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RESUMOS DE PSICOPATOLOGIA: TEMAS APROFUNDADOS:

SAÚDE MENTAL E ESTIGMA ASSOCIADO A DOENÇA MENTAL: ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO


NACIONAL DE SAÚDE MENTAL (CALDAS DE ALMEIDA E XAVIER, 2013):

Perturbações psiquiátricas, em adultos: Versão computarizada do World Mental Health Survey.

Mais de 1 em cada 5 dos indivíduos da amostra apresentava uma perturbação psiquiátrica,


nos 12 meses anteriores à entrevista (segunda prevalência mais alta, a nível Europeu).

As Perturbações de Ansiedade são o grupo com maior prevalência (16.5%).

As Fobias específicas (8.6%), a Perturbação Depressiva Major (6.8%), a POC (4.4%) e a


Perturbação de Stress Pós Traumático (2.3%) são as perturbações psiquiátricas mais
frequentes na população estudada.

As mulheres apresentam maior número de Perturbações Depressivas e Perturbações de


Ansiedade, do que os homens.

Um ano após o começo da perturbação, mais de metade dos indivíduos ainda não tinha
obtido qualquer tratamento.

A mediana do tempo de espera para o tratamento era de 4 anos nos casos de Depressão
Major e de 2 a 3 anos no caso da PP e da PAG.

Elevado número de indivíduos a consumirem psicofármacos.

Quase ¼ das mulheres e 1/10 dos homens da população geral referiram o uso de ansiolíticos
no ano anterior.

Os ansiolíticos são tomados não só por pessoas com diagnóstico de Perturbações de


Ansiedade, mas também por pessoas com diagnóstico de Perturbações Depressivas.

1/10 das mulheres e quase 4% dos homens da população geral usou antidepressivos nos 12
meses anteriores, quer por Perturbações Depressivas quer por Perturbações de Ansiedade.

MEDO:

Processo cognitivo.

Avaliação de um perigo atual ou potencial numa dada situação.

O medo é ativado quando uma pessoa é exposta física ou psicologicamente a uma situação
que considera ameaçadora ou quando pensa ou fala dessa situação.

ANSIEDADE:

Resposta emocional à avaliação envolvida no medo.

Sentimentos subjetivos desagradáveis e sintomas fisiológicos.

SINTOMAS:

SINTOMAS CARDIOPULMONARES:

• Palpitações.
• Taquicardia.
• Dispneia.
• Sensação de sufocamento.
• Dor no peito.

SINTOMAS GASTROINTESTINAIS:

• Sensação de peso.
• Dor.
• Náusea.
• Bolo isofágico (dificuldade em deglutir).
• Diarreia.

SINTOMAS URINÁRIOS:

• Micção frequente.
• Retenção urinária.

SINTOMAS NEUROLÓGICOS:

• Cefaleias.
• Vertigens.
• Tremores.
• Prestesias.
• Visão turva.
• Instabilidade na postura ereta e na marcha.

SINTOMAS GERAIS:

• FOGACHOS DE CALOR.
• SUDAÇÃO.
• SENSAÇÃO DE DESMAIO OU LIPOTIMIA.

ANSIEDADE ENQUANTO RESPOSTA HUMANA COMUM COM UMA FUNÇÃO ADAPTATIVA E


PROTETORA:

Em quantidade moderada, pode servir para motivar e mobilizar o indivíduo.

Reação normal e adequada, quando é desencadeada por uma interpretação de um perigo real
e se dissipa após o perigo ter passado.
ANSIEDADE ENQUANTO MECANISMO DE RESPOSTA IMPLICADO NA SOBREVIVÊNCIA
HUMANA:

A ansiedade dar-nos-ia uma vantagem evolutiva que deve ter contribuído para a adaptação a
um meio hostil, preparando-nos para fugir ou nos defendermos de ameaças.

A ansiedade dar-nos-ia uma vantagem evolutiva que deve ter contribuído para a adaptação a
um meio hostil, preparando-nos para fugir ou nos defendermos de ameaças

ANSIEDADE:

Como alerta para a possibilidade de o indivíduo se ferir induzindo-o a parar qualquer atividade
"imprudente" ou a defender-se.

Experienciar ansiedade faz parte dum mecanismo primitivo e automático de alarme e


proteção.

CANNON (1929-1935): PARADIGMA DA “REAÇÃO LUTA-FUGA”:

Estudou os processos fisiológicos envolvidos na manutenção da homeostase.

Resposta de luta-fuga: quando o indivíduo percebe que está a ser ameaçado, luta ou foge.

Fisiologicamente envolve uma série de acontecimentos que começam com a estimulação do


Sistema Nervoso e do Sistema Endócrino.

CANNON: RESPOSTA DE LUTA-FUGA:

Nalgumas circunstâncias a resposta de luta-fuga pode ser adaptativa, porque o organismo é


preparado para ter uma resposta rápida às ameaças físicas.

Mas esta mobilização rápida tem custos, pois perturba o funcionamento normal e, quando é
mantida por muito tempo, pode levar ao esgotamento das reservas de energia e
potencialmente resultar em problemas de saúde.

As ameaças com uma certa magnitude (níveis de stress críticos) perturbam a homeostase
normal.

ANSIEDADE ENQUANTO PROBLEMA CLÍNICO:

Enquanto que em níveis baixos ou moderados, a ansiedade é adaptativa, ajudando-nos na


preparação para um desafio (p.explo, para um teste escolar).

Em níveis demasiado elevados de ansiedade, a concentração e o desempenho são


prejudicados e o indivíduo começa a experienciar vários graus de invalidação no seu
quotidiano.

ANSIEDADE:

As palavras “ansiedade” e “angústia”” derivam do termo grego “agkhô” (αγχθ), que significa
estrangular, sufocar, oprimir.

RESUMO:

A perturbação de ansiedade corresponde a uma reação excessiva de mecanismos primitivos de


defesa, que foram úteis em termos evolutivos para a espécie humana, mas que atualmente
podem ser mal adaptativos.
ANSIEDADE:

O pensamento do doente ansioso é dominado por temas de perigo, antecipando para si ou


para pessoas próximas ameaças físicas, psicológicas ou sociais.

PERTURBAÇÕES DE ANSIEDADE:

As Perturbações de Ansiedade diferem entre si nos tipos de objetos ou situações que induzem
medo, ansiedade ou comportamentos de evitamento, e na ideação cognitiva associada.

O indivíduo pode preencher os critérios para uma ou mais perturbações de ansiedade,


dependendo do foco da apreensão ansiosa e dos componentes cognitivos e comportamentais
da ansiedade.

PERTURBAÇÕES DE ANSIEDADE (11):

1. PERTURBAÇÃO DE PÂNICO.
2. AGORAFOBIA.
3. FOBIA ESPECÍFICA.
4. PERTURBAÇÃO DE ANSIEDADE SOCIAL (FOBIA SOCIAL).
5. PERTURBAÇÃO DE ANSIEDADE GENERALIZADA.
6. PERTURBAÇÃO DE ANSIEDADE DE SEPARAÇÃO.
7. MUTISMO SELETIVO.
8. PERTURBAÇÃO DE ANSIEDADE INDUZIDA POR SUBSTÂNCIAS / MEDICAÇÃO.
9. PERTURBAÇÃO DE ANSIEDADE DEVIDA A OUTRAS CONDIÇÕES MÉDICAS.
10. OUTRA PERTURBAÇÃO DE ANSIEDADE ESPECIFICADA.
11. PERTURBAÇÃO DE ANSIEDADE NÃO ESPECIFICADA.

ATAQUES DE PÂNICO:

É um período discreto, no qual se inicia, de modo súbito, intensa apreensão, medo ou terror,
associados com sensações de catástrofe iminente.

Durante estes ataques, estão presentes sintomas:

• Falta de ar.
• Palpitações.
• Desconforto ou dor no peito.
• Sensações de sufoco.
• Medo de "enlouquecer" ou de perder o controlo.

1) PERTURBAÇÃO DE PÂNICO:

O indivíduo experiencia ataques de pânico inesperados e preocupa-se persistentemente acerca


de ter mais ataques de pânico ou há alterações maladaptativas no seu comportamento
devido aos ataques de pânico (exemplo: evita o exercício físico ou locais que não lhe sejam
familiares).

2) AGORAFOBIA:

Ansiedade e medo acerca de 2 ou mais das seguintes situações:

• Usar transportes públicos.


• Estar em espaços abertos.
• Estar em espaços fechados.
• Permanecer em filas ou multidões.
• Estar fora de casa sozinho.

O indivíduo receia estas situações porque tem pensamentos de que a fuga pode ser difícil e a
ajuda pode não estar disponível no caso de ter sintomas semelhantes ao pânico ou outros
sintomas incapacitantes ou embaraçosos.

Estas situações quase sempre causam medo ou ansiedade e frequentemente são evitadas e
requerem a presença de uma companhia.

3) FOBIA ESPECÍFICA:

Medo, ansiedade ou evitamento de objetos ou situações específicos.

Ansiedade clinicamente significativa provocada pela exposição a uma situação ou objeto


temido, que frequentemente conduz ao comportamento de evitamento.

O medo, ansiedade ou evitamento quase sempre são induzidos imediatamente à exposição à


situação fóbica num grau que é persistente e desproporcional ao risco.

Vários tipos:

• Animal.
• Ambiente natural.
• Sangue-Injeções.
• Ferimentos.
• Situacional.
• Outras situações.

4) PERTUBAÇÃO DE ANSIEDADE SOCIAL (FOBIA SOCIAL):

O indivíduo tem medo, ansiedade ou evitamento de interações sociais e situações que


envolvem a possibilidade de escrutínio por parte dos outros.

Estas interações sociais incluem: encontrar-se com pessoas desconhecidas, situações nas quais
o indivíduo pode ser observado a comer ou beber, etc.

O indivíduo pensa que está a ser negativamente avaliado pelos outros, embaraçado,
humilhado, rejeitado ou ofendido.

5) PERTURBAÇÃO DE ANSIEDADE GENERALIZADA:

Ansiedade persistente e excessiva e preocupação acerca de vários domínios, incluindo


trabalho e escola que o indivíduo tem dificuldade em controlar.

Adicionalmente o indivíduo experiencia sintomas físicos, incluindo dificuldade em descansar,


fadiga fácil, dificuldade em se concentrar, irritabilidade, tensão muscular e perturbação do
sono.

6) PERTURBAÇÃO POR ANSIEDADE DE SEPARAÇÃO:

Ansiedade relacionada com a separação das figuras parentais.

Habitualmente desenvolve-se na infância.


Medo persistente ou ansiedade acerca de algo de mal poder acontecer a figuras de vinculação
significativas e resultar em perda ou separação, relutância em se separar de figuras de
vinculação, pesadelos e sintomas físicos

7) PERTURBAÇÃO DA ANSIEDADE INDUZIDA POR SUBSTÂNCIA / MEDICAÇÃO:

Sintomas de ansiedade proeminentes, que são considerados como consequência fisiológica


direta do abuso de drogas ou de tratamentos medicamentosos.

8) PERTURBAÇÃO DA ANSIEDADE PROVOCADA POR OUTRA CONDIÇÃO MÉDICA:

Sintomas de ansiedade proeminentes, que são considerados como consequência fisiológica


direta de outra condição médica.

9) PERTURBAÇÃO DA ANSIEDADE SEM OUTRA ESPECIFICAÇÃO:

É incluída para codificar as perturbações com ansiedade ou evitamento fóbico proeminentes,


que não preenchem os critérios de nenhuma Perturbação da Ansiedade específica.

NO DSM-5 HOUVE ALTERAÇÕES RELATIVAMENTE ÀS PERTURBAÇÕES DE ANSIEDADE:

Os diagnósticos de POC, Perturbação Aguda de Stress e PSPT, foram colocados em novos


capítulos.

O diagnóstico de Agorafobia, FE e FS deixou de exigir que o indivíduo com mais de 18 anos


reconheça o seu medo como excessivo ou irracional, visto que muitos doentes tendem a
sobrestimar o perigo oferecido pelo objeto ou evento fóbico em questão. A duração mínima
para o diagnóstico dessas perturbações passa a ser de seis meses para todas as idades.

A PP e a Agorafobia tornaram-se diagnósticos independentes, reconhecendo a existência de


casos nos quais a Agorafobia ocorre sem a presença de sintomas de pânico.

A observação de que o ataque de pânico pode ocorrer em em outras perturbações mentais,


que não as Perturbações de Ansiedade fez com que o DSM-5 incluísse o ataque de pânico
como especificador para todas as demais perturbações .

A PAS e o MS saíram do (extinto) capítulo das “Perturbações Geralmente Diagnosticadas pela


Primeira Vez na Infância ou na Adolescência” e passaram a pertencer às Perturbações de
Ansiedade. Os critérios diagnósticos para a PAS são semelhantes aos da versão anterior do
manual, mas aceitam que os sintomas tenham início em indivíduos com mais de 18 anos.

CRÍTICAS AO DSM-5:

Revela dificuldades na diferenciação entre o normal e o patológico.

Embora pretenda ser ateórico, assenta demasiado no modelo biomédico, sendo saliente a
necessidade de se considerarem outros modelos, como modelos mais psicossociais e
contextuais.

Um dos pontos mais vulneráveis centra-se nas elevadas taxas de comorbilidade, o que de certa
forma acaba por se contrapor à aparente” arrumação” das categorias diagnósticas.

O facto de os sintomas serem bastante inespecíficos e flutuantes ao longo do tempo torna


problemática e, em certa medida, arbitrária a separação concetual e prática das perturbações.

As classificações diagnósticas devem ser vistas como instrumentos provisórios que vão
sofrendo alterações.

ELEVADA COMORBILIDADE ENTRE PERTURBAÇÕES DE ANSIEDADE (DSM-5):

Nos adultos, as comorbilidades comuns incluem FE, PSPT, PP, PAG, FS, Agorafobia, entre outras.

No caso da prevalência da PP, esta é elevada em indivíduos com outras perturbações,


particularmente outras Perturbações de Ansiedade (e sobretudo Agorafobia).

A maioria dos doentes com Agorafobia também tem outras perturbações mentais. Os
diagnósticos adicionais mais frequentes incluem outras Perturbações de Ansiedade,
Perturbações Depressivas, PSPT e Perturbação de Uso de Álcool.

Em relação às comorbilidades em doentes com o diagnóstico de PAG, é provável que tenham


preenchido, ou preencham, critérios para o diagnóstico de outras Perturbações de Ansiedade.

Tal como em adultos, as Perturbações de Ansiedade em crianças apresentam frequentemente


comorbilidade entre elas.

HISTÓRIA DOS CONCEITOS DE PÂNICO E DE AGORAFOBIA:

Pan: Deus grego da fertilidade.

Agora: Termo grego: Lugares de ajuntamento público.

Hipócrates: Descrição mais antiga conhecida de um doente agorafóbico.

Termo agorafobia: Usado pela primeira vez por Westphal (1871), para descrever um medo
específico de espaços grandes e abertos.

A Perturbação de Pânico aparece pela primeira vez na DSM-III:

• Reaparece novamente na DSM III-R e DSM IV.


• Continua a ser descrita na DSM-V.

A PERTUBAÇÃO DE PÂNICO: “PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA”:

Estudos epidemiológicos: 10% da população geral experimentou alguma vez um Ataque de


Pânico.

Sem tratamento adequado, tem mau prognóstico.

Consequências negativas para a qualidade de vida:

• Sofrimento muito acentuado.


• Limitação na vida do doente.
• Incapacidade em diferentes áreas da vida do doente.

Os doentes com PP são os que procuram com mais frequência ajuda terapêutica.

Manifestações somáticas muito intensas.

Perceção subjetiva de descontrolo.

Tem sido muito investigada e têm surgido abordagens terapêuticas eficazes.


ATAQUE DE PÂNICO (DSM- V):

Período discreto de medo ou desconforto intenso, durante o qual quatro (ou mais) dos
seguintes sintomas se desenvolvem abruptamente e atingem o seu pico dentro de 10
minutos (13):

• Palpitações, batimentos cardíacos ou ritmo cardíaco acelerado.


• Suores.
• Estremecimentos ou tremores.
• Dificuldades em respirar.
• Sensação de sufoco.
• Desconforto ou dor no peito.
• Náuseas ou mal-estar abdominal.
• Sensação de tontura, de desequilíbrio, de cabeça oca ou de desmaio.
• Desrealização (sensações de irrealidade) ou despersonalização (sentirse desligado de si
próprio).
• Medo de perder o controlo ou de enlouquecer.
• Medo de morrer.
• Parestesias (dormências ou formigueiros).
• Sensação de frio ou de calo.

Nota: Codificar o diagnóstico específico em que ocorre o Ataque de Pânico.

TIPOS DE ATAQUES DE PÂNICO:

ATAQUES DE PÂNICO ESPERADOS: São ataques para os quais existe um desencadeador óbvio.

ATAQUES DE PÂNICO INESPERADOS: São aqueles para os quais não há um desencadeador


óbvio no momento da ocorrência (p. ex., quando em relaxamento ou durante o sono (ataque
de pânico noturno).

Sintomas específicos da cultura (exemplo: tinido, dor na nuca, dor de cabeça, gritos ou choro
descontrolado) não devem ser contabilizados como um dos quatro sintomas requeridos.

ATAQUES DE PÂNICO:

Os ataques de pânico podem ocorrer no contexto de outra perturbação mental. Por exemplo:

• Perturbações de Ansiedade.
• Perturbações Depressivas.
• Perturbações Bipolares.
• Perturbações Alimentares.
• Perturbação Obsessivocompulsivo.
• Perturbações da Personalidade.
• Perturbações Psicóticas.
• Perturbações de Uso de Substâncias.

Os ataques de pânico podem ocorrer no contexto de algumas condições médicas, não


satisfazendo os critérios para perturbação de pânico. Por exemplo:

• Cardíaca.
• Respiratória.
• Vestibular.
• Gastrintestinal.

São necessários ataques de pânico inesperados recorrentes para um diagnóstico de


perturbação de pânico.

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1) PERTUBAÇÃO DE PÂNICO (DSM-5):

A. Ataques de Pânico inesperados e recorrentes e Pelo menos um dos ataques foi seguido
por um mês (ou mais) de um (ou mais) do seguinte:

• Preocupação persistente acerca de ter ataques adicionais.


• Preocupação acerca das implicações dos ataques ou das suas consequências (por
exemplo, perder o controlo, ter um ataque de coração ou «enlouquecer»).
• Uma alteração significativa no comportamento relacionado com os ataques
(p.exemplo, comportamentos que têm como finalidade evitar ter ataques de pânico,
como evitar fazer exercício físico)

B. Os Ataques de Pânico não são provocados pelos efeitos fisiológicos diretos de uma
substância (exemplo: abuso de droga e medicação) ou um estado físico geral (exemplo:
hipertiroidismo).

C. Os Ataques de Pânico não são melhor explicados por outra perturbação mental.

1.1) PREVALÊNCIA:

As taxas da perturbação apresentam aumento gradual durante a adolescência, em particular


no sexo feminino, e alcançam um pico durante a idade adulta.

As taxas de prevalência diminuem em indivíduos mais velhos (exemplo: 0,7% em adultos


acima de 64 anos), refletindo uma diminuição na gravidade até níveis subclínicos.

1.2) DESENVOLVIMENTO E CURSO:

A idade média de início, nos Estados Unidos, é de 20 a 24 anos.

Idade de início entre os 21 e os 23 anos.

Um pequeno número de casos começa na infância, e o início após os 45 anos é incomum,


mas pode ocorrer.

O curso habitual, se a perturbação não for tratada, é crónico, mas com oscilações. Alguns
indivíduos podem ter surtos episódicos com anos de remissão entre eles, e outros podem ter
sintomatologia grave contínua. Apenas uma minoria dos indivíduos tem remissão completa
sem recaída subsequente no espaço de poucos anos.

Embora a Pertubação de Pânico seja muito rara na infância, a primeira ocorrência de


"períodos de medo" com frequência remonta a esse período de desenvolvimento.

Como nos adultos, a Pertubação de Pânico em adolescentes tende a ter um curso crónico e é
frequentemente comórbida com outras perturbações de ansiedade, perturbação depressiva
e perturbação bipolar.
1.3) PERTURBAÇÃO DE PÂNICO: COMORBILIDADE (SIMULTANEAMENTE):

1.4) PERTUBAÇÃO PÂNICO: DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL COM PROBLEMAS ORGÂNICOS:

A presença de um problema orgânico não exclui necessariamente a possibilidade de um


doente ter uma Pertubação de Pânico, pelo contrário, é até frequente que se estabeleça uma
interação entre ambos.

1.5) PREVALÊNCIA:

Na população em geral, a estimativa de prevalência em 12 meses nos Estados Unidos e em


vários países Europeus é de 2 a 3% em adultos e adolescentes.

2.4% a 2.7% de prevalência em 12 meses.

Indivíduos do sexo feminino são afetados mais frequentemente do que os do masculino, numa
proporção de 2:1.

A diferenciação de género ocorre na adolescência e já é observável antes dos 14 anos de


idade.

Embora ocorram ataques de pânico em crianças, a prevalência geral do transtorno é baixa


antes dos 14 anos (< 0,4%).
1.6) PERTUBAÇÃO PÂNICO: DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL:

No diagnóstico diferencial com outras Pertubação de Ansiedade é importante ter em conta:

• O conteúdo do medo.
• O tipo de Ataques de Pânico.
• O número de situações evitadas.
• O grau de ansiedade contínua ou generalizada.

1.7) PROBLEMA DA ENTIDADE NOSOLÓGICA DA PERTUBAÇÃO PÂNICO:

Os Ataques de Pânico podem estar presentes em muitas outras Perturbações.

Os limites entre o pânico e uma ansiedade intensa continuam a não ser claros.

O critério quantitativo de ter pelo menos 4 dos 13 sintomas para o diagnóstico de Pertubação
de Pânico continua a ser arbitrário.

Alguns autores têm salientado que as bases para estabelecer os diagnósticos diferencias da
Pertubação de Pânico e da Pertubação de Ansiedade Generalizada são insatisfatórios.

Há quem afirme que os Ataques de Pânico são simplesmente um índice de gravidade de uma
perturbação de ansiedade.

Há autores que salientam que todos os Ataques de Pânico conduzem a um certo “evitamento”
e que pode ser difícil identificar o ponto em que este evitamento é suficiente para que uma
pessoa deixe de ter o diagnóstico de Pertubação de Pânico e passe a ter uma Pertubação de
Pânico e Agorafobia.

1.8) CAUSAS DA PERTUBAÇÃO PÂNICO:

CAUSAS GENÉTICAS:

• Influência de fatores hereditários os gémeos monozigóticos têm uma prevalência


maior, entre si, de Pertubação de Pânico do que os gémeos dizigóticos.
CAUSAS BIOQUÍMICAS:

• Há um aumento da atividade dos sistemas transmissores noradrenérgico e


serotoninérgico.

CAUSAS RELACIONADAS COM ACONTECIMENTOS DE VIDA:

• Encontra-se um maior número de acontecimentos de vida perturbadores


(essencialmente de perda ou ameaça) em indivíduos com Pertubação de Pânico do que
em indivíduos normais.
• Os doentes com Pertubação de Pânico são mais perturbados pelos acontecimentos de
vida do que as outras pessoas, considerando-os como mais indesejáveis e
incontroláveis, o que por sua vez leva a uma diminuição substancial da autoestima.

1.9) MODELOS EXPLICATIVOS DA PERTUBAÇÃO PÂNICO:

MODELOS BIOLÓGICOS:

• Há uma diferença qualitativa entre o pânico e outras formas de ansiedade.


• Há um substrato fisiológico, uma anomalia fisiológica do SN para a qual existe uma
vulnerabilidade genética.

MODELOS PSICOLÓGICOS:

• Psicanalíticos.
• Cognitivo-comportamentais: Uns que realçam mais o papel do condicionamento,
outros que são mais cognitivos.

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2) AGROFOBIA:

A. Medo ou ansiedade marcantes acerca de 2 (ou mais) das 5 situações seguintes:

• Permanecer em espaços abertos (exemplos: mercados e pontes).


• Desenvolvimento de sintomas semelhantes ao pânico.
• Permanecer em locais fechados (exemplos: lojas, teatros e cinemas).
• Permanecer numa fila ou no meio de uma multidão.
• Sair de casa sozinho.

B. O indivíduo tem medo ou evita essas situações devido a pensamentos de que pode ser
difícil escapar ou de que o auxílio pode não estar disponível no caso de desenvolver sintomas
do tipo pânico ou outros sintomas incapacitantes ou constrangedores (p. ex., medo de cair nos
idosos; medo de incontinência).

C. As situações agorafóbicas quase sempre provocam medo ou ansiedade.

D. As situações agorafóbicas são ativamente evitadas, requerem a presença de uma


companhia ou são suportadas com intenso medo ou ansiedade.

E. O medo ou ansiedade é desproporcional ao perigo real apresentado pelas situações


agorafóbicas e ao contexto sociocultural.

F. O medo, ansiedade ou evitamento são persistentes, geralmente durando mais de seis


meses.
G. O medo, ansiedade ou evitamento causam sofrimento clinicamente significativo ou
prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do
indivíduo.

H. Se outra condição médica (p. ex. doença inflamatória intestinal, doença de Parkinson) está
presente, o medo, ansiedade ou evitamento são claramente excessivo.

I. O medo, ansiedade ou evitamento não são melhor explicado pelos sintomas de outra
perturbação mental - por exemplo, os sintomas não estão restritos a fobia específica, tipo
situacional; não envolvem apenas situações sociais (como na perturbação de ansiedade social);
e não estão relacionados exclusivamente com obsessões (como na perturbação obsessivo-
compulsiva), perceção de defeitos ou falhas na aparência física (como na perturbação
dismórfica corporal) ou medo de separação (como na perturbação de ansiedade de separação).

Nota: A agorafobia é diagnosticada independentemente da presença de perturbação de


pânico. Se a apresentação de um indivíduo satisfaz os critérios para perturbação de pânico e
agorafobia, ambos os diagnósticos devem ser dados.

2.1) PREVALÊNCIA:

A prevalência ao ano: 1,7% dos adolescentes e adultos têm um diagnóstico de agorafobia.

Pessoas do sexo feminino têm uma probabilidade duas vezes maior do que as do masculino de
apresentar a perturbação.

A agorafobia pode ocorrer na infância, mas a incidência atinge o pico no fim da adolescência e
início da idade adulta.

As taxas de prevalência não parecem variar sistematicamente entre grupos culturais / raciais.

2.2) DESENVOLVIMENTO E CURSO:

A percentagem de indivíduos com agorafobia que relatam ataques de pânico ou perturbação


de pânico antes do início de agorafobia varia de 30% nas amostras da comunidade a mais de
50% nas amostras clínicas.

Em dois terços de todos os casos de agorafobia, o início ocorre antes dos 35 anos.

Existe um risco substancial de incidência no fim da adolescência e início da idade adulta, com
indicações para um segundo pico de incidência depois dos 40 anos.

O início na infância é raro. A idade média geral de início para agorafobia é 17 anos, embora a
idade de início sem ataques de pânico ou perturbação de pânico anterior seja de 25 a 29 anos.

O curso da agorafobia é tipicamente persistente e crónico. A remissão completa é rara (10%), a


menos que a doença seja tratada.

Uma série de outras perturbações (exemplos: perturbações de ansiedade, perturbações


depressivas, perturbações por uso de substâncias e perturbações da personalidade), podem
complicar o curso da agorafobia.

O seu curso de longo prazo e sua evolução estão associados a um risco substancialmente
elevado de perturbação depressiva major secundária, distimia e perturbações de uso de
substâncias.

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A ANSIEDADE E AS PERTURBAÇÕES ANSIOSAS:

O medo corresponde a um processo cognitivo definido pela perceção / avaliação de um


perigo atual ou potencial numa dada situação.

O medo é ativado quando uma pessoa é exposta física ou psicologicamente a uma situação que
considera ameaçadora ou quando pensa ou fala acerca dessa situação.

A ANSIEDADE É CONCEPTUALIZADA COMO UMA RESPOSTA EVOLUCIONÁRIA COMPLEXA À


PERCEÇÃO / AVALIAÇÃO DE UMA AMEAÇA:

Componentes da Ansiedade:

• Nível Vegetativo: Corresponde à manifestação orgânica da ansiedade.


• Nível Motor: A ansiedade motora é composta pelas manifestações de ansiedade
visíveis a nível do comportamento.
• Nível Cognitivo: A ansiedade cognitiva define a preocupação, os pensamentos ou uma
sucessão de pensamentos dolorosos, desagradáveis que se traduzem, geralmente,
num medo difuso perante perigos reais ou imaginários.

A ANSIEDADE ENQUANTO RESPOSTA ADAPTATIVA:

Corresponde a um mecanismo primitivo e automático de alarme e de defesa e proteção em


relação à ameaça.

Possibilita que o indivíduo se defenda induzindo-o a reagir.

Mas esta mobilização rápida tem custos, pois pode perturbar o funcionamento normal do
indivíduo.

A ansiedade corresponde a uma resposta evoluída que permitiu a adaptação a um meio hostil
e repleto de perigos, preparando-nos para reagir de modo automático face às ameaças
(exemplos: fugir ou lutar).

A resposta ansiosa é a reação adequada para lidar com uma situação de perigo real e tende a
dissipar-se quando o perigo cessa.

Num grau moderado a ansiedade pode servir para mobilizar o indivíduo em direção a
determinados fins adaptativos.

A ANSIEDADE COMO UMA RESPOSTA ADAPTATIVA DE SOBREVIVÊNCIA:


A ANSIEDADE E AS PERTURBAÇÕES ANSIOSAS: SUMÁRIO:

1) As perturbações ansiosas são mediadas pela ansiedade.

2) A ansiedade representa um padrão complexo de respostas que envolve alterações


cognitivas, afetivas, fisiológicas, comportamentais e motivacionais.

3) A perceção de ameaça é um antecedente cognitivo da ansiedade.

4) A ansiedade representa um legado evolucionário e a sua importância para a adaptação e


sobrevivência não deve ser subestimada.

5) Existe uma continuidade entre ansiedade normal e patológica, sendo a diferença mais de
grau do que de tipo.

6) Na ansiedade patológica há uma perceção enviesada e sobreavaliada de ameaça ou


perigo, enquanto que na ansiedade normal há uma correspondência entre a avaliação de
ameaça e os perigos objetivos do meio ambiente.

7) Nas perturbações ansiosos existe um enviesamento no processamento de informação


ameaçadora a nível da ATENÇÃO, INTERPRETAÇÃO e MEMÓRIA.

As perturbações de ansiedade são uma reação excessiva de mecanismos primitivos de defesa,


que foram úteis em termos evolutivos para a espécie humana, mas que atualmente podem ser
mal adaptativos.

AS PERTUBAÇÕES DE ANSIEDADE SEGUNDO O DSM 5:

Um indivíduo pode preencher critérios para uma ou mais perturbações de ansiedade,


existindo uma alta comorbilidade entre as diferentes perturbações de ansiedade:

• O diagnóstico depende do foco da apreensão ansiosa e dos componentes cognitivos


e comportamentos de ansiedade. É possível diferenciar os diferentes quadros ansiosos
através de uma observação rigorosa da tipologia de situações que são geradoras de
medo ou evitadas e pela análise do contexto cognitivo (pensamentos e crenças)
associado a estes comportamentos.

As Perturbações de Ansiedade tendem a surgir na infância e a persistir ao longo da vida,


quando não são alvo de tratamento:

• A maioria das Perturbações de Ansiedade ocorre mais frequentemente em mulheres


do que em homens (num rácio aproximado de 2:1).
• Cada quadro clínico das Perturbações de Ansiedade só deve ser considerado quando a
sintomatologia apresentada pelo paciente não é atribuível aos efeitos fisiológicos de
substâncias / medicamentos ou de uma outra condição médica, e se essa
sintomatologia não for melhor explicada por uma outra perturbação mental.

A atual edição do DSM é caracterizada por várias alterações, em relação ao capítulo das
Perturbações de Ansiedade:

• Estas alterações incluem a individualização de novos quadros clínicos (exemplo: que


foram acrescentados), assim como a omissão de outros, para além de inúmeros ajustes
nos critérios exigidos para o diagnóstico de diferentes condições clínicas.~
No DSM 5 o capítulo para as perturbações de ansiedade já não inclui a:

• Perturbação Obsessivo-Compulsiva.
• Perturbação de Stress Pós-traumático.
• Perturbação de Stress Agudo.

Agrofobia, Fobia Específica e Transtorno de Ansiedade Social:

• A duração de 6 meses, a qual era limitada a indivíduos com idades inferiores a 18


anos no DSM IV, é agora estendida para todas as idades.
• A eliminação da exigência que os indivíduos (maiores a 18 anos) reconheçam a sua
ansiedade como excessiva ou irracional.

Uma vez que os pacientes com perturbações de ansiedade tipicamente sobrestimam o perigo
das situações temidas ou evitadas.

A avaliação ou determinação se o medo ou a ansiedade é excessiva ou desproporcionada


deve ser realizada pelo clínico, tendo em consideração os fatores contextuais que marcam
essa situação.

Podem ser diferenciadas entre si através do tipo de objetos ou situações que induzem o medo,
o comportamento de ansiedade e o padrão cognitivo associado.

Incluem:

• Perturbações que partilham entre si características de medo excessivo e ansiedade e


perturbações do comportamento relacionadas com essas características.
PERTURBAÇÕES DE ANSIEDADE DIFEREM DE:

Medos Desenvolvimentais Normativos: Uma vez que nestas perturbações o medo tem de ser
caracterizado como excessivo ou como persistindo para além do período considerado como
adequado para determinado nível de desenvolvimento.

De Ansiedade ou Medos Transitórios: Uma vez que são persistentes (e.g., normalmente por
um período igual ou superior a 6 meses).

Nota: O tempo não deve ser considerado como um critério exclusivo mas antes como um guia,
o qual permite alguma flexibilidade.

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3) FOBIAS ESPECIFICAS:

3.1) CARATERÍSTICAS CLÍNICAS:

A característica central desta perturbação é que o medo ou ansiedade é circunscrita à presença


de uma situação ou objeto específico, o qual é designado por estímulo fóbico.

O medo, ansiedade ou o evitamento provocam sofrimento ou mal-estar clinicamente


significativo ou interferem significativamente com as rotinas normais da pessoa,
funcionamento ocupacional (ou académico), relacionamentos, atividades sociais ou outras
áreas importantes de funcionamento.

3.2) PARA DIAGNOSTICAR UMA FOBIA ESPECÍFICA:

A resposta do indivíduo tem de se diferenciar daquela considerada como normal ou esperada


e de medos transitórios que ocorrem frequentemente na população.

O medo ou ansiedade tem de ser intensa, marcada ou severa:

• A severidade do medo pode variar de acordo com a proximidade em relação ao


estímulo fóbico (e pode ocorrer tanto na presença como por antecipação da exposição
ao objeto ou situação fóbica).
• O medo ou ansiedade pode assumir a forma de um ataque de pânico com sintomas
completos ou limitado.

A resposta de medo ou ansiedade deve ser invariavelmente desencadeada sempre (ou quase
sempre) que o indivíduo contacta com o estímulo fóbico.

Nota: Um indivíduo que só ocasionalmente sente ansiedade quando enfrenta uma situação ou
objeto específico (exemplo: experiencia altos níveis de ansiedade quando voa em apenas 1 em
cada 5 voos de avião) não deve receber o diagnóstico de fobia específica.

3.3) A RESPOSTA DE ANSIEDADE É INVARIAVELMENTE DESENCADEADA SEMPRE QUE O


SUJEITO SE CONFRONTA COM O ESTÍMULO FÓBICO. NO ENTANTO, O GRAU DE MEDO OU
ANSIEDADE EXPRESSA PODE VARIAR:

Em diferentes ocasiões.

Em função do grau de proximidade do estímulo fóbico.

Em função de outras variáveis contextuais, como:


• A presença de outras pessoas.
• A duração da exposição.
• E outros fatores percebidos (como “de risco”, tais como a turbulência em um voo para
as pessoas que têm medo de voar ou para fobia a elevadores a antiguidade do
aparelho).

3.4) CARATERÍSTICAS CLÍNICAS (CONTINUAÇÃO):

Ao longo do processo psicopatológico que carateriza esta perturbação o indivíduo adapta o


seu comportamento de modo a prevenir ou minimizar o contacto com a situação ou objeto
fóbico:

• Exemplo: Seguir um percurso mais longo no trajeto diário para evitar pontes por medo
de alturas; evita entrar num quarto escuro, com medo de aranhas; evita aceitar um
emprego num local onde um estímulo fóbico é mais comum.

3.5) O EVITAMENTO DO ESTÍMULO FÓBICO QUE CARACTERIZA ESTA PERTURBAÇÃO:

Pode levar o indivíduo a alterar de forma significativamente as suas rotinas ao longo do tempo.

Pode justificar que muitos destes pacientes não experienciem medo ou ansiedade no seu dia-
a-dia.

3.6) CARATERÍSTICAS CLÍNICAS (CONTINUAÇÃO):

Os medos circunscritos a objetos ou situações são muito comuns, especialmente em


crianças, mas em muitos casos o grau de deficiência é insuficiente para merecer um
diagnóstico.

Se a fobia não interferir significativamente com o funcionamento do sujeito ou não provocar


claro mal-estar, o diagnóstico não é feito:

• Exemplo: A pessoa que tem medo de cobras a ponto de expressar um medo intenso na
presença de cobras não receberá o diagnóstico de Fobia Específica se viver numa área
onde não há cobras, se não restringir as suas atividades pelo medo de cobras e se não
se sentir perturbada por ter medo de cobras.

A ansiedade é excessiva ou desproporcionada em relação ao real perigo que o objeto ou


situação representa.

Os indivíduos com fobia específica reconhecem frequentemente que o seu medo é excessivo
ou irracional, mas tendem a sobre avaliar o perigo associado às situações temidas, assim a
avaliação da (des)proporcionalidade da resposta ansiosa em determinado contexto deve ser
feito pelo clínico.

3.7) CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO DE ACORDO COM O DSM 5:

A) Medo acentuado ou ansiedade em relação a (ou desencadeado por) um objeto ou situação


específica (exemplos: viajar de avião, alturas, animais, injeções e ver sangue).

B) O objeto ou a situação fóbica provoca quase sempre uma resposta ansiosa imediata.

C) O objeto ou a situação fóbica é ativamente evitada ou enfrentada com intensa ansiedade


ou mal-estar.
D) O medo ou ansiedade é excessiva atendendo ao real perigo que o objeto ou situação
representa e ao contexto sociocultural.

E) O medo, a ansiedade e o evitamento é persistente, apresentando uma duração de pelo


menos 6 meses.

F) O medo, ansiedade ou o evitamento provocam sofrimento ou mal-estar clinicamente


significativo ou interferem significativamente com as rotinas normais do indivíduo.

G) A perturbação não é melhor explicada pelos sintomas de outra perturbação.

3.7.1) CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO DE ACORDO COM O DSM 5 PARA O DIAGNÓSTICO EM


CRIANÇAS:

Medos excessivos são muito comuns em crianças, mas são habitualmente transitórios e não
causam um prejuízo significativo, sendo portanto, considerados adequado ao
desenvolvimento. Nestes casos, um diagnóstico de fobia específica não pode ser realizado.

É importante avaliar:

• O grau de comprometimento.
• A duração do medo e do evitamento.
• Se o padrão de respostas é ou não típico do nível de desenvolvimento.

As crianças poderão expressar o seu medo e ansiedade por choro, ataques de raiva,
imobilidade ou comportamento de procura de uma figura de vinculação significativa.

As crianças normalmente não são capazes de entender o conceito de evitamento. O clínico


deve reunir informação adicional por parte dos pais, professores ou outras pessoas
significativas.

3.8) OS ESPECIFICADORES NA FOBIA ESPECÍFICA DEVEM SER BASEADOS NO ESTÍMULO


FÓBICO:

• Animal: Desencadeado por animais (exemplos: aranhas, insetos e cães).


• Ambiente natural: Desencadeado por situações do ambiente natural (exemplos:
alturas, tempestades, água).
• Sangue-Infeções-Ferimentos (exemplos: visão de sangue, ferimentos, agulhas e
procedimentos médicos invasivos).
• Situacional (exemplos: transportes públicos (aviões), túneis, elevadores e espaços
fechados).
• Outro se o medo foi desencadeado por outro estímulo (exemplos: situações que
podem levar a asfixia ou vómitos).
3.8.1) OS ESPECIFICADORES NA FOBIA ESPECÍFICA:

É frequente o mesmo indivíduo apresentar múltiplas fobias específicas.

Nestes casos devem ser atribuídos o diagnóstico de múltiplas fobias específicas, cada um
com um código específico. Por exemplo, se um indivíduo teme tempestades e andar de
avião, então seriam dados dois diagnósticos: fobia específica, ambiente natural, e fobia
específica, situacional.

A resposta fisiológica à situação ou objeto temido pode variar em função de diferentes


especificadores:

• Enquanto os indivíduos com fobias específicas do tipo animal, situacional ou ambiente


natural tendem a mostrar uma ativação / excitação do sistema nervoso simpático, os
indivíduos com fobia específica sangue-injeção-ferimentos, muitas vezes demonstram
uma resposta vagal (exemplo: desmaio), marcada por breve aceleração inicial da
frequência cardíaca e elevação da pressão arterial seguido por uma desaceleração do
ritmo cardíaco e uma queda na pressão arterial.

3.9) PREVALÊNCIA:

Diferentes estudos documentam que:

• Nos USA, a prevalência na comunidade a 12 meses para fobia específica é entre 7 a 9%.
• As taxas de prevalência nos países europeus são muito semelhantes (exemplo: ≥ 6%).
• As taxas nos países asiáticos, africanos e latino-americanos são mais baixos (exemplo: 2
- 4%).

3.10) DISTRIBUIÇÃO POR GÉNERO:

No sexo feminino a perturbação é mais frequente do que no sexo masculino (rácio 2:1).

Os estudos parecem demonstrar que as taxas de prevalência por género variam de acordo com
diferentes estímulos fóbicos (exemplo: as fobias a animais, ambiente natural e as fobias
específicas situacionais são predominantemente experimentado por mulheres, enquanto a
fobia de sangueinjeção-ferimentos é experienciado quase igualmente por ambos os sexos).

3.11) IDADE DE ÍNICIO:

Fobia específica desenvolve-se frequentemente na infância, com a maioria dos casos de


desenvolvimento antes da idade de 10 anos.

As fobias específicas situacionais tendem a ter uma idade mais avançada no início do ambiente
natural, animal, ou fobias específicas sangue-injeção-ferimentos;

3.12) EVOLUÇÃO:

É hoje claro que as fobias podem ser adquiridas através de diferentes modos de
aprendizagem:

• Condicionamento Clássico.
• Modelamento.
• Transmissão de Informação.

A Fobia Específica pode desenvolver-se após um evento traumático:


• Exemplo: Ser atacado por um animal; ficar preso num elevador devido a uma avaria;
observar outras pessoas durante um evento traumático (exemplo: ver alguém a
afogar); por transmissão de informação (exemplos: TV e conversa de familiares).

Muitos indivíduos com fobia específica não são capazes de recordar a razão específica para o
início de suas fobias.

A frequência com que medos de animais (cobras e aranhas) e de alturas surgem sem a
identificação de experiências traumáticas na sua origem apoiam as hipóteses evolucionárias de
uma predisposição biológica para respostas de medo a certos estímulos que primitivamente
constituíram uma ameaça para a espécie.

Nestes casos, as respostas de medo seriam iniciadas por mecanismos de análises automáticas
de estímulos que são sensíveis a estímulos aversivos biologicamente preparados, como cobras
ou faces iradas.

As fobias específicas que persistem até à idade adulta raramente têm remissão espontâneas
(aproximadamente 20% dos casos).

3.13) DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL:

Agorofobia:

• A Fobia específica do tipo Situacional pode assemelhar-se a agorafobia na sua


apresentação clínica, dada a sobreposição de situações temidas (exemplos: voar,
lugares fechados e elevadores).
• Então como deve ser elaborado o diagnóstico diferencial entre Fobia Específica e
Agorafobia?
Se o indivíduo teme apenas uma situação agorafóbica, então a fobia específica (do tipo
situacional) deve ser diagnosticada. Se duas ou mais situações agorafóbicas são
temidas, um diagnóstico de agorafobia é justificado.
Se as situações são temidas devido ao medo de ser prejudicado diretamente pelo
estímulo (exemplo: o medo do avião cair , ou do ferimento provocado por um animal),
um diagnóstico de fobia específica é mais apropriado.

Fobia Social e Ansiedade de Separação:

• Nas Fobias Específicas é frequente existirem comportamentos de evitamento


semelhantes aos que são apresentados na Fobia Social ou à Ansiedade de Separação.
• Então como deve ser elaborado o diagnóstico diferencial entre Fobia Específica e
Fobia Social e em relação à Ansiedade de Separação?
Fobia Social: Se as situações são temidos por causa da avaliação negativa, a
perturbação de ansiedade social deve ser diagnosticada, em vez de fobia específica.
Pertubação de Ansiedade de Separação: Se as situações são temidos devido à
separação de um cuidador primário ou figura de vinculação, a perturbação de
ansiedade de separação deve ser diagnosticada em vez de fobia específica.

Pertubação de Pânico:

• Os indivíduos com fobia específica podem ter ataques de pânico ao confrontarem o


estímulo fóbico.
• Então como deve ser elaborado o diagnóstico diferencial entre Fobia Específica e
Perturbação de Pânico?
Os indivíduos com fobia específica podem ter ataques de pânico ao confrontarem o
estímulo fóbico.
O diagnóstico de fobia específica deve ser dado se os ataques de pânico só ocorrem
em resposta à exposição a esse estímulo específico, ao passo que o diagnóstico de
Perturbação de Pânico deve ser dado se o indivíduo também apresenta ataques de
pânico inesperado.

Pertubação Obsessivo-Compulsiva:

• Os indivíduos com fobia específica demonstram níveis exacerbados de ansiedade


perante determinado estímulo.
• Então o que distingue Fobia Específica e Perturbação Obsessivo-Compulsiva?
Se a ansiedade primária em relação a um objeto ou situação é o resultado de
obsessões (exemplo: medo de sangue devido a pensamentos obsessivos sobre a
contaminação, o medo de conduzir devido a imagens obsessivas de prejudicar outros),
e se forem cumpridos outros critérios de diagnóstico para a perturbação obsessivo-
compulsivo, então a POC deve ser diagnosticada.

Pertubação do Comportamento Alimentar:

• E se o estímulo fóbico for um determinado ou vários alimentos?


• O que distingue Fobia Específica de uma Perturbação do Comportamento Alimentar?
Um diagnóstico de fobia específica não é dado se o comportamento de evitamento
está exclusivamente limitado a alimentos e sinais relacionados com alimentos e em
relação ao medo de ganhar peso, caso em que um diagnóstico de anorexia ou bulimia
nervosa deve ser considerado.

3.14) COMORBILIDADE:

Fobia específica raramente é visto em ambientes médicos-clínicos na ausência de outra


psicopatologia.

A Fobia Específica apresenta elevada comorbilidade com outras perturbações ansiosas,


especialmente com outras fobias específicas (quando se aplica a um caso mais de um subtipo,
todos devem ser assinalados) e com a perturbação de pânico.

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4) PERTURBAÇÃO DE ANSIEDADE SOCIAL (FOBIA SOCIAL):

A fobia social é a terceira perturbação psiquiátrica mais comum, seguindo-se à depressão


major e à dependência alcoólica.

Os estudos mostram que a fobia social não é apenas um síndroma cultural embora fatores
culturais possam afetar a sua prevalência e variações na sua expressão clínica.

4.1) A ANSIEDADE COMO UMA RESPOSTA ADAPTATIVA DE SOBREVIVÊNCIA:

A experiência de graus ligeiros de ansiedade em situações sociais é um fenómeno frequente.

Não impede um funcionamento social adequado podendo mesmo em certos casos ter até um
efeito benéfico no desempenho social.
A ansiedade social ou avaliativa deve ser conceptualizada como uma dimensão com uma
variação de grau:

• Desde um grau ligeiro a moderados: Comum a todos os humanos e em consonância


com determinados contextos, assumindo possíveis funções reguladoras do
comportamento social.
• Até a graus extremos: Com interferência negativa e significativa no desempenho
social.

4.2) ESTAMOS PERANTE UM CASO DE FOBIA SOCIAL QUANDO:

A ansiedade experimentada em situações sociais é tão elevada que interfere com o seu
funcionamento social.

O receio de ser avaliado negativamente, de parecer ridículo, desajeitado, tolo ou de não estar
à altura da situação e de ver o seu estatuto pessoal diminuído desperta graus tão elevados de
desconforto e medo, que a vida diária fica severamente limitada.

4.3) EM CASOS DE FOBIA SOCIAL, O INDIVÍDUO TENDE A EVITAR SITUAÇÕES SOCIAIS:

O evitamento na Fobia Social pode ser expresso claramente (exemplo: não ir a uma festa, ou
recusa em ir à escola) ou pode assumir formas subtis (exemplo: preparação exagerada de um
texto para um discurso, minimizar o contacto ocular, desviar a atenção para os outros).

4.4) COMPREENSÃO:

O núcleo da ansiedade social é o desejo forte de transmitir aos outros uma impressão
favorável / positiva de si e uma marcada insegurança acerca da sua capacidade de o
conseguir.

Quando confrontado com este tipo de situações sociais, o indivíduo com fobia social
experimenta a um medo intenso de fazer uma “triste figura” ou de se comportar de uma
forma humilhante que diminua o seu estatuto social ou autoestima.

O conteúdo do pensamento do indivíduo com fobia social, quando confrontado com uma
situação social é dominado por temas de fracasso, falta de competências necessárias para
originar uma impressão positiva, preocupações com a aparência e com a possibilidade de ser
avaliado negativamente.

O medo experimentado nestas situações e as suas manifestações somáticas e cognitivas são


frequentemente reinterpretadas como fonte de ameaça, dado que a possível perceção pelos
outros dos seus sintomas de ansiedade é encarada como fonte de humilhação ou de
diminuição pessoal.

4.5) FOBIA SOCIAL:


Medo de não causar uma impressão
positiva ou de ser avaliado
negativamente pelos outros em
situações sociais.

Hipersensibilidade ao escrutínio dos


outros.

Sentimento de avaliação permanente.

Elevada consciência de si mesmo que


origina um desconforto severo.

Estado de vigilância permanente,


avaliação e comparação com os outros
como tentativas de se protegerem de
avaliações negativas.

Em situações sociais percecionam-se


como um objeto exposto à observação e julgamento dos outros: outros, que tendem a encarar
como hipercríticos, predispostos a mostrar a sua superioridade e a humilha-las.

4.6) CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO: DSM-5:

A) Medo ou ansiedade intensa e persistente em uma ou mais situações sociais nas quais o
indivíduo está exposto a possível avaliação ou escrutínio dos outros. Os exemplos incluem
interações sociais (exemplos: manter uma conversa e encontrar pessoas desconhecidas), ser
observado (exemplos: a comer ou a beber), e de desempenho (exemplo: fazer um discurso).
Nota: Em crianças a ansiedade deve também ocorrer em contextos de interação com pares e
não apenas com adultos.

B) O indivíduo teme ter um comportamento ou mostrar sintomas de ansiedade que serão


avaliados negativamente pelos outros (exemplos: ser humilhado, ou sentir-se embaraçado, ou
motivar a crítica ou a rejeição por parte dos outros);

C) A exposição às situações sociais receadas provoca quase sempre medo ou ansiedade


intensa. Nota: Em crianças, a ansiedade pode ser expressa por choro, ataques de raiva,
agarrar-se a um adulto, congelamento ou mutismo em situações sociais.

D) As situações sociais são evitadas ou enfrentadas com intensa ansiedade ou desconforto.


E) O medo ou ansiedade experienciada é excessiva ou desproporcionada com a atual ameaça
que a situação social representa e atendendo ao contexto sociocultural.

F) O medo, ansiedade e o comportamento de evitamento são persistentes, apresentando


tipicamente uma duração superior a 6 meses.

G) O medo, ansiedade ou evitamento causam um sofrimento ou desconforto clinicamente


significativo e interferem significativamente com a rotina normal do indivíduo (exemplos:
académicos, ocupacional, social ou outras).

H) O medo, a ansiedade, ou evitamento não é atribuído a quaisquer efeitos fisiológicos de


uma substância (exemplos: abuso de drogas, ou medicação) ou de outra condição médica.

I) O medo, a ansiedade, ou o evitamento não é melhor explicado pelos sintomas de uma


outra perturbação mental, tais como perturbação de pânico, perturbação de dismorfia
corporal ou perturbações do espectro autista.

J) Se outra condição médica (exemplos: Perturbação de Parkinson e obesidade) estiver


presente, o medo, a ansiedade ou o evitamento são claramente não relacionados ou
excessivos.

4.7) ESPECIFICAR SE O MEDO É RESTRITO A SITUAÇÕES DE DISCURSOS OU DE DESEMPENHO


EM PÚBLICO:

Indivíduos com Fobia Social do tipo de desempenho apresenta medos de desempenho que
causam prejuízo na sua vida profissional (exemplos: músicos, dançarinos, artistas e atletas) ou
em funções que exigem falar em público regular mas não temem situações sociais que não
impliquem desempenho.

Por exemplo, um indivíduo que tem medo de falar em público não deverá receber um
diagnóstico de Perturbação de Ansiedade Social, se essa atividade não faz parte da sua rotina
ou da sua rotina profissional, e se o indivíduo não se sente significativamente angustiado com
isso.

No entanto, se o indivíduo evita ou se sente prejudicado no trabalho que tem (ou que desejaria
ter) por causa de sintomas de ansiedade social então o Critério G deve ser atendido.

4.8) DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL:

A Timidez normativa é um traço de personalidade comum e não é por si só patológico.

No entanto, quando há um impacto negativo significativo nas áreas social, ocupacional e outras
importantes de funcionar, e quando são cumpridos os critérios de diagnóstico desta
perturbação, então deve ser diagnosticado como Fobia Social.

Há comportamentos de evitamento que são partilhados pelos indivíduos com Agorafobia e os


indivíduos com Perturbação de Ansiedade Social.

Então como deve ser realizado o diagnóstico diferencial?

Fobia Social VS. Agorafobia:

• Os indivíduos com Agorafobia podem teme e evitar situações sociais (exemplo: ir ao


cinema ver um filme), porque a fuga pode ser difícil ou ajuda pode não estar disponível
em caso de incapacitação ou da ocorrência de sintomas tipo pânico, enquanto no caso
dos indivíduos com Fobia Social o medo relaciona-se com o escrutínio por parte dos
outros.
• Além disso, os indivíduos com perturbação de ansiedade social tendem a sentir-se
calmos ou tranquilos quando ficam completamente sozinhos, o que não acontece no
caso de agorafobia.

Indivíduos com Perturbação de Ansiedade Social podem ter ataques de pânico, mas a
preocupação é sobre o medo da avaliação negativa, enquanto na Perturbação de Pânico a
preocupação é sobre as consequências do ataque de pânico em si mesmo.

Indivíduos com Perturbação Depressiva Major podem estar preocupados por serem avaliados
negativamente por outras pessoas, porque se sentem ruins ou não são dignos de ser amados.

Em contraste, os indivíduos com perturbação de ansiedade social estão preocupados com o


facto de serem avaliados negativamente por causa de certos comportamentos sociais ou
sintomas físicos.

4.9) IMPACTO NA QUALIDADE DE VIDA E LIMITAÇÕES ASSOCIADAS À FOBIA SOCIAL:

O medo e o evitamento experimentado pelos indivíduos com Fobia Social têm com frequência
uma enorme repercussão negativa sobre diversos aspetos da sua qualidade de vida.

4.10) IDADE DE ÍNICIO:

Os dados sugerem que a fobia social se desenvolve cedo na vida do indivíduo, frequentemente
antes ou durante a adolescência.

A idade média de início situa-se entre os 15 e 16 anos, mas pode haver variações culturais na
idade de início.

4.11) PREVALÊNCIA:

A prevalência estimada a 12 meses para a perturbação de ansiedade social nos Estados


Unidos é de cerca de 7%.

4.12) DISTRIBUIÇÃO EM FUNÇÃO DO SEXO:

Os estudos de prevalência sugerem uma maior prevalência nas mulheres que nos homens
(com ratio entre 1,5 e 2,2).

No entanto, na maioria das amostras clínicas, ambos os sexos estão igualmente


representados ou a maioria são homens.

4.13) DISTRIBUIÇÃO EM FUNÇÃO DO ESTADO CIVIL:

Os indivíduos com Fobia Social têm mais probabilidade de serem solteiros, divorciados ou
separados.

A associação entre este diagnóstico e o estado civil de solteiro está de acordo com o que seria
de esperar em função das manifestações clínicas e dificuldades dos indivíduos com fobia social.

Muito dos medos sociais característicos da Fobia Social interferem severamente com
processos sociais ligados à oportunidade de conhecimento e estreitamento de relações
afetivas.
4.14) DISTRIBUIÇÃO EM FUNÇÃO DO ESTATUTO SOCIOECONÓMICO:

A associação entre um estatuto socioeconómico baixo e uma maior prevalência da fobia social
está de acordo com o que acontece em outras condições psiquiátricas.

Pode ser explicada através de dois mecanismos:

• Influência negativa da fobia social na vida escolar e profissional, o que se associa a um


menor rendimento escolar e profissional e a um estatuto socioeconómico mais baixo.
• A possibilidade de um estatuto sócio- económico baixo influenciar diretamente o
desenvolvimento da fobia social.

4.15) ETIOLOGIA:

Como acontece para qualquer pertubação, a etiologia da pertubação da Ansiedade Social é,


provavelmente multifatorial e multideterminada, englobando uma interação de diversas
variáveis.

4.15.1) FATORES GENÉTICOS:

Os estudos sugerem taxas de pertubação de Ansiedade Social mais elavadas nos familiares
diretos de indíviduos com fobia social, comparativamente a familiares de outros grupos
clínicos ou controlos normais.

É estimado um risco 3 vezes maior de doentes com Fobia Social.

Embora uma predisposição genética para a ansiedade social não esteja clarificada, construtos
temperamentais relacionados parecem ter um componente hereditário:

• A TIMIDEZ parece ser um dos fatores de temperamento mais associados.


• Outro percusor temperamental é a INIBIÇÃO COMPORTAMENTAL, que se refere à
tendência para a criança reagir com medo, timidez, estranheza e constrangimento na
interação com pessoas, objetos ou situações novas.

No entanto é um questão complexa, dada a interação entre fatores genéticos e ambientais.

4.15.2) FATORES GENÉTICOS VS AMBIENTAIS:

Estes fatores temperamentais não conduzem necessariamente a um quadro de Ansiedade


Social:

• É necessário existir uma interação entre a predisposição da criança e o ambiente


familiar, podendo os pais ou figuras significativas promover o desenvolvimento
adaptativo do seu filho com inibição comportamental ou timidez, ou interagir de
uma forma que pode aumentar a probabilidade de dificuldades futuras.

4.15.3) ETIOLOGIA (CONTINUAÇÃO):

A literatura sugere uma forte evidência para a relação entre determinadas PRÁTICAS
PARENTAIS e o desenvolvimento de Ansiedade Social dos filhos tais como:

• Famílias com menor sociabilidade e um maior evitamento de situações sociais.


• Isolamento da crinça ou restrição de atividades sociais.
• Sobrevalorização da opnião ou julgamento crítico dos outros.
• Comportamento parental mais osobre protetor ou controlador.
• Práticas parentais caracterizadas por rejeição, crítica ou atitudes de menor cuidado,
calor ou afeto.
• Famílias com história de maior instabilidade (exemplos: separação da crinça; conflito
parental; história de pertubações mentais e mudanças de casa / escola / país
frequentes).

4.15.4) RELAÇÃO COM OS PARES:

A natureza das RELAÇÕES COM OS PARES pode desempenhar um papel fundamental na


Ansiedade Social.

Vários estudos têm demonstrado que altos níveis de ansiedade social na infância e
adolescência estão associados a negligência ou rejeição pelos pares, isolamento social e
consequente ausência de relações próximas.

4.15.5) EXPERIÊNCIAS TRAUMÁTICAS:

Embora alguns medos sociais e de desempenho possam ter tido origem numa exposição a
acontecimentos traumáticos, num processo claro de condicionamento clássico, existe pouca
evidência de que experiências traumáticas tenham um papel dominate no desenvolvimento
da Ansiedade Social.

Assim, a existência de experiências traumáticas não é um fator necessério nem sufeciente,


para desencadear uma Fobia Social

4.16) MODELO DE CLARK & WELLS (1995):


4.16.1) SINTOMAS SOMÁTICOS:

Os sintomas físicos da ansiedade são o tremor, o rubor, a sudação e a tensão muscular.

Característico dos indivíduos com fóbica social é acreditarem erroneamente que esses
sintomas são de grande visibilidade para os outros e que conduzem a avaliações negativas
pelos outros, sendo interpretados como um sinal de insegurança ou timidez.

4.16.2) COMPORTAMENTOS DE SEGURANÇA:

Em muitos casos, as pessoas com fobia social utilizam complexos comportamentos de


segurança com os quais tentam proteger-se dos seus receios.

No sentido de tentar disfarçar ou diminuir a visibilidade dos sintomas físicos desenvolvem um


conjunto de comportamentos destinados a disfarça-los.

Estes comportamentos constituem um fator importante de manutenção da fobia social.

4.16.3) ASPETOS COGNITIVOS:

O conteúdo do pensamento do indivíduo com fobia social, quando confrontado com uma
situação social é dominado por temas de fracasso, falta de competências necessárias para
originar uma impressão positiva, preocupações com a aparência e com a possibilidade de ser
avaliado negativamente.

Ao nível dos processos cognitivos, a atenção é auto focada, há aumento da consciência de si


mesmo, o que amplifica a perceção da sua ansiedade e desconforto e diminui a atenção
disponível para estímulos exteriores relacionados com a situação.

Mostram enviesamentos negativos na auto- perceção.

Envolvem-se em maior grau em pensamentos autoavaliativos negativos.

Em relação às expectativas acerca de futuras interações sociais, os fóbicos sociais revelam


possuir expectativas mais negativas acerca das consequências sociais de futuras interações.

4.16.4) ANSIEDADE ANTECIPATÓRIA:

Ao anteciparem uma situação social receada é frequente as pessoas com fobia social tentarem
antever em detalhe o que poderá acontecer nessas situações.

Quando iniciam esta antevisão ficam ansiosos e os seus pensamentos são dominados por
memórias dos seus fracassos em situações anteriores, imagens negativas de si mesmo na
situação e pensamentos automáticos de fracasso.

Quando o indivíduo se confronta com a situação entra nela já com níveis de ansiedade tão
elevados e num modo de processamento auto focado que o impede de identificar possíveis
sinais de aceitação tranquilizadores e o conduz a um funcionamento social pouco eficaz.

Como resultado, desenvolve-se uma intensa ansiedade antecipatória em relação a este tipo de
situações que pode levar ao seu evitamento sistemático.

Em consequência dos altos níveis de ansiedade e desconforto sentidos nas situações sociais
receadas, os indivíduos com fobia social tendem a organizar a sua vida de forma a evitarem
essas situações, o que frequentemente origina limitações severas na sua vida social,
profissional e afetiva.
4.16.5) AUTÓPSIA:

Se a ansiedade diminui habitualmente após terminar a situação social ,muitas pessoas com
fobia social descrevem um sentimento de vergonha e de humilhação que persiste por vezes
longo tempo após o fim da interação.

Embora o objetivo da autópsia seja uma tentativa de tranquilização acerca do seu receio de
terem sido avaliados negativamente, o seu resultado é o inverso e ela aumenta habitualmente
o sentimento de humilhação e inadequação social.

O sentimento de humilhação parece estar relacionado com a tendência para realizarem


autópsias da situação, revendo em detalhe tudo aquilo que aconteceu durante a interação.

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5) PERTURBAÇÃO DE ANSIEDADE GENERALIZADA:

O quadro clínico da Perturbação de Ansiedade Generalizada é dominado por sintomas


somáticos da ansiedade e pela preocupação.

A principal característica da Perturbação de Ansiedade Generalizada é a existência de uma


preocupação excessiva e sentida como incontrolável.

Os indivíduos com Perturbação de Ansiedade Generalizada preocupam-se frequentemente


com circunstâncias diárias da sua rotina diária, como possíveis responsabilidades no trabalho,
saúde e finanças, a saúde dos membros da família, desgraças com os filhos ou dependentes, ou
outras circunstâncias menores (como realizar tarefas domésticas ou se atrasar para
compromissos).

Durante o curso da perturbação, o foco da preocupação pode mudar de uma preocupação para
outra.

As caraterísticas centrais da Perturbação de Ansiedade Generalizada são a ansiedade e


preocupação excessiva acerca de diversos eventos ou atividades.

A intensidade, duração ou frequência da ansiedade e preocupação é desproporcional à


probabilidade real ou impacto do evento antecipado.

O indivíduo tem dificuldades de controlar a preocupação e de evitar que os pensamentos de


preocupação interfiram de forma significativa na atenção às tarefas.

5.1) GRAUS LIGEIROS DE PREOCUPAÇÃO E ANSIEDADE OCORREM NA MAIORIA DAS PESSOAS


E PODERÃO SER VANTAJOSAS E DESEMPENHAR FUNÇÕES ADAPTATIVAS:

Torna-se necessário distinguir a preocupações normais e as preocupações problemáticas ou


patológicas associadas à Perturbação de Ansiedade Generalizada.

Wells e Mathews (1994) sugeriram a necessidade de distinguir entre dois tipos de


preocupação:

• Uma variedade adaptativa que é orientada para a solução de problemas e conduz a


comportamentos focados no problema.
• Uma variedade maladaptativa que gera uma cadeia repetitiva de pensamentos de
consequências negativas.
Estudos que compararam as preocupações normativas e as preocupações “patológicas” de
pessoas com Perturbação de Ansiedade Generalizada mostraram que não há diferenças
significativas a nível do seu conteúdo, apenas a perceção de controlo os distingue.

O processo de preocupação está associado a uma motivação para prevenir ou evitar potenciais
perigos. Pode ser visto como uma estratégia de coping, que se torna no foco de problemas.

5.2) CARATERÍSTICAS QUE DISTINGUEM A PERTURBAÇÃO DE ANSIEDADE GENERALIZADA DA


ANSIEDADE NÃO PATOLÓGICA:

As preocupações associadas à Perturbação de Ansiedade Generalizada são excessivas e


geralmente interferem de forma significativa no funcionamento psicossocial, enquanto as
preocupações da vida diária não são excessivas e são percebidas como mais geríveis, podendo
ser adiadas quando surgem questões mais importantes / urgentes.

As preocupações associadas à Perturbação de Ansiedade Generalizada são mais disseminadas,


intensas e angustiantes; têm maior duração; e frequentemente ocorrem sem precipitantes.
Quanto maior a variação das circunstâncias de vida sobre as quais a pessoa se preocupa
(exemplos: finanças, segurança dos filhos e desempenho no trabalho), mais provavelmente é
os seus sintomas satisfazerem os critérios para Perturbação de Ansiedade Generalizada.

As preocupações diárias são muito menos prováveis de ser acompanhadas por sintomas físicos
(exemplos: inquietação, taquicardia ou sensação de mal-estar). Os indivíduos com Perturbação
de Ansiedade Generalizada relatam sofrimento subjetivo devido à preocupação constante e
prejuízo relacionado ao funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes de
sua vida.

5.3) SINTOMAS QUE APOIAM O DIAGNÓSTICO:

• Tensão muscular.
• Náusea.
• Fadigabilidade.
• Excessiva preocupação.
• Dificuldades de sono.
• Taquicardia.
• Sudação excessiva.
• Tonturas.
• Entre outros.

5.4) PREVALÊNCIA:

A prevalência de 12 meses da Perturbação de Ansiedade Generalizada é de 0,9% entre


adolescentes e de 2,9% entre adultos na comunidade em geral nos Estados Unidos.

A prevalência de 12 meses, em outros países varia de 0,4 a 3,6%.

5.5) DESENVOLVIMENTO E CURSO:

Muitos indivíduos com Perturbação de Ansiedade Generalizada referem que se sentem


ansiosos durante toda a vida.

A idade média de início (30 anos) é mais tardia do que para outras perturbações de ansiedade.
Os sintomas de preocupação e ansiedade excessivas podem ocorrer no início da vida, mas
manifestam-se como um temperamento ansioso.

O início da Perturbação de Ansiedade Generalizada raramente ocorre antes da adolescência.


Os sintomas tendem a ser crónicos e têm remissões e recidivas ao longo da vida, flutuando
entre formas clínica e sub-clínica da perturbação.

As taxas de remissão completa são muito baixas.

5.6) CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO DSM-5:

A) Ansiedade e preocupação excessivas (apreensão expectante), que ocorre na maioria dos


dias durante pelo menos seis meses, acerca de um número de acontecimentos ou atividades
(tais como trabalho ou o desempenho escolar).

B) A pessoa tem dificuldade em controlar a preocupação.

C) A ansiedade e a preocupação estão associadas com TRÊS (OU MAIS) dos seguintes
sintomas (com pelo menos alguns sintomas presentes na maioria dos dias durante seis
meses):

• Agitação, nervosismo ou tensão interior.


• Fadiga fácil.
• Dificuldade de concentração ou esquecimentos devidos à ansiedade.
• Irritabilidade.
• Tensão muscular.
• Perturbações no sono (dificuldade em adormecer ou permanecer a dormir, ou sono
agitado).

Nota: Apenas um item é requerido para as crianças.

D) A ansiedade, a preocupação ou os sintomas físicos causam sofrimento clinicamente


significativo ou prejuízo social, profissional ou em outras áreas importantes da via do
indivíduo.

E) A preocupação não é provocada por um efeito fisiológico direto de uma substância


(exemplos: abuso de droga ou medicação) ou um estado físico geral (exemplos:
hipertiroidismo).

F) A preocupação não melhor explicada por outra perturbação mental. Por exemplo:

• Ansiedade ou preocupação quanto a ter ataques de pânico na Perturbação de Pânico.


• Avaliação negativa na Perturbação de Ansiedade Social.
• Contaminação ou outras obsessões na Perturbação Obsessivo-Compulsiva.
• Separação das figuras de vinculação na Perturbação de Ansiedade de Separação.
• Recordação e memórias de eventos traumáticos na Perturbação de Stress Pós-
Traumático.
• Ganho de peso na Anorexia Nervosa.
• Queixas físicas na Perturbação de Sintomas Somáticos.
• Perceção de problemas na aparência na Perturbação Dismórfica Corporal.
• Ter uma doença grave na Perturbação de Ansiedade à Doença.
• O conteúdo de crenças delirantes na Esquizofrenia.
5.7) PREVALÊNCIA:

Na comunidade a prevalência ano varia entre 0.4 a 3.6%.

A prevalência da Perturbação de Ansiedade Generalizada na comunidade contrasta com os


dados que mostram ser uma das Perturbações Ansiosas que menos frequentemente surge
para tratamento nos centros de saúde mental. Esta discrepância poderá não reflectir a
natureza pouco perturbadora da doença, mas pode relacionar-se com a crença entre os
doentes de que as suas dificuldades traduzem uma característica da sua personalidade que não
poderá ser modificada.

5.8) IDADE DE INÍCIO E CURSO:

Muitos sujeitos com Perturbação de Ansiedade Generalizada descrevem que se têm sentido
ansiosos toda a vida.

A idade média de início da perturbação é 30 anos.

A idade de início é mais tardia do que a reportada em outras perturbações de ansiedade.

As taxas de remissão completa são muito baixas mas os sintomas tendem a a presentar
flutuações, remissões e recidivas ao longo da vida.
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PERTURBAÇÕES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR:

Segundo Fairburn & Harrison (2003), a definição de uma Perturbação do Comportamento


Alimentar implica:

• Que exista uma perturbação clara e significativa ao nível das atitudes e hábitos
alimentares e dos comportamentos para o controlo do peso.
• Que esta perturbação se reflita num disfuncionamento psicológico e/ou da saúde física
clinicamente significativo.
• Que esta perturbação não seja secundária a outra condição médica geral ou
psiquiátrica.

ALIMENTAÇÃO E TRANSTORNOS ALIMENTARES:

• Pica.
• Perturbações da Ruminação.
• Transtorno de Ingestão Alimentar Evitante.
• Anorexia Nervosa.
• Bulimia Nervosa.
• Transtorno da compulsão alimentar.
• Outros distúrbios alimentares ou alimentares especificados.
• Alimentação não eEspecificada ou Transtorno Alimentar.

ALIMENTAÇÃO E TRANSTORNOS ALIMENTARES:

1. Anorexia Nervosa.
2. Bulimia Nervosa.
3. Perturbação Ingestão Alimentar Compulsiva.
4. Perturbação Alimentar com outra especificação.

DIAGNÓSTICO:

Os critérios de diagnóstico para as Perturbações Alimentares no DSM 5 obedecem a um


esquema de classificação que é mutuamente exclusivo para que durante um episódio apenas
um destes diagnósticos possa ser atribuído.

Nota: O diagnóstico de Pica pode ser atribuído na presença de qualquer outra perturbação
alimentar.

A obesidade não está incluída no DSM-5 como uma perturbação mental. Contudo, existem
associações robustas entre a obesidade e um número de perturbações mentais (exemplos:
BED, Perturbações Depressivas e Perturbação Bipolar).
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1) ANOREXIA NERVOSA:

1.1) CARATERÍSTICAS CLÍNICAS:

Há três características essenciais da Anorexia Nervosa:

• Restrição persistente de ingestão de valores energéticos.


• Medo intenso de ganhar peso ou de se tornar gordo, ou apresentação de
comportamentos persistentes que interferem com o aumento de peso.
• Sobrevalorização do peso ou forma corporal na autoavaliação.

A característica central da Anorexia Nervosa é a ideia sobrevalorizada acerca da magreza; a


relevância de ideias e preocupações que partem de uma premissa básica de que “É
fundamental que eu seja magra”.

Crenças acerca da importância e / ou necessidade de ser magra.

Ideias que conduzem a um padrão comportamental que visa a perda de peso.

1.2) CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO:

A) Restrição na ingestão alimentar que leva a um peso significativamente baixo para a idade,
sexo, etapa desenvolvimental, e saúde física. Em crianças e adolescentes, peso mais baixo do
que o minimamente expectável.

B) Medo intenso de ganhar peso ou de se tornar gordo, comportamentos persistentes que


interferem com o aumento de peso, mesmo tendo um peso significativamente baixo.

C) Distúrbio na forma como o peso ou forma corporal são experienciados, influência indevida
do peso ou forma corporal na autoavaliação, ou persistente incapacidade para reconhecer a
severidade do baixo peso atual.

1.2.1) CRITÉRIO A (RESTRIÇÃO NA INGESTÃO ALIMENTAR):

O Índice de Massa Corporal (IMC) é uma medida útil para avaliar o peso tendo em conta a
altura.

Em adultos, um IMC de 18.5 kg / m² tem sido considerado pelos Centros para o Controlo e
Prevenção de Doenças (CDC) e pela Organização Mundial de Saúde (WHO) como o limite
inferior de peso normal.

Enquanto, um IMC inferior a 17.0 kg/m² é considerado pela WHO como um indicador de
magreza moderada ou severa.

Na clínica é normalmente utilizado um valor crítico de IMC < 17.5.

Peso significativamente baixo é definido por um peso que é mais baixo do que o minimamente
normal ou, em crianças e adolescentes, mais baixo do que o minimamente expectável.

Em crianças e os adolescentes pode traduzir-se por falhas em alcançar ganhos de peso


expectáveis ou em manter uma trajetória desenvolvimental normal.

1.2.2) CRITÉRIO B (MEDO DE GANHAR PESO):

Indivíduos com esta perturbação exibem tipicamente medo intenso de ganhar peso ou de ficar
gordo.

Este medo intenso de ficar gordo não é habitualmente aliviado por perda de peso e pode até
aumentar mesmo quando o peso diminui.

1.2.3) CRITÉRIO C (SOBREVALORIZAÇÃO DO PESO, FORMA CORPORAL E ALIMENTAÇÃO):

Alguns indivíduos sentem-se globalmente com excesso de peso, outros percecionam-se magros
mas continuam preocupados que certas partes do corpo (particularmente o abdómen, nádegas
e coxas) sejam “demasiado gordas”.

A perda de peso é frequentemente vista como um feito impressionante e sinal de


extraordinária autodisciplina, enquanto que o aumento de peso é percecionado como um
fracasso inaceitável ou falha no autocontrolo.

Embora alguns indivíduos admitam ser magros, frequentemente não reconhecem as reais e
sérias implicações médicas e limitações psicossociais associadas ao seu estado de subnutrição.

1.3) ANOREXIA NERVOSA: TIPO RESTRITIVO:

Durante os últimos 3 meses, o individuo não se envolveu em episódios recorrentes de binge-


eating ou de comportamento purgativo (exemplos: vómito autoinduzido, abuso de laxantes,
diuréticos ou enemas).

Este subtipo descreve apresentações em que a perda de peso é alcançada primariamente


através de dietas, jejum e / ou exercício físico excessivo.

1.4) ANOREXIA NERVOSA: TIPO BINGE-EATING / PURGATIVO:

Durante os últimos 3 meses, o individuo apresentou episódios recorrentes de binge-eating e /


ou de comportamento purgativo (exemplos: vómito autoinduzido, abuso de laxantes,
diuréticos ou enemas).

1.5) O NÍVEL DE SEVERIDADE DA ANOREXIA NERVOSA É BASEADO NO IMC ATUAL:

• Ligeira: IMC ≥ 17 kg / m².


• Moderada: IMC 16 – 16.99 kg / m².
• Severa: IMC 15 – 15.99 kg / m².
• Extrema: IMC < 15 kg / m².

Estes intervalos correspondem às categorias de magreza em adultos de acordo com a


Organização Mundial de Saúde.

Em crianças e adolescentes, devem ser utilizados os percentis correspondentes ao IMC.

1.6) DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL:

1.6.1) PERTURBAÇÃO OBSESSIVO COMPULSIVA:

A Pertubação Obsessivo-Compulsiva e a Aneroxia Nervova partilham diversas características


clínicas.

Os pensamentos intrusivos, persistentes e recorrentes em relação ao peso ou alimentação, não


são encarados pelos doentes com Aneroxia Nervova como absurdos ou irracionais; os
comportamentos de dúvida e de verificação, que surgem frequentemente em resposta a uma
ideia sobrevalorizada associada à “necessidade de ser magro/a”, não são reconhecidos pelo
indivíduo como excessivos.

Um diagnóstico adicional de Pertubação Obsessivo-Compulsiva deve ser considerado se o


indivíduo apresentar obsessões e compulsões não relacionadas com a comida (Exemplo: medo
excessivo de contaminação).

1.6.2) PERTURBAÇÃO DEPRESSIVA:

Muitos dos doentes com Anorexia Nervosa podem preencher os critérios da Depressão Major,
mas muitas vezes estes sintomas representam sequelas do estado de inanição.

Embora na Depressão possa ocorrer uma grande perda de peso, os pacientes Anorexia Nervosa
diferenciam-se na vivência e significação da perda de peso.

1.6.3) PERTURBAÇÃO DE ANSIEDADE SOCIAL:

Muitos dos doentes com Anorexia Nervosa podem preencher os critérios da Depressão Major,
mas muitas vezes estes sintomas representam sequelas do estado de inanição.

Embora na Depressão possa ocorrer uma grande perda de peso, os pacientes Anorexia Nervosa
diferenciam-se na vivência e significação da perda de peso.

1.6.4) PERTURBAÇÃO DE EVITAMENTO/RESTRIÇÃO DE INGESTÃO DE ALIMENTOS:

Indivíduos com uma perturbação de evitamento podem exibir uma perda de peso significativa
ou deficiência nutricional, mas não têm medo de ganhar peso ou de ficar gordo, nem
apresentam alterações na forma como experienciam o seu peso e forma corporal.

1.6.5) BULIMIA NERVOSA:

Os doentes com Bulimia Nervosa exibem episódios recorrentes de binge-eating, e apresentam


comportamentos inapropriados para evitar ganhar peso (exemplo: autoindução do vómito) e
preocupações excessivas acerca do peso e forma corporal. Contudo, ao contrário de pessoas
com Anorexia Nervosa, tipo binge-eating / purgativo, indivíduos com Bulimia Nervosa mantêm
um peso corporal dentro ou acima do intervalo normal.

1.6.6) CONDIÇÕES MÉDICAS:

A perda de peso severa pode ocorrer em algumas condições médicas (exemplos: doença
gastrointestinal, hipertiroidismo, malignidades ocultas, e síndrome da imunodeficiência
adquirida (Sida)).

Embora os indivíduos com estas condições não manifestem alterações na forma como o peso
ou forma corporal são experienciados, medo intenso de ganhar peso, nem comportamentos
persistentes que interferem com o aumento de peso.

No entanto, a perda de peso aguda associada a condições médicas pode ocasionalmente ser
seguida pelo início ou recorrência de anorexia nervosa, que pode ser mascarada por condições
médicas comorbidas.

1.7) DADOS CLÍNICOS:

A semi-inanição caraterística da anorexia nervosa e os comportamentos purgativos que às


vezes lhes estão associados, podem resultar em condições médicas potencialmente fatais.
Distúrbios fisiológicos, incluindo amenorreia e anomalias nos sinais vitais, são comuns.
Enquanto a maioria dos distúrbios fisiológicos associados à subnutrição são reversíveis com
reabilitação nutricional, alguns (particularmente a perda da densidade óssea) podem não ser
totalmente reversíveis.

Alguns indivíduos com anorexia nervosa não apresentam anomalias nos dados laboratoriais.

Alterações Físicas:

• Distúrbio do sono.
• Disfunções gastrointestinais.
• Fadiga.
• Hipersensibilidade ao som e à luz.
• Edema (retenção de água particularmente nos tornozelos).
• Hipotermia.
• Densidade mineral óssea baixa, com áreas específicas de osteopenia ou osteoporose.
• Parestesias.
• Diminuição do nível metabólico.
• Diminuição do interesse sexual.
• Pele seca.
• Perda de cabelo.
• Lanugo.

Alterações Emocionais e Sociais:

• Sintomatologia depressiva e ansiosa.


• Irritabilidade.
• Labilidade emocional.
• Isolamento social.

Alterações Cognitivas:

• Diminuição da capacidade de concentração e de atenção.


• Empobrecimento da capacidade de julgamento e apatia.

1.7) PREVALÊNCIA:

A prevalência (12 meses) da anorexia nervosa entre jovens mulheres é aproximadamente


0.4%.

Pouco se conhece acerca da prevalência entre homens, considera-se que a distribuição por
sexo apresenta um rácio 10 /1 (mulheres / homens).

1.8) INÍCIO E CURSO:

A Aneroxia Nervosa começa geralmente durante a adolescência ou início da idade adulta.


Raramente começa antes da puberdade ou depois dos 40 anos, embora tenham sido descritos
casos com inícios precoces ou tardios.

A APA adverte que os clínicos não devem excluir a anorexia nervosa do diagnóstico diferencial
tendo como base apenas uma idade mais avançada.

A hospitalização pode ser necessária:


• Para restaurar o peso em pacientes com um estado de emagrecimento que traduz
perigo médico e abordar complicações médicas (IMC < 13 é considerado critério para
cuidados de urgência e internamento hospitalar).
• Para interromper os episódios bulímicos, o vómito e / ou abuso de laxantes se algum
destes comportamentos implicarem riscos médicos.
• Para avaliar e tratar complicações físicas ou psicológicas associadas sérias.

A taxa bruta de mortalidade é aproximadamente 5% por década.

A morte é uma das consequências comuns das complicações médicas associadas à perturbação
em si e ao suicídio.

O risco de suicídio é alto na anorexia nervosa, com taxas de 12 por 100.000 por ano. Assim, a
avaliação compreensiva dos indivíduos com anorexia nervosa deve incluir avaliação da ideação
e comportamentos suicidas, assim como de outros fatores de risco incluindo o historial de
tentativa(s) de suicídio.

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AS PERTURBAÇÕES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR:

Avaliação Clínica:

• Peso Corporal e a História do Peso.


• Episódio bulímico, vómito, abuso de laxantes e outros comportamentos para controlar
o peso.
• Atitudes em relação ao peso e formas corporais.
• Personalidade e funcionamento pré-mórbido.

Tópicos para a entrevista clínica:

1. Dados demográficos, história terapêutica, circunstâncias do início do tratamento.


2. Peso corporal atual e história ponderal.
3. Comportamento de controlo do peso (frequência, intensidade e duração).
4. Ingestão compulsiva e comportamento alimentar.
5. Atitudes face ao peso e forma corporal.
6. Sintomatologia física.
7. Dados psicológicos, interpessoais e familiares.

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2) BULIMIA NERVOSA:

2.1) CARATERÍSTICAS CENTRAIS:

A importância extrema colocada no peso e formas corporais leva o doente a restringir a


ingestão alimentar de uma forma rígida.

A dieta rígida torna o doente física e psicologicamente vulnerável à perda de controlo


temporário sobre a alimentação.

A ingestão caótica que constitui a crise bulímica provoca uma acentuada culpa, vergonha,
sentimentos de ineficácia e desvalorização acompanhados por medo mórbido de engordar.

O vómito tem como função eliminar o que foi ingerido e o potencial aumento de peso, sendo
uma tentativa de anulação da culpa.

O vómito e o jejum total nas horas seguintes que inicialmente eram percebidas pelo doente
como estratégias eficazes, tornam-se comportamentos repetitivos e ineficazes.

As contingências biológicas que derivam do ciclo de fome e ingestão caótica são os grandes
responsáveis pela manutenção do ciclo patológico ingestão compulsiva / purga.

2.2) CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO:

A) Episódios recorrentes de compulsão alimentar:

Um episódio de binge-eating é caracterizado pelos dois seguintes critérios:

• Ingerir, num período discreto de tempo (exemplo: num período de 2 horas), uma
quantidade de comida definitivamente superior ao que a maioria das pessoas
comeriam num período de tempo ou situação semelhantes.
• Sensação de perda de controlo enquanto se come durante o episódio (exemplo:
sensação de que não se consegue parar de comer ou de controlar o que e quanto se
come).

B) Comportamentos compensatórios inapropriados destinados a prevenir o aumento de peso,


como vómito autoinduzido, abuso de laxantes, diuréticos ou outras medicações, jejum ou
exercício excessivo.

C) O binge-eating e os comportamentos compensatórios inapropriados ocorrem ambos, em


média, pelo menos uma vez por semana durante 3 meses.

D) A autoavaliação é indevidamente influenciada pelo peso ou forma corporal.

E) A perturbação não ocorre exclusivamente durante episódios de anorexia nervosa.

2.3) O NÍVEL DE SEVERIDADE É BASEADO NA FREQUÊNCIA DOS COMPORTAMENTOS


COMPENSATÓRIOS INAPROPRIADOS:

• Ligeira: 1 - 3 episódios / semana.


• Moderada: 4 - 7 episódios / semana.
• Severa: 8 - 13 episódios / semana.
• Extrema: 14 ou + episódios / semana.

2.4) CARATERÍSTICAS CLÍNICAS:

Os pacientes com Bulimia Nervosa estão geralmente dentro do intervalo normal de peso ou
apresentam excesso de peso (IMC > 18,5 kg / m2 e < 30 em adultos).

A perturbação pode ocorrer, mas é incomum, em pessoas com obesidade.

Entre os episódios de compulsão alimentar, indivíduos com bulimia nervosa costumam


restringir significativamente o seu consumo calórico total e optam por alimentos hipocalóricos,
ao mesmo tempo que evitam alimentos que percebem como hipercalóricos ou com potenciais
desencadeadores de compulsão alimentar.

2.5) DADOS CLÍNICAS:

A indução do vómito é o método purgativo mais comum, utilizado por 80 a 90% das pessoas
com Bulimia Nervosa.
Os efeitos imediatos do vómito incluem alívio do desconforto físico e diminuição da ansiedade

e do medo de engordar.

Nalguns casos, o vómito torna-se um objetivo em si mesmo, e a pessoa ingere


compulsivamente alimentos para vomitar e / ou vomita mesmo após a ingestão de uma
pequena quantidade de alimentos.

As pessoas com Bulimia Nervosa podem usar uma variedade de métodos para induzirem
vómito, após o seu uso frequente conseguem fazê-lo facilmente.

2.6) MARCADORES DIAGNÓSTICOS:

Diversas anormalidades laboratoriais podem ocorrer em consequência dos comportamentos


purgativos, incluindo:

• Anormalidades eletrolíticas, como hipocalemia (níveis de potássio no sangue estão


excessivamente baixos) que pode provocar arritmias cardíacas, hipocloremia (nível
excessivamente baixo de cloro no sangue) e hiponatremia (níveis de sódio no sangue
estão excessivamente baixos).
• A perda de ácido gástrico pelo vómito pode produzir alcalose metabólica (nível sérico
de bicarbonato elevado), e a indução frequente de diarreia ou desidratação devido a
abuso de laxantes e diuréticos pode causar acidose metabólica.
• A inspeção da boca pode revelar perda significativa e permanente do esmalte dentário.
• A frequência de cáries dentárias também aparece aumentada.
• Aumento das glândulas salivares, sobretudo as glândulas parótidas.
• Calos ou cicatrizes na superfície dorsal da mão (sinais de Russel).

2.7) PREVALÊNCIA:

A prevalência de 12 meses da BN entre jovens do sexo feminino é de 1 a 1,5%.

A prevalência-ponto é maior entre adultos, já que o perturbação atinge seu pico no fim da
adolescência e início da idade adulta.

A perturbação é bem menos comum no sexo masculino do que no feminino, com uma
proporção feminino-masculino de aproximadamente 10:1.

2.8) DESENVOLVIMENTO E CURSO:

A bulimia nervosa começa na adolescência ou na idade adulta jovem.

A manifestação inicial antes da puberdade ou depois dos 40 anos é incomum.

A compulsão alimentar com frequência começa durante ou depois de um episódio de dieta


para perder peso.

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3) PERTURBAÇÃO DE INGESTÃO COMPULSIVA:

3.1) CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO:

A) Episódios recorrentes de compulsão alimentar:

Um episódio de binge-eating é caracterizado pelos dois seguintes critérios:


• Ingerir, num período discreto de tempo (exemplo: num período de 2 horas), uma
quantidade de comida definitivamente superior ao que a maioria das pessoas
comeriam num período de tempo ou situação semelhantes.
• Sensação de perda de controlo enquanto se come durante o episódio (exemplo:
sensação de que não se consegue parar de comer ou de controlar o que e quanto se
come).

B) Os episódios de binge-eating estão associados a três (ou mais) dos seguintes critérios:

• Comer muito mais rapidamente que o normal.


• Comer até se sentir desconfortavelmente cheio.
• Comer grandes quantidades de comida quando não existe fome física.
• Comer sozinho devido a sentimentos de embaraço relativos à quantidade de comida
que se está a comer.
• Sentir-se enojado de si mesmo, deprimido, ou muito culpado depois de comer.

C) Está presente angústia ou sofrimento marcado relativa à experiência de binge-eating.

D) O binge-eating ocorre, em média, pelo menos uma vez por semana durante 3 meses.

E) O binge-eating não está associado ao uso recorrente de estratégias compensatórias (como


na bulimia nervosa) e não ocorre exclusivamente durante a evolução de bulimia nervosa ou
anorexia nervosa.

3.2) O NÍVEL DE SEVERIDADE É BASEADO NA FREQUÊNCIA DOS EPISÓDIOS DE BINGE-EATING:

• Ligeira: 1 - 3 episódios / semana.


• Moderada: 4 - 7 episódios / semana.
• Severa: 8 - 13 episódios / semana.
• Extrema: 14 ou + episódios / semana.

3.3) DADOS CLÍNICOS:

A Perturbação de Ingestão Alimentar Compulsiva pode ocorrer em pessoas com peso normal,
com excesso de peso ou com obesidade.

Esta Perturbação de Ingestão Alimentar Compulsiva é consistentemente associada ao excesso


de peso e à obesidade nos indivíduos que procuram tratamento.

Esta perturbação parece estar associada a um risco aumentado de ganho de peso e


desenvolvimento de obesidade.

3.4) PREVALÊNCIA:

A prevalência de 12 meses de Perturbação de Ingestão Alimentar Compulsiva (BED) entre


mulheres e homens adultos norteamericanos (com idade igual ou superior a 18 anos) é de 1,6
e 0,8%, respetivamente.

A distribuição por sexo é bem menos assimétrica na Ingestão Alimentar Compulsiva do que na
Bulimia Nervosa.

3.5) DESENVOLVIMENTO E CURSO:

A Ingestão Alimentar Compulsiva tem início, em geral, durante a adolescência ou na idade


adulta jovem, mas pode ter início posteriormente, na idade adulta.
Indivíduos com Ingestão Alimentar Compulsiva que procuram tratamento costumam
apresentar uma idade superior, quando comparados com os pacientes com bulimia nervosa ou
anorexia nervosa.

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4) OUTRAS PERTURBAÇÕES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR ESPECIFICADAS:

Esta categoria aplica-se a apresentações clínicas nas quais estão presentes sintomas
característicos de uma perturbação do comportamento alimentar que causam sofrimento
clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas
importantes da vida do indivíduo predominam, mas que não satisfazem todos os critérios para
qualquer perturbação na classe diagnóstica de Pertubação do Comportamento Alimentar.

4.1) ANOREXIA NERVOSA ATÍPICA:

Todos os critérios para anorexia nervosa são cumpridos, exceto o peso (embora tenha havido
uma perda de peso significativa, o peso encontrase dentro ou acima do intervalo normal).

4.2) BULIMIA NERVOSA (DE BAIXA FREQUÊNCIA E / OU DURAÇÃO LIMITADA):

Todos os critérios para bulimia nervosa são cumpridos, mas o binge-eating e os


comportamentos compensatórios ocorrem, em média, menos de 1 vez por semana e / ou
durante menos de 3 meses.

4.3) PERTURBAÇÃO DE INGESTÃO COMPULSIVA (DE BAIXA FREQUÊNCIA E / OU DURAÇÃO


LIMITADA):

Todos os critérios da pert. de ingestão compulsiva são cumpridos, mas o binge-eating ocorre,
em média, menos de 1X semana e/ou durante menos de 3 meses.

4.4) PERTURBAÇÃO PURGATIVA:

Comportamento purgativo recorrente que influencia o peso ou a forma corporal (exemplos:


vómito autoinduzido; abuso de laxantes, diuréticos, ou outros medicamentos) na ausência de
binge-eating.

4.5) PERTURBAÇÃO DE INGESTÃO NOTURNA:

Episódios recorrentes de ingestão noturna, manifestados por comer após acordar ou pelo
consumo excessivo de comida após uma refeição noturna.

4.6) NOTAS IMPORTANTES:

Existe consciência e memória de que se comeu.

O night-eating não é melhor explicado por influências externas, como mudanças no ciclo
vigília-sono do individuo ou por normas sociais locais.

O night-eating provoca mal-estar significativo e / ou compromete o funcionamento.

O padrão perturbado de alimentação não é melhor explicado pela perturbação de ingestão


compulsiva ou por outra perturbação mental, incluindo o abuso de substâncias e não é
atribuída a outra condição médica nem a efeitos de uma medicação.

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MODELO TRANSDIAGNÓSTICO:

"Mais ou menos o mesmo psicopatologia é observada em todo o diagnósticos de distúrbios


alimentares, e a sua gravidade também é muito semelhante".

A proposta do Modelo Transdiagnóstico é a criação de uma categoria diagnóstica única e


singular para as Pertubações do Comportamento Alimentares, sem quaisquer subdivisões.

MODELO TRANSDIAGNÓSTICO: ARGUMENTOS A FAVOR DA SOLUÇÃO TRANSDIAGNÓSTICA:

Semelhança das características psicopatológicas entre os diferentes quadros de perturbação


alimentar.

Instabilidade diagnóstica e nas alta taxa de migração entre os diferentes quadros clínicos de
Perturbações do Comportamento Alimentar.

MODELO TRANSDIAGNÓSTICO: CONTINUAÇÃO:

A psicopatologia das Pertubações do Comportamento Alimentares pode ser compreendida


através das duas componentes:

• As gerais correspondem a características clínicas partilhadas entre diferentes condições


psiquiátricas.
• As específicas dizem respeito às características definidoras e diferenciadoras das
Pertubações do Comportamento Alimentares em relação às outras perturbações
psiquiátricas.

A psicopatologia específica consiste na sobrevalorização do peso e das formas corporais e do


seu controlo.

Este núcleo psicopatológico é específico da patologia alimentar, sendo central em todos os


quadros de Pertubação do Comportamento Alimentar e semelhante tanto nos pacientes do
sexo masculino como feminino, tanto em adultos como adolescentes.

O núcleo de psicopatologia é expresso por um conjunto de atitudes e comportamentos:

• A necessidade de controlo do peso, forma corporal e da alimentação e medo de


aumentar de peso ou ficar gordo/a.
• A dieta ou comportamento alimentar restritivo.
• Os episódios de ingestão alimentar compulsivos.
• Os comportamentos compensatórios inapropriados que visam o controlo ponderal.
• A vigilância ou evitamento do peso e forma corporal.
• Comportamentos ritualísticos e bizarros em relação ao corpo e à alimentação.

Se a partilha das características psicopatológicas específicas é evidente entre todos os quadros


clínicos de Pertubações do Comportamento Alimentares em observações transversais, quando
se analisam estas perturbações numa perspetiva longitudinal as semelhanças tornam-se ainda
mais óbvias.

O Modelo Transdiagnóstico define a patologia alimentar como um conjunto de ciclos


psicopatológicos que se autoperpetuam:

• Ciclo de Restrição Alimentar / Valorização.


• Ciclo de Restrição / Ingestão Compulsiva e Culpa.
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EMOÇÃO:

Resposta a curto-prazo.

AFETO:

Resposta emocional em dado momento.

ESTADO DE HUMOR:

“Estado emocional que dura já há algum tempo, constituindo uma disposição (…) - reativa ou
endógena - para reagir aos acontecimentos com uma determinada espécie de emoção que dá
colorido à vida total do indivíduo”.

1) PERSPETIVA DA SEMIOLOGIA PSICOPATOLÓGICA: ESTADO DE HUMOR:

1.1) DEPRESSIVO:

Variação diurna? Ou seja, varia da manhã para a tarde? Humor deprimido matinal mais
comum na chamada depressão endógena.

Predomina a tristeza patológica, por exemplo, ou sem desencadeante, ou com intensidade e


duração desproporcionadas ao precipitante.

Tríade cognitiva de Beck: visão negativa de si, dos outros / mundo; do futuro.

1.2) HUMOR DEPRESSIVO: SINTOMA DE BASE DAS PERTURBAÇÕES DEPRESSIVAS – MAS NÃO
SINÓNIMO, POIS:

Os quadros depressivos envolvem comummente outros sintomas, tais como:


• Anedonia: Incapacidade de experimentar prazer; insere-se nas alterações da expressão
afetiva e emocional.
• Alterações da energia vital: Líbido, Sono e Redução EEnergia.
• Alterações da atividade motora: Hipocinésia.

Cerca de 10% das depressões: Humor deprimido ausente ou muito atenuado, ocorrendo
equivalentes depressivos (nomeadamente somáticos).

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NA DMS-5: PERTURBAÇÕES DEPRESSIVAS:

Caracterizam-se pela presença de humor triste, irritável ou “vazio”, juntamente com alterações
somáticas e cognitivas, com um impacto significativo na capacidade de funcionamento.

Nota: As anteriores edições da DSM consideravam uma categoria designada por Perturbações
do Humor, que incluía, quer as perturbações depressivas, quer as perturbações bipolares e
relacionadas - categorias que agora aparecem separadas na DSM-V.

Aspetos como a duração, momento e suposta etiologia, permitem destrinçar diferentes


pertubações depressivas.

DEPRESSÃO (DSM-VTR, 2022):

1. Perturbação Depressiva Major.


2. Perturbação de Regulação do Humor Disruptiva.
3. Perturbação Depressiva Persistente (Distimia).
4. Perturbação Disfórica Pré-Menstrual.
5. Perturbação Depressiva induzida por substâncias / medicação.
6. Perturbação Depressiva devida a outras condições médicas.

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EXEMPLOS DE DOENÇAS ORGÂNICAS QUE PODEM INDUZIR DEPRESSÃO:

• Doenças endócrinas (exemplos: hipo e hipertiroidismo).


• Virais (exemplos: pneumonia e hepatite).
• Artrite reumatoide.
• Carcinoma por exemplo do pâncreas.
• Insuficiência renal.

EXEMPLOS DE DROGAS QUE PODEM INDUZIR DEPRESSÃO:

• Corticosteroides.
• Citostáticos.
• Estrogénios.
• Progesterona.

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1) PERTURBAÇÃO DEPRESSIVA MAJOR (DSM5-TR):

A) Estão presentes 5 (ou mais) dos seguintes sintomas durante o mesmo período de 2
semanas e representam uma alteração do funcionamento prévio: pelo menos um dos
sintomas é 1) humor depressivo ou 2) perda de prazer ou interesse:
1. Humor depressivo durante a maior parte do dia, quase todos os dias (triste, vazio,
hopless) ou observação feita por outros (exemplo: choroso). Em crianças e
adolescentes o humor pode ser irritável.
2. Diminuição clara do interesse ou prazer em todas, ou quase todas, as atividades
durante a maior parte do dia, quase todos os dias (por relato subjetivo ou descrição
dos outros).
3. Perda ou aumento do peso, diminuição ou aumento do apetite. Em crianças considerar
o não atingimento dos aumentos esperados de peso.
4. Insónia ou hipersónia quase todos os dias.
5. Agitação ou inibição psicomotora quase todos os dias (observável por outros).
6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias.
7. Sentimentos de desvalorização ou culpa excessiva ou inapropriada (que pode ser
delirante) quase todos os dias.
8. Diminuição da capacidade de pensamento ou concentração, ou indecisão, quase
todos os dias (por relato do próprio ou observação dos outros).
9. Pensamentos recorrentes acerca da morte (não somente acerca do medo de morrer),
ideação suicida recorrente sem um plano específico ou uma tentativa de suicídio, ou
com um plano específico para cometer suicídio.

B) Os sintomas causam mal-estar clinicamente significativo ou deficiência no funcionamento


social, ocupacional ou em qualquer outra área importante.

C) Os sintomas não são causados pelo efeito fisiológico direto de uma substância (exemplos:
droga e medicação) nem por um estado físico geral (exemplo: hipotiroidismo).

D) Pelo menos um episódio depressivo major não é melhor explicado por outra perturbação.

E) Nunca houve um episódio maníaco ou hipomaníaco (esta exclusão não se aplica se estes
episódios são induzidos por substâncias ou atribuível aos efeitos fisiológicos de outra condição
médica).

Nota: Respostas a uma perda significativa (exemplo: luto), podem incluir sentimentos de
tristeza intensa, ruminação acerca da perda, insónia, perda de apetite e peso, como no critério
A, que podem parecer um episodio depressivo. Apesar destes sintomas se poderem
compreender ou poderem ser considerados apropriados à perda, deve ser cuidadosamente
considerada a possibilidade de existir a presença de um episodio depressivo major, para além
da resposta normal a uma perda significativa.

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2) PERTURBAÇÃO DE REGULAÇÃO DO HUMOR DISRUPTIVA: F34.81:

A) Explosões de temperamento recorrentes graves manifestadas verbalmente (por exemplo,


fúrias verbais) e / ou comportamentalmente (por exemplo, agressão física para pessoas ou
bens) cuja intensidade seja manifestamente desproporcionada ou duração da situação ou
provocação.

B) As explosões de temperamento são inconsistentes com o nível de desenvolvimento.

C) As explosões de temperamento ocorrem, em média, três ou mais vezes por semana.


D) O humor entre explosões de temperamento é persistentemente irritável ou irritado mais
do dia, quase todos os dias, e é observável por outros (por exemplo, pais, professores,
pares).

E) Os critérios A a D estão presentes há 12 ou mais meses. Ao longo de todo esse período


tempo, o indivíduo não teve um período de duração de 3 ou mais meses consecutivos sem
todos os sintomas do Critério A a D.

F) Os critérios A e D estão presentes em pelo menos dois dos três contextos (ou seja, em
casa, em escolar, com pares) e são graves em pelo menos um destes.

G) O diagnóstico não deve ser feito pela primeira vez antes dos 6 anos de idade ou após os 18
anos de idade.

H) Pela história ou observação, a idade de início do Critério A a E é anterior aos 10 anos.

I) Nunca houve um período distinto com duração superior a 1 dia durante o qual os critérios
completos do sintoma, exceto a duração, para um maníaco ou hipomaníaco foram
cumpridos.

Nota: Elevação do humor apropriada ao desenvolvimento, tal como ocorre no período de o


contexto de um evento altamente positivo ou a sua antecipação não devem ser considerados
como sintoma de mania ou hipomania.

J) Os comportamentos não ocorrem exclusivamente durante um episódio de transtorno


depressivo e não são melhor explicados por outro transtorno mental (por exemplo,
transtorno do espectro autista, transtorno de estresse pós-traumático, separação
perturbação de ansiedade, perturbação depressiva persistente).

Nota: Este diagnóstico não pode coexistir com transtorno desafiador de oposição, transtorno
explosivo intermitente, ou transtorno bipolar, embora possa coexistem com outros, incluindo
transtorno depressivo maior, transtorno de déficit de atenção/hiperatividade, transtorno de
conduta e uso de substâncias subcutâneos. Indivíduos cujos sintomas preenchem os critérios
para ambos transtorno disruptivo de desregulação do humor e desafiador opositor transtorno
só deve ser dado o diagnóstico de humor perturbador transtorno de desregulação. Se um
indivíduo já experimentou um maníaco ou episódio hipomaníaco, o diagnóstico de
desregulação disruptiva do humor não deve ser atribuído.

K) Os sintomas não são atribuíveis aos efeitos fisiológicos de um ou outra condição médica
ou neurológica.

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3) DISTIMIA:

A) Humor deprimido na maior parte do dia, na maioria dos dias, indicado por relato
subjetivo ou por observação feita por outras pessoas, pelo período mínimo de dois anos.

Nota: Em crianças e adolescentes, o humor pode ser irritável, com duração mínima de um ano.

B) Presença, enquanto deprimido, de duas (ou mais) das seguintes características:

• Apetite diminuído ou alimentação em excesso.


• Insonia ou hipersonia.
• Baixa energia ou fadiga.
• Baixa autoestima.
• Concentração pobre ou dificuldade em tomar decisões.
• Sentimentos de desesperança.

C) Durante o período de dois anos (um ano para crianças ou adolescentes) de perturbação, o
indivíduo jamais esteve sem os sintomas dos Critérios A e B por mais de dois meses.

Os critérios para uma perturbação depressiva major podem estar continuamente presentes por
dois anos.

Jamais houve um episódio maníaco ou um episódio hipomaníaco e jamais foram satisfeitos os


critérios para transtorno ciclotímico.

A perturbação não é mais bem explicada por um transtorno esquizoafetivo persistente,


esquizofrenia, transtorno delirante, outro transtorno do espectro da esquizofrenia e outro
transtorno psicótico especificado ou transtorno do espectro da esquizofrenia e outro
transtorno psicótico não especificado.

Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos de uma substância (exemplos: droga de
abuso e medicamento) ou a outra condição médica (exemplo: hipotireoidismo).

Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social,


profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.

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3.1) TRANSTORNO DEPRESSIVO PERSISTENTE:

Nota: Se os critérios forem suficientes para um diagnóstico de um episódio depressivo maior


em qualquer momento durante o período de 2 anos de humor deprimido, em seguida, um
diagnóstico separado de depressão maior deve ser feito adicionalmente ao diagnóstico de
perturbação depressiva persistente juntamente com a especificador relevante (por exemplo,
com episódios depressivos maiores intermitentes, com episódio atual).

Especificar-se:

• Com angústia ansiosa (pp. 210-211).


• Com características atípicas (p. 212).

Especificar-se:

• Em remissão parcial (p. 214).


• Em plena remissão (p. 214).

Especificar se:

• Início precoce: Se o início for antes dos 21 anos de idade.


• Início tardio: Se o início for aos 21 anos de idade ou mais.

Especificar se (para os 2 anos mais recentes de perturbação depressiva persistente):

• Com síndrome distímica pura: Os critérios completos para um episódio depressivo


maior têm não foram cumpridas pelo menos nos últimos 2 anos.
• Com episódio depressivo maior persistente: Critérios completos para um episódio
depressivo maior foram cumpridos ao longo do período de 2 anos anterior.

Com episódios depressivos maiores intermitentes, com episódio atual:

• Todos os critérios para um episódio depressivo maior estão atualmente preenchidos,


mas há ter sido períodos de, pelo menos, 8 semanas durante, pelo menos, os últimos 2
anos com sintomas abaixo do limiar para um episódio depressivo major completo.

Com episódios depressivos maiores intermitentes, sem episódio atual:

• Atualmente, não estão preenchidos todos os critérios para um episódio depressivo


major, mas houve um ou mais episódios depressivos maiores em, pelo menos, o
anteriores a 2 anos.

Especifique a gravidade atual:

• Ligeira (p. 214).


• Moderado (p. 214).
• Grave (p. 214).

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4) PERTURBAÇÃO DISFÓRICA PRÉ-MENSTRUAL: F32.81:

A) Na maioria dos ciclos menstruais, pelo menos cinco sintomas devem estar presente na
última semana antes do início da menstruação, começar a melhorar dentro de alguns dias
após o início da menstruação e tornar-se mínimo ou ausente na semana pós-menstruação.

B) Um (ou mais) dos seguintes sintomas deve estar presente:

• Labilidade afetiva acentuada (por exemplo, alterações de humor; sentir-se subitamente


triste ou choroso, ou aumento da sensibilidade à rejeição).
• Irritabilidade ou raiva acentuadas ou aumento dos conflitos interpessoais.
• Humor deprimido acentuado, sentimentos de desesperança ou autodepreciação
• pensamentos.
• Ansiedade, tensão e/ou sentimentos acentuados de estar preso ou no limite.

C) Um (ou mais) dos seguintes sintomas deve estar adicionalmente presente, para atingem
um total de cinco sintomas quando combinados com sintomas do Critério B acima:

• Diminuição do interesse em atividades habituais (por exemplo, trabalho, escola,


amigos, hobbies).
• Dificuldade subjetiva de concentração.
• Letargia, cansaço fácil ou acentuada falta de energia.
• Alteração acentuada do apetite; comer em excesso; ou desejos alimentares
específicos.
• Hipersónia ou insónia.
• Sensação de estar sobrecarregado ou fora de controle.
• Sintomas físicos como sensibilidade ou inchaço mamário, dor nas articulações ou nos
músculos, sensação de "inchaço" ou aumento de peso.

Nota: Os sintomas nos Critérios A a C devem ter sido cumpridos para a maioria dos períodos
menstruais que ocorreram no ano anterior.

D) Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou interferência com trabalho,


escola, atividades sociais habituais ou relações com outras pessoas (por exemplo, evitar
atividades sociais; diminuição da produtividade e eficiência em trabalho, escola ou casa).

E) A perturbação não é meramente uma exacerbação dos sintomas de outra perturbação, tal
como perturbação depressiva major, perturbação do pânico, transtorno depressivo
persistente ou um transtorno de personalidade (embora possa concorrer com qualquer um
destes distúrbios).

F) O critério A deve ser confirmado por notações diárias prospetivas durante a pelo menos
dois ciclos sintomáticos.

Nota: O diagnóstico pode ser feito provisoriamente antes desta confirmação.

G) Os sintomas não são atribuíveis aos efeitos fisiológicos de um (por exemplo, uma droga de
abuso, um medicamento, outro tratamento) ou outra condição médica (por exemplo,
hipertireoidismo).

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PREVALÊNCIA:

OMS, 2017:

• A perturbação depressiva carateriza-se essencialmente por humor deprimido na maior


parte do dia, diminuição ou perda do interesse em atividades prazerosas, perturbações
do sono, perda de energia, sentimentos de culpa e desvalorização e, por vezes,
pensamentos recorrentes acerca da morte ou morrer.
• A depressão é consideradas como uma das primeiras causas de incapacidade entre
todas as doenças e apresenta um risco acrescido de comorbilidade e suicídio.
• Verifica-se um acréscimo de 18% dos índices de depressão desde 2005.
• Em 2015, cerca de 300 milhões de pessoas apresentavam depressão, representando
cerca de 4.4% da população mundial.
• A prevalência de 12 meses, nos Estados Unidos é de cerca 7%.
• A prevalência em indivíduos de 18 a 29 anos é três vezes maior do que a prevalência
em indivíduos acima dos 60 anos.

Portugal:

• Os dados epidemiológicos existentes sobre a prevalência da depressão em Portugal


nos diferentes grupos etários e contextos são escassos.
• Estudo de Vaz Serra e Firmino (1989): 17% da população geral apresentava
sintomatologia depressiva.
• Censo Psiquiátrico Português (2011): Prevalência de 14.9%.
• Estudo Epidemiológico Nacional de Saúde Mental (2013): Prevalência durante a vida
das perturbações psiquiátricas de 42.7% e das perturbações depressivas de 19.3% .

DEPRESSÃO, GÉNERO E IDADE:

O género feminino é um fator de risco para a sintomatologia depressiva.


As mulheres experimentam índices de depressão 1,5 a 3 vezes mais altos do que os homens,
começando estas diferenças no início da adolescência.

O aumento da idade é um fator de risco para a sintomatologia depressiva.

CURSO:

Pode aparecer pela primeira vez em qualquer idade, mas a probabilidade de início aumenta
com a puberdade.

Nos Estados Unidos, a incidência parece atingir seu pico na década dos 20 anos.

Um início recente está fortemente associado com mais probabilidade de recuperação em


curto prazo, e pode-se esperar que muitos indivíduos que estiveram deprimidos por apenas
alguns meses recuperem espontaneamente.

Características associadas a taxas mais baixas de recuperação, além da duração do episódio


atual, incluem características psicóticas, ansiedade proeminente, perturbações da
personalidade e gravidade dos sintomas.

FATORES DE RISCO:

Temperamentais:

• Afetividade negativa (neuroticismo).


• Altos níveis parecem aumentar a probabilidade de os indivíduos desenvolverem
episódios depressivos em resposta a eventos stressantes na vida.

Ambientais:

• Experiências adversas na infância, particularmente quando existem múltiplas.


• Acontecimentos indutores de stress são precipitantes frequentes de episódios
depressivos majores.

Genéticos e Fisiológicos:

• Os familiares de primeiro grau de indivíduos com PDM têm risco 2 a 4 vezes mais
elevado de desenvolver a doença que a população em geral.
• Os riscos relativos parecem ser mais altos para as formas de início precoce e
recorrente. O peso da hereditariedade é de aproximadamente 40%.

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DEPRESSÃO NO IDOSO:

O que pode contribuir para dificuldades no diagnóstico e respetiva intervenção:

• Os idosos podem ter quadros clinicos mais atípicos -a falsa crença dos profissionais, da
família e do idoso de que a tristeza e a depressão fazem parte do envelhecimento.
• A tendência dos idosos para exibir queixas somáticas constantes e a sua maior
dificuldade em exprimir sentimentos de tristeza.

PREVALÊNCIA DA DEPRESSÃO NO IDOSO:

As perturbações depressivas são a segunda principal causa de doença na população geriátrica,


dando o primeiro lugar às patologias cardíacas.
Um estudo realizado com uma amostra de idosos inscritos nos centros de saúde em Portugal,
com idade igual ou superior a 65 anos, identificou uma prevalência provável de 42% de
sintomatologia depressiva.

A prevalência é mais elevada no género feminino do que no masculino.

A DEPRESSÃO GERIÁTRICA:

Tem consequências negativas no funcionamento do indivíduo, como a redução da qualidade


de vida e o aumento da mortalidade.

Associa-se a sofrimento no indivíduo e cuidador, aumento da incapacidade associada a doença


física e transtornos cognitivos, aumento de custos com cuidados de saúde, aumento de
mortalidade associada com suicídio e doenças físicas.

É frequentemente sub-diagnosticada.

É frequentemente secundária a doenças físicas.

Apresenta mais sintoma somáticos ou hipocondríacos e pior resposta ao tratamento.

ETIOLOGIA COMPLEXA:

Aspetos biológicos, socIais e psicológicos exercem papel importante no desencadear e na


manutenção dos quadros depressivos.

A influência do próprio envelhecimento no aparecimento e curso da depressão não está muito


clara. O ajustamento psicológico à idade é complexo.

Aceitar a doença e a morte também é difícil.

DEPRESSÃO E ANSIEDADE NO IDOSO:

Existe uma associação significativa entre a sintomatologia depressiva e ansiosa.

Byrne (2002) refere que a ansiedade está associada às perturbações depressivas e às doenças
físicas.

O estudo de Xavier, Ferraz, Bertolucci, Poyares e Moriguchi (2001), com uma amostra de idosos
com mais de 80 anos, constatou que 10.6% dos idosos apresentavam sintomatologia ansiosa, e
que a mesma estava associada à sintomatologia depressiva.

É importante que os profissionais considerem a presença de comorbilidades entre ansiedade e


sintomatologia depressiva.

DEPRESSÃO E DEMÊNCIA NO IDOSO:

Muitas das vezes, a depressão na terceira idade vem acompanhada de perdas cognitivas, sendo
nestes casos denominada de "pseudodemência depressiva" , o que dificulta o diagnóstico
diferencial entre depressão e demência.

Muitos dos sintomas depressivos, como a desmotivação, apatia, embotamento afectivo,


dificuldades de concentração, discurso e psicomotricidade mais lentos são também sintomas
de quadros demenciais.
COMO PODEMOS DIFERENCIAR A DEPRESSÃO DA DEMÊNCIA?

A ordem de ocorrência dos sintomas ajuda a distinguir depressão de demência: habituallmente


os doentes cujas alterações cognitivas precedem os sintomas depressivos parecem ter maior
probabilidade de estarem a desenvolver uma “verdadeira” demência do que aqueles em que a
sintomatologia depressiva precede as alterações cognitivas.

DOENTES COM DEPRESSÃO:

Catastrofizam as suas dificuldades mnésicas e podem até ter resultados inferiores à média nos
testes de memória, mas isto acontece não por dificuldades mnésicas reais mas por pouca
motivação para o desempenho de tarefas.

Habitualmente apresentam maiores dificuldades na memória a longo prazo, o que poderá ser
confirmado através de uma avaliação de neuropsicologia, que escrutina as várias memórias.

É também fundamental avaliar se as dificuldades mnésicas se instalaram súbita ou


gradualmente e se o idoso tem historial familiar de depressão ou demência.

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL:

Muito frequentemente um quadro clínico de demência pode ser acompanhado de depressão,


o que dificulta o diagnóstico diferencial.

O diagnóstico diferencial deverá ser realizado preferencialmente por um médico especialista,


nomeadamente de neurologia ou psiquiatria, que poderá requisitar vários exames
complementares crânio-encefálicos como a T.A.C. (Tomografia Axial Computorizada) ou a R.M.
(Ressonância Magnética).

É também aconselhável a realização de uma avaliação neuropsicológica.

DEPRESSÃO:

• Início bem demarcado.


• Historial familiar de depressão.
• Queixas de perdas cognitivas.
• História de dificuldades psicológicas ou de crise de vida recente.
• Perdas cognitivas posteriores à sintomatologia depressiva.
• Pouco esforço durante a aplicação do exame neuropsicológico.
• Maiores défices na memória a longo prazo.
• Melhoria de défices cognitivos com medicação antidepressiva.

DEMÊNCIA:

• Início indistinto; Historial familiar de demência.


• Poucas queixas (por parte do próprio) de perdas cognitivas.
• História de dificuldades psicológicas ou de crise de vida pouco frequente.
• Alterações cognitivas anteriores aos sintomas depressivos.
• Luta frequente para executar as tarefas cognitivas.
• Maiores défices na memória a curto prazo.
• Melhoria pouco significativa dos défices cognitivos com antidepressivos.
APOIO SOCIAL E DEPRESSÃO:

Em diversas faixas etárias é possível verificar o efeito do apoio social na sintomatologia


depressiva.

Num estudo de Wang, Cai, Qian e Peng (2014), com estudantes, verificou-se que niveis baixos
de apoio social aumentam a relação entre o stress e a sintomatologia depressiva.

Níveis elevados de apoio social podem permitir melhorar a auto-estima e autoeficácia para
lidar com as emoções negativas como a depressão (Lee, Dickson, & Holmbeck, 2014).

Relativamente às fontes de apoio que protegem da depressão, estas variam ao longo do ciclo
da vida.

O apoio parental é especialmente importante nas crianças e adolescentes, enquanto que o


apoio do cônjuge apresenta um efeito protetor sobretudo nos adultos e nos idosos.

Resultados de dois estudos longitudinais sugerem que uma relação pobre com o cônjuge
(Krause, Liang, & Yatomi, 1989) ou a permanência do cônjuge num lar (Sonnenberg, van
Tilburg, Vink, & Beekman, 2013) estão associadas à depressão em idosos do género masculino.

O apoio familiar pode mudar nos idosos, devido ao envelhecimento ou falecimento dos
familiares e a perda de capacidade de providenciar auxílio (Gariépy et al., 2016). O apoio dos
amigos é o mais consistente na proteção contra a depressão nos idosos, sendo considerado
adjuvante ao suporte familiar e conjugal.

A literatura refere que elevada perceção de apoio social dos amigos está associada
significativamente com menor sintomatologia depressiva nos idosos (Okun & Keith, 1998).

ESTUDO DE DUARTE & MATOS (2018):

Estudou a importância da perceção de saúde física e do apoio social na sintomatologia ansiosa


e depressiva.

Amostra de 655 idosos (com 60 ou mais anos) da população geral (57.4% mulheres).

Amostra de 59 doentes com perturbações emocionais (72.9% mulheres) - 43 doentes com


depressão (72.8% mulheres).

Encontrou-se um efeito moderador do apoio social na relação entre perceção de saúde e a


sintomatologia depressiva: o apoio social revelou-se um amortecedor para a sintomatologia
depressiva nas mulheres com baixa perceção de saúde física.

IMPLICAÇÕES:

É importante aumentar o apoio social, através da criação de novas redes sociais de apoio, e
melhorar as interacções já existentes com os elementos da rede sociais em que o idoso está
inserido.
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PENSAMENTOS INTRUSIVOS:

Pensamentos intrusivos são comuns na população geral.

Desaparecem fácil e rapidamente.

Em termos de conteúdo, os pensamentos intrusivos da população geral são bastante


semelhantes às obsessões clínicas; mas as últimas provocam muito mais ansiedade e não
desaparecem tão facilmente.

EXEMPLOS DE "OBSESSÕES NORMAIS":

Impulso para agredir ou fazer mal a alguém.

Impulso para dizer coisas inapropriadas.

Impulso para atacar alguém física ou verbalmente.

Pensamentos relacionados com violência sexual.

Pensamentos relacionados com o medo que ocorra um acidente a um ente querido.

RESENHA HISTÓRICA:

A POC tem sido retratada em filmes (The Aviator, As Good as It Gets).

Personalidades públicas que sofrem de Perturbação obsessiva-compulsiva.

Doença há muito conhecida, da qual existem muitos testemunhos escritos do sofrimento e


interferência que provoca e das tentativas para a entender e tratar.

OBSESSÕES:

As obsessões e compulsões não são exclusivas da Perturbação obsessiva-compulsiva.

“Fenómenos obsessivos” podem surgir esporadicamente em pessoas saudáveis em períodos


de maior stress (exemplo: necessidade de verificar se deixou fogão desligado), no contexto de
doenças neurológicas (exemplo: Coreia de Huntington) ou de outras perturbações
psiquiátricas (exemplos: depressão major e esquizofrenia).

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PERTURBAÇÃO OBSESSIVA-COMPULSIVA (POC):

O diagnóstico de Perturbação obsessiva-compulsiva só é efetuado se os pensamentos


obsessivos se tornarem tão frequentes ou intensos ou os rituais tão extensos que interfiram
com o funcionamento diário.

CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO:

A) Obsessões ou compulsões ou ambas: Obsessões definidas por (1), (2), (3) e (4):

1. Pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que, em algum


momento durante a perturbação, são experimentados como intrusivos e inapropriados
e que, na maioria dos indivíduos, provocam acentuada ansiedade ou sofrimento.
2. Pensamentos, impulsos ou imagens que não são simplesmente preocupações
excessivas acerca de problemas reais de vida (DSM IV).
3. A pessoa tenta ignorar ou suprimir tais pensamentos, impulsos ou imagens ou
neutraliza-los com algum outro pensamento ou ação.
4. A pessoa reconhece que os pensamentos obsessivos, impulsos ou imagens são produto
da sua mente (não impostos de fora como na inserção de pensamento) (DSM IV).

Compulsões definidas por (1) e (2):

1. Comportamentos repetitivos (por exemplo, lavagem das mãos, ordenações,


verificações) ou atos mentais (por exemplo, rezar, contar, repetir palavras
mentalmente) que a pessoa se sente compelida a executar em resposta a uma
obsessão ou de acordo com regras que devem ser aplicadas de modo rígido.
2. Os comportamentos ou atos mentais têm como objetivo evitar ou reduzir o
sofrimento ou prevenir algum acontecimento ou situação temida. Contudo, estes
comportamentos ou atos mentais ou não estão ligados de um modo realista com o que
pretendem neutralizar ou evitar ou são claramente excessivos.

Nota: Crianças pequenas podem não ser capazes de enunciar os objetivos desses
comportamentos ou atos mentais.

B) As obsessões ou compulsões tomam tempo (exemplo:., tomam mais de uma hora por dia)
ou causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social,
profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.

C) Os sintomas obsessivo-compulsivos não se devem aos efeitos fisiológicos de uma


substância (exemplos: droga de abuso e medicamento) ou a outra condição médica.

D) A perturbação não é mais bem explicada pelos sintomas de outra perturbação mental.
Exemplos:

• Dificuldade de se desfazer de pertences, na presença de uma perturbação de


acumulação.
• Preocupação com o comer na presença de uma Perturbação do Comportamento
Alimentar.
• Arrancar cabelos na presença de Tricotilomania.
• Preocupação com a aparência na presença de Perturbação Dismórfica Corporal.
• Preocupação com drogas na presença de Perturbação por uso de Substância.
• Preocupação com os impulsos ou fantasias sexuais na presença de Parafilia.

PERTURBAÇÃO OBSESSIVA-COMPULSIVA (POC): CONTINUAÇÃO:

Preocupações excessivas, como na perturbação de ansiedade generalizada.

Beliscar a pele, como na perturbação de escoriação [skin-picking].

Estereotipias, como na perturbação de movimento estereotipado.

Preocupação por ter uma doença grave como na perturbação de ansiedade de doença.

Impulsos, como nas perturbações disruptivas, do controle de impulsos e do comportamento.

Ruminações de culpa, como na perturbação depressiva maior.


Inserção de pensamento ou preocupações delirantes, como nas perturbações do espectro da
esquizofrenia e outras perturbações psicóticas.

Padrões repetitivos de comportamento, como na perturbação do espectro autista.

Especificar:

• Com insight bom ou razoável: O indivíduo reconhece que as crenças da perturbação


obsessivo- compulsiva são definitiva ou provavelmente não verdadeiras ou que podem
ou não ser verdadeiras.
• Com insight pobre: O indivíduo acredita que as crenças da perturbação obsessivo-
compulsiva são provavelmente verdadeiras.
• Com insight ausente / crenças delirantes: O indivíduo está completamente convencido
de que as crenças da perturbação obsessivocompulsiva são verdadeiras.
• Relacionada com Tiques: História atual ou passada de perturbação de tiques.

CID – 10:

Ao contrário do DSM-V, estabelece um critério temporal.

Necessária a presença de obsessões ou compulsões durante a maior parte dos dias por um
período mínimo de 2 semanas.

DSM-V: PERTURBAÇÃO OBSESSIVA-COMPULSIVA E PERTURBAÇÕES RELACIONADAS –


ESPECTRO OBSESSIVO:

Perturbação Dismórfica Corporal: Preocupação com um defeito imaginário na aparência ou se


uma ligeira anomalia física estiver presente, a preocupação é marcadamente excessiva.

Perturbação de Acumulação: Dificuldade persistente de descartar ou de se desfazer de


pertences, independentemente do seu valor real.

Tricotilomania: Comportamentos recorrentes de arrancar cabelos / pelos.

Perturbação de Escoriação: Escoriação recorrente da pele, resultando em lesões cutâneas.

CONTEÚDOS MAIS COMUNS DAS OBSESSÕES:

Habitualmente relacionam-se com tópicos pessoalmente inaceitáveis e repugnantes:

• Sexuais.
• Necessidade de Simetria e Exatidão.
• Religiosos.
• Sujidade ou Contaminação.
• Somáticos.
• De coleção/ poupança.
• Agressivos.
• Dúvidas repetidas.

COMPULSÕES MAIS COMUNS:

Evitamento duma catástrofe antecipada nos temas das obsessões:

• Lavagem.
• Limpeza.
• Verificação.
• Contagens.

Nota: Lavagens e rituais de ordenação são particularmente comuns em crianças.

PERTURBAÇÃO OBSESSIVA-COMPULSIVA (POC): CONTINUAÇÃO:

Apesar de existirem obsessivos puros (sem compulsões, Por exemplo, com obsessões de
conteúdo agressivo, sexual, religioso – Baer, 1994 ). Eles são raros (provavelmente apresentam
rituais encobertos e comportamentos de procura de tranquilização, comportamentos de
evitamento), a maioria dos doentes apresenta obsessões e compulsões.

96% dos doentes com Perturbação obsessiva-compulsiva apresentam obsessões e


compulsões. Apenas 2% têm um predomínio de obsessões.

Diversidade no modo como é percebida a racionalidade das obsessões ou compulsões.

Desejo ou tentativa de resistir à compulsão variáveis.

Assim que a obsessão ocorre, desencadeada por uma grande variedade de estímulos, é
acompanhada por sentimentos de desconforto ou ansiedade e pela necessidade urgente de
neutralizar a obsessão (ou as suas consequências).

Para os doentes com POCPerturbação obsessiva-compulsiva, a verificação, que é suficiente


para eliminar a incerteza "normal", contribui para a dúvida obsessiva.

Evitamento de situações ou objetos que provocam obsessões.

Quando , apesar do evitamento, as obsessões ocorrem, resultam os rituais.

O evitamento previne a exposição aos pensamentos temidos.

As compulsões (abertas ou cobertas) terminam a exposição.

Ambos previnem o confronto com os pensamentos e situações temidas, mas, ao fazê-lo,


impedem uma reavaliação.

Se o doente cessar estes comportamentos, descobrirá que aquilo que teme pode não ocorrer
de facto.

A Perturbação obsessiva-compulsiva carateriza-se também pela presença de sintomas como


evitamento ou crenças obsessivas.

As crenças obsessivas mais frequentes são: perfecionismo, intolerância à incerteza,


importância e necessidade de controlo dos pensamentos, excessivo sentido de
responsabilidade e hipervalorização do risco.

PREVALÊNCIA:

Prevalência de 12 meses nos Estados Unidos é de 1,2%, com uma prevalência similar
internacionalmente (1,1 a 1,8%).

O sexo feminino é afetado em uma taxa um pouco mais alta do que o masculino na idade
adulta.

Estudos com crianças e adolescentes mostram que a Perturbação obsessivo-compulsiva é mais


frequente no sexo masculino.
EVOLUÇÃO:

Início habitualmente ocorre na adolescência ou no início da idade adulta.

Nos Estados Unidos, a idade média de início é 19,5 anos, e 25% dos casos iniciam-se até os 14
anos de idade.

O início após os 35 anos é incomum, mas ocorre.

Indivíduos do sexo masculino têm idade mais precoce do que os do sexo feminino: cerca de
25% dos homens têm a perturbação antes dos 10 anos.

Início é gradual (mas também pode ter um início agudo).

PERTURBAÇÃO OBSESSIVO-COMPULSIVA: CONTINUAÇÃO:

Evolução crónica com aumentos e diminuições dos sintomas, estando os aumentos dos
sintomas relacionados com períodos de stress.

Aproximadamente 15% apresentam uma deficiência progressiva no funcionamento social e


ocupacional.

5% têm uma evolução episódica com sintomas mínimos ou sem sintomas entre os episódios.

Pode existir substancial lapso de tempo entre o aparecimento dos sintomas


obsessivocompulsivos e a procura de ajuda (5 a 7.5 anos entre o aparecimento dos sintomas e
a procura de tratamento).

PADRÃO FAMILIAR:

A concordância na taxa do Perturbação obsessivo-compulsiva é mais elevada em gémeos


monozigóticos que em gémeos dizigóticos.

A taxa do POC nos familiares biológicos em primeiro grau de sujeitos com Perturbação
obsessivo-compulsiva é mais elevada que a taxa da população em geral.

CONTEXTO CULTURAL:

A Perturbação obsessiva-compulsiva pode ser encontrada em diferentes partes do Mundo e


em diversos contextos culturais.

A prevalência da Perturbação obsessiva-compulsiva e algumas variáveis demográficas a ela


associadas (exemplos: distribuição por género e idade de início) são muito semelhantes entre
culturas.

Nos últimos anos verificou-se um aumento das obsessões e compulsões relacionadas com o
vírus da VIH / SIDA e com o coronavírus SARS-CoV-2 (desde 2020, com o eclodir da pandemia
CIVD-19).

PERTURBAÇÃO OBSESSIVO-COMPULSIVA: CONTINUAÇÃO:

A gravidez, o parto e o puerpério parecem constituir períodos de maior risco de início ou


agravamento dos sintomas obsessivo-compulsivos.

A Perturbação obsessiva-compulsiva perinatal.

Existência de pensamentos intrusivos “normais” no período perinatal.


COMORBILIDADE PERTURBAÇÕES MAIS FREQUENTES:

76%: Perturbações de Ansiedade: Perturbação de Pânico, Fobia Social, Perturbação de


Ansiedade Generalizada e Fobias Específicas.

41% - 42%: Perturbações do Humor, Perturbação Depressiva Major (41%) ou Perturbação


bipolar (42%).

23% - 32%: Perturbações da Personalidade.

30%: Perturbações de Tiques (Síndrome de Tourette).

12%: Perturbações do Espectro da Esquizofrenia.

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL:

Distinguir de fenómenos obsessivoides: Sintomas associados a cansaço e stress (distinguem-


se não só ela sua intensidade e frequência, com também por não causarem prejuízo ou
incapacidade significativa ao indivíduo).

Perturbações Psicóticas: As ideias delirantes são egossintónicas, interpretadas como


pertencendo ao próprio, enquanto que as ideias obsessivas são classicamente egodistónicas,
reconhecidas como próprias mas absurdas e são refutadas ao máximo. Existência na psicose de
alucinações, delírios e alterações formais do pensamento.

Perturbação Dismórfica Corporal: As preocupações da Perturbação Dismórfica Corporal


diferem das obsessões da Perturbação obsessiva-compulsiva, uma vez que o foco das primeiras
centra-se na aparência física. As obsessões da Perturbação Dismórfica Corporal caracterizam-se
por um menor insight do que as obsessões da Perturbação obsessiva-compulsiva.

Personalidade Obessivo – Compulsiva: A presença de verdadeiras obsessões ou compulsões


estabelece o diagnóstico diferencial.

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CASO PRÁTICO: PERTURBAÇÃO OBSESSIVA-COMPULSIVA (POC):

DADOS BIOGRÁFICOS – M.:

MOTIVO DA CONSULTA:

Encaminhada pelo psiquiatra devido a sintomatologia obsessivo-compulsiva grave, sob o


parecer de poder beneficiar de psicoterapia cognitivo-comportamental, concomitantemente
com intervenção psicofarmacológica.
DIFICULDADES ATUAIS:

1) Sintomatologia Obsessivo-Compulsiva:

1.1) Contaminação e limpeza:

• Obsessões recorrentes relacionadas com sujidade e germes, receando "ficar porca,


suja”, bem como pensamentos de que as coisas "estão contaminadas, sujas".
• Compulsões: Lavagens das mãos, verificações, etc.
• Preocupação e nojo excessivo de excreções ou secreções corporais.
• Grau de interferência grave, isto é, considera que lhe causa limitação substancial no
desempenho social ou académico e ocupam-lhe mais de 8 horas por dia.

1.2) Sexuais e Religiosas:

• Existência de pensamentos, imagens ou impulsos sexuais "proibidos ou impróprios”,


obsessões sexuais que envolvem crianças ou incesto, bem como obsessões sobre
comportamento sexual violento dirigido a outras pessoas.
• Preocupação sobre ter pensamentos blasfemos, nomeadamente a ocorrência de
imagens mentais das interpretações que faz do diabo.
• Obsessões relacionadas com o que é “certo” ou “errado” do ponto de vista moral e
medo de dizer algo considerado desrespeitador.
• Compulsões: confessar ou perguntar coisas, principalmente à mãe, de modo a garantir
que não fez nem disse nada de errado.
• Grau de interferência moderado, isto é, possui uma interferência decisiva no
desempenho social ou ocupacional, contudo, ainda manuseável, e ocupam-lhe mais de
3 horas por semana, mas menos de 1 hora por dia.

1.3) Simetria, Ordem, Contagem e Organização:

• Obsessões sobre precisar que as coisas estejam "mesmo bem" e sobre simetria,
nomeadamente com a letra, contanto que, muitas vezes, nas aulas, demora muito
tempo a tirar apontamentos a fazer a letra de forma "perfeita”.
• Verifica várias vezes se não comete erros e relê e reescreve as coisas.
• Reporta que, se iniciar um ritual antes de estudar, sente necessidade de o finalizar, não
o conseguindo interromper, o que leva a ritualizações consecutivas.
• Compulsões: Contagem, ordenação e organização e afirma ter necessidade de tocar
em objetos simétricos.
• Grau de interferência grave e ocupam-lhe até 8 horas diárias.

1.4) Dano devido a Lesão, Violência, Agressão ou Desastres Naturais:

• Obsessões relacionadas com a possibilidade de se magoar a si própria ou sobre ser


magoada por outrem, verificando várias vezes se não se magoou ou foi magoada.
Obsessões acerca da possibilidade de magoar outras pessoas ou de ser responsável por
algo terrível acontecer, nomeadamente à mãe.
• Ocorrência de imagens violentas na sua mente, obsessões acerca da possibilidade de
insultar ou dizer obscenidades, realizar algo considerado embaraçoso, agir sobre um
impulso indesejado.
• Rituais mentais para além da verificação, por exemplo, tentar ter um pensamento
"bom" para desfazer o "mau".
• Os rituais possuem um grau de interferência moderado ocupam-lhe até 8 horas
diárias.

2) Dificuldades ao nível interpessoal, apresentando episódios de "irritabilidade súbita.

DIAGNÓSTICO – DSM-V:

1) Perturbação Obsessivo-Compulsiva [300.3 (F42)]:

Verifica-se a presença de obsessões, nomeadamente pensamentos e imagens, recorrentes e


persistentes (durante mais de 8h por dia), que a doente encara como intrusivos e indesejados,
constituindo-se como fatores de sofrimento.

Estes estão relacionados com diversas temáticas, tal como medo de ser contaminada, bem
como incerteza relativamente ao estado de limpeza dos, obsessões sexuais e religiosas, de
simetria, e de dano, temendo que se não realizar determinadas ações (rituais), algo de mal
aconteça.

A doente evita determinados locais e tenta neutralizar as obsessões através de ações que
possam prevenir / evitar que as suas obsessões, ou que algo danoso aconteça a alguém
(Critério A – (1).

Surgem compulsões, onde a doente se sente compelida a realizar comportamentos repetitivos,


como lavar as mãos e verificar se a sua roupa tem manchas de sujidade, de forma a evitar a
contaminação, e a realizar determinadas ações, de forma a prevenir a ocorrência desse evento,
já que a doente se sentiria responsável e culpada por não o fazer.

Estas compulsões reduzem a ansiedade e sofrimento gerado pelas obsessões (Critério A – (2)).

A doente afirma que estes comportamentos surgem constantemente durante o dia, todos os
dias, tendo dificuldade em identificar o número total de horas que ritualiza, já que considera
que “pode ser durante 2 minutos, mas depois estar horas a ruminar”, afirmando ainda ruminar
acerca de locais onde tocou há 5 anos.

No entanto, localiza a duração de obsessões e compulsões relacionadas com contaminação,


por exemplo, como durando mais de 8h diárias.

A sua sintomatologia acarreta sofrimento significativo e prejudica as diferentes áreas de vida


(Critério B).

Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos de uma substância ou condição médica e
não são melhor explicados por uma outra perturbação mental (Critérios C e D).

Verifica-se a existência de um insight bom ou razoável, uma vez que a doente, quando não
está perante uma situação evocadora de obsessões, consegue reconhecer que as suas crenças
provavelmente não são verdadeiras.

Não foi apurada a presença de história presente ou passada de perturbação de tiques.

2) Perturbação de Personalidade Borderline:

M apresenta um padrão global de instabilidade no relacionamento interpessoal, na


autoimagem e nos afetos, e impulsividade marcada, que se verifica ao longo de diversos
contextos, nomeadamente em tentativas frenéticas para evitar o abandono, verificadas tanto
nos seus relatos onde indica que, sempre que discute com a mãe, "tenho de resolver logo",
devido ao receio de perder a figura materna e que esta deixe de gostar de si, mas também nas
relações com pares (Critério A1).

Existe uma grande instabilidade nas suas relações interpessoais, uma vez que esta afirma que,
quando é convidada para algo, nunca quer ir, no entanto, arrepende-se quando não vai, ou, se
for, afirma que “depois já não quero ir embora”. Relata que os seus amigos são "os únicos
minimamente estáveis", no entanto, fica semanas sem lhes responder às mensagens. Reporta
também que "vivo a vida agarrada à minha mãe” e que não vive sem ela, no entanto, é
também com quem mais se chateia e discute.

M não apresenta relacionamentos amorosos significativos, revela-se difícil avaliar a existência


de ideais opostos de idealização e desvalorização no que concerne às relações interpessoais
(Critério A2, parcialmente cumprido).

M apresenta uma autoimagem persistentemente instável, dado que a própria, quando


questionada acerca do seu autoconceito, refere que "honestamente, não sei bem o que acho,
varia muito ao longo do dia”, sendo que por vezes pensa “não valho nada" (Critério A3).

M apresenta acentuada reatividade do humor, nomeadamente um elevado grau de


irritabilidade súbita, nomeadamente quando está em público, afirmando sentir-se “irritada,
como se fosse explodir, fico mesmo com raiva, tudo me irrita“.

Estes acessos de raiva prejudicam o seu funcionamento familiar e social (Critério A6).

Os episódios de raiva intensa são frequentemente inapropriados, ocorrendo num vasto nível
de áreas, nomeadamente a nível familiar, a nível social, uma vez que esta raiva é despoletada
por estímulos mínimos quando se encontra em público e a nível escolar (Critério A8).

Poderão estar presentes sintomas dissociativos graves, face à sua afirmação de que, nas aulas,
tem a sensação de que "acordei e tenho medo de estar ali, tudo fica amplificado, até o som, é
como se estivesse nua, não sei que mal me podia acontecer” (Critério A9, possivelmente
cumprido).

M relata episódios de automutilação, circunscrevendo-se a cortes e queimaduras,


especialmente nos braços e nas pernas, face aos quais a doente afirma sentir “alivio”.

Conta também já ter pensado em suicídio, ainda que não pense concretizar (Critério A5).

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: PERTURBAÇÃO OBSESSIVO-COMPULSIVA [300.3 (F42)]:

Na Perturbação Depressiva Major é característica a presença de ruminações, congruentes com


o estado de humor disfórico experienciado, não sendo, no entanto, percecionadas como
intrusivas, ao contrário do que sucede na Perturbação Obsessivo-Compulsiva.

A Perturbação de Ansiedade Generalizada é tipicamente caracterizada pela presença de um


grande número de preocupações, relacionadas com a vida real, ao passo que, nas obsessões,
estas não se circunscrevem a estes aspetos.

No que concerne à Perturbação de Ansiedade Social, ao contrário do que sucede nesta


patologia, a sintomatologia de M, nomeadamente as situações temidas e os evitamentos
realizados, não se circunscrevem a situações de interação social, estando presente numa vasta
multiplicidade de contextos.
Relativamente à Perturbação Obsessivo-Compulsiva da Personalidade, ainda que a doente
apresente algumas crenças relacionadas com perfecionismo, nomeadamente a simetria das
letras, deve ter-se em conta que muitas destas crenças de necessidade de simetria se
relacionam com a convicção de que tal leva à prevenção de uma catástrofe.

Relativamente às Perturbações Psicóticas, ainda que a doente apresente algumas obsessões e


compulsões consideradas bizarras, a doente possui um bom insight acerca das mesmas,
reconhecendo, quando não está perante uma situação evocadora de obsessões, as suas
crenças provavelmente não são verdadeiras. Não foram reportadas alterações formais do
pensamento.

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