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Diretoria de Ciências Exatas

Laboratório de Física

Material de Apoio

Física Geral e Experimental


(2012/01)

Grandezas Físicas e Teoria dos Erros


1. Medidas de Grandezas Físicas

A nomenclatura e as regras básicas sobre incertezas em metrologia foram discutidas


nos últimos anos por grupos de trabalho constituídos por especialistas indicados por
diversas organizações internacionais (BIPM, IEC, IFCC, ISO, IUPAC, IUPAP e OIML) e
foram publicadas em dois importantes textos: “Guide to the Expression of Uncertainty in
Measurements” e “(VIM) International Vocabulary of Basic and General Terms in Metrology”.
Esta última publicação foi traduzida pelo INMETRO em 1994.
Com a finalidade de tornar a exposição mais clara e em conformidade com a
Legislação Brasileira, serão apresentadas as definições e alguns comentários sobre termos
mais usuais em Teoria dos Erros.

1.1. Grandezas Físicas

Grandeza física é o atributo de um fenômeno, corpo ou substância que pode ser


distinguido qualitativamente e determinado quantitativamente.
Grandezas Físicas Fundamentais: São aquelas independentes de qualquer outra. Por
exemplo, o comprimento de uma barra de ferro; a massa de um corpo sólido; o tempo
decorrido.
Grandezas Físicas Derivadas: São aquelas que derivam das fundamentais. Por exemplo,
a velocidade, a área, a aceleração, a força entre outras, que podem ser escritas em termos
das Grandezas Fundamentais.

1.2. Medição

Medição é o conjunto de operações que têm por objetivo determinar o valor de uma
grandeza.
A palavra “medida” é amplamente utilizada no sentido de “medição”. Entretanto,
deve-se reconhecer que a palavra medição, recomendada no VIM (Vocabulário
Internacional de Termos Fundamentais e Gerais de Metrologia), é uma palavra mais correta.
O resultado de uma medição é o valor atribuído ao mensurando, obtido por medição.

1.3. Algarismos Significativos

A sensibilidade e precisão de todo instrumento de medida está limitada às suas


características definidas no processo de fabricação. Muitas vezes a leitura do valor de uma
grandeza é intermediária a dois traços consecutivos da escala analógica como na Figura1.

Figura1 - Exemplo de Medida de Comprimento.

A barra que está sendo medida na Figura 1 tem uma extremidade ajustada ao zero de
uma régua marcada em u (unidades de medida de comprimento, por exemplo, o mm -
milímetro). A outra extremidade da barra não está coincidindo com nenhum dos traços.
Observa-se que o valor desta medida de comprimento seria de 27u (vinte e sete
unidades de medida de comprimento), acrescida de alguns décimos de unidade de medida,
mas não podemos afirmar qual é o seu valor exato. Ou seja, podemos apenas estimar ou
avaliar estes décimos e, a aproximação ao valor "verdadeiro", dependerá da experiência, da
perícia e da capacidade de avaliação do operador.

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Por exemplo, se três pessoas diferentes apresentarem como resultado desta medida
os seguintes valores: 27,3 u; 27,4 u e 27,5 u

Pode-se verificar que há concordância com relação aos algarismos 2 (duas dezenas) e
7 (sete unidades) e, portanto, existe um consenso de que eles são "verdadeiros" ou
"exatos", enquanto que os algarismos 3, 4, e 5 (décimos) são duvidosos. Tanto os algarismos
exatos quanto os duvidosos de uma medida são denominados algarismos significativos.
É importante observar que não há sentido em se escrever algarismos após o
algarismo duvidoso de uma medida.
Qualquer grandeza física escalar pode ser escrita na forma: , onde:
- A é o símbolo que representa determinada grandeza física, por exemplo: m (massa);
L (comprimento); t (tempo) etc;
- a é o seu valor numérico, por exemplo: 27,4; 27,3; 27,5 etc;
- a é a sua incerteza, por exemplo: 0,1; 0,5; 0,2 etc;
- u é a sua unidade da grandeza física medida, por exemplo: kg (quilograma); m
(metro); s (segundo) etc.
O valor numérico (a) poderá ser resultado de uma ou mais medições diretas ou
indiretas. Qualquer que seja a precisão adotada, a quantidade de algarismos estará limitada,
pelas condições experimentais, a aqueles que realmente têm significado e, por esse motivo,
são denominados algarismos significativos.

1.4. Arredondamentos de Algarismos Significativos (conforme NBR 5891 da


ABNT, de dez/77).

As operações precisas com algarismos significativos exigem o conhecimento da


Teoria dos Erros, tema de próximos tópicos. Entretanto, algumas regras básicas podem
auxiliar para evitar o exagero de casas decimais, muitas vezes, representando uma precisão
que não corresponde à realidade.
Desta forma, resultados finais de operações matemáticas precisam ser arredondados
(ou truncados). Para tanto, são utilizadas as seguintes regras de arredondamento:
- Quando o algarismo à direita do último algarismo significativo a ser conservado for
inferior a 5, o último algarismo (o duvidoso) a ser conservado permanecerá sem
modificação. Exemplo:
1) 1,5734 = 1,57 (truncado para 3 algarismos significativos)

- Quando o algarismo à direita do último algarismo significativo a ser conservado for


superior a 5, ou, sendo 5 e este seguido de no mínimo um algarismo diferente de zero, o
último algarismo a ser conservado deverá ser aumentado de uma unidade. Exemplos:
1) 1,666 = 1,67 (truncado para 3 algarismos significativos)
2) 4,8505 = 4,9 (truncado para 2 algarismos significativos)

- Quando o algarismo à direita do último algarismo significativo a ser conservado for 5 e


este for seguido de zeros ou não houver algarismos depois do 5, deve-se considerar:

a. se o último algarismo significativo for ímpar, arredondar o algarismo a ser conservado


para o próximo algarismo par. Exemplos:
1) 4,5500 = 4,6 (truncado para 2 algarismos significativos)
2) 75,35=75,4 (truncado para 3 algarismos significativos)

b. se ele for um número par, o último algarismo é conservado. Exemplos:


1) 7,156500 = 7,156 (truncado para 4 algarismos significativos)
2) 9,45=9,4 (truncado para 2 algarismos significativos)

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1.5. Notação Científica (NC)

A maneira de se escrever o valor numérico em trabalhos científicos é,


preferencialmente, a notação científica. Nesta notação escreve-se o número recorrendo à
potência de dez, com a particularidade de que se deve conservar apenas um algarismo,
diferente de zero, à esquerda da vírgula. Exemplos:
1) 125 g = 1, 25 102 g 3 algarismos significativos
2) 22,34 m = 2, 234 10m 4 algarismos significativos
3) 0,0350 Ω = 3,50 102  3 algarismos significativos
4) 1,0052 V = 1,0052 V 5 algarismos significativos

A razão para se preferir a notação científica está relacionada à facilidade e à rapidez


com que se pode visualizar a grandeza, com a devida potência de 10, e a quantidade de
algarismos significativos.

1.6. Sistema Internacional de Unidades (SI)

O SI (Sistema Internacional de Unidades) surgiu em 1960 durante a 11ª CGPM


Conferência Geral de Pesos e Medidas com o intuito de estabelecer os fundamentos de um
sistema de medições, único e coerente, com abrangência mundial. Ele é uma evolução do
sistema métrico decimal estudado desde 1875, quando foi realizada a 1ª convenção do
BIPM (Bureau Internacional de Pesos e Medidas)
Ele evolui de modo a acompanhar as crescentes exigências mundiais demandadas
pelas medições, em todos os níveis de precisão, em todos os campos da ciência, da
tecnologia e das atividades humanas.
As sete unidades de base do SI, listadas na tabela 1, fornecem as referências que
permitem definir todas as unidades de medida do Sistema Internacional. Com o progresso
da ciência e com o aprimoramento dos métodos de medição, torna-se necessário revisar e
aprimorar periodicamente as suas definições. Quanto mais exatas forem as medições, maior
deve ser o cuidado para a realização das unidades de medida.

Tabela 1: Grandezas Fundamentais do SI e sua nomenclatura.


SÍMBOLO
NOME DA
GRANDEZA DA DEFINIÇÃO DA UNIDADE
UNIDADE
UNIDADE
“... o comprimento do percurso coberto pela luz, no vácuo, em
Comprimento metro m
1/299.792.458 de um segundo.” (1983)
“... este protótipo (um certo cilindro de liga de platina-irídio),
Massa quilograma kg será considerado daqui por diante a unidade de massa.” (1889)
“... a duração de 9.192.631.770 vibrações da transmissão entre
Tempo segundo s dois níveis hiperfinos do estado fundamental do átomo de césio
133”.(1967)
“... a corrente constante que, mantida em dois condutores
retilíneos, paralelos, de comprimento infinito, de seção circular
Corrente elétrica ampère A desprezível e separada pela distância de 1 metro no vácuo,
provoca entre esses condutores uma força igual a 2.10-7
newtons por metro de comprimento.” (1946)
Temperatura “... a fração 1/273,16 da temperatura termodinâmica do ponto
termodinâmica
kelvin K triplo da água”.(1967)
“... a quantidade de substância de um sistema que contém tantas
Quantidade de
substância
mol mol entidades elementares quanto são os átomos em 0,012
quilogramas de carbono 12.” (1971)
“... a intensidade luminosa, na direção perpendicular, de uma
Intensidade superfície de 1/600.000 metros quadrados, de um corpo negro
luminosa
candela cd na temperatura de solidificação da platina, sob a pressão de
101,325 newtons por metro quadrado.” (1967)

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Na tabela 2, estão exemplificadas algumas unidades derivadas do SI.

Tabela 2: Grandezas Derivadas e sua nomenclatura no SI.


SÍMBOLO DA
GRANDEZA NOME DA UNIDADE OUTRAS UNIDADES
UNIDADE
Aceleração metro por segundo quadrado m / s2
Área metro quadrado m2

Densidade quilograma por metro cúbico kg / m3


Energia, Trabalho joule J kg  m2 / s 2
Força newton N kg  m / s 2
Potência watt W kg  m2 / s3 ou J / s
Pressão pascal Pa N / m ou kg / m  s 2
Velocidade metro por segundo m/ s
Volume metro cúbico m3

Nota: No Sistema Internacional, a abertura angular é dada em radianos (rad):

Figura 2: Aberturas angulares em radianos.

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Alguns prefixos são frequentemente utilizados para expressar potências de dez, de
acordo com a Tabela 3.

Tabela 3: Prefixos do SI.


POTÊNCIA PREFIXO SÍMBOLO
24
10 iota Y
21
10 zeta Z
18
10 exa E
15
10 peta P
12
10 tera T
109 giga G
106 mega M
103 quilo K
102 hecto H
101 deca Da
100 = 1 -- --
10-1 deci D
10-2 centi C
10-3 mili M
10-6 micro µ
10-9 nano 
10-12 pico P
10-15 femto F
10-18 ato A
-21
10 zepto Z
-24
10 iocto Y

Exemplos de utilização de prefixos:

1) 1  10-3 m, é equivalente a 1 milímetro (mm) e


2) 1  103 m corresponde a 1 quilômetro (km).
3) De forma semelhante, 1 kg = 1  103 g.

Há regras e convenções específicas para representar uma grandeza física tanto


fundamental quanto derivada no Sistema Internacional de Unidades (SI). Assim, para
escrever o resultado da grandeza física L da seguinte forma:

L = 5,12 m Símbolo da unidade

Símbolo da Grandeza
Física
Resultado da medida física

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1.7. Definições:

- Repetitividade: Grau de concordância entre os resultados de sucessivas medições


de um mesmo mensurando, efetuadas sob as mesmas condições de medições.
- Reprodutibilidade: Grau de concordância entre os resultados de medições de um
mesmo mensurando, efetuadas sob condições de medições diferentes.
- Exatidão ou Acurácia: Grau de concordância entre o resultado de uma medição e o
valor verdadeiro do mensurando.
- Precisão: Conceito qualitativo para indicar o grau de concordância entre os diversos
resultados experimentais obtidos em condições de repetitividade.
Então, boa precisão significa erro estatístico pequeno, de forma que os resultados
apresentem boa repetitividade.
Observação: Mesmo com boa precisão, a exatidão ou a acurácia pode ser ruim caso
existam erros sistemáticos consideráveis.
- Valor Médio : Definição de uma dada grandeza específica, considerando uma
quantidade finita n de medições.
- Valor Médio Verdadeiro : Valor consistente com a definição de uma dada
grandeza específica, considerando uma quantidade infinita de medições.
O valor verdadeiro de uma grandeza é o valor que seria obtido para uma medição
perfeita e a determinação do mesmo pode ser entendida como o objetivo final da medição.
Entretanto, o valor verdadeiro é indeterminado por natureza.
- Resultado de uma medição: Valor obtido por medição e atribuído ao mensurando.
- Mensurando: Grandeza específica submetida à medição.
- Desvio: É a diferença entre o resultado de uma medição e o valor médio verdadeiro
do mensurando.
Como o valor verdadeiro é uma quantidade desconhecida logo, o desvio também é
desconhecido, em princípio.
- Variância associada ao processo de medição : É a média dos quadrados dos
desvios quando a quantidade de medições tende ao infinito.
- Desvio padrão experimental : Definido com sendo a raiz quadrada da
variância.
- Incerteza de medição: Parâmetro associado ao resultado de uma medição e que
caracteriza a dispersão dos valores que podem ser fundamentalmente atribuídos ao
mensurando.
Embora desconhecido, o mensurando tem um valor verdadeiro único por hipótese.
Entretanto, diferentes valores podem ser "atribuídos" ao mensurando e a incerteza
caracteriza a dispersão destes valores.
Evidentemente, a incerteza só pode ser obtida e interpretada em termos
probabilísticos.
Existem várias formas de indicar a incerteza tais como a incerteza padrão, incerteza
expandida e limite de erro.
- Erro estatístico: Resultado de uma medição menos o Valor Médio Verdadeiro (ou
Média Limite).
- Erro sistemático: Diferença entre o Valor Médio Verdadeiro e o Valor verdadeiro.
O Erro Sistemático é o erro do valor médio verdadeiro.
- Incerteza padrão: Resultado final dado na forma de um desvio padrão.

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1.8. Apêndice

Funções estatísticas em calculadoras científicas padrão:


Cálculo de média e desvio padrão a partir de um conjunto de dados:

1 – Entrar no modo estatístico (SD);


2 – Limpar a memória estatística (SCL);
3 – Efetuar a entrada dos valores na memória (M+);
4 – Acessar as variáveis estatísticas (S-Var);
5 – Localizar a opção para o Desvio Padrão (
6 – Localizar a opção de Valor Médio (

Obs.: Esse procedimento poderá variar de acordo com o modelo da calculadora


utilizada.

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