Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
* Wendel Pinheiro
1. Introdução
Para entendermos a respeito das origens do PDT e de sua doutrina política, é necessário
sabermos, em rápidas linhas, sobre a breve História do Brasil República. Assim, falar do
trabalhismo é, ao mesmo tempo, entender as transformações políticas, sociais e
econômicas compreendidas até hoje e saber o papel do trabalhismo neste processo de
reformulações políticas, desde o antigo PTB de Getúlio Vargas.
Para entender o grau do alcance das conquistas trabalhistas, nada melhor que darmos
uma rápida passada em torno da Primeira República (ou como queiram chamar,
República Velha) e analisar o quadro social e político, onde se situava o trabalhador
brasileiro.
Nas primeiras décadas do século XX, raras eram as legislações que amparavam os
trabalhadores, por conta do nascente processo de industrialização. A maioria das leis
considerava as greves e protestos como “casos de polícia”. Trabalhadores eram presos e
interrogados por reivindicarem direitos até então elementares, como, por exemplo, a
redução da jornada de trabalho, a melhoria das condições de trabalho, a regulamentação
do trabalho feminino e infantil, o direito às ferias e a criação de um salário-mínimo, dentre
outras reivindicações do movimento operário. Poucas categorias profissionais tinham, de
fato, alguns desses direitos.
Página 01
através do liberal-conservadorismo promovido pelas oligarquias cafeeiras dominantes.
Isto se dava por meio do pacto “café com leite” 1. A derrota de Getúlio Vargas, por meio
das práticas eleitorais fraudulentas presentes na Primeira República, e o assassinato do
seu aliado político, João Pessoa (governador da Paraíba) precipitaram as condições para
a vitória da Revolução de 1930 que conduziu Vargas à Presidência da República.
Vargas, dentro das suas primeiras atuações, criou o Ministério do Trabalho, Indústria e
Comércio, criando leis de proteção ao trabalhador. Como exemplo, podemos citar a lei
dos dois terços, onde 2/3 dos trabalhadores de uma empresa deveriam ter a
nacionalidade brasileira, revertendo, assim, a máfia constituída por donos de comércio
oriundos de Portugal, da Itália e da Alemanha que protegiam seus compatriotas.
Página 02
Em meio às transformações políticas e à vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial,
Vargas obtém o apoio dos trabalhadores e do recém-criado PCB de Luis Carlos Prestes,
por meio do Movimento Queremista, onde queriam que Vargas pudesse criar a
Assembléia Constituinte e realizasse as eleições para a Presidência, sendo ele o
candidato escolhido pelos trabalhadores.
Com receio da ascensão dos movimentos populares e com a aliança entre Vargas e os
comunistas, os setores políticos conservadores e de oposição a Getúlio promoveram um
golpe em outubro de 1945, tendo à frente José Linhares na Presidência da República,
promovendo as eleições presidenciais e para as cadeiras nas Assembléias Legislativas e
Nacional Constituinte.
Sobre o nascente pluripartidarismo, nasceram algumas legendas políticas que até hoje,
de forma direta ou subsidiária, dão sustentação ideológica. À direita, surgia a União
Democrática Nacional (UDN), de perfil liberal-conservador, reunindo os segmentos de
oposição a Vargas, grandes parcelas da classe média e da intelectualidade antivarguista
e os quadros da burguesia associada ao capital norte-americano. Ao centro, com
variações entre a centro-direita (por meio dos democratas liberais) e alguns setores
progressistas, surgiria o Partido Social Democrático (PSD), tendo entre os seus quadros
os antigos interventores e quadros administrativos pertencentes ao governo de Vargas, os
grandes industriais e latifundiários.
Página 03
ele, ao lado do PTB, teria um papel decisivo nos momentos políticos cruciais – dada à
questão conjuntural da política internacional em torno da Guerra Fria.
Após a vitória de Eurico Gaspar Dutra, pela aliança PSD-PTB, sobre o Brigadeiro Eduardo
Gomes (UDN), Dutra terá ações políticas que cercearão os trabalhadores do direito de
greve e de associação sindical. Vários militantes sindicais são presos. Sindicatos são
fechados e suas sedes são depredadas, além do PCB ser proscrito em 1947. Os salários
dos trabalhadores são defasados pelo aumento do custo de vida e as reservas financeiras
do país, adquiridas na II Guerra Mundial, são gastas por meio da aquisição, no Governo
Dutra, de produtos supérfluos.
Com estas razões, Vargas volta, por meio do PTB, à Presidência da República, com
48,7% dos votos. Em uma arrojada proposição nacional-desenvolvimentista, Vargas,
através da Campanha “O petróleo é nosso4”, cria a PETROBRAS e elabora o projeto da
criação da ELETROBRAS, criada apenas no Governo de João Goulart (1961-1964).
Reformulando a linha de diálogo com os trabalhadores, inexistente no Governo Dutra,
Vargas põe João Goulart (Jango) no Ministério do Trabalho, em meados de 1953, com o
intuito de promover o diálogo entre o governo e os sindicatos.
4
O movimento “O petróleo é nosso” teria o apoio do movimento sindical, dos amplos setores
populares e da União Nacional dos Estudantes (UNE), no final da década de 1930, com o apoio de
Getúlio Vargas.
Página 04
sugestão de Jango no dia 1º de maio de 1954, ao aprovar o aumento do salário-mínimo
em 100%.
O PTB passa a ser o depositário do legado trabalhista de Getúlio Vargas e por meio da
tese nacionalista e reformista, calcará as suas linhas políticas pela ação dos
parlamentares petebistas e dos governadores eleitos pelo Partido – em especial, durante
o Governo de Juscelino Kubitschek (JK). Dentre os seus grandes quadros, estariam, além
de Jango, lideranças emergentes como Alberto Pasqualini, Fernando Ferrari, Lúcio
Bittencourt, Santiago Dantas, Sérgio Magalhães, Eloy Dutra, Roberto da Silveira e, em
destaque, Leonel Brizola.
Página 05
direitos trabalhistas, é aprovado o 13º salário (no final de 1962). Os movimentos
camponeses passam a reivindicar pela ampliação dos direitos sociais presentes na CLT.
O Governo Jango foi, assim, um grande período marcado pela participação da população,
através das entidades e associações. Uma participação ampla, exigindo a ampliação dos
direitos sociais e políticos, opinando, inclusive, nos rumos políticos do governo. As teses
reformistas, antiimperialistas e de independência nacional presentes no PTB estariam
mais radicalizadas na tendência partidária denominada “Ala Compacta” que participava
tanto na FPN (Frente Parlamentar Nacionalista) quanto na FMP (Frente de Mobilização
Popular), liderada por Leonel Brizola.
Líderes sindicais foram presos e as sedes de sindicatos foram fechadas. Os jornais pró-
Jango (como o Última Hora) foram empastelados e a sede da UNE foi incendiada pelos
grupos anticomunistas. Líderes políticos e sindicais progressistas, ligados ao PTB e PCB
tiveram seus direitos políticos cassados. A UDN e a grande parcela do PSD votaria, em
eleição indireta, para Castelo Branco exercer a Presidência da República, no início de
abril de 1964.
Página 06
4. O Regime Militar (1964-1985)
Seja como for, o PTB seria o partido mais castigado e perseguido, ao lado do PCB, com
as contínuas cassações dos direitos políticos de seus respectivos quadros partidários, por
meio do Ato Institucional nº 01 (AI-1). Se não eram cassados, por outro lado tornavam-se
inelegíveis com a aplicação de novas leis casuísticas – como a Lei das Inelegibilidades,
em julho de 1965, impedindo o Marechal Henrique Lott e Hélio de Almeida, por exemplo,
em se candidatarem como Governador da Guanabara.
Seja como for, tais medidas arbitrárias, em tese, favoreceriam a UDN, inclusive para as
eleições presidenciais que seriam, a princípio, em 1965. Carlos Lacerda, com a ausência
de Jango, Brizola, Arraes e JK, se tornava um candidato em potencial pela UDN à
Presidência da República. No entanto, os sonhos de Lacerda seriam boicotados pela
prorrogação do mandato presidencial até 1966, cabendo ao líder udenista a fazer uma
oposição cada vez maior ao regime que ele apoiara.
Página 07
individuais e coletivos mais elementares. A perseguição aos comunistas e opositores ao
Regime torna-se a ação política de Estado, na busca do “inimigo interno” de caráter
“subversivo”. Prisões, torturas e mortes às lideranças sindicais, comunitárias e estudantis,
além do fechamento do Congresso Nacional e o exercício de práticas autoritárias dão o
tom do que seria a linha política presente nos governos Costa e Silva (1967-1969) e
Médici (1969-1974).
A partir do Governo Geisel, em 1974, e com a vitória da oposição sobre o governo nas
eleições do mesmo ano, começa a distensão do processo de redemocratização – fato que
se avançaria mais com o fim do bipartidarismo e a criação de novas legendas. E a partir
delas que surgiria a fundação do Partido Democrático Trabalhista (PDT).
Por outro lado, o grupo de Ivete Vargas, composto por quadros conservadores, tinha uma
forte entrada no Regime Militar e obteve o apoio do Ministro da Casa Civil do Governo de
João Batista Figueiredo, o General Golbery do Couto e Silva. Golbery, tendo em mente
sobre a inconveniência da sigla do PTB nas mãos de Leonel Brizola, remontando à áurea
varguista e janguista, nega a sigla ao grupo brizolista (que, dentre seus integrantes,
tinham quadros ligados a Jango e a Prestes) e concede a legenda petebista ao grupo de
Ivete, em 12 de maio de 1980.
Página 08
Sem qualquer possibilidade de reconciliação entre ambos os grupos, por conta da linha
progressista do novo trabalhismo brizolista, Brizola, em um gesto de desespero e tristeza,
chora e rasga um papel com o escrito da sigla do PTB. Após isso, em uma reunião do
Encontro Nacional dos Trabalhistas promovida entre os dias 17 e 18 de maio no Palácio
Tiradentes, sede da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, haveria a fundação oficial
do Partido do Trabalhismo Democrático (PTD), fazendo uma releitura do antigo
trabalhismo, frente às demandas contemporâneas. No entanto, com as regras eleitorais
proibindo fonemas parecidos nas siglas partidárias, a sigla PTD é inviabilizada e em 26 de
maio de 1980, o Partido Democrático Trabalhista (PDT) é fundado, tendo o seu registro
definitivo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em novembro de 1981.
Posteriormente, seja pela sua atuação política e pelos resultados eleitorais, o PDT guarda
até hoje o legado trabalhista do antigo PTB pré-1964, pelas ações políticas de Leonel
Brizola, liderança maior da legenda, e por diversos quadros políticos e parlamentares, em
fidedignidade aos princípios históricos nacionalistas, trabalhistas e democrático-
populares. Seja como for, é indispensável, inclusive nos tempos atuais, pensarmos na
conjuntura política nacional, sem fazermos alusão aos progressos e conquistas dos
trabalhadores, estudantes e setores populares, por intermédio do trabalhismo.
Página 09