Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais (PPGCA). Centro de Ciências Naturais e
Tecnologia (CCNT). Universidade do Estado do Pará (UEPA), Tv. Dr. Enéas Pinheiro, Marco, n°
2626, CEP: 66095-015, Belém, PA, Brasil. E-mail: edilson@xxxxxx; evelynrafaelle@yahoo.com.br;
glgirard@gmail.com; agromirazze@gmail.com; marcileneavelar16@gmail.com;
leneforest@gmail.com.
2
Doutora em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Pará – UFPA. Professora do PPG
em Ciências Ambientais - UEPA. e-mail: hebemcr@gmail.com
*Autor correspondente. E-mail: glgirard@gmail.com
RESUMO
As discussões metodológicas devem estar presentes no ensino, principalmente nas questões que
tratam temáticas ambientais, sendo a água um tema bastante discutido em questões ambientais. Este
relato objetiva descrever a experiência de ensino-aprendizagem como instrumento de formação sobre
análise microbiológica da água aplicado em uma disciplina de Pós-graduação. A atividade de ensino
aprendizagem foi desenvolvida em quatro etapas, sendo elas: 1) Momentos pedagógicos, socialização
e discussão de temas (rodas de conversa, aulas teóricas expositivas e dialogadas e resolução de
exercícios); 2) Planejamento, situação problema, coleta de amostra da água (escolha do problema
sobre a realidade dos rios da cidade de Belém, planejamento com prática de coleta de água em quatro
pontos na bacia do Rio Tucunduba, com seis amostras cada, e análise microbiológica de água). 3)
Análise microbiológica da água, elaboração de artigo científico (análise e quantificação dos
Parâmetros Coliformes totais e Escherichia coli). Todas as amostras testaram positivas para
coliformes. 4) Avaliação (Foram realizadas avaliação formativa e somativa). Ao final da atividade,
os discentes mostraram-se motivados com a aula prática, pelo fato de ter ocorrido fora de uma sala
de aula, utilizando um laboratório de análises, além do contato direto com o problema abordado, a
contaminação dos recursos hídricos em áreas urbanas, recursos estes observados cotidianamente,
porém, a disciplina, da maneira como foi conduzida, permitiu a seus participantes, um olhar crítico e
a formação de opinião sobre a temática abordada.
1. INTRODUÇÃO
A evolução humana ao longo da sua história, nos mais diversos aspectos, vem sendo
acompanhada do constante desenvolvimento da ciência e tecnologia (Viesga-Garcia et al., 2019),
porém, a inovação nas práticas de salas de aula ainda sofre grande resistência (Drehmer-Marques et
al., 2022).
As estratégias didático-pedagógicas nos auxiliam na construção de práticas de ensino, seja qual
for a área de conhecimento, para a formação da cidadania (Mello e Trajber, 2007). Neste âmbito, as
discussões metodológicas devem estar presentes no ensino, e nas questões que tratam temáticas
ambientais também não é diferente (Oliveira et al., 2020).
Entre os elementos bastante discutidos no viés das questões ambientais na sociedade está a água,
sendo um elemento essencial e indispensável à manutenção da vida, que não está associada apenas às
suas características próprias, mas também pela sua funcionalidade no processo metabólico de forma
direta ou indireta (Estefan de Paula et al., 2021).
Dentro desse contexto, a quantidade e qualidade da água tem sido foco de importantes discussões
em eventos nacionais e internacionais (Agência Nacional de Águas, 2011). Tais eventos contribuíram
significativamente para o desenvolvimento de políticas públicas voltadas à conservação dos recursos
hídricos (Buriti e Barbosa, 2014).
No Brasil, a Lei nº 9.433/1997 que institui a Política Nacional dos Recursos Hídricos – PNRH
apresenta em seus fundamentos a água sendo um bem de domínio público, e chama a atenção para a
limitação desse recurso natural. Assim, traz como primeiro objetivo a necessidade de assegurar a
disponibilidade da água a geração atual e futura em padrões de qualidade adequada (Brasil, 1997).
A região Amazônica apresenta uma grande concentração de água doce superficial presentes nas
inúmeras bacias hidrográficas que cortam a floresta e as cidades, quantificado em até 70%,
aproximadamente do volume disponível no restante país (Fernandes e Santos, 2022). A exemplo, a
cidade de Belém, que só na área continental apresenta 14 bacias de drenagem (Tourinho et al., 2021).
Contudo, a qualidade e permanência desses recursos hídricos, vem ao longo das últimas décadas,
sendo ameaçada pelo crescimento urbano desordenado, aterramento de partes dos canais e rios, além
da destinação de resíduos sólidos (Castro, 2019). A carência de saneamento básico, soma os efeitos
negativos sobre os ecossistemas aquáticos, contribuindo para a deterioração do meio (Alves, 2018).
Em consonância ao exposto acima, Tourinho, et al. (2021) explicita que existe uma relação
conflituosa entre a população belenense e os rios urbanos, que se manifesta por meio das “ocupações
irregulares, lançamento de dejetos e resíduos domésticos e industriais, veiculação de doenças,
ocorrência de enchentes, são apenas alguns exemplos de manifestação desses conflitos” (Tourinho et
al., 2021, p. 5) que intensificam a poluição e a contaminação dos recursos hídricos.
Considerando essa e outras problemáticas que ameaçam o recurso água, o estado do Pará criou
em julho de 2001 a Lei nº 6.381, que dispõe Sobre a Política Estadual de Recursos Hídricos – PERH,
institui o Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos que objetiva, dentre outros, a proteção das
bacias hidrográficas em oposição à ações lesivas que ponham em risco o uso presente e futuro (Pará,
2001).Reconhecendo assim o Estado legalmente sua responsabilidade enquanto governo na gestão
dos recursos hídricos que junto com a população tornam-se essenciais para promover uma boa
qualidade ambiental (Arco et al., 2020).
A melhoria da qualidade da água e a redução da poluição e contaminação também é ação
prioritária proposta pela Organização das Nações Unidas – ONU, integrando o Objetivo de
Desenvolvimento Sustentável – ODS nº 6 da Agenda 2030.
Nesse contexto, as práticas pedagógicas em todos os níveis de ensino precisam dar cada vez mais
atenção à temática água, não apenas como recurso, mas como elemento essencial à toda forma de
vida existente no planeta. Tendo em vista que a impermanência da água em qualidade ou em
quantidade invalida a dinâmica natural dos ecossistemas terrestres. Assim, essa pesquisa tem como
objetivo descrever a experiência de ensino-aprendizagem como instrumento de formação sobre
análise microbiológica da água aplicado na disciplina Qualidade, Manejo e Conservação de Recursos
Hídricos.
2. METODOLOGIA
Trata-se de um estudo descritivo com abordagem qualitativa, do tipo relato de experiência, que
descreve a experiência de ensino-aprendizagem ativa sobre a análise microbiológica da água, na
disciplina Qualidade, Manejo e Conservação de Recursos Hídricos, na pós-graduação a nível de
mestrado e doutorado em Ciências Ambientais da Universidade do Estado do Pará. Foram descritas
as atividades realizadas no período de 01 a 11 de agosto de 2022.
O Relato de Experiência é um conhecimento que se transmite com aporte científico, de forma
subjetiva e detalhada (Grollmus e Tarrés, 2015).
A coleta de amostra é um dos passos mais importante para a avaliação da qualidade da água.
Portanto, é essencial que a amostragem seja realizada com precaução e técnica para evitar
todas as fontes de possível contaminação. As amostras devem ser coletadas em frascos de
vidro branco, boca larga, com tampa de vidro esmerilhada, bem ajustada, capacidade de 125
mL, previamente esterilizados ou saco plástico estéril, descartável, contendo pastilha de
tiossulfato de sódio. Os frascos para a coleta de águas cloradas devem receber, antes de serem
esterilizados, 0,1 mL (2 gotas) de tiossulfato de sódio a 10%.
Nessa etapa, os subgrupos de discentes e a docente foram até os pontos escolhidos para colher a
amostra de água, que foram na bacia do Igarapé Tucunduba, em Belém, PA, que é uma bacia de água
doce, urbanizada em seu curso, utilizada para navegação, drena para o rio Guamá e deste para a baía
do Guajará.
Na área urbana, o curso deste igarapé foi transformado em canais retificados onde são despejados
a água pluvial, efluentes domésticos não tratados, efluentes de comércios existentes em suas margens
que alteram a qualidade da água e causam considerável degradação ambiental (Targa et al., 2012).
A água doce dos rios é um recurso natural finito e sua qualidade vem sendo perdida devido a
contaminação urbana e aproveitamento indevido pela população (Santos et al., 2018). A Resolução
CONAMA Nº357/2005 estabelece parâmetros de avaliação da qualidade das águas, existe
classificação para os corpos de água, diretrizes ambientais para seu enquadramento a partir de seu
uso, bem como, são estabelecidas condições e padrões de lançamento de efluentes e dá outras
providências (Brasil, 2005).
Em relação aos rios brasileiros, esta resolução os classifica de acordo com o grau de
salinidade: água doce, salobra e salina, bem como de acordo com os seus usos múltiplos da água,
podendo ser classificado como classe 1, 2 e 3 (Brasil,2005)
As águas doces são classificadas, de acordo com seu uso, em: classe especial, classe 1, classe
2, classe 3, classe 4. No caso dos pontos escolhidos para este estudo, está a classificação classe 4,
destinada à navegação. De acordo com a resolução do CONAMA Nº357/2005, nas condições e
padrões de qualidade dessas águas, não existe parâmetro, nem valor limite para a existência de
coliformes termotolerantes e nem determinação para quantitativo de E. coli (Brasil, 2005).
Os pontos de coleta compreenderam quatro locais, quatro pontos, em que o igarapé passa por
dentro Universidade Federal do Pará, na maré alta, o primeiro ponto e o terceiro ponto é a parte do
igarapé que recebe água do bairro da Terra Firme; o segundo e o quarto ponto é a parte que desemboca
no rio Guamá, localizada nas coordenadas de GPS: Ponto 1 elevação 12m, Latitude 01º 22’’ 8
milésimos, Longitude 048º 26’ 53’’ 8 milésimos; Ponto 2 elevação 12m, Latitude 01º 28’ 23’’ 0
milésimo, Longitude 048º 26’ 53’’ 8 milésimo; Ponto 3 elevação 12m, Latitude 01º 28´ 33´´5
milésimos, Longitude 048º 27´ 14´´ 6 milésimos e Ponto 4 elevação 11m, Latitude 01º 28´ 33´´ 4
milésimos, Longitude 048º 27´ 14´´ 7 milésimos.
Em cada ponto foram realizadas seis amostras de água em saquinhos estéreis e identificados. Foi
utilizada a Técnica de Coleta de Amostragem em Rios, conforme recomenda o Manual Prático de
Análise da Água e resolução do CONAMA 357/2005, seis amostras em cada ponto (Brasil, 2013;
Brasil, 2015).
À observação macroscópica dos pontos de coleta, pode-se constatar que a água, apesar de possui
cor clara, tem odor fecal, as margens despovoadas, com presença de vegetação, sem fluxo de esgoto
aparente, porém com atividade antrópica, presença de navegação, lixo no entorno, como plásticos.
As amostras foram armazenadas, transportadas em temperatura ambiente até o laboratório de
análises microbiológicas.
A análise de Coliformes Totais, de acordo coma tabela do Colilert IDEXX Quanti- Tray®/2000
NMP, teve resultado superior a 2419.6 NMP/ 100mL, excedendo os padrões de qualidade dessas
águas estabelecidos pela resolução do CONAMA Nº357/2005.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entre os elementos bastante discutidos no viés das questões ambientais na sociedade está a
água, sendo um elemento essencial e indispensável à manutenção da vida. Tanto no contexto de
quantidade, quanto de qualidade a água tem sido foco de importantes discussões em eventos nacionais
e internacionais. Tais eventos contribuíram significativamente para o desenvolvimento de políticas
públicas voltadas à conservação dos recursos hídricos.
Nesse contexto, as práticas pedagógicas em todos os níveis de ensino precisam dar cada vez mais
atenção à temática água, não apenas como recurso, mas como elemento essencial à toda forma de
vida existente no planeta. Assim, essa pesquisa descreveu a experiência de ensino-aprendizagem
como instrumento de formação sobre análise microbiológica da água aplicado na disciplina
Qualidade, Manejo e Conservação de Recursos Hídricos do Programa de Pós-Graduação em Ciências
Ambientais - a nível estrito senso da Universidade do Estado do Pará.
A atividade de ensino aprendizagem foi desenvolvida em quatro etapas: Primeira etapa:
momentos pedagógicos, socialização e discussão de temas; Segunda etapa: planejamento, situação
problema, coleta de amostra da água; Terceira etapa: Análise microbiológica da água, elaboração de
artigo científico e Quarta etapa: Avaliação.
Ao final da atividade, os discentes mostraram-se motivados com a aula prática, pelo fato de ter
ocorrido fora de uma sala de aula, utilizando um laboratório de análises, além do contato direto com
o problema abordado, a contaminação dos recursos hídricos em áreas urbanas, recursos estes
observados cotidianamente, porém, a disciplina, da maneira como foi conduzida, permitiu a seus
participantes, um olhar crítico e a formação de opinião sobre a temática abordada.
5. REFERÊNCIAS
AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS – ANA. Cuidando das águas: soluções para melhorar a
qualidade dos recursos hídricos. Brasília: ANA, 2011. 154 p.
ARCO, A. N.; SILVA, J. S.; CUNHA, A. B. Grupo coliforme fecal como indicador de balneabilidade
em praia de água doce no rio Negro, Amazonas. Research, Society and Development, v.9,
n.7, p.1-17, 2018.
ALVES, L. S. Análise da balneabilidade das praias do Rio Vermelho em Salvador, Bahia: Paciência,
Santana e Buracão. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento, v. 3, n. 8,
p. 92-102, 2018.
BRASIL, Resolução CONAMA n.º 357, de 17 de março de 2005. Dispõe sobre a classificação dos
corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as
condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências. Diário Oficial União.
Disponível: http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res05 /res35705.pdf. Acesso em: 09 out.
2022.
BRASIL. Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos,
cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Disponível em: Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9433.htm. Acesso em: 09 out. 2022.
BRASIL. Manual prático de análise de água, Brasília: Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), 4.
ed. 2013. 150 p. Disponível em: http://www.funasa.gov.br/site/wp-
content/files_mf/manual_pratico_de_analise_de_agua_2.pdf. Acesso em: 09 out, 2022.
BURITI, C. O.; BARBOSA, E. M. Políticas públicas de recursos hídricos no Brasil: olhares sob uma
perspectiva jurídica e histórico-ambiental. Veredas do Direito, v. 11, n. 22, p. 225-254. 2014.
doi: 10.18623/rvd.v11i22.431.
CARDOSO, A. The Alternative Space, Informal Settlements and Life Chances in Belém, 2002. Tese
(Doutorado em ciências ambientais)- Oxford Brookes University, Oxford, 2002.
ESTEFAN DE PAULA, S. C. S.; SILVA, A. B.; SOUZA, S. M.; KAWASE, K. Y. F.; REBELLO,
L. P. G. Água para consumo humano como fator de risco à população do município de Bom
Jesus do Itabapoana – RJ. Brazilian Journal of Development, v. 7, n. 8, p. 79676-79686,
2020. doi: 10.34117/bjdv7n8-263.
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia. 36ª ed, São Paulo: Paz e Terra, 2009.
MELLO, S. S.; TRAJBER, R (Coord.). Vamos cuidar do Brasil : conceitos e práticas em educação
ambiental na escola. Brasília: Ministério da Educação / Ministério do Meio Ambiente / UNESCO,
2007. 248 p.