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Avaliação da concentração de mercúrio e

metilmercúrio em cabelos infantis de Manaus,
Amazonas, Brasil
Luciana A. FARIAS1, Déborah IT FÁVARO1, Artemiza PESSOA2, Jaime PL AGUIAR2,
Lúcia KO YUYAMA2

Abstrato
O presente estudo avaliou o conteúdo de Hg e MeHg em amostras de cabelo de 201 crianças de 2 a 7 anos, residentes em seis bairros da cidade
de Manaus, Estado do Amazonas, Brasil. Em geral, as faixas medianas de Hg total e MeHg no cabelo foram semelhantes (0,91 a 1,71 mg kg-1),
com exceção do bairro São José, que foi menor (0,16 mg kg-1). Apesar da população de Manaus consumir peixe como parte da alimentação
normal, os níveis de Hg no cabelo ficaram abaixo do nível de uma população adulta não exposta ao mercúrio (2,0 mg kg-1). Esses dados foram
comparados com informações demográficas, socioeconômicas e hábitos alimentares das famílias que participaram do estudo. Os resultados
também foram comparados com outros dados publicados da região amazônica, de outras regiões do Brasil e de outros países. Estudos futuros
para determinação dos níveis de Hg e MeHg no cabelo de crianças no Brasil devem levar em consideração e avaliar a diversidade do país,
principalmente em termos de hábitos alimentares, aspectos socioeconômicos e culturais.
Palavras-chave:mercúrio, metilmercúrio, cabelo infantil, região amazônica.

Avaliação da concentração de Mercúrio e Metilmercúrio em cabelo de

crianças de Manaus, Estado do Amazonas, Brasil
resumo
O presente estudo avaliou o teor de Hg e MeHg em amostra de cabelo de 201 crianças de 2 a 7 anos de idade, residentes em seis
bairros da cidade de Manaus, Amazonas, Brasil. Em geral, o teor de Hg total e MeHg em cabelo foram semelhantes (medianas de 0,91 a
1,71 mg kg-1), exceto para o bairro São José, que foi menor (0,16 mg kg-1). Apesar da população de Manaus consumir peixe como parte
da dieta normal, os níveis de Hg nos cabelos permaneceram abaixo do nível para uma população adulta não exposta ao produto (2,0
mg kg-1). Esses dados foram comparados com informações demográficas, socioeconômicas e hábitos alimentares das famílias que
participaram do estudo. Os resultados também foram comparados com outros dados publicados da Amazônia, outras regiões do Brasil
e outros países. Futuros estudos para definir os níveis de Hg total e MeHg no cabelo das crianças brasileiras devem considerar e avaliar
a diversidade do país, principalmente em termos de hábitos alimentares, nível sócio-econômico e os aspectos culturais.

PAlAvrAs-chAve:mercadoria, metilmercúrio, cabelos de crianças, região amazônica

1
Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, IPEN-CNEN/SP, São Paulo, SP. Av. Professor Lineu Prestes 2242, CEP 05508-000, São Paulo, SP, Brasil, Fone: (11) 3133-9977. FAX: E-mail:
lufarias2@yahoo.com.br
2
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, INPA, Av. Prof. André Araújo, 2936, Aleixo, CEP 69060-001, Manaus - AM, Brasil, E-mail: yuyama@inpa.gov.br

279 vol. 42(2) 2012: 279 - 286

 Avaliação da concentração de mercúrio e
metilmercúrio em cabelos infantis de
Manaus, Amazonas, Brasil

Introdução maior região ecológica. Dados oficiais colocam a população em

1.802.014 habitantes (IBGE 2010). A cidade está localizada às
Muitos estudos recentes de consumidores de peixe na Europa
margens do Rio Negro, que é um rio de águas pretas e recebe
e na América revelaram associações significativas entre o
água de escoamento do ecossistema amazônico.
consumo de peixe e os níveis de Hg e metilmercúrio (MeHg)
(Roulete outros. 1997; Santose outros. 2000; Guentzele outros Em 2003 o projeto “Segurança/Insegurança Alimentar em
2007; Marquese outros. 2007; Passose outros2007; Díeze outros. Manaus” estava em desenvolvimento e coordenado pelo
2008; Endo e Haraguchi 2010; Freiree outros2010). Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA (Segall–
Correae outros2003). O processo de amostragem foi baseado
Na Amazônia, a exposição ao Hg por meio do consumo de peixes
no censo do IBGE (2000) de acordo com a configuração
tem sido motivo de grande preocupação nas últimas duas décadas.
espacial da população urbana de Manaus em zonas e os
Um grande número de avaliações de exposição de populações que se
bairros mais representativos em cada zona. A partir dessas
alimentam de peixes foi conduzido em muitas partes da imensa região
considerações foram escolhidos para o estudo os seis bairros
amazônica, usando sangue e/ou cabelo como biomarcadores para
mais populosos da cidade, sendo eles: Alvorada – Zona
estudar comunidades ambientalmente expostas por meio de sua dieta
Centro-Oeste; Cidade Nova – Zona Norte; Compensa – Zona
de peixes (Campos 2001; Dorea 2003; Doreae outros. 2005; Santos e
Oeste; Flores – Zona Centro-Sul; Japiim – Zona Sul; São José
outros. 2007; Hacone outros2008; Passos e Mergler 2008; Passos e
Operário – Zona Leste (Figura 1). Foram entrevistadas 894
outros2008). O peixe sempre foi um item importante na dieta dos
(oitocentas e noventa e quatro) famílias desses bairros, sendo
amazônicos e per se é sua melhor fonte de nutrientes essenciais. No
626 famílias constituídas por menores de 18 anos, sendo que,
entanto, as transformações sociais e econômicas que vêm ocorrendo
desse grupo, 268 eram pré-escolares de 2 a 7 anos (turma
na região nas últimas décadas têm contribuído para mudanças nos
infantil). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do
hábitos alimentares dessas populações. A maior disponibilidade de
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).
alimentos industrializados nas cidades mais desenvolvidas pode afetar
os níveis de Hg nos cabelos, o que está associado aos hábitos As amostras de cabelo (201) do presente estudo foram
alimentares. retiradas deste estudo anterior em 2003, como parte de um
projeto “Estudo de Segurança Alimentar em Manaus” coordenado
Segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares - POF
pelo INPA e total e metilmercúrio foram avaliados. O estudo
2002-2003 (IBGE - Censo Nacional Brasileiro) (IBGE 2004), as
também foi aprovado pelo Comitê de Ética do Instituto de
comunidades mais pobres do Brasil, como indígenas, ribeirinhos
Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN/CNEN-SP) (Protocolo n.
e ribeirinhos consomem o pescado como principal fonte de
100/2005-CEP/IPEN/SP).
proteína. As comunidades de classe econômica mais alta têm
mais opções de proteína para escolher e, portanto, geralmente Para hábitos alimentares e consumo de pescado das famílias
não precisam consumir grandes quantidades de peixe para obter foi utilizada a POF 2002-2003 (Pesquisa de Orçamentos
proteína. Familiares) do IBGE (IBGE 2004). Esses dados detalham a
quantidade de alimentos e bebidas que cada família consome,
O objetivo do presente estudo foi avaliar o teor de Hg total e
segundo as grandes regiões brasileiras, e também divididas em
MeHg em amostras de cabelo de 201 crianças, com idades entre 2
áreas rurais e urbanas.
e 7 anos, residentes em seis bairros da cidade de Manaus,
Amazonas, e tentar estabelecer correlações dos níveis de Hg no
cabelo com o consumo de pescado informado na POF 2002-2003.
Esses dados foram comparados com informações demográficas,
socioeconômicas e hábitos alimentares das famílias que fizeram
parte do estudo. Os resultados também foram comparados com
outros estudos publicados na região amazônica, em outras
regiões do Brasil e em outros países.
Além disso, este estudo fornece mais informações sobre os
valores de Hg no cabelo e hábitos alimentares de Manaus e
outras regiões do país.

Materiais e métodos
Desenho do estudo e localização da amostragem

Manaus, capital do estado do Amazonas, está localizada

no Norte do Brasil, e pertence a um dos maiores Figura 1 -Mapa de Manaus e bairros amostrados da cidade.

280 vol. 42(2) 2012: 279 - 286-FARIASe outros

 Avaliação da concentração de mercúrio e
metilmercúrio em cabelos infantis de
Manaus, Amazonas, Brasil
As mães e/ou responsáveis pelas crianças foram
entrevistadas para obtenção de dados demográficos e
socioeconômicos relevantes. A pontuação da ABPE (Associação
Brasileira de Empresas de Pesquisa) foi utilizada para a
classificação social. Essa classificação utiliza o nível de
escolaridade do chefe da família; número de rádios em casa;
número de geladeiras; máquinas de lavar e TVs em cores;
disponibilidade de água potável e esgoto. As notas da ABEP
variam de zero (os mais pobres) a 34 (os mais ricos). As
pontuações foram transformadas em categorias de classes
sociais. As notas de 0 a 5 correspondem à classe E, 6 a 10 (classe
D), 11 a 16 (classe C), 17 a 20 (classe B2), 21 a 24 (classe B1), 25 a
29 (classe A2) e os mais ricos de 30 a 34 (classe A) (ABEP 2003).
Amostragem e preparação de amostras
Amostras de cabelo de doadores foram coletadas com corte
único da região occipital bem próximo ao couro cabeludo com
tesoura de aço, na quantidade aproximada de 1 g, quando
possível. O procedimento de limpeza seguiu o protocolo
recomendado pela Agência Internacional de Energia Atômica
(IAEA 1987). Cerca de 30 amostras de cabelo de crianças foram
coletadas em cada bairro. Para análise química, amostras de
cabelo foram enviadas ao Laboratório de Análise de Ativação de
Nêutrons do IPEN/ CNEN-SP.
Peixe mais consumido pela população de Manaus
Fariase outros. (2010) analisaram as espécies de peixes mais
consumidas pela população de Manaus. As espécies de peixes
avaliadas foram: Aracu (Schizodar sp), Aruanã (Osteoglossum
bicirrhossum), Branquinha (Curimata laticeps), Curimatã (
Prochilodus nigricans), Jaraqui (Prochilodus insignis sp), pacu (
Mylossoma spp), Pescada (Plagioscion spp), Pirapitinga (Piractus
brachypomum), Sardinha (Triportheus elongatus spp), Surubim (
Pseudoplalystoma fasciatum), Tambaqui (Colossoma
macropomum) e Tucunaré (Cichla ocellaris spp). Todas as
amostras foram analisadasin naturae depois cozido usando três
processos de cozimento diferentes. As perdas de Hg durante os
processos de cocção foram então avaliadas. Detalhes deste
estudo foram publicados em um artigo anterior (Fariase outros.
2010). A média e o desvio padrão para a concentração total de Hg
in naturapara estas 12 espécies de peixes foi de 750 ± 773µg kg-1
(30 - 2392 µg kg-1; mediana, 393 µg kg-1) (peso seco).
Determinação de mercúrio total e metilmercúrio
A determinação de mercúrio (Hg) e metilmercúrio (MeHg) foi
realizada por Espectrometria de Absorção Atômica de Vapor Frio (CV
AAS), usando um FIMS da Perkin Elmer. O procedimento analítico
utilizado (digestão úmida) foi o de Horvat (1996) com algumas
modificações. Para determinação de Hg total, amostras de cabelo
foram digeridas em uma mistura de HNO concentrado e H SO em
frascos 2de Teflon,
4
colocados em um bloco de alumínio a 90
0 C por 3 horas. Para a determinação do MeHg, a metodologia
281 vol. 42(2) 2012: 279 - 286-FARIASe outros
baseou-se na lixiviação da amostra com HCl 6M, separação
do Hg orgânico do inorgânico através de uma resina de troca
iônica usada para separar Me-HgCl não iônico de um HgCl2-
complexo,
4
retido na coluna. Após a separação, as amostras
foram digeridas em uma mistura de HNO 3
e H SO2 4
e determinação de Hg feita por CV AAS. A validação da
metodologia para as determinações de Hg total e MeHg foram
realizadas pelas análises de material de referência IAEA-085
(Cabelo Humano) e IAEA-086 (Cabelo Humano - sem pontas). O
desvio padrão relativo variou de 2,6 a 3,6% e 2,2 a 6,2%; e os
erros relativos foram de 1,0% e variaram de 0,4 a 1,5% para Hg
total e MeHg, respectivamente, mostrando boa precisão e
exatidão para ambas as metodologias.
análise estatística
A análise estatística foi realizada pelo software
Statistica Student Versão 6.0 (Tulsa, OK, EUA).
Estatísticas descritivas foram utilizadas para caracterizar a
população estudada, bem como a exposição ao Hg. Comparações
entre grupos foram realizadas usando técnicas não paramétricas.
O teste de Shapiro Wilks foi aplicado para verificar a distribuição
de normalidade dos dados de Hg total em cada bairro estudado e
revelou um padrão de distribuição não normal. Assim, o teste não
paramétrico de Kuskal-Wallis foi aplicado para verificar se as
diferenças não eram significativas (p>0,05).
Kruskal-Wallis mostrou que as diferenças nas medianas de Hg
observadas em função dos bairros não foram significativas
(p>0,05), assim como as diferenças observadas das medianas em
função das classes sociais.
O box plot foi utilizado para verificar a distribuição dos dados por subgrupos
de classes sociais.
Resultados e discussão
Resultados
Os níveis totais de Hg e MeHg nas amostras de cabelo dos
seis diferentes bairros de Manaus são mostrados na Tabela 1.
A distribuição do conteúdo de mercúrio no cabelo das
crianças para toda a população do estudo é mostrada na Figura 2;
o conteúdo médio total foi de 1,93 ± 3,90 mg kg-1(intervalo: 0,02
– 34,4mgkg-1). O teor de mercúrio no cabelo era inferior ao limite
de referência da EPA dos EUA (USEPA 2005) de 1 mg kg-1em 50,2%
das crianças estudadas; 26,9% apresentaram níveis entre 1 e 2
mg kg-1. A faixa de nível de mercúrio no cabelo para uma
população adulta não exposta recomendada pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) é de 1-2 mg kg-1. No entanto, aqueles
que consomem peixe uma ou mais vezes por dia podem ter níveis
de mercúrio no cabelo superiores a 10 mg kg-1(OMS 2008). Além
3
disso, 20,9% apresentaram níveis maiores que 2 e menores que
14 mg kg-1, e 2,0% das crianças estudadas apresentaram níveis
superiores à dose de limite inferior de referência (BMDL) para
 Avaliação da concentração de mercúrio e
metilmercúrio em cabelos infantis de
Manaus, Amazonas, Brasil

Tabela 1 -Mercúrio total (mg kg-1) (média ± dp; mediana; intervalo)e metilmercúrio (%) em amostras de cabelo de crianças da cidade de Manaus

Hgtotal
Hgtotal MeHg
Média ± dp
(Proporção em relação a
Manaus (intervalo) mediana
conteúdo total de Hg - %)
bairros (n)
Total Total
Fêmea Macho Fêmea Macho (intervalo)
(masculino+feminino) (feminino + masculino)

2,3 ± 3,8 2,55 ± 4,49 1,75 ±1,94

Alvorada (0,28 – 18,27) (0,47 – 18,27) (0,28 – 6,04) 1.23 1.22 1.29 47 a 97
(22) (15) (07)
2,8 ± 3,8 2,63 ± 4,53 3,04 ± 2,53
cidade nova (0,10 – 20,09) (0,10 – 20,09) (0,41 – 9,37) 1,71 1,62 2.12 47 a 95
(31) (18) (13)
1,5 ± 1,6 1,16 ± 0,98 2,03 ± 2,28
compensar (0,02 – 8,64) (0,07 – 3,90) (0,02 – 8,64) 1.16 0,98 1.19 47 a 95
(40) (26) (14)
3,2 ± 7,6 1,22 ± 0,94 5,92 ± 11,23
flores (0,19 – 34,36) (0,23 – 3,96) (0,19 – 34,36) 0,98 0,97 1.52 48 a 90
(33) (19) (14)
1,4 ± 1,4 1,30 ± 1,20 1,67 ± 1,58
japiim (0,05 – 7,14) (0,05 – 4,79) (0,12 – 7,14) 1.06 0,89 1,57 49 a 97
(44) (26) (18)
0,7 ± 1,2 0,69 ± 0,95 0,79 ± 1,42
São José (0,06 – 4,66) (0,06 – 2,94) (0,06 – 4,66) 0,16 0,14 0,18 54 a 98
(31) (16) (15)
(n) – número de amostras.

Figura 2 -Distribuição das concentrações de Hg no cabelo da população total do estudo - 1 mg kg-1(USEPA, 2005); -.-. : 2mgkg-1(OMS, 2008); ----- 14 mg kg-1
(FAO/OMS, 2007).

cabelo-Hg (14 mg kg-1) usado para determinar a dose de referência
recentemente revisada pela OMS (FAO/OMS 2007). Deve-se notar que
os limites acima se referem a populações adultas.
Os valores medianos para Hg total em amostras de cabelo de
acordo com a vizinhança foram: Alvorada - (1,23 mg kg-1); cidade nova
- (1,71 mg kg-1); Compensa - (1,16 mg kg-1); Flores - (0,98 mg kg-1);
Japiim - (1,06 mg kg-1) e São José (0,16 mg kg-1). Os resultados da
variação de vizinhança de Hg e MeHg foram semelhantes
exceto o bairro São José que apresentou níveis de Hg bem
mais baixos. É interessante notar que este bairro é o mais
distante do porto da cidade, o que pode influenciar na
aquisição de pescado para consumo.
A Figura 3 mostra os box plots (mediana) das concentrações
totais de Hg no cabelo em função da classe social (B, C, D, E) da
população estudada. Os valores medianos para Hg total e
intervalo MeHg (em % do Hg total) em amostras de cabelo para o

282 vol. 42(2) 2012: 279 - 286-FARIASe outros

 Avaliação da concentração de mercúrio e
metilmercúrio em cabelos infantis de
Manaus, Amazonas, Brasil

Mesa 2 -Comparação dos níveis de Hg total em cabelos de crianças de diferentes

localidades do Brasil e de outros países

Hg total (mg kg-1)

Comunidades
Significar±SD Intervalo

Brasília Legal – idade: 0 a 5 anos

5,84 ± 4,91 1.09 – 20.46
(Estado do Pará) (Santos et al., 2000)

Barão do Melgaço – idade: 3 – 7

anos (Mato Grosso) (Tavares et 5,37 ± 3,35 0,58 – 17,14
al., 2005)
Bacia do Rio Madeira: crianças e
adultos (região amazônica) (Bastos et al., 15,22 ± 9,6 0,36 – 150,0
2006)
São Luiz do Tapajós - idade: 0 - 5 anos
21,06 ± 14,38 0,10 – 94,50
(Estado do Pará) (Santos et al., 2000)
Waru (índios da Vila Dr. Tanajura) - idade:
4 a 8 anos (Estado de Rondônia) 5,6 ± 0,8 5.06 – 6.58
Figura 3 -Box plot da distribuição do Hg total em função da classe social, da (Campos e outros, 2002)

população de Manaus (média +/- desvio padrão). Rio Negro – idade: < 15 anos (região
18,52 ± 10,04 0,51 – 45,89
amazônica) (Barbosa et al., 2001)
Cidade de Cubatão – idade: 1 a 10 anos
população estudada de acordo com as classes sociais foram:
(Estado de São Paulo) 0,82 ± 0,48 0,2 – 3,0
classe B (0,92 mg kg-1– 71,1 a 90,6 % para MeHg); classe C (Santos Filho e outros, 1993)
(0,86 mg kg-1– 47,1 a 93,9% para MeHg); classe D (1,17 mg kg Município de Cananéia – idade: 4 - 12 anos (São
0,48 ± 0,35 < 0,01 – 3,32
-1– 46,6 a 98,1 % para MeHg) e classe E (0,77 mg kg-1– 58,0 a Estado de Paulo) (Farias, 2008)

90,6 % para MeHg). Manaus – de 2 a 7 anos

1,93 ± 3,90 0,02 – 34,4
(atual estudo) (n = 201)
Os teores de Hg total e MeHg foram maiores nos cabelos da
Hg total (mg kg-1)
classe D (1,17 mg kg-1). Embora as medianas de Hg total no cabelo Outros países
Significar±SD Intervalo
apresentem alguma variação entre as classes sociais estudadas
Espanha – idade: 4 anos (Montuori et al.,
(B, C, D, E), pelo teste de Kruskal-Wallis as diferenças entre Hg 0,99 ± 0,20 < 0,01 – 5,63
2006)
total observadas em função das classes sociais não foram Japão – idade: 7 anos (Montuori et al.,
significativas (p > 0,05 ). 1,4 ± 0,89 0,45 – 6,32
2006)
A Tabela 2 mostra os níveis de Hg total em cabelos África (Gana) – idade: não citado
1,93 ± 1,61 0,62 – 4,27
(Adimado e outros, 2002)
infantis de vários outros estudos da região amazônica e do
estado de São Paulo (Brasil) e alguns outros países para fins
Pode-se supor que comunidades de baixa renda, como populações
de comparação.
indígenas e ribeirinhas, tenham como principal fonte de proteína o peixe.
Discussão Passos e Mergler (2008) citaram que, entre os consumidores de pescado, as

A revisão de Souza e Barbosa (2000) de estudos publicados sobre comunidades ribeirinhas apresentam o maior grau de exposição, com

comunidades ribeirinhas na Amazônia encontrou um valor médio de média de cabelo-Hg tão alta quanto 38,6 ± 14,4 mg kg-1(Eve et al, 1996) e 65

19,1 mg kg-1para Hg total em amostras de cabelo, valor considerado ± 58 mg kg-1(Leino e outros, 1996). No geral, os consumidores urbanos de

muito alto e merecendo atenção especial dos órgãos governamentais peixe são os menos expostos, apresentando níveis médios de Hg no cabelo

nacionais de meio ambiente e saúde. Uma revisão mais recente indica de 2,4 mg kg-1(Santos et al, 2002), 2 mg kg-1(Passose outros2003), e 1,9 mg

que uma ampla gama de exposição, com níveis médios de Hg no kg-1(Webbe uml 2004).

cabelo acima de 15 mg/kg-1em várias comunidades amazônicas foi
encontrado, colocando-os entre os níveis mais altos relatados no
mundo (Passos e Mergler 2008). Embora existam muitos dados
conflitantes sobre os limites de Hg no cabelo humano, possivelmente
indicando problemas iniciais devido à exposição ao Hg, está bem
estabelecido que o consumo de peixe constitui a principal ingestão de
Hg nas populações humanas (Marquese outros. 2007; Passose outros.
2007b; Díeze outros. 2008; Endo e Haraguchi 2010; Freiree outros.
2010). A frequência do consumo de peixe é geralmente determinada
pelo número de opções de proteína disponíveis para uma
comunidade. Portanto, pode
No Brasil, existem poucos estudos fora da região amazônica sobre
os níveis de mercúrio no cabelo (Tabela 2).
santos filhoe outros(1993) avaliou os níveis de chumbo
(Pb) e Hg no cabelo de crianças de Cubatão. O cabelo de 251
crianças (de 1 a 10 anos) foi analisado pela técnica analítica
AAS. Essas crianças residentes em 6 bairros às margens do rio
principal de Cubatão foram escolhidas e 2 grupos foram
selecionados: um com alto consumo de organismos aquáticos
do rio Cubatão e outro que não consome nenhum organismo
aquático. A concentração média de Hg total foi de 0,82 ± 0,48
mg kg-1(0,2 a 3,0 mg kg-1), detectado em

283 vol. 42(2) 2012: 279 - 286-FARIASe outros

 Avaliação da concentração de mercúrio e
metilmercúrio em cabelos infantis de
Manaus, Amazonas, Brasil
217 amostras de cabelo de crianças. Não foi observada diferença
estatística (p>0,05) entre as médias encontradas para Hg no
cabelo dos que consumiram e dos que não consumiram
organismos aquáticos.
Fariase outros. (2008) realizaram um estudo que analisou o
cabelo de crianças (n = 105) de três escolas públicas (PSCa1,
PSCa2 e PSCa3) (idade variando de 4 a 12 anos) de Cananéia, São
Paulo, Brasil. Neste estudo, durante a coleta de cabelo, os pais
das crianças responderam a um questionário sobre o consumo
semanal de peixe. As informações dos questionários revelaram
que a frequência de ingestão de peixes e frutos do mar de 1 a 2
vezes/semana foi de 48%, 45% e 43% para o PSCa1, PSCa2 e
PSCa3, respectivamente. A frequência < 2 vezes/semana foi de 39,
47 e 50%, respectivamente. Para a opção “raramente”, as
respostas foram 13, 8 e 7%, respectivamente. De modo geral, a
maioria das famílias que fizeram parte do estudo apresentavam
baixo nível de renda, com salário na faixa de 1 a 5 salários
mínimos no Brasil (67,6%), caracterizando uma população de
baixa renda e alto consumo de peixes e frutos do mar, visto que
essas famílias são geralmente famílias de pescadores. Os níveis
médios de Hg total no cabelo das crianças das 3 escolas públicas
foram: PSCa1, 151 ± 216 µg kg-1(intervalo: <10 – 770, mediana: 43
µg kg-1); PSCa2, 505 ± 536 µg kg-1(intervalo: <10
– 3321, mediana: 389 µg kg-1) e PSCa3, 554 ± 547 µg kg-1
(intervalo: <10 – 2814, mediana: 394 µg kg-1).
Os níveis de Hg total no cabelo de crianças de Manaus foram
menores quando comparados aos valores obtidos em crianças
residentes em outras localidades da região amazônica. No entanto, os
valores observados neste estudo foram superiores quando
comparados aos valores de Hg do cabelo de crianças residentes em
outras regiões do país, e muito semelhantes aos valores de outros
resultados publicados em países como Japão e Gana (Tabela 2), apesar
de algumas diferenças de idade entre os participantes. Nesses
diferentes estudos, o consumo de peixe foi frequentemente citado
como o fator mais significativo para a bioacumulação de mercúrio,
principalmente em sua forma orgânica. Os resultados deste estudo
corroboram com os resultados obtidos em vários estudos recentes
entre as concentrações de Hg total e MeHg em amostras de cabelo e
hábitos alimentares (Santose outros. 2000; Marquese umeu. 2007;
Hacone outros. 2008; Passos e Mergler 2008).
Deve-se notar também que os níveis de Hg determinados em 12
espécies de peixes mais consumidos pela população de Manaus (750 ±
773 µg kg-1, intervalo 30 - 2392 µg kg-1, peso seco) em estudo recente
desenvolvido por Fariase outros., (2010), apresentou teores de Hg
superiores aos das espécies de peixes mais consumidas da população
de Cananéia (332 ± 457 µg kg-1, <10 - 2008 µg kg-1, peso seco) (Curchoe
outros. 2009). Esses achados também poderiam justificar os níveis
mais elevados de Hg encontrados no cabelo das crianças do presente
estudo.
Como já se sabe, também é importante considerar fatores
culturais, nutricionais, socioeconômicos e demográficos, todos
284 vol. 42(2) 2012: 279 - 286-FARIASe outros
o que pode influenciar os hábitos alimentares que, por sua vez,
podem afetar a ingestão de Hg. Segundo dados da POF
2003-2004, para uma dieta de 1.883,89 kcal/dia, a participação
relativa dos peixes no kcal total da região Norte foi de 3,07%. O
consumo de carne e frango foi de 9,32% para a mesma região.
Em comparação, a região sul do país apresenta um valor de
0,23% para a mesma dieta (1.883,89 kcal dia-1) considerando o
consumo de pescado. Isso vale também para outras regiões do
Brasil. O estudo da POF revela ainda uma maior aquisição de
pescado fresco para a região Norte (7,48%), bem superior às
demais regiões. Assim, a partir dos dados um dia de 1.659,95 kcal
-1 dieta, o consumo relativo de pescado para a zona urbana foi de
2,11%. Para áreas rurais, um dia de 2.524,55 kcal-1dieta, o
consumo relativo de pescado foi de 4,89%, indicando maior
consumo de pescado na zona rural para a região norte. Além
disso, estudos publicados revelam que o consumo médio de
pescado per capita em Manaus está entre 100 a 200 g/dia (36 a 72
kg ano-1) (Val e Santos 2009).
Uma confirmação para os níveis de Hg no cabelo das crianças
deste estudo também pode ser encontrada no relatório da POF. A
POF verifica que as famílias com maiores níveis de renda
consomem mais carne e frango do que peixe. Por outro lado,
observa-se maior consumo de pescado nas famílias de menor
renda. No presente estudo, a classe D apresentou o maior teor de
Hg nas amostras de cabelo (valor mediano de 1,17 mg kg-1),
confirmando a hipótese acima.
Em relação à frequência de consumo de pescado, a
população da cidade de Manaus não consome tanto pescado
quanto os ribeirinhos e indígenas, pois podem substituir o
pescado por outras fontes proteicas. Além disso, o consumo de
pescado da população de Manaus depende da sazonalidade,
portanto, dependendo do período do ano, o consumo de pescado
cai drasticamente devido ao aumento do preço do pescado.
CONCLUSÕES
Apesar da população de Manaus consumir peixe como parte
de sua alimentação normal, os níveis de Hg no cabelo foram
menores quando comparados a outras localidades da região
amazônica, mas superiores aos níveis médios de outras regiões
do Brasil, como Cananéia e Cubatão, litoral cidades e semelhante
a outros estudos de outros países (Japão e Gana). As espécies de
peixes mais consumidas pela população de Manaus
apresentaram teores de Hg mais elevados do que as espécies
mais consumidas pela população de Cananéia. Se o consumo de
peixe é baixo, é lógico que a exposição ao Hg também deve ser
menor. Isso é especialmente verdadeiro quando uma população
tem outras fontes de proteína como opções para sua dieta. No
caso deste estudo, isso foi confirmado pela POF do IBGE, que
também mostrou a importância do peixe como fonte de proteína
para as populações do Norte brasileiro.
 Avaliação da concentração de mercúrio e
metilmercúrio em cabelos infantis de
Manaus, Amazonas, Brasil
amostras de cabelo (valor médio de 1,17 mg kg-1), confirmando a
hipótese mencionada anteriormente.
RECONHECIMENTOS
Os autores agradecem à CAPES pelo apoio financeiro e ao
Laboratório de Alimentação e Nutrição do INPA, (Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia), pelas amostras de cabelo.
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