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Os Ciclopes de Homero
106-115, 9 Odisséia
Κυκλώπων δ' ἐς γαῖαν ὑπερφιάλων ἀθεμίστων À terra dos Ciclopes, arrogantes, sem lei,
ἱκόμεθ', οἵ ῥα θεοῖσι πεποιθότες ἀθανάτοισιν Chegamos; eles, fiando-se nos deuses imortais,
οὔτε φυτεύουσιν χερσὶν φυτὸν οὔτ' ἀρόωσιν, Não plantam nada com as mãos nem aram,
ἀλλὰ τά γ' ἄσπαρτα καὶ ἀνήροτα πάντα φύονται, Mas sem semente nem cultivo tudo brota,
πυροὶ καὶ κριθαὶ ἠδ' ἄμπελοι, αἵ τε φέρουσιν trigo, cevada, videiras, que suportam grandes
οἶνον ἐριστάφυλον, καί σφιν Διὸς ὄμβρος ἀέξει. Cachos, que a chuva de Zeus faz crescer
τοῖσιν δ' οὔτ' ἀγοραὶ βουληφόροι οὔτε θέμιστες, Para eles não há ágora deliberante, nem leis
ἀλλ' οἵ γ' ὑψηλῶν ὀρέων ναίουσι κάρηνα O cimo de altas montanhas eles habitam em
ἐν σπέεσι γλαφυροῖσι, θεμιστεύει δὲ ἕκαστος Grutas escavadas, cada um dita a lei a sua
παίδων ἠδ' ἀλόχων, οὐδ' ἀλλήλων ἀλέγουσι. Família e negligenciam uns aos outros
174-176, 9 Odisséia
.................................πειρήσομαι, οἵ τινές εἰσιν, Procurarei informar-me quem são,
ἤ ῥ' οἵ γ' ὑβρισταί τε καὶ ἄγριοι οὐδὲ δίκαιοι, Se acaso são violentos, rudes e injustos
ἦε φιλόξεινοι, καί σφιν νόος ἐστὶ θεουδής. Ou hospitaleiros e com mente pia
279-278, 9 Odisséia
ἀλλ' αἰδεῖο, φέριστε, θεούς· ἱκέται δέ τοί εἰμεν. Respeite os deuses, ó grande. Suplicamos
Ζεὺς δ' ἐπιτιμήτωρ ἱκετάων τε ξείνων τε, Zeus é o protetor dos suplicantes e da hospitalidade,
ξείνιος, ὃς ξείνοισιν ἅμ' αἰδοίοισιν ὀπηδεῖ.’ Que acompanha os veneráveis hóspedes
ὣς ἐφάμην, ὁ δέ μ' αὐτίκ' ἀμείβετο νηλέϊ θυμῷ· Falei, e ele me replicou de ânimo inexorável
’νήπιός εἰς, ὦ ξεῖν', ἢ τηλόθεν εἰλήλουθας, Estrangeiro, és néscio ou vieste de longe,
ὅς με θεοὺς κέλεαι ἢ δειδίμεν ἢ ἀλέασθαι. Pois me mandas temer os deuses e dobrar-me.
οὐ γὰρ Κύκλωπες Διὸς αἰγιόχου ἀλέγουσιν Aos Ciclopes não preocupa a égide de Zeus nem
οὐδὲ θεῶν μακάρων, ἐπεὶ ἦ πολὺ φέρτεροί εἰμεν· Deuses bem-aventurados, somos mais fortes;
οὐδ' ἂν ἐγὼ Διὸς ἔχθος ἀλευάμενος πεφιδοίμην Nem por temor da inimizade de Zeus pouparia
οὔτε σεῦ οὔθ' ἑτάρων, εἰ μὴ θυμός με κελεύοι A ti e teus parceiros, se não quisesse o ânimo
- o primitivo é ignorante e por isso inocente, não conhece a mentira:
408-414, 9 Odisséia
ὦ φίλοι, Οὖτίς με κτείνει δόλῳ οὐδὲ βίηφιν.’ Amigos, Ninguém me mata por dolo ou força.
οἱ δ' ἀπαμειβόμενοι ἔπεα πτερόεντ' ἀγόρευον· Em resposta lhe dirigiram estas palavras aladas:
’εἰ μὲν δὴ μή τίς σε βιάζεται οἶον ἐόντα, Se ninguém te violenta estando só, certamente é
νοῦσόν γ' οὔ πως ἔστι Διὸς μεγάλου ἀλέασθαι, Doença impingida por Zeus grande, mas reza a
ἀλλὰ σύ γ' εὔχεο πατρὶ Ποσειδάωνι ἄνακτι.’ Teu soberano pai Poseidon. Assim disseram
ὣς ἄρ' ἔφαν ἀπιόντες, ἐμὸν δ' ἐγέλασσε φίλον κῆρ, Partindo, e o meu amado coração riu, de
ὡς ὄνομ' ἐξαπάτησεν ἐμὸν καὶ μῆτις ἀμύμων.Como meu nome e plano intocável o enganaram
Todas as traduções foram feitas a partir do banco de dados Thesaurus Linguae Graecae
Referência Bibliográfica:
Homero. Odisséia, trad. Donaldo Schüler, L&M Pocket, 2007.
Santos, V. C. “Vico e a descoberta do verdadeiro Homero”, Acta Scientiarum, v. 27, n. 1,
2005, pp. 21-30.
______. “Mitologia Grega e Educação”, Fundamentos Filosóficos da Educação, EDUEM,
EAD, n. 5, 2008, pp. 11-28.
Disciplina: História da Filosofia I
Professor: Vladimir Chaves dos Santos
Tema: Fontes clássicas das idéias de ciclo e de progresso
Departamento de Filosofia
Universidade Estadual de Maringá
Teogonia de Hesíodo
- Tempo dos deuses: sentido de progresso
- do caos à ordem (não há indícios de retorno cíclico ao caos)
- explicação genética de como o universo se torna o que é
- descrição de uma estrutura que tende a permanecer, mesmo sujeita a convulsões
- Temporalidade (conforme o tempo da narrativa): períodos não concatenados e linhas
genealógicas
- períodos não concatenados: Caos, Terra, Tártaro, Eros
- série não concatenada com antes e depois indefinidos, pontuais e heterogêneos
- linhas genealógicas com séries concatenadas:
_____________________________________
Eros
_____________________________/ Tifon_____
Tártaro
- Causalidade: aspecto causal das linhas genealógicas: explicam a origem dos vários
elementos e forças constituintes do universo
- a história dos deuses é ao mesmo tempo uma cosmogonia: conhecer os antepassados dos
deuses é conhecer a origem do universo
- não há tempo único e homogêneo, mas há um aspecto retilíneo e irreversível nas linhas
genealógicas
- Aspectos morais, jurídicos e políticos da Teogonia
- mito de soberania: justificação da ordem olímpica
-Titanomaquia
- Tifon
- três períodos da soberania cósmica: Urano (tirania), Kronos (tirania), Zeus (ordem olímpica)
- o bom soberano (Zeus) é aquele que distribui as honras e poderes X o mau soberano é aquele
que pretende governar sozinho (Urano e Kronos)
- insistência do tema da partilha na Teogonia:
651-663 (Titanomaquia)
φαίνετε Τιτήνεσσιν ἐναντίον ἐν δαῒ λυγρῇ, Surgi contra os Titãs no vil combate, lembrando
μνησάμενοι φιλότητος ἐνηέος, ὅσσα παθόντες A gentil amizade e o quanto sofrestes na
ἐς φάος ἂψ ἀφίκεσθε δυσηλεγέος ὑπὸ δεσμοῦ Prisão cruel sob a treva nevoenta, antes que
ἡμετέρας διὰ βουλὰς ὑπὸ ζόφου ἠερόεντος.” Voltastes à luz do dia por vontade minha
ὣς φάτο· τὸν δ' αἶψ' αὖτις ἀμείβετο Κόττος ἀμύμων· Falou e respondeu irrepreensível Cotos:
“δαιμόνι', οὐκ ἀδάητα πιφαύσκεαι, ἀλλὰ καὶ αὐτοὶ Ó divino, não declaras o não sabido;
ἴδμεν ὅ τοι περὶ μὲν πραπίδες, περὶ δ' ἐστὶ νόημα, Sabemos que em ti há coração e mente,
ἀλκτὴρ δ' ἀθανάτοισιν ἀρῆς γένεο κρυεροῖο, És dos imortais o vingador da horrível praga,
σῇσι δ' ἐπιφροσύνῃσιν ὑπὸ ζόφου ἠερόεντος Por tua sabedoria de sob a treva nevoenta
ἄψορρον ἐξαῦτις ἀμειλίκτων ὑπὸ δεσμῶν Da amarga prisão sofrendo o desespero
ἠλύθομεν, Κρόνου υἱὲ ἄναξ, ἀνάελπτα παθόντες. De volta viemos, soberano filho de Cronos.
τῷ καὶ νῦν ἀτενεῖ τε νόῳ καὶ πρόφρονι θυμῷ Agora com mente firme e ânimo pronto
ῥυσόμεθα κράτος ὑμὸν ἐν αἰνῇ δηιοτῆτι, Protegeremos vosso poder na terrível batalha
μαρνάμενοι Τιτῆσιν ἀνὰ κρατερὰς ὑσμίνας.” Combatendo os Titãs na violenta contenda
793-5
ὅς κεν τὴν ἐπίορκον ἀπολλείψας ἐπομόσσῃ Dos imortais do pico nevado do Olimpo
ἀθανάτων οἳ ἔχουσι κάρη νιφόεντος Ὀλύμπου, Quem jura falsamente tendo-a derramado
κεῖται νήυτμος τετελεσμένον εἰς ἐνιαυτόν· Jaz sem fôlego por um ano inteiro
- Kronos e Prometeu têm o epíteto de ἀγκυλομήτης, representam o ardiloso, aquele que tem
intenções ocultas ou más
Todas as traduções foram feitas a partir do banco de dados Thesaurus Linguae Graecae
Referência bibliográfica
Hesíodo. Teogonia, trad. de Jaa Torrano, Iluminuras, 1992.
Snell, B. A cultura grega e as origens do pensamento europeu, Perspectiva, 2005.
Vernant, J. Mito e Pensamento entre os Gregos, Paz e Terra, 1990.
Disciplina: História da Filosofia I
Professor: Vladimir Chaves dos Santos
Tema: Fontes clássicas das idéias de ciclo e de progresso
Departamento de Filosofia
Universidade Estadual de Maringá
-Aspectos morais, jurídicos e políticos do mito das raças no contexto dos Trabalhos e os
Dias
- moral da estória: escuta a justiça (di/kh) e não deixe crescer o excesso (u(/brij):
213
Ὦ Πέρση, σὺ δ' ἄκουε δίκης μηδ' ὕβριν ὄφελλε·
- a moral da estória é válida para homens comuns (agricultores, pastores) e para reis
- o homem justo, rei ou agricultor, é aquele que sabe que “a metade vale mais que o todo”:
35-41
ἀλλ' αὖθι διακρινώμεθα νεῖκος Decidamos de uma vez nossa disputa
ἰθείῃσι δίκῃς, αἵ τ' ἐκ Διός εἰσιν ἄρισται. Com reto juízo, que de Zeus é o melhor
ἤδη μὲν γὰρ κλῆρον ἐδασσάμεθ', ἄλλα τε πολλὰ Já repartimos a herança, mas arrebataste
ἁρπάζων ἐφόρεις μέγα κυδαίνων βασιλῆας E levaste muito mais, presenteando reis venais,
δωροφάγους, οἳ τήνδε δίκην ἐθέλουσι δικάσσαι. Que esse litígio querem julgar. Néscios
νήπιοι, οὐδὲ ἴσασιν ὅσῳ πλέον ἥμισυ παντὸς Não sabem que a metade vale mais que o todo
οὐδ' ὅσον ἐν μαλάχῃ τε καὶ ἀσφοδέλῳ μέγ' ὄνειαρ.E quanto proveito dá a malva e o asfódelo
- a vida sob o governo da justiça (225-237) é semelhante ao quadro da idade de ouro, com
festas, felicidade, abundância e prosperidade
- o tema do juramento e do perjúrio, a verdade e a mentira, o bom discurso:
280-285
εἰ γάρ τίς κ' ἐθέλῃ τὰ δίκαι' ἀγορεῦσαι Se alguém quer proferir coisas justas na ágora
γινώσκων, τῷ μέν τ' ὄλβον διδοῖ εὐρύοπα Ζεύς· Sabiamente, Zeus longevidente o beneficia;
ὃς δέ κε μαρτυρίῃσιν ἑκὼν ἐπίορκον ὀμόσσας Quem às testemunhas perjura de propósito
ψεύσεται, ἐν δὲ δίκην βλάψας νήκεστον ἀασθῇ, E mente, lesando a justiça, se desgraça sem
τοῦ δέ τ' ἀμαυροτέρη γενεὴ μετόπισθε λέλειπται· Cura: deixa no porvir a estirpe obscura;
ἀνδρὸς δ' εὐόρκου γενεὴ μετόπισθεν ἀμείνων Do homem de palavra, a estirpe será a melhor
219-224
αὐτίκα γὰρ τρέχει Ὅρκος ἅμα σκολιῇσι δίκῃσιν· Corre por sentenças injustas Juramento e
τῆς δὲ Δίκης ῥόθος ἑλκομένης ᾗ κ' ἄνδρες ἄγωσι o clamor de Justiça, arrastada por homens
δωροφάγοι, σκολιῇς δὲ δίκῃς κρίνωσι θέμιστας· venais, que decidem os julgamentos com
ἣ δ' ἕπεται κλαίουσα πόλιν καὶ ἤθεα λαῶν, sentenças injustas; ela chora a cidade e os costumes
ἠέρα ἑσσαμένη, κακὸν ἀνθρώποισι φέρουσα, vestida de ar, levando o mal aos homens,
οἵ τέ μιν ἐξελάσωσι καὶ οὐκ ἰθεῖαν ἔνειμαν. Que a expulsaram e não a distribuíram retamente
248-255
Ὦ βασιλῆς, ὑμεῖς δὲ καταφράζεσθε καὶ αὐτοὶ Ó reis, considerai vós mesmos essa justiça; pois
τήνδε δίκην· ἐγγὺς γὰρ ἐν ἀνθρώποισιν ἐόντες Estão próximos imortais que entre os homens
ἀθάνατοι φράζονται ὅσοι σκολιῇσι δίκῃσιν Vigiam os que lesam outrem com sentenças
ἀλλήλους τρίβουσι θεῶν ὄπιν οὐκ ἀλέγοντες. Injustas, negligenciando a vingança divina.
τρὶς γὰρ μύριοί εἰσιν ἐπὶ χθονὶ πουλυβοτείρῃ Trinta mil estão sobre a terra multinutriz
ἀθάνατοι Ζηνὸς φύλακες θνητῶν ἀνθρώπων, Imortais de Zeus, guardiões dos homens,
οἵ ῥα φυλάσσουσίν τε δίκας καὶ σχέτλια ἔργα Eles observam julgamentos e feitos maldosos
ἠέρα ἑσσάμενοι, πάντη φοιτῶντες ἐπ' αἶαν. Vestidos de ar, vagam por toda terra.
φράζω (mostrar): pres ind mp 3rd pl
τρίβω (lesar): pres ind act 3rd pl (attic epic doric ionic)
ἀλέγω (ter cuidado, preocupar-se): pres part act masc nom/voc pl
φύλαξ (guardião): masc nom/voc pl
φυλάσσω (vigiar): pres ind act 3rd pl (attic epic doric ionic)
σχέτλιος, α, ον, (cruel, maldoso): neut nom/voc/acc pl
- Hesíodo lança uma crítica moral e religiosa aos homens de seu tempo: na idade de ouro os
homens viviam entre os deuses e como eles, depois se separam e correm o risco de serem
abandonados
- separação progressiva entre homens e deuses
- entre os deuses, o progresso (do caos à ordem) X entre os homens, a decadência (da ordem ao
caos)
- crença na providência divina: a piedade e o valor moral determinam os favores da
providência divina e a conseqüente relação positiva e próspera com a natureza: a natureza
reflete as boas ou as más relações com os deuses (certificadas pela virtude moral)
- o tema do roubo:
320-326
χρήματα δ' οὐχ ἁρπακτά, θεόσδοτα πολλὸν ἀμείνω· Bens não se furtam, presente dos deuses
εἰ γάρ τις καὶ χερσὶ βίῃ μέγαν ὄλβον ἕληται, É muito melhor; se alguém toma bens à força
ἢ ὅ γ' ἀπὸ γλώσσης ληίσσεται, οἷά τε πολλὰ Ou pela língua os rouba, como amiúde ocorre,
γίνεται, εὖτ' ἂν δὴ κέρδος νόον ἐξαπατήσῃ Quando a vantagem engana a mente dos
ἀνθρώπων, αἰδῶ δέ τ' ἀναιδείη κατοπάζῃ, Homens e o descaramento sufoca o pudor,
ῥεῖα δέ μιν μαυροῦσι θεοί, μινύθουσι δὲ οἶκον Facilmente os deuses obscurecem e aminguam
ἀνέρι τῷ, παῦρον δέ τ' ἐπὶ χρόνον ὄλβος ὀπηδεῖ. Sua casa, e por pouco tempo vê a felicidade
Todas as traduções foram feitas a partir do banco de dados Thesaurus Linguae Graecae
Referência bibliográfica:
Hesíodo. Os Trabalhos e os Dias, trad. Mary C. N. Lafer, Iluminuras, 1996.
Nisbet, R. História da Idéia de Progresso, UNB, 1988.
Snell, B. A cultura grega e as origens do pensamento europeu, Perspectiva, 2005.
Vernant, J. Mito e Pensamento entre os Gregos, Paz e Terra, 1990.
Disciplina: História da Filosofia I
Professor: Vladimir Chaves dos Santos
Tema: Fontes clássicas das idéias de ciclo e de progresso
Departamento de Filosofia
Universidade Estadual de Maringá
535-537 Teogonia
καὶ γὰρ ὅτ' ἐκρίνοντο θεοὶ θνητοί τ' ἄνθρωποι Quando decidiam deuses e homens imortais em
Μηκώνῃ, τότ' ἔπειτα μέγαν βοῦν πρόφρονι θυμῷ Mecona, ao dividir grande boi com ânimo
δασσάμενος προύθηκε, Διὸς νόον ἐξαπαφίσκων. Ofertou-o para enganar a mente de Zeus
565-567 Teogonia
ἀλλά μιν ἐξαπάτησεν ἐὺς πάις Ἰαπετοῖο Mas o enganou o nobre filho de Jápeto
κλέψας ἀκαμάτοιο πυρὸς τηλέσκοπον αὐγὴν Furtou a radiante luz do fogo incansável
ἐν κοίλῳ νάρθηκι............................................ Em oca férula
κλέπτω (furtar): aor part act masc nom/voc sg (attic epic ionic)
- em Hesíodo, é mais um mito de decadência: descreve a perda da vida fácil e feliz junto a
Zeus e à natureza, que dá lugar às duras condições de sobrevivência a que é condenada a
humanidade com Pandora
- domínio do fogo: progresso ou decadência?
- em Hesíodo, o domínio do fogo é uma honra divina propiciadora da natureza
- o domínio da natureza pelo fogo não compensa os males que seu roubo acarreta
- antes do roubo, a natureza é propícia; depois, é adversa: a punição divina a torna hostil ao
homem
- o mito de Prometeu tem aspecto causal, pois explica a origem da dura condição humana
- basicamente, há duas etapas da história humana no mito de Prometeu de Hesíodo: o antes e o
depois do castigo de Pandora - antes, o homem vive sem conhecer o trabalho, nem doenças;
depois, a vida torna-se laboriosa e cheia de males
- talvez aqui se situe o episódio do engodo de Prometeu com o conteúdo da oferenda, que deixa
Zeus encolerizado:
553-564 Teogonia (mito de Prometeu)
χερσὶ δ' ὅ γ' ἀμφοτέρῃσιν ἀνείλετο λευκὸν ἄλειφαρ, Com as mãos ergueu a alva gordura,
χώσατο δὲ φρένας ἀμφί, χόλος δέ μιν ἵκετο θυμόν, Raivou no íntimo, a bile chegou ao peito,
ὡς ἴδεν ὀστέα λευκὰ βοὸς δολίῃ ἐπὶ τέχῃ. Porque viu alvos ossos do boi em dolosa arte.
ἐκ τοῦ δ' ἀθανάτοισιν ἐπὶ χθονὶ φῦλ' ἀνθρώπων Por isso aos imortais o gênero humano sobre a
καίουσ' ὀστέα λευκὰ θυηέντων ἐπὶ βωμῶν. Terra queima os ossos em altares sacrificiais.
τὸν δὲ μέγ' ὀχθήσας προσέφη νεφεληγερέτα Ζεύς· Indignado Zeus junta-nuvens disse-lhe:
“Ἰαπετιονίδη, πάντων πέρι μήδεα εἰδώς, Filho de Jápeto, que sabe os desígnios de todos,
ὦ πέπον, οὐκ ἄρα πω δολίης ἐπελήθεο τέχνης.” Ó gentil, não esqueceste mesmo a dolosa arte.
ὣς φάτο χωόμενος Ζεὺς ἄφθιτα μήδεα εἰδώς. Falou com raiva Zeus, de planos imperecíveis
ἐκ τούτου δἤπειτα χόλου μεμνημένος αἰεὶ Lembrando-se sempre dessa cólera depois
οὐκ ἐδίδου μελίῃσι πυρὸς μένος ἀκαμάτοιο Não deu nos freixos o poder do fogo incansável
θνητοῖς ἀνθρώποις οἳ ἐπὶ χθονὶ ναιετάουσιν Aos homens mortais que sobre a terra vivem
- após o primeiro engodo, Zeus oculta o fogo e os homens sofrem “tristes pesares” (49, Os
Trabalhos e os Dias, mito de Prometeu e Pandora), mas ainda assim “honra os acompanha”
(142, Os Trabalhos e os Dias, raça de prata); talvez vivessem ainda “longe de males e difíceis
trabalhos”
- os deuses afastam-se mais dos homens: esses por sua própria violência aniquilam-se
mutuamente sem intervenção divina
- idade dos heróis
- Helena de Tróia representa Pandora; Zeus, por clemência, teria dado à raça guerreira mais
justiça
- a idade dos heróis mostra que a decadência da humanidade não é inexorável; do contrário o
mito das raças não serviria para convencer Perses e os reis sobre as virtudes da Di/kh (Justiça)
e os males da U/(brij (Excesso); a história do homem é tal que ele pode promover bem-
aventurança ou infelicidade, de acordo com suas escolhas
- a idade dos heróis é um progresso ético e político, embora ainda não restaure a condição de
ouro, e serve de modelo de justiça recente para a dura vida da idade de ferro
- idade de ferro: sociedade agrícola, vida laboriosa e repleta de males (labutas, penas,
hostilidades, angústias), o homem tem que tirar os frutos da natureza com o suor de seu rosto,
tempos de Pandora, vida ambígua e cheia de escolhas, mas “aos males bens estarão
misturados”:
- em Hesíodo, o castigo de Pandora contrapesa o benefício dado pelo roubo do fogo (do qual o
homem já usufruía na idade de ouro)
- Pandora representa o predomínio dos filhos da Noite na vida humana
- futuro “apocalíptico” para a raça de ferro, quando os filhos da Noite dominarem por completo
a vida humana
- dimensão ética: a escolha humana determina a sua felicidade - futuro otimista com trabalho e
justiça; com ociosidade e excesso, futuro “apocalíptico”
ocultação do fogo
/
boa vida \ roubo castigo de Pandora Zeus dá justiça condição atual
sem trabalho / do fogo e trabalho ao homem do homem
___/__\_____\_____\___/______________________/____________________/
\ \ \ \ \
ouro prata bronze heróis ferro
/ \ nasce a Luta Helena as duas Lutas
\ impiedade e entre os homens, justiça ambigüidade da
/ violência o trabalho o homem é vida humana:
\ primitiva da guerra feliz com justiça justiça e excesso
felicidade os homens morrem por si
primitiva sem intervenção divina
Todas as traduções foram feitas a partir do banco de dados Thesaurus Linguae Graecae
Referência bibliográfica:
Hesíodo. Os Trabalhos e os Dias, trad. Mary C. N. Lafer, Iluminuras, 1996.
______. Teogonia, trad. de Jaa Torrano, Iluminuras, 1992.
Nisbet, R. História da Idéia de Progresso, UNB, 1988.
Snell, B. A cultura grega e as origens do pensamento europeu, Perspectiva, 2005.
Vernant, J. Mito e Pensamento entre os Gregos, Paz e Terra, 1990.
Disciplina: História da Filosofia I
Professor: Vladimir Chaves dos Santos
Tema: Fontes clássicas das idéias de ciclo e de progresso
Departamento de Filosofia
Universidade Estadual de Maringá
Memória e História
- catálogos (lista de agentes humanos e divinos): é por meio deles que se fixa e se transmite o
repertório de conhecimentos que permite o grupo social decifrar o seu passado
- O Catálogo das Naus (Homero, Ilíada, II)
- Teogonia: catálogo dos deuses (Hesíodo)
- genealogias e etimologias em Homero
- Hesíodo confere à pesquisa das origens um sentido religioso: sua verdade é dada por
inspiração divina
- ao ordenamento do mundo religioso está associada a determinação das origens
- o passado é uma dimensão do além
- a rememoração de Hesíodo distancia-se do presente somente em relação ao mundo visível;
por trás dele, descobre outras regiões do ser, outros níveis cósmicos (o mundo infernal e o
celestial)
- o passado é parte integrante do cosmo; explorá-lo é descobrir o que se dissimula nas
profundezas do ser
- a história que cantam as Musas, filhas da Memória, é um deciframento do invisível, uma
geografia do sobrenatural
- o aedo é capaz de, através das Musas e da Memória, transitar livremente entre o mundo dos
vivos, visível, e o mundo do além, invisível
- sentido forte de história: conhecer a história não é datar os eventos no passado, mas
descobrir a origem do presente e o que há de invisível nele, isto é, explicar as causas primeiras
que o produziram, principalmente do que se esconde por trás das aparências óbvias
Referência bibliográfica:
Referência bibliográfica:
- celebração do presente
- tomada de consciência de um tempo humano esvaindo-se sem retorno ao longo de uma linha
irreversível
- tempo fugaz
- nostalgia e hedonismo diante da fuga inexorável do tempo
- entregue ao momento presente de um fluxo temporal móvel, cambiante e irreversível, e
dominado pela fatalidade da morte, o indivíduo percebe o tempo como uma força destrutiva
- Arquíloco exprime as angústias do soldado
- Safo: as angústias do amor
Poema V
Referência bibliográfica:
(Metafísica 982b11)
Ὅτι δ' οὐ ποιητική, δῆλον καὶ ἐκ τῶν πρώτων φιλοσοφη-
σάντων· διὰ γὰρ τὸ θαυμάζειν οἱ ἄνθρωποι καὶ νῦν καὶ
τὸ πρῶτον ἤρξαντο φιλοσοφεῖν, ἐξ ἀρχῆς μὲν τὰ πρόχειρα
τῶν ἀτόπων θαυμάσαντες, εἶτα κατὰ μικρὸν οὕτω προϊόντες
καὶ περὶ τῶν μειζόνων διαπορήσαντες, οἷον περί τε τῶν τῆς
σελήνης παθημάτων καὶ τῶν περὶ τὸν ἥλιον καὶ ἄστρα
καὶ περὶ τῆς τοῦ παντὸς γενέσεως. ὁ δ' ἀπορῶν καὶ θαυμά-
ζων οἴεται ἀγνοεῖν (διὸ καὶ ὁ φιλόμυθος φιλόσοφός πώς
ἐστιν· ὁ γὰρ μῦθος σύγκειται ἐκ θαυμασίων)· ὥστ' εἴπερ διὰ
τὸ φεύγειν τὴν ἄγνοιαν ἐφιλοσόφησαν, φανερὸν ὅτι διὰ τὸ
εἰδέναι τὸ ἐπίστασθαι ἐδίωκον καὶ οὐ χρήσεώς τινος ἕνεκεν.
μαρτυρεῖ δὲ αὐτὸ τὸ συμβεβηκός· σχεδὸν γὰρ πάντων
ὑπαρχόντων τῶν ἀναγκαίων καὶ πρὸς ῥᾳστώνην καὶ διαγω-
γὴν ἡ τοιαύτη φρόνησις ἤρξατο ζητεῖσθαι. δῆλον οὖν ὡς δι'
οὐδεμίαν αὐτὴν ζητοῦμεν χρείαν ἑτέραν, ἀλλ' ὥσπερ ἄνθρω-
πος, φαμέν, ἐλεύθερος ὁ αὑτοῦ ἕνεκα καὶ μὴ ἄλλου ὤν, οὕτω
καὶ αὐτὴν ὡς μόνην οὖσαν ἐλευθέραν τῶν ἐπιστημῶν· μόνη
γὰρ αὕτη αὑτῆς ἕνεκέν ἐστιν.
Que não é produtiva, é evidente pelos que primeiro filosofaram; os homens primeiro
começaram a filosofar, e ainda hoje, pelo espanto; de início se admirando com os fenômenos
insólitos mais acessíveis; depois, avançando assim aos poucos e ficando perplexos com
problemas maiores, como as variações da lua, o que é relativo ao sol, aos astros e à origem do
universo. Quem fica em aporia e se admira supõe ignorar (por isso o filômito é de algum modo
filósofo: pois o mito é composto de coisas espantosas); de modo que se filosofaram para fugir
da ignorância, parece que procuraram conhecer pelo saber e não por causa de alguma utilidade.
Testemunha disso é o que aconteceu. Quando já havia quase tudo que é necessário e relativo ao
conforto e ao deleite, começaram a procurar tal sabedoria. É evidente que por nenhuma outra
utilidade a buscamos, mas, tal como chamamos homem livre quem é por si e não por outro,
assim apenas essa dentre as ciências consideramos livre; só ela é por si.
- progresso das contribuições
(Metafísica 993a30)
Ἡ περὶ τῆς ἀληθείας θεωρία τῇ μὲν χαλεπὴ τῇ δὲ
ῥᾳδία. σημεῖον δὲ τὸ μήτ' ἀξίως μηδένα δύνασθαι θιγεῖν
αὐτῆς μήτε πάντας ἀποτυγχάνειν, ἀλλ' ἕκαστον λέγειν τι
περὶ τῆς φύσεως, καὶ καθ' ἕνα μὲν ἢ μηθὲν ἢ μικρὸν ἐπιβάλ-
λειν αὐτῇ, ἐκ πάντων δὲ συναθροιζομένων γίγνεσθαί τι μέγε-
θος·
A contemplação da verdade é difícil, por um lado, e fácil, por outro. Sinal disso
é que ninguém é capaz de atingi-la dignamente, nem falhar por completo, mas cada um pode
dizer algo acerca da natureza; particularmente nada ou pouco contribui a ela, mas todos
reunidos tem alguma grandeza.
......
οὐ μόνον δὲ
χάριν ἔχειν δίκαιον τούτοις ὧν ἄν τις κοινώσαιτο ταῖς δό-
ξαις, ἀλλὰ καὶ τοῖς ἐπιπολαιότερον ἀποφηναμένοις· καὶ
γὰρ οὗτοι συνεβάλοντό τι· τὴν γὰρ ἕξιν προήσκησαν ἡμῶν·
εἰ μὲν γὰρ Τιμόθεος μὴ ἐγένετο, πολλὴν ἂν μελοποιίαν οὐκ
εἴχομεν· εἰ δὲ μὴ Φρῦνις, Τιμόθεος οὐκ ἂν ἐγένετο. τὸν
αὐτὸν δὲ τρόπον καὶ ἐπὶ τῶν περὶ τῆς ἀληθείας ἀποφηναμένων·
παρὰ μὲν γὰρ ἐνίων παρειλήφαμέν τινας δόξας, οἱ δὲ τοῦ
γενέσθαι τούτους αἴτιοι γεγόνασιν.
É justo agradecer não apenas àqueles de cujas opiniões alguém poderia compartilhar,
mas também àqueles que se manifestaram mais superficialmente. Também esses
contribuíram com algo, já que prepararam nossa disposição. Se Timóteo não existisse,
não teríamos muitas líricas, mas sem Frinis, Timóteo não existiria. O mesmo acontece
com os que se manifestam acerca da verdade: de uns recebemos certas doutrinas, mas
outros foram causa da existência desses.
(Poética 1448b20)
κατὰ φύσιν δὲ ὄντος ἡμῖν τοῦ μιμεῖσθαι καὶ τῆς ἁρμονίας
καὶ τοῦ ῥυθμοῦ (τὰ γὰρ μέτρα ὅτι μόρια τῶν ῥυθμῶν ἐστι
φανερὸν) ἐξ ἀρχῆς οἱ πεφυκότες πρὸς αὐτὰ μάλιστα κατὰ
μικρὸν προάγοντες ἐγέννησαν τὴν ποίησιν ἐκ τῶν αὐτο-
σχεδιασμάτων.
Sendo natural para nós o imitar, a harmonia e o ritmo (e é evidente que os metros são
parte do ritmo), desde o início os naturalmente mais propensos a isso, avançando aos
poucos, engendraram a poesia a partir de improvisos
.......
1449a9
γενομένη δ' οὖν ἀπ' ἀρχῆς αὐτο-
σχεδιαστικῆς – καὶ αὐτὴ καὶ ἡ κωμῳδία, καὶ ἡ μὲν ἀπὸ
τῶν ἐξαρχόντων τὸν διθύραμβον, ἡ δὲ ἀπὸ τῶν τὰ φαλ-
λικὰ ἃ ἔτι καὶ νῦν ἐν πολλαῖς τῶν πόλεων διαμένει νομι-
ζόμενα – κατὰ μικρὸν ηὐξήθη προαγόντων ὅσον ἐγίγνετο
φανερὸν αὐτῆς· καὶ πολλὰς μεταβολὰς μεταβαλοῦσα ἡ
τραγῳδία ἐπαύσατο, ἐπεὶ ἔσχε τὴν αὑτῆς φύσιν. καὶ τό
τε τῶν ὑποκριτῶν πλῆθος ἐξ ἑνὸς εἰς δύο πρῶτος Αἰσχύ-
λος ἤγαγε καὶ τὰ τοῦ χοροῦ ἠλάττωσε καὶ τὸν λόγον
πρωταγωνιστεῖν παρεσκεύασεν· τρεῖς δὲ καὶ σκηνογραφίαν
Σοφοκλῆς. ἔτι δὲ τὸ μέγεθος· ἐκ μικρῶν μύθων καὶ λέ-
ξεως γελοίας διὰ τὸ ἐκ σατυρικοῦ μεταβαλεῖν ὀψὲ ἀπ-
εσεμνύνθη, τό τε μέτρον ἐκ τετραμέτρου ἰαμβεῖον ἐγένετο.
τὸ μὲν γὰρ πρῶτον τετραμέτρῳ ἐχρῶντο διὰ τὸ σατυρικὴν
καὶ ὀρχηστικωτέραν εἶναι τὴν ποίησιν, λέξεως δὲ γενομένης
αὐτὴ ἡ φύσις τὸ οἰκεῖον μέτρον εὗρε·
(Metafísica 1074b)
παραδέδοται
δὲ παρὰ τῶν ἀρχαίων καὶ παμπαλαίων ἐν μύθου σχή-
ματι καταλελειμμένα τοῖς ὕστερον ὅτι θεοί τέ εἰσιν
οὗτοι καὶ περιέχει τὸ θεῖον τὴν ὅλην φύσιν. τὰ δὲ λοιπὰ
μυθικῶς ἤδη προσῆκται πρὸς τὴν πειθὼ τῶν πολλῶν καὶ
πρὸς τὴν εἰς τοὺς νόμους καὶ τὸ συμφέρον χρῆσιν· ἀνθρω-
ποειδεῖς τε γὰρ τούτους καὶ τῶν ἄλλων ζῴων ὁμοίους τισὶ
λέγουσι, καὶ τούτοις ἕτερα ἀκόλουθα καὶ παραπλήσια τοῖς
εἰρημένοις, ὧν εἴ τις χωρίσας αὐτὸ λάβοι μόνον τὸ πρῶ-
τον, ὅτι θεοὺς ᾤοντο τὰς πρώτας οὐσίας εἶναι, θείως ἂν εἰρῆ-
σθαι νομίσειεν, καὶ κατὰ τὸ εἰκὸς πολλάκις εὑρημένης εἰς
τὸ δυνατὸν ἑκάστης καὶ τέχνης καὶ φιλοσοφίας καὶ πάλιν
φθειρομένων καὶ ταύτας τὰς δόξας ἐκείνων οἷον λείψανα
περισεσῶσθαι μέχρι τοῦ νῦν. ἡ μὲν οὖν πάτριος δόξα καὶ
ἡ παρὰ τῶν πρώτων ἐπὶ τοσοῦτον ἡμῖν φανερὰ μόνον.
Foi transmitido aos pósteros pelos primeiros e muito antigos, sob a forma de mito, que esses
são deuses e que o divino abarca toda a natureza. O restante foi acrescido miticamente já para
persuasão da massa e para utilidade das leis e do interesse. Dizem que esses têm forma humana
ou semelhante a alguns outros animais, e coisas análogas e próximas a essas ditas, das quais, se
alguém, separando isso, tomar somente o sentido primeiro - que acreditavam que as
substâncias primeiras eram deuses -, julgará que é dito divinamente, e, como é verossímil que
várias vezes foram descobertas, na medida do possível, cada uma das artes e filosofias, e tendo
sido novamente destruídas, essas opiniões, como relíquias suas, foram salvas até hoje.
Portanto, só até aí a opinião ancestral e dos primeiros nos é manifesta.
Referência bibliográfica:
- o mundo incendeia-se e reconstitui-se a si próprio a partir do fogo, de modo cíclico, mas não
aleatoriamente, e sim conforme um desígnio providencial e racional.
- o cosmo, num certo sentido, identifica-se a um deus universal, que, por sua vez, identifica-se
a um fogo originário, que agiria como demiurgo da ordem do mundo, na sua formação e
conflagração, e que persistiria através de todas as suas vicissitudes.
- “Organismo vivo regido racionalmente, ele se forma, se dissolve e se reforma segundo uma
seqüência infinita de longos ciclos cósmicos (os grandes anos), escandido por conflagrações ou
abrasamentos (ekpu/rwsij)” (p. 57).
- o tempo é o próprio devir cíclico do mundo, não existe tempo fora do movimento do mundo.
- o devir do mundo pode envolver seu retorno ao mesmo estado: “Não há nada de impossível,
diz Crisipo, que, depois da nossa morte, após muitos períodos de tempo decorridos, sejamos
restabelecidos na mesma forma que possuímos agora” (p. 62).
- o mundo é absolutamente perfeito, não há nenhuma parte do mundo que não esteja em
conformidade com a vontade divina, é uma unidade plena, contínua, solidária, organizada de
alta abaixo, onde tudo se mistura e se interpenetra sem se confundir, onde tudo o que acontece
repercute alhures e mais tarde, de modo cíclico e ordenado.
Referência bibliográfica: