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ESTADO DE RONDÔNIA

POLÍCIA CIVIL
DEPARTAMENTO DE FLAGRANTES - DEFLAG

DESPACHO

Chegou ao conhecimento desta Autoridade Policial a ocorrência


supracitada, tendo como infrator(a)s o(a)s nacional(s) Cleisson Goncalves do
Couto.
Para aferição da conduta do(a)s suposto(a)s infrator(a)s e formação
do meu convencimento jurídico foi analisado o contexto dos fatos descritos
minuciosamente no histórico da ocorrência policial apresentada, juntamente com
o conteúdo das oitivas do(a) condutor(a), da(s) testemunha(s) e do(a)s
conduzido(a)s.
Nessa seara é necessário trazer a definição de arma de fogo
previsto no anexo III do Decreto nº 10.030/2019:
"Arma de fogo - arma que arremessa projéteis empregando a força
expansiva dos gases, gerados pela combustão de um propelente
confinado em uma câmara, normalmente solidária a um cano, que tem a
função de dar continuidade à combustão do propelente, além de direção
e estabilidade ao projétil."

Dessa forma, não há dúvidas que o instrumento apresentado é


arma de fogo e apresenta todas as características de uma arma de fogo de uso
permitido de acordo com a definição prevista no Anexo I do Decreto nº
10.030/2019:

"Art. 3º As definições dos termos empregados neste Regulamento são


aquelas constantes deste artigo e do Anexo III.
Parágrafo único. Para fins do disposto neste Regulamento, considera-se:
I - arma de fogo de uso permitido - as armas de fogo semiautomáticas
ou de repetição que sejam:       
a) de porte, cujo calibre nominal, com a utilização de munição comum,
não atinja, na saída do cano de prova, energia cinética superior a mil e
duzentas libras-pé ou mil seiscentos e vinte joules;     
b) portáteis de alma lisa; ou      
c) portáteis de alma raiada, cujo calibre nominal, com a utilização de
munição comum, não atinja, na saída do cano de prova, energia cinética
superior a mil e duzentas libras-pé ou mil seiscentos e vinte joules;"

A classificação da arma de fogo pela Autoridade Policial é pautada


na legislação penal e na prática do cotidiano, no entanto é a perícia técnica quem
apresentará laudo com o calibre definitivo da arma de fogo apreendida, visando
subsidiar o Ministério Público na denúncia.
O(a)s conduzido(a)s possui a posse da arma de fogo registradas no
banco de dados do Sistema de Gerenciamento Militar de Armas (SIGMA) por
ser(serem) atirador(s) esportivo(s), atleta(s) do tiro conhecido pela sigla CAC
(Colecionador, Atirador e Caçador).
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Os CACs são regulamentados, controlados e fiscalizados pelo


Exército Brasileiro, responsável por manter o SIGMA, que é a estruturação criada
de banco de dados das propriedades de armas ali registradas. Portanto, a arma
do CAC tem seu registro no SIGMA, numa relação individualizada denominada
“acervo”, já que poderá adquirir mais do que uma, devendo seguir todas as regras
existentes para as condições operacionais de guarda e utilização.
Atualmente, em razão da edição do Decreto nº 11.366 de 1º de
janeiro de 2023, está proibido o porte de trânsito de arma de fogo municiada por
colecionadores, atiradores e caçadores, inclusive no trajeto entre sua residência e
o local de exposição, prática de tiro ou abate controlado de animais. As munições
devem ser transportadas acondicionadas em recipiente próprio e separado das
armas (art. 14).
Obviamente que o atirador esportivo deverá portar consigo a
documentação obrigatória, quais sejam, sua identificação pessoal, seu Certificado
de Registro de atirador (CR), a Guia de Tráfego (GT) e o Certificado de Registro da
Arma de Fogo (CRAF).
Ainda que o atirador possua documentação lícita, deverá
acautelar-se de algumas condutas, como: não poderá frequentar locais de
aglomeração, tais como bares e festas; não poderá estar portando a arma em
horários fora de contexto, como madrugada e feriados; não poderá estar fora do
itinerário condizente com o trânsito ao clube de tiro; não poderá fazer serviço de
segurança a comerciantes; não poderá usar a arma para outros fins, utilizando a
guia de tráfego como substitutivo do porte legal da arma.
Para concluir é importante destacar que: (a) a abordagem policial
ao atirador em trânsito prescinde de autorização para verificação e revista, porém
sua documentação adequada é suficiente para liberação; (b) o local de
treinamento/competição não precisa ser o clube filiado, mas sim todo e qualquer
local autorizado à prática do tiro; (c) reconhece-se que não existe proibição na
norma sobre eventual parada do atirador durante o trajeto ao clube para
treinamento/competição, especialmente se essencial, como posto de combustível
e restaurante, inclusive quando em deslocamento para outra cidade, situação na
qual também se permite a hospedagem; (d) não existe trajeto predefinido ao
clube, bastando que o itinerário seja compatível com o local dado como versão
pelo atirador; (e) não existe horário predeterminado, porém, o bom senso deve ser
observado por todos os CAC’s e (f) a documentação é obrigatória – CR, GT e CRAF
– e tem de estar com o atirador.
Diante da regulamentação legal e das peças produzidas nos autos,
constata-se que o(a)s conduzido(a)s possui autorização(s) apenas para a prática
de tiro (treinamento e/ou competição (práticas, cursos, campeonatos, provas
etc.), contudo está dando outra finalidade ao armamento, ou seja, está fazendo
uso da guia de tráfego em substituição ao porte legalmente concedido para defesa
pessoal.
O(a)s conduzido(a)s sequer portava os outros acessórios
comumente usados pelos praticantes de tiro ao alvo.

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Constatado que o instrumento apresentado é arma de fogo, não há


dúvidas que ao portá-la sem autorização ou em desconformidade com
determinação legal ou regulamentar, o(a)s conduzido(a)s incidiu no crime de porte
ilegal de arma de fogo de uso permitido.
O crime de portar ilegalmente arma de fogo de uso permitido é de
perigo abstrato, cujo bem jurídico protegido é a incolumidade pública,
independentemente da existência de qualquer resultado naturalístico.
Nesse passo, a classificação do delito como de perigo abstrato traz,
em seu arcabouço teórico, a presunção, pelo próprio tipo penal, da probabilidade
de vir a ocorrer algum dano pelo mau uso da arma. Por isso, quando o(a)s
conduzido(a)s foi(foram) flagrado(s) portando um objeto eleito como arma de fogo,
temos um fato provado - o porte do instrumento – e o nascimento de duas
presunções, qual seja: de que o objeto é de fato arma de fogo e que possuí
potencial lesivo.
Consoante preceito contido no artigo 322 do Código de Processo
Penal, a pena máxima em abstrato do tipo penal não extrapola o teto legal (04
anos), portanto é cabível o arbitramento de fiança em sede policial.
Ante ao exposto, estando presente o estado de flagrância nos
termos do artigo 302, I do CPP, aliado aos fatos descritos ponto a
ponto, RATIFICO a voz de prisão em flagrante outrora dada ao(a)s
conduzidos(a)s, ao tempo em que DETERMINO ao(a) Sr(a). Escrivão(ã) que adote
as seguintes providências:
1) Lavre-se APFD e expeça-se Nota de Culpa ao(a)s conduzido(a)s
Cleisson Goncalves do Couto como incurso(a) nas penas do crime
capitulado no art. 14 da Lei n°. 10.826/03( Porte ilegal de arma de fogo de
uso permitido);

2) Comunique o(a) MM. Juiz(a) de Direito e o(a) Ilustre


Representante do Ministério Público sobre sua prisão em flagrante delito, bem
como sobre a instauração do presente feito e, caso o(a) conduzido(a) não possua
Advogado(a), também à Defensoria Pública;

3) Analisando todo o contexto fático e jurídico e com base no art.


2º, §6º da Lei 12.830/2013, seja o(a)s conduzido(a)s indiciado(a)s,
pregressado(a)s e identificado(a)s na forma da lei 12.037/09, devendo ser também
requisitada ao IICC/DPT/SESDEC/RO a Folha de Antecedentes Criminais - FAC;

4) Comunique-se a família do(a)s conduzido(a)s ou a pessoa por


ele(a)s indicada, juntando-se prova da comunicação nos autos;

5) Encaminhe-se o(a)s conduzido(a)s ao I.M.L., para que seja(m)


submetido(a)s ao Exame de Corpo de Delito - Lesão Corporal, ou pagando a
fiança e havendo recusa tome a termo sua(s) manifestação(s);

6) Considerando que a pena máxima em abstrato não suplanta a


4 (quatro) anos, bem como analisando natureza da infração, as condições
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pessoais de fortuna e vida pregressa do(a)s autuado(a)s, as circunstâncias


indicativas de sua(s) periculosidade(s), arbitro fiança no importe de R$
1.000,00 (um mil reais), valor este que deverá ser recolhido até o final da
lavratura do auto. Outrossim, em sendo recolhido, sejam comunicadas as
autoridades competentes com a documentação correspondente;

7) Caso não haja o recolhimento da fiança, expeça-se guia(s) de


recolhimento(s) ao presídio respectivo, devendo observar para que o(a)s
recolhido(a)s seja(m) apresentado(s) à Audiência de Custódia no prazo de 24
horas;

8) Apreenda-se a(s) arma(s) de fogo apresentada e a(s) munição(s),


encaminhando-as para a realização de perícia de constatação de calibre,
eficiência, adulteração e recenticidade de disparos, solicitando o
encaminhamento do LAUDO para o DEFLAG e o Fórum Criminal;

9) Encaminhe-se cópia integral ao Comando da 17ª Brigada de


Infantaria de Selva, visando dar conhecimento ao serviço de fiscalização de
produtos controlados para providências, eventualmente cabíveis, vez que a
autorização da posse consta no Sistema de Gerenciamento Militar de Armas
(SIGMA);

10) Restituam-se ao(a)s conduzido(a)s os seus pertences pessoais


que não apresentem relação com os fatos ora apurados, desde que a posse seja
lícita, mediante protocolo.

11) Juntem-se as oitivas colhidas e demais peças eventualmente


produzidas, conferindo-se se elas estão devidamente assinadas, física ou
eletronicamente;

12) Após, encaminhe os autos ao Delegado Diretor do Plantão de


Polícia para conhecimento e ulteriores deliberações.

Foi encaminhado cópia do BO e seus anexos à Divisão


Especializada na Repressão de Crimes contra a Vida de Porto Velho
– DIRCV por meio do PPE, informando da apreensão da(s) arma(s)
de fogo.

C U M P R A - S E.

Porto Velho/RO, 22 de julho de 2023.

SILVIO STANLEY TALHARI


Delegado de Polícia

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