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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ (UESC)

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

ALLICYA CRISTINA CARDOSO CONCEIÇÃO

AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA MECÂNICA E DURABILIDADE DE


COMPÓSITOS CIMENTÍCIOS COM A INCORPORAÇÃO DE FIBRAS DE
PIAÇAVA, EVA E METACAULIM

ILHÉUS – BAHIA
2021
ALLICYA CRISTINA CARDOSO CONCEIÇÃO

AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA MECÂNICA E DURABILIDADE DE


COMPÓSITOS CIMENTÍCIOS COM A INCORPORAÇÃO DE FIBRAS DE
PIAÇAVA, EVA E METACAULIM

Proposta de Trabalho de Conclusão de Curso de


Graduação, apresentado à disciplina de
Trabalho de Conclusão de Curso I, do curso de
Engenharia Civil do Departamento de Ciências
Exatas e Tecnológicas (DCET) da
Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC),
como requisito parcial para obtenção do título
de Engenheiro Civil.

Orientador (a): José Renato de Castro Pessoa

ILHÉUS – BAHIA
2021
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 4

2 JUSTIFICATIVA ............................................................................................... 6

3 OBJETIVOS ...................................................................................................... 8

3.1 Geral ................................................................................................................................. 8


3.2 Específicos ........................................................................................................................ 8
4 REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................ 9

4.1 Compósitos ....................................................................................................................... 9


4.1.1 Compósitos cimentícios reforçados com fibras .............................................................. 10

4.2 Classificação das fibras ................................................................................................. 13


4.3 Fibras naturais em compósitos cimentícios ................................................................ 13
4.4 Fibras vegetais ............................................................................................................... 14
5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ....................................................... 16

5.1 Local de estudo .............................................................................................................. 16


5.2 Seleção dos materiais .................................................................................................... 17
5.3 Formulação dos compósitos ......................................................................................... 19
5.4 Preparo das misturas .................................................................................................... 19
5.5 Ensaios Mecânicos......................................................................................................... 20
5.6 Ensaio de durabilidade ................................................................................................. 21
5.7 Tratamento dos dados................................................................................................... 21
5.7.1 Análise exploratória dos dados ....................................................................................... 21

5.7.2 Testes de hipóteses .......................................................................................................... 21

6 CRONOGRAMA ............................................................................................. 23

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 24


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1 INTRODUÇÃO

O caráter progressivo da escassez de matéria prima e, por consequência, seus custos


onerosos têm norteado as estratégias e tomadas de decisões de muitas empresas. O grande
estímulo para mitigar efeitos que impactam diretamente na lucratividade advém,
principalmente, do mercado competitivo no qual essas empresas estão inseridas. Nesse
contexto, iniciou-se uma corrida pela inovação sob a perspectiva sustentável. Segundo essa
ótica, busca-se aplicar técnicas e tecnologias para otimizar a utilização dos recursos disponíveis
de tal forma que os mesmos ainda possam ser usufruídos a longo prazo.
O setor da construção civil tem acompanhado essa tendência mundial ao introduzir o
conceito de construção sustentável. De acordo com o IDHEA – Instituto para o
Desenvolvimento de Habitação Ecológica (2009), a Construção Sustentável pode ser definida
como “um sistema construtivo que promove alterações conscientes no entorno, de forma a
atender as necessidades de habitação do homem moderno, preservando o meio ambiente e os
recursos naturais, garantindo qualidade de vida para as gerações atuais e futuras”. Então, para
fomentar esse modelo de construção não basta solucionar problemas pontuais, mas sim
introduzir uma abordagem sistêmica que envolva desde a racionalização do uso de materiais
até a gestão de resíduos gerados pelo setor (SANTOS, 2015).
Inserida nesse cenário de inovação e, consequentemente, redefinição de paradigma, a
indústria da construção civil tem promovido esforços para substituir ou adaptar seus produtos
e métodos de produção, buscando a máxima eficiência em termos de propriedades técnicas,
custo e benefícios socioambientais (MARINHO, 2017). Hoje, a obtenção de materiais, bem
como eles próprios, constitui uma das principais fontes poluidoras do setor. De acordo com
Lima e Iwakiri (2019) só a produção do cimento Portland é responsável pela emissão de 971
kg 𝐶𝑂2 por tonelada de cimento produzido, o que corresponde a 5% das emissões de 𝐶𝑂2 do
planeta. Dessa forma, investir em meios de mitigar os danos diretos e indiretos que os materiais
provocam configura um excelente ponto de partida para alcançar o patamar da construção
sustentável.
Nesse sentido, no Brasil, a incorporação de fibras vegetais e agregados leves,
provenientes de resíduos industriais, em matriz cimentícia configura um modelo de material
compósito que tem despertado grande interesse da comunidade científica (SOUZA, 2012). Isso
porque, quando as fibras são adicionadas à matriz cimentícia, observa-se uma melhoria da
ductilidade e tenacidade do material, através de um maior controle da propagação das fissuras,
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com consequente aumento da resistência à tração e à flexão (CALLISTER JR.; RETHWISCH,


2012). Sendo essas fibras de origem vegetal, elas representam uma fonte renovável de matéria
prima, de baixo custo, baixo grau de processamento e, por consequência, baixo consumo de
energia. Além disso, sua aplicação ganhou ainda mais destaque após a proibição do reforço de
compósitos com fibras de amianto, fibras naturais de origem mineral, as quais, diferente das
fibras vegetais, oferecem elevados riscos à saúde (OLIVEIRA, 2017).
Todavia, ainda que as vantagens da incorporação de fibras vegetais em matrizes
cimentícias sejam estimulantes, a sua aplicação em larga escala requer que desafios sejam
superados. D’ Almeida, Toledo Filho e Melo Filho (2010) apontam que o principal deles
consiste no fato de que as fibras podem ser mineralizadas dentro do ambiente alcalino da matriz
cimentícia. Dessa forma, a resistência e rigidez das fibras ficam comprometidas devido a
migração de produtos de hidratação do cimento para seu interior (LIMA, 2004). Além disso, a
variabilidade nos valores das propriedades desse tipo de fibra, instabilidade dimensional devida
à absorção de umidade atribuída à presença de grupos hidrofílicos em sua estrutura e
incompatibilização física entre fibras vegetais e matrizes cimentícias são fatores que dificultam
o processo produtivo (AQUINO, 2003; LIMA, 2004).
Visto o potencial da aplicação de fibras vegetais em compósitos cimentícios, muitos
pesquisadores tem buscado contornar os desafios supracitados. A proteção superficial da fibra,
a redução da alcalinidade e do teor de hidróxido de cálcio livre na matriz são soluções
promissoras, conforme observado por Marinho (2017). No primeiro caso, por exemplo,
Miranda et al. (2015), visando homogeneizar as propriedades das fibras de piaçava, diminuir a
absorção de umidade e promover a adesão da fibra com a matriz, encontraram bons resultados
com o tratamento alcalino a partir do hidróxido de sódio (NaOH), mostrando ganhos quanto ao
seu desempenho mecânico. Já relacionado ao segundo caso, Lima e Iwakiri (2019) avaliaram
em seu trabalho a redução da alcalinidade de compósitos cimento-madeira com substituição
parcial do cimento Portland por diferentes pozolanas, mostrando reduções significativas
relacionadas ao uso do metacaulim, material pozolânico de alta reatividade fruto da calcinação
de argilas cauliníticas.
Pesquisadores da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) também tem investido
esforços para solucionar a problemática e, com isso, validar um material compósito, com
composição ideal, que seja eficiente e ambientalmente seguro para ser empregado na construção
civil. Visando o beneficiamento socioeconômico da região Sul da Bahia, na qual a Universidade
está inserida, os estudos tem se concentrado nas fibras da palmeira Attalea funifera,
popularmente conhecida como piaçava. Essa espécie é endêmica do litoral da Bahia e, por
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consequência, é a área onde mais se produz essa fibra em todo o Brasil (GUIMARÃES; SILVA,
2012). Nessa perspectiva, Souza (2012) avaliou a resistência mecânica de um compósito
formulado com 50% de cimento Portland e 50% de pozolanas (cinza volante e metacaulim),
reforçados com fibras de piaçava e com a incorporação de resíduos de EVA da indústria
calçadista da região. A priori, o seu objetivo foi encontrar uma “matriz ideal com EVA” baseada
nas propriedades mecânicas e trabalhabilidade adquiridas. Os resultados apontaram que a
matriz cimentícia com 6% de EVA de 16 mesh obteve o melhor desempenho. Feito isso, Souza
(2012) ainda investigou a influência da variação do volume das fibras curtas de piaçava sobre
o comportamento mecânico dos compósitos, concluindo que, levando em consideração as
propriedades mecânicas do material, as melhores combinações foram aquelas com 2 % de fibras
de piaçava de 4 cm e com 2 % de fibras de piaçava de 2 cm.
Marinho (2017) complementa o trabalho de Souza (2012) ao estudar a durabilidade dos
compósitos cujas formulações obtiveram os melhores resultados. Ele chega à conclusão que o
tratamento das fibras de 4 cm com solução alcalina de NaOH, o seu alinhamento e a utilização
das pozolanas tornam o aproveitamento das fibras de piaçava viáveis para serem empregadas
em matrizes cimentícias e, por conseguinte, na construção civil.
O interesse desta pesquisa está em contribuir com a busca por materiais compósitos de
baixo impacto ambiental e que sejam atrativos para a indústria da construção civil do ponto de
vista econômico e funcional. A intenção é que esse feito também possa beneficiar a região Sul
da Bahia ao promover a produção piaçaveira e prover um destino ao resíduo de EVA da
indústria calçadista. Para tanto, a partir da sugestão de Marinho (2017), pretende-se coletar
dados referentes à durabilidade e resistência mecânica de compósitos com a substituição do
cimento Portland por 30% de material pozolânico (somente metacaulim), reforçados com fibras
curtas de piaçava (in natura e tratadas com solução de NaOH) e, ainda, com a incorporação do
resíduo de EVA cujo teor baseia-se na “matriz ideal com EVA” definida por Souza (2012).

2 JUSTIFICATIVA

O conceito de sustentabilidade, pautado no viés de suprir as necessidades presentes sem


comprometer as gerações futuras, tem sido amplamente difundido com a intenção de mitigar os
impactos ambientais oriundos do crescimento populacional e desenvolvimento industrial.
Sendo a comunidade científica peça primordial para a criação de novas técnicas e tecnologias
que estejam alinhadas a essa tendência mundial, propor soluções de alto impacto torna-se um
dos seus principais desafios.
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Nesse contexto, a construção civil, setor reconhecido pelo impacto significativo no


desenvolvimento econômico e social do Brasil, é induzido a adapta-se aos novos tempos. Sabe-
se que, em geral, as atividades relacionadas a esse setor demandam consumo excessivo de
recursos naturais provenientes de fontes não renováveis, além da produção de resíduos que
degradam o meio ambiente (SANTANA et al., 2018). Brasileiro e Matos (2015) declaram que,
mediante a grandiosidade da cadeia produtiva da indústria da construção civil, não é possível
alcançar o desenvolvimento sustentável sem que esse setor se torne também sustentável. Dessa
forma, a reciclagem e reutilização de resíduos, bem como o desenvolvimento de materiais que
levam em conta o apelo ambiental, são opções lógicas para atingir esse patamar.
A utilização, na construção civil, de fibras provenientes de fontes alternativas, como a
de origem vegetal, tem chamado a atenção da comunidade científica. Fato esse motivado pelo
seu baixo custo, baixa densidade, farta disponibilidade, alta resistência específica, nenhum risco
para a saúde e pequena demanda por energia para a obtenção (D’ALMEIDA; TOLEDO
FILHO; MELO FILHO, 2010; SOUZA, 2012).
A utilização de fibras como reforço em matrizes cimentícias visa melhorar o
desempenho do material em relação aos esforços de tração. Isso ocorre porque as fibras
restringem a propagação das fissuras e fazem com que as mesmas possam ser melhor
distribuídas. Desta forma, elas permitem que, mesmo fissurado, o compósito resista por mais
tempo antes da ruptura (IZQUIERDO, 2011; MARINHO, 2017).
Dentre as opções de fibras vegetais, a escolha da fibra de piaçava foi pautada na
promoção do desenvolvimento socioeconômico da região Sul da Bahia, visto que essa área
possui polos de produção da palmeira. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) (2019), no ano de 2019, foram produzidas 7.679 toneladas de piaçava em todo o Brasil,
das quais 5.161 toneladas são provenientes do sul baiano, o que corresponde a 67,21% da
produção nacional. Então, pesquisas que fomentem essa produção impactará desde a esfera
macro, designada pelo setor da construção civil, quanto na esfera micro, correspondente à
valorização do homem do campo.
De forma análoga, pesquisas que incorporam agregados leves, como o Etileno Acetado
de Vinila (EVA), a matrizes cimentícias também tem ganhado notoriedade no âmbito
acadêmico. O EVA é um material bastante utilizado na indústria calçadista como substituto do
couro na região sul da Bahia. Porém, estima-se que 30% desse material recortado é descartado
durante a fabricação dos modelos. Sendo ele um polímero quimicamente inerte, o seu processo
de decomposição quando descartado na natureza é extremamente lento. Dessa forma, a
incineração ou descarte deste material é uma etapa complexa e custosa para a indústria e para
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o meio ambiente (MARINHO, 2017; SANTANA et al., 2018; SOUZA, 2012). Logo, é
oportuno atribuir um fim para essa parcela de resíduo. Em consonância ao que foi dito por
Mehta e Monteiro (2008), a reutilização dos resíduos de uma indústria como substitutos de
matérias-primas virgens na construção civil reduz o impacto ambiental de ambas as indústrias.
Destarte, a introdução de fibras vegetais (piaçava em particular) e EVA em matriz
cimentícia configura o surgimento de um material compósito funcional e sustentável. Portanto,
para um melhor entendimento da sua configuração, propriedades mecânicas e o seu
comportamento ao ser usado em ambientes agressivos, valida o presente trabalho como uma
contribuição para o conhecimento acerca da problemática proposta.

3 OBJETIVOS

3.1 Geral

Agregar conhecimento acerca da incorporação de resíduos agroindustriais em matriz


cimentícia com o intuito de promover a produção de materiais compósitos passíveis de serem
aplicados à construção civil regional.

3.2 Específicos

Visando atingir o objetivo geral deste trabalho, foram estabelecidos os seguintes objetivos
específicos:
a) avaliar de que forma a substituição parcial de 30% de cimento Portland por metacaulim
altera as propriedades mecânicas (compressão e tração) dos compósitos;
b) avaliar a resistência à compressão e à tração na flexão em corpos de prova (cp’s) com e
sem presença de metacaulim;
c) verificar de que forma o tratamento das fibras de piaçava em meio contendo 10% de
solução de NaOH influencia as propriedades mecânicas do compósito de matriz
cimentícia;
d) avaliar a durabilidade das fibras de piaçava através de ensaios de tração na flexão após
ciclos de envelhecimento acelerado.
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4 REVISÃO DE LITERATURA

4.1 Compósitos

O desenvolvimento de uma sociedade está intimamente vinculado aos seus avanços


tecnológicos viabilizados pelo aprimoramento de técnicas, como, por exemplo, a manipulação
dos materiais. O manejo cada vez mais conciso e sofisticado para a otimização dos recursos
disponíveis fez com que os requisitos exigidos aos insumos mudassem, o que levou a busca por
materiais de desempenho igualmente superior, os chamados compósitos.
O surgimento de novos recursos tecnológicos, além de provar que o homem é de fato um
criador, valida a sua capacidade de adaptador de avanços. Os materiais compósitos representam
um caso particular dessa engenhosa capacidade humana. Eles são a adaptação de parâmetros
como forma, massa, durabilidade e rigidez que visa alteração e melhoramento desses mesmos
parâmetros para aplicações específicas (VENTURA, 2009). Para Aquino (2003), foi a
necessidade de conseguir materiais que atendessem a uma quantidade maior de especificações
que estimulou a ideia de unir dois ou mais materiais.
De acordo com Santiago1 (2002 apud IZQUIERDO, 2011, p.11), “os materiais compósitos
são caracterizados como sendo uma combinação de pelo menos dois materiais que após a
mistura ainda podem ser perfeitamente identificados”. Callister Jr. e Rethwisch (2012, p. 535)
definem um compósito como sendo “qualquer material multifásico que exibe uma proporção
significativa das propriedades de ambas as fases constituintes, tal que é obtida melhor
combinação de propriedades”. Zefeiropoulos, Dijon e Baillie (2007), colaboram com a
definição de materiais compósitos ao definir os mesmos como sendo a união de dois ou mais
materiais, que fornecem propriedades não apresentadas pelos constituintes individuais.
Os compósitos combinam basicamente duas fases distintas: a matriz e o reforço (LEVY
NETO; PARDINI, 2006). A matriz, que pode ser cerâmica, polimérica ou metálica, é a
responsável por envolver o reforço, também denominado de fase dispersa. Ela atua como meio
de transferência e homogeneização dos esforços de carregamento suportados pelos
componentes de reforço. Já a fase dispersa, é a responsável por absorver parte dos
carregamentos transmitidos pela matriz, proporcionando ao compósito ganho de resistência
(CAETANO et al.2, 2004 apud IZQUIERDO, 2011; CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2012;

1
SANTIAGO, M. O. Aplicações do GRC – cimento reforçados com fibras de vidro em novos estádios de Servilha,
Espanha. In.: Arquimacom’2002. São Paulo, 2002.
2
CAETANO, L. F. et al. Compósito de matriz cimentícia reforçada com fibras. In: II Seminário de Patologia das
edificações. 2004, Porto Alegre. Anais ... Porto Alegre: UFRGS, 2004. p. 4.
10

LEVY NETO e PARDINI, 2006; SANTOS, 2015). O sucesso do material compósito deriva do
fato de que os materiais constituintes do material compósito não dissolvem um no outro e
exibem uma interface bem definida entre eles (NASCIMENTO, 2009).
Dessa forma, as propriedades de um compósito são funções de fatores como as
propriedades dos constituintes, suas quantidades relativas e geometria, distribuição e orientação
da fase dispersa (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2012). Silva (2014), em sua tese de
doutorado, ressalta a necessidade de afinidade entre os materiais que foram unidos, pois devem
trabalhar conjuntamente para responder aos esforços físicos do meio. Marinho (2017) frisa
ainda que se deve levar em conta a capacidade dos componentes em resistir à ação de agentes
agressivos, como: intemperismo, ataque químico, abrasão, e demais condições de serviço
solicitadas ao longo da sua vida útil. Sendo assim, conhecer as propriedades físicas e químicas
dos constituintes dos compósitos é fundamental para alcançar materiais cada vez mais
eficientes, resistentes mecanicamente e duráveis (NETO; CARVALHO; ARAÚJO, 2007).

4.1.1 Compósitos cimentícios reforçados com fibras

Visto a quantidade de materiais disponíveis para a formação de compósitos, as


possibilidades de arranjos são vastas. Com a intenção de elencar esses arranjos, Callister Jr. e
Rethwisch (2012) classifico-os de acordo com o tipo de reforço utilizado, conforme esquema
apresentado na Figura 1.

Figura 1 – Esquema da classificação dos compósitos de acordo o tipo de reforço.

Fonte: Adaptado de Callister Jr. e Rethwisch, 2012.

Dessa forma, os compósitos reforçados com fibras representam a categoria na qual a


fase dispersa tem a forma de uma fibra, subclassificando-se em contínuo ou descontínuo a
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depender do comprimento destas, sendo que o último leva em conta a orientação das fibras. A
Figura 2 mostra a disposição dos elementos de reforço de um compósito reforçado com fibras.

Figura 2 – Representação esquemática de compósitos reforçados com fibras (a) contínuas e


alinhadas, (b) descontínuas e alinhadas e (c) descontínuas e orientadas
aleatoriamente.

Fonte: Callister Jr. e Rethwisch, 2012.

A utilização de fibras como materiais de construção retoma o ano de 4000 a.C., quando
os Egípcios usavam fibras naturais como o papiro para fazer barcos, velas e cordas. Desde
então, registros da História do homem na Terra mencionam a utilização de fibras como reforço
em materiais compósitos (IZQUIERDO, 2011; VENTURA, 2009).
Contudo, ainda que a incorporação de fibras retome períodos remotos da humanidade,
a sua aplicação em matrizes cimentícias representa somente uma pequena porcentagem dos
materiais confeccionados no mundo. Esse quadro é atribuído ao fato de que somente nas últimas
décadas os princípios relativos à utilização de fibras como reforço de matrizes frágeis (tais como
pasta de cimento, argamassa e concreto) começaram a ser compreendidos (LIMA, 2004).
É sabido que o cimento é amplamente utilizado na construção civil, seja na confecção
de blocos, estruturas ou revestimentos. De acordo com o Sindicato Nacional da Indústria do
Cimento (SNIC) (2019), em 2018, no mundo, foram produzidos cerca de 3,99 bilhões de
toneladas desse material. O Brasil, décimo segundo maior produtor mundial com 53,6 milhões
de toneladas neste mesmo ano, destinou cerca de 90% da sua produção ao setor imobiliário
(SNIC, 2019). O sucesso da utilização desse material na construção civil é atribuído a boa
moldabilidade no estado fresco e, no estado endurecido, é o responsável pelo desenvolvimento
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de resistência mecânica elevada e boa durabilidade de argamassas e concretos (BORGES et al.,


2014).
No entanto, pelo fato de ser considerado um material cerâmico, as matrizes cimentícias
possuem predisposição à ruptura frágil (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2012). Assim,
quando solicitadas pelos esforços de tração, e a sua resistência mecânica a esses esforços for
superada, o material se rompe sem que haja grandes deformações (SILVA, 2006). Pode-se
associar essa reduzida capacidade de resistência a tração à sua dificuldade de interromper a
propagação das fissuras quando submetido tensões de tração (MEHTA; MONTEIRO, 2008).
Nesse contexto, Lima (2004, p. 2) explica que, “com a adição de fibras, a fissuração da matriz
frágil é reduzida, uma vez que as fissuras são interligadas pelas fibras, e como resultado há um
aumento na tenacidade e na resistência à tração e ao impacto”.
Figueiredo (2011), em seus estudos sobre concreto reforçado com fibras, ilustra bem
esse comportamento esquematizado pela Figura 3. No concreto simples, uma fissura trabalha
como uma espécie de barreira à propagação de tensões de tração, o que resulta numa
concentração de tensões nas extremidades da fissura e, no caso de essa tensão superar a tensão
crítica, ocorrerá a ruptura frágil do material. Porém, no concreto em que foram adicionadas
fibras de resistência e módulo de elasticidade adequados, ele passa a ter um comportamento
pseudo-dúctil, ou seja, há uma resistência residual mesmo após a fissuração. Isso só acontece
porque as fibras servem como ponte para que as tensões sejam transferidas pela fissura,
minimizando as tensões nas extremidades (FIGUEIREDO, 2011).

Figura 3 – Esquema de concentração de tensões para um concreto sem (a) e com reforço de
fibras (b).

Fonte: Figueiredo, 2011.


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4.2 Classificação das fibras

No que tange a classificação das fibras quanto a sua morfologia, elas podem ser naturais
ou sintéticas. Esse último grupo, surgiu no século XIX graças aos avanços tecnológicos neste
mesmo período (IZQUIERDO, 2011; VENTURA, 2009). Conforme Figura 4, as fibras naturais
podem ser de origem mineral, animal ou vegetal. Enquanto que as artificiais ou sintéticas, que
são aquelas produzidas pelo homem, podem ser metálicas, poliméricas ou cerâmicas.

Figura 4 – Classificação das fibras.

Fonte: Izquierdo, 2011.

4.3 Fibras naturais em compósitos cimentícios

As fibras naturais ganham cada vez mais notoriedade entre os pesquisadores de todo o
mundo, os quais buscam aplica-las nos mais diversos setores da Engenharia, como na
construção civil. Isso acontece, principalmente, por essas oferecerem vantagens em relação às
fibras sintéticas (SANTOS, 2015).
Dentre essas vantagens, destacam-se: menor gasto de energia em sua produção; baixo
custo; e farta disponibilidade obtida a partir de fontes consideradas renováveis. Elas ainda
apresentam como vantagens a baixa densidade, boa flexibilidade no processamento,
propriedades específicas aceitáveis, podem ser modificadas pela presença de agentes químicos
e não são prejudiciais à saúde. Além disso, a sua utilização traz benefícios socioeconômicos à
população agrícola, valorizando o homem do campo e atribuindo-lhe uma fonte de renda.
Contudo, ainda que as vantagens sejam vastas, deve-se ater a algumas desvantagens do uso de
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fibras naturais em compósitos como, por exemplo: baixa durabilidade (em especial em matriz
cimentícia cuja alcalinidade induz à mineralização das fibras), propriedades não uniformes
(visto se tratar de um material natural e, por isso, sem controle de produção) , baixa estabilidade
dimensional (devido à absorção de umidade pelos grupos hidrofílicos de sua estrutura), falta de
termoplasticidade, baixa temperatura de processamento e incompatibilidade com diversas
matrizes (AQUINO, 2003; IZQUIERDO, 2011; MELO FILHO, 2012; SANTOS, 2015;
SAVASTANO JÚNIOR, 2000).

4.4 Fibras vegetais

As fibras vegetais são compósitos naturais - provenientes tanto das folhas, quanto dos
caules e troncos das plantas - com uma estrutura celular bem arquitetada que possui elevada
resistência à tração, ótima interação entre os constituintes, proteção contra ataques externos e
geometrias específicas que maximizam as propriedades do vegetal (FORNARI JUNIOR, 2017;
SANTOS, 2015; SOUZA, 2016).
A proteção física e química, bem como o crescimento e desenvolvimento da planta estão
entre as principais funções dessas fibras. Dessa forma, para cumprir seu papel e sustentar a vida
do vegetal, elas devem atender simultaneamente as solicitações de tração, flexão e
alongamento. Isso só é possível porque, em sua formação estrutural, existem
predominantemente três tipos de macromoléculas: a celulose, a hemicelulose e a lignina.
A celulose, polímero natural de cadeia longa, será a maior responsável pela forma
estrutural e alongada que os vegetais apresentam. As moléculas de celulose raramente são
encontradas individualmente nas paredes das células vegetais, sendo encontradas em unidades
denominadas de fibrila elementar. As fibrilas elementares são agregadas em unidades sob a
forma de feixes mais largos, denominados micro-fibrilas (FORNARI JUNIOR, 2017; SOUZA,
2012). Segundo Marinho (2017, p. 24), “a rigidez e a durabilidade da celulose são suportadas
pela sua formação de cadeias de micro-fibrilas rígidas e insolúveis, integradas pelas numerosas
ligações de hidrogênio intra e intermoleculares”.
O grupo constituído de monossacarídeos polimerizados de peso molecular
intermediário, isto é, inferior ao da celulose, é denominado de hemicelulose. Conforme
mencionado nos trabalhos de Fornari Junior (2017) e Marinho (2017), ela atua como uma matriz
para as micro-fibrilas de celulose, servindo para manter conectadas as cadeias celulósicas,
formando prolongamentos laterais da celulose, constituindo uma ponte e um único conjunto
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arquitetônico. Souza (2012) acrescenta ainda que a hemicelulose é hidrofílica e altamente


amorfa.
O terceiro elemento do sistema, a lignina, é um polímero hidrofóbico com estrutura
tridimensional espiralada e com grau elevado de ramificações. Ainda que possua o menor peso
molecular dos três principais elementos constituintes das fibras, ela possui uma estrutura
interligada entre si, unindo-se mutuamente, formando uma grande rede molecular. Esse fato
permite o preenchimento dos espaços vazios deixados pela celulose e hemicelulose, assumindo
o papel de solda do conjunto fibroso (FORNARI JUNIOR, 2017; SAVASTANO JÚNIOR,
2000; SOUZA, 2012; SOUZA, 2016).
Entretanto, vale salientar que, além destes compostos, a estrutura pode apresentar em
menor quantidade sais inorgânicos, pectina, corantes naturais e substâncias nitrogenadas que
são incluídos no que se denomina de fração de solúveis (SILVA, 2014). Savastano Júnior
(2000) chama a atenção para o fato de que substâncias de caráter ácido - como resinas, óleos e
graxas - que não fazem parte da estrutura da fibra, mas que quando postas em solução aquosa,
podem provocar o retardamento da pega do cimento.
Quando em ambiente alcalino – caso das matrizes cimentícias, os componentes da fibra
vegetal são impactados de diferentes formas. Substâncias que possuem menor grau de
polimerização (hemicelulose e lignina) geralmente são mais solúveis em meio aquoso e
alcalino. Isso faz com as fibras enfraqueçam e percam suas propriedades mecânicas (SANTOS,
2015).
Quanto aos aspectos morfológicos das fibras vegetais, diferentes proporções de seus
constituintes formam as diferentes camadas de cada célula presente na fibra (fibrocélula),
conforme esquema da Figura 5. Essas camadas, por sua vez, recebem denominações sucessivas
da parte externa para interna: parede primária, parede secundária (S1 e S2) e parede terciária.
A parede primária é caracterizada como estrutura reticulada e com grande conteúdo de
hemicelulose. A parede secundária S1 é onde as fibrilas estão orientadas em espiral, formando
um ângulo de 40º com o eixo longitudinal da célula. A parede secundária S2, também
espiralada, mas formando um ângulo de cerca de 18º a 25º com o mesmo eixo, é a camada mais
espessa e de maior concentração de celulose. Já a parede terciária é a camada mais fina, sendo
sua estrutura fibrilar paralela próxima ao lúmen, um espaço vazio. As células estão unidas pela
lamela média, onde são encontradas pectina e lignina em alta concentração (LIMA, 2004;
SANTOS, 2015).
16

Figura 5 – Morfologia das fibras vegetais: (a) micrografia de fibra de sisal, (b) desenho
esquemático de uma fibrocélula e (c) estrutura interna de parede da fibra.

Fonte: Lima, 2004.

5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

5.1 Local de estudo

O local de desenvolvimento deste trabalho será o Campus Soane Nazaré de Andrade da


Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), instituição de ensino superior brasileira, situada
em Ilhéus, Estado da Bahia, no km 16 da Rodovia BR-415. Dessa forma, a realização dos
ensaios poderá contar com uma estrutura apropriada para a sua execução. Em especial, o
Laboratório de Materiais e Meio Ambiente (LAMMA) e o Laboratório de Ensaios Mecânicos
e Resistência dos Materiais (LEMER) da instituição possuem equipamentos e espaço
adequados para o desenvolvimento das atividades.
17

5.2 Seleção dos materiais

Os materiais que estarão presentes nos compósitos a ser ensaiados serão: cimento, areia,
água, pozolana, EVA e fibras de piaçava. Os três primeiros serão constantes em todos os corpos
de prova ensaiados, enquanto que, a depender da variável analisada, os três últimos estarão
presentes concomitantemente ou não na matriz cimentícia.
O cimento Portland empregado para a confecção da matriz cimentícia será do tipo CP
V – ARI RS (Alta Resistência Inicial Resistente a Sulfatos) da marca MIZU. Em função do
seu processo de fabricação, dosagem de calcário e argila na produção do clínquer e da moagem
mais fina do cimento, tem alta reatividade nas primeiras horas de aplicação, fazendo com que
atinja resistências elevadas em um curto intervalo de tempo. Além disso, esse tipo de cimento
não possui adições pozolânicas e o teor de inertes é o mais baixo quando comparado aos demais,
conforme visto na Figura 6. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS,
ABNT, 2018). A Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) (2002) recomenda a sua
aplicação em elementos pré-moldados de concreto e artefatos de cimento para desforma rápida.

Figura 6 - Limites de composição do cimento Portland (porcentagem de massa).

Fonte: ABNT, 2018.


18

A areia média, agregado miúdo natural necessário para obtenção da matriz cimentícia,
será peneirada, secada em estufa e ensacada com o objetivo de retirar o excesso de impurezas,
umidade, e proteger de outros contaminantes que porventura possam interferir nos resultados
dos ensaios.
A água utilizada para a mistura da argamassa será fornecida pela Empresa Baiana de
Águas e Saneamento (EMBASA) através da rede pública de abastecimento. Apenas para a
realização do tratamento superficial das fibras de piaçava com 10% de NaOH será empregada
água destilada, esta fornecida pelo LAMMA.
Diferente de Souza (2012) e Marinho (2017), será incorporada na matriz cimentícia
apenas um tipo de pozolana: o metacaulim. O teor de substituição do cimento Protland por esse
material será de 30%, teor com respaldo em pesquisas anteriores que desenvolveram
compósitos com matriz cimentícia livre de hidróxido de cálcio.
A incorporação do resíduo de EVA como agregado leve, com o objetivo de propor-lhe
um fim sustentável, será baseada no melhor resultado obtido por Souza (2012) no qual foi
utilizado um teor de 6% da massa total de agregado miúdo. O método proposto para a obtenção
da granulometria está descrito na Figura 7, e será reproduzido neste trabalho.

Figura 7 – Esquema da metodologia de Silva (2012) para a obtenção da granulometria de EVA.

1º moagem dos
2ª moagem
recortes de EVA

Granulometria
desejada: material Peneiramento em
retido na peneira de agitador mecânico
16 mesh (1,18 mm)

Fonte: Elaborada pela autora.

As fibras de piaçava, por fim, serão da espécie Attalea funifera Martius, proveniente do
município de Ilhéus – Bahia. Elas serão cortadas para que fiquem com 4cm de comprimento e,
então, serão introduzidas nos corpos de prova a um teor de 2% da massa total de sólidos. Essas
19

medidas estão baseadas nos trabalhos de Souza (2012) e Marinho (2017), as quais alcançaram
bons resultados em ambos. Quanto a orientação dessas fibras, optou-se por distribuí-las de
forma dispersa, pois, embora o alinhamento das mesmas promova resultados efetivos, a
produção de compósitos em larga escada seria dificultada.

5.3 Formulação dos compósitos

A formulação dos compósitos será pautada nas variáveis de estudo, que são: presença
de metacaulim, fibras in natura e tratadas em solução de NaOH a 10%, resistência à compressão
e à tração e a durabilidade do compósito após ensaios de envelhecimento acelerado.
Partindo dessa definição, as formulações apresentadas no Quadro 1 serão avaliadas.

Quadro 1 – Formulações estudadas.


Tratamento da
Formulação Pozolana EVA fibra com 10% de
NaOH
REF 0 NÃO NÃO -
REF 1 SIM NÃO -
REF 2 NÃO SIM -
REF 3 NÃO NÃO NÃO
F1 NÃO SIM NÃO
F2 SIM SIM NÃO
F3 NÃO SIM SIM
F4 SIM SIM SIM
Fonte: Elaborada pelo autor.

5.4 Preparo das misturas

Serão preparados, para cada ensaio, cinco cp’s por formulação apresentada no Quadro
1. Os ensaios de tração na flexão serão feitos com cp’s prismáticos (40 mm x 40 mm x 160
mm) enquanto que, para o ensaio de compressão, serão adotados cp’s cilíndricos (50 mm x 100
mm). O compósito será produzido com base nos trabalhos de Souza (2012) e Santos (2015).
Marinho (2017) resumiu esse método de produção da matriz cimentícia, conforme visto na
Figura 8.
20

Figura 8 – Sequência do procedimento para produção da matriz cimentícia.

Fonte: Marinho, 2017.

Então, após o preparo da argamassa, serão inseridas as fibras de piaçava de forma


aleatória na etapa de moldagem dos cp’s. Elas serão distribuídas entre camadas de argamassa.
Após a moldagem, os cp’s serão vibrados para retirar as bolhas de ar e espaços vazios
incorporados no processo. Após a desforma, que ocorrerá 24h após sua confecção, os cp’s serão
imersos em água para curar por 28 dias.

5.5 Ensaios Mecânicos

Após os 28 dias de cura, os cp´s estarão prontos para serem ensaiados. Os 5 exemplares,
para cada formulação, serão submetidos à compressão e à tração na flexão. O método do Ensaio
de Resistência à Compressão será o 5x10 corrigido PC200CS a uma taxa de carregamento de
0,25 Mpa/s. Já, para o Ensaio de Resistência à Tração na Flexão, será adotada a configuração
de três pontos, biapoiada, com carga concentrada e deslocamento controlado de 2mm/min,
baseando-se no método proposto pela NBR 13279 (ABNT, 2005).
21

5.6 Ensaio de durabilidade

Após o ensaio de tração na flexão, será selecionada a formulação cujas fibras


apresentaram o melhor desempenho. Então, o ensaio de envelhecimento acelerado dos
compósitos será feito variando somente quanto a presença ou não de material pozolânico. Para
esse ensaio, três cp’s serão submetidos a 12 ciclos de molhagem e secagem e outros três serão
submetidos a 25 ciclos antes do seu rompimento. Com isso, os resultados do ensaio poderão ser
comparados com aqueles cujos cp’s não foram submetidos ao ambiente agressivo (0 ciclo).
Espera-se, assim, entender como os compósitos se comportarão em condições adversas.
A duração do ciclo será a mesma adotada por Marinho (2017): 12 horas de secagem em
estufa a 70°C e 12 horas imersa em água à temperatura ambiente, totalizando um ciclo com
duração de 24 horas.

5.7 Tratamento dos dados

5.7.1 Análise exploratória dos dados

Após a execução de todos os ensaios, pretende-se obter, para cada formulação, dados
referentes à resistência a compressão e os picos de resistência à tração na flexão, sendo o
primeiro pico denominado resistência à primeira fissuração (referente à resistência da matriz
cimentícia) e o segundo pico denominado como resistência pós-fissuração (referente à
resistência do compósito após a fissura da matriz cimentícia).
Dessa forma, através da estatística descritiva, pretende-se familiarizar-se com os dados,
organizá-los e sintetizá-los de forma a obter maior compreensão dos fatos que os mesmos
representam. Nessa etapa inicial serão realizados cálculos da média, variância, desvio padrão e
coeficiente de variação.

5.7.2 Testes de hipóteses

Os testes de hipóteses são ferramentas de inferência estatística que visam decidir, com
base nas informações da amostra, se uma dada hipótese pode ser assumida como correta em
virtude de uma outra que a contradiga. Dessa forma, torna as afirmações e comparações a
respeito dos dados coletados mais assertiva. A hipótese nula, 𝐻0 , é a alegação inicialmente
assumida como verdadeira. A hipótese alternativa, 𝐻1 , é a afirmação contraditória a 𝐻0 . A
22

hipótese inicial só será rejeitada se existir na amostra fortes evidências de que 𝐻0 seja falsa.
Portanto, a saída dos testes de hipótese dirá se deve ou não rejeitar a condição de que a hipótese
inicial seja verdadeira (SCUDINO, 2008). O nível de significância e o p-valor são artifícios que
ajudam nessa tomada de decisão.
O nível de significância, 𝛼, geralmente é especificado antes da extração das amostras e
das hipóteses, assumindo comumente o valor de 0,05. Isto representa a probabilidade máxima
com a qual pode ser cometida o erro de aceitar uma hipótese que deveria ser rejeitada. Logo,
pode-se afirmar que existe 95% de chance de tomar a decisão certa. Na resposta dos testes de
hipótese, compara-se o menor nível de significância em que 𝐻0 seria rejeitado (p-valor) com o
nível de significância adotado (𝛼) (SCUDINO, 2008). Portanto, se:
a) 𝑝 − 𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 ≤ 𝛼 → rejeita 𝐻0 no nível 𝛼;
b) 𝑝 − 𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 > 𝛼 → não rejeita 𝐻0 no nível 𝛼.
Existem duas classificações dos testes de hipóteses: os paramétricos e os não
paramétricos. No primeiro, a distribuição dos dados é conhecida. Porém, no segundo, não se
conhece essa distribuição. Então, antes da aplicação de um teste de hipóteses deve-se sempre
verificar se os dados da amostra são normalmente distribuídos. Dentre as opções de métodos
para verificar se as variáveis apresentam uma distribuição normal, optou-se pelo Teste de
Shapiro-Wilk. A partir de uma variável estatística (W), ele investiga a distribuição de uma
amostra aleatória. Essa variável é dada por:

2
(∑𝑛
𝑖=1 𝑎𝑖 𝑥(𝑖) )
𝑊= 2 (1)
∑𝑛
𝑖=1(𝑥(𝑖) −𝑥̅ )

Sendo, 𝑥𝑖 os valores ordenados de amostras (𝑥1 é o menor); e 𝑎𝑖 constantes geradas a


partir de meio, variâncias e covariâncias da ordem estatística de uma amostra de tamanho 𝑛 e
uma distribuição normal. Para tomada de decisão a respeito da normalidade dos dados, o valor
calculado de 𝑊 é comparado com um valor tabelado 𝑊. Se o valor calculado for menor que o
tabelado, rejeita-se a hipótese de normalidade ao nível 𝛼 de significância. Como o número de
amostras utilizado nesse experimento não é consideravelmente grande, espera-se que isso
aconteça.
Neste caso, pode ser utilizado o teste não-paramétrico de Wilcoxon-Mann-Whitney
usado para verificar se dois grupos independentes foram extraídos da mesma população, ou
seja, se há evidências para acreditar que valores de um grupo A são superiores aos valores do
grupo B.
23

6 CRONOGRAMA

A seguir, estão descritas as etapas relativas ao desenvolvimento do trabalho de


conclusão de curso (Quadro 2), seguidas do cronograma com a previsão de desenvolvimento
das atividades ao longo do tempo (Quadro 3).

Quadro 2 – Etapas desenvolvidas ao longo do Trabalho de Conclusão do Curso, com suas


respectivas descrições.
ETAPA DESCRIÇÃO
1 Revisão de literatura
2 Determinação dos objetivos
Estudo da metodologia empregada nos Ensaios de Resistência Mecânica e
3 Envelhecimento acelerado
4 Preparo dos grãos de agregado leve
5 Preparo das fibras de piaçava
6 Preparo das amostras
7 Realização dos ensaios mecânicos
8 Análise e interpretação dos dados
9 Revisão do trabalho e preparação para a apresentação
10 Apresentação
Fonte: Elaborado pela autora.

Quadro 3 – Cronograma das etapas desenvolvidas ao longo do Trabalho de Conclusão do Curso


em função do período estimado para sua conclusão.
MÊS
ETAPA Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov.
(2021) (2021) (2021) (2021) (2021) (2021) (2021) (2021)
1 X X X X X X X
2 X
3 X X
4 X X
5 X X
6 X X
7 X X
8 X X
9 X
10 X
Fonte: Elaborado pela autora.
24

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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