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Universidade Municipal de São Caetano do Sul Curso de graduação

em Arquitetura e Urbanismo

Geovani Buzzo Rodrigues

O Impacto Sustentável da Incorporação de Aditivos Redutores de


Água no Concreto

São Paulo
2023
Geovani Buzzo Rodrigues

O Impacto Sustentável da Incorporação de Aditivos Redutores de


Água no Concreto

Projeto Experimental apresentado ao curso de Ar-


quitetura e Urbanismo da Universidade Municipal de
São Caetano do Sul para obtenção do título de Ar-
quiteto e Urbanista.

Orientador: Prof. Me. Luciano Ferreira dos Santos

São Caetano do Sul


Orientador: Prof.______________________
2023
Co-orientador: Prof.____________________
Banca Examinadora

_______________________
Prof. Me. Luciano Ferreira dos Santos

_______________________
Prof. Dra. Camila Mayumi Nakata Osaki

_______________________
Prof. Dr. Renato Carrieri Junior
AGRADECIMENTOS

Gostaria de dedicar meus agradecimentos a todas as pessoas que desempenharam


um papel fundamental na jornada que culminou neste trabalho:
Em primeiro lugar, expresso minha profunda gratidão a Deus, cuja orientação e força
sempre estiveram comigo ao longo desses anos de estudo. Sua presença foi a luz
que iluminou meu caminho e fortaleceu minha determinação.
Aos meus pais, agradeço por serem o alicerce sólido em minha vida. Seu amor in-
condicional, apoio constante e sabedoria foram a âncora que me manteve firme
mesmo nos momentos mais desafiadores. Cada conquista é um testemunho do im-
pacto positivo que tiveram em minha jornada acadêmica.
Ao meu querido irmão, expresso meu reconhecimento pela parceria e encorajamen-
to ao longo de toda essa trajetória. Seu apoio foi um catalisador fundamental para
meu crescimento e sucesso.
Ao Professor Mestre Luciano, meu orientador, sou profundamente grato. Sua exper-
tise, orientação e dedicação foram cruciais para o desenvolvimento deste trabalho.
Sem a sua orientação valiosa, eu não teria conseguido avançar nem metade do ca-
minho.
Não posso deixar de mencionar a TECNOSIL e sua equipe. Agradeço à TECNOSIL
pela abertura, generosidade e comprometimento com este projeto. Sua contribuição
foi crucial para o progresso e a relevância deste trabalho na interface entre a pes-
quisa acadêmica e a prática industrial.
Esta conquista não é apenas minha, mas um esforço coletivo daqueles que genero-
samente compartilharam seus conhecimentos, apoio e amizade ao longo dessa jor-
nada acadêmica. A todos vocês, o meu mais sincero agradecimento.
RESUMO

Este estudo investigou os impactos da incorporação do aditivo redutor de água tipo I


no concreto, explorando seu potencial para reduzir o consumo de água e cimento
sem comprometer as propriedades do material. Os ensaios realizados demonstra-
ram não apenas a manutenção, mas em muitos casos, a melhoria nas característi-
cas do concreto com a adição do aditivo. Os resultados sugerem não só eficiência
na utilização de recursos, mas também uma contribuição valiosa para enfrentar de-
safios globais como a escassez de água e a redução nas emissões de CO2.

A economia significativa de água, calculada para diferentes escalas, destaca a rele-


vância prática dessa abordagem em um contexto global de recursos hídricos cada
vez mais escassos. Além disso, a redução na quantidade de cimento não apenas
implica benefícios econômicos, mas também ressalta a contribuição para a diminui-
ção das emissões de CO2 na produção de cimento, alinhando-se às demandas con-
temporâneas de sustentabilidade.

A conclusão destaca não apenas a viabilidade técnica do uso do aditivo, mas tam-
bém seu potencial para promover práticas mais conscientes na indústria da constru-
ção. Este estudo oferece uma contribuição significativa para um setor mais susten-
tável, resiliente e alinhado com os princípios da preservação ambiental.
ABSTRACT

This study investigated the impacts of incorporating the water-reducing admixture


type I in concrete, exploring its potential to reduce water and cement consumption
without compromising material properties. The conducted tests not only demonstrat-
ed the maintenance but, in many cases, the improvement of concrete characteristics
with the addition of the admixture. The results suggest not only efficiency in resource
utilization but also a valuable contribution to addressing global challenges such as
water scarcity and reducing CO2 emissions.

The significant water savings, calculated for different scales, highlight the practical
relevance of this approach in a global context of increasingly scarce water resources.
Furthermore, the reduction in the amount of cement not only implies economic bene-
fits but also emphasizes the contribution to reducing CO2 emissions in cement pro-
duction, aligning with contemporary demands for sustainability.

The conclusion underscores not only the technical feasibility of using the admixture
but also its potential to promote more conscientious practices in the construction in-
dustry. This study provides a significant contribution to a more sustainable, resilient
sector aligned with environmental preservation principles.

LISTAS DE FIGURAS
Figura 1. Emissões de gases de efeito estufa da indústria de cimento, 2000 ........... 12
Figura 2 Distribuição mundial do potencial de emissões anual de CO2 da indústria
de cimento nos anos 1990. ....................................................................................... 12
Figura 3. Aspectos e impactos ambientais e sociais no processo produtivo do
cimento. ..................................................................................................................... 14
Figura 4 - Permeabilimetro de Blaine ........................................................................ 21
Figura 5 - Peneiras para granulometria ..................................................................... 23
Figura 6 - Molde e haste slump test. ......................................................................... 25
Figura 7 - Medida do abatimento............................................................................... 28
Figura 8 - Medidor de ar incorporado ........................................................................ 30
Figura 9 - Ensaio de Massa específica do concreto. ................................................. 31
Figura 10 - Ensaio de compressão............................................................................ 33
Figura 11 – Fluxogramas de rupturas ....................................................................... 40
Figura 12 - venda de cimento acumulada nos últimos doze meses .......................... 42
Figura 13 – Perfil de distribuição do cimento consumido no Brasil ........................... 42
Figura 14 - Lei de Abrams ......................................................................................... 44
Figura 15 - Lei de Inge Lyse ...................................................................................... 44
Figura 16 - Lei de Molinari ......................................................................................... 45
Figura 17 - Diagrama de dosagem, método IPT-EPUSP .......................................... 45
Figura 18 - Certificado de qualidade Silicon Plast 408 .............................................. 49
Figura 19 - Slump teste 1 (convencional 0,9) ............................................................ 51
Figura 20 - Slump teste 2 (convencional 0,7) ............................................................ 52
Figura 21 - Slump teste 3 (convencional 0,5) ............................................................ 53
Figura 22 - Slump teste 4 (Silicon Plast 408 0,9) ...................................................... 54
Figura 23 - Slump teste 5 (Silicon Plast 408 0,7) ...................................................... 55
Figura 24 - Slump teste 6 (Silicon Plast 408 0,5) ...................................................... 56
Figura 25 - Ar incorporado teste 1 (convencional 0,9) ............................................... 58
Figura 26 - Ar incorporado teste 2 (convencional 0,7) ............................................... 59
Figura 27 - Ar incorporado teste 3 (convencional 0,5) ............................................... 60
Figura 28 - Ar incorporado teste 4 (Silicon Plast 408 0,9) ......................................... 61
Figura 29 - Ar incorporado teste 5 (Silicon Plast 408 0,7) ......................................... 62
Figura 30 - Ar incorporado teste 6 (Silicon Plast 408 0,5) ......................................... 63
Figura 31 - Corpos de prova teste 1 (convencional 0,9) ............................................ 64
Figura 32 - Corpos de prova teste 2 (convencional 0,7) ............................................ 64
Figura 33 - Corpos de prova teste 3 (convencional 0,5) ............................................ 65
Figura 34 - Corpos de prova teste 4 (Silicon Plast 408 0,9) ...................................... 65
Figura 35 - Corpos de prova teste 5 (Silicon Plast 408 0,7) ...................................... 66
Figura 36 - Corpos de prova teste 6 (Silicon Plast 408 0,5) ...................................... 66
Figura 37 - Prensa hidráulica utilizada para as rupturas ........................................... 67
LISTAS DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - CURVA GRANULOMÉTRICA AREIAS ................................................... 47


Gráfico 2 - CURVA GRANULOMÉTRICA BRITAS ................................................... 48
Gráfico 3 - Gráfico de resistência em MPa ................................................................ 68
Gráfico 4 - Curva de resistências MPa ...................................................................... 68
Gráfico 5 - Diagrama de dosagens............................................................................ 70
LISTAS DE TABELAS

Tabela 1- Designação normalizada, sigla e classe do cimento Portland. .................. 15


Tabela 2 - apresenta os tipos e limites estabelecidos pela norma. ........................... 15
Tabela 3 - Limites da composição granulométrica do agregado graúdo ................... 16
Tabela 4 - Limites da composição granulométrica do agregado miúdo. ................... 17
Tabela 5 - Designação normatizada .......................................................................... 18
Tabela 6 - Requisitos gerais para todos os aditivos .................................................. 18
Tabela 7 - Requisitos para aditivo redutor de água (RA1 e RA2) – Ensaio mantendo
a consistência do concreto. ....................................................................................... 20
Tabela 8 - Classes de consistência ........................................................................... 24
Tabela 9 - Tolerância para cada idade de ensaio. .................................................... 33
Tabela 10 - RESUMO TESTES................................................................................. 37
Tabela 11 - DADOS TRAÇO 0,9 ............................................................................... 38
Tabela 12 - DADOS TRAÇO 0,7 ............................................................................... 38
Tabela 13 - DADOS TRAÇO 0,5 ............................................................................... 38
Tabela 14 – Resultados da granulometria e massa específica dos agregados......... 47
Tabela 15 - resumo dos resultados dos slumps ........................................................ 50
Tabela 16 - Resumo resultados de ar incorporado ................................................... 57
Tabela 17 - Quantidade de água economizada......................................................... 69
Tabela 18 - Quantidades de água economizada nos traços ..................................... 73
Tabela 19 - Resumo resistências MPA ..................................................................... 74
Tabela 20 - Quantidade de cimento e CO2 em um traço sem aditivo ....................... 77
Tabela 21 - Quantidade de cimento e CO2 economizados em um traço com aditivo
.................................................................................................................................. 78
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

UNEP Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

WWAP World Water Assessment Programme

IPCC Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas

CO2 Dióxido de carbono

ONU Organização das Nações Unidas

ABCP Associação Brasileira de Cimento Portland

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

NM NORMA MERCOSUL

FCK Feature Compression Know

cm Centímetro

g Gramas

M³ Metros cúbicos

kg Kilograma

a/c Relação água e cimento

CPII F 40 Cimento Portland composto com filer

MPa Mega Pascal

L Litros

CP Corpos de prova

SNIC Sindicato Nacional da Indústria do Cimento

FcJ resistência média do concreto

pH percentual hidrogeniônico

mm Milímetros
LISTA DE SÍMBOLOS

% Porcentagem
SUMÁRIO

Sumário

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 7

1.1 Objetivo geral .................................................................................................. 10

1.2 Objetivo específico .......................................................................................... 10

2. Revisão bibliográfica ........................................................................................... 11

2.1 Produção do cimento e seus impactos ............................................................ 11

2.2 CONCRETO DE CIMENTO PORTLAND ........................................................ 14

2.2.1 CIMENTO PORTLAND ................................................................................ 14

2.3.1 Agregados .................................................................................................... 16

2.4.1 ADITIVOS PARA CONCRETO .................................................................... 17

2.5.1 ADITIVO REDUTOR DE ÁGUA TIPO I ........................................................ 19

2.6.1 ENSAIO DE BLAINE .................................................................................... 20

2.7.1 GRANULOMETRIA AGREGADOS .............................................................. 21

2.8.1 SLUMP TEST ............................................................................................... 23

2.9.1 Ar incorporado – Método pressométrico ...................................................... 28

2.10.1 MASSA ESPECÍFICA ............................................................................... 30

2.11.1 RESISTÊNCIA A COMPRESSÃO ............................................................ 31

3. METODOLOGIA (AGREGADOS) ....................................................................... 34

3.1 CARACTERIZAÇÃO DE AGREGADOS ......................................................... 34

3.2 BLAINE DE CIMENTO .................................................................................... 34

4. METODOLOGIA (CONCRETO ESTADO FRESCO) .......................................... 35

4.1 SLUMP TESTE................................................................................................ 35

4.1 TEOR DE AR INCORPORADO....................................................................... 39

4.2 MASSA ESPECÍFICA ...................................................................................... 39

5. METODOLOGIA (CONCRETO ESTADO ENDURECIDO) ................................. 39

5.1 RESISTÊNCIA A COMPRESSÃO................................................................... 39


6. METODOLOGIA PARA CÁLCULOS .................................................................. 41

6.1 ANÁLISE INDÚSTRIA CIMENTO .................................................................... 41

7. RESULTADOS ................................................................................................... 46

7.1 GRANULOMETRIA ......................................................................................... 46

7.2 RESULTADOS DE REQUISITOS DO ADITIVO.............................................. 48

7.3 RESULTADOS SLUMP ................................................................................... 49

8. ANÁLISE DOS RESULTADOS ........................................................................... 71

8.1 GRANULOMETRIA ......................................................................................... 71

8.2 REQUISITOS DOS ADITIVOS ........................................................................ 72

8.3 SLUMP ............................................................................................................ 72

8.4 AR INCORPORADO ....................................................................................... 73

8.5 RESISTÊNCIA A COMPRESSÃO................................................................... 74

8.6 ECONOMIA DE ÁGUA .................................................................................... 76

8.7 ECONOMIA DE CIMENTO.............................................................................. 77

9. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 78

10. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ..................................................................... 80


7

1. INTRODUÇÃO

No século XXI, a humanidade enfrenta desafios ambientais sem prece-


dentes devido à necessidade constante de infraestruturas e edifícios para acomodar
uma população mundial em crescimento. Nesse contexto, a indústria da construção
civil desempenha um papel fundamental no impulsionamento do desenvolvimento
econômico, social e urbano. No entanto, essa expansão não ocorre sem custos sig-
nificativos para o nosso planeta.

O estresse hídrico é uma realidade global, afetando mais de 2 bilhões de


pessoas em países que enfrentam situações críticas (United Nations, 2018). A es-
cassez de água não é apenas um problema anual, mas também sazonal, evidenci-
ando-se pela variabilidade sazonal na disponibilidade hídrica. Estima-se que cerca
de 4 bilhões de pessoas vivem em regiões com grave escassez física de água por
pelo menos um mês ao ano (Mekonnen; Hoekstra, 2016). Adicionalmente, 1,6 bilhão
de pessoas enfrentam escassez "econômica", indicando que, embora a água esteja
fisicamente disponível, a infraestrutura necessária para acesso adequado está au-
sente (Comprehensive Assessment of Water Management in Agriculture, 2007).

Os aquíferos globais enfrentam um aumento significativo no estresse hí-


drico, com 30% dos maiores sistemas de águas subterrâneas se esgotando (Richey
et al., 2015). A captação intensiva de água subterrânea para irrigação é um dos
principais impulsionadores desse esgotamento (Burek et al., 2016). Além disso, a
capacidade per capita de armazenamento de água em reservatórios construídos es-
tá diminuindo globalmente, com o assoreamento contribuindo para a redução dessa
capacidade. O aumento na demanda global de água doce é evidente, com um cres-
cimento seis vezes maior nos últimos cem anos, mantendo uma taxa de cerca de
1% ao ano desde a década de 1980 (AQUASTAT, s.d.). A agricultura é a maior con-
sumidora, representando 69% do uso global de água, principalmente para irrigação.
No entanto, essa alta demanda contrasta com o baixo valor agregado à economia
global, representando apenas cerca de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial
(World Bank, 2020).
8

Projeções futuras indicam um aumento na necessidade de alimentos e,


consequentemente, na demanda por água na agricultura. A FAO estima um aumen-
to de 60% na produção de alimentos até 2050, com um aumento de mais de 50% na
produção irrigada (FAO, 2017a). No entanto, a disponibilidade de água necessária
para sustentar essas projeções é questionável. A qualidade da água é uma preocu-
pação crescente, com poluição afetando significativamente os principais rios em di-
versas regiões. A carga de nutrientes, frequentemente associada a patógenos, é
uma das principais fontes de poluição (UNEP, 2016). A gestão inadequada das
águas residuais agrava ainda mais esse problema, com cerca de 80% de todas as
águas residuais industriais e municipais sendo lançadas no meio ambiente sem tra-
tamento adequado (WWAP, 2017). Eventos climáticos extremos, como inundações e
secas, estão se tornando mais frequentes e severos. Entre 2009 e 2019, inundações
causaram quase 55 mil mortes e secas afetaram mais de 100 milhões de pessoas,
com perdas econômicas significativas (CRED, 2020). A mudança climática espera-
se que intensifique ainda mais esses eventos (IPCC, 2018).

A escassez de água é reconhecida como um dos principais riscos globais,


impactando formuladores de políticas públicas, líderes empresariais e investidores.
Uma pesquisa com 525 investidores, totalizando US$ 96 trilhões em ativos, revelou
que 45% relataram exposição a riscos substanciais relacionados à insegurança hí-
drica (CDP, 2020). O Banco Mundial estima que regiões afetadas pela escassez de
água poderiam ver suas taxas de crescimento cair até 6% do PIB até 2050, devido a
perdas na agricultura, saúde e propriedade (Banco Mundial, 2016). A questão da
água é complexa e multifacetada, envolvendo desafios significativos que exigem
abordagens inovadoras e sustentáveis para garantir a segurança hídrica global. Es-
ses desafios não apenas afetam a disponibilidade de água, mas também têm impli-
cações diretas na saúde pública, na economia global e na resiliência dos ecossiste-
mas. Portanto, é imperativo adotar medidas eficazes para abordar esses problemas
e promover práticas sustentáveis de gestão de recursos hídricos.
9

O concreto é classificado como o segundo material mais amplamente uti-


lizado pela humanidade e é considerado o principal componente estrutural na indús-
tria da construção civil contemporânea [Helene e Andrade, 2011] e uma das princi-
pais preocupações ambientais relacionadas à construção civil está ligada ao concre-
to. O cimento, que é o principal componente do concreto, tem recebido cada vez
mais atenção devido ao seu impacto substancial no meio ambiente. Segundo o re-
nomado Instituto Britânico de Pesquisa Chatham House: “O cimento é responsável
por aproximadamente 8% das emissões globais de CO2". Se considerarmos a in-
dústria do cimento como um país, ela seria classificada como o terceiro maior emis-
sor de dióxido de carbono do mundo, ficando atrás apenas da China e dos Estados
Unidos [Chatham House, 2018]. Essa estatística alarmante destaca a importância
crítica do cimento nas emissões globais de gases do efeito estufa e torna-o um foco
central na busca por soluções mais sustentáveis na construção civil.

Além do impacto climático causado pelo cimento, também existe uma


grande preocupação com relação à quantidade significativa de água utilizada na
produção e mistura do concreto. Em uma época em que muitas regiões do mundo já
estão sendo afetadas pela escassez de água, surgem preocupações sobre como a
indústria da construção civil está utilizando intensivamente esse recurso fundamental
e como podemos gerenciá-lo de forma sustentável.

A água desempenha um papel fundamental na qualidade e na durabili-


dade do concreto, mas seu uso excessivo representa um dilema complexo que exige
abordagens inovadoras e conscientes do meio ambiente.
10

1.1 Objetivo geral

Este trabalho busca explorar a interseção crítica entre a indústria do ci-


mento, o uso de água não concreto e a busca por soluções sustentáveis na constru-
ção civil. Examine o impacto ambiental do cimento e as quantidades exorbitantes de
água consumida, ao mesmo tempo em que se investiga o papel dos aditivos quími-
cos como essenciais na otimização das propriedades do concreto. Ao longo deste
estudo, será demonstrado como a combinação adequada de cimento, água e aditi-
vos pode não apenas melhorar o desempenho do concreto, mas também contribuir
para a redução do impacto ambiental associado a esse material fundamental na
construção civil.

1.2 Objetivo específico

O presente Trabalho tem como objetivo específico abordar a aplicação


dos aditivos redutores de água tipo I e sua influência na proporção de água e cimen-
to, visando quantificar a redução possível com a utilização desse produto. Nesse
contexto, pretende-se analisar a diminuição proporcional do consumo de cimento, o
que, por sua vez, contribuirá para a redução das emissões de CO2 na atmosfera,
considerando a quantidade total de cimento produzido. Além disso, busca-se avaliar
o impacto positivo dessa prática na diminuição do uso de água, uma vez que a água
é um recurso que vem enfrentando uma crescente escassez em nosso planeta.
11

2. Revisão bibliográfica

2.1 Produção do cimento e seus impactos

Como apontado por Rodgers (BBC News, 2019), a produção de cimento é


responsável por aproximadamente 8% das emissões globais de dióxido de carbono
(CO2). Essa preocupante estatística vem à tona em um momento crucial,
coincidindo com a realização da COP24 da ONU sobre mudanças climáticas, na
Polônia. Isso implica que, a fim de cumprir as metas estabelecidas no Acordo de
Paris de 2015, é imperativo reduzir as emissões anuais decorrentes da produção de
cimento em 16% até 2030.

Se considerássemos a indústria do cimento como uma nação, ela


ocuparia o terceiro lugar entre os maiores emissores de CO2 do mundo, ficando
atrás apenas da China e dos Estados Unidos (Rodgers, BBC News, 2019). A
indústria do cimento supera em emissões a aviação global (2,5%) e se aproxima da
contribuição da indústria agropecuária (12%).

As causas do impacto ambiental significativo da indústria do cimento são


frequentemente associadas ao processo de extração e transporte da matéria-prima,
mas vale ressaltar que isso representa apenas 10% das emissões totais atribuídas a
essa indústria. Conforme enfatizado no relatório da BBC (2019), mais de 90% das
emissões do setor estão intrinsecamente ligadas ao processo de fabricação do
"clínquer", que é um componente fundamental do concreto.

No processo de fabricação do clínquer, as indústrias utilizam um forno


rotativo aquecido a mais de 1400 graus Celsius, alimentado com uma mistura
composta por calcário moído, argila, minério de ferro e cinzas. A combustão dessa
mistura resulta na divisão em óxido de cálcio e CO2, liberando dióxido de carbono
na atmosfera no momento da produção do clínquer. A matéria-prima do concreto é
então resfriada, moída e misturada com calcário e gesso para criar o componente
mágico do cimento, pronto para ser distribuído globalmente.

A Figura 1 destaca a distribuição mundial das emissões de gases de


efeito estufa pela indústria de cimento, indicando que a queima de combustíveis
12

fósseis representa cerca de 54%, o desmatamento por queimadas 9%, e outros


emissores de gases de efeito estufa 14,8%.
A Figura 2 mostra o potencial de emissões anuais de CO2 pela indústria
de cimento nos anos 1990, destacando os maiores emissores na Ásia, China, Japão
e Índia. O Brasil apresenta um potencial de emissão considerado mediano.
Em meio a preocupações crescentes com o aquecimento global, é
evidente que a produção de cimento desempenha um papel significativo nas
emissões de gases de efeito estufa, destacando a necessidade urgente de
abordagens mais sustentáveis nesse setor.

Figura 1. Emissões de gases de efeito estufa da indústria de cimento, 2000

Fonte: Adaptado de WBCSD (2002)

Figura 2 Distribuição mundial do potencial de emissões anual de CO2 da indústria de cimento


nos anos 1990.

Fonte: Van Oss e Padovani (2002), com base em dados de Cembureau (1996).
13

O impacto do aquecimento global tem potencial para alterar os padrões


de produção de alimentos em diversos países, incluindo Austrália, Argentina e
Brasil, assim como nas regiões temperadas da Europa. Isso pode resultar em
escassez de grãos, especialmente em regiões tropicais, onde grande parte da
agricultura é de subsistência. A desertificação em larga escala nessas áreas pode
aumentar a pressão migratória, com possíveis consequências, como a migração em
direção à Europa. China e Índia, sendo os países mais populosos do mundo,
também são vulneráveis à diminuição na produção agrícola, o que pode agravar a
tensão social devido à fome e conflitos étnico-religiosos, reacendendo disputas por
territórios e recursos, reminiscentes de padrões históricos (Abbott, Rogers &
Sloboda, 2006).

Além do macroimpacto relacionado às emissões de CO2 e ao


consequente aquecimento global, os impactos do processo produtivo do cimento
abrangem todas as suas fases, desde a extração até a disposição final. A indústria
do cimento é reconhecida por seu elevado potencial poluidor, apresentando fontes
de poluição em todas as etapas do processo, incluindo moagem, homogeneização,
clinquerização, resfriamento, adições, produção, ensacamento e expedição, assim
como em pontos de transferência de materiais.

As plantas de fabricação de cimento figuram entre as principais fontes de


emissão de poluentes atmosféricos perigosos, como dioxinas e metais tóxicos,
incluindo mercúrio, chumbo, cádmio, arsênio, antimônio e cromo. Esses metais
pesados, presentes em matérias-primas e combustíveis, podem ser emitidos na
forma de particulado ou vapor pelas chaminés das fábricas. Para controlar a
poluição, padrões de emissão foram estabelecidos, abordando material particulado,
metais pesados, cloretos, monóxido de carbono e dioxinas, conforme a Resolução
do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) nº 3/90.

As medidas de controle incluem a direção do material particulado para


chaminés, utilizando coletores com ciclone, filtros de manga e precipitadores
eletrostáticos. Para reduzir a emissão de poeiras fugitivas nas áreas de mineração e
na área industrial, são adotadas práticas como aspersão de água, enclausuramento
14

de áreas de estocagem, sistemas exaustores e filtros coletores de pós, além da


pavimentação e varrição de vias.

As vias de contaminação abrangem o ar, solo, água e cadeia alimentar,


com inalação, ingestão ou contato dérmico com poluentes atmosféricos, solos
contaminados e corpos d'água. A Figura 3 oferece uma representação visual dos
vários aspectos e impactos ambientais e à saúde humana ao longo do processo
produtivo do cimento.

Figura 3. Aspectos e impactos ambientais e sociais no processo produtivo do cimento.

Fonte: Maria Beatriz Maury (2007)

2.2 CONCRETO DE CIMENTO PORTLAND

2.2.1 CIMENTO PORTLAND

Cimento Portland é um pó fino com propriedades ligantes e aglutinantes


ou ligantes que endurece sob ação da água. Depois de endurecido, mesmo que seja
novamente submetido à ação da água, o cimento Portland não se decompõe mais
(ABCP - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND, 2002, p. 5)

A designação do cimento Portland se dá por seu tipo que corresponde a


adições e propriedades especiais. Os mesmos são identificados por suas siglas e,
seguidas de sua classe de resistência acrescidas dos sufixos RS ou BC, aplicáveis
conforme descrito na Tabela 1.
15

Tabela 1- Designação normalizada, sigla e classe do cimento Portland.

FONTE: Adaptado de NBR 16697 (ABNT, 2018).

O Cimento Portland é constituído por clínquer e adições, sendo o clínquer


o componente predominante em todos os tipos de cimento Portland. As adições, que
podem variar entre os tipos de cimento, são determinantes na definição de suas
características distintas (ABCP - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO
PORTLAND, 2002).

Tabela 2 - apresenta os tipos e limites estabelecidos pela norma.

FONTE: Adaptado de NBR 16697 (ABNT, 2018)


16

2.3.1 Agregados

Os agregados desempenham um papel essencial na formulação do con-


creto, sendo classificados como miúdos e graúdos. A ABNT NBR 7211:2016 estabe-
lece os requisitos para agregados graúdos, enquanto a ABNT NBR 7217:2010 for-
nece as diretrizes para agregados miúdos. Estas normas técnicas direcionam a se-
leção e aplicação desses materiais, visando garantir a qualidade e desempenho do
concreto na construção civil. Esses padrões normativos, cruciais para a indústria da
construção, asseguram a conformidade dos agregados, exercendo influência direta
sobre a resistência, durabilidade e trabalhabilidade da mistura. Dessa forma, uma
análise aprofundada sobre a natureza, origens e características desses agregados
torna-se imprescindível, contribuindo para a compreensão da ciência envolvida na
produção de concreto e, consequentemente, para a garantia da segurança e eficácia
nas construções (ABNT NBR 7211:2016; ABNT NBR 7217:2010).

Os agregados graúdos são caracterizados pelos grãos que conseguem


atravessar a malha de uma peneira com abertura de 75 mm, mas ficam retidos na
peneira com abertura de 4,75 mm. No entanto, é importante observar certos limites
específicos, conforme detalhado na Tabela 5. Essa definição estabelece parâmetros
cruciais para a classificação dos agregados graúdos, contribuindo para a padroniza-
ção e controle de qualidade na utilização desses materiais na produção de concreto.

Tabela 3 - Limites da composição granulométrica do agregado graúdo

FONTE: NBR 7211 (ABNT, 2016)


17

Conforme especificado pela NBR 7217 (ABNT, 2010), são considerados


agregados miúdos os grãos que conseguem atravessar a peneira com abertura de
malha de 4,75 mm, com a observância de determinados limites estipulados por essa
norma técnica (ABNT, 2010). Essa classificação é crucial para a identificação
precisa e apropriada dos agregados miúdos, estabelecendo critérios normativos que
contribuem para a qualidade e consistência no uso desses materiais na produção de
concreto.

Tabela 4 - Limites da composição granulométrica do agregado miúdo.

FONTE: NBR 7217 (ABNT, 2010)

2.4.1 ADITIVOS PARA CONCRETO

Conforme estipulado pela norma NBR 11768-1:2019, um aditivo para


concreto é definido como um produto adicionado e incorporado ao concreto,
geralmente em proporções não excedentes a 5% em massa do ligante total presente
no concreto. O propósito dessa adição é modificar as propriedades do concreto, seja
no estado fresco e/ou endurecido (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS, 2019, p. 3). As tabelas 5 e 6 apresentam, respectivamente, a
designação e alguns dos requisitos estabelecidos pela norma.
18

Tabela 5 - Designação normatizada

FONTE: Adaptado de NBR11768 (ABNT, 2019).

Tabela 6 - Requisitos gerais para todos os aditivos

FONTE: Adaptado de NBR11768 (ABNT, 2019).


19

A utilização de aditivos em concretos remonta aos primórdios da própria


utilização do cimento. De acordo com Coutinho (1997), os romanos adicionavam
elementos como clara de ovo, sangue, banha ou leite às misturas de concreto
visando aprimorar sua trabalhabilidade. Cada adição possui características únicas, e
a escolha deve ser baseada nas exigências do projeto construtivo, na
disponibilidade e nos custos envolvidos. Conforme destacado por Malhotra e Mehta
(1996), em princípio, nenhum concreto deveria ser produzido e aplicado sem a
incorporação de adições minerais.

É conhecido que a inclusão de adições minerais geralmente resulta na


produção de materiais cimentícios com propriedades técnicas aprimoradas, uma vez
que alteram a estrutura interna do concreto no estado fresco. Tais adições
proporcionam diversos benefícios que contribuem para a durabilidade e resistência
do concreto endurecido, tais como a redução da porosidade capilar, a minimização
de fissuras de origem térmica, o aumento da resistência a ataques por sulfatos, a
melhoria da resistência à reação álcali-sílica, entre outros (Dal Molim, 2005).

A aplicação de adições minerais, tanto no cimento quanto no concreto, é


uma prática difundida em diversas partes do mundo, como nos Estados Unidos e em
países europeus, onde normas internacionais detalham com precisão as condições
que cada adição deve atender para ser empregada na produção de concreto
(Neville, 1982).

2.5.1 ADITIVO REDUTOR DE ÁGUA TIPO I

Os aditivos redutores de água tipo I são aditivos que, sem modificar a


consistência do concreto, permite reduzir o conteúdo de água; ou que, sem alterar a
quantidade de água, modifica a consistência do concreto, aumentando o abatimento
e a fluidez; ou, ainda, aditivo que produz esses dois efeitos simultaneamente. (ABNT
11768-1, 2019)
20

Tabela 7 - Requisitos para aditivo redutor de água (RA1 e RA2) – Ensaio mantendo a consis-
tência do concreto.

FONTE: Adaptado de NBR11768-1 (ABNT, 2019).

2.6.1 ENSAIO DE BLAINE

A medição da superfície específica, referente à massa, é conduzida por


meio da comparação com uma amostra de cimento padrão utilizando o método de
permeabilidade ao ar, também conhecido como método de Blaine. A finalidade
principal da determinação da superfície específica é verificar a uniformidade do
processo de moagem em uma fábrica de cimento. No entanto, é importante destacar
que esse método tem limitações quanto à capacidade de fornecer informações
abrangentes sobre as propriedades do cimento em uso. Em casos de cimentos que
contenham materiais ultrafinos, o método de permeabilidade ao ar pode não
apresentar resultados significativos. (NBR NM 76, 1998)
21

Figura 4 - Permeabilimetro de Blaine

FONTE: (SOLOTEST)

2.7.1 GRANULOMETRIA AGREGADOS

Os agregados graúdos são caracterizados pelos grãos que conseguem


atravessar a malha de uma peneira com abertura de 75 mm, mas ficam retidos na
peneira com abertura de 4,75 mm. No entanto, é importante observar certos limites
específicos, conforme detalhado na Tabela 5. Essa definição estabelece parâmetros
cruciais para a classificação dos agregados graúdos, contribuindo para a padroniza-
ção e controle de qualidade na utilização desses materiais na produção de concreto.

Conforme especificado pela NBR 7217 (ABNT, 2010), são considerados


agregados miúdos os grãos que conseguem atravessar a peneira com abertura de
malha de 4,75 mm, com a observância de determinados limites estipulados por essa
norma técnica (ABNT, 2010). Essa classificação é crucial para a identificação
22

precisa e apropriada dos agregados miúdos, estabelecendo critérios normativos que


contribuem para a qualidade e consistência no uso desses materiais na produção de
concreto.

1. APARELHAGEM:

• Balança com resolução de 0,1% da massa da amostra de ensaio;


• Estufa para secar a amostra;
• Peneiras da série normal e intermediária, com tampa e fundo;
• Pincel ou escova.

2. PROCEDIMENTO:

• A amostra para o ensaio deve ser coletada no canteiro de obra,


garantindo a representatividade ao colher material de diferentes locais
onde o agregado está armazenado.
• No laboratório, a amostra é colocada em estufa para posterior
quarteamento, assegurando uma amostra representativa. O ensaio é
realizado com duas amostras.
• A massa mínima por amostra de ensaio é estimada de acordo com a
tabela, considerando a DMC estimada. Após o ensaio, verifica-se a
compatibilidade entre a DMC real e as massas utilizadas nas amostras.
• Encaixam-se as peneiras, observando a ordem crescente da abertura
das malhas (base para o topo).
• Coloca-se a amostra na peneira superior e executa-se o peneiramento,
que pode ser manual ou mecânico.
• Pesa-se o material retido em cada peneira. Repete-se o peneiramento
até que, após 1 minuto de agitação contínua, a massa de material
passante pela peneira seja inferior a 1% do material retido.
• Confere-se a massa total do material retido nas peneiras e no fundo
com a massa seca inicial da amostra. A diferença não deve ultrapassar
0,3% da massa inicial, podendo ser causada por perda de material ou
sensibilidade da balança utilizada no ensaio.
23

Figura 5 - Peneiras para granulometria

FONTE: (VOGELSANGER)

2.8.1 SLUMP TEST

O teste de abatimento, também conhecido como slump test, desempenha


um papel crucial na avaliação da consistência do concreto no estado fresco. Essa
avaliação é essencial para garantir a adequação da trabalhabilidade durante a
aplicação e bombeamento, prevenindo problemas significativos como falhas na
concretagem (formação de "bicheiras") e obstruções nas tubulações. A falta de
controle na consistência pode resultar em perdas no desempenho do concreto no
estado endurecido, como a redução da resistência.

Em cada obra ou fase da construção, variações na trabalhabilidade ou


abatimento podem ser necessárias para atender às demandas do cliente. Isso é
especialmente relevante à medida que os pavimentos aumentam em altura,
tornando o bombeamento do concreto mais desafiador. Uma solução para esse
desafio envolve fornecer um produto mais fluido, juntamente com diretrizes de
24

projeto que visem melhorar a penetração do concreto na armadura, facilitando o


processo de adensamento.

A NBR 8953:2015 categoriza os concretos com base na trabalhabilidade,


medida através do ensaio de abatimento (slump test), em cinco classes distintas
conforme tabela 8. Essa classificação proporciona uma base normativa para a
adequada especificação e controle da consistência do concreto em diferentes
contextos construtivos.

Tabela 8 - Classes de consistência

FONTE: Adaptado de NBR 8953 (ABNT, 2015).

A norma do slump test NBR NM 67:1998 cita quais são os materiais


serem utilizados na hora ensaio, sendo eles:

1) Molde:

• O molde adotado para o teste deve possuir a configuração de um


cone e ser confeccionado em metal, apresentando as seguintes
dimensões:
• Diâmetro da base inferior: 200 mm ± 2 mm;
25

• Diâmetro da base superior: 100 mm ± 2 mm;


• Altura: 300 mm ± 2 mm.

2) Haste de Compactação:

• A haste utilizada para compactação deve ter formato circular, ser


reta, confeccionada em aço, com diâmetro de 16 mm e
comprimento de 600 mm, possuindo extremidades arredondadas.

3) Placa Base:

• Destinada a sustentar o molde durante o teste, a placa base deve


ser de material metálico, plana, com formato quadrado ou
retangular, apresentando lados com dimensões não inferiores a
500 mm e espessura igual ou superior a 3 mm.

Essas especificações, de acordo com a norma, são essenciais para


assegurar a precisão e consistência dos resultados obtidos durante a realização do
slump test.

Figura 6 - Molde e haste slump test.

Fonte: NBR NM 67/1998


26

Procedimento para Realização do Ensaio de Consistência em Concreto -


Teste de Slump (NBR NM 67:1998)

1) Preparação:

• Umedecer o molde e a placa de base, posicionando o molde sobre


a placa. O operador deve se posicionar com os pés sobre as aletas
do molde para mantê-lo estável.
2) Preenchimento e Compactação:

• Preencher o molde com o concreto em três camadas, cada uma


correspondendo a aproximadamente um terço da altura
compactada do molde.
• Compactar cada camada com 25 golpes da haste de socamento,
distribuindo uniformemente sobre a seção de cada camada.
• Inclinar levemente a haste para compactar a camada inferior,
realizando cerca de metade dos golpes em forma de espiral até o
centro.

3) Camada Superior:

• Acumular o concreto sobre o molde na camada superior antes do


adensamento.
• Se a superfície do concreto ficar abaixo da borda do molde durante
a compactação, adicionar mais concreto.
• Rasar a superfície do concreto com uma desempenadeira e
realizar movimentos rolantes da haste de compactação.

4) Desmolde:

• Limpar a placa de base e retirar cuidadosamente o molde do


concreto, levantando-se na direção vertical.
27

• Utilizar um complemento auxiliar tronco-cônico, se necessário, para


facilitar a operação de adensamento na última camada.

5) Tempo do Ensaio:

• A operação completa, desde o preenchimento até a retirada do


molde, deve ser realizada sem interrupções em um intervalo de
150 segundos.
• A duração total do ensaio não deve exceder 5 minutos, desde a
coleta da amostra até o desmolde.

6) Medição do Abatimento:

• Imediatamente após o desmolde, medir o abatimento do concreto,


calculando a diferença entre a altura do molde e a altura do eixo do
corpo-de-prova.

7) Observações Importantes:

• Caso ocorra desmoronamento durante o desmolde, desconsiderar


o ensaio e realizar nova determinação.
• Se em dois ensaios consecutivos ocorrer desmoronamento, o
concreto pode não ser adequado para o teste de abatimento.
28

Figura 7 - Medida do abatimento

Fonte: NBR NM 67/1998

2.9.1 Ar incorporado – Método pressométrico

As inclusões de bolhas de ar no interior da mistura contribuem para


aprimorar tanto a trabalhabilidade quanto a compacidade do concreto. Esse efeito é
atribuído à forma esférica das bolhas de ar, as quais atuam como agregados
miúdos, caracterizadas por baixo atrito superficial e considerável elasticidade. Em
especial, essas bolhas tendem a reforçar a resistência na zona de transição da
interface, notadamente em dosagens com baixos consumos de água e cimento,
resultando em melhorias na resistência global do concreto. Este fenômeno se
relaciona à possibilidade de redução na quantidade de água de amassamento,
parcialmente compensada pela presença dos vazios de ar. Contudo, tal efeito não
se manifesta da mesma maneira em misturas com alto consumo de cimento e água
(baixa relação água/cimento e resistências mais elevadas), uma vez que tais
misturas permitem apenas uma redução mínima na quantidade de água de
amassamento. Nesses casos, a presença de ar aprisionado pode ter um impacto
29

negativo na resistência característica do concreto (Neville e Brooks, 2013;


Kosmatika, 2003; Bauer, 1994; Mehta e monteiro et al., 2008).

No contexto da trabalhabilidade, que abrange características como


consistência e coesão no estado fresco do concreto, a consistência é identificada
por Bauer (1994) como o elemento físico mais significativo. A consistência, conforme
Mehta e Monteiro (2008), é uma medida da umidade da mistura, frequentemente
avaliada em termos de abatimento, indicando que quanto mais úmida a mistura,
maior será o abatimento (slump/consistência). A coesão, por outro lado, é a medida
da facilidade de adensamento e acabamento, considerando a uniformidade e
compacidade da mistura, avaliada visualmente pela resistência à segregação e
exsudação. Mehta e Monteiro (2008, p. 145) ressaltam que, em geral, uma mistura
de concreto mais coesa é capaz de reter mais ar do que uma mistura com
consistência muito fluida ou muito seca.

É crucial destacar que a compacidade está intrinsecamente relacionada à


seleção apropriada da proporção e tamanho dos materiais, assegurando que vazios
maiores sejam preenchidos com partículas menores, cujos vazios, por sua vez,
serão ocupados por partículas ainda menores, seguindo esse padrão
sucessivamente.

A NBR NM 47 (2002) detalha o procedimento para o ensaio de ar


incorporado pelo método pressométrico. Esse ensaio envolve a medição do teor de
ar incorporado por meio da variação no volume do concreto decorrente de uma
alteração na pressão.
30

Figura 8 - Medidor de ar incorporado

FONTE: NBR NM 47 (2002, p. 14)

2.10.1 MASSA ESPECÍFICA

Conforme estabelecido pela NBR 9833 (2008), a massa da unidade de


volume do concreto fresco, que inclui o volume de ar incorporado e aprisionado, é
designada como a Massa Específica do Concreto. O ensaio de densidade do
concreto no estado fresco é ilustrado na figura 7.
31

Figura 9 - Ensaio de Massa específica do concreto.

FONTE: (HELENE e TERZIAN, 1993, p. 259)

2.11.1 RESISTÊNCIA A COMPRESSÃO

O controle de qualidade do concreto demanda a realização de diversos


ensaios para verificar a conformidade do material entregue na obra com os
parâmetros estabelecidos (ABNT NBR 5739, 2007). A série Traço de Concreto
abordou alguns desses testes, incluindo abatimento e espalhamento, e agora
direciona a atenção para os ensaios de resistência do concreto, essenciais para
assegurar a resistência à compressão e, por consequência, a qualidade da
estrutura.

A propriedade do concreto diretamente relacionada à segurança e


estabilidade estrutural, os ensaios de resistência à compressão podem indicar
32

eventuais variações na qualidade do concreto, seja em relação à dosagem, seja


quanto aos seus insumos (ABNT NBR 5739, 2018).

Desde o momento em que o concreto é preparado na concreteira até a


sua aplicação na obra, vários fatores podem colocar em risco sua resistência e
desempenho, como atrasos no caminhão-betoneira, condições climáticas adversas
ou adição excessiva de água na mistura (ABNT NBR 5739, 2018).

A realização de testes laboratoriais é crucial para confirmar se a


resistência do concreto fornecido corresponde à prevista no projeto (ABNT NBR
5739, 2007). Esse controle de qualidade é fundamental para garantir a vida útil da
estrutura e a segurança de todos os envolvidos na obra e usuários futuros do
empreendimento.

Para determinar a resistência do concreto (fck), o ensaio de compressão


uniaxial é comumente realizado, seguindo as diretrizes da ABNT NBR 5739 –
Concreto – Ensaio de compressão de corpos-de-prova cilíndricos. Nesse teste, o
corpo de prova é submetido a um carregamento progressivo até a ruptura, indicando
a resistência máxima do concreto (ABNT NBR 5739, 2018).

O controle pode ser estatístico (por amostragem parcial) ou por


amostragem total, conforme ABNT NBR 12.655 – Concreto – Controle, preparo e
recebimento. A amostragem total é indicada para pilares, vigas de transição e peças
de importância elevada, enquanto a amostragem parcial é aplicada em lajes,
grandes blocos e sapatas, entre outros (ABNT NBR 12.655, 2012).

Independente da metodologia, os corpos de prova devem seguir as


diretrizes da ABNT NBR 5739, sendo moldados com concreto da mesma amassada,
correspondendo ao mesmo caminhão-betoneira e moldados simultaneamente
(ABNT NBR 5739, 2007). A cura úmida é essencial, já que corpos de prova curados
a seco podem apresentar 20 a 25% mais resistência (ABNT NBR 5739, 2018).

O projetista determina a idade na qual o ensaio deve ser realizado, sendo


comum um prazo de 28 dias. Contudo, em situações específicas, como concretos
33

com cimentos de cura rápida, os testes podem ser realizados em prazos menores,
como 12 horas para paredes de concreto. Para cada idade a ser rompida, moldam-
se no mínimo dois corpos de prova cilíndricos, sendo um deles a contraprova em
caso de resultados duvidosos (ABNT NBR 5739, 2018; ABNT NBR 12.655, 2012).
Os corpos de prova devem ser rompidos à compressão em uma dada
idade especifcada, com as tolerâncias de tempo descritas na Tabela 1. No caso de
corpos de prova moldados de acordo com a ABNT NBR 5738, a idade deve ser
contada a partir do momento da moldagem.

Tabela 9 - Tolerância para cada idade de ensaio.

Fonte: NBR 5739 (ABNT, 2018)

Figura 10 - Ensaio de compressão.

FONTE: (CARLUC, 2022)


34

3. METODOLOGIA (AGREGADOS)

3.1 CARACTERIZAÇÃO DE AGREGADOS

A caracterização de agregados é um processo crucial na produção de


concreto, influenciando diretamente suas propriedades mecânicas, durabilidade e
trabalhabilidade. Ao analisar as características físicas, químicas e mecânicas dos
agregados, é possível garantir que a mistura atenda aos requisitos de resistência,
evite problemas de durabilidade, proporcione trabalhabilidade adequada, prevendo
reações químicas indesejadas e controle variações dimensionais. Em resumo, a
caracterização de agregados é essencial para formular traços de concreto
personalizados que atendam às necessidades específicas do projeto, garantindo a
qualidade e a integridade estrutural a longo prazo.
Desta forma, foi disponibilizada pela equipe da TECNOSIL os resultados
dos ensaios realizados para os agregados utilizados para os testes contidos neste
trabalho.

3.2 BLAINE DE CIMENTO

A determinação do resultado de Blaine em cimento desempenha um


papel crucial na caracterização e controle de qualidade dos materiais utilizados na
produção de concreto. Esse parâmetro, conhecido como superfície específica do
cimento, é obtido por meio do método de permeabilidade ao ar, oferecendo
informações valiosas sobre a eficiência do processo de moagem na fábrica de
cimento. A superfície específica está intrinsecamente relacionada à reatividade do
cimento durante a hidratação, influenciando diretamente as propriedades finais do
concreto. Uma superfície específica adequada é crucial para garantir uma hidratação
eficiente, resistência mecânica adequada e durabilidade do concreto.
Além disso, a análise da superfície específica do cimento através do método de
Blaine é uma ferramenta essencial para verificar a uniformidade do processo de
moagem na fábrica. Variações na superfície específica podem indicar
inconsistências na produção, o que, por sua vez, pode afetar a qualidade do cimento
35

e, consequentemente, as propriedades do concreto. Dessa forma, o resultado de


Blaine não apenas fornece uma medida quantitativa da finura do cimento, mas
também serve como indicador da qualidade do processo industrial. Isso é crucial
para assegurar que o cimento atenda aos padrões necessários para a produção de
concreto de alto desempenho, sustentando a integridade estrutural das construções
e garantindo a segurança e durabilidade das infraestruturas.

4. METODOLOGIA (CONCRETO ESTADO FRESCO)

4.1 SLUMP TESTE

A realização de testes de abatimento (slump test) em concretos é


fundamental para avaliar a trabalhabilidade do material e garantir que ele atenda aos
requisitos específicos de cada aplicação. A trabalhabilidade se refere à facilidade
com que o concreto pode ser misturado, transportado, colocado e compactado sem
segregação excessiva ou dificuldades operacionais. A importância desses testes
pode ser destacada por vários motivos:

1) Controle de Qualidade:

Os testes de slump ajudam no controle de qualidade do concreto durante


a produção, permitindo que os responsáveis avaliem se o material está dentro das
especificações desejadas.

2) Consistência do Concreto:

Através do slump test, é possível determinar a consistência do concreto,


ou seja, sua capacidade de se deformar sob esforços de cisalhamento. Isso é crucial
para garantir que o concreto seja facilmente moldado e compactado conforme
necessário.
36

3) Segregação e Exsudação:

O teste ajuda a identificar potenciais problemas de segregação e


exsudação. A segregação ocorre quando os componentes do concreto se separam,
resultando em uma distribuição não uniforme de agregados e pasta de cimento. A
exsudação é o processo pelo qual a água se move para a superfície do concreto,
deixando para trás uma mistura mais seca. Ambos os fenômenos podem
comprometer a qualidade do concreto.

4) Adaptação à Aplicação:

Diferentes tipos de construção requerem diferentes níveis de


trabalhabilidade. Por exemplo, concreto para estruturas complexas pode exigir uma
maior trabalhabilidade para facilitar o preenchimento de formas intricadas.

5) Economia de Tempo e Recursos:

Ao garantir a adequada trabalhabilidade do concreto, evitam-se atrasos e


retrabalhos no canteiro de obras, economizando tempo e recursos.

6) Desempenho Estrutural:

A trabalhabilidade adequada está diretamente relacionada ao


desempenho estrutural do concreto. Um material bem trabalhado e compactado
tende a ter melhor resistência e durabilidade.
Em resumo, os testes de slump são uma ferramenta valiosa para avaliar e
controlar a qualidade do concreto, proporcionando benefícios significativos ao
processo de construção e à integridade das estruturas.

Foram conduzidos seis ensaios para avaliação do concreto em estado


fresco, divididos em três traços convencionais (sem aditivo) e três traços aditivados.
Cada conjunto consistiu em um traço com relação água/cimento (A/C) de 0,9
(considerado traço pobre, com menor teor de cimento), um com A/C de 0,7 (traço
37

padrão) e outro com A/C de 0,5 (traço rico, com maior teor de cimento). A fim de
equilibrar a relação de finos no traço, variando a quantidade de cimento, as
proporções das areias foram ajustadas de maneira correspondente.

A variação nos traços teve como objetivo a comparação entre concretos


aditivados e convencionais, considerando diferentes relações A/C, o que implica em
distintas quantidades de cimento. A dosagem dos aditivos foi ajustada
proporcionalmente à quantidade de cimento em cada traço, uma vez que a dosagem
do aditivo é correlacionada à quantidade de cimento.

É relevante ressaltar que todos os traços foram elaborados utilizando os


mesmos materiais, fornecidos pela empresa TECNOSIL. Esse método de
experimentação visa analisar o desempenho do concreto em situações
representativas de condições práticas, permitindo uma avaliação abrangente das
influências das variáveis consideradas nos resultados.

Tabela 10 - RESUMO TESTES

FONTE: (AUTOR, 2023)

Os traços adotados neste estudo foram especificados e normalizados


pela TECNOSIL, considerando a disponibilidade dos agregados para os testes.
Utilizou-se o cimento CPII F40 da Votorantim, com uma classe de resistência à
compressão de 30 MPa (FCK). Quanto à consistência, os traços foram formulados
para se enquadrarem na faixa de slump de 100 mm a 160 mm (classe S100),
indicando diferentes níveis de trabalhabilidade do concreto em seu estado fresco.
38

Para os traços realizados neste trabalho, tentamos manter os traços em um Slump


120+/-20, para termos um dado mais próximo para comparação.

Tabela 11 - DADOS TRAÇO 0,9

FONTE: (AUTOR, 2023)

Tabela 12 - DADOS TRAÇO 0,7

FONTE: (AUTOR, 2023)

Tabela 13 - DADOS TRAÇO 0,5

FONTE: (AUTOR, 2023)


39

4.1 TEOR DE AR INCORPORADO

Durante a elaboração dos traços, no estado fresco do concreto, foi


conduzido o teste de ar incorporado por meio do método pressométrico em todas as
misturas. O objetivo era analisar a presença de ar incorporado nas diferentes
variações dos traços para fins de avaliação. Esse teste desempenha um papel
crucial na determinação da qualidade do concreto, fornecendo informações sobre a
quantidade de ar retido, o que pode influenciar diretamente nas propriedades finais
do material, como resistência e durabilidade.

4.2 MASSA ESPECÍFICA

Ao conduzir os testes com o concreto em estado fresco, incorporamos a


pesagem do concreto na panela de ar incorporado. A panela foi previamente tarada,
e o peso do concreto foi medido. Esse procedimento é realizado em um recipiente
com volume conhecido, permitindo o cálculo da densidade. Esse teste é essencial
para avaliar a homogeneidade da mistura, identificar variações na composição e
garantir que a densidade do concreto atenda aos requisitos desejados para as
propriedades finais do material.

5. METODOLOGIA (CONCRETO ESTADO ENDURECIDO)

5.1 RESISTÊNCIA A COMPRESSÃO

Os ensaios de resistência à compressão foram conduzidos com a ruptura


de corpos de prova em diferentes intervalos de tempo: 3 para 24 horas, 3 para 7
dias, 2 para 14 dias, 3 para 28 dias e 1 para 56 dias, sendo essas quantidades
aplicadas a cada tipo de traço. A realização desses ensaios ao longo de várias
idades permite avaliar a evolução da resistência do concreto durante o período de
cura.
40

Esses resultados são de extrema importância para uma concretagem


convencional, como a de uma laje que não exige liberação rápida. Especificamente,
as resistências às 24 horas são cruciais para identificar possíveis retardos na cura,
enquanto as resistências aos 28 dias são particularmente relevantes, uma vez que é
comum a solicitação do projetista de que, nesse período, o concreto alcance a
resistência característica especificada (FCK). Essas análises proporcionam insights
valiosos sobre o desenvolvimento das propriedades mecânicas do concreto ao longo
do tempo, informando as práticas de cura e garantindo a conformidade com as
exigências de projeto.

Figura 11 – Fluxogramas de rupturas

FONTE: (AUTOR, 2023)]


41

6. METODOLOGIA PARA CÁLCULOS

6.1 ANÁLISE INDÚSTRIA CIMENTO

A obtenção de dados estimados para o objetivo específico deste estudo sobre


a economia de água com o uso de aditivos em concretos baseou-se em informações
extraídas do SINC (Sindicato Nacional da Indústria do Cimento). Esses dados
incluem a venda acumulada de cimento nos últimos doze meses em toneladas e a
quantidade de cimento consumida por tipos de perfil.

Na análise realizada, priorizamos a quantidade de cimento utilizada por


revenda, ou seja, o cimento ensacado. Essa escolha foi fundamentada na premissa
de que, em obras de menor porte, como construções residenciais, os profissionais
responsáveis pela execução podem não ter conhecimento sobre a utilização de
aditivos. Portanto, consideramos que a maior parte desse cimento ensacado é
utilizado sem o emprego de aditivos redutores de água, resultando na ausência da
redução de água buscada com a incorporação desses aditivos.

Por meio de cálculos que levaram em conta esses números da indústria de


cimento e os resultados obtidos na redução de água com nosso traço padrão de 0,7
de A/C, conseguimos estimar a quantidade de água que poderia ser economizada
com a utilização de aditivos no Brasil.
42

Figura 12 - venda de cimento acumulada nos últimos doze meses

FONTE: (SNIC, 2022)

Figura 13 – Perfil de distribuição do cimento consumido no Brasil

FONTE: (SINC, 2022)

Um elemento crucial para atingir os objetivos específicos deste estudo foi


obtido por meio de dados fornecidos por uma cimenteira no Brasil, cuja identificação
não pode ser revelada. Trata-se da média anual de emissões de dióxido de carbono
(CO2) na atmosfera por cada tonelada de cimento produzido.
43

652kg de CO2 liberado na atmosfera por tonelada de cimento produzido

Com esses dados, torna-se viável realizar uma análise por meio do diagrama
de dosagens para determinar a quantidade de cimento que poderia ser reduzida no
traço, mantendo a resistência especificada (FCK). Desse modo, conseguimos obter
uma estimativa do volume de cimento que pode ser reduzido, estabelecendo uma
correlação com a quantidade correspondente de CO2 liberado durante a produção
desse cimento.

6.2 ANÁLISE EMISSÃO DE CO2

Com o intuito de calcular a potencial redução de CO2 decorrente da


implementação de aditivos, com base nos experimentos conduzidos neste estudo,
adotamos a métrica de CO2 em quilogramas por tonelada de cimento produzido em
uma unidade cimenteira no Brasil. Os dados essenciais para esta análise foram
generosamente cedidos por uma cimenteira brasileira, a qual requisitou a
preservação do anonimato para salvaguardar informações confidenciais.

Com base nesses dados fornecidos pela cimenteira, empregamos o diagrama


de dosagens, integrando a Lei de Abrams, a Lei de Inge Lyse e a Lei de Molinari.
Esse diagrama é composto pela união de três gráficos distintos:

1) Lei de abrams.

A resistência à compressão de um concreto correlaciona-se com a relação


água/cimento a/c através de uma curva do tipo:
44

Figura 14 - Lei de Abrams

FONTE: (Prof. M.Sc. Ricardo Ferreir)

2) Lei de Inge Lyse

Em relação a um conjunto específico de materiais, preservando a


uniformidade do concreto avaliada por meio do ensaio de abatimento do tronco de
cone, a composição do traço (m) guarda uma relação direta com a proporção entre
água e cimento (a/c), conforme expresso pela seguinte equação:

Figura 15 - Lei de Inge Lyse

FONTE: (Prof. M.Sc. Ricardo Ferreir)


45

3) Lei de Molinari

O consumo de cimento de um concreto correlaciona-se com o valor do traço


seco m através de uma curva do tipo:

Figura 16 - Lei de Molinari

FONTE: (Prof. M.Sc. Ricardo Ferreir)

Figura 17 - Diagrama de dosagem, método IPT-EPUSP

Fonte: (HELENE, 1993)


46

Após obter os resultados essenciais para o desenvolvimento do diagrama,


optamos por empregar o traço aditivado com a/c 0,7 como padrão. Essa escolha foi
motivada pelo desempenho satisfatório em relação à quantidade de água utilizada
no concreto no estado fresco, atendendo aos padrões estipulados para os traços.
Além disso, este traço se aproximou mais do resultado necessário conforme o FCK
especificado.

Com base nesse padrão, elaboramos um diagrama utilizando esses dados


para avaliar a possibilidade de redução da quantidade de cimento no traço
necessário para atingir o FCK. Desta forma, conseguimos calcular a quantidade
específica desse traço e a correspondente emissão de CO2 na produção de uma
tonelada de cimento. Em resumo, através dos nossos resultados e dos dados
cedidos por terceiros, obtivemos uma estimativa da redução potencial de cimento no
traço com a aplicação do aditivo, resultando na mitigação das emissões de CO2
provenientes da indústria cimenteira.

7. RESULTADOS

7.1 GRANULOMETRIA

Os ensaios de granulometria dos agregados graúdos foram conduzidos de


acordo com a norma ABNT NBR 7211:2016, enquanto para os agregados miúdos,
seguiram as diretrizes estabelecidas pela norma ABNT NBR 7217:2010. Esses
ensaios proporcionaram uma compreensão detalhada das características dos
agregados empregados no traço específico utilizado neste estudo. Através dessa
análise, foi possível elaborar e ajustar o traço considerando as granulometrias e
massas específicas individuais de cada material. Durante o desenvolvimento deste
trabalho, esses dados foram essenciais para avaliar a necessidade de eventuais
modificações no traço, especialmente à medida que se iniciavam os testes de slump.
47

Tabela 14 – Resultados da granulometria e massa específica dos agregados.

FONTE: (TECNOSIL, 2023)

Gráfico 1 - CURVA GRANULOMÉTRICA AREIAS

FONTE: (TECNOSIL, 2023)


48

Gráfico 2 - CURVA GRANULOMÉTRICA BRITAS

FONTE: (TECNOSIL, 2023)

7.2 RESULTADOS DE REQUISITOS DO ADITIVO

Certifica-se que todas as informações contidas estão de acordo com os


requisitos gerais e/ou específicos recolhidos na norma ABNT 11768, respaldadas
por pesquisas e testes internos desenvolvidos pela TECNOSIL de acordo com a
figura 18.
49

Figura 18 - Certificado de qualidade Silicon Plast 408

FONTE: (TECNOSIL, 2023)

7.3 RESULTADOS SLUMP

Com base nos ensaios realizados conforme as diretrizes da norma NBR


NM 67:1998 para o teste de abatimento (slump), os resultados foram documentados
conforme apresentado na Tabela 16. Esses dados fornecem uma visão detalhada do
comportamento do concreto em estado fresco, possibilitando comparações entre os
resultados obtidos para diferentes traços. Essa análise permite uma avaliação da
fluidez do concreto em relação à quantidade de água utilizada, facilitando a
comparação dos traços e a análise das economias de água correspondentes a cada
relação água/cimento (A/C).
50

Tabela 15 - resumo dos resultados dos slumps

FONTE: (AUTOR, 2023)


51

Figura 19 - Slump teste 1 (convencional 0,9)

FONTE: (AUTOR, 2023)


52

Figura 20 - Slump teste 2 (convencional 0,7)

FONTE: (AUTOR, 2023)


53

Figura 21 - Slump teste 3 (convencional 0,5)

FONTE: (AUTOR, 2023)


54

Figura 22 - Slump teste 4 (Silicon Plast 408 0,9)

FONTE: (AUTOR, 2023)


55

Figura 23 - Slump teste 5 (Silicon Plast 408 0,7)

FONTE: (AUTOR, 2023)


56

Figura 24 - Slump teste 6 (Silicon Plast 408 0,5)

FONTE: (AUTOR, 2023)


57

7.4 RESULTADOS AR INCORPORADO

O ensaio foi conduzido conforme a norma NBR NM 47 (2002), que


especifica o procedimento para o ensaio de ar incorporado pelo método
pressométrico. Nesse procedimento, mede-se o teor de ar incorporado ao analisar a
variação no volume do concreto em resposta a mudanças na pressão. O objetivo
principal era avaliar a presença de ar incorporado nas diversas variações dos traços
para fins de avaliação. Este teste desempenha um papel crucial na determinação da
qualidade do concreto, proporcionando informações sobre a quantidade de ar retido,
fator que pode impactar diretamente nas propriedades finais do material, incluindo
resistência e durabilidade.

Tabela 16 - Resumo resultados de ar incorporado

FONTE: (AUTOR, 2023)


58

Figura 25 - Ar incorporado teste 1 (convencional 0,9)

FONTE: (AUTOR, 2023)


59

Figura 26 - Ar incorporado teste 2 (convencional 0,7)

FONTE: (AUTOR, 2023)


60

Figura 27 - Ar incorporado teste 3 (convencional 0,5)

FONTE: (AUTOR, 2023)


61

Figura 28 - Ar incorporado teste 4 (Silicon Plast 408 0,9)

FONTE: (AUTOR, 2023)


62

Figura 29 - Ar incorporado teste 5 (Silicon Plast 408 0,7)

FONTE: (AUTOR, 2023)


63

Figura 30 - Ar incorporado teste 6 (Silicon Plast 408 0,5)

FONTE: (AUTOR, 2023)


64

7.5 RESULTADOS RESISTÊNCIA A COMPRESSÃO

Os ensaios de compressão foram conduzidos em conformidade com a norma


ABNT NBR 5739, de 2018. Todos os parâmetros estabelecidos por esta norma
foram rigorosamente seguidos, incluindo as quantidades e idades especificadas nos
nossos testes. Essa abordagem foi adotada para permitir uma comparação precisa
entre as resistências obtidas nos diferentes ensaios.

Figura 31 - Corpos de prova teste 1 (convencional 0,9)

FONTE: (TECNOSIL, 2023)

Figura 32 - Corpos de prova teste 2 (convencional 0,7)

FONTE: (TECNOSIL, 2023)


65

Figura 33 - Corpos de prova teste 3 (convencional 0,5)

FONTE: (TECNOSIL, 2023)

Figura 34 - Corpos de prova teste 4 (Silicon Plast 408 0,9)

FONTE: (TECNOSIL, 2023)


66

Figura 35 - Corpos de prova teste 5 (Silicon Plast 408 0,7)

FONTE: (TECNOSIL, 2023)

Figura 36 - Corpos de prova teste 6 (Silicon Plast 408 0,5)

FONTE: (TECNOSIL, 2023)


67

Figura 37 - Prensa hidráulica utilizada para as rupturas

FONTE: (TECNOSIL, 2023)


68

Gráfico 3 - Gráfico de resistência em MPa

FONTE: (AUTOR, 2023)

Gráfico 4 - Curva de resistências MPa

FONTE: (AUTOR, 2023)


69

7.6 RESULTADOS ECONOMIA DE ÁGUA

A partir dos resultados obtidos nos traços, e selecionando aqueles com a


relação água/cimento (a/c) de 0,7 como referência, foram realizados cálculos para
determinar a quantidade de água economizada. Inicialmente, esses cálculos foram
efetuados para um traço de 22 litros, posteriormente extrapolados para 1 metro
cúbico e, em seguida, para 8 metros cúbicos, correspondente ao volume típico de
um caminhão betoneira convencional utilizado no Brasil. Além disso, realizamos
cálculos considerando a quantidade de cimento em revendas no Brasil conforme
figuras 12 e 13, utilizando a composição de cimento do traço desenvolvido neste
trabalho como parâmetro de referência.

Tabela 17 - Quantidade de água economizada

22L 1m³ 8m³ Quant. de sacos de cimento para Redução de água equivalente
(betonada) (Litros) (Litros) revenda (set/22 - ago/23) (Litros)

0,690mL 30,9L 247,2L 721.288.000 4.286.115.231

FONTE: (AUTOR, 2023)

7.7 RESULTADOS DIAGRAMA DE DOSAGENS

A partir dos resultados obtidos, foi elaborado o diagrama de dosagem,


abrangendo tanto a resistência à compressão quanto o módulo de elasticidade,
seguindo a metodologia proposta por MONTEIRO e HELENE (1993). Esses
diagramas são apresentados juntamente com suas equações correspondentes, que
seguem as leis estabelecidas por ABRAMS, LYSE e MOLINARI.
70

Gráfico 5 - Diagrama de dosagens

FONTE: (AUTOR, 2023)


71

8. ANÁLISE DOS RESULTADOS

8.1 GRANULOMETRIA

As curvas granulométricas evidenciadas no processo de peneiramento


para as areias natural e artificial revelam diferenças notáveis. A areia natural exibe
uma distribuição granulométrica mais ampla, destacando-se pela presença
significativa de grãos grossos, uma forma mais arredondada e um módulo de finura
superior em comparação com a areia artificial. Por outro lado, a areia artificial
caracteriza-se por uma maior fração de grãos finos e uma morfologia mais angular.
A visualização dessas distinções por meio de imagens reforça as observações,
confirmando as características singulares entre as duas areias. Tais discrepâncias
podem desempenhar um papel crucial nas propriedades físicas e mecânicas dos
materiais que incorporam essas areias como parte integrante.

Ambas as britas 0 e 1 exibem uma distribuição granulométrica em conformidade com


os padrões estabelecidos pela norma NBR 7211:2009, a qual categoriza os
agregados graúdos em faixas granulométricas com base nos diâmetros mínimo e
máximo dos grãos. No que tange à brita 0, observa-se uma granulometria mais fina
quando comparada à brita 1. Esta é composta por grãos que passam pela peneira
de 12,5 mm e ficam retidos na peneira de 4,8 mm, conferindo-lhe um módulo de
finura de 6,35, o menor entre as britas analisadas. Contrastando, a brita 1 apresenta
uma granulometria mais grossa. Seus grãos passam pela peneira de 25 mm e ficam
retidos na peneira de 9,5 mm, resultando em um módulo de finura de 7,15, o qual é
o maior entre as britas analisadas. Essas características granulométricas distintas
são fundamentais para compreender as propriedades e aplicabilidades específicas
de cada tipo de brita.
72

8.2 REQUISITOS DOS ADITIVOS

O Silicon Plast 408, aditivo fornecido pela TECNOSIL, atende a todos os


critérios estabelecidos para a sua aprovação e utilização. Todos os ensaios foram
conduzidos e os resultados encontram-se dentro dos limites estipulados, conforme
representado na Figura 18.

8.3 SLUMP

Com base nos resultados do teste de abatimento (slump test), fica


evidente uma melhora expressiva com a incorporação do aditivo, comparativamente
aos testes convencionais. Observou-se uma redução média de 600 ml de água por
traço, o que é notável mesmo considerando a dimensão relativamente pequena de
um traço de 22 litros. Ao expandir esses cálculos para a produção de cimento em
nível nacional, surge uma quantidade substancial de água que poderia ser poupada
com a adoção desses aditivos, alinhando-se ao propósito central deste estudo.

É crucial destacar que, embora o slump test analise o concreto em seu


estado fresco, especificamente quanto ao abatimento, existem diversos outros
resultados pertinentes a serem considerados, como a presença de ar incorporado e
a resistência à compressão. Esses parâmetros são de extrema importância quando
se trata de concreto.

No contexto do abatimento, percebe-se claramente a diferença que o


aditivo proporciona ao concreto. Ele aprimora características essenciais, como a
trabalhabilidade, coesão e distribuição dos agregados, resultando em traços que se
destacam pela limpeza, coesão e uma configuração bem delineada. Traços bem
desenhados não apenas elevam a estética do concreto, mas também refletem
diretamente na qualidade e desempenho do material durante a sua vida útil. Essa
abordagem meticulosa dos traços contribui não apenas para a eficiência construtiva,
73

mas também para a durabilidade e funcionalidade a longo prazo das estruturas de


concreto.

Tabela 18 - Quantidades de água economizada nos traços

FONTE: (AUTOR, 2023)

8.4 AR INCORPORADO

Nos ensaios de ar incorporado, não observamos alterações substanciais


nos níveis de incorporação de ar, conforme tabela 16. Isso evidencia que, mesmo
com um aumento no abatimento, não ocorre uma incorporação significativa de ar no
concreto. Assim, apesar da melhoria na trabalhabilidade, não comprometemos a
resistência do concreto em relação à presença de ar.

Além disso, ao incorporar a análise do ar no concreto por meio do método


pressométrico, podemos complementar nossa avaliação. Este método oferece uma
abordagem mais abrangente, permitindo uma compreensão mais detalhada da
distribuição e quantidade de ar no material. Dessa forma, ao incorporar resultados
provenientes do método pressométrico aos testes de abatimento, obtemos uma
74

visão mais holística e precisa do impacto do aditivo na resistência do concreto em


relação ao ar. Essa abordagem integrada contribui para uma compreensão mais
completa dos efeitos do aditivo na trabalhabilidade e desempenho global do
concreto.

8.5 RESISTÊNCIA A COMPRESSÃO

É evidente a discrepância de resistências entre os traços convencionais e


os traços aditivados, apresentando resultados substancialmente mais satisfatórios
com a incorporação dos aditivos.

Tabela 19 - Resumo resistências MPA

FONTE: (AUTOR,2023)

Ao analisar a Tabela 18, é perceptível que, em todos os testes


considerando os 28 dias, que é a idade padrão para atingir a resistência
característica (FCK) especificada pelo projetista, os traços aditivados apresentaram
resultados superiores em todos os ensaios. Além disso, é notável que, nos testes
realizados no primeiro dia, não houve retardo em nenhuma das amostras.

Ao direcionar a atenção para os testes com a relação água/cimento (A/C)


de 0,7, observa-se que o traço sem aditivo não teria alcançado a resistência
característica especificada nos ensaios. Isso representa um desafio significativo,
uma vez que não atingir o FCK projetado pode comprometer a integridade estrutural
e funcionalidade do concreto. Quando o concreto não atinge a resistência
especificada, há o risco de falhas estruturais, diminuição da durabilidade da
construção e possíveis implicações na segurança. Portanto, garantir que o concreto
75

alcance a resistência prevista é crucial para assegurar o desempenho adequado da


estrutura ao longo do tempo.

Na situação em que o concreto sem aditivo não atingiu a resistência


característica (FCK) especificada, a abordagem convencional seria aumentar a
quantidade de cimento para alcançar os parâmetros desejados. No entanto, esse
aumento na quantidade de cimento também demandaria uma elevação
correspondente na quantidade de água, principalmente devido à adição de finos
(cimento) ao concreto. Esse fenômeno ocorre porque a presença de partículas finas
geralmente requer uma maior quantidade de água para manter o abatimento
adequado.

A introdução de mais cimento e água ao concreto, embora possa


inicialmente elevar a resistência, pode acarretar desafios substanciais. Alguns
problemas associados a essa prática incluem:

1) Aumento do Custo: O acréscimo na quantidade de cimento não apenas impli-


ca em um custo adicional de material, mas também pode resultar em gastos
extras relacionados ao transporte e manuseio.

2) Maior Calor de Hidratação: O aumento do conteúdo de cimento pode gerar


maior calor durante o processo de hidratação, o que, em casos extremos, po-
de afetar a durabilidade do concreto.

3) Possíveis Riscos de Retração e Trincas: A adição excessiva de água para


manter a trabalhabilidade pode contribuir para problemas como retração plás-
tica e trincas, prejudicando a integridade estrutural do concreto.
76

4) Variações nas Propriedades do Concreto: Mudanças na proporção


água/cimento pode impactar diversas propriedades do concreto, como resis-
tência, durabilidade e impermeabilidade.

Em resumo, a simples adição de mais cimento para corrigir a resistência do concreto


pode resultar em uma série de complicações, destacando a importância de estraté-
gias alternativas, como a utilização de aditivos, para otimizar a formulação do con-
creto.

8.6 ECONOMIA DE ÁGUA

Ao examinarmos a eficiência na economia de água alcançada em um


traço de 22 litros, os cálculos revelam uma perspectiva impressionante,
especialmente quando extrapolamos os resultados para a quantidade de cimento
vendido em revendas. A análise indica que uma economia significativa de água seria
possível, estimando uma redução de 4.286.115.231 litros, equivalente a
aproximadamente 1.714 piscinas olímpicas. Essa comparação ilustra de maneira
vívida a magnitude da economia de recursos hídricos que poderia ser alcançada
com a implementação dos métodos propostos neste trabalho.

Esses números ressaltam não apenas a escala da potencial economia,


mas também a relevância prática desses resultados em termos de conservação
hídrica, um tema de crescente importância global. Além disso, ao considerar o
contexto das piscinas olímpicas, essas cifras tangibilizam o impacto substancial que
a adoção de práticas mais sustentáveis na indústria de concreto pode ter na
preservação dos recursos naturais.
77

8.7 ECONOMIA DE CIMENTO

Com base nos resultados do diagrama de dosagens apresentado no


Gráfico 5, observa-se a viabilidade de reduzir 15 kg/m³ de cimento para atingir o
FCK especificado no traço utilizado neste estudo. Considerando que cada tonelada
de cimento produz cerca de 562 kg de CO2, conforme dados fornecidos, a economia
de 15 kg de cimento para esse traço representaria uma redução de
aproximadamente 8 kg de CO2 na atmosfera. Essa economia, quando expressa em
proporções, possui um valor significativo.

Em um contexto mais abrangente, um estudo conduzido pelo Instituto


Totum e pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), em parceria
com a Fundação SOS Mata Atlântica, revelou que uma árvore da Mata Atlântica é
capaz de absorver em média cerca de 10 kg de CO2 por ano. Transpondo essa
informação para a escala de 1 m³ de concreto, seria necessária a presença de uma
árvore para absorver a quantidade de CO2 emitida.

Ao considerar a quantidade de cimento em revendas em nível nacional, a


redução proposta poderia significar a diminuição da produção em 2.080.638.461,54
kg de cimento, resultando em uma redução correspondente de 1.169.318.815,38 kg
de CO2 emitido na atmosfera. Para efeito de comparação, esse valor de CO2
emitido equivaleria à necessidade de 115.659.625,66 árvores para realizar a
absorção desse CO2 ao longo de um ano. Esses números destacam o impacto
positivo que a redução na produção de cimento pode ter na mitigação das emissões
de CO2.

Tabela 20 - Quantidade de cimento e CO2 em um traço sem aditivo

FONTE: (AUTOR, 2023)


78

Tabela 21 - Quantidade de cimento e CO2 economizados em um traço com aditivo

FONTE: (AUTOR, 2023)

9. CONCLUSÃO

Por meio deste estudo, conclui-se que a incorporação do aditivo redutor


de água tipo I no concreto representa uma estratégia eficaz para reduzir a
quantidade de água e cimento necessária, sem comprometer, e até mesmo
aprimorando, as propriedades do material. Este processo não apenas oferece
vantagens em termos de eficiência na utilização de recursos, mas também contribui
para a mitigação de dois desafios globais prementes: a escassez de água e a
redução nas emissões de CO2.

Ao analisar os resultados obtidos nos diversos ensaios, evidenciou-se que


a aplicação do aditivo não apenas mantém, mas potencialmente melhora as
propriedades do concreto, proporcionando uma solução sustentável e eficiente. A
economia significativa de água, conforme calculado para diferentes escalas, revela o
impacto positivo que essa abordagem pode ter na preservação dos recursos
hídricos, destacando-se como uma prática valiosa em um contexto global de
crescente escassez de água.

Além disso, ao considerar a redução na quantidade de cimento, este


estudo não apenas aponta para benefícios econômicos, mas também destaca a
contribuição significativa para a diminuição das emissões de CO2 associadas à
produção de cimento. Essa abordagem alinha-se com as demandas
79

contemporâneas de sustentabilidade, onde a indústria da construção civil


desempenha um papel crucial na adoção de práticas mais conscientes.

Portanto, a utilização do aditivo redutor de água tipo I não só oferece


eficiência operacional na produção de concreto, mas também representa um passo
significativo em direção à sustentabilidade ambiental e à preservação de recursos
essenciais para o nosso planeta. Este estudo não apenas valida a viabilidade
técnica dessa abordagem, mas ressalta seu potencial impacto positivo em termos
econômicos, ambientais e sociais, contribuindo assim para um setor da construção
mais sustentável e resiliente.
80

10. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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CADA ÁRVORE DA MATA ATLÂNTICA CHEGA A TIRAR 163 KG DE


GÁS CARBÔNICO DA ATMOSFERA
Disponível em: <https://www.sosma.org.br/noticias/cada-arvore-da-mata-
atlantica-chega-a-retirar-163-kg-de-gas-carbonico-da-atmosfera/>

MARCO ANTONIO FERREIRA GOMES. A ÁGUA NOSSA DE CADA DIA


Disponível em:
<http://www.asmetro.org.br/arquivosHTML/pdfs/artigos/Aaguanossadecadadia.pdf>

Economia de água na construção civil


Disponível em: <https://www.anicer.com.br/revista-anicer/revista-95/crise-hidrica/>

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