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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

EFLCH - ESCOLA DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO

CAIO PINHEIRO DOS SANTOS

PEDAGOGIA DO SLAM POR UMA EDUCAÇÃO


ARTEIRA

GUARULHOS
2022
CAIO PINHEIRO DOS SANTOS

PEDAGOGIA DO SLAM POR UMA EDUCAÇÃO ARTEIRA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Universidade Federal de São Paulo como requisito
parcial para obtenção do grau em Licenciado em
Pedagogia. Orientador: Profa. Dra. Ellen de Lima Souza

GUARULHOS
2022

1
Na qualidade de titular dos direitos autorais, em consonância com a Lei de direitos autorais no
9610/98, autorizo a publicação livre e gratuita desse trabalho no Repositório Institucional da
UNIFESP ou em outro meio eletrônico da instituição, sem qualquer ressarcimento dos direitos
autorais para leitura, impressão e/ou download em meio eletrônico para fins de divulgação
intelectual, desde que citada a fonte.

FICHA CATALOGRÁFICA

Santos, Caio Pinheiro dos.


PEDAGOGIA DO SLAM POR UMA EDUCAÇÃO ARTEIRA

2022 – Páginas 27
Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Pedagogia). – Guarulhos: Universidade
Federal de São Paulo. Escola de Filosofia, Letras e Humanas.
Orientadora: Profa. Dra. Ellen de Lima Souza.

1. Pedagogia do Slam. 2. Educação Arteira. 3. Poesia


I. Souza, Ellen Lima Souza. II. PEDAGOGIA DO SLAM POR UMA EDUCAÇÃO
ARTEIRA.

2
CAIO PINHEIRO DOS SANTOS

PEDAGOGIA DO SLAM POR UMA EDUCAÇÃO ARTEIRA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


à Universidade Federal de São Paulo como
requisito parcial para obtenção do grau em
Licenciado em Pedagogia. Orientadora: Profa.
Dra. Ellen de Lima Souza

Aprovado em: _______/_______/________

_____________________________________________________
Orientador(a): Profa. Dra. Ellen de Lima Souza - UNIFESP

_____________________________________________________
Prof. Dr. Cleber Santos Vieira - UNIFESP

_____________________________________________________
Prof. Dr. Christian Fernando dos Santos Moura - IFSP CJO

3
AGRADECIMENTOS

Eu não sou apenas Caio Pinheiro, eu sou minha família, sou os sonhos de meu pai, Alencar
Pinheiro dos Santos, e os desejos de minha mãe, Adriana da Silva Nascimento, sou a
inspiração de minhas irmãs, Flávia Rocha, Bruna Rocha, Drielly Nascimento, sou o legado
dos meus irmãos que se foram, Felipe Santiago e Rodolfo Rocha, modelo de meus sobrinhos
e sobrinhas, não poderia chegar aqui sem eles, me apoiando, me desafiando e colocando
uma missão. A vocês eu digo meu mais profundo obrigado, vocês formaram um pedagogo e
um homem de coração bom. Quero fazer um agradecimento especial para Thaina, Giovana,
Gustavo, Guilherme, Kethllyn, Leonardo, Matheus, Maria Laura, Manuela, Manuely,
Charlotte, Gabrielly, Heloísa, Lorenzo, Bryan e Jorge meu sobrinhos, sobrinhas e afilhadas,
pois todo meu esforço, dedicação e luta é para que no futuro vocês não precisem lutar,
obrigado por serem minha motivação diária. Também agradeço a todo meu aquilombamento,
pretos e pretas que me fortaleceram com palavras e apoios em vários momentos, agradeço
meus amigos, minha, mais que especial companheira, não conseguiria chegar aqui se não
fossem vocês.

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RESUMO

O presente artigo busca apresentar uma estratégia metodológica para a educação arteira, na
arteira na encruzilhada entre espaços formais e não formais. E assim reconhecer que existe
uma pedagogia que se baseia no movimento cultural Slam, que se desenvolve com a
concepção de que a escola não seja o único ambiente socioeducador. A pedagogia do Slam
se organiza no reconhecimento da criança como protagonista em todos os ambientes de
aprendizagem. O movimento Slam, visa a autonomia da produção do conhecimento
emergindo da necessidade de se comunicar e ter sua voz respeitada e reconhecida para uma
educação arteira em diversos espaços educacionais. É exigido uma nova metodologia que
abarca e incentiva a participação da criança nessa produção do conhecimento teórico e
prático. Considerando que a educação é uma expressão artística segundo SOUZA (2016),
SOUZA, J. C. C. A (2020) e READ (2001). Uma pedagogia que se quer arteira, pode aportar-
se no Slam como recurso metodológico que traz na poesia um instrumento de competição e
divulgação de ideologias, a fim de estabelecer uma comunicação com a expressão artística
das ruas e da escola formal.

Palavras Chaves: Pedagogia Slam, Educação Arteira e Poesia.

5
ABSTRACT

This article seeks to present a methodological strategy for arts education in the arts at the
crossroads between formal and non-formal spaces, and thus recognize that there is a pedagogy
that is based on the Slam movement that develops with the conception that the school is not the
only socio-educational environment. Slam's pedagogy is organized around the recognition of
the child as a protagonist in all learning environments. The Slam movement aims at the
autonomy of the production of knowledge arising from the need to communicate and have their
voice respected and recognized, for an education for an art education in different educational
spaces, a new methodology is required that encompasses and encourages the participation of
the child in this production of theoretical and practical knowledge. Considering that education
is an artistic expression according to SOUZA (2016), SOUZA, J. C. C. A (2020) and READ
(2001), a pedagogy that wants to be an artist can use Slam as a methodological resource that
brings in poetry an instrument of competition and dissemination of ideologies in order to
establish communication with the artistic expression of the streets and the school.

Keywords: Slam Pedagogy, Arts Education, Poetry

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SUMÁRIO

1. O MOVIMENTO SLAM ……………………………………………………….…...11

1.1 Poesia falada: batalhas e encontros ………………………………………….…...14

2. PEDAGOGIA ARTEIRA EM CORPOS POÉTICOS ……………………………..16

3. A ORGANICIDADE DO SLAM EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES ………..…17

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS …………………………………………………….....23

5. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ………………………………………………...26

7
Lista de Poesias

Em 2022 Vão Gostar - Joice Zau …………………………………………………………….12

PM - Caio Pinheiro …………………………...…………………………………..………….15

Serei ao Crescer - Caio Pinheiro ……………………………………………………………..21

Mãe, seu filho tá em casa - Caio Pinheiro ……………………………………………………24

8
INTRODUÇÃO

O seguinte trabalho de conclusão de curso tem por finalidade explorar o slam como
uma forma, de ensino - aprendizagem e seus processos, conforme sugere Freire (1987), em
que todos os ambientes acontecem a aprendizagem. É possível ponderar uma pedagogia arteira
que não se limite a tradição de passar o conteúdo e decorá-los, mas sim uma metodologia ativa
de ensino e aprendizagem. Não se limita a obrigatoriedade das ligações institucionais e estatais
de ensino - que acontece interações interpessoais - existirá educação com uma primazia ao
que se refere o respeito pelas limitações de cada um. Dito isto, abordarei o desenvolvimento
da pedagogia do slam.
Sou escritor, apaixonado pela multiplicidade do processo da escrita e no Slam encontrei
um local de liberdade no ato de criação, a licença poética de forma excepcional para criar meus
versos, exibir minhas ideias e libertar sentimentos de diversas formas diferentes. Passei a
escrever poesias afrontosas e poesias combativas. No ano de 2015, em uma segunda-feira, eu
ouvi um dos poemas mais sinceros e fortes que eu já pude conhecer em vida e desde então vi
motivos para dar início a produção do meu livro "apagão". E como principal forma de
revolução na vida, escolhi a educação como o ato de rebeldia e de reafirmação do meu ser, e o
Slam é uma voz que acolhe a todos que se sintam marginalizados, aos pretos lutar contra o
racismo, as mulheres contra o machismo, aos pobres contra a elite, a realidade contra a fantasia.

A MÃO DO RACISMO E DO FASCISMO


É DA MESMA COR,
A COR BRANCA.

O slam, como poesia falada é um instrumento de manifestação da escrita, como forma


de garantir o acesso igualitário e de equidade para todos, acadêmicos e não acadêmicos, poetas
e prosadores, todos conseguem realizar uma apresentação, até mesmo os antigos contos sociais,
como as aventuras de Pedro Malasartes, os itãs, fábulas e histórias animadas. Sempre mantendo
um posicionamento lógico organizacional e a rima como foco principal, o Slam é uma escrita,
uma poesia que fala diretamente com quem está ouvindo.
E como tudo se modificou, em tempos pandêmicos, e agora pós-pandêmicos, o Slam
sofreu com a paralisação mundial, também parei com minha escrita e com a forma de lutar e

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sobreviver, saindo dos espaços sociais, me dediquei a produção do meu livro e realizei o
lançamento, de forma remota, do meu livro “Apagão” que mostra o meu primeiro e muitos
outros originais textos em Slam e desde então não parei minha produção, a perda de tantas
pessoas me deram um fôlego que não teria em outro momento, e desenvolver esse trabalho
com exatidão e comprometimento.
Observando a necessidade em que o ensino seja de forma circular, o presente trabalho
de conclusão de curso abordará a ação de um Slammer em busca de uma pedagogia que consiga
chegar desde da criança na favela, até a criança da cobertura, que a criança preta seja ouvida e
respeitada, a pedagogia Slam será um trampolim ideológico. Que este trabalho chegue a
população antes de gritarem, que no Brasil, o Slam é coisa de branco.

10
1. O MOVIMENTO SLAM

Conforme destaquei na introdução particularmente o Slam resistência 1 foi um divisor


de águas na minha vida, um passeio pelo centro da cidade de São Paulo ouvi um barulho e uma
poesia vindo da praça, ao me aproximar vi uma Slammer recitando, Mariana Felix estava
recitando seu poema “Zafira”2 , aqueles versos mexeram comigo e me liguei sentimentalmente
aquela forma de produção de arte de como se expressar e decidi que iria me integrar a aquele
movimento.
Como ressalva D’ALVA (2011) o movimento Slam Poetry surgiu em um bar em
Chicago em 1982 e hoje é um dos maiores eventos de poesia, possuindo bases em vários lugares
e uma competição global, que reúne poetas do mundo em uma grande competição de poesias.
Com a finalidade de explorar as possibilidades e os caminhos a percorrer, com o intuito de se
atingir uma noção pedagógica na qual a criança seja responsável interina e constante na sua
perspectiva de educação. Exibindo uma construção prática do conhecimento baseado no
movimento Slam, a fim de estabelecer uma comunicação com a cultura da rua para a escola.
O movimento SLAM, foi uma criação com base na popularização da poesia para
aqueles que estavam fora de ambientes intelectualizados e fora das escolas poéticas, que de
acordo com D’AVILA (2011, p. 120) a palavra slam vem da assimilação do barulho de portas
e janelas se fechando, do inglês britânico, o que em uma tradução literal seria equivalente ao
“bater” o som da palavra deu o som desse movimento.
Em 1986, o então operário e amante de poesia Mark Kelly Smith 3 , o grande Slam Papi,
desenvolveu uma atividade nas noites de quarta-feira, no Green Mill Jazz Club4 que abraçou o
poeta e realizou uma programação de microfone aberto, e foi dessa iniciativa que os poetas da

1
Slam resistência ocorre toda primeira segunda -feira do mês na praça rossevelt, começou em 2014 através de
reuniões de grupos poéticos idealizado por Adelson Chávez “Del Chávez" segundo o artigo “Slam Resistência:
A poesia e a voz de quem sempre sofreu calado” da revista Sampa inesgotável
2
Disponível em: Poema Safira - Slam Resistência
3
Nascido em 1949, frequentou a Charles P. Caldwell Elementary School, durante toda sua vida participou da
construção civil, mas sempre se considerou um poeta, criador do evento Uptown Poetry Slam, que futuramente
ficou conhecido apenas como Slam poetry, autor do livro Crowdpleaser 1996, e fundador da organização
National Poetry Slam.
4
Bar, situado em New Brooklyn em Chicago, que está em atividade até hoje, o local é conhecido como o berço
do slam.

11
região adotaram esta forma de poesia, que mistura não apenas a letra mas a entonação, o gesto
e as ideias revolucionárias também fazem parte do processo.
Futuramente, na década de 1990, o movimento tomou proporções gigantesca,
atravessando oceanos, o movimento slam se popularizou e criou bases em diversos países
diferentes, tanto em países da Europa, quando em países Africanos, aqui no Brasil o
movimento chegou em 2008 através do ZAP (Zona Autônoma da palavra) através da artista
Roberta Estrela D’Alva, e não demorou a se popularizar nas periferias da cidade de São Paulo
e nas cidades próximas, não demorando muito para se estender para todo o País.
O slam é uma performance de poesia, que ocorre nas periferias e em centros, no
Brasil o primeiro que se tem consciência é o Slam da Guilhermina em 2008 e futuramente,
vários outros surgiram, como o Slam Resistência, Slam das Minas, Slam Marginalia, isso
apenas em São Paulo, existem grupos por todo o país, em Minas Gerais, Bahia, Rio de
Janeiro, todos possuem grupos atuantes.
Bem como, o Slam BR é o campeonato nacional, do qual cada estado envia um ou uma
Slammer para a competição e o campeão representará o brasil na copa do mundo do Slam, o
brasil foi representado a partir de 2015 com o poeta mineiro João Paiva. Este ano, seremos
representados pela Slammer Joice Zau5 sua poesia “em 2022 Vão Gostar” é de tirar o fôlego
de tão exorbitante sentimentalismo.

Em 2022 Vão Gostar


É injusto
É injusto que os capítulos de um passado Maquiavélico perpetuam-se até hoje
como fina poeira que desaguam na indigestão dos nossos estômagos.
É injusto que a bandeira que um dia erguemos continua a demandar o sangue
das nossas dores atuais e evaporarem nossos sonhos
É injusto que sejas feitos de energia, carne e osso, sejam propagados espaços
siderais com promessas vazias que paira sobre o mar dos ouvidos ao ponto
dos olhos que perderam o ângulo da visualização daquilo que realmente nos
assola, mas já que a justiça tarda e não valha, é justo dizer que 2022 vão
gostar, porque palácios onde dormem no meio da fartura, no meio das
escondidas séries que executam Maldivas que pela pernuma que emanam
acabam executando vidas.

5
Ativista Artística Africana do ano, vice Campeã copa América de Slam, Campeã Slam Brasil, Campeã Copa
Lusófona feminina Slam, Graduada em Engenharia e Letras

12
A história dos ovos vai se repetir, em 2022 vão gostar, porque se antes
enaltece o suposto arquiteto da paz que invés de educação, saneamento e luz,
baixava as febres da barriga dos candangos com bicicleta que ficam lá nos
segues, são hoje os mesmos que enaltece aquele que um dia vão gostar.
Há vínculos epistemológicos conhecidos aí.
Vão gostar porque faz tempo tem uma forte relação de cupido entre pastores
e fiéis pela educação aleijada que nós damos, nos tornando presas fáceis
diante de predadores munidos.
Vão gostar, porque muito lhes custam em melhorar o que tá bom sendo que o
que tem feito é piorar o que está mal e por acaso não tem estragado o que está
bom, porque não sobrou nada de bom nesse país, passaram de vendedores de
sonhos a vendedor de pesadelos e sim vão gostar porque diante dessa toda
lixeira sistemática e soluções não passam de falaciosas, onde o cão ladra, a
caravana passa e nada se faz
Vão gostar porque transformaram isso numa experiência falhada de paz,
utopia, onde as grandes mudam seu modo operandi eu mesmo, já não temos
pinta, angola está bloqueada, não à luz no fim do túnel, presos na era de só
incompetência, ignora o gemido das nossas dores e indícios de almas
precárias, indícios de viver falha, afogado na ignição estamos como
carburadores velhos onde lagrimente choramos no colo do silêncio.
Assistimos bem perto da íris de nossos olhos a fiscinada desfilar na passarela,
no entanto mercenários príncipes, barões, heróis e anti-heróis, tá vamos
deixar, tá vamos buscar e selar porque imediatamente que, ainda que, nem
toda criatura angolana é associada a mesma perspectiva, razão pela qual vão
gostar, ainda que sejamos como a beleza das f lores que partilham os mesmos
passos que os espinhos dos políticos que deixam nossas almas em chamas,
passos em lama, com pobres rimas, rimas como ovos que se chocam em
seguida te calas, razão pelo qual vão gostar

Destarte, o movimento slam como uma instrumentalização das ideias apresenta sua
funcionalidade no momento em que não existe uma obrigatoriedade teórico-prática do poeta,
aqui estabelece a criança como produtora de conhecimento, por tanto slammer naturalmente
dotados de notas mais altas, 10 pela originalidade única em que se pode encontrar nas falas de
uma criança arteira, que de acordo com Souza (2016) “São nas práticas sociais de culturas
infantis que a oralidade se desvela como um dos pilares de sustentação, e revela as junções de
diferentes elementos elaborados pelas crianças em suas culturas.” Para a criança a fala e seus

13
gestos compõem a sua originalidade e sua expressão social, no movimento slam são tais
elementos que são vitais para sua composição e sucesso.

1.1 Poesia falada: batalhas e encontros

Cada grupo de slam, possui sua própria rotina de encontros, o Slam resistência ocorre
na primeira segunda feira de cada mês, o Slam da Guilhermina na última sexta feira do mês, o
Slam oz é na última quarta-feira do mês e assim por diante, mas todos seguem o mesmo modus
operandis. Todos os grupos de Slam, em todos os estados e países, percorrem a mesma
cerimônia, um haicai para chamar e logo mais o slammer começa a recitar.
As competições ocorrem em ambientes abertos, com uma organização base de
microfone, sempre se inicia com uma chamada para os poetas convidados, e em seguida deixa
o microfone aberto para todos que queiram divulgar sua poesia. Uma das principais
características do Slam é a escolha do júri que se dá por forma totalmente aleatória, cinco
pessoas da plateia recebem placas de 0 a 10, e para excluir favoritismo a maior e a menor nota
é excluída. Como de práxis, a poesia tem de ser autoral, não possuir apetrechos físicos para
assessorar sua ideia, nem música e tão pouco figurinos, não podendo passar de três minutos e
a cada 10 segundos que se passam o slammer perde 1 ponto.
Posto que o Slam ocorre por meio de encontros entre ouvintes e interlocutores, da qual
uma ideia está no foco, e nada além de um microfone e sua voz. Uma vez que as apresentações
duram entre um e três minutos, sendo pontuados em fases, sempre em três, quartas de final,
semifinal e final, o poeta finalista, além de ganhar uma vaga para a competição estadual,
também ganha uma premiação específica de cada forma diferente.
O Slammer, nome dado a todos os poetas que participam do slam, é responsável pela
autenticidade e pela forma que a mensagem é passada, pois não é apenas a escrita que importa
mas a entonação e os gestos são componentes essenciais para se transmitir sua ideia a priori
selecionada e questionada.
Ao definirmos o Slam, por diferentes formas, desde simples competições de batalhas
de rima, até mesmo um entretenimento corriqueiro, um espaço para ter uma livre expressão
poética, uma verdadeira viagem ao interior da palavra, não obstante do entretenimento, é difícil
de definir de uma forma simplificada, mas que em pouco mais de 30 anos de criação. o Slam

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se tornou, além, de um marco no movimento literário e poético, uma nova forma de comunicar
as mais diversas ocorrências no dia-a-dia. O Slam, se espalhou por todo o mundo, como ficou
explícito em:

“Hoje as maiores comunidades de slam fora dos Estados Unidos estão na


França e Alemanha, mas estima-se que existam mais de quinhentas
comunidades [...] em países como Austrália, Zimbabwe, Madagáscar, Ilhas
Reunião, Singapura, Polônia, Itália e, até mesmo, o Polo Norte” (Smith,
Kraynak, 2009: 13).

Ao som das ideias que perpetuam meus pensamentos, a poesia Slam é uma
característica forma de expressão e uma forma de se comunicar com a comunidade e difundir
nossas ideias e as poesias são de temas diversos, tanto de politicagem até de sentimentalismos
profundos, como forma de (re)ação as opressões diárias, abaixo segue um Slam, que me
colocou como segundo lugar no Slam Oz de 2019, tal qual a forma de discurso e de apropriação
das minhas ideias.

PM
Cara polícia militar,
Braço forte do estado
Tenho um pequeno recado

Você, ô poderosa corporação


Fundação na escravidão
Acredita realmente defender a moral
As leis não geram a moral
As leis não criam os bons costumes
As leis matam e justificam as mortes

Da próxima vez que baterem em um preto


Cuidem-se, protejam-se, recuem
Estamos nos armando cada vez mais
As leis te justificam atacar
As leis vão nos justificar o contra -ataque
Art.25 do código penal.
Art.5 da constituição
Normas da GAECO.
Vamos revidar!

15
O suspeito, preto como sempre
Conhece seus direitos
Ainda maiores deveres.
A polícia racista vai deixar de existir
A polícia racista será atacada
A polícia racista será subjugada!
(SANTOS, 2021, p 21)

Assim, entre batalhas e encontros reexistimos coletivamente com fundamentos éticos,


políticos e estéticos próprios ao ressignificar o processo de ensinar-aprender-ensinar
conforme estabelece Freire (1987). É imperativo refletir em um Trabalho de Conclusão de
Curso em Pedagogia, qual será a pedagogia que possibilita um poeta das ruas formar-se
para a docência e como trazer esses dois campos de experiência a educação formal e a
educação das batalhas de rima para o centro da encruzilhada.

2. Pedagogia arteira em corpos poéticos

O presente capítulo visa abordar e indicar caminhos para o reconhecimento da


educação como uma expressão de arte, corpos poéticos inspirados pela batalha de rimas
implica em encontros necessários entre vozes e saberes, tal experiência nos indaga acerca
de como batalhar por rimas com as crianças. Ou ainda, em que condições educacionais
estaríamos se pudéssemos rimar com as crianças.
Cabe considerar que no presente artigo a criança é considerada detentora do
conhecimento do seu próprio mundo, e que buscamos inibir o adulto centrismo que impera
na sociedade e se reafirma nas escolas. Assim, como professores, formadores, mentores,
guardiões e protetores precisamos reconhecer que é possível nos desenvolvermos com as
crianças.
Ao tratarmos de corpos poéticos, observamos nas crianças a presença marcante da
sua vivência, qual a poesia que suas brincadeiras ecoam? em diversos momentos, deixamos
de olhar a criança e passamos a espelhar e desenvolver nela uma visão adultocêntrica, lhes
negando o que é vital, sua tenra idade, por conta disso, a poesia da infância, da cultura da
criança é a norteadora de qualquer ação pedagógica imaginável. Como exemplifica Read
(2001) a educação é um espelho das práticas artísticas vivenciadas na escola, na pré-escola
nos é permitido a produção livre da nossa expressão, porém, uma micro chave se vira no

16
nosso sistema escolar que torna proibido a originalidade, a espontaneidade e a verdade
singular de criação.
Contudo, além do desenvolvimento de criação pela arte nas crianças, também há um
conceito de limitação dos corpos poéticos adultos, pois além da limitação social, existe o medo
e comprometimento da negação das ações aprazíveis, desde brincar na rua acompanhando as
crianças de nossos aquilombamentos, até recitar uma poesia improvisada, por conformismo da
limitação, do aprisionamento, dos seus corpos e vontades, conforme Souza (2016, p. 160) “ela
vive a brincadeira e ao viver ela torna-se brincadeira e brinquedo; adultos viram objetos e
objetos viram humanos, tudo depende das verdades por elas estabelecidas e acertadas em seus
códigos próprios”.
Não podemos, nós deixar supor, que a escola é o único local de aprisionamento das
vontades poética, mas em diversos outros locais, inclusive pensados na liberdade e
desenvolvimento das crianças, como é de costumes observarmos em contações de histórias,
parques de diversões e bibliotecas, frases limitantes como “faça silêncio", “não corra”, “aqui
não é lugar disso”, a cada palavra, vinda de adultos que muitas vezes gostariam de estar na
brincadeira. Além de não contribuir com o desenvolvimento das ações e emoções das crianças,
é limitada a sua vivência.

3. A organicidade do Slam em espaços não escolares.

O slam se caracteriza pela presença de uma performance dos corpos poéticos presentes,
do qual passamos por um processo de interiorização das relações interpessoais, na escola, os
educandos são determinados a permanecerem em imobilidade, por isso o Slam, através de uma
pedagogia arteira busca compreender qual a funcionalidade da poética corpórea dentro da
educação formal e espaços não formais.

Mas a relação pedagógica não pode ser limitada às relações especificamente


“escolares”, através das quais as novas gerações entram em contato com as antigas e
absorvem suas experiências e seus valores historicamente necessários,
“amadurecendo” e desenvolvendo uma personalidade própria, histórica e
culturalmente superior. Esta relação existe em toda a sociedade no seu conjunto e em
todo indivíduo com relação aos outros indivíduos, entre camadas intelectuais e não
intelectuais, entre governantes e governados, entre elites e seguidores, entre

17
dirigentes e dirigidos, entre vanguardas e corpos de exército. Toda relação de
“hegemonia” é necessariamente uma relação pedagógica, que se verifica não apenas
no interior de uma nação, entre as diversas forças que a compõem, mas em todo o
campo internacional e mundial, entre conjuntos de civilizações nacionais e
continentais (GRAMSCI, 2017, p. 399)

Para situar o conceito no processo histórico que resulta no movimento de produção e


reprodução social da vida material, entendemos que o processo educativo formal define os
sujeitos ao mesmo tempo em que o sujeito é produtor e produto, das relações que estabelecem
entre seus pares, seja em formação politizada ou interpessoais. Destarte “[...] a natureza humana
é o conjunto das relações sociais.’’ (GRAMSCI, 1999, p.245) Assim, embora permeado de
contradições em uma análise do processo educativo, tem como objeto a (trans)formação do
sujeito educando.
Mesmo que o sistema do Slam seja a premiação, pela autenticidade nas performances
de identidades, dos educandos que muitas vezes são marginalizadas, de modo a declarar, é
considerado autêntico pode ser, na veracidade, construída por um processo de recompensa para
os melhores e desconsideração para os inferiores, por tanto, em sala de aula, não podemos
utilizar esse método, pois ao surgimento do sujeito político, o processo de identificação e
reconhecimento. Como escreve Somers-Willet (2005, p.56) “Slams podem gerar as próprias
identidades que os poetas e o público esperam ouvir”. Assim, o Slam se torna um ambiente de
educação e construção da identidade e, consequentemente, de sua formação como Corpos
Poéticos Políticos.
A criança é o pilar central desta metodologia, na escola a poesia está presente em cada
uma das principais atividades, bem como de diversos outros lugares em que a criança participa,
como o parque, festas, templos religiosos, rodas de sambas, e inúmeros outros lugares.
Não é nenhuma surpresa que a priori lúdica seja o aspecto mais enfocado para uma
justificativa teórica na relação da infância e o poético, ou a criança e as poesias, como as
cantigas de rodas, as brincadeiras: O que é o que é, Adoleta, Trem bala, Balança caixão, e
tantos outros. A poesia rítmica está presente em quase todas as brincadeiras da infância e, como
não haveria de ser diferente da escola, também está presente a poética sonora e em todos os
ambientes em que a criança frequenta.
A aproximação com a tradição popular da poesia, como nas escolas literárias, O Slam
poesia é uma vertente da escrita, tanto em sua estrutura rítmica quanto na formulação visual do
texto. Se distanciando do tradicionalismo poético e se aproximando de uma oralidade

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marginalizada, a presença das adequações linguísticas de grupos marginalizados, as gírias, e
de palavras de baixo calão quando se apresenta necessário, obviamente que em um ambiente
educador devem ser evitadas tais palavras, e também uma aproximação gigantesca com o
ambiente acadêmico, confere os textos a simplicidade estrutural e sintática, se aproximando da
participação das crianças, que mesmo compreendendo toda a linguagem, e também com o
intuito de aproximá-las de uma linguagem mais adultocêntrica.
E como a poesia em sala de aula, é algo já corriqueiro para uma educação formal, o
slam é a quebra de uma educação tradicional para uma educação construtivista pois o processo
de ensino baseado, unicamente, na transmissão de informação tem se demonstrado muitas
vezes ineficaz no tocante a proporcionar aprendizagens significativas as crianças. Assim o
modelo de ensino tradicional é pouco eficiente no âmbito escolar e uma nova abordagem é
necessária.
A sala de aula tradicional tornou-se um espaço desestimulante, tanto para o docente
quanto para o discente. Para Valente (2014 pág. 79 - 97) as soluções a serem adotadas exigem
mudanças no processo de ensino e aprendizagem, que são muito mais profundas.
Especificamente com relação à sala de aula, ela terá de ser repensada na sua estrutura, bem
como na abordagem pedagógica que tem sido utilizada.
Para este autor é preciso que a criança abandone a postura passiva e bancária adotada
em sala de aula na qual somente recebe informações, para assumir uma atitude mais ativa. a
sala de aula invertida, técnica criada pelo educador norte americano Jonathan Bergmann
(RODRIGUES, SPINASSÉ, VOSGERAU, 2017) pode ser uma opção nesse sentido pois
apresenta ferramentas capazes de dinamizar o processo de ensino e de aprendizagem Sala de
aula invertida, ou flipped classroom, é uma estratégia que visa mudar os paradigmas do ensino
presencial, alterando sua lógica de organização tradicional.

O principal objetivo dessa abordagem, em linhas gerais, é que

o aluno tenha prévio acesso ao material do curso – impr es s o

ou on-line − e possa discutir o conteúdo com o professor e

os demais colegas. Nessa perspectiva, a sala de aula se

transforma em um espaço dinâmico e interativo, permit in do

a realização de atividades em grupo, estimulando debates e

discussões, enriquecendo o aprendizado do estudante a

partir de diversos pontos de vista. (RODRIGUES, SPINA SSÉ,

VOSGERAU, 2017,p.392)

19
Naquele contexto, CROUCH; MAZUR, 2001 verificaram que as crianças apresentaram
ganhos significativos na compreensão conceitual, avaliados com testes padronizados, bem
como ganharam habilidades para resolver problemas comparáveis aos adquiridos nas aulas
tradicionais.
Tal metodologia foi utilizada inicialmente na disciplina introdutória de Física Aplicada
e atualmente está sendo introduzida em outros cursos e disciplinas, inclusive sendo usada para
atrair as crianças para as áreas de ciências, tecnologia, engenharia e matemática (Watkins;
Mazur, 2013).
Embora a técnica da sala de aula invertida não necessariamente utilize-se dos recursos
oferecidos pela internet, neste estudo propomos criar uma sala de aula virtual para que a criança
possa ter acesso a vídeos, textos, imagens e áudios previamente sobre o assunto a ser tratado
na aula. Temos como intenção constatar a possibilidade de atingirmos resultados similares aos
dos estudos de Crouch; Mazur (2001).
Embora naquele estudo a disciplinas pertencesse a área das ciências exatas (física),
vislumbramos educação como um processo de emancipação do sujeito, por tanto necessita de
uma mudança em seu processo de ensino e aprendizagem, pois ainda se baseia, unicamente, na
transmissão de informação e inculcação do conhecimento previamente definido pelo núcleo
estruturante da instituição ou de forma imposta, autoritariamente como a base nacional comum
curricular (VIANA, 2018).
Também afirmando Valente (2014, p. 79 - 97) que para solucionar o déficit dentro da
sala de aula, será necessário mudar a concepção de educação, explicitando a educação como
um meio para aprofundar em temas mais específicos. A aprendizagem ativa como nortead ora
para a prática do educador, estimula as crianças ao estudo, em relação a sala de aula como local
de transmissão de conhecimento deve ser repensado toda sua estrutura para o cumprimento
desse projeto.
A metodologia ativa de ensino já pode ser encontrada na obra Emílio de Rousseau, e
em outros lugares ainda mais antigos, como coloca Manacorda, (1992) a aprendizagem é
desenvolvida através da procura do educando, como no Egito antigo do qual o método de
ensinar era dos grandes magos do faraó e só transmitir conhecimento enquanto os filhos das
castas mais baixas eram dotados de conhecimentos adquiridos na prática com seus pares.
Vale mencionar que, na construção metodológica da Escola Nova, a atividade e o
interesse do aprendiz foram valorizados, e não os do professor. Assim, Dewey, por meio do

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seu ideário, teve grande influência nessa ideia ao defender que a aprendizagem ocorre pela
ação, colocando a criança no centro dos processos de ensino e de aprendizagem.
São incontestáveis as mudanças sociais apresentadas nas últimas décadas e como tudo,
a escola deve acompanhar as mudanças, logo o modelo educacional deve alterar sempre com
as novas necessidades dos educandos. Assim, as pessoas, em especial, os educandos, não se
limitam a o mesmo lugar de sala de aula, pois possuem todas as informações do mundo a palma
da mão, as TDIC’s facilitaram o acesso conhecimento e a escola deve-se manter atualizada.
Nessa perspectiva de entendimento é que se situa as metodologias ativas como uma
possibilidade de ativar o aprendizado das crianças, colocando-os no centro do processo, em
contraponto à posição de expectador, conforme descrito anteriormente. Ao contrário do método
tradicional, que primeiro apresenta a teoria e dela parte, o método ativo busca a prática e dela
parte para a teoria. Nesse percurso, há uma “migração do ensinar’ para o ‘aprender’, o desvio
do foco do docente para a criança, que assume a corresponsabilidade pelo seu aprendizado”
(Souza; Iglesias; Pazin-Filho, 2014, p. 285).

4. A PEDAGOGIA DO SLAM, CRIANÇA POETA, CRIANÇA ARTEIRA

SEREI AO CRESCER
O que eu vou ser quando crescer?
Serei a mais perfeita combinação
Vinda de diversas formas
Diversas cores, diversas vontades
Diversos amores

Seria a combinação entre o tudo e o nada


O passado e o presente
Serei deus, deusa, rei e rainha
Serei o herói e o vilão
Serei o pai e o patricida
Serei o filho genocida
Nada serei, serei o nada e o tudo.

O que eu vou ser quando crescer

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Não me fode com essas perguntas
Não me destrua de meus pensamentos
Deixe-me pensar livremente
Não mate minha ideias e poesias

O infinito e o finito
O broto e a rosa
A lua e o sol eclipse
Serei hoje o cinza

Cinza, cinza, Cinza


Qual a formação do cinza
Serei preto, serei branco
Serei o tudo, serei a presença de tudo
Serei o nada e a ausência do de tudo.

O que eu vou ser quando crescer?


Não me importa, não faz sentido
Não serei nada quando crescer
Eu já sou completo, a melhor versão de mim
A evolução de ontem é o hoje
Sou a melhor versão possível de mim!
(SANTOS, 2021, p 26)

A criança, dotada de conhecimento sobre si, cria a poesia sem a menor das noções, por
isso o slam é um recurso eficiente para o ensino nas redes de ensino, formal e informal, uma
vez que a poesia rítmica é fundamentalidade na oralidade e na aplicação de vivências no
cotidiano, e trazer para dentro das redes de educação suas verdadeiras intenções e desejos.
Como já visto, a poesia e rítmicas constituem um rico contexto de ensino e
aprendizagem dentro da escola, podendo ser um recurso interessante para se trabalhar os
conteúdos que levarem a necessidade das crianças, a fim de desenvolvimento lógico e outros
esquemas mentais. Contudo, os textos educativos requerem o planejamento no qual permita a
aprendizagem de conceitos e lógicas, pois a poesia além de uma bela forma de expressão,
também carrega o pensamento lógico de sua construção.

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O uso da poesia, em particular a poesia Slam, em sala de aula é um suporte
metodológico adequado a todos os níveis de ensino, desde que os objetivos do seu uso sejam
claros, e representem uma atividade desafiadora e estejam adequados ao nível de aprendizagem
das crianças. Aplicar uma proposta metodológica com base na poesia, não é tarefa fácil e alguns
cuidados que o professor deve tomar antes de aplicá-lo é testá-lo, analisar os possíveis erros
que as crianças podem cometer e também verificar se as regras estão claras e bem definidas, as
noções gramaticais, de rima e de forma a definir as presentes formas de se ensinar.
A poesia também pode ser utilizada para introduzir um conteúdo de difícil assimilação,
afinal o jogo é capaz de despertar o interesse das crianças, reforçando sua aprendizagem. Os
conteúdos devem estar de acordo com o grau de d esenvolvimento e ao mesmo tempo, de
resolução possível, portanto, a construção do Slam não deve ser fácil demais e nem tão difícil,
para que os crianças não se desestimulem. Vale ressaltar que, tanto os educadores formais
dentro da escola quanto os educadores sociais em todos os ambientes em que as crianças estão
presentes devem estar em constante evolução para atuarem no mundo contemporâneo, o que
será proveitoso não só para as crianças, mas para todo o conjunto da sociedade (ALMEIDA;
SANTOS. 2016).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como forma principal de atuação na minha jornada acadêmica, o slam esteve presente
de 9 a cada 10 trabalhos em que eu apresentei, pois é uma vivência que eu assegurei para mim,
o que antes eu considerava uma forma de me libertar de amarras sociais, hoje considero como
uma linha metodológica, teórica e prática.
Como corpos poéticos, nossas vivências estão mais expressivos no momento de
aprender qualquer coisa nova e ao compreender a educação como uma demonstração da arte
como educação, a Pedagogia Arteira é a expressão da prática de se libertar e aprender com seus
movimentos, com seu gingado ao andar, nada mais é que uma construção social da forma como
se deve andar, nossos corpos são poesias, nossos corpos poéticos são corpos em movimentos
pedagógicos, Na rua, na praça, nos bailes de favelas, nos cultos, nas festas de terreiros em todos
os locais em que se vive, nossos corpos vivem aprendendendo-ensinando-aprendendo.
Quando estamos como criança, nossos corpos tendem a dominância dos ambientes
sociais, ser preso e engessado, o Slam compreende uma forma de liberdade epistêmica das

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ações pedagógicas, no Slam, sua liberdade de corpo e de fala, podemos recitar de poesias
clássicas, “E agora josé, e agora você” de Drummond, até poesias combativas contra o racismo
“Mas e daí, só falta você dizer que o lance é meritocracia, vai ter mais preto na faculdade sim
do que na delegacia” de Andrea Bak, que nossa voz será respeitada e refletida de formas mais
que positivas.

Mãe, seu filho tá em casa

Mãe eu queria te dizer


eu sinto por seu filho
do seu lado você não ter
ele curtia o seu rolê
de dia ele brincava com as crianças
de noite ele sambava
coloca o tan-tan na mão do neguinho
que vai ver geral dançando
ele cantava em toda a roda
“ele mora no morro ela na zona sul
eu sou negão e ela patricinha do olho azul”
Ele cantava todo, amava musical
mas isso ninguém sabia
não sei o que ele sentiu,
não sei o que ele gritou
quando aquela bala
atingiu seu órgão pensador

mãe me desculpa, eu corri


saí no desespero na madrugada
quando eu ouvi
“adriana mataram seu filho”
sábado, 18 de Julho, 4:34 da manhã
Ele prometeu que ia voltar pra sua festa
mas o rolê de sexta não deu bons frutos
ele te mandou no áudio
“Relaxa mãe, daqui a pouco tô em casa, nem tô bebendo
Para comemorar seu grande dia”

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Mas um tiro atingiu a cabeça do neguinho
Enquanto ele caía era -mãe- que ele pedia

Mãe, eu tentei correr, tentei salvá-lo


mas quando cheguei ele já havia sido levado
no lugar? uma poça de sangue
que ao fechar os olhos vejo aquele instante
e no hospital a médica me dizia
“ele chegou sem vida, sinto pela partida”

Mãe, o felipe ainda está contigo


no meu grito, você ouve a voz dele
No meu grito, carrego a dor
aquele bala não tinha seu nome
mas é seu nome que deixou saudades

te garanto mãe, vou continuar


ser mestre, doutor, advogado e sempre professor
aos 28 anos você vai se orgulhar
sua cria vai desenvolver
vingar seus irmãos,
mudar a tal condição
Para seus netos você ver crescer
não posso te prometer netos meus
mas eu garanto, que irei criar multidões
meu legado eu deixo na esperança:
pois eu fico sempre com a pureza das respostas das crianças.

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Irlene Silva; SANTOS, Joaldo Silva. A utilização do Lúdico no Processo de


Ensino- Aprendizagem da Matemática. XII Encontro Nacional de Educação Matemática.
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cena. Synergies Brésil n° 9 - 2011 pp. 119-126

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