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Caderno de Prova ’02’, Tipo 001

CONHECIMENTOS GERAIS
Língua Portuguesa
Atenção: Para responder às questões de números 1 a 7, baseie-se no texto abaixo.

Sabedoria de Sêneca

Entre as tantas reflexões sábias que o filósofo estoico Sêneca nos deixou encontra-se esta: “Deve-se misturar e alternar a
solidão e a comunicação. Aquela nos incutirá o desejo do convívio social, esta, o desejo de nós mesmos; e uma será o remédio da
outra: a solidão curará nossa aversão à multidão, a multidão, nosso tédio à solidão”. É uma proposta admirável de equilíbrio, válida
tanto para o século I, na pujança do Império Romano em que Sêneca viveu, como para o nosso, em que precisamos viver. É próprio,
aliás, dos grandes pensadores, formular verdades que não envelhecem.
Nesse seu preciso aconselhamento, Sêneca encontra a possibilidade de harmonização entre duas necessidades opostas e
aparentemente inconciliáveis. O decidido amor à solidão ou a necessidade ingente de convívio com os outros excluem-se, a princípio,
e marcariam personalidades radicalmente distintas. Mas Sêneca sabe que ambas podem ser insatisfatórias em si mesmas: a
natureza humana comporta impulsos contraditórios. Por isso está no sistema filosófico dos estoicos a noção de equilíbrio como
princípio inescapável para o que consideram, como o melhor dos nossos destinos, a “tranquilidade da alma”.
Esse equilíbrio supõe aceitarmos as tensões polarizadas de nossa natureza dividida e aproveitar de cada polaridade o que
ela tenha de melhor: a solidão nos impulsiona para o reconhecimento de nós mesmos, para a nossa identidade íntima, para a
diferença que nos identifica entre todos; a companhia nos faz reconhecer a identidade do outro, movida pela mesma força que
constitui a nossa. Sêneca, ao reconhecer que somos unos em nós mesmos, lembra que essa mesma instância de unidade está em
todos nós, e tem um nome: humanidade.
(Altino Sampaio, inédito)

1. Em síntese, a reflexão de Sêneca transcrita no texto incide sobre


(A) um diálogo entre duas situações radicalmente opostas, no qual cada uma só se afirma na medida em que suprime a outra.

(B) uma oposição entre sentimentos supostamente inconciliáveis que, no entanto, ganham complementaridade em sua alter-
nância.

(C) uma contenda entre duas iniciativas de comportamento na qual ambas são superadas pelo surgimento de uma terceira
alternativa.

(D) uma alternância entre duas soluções para um único problema, qual seja, o do indivíduo que só deseja superar seu estado
de isolamento.

(E) um confronto entre duas providências radicalmente opostas, que devem ser mantidas nessa condição estática para se
fortalecerem.

2. Ao considerar uma relação entre a aversão à multidão e o tédio à solidão, Sêneca subentende que
(A) ambos os sentimentos representam a mesma necessidade que têm as pessoas de afirmar sua autossuficiência diante da
incompletude alheia.

(B) a qualidade salientada em cada um desses estados faz com que nenhum deles, em separado, seja visto com carga ne-
gativa.

(C) multidão e solidão são, em si mesmas, condições humanas satisfatórias, sobretudo quando a cada uma delas se atribua
um valor absoluto.

(D) a comunicação e o isolamento são alternativas passageiras, já que sempre optamos por um deles como escolha definitiva.

(E) a qualidade negativa de cada um dos termos dessa relação é o que levará ao reconhecimento da necessidade que tem do
outro.

3. Considerando-se o contexto, traduz-se adequadamente o sentido de um segmento do texto em:


o
(A) formular verdades que não envelhecem (1 parágrafo) = fomentar razões permanentes
o
(B) Esse equilíbrio supõe aceitarmos (3 parágrafo) = Tal estabilidade conta com que admitamos
o
(C) necessidades opostas e aparentemente inconciliáveis (2 parágrafo) = motivos divergentes e supostamente irretratáveis.
o
(D) princípio inescapável (2 parágrafo) = postulado inapreensível
o
(E) nos incutirá o desejo do convívio (1 parágrafo) = estimulará nosso intento de cumplicidade
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Caderno de Prova ’02’, Tipo 001
4. Está plenamente correta, clara e coerente a redação deste livre comentário sobre o texto:

(A) Lendo esta passagem de Sêneca, é forçoso admitir-se de que suas verdades falam fundo conosco mesmos, uma vez que
enaltecem tanto nossos defeitos quanto nossas virtudes.

(B) É próprio do estoicismo a decisão de buscar a qualquer custo o equilíbrio onde as forças opostas ensejem combinar-se de
modo a constituir uma plena harmonização entre si.

(C) Trata-se de encontrar conforto em nosso ilhamento social, quando este significa sobretudo, esquecermos de que somos
uma espécie constituída para se contar com as regras de um bom convívio.

(D) Àqueles que se censuram, culpando-se por sua aversão à vida social, Sêneca lembra que esse sentimento pode ser supe-
rado, quando o tédio à solidão leva à busca da multidão.

(E) Sêneca encontrou numa alternativa entre vida pessoal e vida pública a fórmula para remeter uma a outra, de modo que
ambas possam ser objeto de insatisfação à medida mesma em que se complementam.

5. Há forma verbal na voz passiva e pleno atendimento às normas de concordância na frase:

(A) Aconselhamentos precisos, como os de Sêneca, são aqueles a que não faltam a certeza da boa aplicação, seguido do
efeito maior da paz de espírito.

(B) São de se exaltar entre as tantas reflexões de Sêneca sua acuidade em buscar preservar o senso de equilíbrio nas difíceis
escolhas humanas.

(C) Em meio a tensões polarizadas, é comum que se ignorem a necessidade de equilíbrio dentro da alternância, parece
advertir-nos o postulado de Sêneca.

(D) Não há por que considerar definitivo, em nosso cotidiano, impulsos contraditórios que dividem nossos desejos e desafiam
nosso equilíbrio.

(E) Uma vez atendidas as duas necessidades humanas a que Sêneca faz referência, preservam-se igualmente o senso de
equilíbrio e a dialética.

6. A pontuação e a correlação entre tempos e modos verbais ocorrem de modo plenamente adequado na frase:

(A) Sêneca numa de suas reflexões mais sábias acredita que nossa natureza, dividida pode compensar essa divisão, com o
recurso da consciente alternância.

(B) Se a solidão não nos impulsionasse, para o reconhecimento de nós mesmos, não haverá qualquer vantagem, em nos
rendermos ocasionalmente a ela.

(C) Acredita Sêneca que toda lição sabiamente apreendida por um poderá servir-nos a todos, uma vez reconhecidos como
seres igualmente unos em nós mesmos.

(D) Esse equilíbrio, suporia que aceitemos as tensões que venham a polarizar nossa natureza dividida por exemplo, entre o
estado de solidão e a vida comunicativa.

(E) Caso a solidão venha a ocorrer, como um estigma definitivo, seria possível que se perca de vez a própria necessidade de
comunicação, que estaria na nossa natureza.

7. Tratando do estado de solidão ou da necessidade de convívio, Sêneca vê no estado de solidão uma contrapartida da
necessidade de convívio, assim como vê na necessidade de convívio uma abertura para encontrar satisfação no estado de
solidão.

Evitam-se as viciosas repetições do texto acima substituindo-se os elementos grifados, na ordem dada, por:

(A) naquele − desta − nesta − naquele

(B) nisso − daquilo − naquela − deste

(C) este − do outro − na primeira − no último

(D) nisto − disso − naquela − desse

(E) na primeira − do segundo − numa − noutra

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