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Rio de Janeiro é uma cidade mal encenada.

Aí parece uma parodia de mal gosto do


Hermes e Renato, que aliás, já é uma paródia da sociedade brasileira. E sem dúvidas que
o Simas é um intelectual de primeira prateleira. Compreendo as sociabilidades que ele
viveu e compreendo como elas criaram a possibilidade interpretativa de uma cidade
caótica, raivosa e movida a contradições internas. Porém, vejo tal generalização como
algo muito mais falso do que verdadeiro. Muito mais caricatura do que corpo. Para mim
o único pecado do Simas é utilizar o lócus da experiência dele para deduzir, em escala
ampla, o funcionamento das demais formas sociais brasileiras e, numa etapa seguinte, a
síntese da brasilidade. Sou cidadão nato de Belo Horizonte e conheço aqui como a
palma da minha mão, do bairro luxuoso a quebrada. Aqui, por exemplo, houve maior
desconcentração das riquezas e maior espraiamento de benefícios sociais através das
atividades econômicas e das (mais acertadas) políticas públicas enquanto no Rio parece
que a formação social ocorreu e segue ocorrendo de forma bem mais disfuncional e com
grandes desequilíbrios. Outras cidades brasileiras também conseguiram uma formação
menos 'agressiva' que a formação carioca e não é privilégio de Belo Horizonte, que
evidentemente não é o melhor dos mundos, porém, longe de ser o pior. A segurança
pública e a educação são uma das joias do povo belo-horizontino e o usufruto de
benefícios sociais melhores permite criar uma maior homogeneização do povo e da
cultura local e o discurso dos extremos acaba tendo mais sobrevida em bate-papos nas
alamedas universitárias ou em páginas políticas na internet do que no dia-dia de fato
mesmo. Em outras palavras, a 'vida média' existe com mais força em Belo Horizonte e
não é uma simples idealização das camadas mais privilegiadas dessa sociedade. Já o Rio
de janeiro, por outro lado, opera bem como a caricatura perfeita de um país de extremos.
Um país do oprimido _vs_ opressor. Um país do cidadão de bem _vs_ infrator. Um país
do malandro _vs_ mané. Um país do bem _vs_ mal. A violência, a pobreza, a
segregação velada e demais injustiças continuam represadas no tecido social dessa
cidade e os extremos são as marcas visíveis dessa formação social desequilibrante.
Confesso que estive aí no Rio pela última vez em 2022, em um ranzinza e gélido agosto.
O clima da polarização política era perceptível (as eleições ocorreriam em outubro
daquele ano), a pobreza a mendicância só aumentava, os preços só disparavam e o mau
-humor era o expediente do dia (em agosto o Rio não costuma estar arrumado para
"inglês ver"). Lembro das conversas banais na Cinelândia, lembro das senhoras e moças
com passo apressado e as mãos esmagando a bolsa enquanto olhavam para o lado,
lembro das propagandas eleitorais toscas na TV onde ainda se explora falsas dicotomias
como Estado interventor ou Estado liberal. Sustentabilidade ou crescimento a todo
custo. Porte de armas ou porte de amor. Felizmente, voltei para a minha Belo Horizonte
dias depois e até hoje estou tentando me autoconvencer que aquilo era só um sonho
lúcido. No fundo compreendo o porquê do Rio ter essa característica caricata de
representar o Brasil. Porque no fundo, essa caricatura é parte permanente do Rio.

SINTAGMAS:
Projeto bem-sucedido de exclusão.
Os arautos da exclusão se articulam para jogar de novo num obscurantismo..
 ‘Digladiamento’ de duas cidades pulsantes. Uma como via de mercadorias e
outra como ponto de encontro

 Sociabilidades construídas nas miudezas da rua, da calçada, da esquina, da rua,


no terreiro, no cinema de rua e são construídas incessantemente e
cotidianamente

Solapados; Sensos de pertencimento..


...é o seguinte (kinda Reinaldo, o ‘Pelé de Minas Gerais’)

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