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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE VÁRZEA GRANDE


FACULDADE DE ENGENHARIA
ENGENGARIA DE TRANSPORTE

ÉBILA KATHRYNA FRANCO FERREIRA

INFRAESTRUTURA VERDE APLICADA À DRENAGEM URBANA: ESTUDO DE


CASO PARA CIDADE DE CUIABÁ-MT

CUIABÁ-MT
2022
ÉBILA KATHRYNA FRANCO FERREIRA

INFRAESTRUTURA VERDE APLICADA À DRENAGEM URBANA: ESTUDO DE


CASO PARA CIDADE DE CUIABÁ-MT

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso


de Engenharia de Transportes, como requisito para a
aprovação na disciplina Trabalho de Graduação, sob
orientação da Prof.ª Dr.ª Juliana Q. B. de Magalhães
Chegury.

CUIABÁ-MT
2022
Dados Internacionais de Catalogação na Fonte.

F825i Franco Ferreira, Ébila Kathryna.


Infraestrutura Verde aplicada à Drenagem Urbana: Estudo de caso para cidade deCuiabá-MT / Ébila
Kathryna Franco Ferreira. -- 2022
32 f. : il. color. ; 30 cm.

Orientadora: Juliana Queiroz Borges de Magalhães Chegury.


TCC (graduação em Engenharia de Transportes) - Universidade Federal de MatoGrosso, Instituto de
Engenharia, Várzea Grande, 2022.
Inclui bibliografia.

1. Infraestrutura Verde. 2. Drenagem Urbana. 3. Sustentabilidade. 4. MeioAmbiente. I. Título.

Ficha catalográfica elaborada automaticamente de acordo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).

Permitida a reprodução parcial ou total, desde que citada a fonte.


ÉBILA KATHRYNA FRANCO FERREIRA

INFRAESTRUTURA VERDE APLICADA À DRENAGEM URBANA: ESTUDO DE


CASO PARA CIDADE DE CUIABÁ-MT

Trabalho de Conclusão de Curso submetido ao corpo docente da Faculdade de


Engenharia, Campus Várzea Grande, da Universidade Federal de Mato Grosso em 11 de março
de 2022, como requisito para a obtenção do título de bacharelado em Engenharia de
Transportes.

Banca examinadora:

___________________________________
Profª Dra. Juliana Queiroz Borges de Magalhães Chegury

____________________________________
Profª Me. Marina Leite de Barros Baltar

____________________________________
Prof. Dr. Sérgio Luiz Morais de Magalhães

Data de aprovação: 11 de março de 2022.


AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus por cuidar de mim a cada dia, me dando sabedoria e
entendimento em todos os meus passos, permitindo que eu desempenhasse minhas atividades
da melhor forma, toda honra e toda glória seja dada a Ele.
Também a minha família, principalmente aos meus pais, por sempre me apoiarem e me
darem suporte em todas as minhas necessidades tanto físicas quanto emocionais. Não deixando
de lembrar também dos meus avós, que sempre me incentivaram em toda minha caminhada, se
alegrando em cada conquista obtida, a minha sincera gratidão e admiração.
Aos meus amigos e irmãos em Cristo que de alguma forma fizeram parte dessa jornada,
eu agradeço grandemente por toda contribuição.
Aos professores, que com paciência e dedicação, ensinaram-me não somente o
conteúdo, mas também o sentido da amizade e do respeito.
E por fim a minha orientadora e coordenadora Juliana Chegury, sempre muito esforçada
em solucionar minhas dúvidas e disposta a ajudar em todas as situações, é um exemplo de
pessoa e profissional.
RESUMO

Neste Projeto de Pesquisa é explícito as situações que levam ao entendimento da necessidade


da Infraestrutura Verde associada à Drenagem Urbana no mundo como um todo. Assim sendo,
tendo o foco em Cuiabá-MT e relacionando o desenvolvimento industrial exacerbado,
decorrente das Revoluções Industriais e do intenso processo de urbanização das cidades, com a
falta do investimento preciso na área de sustentabilidade, é notório o motivo pelo qual
especificamente nessa cidade há conflitos entre as construções urbanas e a natureza. Com o
êxodo rural, a demanda crescente por educação, saúde e transporte causam a ascendente procura
por centros urbanos que, quando não planejados, levam à graves consequências ambientais.
Nota-se que o estudo da Infraestrutura Verde visa minimizar os efeitos urbanos sobre o meio
ambiente, reestabelecer a relação entre o construído e o natural além de gerar benefícios ao
conservar os ecossistemas. Por outro lado, a Drenagem Urbana diz respeito ao adequado manejo
das águas pluviais e preconiza ações inerentes ao reaproveitamento da água da chuva através
do seu reuso, a fim de recuperar o ciclo hidrológico natural. A associação desses dois fatores
surge como contribuição indispensável à vida humana e à natureza, de forma que essa ligação
só haverá quando o devido valor for atribuído à sustentabilidade. Após o estudo aprofundado,
foi observado e discutido brevemente a inexistência do Plano Diretor de Drenagem Urbana em
Cuiabá-MT, o que explica muito bem as dificuldades vividas atualmente no município. Desse
modo, as principais conclusões deste estudo apontam para a indispensabilidade da discussão
desse tema, que se faz tão presente nas cidades, e ao avanço social, econômico e ambiental,
quando tratado com relevância.
Palavras-chave: Infraestrutura Verde, Drenagem Urbana, sustentabilidade, meio ambiente.
ABSTRACT

In this Research Project, the situations that lead to an understanding of the need for Green
Infrastructure associated with Urban Drainage in the world as a whole are explicit. Therefore,
focusing on Cuiabá-MT and relating the exacerbated industrial development resulting from the
Industrial Revolutions with the lack of precise investment in the area of sustainability, the
reason why specifically in this city there are conflicts between urban constructions and the
nature. With the rural exodus, the growing demand for education, health and transport causes a
rising demand for urban centers which, when unplanned, lead to serious environmental
consequences. Note that the study of Green Infrastructure aims to minimize the urban effects
on the environment, reestablish the relationship between what is built and what is natural, in
addition to generating benefits by conserving ecosystems. On the other hand, Urban Drainage
concerns the reuse of rainwater through its reuse, in order to recover the natural hydrological
cycle. The association of these two factors appears as an indispensable contribution to human
life and nature, so that this connection will only exist when the due value is attributed to
sustainability. After the in-depth study, the inexistence of the Urban Drainage Master Plan in
Cuiabá-MT was observed and briefly discussed, which explains very well the difficulties
currently experienced in the municipality. Thus, the study points to the indispensability of
discussing this topic, which is so present in cities, and to social, economic and environmental
advancement, when treated with relevance.
Keywords: Green Infrastructure, Urban Drainage, sustainability, environment.
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 9
1.1 Problema da Pesquisa .............................................................................................. 10
1.2 Justificativa............................................................................................................... 10
1.3 Objetivo Geral .......................................................................................................... 11
1.4 Objetivo Específico .................................................................................................. 11
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...................................................................................... 11
2.1 Infraestrutura Verde ............................................................................................... 11
2.2 Tipologias de Infraestrutura Verde aplicadas à Drenagem Urbana .................. 14
2.3 Benefícios da Infraestrutura Verde ........................................................................ 16
2.4 Drenagem Urbana ........................................................................................................ 18
2.4.1 Drenagem Urbana Tradicional ............................................................................ 18
2.4.2 Drenagem Sustentável ........................................................................................... 19
3. METODOLOGIA........................................................................................................... 20
3.1 Local de Estudo............................................................................................................. 20
3.2 Tipo da Pesquisa ........................................................................................................... 21
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................................. 22
4.1 Problemas Encontrados ............................................................................................... 22
4.1 Propostas para Avenidas Sanitárias em Cuiabá-MT ........................................... 25
5. CONCLUSÃO................................................................................................................. 27
6. REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 29
9

1. INTRODUÇÃO

O processo de industrialização, acompanhado da urbanização, provocou intensa


degradação ambiental nas cidades, principalmente devido ao uso do solo. Foi a partir da
Revolução Industrial que os impactos ambientais começaram a ser considerados um problema
para a humanidade. Já se geravam impactos negativos à natureza, mas o grau de degradação
aumentou de tal maneira que sua escala deixou de ser local e se tornou planetária (LEAL et al,
2008).
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), em 2019, 55% da população do
planeta vivia em cidades e esse percentual deve chegar a 70% em 2050, considerando estas
informações, gerir áreas urbanas tem se tornado um dos desafios mais importantes do século.
Muito do esperado crescimento urbano terá lugar nos países das regiões em desenvolvimento
como o Brasil e, consequentemente, esses países enfrentarão inúmeros intempéries para atender
às necessidades do crescimento da população urbana, como habitação, transportes, energia,
emprego, educação e a saúde, entre outros.
O conceito “infraestrutura verde” vem sendo estudado e aplicado, tanto no Brasil como
no exterior, como alternativa de reestabelecer ligação do ambiente construído com o ambiente
natural, de forma a ser um utensílio da sustentabilidade urbana (UNIÃO EUROPEIA, 2013).
Em 1945 apenas 25% de um total de 45 milhões de pessoas viviam em cidades no Brasil.
Em 2000, a quantidade de moradores na zona urbana já se tornou maior do que a rural. De 2000
a 2010, quando a população total aumentou em 20%, a das cidades cresceu 40%, principalmente
nas áreas metropolitanas. Por volta de 2060 a população brasileira deverá atingir um total de
260 milhões de habitantes, regredindo após esse período (IBGE).
A infraestrutura verde surge como um instrumento do urbanismo sustentável que
pretende minimizar os impactos da urbanização sobre a natureza, tornando os espaços urbanos
onde ela é aplicada mais resilientes ou menos vulneráveis, pois ela pretende conservar os
valores e funções dos ecossistemas naturais e ao mesmo tempo oferecer benefícios para a
população.
Esse trabalho pretende contribuir para que os tomadores de decisão, tanto do setor
público como do setor privado, em Cuiabá-MT, assim como a sociedade brasileira em geral
incorporem o verde na cidade, com destaque para drenagem urbana, como uma opção para uma
vida sustentável nos ambientes construídos e melhorias na fluidez de tráfego principalmente
em períodos de alta precipitação.
10

1.1 Problema da Pesquisa


A cidade de Cuiabá-MT, tem sofrido recorrentemente com eventos críticos de
alagamento das vias públicas, principalmente em Avenidas Sanitárias, e consequentemente
impactando a fluidez do tráfego em dias de alta precipitação. Isto vem acontecendo devido à
ausência ou inadequação dos dispositivos de drenagem, mal planejamento e despejo de
efluentes de natureza diversas nas galerias de águas pluviais, visto que até os dias atuais a cidade
não possui Plano Municipal de Drenagem. Quais seriam as soluções possíveis para tais
problemas?

1.2 Justificativa
Devido aos processos de industrialização como um todo, é visível a grande e rápida
migração da população das áreas rurais para urbanas em busca de melhor qualidade de vida e
trabalho. Entretanto, a acelerada ocupação dos espaços urbanos ocorreu de forma caótica na
maioria dos casos, gerando uso indevido do solo, espaços mal aproveitados e infraestruturas
mal projetadas. A soma desses fatores juntamente com a evolução da tecnologia e a economia
capitalista, baseada em consumismo e desperdício, corroboram para uma degradação do meio
ambiente cada vez maior (o que gera um afastamento do homem da natureza) e estão seguindo
um caminho em direção ao caos urbano.
O planejamento urbano nas últimas décadas foi desenvolvido tomando como referência
os problemas causados por ocupações mal planejadas anteriormente – “aprendeu planejando”
(NEWMAN et al., 2009).
Santos (1989, p. 22) explica que o “planejamento é um instrumento orientador do
desenvolvimento urbano. Para ser eficaz, um plano deve compreender três etapas principais”:

1. Estudo e análise das condições concretas de determinada cidade;


2. Proposição de situações e metas desejáveis para o futuro;
3. Acompanhamento de aplicação das diretrizes e ações recomendadas,
verificação de resultados, elaboração de novas proposições. (SANTOS,
1989, p,22).

Embora o termo “infraestrutura verde” seja relativamente novo, o seu conceito não é,
Segundo Benediict e McMahon (2006).
O movimento da infraestrutura verde é baseado em estudos sobre a
paisagem e as inter-relações do homem e da natureza iniciadas há mais de 150
anos. Inúmeras disciplinas contribuíram com teorias, ideias, pesquisas e
conclusões para as origens do planejamento e projeto de infraestrutura verde,
especialmente as relacionadas às ideias e ações de conservação da natureza
através de parques estatuais e nacionais; refúgios de vida silvestre; programas
de proteção a florestas, rios e áreas sensíveis; e planos de desenvolvimento
11

relacionados à natureza nas disciplinas de planejamento urbano, paisagismo e


planejamento ambiental.

Á vista disso, quando o planejamento urbano é baseado em princípios que se direcionam


à infraestrutura verde, pode-se assegurar diversas funções e benefícios num mesmo espaço,
desde funções ambientais até econômicas. Em contraste com a infraestrutura cinzenta que
geralmente desempenha uma única função por vez, torna-se visível o potencial da infraestrutura
verde que resolve vários problemas ao mesmo tempo (BENINI, 2015).
O projeto da infraestrutura verde se baseia entre a relação do homem com a natureza,
voltada principalmente à cidade-natureza. Isto se deu devido ao aumento da percepção
ambiental e sua evolução, fazendo com que a infraestrutura verde seja um guia para o
desenvolvimento das cidades e a conservação da natureza de forma simultânea
(VASCONCELLOS, 2015).

1.3 Objetivo Geral


O objetivo geral do estudo é destacar a importância da Infraestrutura Verde, e seus
benefícios aplicados à Drenagem Urbana.

1.4 Objetivo Específico


 Articular o conceito geral de Infraestrutura Verde;
 Caracterizar Infraestrutura verde e suas tipologias;
 Comparar a drenagem tradicional com a drenagem verde;
 Analisar as avenidas sanitárias de Cuiabá, verificando o impacto que acarretam a
fluidez do tráfego nos dias de intensa precipitação;
 Discutir propostas de implantação de Infraestrutura Verde para cidade de Cuiabá-
MT.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Infraestrutura Verde
Como um nome relativamente novo, "infraestrutura verde" tem uma longa história e
está enraizada em uma série de propostas de planejamento regional verde formuladas de
maneira mais isolada ou sistemática desde a Revolução Industrial para aliviar os problemas
ambientais e as questões sociais do espaço urbano (BENEDIICT E MCMAHON, 2006).
Segundo Madureira (2008), o primeiro conjunto de antecedentes está relacionado à
necessidade de se desencadear a criação de jardins e parques públicos como unidades espaciais
12

autônomas urbanas. Embora o foco na proteção e na criação de espaços verdes se confunda com
a história da cidade, é por meio das mudanças espaciais, sociais e ambientais provocadas pela
Revolução Industrial que esse movimento ganhou a expressão que hoje reconhecemos. De fato,
embora o espaço urbano seja pequeno e haja uma fonte direta de abastecimento no seu meio
agrícola, a forte ligação morfológica e funcional entre a cidade e o campo favorece a
continuação do contato cotidiano entre a população urbana e a natureza.
Com as mudanças trazidas pela Revolução Industrial, essa relação de
complementaridade e dependência entre a população urbana e a cidade e seu meio rural sofreu
profundas transformações, desencadeando gradativamente a necessidade de proteger e / ou criar
espaços verdes urbanos. Por um lado, devido à industrialização descontrolada, geram-se graves
problemas ambientais, que são agravados pelo forte e repentino crescimento da população
urbana, e a infraestrutura geral de saneamento e funções não tem sido melhorada em
conformidade, o que tem causado uma onda de problemas de saneamento (BRANDÃO e
CRESPO, 2016).
A humanidade está enfrentando uma crise ambiental que nunca ocorreu na história. O
desenvolvimento das espécies e a prosperidade da civilização decorrem da originalidade e do
desenvolvimento dos recursos naturais (HERZOG, 2013). Nos últimos anos, as questões
ambientais urbanas têm recebido atenção cada vez maior, e esse tema tem cada vez mais
aparecido na agenda e na discussão da formulação de políticas públicas em alguns países.
O termo "infraestrutura verde" é cada vez mais mencionado em métodos e conceitos
relacionados aos sistemas de espaços verdes urbanos. É entendida como um sistema integrado
multifuncional de espaços verdes que conecta a cidade e seu entorno, como uma infraestrutura
biofísica e social como parte do território. Portanto, infraestrutura verde é um conceito
abrangente que integra outros métodos espaciais naturais, conceitual e espacialmente
(MADUREIRA, 2008).
Para Benedict e McMahon (2006), a infraestrutura verde é uma rede de espaços verdes
interligados, a qual conserva os valores e funções dos ecossistemas naturais e, ao mesmo tempo,
oferecem benefícios para os seres humanos. Os autores a definem ainda como uma estrutura
ecológica necessária para a sustentabilidade ambiental, social e econômica, sendo a
infraestrutura verde um sistema de sustentação da vida natural, que contribui para a saúde e
qualidade de vida das pessoas. Segundo eles, os elementos de uma rede de infraestrutura verde
devem ser protegidos em longo prazo e para isso é necessário planejamento, gestão e
compromisso contínuos.
13

Benedict e McMahon (2006) estabeleceram também, 10 princípios que consideram


fundamentais para o sucesso da infraestrutura verde. São eles:
1. Conectividade é a chave;
2. O contexto importa;
3. A infraestrutura verde deve ser fundada em conhecimentos científicos e na teoria e
práticas do planejamento do uso do solo;
4. A infraestrutura verde pode e deve funcionar como uma rede para a conservação e o
desenvolvimento;
5. A infraestrutura verde deve ser planejada e protegida antes do desenvolvimento.
6. A infraestrutura verde é um investimento público fundamental que deve ter prioridade
de financiamento;
7. A infraestrutura verde proporciona benefícios para a natureza e para as pessoas.
8. A infraestrutura verde respeita as necessidades e os desejos dos proprietários e das
partes envolvidas;
9. A infraestrutura verde implica a realização de atividades dentro e fora das
comunidades;
10. A infraestrutura verde requer um comprometimento de longo prazo.
Geralmente, os benefícios que a infraestrutura verde oferece são diferentes para cada
local de aplicação. Por exemplo, em locais de periferia ou subúrbio, ela pode auxiliar nos
problemas causados pela ocupação espraiada. Por outro lado, em áreas urbanas centrais, ela
pode servir de espaços abertos de lazer, corroborando para saúde física, mental e espiritual da
população. Já onde há abastecimento limitado de água ela pode ajudar na purificação dos
mananciais, e em locais vulneráveis a alagamento e enchentes ela pode protegê-lo através de
seu sistema natural. Seu contraste com as soluções baseadas nas chamadas infraestruturas
cinzentas (como sistema de drenagem ou o transporte), torna sua implantação apelativa, visto
seu potencial para resolver vários problemas simultaneamente (BRANDÃO e CRESPO, 2016).
Ainda segundo Benedict e McMahon (2006), o objetivo de planejar uma infraestrutura
verde é promover a conservação dos espaços, identificando, protegendo e manejando as redes
de espaços verdes interconectadas. Normalmente, essas redes se estendem sobre diversas
paisagens, não se limitando aos limites municipais. Assim, o planejamento de uma rede de
infraestrutura verde facilita a identificação prévia de locais importantes para as futuras ações
de conservação e restauração, assim como as futuras áreas de desenvolvimento.
Vale destacar também os princípios da Agenda 2030, um plano de ação global firmado
pelos 193 Estado-membros da Organização das Nações Unidas (ONU), o qual possui 17
14

objetivos de desenvolvimento sustentável, que visam erradicar a pobreza e promover vida digna
a todos, dentro das condições que nosso planeta oferece. Alguns destes objetivos estão
diretamente ligados com a Infraestrutura Verde, os quais são:
 Objetivo 9. Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização
inclusiva e sustentável e fomentar a inovação;
 Objetivo 11. Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros,
resilientes e sustentáveis (ECAM, 2015).

2.2 Tipologias de Infraestrutura Verde aplicadas à Drenagem Urbana


Benedict e McMahon (2006) acreditam que a construção de rede ecológica urbana é o
conceito da integração da engenharia urbana com a engenharia de drenagem urbana, sendo a
base para a implantação de infraestrutura verde. Dentro de uma região, a infraestrutura verde
pode se concentrar no estabelecimento de conexões entre a paisagem e os diferentes habitats
dos animais, ou no estabelecimento de corredores verdes, seja conectando parques existentes
ou novos. Dentre as infraestruturas verdes tem-se:
- Canteiro pluvial: São pequenos jardins de chuva, com cotas baixas, que podem ser
projetados em ruas e edifícios, com objetivo de receber as águas do escoamento superficial de
áreas impermeáveis. Sua função é fazer detenção e filtragem preliminar de água, infiltração,
diminuição do escoamento superficial, evapotranspiração e captura de carbono (HERZOG,
2009; CINGAPURA, 2011).
- Biovaleta: São depressões lineares preenchidas com vegetação, solo e elementos
filtrantes para promover a filtração de poluentes e a infiltração da água, podendo ou não
direcionar a água para um outro sistema como o jardim de chuva (HERZOG, 2010).

Figura 1: Canteiro pluvial Figura 2: Biovaleta


Fonte: Martin, 2011. Fonte: Ugreen.
15

- Jardim de chuva: São canteiros com plantas, formados com o rebaixamento do solo,
que coletam águas pluviais através de aberturas em seu contorno, podendo ser implantados
facilmente e integrar de forma eficaz os sistemas de drenagem urbanos. Servem para fins de
detenção e também como uma forma de purificação das águas pluviais antes de retornarem ao
curso d’água (HERZOG, 2009; CINGAPURA, 2011).
- Pavimentação permeável: É um pavimento com maior permeabilidade do que os
pavimentos tradicionais. Os pavimentos de drenagem podem ser construídos com diferentes
materiais e tecnologias: asfalto poroso, concreto permeável, blocos intertravados
semipermeáveis e cascalho. Podem ser usados em calçadas, vias, estacionamentos, pátios e
quintais residenciais, parques e praças, entre outros. Tem a função de filtragem, diminuição do
escoamento superficial e ainda podem armazenar a água caso sejam projetados com esta
finalidade (EPA, 2017; HERZOG, 2010).

Figura 3: Jardim de chuva Figura 4: Pavimento permeável


Fonte: Bidlus, 2020. Fonte: Engenharia 360, 2020.

- Lagoa pluvial: Depressão vegetada que recebe as águas das chuvas contribuindo para
diminuir o escoamento superficial, retardando a entrada das águas no sistema de drenagem e
possibilitando a infiltração com a recarga de aquíferos (HERZOG, 2010).
- Telhado verde: inclui basicamente o uso de vegetação no telhado de um edifício,
portanto, a água da chuva encontrará principalmente vegetação em vez de superfícies
impermeáveis. Essa tecnologia pode ser combinada com sistemas de captação de águas e chuva
para reuso (HERZOG, 2010).
16

Figura 5: Lagoa Pluvial Figura 6: Telhado Verde


Fonte: Cormier, 2008. Fonte: Construindo.org.

- Ruas verdes: São ruas onde a infraestrutura verde é incorporada, visando benefícios
paisagísticos e também de drenagem. São utilizados elementos como arborização,
pavimentação permeável, biovaletas e canteiros, com objetivo de capturar e tratar águas pluviais
e melhoras na drenagem superficial (EPA, 2017).

Figura 7: Ruas verdes


Fonte: Agropós.

2.3 Benefícios da Infraestrutura Verde

De acordo com o gestor de projetos ambientais da Agência Europeia do Ambiente


(AEA), Gorm Dige, a Infraestrutura Verde assegura variadas funções e benefícios em um
mesmo espaço. Sendo essas funções, ambientais (conservação da biodiversidade e melhora das
condições climáticas), sociais (drenagem da água e espaços verdes) e econômicos (criação de
emprego e valorização dos imóveis).
17

Como a maior parte dos benefícios da utilização de infraestrutura verde está diretamente
ligada ao manejo de águas pluviais, estes podem ser explicados através de cinco mecanismos:
purificação, detenção, retenção, condução e infiltração (CINGAPURA, 2011). Veja o quadro a
seguir.

Quadro 1: Mecanismos hídricos segundo CINGAPURA (2011).

Considerando também os apontamentos de Benedict e McMahon (2002a), Herzog e


Rosa (2010), podem ser listados mais alguns benefícios para espaços urbanos, que são:
 Promover a infiltração, detenção e retenção das águas das chuvas no local,
evitando o escoamento superficial;
 Filtrar as águas de escoamento superficial nos primeiros 10 minutos da chuva,
provenientes de calçadas e vias pavimentadas contaminadas por resíduos de
óleo, borracha de pneu e partículas de poluição;
 Criar habitat e conectividade para a biodiversidade;
18

 Amenizar as temperaturas internas em edificações e mitigar as ilhas de calor;


 Promover a circulação de pedestres e bicicletas em ambientes sombreados,
agradáveis e seguros;
 Diminuir a velocidade dos veículos; conter encostas e margens de cursos d’água
para evitar deslizamentos e assoreamento.

2.4 Drenagem Urbana

2.4.1 Drenagem Urbana Tradicional


A drenagem urbana é um termo que representa com fidelidade a prática de décadas
passadas em que se resolvia o problema de águas pluviais nas cidades apenas fazendo com que
os volumes gerados pelas chuvas fossem drenados o mais rápido possível para jusante (TUCCI,
2005).
A principal legislação que guia as prefeituras municipais no tema de drenagem urbana
é a Lei Federal nº 11.445/07, que estabelece as diretrizes para o saneamento básico em todo o
país. A lei define que saneamento básico é composto pelo seguinte:
 Abastecimento de água;
 Tratamento de esgoto;
 Manejo de resíduos sólidos;
 Drenagem urbana e manejo de água pluviais;

A chamada drenagem tradicional tem como objetivo a remoção imediata das águas no
meio urbano, através de um sistema em rede que tem início na via pela sarjeta e continua nas
galerias subterrâneas que encaminham os volumes de águas até o exutório. Cada vez que a
ocupação urbana é alterada todo o sistema entra em obsolescência o que requer sua atualização
e ampliação sob pena de excessivo escoamento superficial e suas consequências como
alagamentos urbanos. Outro fator problemático é a impermeabilização do solo que faz com que
diminua a infiltração da água da chuva, consequentemente aumentando o volume de
escoamento superficial, e também ocasionando a rápida remoção das águas pluviais
responsáveis pelo abastecimento de reservatórios subterrâneos promotores da manutenção dos
níveis dos mananciais (BEZZERA, M. C. L.; et al. 2019).
Botelho e Silva (2007) ressalta que as “principais alterações no ciclo hidrológico” são
oriundas da “ocupação do espaço urbano, destacando a impermeabilização do terreno, através
das edificações e da pavimentação das vias de circulação” (apud SILVA, 2011, p. 57).
19

Dessa forma, nota-se a importância de se elaborar um Plano Diretor de Drenagem


Urbana, o qual deve reger planos urbanísticos, saneamento, sistema viário e resíduos de sólidos,
com as legislações pertinentes (Uso do Solo, Ambiental e de Recursos Hídricos), como
condição para subsidiar a gestão das águas pluviais em áreas urbanas.

O Plano Diretor de Drenagem Urbana tem como meta buscar:


 Planejar a distribuição da água pluvial no tempo e no espaço, com base na tendência
de ocupação urbana compatibilizando esse desenvolvimento e a infraestrutura para
evitar prejuízos econômicos e ambientais;
 Controlar a ocupação de áreas de risco de inundação através de regulamentação;
 Convivência com as enchentes nas áreas de baixo risco. (TUCCI, 2005a, p.135).

2.4.2 Drenagem Sustentável


Já a drenagem sustentável ou verde é baseada no princípio de reaproveitamento da água
da chuva, através da infiltração (evapotranspiração), captura e reuso, recuperando a hidrologia
natural de uma área. Sua aplicação em áreas urbanas visa a conservação da biodiversidade
através da resiliência dos ecossistemas, contribuindo simultaneamente para a adaptação às
alterações climáticas e reduzindo a vulnerabilidade da ocorrência de catástrofes naturais em
áreas urbanas (BAPTISTA, 2015).
Ferreira e Machado (2010, p. 81) explicam que infraestrutura verde quando utilizada em
projetos urbanos, insere, conserva ou recupera a “estrutura ecológica” do local da intervenção,
por possibilitar a integração do “sistema azul” (circulação da água) com o “sistema verde”
(produção de biomassa).
Como maior exemplo de sua aplicação, se tem a cidade de Portland nos EUA. A cidade
criou um sistema de infraestrutura verde para melhorar seu ambiente, reduzir riscos em épocas
de chuva e promover a filtragem da água de forma natural, através de diferentes tipologias como
jardins de chuva, canteiros pluviais, biovaletas (ou valetas de biorretenção vegetada),
pavimentação permeável, telhados verdes, entre outros. Após 10 anos, já tinham resultados
como a redução de fluxo de picos de chuva em 85%, o volume de água escoada nas áreas
impermeáveis em até 60%, a redução da poluição do final da tarde entre 80 e 95% e em 2006,
a infiltração do volume de água das chuvas que chegavam à superfície já era de 95% (GLOBAL
DESIGNING CITIES INITISTIVE, 2019).
20

Figura 8: Esquema de várias técnicas implantadas na mesma rua.


Fonte: Global Designing Cities Initistive, 2019.

3. METODOLOGIA
3.1 Local de Estudo
A presente pesquisa terá como objeto de estudo a cidade de Cuiabá, capital do Estado
do Mato Grosso, fundada oficialmente em 08 de abril de 1719, possui população estimada de
623.614 habitantes, em uma área de 3.291.696 km² (IBGE, 2021). Segundo Silva et al (2010),
há três grandes ecossistemas que cercam o município: Amazônia, o Pantanal e o Cerrado, sendo
a última a vegetação predominante. A cidade de Cuiabá, possui clima tropical quente e úmido,
com estações definidas, que são: chuvosa (geralmente de janeiro à julho) e seca (geralmente de
julho à janeiro). A precipitação média anual é de 1498mm.

Figura 9: Mapa de localização de Cuiabá-MT


21

3.2 Tipo da Pesquisa


A escolha do tipo de estudo depende da pergunta que se pretende responder.
Tradicionalmente, a revisão sistemática é um estudo retrospectivo. Existe ainda a possibilidade
de realizar a revisão sistemática com dados individuais (CASTRO, 2007).
Desse modo a metodologia empregada para desenvolvimento do projeto baseou-se no
estudo de revisão sistemática e também na análise de dados, com o intuito de consultar toda
literatura sobre Infraestrutura Verde, a fim de sintetizar informações sobre os conceitos,
benefícios e analisar formas de aplicação voltadas à drenagem urbana, com proposta para
implantação na cidade de Cuiabá-MT.
A pesquisa foi realizada através de documentos online, no período entre julho e
novembro de 2021, através das plataformas online Google, Google Acadêmico, Scielo e Portal
Capes.
As palavras chaves escolhidas para iniciar a pesquisa: Infraestrutura Verde (resultados
aproximadamente 37.800.000), conceito de Infraestrutura Verde (7.660.000 resultados),
benefícios da Infraestrutura Verde (9.590.000 resultados), formas de aplicação para
Infraestrutura Verde (23.900.000 resultados), Drenagem Urbana (4.300.000 resultados) e
Drenagem Urbana de Cuiabá (117.000 resultados).
Os resultados obtidos das pesquisas online passaram por critérios de avaliação com o
intuito de escolher aqueles que abrangem mais sobre o tema. Os critérios são: (i) avaliação de
acordo com o que o assunto do resumo engloba, (ii) leitura do artigo para identificar o assunto
central e (iii) comparação do tema deste trabalho com o assunto do artigo pesquisado. De acordo
com os critérios utilizados, foram selecionados materiais com informações referentes à
definição de Infraestrutura Verde, seus benefícios e aplicações à Drenagem Urbana.
Foram selecionados também materiais que tratam especificamente sobre a Drenagem
Urbana de Cuiabá-MT, a fim de se observar os principais locais com problemas de drenagem e
pontos de alagamento. Dessa forma, posteriormente, será realizada análise de algumas
Avenidas Sanitárias locais, a fim de que sejam analisados métodos e aplicações para serem
empregados, com objetivo de sanar os problemas que impactam na fluidez de tráfego e conforto
da população.
Por fim, notasse o grande aparato de conteúdos e dados, consistentes e seguros sobre o
assunto, com objetivo de trazer bases sólidas ao trabalho, e também de forma sucinta as
melhores e mais relevantes informações. Com o intuído de explanar, esclarecer e trazer soluções
para o tema proposto.
22

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 Problemas Encontrados

É notório a evolução urbana da cidade de Cuiabá, visto que o aumento populacional


entre os anos de 1960 e 2010 foi de aproximadamente 952%, a população urbana que era de
57.860 habitantes em 1960 chegou a 551,098 em 2010, em que 98,12% eram residentes na área
urbana e somente 1,87% na área rural (CHEGURY, 2019).

Figura 10: Evolução da área urbana de Cuiabá-MT


Fonte: Cuiabá, 2012

Pelo fato de a cidade ter surgido as margens do Rio Cuiabá, desde o início da
colonização desconsideraram as cheias naturais, e também não se atentaram aos problemas
decorrentes da utilização desenfreada de córregos como despejo de dejetos e materiais residuais
(CUIABÁ, 2012).
Mesmo com todos esses fatores, o município ainda não tem um Plano de Macro e Micro
Drenagem, que são exigidos em planos diretores. A legislação urbana disponível, Lei
Complementar n° 003, de 24 de dezembro de 1992, no Art° 15, constitui diretrizes especificas
do desenvolvimento urbano na área de Saneamento e Drenagem, mas são estabelecidas apenas
observações gerais, ou seja, não focam em problemas específicos.
As diretrizes mencionadas anteriormente não criam metas, muito menos um Plano,
dessa forma a Secretaria de Meio Ambiente e Saneamento foca apenas em problemas pontuais,
tornando-se imprudente para resolver conflitos de macrodrenagem. Por exemplo, na década de
1970 e ao longo dos anos, a maioria dos córregos foram canalizados para resolver problemas
23

de mobilidade, bem como de drenagem, dentre eles estão o córrego da Prainha na Avenida
Tenente Coronel Duarte, Mané Pinto na Avenida Oito de Abril e Barbado nas proximidades da
UFMT, entretanto, por se localizarem em áreas baixas, e por problemas de infraestrutura, vimos
os problemas de alagamentos e enchentes até os dias atuais (HINZ et al, 2015).

Figura 11: Mapa de córregos de Cuiabá – MT


Fonte: Instituto de Planejamento e Desenvolvimento Urbano – IPDU.

O córrego da Prainha foi o primeiro a ser canalizado, em 1962, e posteriormente em


1979 realizou-se sua cobertura total para eliminar o odor do despejo de dejetos e para construção
da principal Avenida de Cuiabá, a Av. Historiador Rubens de Mendonça, dando origem assim
as chamadas avenidas sanitárias, que basicamente é a cobertura por pavimentação, de um corpo
hídrico. Essa região canalizada sofre com inundações constantes, gerando situações precárias
para população, bem como impactos na fluidez de tráfego em dias de alta precipitação
(CUIABÁ, 2010).
Outro ponto que gera problemas é na Av. Oito de Abril que sofre com recorrentes
inundações por falhas no sistema de drenagem e o mal planejamento. Recentemente, no início
de 2021 foram registrados alagamentos das vias por conta da enchente do canal do córrego
Mané Pinto (DIÁRIO DE CUIABÁ, 2021).
24

Figura 12: Alagamento Av. Prainha. Figura 13: Enchente do córrego da Av. 8 de Abril.
Fonte: Midia News, 2021. Fonte: G1, 2021.

A seguir, com base na pesquisa de Hinz (2015), será demonstrado o mapa com os
principais pontos de alagamento da cidade, elaborado através de coleta de dados de reclamações
realizadas no site da prefeitura e também em sites de notícia.

Figura 14: Mapa de Pontos de Alagamento


Fonte: HINZ et al, 2015.

Os principais pontos foram encontrados nas encostas dos córregos, sendo os principais
o Barbado e Gambá, como no bairro São Matheus e Praeirinho, e também pontos no Pedra 90
e Altos da Glória, além dos que já foram destacados anteriormente no texto.
25

4.1 Propostas para Avenidas Sanitárias em Cuiabá-MT

Cormier e Pellegrino (2008, p. 139) complementam Walmsley (2006) explicando que


“os projetos de infraestrutura verde podem ser os trabalhos mais duradouros de nosso tempo,
se pudermos conectá-los às pessoas”.

O planejamento de uma infraestrutura verde propicia a integração da natureza na cidade,


de modo a que venha ser mais sustentável. Favorece também a mitigação de impactos
ambientais e a adaptação para enfrentar os problemas causados pelas alterações
climáticas, como por exemplo: chuvas mais intensas e frequentes, aumento das
temperaturas (ilhas de calor), desertificação, perda de biodiversidade, só para citar
alguns. (HERZOG, 2010b, p.04).

Como visto anteriormente, são notórios os benefícios do uso da infraestrutura Verde,


dessa forma, serão elencadas propostas para o uso de tipologias já mencionadas e especificadas,
a fim de serem implantadas com objetivo de sanar problemas de alagamentos e enchentes
recorrentes nos pontos citados, os quais prejudicam a fluidez de tráfego e o bem-estar dos
usuários.
Tipologias propostas:
a) Biovaletas: Implementar nas vias em que o declive do terreno beneficia o fluxo
e a coleta de água pluvial.
b) Canteiros Pluviais: Implantar em esquinas e laterais de áreas de convívio.
c) Jardim de Chuva: Implementar em canteiros centrais ao longo das vias.

Figura 15: A) Biovaleta, B) Canteiro Pluvial e C) Jardim de Chuva


Fonte: Magalhães e Neri, 2018.
26

d) Pavimento Permeável: Implementar em ciclovias, calçadas e vagas de


estacionamentos das vias.

Figura 16: Pavimentos permeáveis.


Fonte: Adriaarq.blogspot, 2014.

Devido à dificuldade de áreas verdes livres na região dos pontos estudados que
possibilitariam a implantação de infraestruturas verdes detentoras de águas pluviais, como por
exemplo as Lagoas Pluviais, foi priorizada a sugestão das infraestruturas verdes com funções
de retenção de águas, o que já são muito eficientes na redução de alagamentos e enchentes.
Deve-se destacar também que as tipologias escolhidas contam com a possibilidade de
possuir tubulações próprias que distribuem a água pluvial captada para o solo, reabastecendo o
lençol freático da região, ou para as próximas estruturas do sistema verde até chegar aos leitos
fluviais. Quando há saturação dessas estruturas, as águas são conduzidas para o sistema
convencional de drenagem, evitando assim um transbordamento.
Com a utilização de todas as tipologias juntas, forma-se então as chamadas Ruas Verdes,
demostradas a seguir:
27

Figura 17: Ruas Verdes.


Fonte: Magalhães e Neri, 2018.

É importante também destacar que devido a Infraestrutura Verde ser um projeto que
visa resultados a longo prazo, o ideal seria que seus métodos fossem incorporados desde a
criação do Plano de Macro e Micro Drenagem do Município, de forma que não sejam utilizados
apenas como uma intervenção para mitigar problemas, mas sim um ponto de partida para uma
cidade sustentável promissora.
Considerando as proposituras de Benedict e McMahon (2002b), Herzog (2010b, p. 05)
explica que planejamento urbano e a elaboração de projetos que contemplem as tipologias da
infraestrutura verde “sejam de fato eficientes e eficazes, é preciso ter uma abordagem sistêmica,
abrangente e transdisciplinar”, é necessário adotar alguns procedimentos técnicos, como:
- Depende de um levantamento detalhado dos aspectos abióticos, bióticos e culturais.
Inicialmente é preciso fazer um mapeamento dos condicionantes geológicos,
geomorfológicos, hídricos (de preferência ter a bacia hidrográfica como unidade de
macroplanejamento), climáticos, cobertura vegetal, uso e ocupação do solo.
- Também é importante conhecer a biodiversidade local. Levantar dados e mapas
históricos de uso e ocupação do solo, de hábitos e da cultura local. Conhecer mais
profundamente o lugar. O processo deve ser dinâmico e flexível, além de efetivamente
participativo, contando com representantes de todos os segmentos da sociedade que
serão afetados pelo projeto. É necessário identificar os anseios e problemas trazidos pela
comunidade, em busca de novas ideias, fruto da vivência e experiência do lugar. Esse
engajamento dos usuários no desenvolvimento do planejamento e projeto é essencial
para que a infraestrutura verde seja sustentável no longo prazo. O diagnóstico irá indicar
quais as oportunidades e as limitações da área. (HERZOG, 2010b, p.05).

5. CONCLUSÃO

Como foi exposto desde o início do trabalho, é nítido que o processo de industrialização,
juntamente com a urbanização desenfreada das cidades, gerou uma grave degradação ambiental
nas áreas urbanas principalmente pela forma com que se deu o uso e a ocupação do solo nesse
período e também devido à falta de planejamento por conta do crescimento exponencial da
população urbana em um curto período de tempo.
Neste sentido, a revisão bibliográfica procurou explicar, que mesmo que esse tema seja
pouco divulgado no Brasil, a Infraestrutura Verde é um método que propõe a
28

multifuncionalidade de um espaço, que além da inserção e valorização da natureza no ambiente


urbano, contribui também na conexão da cidade e seu entorno, o qual beneficia o seu
funcionamento e traz melhorias na saúde e qualidade de vida do ser humano.
Como alternativa e complementação aos sistemas convencionais de gerenciamento de
águas pluviais, foram apresentadas as tipologias de infraestrutura verde aplicadas à drenagem
urbana, as quais são: Canteiro Pluvial, Biovaletas, Jardim de Chuvas, Pavimentação Permeável,
Lagoa Pluvial, Telhado Verde e Ruas Verdes.
Para contextualizar a pesquisa proposta, partiu-se de um estudo de caso da cidade de
Cuiabá – MT, onde foram apresentados aspectos geográficos e socioeconômicos, evidenciando
os problemas urbanos, principalmente alagamentos e enchentes em Avenidas Sanitárias
decorrentes de uma combinação de fatores, que são: alta precipitação, impermeabilização do
solo devido a grandes áreas pavimentadas, falha no sistema de drenagem e mal planejamento.
Visto isso, para solucionar os problemas encontrados, foram propostas a implantação de
algumas tipologias de infraestrutura verde já mencionadas (Canteiro Pluvial, Biovaletas, Jardim
de Chuvas, Pavimentação Permeável, e Ruas Verdes), com objetivo de aumentar a infiltração
natural de água pluvial evitando o acumulo de escoamento superficial e saturação dos sistemas
de drenagem, o que traz grandes benefícios também para a fluidez de tráfego das vias. Além
disso, as implantações desses projetos valorizam as propriedades próximas, deixam os bairros
mais bonitos, combatem o extremo calor no verão e ampliam os espaços públicos.
Diante do exposto, considerando todos os pontos apresentados, inclusive os dados
positivos do exemplo da cidade de Portland nos EUA, conclui-se que há viabilidade na
implantação da Infraestrutura Verde aplicada à Drenagem Urbana tanto para intervenções
mitigadoras de eventuais problemas, bem como sua incorporação na elaboração de Planos de
Drenagem Municipais.
Cabe dizer que para a aplicação concreta das propostas sugeridas é necessário ter uma
pesquisa específica e detalhada do local, tanto para escolha e execução de cada sistema, como
também da sua integração com o meio ambiente urbano. Há um longo caminho para o
entendimento total da Infraestrutura Verde, sendo de suma importância a continuidade do
desenvolvimento de novos estudos.
É necessário e inevitável a priorização da infraestrutura de forma sustentável, adotando
projetos com responsabilidade socioambiental, que promovam a identidade local e a mobilidade
urbana, de forma a contribuir com a construção de cidades sustentáveis, seguras e resilientes.
29

6. REFERÊNCIAS

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