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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

Instituto de Ciências Humanas e Sociais


Departamento de Ciências Jurídicas
IH634 Direito Internacional Público

PRIMEIRA PROVA – 2021.1

Um diplomata brasileiro depositou o instrumento de ratificação do Primeiro Protocolo ao


Tratado sobre Facilitação de Comércio Internacional de Serviços Cibernéticos celebrado no
âmbito da Organização do Comércio Eletrônico (OCE), do qual o Brasil é parte desde a
fundação. O tratado foi assinado pelo Brasil em 24 de agosto de 2011 em Budapeste. Em
atendimento ao disposto no Decreto Legislativo nº 991, de 18 de março de 2016, o
instrumento de ratificação informa a reserva brasileira ao Artigo 3º do Protocolo.
No ano seguinte, é editada a Lei nº 9999, de 14 de agosto de 2017, cujo artigo 4º determina
que: “Artigo 4º. No fornecimento de serviços cibernéticos no território nacional, o prestador
de serviços deverá fornecer ao tomador de serviços garantia de reparo do sistema cibernético
por período não inferior a: I – 180 (cento e oitenta) dias, quando se tratar de tomador de
serviços pessoa física; e II – 90 (noventa) dias, quando se tratar de tomador de serviços pessoa
jurídica”.

DECRETO Nº 1234, DE 16 DE DEZEMBRO DE 2016

Promulga o Primeiro Protocolo ao Tratado


sobre Facilitação de Comércio Internacional
de Serviços Cibernéticos, firmado pela
República Federativa do Brasil, em
Budapeste, em 24 de agosto de 2011.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, caput, inciso
IV, da Constituição, e

Considerando que a República Federativa do Brasil firmou o Primeiro Protocolo ao Tratado


sobre Facilitação de Comércio Internacional de Serviços Cibernéticos, em 24 de agosto de
2011;

Considerando que o Congresso Nacional aprovou o Protocolo por meio do Decreto


Legislativo nº 991, de 18 de março 2016, com reserva ao Artigo 3º do Protocolo, com
fundamento no […];

Considerando que o Governo brasileiro depositou […] em 13 de junho de 2016, os


instrumentos de ratificação do Protocolo, com reserva ao Artigo 3º, com fundamento no
[…], e que os referidos instrumentos […];

DECRETA:

Art. 1º Fica promulgado o Primeiro Protocolo ao Tratado sobre Facilitação de Comércio


Internacional de Serviços Cibernéticos, firmado em Budapeste, em 24 de agosto de 2011,
anexo a este Decreto, com reserva ao Artigo 3º com fundamento no [...], todos do
Protocolo.
Art. 2º São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional atos que possam resultar em
revisão do Protocolo e ajustes complementares que acarretem encargos ou compromissos
gravosos ao patrimônio nacional, nos termos do inciso I do caput do art. 49 da
Constituição.

Art. 3º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 16 de dezembro de 2016; 194º da Independência e 127º da República.

PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Este texto não substitui o publicado no DOU de 17.12.2016.

Protocolo ao Tratado sobre Facilitação de Comércio Internacional de Serviços


Cibernéticos

Os Estados membros da Organização do Comércio Eletrônico


[...]
Resolveram celebrar a presente Convenção e acordaram as seguintes disposições:

CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS

Artigo 1º – Aplicação do Protocolo

O presente Protocolo se aplica exclusivamente ao comércio internacional de serviços


cibernéticos, sem prejuízo das normas nacionais aplicáveis a serviços dessa natureza cujos
prestadores e tomadores tenham sede e/ou domicílio no mesmo território.

Artigo 2º – Definições

Para fins do Presente Protocolo:


[...]
c) “comércio internacional” compreende as transações transfronteiriças, entendidas como
as realizadas entre prestadores de serviço e tomadores de serviço com domicílio em
Estados distintos;
d) “prestadores de serviço” são as pessoas jurídicas domiciliadas no território de um
Estado-parte que fornecem serviços cibernéticos para tomadores de serviço domiciliados
em outros Estados-partes;
e) “tomadores de serviço” são as pessoas jurídicas domiciliadas no território de um Estado-
parte que contratam serviços cibernéticos oferecidos por prestadores de serviço
domiciliados em outros Estados-partes;

[...]

Artigo 3º – Extensão da aplicação do Protocolo

§ 1º Os princípios e as regras de facilitação do comércio internacional de serviços


cibernéticos serão previstos no presente Protocolo serão estendidos aos tomadores de
serviço pessoas físicas, independentemente de sua caracterização como consumidores.
§ 2º O Estado poderá, na forma do artigo 45, restringir a definição de tomadores de serviço
àquela prevista no artigo 2º, “e”, do Protocolo.
[...]

CAPÍTULO II
DIREITOS E DEVERES

Artigo 9º – Garantia

Em razão incerteza de alterações no código-fonte dos sistemas baseados em algoritmos e


das interferências dos sistemas nacionais de segurança digital, as garantias de reparo
fornecidas pelos prestadores de serviços cibernéticos não poderão ser superiores a 30
(trinta) dias.

[...]

CAPÍTULO III
DISPOSIÇÕES FINAIS

Artigo 43 – Assinatura, ratificação e adesão

§ 1º O Protocolo estará aberto para assinatura dos Estados que são Membros da
Organização do Comércio Eletrônico quando da sua Quarta Sessão e dos demais Estados
que participaram daquela Sessão.
§ 2º Ele será ratificado, aceito ou aprovado e os instrumentos de ratificação, aceitação ou
aprovação serão depositados junto ao Departamento Federal de Assuntos Estrangeiros da
Confederação Suíça, depositário do Protocolo.
§ 3º Qualquer outro Estado poderá aderir ao Protocolo após sua entrada em vigor, de
acordo com o artigo 44, parágrafo 1º.
§ 4º O instrumento de adesão será depositado junto ao depositário.

Artigo 44 – Entrada em vigor

§ 1º O Protocolo entrará em vigor no primeiro dia do mês seguinte ao fim de um período


de três meses após o depósito do segundo instrumento de ratificação, aceitação ou
aprovação de que trata o artigo 43.
§ 2º A partir de então, o Protocolo entrará em vigor para cada Estado, ratificando-o,
aceitando-o ou aprovando-o posteriormente, no primeiro dia do mês seguinte ao fim de
um período de quatro meses após o depósito de seu instrumento de ratificação, aceitação
ou aprovação;

Artigo 45 – Reservas

§ 1º Qualquer Estado poderá, no mais tardar ao tempo da ratificação, da aceitação, da


aprovação ou da adesão, fazer reservas aos dispositivos do Protocolo, exceto aos seus
artigos 2º, 4º, 9º e 13.
§ 2º Qualquer Estado poderá, a qualquer tempo, retirar uma reserva que tiver feito. Esta
retirada será notificada ao depositário.

[...]

Em fé do que, os abaixo assinados, devidamente autorizados, assinaram este Protocolo.


Feito em Budapeste, em 24 de agosto de 2011, em francês e inglês, sendo os dois textos
igualmente autênticos, em um único exemplar, que será depositado nos arquivos do
Departamento Federal de Assuntos Estrangeiros da Confederação Suíça e do qual uma
cópia autenticada será enviada, pela via diplomática, a cada um dos Membros da
Organização do Comércio Eletrônico.

Depois de analisar o teor do Primeiro Protocolo ao Tratado sobre Facilitação de Comércio


Internacional de Serviços Cibernéticos, responda:

QUESTÃO 1
Considerando as normas gerais em matéria de tratados e as disposições específicas do tratado em
questão, esclareça em que consiste o ato de ratificação e a que instituição, no caso em tela, o
diplomata transmitiu o instrumento de ratificação (2,0 pontos) [máximo de 10 linhas]

R: A ratificação, como compreendida para os tratados, é a última etapa no processo de


manifestação de interesse de obrigar-se por um tratado, gerando, por fim, efeitos dentro da
organização jurídica de um determinado estado. No Brasil, o processo de ratificação de um
tratado é executado pelo chefe do Poder Executivo, o Presidente da República, após já
manifestar interesse através de uma assinatura e ter tido seu texto aprovado pelo Congresso
Nacional, respectivamente. Portanto, para o caso abordado acima, a transmissão do
instrumento de ratificação será receptada pelo Departamento Federal de Assuntos Estrangeiros
da Confederação Suíça.

QUESTÃO 2
O que são, no Direito Internacional, as reservas e, no caso em exame, a reserva proposta pelo
Estado brasileiro é juridicamente possível? (2,0 pontos) [máximo de 10 linhas]

R: As reservas são dispositivos jurídicos previstos na Convenção de Viena (Art. 2.1) que
permitem a declaração unilateral de Estados que decidam por modificarem ou se eximirem de
uma ou mais disposições estabelecidas em um determinado tratado no qual visem participação
efetiva. Para o caso do Estado brasileiro acerca de reserva do Art. 3º do tratado proposto, é
juridicamente possível, uma vez que o tratado não proíbe a reserva para aquele artigo
especificamente.

QUESTÃO 3
Em que momentos o tratado em questão entrou em vigor para o Brasil? (2,0 pontos) [máximo
de 15 linhas]
R: Para tratados deve-se considerar dois momentos distintos de vigoração, um para o
contexto interno e o outro externamente.
Para efeitos internos, o tratado entra em vigor no dia 17 de dezembro de 2016, um dia após a
ratificação do tratado no DOU, a ser executada após aprovação de seu texto pelo congresso
nacional.
Ademais, o tratado entrara em vigor no primeiro dia do mês seguinte ao fim de um período de
quatro meses após o depósito de seu instrumento de ratificação (Art. 44 §2 do tratado),
portanto, tendo sido o depósito efetuado em junho de 2016, vigora o tratado a partir do dia 1
de novembro do mesmo ano.

QUESTÃO 4
Souza Participações Ltda, pessoa jurídica de direito privado registrada e com sede em São
Paulo, na condição de representante da Cybertraum GmbH, pessoa jurídica de direito privado
registrada e com sede em Berlim, ingressa em juízo contra Techplus S.A., pessoa jurídica de
direito privado registrada e com sede em São Paulo, requerendo anulação de cláusula do
contrato celebrado entre as empresas Cybertraum GmbH, tomadora de serviço, e Techplus
S.A., prestadora de serviço, em 2018. Com fundamento no artigo 4º da Lei nº 9999/2017,
Cybertraum GmbH alega que a cláusula contratual é nula porque estabelece garantia de reparo
de 30 (trinta) dias e, no Brasil, deve ser aplicada a norma mais recente, qual seja a Lei nº
9999/2017, mesmo porque se trata de norma hierarquicamente superior a mero decreto. Em
contestação, Techplus S.A. insiste que o Decreto nº 1234/2016 é a norma especial aplicável à
situação, que a República Federal da Alemanha é parte do Primeiro Protocolo ao Tratado
sobre Facilitação de Comércio Internacional de Serviços Cibernéticos e que o artigo 9º do
Protocolo autoriza a limitação da garantia a 30 (trinta) dias. Manifestando-se especificamente
sobre a questão da hierarquia dos tratados no Direito brasileiro (2,0 pontos), analise os
argumentos apresentados pelas partes e decida qual norma deve reger a cláusula contratual
(2,0 pontos). [máximo de 20 linhas].
R: Segundo a hierarquia normativa estabelecida para o sistema normativo brasileiro, as
obrigações dispostas por tratados ou convenções internacionais equiparam-se a leis ordinárias
promulgadas em esfera federal. Portanto, há um equívoco observado na constatação de
superioridade normativa da Lei nº 9999/2017 sobre o Decreto nº 1234/2016, uma vez que são
hierarquicamente equivalentes. Apesar disto, é correto o argumento cronológico proposto pela
representante legal da empresa Cybertraum GmbH, uma vez que uma das práticas adotadas
para resolução de conflitos entre leis de hierarquicamente equivalentes pode ser encontrada no
art. 2°, § 2° da LINDB, cabendo à lei posterior (lei n 9999/2017) revogar a lei anterior
(decreto nº 1234/2016) no dispositivo que a contrarie, sem causar, portanto, invalidar o
tratado já estabelecido. Entende-se, portanto, que a cláusula contratual a ser cumprida será
regida pela lei nº 9999/2017.

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