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IMPACTO DA GERAÇÃO EÓLICA NA INÉRCIA E ESTABILIDADE DE

FREQUÊNCIA DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA

Bruno Pestana Rosa

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia Elétrica da Escola Politécnica da

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro Eletricista.

Orientadora: Tatiana Mariano Lessa de Assis

Rio de Janeiro

Dezembro de 2019
Rosa, Bruno Pestana

Impacto da Geração Eólica na Inércia e Estabilidade de


Frequência de Sistemas de Energia Elétrica / Bruno Pestana
Rosa. – Rio de Janeiro: UFRJ/Escola Politécnica, 2019.

X, 70 p.: il.; 29,7cm.

Orientadora: Tatiana Mariano Lessa de Assis

Projeto de Graduação – UFRJ/Escola Politécnica/Curso de


Engenharia Elétrica, 2019.

Referências Bibliográficas: p. 56 – 58.


2
.
1. Geração Eólica. 2. Resposta Inercial. 3. Estabilidade de
Frequência. 4. Geração Assíncrona. I.aAssis, Tatiana Mariano
e
Lessa de. II. Universidade Federal dor Rio de Janeiro, Escola
o
Politécnica, Departamento de Engenharia Elétrica. III.
g
Impacto da Geração Eólica na Inércia e e Estabilidade de
r
a
Frequência de Sistemas de Energia Elétrica.
d
o
r
.
3
.

iii
Agradecimentos

À minha mãe, Cláudia, e aos meus avós, Roberto e Elisa, pelo amor, carinho e
apoio que me deram durante toda a minha vida. Por todos os ensinamentos e momentos
que me tornaram quem eu sou hoje. Se hoje eu cheguei até aqui, foi graças a estarem
presentes a cada pequeno passo em minha vida, torcendo sempre pelo meu sucesso.
Espero que possam admirar a pessoa que me tornei da mesma forma que os admiro.

À minha namorada, Maria, por todo o amor que sempre me dedicou e por todos
os anos de apoio e companheirismo. Por ser minha melhor amiga com quem eu posso
contar em todas as horas. Espero criar muitas histórias ao seu lado.

Aos meus amigos do ONS, pelo completo apoio na confecção deste trabalho e por
todo o desenvolvimento profissional proporcionado durante meu estágio.

A todos os professores do DEE pelos valiosos conhecimentos passados. Em


especial à minha orientadora, Tatiana, pela dedicação e comprometimento com o meu
aprendizado e pela orientação indispensável para este trabalho e para minha formação
profissional.

iv
Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como parte dos
requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Eletricista.

IMPACTO DA GERAÇÃO EÓLICA NA INÉRCIA E ESTABILIDADE DE


FREQUÊNCIA DE SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA

Bruno Pestana Rosa

Dezembro/2019

Orientadora: Tatiana Mariano Lessa de Assis

Curso: Engenharia Elétrica

O aumento da preocupação com o meio ambiente e a busca por uma matriz


energética mais limpa e renovável criou condições para um rápido crescimento da
participação da geração eólica nos parques geradores de muitos países nos últimos anos.

Entretanto, a elevada penetração de geração eólica representa um novo paradigma


para os operadores dos sistemas de energia elétrica uma vez que impacta diretamente a
estabilidade de frequência. A substituição da tradicional geração síncrona por formas
assíncronas de geração reduz a resposta inercial e aumenta a taxa de variação da
frequência, pondo em risco a segurança do sistema na ocorrência de grandes
desequilíbrios entre a carga e a geração.

O presente trabalho busca estudar como o aumento da geração eólica e a


consequente redução da resposta inercial de um sistema de energia elétrica afetam sua
estabilidade de frequência frente a grandes distúrbios na rede. Ademais, objetiva-se
analisar uma forma de estimação da inércia mínima requerida para garantir a segurança
do sistema. Para isso, são realizadas simulações de transitórios eletromecânicos
inicialmente em um sistema de pequeno porte e, por fim, no Sistema Interligado Nacional.

Palavras-chave: Geração Eólica, Resposta Inercial, Estabilidade de Frequência, Geração


Assíncrona.

v
Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Engineer.

IMPACT OF WIND GENERATION ON POWER SYSTEM INERTIA AND


FREQUENCY STABILITY

Bruno Pestana Rosa

December/2019

Advisor: Tatiana Mariano Lessa de Assis

Course: Electrical Engineering

The growing concern with the environment and the search for a larger share of
clean and renewable energy sources provided the conditions for a rapid growth of the
participation of wind generation in the energy portfolio of many countries in the latest
years.

However, a high penetration of wind power presents a new paradigm for power
system operators as it directly impacts the frequency stability of the grid. The shift from
traditional synchronous generation to the asynchronous one reduces the inertial response
and increases the rate of change of frequency of a power system, endangering its security
in the event of a large imbalance between load and generation.

The present paper aims to study how the increase of wind generation and the
consequential reduction of inertial response affect a power system frequency stability in
the face of major grid disturbances. Moreover, the paper analyzes a method to estimate
the minimum inertia required to ensure system security. With this objective in mind,
electromechanical transient simulations were initially performed in a small system and,
finally, in the Brazilian Electric System.

Keywords: Wind Generation, Inertial Response, Frequency Stability, Asynchronous


Generation.

vi
Sumário
Capítulo 1 – Introdução ................................................................................................................1
1.1 Motivação ..........................................................................................................................1
1.2 Objetivos ............................................................................................................................5
1.3 Estrutura .............................................................................................................................5
Capítulo 2 – Inércia ......................................................................................................................7
2.1 Inércia de uma máquina síncrona .......................................................................................7
2.2 Inércia equivalente de um sistema......................................................................................9
2.3 Impacto da Inércia na Estabilidade de um Sistema de Energia Elétrica ........................... 11
2.3.1 Estabilidade Angular ................................................................................................ 11
2.3.2 Controle e Estabilidade de Frequência ...................................................................... 14
2.4 Inércia das Fontes Renováveis Conectadas via Inversores ............................................... 18
2.5 Considerações Finais........................................................................................................ 19
Capítulo 3 – Simulações e Resultados ........................................................................................ 21
3.1 Sistema IEEE 39 Barras ................................................................................................... 21
3.1.1 Introdução e Estudos Iniciais .................................................................................... 21
3.1.2 Impacto da Modelagem da Carga na Resposta Dinâmica do Sistema ....................... 28
3.1.3 Impacto do Carregamento das Unidades Geradoras na Resposta Dinâmica do Sistema
........................................................................................................................................... 31
3.2 Sistema Interligado Nacional (SIN) ................................................................................. 34
3.2.1 Introdução ................................................................................................................. 34
3.2.2 Metodologia de Estudo ............................................................................................. 36
3.2.3 Sensibilidade da Resposta Dinâmica da Frequência ao Modelo da Carga ................ 39
3.2.4 Ilhamento dos Subsistemas Norte e Nordeste ........................................................... 45
Capítulo 4 – Conclusão .............................................................................................................. 53
Capítulo 5 – Bibliografia ............................................................................................................ 56
Apêndice A – Dados do Sistema Teste IEEE 39 Barras ............................................................. 59
A.1 Geradores Síncronos ....................................................................................................... 59
A.1.1 Modelo dinâmico ..................................................................................................... 59
A.1.2 Modelo do Regulador de Velocidade ....................................................................... 60
A.1.3 Modelo do Regulador de Tensão ............................................................................. 61
A.1.4 Modelo do Estabilizador (PSS) ................................................................................ 62
A.2 Geradores Eólicos ........................................................................................................... 63
A.3 Modelo da Carga ............................................................................................................. 67
A.4 Linhas e Transformadores ............................................................................................... 68
A.5 Ponto de Operação do Sistema ........................................................................................ 69

vii
Lista de Figuras
Figura 1.1: Evolução da matriz elétrica mundial (Fonte: Adaptado da Eletricity
Information 2019, IEA [1]) .............................................................................................. 1
Figura 1.2: Evolução da capacidade eólica global instalada (Fonte: Global Wind Report
2017, GWEC [2]) ............................................................................................................. 2
Figura 1.3: Evolução da matriz elétrica brasileira (Fonte: ONS – Operador Nacional do
Sistema Elétrico [3]) ......................................................................................................... 3
Figura 1.4: Evolução da capacidade instalada da geração eólica no Brasil (Fonte: Boletim
Anual de Geração Eólica, ABEEólica [4]) ....................................................................... 3
Figura 1.5: Evolução da matriz elétrica do subsistema Nordeste (Fonte: ONS – Operador
Nacional do Sistema Elétrico [3]) .................................................................................... 4
Figura 2.1: (a) Sistema exemplo de 6 barras. (b) Resposta do sistema a perda de uma
unidade geradora na barra 2.............................................................................................. 9
Figura 2.2: Sistema Máquina x Barra Infinita ................................................................ 12
Figura 2.3: Comportamento da curva potência x ângulo: (a) antes da perturbação; (b)
durante a perturbação e (c) durante a perturbação no caso limite de estabilidade ......... 14
Figura 2.4: Resposta típica de um sistema de energia elétrica à perda de geração com
regulação primária e com regulação primária + CAG .................................................... 15
Figura 2.5: Variação da resposta típica da frequência após a perda de geração com a
inércia equivalente do sistema ........................................................................................ 17
Figura 2.6: Principais topologias de geradores eólicos e plantas fotovoltaicas .............. 19
Figura 3.1: Sistema IEEE 39 barras [26] ........................................................................ 21
Figura 3.2: Frequência do COI para a contingência base por nível de penetração de
geração eólica ................................................................................................................. 23
Figura 3.3: Variação da RoCoF máxima com o nível de penetração para a contingência
base ................................................................................................................................. 23
Figura 3.4: Tensão na Barra 38 para o caso com máquina síncrona e com geração eólica
para a contingência base ................................................................................................. 26
Figura 3.5: Variação da carga com o nível de penetração para a contingência base ...... 26
Figura 3.6: RoCoF máxima simulado e calculado com margem de erro de ±5% para
diferentes níveis de penetração de geração eólica .......................................................... 27
Figura 3.7: Variação da frequência do COI com o modelo da parcela ativa da carga para
a contingência base, sem geração eólica ........................................................................ 28
Figura 3.8: Variação da frequência do COI com o modelo da parcela ativa da carga para
a contingência base, 15% de penetração eólica .............................................................. 29
Figura 3.9: Variação da frequência do COI com o modelo da parcela ativa da carga para
a contingência base, 30% de penetração eólica .............................................................. 29
Figura 3.10: Variação da RoCoF máxima com o modelo da parcela ativa da carga e
penetração de geração eólica para a contingência base .................................................. 30

viii
Figura 3.11: Variação da frequência do COI com o carregamento das máquinas síncronas
........................................................................................................................................ 32
Figura 3.12: Perfil da carga total do sistema para diferentes níveis de penetração de
geração eólica e carregamento das unidades geradoras .................................................. 33
Figura 3.13: Variação da RoCoF máxima simulado e calculado com margem de erro de
±2% com o carregamento das máquinas síncronas ....................................................... 33
Figura 3.14: Malha principal de transmissão do Sistema Interligado Nacional (Fonte:
ONS [30]) ....................................................................................................................... 34
Figura 3.15: Divisão do SIN em subsistemas e principais interligações (Fonte: ONS) . 35
Figura 3.16: Exemplo de arquivo “DMAQ.dat” e campos de interesse ......................... 37
Figura 3.17: Exemplo de arquivo de modelos de máquinas síncronas e campos de
interesse .......................................................................................................................... 37
Figura 3.18: Frequência do COI para os diferentes patamares de carga. ....................... 42
Figura 3.19: Variação da frequência do COI com o modelo da parcela ativa da carga para
o patamar de carga mínima. ............................................................................................ 43
Figura 3.20: Variação da frequência do COI com o modelo da parcela ativa da carga para
o patamar de carga pesada .............................................................................................. 43
Figura 3.21: RoCoF máxima observada para cada patamar de carga e modelo estudado.
Barras de erro de ±5% ................................................................................................... 44
Figura 3.22: Interligação Norte – Nordeste – Sudeste/Centro-Oeste. Panorama atual e
reforços futuros. [30] ...................................................................................................... 46
Figura 3.23: Interligação entre os subsistemas Norte, Nordeste e Sudeste. Linhas
tracejadas foram as desligadas pela perturbação. ........................................................... 47
Figura 3.24: Situação das principais interligações pré-contingência ............................. 49
Figura 3.25: Frequência do COI para a abertura da interligação Norte/Sul. 𝑡0 =
18: 02: 18 ....................................................................................................................... 50
Figura 3.26: RoCoF absoluta máxima simulada e teórica com margem de ±5% .......... 52
Figura A.1: Modelo do Regulador de Velocidade [28] .................................................. 60
Figura A.2: Modelo do Regulador de Tensão [28] ......................................................... 61
Figura A.3: Modelo do Estabilizador [28]...................................................................... 62
Figura A.4: Modelo de controle de tensão do DDSG [28] ............................................. 65
Figura A.5: Modelo do controle do ângulo de pitch....................................................... 66

ix
Lista de Tabelas
Tabela 3.1 – Variação da Inércia equivalente do sistema com a penetração de geração
eólica............................................................................................................................... 22
Tabela 3.2 – Variação do nadir de frequência com o aumento da penetração de geração
eólica............................................................................................................................... 24
Tabela 3.3 – Comparação da RoCoF máxima simulada e calculada .............................. 25
Tabela 3.4 – Associação de áreas do ANAREDE com subsistema do SIN ................... 38
Tabela 3.5 – Patamares de carga disponíveis no caso histórico (.SAV) dos casos de ... 39
Tabela 3.6 – Condições gerais e valores de inércia equivalente do SIN e seus subsistemas
........................................................................................................................................ 40
Tabela 3.7 – Balanço geração/carga de cada subsistema e cálculo da inércia equivalente
........................................................................................................................................ 48
Tabela A.1 – Parâmetros do modelo dinâmico dos geradores síncronos ....................... 60
Tabela A.2 – Parâmetros do modelo do Regulador de Velocidade ................................ 61
Tabela A.3 – Parâmetros do modelo do Regulador de Tensão ...................................... 62
Tabela A.4 – Parâmetros do modelo do Estabilizador ................................................... 63
Tabela A.5 – Parâmetros do modelo da turbina eólica ................................................... 66
Tabela A.6 – Perfil inicial das cargas para a tensão inicial ............................................ 67
Tabela A.7 – Dados de Linhas de Transmissão .............................................................. 68
Tabela A.8 – Dados de Transformadores ....................................................................... 69
Tabela A.9 – Ponto de Operação do Sistema ................................................................. 69

x
Capítulo 1

Introdução
1.1 Motivação

Os sistemas de energia elétrica de grande porte têm sua geração tradicionalmente


composta por máquinas síncronas, utilizando primariamente combustíveis fósseis, os
quais corresponderam, em 2017, a 64,5% da energia elétrica gerada no mundo. Outras
importantes fontes de energia que também fazem uso de máquinas síncronas são a nuclear
e a hidrelétrica, correspondentes a respectivamente 10,2% e 16,3% da matriz elétrica
mundial em 2017 (Figura 1.1) [1].

Nos últimos anos, no entanto, um rápido aumento da geração eólica e solar tem
sido observado ao redor do mundo com a depleção dos combustíveis fósseis e a busca de
uma matriz energética mais renovável e limpa. Em particular, destaca-se o crescimento
da geração eólica, que tem mostrado um aumento bem acelerado nos últimos anos, já
representando 4,4% da matriz elétrica mundial em 2017, como mostra a Figura 1.2 [2].

Figura 1.1: Evolução da matriz elétrica mundial (Fonte: Adaptado da Eletricity Information 2019, IEA [1])

1
Figura 1.2: Evolução da capacidade eólica global instalada (Fonte: Global Wind Report 2017, GWEC [2])

No Brasil, a matriz energética para geração de energia elétrica apresenta algumas


diferenças do resto do mundo, em particular na parcela composta pela geração
hidrelétrica, conforme pode-se ver na Figura 1.3 [3]. No entanto, o país tem passado por
uma grave crise hídrica nos últimos anos e um crescimento acentuado da geração térmica
foi observado a partir de 2012. Nesse panorama, as formas de geração solar e eólica têm
um papel importante em compensar o baixo nível de água dos reservatórios nos anos
futuros.

Isso é especialmente verdade para a energia eólica, que já representava 7,4% da


matriz elétrica do país no ano de 2017, 1,7 vezes mais que a média mundial. Na Figura
1.4 [4], está disposta a evolução da capacidade instalada de geração eólica em função das
contratações já realizadas nos leilões regulados e no mercado livre para os próximos anos.

Em particular, a região Nordeste do Brasil é uma das regiões mais promissoras


para a expansão da energia eólica no mundo. No ano de 2018, a geração eólica
representou 51,6% da geração desta região e a mesma foi responsável por 85,7% da
geração eólica do país nesse ano, conforme Figura 1.5 [3].

Em situações de carga leve com boas condições de vento, o nível de penetração


instantânea da geração eólica pode chegar a patamares até maiores, sendo o recorde atual
de 89% de toda a carga deste subsistema [5].

2
Figura 1.3: Evolução da matriz elétrica brasileira (Fonte: ONS – Operador Nacional do Sistema Elétrico [3])

Figura 1.4: Evolução da capacidade instalada da geração eólica no Brasil (Fonte: Boletim Anual de Geração Eólica,
ABEEólica [4])

3
Figura 1.5: Evolução da matriz elétrica do subsistema Nordeste (Fonte: ONS – Operador Nacional do Sistema
Elétrico [3])

Uma vantagem sistêmica significativa das máquinas síncronas é o auxílio no


controle da frequência elétrica do sistema ao agregar resposta inercial, tornando-o mais
estável. Em outras palavras, elas possuem a capacidade de armazenar ou injetar a energia
cinética de seus rotores no sistema elétrico na ocorrência de um desequilíbrio entre a carga
e a geração. Este é um comportamento natural das máquinas síncronas que desempenha
um papel importante na operação de um sistema elétrico de potência, reduzindo a taxa de
variação da frequência (RoCoF, do Inglês: Rate of Change of Frequency) na ocorrência
de uma perturbação.

Por outro lado, as novas energias renováveis são conectadas ao sistema de forma
bem diferente das máquinas síncronas, por meio de conversores eletrônicos. Os
conversores entregam potência à rede elétrica através do controle do chaveamento de
dispositivos semicondutores e, portanto, apresentam um desacoplamento entre o gerador
e a rede elétrica. Assim, essas formas de geração não alteram significativamente a
potência fornecida ao sistema na ocorrência de desbalanços entre a carga e a geração. Isso
constitui uma forma assíncrona de geração, não agregando resposta inercial ao sistema,
como fazem as máquinas síncronas adotadas na geração convencional.

4
Devido às caraterísticas supracitadas, o aumento da penetração de geração eólica
e fotovoltaica no sistema elétrico leva a uma redução da sua inércia equivalente. Isso
aumenta a taxa de variação da frequência (RoCoF) e, com isso, aumenta o risco de que
um desequilíbrio carga-geração leve a frequência à níveis perigosos para a estabilidade
do sistema, podendo resultar em elevados cortes de carga e, em situações extremas, em
blecautes de grandes proporções.

1.2 Objetivos

Tendo em vista a mudança de paradigma que os sistemas elétricos de potência


irão enfrentar com a gradual caminhada em direção a uma maior penetração de formas
assíncronas de geração, grandes desafios são esperados para os operadores. Essa situação
já motivou vários estudos por parte dos operadores de sistemas sobre o tema [6] [7] [8]
[9].

Esse trabalho, portanto, tem como objetivo investigar como a resposta da


frequência é influenciada pela redução da inércia na presença de grandes desequilíbrios
carga-geração, e ainda, formas de mitigar essa redução. Nesse sentido, se faz desejável
uma forma de determinar a inércia mínima necessária para garantir a segurança elétrica
na operação do sistema e uma fórmula para a determinação desse índice será analisada.

1.3 Estrutura

Esse trabalho está dividido em quatro capítulos. No Capítulo 1 foi vista uma breve
introdução ao problema que será abordado. Foi apresentado um panorama geral do
crescimento da geração eólica no Brasil e no mundo, além de terem sido apresentados
alguns dos principais conceitos associados à problemática criada pelas formas assíncronas
de geração.

No Capítulo 2 os conceitos apresentados no Capítulo 1 são discutidos mais a fundo


e outros são apresentados. São abordados os conceitos de inércia de uma máquina
síncrona e de um sistema de energia elétrica. Junto a isso, é apresentada uma equação a
partir da qual se faz possível estimar a inércia mínima necessária para garantir a
estabilidade do sistema frente a um grande desbalanço carga-geração. O quão bem essa
equação representa o comportamento geral do sistema será discutido nos resultados. Em
seguida, são apresentados os conceitos básicos de estabilidade angular e de frequência e

5
como a inércia influencia nessas formas de estabilidade. Por fim, algumas considerações
são feitas quanto à inércia das fontes renováveis conectadas via inversores.

O Capítulo 3 compreende as simulações realizadas e a discussão dos resultados


obtidos. Primeiramente, são feitas simulações em um sistema de teste de 39 barras do
IEEE (New England) para avaliar o impacto direto do aumento da penetração da geração
eólica na inércia e na estabilidade de frequência frente a um grande desequilíbrio carga-
geração. Em seguida, são simulados casos do SIN (Sistema Interligado Nacional)
envolvendo diferentes patamares de carga para se estudar diferentes níveis de inércia,
além de um caso com ilhamento dos subsistemas Norte/Nordeste do restante do sistema
interligado.

Finalmente, no Capítulo 4 estão sintetizadas as principais conclusões das análises


realizadas, assim como propostas para trabalhos futuros.

6
Capítulo 2

Inércia em Sistemas de Energia Elétrica


2.1 Inércia de uma máquina síncrona

A frequência elétrica do sistema tem relação direta com a velocidade de rotação


das máquinas girantes sincronizadas com ele. Fisicamente, a interação entre a parte
mecânica de uma máquina síncrona e o sistema elétrico é descrita por (2.1).

𝑑𝜔
𝐽 = 𝑇𝑚 − 𝑇𝑒 (2.1)
𝑑𝑡

Sendo,

𝐽 o momento de inércia da máquina girante [𝑘𝑔 ∙ 𝑚2 ];

𝑇𝑚 o torque mecânico de entrada [𝑁 ∙ 𝑚];

𝑇𝑒 o torque eletromagnético imposto pela carga [𝑁 ∙ 𝑚] e

𝜔 a velocidade angular mecânica da máquina [𝑟𝑎𝑑/𝑠].

No equilíbrio, a geração do sistema é igual a carga, de forma que 𝑇𝑚 − 𝑇𝑒 = 0 e


a máquina opera com velocidade constante, ou seja, com a frequência do sistema
permanecendo constante. No entanto, o consumo de energia muda a cada momento,
alterando o valor de 𝑇𝑒 e tirando o sistema do equilíbrio. Sendo assim, o controle do
balanço carga-geração deve ser feito continuamente, através do controle do torque
mecânico aplicado no eixo do gerador.

Por esse motivo, as máquinas síncronas apresentam uma vantagem sistêmica


significativa auxiliando no controle da frequência elétrica. Se em um momento ocorre um
crescimento abrupto da carga (ou uma perda repentina de geração), o lado direito de (2.1),
𝑇𝑚 − 𝑇𝑒 , terá um valor negativo. Dessa forma, a derivada da velocidade irá assumir um
valor negativo e a velocidade da máquina irá cair, junto com a frequência do sistema. O
que acontece nessa situação é que a energia cinética no eixo da máquina está sendo
utilizada para suprir o aumento da carga (ou perda da geração).

7
Nesse caso, a velocidade com que a frequência cai depende da magnitude do
desbalanço entre a carga e a geração e do momento de inércia da máquina, de forma que
quanto maior a inércia, mais lenta é a variação da frequência para o mesmo valor de
desbalanço. Esse comportamento inerente das máquinas síncronas fornece tempo hábil
para os controles existentes regularem o valor do torque mecânico e reestabelecerem o
equilíbrio carga-geração.

Normalmente, a inércia de um gerador é quantificada através do parâmetro 𝐻 ao


invés do momento de inércia, definido por (2.2).

𝐽 𝜔𝑛2
𝐻= (2.2)
2 𝑆𝑛

Sendo,

𝜔𝑛 a velocidade angular mecânica nominal da máquina e

𝑆𝑛 a potência nominal do gerador [𝑉𝐴].

A unidade de 𝐻 é segundos e pode ser interpretada como o tempo pelo qual a energia
armazenada nas partes rotativas de um gerador é capaz de suprir uma carga igual à sua
potência aparente nominal [10].

A equação (2.1) pode ser reescrita utilizando esse novo parâmetro, chegando em
(2.3).

𝑑𝑓
2𝐻 = 𝑃𝑚 − 𝑃𝑒 (2.3)
𝑑𝑡

Sendo,

𝑓 a frequência elétrica da máquina girante [𝑝𝑢];

𝑃𝑚 a potência mecânica de entrada [𝑝𝑢] e

𝑃𝑒 a potência elétrica imposta pela carga [𝑝𝑢].

Onde as potências mecânica e elétrica estão em pu na base do gerador, e a


frequência, também em pu, está representada na base de 60 Hz. Essa equação é
comumente referida como equação de oscilação da máquina.

8
2.2 Inércia equivalente de um sistema

Em regime permanente, todas as máquinas síncronas operam na mesma


frequência. Por outro lado, na ocorrência de um grande desequilíbrio carga-geração, a
frequência de cada unidade terá um comportamento transitório diferente que oscila ao
redor do centro de inércia do sistema (COI, do Inglês: Center of Inertia). No entanto, as
forças de sincronização entre as máquinas atuarão, até que, depois de um tempo, todas
voltem a operar na mesma velocidade se o sistema mantiver a estabilidade [11].

Esse fenômeno se encontra ilustrado na Figura 2.1b, que mostra a resposta do


sistema da Figura 2.1a à perda de uma unidade geradora na barra 2 (7% da carga do
sistema) no instante 𝑡 = 1 𝑠. Imediatamente após o distúrbio, a velocidade (e com ela a
frequência) de cada máquina oscila em torno da frequência do COI até que, alguns
segundos depois, a oscilação é amortecida e as frequências convergem para o mesmo
valor.

Figura 2.1: (a) Sistema exemplo de 6 barras. (b) Resposta do sistema a perda de uma unidade geradora na barra 2

9
Por esse motivo, o comportamento geral de um sistema de energia elétrica pode
ser estudado de maneira simplificada como se todas as máquinas individuais fossem
representadas por uma única máquina equivalente, cujo comportamento eletromecânico
é governado por uma única equação de oscilação, ou seja [7] [12]:

𝑑𝑓𝐶𝑂𝐼
2𝐻𝑆 = 𝑃𝑚 − 𝑃𝑒 (2.4)
𝑑𝑡

sendo 𝐻𝑆 a inércia equivalente do sistema normalizada pela carga. Para um sistema com
𝑁 máquinas,

∑𝑁
𝑖=1 𝑆𝑛𝑖 𝐻𝑖
𝐻𝑆 = (2.5)
𝑃𝐿

Sendo,

𝑆𝑛𝑖 a potência aparente nominal do gerador 𝑖 [𝑉𝐴],

𝐻𝑖 a constante de inércia do gerador 𝑖 [𝑠] e

𝑃𝐿 a carga total do sistema.

Já 𝑓𝐶𝑂𝐼 representa a frequência do centro de inércia, em torno da qual as máquinas


individuais oscilam no período transitório. Para um sistema com 𝑁 máquinas,

∑𝑁
𝑖=1 𝑓𝑖 𝐻𝑖
𝑓𝐶𝑂𝐼 = 𝑁 (2.6)
∑𝑖=1 𝐻𝑖

Sendo 𝑓𝑖 a frequência do gerador 𝑖 [Hz].

Na prática, está sendo calculada uma média das frequências das máquinas
síncronas do sistema ponderada pela inércia de cada máquina. Os valores de 𝑃𝑚 e 𝑃𝑒 em
(2.4), por sua vez, representam toda a potência gerada e consumida pelo sistema,
respectivamente, com ambos os valores expressos em pu na base de 𝑃𝐿 [7] [12].

A inércia do sistema 𝐻𝑆 pode então ser interpretada como a resistência de todas as


máquinas do sistema a mudanças na frequência elétrica na ocorrência de um desequilíbrio
carga-geração.

Ressalta-se que 𝑃𝑚 e 𝑃𝑒 são funções do tempo, de forma que para modelar


corretamente o comportamento da frequência do COI de um sistema, se faz necessário ter

10
uma representação detalhada da sua geração e carga. Outra importante observação é que
o valor da derivada da frequência obtida de (2.4) é a máxima observada seguindo o
distúrbio carga-geração 𝑃𝑚 − 𝑃𝑒 , que é observada imediatamente após a contingência,
antes que qualquer controle do sistema atue.

De posse de (2.4), sabendo-se o valor da inércia equivalente do sistema e o valor


do desbalanço carga-geração, pode-se estimar a máxima taxa de variação da frequência
(RoCoF) a que o sistema será submetido. Seguindo o raciocínio contrário, se
conhecermos o desequilíbrio de potência (𝑃𝑚 − 𝑃𝑒 ) criado por determinada contingência
e conhecendo-se a máxima taxa de variação da frequência (RoCoF) que o sistema é capaz
de suportar sem atingir o patamar de corte de carga, seria possível estimar a inércia
mínima necessária para garantir a estabilidade de frequência do sistema. Com isso em
mente, um dos objetivos desse trabalho inclui verificar o quão fielmente essa equação
representa a resposta observada da frequência.

2.3 Impacto da Inércia na Estabilidade de um Sistema de Energia


Elétrica

Estabilidade é a habilidade de um sistema elétrico de potência, para uma dada


condição inicial de operação, de atingir um estado de equilíbrio depois de ser submetido
a uma perturbação física com a maioria de suas variáveis limitadas de tal forma que
praticamente todo o sistema permanece intacto [13].

A estabilidade pode ainda ser definida mais a fundo, sendo dividida


principalmente em: estabilidade angular, estabilidade de frequência e estabilidade de
tensão. Apesar da inércia de um sistema elétrico ter alguma influência em todos os tipos
de estabilidade, ela está diretamente ligada a estabilidade angular e de frequência.

2.3.1 Estabilidade Angular

Estabilidade angular se refere à capacidade das máquinas síncronas de um sistema


elétrico interligado de manterem seu sincronismo depois de submetidas a um distúrbio
[13]. Assim, essa forma de estabilidade está diretamente associada às oscilações
eletromecânicas que ocorrem em um sistema elétrico quando ele é submetido a uma
perturbação, nas quais os rotores das máquinas síncronas aceleram e desaceleram de
acordo com (2.1). Essa perturbação, por sua vez, pode ser pequena, caracterizando a

11
estabilidade angular à pequenas perturbações ou grande, caracterizando a estabilidade
angular transitória.

Nesse trabalho a ênfase será para a estabilidade transitória, na qual ocorrem


grandes variações angulares dos rotores das máquinas síncronas e predominância da
relação não linear entre potência e ângulo. Os principais conceitos envolvidos na
estabilidade transitória podem ser entendidos a partir da análise de um sistema máquina-
barra infinita como o da Figura 2.2 e do critério das áreas iguais [10].

Figura 2.2: Sistema Máquina x Barra Infinita

Nesse sistema simplificado, todas as resistências são desprezadas, o gerador é


representado pelo modelo clássico1 e a potência mecânica fornecida ao gerador é
considerada constante. Nessas condições, a potência transmitida pelo gerador é dada por
(2.7).

𝐸𝑓 ∙ 𝑉
𝑃𝑒 = sen 𝛿 (2.7)
𝑋𝑇

Sendo,

𝐸𝑓 a tensão atrás da reatância do gerador [pu],

𝑉 a tensão da barra infinita [pu],

𝑋𝑇 é a reatância equivalente entre a fonte de tensão interna do gerador e a barra infinita


[pu] e

𝛿 a diferença angular entre as barras.

1
Fonte de tensão constante atrás de uma reatância.

12
Assim, a relação potência x ângulo é vista graficamente na Figura 2.3a. Em regime
permanente, a potência elétrica 𝑃𝑒 entregue pelo gerador será igual à potência mecânica
𝑃𝑚 em sua turbina, e o sistema estará operando no ponto 𝑎.

Quando o sistema é perturbado, por exemplo, com um curto-circuito trifásico na


barra do gerador (Figura 2.3b), a potência elétrica do gerador vai a zero (ponto de
operação 𝑏). Até o curto-circuito ser interrompido, a potência mecânica fica maior do que
a potência elétrica e a máquina acelera conforme a equação de oscilação mostrada
novamente em (2.8), chegando ao ponto de operação 𝑐, onde o curto-circuito é extinto.
Ou seja, enquanto o curto-circuito permanece, a máquina acumula energia cinética
representada pela área 𝐴1 .

𝑑 2 𝛿 𝑃𝑚 − 𝑃𝑒
= (2.8)
𝑑𝑡 2 2𝐻

Quando a falta é interrompida, o sistema passa para o ponto de operação 𝑑, onde


agora a potência elétrica é maior o que a mecânica e a máquina passa a desacelerar
enquanto vai em direção ao ponto de operação 𝑒, perdendo energia cinética até que as
áreas 𝐴1 e 𝐴2 se igualem. A partir desse ponto, a máquina tende a retornar para o ponto
de operação 𝑎.

O critério das áreas iguais dita que, se a área de desaceleração disponível (𝐴2𝑚𝑎𝑥 )
for maior ou igual à área de aceleração (𝐴1 ), a máquina não perderá estabilidade. No
limite, 𝐴1 = 𝐴2𝑚𝑎𝑥 e o ângulo em que o curto-circuito é interrompido é o ângulo crítico
(𝛿𝑐𝑟 ), a partir do qual a máquina perderia o sincronismo. Esse caso está representado na
Figura 2.3c.

Integrando (2.8), chega-se no tempo crítico para que 𝛿𝑐𝑟 seja atingido.

4𝐻 (𝛿𝑐𝑟 − 𝛿0 )
𝑡𝑐𝑟 = √ (2.9)
𝜔𝑠 𝑃𝑚

A partir de (2.9) chega-se à conclusão de que quanto maior a inércia do sistema,


maior é o tempo que a proteção tem para atuar até que seja atingida uma situação instável.
Isso ocorre porque quanto maior a inércia, mais lentamente a velocidade da máquina
muda. Com isso, leva mais tempo para que o rotor atinja o ângulo crítico. Em suma, altos
valores de inércia significam uma margem maior de estabilidade para a máquina.

13
Figura 2.3: Comportamento da curva potência x ângulo: (a) antes da perturbação; (b) durante a perturbação e (c)
durante a perturbação no caso limite de estabilidade

2.3.2 Controle e Estabilidade de Frequência

Estabilidade de frequência é definida como a habilidade de um sistema de energia


elétrica de manter uma frequência constante seguindo um distúrbio severo que tenha
causado um desbalanço significativo entre a carga e a geração [13]. Tais distúrbios podem
envolver, por exemplo, a perda de grandes geradores ou a separação de um sistema
interligado em subsistemas ilhados. Diferentemente da estabilidade angular, que é
definida para cada máquina síncrona, a estabilidade de frequência é determinada pela
resposta geral do sistema estudado.

Durante a operação de sistemas de energia elétrica, uma preocupação que os


operadores devem ter é manter a frequência do sistema dentro de limites predeterminados

14
em torno de sua frequência nominal (60 Hz no Brasil). Caso a frequência do sistema se
desvie muito de seu valor nominal, diversos equipamentos deixarão de funcionar de
maneira adequada ou serão danificados, podendo ser necessário desconectar unidades
geradoras ou realizar cortes de carga [14]. Em casos extremos, a instabilidade de
frequência pode levar a grandes blecautes.

Sendo assim, a fim de restaurar a frequência a níveis seguros depois de um


desbalanço entre a carga e a geração, diferentes controles atuam sobre um sistema elétrico
de potência em diferentes momentos. A resposta do sistema a um distúrbio pode ser
resumida em três etapas:

1. Resposta Inercial
2. Regulação Primária
3. Regulação Secundária

O comportamento típico da frequência de um sistema elétrico diante da perda de


um bloco de geração por ser visto na Figura 2.4. Nela, a curva em vermelho descreve o
comportamento de um sistema que conta apenas com regulação primária e a curva em
azul um sistema com as regulações primária e secundária. Os principais indicadores
também estão representados na figura, a taxa de variação da frequência (RoCoF) e o valor
mínimo que a frequência atinge depois da perturbação (nadir).

Figura 2.4: Resposta típica de um sistema de energia elétrica à perda de geração com regulação primária e com
regulação primária + CAG

15
No instante em que o distúrbio ocorre, a perda da unidade geradora cria um
desequilíbrio entre a carga e geração. Esse déficit de geração é suprido pelas demais
máquinas síncronas que liberam energia cinética para a rede e desaceleram, fazendo com
que a frequência caia. Durante esse tempo, cada máquina irá se comportar de forma
diferente seguindo sua própria equação de oscilação, de forma que a velocidade de
rotação e a frequência do sistema serão diferentes em diferentes barras. Uma vez que
essas oscilações entre os geradores são amortecidas, a frequência se torna uniforme em
todo o sistema elétrico e varia com a mesma velocidade em todas as barras [15].

Essa resposta inicial inerente às máquinas síncronas fornece tempo para a atuação
da regulação primária, que por sua vez vai atuar de forma a interromper a queda da
frequência e retorná-la a valores próximos dos nominais. Cada unidade geradora é dotada
de um regulador de velocidade, que observa sua frequência terminal e atua aumentando
ou reduzindo a potência mecânica da máquina de forma a retornar o sistema ao equilíbrio.
Para garantir uma boa interação entre as diferentes máquinas do sistema, os reguladores
de velocidade devem obedecer requisitos mínimos estabelecidos pelo operador do
sistema, como estatismo, tempo de resposta, tempo de estabilização, etc. [16].

No caso da Figura 2.4, como houve perda de geração, a regulação primária age
aumentando o despacho das unidades geradoras restantes de forma a igualar a geração
com a carga do sistema novamente. No entanto, por características do controle do
regulador, a frequência que se estabiliza no final do processo é menor do que a frequência
nominal do sistema [17].

Depois da atuação da regulação primária (com duração de alguns segundos), entra


em operação a regulação secundária com o objetivo de anular o desvio de frequência de
regime permanente deixado pela regulação primária. Esse controle atua de forma global
enviando um sinal para os reguladores de velocidade de unidades selecionadas e alterando
seu ajuste de forma a retornar a frequência a seu valor inicial. Essa etapa do controle de
frequência começa alguns segundos depois da atuação dos reguladores de velocidade e
tem duração de alguns minutos. Quando essa regulação é feita de forma automática,
recebe o nome de Controle Automático de Geração (CAG) [17].

Para assegurar a atuação adequada das diversas etapas de regulação, se faz


necessário possuir uma reserva de potência operativa (RPO). A RPO consiste em um
montante de geração que está disponível em qualquer instante de tempo, mas não está

16
sendo ativamente utilizado. Ele deve possuir capacidade rápida de tomada de carga, sendo
capaz de corrigir desequilíbrios entre a carga e a geração devido à perda de unidades
geradoras, intermitência das fontes eólica e fotovoltaica e desvios entre a demanda
prevista e verificada do sistema [12].

No SIN, a reserva operativa utilizada na regulação primária é distribuída por todas


as unidades geradoras com regulador de velocidade desbloqueado e que não estejam com
geração maximizada. Já a reserva secundária usada pelo CAG é distribuída entre as usinas
que participam do CAG, determinadas pela ANEEL (Agência Nacional de Energia
Elétrica) com respaldo dado pelo ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico). Além
disso, também existe uma reserva terciária com a função de complementar a ROP
primária e secundária [18]. O cálculo das reservas é feito de acordo com o Submódulo
23.3 dos Procedimentos de Rede do ONS [19].

Como o próprio nome indica, a inércia do sistema tem maior impacto sobre a
primeira fase do controle da frequência, a resposta inercial. Na Figura 2.5 está
representado como a resposta típica de um sistema varia com a inércia na perda de um
grande bloco de geração.

Figura 2.5: Variação da resposta típica da frequência após a perda de geração com a inércia equivalente do sistema

17
Na figura pode-se observar que, ao reduzir o valor de 𝐻, a frequência do sistema
varia mais rapidamente conforme (2.4), ou seja, o valor absoluto da RoCoF aumenta.
Como a frequência varia mais rapidamente, no tempo que a regulação primária leva para
atuar, o desvio de frequência é maior, o que se traduz em um nadir menor. Conclui-se
então que, do ponto de vista de estabilidade de frequência, uma inércia alta é algo positivo
pois a frequência muda mais lentamente e com isso desvios menores de frequência
ocorrem no sistema.

2.4 Inércia das Fontes Renováveis Conectadas via Inversores

A geração eólica, de forma geral, é baseada na utilização de máquinas de indução


duplamente alimentadas (DFIG, do Inglês: Doubly-Fed Induction Generators) ou de
máquinas síncronas ligadas à rede por meio de conversores eletrônicos (DDSG, do
Inglês: Direct Drive Synchronous Generator). Já a geração solar fotovoltaica sequer
possui máquina rotativa, também sendo utilizados conversores eletrônicos (Figura 2.6).
Todos esses casos constituem uma forma assíncrona de geração, ou seja, não há
comportamento inerente a essas fontes que relacione equações mecânicas e elétricas [20].

Normalmente, o controle dos inversores é feito de forma a fornecer o máximo de


potência ativa (MPPT, do Inglês: Maximum Power Point Tracking) possível para o
sistema de acordo com as condições do vento ou do sol, independentemente da condição
da rede. Assim, mesmo com um excesso ou falta de geração, o inversor não adequa sua
potência de saída com o objetivo de reestabelecer o equilíbrio, não agregando ao controle
de frequência da rede [21] [22]. Além disso, tanto a geração eólica quanto a solar é
intermitente e de previsão complexa [23]. Esses fatores tornam a operação de sistemas
com alta penetração dessas formas de geração um grande desafio para os operadores,
visto que se faz necessário uma maior reserva de potência operativa para compensar as
características discutidas.

18
Figura 2.6: Principais topologias de geradores eólicos e plantas fotovoltaicas

Claro que, como o inversor é totalmente controlável, é possível emular a resposta


inercial de uma máquina síncrona. A resposta inercial produzida dessa forma é
normalmente referida como inércia sintética ou virtual [24] [25]. Com um controle desse
tipo, é possível extrair por um curto espaço de tempo energia cinética da turbina eólica,
mesmo estando conectada de forma assíncrona. Por outro lado, essas fontes são mais
restritas com relação à capacidade disponível e à capacidade de sobrecarga em
comparação com as máquinas síncronas. Outra possibilidade é operar fora do ponto de
máxima extração de potência, de forma a ser capaz de aumentar ou reduzir a potência
fornecida à rede de acordo com as condições verificadas pelo controle do inversor.
Entretanto, essa filosofia vai de encontro ao uso eficiente da geração renovável e traz
implicações de ordem econômica. De toda forma, esse tipo de controle não será levado
em conta nesse trabalho, e a contribuição inercial da geração conectada via inversores
será considerada nula.

2.5 Considerações Finais

Foram discutidos os conceitos de inércia de uma máquina síncrona e de inércia


equivalente de um sistema de energia elétrica. Esta pode ser interpretada como a
resistência das unidades geradoras do sistema a mudanças na frequência elétrica na
ocorrência de desequilíbrios carga-geração. Além disso, a importância da inércia em
algumas formas de estabilidade foi exposta, principalmente no controle de frequência e

19
na capacidade de um sistema de energia elétrica de suportar grandes desequilíbrios carga-
geração.

O aumento da participação da geração renovável em detrimento das formas


síncronas de geração tende a reduzir a resposta inercial do sistema, resultando em maiores
valores de RoCoF e maiores desvios de frequência, que podem levar a cortes de carga e
a blecautes se a frequência não for controlada.

Nos próximos capítulos são analisados por meio de simulações digitais a


influência da inércia na estabilidade de frequência e o impacto que o aumento da
participação da geração renovável tem na dinâmica de um sistema de energia elétrica
diante de um grande desbalanço carga-geração.

20
Capítulo 3

Simulações e Resultados
3.1 Sistema IEEE 39 Barras

3.1.1 Introdução e Estudos Iniciais

Primeiramente, um sistema de teste foi utilizado para uma análise preliminar do


impacto da redução da inércia na resposta da frequência frente a perda de um grande bloco
de geração. O sistema teste utilizado foi o IEEE 39 barras comumente conhecido como
sistema New England, que consiste em um sistema de energia elétrica com 39 barras e 10
máquinas síncronas, nível de tensão de 345 kV e uma carga total de 6 GW. O diagrama
do sistema pode ser visto na Figura 3.1, os parâmetros do sistema utilizados foram
adaptados de [26] e [27] e estão disponíveis junto dos modelos dinâmicos utilizados no
Apêndice A.

As simulações foram realizadas utilizando a toolbox do MATLAB para análise de


sistemas elétricos de potência, PSAT (Power System Analysis Toolbox) [28].

Figura 3.1: Sistema IEEE 39 barras [26]

21
Foi estipulada uma contingência base definida como a perda de um bloco de
geração equivalente a 4% da carga total do sistema (desconexão da máquina 10). Essa
mesma contingência foi estudada para um aumento crescente de penetração de geração
eólica e foram analisadas a frequência do COI e a RoCoF.

O nível de penetração de uma forma de geração é definido pela percentagem da


carga do sistema que é alimentada por essa forma de geração. Os diferentes níveis de
penetração de geração eólica foram simulados substituindo-se máquinas síncronas por
parques eólicos de potência equivalente conforme a Tabela 3.1. Nesta tabela, estão
numerados os cinco níveis de penetração estudados, com as barras cuja geração síncrona
foi substituída por eólica, a inércia do sistema calculada através de (2.5) e a inércia em
relação ao sistema original (Caso I).

Tabela 3.1 – Variação da Inércia equivalente do sistema com a penetração de geração eólica

Nível de Barras com Inércia Equivalente Inércia com relação


Caso
Penetração (%) geração eólica pós-contingência (s) ao Caso 𝐈 (%)
𝐈 0 – 12,07 100
𝐈𝐈 15 38 11,50 95
𝐈𝐈𝐈 30 38, 34 𝑒 36 10,65 88
𝐈𝐕 40 38, 34, 36 𝑒 37 10,25 85
𝐕 50 38, 34, 36, 37 𝑒 35 9,68 80

Percebe-se que, para um nível de penetração de 50% de geração eólica, a inércia


equivalente teve uma redução de apenas 20%. Isso ocorreu porque unidade geradora G1
é um equivalente de rede e possui inércia bem maior que a das outras máquinas, conforme
Apêndice A.

O modelo utilizado nas unidades eólicas foi o de Direct Drive Synchronous


Generator (DDSG), built-in do PSAT, cuja documentação está disponível no Apêndice
A. Este modelo participa apenas do controle de tensão, não agregando resposta inercial
ao sistema. O modelo de carga adotado foi de 50% Potência Constante e 50% Impedância
Constante para a parcela ativa e 100% Impedância Constante para a parcela reativa,
conforme as diretrizes de estudos do ONS [19].

Na Figura 3.2 está disposto o perfil da frequência do COI para cada um dos casos
estudados e na Figura 3.3 a RoCoF máxima observada. A partir dos dados da Figura 3.2,
chega-se na Tabela 3.2.

22
Figura 3.2: Frequência do COI para a contingência base por nível de penetração de geração eólica

Figura 3.3: Variação da RoCoF máxima com o nível de penetração para a contingência base

23
Tabela 3.2 – Variação do nadir de frequência com o aumento da penetração de geração eólica

Nível de Nadir de Inércia com


Tempo do
Caso Penetração Frequência relação ao Caso 𝐈
Nadir (s)
(%) (Hz) (%)
𝐈 0 59,76 9,75 100
𝐈𝐈 15 59,74 11,25 95
𝐈𝐈𝐈 30 59,62 13,75 88
𝐈𝐕 40 59,60 15,25 85
𝐕 50 59,55 17,00 80

Por conveniência, para as análises que se seguem, será reproduzida aqui


novamente a equação de oscilação (2.4), substituindo-se apenas o termo 𝑃𝑚 − 𝑃𝑒 por Δ𝑃:

𝑑𝑓𝐶𝑂𝐼
2𝐻𝑆 = Δ𝑃 (3.1)
𝑑𝑡

Vale lembrar que Δ𝑃 se encontra em pu na base da carga do sistema estudado. Da


mesma forma, o valor de 𝐻𝑆 é obtido dividindo-se a energia cinética disponível nos
rotores das máquinas síncronas pela carga do sistema em questão conforme (2.5).

Sob a luz da teoria descrita no Capítulo 2, a Figura 3.2 mostra um comportamento


esperado para a frequência do COI, onde o nadir de frequência diminui à medida que a
penetração aumenta, efeito da redução da inércia equivalente do sistema.

Outro comportamento importante é que o tempo de resposta do sistema ao


desequilíbrio carga-geração também se torna mais demorado, o que pode ser identificado
pelo tempo de simulação em que o nadir ocorre. Como apenas as máquinas síncronas
participam no controle da frequência, menos máquinas sincronizadas implica em um
tempo maior para a estabilização do sistema.

Também pode-se observar pela Figura 3.2 e pela Tabela 3.2 um salto maior do
nadir de frequência entre o Caso II e o Caso III em comparação com os demais casos. Isso
se deve ao fato de que, para o Caso III, foram substituídas duas máquinas síncronas,
implicando numa variação maior da inércia equivalente e, consequentemente, uma
variação maior do nadir de frequência.

A RoCoF máxima, por outro lado, apresentou comportamento inesperado,


diminuindo em valor absoluto com o aumento da penetração eólica. O esperado era que,
com a redução da inércia equivalente do sistema, a RoCoF tendesse a aumentar em valor

24
absoluto, mostrando que a frequência cai mais rapidamente à medida que a penetração da
geração eólica cresce, conforme (2.4). Além disso, comparando os valores da RoCoF
máxima obtidos da simulação2 com os valores obtidos de (3.1) ao se substituir 𝐻𝑆 pelo
valor calculado disposto na Tabela 3.1 e Δ𝑃 pela geração da unidade perdida, observa-se
uma discrepância considerável conforme Tabela 3.3.

Tabela 3.3 – Comparação da RoCoF máxima simulada e calculada

Nível de Diferença relativa com


RoCoF máxima RoCoF máxima
Caso Penetração base no valor calculado
simulada (Hz/s) calculada (Hz/s)
(%) (%)
𝐈 0 0,0605 0,1012 40,2
𝐈𝐈 15 0,0537 0,1062 49,4
𝐈𝐈𝐈 30 0,0481 0,1147 58,1
𝐈𝐕 40 0,0305 0,1191 74,4
𝐕 50 0,0192 0,1262 84,8
Ao investigar esse comportamento verificou-se que, devido a características do
modelo utilizado para o controlador de tensão das unidades eólicas, ele era mais lento que
o das máquinas síncronas de modo que o perfil de tensão imediatamente após a
contingência era mais baixo quanto maior a parcela de geração assíncrona na rede. Além
disso, a capacidade de curto-circuito3 do sistema também foi afetada. A principal fonte
de potência de curto-circuito são as máquinas síncronas, enquanto os conversores tendem
a contribuir menos [29]. Ou seja, ao aumentar a penetração de geração eólica estamos
reduzindo a capacidade de curto-circuito da rede levando a maiores desvios de tensão.

O efeito disso pode ser visto na Figura 3.4, onde é comparada a tensão na barra
38 para o caso sem geração eólica e com 15% de penetração, no qual a máquina síncrona
nessa barra foi substituída por uma turbina eólica.

Como consequência, as cargas que possuem um modelo 50% impedância


constante têm sua potência reduzida quando a tensão cai (Figura 3.5). Assim, a diferença
entre potência gerada e potência demandada (Δ𝑃) é menor para os casos com maior
penetração eólica. Nesse caso, o aumento de penetração da geração eólica atua de duas
formas opostas no valor da RoCoF. Ao reduzir a inércia 𝐻𝑆 do sistema, a RoCoF tende a
aumentar em valores absolutos. Por outro lado, reduzindo Δ𝑃, a RoCoF tende a se reduzir.

2
Calculado através da aplicação da função gradient do MATLAB nos valores de frequência.
3
A capacidade de curto-circuito é uma medida comum da “força” de um sistema em uma determinada
barra. Um sistema com alta capacidade de curto-circuito é menos vulnerável a desvios de tensão.

25
Figura 3.4: Tensão na Barra 38 para o caso com máquina síncrona e com geração eólica para a contingência base

Figura 3.5: Variação da carga com o nível de penetração para a contingência base

26
Para esse sistema teste e controles utilizados, o impacto da geração eólica na
tensão (que por sua vez impacta a carga) foi mais significativo do que o impacto na inércia
do sistema nos instantes imediatamente seguintes à contingência. Por isso, a RoCoF
máxima diminui em valor absoluto com a penetração de geração eólica, ao invés de
aumentar. No entanto, depois da atuação dos reguladores de tensão, o impacto da redução
da inércia fica evidente na forma de um nadir menor (Figura 3.2).

Considerando a redução da carga provocada pela queda na tensão e corrigindo o


valor de Δ𝑃, obtém-se a Figura 3.6, que relaciona a RoCoF máxima obtida na simulação
e a calculada por (3.1). Para o valor calculado, foi ainda representada uma barra de erro
de ±5% para fins de comparação. Verifica-se agora valores bem próximos dos estimados
teoricamente por meio da fórmula.

Conclui-se que o modelo da carga e sua consequente variação com a tensão são
importantes para que (3.1) forneça resultados confiáveis de RoCoF máximas esperados.

Figura 3.6: RoCoF máxima simulado e calculado com margem de erro de ±5% para diferentes níveis de penetração
de geração eólica

27
3.1.2 Impacto da Modelagem da Carga na Resposta Dinâmica do Sistema

Esse efeito motivou um estudo do impacto da modelagem da carga na resposta da


frequência e na RoCoF máxima. Nas Figuras 3.7, 3.8 e 3.9, está representado o
comportamento da frequência do COI com a mudança do modelo da parcela ativa da
carga para os casos sem geração eólica, com 15% de penetração eólica e com 30% de
penetração eólica, respectivamente. A descontinuidade nas curvas de 0% Zcte nas Figuras
3.7 e 3.8 ocorreram porque a simulação dinâmica não foi capaz de convergir.

Quanto maior a percentagem da carga com modelo impedância constante (menor


percentagem de potência constante), mais a carga cai com a queda da tensão, e menor é
o desbalanço de potência introduzido com a contingência. Por isso, o nadir de frequência
diminui com a redução da percentagem de carga com modelo de impedância constante,
uma vez que isso leva a um maior desequilíbrio carga-geração. Entre um extremo e outro
da modelagem da carga (100% Zcte até 100% Pcte), observa-se, em todos os casos, uma
diferença significativa entre o nadir de frequência, chegando a aproximadamente 0,7 Hz,
uma excursão muito grande de frequência que pode diferenciar uma situação em que seja
necessário realizar corte de carga para preservar o restante do sistema.

Figura 3.7: Variação da frequência do COI com o modelo da parcela ativa da carga para a contingência base, sem
geração eólica

28
Figura 3.8: Variação da frequência do COI com o modelo da parcela ativa da carga para a contingência base, 15% de
penetração eólica

Figura 3.9: Variação da frequência do COI com o modelo da parcela ativa da carga para a contingência base, 30% de
penetração eólica

29
Já na Figura 3.10, observa-se o comportamento da RoCoF máxima. É interessante
reparar que a RoCoF aumenta em valor absoluto quanto menor a percentagem da parcela
ativa da carga impedância constante (e maior a de potência constante), como esperado já
que isso significa um Δ𝑃 maior. No entanto, até a carga chegar em 10% de impedância
constante (90% de potência constante), os casos com maior penetração eólica apresentam
RoCoF máxima absoluta menor, devido ao efeito da tensão na carga. Apenas com a carga
100% potência constante é evidente o efeito de que a redução da inércia gerada pelo
aumento de penetração da geração eólica tende a aumentar a RoCoF máxima em valores
absolutos.

Figura 3.10: Variação da RoCoF máxima com o modelo da parcela ativa da carga e penetração de geração eólica para
a contingência base

Em suma, apesar da máxima RoCoF observada nos instantes seguindo a


contingência não necessariamente aumentar com o aumento da penetração da geração
eólica (redução da inércia) dependendo das características dos controles de tensão e da
característica da carga do sistema, ainda se observou a piora do perfil dinâmico da
frequência. Isso porque a RoCoF máxima observada ocorre imediatamente após a
contingência, sendo ainda influenciada pela queda da tensão. Depois dos reguladores de
tensão atuarem, a RoCoF tende a ser influenciada apenas pela inércia do sistema, levando
à piora observada na dinâmica da frequência.

30
3.1.3 Impacto do Carregamento das Unidades Geradoras na Resposta
Dinâmica do Sistema

Uma das soluções para permitir uma maior penetração de geração eólica
mantendo a inércia do sistema em níveis seguros é reduzindo o carregamento das
máquinas síncronas [7]. Isso implica em mais máquinas em funcionamento e, portanto,
maior inércia equivalente do sistema. Além disso, por estarem operando com um
despacho menor, as unidades geradoras têm mais margem de potência para compensar
um desbalanço carga-geração, ou seja, a RPO é maior. Essa medida, no entanto, faz com
que a máquina opere fora de seu ponto de máxima eficiência. Cabe então realizar um
balanço entre segurança dinâmica e custos para determinar se essa solução é viável.

Foram realizadas simulações alterando a relação entre o carregamento e número


de unidades despachadas das máquinas síncronas, obtendo-se os resultados das figuras
subsequentes.

Na Figura 3.11 está ilustrada a resposta da frequência do sistema à contingência


base para os casos sem geração eólica em azul, com 15% de penetração eólica em
vermelho e com 30% de penetração eólica em amarelo. Além disso, a linha cheia indica
o sistema original, considerado as máquinas operando com sua capacidade nominal; a
linha tracejada indica máquinas operando a 75% de sua capacidade nominal e a linha
pontilhada representa máquinas operando a 50% de sua capacidade nominal.

Como esperado, para um mesmo carregamento das máquinas síncronas, os casos


com maior penetração de geração eólica têm um nadir de frequência menor. Já para um
mesmo nível de penetração, a tendência é que um nadir maior ocorra (menor desvio de
frequência) para os casos com menor carregamento, uma vez que há mais máquinas
sincronizadas e com isso maior inércia.

No entanto, conforme Figura 3.11, para o caso sem penetração eólica (azul) e com
15% de penetração (vermelho), acontece o oposto. O caso tracejado, com ponto de
operação em 75% do nominal, apresenta um desempenho dinâmico pior que o caso com
ponto de operação nominal. Isso se deve, novamente, à questão do modelo da carga. Na
Figura 3.12 está disposto o perfil da carga para cada um dos casos estudados, seguindo o
mesmo padrão da Figura 3.11, ou seja, cores indicando o nível de penetração de geração
eólica e estilo da linha indicando o carregamento das unidades geradoras.

31
Com mais máquinas sincronizadas tem-se uma capacidade de curto-circuito
maior. Sendo assim, o perfil de tensão tende a melhorar, de modo que a carga fica mais
alta quanto menor o carregamento das máquinas.

Com isso, ao reduzir o carregamento das máquinas síncronas (aumentando o


número de máquinas sincronizadas), a inércia equivalente do sistema aumenta, mas por
outro lado a carga resultante depois da contingência também cresce (Δ𝑃 maior), de modo
que os dois efeitos atuam de forma oposta na resposta dinâmica das máquinas conforme
(3.1). Para alguns casos estudados, o efeito da capacidade de curto-circuito e da carga se
sobrepôs ao efeito da inércia, levando a valores menores de nadir de frequência.

Analisando agora a Figura 3.13, está disposta a RoCoF máxima variando com a
penetração de geração eólica e com o carregamento das máquinas. A linha cheia indica a
RoCoF obtida da simulação enquanto a linha tracejada indica a RoCoF calculada através
de (3.1) considerando a variação da carga com a tensão com uma barra de erro de ±2%.

Novamente a RoCoF diminui em valor absoluto com o aumento de penetração


(redução da inércia) devido à mudança na carga, conforme já havia sido discutido
anteriormente. Tem-se também que o valor absoluto da RoCoF diminui com a redução
do carregamento das máquinas síncronas (aumento da inércia), como era esperado.

Figura 3.11: Variação da frequência do COI com o carregamento das máquinas síncronas

32
Figura 3.12: Perfil da carga total do sistema para diferentes níveis de penetração de geração eólica e carregamento das
unidades geradoras

Figura 3.13: Variação da RoCoF máxima simulado e calculado com margem de erro de ±2% com o carregamento
das máquinas síncronas

33
3.2 Sistema Interligado Nacional (SIN)

3.2.1 Introdução

Depois de analisar o impacto da penetração de eólicas e consequente redução da


inércia equivalente em um sistema de pequeno porte, propõe-se estudar essa interação em
um sistema real de grande porte, como o SIN.

O sistema de geração e transmissão de energia elétrica do Brasil é um sistema de


proporções continentais com predominância de usinas hidrelétricas. O SIN é constituído
por quatro subsistemas: Sul, Sudeste/Centro-Oeste, Nordeste e Norte e conta com
capacidade instalada total de aproximadamente 167 GW e mais de 140 mil km de linhas
de transmissão (Figura 3.14 e Figura 3.15) [30].

Figura 3.14: Malha principal de transmissão do Sistema Interligado Nacional (Fonte: ONS [30])

34
Figura 3.15: Divisão do SIN em subsistemas e principais interligações (Fonte: ONS)

Até a década de 2000, o SIN era basicamente composto por máquinas síncronas
(sistema hidro-térmico) com exceção do elo CC de Itaipu 50 Hz. Como já foi exposto no
Capítulo 2, as máquinas síncronas apresentam várias vantagens para a operação do
sistema elétrico, com destaque para a resposta inercial e regulação primária de frequência,
focos desse trabalho, além do controle dinâmico da tensão.

No entanto, o setor elétrico brasileiro vem passando por grandes mudanças na sua
matriz elétrica, com o aumento acentuado da participação de fontes renováveis conforme
Figura 1.3, especialmente no subsistema Nordeste (Figura 1.5), tendo apresentado índices
de crescimento superiores à média mundial. A penetração de geração eólica tem se
destacado, chegando ao patamar de 9%. A geração fotovoltaica, por sua vez, apresenta
um crescimento percentual muito expressivo para o horizonte 2019-2024, apesar de ainda
representar uma pequena parcela da matriz elétrica [30].

Adicionalmente, existem usinas conectadas através de elos de corrente contínua,


tal como a UHE Itaipu 50 Hz, as usinas do Rio Madeira. Os conversores desses elos não
são programados para alterar sua injeção de potência ativa em resposta a alterações de

35
frequência da rede e, portanto, não agregam resposta inercial ao sistema, levando a um
aumento da RoCoF observada durante desequilíbrios entre a carga e a geração.

3.2.2 Metodologia de Estudo

Para as simulações computacionais dinâmicas do SIN foi utilizado o programa


ANATEM (Análise de Transitórios Eletromecânicos), desenvolvido pelo CEPEL (Centro
de Pesquisas de Energia Elétrica). O ANATEM é o programa oficialmente utilizado pelo
ONS para análise de sistemas de potência em regime dinâmico e a sua base de dados é
mantida pelo ONS.

Para o cálculo da inércia equivalente do SIN foram considerados todos os


geradores síncronos ligados no sistema (inclusive compensadores síncronos), com
exceção da UHE Itaipu 50 Hz, da UHE Santo Antônio e da UHE Jirau, visto que essas
usinas não contribuem para a resposta inercial do sistema ou para a regulação de
frequência uma vez que estão conectadas de forma assíncrona através dos elos de corrente
contínua [12]. A carga considerada no cálculo foi toda a carga do SIN.

Também foram calculados valores de inércia equivalente para cada subsistema


considerando os geradores e compensadores síncronos conectados e a carga individual de
cada um. Esse índice se mostra interessante para avaliar o desempenho dos subsistemas
para contingências nas interligações e em uma possível operação ilhada. Novamente,
foram desconsideradas as usinas conectadas à rede por meio de elos CC para os
subsistemas pertinentes.

Para calcular a inércia do SIN e de seus subsistemas foram necessários 2 arquivos


que fazem parte da base de dados dinâmica do ONS. O primeiro é o arquivo
“DMAQ.dat”, responsável por fazer a associação de gerações representadas no
ANAREDE (modelo estático) aos seus respectivos modelos dinâmicos de máquina,
regulador de velocidade, regulador de tensão e estabilizador (PSS). As informações
importantes desse arquivo são o número da barra, o número de unidades geradoras4 de

4
Vale ressaltar que, enquanto o modelo de máquina será o mesmo independente do carregamento da usina,
o número de unidades geradoras irá variar. Por exemplo, um caso com carga pesada terá mais máquinas
sincronizadas do que um caso com carga leve.

36
cada barra e o número do modelo dinâmico da máquina associado a cada barra (Figura
3.16).

Figura 3.16: Exemplo de arquivo “DMAQ.dat” e campos de interesse

O segundo arquivo necessário é o de dados de modelos de máquinas síncronas.


Uma série de informações podem ser encontradas nesse arquivo, mas as informações de
interesse são o número do modelo dinâmico, o valor 𝐻 da inércia de uma unidade, e o
valor da potência base da unidade em MVA (Figura 3.17).

Figura 3.17: Exemplo de arquivo de modelos de máquinas síncronas e campos de interesse

De posse dos dois conjuntos de arquivos, pode-se fazer a ligação entre o número
de unidades geradoras de cada barra com a inércia e potência base de cada unidade através
do número do modelo de máquina. A partir daí, basta multiplicar esses três valores para
se chegar no valor de energia cinética armazenada nas máquinas síncronas em MW.s.

A carga do sistema, por sua vez, pode ser obtida diretamente do arquivo histórico
(.SAV) do programa ANAREDE, que também acompanha a base de dados do ONS.

37
Finalmente, a inércia equivalente é obtida dividindo-se a energia cinética (MW.s) pela
carga do sistema (MW).

Para o cálculo da inércia equivalente de cada um dos subsistemas, um passo a


mais deve ser realizado. A partir do número da barra obtido do arquivo “DMAQ.dat”,
busca-se o código da área a qual cada barra pertence no arquivo histórico (.SAV) do
ANAREDE. Em seguida, utilizou-se a Tabela 3.4 para associar cada área a um
subsistema. A partir daí o cálculo segue o mesmo procedimento descrito para o SIN.

Tabela 3.4 – Associação de áreas do ANAREDE com subsistema do SIN

Área Subsistema Área Subsistema Área Subsistema


1 Sudeste 30 Sudeste 59 Norte
2 Sudeste 31 Sul 61 Norte
3 Sudeste 32 Sul 62 Nordeste
4 Sudeste 33 Sul 63 Sudeste
5 Sudeste 34 Sul 64 Sul
6 Sudeste 35 Sudeste 65 Sudeste
7 Sudeste 36 Sudeste 66 Sul
8 Sudeste 37 Sudeste 67 Sul
9 Sudeste 38 Sul 68 Sul
10 Sudeste 39 Sul 69 Sudeste
11 Sudeste 40 Sudeste 70 Sul
12 Sudeste 41 Sudeste 71 Sudeste
13 Sudeste 42 Sudeste 72 Sudeste
14 Sudeste 43 Sudeste 73 Sudeste
15 Sudeste 44 Sudeste 74 Sudeste
16 Norte 45 Sudeste 75 Sul
18 Sudeste 46 Sudeste 80 Norte
19 Sul 47 Sudeste 81 Sudeste
20 Sul 48 Sudeste 82 Norte
21 Sul 49 Sudeste 85 Norte
22 Sul 51 Nordeste 86 Norte
23 Sul 52 Nordeste 87 Norte
24 Sul 53 Nordeste 91 Sudeste
25 Sul 54 Nordeste 124 Sul
26 Sul 55 Nordeste 125 Sul
27 Sudeste 56 Nordeste 126 Sul
28 Sudeste 57 Nordeste
29 Sudeste 58 Norte

38
3.2.3 Sensibilidade da Resposta Dinâmica da Frequência ao Modelo da
Carga

Tendo em vista a importância que a modelagem da carga representou na resposta


dinâmica da frequência do sistema IEEE 39 barras frente a um grande desequilíbrio carga-
geração, o primeiro estudo feito foi o quanto o modelo da carga impacta em um sistema
de grande porte como o SIN.

Os cenários estudados referem-se aos Casos de Referência do Estudo Mensal de


Dezembro de 2019, disponíveis na plataforma do ONS na Internet [31]. No arquivo
histórico referente ao ANAREDE estão disponíveis diferentes patamares de carga para
estudo, conforme Tabela 3.5.

Foram selecionados o Caso 1, carga pesada e o Caso 4, carga mínima para a


realização das simulações uma vez que eram os casos que possuíam maior diferença entre
seus valores de inércia equivalente.

Tabela 3.5 – Patamares de carga disponíveis no caso histórico (.SAV) dos casos de
referência mensais de dezembro de 2019

Caso Título
1 ONS - MENSAL - DEZEMBRO 2019 - Pesada
2 ONS - MENSAL - DEZEMBRO 2019 - Média
3 ONS - MENSAL - DEZEMBRO 2019 - Leve
4 ONS - MENSAL - DEZEMBRO 2019 - Mínima
5 ONS - MENSAL - DEZEMBRO 2019 - Sábado Dia
6 ONS - MENSAL - DEZEMBRO 2019 - Sábado Noite
7 ONS - MENSAL - DEZEMBRO 2019 - Domingo Dia
8 ONS - MENSAL - DEZEMBRO 2019 - Domingo Noite
9 ONS - MENSAL - DEZEMBRO 2019 - Média da Média

Os modelos dinâmicos utilizados são do Banco de Dados de Anatem de Março de


2019, também disponíveis na página do ONS na Internet [31]. Como foi utilizado um
arquivo histórico diferente do disponibilizado na base dinâmica visando a representação
do SIN mais próxima possível da configuração atual, o arquivo “DMAQ.dat” teve que
ser gerado para cada patamar de carga através da ferramenta ANAT0, também
desenvolvida pelo CEPEL, pois o número de unidades despachadas em cada usina será
diferente dependendo do ponto de operação do sistema. Um guia passo a passo da
utilização dessa funcionalidade do ANAREDE pode ser encontrado na documentação do
programa ANATEM [32].

39
As condições de operação do SIN e dos seus subsistemas, assim como os valores
de inércia calculados se encontram resumidos na Tabela 3.6.

Tabela 3.6 – Condições gerais e valores de inércia equivalente do SIN e seus subsistemas

Carga Mínima Carga Pesada


Sistema/
Geração Carga Geração Carga
Subsistema MW. s 𝐻𝑆 (𝑠) MW. s 𝐻𝑆 (𝑠)
(MW) (MW) (MW) (MW)
SIN 48922 48524 252387 5,255 85661 84059 378304 4,523
SE/CO 24626 25980 126436 5,773 44893 47650 196146 4,860
NE 7152 8405 24484 2,913 9594 12643 33719 2,667
S 6887 8363 39085 4,679 17898 15820 65433 4,142
N 9536 5776 38552 8,182 13034 7947 47262 7,332

A partir desses dados iniciais já é possível fazer duas observações importantes:

a. O caso com carga mínima terá menos unidades geradoras sincronizadas, portanto,
é de se esperar que sua inércia seja menor. No entanto, o comportamento
observado na Tabela 3.6 é o oposto.

Isso pode ser explicado retornando-se ao modo de cálculo da inércia equivalente


por (2.5), que será reproduzida novamente por conveniência.

∑𝑁
𝑖=1 𝑆𝑛𝑖 𝐻𝑖
𝐻𝑆 = (3.2)
𝑃𝐿

Como há menos máquinas sincronizadas com a rede, o numerador da equação


(3.2), que representa a energia cinética armazenada no sistema, irá cair (comportamento
esse que pode ser observado na tabela comparando-se as colunas de MW.s). No entanto,
o denominador a ser utilizado é a carga do SIN ou do subsistema em questão, que também
se reduz para a carga mínima. Isso cria esse efeito onde a inércia equivalente acaba
aumentando mesmo com menos máquinas sincronizadas.

O que isso quer dizer é que, para o mesmo valor de desbalanço em pu na base da
Δ𝑃
carga do sistema em questão ( 𝑃 ), o sistema na carga mínima tenderá a ter melhor
𝐿

desempenho dinâmico. Repare que isso significa que, se for estudado um evento que gere
um desvio entre a carga e a geração de 8,4 GW para o caso de carga pesada (10% da
carga), para o caso de carga mínima teríamos que estudar um evento que gerasse um
Δ𝑃
desvio de 4,8 GW para obter a mesma relação .
𝑃𝐿

40
Caso o valor em MW de Δ𝑃 seja exatamente igual, pode-se facilmente prever o
resultado alterando os valores de 𝐻𝑆 para a mesma base. Por exemplo, utilizando a base
do sistema na carga pesada, a inércia do caso com carga mínima valeria

5,255 ∙ 48524
𝐻𝑆 𝑀𝐼𝑁 = = 3,034𝑠 < 4,523𝑠 (3.3)
84059

Ou seja, seria obtido um valor menor de inércia comprovando que, para essa
contingência, o caso com carga mínima terá pior desempenho dinâmico.

b. A inércia do subsistema Nordeste é a menor dentre as demais, tanto para a carga


mínima quanto para a carga pesada, enquanto a inércia do subsistema Norte
apresenta o maior valor.

Visto que a maior concentração de geração eólica se encontra no Nordeste (Figura


1.5) era de se esperar que os menores índices de inércia se encontrassem nessa região,
uma vez que uma porcentagem menor de seu parque gerador contribui para a resposta
inercial. Mais especificamente, a geração eólica no Nordeste representou 52,8% e 60%
da carga dessa região para os patamares de carga pesada e mínima respectivamente.

Quanto ao Norte, sua alta inércia pode ser explicada pelo mesmo motivo do
discutido acima. A geração no Norte apresenta valores bem elevados se comparada com
a carga do subsistema, isso porque a maior parte da geração (UHE Belo Monte e UHE
Tucuruí) é escoada por meio dos Bipolos Xingu – Terminal Rio e Xingu – Estreito para
o subsistema Sudeste, onde se encontra o maior centro de cargas. Por isso, a região
apresenta alta energia cinética armazenada e uma carga própria baixa para alimentar,
gerando um valor alto de inércia equivalente calculado por (3.2).

Voltando para a análise do caso, a contingência base definida foi a perda da UTN
Angra I e UTN Angra II. Apesar da perda simultânea das duas usinas representar uma
contingência extremamente severa e pouco provável, ela foi escolhida de forma a permitir
uma melhor exploração dos conceitos aqui abordados. Tanto para o patamar de carga
pesada quanto para o de carga mínima, a potência total gerada pelas duas máquinas é de
1990 MW.

Junto da base de dados dinâmicos está um arquivo com o modelo da carga


utilizado pelo ONS, onde a carga de cada área é aproximada por uma determinada
percentagem de potência e impedância constante. Além disso, a contingência base

41
também foi simulada para uma carga com parcela ativa 100% Z constante, 75% Z
constante, 50% Z constante e 25% Z constante. Primeiramente, é analisado o desempenho
da frequência do COI e, em seguida, o valor das RoCoF máximas.

Na Figura 3.18, estão dispostas as respostas dinâmicas da frequência para o caso


de carga mínima, em azul e carga pesada, em vermelho, utilizando o modelo de carga do
ONS. Como era esperado pela discussão acima, visto que o despacho das UTN Angra I e
II era exatamente o mesmo para ambos os patamares de carga, o caso com carga mínima
teve desempenho dinâmico pior, apresentando um nadir de frequência menor e maior
RoCoF absoluta.

Figura 3.18: Frequência do COI para os diferentes patamares de carga.

Nas Figuras 3.19 e 3.20 observa-se como o perfil de frequência do COI varia com
o modelo de carga utilizado para os patamares de carga mínima e pesada respectivamente.
Observa-se novamente uma grande variação entre o nadir associado a cada modelo de
carga, reforçando a importância de uma representação a mais fidedigna possível da real.

42
Figura 3.19: Variação da frequência do COI com o modelo da parcela ativa da carga para o patamar de carga mínima.

Figura 3.20: Variação da frequência do COI com o modelo da parcela ativa da carga para o patamar de carga pesada

43
Apesar da resposta dinâmica da frequência ter apresentado diferenças
consideráveis (em torno de 0,15 Hz), ainda foi um desvio bem menos significativo do que
o observado no caso IEEE 39 Barras (Figura 3.9). Além disso, a RoCoF máxima
apresentou valores bem próximos entre os diferentes modelos de carga (Figura 3.21),
diferentemente do observado para o caso IEEE 39 barras (Figura 3.10). Isso se deve a
dois principais fatores: o tamanho do sistema estudado e a diferença no nível de curto-
circuito.

Figura 3.21: RoCoF máxima observada para cada patamar de carga e modelo estudado. Barras de erro de ±5%

Como os sistemas elétricos operam de forma sincronizada, alterações na


frequência têm um impacto sistêmico. Apesar de, transitoriamente, a frequência poder
assumir valores diferentes em diferentes pontos, os valores oscilam em torno de um centro
de inércia comum e convergem para ele como já discutido anteriormente. Em
contrapartida, fenômenos relacionados à tensão têm características locais, afetando
apenas a vizinhança da origem da perturbação [10].

Como o sistema teste IEEE 39 barras é pequeno, uma contingência tem um


impacto grande na tensão de toda a rede, influenciando a carga como um todo. Por outro
lado, em um sistema de grande porte como o SIN, apenas uma pequena região tem sua

44
tensão significativamente afetada, de forma que a carga total do sistema não é tão
impactada.

O outro fator é que, para um sistema de energia elétrica de grande porte como o
SIN, temos uma capacidade de curto-circuito maior do que em um sistema pequeno como
o IEEE 39 barras. Como já mencionado (2), isso implica em menores desvios de tensão,
de forma que o modelo da carga tem menos influência sobre a resposta dinâmica do
sistema.

3.2.4 Ilhamento dos Subsistemas Norte e Nordeste

A interligação entre os subsistemas Norte e Sudeste é feita por dois caminhos


principais. O primeiro é um corredor CA, conhecido como Interligação Norte/Sul,
composto por três circuitos em 500 kV entre as subestações Itacaiúnas/Imperatriz e Serra
da Mesa. O segundo caminho são os bipolos Xingu – Estreito e Xingu – Terminal Rio,
que operam com tensão de ±800 kV. A capacidade total de transmissão atual da Norte/Sul
e dos bipolos totaliza 10900 MW [30].

Na região Nordeste, devido às condições da bacia do rio São Francisco, o número


de unidades geradoras em operação nas usinas do Complexo Paulo Afonso – Xingó foi
muito reduzido enquanto a geração eólica e solar tem um crescimento muito acentuado.
Esses dois fatores em conjunto têm levado o Nordeste a apresentar grandes variações de
intercâmbio devido à variabilidade das fontes renováveis e reduzida resposta inercial,
aumentando as preocupações da hipótese de um ilhamento desse subsistema [6].

Devido a isso, está previsto no horizonte PAR/PEL de 2021 e 2022 a entrada de


seis circuitos em 500 kV conectando o sul da Bahia ao norte de Minas, de forma que a
máxima exportação da região Nordeste está prevista para aumentar de 5500 MWmed para
11000 MWmed [30]. A interligação Norte/Sul, os bipolos de Xingu e os reforços futuros
podem ser vistos em destaque na Figura 3.22

Apesar dos reforços previstos, até a entrada em operação dos circuitos, existe a
possibilidade real do isolamento da região Nordeste. Tanto existe que, no dia primeiro de
outubro de 2019, às 18h, iniciou-se uma sequência de eventos que levou à operação ilhada
do subsistema Nordeste e Norte do resto do SIN. Esse evento, assim como o

45
comportamento dos dois subsistemas criados será o próximo caso estudado nesse trabalho
[33].

Figura 3.22: Interligação Norte – Nordeste – Sudeste/Centro-Oeste. Panorama atual e reforços futuros. [30]

A perturbação se iniciou às 18h00 do dia 01 de outubro de 2019 com o


desligamento da LT 500 kV Gurupi – Miracema C3, devido a um curto-circuito
provocado por descarga atmosférica. Com o circuito 3 ainda fora de operação, às 18h02,
ocorreu o desligamento da LT Gurupi – Miracema C1, devido a um curto-circuito
decorrente da queda de suas torres. Aproximadamente 14 segundos depois, ocorreu a
aproximação do cabo para-raios da LT Gurupi – Miracema C1 ao condutor da LT Gurupi
– Miracema C2, resultando em curto-circuito e desligamento da linha.

O desligamento desses três circuitos interrompeu a interligação CA entre os


subsistemas Norte e Sudeste, que no momento estava exportando 2325 MW no sentido
Sudeste. Como consequência da perda dessa interligação, se instalou uma oscilação de

46
potência entre os subsistemas Nordeste e Sudeste que provocou a atuação da proteção de
perda de sincronismo (PPS) após 1,2 segundos, desligando a LT 500 kV Rio das Éguas –
Bom Jesus da Lapa 2 C1. Em seguida, a LT 230 kV Bom Jesus da Lapa – Tabocas do
Brejo Velho C1 foi desligada pela atuação da proteção da linha. Com esses dois
desligamentos, a região Nordeste, que exportava 123 MW para o Sudeste foi isolada junto
à região Norte. A interligação e as linhas desligadas (tracejadas) podem ser vistas em mais
detalhes na Figura 3.23.

Figura 3.23: Interligação entre os subsistemas Norte, Nordeste e Sudeste. Linhas tracejadas foram as desligadas pela
perturbação.

Às 18:10:27,766 do mesmo dia, a LT 500kV Gurupi – Miracema C2 foi religada


e os sistemas voltaram ao sincronismo.

Vale ressaltar que, apesar das interligações CA entre os subsistemas Sudeste e


Norte/Nordeste terem sido desconectadas, os bipolos Xingu – Estreito e Xingu – Terminal
Rio permaneceram em operação. Como a transmissão é feita por meio CC, há a formação
de duas ilhas elétricas, mas que ainda podem transferir potência entre si. Essa informação
será importante no cálculo da inércia equivalente dos subsistemas ilhados e do desbalanço
carga-geração gerado pela contingência.

47
Para a simulação dessa ocorrência, partiu-se de um caso histórico do ANAREDE
(.SAV) com ponto de operação próximo do aferido pelo estimador de estados para o dia
01.10.2019, às 18h. O caso mais próximo encontrado foi o Caso 5 dos Casos de
Referência do Estudo Mensal de Outubro de 2019, “ONS MENSAL – OUTUBRO –
SÁBADO DIA”. Esse caso apresenta geração dos subsistemas e das principais usinas
muito próximos dos valores medidos no momento da ocorrência, possuindo apenas
discrepâncias nas distribuições de carga entre os subsistemas. As cargas foram corrigidas
por meio de um arquivo de alterações do ANAREDE de forma que a geração, carga e
principais fluxos nas interligações ficaram muito próximos dos valores pré-contingência.
Esses valores se encontram resumidos na Figura 3.24 e Tabela 3.7. Também foi calculado
o valor da energia cinética e da inércia equivalente para cada subsistema seguindo o
mesmo procedimento descrito previamente.

A partir da Tabela 3.7, pode-se calcular a inércia equivalente dos dois subsistemas
que irão se formar após a contingência. Para o subsistema NE+N basta somar o valor da
energia cinética armazenada e dividir pela soma das cargas dos subsistemas. Raciocínio
análogo pode ser realizado para o subsistema SE/CO+S, obtendo-se os valores em (3.4).

Vale lembrar que os bipolos Xingu – Estreito e Xingu – Terminal Rio


permaneceram em operação transmitindo 2000 MW do subsistema NE+N para o
subsistema SE/CO+S, portanto, isso deve ser considerado como uma carga para o
subsistema NE+N e como geração para o SE/CO+S.

77389
𝐻𝑁𝐸+𝑁 = = 4,45 𝑠
17391
(3.4)
249821
𝐻𝑆𝐸/𝐶𝑂+𝑆 = = 4,52 𝑠
55273

Tabela 3.7 – Balanço geração/carga de cada subsistema e cálculo da inércia equivalente

Sistema/ Sistema Pré-Contingência


Subsistema Geração (MW) Carga (MW) MW. s 𝐻𝑆 (𝑠)
SIN 73125 71627 327210 4,563
SE/CO 40334 40444 197549 4,885
NE 10322 11007 30397 2,762
S 11424 14829 46993 3,525
N 9385 7347 52272 10,720

48
Figura 3.24: Situação das principais interligações pré-contingência

O resultado da simulação se encontra na Figura 3.25. A partir da Figura 3.24,


percebe-se que a configuração pré-contingência era de Norte/Nordeste exportador e
Sudeste/Sul importador. Ou seja, ao isolar as duas regiões o subsistema NE+N acabou
com um excesso de geração enquanto o subsistema SE/CO+S acabou com uma falta de
geração.

Sendo assim, conforme equação (3.1), excesso de geração implica em Δ𝑃 > 0, ou


seja, há energia excedente nessa região que será absorvida em forma de energia cinética
pelas máquinas que irão acelerar. Como resultado, a frequência aumenta.

Por outro lado, o subsistema SE/CO+S teve um valor de Δ𝑃 < 0, ou seja, pouca
geração para abastecer a carga. As máquinas irão fornecer sua energia cinética para suprir
o déficit e a frequência irá cair.

49
Esses dois comportamentos são corroborados pela Figura 3.25. O tempo 𝑡 = 0 𝑠
na figura representa o instante 18:02:18.128, exatamente 1 segundo antes do curto-
circuito na LT 500 kV Gurupi – Miracema C1. As linhas tracejadas verticais representam,
respectivamente, o momento de curto-circuito na LT 500 kV Gurupi – Miracema C1, o
curto-circuito na LT 500 kV Gurupi – Miracema C2 e a atuação da PPS separando os dois
subsistemas. Repare que os curtos-circuitos tiveram pouca influência na resposta da
frequência, tendo esta apenas variado significativamente quando os sistemas foram
completamente separados com a atuação da PPS.

Figura 3.25: Frequência do COI para a abertura da interligação Norte/Sul. 𝑡0 = 18: 02: 18

O nadir atingido pela frequência do COI do subsistema SE/CO+S na simulação


foi de 59,53 𝐻𝑧 enquanto o nadir registrado por meio de PMU (do Inglês: Phasor
Measurement Units) instalada na LT 500 kV Serra da Mesa – Gurupi foi de 59,44 𝐻𝑧,
com uma diferença de apenas 0,09 𝐻𝑧. Já para o subsistema NE+N, o pico de frequência
simulado foi de 60,99 𝐻𝑧 enquanto o medido pela PMU foi de 61,33 𝐻𝑧, resultando em
uma diferença de 0,35 𝐻𝑧. Já a diferença entre os tempos do nadir simulados e registrados
por PMU foram de 1,574 𝑠 para o subsistema SE/CO+S e 0,482 𝑠 para o subsistema
NE+N. Considerando que o ponto de operação da simulação foi obtido a partir de uma

50
aproximação das condições gerais do sistema e que o resultado simulado foi para a
frequência do COI enquanto a medição da PMU foi da frequência em uma barra, a
resposta simulada se mostrou muito boa.

Para o cálculo da RoCoF, o Δ𝑃 foi aproximado como sendo o fluxo pré-


contingência passando pelas linhas que foram interrompidas, ou seja, os 3 circuitos da LT
500 kV Gurupi – Miracema, a LT 500 kV Rio das Éguas – Bom Jesus da Lapa 2 e a LT
230 kV Bom Jesus da Lapa – Tabocas do Brejo Velho. Isso equivale a um valor igual a
2252 MW.

Tendo em mãos o valor da inércia e da carga de cada subsistema e do desbalanço,


obtém-se a Figura 3.26. Nela pode-se ver o valor absoluto da RoCoF obtido na simulação
e calculado através de (3.1) com e sem a correção considerando a variação da carga. Para
os valores calculados, foi adicionada uma barra de erro de ±5% para efeitos de
comparação.

Enquanto o cálculo com correção forneceu resultados dentro de uma margem de


5% do valor simulado, o cálculo sem a correção da carga forneceu resultados dentro de
uma margem de erro de 10% do valor simulado. Levando em conta que para se corrigir o
valor da carga é necessária a realização de uma simulação dinâmica, o tempo
economizado pode muitas vezes compensar a maior margem de erro para uma estimativa
da RoCoF máxima.

Por fim, é interessante observar que, apesar do valor de Δ𝑃 ser exatamente igual
em módulo para os dois subsistemas, o RoCoF variou muito de um caso para o outro. Isso
porque, em pu, o valor de Δ𝑃 para o subsistema NE+N foi muito mais expressivo do que
para o SE/CO+S visto que a carga do primeiro é muito menor que a do segundo.

51
Figura 3.26: RoCoF absoluta máxima simulada e teórica com margem de ±5%

52
Capítulo 4

Conclusão
A busca por formas de geração de energia elétrica mais limpas e o consequente
crescimento da participação dos parques eólicos na matriz elétrica mundial traz diversos
novos desafios para os operadores de sistemas de energia elétrica do mundo. Dentre as
principais consequências da substituição da geração síncrona convencional por essa
forma assíncrona de geração estão a redução da resposta inercial do sistema, a
variabilidade e a difícil previsão de energia disponível.

Em especial, as regiões Nordeste e Sul do Brasil são duas das regiões com maior
potencial eólico do mundo, e tem sido observado crescimento exponencial dessa forma
de geração. Além disso, a construção de usinas hidrelétricas na região Norte com
reservatórios de baixa capacidade e os elos de corrente contínua utilizados para transmitir
essa energia apenas agravam ainda mais o problema.

Índices de inércia baixos significam que o sistema de energia elétrica está mais
vulnerável a distúrbios que provoquem grandes variações carga-geração, apresentando
rápidas variações de frequência e estando, portanto, mais sujeito a cortes de carga ou a
grandes blecautes. Sendo assim, se faz necessário a determinação de um valor de inércia
mínima que garanta que o sistema seja capaz de suportar as contingências estabelecidas
e apresente um desempenho dinâmico aceitável.

Uma forma de se estimar esse parâmetro foi apresentada na forma da equação


(3.1), a partir da qual, conhecendo-se a magnitude do desbalanço Δ𝑃 criado pela
contingência e a taxa máxima de variação de frequência que se deseja que o sistema seja
submetido, é possível calcular o valor mínimo que a inércia deve assumir. É evidente que
isso depende de um conhecimento prévio do sistema, ganho a partir da análise de
contingências passadas para se determinar que taxas de variação de frequência ele é capaz
de suportar.

Os resultados obtidos nas simulações mostraram que essa equação representa bem
o comportamento médio do sistema, na forma da frequência do COI e apresenta
resultados muito próximos dos simulados contanto que o valor de Δ𝑃 seja corretamente

53
especificado. Isso significa que fatores como a capacidade de curto-circuito, o perfil de
tensão imediatamente após a contingência e o modelo da carga podem influenciar
significativamente no resultado da equação, gerando erros grosseiros em algumas
situações. O modelo da carga, inclusive, mostrou que pode alterar significativamente a
resposta da frequência do sistema a uma dada perturbação, reforçando a importância de
uma representação a mais próxima do real possível.

Apesar dessa ressalva, os valores obtidos pela equação sem a correção de Δ𝑃 para
o caso do SIN foram mais próximos dos simulados que para o caso do sistema IEEE 39
barras, devido à natureza local dos fenômenos relacionados à tensão, podendo servir
assim como uma boa estimativa expedita para um valor de inércia mínima.

Por fim verificou-se que, mesmo que um sistema apresente altos índices de
segurança quando operando interligado, sempre há o risco de que um evento provoque o
ilhamento de um subsistema. Para esses casos, a determinação de índices de inércia para
regiões selecionadas do sistema interligado se mostrou uma boa ferramenta para análise
da operação isolada de uma dessas regiões.

Além das análises realizadas neste trabalho, ainda existem várias questões
relacionadas com o impacto das fontes renováveis conectadas via inversores para serem
estudadas. Assim sendo, propõem-se os trabalhos futuros a seguir:

 Uma das formas de se melhorar a resposta inercial de um sistema de energia


elétrica é através da operação de compensadores síncronos, visto que eles
configuram uma massa rotativa sincronizada com o sistema. Esse recurso não foi
avaliado no presente trabalho e sugere-se que seja estudado em trabalhos futuros.
 Como discutido previamente, a inércia sintética que pode ser simulada pelos
inversores não foi considerada neste trabalho. No entanto, ela pode ser capaz de
mitigar a redução da taxa de variação de frequência causada pela geração
assíncrona. Além disso, caso fosse considerada, como essa inércia seria
contabilizada no cálculo da constante de inércia equivalente do sistema?
 Apesar de ainda apresentarem custo muito elevado para serem empregados em
massa em sistemas de energia elétrica de grande porte, sistemas de
armazenamento de energia podem contrapor o problema criado pelas formas de
geração assíncrona. Por apresentarem resposta rápida para injeção de potência
ativa na rede, armazenadores podem mitigar o aumento da RoCoF criado pela

54
geração conectada por meio de inversores. Sugere-se então avaliar a utilização
deste recurso junto a parques eólicos.
 Atualmente no Brasil existem vários elos de corrente contínua responsáveis pela
transmissão de potência entre os subsistemas. Assim como a geração eólica e
solar, essa forma de transmissão configura uma injeção de potência de forma
assíncrona no sistema. Dito isso, sugere-se uma análise de como isso impacta na
resposta inercial do sistema. Em particular, a perturbação de outubro de 2019
descrita neste trabalho é um caso de estudo interessante onde dois subsistemas
ficaram conectados apenas por um elo de corrente contínua.

55
Capítulo 5

Bibliografia

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[33] ONS, “DGL-REL-0007/2019 - Análise da perturbação ocorrida no dia 01.10.2019


às 18h00min, que envolveu as interligações NSE e NESE,” Operador Nacional do
Sistema Elétrico, 2019.

58
Apêndice A

Dados do Sistema Teste IEEE 39 Barras


A.1 Geradores Síncronos

A.1.1 Modelo dinâmico

Foi utilizado um modelo de quarta ordem [28] para a modelagem dinâmica dos
geradores síncronos, como definido pelas equações subsequentes. Os parâmetros do
modelo estão resumidos na Tabela A.1 na base de 100 MVA.

1
𝐸̇𝑞′ = ′ ′
′ (−𝐸𝑞 − (𝑥𝑑 − 𝑥𝑑 )𝐼𝑑 + 𝐸𝑓𝑑 )
𝑇𝑑0
1
𝐸̇𝑑′ = ′ ′
′ (−𝐸𝑑 + (𝑥𝑞 − 𝑥𝑞 )𝐼𝑞 )
𝑇𝑞0
𝛿̇ = 𝜔
1
𝜔̇ = (𝑇 − (𝜙𝑑 𝐼𝑞 − 𝜙𝑞 𝐼𝑑 ) − 𝐷𝜔 )
𝑀 𝑚𝑒𝑐ℎ
0 = 𝑟𝑎 𝐼𝑑 + 𝜙𝑞 + 𝑉𝑑
0 = 𝑟𝑎 𝐼𝑞 − 𝜙𝑑 + 𝑉𝑞
0 = −𝜙𝑑 − 𝑥𝑑′ 𝐼𝑑 − 𝐸𝑞′
0 = −𝜙𝑞 − 𝑥𝑞′ 𝐼𝑞 − 𝐸𝑑′
0 = 𝑉𝑑 sen 𝛿 + 𝑉𝑞 cos 𝛿 − 𝑉𝑟
0 = 𝑉𝑞 sen 𝛿 − 𝑉𝑑 cos 𝛿 − 𝑉𝑖
0 = 𝐼𝑑 sen 𝛿 + 𝐼𝑞 cos 𝛿 − 𝐼𝑟
0 = 𝐼𝑞 sen 𝛿 − 𝐼𝑑 cos 𝛿 − 𝐼𝑖

59
Tabela A.1 – Parâmetros do modelo dinâmico dos geradores síncronos

# 𝑈𝑛𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝐵𝑎𝑟𝑟𝑎 𝐻 [𝑠] 𝑅𝑎 𝑥𝑑′ 𝑥𝑞′ 𝑥𝑑 𝑥𝑞 ′
𝑇𝑑0 [𝑠] 𝑇𝑞0 [𝑠] 𝑥𝑙
1 39 500 0 0.006 0.008 0.02 0.019 7 0.7 0.003
2 31 30.3 0 0.0697 0.17 0.295 0.282 6.56 1.5 0.035
3 32 35.8 0 0.0531 0.0876 0.2495 0.237 5.7 1.5 0.0304
4 33 28.6 0 0.0436 0.166 0.262 0.258 5.69 1.5 0.0295
5 34 26 0 0.132 0.166 0.67 0.62 5.4 0.44 0.054
6 35 34.8 0 0.05 0.0814 0.254 0.241 7.3 0.4 0.0224
7 36 26.4 0 0.049 0.186 0.295 0.292 5.66 1.5 0.0322
8 37 24.3 0 0.057 0.0911 0.29 0.28 6.7 0.41 0.028
9 38 34.5 0 0.057 0.0587 0.2106 0.205 4.79 1.96 0.0298
10 30 42 0 0.031 0.008 0.1 0.069 10.2 0 0.0125

A.1.2 Modelo do Regulador de Velocidade

O modelo utilizado nos reguladores de velocidade [28] se encontra na Figura A.1


e é descrito pelas equações abaixo. Os parâmetros utilizados estão resumidos na Tabela
A.2.

∗ 1
𝑝𝑖𝑛 = 𝑝𝑟𝑒𝑓 + (𝜔 − 𝜔)
𝑅 𝑟𝑒𝑓
∗ ∗
𝑝𝑖𝑛 𝑠𝑒 𝑝𝑚𝑖𝑛 ≤ 𝑝𝑖𝑛 ≤ 𝑝𝑚𝑎𝑥

𝑝𝑖𝑛 = { 𝑝𝑚𝑎𝑥 𝑠𝑒 𝑝𝑖𝑛 > 𝑝𝑚𝑎𝑥

𝑝𝑚𝑖𝑛 𝑠𝑒 𝑝𝑖𝑛 < 𝑝𝑚𝑖𝑛
𝑥̇𝑔1 = (𝑝𝑖𝑛 − 𝑥𝑔1 )/𝑇𝑠

𝑇3
𝑥̇𝑔2 = ((1 − ) 𝑥 − 𝑥𝑔2 ) /𝑇𝑐
𝑇𝑐 𝑔1

𝑇4 𝑇3
𝑥̇𝑔3 = ((1 − ) (𝑥𝑔2 + 𝑥𝑔1 ) − 𝑥𝑔3 ) /𝑇5
𝑇5 𝑇𝑐
𝑇4 𝑇3
𝑝𝑚 = 𝑥𝑔3 + (𝑥𝑔2 + 𝑥𝑔1 )
𝑇5 𝑇𝑐

Figura A.1: Modelo do Regulador de Velocidade [28]

60
Tabela A.2 – Parâmetros do modelo do Regulador de Velocidade
# 𝑈𝑛𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝐵𝑎𝑟𝑟𝑎 𝐷𝑟𝑜𝑜𝑝 𝑃𝑚𝑎𝑥 𝑃𝑚𝑖𝑛 𝑇𝑠 [𝑠] 𝑇𝑐 [𝑠] 𝑇3 [𝑠] 𝑇4 [𝑠] 𝑇5 [𝑠]
1 39 0.02 12 3 0.1 0.02 0.006 0 7
2 31 0.02 16.24 1.56 2.7 0.295 0.07 0 6.56
3 32 0.02 7.8 1.95 0.386 0.2495 0.053 0 5.7
4 33 0.02 7.56 1.9 0.222 0.262 0.044 0 5.69
5 34 0.02 6.12 1.53 0.14 0.67 0.132 0 5.4
6 35 0.02 8.12 2.03 6.15 0.254 0.05 0 7.3
7 36 0.02 6.72 1.68 0.268 0.295 0.049 0 5.66
8 37 0.02 6.5 1.63 0.686 0.29 0.057 0 6.7
9 38 0.02 9.98 2.5 0.3 0.2106 0.057 0 4.79
10 30 0.02 3.01 0.75 0.14 0.1 0.031 0 10.2

A.1.3 Modelo do Regulador de Tensão

O modelo utilizado nos reguladores de tensão [28] se encontra na Figura A.2 e é


descrito pelas equações abaixo. Os parâmetros utilizados estão resumidos na Tabela A.3.

𝑣̇𝑚 = (𝑣 − 𝑣𝑚 )/𝑇𝑟
𝐾𝑓
𝑣̇ 𝑟1 = (𝐾𝑎 (𝑣𝑟𝑒𝑓 − 𝑣𝑚 − 𝑣𝑟2 − 𝑣 ) − 𝑣𝑟1 ) /𝑇𝑎
𝑇𝑓 𝑓
𝑣𝑟1 𝑠𝑒 𝑣𝑟𝑚𝑖𝑛 ≤ 𝑣𝑟1 ≤ 𝑣𝑟𝑚𝑎𝑥
𝑣𝑟 = { 𝑣𝑟𝑚𝑎𝑥 𝑠𝑒 𝑣𝑟1 > 𝑣𝑟𝑚𝑎𝑥
𝑣𝑟𝑚𝑖𝑛 𝑠𝑒 𝑣𝑟1 < 𝑣𝑟𝑚𝑖𝑛
𝐾𝑓
𝑣̇ 𝑟2 = − ( 𝑣𝑓 + 𝑣𝑟2 ) /𝑇𝑓
𝑇𝑓

𝑣𝑓 = − (𝑣𝑓 (𝐾𝑒 + 𝑆𝑒 (𝑣𝑓 )) − 𝑣𝑟 ) /𝑇𝑒

Figura A.2: Modelo do Regulador de Tensão [28]

61
Tabela A.3 – Parâmetros do modelo do Regulador de Tensão
# 𝑈𝑛𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝐵𝑎𝑟𝑟𝑎 𝑉𝑚𝑎𝑥 𝑉𝑚𝑖𝑛 𝐾𝑎 𝑇𝑎 [𝑠] 𝐾𝑓 𝑇𝑓 [𝑠] 𝑇𝑒 [𝑠] 𝑇𝑟 [𝑠] 𝐴𝑒 𝐵𝑒
1 39 10.5 -10.5 40 0.02 0.03 0.1 1.4 0.001 0.0039 1.555
2 31 5 -5 6 0.05 0.06 0.05 0.41 0.001 0.0039 1.555
3 32 5 -5 5 0.06 0.08 0.1 0.5 0.001 0.0039 1.555
4 33 5 -5 5 0.06 0.08 0.1 0.5 0.001 0.0039 1.555
5 34 30 -10 5 0.02 0.03 0.1 0.785 0.001 0.0039 1.555
6 35 5 -5 5 0.02 0.08 0.125 0.471 0.001 0.0039 1.555
7 36 6.5 -6.5 5 0.02 0.03 0.1 0.73 0.001 0.0039 1.555
8 37 5 -5 5 0.02 0.09 0.126 0.528 0.001 0.0039 1.555
9 38 10.5 -10.5 5 0.02 0.03 0.1 0.5 0.001 0.0039 1.555
10 30 5 -5 5 0.06 0.04 0.1 0.25 0.001 0.0039 1.555

A.1.4 Modelo do Estabilizador (PSS)

O modelo utilizado nos estabilizadores [28] se encontra na Figura A.3 e é descrito


pelas equações abaixo. Os parâmetros utilizados estão resumidos na Tabela A.4.

𝑣̇ 1 = −(𝐾𝜔 𝑣𝑆𝐼 + 𝑣1 )/𝑇𝜔


𝑇1
𝑣̇ 2 = ((1 − ) (𝐾𝜔 𝑣𝑆𝐼 + 𝑣1 ) − 𝑣2 ) /𝑇2
𝑇2

𝑇3 𝑇1
𝑣̇ 3 = ((1 − ) (𝑣2 + ( (𝐾𝜔 𝑣𝑆𝐼 + 𝑣1 ))) − 𝑣3 ) /𝑇4
𝑇4 𝑇2

𝑇3 𝑇1
𝑣𝑠 = 𝑣3 + (𝑣2 + (𝐾𝜔 𝑣𝑆𝐼 + 𝑣1 ))
𝑇4 𝑇2

Figura A.3: Modelo do Estabilizador [28]

62
Tabela A.4 – Parâmetros do modelo do Estabilizador
# 𝑈𝑛𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝐵𝑎𝑟𝑟𝑎 𝐾 𝑇𝑤 [𝑠] 𝑇1 [𝑠] 𝑇2 [𝑠] 𝑇3 [𝑠] 𝑇4 [𝑠] 𝑉𝑚𝑎𝑥 𝑉𝑚𝑖𝑛
1 39 1 10 5 0.6 3 0.5 0.2 -0.2
2 31 0.5 10 5 0.4 1 0.1 0.2 -0.2
3 32 0.5 10 3 0.2 2 0.2 0.2 -0.2
4 33 2 10 1 0.1 1 0.3 0.2 -0.2
5 34 1 10 1.5 0.2 1 0.1 0.2 -0.2
6 35 4 10 0.5 0.1 0.5 0.05 0.2 -0.2
7 36 7.5 10 0.2 0.02 0.5 0.1 0.2 -0.2
8 37 2 10 1 0.2 1 0.1 0.2 -0.2
9 38 2 10 1 0.5 2 0.1 0.2 -0.2
10 30 1 10 1 0.05 3 0.5 0.2 -0.2

A.2 Geradores Eólicos

O modelo de gerador eólico escolhido foi o gerador síncrono conectado por meio
de conversores eletrônicos (DDSG – Direct Drive Synchronous Generator) cujas
equações estão dispostas abaixo [28]. São assumidas equações elétricas em estado
estacionário do gerador síncrono, visto que a dinâmica do fluxo do estator é muito mais
rápida em comparação com a dinâmica da rede e o conversor desacopla completamente
o gerador do sistema.

As equações algébricas envolvidas no modelo são

𝑣𝑑𝑠 = −𝑟𝑠 𝑖𝑑𝑠 + 𝜔𝑚 𝑥𝑞 𝑖𝑞𝑠


𝑣𝑞𝑠 = −𝑟𝑠 𝑖𝑞𝑠 − 𝜔𝑚 (𝑥𝑑 𝑖𝑑𝑠 − 𝜓𝑝 )

onde o fluxo permanente 𝜓𝑝 é usado para representar o circuito do rotor. As potências


ativa e reativa do gerador são dadas por:

𝑝𝑠 = 𝑣𝑑𝑠 𝑖𝑑𝑠 + 𝑣𝑞𝑠 𝑖𝑞𝑠


𝑞𝑠 = 𝑣𝑞𝑠 𝑖𝑑𝑠 − 𝑣𝑑𝑠 𝑖𝑞𝑠

enquanto as potências ativa e reativa injetadas na rede dependem apenas das correntes do
conversor do lado da rede:

𝑝𝑐 = 𝑣𝑑𝑐 𝑖𝑑𝑐 + 𝑣𝑞𝑐 𝑖𝑞𝑐


𝑞𝑐 = 𝑣𝑞𝑐 𝑖𝑑𝑐 − 𝑣𝑑𝑐 𝑖𝑞𝑐

onde as tensões do conversor dependem do módulo e fase da tensão da rede, como se


segue:

63
𝑣𝑑𝑐 = −𝑣 sen 𝜃
𝑣𝑞𝑐 = 𝑣 cos 𝜃

Assumindo um conversor sem perdas e com fator de potência unitário, obtêm-se

𝑝𝑐 = 𝑝𝑠
𝑞𝑠 = 0

A potência reativa injetada na rede é controlada pela corrente de eixo direto com
conversor 𝑖𝑑𝑐 .

𝑝𝑠 + 𝑣𝑖𝑑𝑐 sen 𝜃
𝑖𝑞𝑐 =
𝑣 cos 𝜃
𝑞𝑐 = 𝑣(𝑖𝑑𝑐 cos 𝜃 + 𝑖𝑞𝑐 sen 𝜃)

A modelagem das equações de movimento do gerador é dada por:

𝑣𝑑𝑠 = −𝑟𝑠 𝑖𝑑𝑠 + 𝜔𝑚 𝑥𝑞 𝑖𝑞𝑠


𝑣𝑞𝑠 = −𝑟𝑠 𝑖𝑞𝑠 − 𝜔𝑚 (𝑥𝑑 𝑖𝑑𝑠 − 𝜓𝑝 )

onde a relação entre os fluxos do estator e as correntes do gerador é dada por:

𝜓𝑑𝑠 = −𝑥𝑑 𝑖𝑑𝑠 + 𝜓𝑝


𝜓𝑞𝑠 = −𝑥𝑞 𝑖𝑞𝑠

e o torque e potência mecânicos são:

𝑝𝜔
𝜏𝑚 =
𝜔𝑚
𝑛𝑔 𝜌
𝑝𝜔 = 𝑐 (𝜆, 𝜃𝑝 )𝐴𝑟 𝑣𝜔3
2𝑆𝑛 𝑝
116 12.5

𝑐𝑝 = 0,22 ( − 0,4𝜃𝑝 − 5) 𝑒 𝜆𝑖
𝜆𝑖
1 1 0,035
= − 3
𝜆𝑖 𝜆 + 0,08𝜃𝑝 𝜃𝑝 + 1
2𝑅𝜔𝑡
𝜆 = 𝑛𝐺𝐵
𝑛𝑝 𝑣𝜔

onde 𝑝𝜔 é a potência mecânica extraída do vento, 𝑛𝑔 é o número de máquinas que


compõem o parque eólico, 𝜌 é a densidade do ar, 𝑆𝑛 é a potência do parque, 𝑛𝐺𝐵 é a

64
relação da caixa de engrenagens, 𝑛𝑝 é o número de polos do gerador, 𝑅 é o raio do rotor,
𝜔𝑡 é a velocidade do rotor e 𝑣𝜔 é a velocidade do vento.

As dinâmicas dos conversores são simplificadas uma vez que são muito mais
rápidas que os transitórios eletromecânicos, sendo modelado como uma fonte de corrente
ideal. O controle de tensão está representado na Figura A.4 e as equações diferenciais das
correntes do conversor são dadas por

̇
𝑖̇𝑞𝑠 = (𝑖𝑞𝑠𝑟𝑒𝑓 − 𝑖𝑞𝑠 )/𝑇𝜖𝑝
̇
𝑖𝑑𝑐 = (𝐾𝑉 (𝑣𝑟𝑒𝑓 − 𝑣) − 𝑖𝑑𝑐 )/𝑇𝑉
∗(
𝑝𝜔 𝜔𝑚 )
𝑖𝑞𝑠𝑟𝑒𝑓 =
𝜔𝑚 (𝜓𝑝 − 𝑥𝑑 𝑖𝑑𝑠 )

onde 𝑝𝜔 é a característica potência-velocidade que otimiza o aproveitamento de energia
do vento. Para evitar problemas de sobrecorrentes, são impostos os limites:

𝑚𝑎𝑥 𝑚𝑎𝑥
𝑖𝑞𝑠 , 𝑖𝑞𝑐 = 𝑝𝑚𝑎𝑥
𝑚𝑖𝑛 𝑚𝑖𝑛
𝑖𝑞𝑠 , 𝑖𝑞𝑐 = 𝑝𝑚𝑖𝑛
𝑚𝑎𝑥 𝑚𝑎𝑥
𝑖𝑑𝑐 , 𝑞𝑐 = 𝑞𝑚𝑎𝑥
𝑚𝑖𝑛 𝑚𝑖𝑛
𝑖𝑑𝑐 , 𝑞𝑐 = 𝑞𝑚𝑖𝑛

Figura A.4: Modelo de controle de tensão do DDSG [28]

Finalmente, o controle de pitch é ilustrado na Figura A.5 e descrito pela equação


diferencial

𝜃̇𝑝 = (𝐾𝑝 𝜙(𝜔𝑚 − 𝜔𝑟𝑒𝑓 ) − 𝜃𝑝 )/𝑇𝑝

65
Figura A.5: Modelo do controle do ângulo de pitch.

Os parâmetros do modelo estão dispostos na Tabela A.5.

Tabela A.5 – Parâmetros do modelo da turbina eólica

𝐵𝑎𝑟𝑟𝑎 38 34 36 37 35
𝑆𝑛 [MVA] 852 522 575 555 667
𝑟𝑠 0,01
𝑥𝑑 1
𝑥𝑞 0,8
𝜓𝑝 1
𝐻𝑚 2
𝐾𝑝 10
𝑇𝑝 [s] 3
𝐾𝑉 10
𝑇𝑉 [s] 1
𝑇𝜖𝑝 [s] 0,01
𝑇𝜖𝑞 [s] 0,01
𝑅 [m] 75
𝑛𝑝 4
𝑛𝑏 3
𝑛𝐺𝐵 0,01123596
𝑝𝑚𝑎𝑥 1
𝑚𝑖𝑛
𝑝 0
𝑚𝑎𝑥
𝑞 0,7
𝑞𝑚𝑖𝑛 -0,7
𝑣𝜔 [m/s] 13
𝜌 [kg/m ]3
1.225
𝑛𝑔 435 270 300 285 340

66
A.3 Modelo da Carga

A carga foi modelada como uma carga ZIP, cuja característica segue abaixo

𝑣 2 𝑣
𝑝 = 𝑝𝑧0 ( 0 ) + 𝑝𝑖0 ( 0) + 𝑝𝑝0
𝑣 𝑣
𝑣 2 𝑣
𝑞 = 𝑞𝑧0 ( 0 ) + 𝑞𝑖0 ( 0 ) + 𝑞𝑝0
𝑣 𝑣

onde 𝑣 0 é a tensão inicial na barra obtida da solução do fluxo de potência. Os parâmetros


𝑝𝑧0 , 𝑝𝑖0 e 𝑝𝑝0 determinam a percentagem da carga ativa inicial que varia quadraticamente,
linearmente e que não varia com a tensão, respectivamente. Por sua vez, os parâmetros
𝑞𝑧0 , 𝑞𝑖0 e 𝑞𝑝0 determinam a percentagem da carga reativa inicial que varia quadraticamente,
linearmente e que não varia com a tensão, respectivamente.

Conforme recomendado pelo ONS [19], o modelo adotado foi de 50% impedância
constante e 50% potência constante para a parcela ativa da carga e 100% impedância
𝑝
constante para a parcela reativa da carga. Ou seja, 𝑝𝑧0 = 𝑝𝑝0 = 2 e 𝑞𝑧0 = 𝑞.

Nas simulações em que se variou o modelo da carga para se verificar o impacto


na frequência, apenas os valores de 𝑝𝑧0 e 𝑝𝑝0 foram alterados.

A Tabela A.6 expõe os valores de carga para a tensão inicial do sistema, na base
de 100 MVA.

Tabela A.6 – Perfil inicial das cargas para a tensão inicial


Carga [pu] Carga [pu] Carga [pu]
Barra Barra Barra
P Q P Q P Q
3 3.22 0.02 18 1.58 0.30 27 2.81 0.76
4 5.00 1.84 20 6.28 1.03 28 2.06 0.28
7 2.34 0.84 21 2.74 1.15 29 2.84 0.27
8 5.22 1.76 23 2.48 0.85 40 0.09 0.05
12 0.08 0.88 24 3.09 -0.92 41 11.04 2.50
15 3.20 1.53 25 2.24 0.47 27 2.81 0.76
16 3.29 0.32 26 1.39 0.17 28 2.06 0.28

67
A.4 Linhas e Transformadores

Os dados das linhas de transmissão e transformadores são dados nas tabelas


Tabela A.7 e Tabela A.8 na base de 100 MVA.

Tabela A.7 – Dados de Linhas de Transmissão

Barra De Barra Para R X B Tap


1 2 0.0035 0.0411 0.6987 -
1 39 0.001 0.025 0.75 -
2 3 0.0013 0.0151 0.2572 -
2 25 0.007 0.0086 0.146 -
3 4 0.0013 0.0213 0.2214 -
3 18 0.0011 0.0133 0.2138 -
4 5 0.0008 0.0128 0.1342 -
4 14 0.0008 0.0129 0.1382 -
5 6 0.0002 0.0026 0.0434 -
5 8 0.0008 0.0112 0.1476 -
6 7 0.0006 0.0092 0.113 -
6 11 0.0007 0.0082 0.1389 -
7 8 0.0004 0.0046 0.078 -
8 9 0.0023 0.0363 0.3804 -
9 39 0.001 0.025 1.2 -
10 11 0.0004 0.0043 0.0729 -
10 13 0.0004 0.0043 0.0729 -
13 14 0.0009 0.0101 0.1723 -
14 15 0.0018 0.0217 0.366 -
15 16 0.0009 0.0094 0.171 -
16 17 0.0007 0.0089 0.1342 -
16 19 0.0016 0.0195 0.304 -
16 21 0.0008 0.0135 0.2548 -
16 24 0.0003 0.0059 0.068 -
17 18 0.0007 0.0082 0.1319 -
17 27 0.0013 0.0173 0.3216 -
21 22 0.0008 0.014 0.2565 -
22 23 0.0006 0.0096 0.1846 -
23 24 0.0022 0.035 0.361 -
25 26 0.0032 0.0323 0.513 -
26 27 0.0014 0.0147 0.2396 -
26 28 0.0043 0.0474 0.7802 -
26 29 0.0057 0.0625 1.029 -
28 29 0.0014 0.0151 0.249 -

68
Tabela A.8 – Dados de Transformadores

Barra De Barra Para R X B Tap


23 36 0.0005 0.0272 0 1
11 12 0.0016 0.0435 0 1.006
12 13 0.0016 0.0435 0 1.006
20 34 0.0009 0.018 0 1.009
2 30 0 0.0181 0 1.025
22 35 0 0.0143 0 1.025
25 37 0.0006 0.0232 0 1.025
29 38 0.0008 0.0156 0 1.025
19 20 0.0007 0.0138 0 1.06
6 31 0 0.025 0 1.07
10 32 0 0.02 0 1.07
19 33 0.0007 0.0142 0 1.07

A.5 Ponto de Operação do Sistema

A Tabela A.9 contém o ponto de operação do sistema, com os valores obtidos do


fluxo de potência.

Tabela A.9 – Ponto de Operação do Sistema

Tensão Ângulo Carga Geração


Barra
[pu] [graus] MW Mvar MW Mvar Unit No.
1 1.0474 -8.44 0 0
2 1.0487 -5.75 0 0
3 1.0302 -8.6 -322 -2.4
4 1.0039 -9.61 -500 -184
5 1.0053 -8.61 0 0
6 1.0077 -7.95 0 0
7 0.997 -10.12 -233.8 -84
8 0.996 -10.62 -522 -176
9 1.0282 -10.32 0 0
10 1.0172 -5.43 0 0
11 1.0127 -6.28 0 0
12 1.0002 -6.24 -7.5 -88
13 1.0143 -6.1 0 0
14 1.0117 -7.66 0 0
15 1.0154 -7.74 -320 -153
16 1.0318 -6.19 -329 -32.3
17 1.0336 -7.3 0 0
18 1.0309 -8.22 -158 -30
19 1.0499 -1.02 0 0

69
Tensão Ângulo Carga Geração
Barra
[pu] [graus] MW Mvar MW Mvar Unit No.
20 0.9912 -2.01 -628 -103
21 1.0318 -3.78 -274 -115
22 1.0498 0.67 0 0
23 1.0448 0.47 -247.5 -84.6
24 1.0373 -6.07 -308.6 92.2
25 1.0576 -4.36 -224 -47.2
26 1.0521 -5.53 -139 -17
27 1.0377 -7.5 -281 -75.5
28 1.0501 -2.01 -206 -27.6
29 1.0499 0.74 -283.5 -26.9
30 1.0475 -3.33 250 146.16 10
31 0.982 0 -9.2 -4.6 520.81 198.25 2
32 0.9831 2.57 650 205.14 3
33 0.9972 4.19 632 109.91 4
34 1.0123 3.17 508 165.76 5
35 1.0493 5.63 650 212.41 6
36 1.0635 8.32 560 101.17 7
37 1.0278 2.42 540 0.44 8
38 1.0265 7.81 830 22.84 9
39 1.03 -10.05 -1104 -250 1000 88.28 1

70

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