Bacurau é um filme de aventura, ação e ficção científica dos cineastas
pernambucanos Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. Lançado em 2019, a história conta sobre uma comunidade fictícia ameaçada no oeste pernambucano e que sofre com xenofobia, ataque aos direitos humanos, falta de água e de políticas públicas, culto à violência e ao porte de armas, políticos corruptos, a precariedade da saúde coletiva, racismo e preconceito contra os nordestinos. O filme é bastante fiel à realidade nacional, ainda mais quando é retratada a resistência popular.
O longa metragem começa pouco após a morte de dona Carmelita, aos 94
anos, e mostra os moradores de um pequeno povoado localizado no sertão brasileiro que descobrem que a comunidade não consta mais em qualquer mapa. Juntos, aqueles homens, mulheres e crianças passarão a enfrentar - além do descaso do prefeito local - problemas mais contundentes. Estes, misteriosamente, se iniciam com a passagem de um casal de motoqueiros que aparecem no povoado, aparentemente como turistas. Eles são oriundos da região Sudeste e Sul do Brasil, e por conta disso, se sentem superiores ao povo nordestino. Na realidade, eles estão lá para contribuir com planos de extermínio daquela comunidade por parte de forasteiros americanos que se fixaram na região. Pode-se fazer um paralelo dessa situação com o que ocorre em âmbito mais geral, em que elites brasileiras desprezam o povo e aliam-se aos interesses estrangeiros.
Ao mesmo tempo, além do problema de falta de água, começam a ser
assaltados pela inquietação de que algo está errado, muito mais errado do que de costume. Um disco voador paira no céu sertanejo, um caminhão-pipa surge com o tambor furado, um fazendeiro local não responde aos chamados dos amigos. Enquanto a tensão cresce, o povo que vive ali isolado tem, cada vez mais, seu senso comunitário fortalecido, compreendendo que - devido ao abandono do Estado - é dele que depende a sua sobrevivência.
O prefeito da cidade é retratado por um homem que não está interessado em
promover políticas públicas ou melhorias na comunidade, e sim se aproveitar do povo, aproximando-se dele apenas em ano de eleições. Além disso, representa o descaso à educação, indo de encontro ao artigo 26 da constituição, explícito na cena em que despeja de um caminhão um monte de livros, que caem no chão de qualquer forma, sendo danificados. Portanto, diante desse abandono do Estado, são os moradores que precisam lutar pela própria sobrevivência. Assim, eles que fazem as suas próprias regras. Por isso, a placa na estrada diz “se for, vá na paz”. Pois, a resposta para a violência é mais violência.
A convivência entre os diferentes, se não absolutamente pacata, é harmônica
em sua soma: há um elemento tribal belamente evocado no enredo, seja pelo cuidado com o próximo, seja pela evocação dos conhecimentos ancestrais do canto, da dança e do manejo das ervas. A igreja está fechada, não há polícia e o prefeito só se lembra do povoado para arrebanhar votos. As decisões da coletividade são tomadas a partir de discussões partilhadas, assim como a dor é vivida entre os pares. As janelas e as portas das casas não funcionam cotidianamente como barreiras, já que não há exatamente o que esconder. O vilarejo tem assassinos, prostitutas, médicos, mães de família, professores e alunos convivendo lado a lado.
A importância de Bacurau é também política. Além de representar a opressão e
resistência e a relação da “mania” de superioridade estrangeira, é um dos filmes que o Brasil levou a um dos mais importantes festivais da sétima arte, concorrendo ao prêmio máximo. Em meio ao que passa o audiovisual brasileiro, a ida de um filme para Cannes e outros tantos festivais mostra quão relevante é o nosso cinema. Além disso, a importância econômica também, mostra a sua relevância; nos créditos é passada uma frase que informa quantos empregos a produção possibilitou.
DISCENTE: Giovana Maia Alves
DOCENTE: Basilon Carvalho CURSO: Odontologia DISCIPLINA: Direitos Humanos FACULDADE: Dom Pedro II DATA: 09/03/2022