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mente era dito, esperando alguma reação.

Valter pensou em algumas sugestões, mas elas também


não faziam a criança demonstrar nada. Eles esperavam qualquer tipo de sinal, seja uma piscadela ou
um gemido, pareciam meio bobos, mas era até divertido listar os nomes mais estranhos, charmosos
e engraçados possíveis.
Que tal… Lucas? Nada muito espalhafatoso, tão simples quanto ele.
- Mas ele será grandioso, você deveria por mais fé nele, veja um nome mais… - O retruco
foi cortado por um pequeno gesto. A mão da Sra. Parker que segurava a manta esfarrapada do bebê
foi tocada pelos frios dedos miúdos, uma reação impensável para aquele bebê franzino e
preguiçoso. Ele apertará o dedo da senhora com força, como se pedisse para ela não sugerir nenhum
outro nome.
As luzes do quarto começaram a piscar. Válter e a Sra. Parkes estremeceram em seus cantos,
puderam sentir o mesmo frio na espinha, só que agora os embrulhava o estômago. Uma leve
sensação de nostalgia lhes afligia, algo que por muitos séculos não sentiram voltava à tona
inesperadamente. O quarto investia-se nas direções, logo o quadrado virou círculo e as cores
jorraram de dentro dos armários. Uma cortina de fumaça multicolorida envolveu-os todos,
carregados para dentro da névoa a Sra. Parker e o Valter estavam sendo tocados pela energia que
invadia tudo. O teto virou-se céu estrelado, olhar para ele possibilitava a viagem astral mais bela e
louca possível, por planetas, cometas e constelações. O chão virou grama, florido e cheio de
bichinhos fofos e feios, mas todos miúdos e feitos de doce. As paredes eram acolchoadas, com
longas quedas de água, pareciam cachoeiras que vazavam para buracos infinitos, como espaços
negros e inacessíveis. O bebê brilhara por um instante, emanando de si a força necessária para
despir seus cuidadores da sua forma temporária. Eles sentiram-se livres quando adentraram mais
uma vez no seu mundo perdido… Quase não deu tempo de olhar-se em sua forma real quando tudo
desabou… Os quadros voltaram ao normal, as paredes mais sólidas, os lençóis velhos cheirando a
mofo e as luzes do abajur simples, alaranjadas… Lá estavam eles novamente no quarto antigo do
casarão 'Da Alvorada'.
O misto de espanto, alegria e entusiamos abateu Sra. Parker e o Mordomo Valter. Eles
sorriram largamente e pensaram ao mesmo tempo: É ELE! A NOSSA CRIANÇA! NOSSA CHAVE!
- E seu nome será Lucas pelo visto – completou a Sra. Parker.
Ambos sorriram mais uma vez.
Felizes como nunca.
O garoto estava finalmente ali…
Eles estavam prontos por mais de anos para isso.
Agora era possível voltar para casa.

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