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Resumo
O Congueiro divulga, nas redes sociais, produções audiovisuais do projeto de pesquisa
Holoteca digital do congo capixaba, servindo de meio de compartilhamento de
material etnográfico acerca do congo do Espírito Santo. As redes sociais e o
compartilhamento de vídeos pela internet possibilitam novas formas de
documentação das práticas e dos saberes tradicionais do congo, induzindo o
pesquisador realizador a encontrar caminhos entre a etnografia e o documentário
audiovisual.
Palavras-chave: documentário audiovisual; congo capixaba; etnografia.
Resumo longo
1
José Otavio Lobo Name - Professor de Antropologia Visual, Fotografia e Vídeo do Departamento de
Desenho Industrial - Centro de Artes da Universidade Federal do Espírito Santo - Vitória, ES, Brasil.
email: jose.name@ufes.br
Este artigo apresenta as bases metodológicas e conceituais do projeto de
pesquisa Holoteca digital do congo capixaba, atualmente em desenvolvimento na
Universidade Federal do Espírito Santo, com financiamento de bolsista de iniciação
científica concedido pela Fundação de Amaro à Pesquisa do Estado do Espírito Santo
(Fapes), e Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq); e traz também seus primeiros
resultados em termos de dados oriundos da observação e da experiência empírica.
Apresenta também a caracterização, objetivos e resultados preliminares relativos a O
Congueiro, que é um conjunto de páginas de redes sociais construído para a difusão do
material produzido e para o estabelecimento de interação com os grupos estudados e
o púbico em geral.
Paradigmas conceituais
Apesar do que parece ser uma atenção do documentarista para com as pessoas
e situações retratadas, observa-se, de uma maneira geral, que no campo do
documentário a ênfase maior está sobre o autor, e não sobre seu objeto. Jean Rouch,
por exemplo, ao apresentar suas restrições às equipes de filmagem, parece fazê-lo em
relação ao grupo que está sendo documentado: o técnico de som deveria, em sua
opinião, ser um falante da língua local; o diretor deveria ser o operador de câmera; o
etnógrafo deveria conviver ao máximo com o grupo retratado. Quando não procura
esconder os procedimentos técnicos de filmagem, característica de seu cinéma-vérité,
acaba por colocá-los em primeiro plano, sujeitando os retratados à lógica de produção
(ROUCH, 2003, p. 87).
Por sua vez, Bill Nichols, uma das principais referências contemporâneas em
documentário audiovisual, ao estabelecer que uma representação da realidade é, em
si, uma ficção (fabricação, em tradução direta), não deixa de reforçar o papel do
documentarista no processo, mas oferece a perspectiva de que o outro da narrativa
documental existe em uma relação metafórica com a cultura de onde advém
(NICHOLS, 1991, p. 204). Ou seja, no estabelecimento de seu objeto da documentação,
o realizador impõe-lhe sua alteridade. O outro interessa porque interrompe uma
narrativa hegemônica, apresentando paradigmas que não encontram espelho na
sociedade que o olha.
Deste modo, são esses os aspectos conceituais que este projeto encara: o
problema da alteridade, procurando fugir do exotismo e do estereótipo; os problemas
de relacionamento e da presença do documentarista; e as relações de construção de
identidades e de saberes que se estabelece durante a documentação.
Além disso, cada captura pode ser entendida como o "esboço" da seguinte,
contribuindo, com sua releitura, para a maior familiaridade do realizador para com o
que se irá desenrolar frente à câmera (COMOLLI, 2009, p. 25)
O Congueiro
Considerações finais
Embora não faça parte do escopo deste trabalho analisar como o congo vem
sendo mostrado na mídia local, é notório que esta reforça estereótipos negativos
acerca da devoção e de seus praticantes, relacionando-os à pobreza, à ignorância, à
arruaça e bebedeiras. Os vídeos do projeto não procuram mascarar nenhuma
realidade, que inclui alguns excessos cometidos, durantes as grandes festas, em geral
por pessoas externas ao congo. Mas é objetivo, sim, do projeto, contribuir para a
valorização do congo, e um resultado positivo é observar o aumento da autoestima de
seus praticantes provocado pelas aparições nos vídeos.
Referências bibliográficas
RAMOS, Fernão Pessoa. Mas afinal... o que é mesmo documentário? São Paulo:
Editora SENAC, 2013.
ROUCH, Jean. "Camera and man" in HOCKINGS, Paul (org.). Principles of visual
anthropology. Berlim, Nova York: Mouton de Gruyter, 2003.