetos de estudos verificamos que a amplitude das investigações não é de
todo adequada quando optamos por essa senda, ou seja, carece-se de um
trabalho interdisciplinar que busque relacionar e conectar os saberes
“construídos”. Sob uma perspectiva interdisciplinar, passamos a
reconhecer que os problemas, os fenômenos e os objetos de estudo
atravessam essas separações por nós convencionadas entre as disciplinas
e/ou áreas científicas (RAYNAUT, 2011; RAYNAUT e ZANONI, 2011;
SANTOS, 1988).

1
Doutorando em Nanociências e Materiais Avançados. E-mail:
paulocamani.vagalume@gmail.com
2
Mestranda em Educação. Docente na Rede Pública Municipal de Campinas, SP.
E-mail: cpetruccirosa@gmail.com
3
Doutor em Engenharia e Ciência dos Materiais. Docente no Instituto Federal São
Paulo – IFSP – campus Bragança Paulista. E-mail: rubenspantano@ifsp.edu.br
4
Doutor em Engenharia Química. Docente na Universidade Federal do ABC. E-
mail: dervalrosa@yahoo.com.br

1
Neste sentido, quando pensamos nos avanços da tecnologia e na
ciência dos materiais, não podemos desatrelar esses estudos dos
conhecimentos matemáticos, químicos, físicos, bem como deixar de
relacioná-los às ciências humanas. Além disso, também fica evidente, por
exemplo, o advento dos computadores, da ciência quântica e dos materiais
avançados, que envolvem problemas complexos e de abordagens
interdisciplinares. Pesquisadores como Contreiras (2015), Waghid (2019)
e outros apontam que estamos vivendo a “quarta revolução industrial”, que
advém de diversas tecnologias, tais como: inteligência artificial, robótica,
internet, veículos autônomos, impressão 3D, nanotecnologia,
biotecnologia, armazenamento de energia, computação quântica e ciência
de materiais (CONTREIRAS, 2015; KOTANI; IKEDA, 2016;
SIMFUKWE et al., 2017; KARSHENBOIM, 2018; WAGHID;
WAGHID; WAGHID, 2019).
Para que haja desenvolvimento científico-tecnológico, existe a
necessidade de atrelar o chamado mundo científico-teórico ao mundo
físico, ou seja, propiciar um sistema interativo entre o que vemos no mundo
concreto (visível aos olhos) e o que é considerado na ciência básica
(KOTANI; IKEDA, 2016). Sob uma perspectiva interdisciplinar,
ressaltamos que existem diferentes “instrumentos” que contribuem para a
compreensão do mundo físico, sendo que, dentre eles, destaca-se a
linguagem matemática. Essa é uma “ferramenta” teórico-científica
imprescindível para o avanço da ciência e que tem exercido papel
fundamental no desenvolvimento de diversas tecnologias.
Neste contexto, colocam-se então as seguintes perguntas: como
a ciência básica permeia os conhecimentos tecnológicos? De que forma a
ciência matemática está relacionada às demais ciências, em especial à de
materiais? Até que ponto a dimensão e a geometria dos materiais são
entendidos como relevantes na explicação de suas propriedades? Neste
cenário, propõe-se neste capítulo abordar algumas discussões relacionadas
ao questionamentos levantados.

As ferramentas matemáticas e o desenvolvimento de novos materiais


Desde a pré-história até os dias atuais, o desenvolvimento
científico-tecnológico atrelado às descobertas matemáticas propiciaram
inovações na área da ciência de materiais, possibilitando a geração de áreas
como metalurgia, ciência dos polímeros, física do estado sólido,
permeando os avanços na área de materiais cerâmicos e contribuindo na
descoberta de materiais semicondutores e compósitos (IKEDA; KOTANI,
2015). A matemática tem importante aplicabilidade no desenvolvimento

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de novos materiais, especialmente no que diz respeito ao emprego da
ciência da computação no dimensionamento de suas estruturas. Dessa
forma, entende-se que as ferramentas matemáticas permitem a
compreensão das variáveis que compõem esses estudos de uma forma mais
aprofundada.
Em um primeiro momento, destacamos o uso dessa ferramenta
nos cálculos estatísticos e de probabilidades. Ela tem sido utilizada em
diversos estudos, em especial no desenvolvimento de computadores
rápidos, considerados de alto desempenho (MOL; BULLYNCK, 2018;
SOUZA, 2019). Os programas computacionais utilizados nesses estudos
usufruem de cálculos matemáticos avançados e, assim, podem desenvolver
projetos na área da genômica de materiais, informática de materiais, como
por exemplo, na modelagem computacional (DONG et al., 2019;
YURYEVICH; ALEXANDROVNA, 2019).
O cálculo diferencial e integral, desenvolvido por Isaac Newton
e Gottfried Wilhelm Leibniz no século XVII, tornou-se uma das principais
ferramentas para proporcionar o entendimento e a previsão de fenômenos
físicos determinísticos (DEBNATH, 2004). Um exemplo da aplicabilidade
do cálculo diferencial e integral consiste na análise de formas de objetos,
no entendimento sobre movimentos (princípio da menor ação ou princípio
de Hamilton), bem como as aplicações na área de engenharia, como na
hidráulica (princípio de Torricelli), na otimização de sistemas de irrigação,
entre outros (HORWITZ & EBRAHIMPOUR, 2002; DEBNATH, 2004;
KOTANI; IKEDA, 2016).
Ainda no século XVII, Pierre de Fermat e Blaise Pascal
elucidaram o conceito de probabilidade, o que levou Andrey Kolmogorov,
anos mais tarde, a desdobrar estudos sobre a moderna teoria das
probabilidades, sendo esse um fator determinante para o desenvolvimento
das equações diferenciais estocásticas (IKEDA; KOTANI, 2015;
JAOUDE, 2017). As equações diferenciais estocásticas podem ser
utilizadas na descrição matemática do processo de difusão, tanto na
descrição de difusividade do calor como na difusividade de átomos em uma
microestrutura (GLICKSMAN; WANG; CRAWFORD, 2002; KOTANI;
IKEDA, 2016).
O processo de difusão pode ser compreendido empregando-se ao
mesmo tempo as equações diferenciais parciais e as equações diferenciais
estocásticas, sendo que, no processo, as equações são regidas por leis
temporais, referenciando o trajeto do fluxo difusivo (ALABERT, 2015;
IKEDA; KOTANI, 2015; KOTANI; IKEDA, 2016). Tendo em vista as
ferramentas matemáticas citadas, conseguimos ter um panorama que nos

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permite compreender de forma aprofundada cada uma das variáveis que
são relacionadas com os movimentos de partículas (átomos ou fônons),
indo de regiões de alta concentração para regiões de baixa concentração
(GLICKSMAN; WANG; CRAWFORD, 2002; ALABERT, 2015).

Formas de dimensionamento da escala atômica


Quando pensamos nas equações diferenciais e integrais, temos
que considerar que estas auxiliam, e muito, o desenvolvimento da
mecânica quântica (YIBIN, 2019). Nos dias atuais, apresentam-se em
constante ascensão, uma vez que ajudam a solucionar problemas
matemáticos que não se apresentavam no âmbito da mecânica clássica. É
importante pensar sobre os encontros e colaborações que acontecem nas
mecânicas - clássica e quântica -, em uma perspectiva interdisciplinar, pois
é analisando o conhecimento historicamente construído nessas duas frentes
que conseguimos entender os avanços na ciência de materiais.
A mecânica clássica, apoiada nas ferramentas matemáticas,
trouxe diferentes contribuições para o entendimento do mundo físico, suas
interações e variações. Ela parte do importante princípio de discutir o
mundo macroscópico e de colocar em questão aquilo que é visível aos
nossos olhos. Mesmo com isso, essa perspectiva clássica não atende às
perguntas ligadas às leis físicas que regem o mundo micro e nanoscópico.
Neste sentido, é a mecânica quântica que responde a essas questões,
apoiada também em alguns princípios da mecânica clássica. Um exemplo
desse encontro entre as mecânicas clássica e quântica é dado por autores
como Xin e colaboradores (2018), quando ressaltam a elaboração de um
algoritmo quântico que auxilia na resolução de equações diferenciais
lineares (XIN et al., 2018).
Ao pensar sobre esse contexto dentro da ciência de materiais,
devemos considerar que os conceitos da mecânica quântica vieram a
influenciar, sobretudo, o desenvolvimento de tecnologias para a
observação e controle de átomos e moléculas, atrelando assim o mundo
discreto (quântico) ao físico (real). Em outras palavras, promoveu também
a interação entre estes (IKEDA; KOTANI, 2015; KOTANI; IKEDA,
2016).
Com a ascensão do mundo cibernético, diferentes técnicas foram
desenvolvidas e favoreceram a ciência de materiais. O microscópio de
tunelamento, por exemplo, foi um importante instrumento criado e que está
embasado no fenômeno de tunelamento quântico (VOIGTLÄNDER,
2015). Além disso, outras técnicas microscópicas, como a microscopia de

4
força atômica (AFM), utilizam-se do efeito de tunelamento quântico para
analisar a morfologia de superfícies, alcançando a avaliação de estruturas
em micro e nanoescalas (IKEDA; KOTANI, 2015; VOIGTLÄNDER,
2015), como ilustrado na Figura 1.

Figura 1. Efeito de tunelamento quântico obtido por meio da


Microscopia de Força Atômica (AFM).

Fonte: Elaboração pelos autores a partir de Voigtländer (2015).

Na Figura 1 podemos observar o efeito da existência de uma


barreira (função de trabalho), que impede que os elétrons deixem o sólido
(ponta/cantilever) e passem pelo vácuo até atingirem o outro sólido
(amostra). Anteriormente, de acordo com a perspectiva da mecânica
clássica, esta análise não seria possível de ser feita, uma vez que, de acordo
com essa visão, as partículas não poderiam penetrar em uma barreira com
energia superior a sua própria. Entretanto, quando olhamos sob a
perspectiva da mecânica quântica, com contribuições teóricas
significativas, entendemos que nesse modelo as partículas podem sim
penetrar em uma região com essa característica, ou seja, uma barreira com
energia superior a sua própria. Isto pode ser descrito por meio da solução
da equação de Schrödinger (VOIGTLÄNDER, 2015).
Portanto, as ferramentas matemáticas utilizadas, com uso da
mecânica clássica e quântica, possibilitaram a compreensão e
aprofundamento do entendimento de propriedades que envolvem as

5
multiescalas dos materiais (macro, micro e nanoescala), como ilustrado na
Figura 2. Isso implica na compreensão de fenômenos que outrora não
apresentavam explicação, ou seja, com o desenvolvimento de ferramentas
que permitem análises nas menores escalas (micro e nano), consegue-se
hoje obter maior clareza na descrição desses fenômenos (IKEDA;
KOTANI, 2015; KOTANI; IKEDA, 2016).

Figura 2. Correlação entre as multiescalas de materiais (macro, micro e


nanoescala).

Fonte: Elaboração pelos autores.

Relação de propriedades e tamanho/geometria aplicadas à Ciência de


Materiais
Como discutido anteriormente, a nanociência compreende
fenômenos na nanoescala, para os quais os modelos físicos clássicos não
respaldam a compreensão (OTTO; DE VILLIERS, 2013). Tendo em vista
os sistemas nanoparticulados, várias características dos materiais podem
ser compreendidas, desde propriedades elétricas, como, por exemplo, os
nanotubos de carbono e o grafeno, que apresentam estruturas eletrônicas
do tipo band gap zero – o que justifica assim a extraordinária propriedade
de condução elétrica (SAHU; ROUT, 2017). Além disso, algumas
propriedades térmicas e ópticas de alguns materiais podem ser melhor
apreendidas, tal como sistemas de “drug delivery” (OTTO; DE
VILLIERS, 2013). Associado a essas propriedades, o desempenho
mecânico de sistemas de compósitos poliméricos (AKTAŞ; DILER, 2018;
KHAN; SAEED; KHAN, 2019) tem sido considerado essencial para
algumas aplicações.
Os nanomateriais possuem comportamentos diferentes daqueles
em micro ou macroescala. Os eventos que podem ser considerados
insignificantes em macroescala podem ser extremamente relevantes na
micro e nanoescala. Por exemplo, na microescala, a tensão superficial

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depende da gravidade e tamanho em relação a fenômenos de transporte
típicos resultantes do caminho livre médio. Porém, na nanoescala, este
conceito abrange o comportamento termodinâmico em relação à área
superficial da nanopartícula, causando mudanças no fenômeno da tensão
superficial (OTTO; DE VILLIERS, 2013; KHAN; SAEED; KHAN,
2019). Não somente a mudança da área superficial irá afetar as
propriedades de superfície, mas também haverá principalmente influência
da metodologia de preparo das nanopartículas, da morfologia superficial,
da tensão vibracional da rede cristalina, da presença de defeitos e de
agentes dopantes, da temperatura durante a síntese, da rugosidade
superficial e da intensidade das forças intermoleculares. Estes fatores
podem impactar na molhabilidade e na intensidade das propriedades de
superfície de diversas nanoestruturas, como, por exemplo, no caso dos
nanotubos de carbono e do grafeno (KHANNA R, 2019).
Um dos conceitos primordiais que interferem nas nanopartículas
provém da relação superfície-volume, cuja proporção pode ser considerada
imensa em partículas nanométricas. Este efeito é devido à
proporcionalidade entre razão superfície-volume e o tamanho, pois os
átomos de superfície das nanopartículas são menos coordenados em
comparação com partículas de maior dimensão (OTTO; DE VILLIERS,
2013).
Os chamados “efeitos quânticos” observados em nanopartículas
são oriundos de sua estrutura eletrônica discreta e não apresentam
sobreposição de orbitais atômicos, como em materiais com maiores
dimensões (MOREIRA et al., 2013; KHAN; SAEED; KHAN, 2019). Este
efeito ocorre devido ao confinamento quântico de funções de ondas
eletromagnéticas das nanopartículas (SAHU; ROUT, 2017; KHAN;
SAEED; KHAN, 2019).
O efeito de confinamento quântico descreve os elétrons em
termos de níveis de energia, poços potenciais, bandas de valência, bandas
de condução e intervalos de bandas de energia eletrônica, sendo observado
quando o tamanho da partícula é muito pequeno, comparável ao
comprimento de onda do elétron. Por exemplo, quanto menor a dimensão
da partícula, maior o band gap de energia (SUMANTH KUMAR; JAI
KUMAR; MAHESH, 2018), como ilustrado na Figura 3.

Figura 3. Efeito de tamanho de partículas em relação ao band gap de


energia.

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Fonte: Elaboração pelos autores a partir de Sumanth Kumar; Jai Kumar; Mahesh
(2018).

Por meio do efeito do confinamento quântico, as propriedades


térmicas, ópticas e elétricas sofrem influência devido à ação dos fônons,
na qual domina a transferência de energia na nanoescala (OTTO; DE
VILLIERS, 2013).
Na nanoescala, a diferença de tamanho das partículas influi na
diferença de energia emitida pelos fótons, os quais possuirão frequências
diferentes, resultando em diferentes comprimentos de onda, por
fluorescência (VASUDEVAN et al., 2015). Essas diferentes cores ocorrem
devido às flutuações das interações fóton-fônon ou ressonância plasmônica
(OTTO; DE VILLIERS, 2013; KUROCHKINA et al., 2018). Portanto, a
manipulação do tamanho das partículas é uma grande ferramenta para
proporcionar as propriedades desejadas dos nanomateriais, como os
quantum dots, sendo amplamente aplicados na medicina moderna, como
biossensores (KUROCHKINA et al., 2018), e também como veículos para
liberação controlada de fármacos (OTTO; DE VILLIERS, 2013;
SUMANTH KUMAR; JAI KUMAR; MAHESH, 2018), como ilustrado
na Figura 4.

Figura 4. Efeito de tamanho de partículas e fluorescência em quantum


dots.

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Fonte: Elaboração pelos autores a partir de Girma et al. (2017).

Um exemplo relevante acerca da influência do tamanho das


partículas na biomedicina por meio do emprego de nanopartículas é
descrito por Islam, Barua & Barua (2017). Eles desenvolveram um modelo
espaço-temporal multiescalar de transporte de nanopartículas em tecidos
biológicos. O modelo proposto empregou um algoritmo dinâmico
browniano em função do tempo, que vincula interações de microescala de
células e dinâmica de adesão à dispersão, além da penetração de partículas
em escala de tecido. Neste estudo foi observado que a penetração e
distribuição de partículas podem ser determinadas por interações partícula-
célula (ISLAM; BARUA; BARUA, 2017).
Porém, além do tamanho, algumas outras características, como a
geometria dos materiais, podem influenciar nas propriedades dos materiais
em escala nanométrica. Um exemplo deste fato ocorre com os nanotubos
de carbono, que possuem uma geometria quando sintetizados, proveniente
das ligações sp2 do carbono. Caso estes nanotubos sejam sintetizados de
forma que os pontos de contato fechem e confiram uma geometria
ondulada, a condutividade elétrica aumenta em comparação aos tubos retos
(OTTO; DE VILLIERS, 2013; BUZEA; PACHECO, 2019).
Müller e colaboradores (2018) investigaram a influência da
geometria e dimensões físicas de nanofios de carbono no desempenho das

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células solares. A fabricação de células solares ocorreu através da síntese
de nanofios de silício, consistindo de núcleos de Si cristalino e camadas
amorfas de a-Si:H, por meio do processo de deposição de vapor químico
aprimorado com uma única bomba de plasma (CVDPE). (MÜLLER et al.,
2018). Estas células solares multifuncionais, como descritas por Müller e
colaboradores (2018) e Wilkins e colaboradores (2017), atingem a maior
eficiência de conversão de energia solar em qualquer forma de energia
solar, como resultado de uma melhor forma de captação, absorvendo
diferentes comprimentos de onda por meio de distintas junções p-n
chamadas sub-células (WILKINS et al., 2017; MÜLLER et al., 2018).
Assim, pode-se concluir que o tamanho das partículas e sua
geometria, quando estão em nanoescala, afetam as propriedades dos
materiais, não somente dependendo destas características, mas também de
como são sintetizadas e em que meio são aplicadas.

Considerações finais
Tendo em vista o que foi mencionado, pode-se afirmar que a
ascensão tecnológica e seus avanços por meio do uso da matemática e de
suas ferramentas transformou-se em um dos principais tripés de
sustentação da ciência moderna. Com o advento dos cálculos diferenciais
e integrais elaborados por Newton e Leibniz tornaram-se possíveis
diversos avanços científico-tecnológicos na mecânica clássica, que
propiciaram as bases para o desenvolvimento do que conhecemos hoje
como mecânica quântica e suas leis.
Por conseguinte, a partir da compreensão do mundo
macroscópico, houve a necessidade de um aprofundamento sobre os
fundamentos referentes à micro e nanoescala. Porém, a compreensão de
fenômenos e leis físicas clássicas, quando nos referimos a nanoescala, é
insuficiente. Sendo assim, a mecânica quântica e seus fenômenos
(confinamento quântico) e leis físicas, a partir dos cálculos diferenciais e
integrais, surgiram para descrever estes fenômenos de forma abrangente e
aprofundada, tomando como premissa a compreensão de cada variável dos
processos estudados.
Estes conhecimentos tornaram possível o avanço das pesquisas
em diversas áreas da ciência moderna, atrelando os conhecimentos de
forma inter e multidisciplinar e possibilitando, entre outros exemplos
possíveis, a melhoria da liberação de fármacos, o desenvolvimento da
nanoinformática e da manipulação em escala do DNA.

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Em um cenário pós-moderno, a nanoescala traz algumas
características demandantes para certas propriedades dos materiais, o que
consiste em considerar o tamanho e a geometria das suas estruturas. Em
relação ao tamanho, uma das propriedades mais afetadas por esta variável
é a propriedade óptica. Para as nanopartículas, como no caso de
nanopartículas metálicas (nanopartículas de ouro), a mudança no tamanho
da partícula pode alterar o comprimento de onda emitido, dependendo do
estímulo. Isto pode ser utilizado em diversas aplicações, tal como na área
biomédica, para identificação de tumores por biossensores. Por outro lado,
em relação à geometria, pode-se alterar propriedades elétricas conforme
mudam-se as dimensões como padrão das ligações na estrutura química ou
as dimensões da nanoestrutura.
Assim, em conclusão, registramos que o avanço das pesquisas
científico-tecnológicas para o desenvolvimento de novos materiais,
atrelado à compreensão de seus embasamentos teóricos, não pode
prescindir do emprego da matemática, sempre de forma interdisciplinar,
para postular e comprovar os fenômenos relacionados a esses novos
materiais.

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