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Ensino aprendizagem sobre análise microbiológica da água na disciplina

Qualidade, Manejo e Conservação de Recursos Hídricos: relato de


experiência
Edilson Ferreira Calandrine1; Evelyn Rafaelle de Oliveira Souza1; Gleyce Pinto Girard1; Marcia
Aparecida Miranda de Azevedo1; Marcilene Calandrine de Avelar1; Shislene Rodrigues de Souza1;
Hebe Morganne Campos Ribeiro2

1
Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais (PPGCA). Centro de Ciências Naturais e
Tecnologia (CCNT). Universidade do Estado do Pará (UEPA), Tv. Dr. Enéas Pinheiro, Marco, n°
2626, CEP: 66095-015, Belém, PA, Brasil. E-mail: edilson@xxxxxx; evelynrafaelle@yahoo.com.br;
glgirard@gmail.com; agromirazze@gmail.com; marcileneavelar16@gmail.com;
leneforest@gmail.com.
2
Doutora em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Pará – UFPA. Professora do PPG
em Ciências Ambientais - UEPA. e-mail: hebemcr@gmail.com
*Autor correspondente. E-mail: glgirard@gmail.com

RESUMO
As discussões metodológicas devem estar presentes no ensino, principalmente nas questões que
tratam temáticas ambientais, sendo a água um tema bastante discutido em questões ambientais. Este
relato objetiva descrever a experiência de ensino-aprendizagem como instrumento de formação sobre
análise microbiológica da água aplicado em uma disciplina de Pós-graduação. A atividade de ensino
aprendizagem foi desenvolvida em quatro etapas, sendo elas: 1) Momentos pedagógicos, socialização
e discussão de temas (rodas de conversa, aulas teóricas expositivas e dialogadas e resolução de
exercícios); 2) Planejamento, situação problema, coleta de amostra da água (escolha do problema
sobre a realidade dos rios da cidade de Belém, planejamento com prática de coleta de água em quatro
pontos na bacia do Rio Tucunduba, com seis amostras cada, e análise microbiológica de água). 3)
Análise microbiológica da água, elaboração de artigo científico (análise e quantificação dos
Parâmetros Coliformes totais e Escherichia coli). Todas as amostras testaram positivas para
coliformes. 4) Avaliação (Foram realizadas avaliação formativa e somativa). Ao final da atividade,
os discentes mostraram-se motivados com a aula prática, pelo fato de ter ocorrido fora de uma sala
de aula, utilizando um laboratório de análises, além do contato direto com o problema abordado, a
contaminação dos recursos hídricos em áreas urbanas, recursos estes observados cotidianamente,
porém, a disciplina, da maneira como foi conduzida, permitiu a seus participantes, um olhar crítico e
a formação de opinião sobre a temática abordada.

Palavras-chave: Qualidade da Água; Recursos Hídricos; Relato de Experiência.

1. INTRODUÇÃO
A evolução humana ao longo da sua história, nos mais diversos aspectos, vem sendo
acompanhada do constante desenvolvimento da ciência e tecnologia (Viesga-Garcia et al., 2019),
porém, a inovação nas práticas de salas de aula ainda sofre grande resistência (Drehmer-Marques et
al., 2022).
As estratégias didático-pedagógicas nos auxiliam na construção de práticas de ensino, seja qual
for a área de conhecimento, para a formação da cidadania (Mello e Trajber, 2007). Neste âmbito, as
discussões metodológicas devem estar presentes no ensino, e nas questões que tratam temáticas
ambientais também não é diferente (Oliveira et al., 2020).
Entre os elementos bastante discutidos no viés das questões ambientais na sociedade está a água,
sendo um elemento essencial e indispensável à manutenção da vida, que não está associada apenas às
suas características próprias, mas também pela sua funcionalidade no processo metabólico de forma
direta ou indireta (Estefan de Paula et al., 2021).
Dentro desse contexto, a quantidade e qualidade da água tem sido foco de importantes discussões
em eventos nacionais e internacionais (Agência Nacional de Águas, 2011). Tais eventos contribuíram
significativamente para o desenvolvimento de políticas públicas voltadas à conservação dos recursos
hídricos (Buriti e Barbosa, 2014).
No Brasil, a Lei nº 9.433/1997 que institui a Política Nacional dos Recursos Hídricos – PNRH
apresenta em seus fundamentos a água sendo um bem de domínio público, e chama a atenção para a
limitação desse recurso natural. Assim, traz como primeiro objetivo a necessidade de assegurar a
disponibilidade da água a geração atual e futura em padrões de qualidade adequada (Brasil, 1997).
A região Amazônica apresenta uma grande concentração de água doce superficial presentes nas
inúmeras bacias hidrográficas que cortam a floresta e as cidades, quantificado em até 70%,
aproximadamente do volume disponível no restante país (Fernandes e Santos, 2022). A exemplo, a
cidade de Belém, que só na área continental apresenta 14 bacias de drenagem (Tourinho et al., 2021).
Contudo, a qualidade e permanência desses recursos hídricos, vem ao longo das últimas décadas,
sendo ameaçada pelo crescimento urbano desordenado, aterramento de partes dos canais e rios, além
da destinação de resíduos sólidos (Castro, 2019). A carência de saneamento básico, soma os efeitos
negativos sobre os ecossistemas aquáticos, contribuindo para a deterioração do meio (Alves, 2018).
Em consonância ao exposto acima, Tourinho, et al. (2021) explicita que existe uma relação
conflituosa entre a população belenense e os rios urbanos, que se manifesta por meio das “ocupações
irregulares, lançamento de dejetos e resíduos domésticos e industriais, veiculação de doenças,
ocorrência de enchentes, são apenas alguns exemplos de manifestação desses conflitos” (Tourinho et
al., 2021, p. 5) que intensificam a poluição e a contaminação dos recursos hídricos.
Considerando essa e outras problemáticas que ameaçam o recurso água, o estado do Pará criou
em julho de 2001 a Lei nº 6.381, que dispõe Sobre a Política Estadual de Recursos Hídricos – PERH,
institui o Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos que objetiva, dentre outros, a proteção das
bacias hidrográficas em oposição à ações lesivas que ponham em risco o uso presente e futuro (Pará,
2001).Reconhecendo assim o Estado legalmente sua responsabilidade enquanto governo na gestão
dos recursos hídricos que junto com a população tornam-se essenciais para promover uma boa
qualidade ambiental (Arco et al., 2020).
A melhoria da qualidade da água e a redução da poluição e contaminação também é ação
prioritária proposta pela Organização das Nações Unidas – ONU, integrando o Objetivo de
Desenvolvimento Sustentável – ODS nº 6 da Agenda 2030.
Nesse contexto, as práticas pedagógicas em todos os níveis de ensino precisam dar cada vez mais
atenção à temática água, não apenas como recurso, mas como elemento essencial à toda forma de
vida existente no planeta. Tendo em vista que a impermanência da água em qualidade ou em
quantidade invalida a dinâmica natural dos ecossistemas terrestres. Assim, essa pesquisa tem como
objetivo descrever a experiência de ensino-aprendizagem como instrumento de formação sobre
análise microbiológica da água aplicado na disciplina Qualidade, Manejo e Conservação de Recursos
Hídricos.

2. METODOLOGIA
Trata-se de um estudo descritivo com abordagem qualitativa, do tipo relato de experiência, que
descreve a experiência de ensino-aprendizagem ativa sobre a análise microbiológica da água, na
disciplina Qualidade, Manejo e Conservação de Recursos Hídricos, na pós-graduação a nível de
mestrado e doutorado em Ciências Ambientais da Universidade do Estado do Pará. Foram descritas
as atividades realizadas no período de 01 a 11 de agosto de 2022.
O Relato de Experiência é um conhecimento que se transmite com aporte científico, de forma
subjetiva e detalhada (Grollmus e Tarrés, 2015).

3. APRESENTAÇÃO DO RELATO E DISCUSSÃO


Conforme estudos de Libânio (2010), a água é o constituinte inorgânico mais abundante na
matéria viva, integrando aproximadamente dois terços do corpo humano e atingindo até 98% para
certos animais aquáticos, legumes e verduras. Constitui-se também no solvente universal da maioria
das substâncias, modificando-as e modificando-se em função destas. Ela é de fundamental
importância para a vida de todas as espécies e por isso boa parte dos pesquisadores concorda que a
ingestão de água tratada é um dos mais importantes fatores para a conservação da saúde, auxiliando
na prevenção de doenças e protegendo o organismo contra o envelhecimento.
Universidades e centros de ensino têm importantes contribuições nessas questões, o uso de
diversas estratégias e recursos didáticos para discussão de temas relacionados ao controle de
qualidade da água. A Universidades estadual do Pará, por meio de seu programa de pós-graduação a
nível stricto sensu, vem fomentando essa temática por meio do Programa de Pós-Graduação em
Ciências Ambientais, em disciplinas como “qualidade manejo e conservação de recursos hídricos”
entre outras. O módulo aconteceu em aulas ministradas em período de duas semanas, foram utilizadas
diferentes estratégias e recursos didáticos: apresentação do plano de ensino, aulas expositivas,
dialogadas, pesquisa, planejamento e realização de atividades experimentais, com produção de artigos
científicos como parte do processo de avaliação.
Vale ressaltar a importância do uso de metodologias ativas, que conforme Paulo Freire (2009)
nesse tipo de abordagem o mais importante é mobilizar-se. Mobilizar-se é pôr recursos em
movimento; mobilizar-se é também fazer uso de si próprio como recurso. E, justamente, partindo
dessa hipótese, propõe-se o Laboratório de Metodologias Inovadoras com a finalidade de mobilizar
o aluno, propondo atividades que, quando os alunos nelas investirem, farão uso de si mesmos como
de um recurso, uma vez que as atividades – e as metodologias que lhes dão suporte remetem a um
valor: o de tornar-se sujeito.
A atividade de ensino aprendizagem foi desenvolvida em quatro etapas com uma turma de onze
discentes:

3.1. Primeira etapa: Momentos pedagógicos, socialização e discussão de temas


Inicialmente, houve um momento pedagógico com rodas de conversa, aulas teóricas expositivas
e dialogadas em sala de aula sobre política nacional de recursos hídricos; qualidade, manejo e
conservação dos recursos hídricos; qualidade da água para consumo humano, análise da água e
normas regulamentadoras sobre o tema. Sendo que os discentes receberam artigos científicos
previamente para a discussão em sala e socialização dos assuntos. Intercaladamente, houve a
resolução de exercícios, cálculos, exemplos de utilização e aplicação dos conceitos estudados.
A Organização das Nações Unidas (ONU) alerta em seu relatório anual para o risco de falta
de água para as necessidades básicas da população, risco esse que vem se agravando pelo crescimento
populacional, que dobrou para 6,1 bilhões nos últimos 40 anos. Estudos apontam que a fragmentação
da ocupação da cidade dificulta a provisão adequada de infra-estrutura (redes de abastecimento de
água, drenagem e esgotamento sanitário) nas áreas formais, e as dificuldades técnicas agravam a
situação nas áreas de produção informal, que demandam maiores investimentos. Todos esses fatores
associados tendem a comprometer a qualidade dos corpos d’água. Visto que na maioria das vezes
esses assentamentos formam-se nas margens desses corpos (Cardoso, 2002).
Segundo Carneiro (2008) a gestão de recursos hídricos em bacias predominantemente urbanas
tem como principais objetos de planejamento: o controle de inundações, o uso da água para fins
econômicos em geral, o abastecimento urbano, a coleta e tratamento das águas servidas, o lazer e a
preservação ambiental. Dessas formas de uso urbano da água, a drenagem e o controle de inundações
destacam-se como os maiores desafios para o gerenciamento, sobretudo pelos altos custos sociais e
econômicos envolvidos.

3.2. Segunda etapa: Planejamento, situação problema, coleta de amostra da água


Nesse momento a turma foi dividida em dois subgrupos, foram instigados a escolha de um
problema sobre a realidade dos rios da cidade de Belém, tomando como base as discussões em sala
de aula, houve planejamento para a realização de uma pesquisa científica que envolvesse a prática de
coleta e análise microbiológica de água, foi planejada a escolha dos pontos de coleta in loco e a
definição dos materiais a serem utilizados no dia da coleta.
Neste dia, a aula ocorreu nas dependências do Laboratório de Água da Amazônia – LABÁGUA,
localizado no primeiro piso do Parque de Ciência e Tecnologia – PCT Guamá/UFPA – Universidade
Federal do Pará. Neste local, houve uma visita técnica e uma roda de conversa, a docente da disciplina
apresentou as atividades técnicas cotidianas do laboratório, materiais e equipamentos para análise da
água, bem como a equipe de servidores e bolsistas de graduação que atuam no referido laboratório,
em todo momento as explanações remeteram a relacionar a vivência da prática com as discussões
teóricas estudadas em sala de aula.
Ainda no laboratório, os discentes organizaram o material para a coleta da amostra de água que
foram baldes limpos, cordas, saquinhos estéreis de 500ml identificados, equipamentos de proteção
individual como luvas, máscaras e toucas, álcool a 70% para higienização das mãos, papel, caneta,
caixa térmica para armazenamento, roteiros para anotações sobre amostragem e pontos de
amostragem, GPS.
A técnica de coleta foi planejada de acordo com o Manual prático de análise de Água (2013)

A coleta de amostra é um dos passos mais importante para a avaliação da qualidade da água.
Portanto, é essencial que a amostragem seja realizada com precaução e técnica para evitar
todas as fontes de possível contaminação. As amostras devem ser coletadas em frascos de
vidro branco, boca larga, com tampa de vidro esmerilhada, bem ajustada, capacidade de 125
mL, previamente esterilizados ou saco plástico estéril, descartável, contendo pastilha de
tiossulfato de sódio. Os frascos para a coleta de águas cloradas devem receber, antes de serem
esterilizados, 0,1 mL (2 gotas) de tiossulfato de sódio a 10%.

Nessa etapa, os subgrupos de discentes e a docente foram até os pontos escolhidos para colher a
amostra de água, que foram na bacia do Igarapé Tucunduba, em Belém, PA, que é uma bacia de água
doce, urbanizada em seu curso, utilizada para navegação, drena para o rio Guamá e deste para a baía
do Guajará.
Na área urbana, o curso deste igarapé foi transformado em canais retificados onde são despejados
a água pluvial, efluentes domésticos não tratados, efluentes de comércios existentes em suas margens
que alteram a qualidade da água e causam considerável degradação ambiental (Targa et al., 2012).
A água doce dos rios é um recurso natural finito e sua qualidade vem sendo perdida devido a
contaminação urbana e aproveitamento indevido pela população (Santos et al., 2018). A Resolução
CONAMA Nº357/2005 estabelece parâmetros de avaliação da qualidade das águas, existe
classificação para os corpos de água, diretrizes ambientais para seu enquadramento a partir de seu
uso, bem como, são estabelecidas condições e padrões de lançamento de efluentes e dá outras
providências (Brasil, 2005).
Em relação aos rios brasileiros, esta resolução os classifica de acordo com o grau de
salinidade: água doce, salobra e salina, bem como de acordo com os seus usos múltiplos da água,
podendo ser classificado como classe 1, 2 e 3 (Brasil,2005)
As águas doces são classificadas, de acordo com seu uso, em: classe especial, classe 1, classe
2, classe 3, classe 4. No caso dos pontos escolhidos para este estudo, está a classificação classe 4,
destinada à navegação. De acordo com a resolução do CONAMA Nº357/2005, nas condições e
padrões de qualidade dessas águas, não existe parâmetro, nem valor limite para a existência de
coliformes termotolerantes e nem determinação para quantitativo de E. coli (Brasil, 2005).
Os pontos de coleta compreenderam quatro locais, quatro pontos, em que o igarapé passa por
dentro Universidade Federal do Pará, na maré alta, o primeiro ponto e o terceiro ponto é a parte do
igarapé que recebe água do bairro da Terra Firme; o segundo e o quarto ponto é a parte que desemboca
no rio Guamá, localizada nas coordenadas de GPS: Ponto 1 elevação 12m, Latitude 01º 22’’ 8
milésimos, Longitude 048º 26’ 53’’ 8 milésimos; Ponto 2 elevação 12m, Latitude 01º 28’ 23’’ 0
milésimo, Longitude 048º 26’ 53’’ 8 milésimo; Ponto 3 elevação 12m, Latitude 01º 28´ 33´´5
milésimos, Longitude 048º 27´ 14´´ 6 milésimos e Ponto 4 elevação 11m, Latitude 01º 28´ 33´´ 4
milésimos, Longitude 048º 27´ 14´´ 7 milésimos.
Em cada ponto foram realizadas seis amostras de água em saquinhos estéreis e identificados. Foi
utilizada a Técnica de Coleta de Amostragem em Rios, conforme recomenda o Manual Prático de
Análise da Água e resolução do CONAMA 357/2005, seis amostras em cada ponto (Brasil, 2013;
Brasil, 2015).
À observação macroscópica dos pontos de coleta, pode-se constatar que a água, apesar de possui
cor clara, tem odor fecal, as margens despovoadas, com presença de vegetação, sem fluxo de esgoto
aparente, porém com atividade antrópica, presença de navegação, lixo no entorno, como plásticos.
As amostras foram armazenadas, transportadas em temperatura ambiente até o laboratório de
análises microbiológicas.

3.3 Terceira etapa: Análise microbiológica da água, elaboração de artigo científico


A análise da água foi realizada no Laboratório de Análise Microbiológica − LABÁGUA, após a
coleta, as amostras de água foram guardadas dentro da geladeira a 4ºC para serem analisadas no dia
seguinte. Foram analisados Parâmetros Coliformes totais e Escherichia coli no Teste de
presença/ausência por meio do Método do substrato cromogênico, baseado nas atividades enzimáticas
específicas dos coliformes (ß galactosidade) e E. coli (ß glucoronidase), conforme recomenda o
Manual Prático de Análise da Água (Brasil, 2013).
Todos aprenderam sobre os materiais necessários para o processamento da análise, como
substrato cromogênico (ONPG)/fluorogênico (MUG); o banho maria, a estufa bacteriológica;
lâmpada ultravioleta de 365 nm, bem como, aprenderam a utilizá-los, analisar e interpretar os
resultados, após 24 horas de amostra da água em incubação na estufa. Cada equipe ficou responsável
por dois pontos de coleta de água, para escrever um artigo científico acerca do tema, conforme
recomenda o Manual Prático de Análise da Água (Brasil, 2013).
A água doce dos rios é um recurso natural finito e sua qualidade vem sendo perdida devido a
contaminação urbana e aproveitamento indevido pela população (Santos et al., 2018). A Resolução
CONAMA Nº 357/2005 estabelece parâmetros de avaliação da qualidade das águas, existe
classificação para os corpos de água, diretrizes ambientais para seu enquadramento a partir de seu
uso, bem como, são estabelecidos condições e padrões de lançamento de efluentes e dá outras
providências (Brasil, 2005).
Em relação aos rios brasileiros, esta resolução os classifica de acordo com o grau de salinidade:
água doce, salobra e salina, bem como de acordo com os seus usos múltiplos da água, podendo ser
classificado como classe 1, 2 e 3 (Brasil, 2005).
As águas doces são classificadas, de acordo com seu uso, em: classe especial, classe 1, classe 2,
classe 3 e classe 4. No caso dos pontos escolhidos para este estudo, está a classificação classe 2, águas
que podem ser destinadas: ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional; à
proteção das comunidades aquáticas. (Brasil, 2005).
De acordo com a resolução do CONAMA Nº 357/2005, nas condições e padrões de qualidade
dessas águas, não deverá ser excedido um limite de 1.000 coliformes termotolerantes por 100
mililitros em 80% ou mais de pelo menos 6 (seis) amostras coletadas durante o período de um ano,
com freqüência bimestral. (Brasil, 2005).
Para a quantificação de coliformes, E. coli, foi utilizado o sistema Quanti-Tray e Quanti-
Tray/2000 em contagens de placas heterotróficas (Heterotrophic Plate Counts, HPC). Cada amostra
foi dividida em porções distribuídas em 97 poços de três tamanhos diferentes, vedados pelo sistema
Quanti-Tray Sealer PLUS, não necessitando de diluições, proporcionando um intervalo de contagem
de 1-2.419 e resultados quantitativos em 24 horas
Após 24 horas de incubação em estufa a 35 ºC, todos os poços apresentam um gradiente de tons
amarelados considerados positivos para coliformes em todas as quatro amostras analisadas e à
observação em presença de lâmpada ultravioleta com comprimento de onda de 365 nm, apresentaram
colocação compatível para a identificação de E. Coli em todas as quatro amostras analisadas,
indicando respectivamente presença de Coliformes Totais e E. coli em todas as amostras, conforme
as imagens abaixo:

Fonte: autores da pesquisa, 2022 Fonte: autores da pesquisa, 2022

A análise de Coliformes Totais, de acordo coma tabela do Colilert IDEXX Quanti- Tray®/2000
NMP, teve resultado superior a 2419.6 NMP/ 100mL, excedendo os padrões de qualidade dessas
águas estabelecidos pela resolução do CONAMA Nº357/2005.

3.4. Quarta etapa: Avaliação


Quanto a avaliação dos discentes, foram realizadas avaliação formativa e somativa, com
acompanhamento diário em sala de aula, no laboratório e em local de coleta da água, para verificação
do alcance dos objetivos propostos para a disciplina, por meio de interação individual e coletiva na
socialização em rodas de conversa, assim como, na realização da programação das ações para o dia
subsequente.
A avaliação formativa pode ser entendida como uma prática de avaliação contínua que
objetiva desenvolver as aprendizagens, a expressão foi introduzida por Scriven em um artigo sobre a
avaliação dos meios de ensino. A mesma busca proporcionar o levantamento de informações úteis à
regulação do processo ensino – aprendizagem, contribuindo para a efetivação da atividade de ensino,
é um processo cíclico e contínuo de análise e ação. Apesar da subjetividade e incerteza inerentes à
prática da avaliação formativa, consideramos que ela seja possível no sentido de que ela se constitui
a essência do que deve ser a avaliação num processo ensino-aprendizagem eficaz de formação integral
de cidadãos individuais (Caseiro e Gebran, 2008).
Sobre a avaliação somativa, foi baseada nas competências e habilidades alcançadas na atividade
curricular, nos níveis de rendimento dos discentes em campo de coleta de amostra de água, em
laboratório no processamento e análise da água, bem como na produção científica.
Neste tipo de avaliação verifica-se o que foi aprendido até dado momento, resume o desempenho
do aluno ao final de uma unidade didática, um semestre ou ano, é expressa por notas ou conceitos e
é comparativa com o padrão de uma série/ano ou até, entre os próprios alunos. É apresentada
formalmente para que um aluno mude ou permaneça em um nível de ensino e produz algum tipo de
relatório, levando em consideração que a turma passará para a gestão de outros professores, tornando-
se um índice para eles (Silva, 2021).
Os discentes, apresentaram-se motivados, interessados nos temas, estudaram os artigos,
previamente recebidos, o nível de interesse, frequência e pontualidade foi acima de 90%, atingiram
os objetivos, habilidades e competências da disciplina, pois aprenderam a verificar problemáticas no
meio ambiente relacionados aos recursos hídricos, aprenderam a analisar a qualidade da água para
consumo humano e relacionar com aspectos científicos, pois todas os dois subgrupos produziram
artigos sobre os temas da disciplina.
Por meio de uma escuta sensível com os discentes no final da disciplina, sem muita formalidade,
via grupo focal, para dimensionar o nível de satisfação deles sobre os métodos de ensino
aprendizagem utilizados na disciplina, os discentes demonstraram-se muito satisfeitos, mais de 90%.
Ao realçar, de forma explícita o papel do aluno na construção do seu conhecimento, ressalta-se
a atuação do docente como condutor do processo para atingir fins educacionalmente relevantes e não
meramente instrucionais, promovendo o processo de ensino por pesquisa. Uma perspectiva que
aposte no ensino por pesquisa deve, necessariamente, ter como foco o aluno e a sua construção do
conhecimento. Assim, cabe ao professor promover uma mudança de atitude, de processos e de
metodologias, de forma a tornar o aluno protagonista do seu próprio aprendizado. Por fim, “aprender”
é um processo contínuo e não um evento pontual (Vasconcelos, 2003).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entre os elementos bastante discutidos no viés das questões ambientais na sociedade está a
água, sendo um elemento essencial e indispensável à manutenção da vida. Tanto no contexto de
quantidade, quanto de qualidade a água tem sido foco de importantes discussões em eventos nacionais
e internacionais. Tais eventos contribuíram significativamente para o desenvolvimento de políticas
públicas voltadas à conservação dos recursos hídricos.
Nesse contexto, as práticas pedagógicas em todos os níveis de ensino precisam dar cada vez mais
atenção à temática água, não apenas como recurso, mas como elemento essencial à toda forma de
vida existente no planeta. Assim, essa pesquisa descreveu a experiência de ensino-aprendizagem
como instrumento de formação sobre análise microbiológica da água aplicado na disciplina
Qualidade, Manejo e Conservação de Recursos Hídricos do Programa de Pós-Graduação em Ciências
Ambientais - a nível estrito senso da Universidade do Estado do Pará.
A atividade de ensino aprendizagem foi desenvolvida em quatro etapas: Primeira etapa:
momentos pedagógicos, socialização e discussão de temas; Segunda etapa: planejamento, situação
problema, coleta de amostra da água; Terceira etapa: Análise microbiológica da água, elaboração de
artigo científico e Quarta etapa: Avaliação.
Ao final da atividade, os discentes mostraram-se motivados com a aula prática, pelo fato de ter
ocorrido fora de uma sala de aula, utilizando um laboratório de análises, além do contato direto com
o problema abordado, a contaminação dos recursos hídricos em áreas urbanas, recursos estes
observados cotidianamente, porém, a disciplina, da maneira como foi conduzida, permitiu a seus
participantes, um olhar crítico e a formação de opinião sobre a temática abordada.

5. REFERÊNCIAS
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qualidade dos recursos hídricos. Brasília: ANA, 2011. 154 p.

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