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Campinas
2021
PEDRO JOSÉ DOS SANTOS NETO
Campinas
2021
Ficha catalográfica
Universidade Estadual de Campinas
Biblioteca da Área de Engenharia e Arquitetura
Rose Meire da Silva - CRB 8/5974
Agradeço,
Aos meus pais Kátia Soraya Pereira dos Santos e Pedro José dos Santos Filho (in memo-
riam).
Aos meus irmãos João Paulo e Carlos Eduardo.
À minha esposa Osmara, pelo amor e companhia ao longo de mais de 10 anos, por me
fazer feliz, me aturar e estar sempre ao meu lado. Te amo.
Aos meus tios Cosme, Damião, Franscisquinho e Daniel. Às minhas tias Helenita, Tété,
Carminha, Neta, Lurdinha.
Aos amigos que estão ou já passaram pelo Laboratório. Do LEPO 1: João Pedro, Elmer,
Marcelo, Adson, Ramon e Paulo. Do LEPO 2: Hugo, Tisciane, Marcos, Dante, Daniel.
Do LEPO 3: Rolando e Sam.
A todos os amigos que fiz durante o período de intercâmbio na Dinamarca. Em especial:
Allan Cupertino (o feio) e João Martins (Victor do Penedo), pelas melhores conversas e
viagens inesquecíveis.
Aos professores Dr.Josep Guerrero e Dr.Juan Vasquez, da Aalborg University, pela opor-
tunidade de trabalharmos juntos.
Ao coorientador, Prof.Dr.Tárcio André, pela amizade e ajuda no cotidiano do projeto.
Ao orientador, Prof.Dr.Ernesto Ruppert Filho, pela oportunidade de estudar e desenvolver
pesquisa em uma das melhores universidades da América Latina.
À Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Universidade Estadual
de Campinas (UNICAMP).
Ao apoio financeiro processo nº 2017/21087-8 da Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo (FAPESP).
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ).
A todos aqueles que não foram citados devido à minha memória que continua vertigino-
samente falha, sintam-se agradecidos.
He not busy being born is busy dying.
Bob Dylan
Resumo
This Ph.D. thesis investigates the operation of two emergent technologies: the DC mi-
crogrids integrated into the AC utility grid and the switched reluctance generator (SRG)
for application in small wind systems as distributed generation. The approach in this
thesis is the study of the power management inside the DC microgrid, considering the
bidirectional power flow established by the renewable energy resource, local loads, energy
storage system, and the microgrid integration to the AC utility grid. The main power
management techniques for DC microgrids are benchmarked to base the choice of the
control strategy applied to the system under study. A master-follower power management
strategy based on virtual inertia is proposed for the energy storage system, which returns
to the microgrid increased flexibility and autonomy. In the event of a communication line
failure, an adaptive droop strategy is applied as a backup to improve the system’s reliabi-
lity. Another proposal is the SRG performance optimization for wind systems application
using the optimal control parameters obtained through the technique called design of com-
putational experiments. The goal is to maximize the generator efficiency and reduce the
electromagnetic torque ripple. It is shown that the SRG connection to the microgrid in-
troduces undesired distortion components into the DC bus. These frequency components
are propagated to the electric currents injected into the utility grid, thus reducing the sys-
tem power quality. A bidirectional DC-DC interface converter is used to obtain the SRG
optimum performance when connected to the microgrid. Moreover, the interface converter
adds a filter functionality to mitigate part of the undesired frequency components. The
experimental results presented in this thesis validate the proposed power management
applicability. In addition, the obtained results indicate that the SRG wind system using
the interface converter returns better performance compared to the conventional direct
connection approach.
1 Introdução 22
1.1 Motivação e Justificativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.2 Escopo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
1.3 Contribuições da tese . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
1.4 Lista de publicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
1.4.1 Publicações em periódicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
1.4.2 Publicações em congressos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
1.5 Organização do texto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
6 Conclusões 171
Bibliografia 174
22
Capı́tulo 1
Introdução
energia que consomem. Com isso, reforça-se a necessidade de sistemas avançados de mo-
nitoramento e controle capazes de lidar com a variação da demanda e tarifação de energia
no sistema de distribuição.
Enquanto o sistema de distribuição atual é capaz de garantir o fluxo de potência
ativa e reativa e a regulação de frequência, mesmo em condições transitórias [1], os siste-
mas distribuídos não garantem, a priori, tal operação. A excelente regulação do sistema
convencional é possível graças a inércia da massa rotativa e a consolidação do controle
em paralelo de grandes geradores síncronos centralizados, os quais são responsáveis pela
geração da energia. Em sistemas distribuídos, a inércia das unidades geradoras é baixa e o
controle dos conversores de potência ainda é alvo de pesquisas, não sendo tão consolidado
quanto a operação do sistema convencional. Por conta dos desafios enfrentados pelo uso
do modelo de geração distribuída, um conceito mais amplo e estruturado foi desenvolvido,
culminando na conceitualização das microrredes de energia elétrica [3, 4].
Uma microrrede de energia elétrica pode ser entendida como um sistema de dis-
tribuição de energia em baixa ou média tensão que agrupe geração distribuída, priori-
tariamente oriunda de fontes renováveis, como a solar ou a eólica, além de sistemas de
armazenamento de energia (SAE), e cargas consumidoras locais [5–7]. Essa estrutura
pode operar conectada à rede de distribuição convencional, no chamado modo conectado,
ou no modo ilhado, quando a rede elétrica convencional não está disponível devido a faltas,
eventos atípicos ou operação isolada programada [8, 9]. Em ambos os casos, o principal
objetivo dentro da microrrede é garantir autonomia no fluxo de potência dos dispositivos
internos. Outros serviços ancilares podem ser providos pelas microrredes, quais sejam:
despacho econômico, regulação de tensão e frequência, gerenciamento de reserva de ener-
gia e operação ilhada emergencial [9,10]. Além disso, devido ao forte apelo à utilização de
fontes alternativas e limpas para geração de energia elétrica em microrredes, essas estru-
turas podem auxiliar na mitigação de emissão de gases de efeito estufa, formando assim
sistemas de energia sustentáveis e modernos [6, 11, 12].
As microrredes em corrente contínua, por sua vez, são estimuladas devido à evo-
lução da eletrônica de potência nas últimas décadas. Essa evolução tem permitido que
as desvantagens iniciais da operação em corrente contínua, especialmente no que con-
cerne à dificuldade em se elevar ou abaixar a tensão de transmissão e distribuição de
energia, sejam superadas [2, 5]. Nesse sentido, as microrredes CC surgem como poten-
ciais candidatas em sistemas de distribuição de energia elétrica por apresentarem maior
simplicidade, eficiência, capacidade de operação e estabilidade, quando comparadas às
equivalentes microrredes em corrente alternada [13, 14]. Além disso, a crescente utiliza-
ção de cargas eletrônicas alimentadas em corrente contínua é um fator fundamental que
favorece a utilização de microrredes CC [15]. Essa topologia permite ainda a integração
facilitada de fontes renováveis de energia que utilizam alguma etapa de conversão CC-CC
para integração ao sistema em corrente alternada [16].
1.1. Motivação e Justificativa 24
1.2 Escopo
Neste trabalho de pesquisa apresentam-se estudos relacionados a duas tecnologias
emergentes: as microrredes em corrente contínua e a integração de um sistema eólico
de pequeno porte utilizando o gerador de relutância variável (GRV). Mostra-se que as
microrredes CC apresentam vantagens relevantes para sistemas de distribuição de energia
elétrica, tais quais maior eficiência, e capacidade de operação conjunta com sistemas de
armazenamento de energia (SAE) e fontes renováveis de energia elétrica. O GRV, por
sua vez, apresenta qualidades essenciais para a aplicação em sistemas eólicos de pequeno
porte. Por fornecerem tensão em corrente contínua na saída do seu conversor eletrônico de
acionamento, o GRV é um potencial candidato para uso em geração distribuída integrada
à microrredes CC. Contudo, por se tratarem de tecnologias com visibilidade recente em
pesquisas tecnológicas, poucos trabalhos discutem a aplicação de sistemas eólicos com
GRV em microrredes. Este trabalho busca preencher algumas lacunas para consolidação
do tema. A maior parte das pesquisas na área é concentrada na operação ilhada da
microrrede. Entretanto, em sistemas urbanos, espera-se que a microrrede CC opere no
modo conectado na grande maioria do tempo. Por isso, o estudo apresentado foi delimitado
em microrredes em corrente contínua operando no modo conectado à rede elétrica CA de
distribuição.
1.2. Escopo 26
WECS. IEEE Transactions on Energy Conversion. Early Access. (Qualis A1, JCR
4,501).
2. Dos Santos Neto, P. J. S., Barros, T. A. S., Silveira, J. P. C., Ruppert Filho,
E., Vasquez, J. C., Guerrero, J. M. (2020). Power management techniques for grid-
connected DC microgrids: A comparative evaluation. Applied Energy, 269(25920),
115057. (Qualis A2, JCR 8,848).
3. Dos Santos Neto, P. J. S., Barros, T. A. S., Carvalho Silveira, J. P., Ruppert
Filho, E., Vasquez, J. C., Guerrero, J. M. (2020). Power Management Strategy based
on Virtual Inertia for DC microgrids. IEEE Transactions on Power Electronics,
35(11), 11. (Qualis A1, JCR 6,84).
4. Dos Santos Neto, P. J. S., Barros, T. A. S., De Paula, M. V., de Souza, R. R.,
Ruppert Filho, E. (2018). Design of Computational Experiment for Performance
Optimization of a Switched Reluctance Generator in Wind Systems. IEEE Transac-
tions on Energy Conversion, 33(1), 406419. (Qualis A1, JCR 4,501).
5. Silveira, J.P.C, Dos Santos Neto, P. J. S., Barros, T. A. S., Ruppert Filho, E.
Power management of energy storage system with modified interlinking converters
topology in hybrid AC/DC microgrid. International Journal of Electrical Power &
Energy Systems, Volume 130, September 2021, 106880. (Qualis A1, JCR 3,588).
2. Dos Santos Neto, P. J. S., Barros, T. A. S., Ruppert Filho, E., Vasquez, J.
C., Guerrero, J. M. A Power Management Strategy for DC Microgrids Operating in
Grid Connected Mode. International Conference on Applied Energies, ICAE 2019,
Vesteras-Sweden, 2019.
3. Dos Santos Neto, P. J. S., Barros, T. A. S., De Paula, M. V., Ruppert Filho,
E., Vasquez, J. C., Guerrero, J. M. Wind Distributed System Based on Switched Re-
1.5. Organização do texto 30
luctance Generator Using a Bidirectional DC-DC Converter with Sliding Mode Con-
trol. Annual Conference of the Industry Electronics Society, IECON 2019, Lisbon-
Portugal, 2019.
4. Dos Santos Neto, P. J. S., Barros, T. A. S., Silveira, J. P. C., Ruppert Filho,
E., Vasquez, J. C., Guerrero, J. M. Enhanced Power Management System for Droop
Control in a Grid Connected DC Microgrid.. 15th Brazilian Power Electronics Con-
ference and 5th IEEE Southern Power Electronics Conference, COBEP/SPEC 2019,
Santos-Brazil, 2019.
5. Dos Santos Neto, P. J. S., Barros, T. A. S., De paula, M. V., Ruppert Filho,
E. Utilização de um conversor CC-CC bidirecional em um sistema eólico distribuído
baseado em um gerador de relutância variável. In: XXII Congresso Brasileiro de
Automática, 2018, João Pessoa, Brasil.
Capı́tulo 2
Revisão bibliográfica e sistema proposto
2.1 Introdução
este capítulo são apresentados a revisão da literatura e o estado da arte referentes
N às microrredes de corrente contínua e ao gerador de relutância variável em sistemas
eólicos de pequeno porte. O objetivo deste capítulo é fornecer uma visão técnica geral e
um escopo teórico para os temas desenvolvidos nos próximos capítulos deste texto. Uma
contextualização sobre microrredes de corrente contínua, incluindo as diferenças entre um
sistema CC e CA, é apresentada. Em seguida, discutem-se os principais temas de pes-
quisa discutidos na comunidade científica para microrredes CC, com foco particular nos
aspectos de controle e gerenciamento de potência inerentes a este trabalho. Entre os temas
de pesquisa mencionados estão a utilização de fontes renováveis de energia elétrica como
geração distribuída em microrredes CC, o uso de sistemas de gerenciamento de potência,
estudos sobre sistemas de armazenamento de energia, e investigações sobre aspectos de
proteção da microrrede. A modelagem, princípio de funcionamento, e a descrição da ope-
ração do gerador de relutância variável em sistemas eólicos de pequeno porte também são
abordadas neste capítulo. Incluem-se as estratégias de controle adotadas e a configuração
utilizada para acionamento da máquina elétrica. Faz-se, ainda, uma revisão de literatura
de trabalhos anteriores que utilizam o gerador de relutância variável em microrredes de
energia elétrica, os quais foram utilizados como base para o desenvolvimento deste tra-
balho de pesquisa. A revisão bibliográfica efetuada mostra algumas lacunas existentes
no campo de estudos, em especial para o gerenciamento de potência em microrredes de
corrente contínua operando no modo conectado à rede de distribuição convencional e a
integração de sistemas eólicos de pequeno porte com GRV. Por fim, a microrrede CC em
estudo é apresentada em detalhes, com descrição dos elementos integrantes, principais
características, e respectivos focos de investigação deste trabalho.
2.2. Microrredes em corrente contínua 33
2.2.1 Contextualização
Os sistemas em corrente contínua voltaram a ser objeto de estudos pela comuni-
dade científica com o avanço de tecnologias em eletrônica de potência [14,28,29]. Destaca-
se, nesse aspecto, a evolução de dispositivos semicondutores na fabricação de chaves de po-
tência, em especial as chaves MOSFETs (metal-oxide-semiconductor field effect transistor)
e IGBTs (insulated gate bipolar transistor). Outro aspecto relevante no desenvolvimento
da eletrônica de potência foi o aumento da capacidade de processamento dos microcon-
troladores, o que tornou possível a implementação de controles sofisticados para atuação
em uma escala de tempo reduzida (mili a microssegundos). Com isso, novas topologias
de conversores surgiram, com respectivo aumento das capacidades de tensão e corrente
elétrica suportadas, seguidas da evolução de novas estratégias de controle e de modula-
ção. Com esse desenvolvimento dos conversores eletrônicos de potência, a manipulação
dos níveis de tensão em corrente contínua tornou-se implementável com alto rendimento,
confiabilidade, e custo reduzido [30, 31].
A opção pela corrente alternada na geração, transmissão e distribuição de energia
elétrica deu-se no começo do século XX, principalmente pelo uso dos grandes geradores
síncronos e transformadores de potência para elevar e abaixar a tensão. Essas equipamen-
tos permitiram reduzir significativamente as perdas elétricas e levar a fonte geradora para
locais apropriados (e.g. queda d’água em usinas hidroelétricas). Com isso, as aplicações
em corrente contínua ficaram restritas a situações especiais como em sistemas de teleco-
municação [32,33], tração de veículos [34,35], e em transmissão de energia em altas tensões
(high voltage DC systems- HVDCs) [36, 37]. Destaca-se a transmissão de energia a custo
competitivo utilizando HVDC, especialmente para conexão de redes CA assíncronas em
longa distâncias ou com cabeamento submarino [19]. Outras utilizações modernas para
sistema de distribuição aplicando etapas em corrente continua incluem aplicações aeroes-
paciais, marítimas, e alimentação de servidores e centrais de dados [2]. A utilização desses
sistemas em corrente contínua permite a redução do tamanho e do peso das estruturas,
além do desacoplamento da frequência de distribuição.
Como discutido anteriormente, uma microrrede de energia elétrica é um sistema
de distribuição de energia que agrupa geração distribuída, sistemas de armazenamento
de energia e cargas consumidoras locais, com capacidade de operar de forma autônoma.
Microrredes em corrente contínua apresentam vantagens sobre estruturas em corrente al-
ternada, tais quais: redução das etapas de conversão de energia, maior eficiência, redu-
ção de perdas internas, ausência de efeito pelicular, e simplicidade de controle, uma vez
que não há circulação de potência reativa ou variação de frequência dentro da micror-
rede [2, 5, 13, 14]. A capacidade das microrredes CC resolverem problemas operacionais
2.2. Microrredes em corrente contínua 34
na rede elétrica principal é defendida em [5, 38]. Com efeito, as microrredes CC são tidas
ainda como interessantes para aplicações residenciais e comerciais no sistema de distribui-
ção [31, 39–41]. O uso de microrredes CC urbanas e inteligentes integradas em instalações
residencias ou comerciais é abordada em [1, 42].
Outro fator que favorece o uso de microrredes CC é a utilização de fontes renová-
veis de energia que, em geral, requerem uma etapa de conversão CC para operar integrada
com a rede elétrica, ou quando diretamente conectadas às cargas consumidoras. Assim,
as microrredes CC permitem uma melhor integração da fonte renovável de energia quando
comparadas às estruturas CA [43–45]. Ademais, a maioria dos dispositivos eletrônicos em
residências ou prédios comercias poderia ser diretamente alimentada em corrente contínua,
o que torna a distribuição CC adequada também em baixas tensões [39, 41, 46]. Uma vez
que os dispositivos de armazenamento de energia e as fontes renováveis exigem alguma
etapa de conversão em corrente contínua, diversos trabalhos consideram as microrredes
CC como capazes de aumentar a eficiência global do sistema distribuído [13, 14, 31, 47].
A comparação entre estruturas de microrredes CA e microrredes CC é apresentada
na Figura 2.1. Podem-se apontar como principais diferenças a natureza da tensão no ponto
de acoplamento comum (PAC) e dos conversores eletrônicos de potência utilizados para
conectar os elementos da microrrede [1]. As fontes de geração distribuída podem ser em
corrente alternada (GD-CA), como é o caso de sistemas eólicos com motores síncronos ou
de indução, ou em corrente contínua (GD-CC), como em um sistema eólico com GRV ou
sistemas fotovoltaicos. As cargas também podem ser alimentadas em CC, como a maioria
dos sistemas eletrônicos, ou em CA, caso comum de alimentação de máquinas elétricas. Os
sistemas de armazenamento de energia (SAE) com banco de baterias processam energia
em corrente contínua.
Como mostrado na Figura 2.1(a), em uma microrrede CA, a tensão e a frequência
elétricas são reguladas no barramento principal. Para melhor processamento da energia
elétrica, utilizam-se conversões CA-CC, com etapa adicional CC-CC, e uma subsequente
etapa CC-CA para conexão dos dispositivos no PAC. Entretanto, essa sequência de etapas
de conversão reduz a eficiência global na microrrede. Tanto a potência ativa (P) quanto a
reativa (Q) circulam no sistema e devem ser monitoradas para gerenciamento. Por outro
lado, em uma microrrede CC como a apresentada na Figura 2.1(b), apenas a tensão do
barramento é regulada e não há circulação de potência reativa em regime permanente, o
que simplifica o controle e o gerenciamento do sistema. Além disso, diversos estágios de
conversão CA-CC são retirados da estrutura e substituídos por um único estágio de retifi-
cação de maior potência, aumentando a eficiência global e reduzindo os custos operacionais
e de instalação da microrrede [2].
A seguir, os principais temas de pesquisa envolvendo microrredes em corrente con-
tínua são abordados. Por ser o foco principal deste trabalho de doutorado, é dada uma
maior relevância para o tópico de controle e gerenciamento das microrredes CC. Outros
2.2. Microrredes em corrente contínua 35
GD-CA
GD-CC
CA
CC
CC CC
CC CC PAC: Regulação de
CC CC tensão e frequência
Rede CA CA P,Q CA P,Q
Chave de
ilhamento P,Q
CA P,Q CA CA P,Q
P,Q CC CC CC
CC CC CC
CC CC CC
CC
CA
SAE
Cargas
CC
Cargas
CA
(a)
GD-CA
GD-CC
CA
CC PAC:Regulação
Rede CA P CC CC de tensão
CC P CC P
CC
CA Chave de CC CC CC
ilhamento P CC
P CC CC P
P,Q
CC
CA
SAE Cargas
CC
Cargas
CA
(b)
Microrrede CC
Microrrede CC
Camada Primária
I1
I1 Conversor
Vref Vcc
Conversor #1
Vref Vcc
#1
DV
I2
I2 Conversor
Camada Secundária Vref Vcc
Conversor #2
Vref Vcc
#2 Central DV
DV IL
de Controle
IL
Vcc Carga
Vcc Carga
In
In Conversor
Vref Vcc
Conversor #n
Vref Vcc
#n
DV
(a) (b)
Microrrede CC
Camada Primária Microrrede CC
Camada I1
Secundária V Conversor
ref Vcc Mestre I1
#1
Vref Conversor
Vcc
DV #1
DV1 I2
Vref Conversor I2
Vcc Seguidor
#2
I ref Conversor
Vcc
DV IL #2
DV2
Vcc Carga IL
In Vcc Carga
Vref Conversor
Vcc Seguidor In
#n
I ref Conversor
#n Vcc
DV
DVn
(c) (d)
microrrede [51, 55–58, 62, 69–78]. Métodos de controle distribuído para melhoria de de-
sempenho e correção dos problemas citados são discutidos em [67, 79–86]. Tais método
aplicam a estrutura básica do controle por droop aliada a técnicas de controle cooperativo,
lógica fuzzy, ou sistemas multiagente de forma distribuída e complementar à impedância
virtual.
Outro método descentralizado de gerenciamento de energia em uma microrrede
CC é a sinalização de barramento [70, 87–90]. Nessa estratégia, o nível de tensão do
barramento CC indica a atuação de determinados dispositivos, o que retorna autonomia
da microrrede de forma distribuída, sem a necessidade um controle central. Assim, vários
pontos de operação são pré-estabelecidos, os quais indicam a entrada ou saída de geração de
energia ou cargas, em função da tensão momentânea do barramento em corrente contínua
[17]. Os diferentes níveis de tensão também podem ser utilizados para alternar entre
os modos conectado à rede elétrica ou ilhado. Entretanto, uma maior complexidade de
operações dentro da microrrede resulta em uma quantidade elevada de níveis de tensão
escolhidos. Com isso, ao considerar os limites de tensão necessários para o funcionamento
adequado dos dispositivos conectados ao sistema, as faixas possíveis de operações são
limitadas ao se utilizar o método de sinalização de barramento. Portanto, esse método é
restrito a microrredes com poucos elementos internos.
A principal desvantagem dos métodos de controle descentralizados, como o droop
ou a sinalização de barramento, é o característico desvio na tensão do barramento CC.
Para corrigir esse desvio de tensão, camadas superiores de controle são inseridas em uma
estrutura hierárquica, dando origem ao controle hierárquico [13, 50, 61, 62, 91–104]. Essas
camadas superiores de controle podem ser projetadas de maneira centralizada, o que requer
o uso de linhas de comunicação de baixa largura de banda, tal qual mostrado na Figura
2.2(b); ou de maneira distribuída, na qual uma unidade central não é necessária e os
conversores ajustam entre si a tensão de operação (Figura 2.2(c)) . O controle hierárquico
para microrredes CC foi proposto por [91]. Na topologia proposta pelos autores, o controle
primário de cada conversor é implementado por droop de tensão. Um controle secundário
corrige o desvio de tensão no barramento CC produzido pelo controle primário. Por fim,
uma camada terciária é adicionada para gerenciar o fluxo de potência entre a microrrede e
o sistema de distribuição externo. Diversos trabalhos propõe modificações e melhorias no
projeto e gerenciamento do controle hierárquico para microrredes CC, tanto em estruturas
centralizadas quanto descentralizadas [61, 62, 67, 92–96, 98, 100, 101, 103, 104].
O gerenciamento de potência pelo método centralizado mestre-seguidor apresenta
vantagens sobre os métodos mencionados, quais sejam: simplicidade de implementação,
procedimento prático de comunicação entre conversores e alto desempenho sem desvios na
tensão no barramento CC ou problemas no compartilhamento de corrente entre converso-
res [10, 44, 48, 49]. Nessa estratégia, as variáveis da microrrede como tensões e correntes
elétricas são medidas e processadas de forma que as referências de potência para cada
2.2. Microrredes em corrente contínua 39
balhos [58, 133, 142–152]. A principal categoria de conversores propostos são conversores
CC-CC bidirecionais de alto desempenho, com objetivo de reduzir o estresse sobre as cha-
ves de potência e aumentar a capacidade de integração com o barramento em corrente
contínua. Proposta de novas topologias e análise de conversores CC-CC bidirecionais são
discutidos em [143, 147, 148]. Transformadores de estado sólido também são propostos
para integração entre a rede de distribuição CA e a microrrede CC [133, 144–146]. Tais
dispositivos substituem o uso dos transformadores de distribuição convencionais, que ope-
ram em corrente alternada, por um conversor de potência com alta controlabilidade e com
possibilidade de regular o fator de potência no PAC, compensar harmônicos, e participar
ativamente na identificação e supressão de faltas na microrrede. Uma linha de pesquisas
recentes propõe o uso de conversores eletrônicos de potência como molas elétricas (electric
springs) híbridas para regulação de tensão em microrredes CC [151, 152].
2.3.1 Contextualização
Pode-se considerar a concepção da máquina de relutância variável como pioneira
entre as máquinas elétricas, ainda no século XIX. Inicialmente essas topologias primitivas
eram classificadas como máquinas de circuitos magnéticos separados e máquinas de circui-
2.3. Gerador de relutância variável 43
tos magnéticos mutuamente acoplados. As aplicações na época eram voltadas para tração
em locomotivas, tendo como influência as máquinas a vapor [154]. Contudo, o baixo desem-
penho dessas máquinas primitivas fez com que outras tecnologias se tornassem dominante
na época e a máquina de relutância fosse praticamente abandonada pela comunidade cien-
tífica. A redescoberta da máquina de relutância também é fortemente atrelada à evolução
da eletrônica de potência a partir da década de 1960, com o desenvolvimento das chaves
de potência [154–156]. A demanda por máquinas elétricas na indústria e em aplicações do-
mésticas ainda na década de 1960 favoreceu o ressurgimento de pesquisas com a máquina
de relutância variável. Atualmente, graças a essas pesquisas científicas, essas máquinas
encontram nichos de aplicação relevantes como em sistemas eólicos de velocidade variável,
veículos elétricos, em eletrodomésticos, e maquinários agrícolas.
Entre as principais vantagens da máquina de relutância estão o baixo custo de
manufatura devido à ausência de imãs e bobinas no rotor e a alta densidade de potên-
cia, uma vez que as perdas no cobre são reduzidas [25, 154]. Assim, essas máquinas são
excelentes opções para uso em sistemas que exigem uma ampla faixa de velocidade, neces-
sidade de esforço mecânico e variação excessiva de temperatura. A máquina de relutância
variável apresenta ainda uma ótima tolerância a faltas devido à independência entre as
fases, o que leva a uma ausência de tensão de circuito aberto e consequente baixa corrente
de curto-circuito. Como desvantagens, mencionam-se a alta ondulação de torque eletro-
magnético, o que causa estresse mecânico e alto ruído; a alta não-linearidade, que dificulta
o projeto mecânico e de controle da máquina; e a necessidade de sensores de posição e
sistema de controle, mesmo para aplicações simples [157,158]. Além disso, para aplicações
isoladas, a máquina de relutância necessita de excitação externa em corrente contínua para
magnetizar as bobinas do estator [159].
A máquina de relutância variável funciona pelo principio da mínima relutância,
no qual o rotor é atraído para uma posição alinhada com os polos do estator quando a
respectiva fase é energizada. A energização coordenada das fases da máquina faz com
que o rotor gire ou seja produzida uma tensão no estator de forma síncrona com esse
acionamento. O momento da energização das fases determina a operação da máquina como
motor, ou como gerador [160, 161]. Se as fases forem energizadas quando a indutância é
crescente, a máquina operará como motor e o conjugado resultante será positivo. Caso a
energização ocorra no período em que a indutância decresce, o conjugado será negativo,
caracterizando a operação como gerador [25, 155]. Portanto, para a seleção do modo de
funcionamento é necessário o conhecimento da posição do rotor, o que é feito de forma
precisa por meio de sensores de posição, ou de forma aproximada por meio de técnicas de
estimação.
A operação da máquina de relutância variável como motor é mais consolidada
e apresenta estágio de desenvolvimento mais maduro. A operação como gerador vem
sendo desenvolvida com base em soluções tecnológicas e aplicações recentes, especialmente
2.3. Gerador de relutância variável 44
Posição
Alinhada
Bobinas
do estator Posição
B A C Desalinhada
B L (q , i )
C
Rotor
Estator
A A
D S AL S’ D S AL S’
q
T (q , i )
B C
Motor q
Gerador
B
C A
Figura 2.3: Estrutura da máquina de relutância variável trifásica 12/8 e perfis de indu-
tância e torque eletromagnético.
dλ (i, θ)
Vgrv = Ri + (2.1)
dt
em que Vgrv é a tensão terminal do gerador, R é a resistência elétrica do enrolamento do
estator, λ é o fluxo concatenado com o enrolamento do estator, i é a corrente elétrica no
enrolamento do estator, e θ é a posição angular do rotor [25, 162].
A indutância da máquina é dependente da corrente elétrica e da posição angular
do rotor por conta da estrutura de polos salientes, que faz com que o entreferro varie a
posição relativa dos polos. Como λ = L (θ, i) i, tem-se que:
di dL (θ)
Vgrv = iR + L (θ) +i (2.2)
dt dt
di dL (θ) dθ
Vgrv = iR + L (θ)
+i (2.3)
dt dθ dt
As Equações (2.2) e (2.3) são válidas se a máquina não estiver saturada magneti-
camente. Como a velocidade angular do rotor é dada por ω = dθdt
, tem-se:
di dL
Vgrv = iR + L (θ) +i ω (2.4)
dt dθ
ou ainda,
di
Vgrv = iR + L (θ) +e (2.5)
dt
2.3. Gerador de relutância variável 46
em que e = ωi ∂L
∂θ
é força contra-eletromotriz, a qual é responsável pela potência no entre-
ferro que é convertida em potência mecânica na operação como motor.
A potência do GRV é obtida multiplicando a Equação (2.3) por i e manipulando
as expressões de forma que:
d 1 1
Pgrv = i2 R + L (θ) i2 + i2 L (θ) ω (2.6)
dt 2 2
Da Equação (2.6), pode-se notar que o primeiro termo do lado direito é a potência
elétrica dissipada no cobre do estator. O segundo termo representa a potência armazenada
no campo magnético da bobina. O último termo representa a potência no entreferro,
convertida em potência mecânica na operação como motor [23,25]. Uma vez que a potência
mecânica é dada por Pmec = T ω, tem-se que:
1 dL (θ, i)
T (i, θ) = i2 (2.7)
2 dθ
em que T (i, θ) é o torque eletromagnético da máquina de relutância.
O torque eletromagnético instantâneo é função da corrente elétrica e da posição
do rotor. Porém, o torque é independente da polaridade da corrente, o que garante a
unidirecionalidade do acionamento. A dependência com o quadrado da corrente faz com
que essa máquina tenha ainda um excelente torque de partida. Entretanto, a natureza
não-linear dessas equações faz com que a obtenção de um modelo equivalente simples para
a máquina de relutância variável não seja possível.
GRV
B A C
C B
A A
B C
B
C A
Fonte
Externa Conversor em meia ponte assimétrica Carga
D2 D4 D6
S1 S2 S3
C R
Vext Fase A Fase B Fase C
S1B S2 B S3B
D1 D3 D5
(a)
Excitação Geração
S D2 S D2
C R C R
SB SB
D1 D1
(b) (c)
Figura 2.4: Conversor para acionamento do GRV: a) AHB trifásico; b) etapa de excitação;
c) etapa de geração.
desligadas e a energia circula para a carga, com adição da conversão eletromecânica resul-
tante. Uma fase intermediária adicional de roda livre pode ser acrescentada para produzir
tensão nula, se desejável. O conversor AHB produz um fluxo de corrente unidirecional,
com as fases isoladas eletricamente umas das outras [162].
Para o GRV, a velocidade de base é definida como aquela em que a força contra
2.3. Gerador de relutância variável 49
Lmin Lmin
Geração
q Geração
qon qoff qon qoff qf
Indutância Indutância
Tensão Tensão
Corrente Corrente
-Vgrv -Vgrv
Figura 2.5: Acionamento do gerador de relutância variável por histerese de corrente e por
pulso único (adaptada de [191])
1
Pm = πR2 ρCp (λ, β) V 3 (2.8)
2
em que R é o raio da pá eólica, ρ é a densidade do ar, V é a velocidade do vento incidente,
Cp (λ, β) é o coeficiente de potência da turbina, β é o ângulo de passo das hélices da turbina
(ângulo de pitch), e λ é a razão de velocidade na ponta da pá.
2.3. Gerador de relutância variável 52
ωr R
λ= (2.9)
V
em que ωr é a velocidade rotacional das pás.
O torque mecânico produzido pela turbina eólica, por sua vez, é dado por:
1
Tm = πCp (λ, β) R3 V 2 (2.10)
2
em que Popt é a potência ótima de saída requisitada; kopt é uma constante que depende da
aerodinâmica da pá, dos parâmetros da turbina e da caixa de engrenagens do aerogerador,
se houver, assumindo o máximo Cp .
Uma vez que o GRV opera em uma ampla faixa de velocidades com alta densidade
de potência, sua aplicabilidade como aerogerador, especialmente os de pequeno porte, é
incentivada em projetos de pesquisas. A aplicação do gerador de relutância variável em
sistemas eólicos é discutida em [44, 153, 179, 181, 187, 195, 198, 200, 201, 204, 207, 209, 210,
212, 213, 215, 217–222, 226, 231, 235]. Os principais aspectos estudados, em consonância
com os temas abordados nesta seção, são melhorias no projeto estrutural do gerador,
com foco na aplicação eólica; propostas de estratégias de controle do GRV em sistemas
eólicos, tanto em aplicações de conexão à rede elétrica distribuição, quanto para sistemas
isolados; e propostas de estratégias de otimização dos parâmetros GRV operando como
aerogerador. Dentre os trabalhos citados, destacam-se ainda as propostas de inovação
no projeto construtivo das turbinas eólicas com GRV [44, 179, 181, 187, 201]; as propostas
de obtenção de máxima transferência de potência para o GRV em sistemas eólicos [207,
210, 212, 215]; a aplicação do controle direto de potência [217–220, 222]; as estratégias de
controle de velocidade de turbinas eólicas com GRV [209,213], e o uso de técnicas sensorless
[198, 231] para controle e operação do GRV. Este trabalho de doutorado tem enfoque na
estratégia de controle do GRV em um sistema eólico de pequeno porte, especialmente
com uso do controle direto de potência, tendo como base as propostas apresentadas em
2.4. GRV em microrredes CC 53
operação são discutidos pelos autores. O foco do trabalho é limitado à redução da ondu-
lação de corrente elétrica, nenhum método de gerenciamento de potência é considerado, e
o modo conectado à rede de distribuição não é abordado.
Em [135, 213], um controle baseado em passividade é aplicado para WECS com
GRV suprindo cargas de potência constante. As propostas dos autores consideram a
geração direta para a carga, em um sistema isolado, com auxílio de um sistema de baterias.
Contudo, esses artigos focam apenas na análise de estabilidade dos controles propostos.
Assim, o gerenciamento de potência na microrrede não é abordado e a operação conectada
à rede elétrica não é avaliada. Em [231], uma topologia de conversor eletrônico de potência,
que contém apenas diodos e indutores, e respectivo sistema de controle são propostos para
o GRV em um WECS conectado à uma microrrede CC. Os autores detalham apenas a
proposta do conversor e respectivo controle, sem abordar o gerenciamento de potência ou
características da microrrede CC. Um esquema de controle de corrente de fase do GRV
é proposto em [240] para regulação da potência de saída do gerador. Embora comente a
conexão com uma microrrede CC, o artigo não aborda o gerenciamento de energia de tal
microrrede nem a aplicação do GRV em sistemas eólicos. Em [153], uma técnica de soft-
PWM é proposta de forma a injetar uma ondulação extra na tensão de saída do GRV como
forma de comunicação dentro de uma microrrede CC. O artigo foca na apresentação da
técnica de comunicação e no projeto da modulação e demodulação do sinal, sem abordar
o gerenciamento de potência na microrrede ou aspectos do sistema eólico. O controle do
GRV para microrredes CC é abordado em [208]. Apenas o desempenho ótimo do GRV
controlando a tensão do barramento CC é considerado pelos autores. Assim, mais uma
vez, o gerenciamento de potência dentro da microrrede operando no modo conectado não
é estudado no trabalho citado. Em [62], um conversor de potência do tipo boost ativo
é proposto para conexão do GRV em microrredes CC ou para alimentação de cargas em
corrente contínua. O conversor proposto pelos autores é adicionado como entrada do
conversor AHB para aumento da eficiência do sistema e obtenção do ponto de máxima
potência na geração. Os autores focam na proposta do conversor adicional, sem abordar
aspectos de gerenciamento de potência da microrrede CC. Um mecanismo de suporte de
energia para GRV em microrredes CC é apresentado em [241]. Os autores utilizam um
conversor boost intercalado cujo o número de células varia em função da velocidade de
operação da turbina eólica. Com isso, a tensão de saída do gerador é regulada em função
da velocidade de operação do gerador. Embora considere a operação coordenada de bancos
de baterias com a turbina eólica, os autores não apresentam a estratégia de gerenciamento
de potência utilizada nem realizam a otimização do GRV em função dos parâmetros de
controle da máquina.
Diante do exposto, verifica-se a escassez de estudos aprofundados sobre a conexão
do GRV em uma microrrede em corrente contínua integrada ao sistema de distribuição
de energia elétrica. Inicialmente, são desenvolvidas, de forma independente da operação
2.5. Microrrede CC em estudo 55
Linha de ivsc
PAC
Chave de Rede CA
comunicação ilhamento + Sv1a Sv 2 a Sv 3a Lf
Vbus Cbus
SAE LB iLf
iB Sv1b Sv 2b S v 3b
+ SB2 +
-
(1)
Vbat S B1 CB VSC
- -
(2 ) Conversor CC-CC
Cargas locais
bidirecional Sl Ll iload
Turbina Eólica AHB + +
Dl Cl
Conversor CC-CC
bidirecional
(3)
Figura 2.6: Estrutura da microrrede CC proposta para estudo.
Capı́tulo 3
Avaliação comparativa de estratégias de
gerenciamento de potência
3.1 Introdução
este capítulo, considera-se a microrrede CC no modo de operação conectado à rede
N elétrica CA convencional, uma vez que esse modo de operação é o mais usual em
microrredes urbanas. As principais estratégias de gerenciamento de potência e controle
foram implementadas neste estudo, baseadas na estrutura da microrrede CC apresentada
na Figura 2.6. Esta etapa da pesquisa foi realizada no Centro de Pesquisas em Microrredes
(CROM), na Universidade de Aalborg, Dinamarca. O foco dessa investigação é o gerenci-
amento da microrrede CC em um ambiente experimental. A integração com o gerador de
relutância variável será considerada em capítulos posteriores.
Para serem aplicadas como estratégias de gerenciamento de potência (power mana-
gement systems-PMS), os métodos de controle descritos na Seção 2.2 devem ser adaptados
para coordenar o fluxo de potência na microrrede CC. Devido às características intermi-
tentes da geração distribuída e a ausência de controle sobre as cargas consumidoras locais
para a microrrede em estudo, o PMS pode ser simplificado para incluir apenas a opera-
ção do sistema de armazenamento de energia (SAE) e da rede CA de distribuição. Neste
capítulo, três métodos usuais de controle reportados na literatura são adaptados como
PMS em uma microrrede CC conectada à rede elétrica. Esses métodos são: controle por
droop convencional, controle por droop adaptativo baseado no estado de carga do SAE, e
o controle hierárquico com compensação do desvio de tensão no barramento CC.
Devido à ausência de controles projetados especificamente para operar como PMS
no modo conectado de microrredes CC, duas estratégias adaptadas são propostas neste
trabalho. A primeira estratégia consiste em um método mestre-seguidor em que apenas a
informação de potência no barramento CC é trocada entre a unidade mestre e a unidade
seguidora. Com isso, a linha de comunicação entre os conversores eletrônicos de potência
3.2. Modelagem e controle dos componentes 60
ivsc
Vtabc Vsabc
Microrrede + Sv1a Sv 2 a Sv 3a
CC Lf Rede CA
Vbus Cbus
iLf
Sv1b Sv 2b S v 3b
-
Figura 3.1: Estrutura do conversor fonte de tensão (VSC) interligando a microrrede CC
à rede elétrica de distribuição CA.
2 cos (θ) cos θ − 2π
3
cos θ − 4π
3
T (θ) =
2π
(3.4)
3 −sen (θ) −sen θ − 3 −sen θ − 4π3
did
Lf = −Rl id (t) + Lf ωiq (t) − Vsd + Vtd (3.7)
dt
diq
Lf = −Lf ωid (t) − Rl iq (t) − Vsq + Vtq (3.8)
dt
dθ
= ω (t) (3.9)
dt
em que id e iq são as correntes dq no indutor, Rl representa as perdas no indutor, Vtd e Vtq
são as tensões terminais em dq, Vsd e Vsq são as tensões da rede em dq, e ω é a frequência
angular das tensões da rede elétrica.
As potências ativa, Ps , e reativa, Qs , a serem controladas são expressas da seguinte
forma:
3
Ps (t) = (Vsd id (t) + Vsq iq (t)) (3.10)
2
3
Qs (t) =
(−Vsd iq (t) + Vsq id (t)) (3.11)
2
Para uma modulação por largura de pulso senoidal (SPWM), a tensão média por
ciclo de chaveamento no terminal CA do VSC é dada por:
Vbus
Vtabc (t) = mabc (t) (3.12)
2
em que Vtabc é a tensão terminal do lado CA e mabc é o índice de modulação do sinal PWM.
Em coordenadas dq, tem-se:
Vbus
Vtd (t) = md (t) (3.13)
2
Vbus
Vtq (t) =
mq (t) (3.14)
2
Devido a presença do termo Lf ω nas Equações (3.7) e (3.8), as dinâmicas das
correntes no eixos direto e em quadratura estão acopladas. O desacoplamento é feito se
3.2. Modelagem e controle dos componentes 63
2
md = (ud − Lf ω0 iq + Vsd ) (3.15)
Vbus
2
mq = (uq − Lf ω0 id + Vsq ) (3.16)
Vbus
em que ud e uq são as variáveis de substituição no desacoplamento de corrente e ωo é a
frequência angular das tensões da rede elétrica, em regime permanente.
Pref idref vd
eid ud
K pi s + K ii
¸ 2 3 ¸
s
id Vbus md ma
wo L f Sv1a , Sv1b
vd 2 abc mb
iq q SPWM Sv 2 a , Sv 2b
dq mc
wo L f S v 3 a , S v 3b
mq
i
qref eiq K uq
s + K ii
¸ 2 3 pi
¸
Qref s
vq Controle de corrente VSC C
enquanto a referência de potência reativa é posta em zero, com o objetivo de atingir fator
de potência unitário. Mais detalhes dessa implementação podem ser consultados em [242].
Os parâmetros dos elementos físicos do VSC, os valores nominais de tensão e
potência e os parâmetros dos controladores utilizados nos testes experimentais são apre-
sentados na Tabela 3.1. O projeto de cada controlador é discutido a seguir.
Vsa Vsd
Vsb dq
Vsq
Vsc abc wmax
w
ò
K ppll s + K ipll
q s
q
wmin
0 VCO
(voltage-controlled oscillator - VCO) que deve ser reinicializado sempre que o ângulo de
sincronização atingir o valor de 2π.
A função de transferência do PLL é dada por:
Vp
Gpll (s) = (3.17)
s
Figura 3.4: Diagrama de controle do conversor fonte de tensão. Cada bloco representa
uma função de transferência descrita no texto.
O controle interno de corrente é formado pelo compensador PI, Gci (s); pela dinâ-
mica do filtro indutivo de saída, Gpi (s); pela função de transferência do PWM incluindo
respectivo atraso, Gd (s); e pela função de transferência do sensor de realimentação de
corrente, Hi (s) = 1. As funções descritas são dadas por:
ĩdq 1
Gpi (s) = = (3.18)
ũdq Lf s + Rf
kpi s + kii
Gci (s) = (3.19)
s
1
Gd (s) = (3.20)
1 + 1, 5Ts s
3.2. Modelagem e controle dos componentes 66
Diagrama de Bode
MG = ¥
Magnitude [dB]
4000 rad/s
Fase [graus]
MF = 60o
Frequência [rad/s]
kpv s + kiv
Gcv (s) = (3.21)
s
3.2. Modelagem e controle dos componentes 67
2Lf Ps
τf = (3.24)
3Vsd 2
em que, kpv e kiv são os ganhos proporcionais e integrais do controlador de tensão, respec-
tivamente; Cb é a tensão do barramento CC, Lf é a indutância do filtro, Ps é a potência
nominal do conversor e Vsd assume o valor da tensão de pico de fase da rede CA.
O compensador da malha externa é projetado para que se obtenha uma dinâmica
muito mais lenta que a malha interna de controle. A frequência de cruzamento adotada foi
de 400 rad/s (10 vezes menor que a da malha interna). O compensador foi projetado para
alcançar uma margem de fase de 60o na frequência de cruzamento escolhida. O diagrama
de Bode em malha aberta do controle de tensão é apresentado na Figura 3.6.
Diagrama de Bode
MG = 31 dB
Magnitude [dB]
400 rad/s
Fase [graus]
7750 rad/s
o
MF = 60
Frequência [rad/s]
ibat Rbat
soc
Ebat Vbat
em que Vbat e Ebat são as tensões de saída e interna do banco, respectivamente, Rbat é a
resistência interna, e ibat é a corrente elétrica no banco de baterias.
O estado de carga (SOC) é a medida da capacidade de carga disponível no banco
de baterias durante o ciclo de operação [245, 246]. A tensão interna do banco, Ebat , varia
em função do SOC e em função da operação de carga ou de descarga [244, 247]. O valor
do estado de carga pode ser computado utilizando o método de contagem de Coulomb
(balanço ampére-hora), como dado na Equação (3.26).
1 Z
soc = soc0 + ibat dt (3.26)
Qb
em que soc0 é o estado de carga inicial e Qb é a capacidade nominal da bateria em A.h, a
qual é usualmente informada pelos fabricantes.
A utilização do método de Coulomb para estimação do SOC de baterias, contudo,
pode resultar em um elevado erro computacional. Esse erro final é ocasionado pela soma
dos erros em cada medida, oriundo do processo de integração da corrente elétrica no tempo.
Ademais, um estado inicial de carga preciso deve ser obtido, o que não é um processo trivial
de obtenção experimental em aplicações reais. Técnicas mais sofisticadas e precisas para
obtenção do estado de cargas em baterias não são foco de estudo deste trabalho, podendo
3.2. Modelagem e controle dos componentes 69
Qb
Ebat,carga = E0 − K (yi + ibat ) + Ae−byi (3.27)
Qb − yi
Qb Qb
Ebat,descarga = E0 − K yi − K + Ae−byi (3.28)
Qb − yi cQb + yi
em que Qb = 2.3 A.h é a capacidade nominal da célula, E0 = 3, 336 V é a constante de
R
tensão, K = 0.0076 Ω é a constante de polarização, yi = ibat dt é a energia atual em A.h,
A = 0, 26422 V é a amplitude da zona exponencial, b = 26, 5847 Ah−1 é a constante de
tempo inversa da zona exponencial, e c = 0, 1 é a constante de carga [251].
Para alcançar as tensões desejadas, utilizam-se arranjos em série e paralelo das
células de bateria. O banco de baterias considerado neste trabalho consiste de uma arranjo
de células de íons de lítio com as seguintes características na região constante: Ebat = 240
V e Zbat = 4 Ω.
diB (t)
LB = −RB iB (t) − (1 − δB ) Vbus (t) + Vbat (t) (3.29)
dt
Banco de SB2
Baterias iB LB + Microrrede
CC
CB Vbus
+
Vbat -
- SB1
evbus
Vbusref K pBv s + K iBv
M1 i
s B ref
eiB K pBi s + K iBi
dB S B1
Vbus s
PWM SB2
I Bref M2
iB
Dois modos de operação são considerados. No modo M1, o SAE atua controlando a
tensão do barramento CC, como uma unidade formadora de rede. A tensão de referência
é utilizada como entrada da estratégia de controle. Esse modo pode ser utilizado para
conectar o SAE em paralelo com a rede de distribuição CA na operação por droop, ou
durante a operação ilhada da microrrede. No modo M2, o SAE é controlado por corrente.
A entrada do controle é a corrente de referência no indutor do conversor; assim, o SAE
opera como uma unidade de suporte para a microrrede. Uma chave seletora é utilizada
para alternar entre os modos de operação dependendo da estratégia de gerenciamento de
potência em análise. Ambos os modos permitem operações de carga e descarga do banco
de baterias. As malhas de controle do SAE são apresentadas na Figura 3.10.
A malha interna de corrente é formada por um compensador PI, GciB (s); pela
função de transferência relacionando a corrente no indutor e o ciclo de trabalho do con-
versor bidirecional, GpiB (s); e pelo ganho do sensor de corrente, HiB (s) = 1. A malha
3.2. Modelagem e controle dos componentes 71
externa de tensão é formada pela relação entre a tensão e a corrente no indutor, GpvB (s);
pelo compensador PI, GcvB (s); pela malha fechada interna de corrente, GcliB (s); e pelo
ganho do sensor de tensão HvB (s) = 1. Essas funções são expressas por:
kpiB s + kiiB
GciB (s) = (3.31)
s
ĩB Vbat
GpiB (s) = ˜ = (3.32)
dB LB s + R B
kpvB s + kivB
GcvB (s) = (3.34)
s
Diagrama de Bode
MG = ¥
Magnitude [dB]
2000 rad/s
Fase [graus]
MF = 60o
Frequência [rad/s]
(a)
Diagrama de Bode
MG = 32 dB
Magnitude [dB]
400 rad/s
Fase [graus]
MF = 60o
Frequência [rad/s]
(b)
∂iload Pload
=− (3.36)
∂vload Vload 2
em que iload é a corrente da CPL, Pload é a potência nominal da carga, vload é a tensão
terminal, e Vload é a tensão da CPL em um ponto de operação específico.
O conversor abaixador é modelado pelas seguintes equações:
dil
Ll = Rl il − vload + δl Vbus (3.37)
dt
3.3. Estratégias de gerenciamento de potência 74
il Ll iload
Microrrede
CC + +
SL1 Cl
Vbus SL2 Rcpl Vload
- -
Figura 3.12: Carga de potência constante emulada com uso de um conversor CC e carga
resistiva.
dvload vload
Cl = il − (3.38)
dt Rcpl
em que Ll = 1, 8 mH e Rl = 0, 3 Ω são a indutância e resistência do indutor do conversor, il
é a corrente elétrica através do indutor, δl = 0, 32 é o ciclo de trabalho médio, Vbus = 400
V é a tensão do barramento CC, Vload = 120 V é a tensão de saída, Cl = 2 mF é a
capacitância de saída e Rcpl = 16, 12 Ω é a resistência equivalente de saída.
O esquema do emulador da carga de potência constante é formado por uma malha
interna de controle de corrente, e por uma malha externa de controle de tensão, análogas
ao esquema apresentado na Figura 3.10. Ambas as malhas utilizam compensadores PI
projetados por resposta em frequência de forma similar ao apresentado na Seção 3.2.3. A
frequência de chaveamento é de 10 kHz.
Vo
Vmax
k
DV
Vref
Vmin
imin imax io
Figura 3.13: Tensão característica do controle por droop em função da corrente de saída
do conversor.
Vref
k= ∆Vbus (3.40)
2Pmax
em que ∆Vbus = 40 V é a variação de tensão permitida e Pmax = 2 kW é a máxima potência
do conversor controlado.
Para adaptar essa estratégia como um PMS, assume-se que a mesma característica
de droop é aplicada a ambos os controles do VSC e do SAE. Com isso, o compartilhamento
de potência entre essas duas unidades conectadas em paralelo é obtido. A implementação
do gerenciamento de potência utilizando controle por droop é mostrada na Figura 3.14(a),
a qual substitui o grupo B da Figura 3.2. A nova tensão de referência do barramento
CC é obtida subtraindo a referência de tensão da corrente de saída multiplicada pelo
coeficiente de droop. O compensador PI do VSC retorna a potência de referência e o resto
do controle segue idêntico ao apresentado na Figura 3.2. Para o SAE, a estrutura de
controle é mostrada na Figura 3.14(b), a qual integra o esquema mostrado na Figura 3.9.
O SAE opera no modo M1, como uma unidade formadora de rede. A tensão de referência é
obtida em função da corrente de saída do conversor; portanto, também em função do fluxo
de potência na microrrede. Um controlador PI retorna a corrente de referência desejada,
enquanto o resto do controle segue idêntico ao apresentado na Figura 3.9.
É importante destacar que o controle por droop impõe um erro de regime per-
manente na tensão do barramento CC. Esse fato é essencial para o funcionamento dos
métodos como o droop ou sinalização de barramento, uma vez que a variação da tensão é
parte inerente ao funcionamento desses sistemas [87]. Se cargas CC forem supridas utili-
zando conversores de potência, a tensão de saída da carga pode ser bem regulada, mesmo
com a varição de tensão de entrada imposta pelo PMS. Assim, para microrredes CC em
3.3. Estratégias de gerenciamento de potência 76
Vref Vmax
Vbusref Vo 2 evbus Pref
K pv s + K iv
´ -1
s
ivsc Vmin
Vbus 2
k
(a)
Vref Vmax
Vbusref evbus
K pBv s + K iBv
s
M1 i
B ref
iB Vmin
k Vbus
I Bref M2
(b)
que apenas alguns conversores de potência são empregados, uma variação projetada da
tensão do barreamento CC pode ser permitida sem danificar a estabilidade do sistema. O
método de controle por droop tem como vantagens a simplicidade e o fato de que nenhuma
linha de comunicação é necessária entre os conversores.
Vmax
Vref
Vmin
e,
0, soc ≤ sb
soc−sb
k(soc)descarga = sc −sb
k, sb < soc < sc (3.43)
k, soc ≥ sc
em que soc é o estado de carga estimado, sa = 50%, sb = 75% and sc = 90% são os
limites inferior, médio e superior do estado de carga aplicados, respectivamente, e k = 4 é
o coeficiente por droop calculado pela Equação (3.40).
A implementação do controle do VSC é a mesma apresentada na Figura 3.14(a).
Para o controle do SAE, a constante característica do droop é modificada para a função
adaptativa, como mostrado na Figura 3.16. A definição dos modos de carga ou descarga
é obtida pelo sentido da corrente elétrica no conversor bidirecional. Uma potência de
referência positiva significa absorção de energia; enquanto uma potência negativa significa
injeção de potência na microrrede.
Vref Vmax
Vbusref evbus K pBv s + K iBv
s
M1 i
iB Vmin
B ref
k (soc ) Vbus
I Bref M2
soc
em que Vref = 400 V é a tensão do barramento CC sem desvio, Kps = 0, 098 e Kis = 2, 85
são os parâmetros do controlador PI da camada secundária. Os parâmetros do controlador
foram obtidos de forma empírica, por meio de testes de simulação computacional, visando a
estabilidade e o tempo de resposta adequados para a restauração da tensão no barramento.
A implementação do controle hierárquico é mostrada na Figura 3.17. A camada
secundária, apresentada na Figura 3.17(a), é implementada de forma centralizada assu-
mindo a existência de um sistema supervisório externo à camada primária dos conversores.
Nesse esquema, a tensão do barramento CC é comparada com a tensão de referência, o
qual gera o erro entre a tensão desejada e a tensão real do barramento CC. O controlador
PI retorna a tensão de restauração, que deve ser limitada em valores preestabelecidos para
evitar extrapolar o desvio máximo de tensão permitido. A variação máxima permitida
utilizada neste trabalho é de 10% do valor nominal da tensão no barramento CC, ou seja,
40 V. A informação da tensão de restauração é enviada para os controles primários do VSC
e do SAE, como mostrado nas Figuras 3.17(b) e 3.17(c), respectivamente. Os controles
primários seguem a estrutura de droop adaptativo, com funcionalidades de PMS e BMS,
mostrados anteriormente. A tensão de restauração é somada à tensão de referência, ge-
rando assim um novo ponto de operação para as camadas internas de controle do conversor
fonte de tensão e do sistema de armazenamento de energia.
Utilizando a estratégia apresentada, o desvio de tensão no barramento CC imposto
pelo controle por droop é corrigido pela camada secundária. Apesar de ser necessária a
3.3. Estratégias de gerenciamento de potência 80
Controle secundário
dVmax
Vref eVbus K ps s + K is dV
s
dVmin
Vbus
(a)
Controle primário do VSC
Vref Vmax
Vbusref Vo Vo 2 evbus Pref
K pv s + K iv
´ s
-1
ivsc Vmin
Vbus 2
k dV
(b)
Controle primário do SAE
Vmax
Vbusref Vref Vo evbus K pBv s + K iBv
s
M1 i
iB Vmin
B ref
k (soc ) dV Vbus
I Bref M2
soc
(c)
utilização de uma linha de comunicação entre os conversores, em caso de falha nessa linha
o controle secundário é removido, enquanto a camada primária mantém o sistema ativo e
funcional. Assim, a confiabilidade e robustez da microrrede CC é aumentada com o uso
do controle hierárquico.
unidade mestre, a potência ativa no VSC é medida, processada, e transmitida para a uni-
dade seguidora por meio de uma linha de comunicação com alta largura de banda e menor
atraso possível.
O fluxo de potência na microrrede CC pode ser calculado por:
!
ω2
Pvsc = Pbess + Pdg + Pload = (Vbus × ivsc ) 2 (3.46)
s + 2ζωs + ω 2
em que Pvsc , Pbess , Pdg , Pload são as potências ativa no conversor fonte de tensão, SAE,
geração distribuída e na carga, respectivamente. Os parâmetros ω = 62, 8 rad/s e ζ = 0, 7
são a frequência de corte o fator de amortecimento de um filtro passa-baixas de segunda
ordem, respectivamente. O filtro de segunda ordem é escolhido para mitigar as oscilações
causadas por transitórios na microrrede CC, de forma que apenas o valor médio em regime
permanente é transmitido no canal de comunicação.
Ao aplicar o método proposto, a rede de distribuição CA atua apenas durante
o transitório de potência, ou quando o sistema de armazenamento de energia não pode
dar suporte à microrrede. A potência de saída do sistema de armazenamento de energia
é utilizada como realimentação para fechar a malha externa de potência no controle do
SAE. A potência de saída do SAE é calculada por:
ω
Pbess = (Vbat × iB ) (3.47)
s+ω
em que Vbat e iB são a tensão e corrente elétrica de saída do sistema de armazenamento
de energia, respectivamente.
O objetivo do SAE é prover a potência ativa em regime permanente requisitada
pela microrrede CC. Contudo, para preservar o ciclo de vida do banco de baterias, uma
função de gerenciamento baseada no estado da carga do banco, ψ (soc), é introduzida
como BMS. A função ψ (soc) retorna a referência de potência para o SAE de acordo
com o estado de cargas do banco de baterias. Tal função é definida de maneira diferente
para as operações de carga e descarga, como mostrado nas Figuras 3.18(a) e 3.18(b),
respectivamente.
A função de gerenciamento ψ (soc), aplicada como BMS, considera a varição de
potência (∆p) entre o VSC e o SAE. Na operação de descarga das baterias, o SAE não deve
fornecer potência para a microrrede se o limite mínimo de SOC for alcançado (socmin ).
Entre o valor socmin e um ponto específico do estado de carga (soca ), a referência de
potência cresce linearmente. Após o valor soca , o SAE passa a fornecer a máxima potência
requisitada pela unidade mestre. Esse processo é descrito matematicamente por:
0, soc ≤ socmin
(soc−socmin )
ψ (soc) = (soca −socmin )
, socmin ≤ soc ≤ soca (3.48)
1, soc ≥ soca
3.3. Estratégias de gerenciamento de potência 82
y (soc ) y (soc )
Dp > 0 Dp < 0
1 1
SOC SOC
0 0 socmin soc
socmin soca socb socmax a soc b socmax
(a) (b)
Figura 3.18: Função de gerenciamento utilizada como BMS baseada no estado de cargas
(SOC) do banco de baterias: a) operação de carga do banco de baterias; b) operação de
descarga do banco de baterias.
em que soc é o estado de carga estimado, socmin = 50% e socmax = 95% são os limites
inferior e superior do SOC, soca = 75% e socb = 85% são os pontos específicos de variação
do estado de carga do SAE aplicados neste trabalho.
Durante o carregamento do banco de baterias, o SAE absorve a máxima potência
disponível dentro da microrrede até um estado de carga específico ser alcançado (socb ).
Com isso, a potência absorvida pelo SAE é linearmente reduzida até que o limite má-
ximo do SOC seja atingido (socmax ). Essa ação é importante para evitar sobrecarregar
o banco de baterias. A operação de carregamento do banco de baterias com a função de
gerenciamento é dada por:
1, soc ≤ socb
(soc−socb )
ψ (soc) =
1− (socmax −socb )
, socb ≤ soc ≤ socmax (3.49)
0, soc ≥ socmax
Pvsc − Pbess
iBref = × ψ (soc) (3.50)
Vbat
A implementação do gerenciamento de potência utilizando a técnica mestre-seguidor
proposta nesta pesquisa é apresentada na Figura 3.19. A potência ativa calculada na uni-
dade mestre (conversor fonte de tensão) é medida, processada, e transmitida através da
linha de comunicação para o sistema de armazenamento de energia. O controle do VSC
é o mesmo apresentado na Figura 3.2, sem a necessidade de operar por droop. A po-
tência medida no SAE é, então, comparada com a potência advinda do VSC, resultando
3.3. Estratégias de gerenciamento de potência 83
na variação de potência ativa (∆p) dentro da microrrede CC. Essa variação de potência
ativa determina a quantidade de energia que deve ser fornecida pelo SAE para obtenção
de autonomia interna da microrrede. A corrente de referência utilizada na malha interna
de controle do SAE é dada pela Equação (3.50). O sistema de armazenamento opera no
modo M2, ou seja, como uma unidade alimentadora de rede.
Controle mestre-seguidor do SAE
linha de comunicação. O SAE opera no modo M2, como uma unidade alimentadora de
rede, de maneira que a transição entre o método mestre-seguidor e por droop modificado é
feita de maneira suave. Assim, esse método incorpora algumas das vantagens das técnicas
por droop adaptativo e mestre-seguidor apresentadas.
Na estratégia proposta, após a tensão do barramento CC ser estabelecida, o con-
trole de tensão do VSC comuta para a operação por droop no modo M2. Nesse caso, a
potência de referência do VSC é dada por:
2Pmax
Pref = × (Vbus − Vref ) (3.51)
∆Vbus
em que Pref é a potência de referência do VSC, Vref = 400 V e a tensão de referência do
barramento CC, Pmax = 2 kW é a potência nominal do VSC, e ∆Vbus = 40 V é a variação
de tensão máxima permitida no barramento CC.
O gerenciamento de potência considera que o SAE deve suprir a potência requi-
sitada na microrrede, enquanto a rede de distribuição CA apenas injeta ou absorve o
desbalanço de energia em excesso ou em falta. Tal funcionalidade pode ser implementada
ao aplicar a curva de droop do SAE apresentada na Figura 3.20(a). A tensão de saída do
sistema de armazenamento de energia é mantida no nível de referência durante as ope-
rações de carga e descarga do banco de baterias, enquanto o VSC controla a tensão do
barramento CC de acordo com a característica de droop mostrada na Figura 3.20(b). Se
os limites de corrente elétrica do SAE forem atingidos, então as tensões de saída máxima
(para a carga) ou mínima (para a descarga) são impostas pelo PMS.
Vo Vo
Vmax Vmax
DV k
DV
Vref Vref
Vmin Vmin
!
ψ (soc) Vbus ω
iBref = Vref − Vbus (3.52)
kVbat s+ω
em que ψ (soc) é a função de BMS, k = 4 é o coeficiente por droop (ver Equação 3.40),
e ω = 62, 8 rad/s é a frequência de corte de um filtro passa-baixas de primeira ordem
introduzido para realimentação da tensão medida.
Controle por droop modificado do VSC
evbus
Vbusref 2 - PI
Vbus 2 Pref
Pmax
evbus 2 Pmax
Vbusref
DVbus
Pmin
Vbus
(a)
Controle por droop modificado do SAE
Pmax
Vbusref evbus 1
PBref I Bref
´ y (soc ) ¸
k
Vbus Pmin
Vbat
Filtro
Passa-baixas
(b)
O uso da linha de comunicação entre os conversores, por sua vez, é uma caracte-
rística que reduz a confiabilidade ao introduzir um ponto de falha no sistema. Entretanto,
a implementação de uma linha de comunicação robusta retorna um melhor compartilha-
mento de potência dentro da microrrede e uma melhora substancial da capacidade de
controle dos conversores. Sem comunicação entre conversores, tem-se o problema do des-
vio de tensão no barramento CC. As técnicas de controle hierárquico e mestre-seguidor
utilizam a linha de comunicação e, portanto, são os métodos capazes de corrigir esse desvio
de tensão. A funcionalidade de BMS é necessária para preservar a vida útil do banco de
baterias, o que não é possível ao se utilizar o controle por droop convencional. A introdução
da característica de BMS garante uma transição suave no fluxo de potência da microrrede,
o que permite a regulação de tal fluxo em função do estado de carga do banco de baterias.
A característica de BMS é adotada quando o SAE opera como uma unidade de suporte à
rede de distribuição CA, como dado nos controles mestre-seguidor e por droop modificado
propostos nesta tese. Os métodos de droop adaptativo e hierárquico também podem ser
ajustados para incluir a funcionalidade de BMS, como mostrado nas seções anteriores.
Uma avaliação experimental das estratégias apresentadas é realizada a seguir.
Dspace
Trafo
Inversores Emulador
de rede
Cargas
IHM
Osciloscópio
Figura 3.22: Plataforma experimental utilizada para simular a microrrede CC. (CROM
- Center of Research on Microgrids, Aalborg, Dinamarca.)
ajustada de acordo com o tempo do experimento, enquanto a potência da carga foi fixada
no valor nominal. O fluxo de potência da geração distribuída e da carga consumidora
aplicado em todas as análises é mostrado na Figura 3.23.
Pload 1 kW
0W
Pdg
-1.5 kW
-1.7 kW
500 W/div 500 W/div 20 s/div
Para os casos que seguem, uma potência de referência negativa significa injeção de energia
elétrica, enquanto uma potência positiva significa absorção de energia.
Considerando o comportamento apresentado da GD e das cargas, o desempenho do
controle por droop aplicado para gerenciar o fluxo de potência na microrrede é apresentado
na Figura 3.24. O PMS baseado em droop é ativado no instante T0 = 15 s. Da Figura
3.24(a), percebe-se que o VSC e o SAE compartilham a diferença de potência entre a carga
consumidora e o GD. O compartilhamento de potência não é perfeito devido ao conhecido
desvio no compartilhamento de corrente elétrica resultante da operação por droop para
conversores em paralelo. Essa diferença é estimada em 200 W, o que representa 10% da
potência nominal dos conversores.
400 W
T0 Pbess
-900 W
Pvsc
95%
Soc
75%
410 V
Vbus 50%
45%
360 V
Figura 3.24: Avaliação experimental para o controle por droop: a) fluxo de potência do
VSC (Pvsc ) e do SAE (Pbess ); b) estado de carga estimado do SAE (soc) e variação do
barramento CC (Vbus ).
cia desse sinal é fixada em 400 V. A operação por droop impõe um variação de tensão da
ordem de 40 V, na faixa limite entre 360-440 V (10% da tensão de referência). O estado de
carga do SAE também é mostrado na Figura 3.24(b). O SOC inicial do banco de baterias
é fixado em 95%. É possível notar que, uma vez que a estratégia de PMS por droop não
inclui a funcionalidade de BMS, o SOC não é controlado. Assim, uma profundidade de
descarga prejudicial ao banco de baterias (abaixo 50%) é atingida. Isso significa que, do
ponto de vista de proteção do SAE e melhoria da vida útil do banco de baterias, o controle
por droop só é viável se o sistema de baterias possuir um gerenciamento do SOC próprio,
dado por controladores de cargas convencionais.
O desempenho do controle por droop adaptativo, para o mesmo perfil de potência
do GD e da carga consumidora, é mostrado na Figura 3.25. O controle adaptativo é
ativado no instante T0 . Da Figura 3.25(a), pode-se notar que o VSC não injeta nem
absorve potência da microrrede até que o instante T1 = 64 s seja alcançado. O SAE é
responsável por suprir a falta ou excesso de energia dentro da microrrede, o que significa
que a operação autônoma é alcançada. No instante T1 , o nível de SOC de 75% é atingido,
como mostrado na Figura 3.25(b). Nesse momento, a característica de droop varia e
o SAE e o VSC passam a gerenciar o fluxo de potência de forma compartilhada. No
instante T2 = 110 s, entretanto, o limite mínimo de 50% do SOC é alcançado. Com isso,
o SAE para de injetar potência na microrrede para evitar uma profundidade de descarga
danosa ao banco de baterias. Devido à variação do coeficiente de droop, o sistema passa a
apresentar oscilações em resposta à imposição dos limites do SOC.
Uma análise da variação de tensão do barramento CC, como mostrada na Figura
3.25(b), revela que as oscilações de potência resultam numa variação de tensão à partir do
instante T2 . Nesse instante, a mínima tensão permitida de 360 V é imposta ao sistema pela
ação do controle. Apesar o sistema manter a estabilidade, essas oscilações indesejadas,
quando na presença de cargas de potência constante, podem levar ao colapso da microrrede.
Assim, tais oscilações devem ser evitadas.
Para corrigir o problema do desvio de tensão no barramento CC imposto pela
ação dos controles por droop, o controle hierárquico é implementado. O desempenho da
estrutura hierárquica, com adição da camada secundária, é mostrado na Figura 3.26. O
PMS baseado nessa estrutura é ativado no instante T0 = 15 s. Da Figura 3.26(a), resta
evidente que a ação da camada primária é a mesma imposta pelo droop adaptativo. A
operação autônoma do SAE é alcançada até o nível de 75% do SOC ser atingido no instante
T1 = 60 s. Em T1 , o SAE e o VSC passam a compartilhar o fluxo de potência requisitado
para a manutenção da microrrede. Em T2 = 100 s, o SOC mínimo permitido é atingido e,
mais uma vez, as oscilações de potência são percebidas.
A camada secundária do controle hierárquico força o banco de baterias a carregar
ou descarregar mais rapidamente devido à imposição da regulação de tensão. Da Figura
3.26(b), pode-se observar que a camada secundária é efetiva em corrigir o desvio de tensão
3.5. Resultados experimentais 91
500 W
T0 T1 T2
-900 W
Pvsc Pbess
95%
Soc 75%
360 V
Figura 3.25: Avaliação experimental do controle por droop adaptativo: a) fluxo de potên-
cia do VSC (Pvsc ) e do SAE (Pbess ); b) estado de carga estimado do SAE (soc) e variação
do barramento CC (Vbus ).
do barramento CC, uma vez que o nível desejado de 400 V é mantido. Contudo, a estrutura
básica do controle hierárquico com duas camadas não corrige o problema da oscilação de
tensão causada pela variação do coeficiente por droop nos limites estabelecidos do estado
de carga do banco de baterias. Portanto, o controle hierárquico também pode apresentar
problemas de estabilidade quando suprindo cargas de potência constante.
O desempenho da estratégia mestre-seguidor proposta como PMS é apresentado
na Figura 3.27. Um tempo de atraso de 100 ms é introduzido para emular um linha
de comunicação sem fio entre os conversores. O controle mestre-seguidor é ativado no
instante T0 = 15 s. Nessa situação, a operação autônoma do sistema de armazenamento
de energia é enfatizada. O VSC não injeta ou absorve potência da microrrede até o limite
do estado de carga de 75% ser alcançado no instante T1 = 60 s. Pode-se notar que o
3.5. Resultados experimentais 92
600 W
T0 T1 T2
-900 W
Pvsc Pbess
95%
Soc 75%
Vbus 50%
400 V
360 V
fluxo de potência entre o SAE e o VSC tem transições suaves, quando comparado com os
métodos anteriores, o que indica uma maior eficácia da funcionalidade de gerenciamento
de baterias para o método proposto.
Ao se observar a Figura 3.27(b), pode-se perceber que não há variação de tensão no
barramento CC da microrrede, como desejado. A tensão de referência do barramento CC
é mantida praticamente constante, o que é importante para manutenção da estabilidade
do sistema. Além disso, a ausência de oscilações de potência e tensão, diferentemente dos
métodos anteriores, é um forte indício da robustez e estabilidade do método proposto ao se
alimentar cargas de potência constante. Entretanto, convém destacar que a utilização da
linha de comunicação entre os conversores pode introduzir outros problemas associados,
como atrasos excessivos no tempo de resposta.
3.5. Resultados experimentais 93
T2 400 W
T0 T1
-900 W
Pbess
Pvsc
95%
Soc
75%
400 V 50%
Vbus
500 W
T0 T1 T2
-900 W
Pbess
Pvsc
95%
Soc 75%
360 V
Figura 3.28: Avaliação experimental do controle por droop modificado proposto: a) fluxo
de potência do VSC (Pvsc ) e do SAE (Pbess ); b) estado de carga estimado do SAE (soc) e
variação do barramento CC (Vbus ).
Contudo, esse desvio ocorre sem as oscilações apresentadas em métodos anteriores, o que
indica uma robustez do controle e a estabilidade da estratégia proposta ao se alimentar
cargas de potência constante. A principal vantagem dessa técnica é a obtenção de um fluxo
de potência suave aliada a uma característica de BMS para proteção do banco de baterias,
sem a necessidade de utilização da linha de comunicação entre os conversores. Esse método
é ideal para atuar como substituto do método mestre-seguidor, em caso de falhas na linha
de comunicação. A desvantagem do desvio de tensão do barramento CC, entretanto, pode
ser proibitiva se uma regulação de tensão rígida for exigida para a operação da microrrede.
3.6. Considerações finais 95
Capı́tulo 4
Proposta de PMS e técnica de inércia virtual
4.1 Introdução
s microrredes em corrente contínua apresentam baixa inércia devido à ausência de
A máquinas elétricas de grande porte capazes de armazenar energia na massa rota-
tiva. Os conversores eletrônicos de potência utilizados nos sistemas de armazenamento de
energia, cargas consumidoras, e geração distribuída não apresentam inércia significativa.
Portanto, esses dispositivos não são capazes de lidar satisfatoriamente com transitórios
fora dos limites especificados de cada conversor. A ausência de inércia dentro da micror-
rede CC causa problemas de estabilidade na tensão do barramento, especialmente com a
alimentação de cargas de potência constante no modo de operação ilhado [76,131,132]. No
evento transitório do fluxo de potência causado por variação da carga ou pela caracterís-
tica intermitente da geração distribuída, o suporte dinâmico para a tensão na microrrede
CC é dado apenas pelos capacitores do barramento. Uma solução para esse problema
seria o aumento da capacitância do barramento CC. Contudo, com o uso convencional
de capacitores eletrolíticos, o aumento da capacitância não é uma alternativa viável de-
vido ao aumento de volume, redução da densidade de potência, e redução da vida útil do
barramento CC [257].
No modo conectado autônomo, discutido no Capítulo 2, quando o sistema de ar-
mazenamento de energia atua mantendo o fluxo de potência e a rede CA de distribuição
atua como suporte à microrrede, o problema da ausência de inércia afeta o banco de bate-
rias de maneira particular. Sem inércia, o sistema de armazenamento pode ser submetido
a transitórios indesejados de potência, o que contribui para o aumento da taxa de falha
e para a redução do ciclo de vida de baterias convencionais como as de chumbo ácido
ou íons de lítio [90, 253, 258]. Como discutido em [252–254], uma alta taxa repentina de
variação de carga ou descarga das baterias que compõem o sistema de armazenamento
de energia pode resultar em uma degradação irreversível desse banco de baterias. Uma
solução possível apresentada na literatura técnica para esse problema consiste no uso de
4.1. Introdução 98
sistemas de armazenamentos híbridos. Nesses sistemas híbridos, dispositivos com alta ca-
pacidade de potência, tais quais os supercapacitores, são inseridos no SAE composto por
dispositivos de alta capacidade de energia, como as baterias. O supercapacitores ajudam a
suprir variações rápidas e transitórias de potência, enquanto o banco de baterias é gerenci-
ado para suprir apenas desbalanços de potência em baixas frequências [245, 250, 258–261].
Essa solução, contudo, encarece os custos de implementação da microrrede e aumenta a
complexidade do sistema de gerenciamento e controle do SAE.
Diversas estratégias de inércia virtual têm sido empregadas como alternativa para
minimizar o problema da falta de inércia em microrredes CC [41,89,90,262–266]. Em [263],
um controle de inércia virtual emulando uma máquina síncrona é proposto para melhorar
a resposta transitória da tensão do barramento CC. O método desenvolvido é aplicado no
conversor fonte de tensão que forma o barramento da microrrede, o que torna a estratégia
útil para a operação no modo conectado. Entretanto, apenas transitórios de tensão são
analisados e nenhuma estratégia de gerenciamento de potência é aplicada. Uma técnica
similar é proposta em [262]. Os autores sugerem o uso do controle por inércia virtual
no conversor formador da microrrede CC em conjunto com uma técnica de controle por
droop dual. O objetivo é estabilizar o sistema de potência e regular a frequência do lado
CA, aumentando a estabilidade interna da microrrede CC. Contudo, a técnica apresentada
não abrange o sistema de armazenamento de energia, além de acrescentar as desvantagens
inerentes ao controle por droop no modo de operação conectado. Um controle coordenado
para microrredes CC baseado em sinalização de barramento e inércia virtual é apresentado
em [89]. Um sistema de gerenciamento de energia apropriado é considerado pelos autores,
enquanto o conceito de inércia virtual é aplicado no controle da fonte renovável de energia.
Entretanto, os autores não avaliam o modo de operação conectado da microrrede. Em
[90], um controle por inércia virtual é aplicado a painéis fotovoltaicos para melhoria do
desempenho dinâmico da microrrede CC. Uma estratégia de ganho adaptativo é utilizada
para assegurar o compartilhamento de potência entre os painéis fotovoltaicos. Porém, a
proposta dos autores não é integrada ao sistema de gerenciamento de energia e apenas o
modo de operação ilhado é considerado.
Uma síntese de inércia virtual com adição de controle preditivo para microrredes
CC é proposta em [41]. O método defendido pelos autores habilita uma inércia adaptativa
sintética para estabilização da tensão do barramento CC em caso de distúrbios. Mais uma
vez, contudo, a estratégia apresentada é voltada apenas para o modo de operação ilhado.
Além disso, os sistemas de gerenciamento de energia não são considerados. O conceito
de máquina CC virtual é introduzido em [264]. Nessa aplicação, a dinâmica de máquinas
CC é emulada no controle do conversor CC-CC bidirecional aplicado ao SAE. A inércia
da máquina virtual é emulada para atingir operação estável e variação de tensão suave
durante transitórios. Vale mencionar, entretanto, que apenas simulações computacionais
são apresentadas para validação do método proposto pelos autores. O modo de operação
4.1. Introdução 99
Barramento CC
Inércia
Virtual PMS
Pvsc ep Conversor fonte
1
Jp ò ivsc de tensão
P1 Dp PBref I Bref
Pess
Dp y (soc ) ¸ Sv1a Sv 2 a Sv 3a Lf Rede CA
Vref eV Pmax
P2
BMS
Vbat +
1k ´ Vbus Cbus
Vbus Pmin -
FPB iLf + -
A Sv1b Sv 2b S v 3b V3f
Vref eV Controle do SAE
PI
iB ref dB evbus
Vbus M1
eiB S B1 Vbusref 2 - PI
PI PWM SB2 V3f qs vdq
P1 Pref
iB PPbess M2 SRF-PLL Vbus 2
´
ess
FPB I B ref iB dq P2
Vbat idq Vbusref evbus Pmax
C B i3f abc 2 Pmax
DVbus
iB LB SB2 i Pmin
RB bat
D
Vbus
E
para conectar o SAE no início da formação da microrrede, uma vez que a operação ilhada
não é avaliada. No modo M2, o SAE atua como unidade de suporte com gerenciamento
de potência em P1 ou P2. O grupo C mostra o cálculo da potência no SAE usado no
PMS. O controle do VSC é mostrado nos grupos D, E, F, G, os quais foram discutidos
no capítulo anterior. Destaca-se, no grupo E, o controle de tensão do barramento CC
regulado pelo VSC nos modos P 1 e P 2. O cálculo da potência do VSC é apresentado
4.2. Avaliação da microrrede CC 102
no grupo G. O detalhe na cor laranja representa a linha de comunicação, uma vez que a
informação da potência no VSC é transmitida para o SAE. Novamente, considera-se aqui
que a unidade de geração distribuída (GD) opera com rastreio da máxima potência, como
uma unidade de alimentação de rede (grupos H, I). A carga local tem consumo próprio,
com regulação de tensão em uma carga resistiva para emulação do comportamento de uma
carga de potência constante (grupos J, K).
vbus (t )
+ - zl1 rg
GD
(a)
vbus (t )
+ -z l1
(r g + rd )
GD
(b)
Figura 4.2: Modelos equivalentes simplificados das estratégias utilizadas para compor o
PMS proposto: a) método mestre-seguidor com inércia virtual (P1); b) método por droop
modificado (P2).
elétricas nos cabos, nos elementos dos conversores eletrônicos de potência, e as perdas de
chaveamento. Na Figura 4.2, os parâmetros rg , rb , rl , e rdg representam as resistências
equivalentes do VSC, SAE, CPL e GD, respectivamente. No modo de operação P2 , o
coeficiente de droop (rd ) das unidades é somado a resistência equivalente; assim, obtêm-se
a variação de tensão no barramento CC característica do método.
As resistências de linha na microrrede CC são representadas por zl1 , zl2 , zl3 , e zl4
para as linhas do VSC, SAE, CPL e GD, respectivamente. Para sistemas de distribuição
em baixa tensão, um valor típico das resistências de linha é zl = 0.642 Ω/km [267]. Além
disso, espera-se que uma microrrede CC com apenas alguns elementos conectados, como o
sistema em estudo, tenha distâncias entre as conexões dos dispositivos limitadas a poucas
dezenas de metros. Supondo a instalação de uma microrrede CC com distanciamento
máximo entre as unidades de 100 metros, as resistências de linha são inferiores a 65 mΩ.
Portanto, nas análises que seguem, as perdas na linha são consideradas desprezíveis.
Para computar o fluxo de potência na microrrede CC, a potência média do SAE
(Pess ), da geração distribuída (Pdg ), da carga (Pload ), e do VSC (Pvsc ) são calculadas como
mostrado nos detalhes C, G, I, e K da Figura 4.1, respectivamente. Assim:
!
ω1 2
Pvsc = (Vbus × ivsc ) 2 (4.1)
s + 2ζω1 s + ω12
ω2
Pess = (Vbat × iB ) (4.2)
s + ω2
ω3
Pdg = (Vdg × idg ) (4.3)
s + ω3
ω4
Pload = (Vload × iload ) (4.4)
s + ω4
em que Vvsc e ivsc são a tensão e corrente do VSC; Vbat e iess são a tensão e a corrente elétrica
do banco de baterias; Vdg e idg são a tensão e corrente de saída do geração distribuída; Vload
e iload são a tensão e corrente na carga. Os parâmetros ω1 , ω2 , ω3 , e ω4 são as frequências
de corte de filtros passa-baixas utilizados para calcular a potência média de cada unidade,
e ζ é o fator de amortecimento do filtro de segunda ordem do VSC.
Convém destacar que para o cálculo da potência média do VSC, um filtro passa-
baixas de segunda ordem é aplicado. Isso se faz necessário pela característica chaveada da
corrente de entrada do VSC (ivsc ), a qual torna difícil a extração da potência média com
a implementação digital de um filtro passa-baixas de primeira ordem. Os parâmetros de
cada filtro utilizado são apresentados na Tabela 4.1.
Desprezando as resistências de linha, a dinâmica do barramento CC para obtenção
de uma tensão estável é dada por:
4.3. PMS com inércia virtual 105
n
dvbus (t) 1 X
vbus (t) = pi (t) (4.5)
dt Ceq i=1
em que vbus (t) é a tensão instantânea do barramento CC, pi (t) é a potência instantânea
da i-ésima unidade na microrrede, Ceq é a capacitância equivalente do barramento, e n é
a quantidade de unidades conectadas. Para a microrrede CC em análise:
n
X
Ceq = Ci = Cbus + CB + Cli + Cdg (4.6)
i−1
em que Cbus , CB , Cli , e Cdg são as capacitâncias de saída (ou entrada) do VSC, do SAE,
do carga consumidora, e da geração distribuída, respectivamente.
A tensão do barramento CC será estável em regime permanente se a soma das
potências em regime fornecidas ou absorvidas por cada dispositivo for nula, ou seja:
n
X
Pi = ± Pvsc ± Pess + Pdg − Pload − Ploss = 0 (4.7)
i=1
dω
Tm − Te − Dm ω = Jm (4.8)
dt
em que Tm e Te são o torque mecânico e o torque eletromagnético, respectivamente, Dm
[Kg.m2 /rad.s] é o coeficiente de atrito ou de amortecimento, ω é a velocidade angular de
operação e Jm é o coeficiente de inércia da máquina em [Kg.m2 ].
Como apresentado na revisão bibliográfica na introdução deste capítulo, em geral,
o VSG é implementado nas unidades formadoras de rede para aumentar o amortecimento
da tensão no barramento CC, sem a necessidade de aumentar a capacitância do barra-
mento. Porém, para a microrrede em estudo operando com o PMS mestre-seguidor, o
VSC garante a regulação da tensão por meio do balanço de potência no barramento CC.
4.3. PMS com inércia virtual 107
∆p(s) 1
K(s) = = (4.11)
ep (s) Jp s + Dp
Assim, nota-se que a inércia virtual adicionada tem o comportamento de um
filtro passa-baixas, cuja frequência de corte depende dos parâmetros de inércia escolhidos.
Considerando um degrau de entrada do erro entre a potência do barramento CC e a
potência fornecida pelo banco de baterias, a resposta no tempo da variação de potência
do SAE é dada por:
1 −t
∆p (t) = 1 − exp ep (t) (4.12)
Dp τ
4.3. PMS com inércia virtual 108
1 −1 ep ∞
lim ∆p (t) = lim 1 − exp t ep (t) = (4.13)
t→∞ t→∞ Dp τ Dp
Portanto, com a técnica de inércia virtual implementada, consegue-se aprimorar o
controle mestre-seguidor proposto como PMS. Por meio da escolha dos parâmetros da inér-
cia virtual, podem-se regular tanto o tempo de resposta do SAE quanto o valor da potência
fornecida em regime permanente. O objetivo é garantir que o sistema de armazenamento
de energia não forneça potência transitória e, assim, pode-se garantir a preservação da
vida útil do banco de baterias.
A potência desenvolvida no VSC (Pvsc ) é transmitida para o SAE por uma linha
de comunicação com alta largura de banda. Esse valor é utilizado como potência de
4.3. PMS com inércia virtual 109
1
iBref = eP × K(s) × ψ(soc) (4.14)
Vbat
em que iBref é a corrente de referência para o banco de baterias, ep é o erro de potência
entre o VSC e o sistema de armazenamento de energia, K(s) é a função de inércia virtual
dada na Equação 4.11, Vbat é a tensão de saída do banco de baterias, e ψ(soc) é a função
de gerenciamento utilizada como BMS.
Finalmente, a corrente de referência (iBref ) é utilizada como entrada para a malha
de corrente do conversor CC-CC bidirecional do SAE, cujo projeto foi discutido no capítulo
4.3. PMS com inércia virtual 110
anterior. Com essa implementação, o PMS utilizado garante que o banco de baterias atue
apenas sobre o desbalanço de potência em regime permanente dentro da microrrede CC.
A rede de distribuição CA com respectivo conversor fonte de tensão atua para regular a
tensão no barramento, fornecendo apenas a potência transitória para segurança do banco
de baterias. Se o estado de carga do SAE atingir valores críticos de sobrecarga ou descarga
profunda, então a rede de distribuição CA assume o balanço do fluxo de potência interno
da microrrede.
w1
s + w1
´
iBref 1 ψ (soc)
Gpms (s) = = (4.15)
eP Vbat Jp s + Dp
em que ψ (soc) é a função de gerenciamento do banco de baterias definida nas Equações
(3.48) e (3.49), e Vbat é a tensão de saída do banco de baterias, considerada constante em
regime permanente.
As funções de transferência da malha interna de corrente de SAE foram apresen-
tadas na subseção 3.2.3. Substituindo as Equações (3.31) e (3.32) na Equação (3.35), a
4.3. PMS com inércia virtual 111
Pbess ω1
Hpms (s) = = Vbat (4.17)
iB s + ω1
em que Pbess é a potência medida do banco de baterias e ω1 é a frequência de corte do
filtro passa-baixas de primeira ordem.
Para avaliar a influência dos parâmetros da técnica de gerenciamento de potência
sobre o controle do SAE, procede-se uma análise de estabilidade do sistema para grandes
sinais. As funções de transferência em malha aberta e em malha fechada para o sistema
de armazenamento de energia operando com PMS-P2 são dadas, respectivamente, por:
Pbess
Golpms (s) = = Gpms (s) GcliB (s) Hpms (s) (4.18)
ep
z0 s + z1
Golpms (s) = (4.20)
p0 s4 + p1 s3+ p 2 s2 + p3 s + p4
em que,
z0 = ψVbat ω1 KpiB
z1 = ψVbat ω1 KiiB
p0 = Jp LB
p1 = Jp KpiB Vbat + (Jp ω1 + Dp ) LB
p2 = Jp KiiB Vbat + Dp ω1 LB + (Jp ω1 + Dp ) KpiB Vbat
p3 = Dp ω1 KpiB Vbat + (Jp ω1 + Dp ) KiiB Vbat
p4 = Dp ω1 KiiB Vbat
corrente é estável em toda faixa de operação do SAE. Essa afirmação pode ser endossada
com base no projeto adequado do controlador de corrente apresentado no capítulo anterior.
A condição da estabilidade da malha interna de corrente é fundamental para garantir a
correta operação da técnica de gerenciamento de potência. Além disso, para simplificar
a análise, a tensão de saída do banco de baterias (Vbat ) é considerada constante com
valor regulado em 240 V. Essa afirmação é feita considerando a faixa estreita de variação
da tensão de saída do banco de baterias nas operações de carga e descarga. Por fim, a
frequência de cruzamento (ω1 = 5 Hz) do filtro passa-baixas assume um papel importante
para obtenção da potência do banco de baterias sem oscilações ou componentes transitórios
de alta frequência.
Para os valores dos parâmetros do SAE apresentados na Tabela 3.2, a estabilidade
do sistema é avaliada utilizando o critério de estabilidade de Nyquist. Os diagramas de
Nyquist obtidos quando os parâmetros Jp e Dp variam na Equação 4.20 são apresentados
nas Figuras 4.5(a) and 4.5(b), respectivamente.
Da Figura 4.5, pode-se notar que o ponto crítico no eixo real (−1) não é enlaçado
em ambos os casos, quando Jp e Dp variam no intervalo [0,1-10]. Isso significa que,
para essa faixa de variação dos parâmetros no sistema estudado, a estabilidade da malha
fechada pode ser analisada apenas pela função de transferência em malha aberta, seguindo
o critério de estabilidade de Nyquist. Com isso, para que o sistema com inércia virtual
estudado seja assintoticamente estável, é suficiente que os polos da função de transferência
em malha aberta, Golpms (s), estejam alocados no semi-plano esquerdo.
A equação característica de Golpms (s), obtida a partir da Equação (4.20), é dada
por:
(s + ω1 ) (Dp + Js) LB s2 + KpiB Vbat s + KiiB Vbat = 0 (4.21)
Os valores de KpiB , Vbat e LB são positivos. Com isso, pode-se concluir a partir
dos polos s3 e s4 que esses parâmetros não afetam a estabilidade do sistema, desde que os
parâmetros do compensador da malha interna de corrente garantam a estabilidade dessa
malha. Para isso, o procedimento adequado de projeto dos controladores deve ser seguido.
Uma observação importante do polo s1 é que a escolha da frequência de corte do filtro
passa-baixas (ω1 ) afeta de forma significativa o desempenho do sistema. A escolha de ω1
positivo já garante que esse parâmetro não influencie na estabilidade da malha de controle,
4.3. PMS com inércia virtual 113
Diagrama de Nyquist
Jp
Eixo Imaginário
Eixo Real
(a)
Diagrama de Nyquist
Eixo Imaginário
Dp
Eixo Real
(b)
uma vez que o polo não cruzará para o semi-ciclo positivo. Entretanto, um pequeno valor
de ω1 força a aproximação do polo para a origem e, portanto, para a estabilidade marginal.
Finalmente, da avaliação do polo s2 , fica evidente que os parâmetros da inércia virtual
devem assumir valores positivos não nulos para garantir que s2 esteja alocado no semi-
plano esquerdo e, assim, a estabilidade assintótica seja obtida.
Para complementar a análise de estabilidade, o mapeamento de polos e zeros da
função de transferência em malha fechada, Gclpms (s), é obtido quando os valores de Jp e Dp
variam. Esses resultados são apresentados nas Figuras 4.6(a) e 4.6(b), respectivamente.
É possível concluir que, assumir Jp e Dp positivos não-nulos é suficiente para evitar a
instabilidade. Contudo, Valores elevados de Jp forçam os polos dominantes de Gclpms (s)
para próximo da origem, levando assim para uma indesejada estabilidade marginal. Por
outro lado, valores elevados de Dp forçam os polos dominantes a se afastarem da origem no
semi-plano esquerdo, tornando o sistema mais estável. Como Dp afeta o valor em regime
permanente da resposta (ver Equação 4.13), então uma escolha adequada do fator Dp /Jp
deve ser feita para atingir a resposta desejada com margem de estabilidade segura.
Mapeamento polos-zeros
Eixo Imaginário
Jp
Eixo Real
(a)
Mapeamento polos-zeros
Eixo Imaginário
Dp
Eixo Real
(b)
Figura 4.6: Mapeamento de polos e zeros para variação dos parâmetros da inércia vir-
tual no PMS. As setas indicam a marcha dos polos dominantes quando os parâmetros
aumentam: a) parâmetro Jp variando de 0,1 a 10; b) parâmetro Dp variando de 0,1 a 10.
4.3. PMS com inércia virtual 116
Tempo (s)
(a)
Tempo (s)
(b)
• A malha interna de corrente do SAE deve ser estável para garantir a operação correta
da técnica PMS-P1. A estabilidade da malha interna é alcançada com o projeto
adequado dos parâmetros do compensador de corrente KpiB and KiiB .
• Valores muito baixos para a frequência de corte (ω1 ) do filtro passa-baixas de potên-
cia aproxima o sistema da estabilidade marginal. Portanto, essa consideração deve
ser utilizada para projeto do filtro de potência.
180 V
Figura 4.8: Tensões trifásicas de fase obtidas do emulador da rede de distribuição CA.
950 W
Pload
Pdg
T1 T2 T3
1000 W
850 W
Tf
Ti T1 T2 T3 250 W T4
300 W
Pvsc
Pbess
900 W
250 W/div 250 W/div 20 s/div
(a)
95% 95%
SOC
85%
75%
50%
Vbus 400 V
menos potência, até o que o ponto de SOC mínimo de 50% seja atingido, como pode ser
verificado na Figura 4.10(b).
Quando o limite mínimo do SOC é alcançado, a rede de distribuição CA passa
a prover a potência interna na microrrede CC por intermédio do VSC. No instante T2 ,
o GD começa a injetar potência no sistema, reduzindo assim a potência fornecida pelo
VSC enquanto a potência no SAE é nula. Em T3 , a carga é cortada. Como resultado
da operação do PMS, o banco de baterias passa a absorver a potência excedente. No
transitório, o VSC entrega um pico de potência de aproximadamente 250 W. Quando o
nível de SOC de 85% é atingido em T4 = 150 s, o SAE começa a reduzir suavemente a
potência absorvida. Com isso, esse excedente de potência passa a ser injetado na rede de
distribuição. Quando o limite máximo do SOC é alcançado em Tf = 180 s, o SAE para de
absorver potência extra e toda a potência gerada pelo GD é entregue à rede CA. Ainda da
Figura 4.10(b), observa-se que durante todo o teste a tensão do barramento CC é mantida
bem regulada em 400 V, com variações inferiores a 20 V nos momentos transitórios.
Do teste realizado com os parâmetros de inércia escolhidos, pode-se perceber que
a estratégia de PMS com inércia virtual garante que o SAE forneça apenas a potência
requisitada em regime permanente. O transitório é fornecido pela rede elétrica de dis-
tribuição, com picos aceitáveis de potência transitória. Dentro dos limites de estado de
carga impostos pela função de BMS, a operação autônoma da microrrede CC é atingida
e a tensão do barramento CC é bem regulada. As transições do fluxo de potência são
suaves e o processo de carga e descarga do SAE é gerenciado, o que mostra que o banco
de baterias é preservado com o método proposto.
100 W
Pvsc
100 W
Pbess
250 W/div 250 W/div 20 s/div
(a)
SOC
Vbus 420 V
400 V
380 V
20 V/div 12.5%/div 20 s/div
(b)
potência fornecidos pelo VSC durante o transitório são até duas vezes mais elevados quando
comparados com o valor de inércia de referência (Figura 4.10(a)). O desempenho do SAE
é afetado por essa dinâmica, embora os limites de SOC sejam preservados, como mostrado
na Figura 4.12(b). A tensão do barramento é mantida estável e bem regulada em 400
V. Desse teste, infere-se que valores elevados de inércia degradam a capacidade do SAE
de armazenar ou absorver a potência requerida. Os picos elevados de potência também
são problemáticos. O controle sobre a potência transitória é essencial para proteger o
banco de baterias contra picos de corrente elétrica e também para manter a estabilidade
na microrrede CC.
500 W
Pvsc
650 W
Pbess
SOC
Vbus 400 V
250 W
Pvsc
Pbess
500 W
400 W
Pbess
500 W Pvsc
Pvsc
Pbess 300 ms
250 W/div 250 W/div 20 s/div
(a)
Pvsc
Pbess 1000 ms
250 W/div 250 W/div 20 s/div
(b)
Pbess
Pvsc
2000 ms
250 W/div 250 W/div 20 s/div
(c)
C4
Pvsc
C1 C3
Pbess
C2
SOC
C2 C4
Vbus C1 400 V
C3
entre os métodos faz com que a tensão do barramento CC deixe de ser regulada em
um valor fixo de 400 V. Ao comutar para o método por droop modificado, a tensão de
barramento passa a ser regulada em função do ponto de operação do VSC e do conversor
do SAE. Os transitórios de tensão são limitados pelos controladores de tensão, evitando-
se assim ultrapassar os limites de segurança de ±10% do valor nominal. Destaca-se que
durante a comutação dos métodos de PMS, a microrrede manteve-se sempre operacional,
sem desestabilizar a tensão do barramento CC.
Os resultados avaliados mostraram que, em caso de perda na linha de comuni-
cação entre os conversores, a comutação de um método centralizado para um método
distribuído, como o droop modificado, é uma solução viável. Após os transitórios causa-
dos pela comutação, a microrrede manteve-se operacional, com fluxo de potência regulado
4.5. Considerações finais 129
Capı́tulo 5
Interligação de um sistema eólico distribuído
com GRV
5.1 Introdução
crescente demanda pelo uso de fontes de energia renováveis em sistemas elétricos dis-
A tribuídos favorecem o uso de sistemas de conversão éolicos (wind energy conversion
systems-WECS ). Os WECS de pequeno porte são incentivados com o emprego de gera-
dores elétricos de alto desempenho. O gerador de relutância variável é um candidato em
potencial para aplicações em sistemas eólicos de pequeno porte, pois, como mencionado,
essas máquinas possuem vantagens como a ausência de imãs permanentes ou bobinas no
rotor, construção simples, alta eficiência, robustez, e tolerância a faltas [23, 24, 273]. Con-
tudo, as principais desvantagens do GRV são a complexidade de controle e o excesso de
ondulação do torque eletromagnético, os quais dificultam a aplicação industrial em larga
escala desses geradores. Para aplicação em geração distribuída e uso em microrredes CC
como a discutida nesta pesquisa, a conexão do GRV com a rede elétrica de distribuição
precisa ser avaliada.
A conexão do GRV com a rede elétrica de distribuição em WECS pode ser clas-
sificada como: conexão direta, quando o conversor do GRV é diretamente conectado ao
conversor da rede; ou como conexão indireta, quando um conversor de interface é inserido
entre os sistemas do GRV e da rede elétrica, atuando assim com estágio intermediário.
Na conexão direta, a opção de controle mais comum é utilizar o conversor fonte de ten-
são (VSC) da rede elétrica para regular a tensão do barramento CC, enquanto o GRV
opera rastreando a máxima potência eólica [209, 212, 219, 220, 222]. Outra possibilidade
de conexão direta é a utilização do GRV para regular o barramento CC, enquanto o VSC
atua sobre a injeção de potência na rede de distribuição [204]. Para a conexão indireta, o
conversor de interface é usualmente empregado para ajustar a tensão de saída do gerador.
Esse ajuste é realizado para que a tensão de saída do conversor do GRV seja compatível
5.1. Introdução 131
Este capítulo apresenta a descrição do sistema eólico com GRV estudado. Em se-
guida, discute-se o procedimento de otimização baseada em planejamento de experimentos
computacionais para GRV operando com controle direto de potência. Então, os aspec-
tos da qualidade da energia do sistema eólico com e sem o uso do conversor bidirecional
de interface são discutidos. Por fim, os resultados experimentais são apresentados para
validação da proposta de conexão do GRV à microrrede em corrente contínua.
Indutância Indutância
Tensão Tensão
Histerese Pulso único
Lmax Corrente Corrente Controle Direto
Excitação Excitação de Potência
Vgrv do GRV
Pulso único Pref
I ref
Lmin
w > wbase
q off
PI Pgrv Vgrv
Geração Geração eP
I ref I grv
Filtro
w £ wbase PI passa-baixas
Para gerador Histerese
-Vgrv de pulsos
Parâmetros de controle: q on ,q off ,Vgrv Parâmetros de controle: q on ,Vgrv A B
Variáveis controladas: I ref Variáveis controladas: q off
I grv I LB LB
ia , ib , ic
GRV S1 S2 S3 S G1 SG 3 SG 5
D2 D4 D6 SC 2 Lf Rede CA
a
Vgrv S Vdc
FA FB FC C1 b
Cgrv Cbus c
w ,q S1B S 2B S3B SG 2 SG 4 SG 6
D1 D3 D5 Va ,b ,c
N
Turbina Eólica Conversor em meia Conversor CC-CC Conversor
ponte assimétrico bidirecional de interface fonte de tensão
I LB Vdcref 2 vd
iqref
E F Qref -2 3
ia , ib , ic vd Controle de corrente
id , iq idref eid ud do VSC
dq PI
md S G1
va , vb , vc abc vd , vq id Vdc ma
wo L f
dq m SG 2
qg 2 qg b
SPWM SG 3
PLL qg iq wo L f
mq abc mc SG 4
iqref eiq uq SG 5
G
PI SG 6
vq
tensão de excitação do GRV. Portanto, nesse caso a corrente decresce após o período de
excitação e o controle por histerese é aplicado para regular a corrente de fase do gerador.
Para velocidades acima da velocidade de base, a força contra-eletromotriz é maior que
a tensão de excitação. Nesse caso, não é possível controlar a corrente de fase após o
período de excitação e, portanto, o controle por pulso único de tensão é aplicado. Para
o controle por histerese, o ângulo de ativação (θon ), o ângulo de desligamento (θof f ), e a
tensão de excitação do GRV (Vgrv ) são definidos como parâmetros de controle para fins
de acionamento e otimização. No controle por histerese, a corrente de referência (Iref )
é utilizada como variável controlada. Na operação por pulso único, como não é possível
controlar a corrente de fase, define-se o ângulo de desligamento como variável controlada,
enquanto a tensão de excitação e o ângulo de ativação são utilizados como parâmetros de
controle a serem otimizados.
em que Kpbv = 0, 0050 e Kibv = 0, 1346 são os ganhos proporcionais e integrais do contro-
lador PI, respectivamente.
Para altas velocidades (acima de ωsb ), a estratégia do CDP atua sobre o ângulo
de desligamento θof f , o que implica na operação por pulso único [220]. Novamente, um
5.2. Sistema eólico avaliado 136
em que Kpav = 0, 0026 e Kiav = 0, 0709 são os ganhos proporcionais e integrais do contro-
lador PI, respectivamente.
Vale destacar que, para ambos os controladores, os ganhos foram ajustados uti-
lizando a ferramenta de ajuste de ganhos do Matlab/Simulink. Para o caso do controle
por histerese, adotou-se como critério de projeto o tempo de resposta ao degrau consi-
derando a potência obtida na velocidade de base (512 W). Para a a operação por pulso
único, utilizou-se como critério de projeto o tempo de resposta ao degrau considerando a
potência nominal do GRV (2000 W).
dilb
LB = Rlb ilb − Vgrv + δL Vdc (5.3)
dt
dVgrv Vgrv
Cgrv = ilb − (5.4)
dt Req
em que LB = 2 mH e Rlb = 0, 1 Ω são a indutância e resistência do indutor do conversor,
ilB é a corrente que circula no indutor, δl é o ciclo de trabalho, Vdc = 400 V é a tensão no
barramento CC, Vgrv é a tensão de excitação ótima do GRV em função da velocidade e do
.
modo de operação, Cgrv = 2, 25 mF é a capacitância de saída do AHB e Req = Vgrv 2 Pgrv =
72, 2 Ω é a resistência de saída equivalente do conversor.
em que KpvL = 0, 7127 and KivL = 175, 76 são os ganhos proporcional e integral projetados
do controlador, respectivamente.
Para a malha interna, o controlador atua sobre o erro de corrente eiL = Iref B −ILB ,
de forma que o ciclo de trabalho do conversor é obtido como:
Z
δL = KpiL eiL + KiiL eiL dt (5.6)
5.2. Sistema eólico avaliado 138
em que KpiL = 0, 0086 e KiiL = 10, 0 são os ganhos proporcional e integral do controlador
PI projetado, respectivamente. Além disso, limita-se o ciclo de trabalho em 0 ≤ δL ≤ 1.
Com o projeto adequado do conversor bidirecional, pode-se regular a tensão de
excitação do GRV no valor ótimo, enquanto a tensão do barramento CC é mantida cons-
tante pelo VSC de interligação com a rede de distribuição. O conversor bidirecional têm
ainda um importante papel de filtragem para o barramento CC, como será discutido em
detalhes em uma seção posterior.
Alinhado
desalinhado
Figura 5.2: Curvas de magnetização obtidas para o GRV utilizado [191, 217].
dω
Tm = Te + Bv ω + J (5.8)
dt
em que Tm é o torque mecânico no rotor, Te é o torque eletromagnético, Bv é a constante
de atrito viscoso, e J é o momento de inércia.
As Equações (5.7) e (5.8), em conjuto com as tabelas de busca apresentadas
na Figura 5.3, completam o modelo por fase do GRV. A implementação desse modelo
no programa Matlab/Simulink é mostrada na Figura 5.4. A tensão de fase do GRV é
subtraída da queda de tensão nos enrolamentos do estator. O fluxo concatenado é obtido
da integral da tensão resultante. Com o fluxo e a posição angular do rotor, determina-se
a corrente elétrica de fase do GRV utilizando a tabela de busca I(Φ, θ). Com a corrente
resultante e com a posição angular, determina-se o torque instantâneo por fase utilizando
a tabela T (I, θ). A soma dos torques em cada fase determina o torque eletromagnético
total do GRV. Por fim, o comportamento mecânico do GRV é introduzido para obtenção
5.3. Otimização do sistema eólico com GRV 141
(a)
(b)
Figura 5.3: Dados das tabelas de busca do modelo da MRV: a) I(Φ, θ); b) T (I, θ)
[191, 217].
w 1
1
s Js + B
qj qj
Te1
Vj Fj Ij Temag
1 M
å s
I (F,q ) T (I , q )
Ten å å
Tm
R
Figura 5.4: Esquema do modelo utilizado para uma fase do GRV [191].
em que PCu é a potência dissipada no cobre do estator por efeito Joule, Nf é o número de
fases do GRV, e Irms é a corrente rms do gerador.
5.3. Otimização do sistema eólico com GRV 143
Tmax − Tmin
Tripple = (5.11)
Tavg
em que Tripple é a ondulação de torque, Tmax e Tmin são os torques máximo e mínimo,
respectivamente, e Tavg é o torque médio calculado em um período de passo do gerador.
As três variáveis principais do gerador de relutância variável, Irms , Φmax e Tripple ,
são utilizadas no procedimento de otimização multiobjetivo para melhoria de desempenho
do sistema eólico estudado.
θZof f Zθe
2
Ns × Nr × Vgrv (θ − θon ) dθ (θof f − θon − θ) dθ
Po = − (5.12)
ω L (θ) L (θ)
θon θof f
em uma dada velocidade ω, podem produzir a mesma potência de saída. A escolha desses
parâmetros é crucial para o desempenho do gerador, o qual é caracterizado por um ba-
lanço adequado entre eficiência e ondulação de torque eletromagnético. Entretanto, esses
dois objetivos são conflitantes quando se utilizam os métodos de controle convencionais,
como demonstrado em [161, 191, 219, 220]. Assim, a melhoria da eficiência resulta em um
aumento da ondulação de torque, ao passo que a redução dessa ondulação prejudica a efi-
ciência da máquina. Trata-se, portanto, de um problema de otimização multiobjetivo. A
técnica de planejamento de experimentos computacionais é utilizada nesta pesquisa para
determinação e resolução desse problema multiobjetivo, como discutido a seguir.
N
P N P
P N N P
P N P
N
f (x) = a0 + ai x i + aij xi xj + aijk xi xj xk + ε (5.14)
i=1 i=1 j≥i i=1 j≥i k≥i
de projeto, f (X) é a função objetivo (ou função custo) a ser minimizada, e gj (X) e lj (X)
são restrições de igualdade e desigualdade, respectivamente.
Em problemas de otimização multiobjetivo, tal qual a otimização dos parâmetros
de controle do GRV, mais de um objetivo conflitantes são considerados. Portanto, adota-se
a função custo multiobjetivo como uma combinação f (X) linear das funções conflitantes,
de maneira que:
N
X
min f (X) = αi fi (X) (5.16)
i=1
sendo fi (X) uma função objetivo conflitante, e αi são fatores de peso relacionando uma
função objetivo as demais.
Uma vez que a função multiobjetivo a ser minimizada é definida, diversas técnicas
numéricas podem ser empregadas para determinação do mínimo dessa função. O método
do ponto interior (interior point method - IPM) é apropriado para solução de problemas
computacionais não-lineares de otimização [278]. No IPM, para encontrar o mínimo da
função desejada, utiliza-se uma barreira logarítmica de aproximação construindo uma
função Φ(x, µ), tal que:
m
X
Φ(x, µ) = fo (x) − µ log (−fi (x)) (5.17)
i=1
em que µ é um parâmetro de penalidade, o qual é escolhido com valor mínimo pra pontos
distantes dos limites de restrições e máximo próximo a esses limites.
Encontra-se o ponto de mínimo da função objetivo por meio da resolução compu-
tacional das equações derivadas parciais:
m
X 1
∇Φ(x) = ∇fi (x) (5.18)
i=1 −fi (x)
m m
2 1 T 1
∇2 fi (x)
X X
∇ Φ(x) = 2 ∇fi (x)∇fi (x) + (5.19)
i=1 fi (x) i=1 −fi (x)
Figura 5.5: Programa DCE-SRG optimization tool desenvolvido para realização do pla-
nejamento de experimentos computacionais com GRV. Número do registro de software:
BR512019002154-1.
modos de acionamento por histerese e pulso único são dados, respectivamente, por:
5o ≤ θof f ≤ 21o
30o ≤ θon ≤ 50o
DS-Histerese [D]n×3 : 200 ≤ Vgrv ≤ 380 V
ω
600 ≤ ω ≤ 950 rpm
0 ≤ Pgrv ≤ 512 W
5.3. Otimização do sistema eólico com GRV 149
Início
w = winicial
FIM
Carrega dados w + Dw
de simulação Parâmetros ótimos
q off (w ),q on (w ),Vgrv (w )
V w £ wbase F
Pulso V
Histerese único F
w = w final
Space-filling Space-filling
[D ]n´3 [D ]n´2
Salva dados
i =1
Otimização
i++ ìq off = Di1
ï ìq on = Di1 i++
íq on = Di 2 í
ïV = D îVdc = Di 2 Função
î dc i3 Objetivo
Calcula Resposta
Pgrv , Rload de superfície
F
Simulação V Calcula
i = n? I rms , F max , Tripple
F Pgrv - Pref £ 0, 05 ´ Pref
V
Calcula
I rms , F max , Tripple Salva dados
Figura 5.6: Algoritmo de otimização para os sistemas eólicos com GRV utilizando plane-
jamento de experimentos computacionais
25o ≤ θon ≤ 50o
200 ≤ Vdc ≤ 380 V
DS-Pulso único [D]n×2 :
ω
950 ≤ ω ≤ 1500 rpm
400 ≤ Pgrv ≤ 2000 W
de espaços são enviados ao Simulink, onde o modelo da máquina com controle direto de
potência é implementado para cada terno D(θof f , θon , Vgrv ) no modo de acionamento por
histerese; ou par D(θon , Vgrv ), no acionamento por pulso único. A máxima potência do
GRV é definida com base na velocidade de referência. Uma carga variável Rload é inserida
para absorver a potência ótima em cada teste. Em seguida, realiza-se a simulação. Caso
a potência obtida tenha erro máximo de até 5% da potência de referência, então os dados
desse teste são armazenados em vetores. Caso contrário, testa-se outro ponto de operação.
Os dados armazenados em vetores são a corrente eficaz, Irms , o pico do fluxo concatenado,
Φmax , e a ondulação do torque eletromagnético, Tripple .
Após o armazenamento dos dados para todos os pontos dentro do espaço de pro-
jeto, encontra-se os valores normalizados referentes a velocidade de teste. A normalização
é obtida dividindo cada vetor armazenado pelo maior valor no teste. Em seguida, monta-
se uma superfície de resposta polinomial de terceira ordem para cada vetor normalizado.
Então, encontra-se a função multiobjetivo a ser minimizada para cada velocidade de teste,
de forma que:
em que I¯rms é o valor normalizado do vetor de corrente eficaz, o qual minimiza as perdas
no cobre; Φ̄max é o vetor normalizado do pico do fluxo concatenado, o qual minimiza as
perdas no núcleo, e T̄ripple é o vetor normalizado da ondulação do torque eletromagnético.
Os parâmetros α1 , α2 , α3 são os fatores de ponderação da função multiobjetivo.
Os fatores de ponderação α1 , α2 , α3 são definidos de maneira diferente para os
modos de operação por histerese e pulso único. Para baixas velocidades, definem-se α1 =
0.333, α2 = 0, 333 e α3 = 0, 333, de forma que tanto o aumento da eficiência quanto a
redução da ondulação de torque são priorizadas. Em altas velocidades, contudo, as perdas
no núcleo do gerador tendem a ser mais elevadas. Portanto, o vetor de pico do fluxo
concatenado é priorizado na otimização. Nesse caso definem-se α1 = 0, 25, α2 = 0, 5 and
α3 = 0, 25. Uma vez construída a superfície de resposta, o mínimo da função multiobjetivo
é obtido utilizando o método do ponto interior.
Findado o processo de otimização, os parâmetros ótimos de controle do GRV,
θon , θof f , e Vgrv são armazenados para a velocidade do rotor em teste. O algoritmo segue
com a incrementação da velocidade de teste e o procedimento é repetido. Quando a
velocidade máxima de 1500 rpm é atingida, os dados finais são armazenados em tabelas
de busca em função da velocidade de operação e o processo é encerrado. O tempo total
do procedimento realizado foi de 2h:53 min para cada um dos sistemas eólicos testados.
O computador pessoal utilizado possui processador i7-8000 CPU 3.7 GHz, 16 GB RAM,
SSD 256 GB.
5.3. Otimização do sistema eólico com GRV 151
wbase
Figura 5.7: Parâmetros ótimos de controle para os sistemas eólicos com GRV com e sem
o uso do conversor de interface. a) angulo de ligação, θon ; b) angulo de desligamento, θof f ;
c) tensão de excitação do GRV, Vgrv ; d) avaliação da função custo.
com GRV.
Tst = N F f st
Dvst + Dvc
vgrv
Vgrv
iA iB iC
I ref
q
Figura 5.8: Representação da ondulação de tensão de saída do GRV. Figura ilustrativa,
não representa as variáveis em escala.
Na Figura 5.8, Tst é o período de passo do gerador, definido como o intervalo entre
a ativação de duas fases. A ondulação da tensão de saída depende desse intervalo, bem
como do número de fases da máquina. Pode-se descrever a tensão de saída do GRV em
função de três componentes principais, de forma que:
em que vgrv é a tensão de saída do GRV, V̄grv é o valor médio da tensão, ∆vst é a ondulação
dada na frequência de passo da máquina (e consequentes harmônicas), e ∆vc é a ondulação
de tensão em altas frequências.
Das três componentes de tensão descritas, o valor da tensão média (V̄grv ) de saída
do conversor AHB é determinado pela tensão de excitação utilizada no GRV. A compo-
nente de altas frequências (∆vc ) ocorre devido ao acionamento das chaves do conversor.
Essa componente é significativa e variável na operação por histerese devido à comutação
das chaves, e ausente na operação por pulso único para uma mesma tensão de excitação.
A tensão de saída do GRV contém ainda a ondulação (∆vst ) com frequências múltiplas da
frequência de passo da máquina, dada por:
5.4. Melhoria na qualidade de energia 154
ωNr
fst = hNF , (h = 1, 2, 3...) (5.22)
2π
em que fst é um múltiplo da frequência de passo do GRV, h é a ordem da harmônica, NF é
o número de fases da máquina, Nr é o número de polos do rotor, ω é a velocidade angular
do GRV.
Portanto, a ondulação da tensão do GRV em função do período de passo, ∆vst ,
depende da velocidade de operação do gerador. O aumento do número de fases da máquina
aumenta a frequência de ondulação, o que facilita o processo de filtragem. Para uma
máquina trifásica como a em estudo, o método convencional de filtragem consiste da
escolha adequada para a capacitância de saída do conversor AHB. A componente ∆vst
pode ser aproximada por [197]:
v
u !2 !2
2V̄grv ESR V̄grv
∆vst ∼
u
= t
+ (5.23)
Ro 2πfst Ro Cgrv
Em que ESR é a resistência série equivalente do capacitor, Ro é a resistência equivalente
de saída do conversor AHB, e Cgrv é a capacitância do conversor.
Para mitigação das componentes de ondulação de tensão, a capacitância do con-
versor em meia ponte assimétrica pode, então, ser projetada da seguinte forma:
!
Po 1
Cgrv = (5.24)
V̄grv ∆vmax 2NF Nr ω
em que Po é a potência nominal do conversor e ∆vmax é a máxima ondulação de tensão
permitida.
A escolha adequada da capacitância de saída do conversor AHB ajuda a mitigar
parte da ondulação de tensão de saída do GRV. Vale destacar que a componente ∆vc
é reduzida pela escolha de capacitores com baixa resistência série equivalente (ESR) na
frequência de chaveamento [197]. Contudo, a componente de ondulação de tensão ∆vst
apresenta baixas frequências para baixas velocidades de operação. Portanto, um valor
muito elevado da capacitância seria necessário para mitigar a ondulação de tensão de forma
eficaz, especialmente em baixas velocidades. O aumento significativo da capacitância
aumenta o custo e o volume, além de afetar a estabilidade do sistema, sendo impraticável
em aplicações de pequeno porte. Com isso, para um sistema eólico com GRV e conexão
direta, parte não desprezível da ondulação de tensão do GRV permanece presente no
barramento CC. A seguir, discute-se o efeito dessa ondulação de tensão no barramento
CC na qualidade da energia de saída do conversor fonte de tensão.
5.4. Melhoria na qualidade de energia 155
ma (t) = M̄d cos (ω1 t) + am cos (ωst t) cos (ω1 t) − mq sen (ω1 t) (5.28)
5.4. Melhoria na qualidade de energia 156
com uso de filtros ressonantes, média móvel ou adaptativos [279]. Contudo, esse acesso ao
controle do VSC nem sempre é possível, especialmente em aplicações industriais em que
inversores de frequência comerciais são utilizados. Por outro lado, em um sistema eólico
com GRV utilizando o conversor de interface, como mostrado na Figura 5.1, o próprio
conversor adiciona uma característica de filtragem capaz de mitigar de forma eficiente a
oscilação de tensão causada pelo gerador. Essa característica é discutida a seguir.
e ( s ) d% ( s ) Leq
1: M (D )
Figura 5.9: Forma canônica em pequenos sinais de conversores CC-CC operando em CCM
[280].
demais relações apresentadas na forma canônica para o conversor boost são dadas por [280]:
1
M (D) = (5.31)
(1 − D)
5.4. Melhoria na qualidade de energia 158
Vdc
j (s) = (5.32)
(1 − D)2 Req
" #
sLB
e (s) = Vdc 1− (5.33)
(1 − D)2 Req
Da forma canônica mostrada na Figura 5.9, percebe-se ainda que o conversor é
representado por um filtro passa-baixas LC na saída formado pela indutância equivalente
e pela capacitância do barramento CC. Variações na tensão de entrada são refletidas na
tensão de saída do conversor em função da entrada de controle, do ponto de operação, e
da relação de transformação do transformador CC ideal.
A característica de linha para saída (line-to-output) do conversor bidirecional de
interface representa a relação de uma perturbação na tensão de saída (ṽdc ) para uma dada
perturbação na tensão de entrada (ṽgrv ). Essa relação é dada por uma função de segunda
˜ = 0 a partir da forma
ordem característica de um filtro passa-baixas, obtida fazendo d(s)
canônica mostrada na Figura 5.9, e expressa por:
ṽdc (s) 1
Gvg (s) = = Go 2 (5.34)
ṽgrv (s)
s s
ωc
+ Qωc
+1
em que,
Go = (1 − Db )−1 (5.35)
ωc = (1 − Db ) √LB Cbus (5.36)
s
Cbus
Q = (1 − Db ) Req (5.37)
LB
sendo que Go é o ganho da função de transferência, Db é o ciclo de trabalho médio, ωc
é o frequência de corte do filtro passa-baixas, Q é o fator de qualidade do filtro, LB e
.
Cbus são a indutância e capacitância do conversor, respectivamente, e Req = Vdc 2 Pvsc é a
resistência equivalente de saída.
A função de transferência Gvg (s) é utilizada para avaliar como as oscilações de
tensão impostas pelo GRV são refletidas na saída do conversor de interface. Além disso,
Gvg (s) é utilizada para o projeto adequado do filtro equivalente de saída do conversor.
Considerando o pior caso de projeto, a frequência de corte máxima do filtro passa-baixas
equivalente do conversor é obtida quando Db = 0, de acordo com a Equação (5.36). Com
isso, o projeto dos parâmetros do conversor bidirecional para atenuação das componentes
de oscilação causadas pela frequência de passo do GRV é determinado por:
5.4. Melhoria na qualidade de energia 159
!2
1
LB Cbus > (5.38)
2πfst0
em que, para o conversor implementado experimentalmente, LB = 2 mH, Cbus = 4 mH e
fst0 é a componente fundamental da frequência de passo da GRV para a menor velocidade
de operação.
Com o valor dos parâmetros de indutância e capacitância utilizados, a função
de linha para saída, Gvg (s), do conversor de interface projetado é apresentada na Figura
5.10. A variação do ciclo de trabalho médio (∆Db ) para a faixa de operação do GRV é
de 0, 0 < Db < 0, 5, com variação de 0,1. O aumento do ciclo de trabalho resulta em uma
redução da frequência de corte (ωc ) do filtro. Portanto, o caso crítico é obtido em Db = 0,
como discutido.
Diagrama de Bode
wc = 353,7
rad/s Oscilações
Magnitude [dB]
do GRV
DDb
0,5 0 wst¢ = 1508,0
rad/s
Fase [graus]
Oscilações
DDb do GRV
Frequência [rad/s]
Figura 5.10: Diagrama de bode da função Gvg (s) para o conversor de interface projetado
com variação do ciclo de trabalho médio 0, 0 < Db < 0, 5.
0
apresenta frequência de corte (ωc ) inferior a frequência de passo mínima (ωst ) inserida pelo
GRV. O fator de qualidade (Q) do filtro é superior a 35 dB, o que resulta numa rápida
inversão de fase acima da frequência de corte. A atenuação do filtro é superior a 20 dB
0
em ωst mesmo na operação crítica com Db = 0. Portanto, o conversor projetado atende os
requisitos impostos pela Equação (5.38), como desejado.
A característica de filtragem do conversor bidirecional de interface apresentada
mostra que as ondulações de tensão causadas pela frequência de passo do GRV são ate-
nuadas com a inserção do conversor de interface. A frequência de passo do GRV depende
da velocidade de operação do gerador, o que dificulta a filtragem em sistemas eólicos em
velocidade variável com conexão direta. A atenuação dessas oscilações resultam numa
melhora da qualidade da energia injetada na rede de distribuição em GD, como mostrado
nos resultados experimentais a seguir.
Inversor WEG
DAQ
Placa
DSP
VSC
GRV MI
Oscilosc.
IHM Conv. Interface AHB
Figura 5.11: Bancada de testes implementada para avaliação da conexão do GRV com a
rede elétrica
400 V Vdc
IgrvA
400 V Vdc
Vgrv
IgrvA
Figura 5.12: Resultados experimentais da comparação a 950 rpm. a) sistema eólico com
GRV diretamente conectado; b) sistema eólico com GRV e conversor de interface proposto.
do GRV resulta em um conteúdo de distorção nas correntes da rede em 320 Hz e 440 Hz (fst1
e fst2 ). Essas componentes de distorção são altamente mitigadas na conexão utilizando o
conversor de interface, o que enfatiza a característica de filtragem do sistema proposto. As
componentes ordinárias originadas pela imperfeição da tensão da rede de distribuição são
as harmônicas 5a , 7a , 11a and 13a , nomeadas como f5 , f7 , f11 , f13 , respectivamente. Tem-se
5.5. Resultados Experimentais 163
conexão indireta
Conteúdo harmônico [A] conexão direta
Frequência [Hz]
(a)
conexão indireta
Conteúdo harmônico [A]
conexão direta
Frequência [Hz]
(b)
Figura 5.13: Análise da FTT das correntes na rede a 950 rpm para os sistemas com
conexão direta e com conversor de interface: a) espectro em baixa frequência; b) espectro
em alta frequência.
Vdc
400 V
IgrvA
400 V
Vdc
Vgrv
IgrvA
Figura 5.14: Resultados experimentais da comparação a 1250 rpm. a) sistema eólico com
GRV diretamente conectado; b) sistema eólico com GRV e conversor de interface proposto.
conexão indireta
Frequência [Hz]
(a)
conexão indireta
Conteúdo harmônico [A]
conexão direta
Frequência [Hz]
(b)
Figura 5.15: Análise da FTT das correntes na rede a 1250 rpm para os sistemas com
conexão direta e com conversor de interface: a) espectro em baixa frequência; b) espectro
em alta frequência.
75
65
60
55
50 conexão indireta
conexão direta
45
600 800 1000 1200 1400
Velocidade do rotor [rpm]
Figura 5.16: Avaliação experimental da eficiência global dos sistemas com e sem o uso do
conversor de interface.
Da Figura 5.16, nota-se que a eficiência global do sistema com conversor de inter-
face é praticamente a mesma da obtida com a conexão direta em baixas velocidades. Na
operação por pulso único, contudo, o sistema com conexão direta apresenta rendimento
cerca de 2,5% superior a estratégia proposta. Esse resultado é explicado pelo fato do
rendimento do conversor bidirecional implementado ser na faixa de 88-90%. Em baixas
velocidades, a otimização da tensão de excitação do GRV garante um desempenho superior
do gerador em relação a estratégia com uso de uma tensão de excitação fixa. Parte desses
ganhos são mitigados pelas perdas no conversor extra adicionado. Em altas velocidades,
a melhoria do desempenho do GRV com otimização da tensão é menor, como poder ser
verificado na análise da função custo mostrada na Figura 5.7(d). Portanto, o uso do con-
versor de interface resulta em uma diminuição da eficiência global quando comparado com
o sistema diretamente conectado. Vale salientar que os resultados da eficiência global do
sistema com conexão indireta proposto podem sem melhorados com o uso de conversores
de interface de alta eficiência (acima de 95%), como o proposto em [241].
120
conexão indireta
conexão direta
Oscilação de torque [%]
100
80
60
40
20
800 1000 1200 1400
Velocidade do rotor [rpm]
Figura 5.17: Avaliação experimental da ondulação de torque mecânico para os sistemas
com e sem o uso do conversor de interface.
conexão direta
15
10
0
800 1000 1200 1400
Velocidade do rotor [rpm]
Figura 5.18: Avaliação experimental da distorção total de corrente de saída para os
sistemas com e sem o uso do conversor de interface.
Da Figura 5.18, fica evidente que o sistema com conversor de interface proposto
retorna menor distorção total de corrente em toda faixa de operação do gerador de relu-
tância variável. Essa distorção é substancialmente reduzida em até 6% quando comparada
com o sistema eólico diretamente conectado. A diferença observada é resultado da ação
de filtragem do conversor bidirecional de interface com projeto adequado, o qual mitiga
as oscilações de tensão no barramento CC introduzidas na frequência de passo do GRV.
A medida que a operação se aproxima da velocidade nominal (1500 rpm), as distorções
de corrente são minimizadas. Nessa situação, ambos os sistemas apresentam distorções
aproximadamente iguais, inferiores a 5%. Destaca-se que, para baixas velocidades em
ambos os sistemas, a distorção harmônica de corrente fica acima dos 5% recomendados
5.6. Considerações finais 170
pelo documento normativo IEEE Standards 519 [281]. Fica claro, contudo, que o sistema
proposto apresenta melhor qualidade da energia em toda faixa de operação, o que facilita
a adequação às normas nacionais e internacionais para geração distribuída. Técnicas para
mitigação de conteúdo harmônico podem ainda ser implementadas no VSC para melho-
rar ainda mais a qualidade da corrente elétrica injetada na rede. Como mencionado, tais
técnicas estão fora do escopo deste trabalho.
Capı́tulo 6
Conclusões
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