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Em face ao exposto, junto com o processo de captura, o criador deve, sempre que as condições
assim permitir, aumentar o número de caixas do seu meliponário através da divisão artificial de colônias.
2º) observar na área dos discos de favos se existe realeira visível, célula
maior (normalmente única) localizada na periferia dos discos de favos.
Estas realeiras, que aparecem temporariamente, são as únicas células que
darão origem às rainhas nesta tribo. Dividir colônias de Trigonini sem a
observância deste detalhe é como dar um "tiro no escuro", que fig. 24 - processo de divisão
normalmente não atinge o objetivo satisfatoriamente. Sem a presença de passo a passo em Trigonini
realeiras, existe ainda uma condição que viabiliza a divisão; a presença de
uma rainha virgem pertencente à família. Esta pode estar circulando livremente junto às demais abelhas ou
aprisionada em "celas reais" e, assim sendo, deverá ser levada junto com parte da família que ficar sem a
rainha-mãe;
3º) transferir para a nova caixa, ainda vazia, de 2 a 3 discos de favos de coloração mais clara e fundo
escuro (favos de cria nascente), não esquecendo jamais de incluir no grupo de favos transferidos o disco
onde está presente a realeira, se esta existir. Caso não se consiga transferir os favos compactamente,
estabelecer um pequeno espaço entre eles - o espaço abelha [foto 67, capítulo 11] - bastando para tal
colocar algumas bolinha de cerume entre eles. Revestir, se possível, todo o ninho com invólucro de cerume.
Quando é encontrado uma rainha virgem, deve-se tomar cuidado para não leva-la junto com a rainha mãe
para a mesma caixa;
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4º) transferir para a nova caixa um bom contingente de
abelhas jovens, de coloração mais clara, operação que pode
ser auxiliada através de um "aspirador de abelhas" [figura
25] e [foto 70];
7º) levar a colônia-mãe, que deve ficar com a rainha velha (mãe), para um
local bem distante da colônia-filha, de preferência onde não possam se
comunicar visualmente, substituindo a nova colônia em seu lugar. Desta
forma, reforçamos a nova caixa com a chegada das campeiras que por
hora estavam trabalhando no campo.
Com relação à divisões que envolvem espécies da tribo Meliponini (Uruçu, Mandaçaia, Jandaíra), os
cuidados observados são basicamente idênticos aos expostos acima. A grande diferença desta tribo é que
as rainhas emergem de favos iguais aos que originam operárias, portanto quaisquer discos de favos,
preferencialmente os superiores, possuem boa chance de abrigarem uma ou mais células reais.
Se por um lado é bom não depender de realeiras, por outro o sucesso da operação está nas mãos
das leis da probabilidade, nada garantindo que nos favos transferidos haverá uma rainha prestes a emergir.
Uma vez verificada poliginia (presença de duas ou mais rainhas), podemos dividir as famílias direcionando
uma rainha para cada colônia.
Dividir é tarefa essencial para aqueles criadores que pretendem expandir sua atividade, contudo,
quando realizada por principiantes por vezes pode estar factível ao fracasso. Antes de se aventurar em
multiplicar suas abelhas, o meliponicultor deve procurar ter boa prática no manejo de suas colônias além de
conhecer sua biologia e organização social.
Pelo que até aqui foi abordado, podemos classificar as dois processos pelos quais uma colônia de
abelhas sem ferrão pode se dividir em natural e artificial. O primeiro, refere-se ao processo espontâneo de
divisão, conhecido como enxameação, que ocorre naturalmente quando a família se encontra em franco
desenvolvimento e elege uma nova rainha para fundar um novo ninho. O segundo processo, diz respeito à
separação artificial realizada com a interferência do criador, como descrito no subcapítulo anterior.
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Existe ainda um terceiro processo de divisão que não
pode ser considerado nem como todo natural, nem como
artificial. É classificado como processo de divisão induzida, no
qual as abelhas são estimuladas artificialmente a fundarem
um novo ninho em local definido pelo criador. Os australianos
deram à técnica o nome de "Duplicação Natural de Colônias"
(Natural Hive Duplication) o que, na minha opinião, não traduz
corretamente o processo, visto que o fenômeno da
enxameação é que, de fato, deve ser considerado totalmente
natural. Uma outra definição mais pertinente, fornecida
também pelos australianos, é a de "Método Educativo"
(Education Method). O nome que encontrei para traduzir
melhor é o de "Duplicação Induzida de Colônias". foto 71 - duplicação induzida em colônia de Jandaíra
O método consiste na colocação de uma caixa vazia com dois orifícios, um na parte da frente e
outro na de traz, conectada diretamente à saída do
ninho a ser duplicado, direcionando as abelhas a
passarem pela caixa vazia ao entrar ou sair da
colônia. Esta conexão é feita com a utilização de um
tubo de diâmetro compatível ao tamanho da espécie,
vedado com fita adesiva apropriada, sem deixar
espaços nas junções [foto 71], de forma a evitar
uma outra rota senão a da caixa vazia. A família
escolhida pode estar nidificada em locais naturais
foto 72 - duplicação induzida de caixa racional (a) e tronco (b) (troncos, muros, cavidades, solo, etc.) ou mesmo em
uma caixa, racional ou não [foto 72]. O orifício de
passagem para a nova caixa pode estar localizado também em
outras posições afora a parede de traz, por exemplo na base da
caixa [foto 72], dependendo de como esta ficará acomodada em
relação ao ninho original.
Pode parecer a primeira vista que a duplicação induzida é um processo de rara ocorrência,
entretanto são inúmeros os relatos de sucesso na execução deste método, inclusive com descrições de
divisão múltipla, na qual uma colônia se divide em três através do acoplamento simultâneo de duas caixas
vazias com um tubo em Y.
A grande vantagem da técnica está em não submeter a colônia a uma condição de estresse, por
não interferir diretamente na moradia e no trabalho das abelhas. Com relação a sua indicação, a mesma
sobretudo se destina a colônias que estão nidificadas em locais inacessíveis, onde a captura não seja
possível ou não recomendada, como nos casos onde se exija a derrubada de uma árvore [foto 73]. Não é
concebido em hipótese alguma a derrubada de árvores com intuito de capturar colônias.
Para concluir este capítulo, lembro que o processo de divisão deve estar sempre balizado em uma
satisfatória quantidade de colônias da mesma espécie, visto os efeitos negativos gerados pelo cruzamento
consangüíneo (teoria de Kerr & Vencovsky) ao obter diversas famílias à partir de sucessivas divisões de
poucas matrizes.
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PARTE II – TÉCNICAS DE CRIAÇÃO
CAPÍTULO 13 – MEL: COLHEITA E MANUSEIO
O mel, produto da colheita e armazenamento do néctar das flores, é estocado nas colônias de
abelhas sem ferrão em estruturas ovaladas de cerume, constituindo verdadeiros potes de provimento de
alimentos - mel e pólen, como já observado anteriormente. É necessário ter em mente que o néctar difere
bastante do mel, pois os mesmos possuem características físico-químicas divergentes, apesar do último ser
produto da transformação do primeiro.
Sabe-se que o mel dos meliponíneos são bem mais aquosos (contém mais água) que o de Apis
mellifera, chegando a valores de 36,4%, com média em 7 espécies estudadas de 25,12% - méis de Apis
mellifera possuem em média 18 a 19% de água. Tais números explicam o fato de o mel das abelhas sem
ferrão ser mais vulnerável à processos de fermentação e, portanto, apresentar maior dificuldade em sua
conservação e menor "tempo de prateleira" dependendo do acondicionamento empregado.
Embora estes méis possuam maior probabilidade de fermentar, são mais ácidos e contém níveis
superiores de substâncias antibióticas que em Apis mellifera, como comprovado na presença maciça de
peróxido de hidrogênio, que inibe o desenvolvimento de diversos microorganismos no mel. Assim mesmo, a
falta de cuidados higiênicos leva à contaminação do mel com lêvedos (fungos) ou bactérias que superam,
em certas condições, as barreiras antibióticas e contaminam o produto (veremos adiante cuidados para
conservar o mel dos meliponíneos). O pH médio de amostras de méis de meliponíneos, revelaram valores
médios de 3,71 e 4,2. Considerando que algumas conhecidas bactérias causadoras de enfermidades
possuem pH mínimo para crescer de 4,3 (Escherechia coli); 4,0 (Salmonella spp.); 4,5 (Streptococcus);
podemos considerar que, na média, os méis de meliponíneos
apresentam condições pouco favoráveis para o desenvolvimento
destes agentes patogênicos.
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cerume lacrados estão aptos a ser extraído pelo meliponicultor sem maiores problemas de
acondicionamento. O criador deve evitar extrair grande quantidade de mel estocado em potes abertos, uma
vez que este mel "verde" contém muita água em sua composição, além de menores quantidades de
hidróxido de hidrogênio e ácidos importantes na atividade antibiótica que tanto protegem o produto final de
prejuízos causados por fungos e bactérias.
A colheita do mel deve ser realizada nas épocas de florada expressiva, quando os potes são
inúmeros e encontram-se fechados, repletos de mel. Segundo o Prof. Nogueira-Neto, as épocas favoráveis
ao armazenamento de mel pelas abelhas varia de região para região. Por exemplo, no sudeste as colônias
de Jataís (Tetragonisca angustula) estão repletas desde novembro a janeiro. É bom salientar que, mesmo
sendo mantidas em um meliponário comum, cada espécie possui o seu período particular de colheita de
néctar e, até entre espécies semelhantes, existem variações.
Desta forma, recomenda-se que cada meliponicultor deva
observar o "calendário meliponícola" de sua região para traçar
um perfil de ocorrência das principais floradas no ano.
Apesar disso, trata-se de um processo de extração sujeito a diversas falhas e que induz uma
condição de estresse à colônia, por expor demais as abelhas durante, dependendo da caixa utilizada, e
depois da extração, em razão do inevitável vazamento de mel dentro da mesma. Além disso, mesmo
fazendo uso da peneira, é impossível evitar a entrada de elementos contaminantes, carreados durante o
escorrimento para os vasilhames definitivos, aumentando as chances de fermentação e deterioração do
produto. Grande parte das espécies do gênero Melipona utilizam-se de excrementos animais na construção
de batumes e outras estruturas delimitantes de seus ninhos, sendo esta mais uma razão para tomarmos
cuidado com a conservação do mel escorrido. É fato que todo mel tem a possibilidade de estar contaminado
por exemplo com Escherechia coli, bactéria presente nas fezes animais, ou ainda com o vírus causador da
hepatite A. Alguns estudiosos, entre eles o professor Paulo Nogueira Neto, não aconselham mais o método
do escorrimento. Para amenizar este e outros problemas de contaminação, devemos proceder a
pasteurização do mel (veremos no próximo subcapítulo).
Uma vez coletado e envasado nos vasilhames definitivos, em alguns casos o mel deve passar por
processos que visam reduzir a carga de microorganismos contaminantes, principalmente quando se trata de
espécies de reconhecidos hábitos anti-higiênicos, tais como: Mandaçaia (Melipona quadrifasciata), Jandaíra
Nordestina (Melipona subnitida), Uruçu Nordestina (Melipona scutellaris), Irapuá ou Arapuá (Trigona
spinipes), entre outras. A maioria dos pesquisadores concordam em afirmar que a Jataí (Tetragonisca
angustula) é a espécie mais higiênica entre os meliponíneos. Existem até observações sobre coleta de
fezes animais por Apis mellifera, fato que despertou a comunidade científica para o estudo das
propriedades antibióticas do mel desta e outras espécies de abelha.
O processo mais difundido e prático é o da pasteurização do mel, técnica inventada pelo francês
Louis Pasteur e altamente empregada até hoje nos produtos de origem animal como o leite. Devemos
proceder colocando os vasilhames em banho-maria controlando a temperatura do mel por termômetro
adequado, até atingir a marca de 72ºC, sempre mexendo o conteúdo para homogeneizar a temperatura,
tarefa que pode ser feita com uma colher ou com o próprio termômetro. Esta temperatura não deve exceder
por demais o limite em razão de modificar as propriedades do mel quanto a sua estrutura e também o seu
sabor. Sabe-se que em temperaturas muito acima da recomendada, pode haver formação de componentes
de significativa toxidez.
O mel, pasteurizado ou não, deve então ser finalmente guardado em locais onde a luz natural ou
artificial não incidam diretamente, pois os raios, principalmente emanados de luzes fluorescentes,
"quebram" a estrutura do peróxido de hidrogênio, reduzindo os níveis deste importante elemento
estabilizador do mel.
O mel dos meliponíneos, se respeitadas as mais rígidas condições de higiene desde a extração até
o envase do produto final, aliada à época propícia para sua colheita, é um elemento de alta estabilidade
durando em torno de 12 meses, se bem acondicionado. Para aumentarmos sua "vida de prateleira"
podemos guardá-los sob leve refrigeração, condição que aumenta as chances de cristalização, que é um
processo natural nos méis mais idôneos e puros.
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PARTE III – TÓPICOS ADICIONAIS
CAPÍTULO 14 – POLINIZAÇÃO & AGRICULTURA
Bombus (no Brasil conhecida como Mamangava) também são importantes. Eles são polinizadores
eficientes onde quer que sejam suficientemente abundantes, e particularmente importantes no norte da
Europa em épocas de extremo frio. São generalistas com predileção por flores largas, porém as espécies
diferem em comprimento de língua e consequentemente preferências de flor; espécies de língua comprida,
como Bombus hortorum e Bombus pascuorum são polinizadores importantes de flores com corolas
profundas como o feijão de campo e o trevo vermelho. Por causa da habilidade para zumbir-polinizar (buzz-
polinate), são polinizadores mais eficientes que abelhas melíferas em culturas de solanaceas (batata,
tomate, pimentão, fumo, berinjela, etc.) e de ericaceas (azaléas).
Desde que métodos para criar continuamente Bombus foram desenvolvidos nos anos 80s, o uso de
B. terrestris para a polinização induzida de frutos de melão, framboesa, passa, morango, pimenta doce e
tomate, além de cultivos protegidos de cenoura e couve-flor, cresceu drasticamente e o potencial para a
polinização de cultivos ao ar livre de valor alto, como amêndoa, maçã, cereja, pêssego, pêra e ameixa está
sendo avaliada.
.
14.2 - valore$$ da polinização
Uma avaliação econômica da contribuição da polinização por abelhas para a produção de 30
culturas na Europa foi alvo de pesquisa datada de uma década atrás, na qual atribuíram a cada cultura um
valor, 'o coeficiente de incidência ', baseado em sua dependência pela polinização por insetos e, neste
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trabalho, foi atribuído 85% para a polinização por abelhas melíferas. Foi estimado que as culturas tiveram
um valor de mercado anual combinado de US$ 65 milhões, sendo que a polinização por insetos contribuiu
com US$ 5 milhões e a realizada especificamente por abelhas melíferas contribuiu com US$ 4,2 milhões.
Como resposta ao problema gerado, diversos encontros e simpósios foram realizados com a
finalidade de estabelecer ações que visassem barrar a diminuição de polinizadores no meio ambiente.
Nestes eventos foram levantadas saídas como:
a) pesquisas para determinar quais flores, cultivadas ou não, são polinizadas por abelhas, bem como
quais espécies de abelha ideais, densidades e benefícios econômicos da polinização por cultura e por
região;
e) mais pesquisa sobre ecologia e taxonomia de abelhas para incluir fatores chaves (recursos florais,
disponibilidade de local de ninho, parasitas, doenças, predadores) afetando a dinâmica da população,
além de estudos raio de vôo e competição intra e interespecífica em relação ao arranjo temporal e
espacial de recursos.
A Agenda 2000 - Agricultura, documento de política da Comissão Européia que traçou diretrizes
para a Política Agrícola Comum na primeira década do próximo século reconheceu o papel crucial que a
agricultura representa, produzindo comida de qualidade alta, mantendo uma zona rural vitalizada,
protegendo paisagens e preservando o valor cultural, e recomendou aumentar recursos orçamentários e
linhas de crédito para atividades como cultivo orgânico, manutenção de hábitats semi-naturais, pomares
tradicionais, faixas de proteção ao longo de rios. Tais estímulos poderiam trazer benefícios para abelhas.
Porém, não há qualquer evidência que a Comissão de Européia tomou nota das preocupações e
recomendações feitas por seus cientistas acerca do tema polinização. A Influencia da indústria apícola
resultou em algumas melhorias criadas para apoiar a apicultura e, em particular, financiar pesquisa em
Varroa. Mas foi pouco, uma vez observada a dependência da produção agrícola européia em relação a uma
diversidade de abelhas e dos perigos que cercam uma super-dependência nos serviços de um único
polinizador, no caso as abelhas melíferas.
.
14.3 - o exemplo do Bombus
O uso lucrativo de espécies potencialmente polinizadoras está esperando só a descoberta do valor
delas, ou o desenvolvimento de técnicas para a criação destas. Relativo aos mais de 20.000 espécies de
abelhas, há o reconhecimento que quase todas possuem um certo papel na polinização e conduzem à
produção de sementes e frutas, e que as várias diferenças morfológicas entre estas espécies (tamanho de
corpo, comprimento de língua) estão relacionadas a um certo grau de especialização para os mais variados
tipos de flores.
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Com exceção de algumas espécie, estas abelhas não são criadas, os locais naturais de nidificação
não são protegidos nem respeitados, por quanto os serviços de polinização prestados "gratuitamente" por
espécies selvagens estejam ocorrendo suficientemente. Quando a polinização é considerada insatisfatória,
traz-se para o local um polinizador generalista, freqüentemente Apis mellifera, considerando que tal medida
resolverá todos os problemas. Porém o porquê do declínio natural da polinização sempre foi e continua
sendo uma pergunta sem importância.
O uso futuro dos muitos polinizadores não descobertos depende do estabelecimento de métodos
para os criar nas quantidades necessárias. O tempo necessário para tal desenvolvimento geralmente é
menosprezado. Além disso, criar é só uma parte de um sistema para o uso próspero de um polinizador
novo. O caso do Bombus terrestris na Europa, ilustra bem esta condição. Esta espécie se tornou um valioso
polinizador na agricultura intensiva desde 1988, quando foi introduzido na produção de tomates em estufa
nos Países Baixos e Bélgica, sendo que a espécie já tinha sido estudada e criada em laboratório durante
décadas.
Por volta de 1985, Dr. Jonghe, veterinário belga e experiente criador com interesse em taxonomia
de Bombus, fez as primeiras observações sobre o valor de Bombus terrestris para a polinização de tomates.
Ele introduziu junto aos produtores de tomates da perte meridional da Holanda a técnica de manter colônias
em estufa. Os que confiaram no trabalho do pesquisador, mais tarde conseguiram preço recorde para seus
tomates. Em seguida, produtores daquela região se deram conta do valor da polinização por insetos e, no
ano seguinte, grande parte procurou o Dr. Jonghe para assimilar a técnica proposta.
Dr. Jonghe fundou sua própria companhia, "Biobest", prestando serviços especializados de
polinização para os produtores, seguido de outras iniciativas como "Bunting Brinkman", "Koppert Biologucal
System", e várias companhias menores, tornando difícil em poucos anos a vida de produtores que ainda se
utilizavam da polinizacao por vibração artificial nos Países Baixos. Três foram as causas principais para o
advento acelerado da criação de Bombus conjugada no cultivo de tomates:
a) competição no mercado por preço satisfatório (tomates polinizados por Bombus eram de qualidade
melhor comparada com frutos obtidos por vibração artificial);
c) menor utilização de tratamentos inseticidas, graças a tecnologia para controle biológico de pestes de
inseto em tomates de estufa já estar desenvolvida.
Depois dos tomates, seguiram outros produtos de estufa. O mais prevalecente foi o uso na
produção de pimenta doce, onde foi obtida uma qualidade superior do produto como resultado da
polinização pelo inseto.
A procura por colônias de Bombus criou dificuldades aos criadores comerciais em produzir a quantia
demandada. Foi então que as companhias maiores investiram nos pequenos detalhes inerentes à criação,
mais precisamente à ativação de rainhas, e cada uma desenvolveu suas próprias melhorias que, até o
presente, são mantidas como segredo comercial entre os competidores de mercado.
Um segundo problema estava no fato que colônias manipuladas produziam machos em maiores
quantidades comparadas às rainhas jovens selvagens. Como conseqüência, as partes meridionais da
Europa se tornaram locais favoritos para a coleta de rainhas jovens, especialmente espécies que produziam
colônias no inverno, como B. terrestris sassaricus. Esta coleta em massa cresceu com tal extensão que
reações governamentais se seguiram, e alguns países proibiram a atividade.
A explicação desse fenômeno está no fato da interação entre condições ambientais desfavoráveis e
o efeito da consangüinidade, conforme se observa em diversos outros Hymenoptera (uma série de alelos de
um locus sexual, quando em homozigose para este gene conduz a machos diplóides em vez de operárias
diplóides - ver capítulo 6.2). Isto indicou que, na fase de acasalamento, deveriam ser selecionadas rainhas
e machos de colônias diferentes. Por sorte, machos diploides são quase inferteis e, no caso de eles
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eventualmente ocorrerem, a sua baixa probabilidade reprodutiva reduz as conseqüências do surgimento
destes.
.
14.4 - mercado internacional
O sucesso da polinização com Bombus não permaneceu um segredo dos Baixos Países, e logo
ocorreu exportação em larga escala de colônias para outros países, dentro e fora da Europa.
Isto trouxe um novo problema. O ideal seria que cada país utiliza-se de espécies locais para
começar a criação, pois populações geográficas tendem a serem geneticamente diferentes, e misturando-as
provavelmente conduz-se a uma hibridação local, por vezes não desejada. Como conseqüência podemos
ter a introdução de parasitas e doenças em regiões onde elas não ocorrem naturalmente.
Vários países estimularam as companhias de criação para utilizar somente espécies locais, como
em Israel onde B. terrestris é nativo, ou nos EUA com B. impatiens e B. occidentalis. Por outro lado, há
aspectos não interessantes na criação exclusiva de espécies locais, sob a ótica da indústria de criação. Em
primeiro lugar porque, no caso da Europa, o tomate e a pimenta não são cultivados durante o ano todo,
fazendo com que um centro de criação local enfrente desemprego em parte do ano. Colônias produzidas
localmente, em combinação com transporte para países onde o ciclo da cultura a ser polinizada é diferente
traz boa vantagem econômica, pois permite ao criador de Bombus investir em especialização do pessoal,
baixando custos de produção e aumentando a eficiência da criação.
Em vista da acirrada competição internacional por preços, produtores em países onde Bombus não
ocorrem naturalmente, estão a buscar a importação deste polinizador. É o caso da Austrália e de alguns
países latino-americanos, como o Uruguai. Com relação à este país limítrofe com o Brasil, já existem
informações de que a espécie de Bombus importada está penetrando em território brasileiro, tal qual
ocorreu com outros animais e que trouxeram inúmeros impactos na fauna silvestre nativa. Por outro lado,
não podemos esquecer que foi a partir do Brasil que as abelhas africanizadas se espalharam pela
Américas, com velocidade impressionante. Na Rússia, somente entre 1994 e 1996, aproximadamente 70
agrofirmas russas importaram algo em torno de 7.000 colônias de Bombus terrestris de Israel, Holanda e
Bélgica, principalmente para polinização de tomates e outras Solanaceae. No Japão, o governo está
estimulando o desenvolvimento de técnicas para espécie de Bombus local mas, enquanto isso, permite
importação de B. terrestris da Europa.
.
14.5 - panorâma brasileiro
O Brasil é um dos países com maior diversidade de polinizadores e podendo dispor dos serviços
dos mesmos a qualquer época do ano nas mais variadas regiões do país, trazendo, entre outros benefícios,
inestimáveis avanços na produção agrícola, gerando ao final do processo maior captação de divisas pela
exportação.
Abaixo segue uma tabela baseada em diversos trabalhos publicados até o momento, que mostra
uma série de culturas e seus potenciais polinizadores identificados nestas pesquisas:
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cultura abelha visitante família referência
Acerola Centris dirrhoda Anthophoridae Raw (1979)
(Malphighia punicifolia) Centris fuscata Anthophoridae Melo et al. (1997)
Centris sponsa Anthophoridae Melo et al. (1997)
Centris aenea Anthophoridae Castro e Silva (1998)
Centris flavifrons Anthophoridae Magalhães e Oliveira (1998)
Centris tarsata Anthophoridae Castro (2002)
Abacate Apis mellifera Apidae Castro e Silva (1998)
(Persea americana) Trigona spinipes Apidae Castro e Silva (1998)
Tetragonisca angustula Apidae Castro e Silva (1998)
Melipona scutellaris Apidae Castro e Silva (1998)
Frieseomelitta doederleinii Apidae Castro e Silva (1998)
Nannotrigona punctata Apidae Castro e Silva (1998)
Partamona helleri Apidae Castro e Silva (1998)
Melipona subnitida Apidae Castro e Silva (1998)
Coco Apis mellifera Apidae Castro e Viana (1997)
(Cocus nucifera) Trigona spinipes Apidae Castro e Viana (1997)
Auglochlora sp. Halictidae Castro e Viana (1997)
Dialictus sp. Halictidae Castro e Viana (1997)
Goiaba Apis mellifera Apidae Castro e Araújo (1998)
(Psidium guajava) Nannotrigona punctata Apidae Castro e Araújo (1998)
Trigona spinipes Apidae Castro e Araújo (1998)
Melipona scutellaris Apidae Castro e Araújo (1998)
Caqui Euglossa securigera Apidae Castro (2002)
(Diospyrus kaki) Apis mellifera Apidae Castro (2002)
Xylocopa gricescens Anthophoridae Castro (2002)
Centris fuscata Anthophoridae Castro (2002)
Macadamia Trigona spinipes Apidae Castro et al. (1998)
(Macadamia integrifolia) Apis mellifera Apidae Castro et al. (1998)
Nannotrigona punctata Apidae Castro et al. (1998)
Trigona fuscipennis Castro et al. (1998)
(Grewia asiatica) Apis mellifera Apidae Castro (2002)
Melipona scutellaris Apidae Castro (2002)
Exomalopsis sp. Anthophoridae Castro (2002)
Xylocopa suspecta Anthophoridae Castro (2002)
Pitomba Apis mellifera Apidae Castro (2002)
(Talisia esculenta) Melipona scutellaris Apidae Castro (2002)
Augochloropsis calicroa Halictidae Castro (2002)
Carambola Apis mellifera Apidae Castro (2002)
(Averrhoa carambola) Exomalopsis sp. Anthophoridae Castro (2002)
Augochloropsis calicroa Halictidae Castro (2002)
Exomalopsis auropilosa Anthophoridae Castro (2002)
Tamarindo Apis mellifera Apidae Castro e Oliveira (1998)
(Tamarindus indica) Centris aenea Anthophoridae Castro e Oliveira (1998)
Centris fuscata Anthophoridae Castro e Oliveira (1998)
Centris analis Anthophoridae Castro e Oliveira (1998)
Xylocopa suspecta Anthophoridae Castro e Oliveira (1998)
Partamona cupira Apidae Castro e Oliveira (1998)
Trigona spinipes Apidae Castro e Oliveira (1998)
Centris tarsata Anthophoridae Castro e Oliveira (1998)
Ceratina madeirae Anthophoridae Castro e Oliveira (1998)
Laranja Pêra Apis mellifera Apidae Castro (2002)
(Citrus sinensis) Trigona spinipes Apidae Castro (2002)
Canola Apis mellifera Apidae Toledo e Chiari (2001)
(Brassica napus e B. Trigona spinipes Apidae Toledo e Chiari (2001)
campestris) Tetragonisca angustula Apidae Toledo e Chiari (2001)
Soja (Glycine max) Apis mellifera Apidae Toledo e Chiari (2001)
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Com relação à resultados, no trabalho de Toledo e Chiari (2001) apresença de Apis mellifera na
cultura da canola trouxe um aumento significativo tanto no comprimento médio das síliquas (6,15%), quanto
na produção de sementes (de 10,1%). Tais dados revelam que a polinização cruzada efetuada por abelhas
é benéfica, mesmo em culturas com alto grau de autofecundação como a canola. No mesmo trabalho, em
culturas de soja visitação livre de Apis mellifera não ocorreram diferenças na produção de grãos e no peso
de sementes, porém na área impedida de visitação a produção de grãos foi menor e o peso das sementes
foi superior (em razão da maior disponibilidade de nutrientes para menor grãos.
O objetivo deste capítulo foi trazer à tona que o declínio da entomofauna, além das preocupações
com o meio ambiente, carrega toda uma questão sócio-econômica que pode vir a se tornar o fiel da balança
no futuro da raça humana, principalmente no que diz respeito à produção de alimentos para os próximos
séculos. Serve também como um lembrete para o valor comercial que algumas espécies de insetos podem
alcançar futuramente, muitas delas desprezada pelo homem nos dias atuais. Mais um motivo para se lançar
no universo que é a vida e criação de nossas abelhas sem ferrão.
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