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RESUMO
Este artigo tem por objetivo analisar os impactos do conservadorismo condicional e
incondicional sobre a qualidade das informações contábeis das empresas listadas na
BM&FBovespa no período de 2010 a 2014, contemplando na amostra 156 empresas,
totalizando 624 observações, onde os dados foram coletados no banco de dados da
Economática®. Para se chegar ao objetivo da pesquisa, foram realizadas técnicas de análise
de dados, sendo a utilização de estatística descritiva, como também modelos de regressão, nos
quais estão embasados no modelo de Basu (1997), no qual o respectivo modelo foi
modificado para captação dos dois tipos de conservadorismo. Nos resultados evidenciados, a
variável DRit*RETit apresentou significância a 10%, em todos os modelos, a qual é
responsável em captar más notícias, onde o seu coeficiente δ3 nos três modelos foi positivo e
maior que zero, demonstrando a presença do conservadorismo. Contudo, a insignificância nas
demais variáveis nos modelos 2 e 3, que contém proxeis que medem, respectivamente, o
conservadorismo condicional e o conservadorismo incondicional, não demonstraram
significância na qualidade da informação contábil e no preço das ações, divergindo de outras
pesquisas internacionais. Estas divergências de resultados podem ser explicadas pelo tipo e
quantidade da amostra, como também, na realidade macroeconômica que esta amostra está
inserida.
1. Introdução
A contabilidade é uma ciência social que tem como um dos principais papéis
desempenhar a redução da assimetria informacional, amenizando os conflitos de interesses
entre o agente-principal, onde no mercado acionário, as informações geradas pela
contabilidade refletem essa importância, pois os investidores realizam técnicas de avaliação
das empresas e os analistas fazem previsões e decisões de compra de ações com base nos
lucros (ISMAIL e ELBOLOK, 2011).
A qualidade da informação contábil é preponderante para que as informações geradas
tenham maior transparência e, por conseguinte, tragam maior confiabilidade aos usuários. No
Brasil, por meio da norma CPC 00_R1, encontram-se as características qualitativas da
informação contábil, onde as mesmas são divididas entre fundamentais e características
qualitativas de melhoria.
O poder informacional torna-se necessário para os usuários das informações contábeis,
mas essa transparência poderá ser comprometida por atuações empresarias, nas quais existem
interesses em não evidenciar informações confiáveis, podendo representar um melhor
desempenho financeiro, inclusive por meio de políticas contábeis mais conservadoras
(MOREIRA, COLAUTO e AMARAL, 2010).
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Sendo assim, é importante para o usuário da informação contábil, seja ele investidor
ou analista, que tenha uma informação transparente e não comprometida, para que dessa
forma, haja uma melhor capacidade de informação, trazendo uma diminuição da assimetria
informacional.
Conforme Almeida (2010), a capacidade informativa gerada pela contabilidade, em
específico, o lucro, pode ser mensurado por várias métricas, dentre elas: relevância da
informação contábil (value relevance), tempestividade nos números contábeis (timeliness),
conservadorismo condicional (conditional conservatism) e gerenciamento de resultados
(earnings mangement).
Dentre as métricas utilizadas para medir a capacidade informacional, descritas acima,
será destacado neste trabalho o conservadorismo, que, conforme Ball e Shivakumar (2005)
classificam-no em dois tipos de conservadorismo, o conservadorismo condicional e o
conservadorismo incondicional. O conservadorismo condicional significa a adoção de
métodos e políticas contábeis que reconhecem uma má notícia no resultado de forma mais
rápida do que uma boa notícia (ex-post ou notícias dependentes). Conforme Ball e
Shivakumar (2005), o conservadorismo incondicional significa a adoção de métodos de
contabilidade e as políticas que reduzem os lucros e o valor contábil dos ativos líquidos
independente de notícias econômicas (ex-ante ou de notícias independentes). A assimetria
informacional trazida pelo conservadorismo incondicional pode se explicada pela exposição
de valores menores para ativos e receitas, independentemente de sinalização de perdas
econômicas (MOREIRA, COLAUTO e AMARAL, 2010).
Observa-se que tanto o conservadorismo condicional como o incondicional podem
trazer impactos na qualidade da informação contábil, podendo inclusive provocar o
descasamento entre receitas e despesas do período corrente, de modo que os ganhos se tornem
menos persistentes. Além disso, quando a empresa aumenta o investimento, o
conservadorismo contábil leva a ganhos reportados mais baixos, criando mais reservas não
registradas, fornecendo aos gerentes maior flexibilidade para relatar mais renda no futuro
(ISMAIL e ELBOLOK, 2011). Por outro lado, o conservadorismo pode ser considerado
positivo, pois pode evitar a discricionariedade dos gestores.
Levando em consideração o conservadorismo, no contexto descrito acima, o presente
trabalho busca responder a seguinte questão de pesquisa: Quais são os impactos do
conservadorismo condicional e incondicional sobre a qualidade das informações
contábeis das empresas brasileiras listadas na BM&FBOVESPA?
O objetivo desta pesquisa é analisar os impactos do conservadorismo condicional e
incondicional sobre a qualidade das informações contábeis das empresas brasileiras listadas
na BM&FBovespa.
Esta pesquisa se torna relevante, pois se diferencia de estudos realizados recentemente,
já que será analisado o impacto dos dois tipos de conservadorismos (condicional e
incondicional) no mercado acionário brasileiro, nos últimos cinco anos.
Alguns trabalhos, recentemente, correlacionaram a qualidade da informação contábil e
o conservadorismo no Brasil, como o trabalho de Lima et al. (2015), que analisaram o efeito
dos estágios de ciclo de vida das empresas listadas na BM&FBovespa, no período de 1995 a
2011, onde, foi utilizado o conservadorismo como uma das métricas para a qualidade das
informações contábeis.
Este artigo tem como referência o trabalho realizado por Ismail e Elbolok (2011), onde
os mesmos realizaram uma pesquisa empírica sobre os impactos do conservadorismo
condicional e incondicional no mercado de ações do Egito. Beaver e Ryan (2005) também
tiveram o objetivo de pesquisar concepções para os dois tipos de conservadorismo,
desenvolvendo um modelo para capturar as distintas características e a relação entre o
conservadorismo condicional e incondicional.
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Na próxima seção será tratado o desenvolvimento das hipóteses, na qual terá uma
revisão da literatura sobre qualidade das informações contábeis e conservadorismo, como
também a descrição de pesquisas realizadas, para que, baseada na literatura, chegue-se na
formulação das hipóteses. Posteriormente, na metodologia, descreve-se a amostra e os
modelos utilizados na pesquisa. E, finalmente, a análise dos resultados e as conclusões e
contribuições para a literatura.
2. Fundamentação
O assunto qualidade das informações contábeis vem sendo estudado por vários
pesquisadores nacionais e internacionais no decorrer dos últimos anos (Lima et al., 2015;
Paulo, Martins e Girão, 2014; Bhattacharya, Desai e Venkataramn, 2013; Dechow, Ge e
Shcarnd 2010).
No caso de Dechow, Ge e Shcarnd (2010), que realizaram pesquisas com várias
medidas de mensuração da qualidade da informação contábil, existem características a serem
observadas sobre a definição da qualidade das informações contábeis, podendo ser
condicionada à relevância da decisão da informação, à um informativo sobre o desempenho
financeiro da empresa e, também, pode ser determinada conjuntamente pela relevância do
desempenho financeiro subjacente à decisão e pela capacidade do sistema de contabilidade
para medir o desempenho.
Moreira, Colauto e Amaral (2010) identificam que quando uma boa informação
contábil está relacionada com estas mesmas informações, correlacionam-se com bons
indicadores de resultados futuros das empresas, estando também direcionadas a características
que refletem a sua utilidade aos diversos usuários.
Desta forma, conforme os autores, a qualidade da informação contábil não existe por
apenas existir, mas para atender finalidades que podem ser sintetizadas na necessidade em
predizer desempenhos e satisfazer as necessidades dos diversos usuários.
Contudo, para se chegar a uma definição e a realização de uma mensuração efetiva da
qualidade da informação contábil, ainda não há uma concordância, existindo várias métricas
para a medição como o conservadorismo, a persistência dos lucros, o gerenciamento de
resultados, o value relevance, a transparência e comparabilidade (LIMA et al., 2015).
Dentro deste escopo, pode-se relacionar a qualidade da informação contábil com a
assimetria informacional, pois a utilização de informações boas ou más trarão impactos
distintos aos usuários da informação. Isto pode ser confirmado na pesquisa de Bhattacharya,
Desai e Venkataramn (2013), onde se verificou que uma baixa qualidade das informações
contábeis é significativamente associada com a alta assimetria informacional.
Dentre as métricas utilizadas para se medir a qualidade da informação contábil, será
utilizado nesta pesquisa o reconhecimento assimétrico das perdas, isto é, o conservadorismo,
sendo estudado em vários outros estudos internacionais e nacionais recentes (SHROFF,
VENKATRAMAN e ZHANG, 2013; MOREIRA, COLAUTO e AMARAL, 2010;
ALMEIDA et al., 2012; LIMA et al., 2015; PAULO, MARTINS e GIRÃO, 2014).
2.2 Conservadorismo
H1: A qualidade das informações contábeis tem uma relação negativa com o conservadorismo
condicional.
H2: A qualidade das informações contábeis tem uma relação positiva com o conservadorismo
incondicional.
H3: Os preços das ações têm uma relação negativa com o conservadorismo condicional.
H4: Os preços das ações têm uma relação positiva com o conservadorismo incondicional.
3. Metodologia
Nesta seção é evidenciada a construção da amostra da pesquisa, e como ela foi filtrada,
como também a explicação da construção dos modelos que serão utilizados nas regressões,
com o objetivo de analisar as hipóteses construídas nesta pesquisa.
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Para a realização da pesquisa, foi colhida informações das empresas de capital aberto
listadas na BM&FBovespa contidas no banco de dados da Economática®, do período de 2010
a 2014. Este período foi delimitado, pois a partir de 2010 as empresas de capital aberto
passaram a apresentar suas demonstrações financeiras de acordo com as International
Financial Reporting Standards (IFRS).
Foram excluídas da amostra as empresas dos setores de seguro e financeiro, pois os
mesmos divergem em relação às características dos fundamentos dos demais setores, como
também empresas que não contiveram, em algum ano do período estudado, dados para a
realização da pesquisa, resultando em um quantitativo de 156 empresas, totalizando 624
observações, organizados com o auxílio de uma planilha eletrônica e analisados por meio de
um software estatístico.
3.2 Modelos
Para se realizar os testes das hipóteses, este trabalho seguiu a medida de ganhos
assimétricos no tempo de Basu (1997), já que, conforme Ismail e Elbolok (2011), esta medida
é a mais utilizada para conservadorismo e os resultados do modelo podem ser usados para
explicar o efeito da adoção de conservadorismo nos preços das ações, bem como encontrar
um relacionamento, se houver, entre o conservadorismo condicional e os preços das ações. As
regressões serão feitas em dados em painel.
Na regressão de Basu (1997) existe uma medida do conservadorismo, no qual
regridem ganhos em retornos e permite que o coeficiente de retorno varie de acordo com o
sinal do retorno. A medida de conservadorismo pelo qual serve de medida em que os ganhos
refletem más notícias mais rápido que as boas notícias, onde as boas e más notícias são
baseadas no sinal dos retornos das ações da empresa. Conforme a medida de Basu (1997),
quanto maior a antecipação assimétrica, maior é o grau do conservadorismo na firma. A
diferença em antecipação entre boa e má notícia é capturada por δ3, conforme a seguinte
equação abaixo:
𝐸𝑃𝑆𝑖𝑡
= 𝛿0 + 𝛿1 𝐷𝑅𝑖𝑡 + 𝛿2 𝑅𝐸𝑇𝑖𝑡 + 𝛿3 𝐷𝑅𝑖𝑡 ∗ 𝑅𝐸𝑇𝑖𝑡 + 𝜀𝑖𝑡 (1)
𝑃𝑖𝑡
Onde:
EPSit = Lucro por ação antes dos itens extraordinários, por firma i, no ano t;
Pit = Preço da ação no mercado de ações, por firma i, no ano t;
RETit = Retorno da ação no ano t; e
DRit = Variável dummy, servindo para separar boas notícias de más notícias, onde será igual a
“1” se RETit for negativo e “0” caso o contrário. Se más notícias forem reconhecidas em um
tempo hábil que boas notícias, δ3 será maior que zero (δ3>0). Sendo assim, quanto maior for
δ3, maior será o grau de conservadorismo condicional.
𝐸𝑃𝑆𝑖𝑡 𝐶𝑂𝐹𝑖𝑡
= 𝛿0 + 𝛿1 𝐷𝑅𝑖𝑡 + 𝛿2 𝑅𝐸𝑇𝑖𝑡 + 𝛿3 𝐷𝑅𝑖𝑡 ∗ 𝑅𝐸𝑇𝑖𝑡 + 𝛿4 + 𝜀𝑖𝑡 (2)
𝑃𝑖𝑡 𝑁𝐼𝑖𝑡
Onde:
EPSit = Lucro por ação antes dos itens extraordinários, por firma i, no ano t;
Pit = Preço da ação no mercado de ações, por firma i, no ano t;
RETit = Retorno da ação no ano t; e
DRit = Variável dummy, servindo para separar boas notícias de más notícias, onde será igual a
“1” se RETit for negativo e “0” caso o contrário. Se más notícias forem reconhecidas em um
tempo hábil que boas notícias, δ3 será maior que zero (δ3>0). Sendo assim, quanto maior for
δ3, maior será o grau de conservadorismo condicional.
CFOit/NIit = Fluxo de caixa do índice de lucro líquido (proxy de qualidade da informação
contábil)
𝐸𝑃𝑆𝑖𝑡 𝐶𝑂𝐹𝑖𝑡
= 𝛿0 + 𝛿1 𝐷𝑅𝑖𝑡 + 𝛿2 𝑅𝐸𝑇𝑖𝑡 + 𝛿3 𝐷𝑅𝑖𝑡 ∗ 𝑅𝐸𝑇𝑖𝑡 + 𝛿4 + 𝛿5 𝑀𝑇𝐵𝑖𝑡 + 𝜀𝑖𝑡 (3)
𝑃𝑖𝑡 𝑁𝐼𝑖𝑡
Onde:
EPSit = Lucro por ação antes dos itens extraordinários, por firma i, no ano t;
Pit = Preço da ação no mercado de ações, por firma i, no ano t;
RETit = Retorno da ação no ano t; e
DRit = Variável dummy, servindo para separar boas notícias de más notícias, onde será igual a
“1” se RETit for negativo e “0” caso o contrário. Se más notícias forem reconhecidas em um
tempo hábil que boas notícias, δ3 será maior que zero (δ3>0). Sendo assim, quanto maior for
δ3, maior será o grau de conservadorismo condicional.
CFOit/NIit = Fluxo de caixa do índice de lucro líquido (proxy de qualidade da informação
contábil)
MTBit = Índice market-to-book
4. Resultados e Análise
Para o teste das hipóteses, foi feito a regressão cross section, para os três modelos da
pesquisa. Para todas as variáveis, teve-se a preocupação de se realizar o teste de White para a
verificação da heterocedasticidade, onde a hipótese nula do teste identificou que as variáveis
não são heterocedásticas, não havendo a necessidade de rodar no sistema estatístico o
comando robust para controlar a heterocedasticidade das variáveis. Outro teste realizado foi o
comando estat vif para saber a presença de multicolinariedade, observado nos resultados que
as variáveis da amostra se encontram dentro de uma multicolinariedade moderada, isto é,
sendo menor que 5%.
Na regressão do Modelo 1, evidenciado na Tabela 3, a seguir, que mede a qualidade da
informação contábil baseada no modelo de Basu (1997), onde o coeficiente que trará maior
explicação para a qualidade da informação será o coeficiente δ3, sendo constatado que
variável independente do respectivo coeficiente foi significativo para 10%, representando uma
captação do conservadorismo condicional, já que o referido coeficiente foi maior que zero.
suficiente para trazer explicações às hipóteses da pesquisa. Isto talvez se deva pela forma que
os dados foram analisados, onde, em trabalhos realizados para o conservadorismo (ISMAIL e
ELBOLOK, 2011; KAZEMI, HEMMATI e FARIDVAND, 2011), as empresas foram
analisadas individualmente por meio de regressão cross section, já que a análise individual da
empresa pode trazer uma evidenciação mais clara da variável dummy DRit, captando, assim,
os impactos do conservadorismo, tanto condicional como incondicional, na qualidade da
informação contábil e no preço da ação.
5. Conclusão
6. Referências Bibliográficas
ALMEIDA, José Elias Feres de; NETO, Alfredo Sarlo; BASITIANELLO, Ricardo Furieri;
MINEQUE, Eduardo Zandomenigue. Alguns aspectos das práticas de suavização de
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BASU, Sudipta. The conservatism principle and the asymmetric timeliness of earnings
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KAZEMI, H.; HEMMATI, H.; FARIDVAND, R.. Investigating the Relationship Between
Conservatism Accounting and Earnings attributes. World Applied Sciences Journal, v. 12,
n.9, p1385-1396, 2011
LIMA, Ailza Silva de; CARVALHO, Evelyne Vilhete Antonio de; PAULO, Edilson;
GIRÃO, Luiz Felipe de Araujo Pontes. Estágios do Ciclo de Vida e Qualidade das
Informações Contábeis no Brasil. RAC-Revista de Administração Contemporânea, v. 19,
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PAULO, Edilson; GIRÃO, Luiz Felipe de Araújo Pontes; CARTER, David; SOUZA,
Rodrigo Silva de. The Impact of the Adoption of International Financial Reporting Standards
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PAULO, Edilson; MARTINS, Eliseu; GIRAO, Luiz Felipe de Araujo Pontes. Accounting
Information Quality in Latin-and North-American Public Firms. In: Accounting in Latin
America. Emerald Group Publishing Limited, 2014. p. 1-39.