Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Baden Baden Sobre o Acordo-Bertold Brecht
Baden Baden Sobre o Acordo-Bertold Brecht
DO v óo
QUATRO i\. VIADORES rernpo ern que a
manidade
Começava a se conhecer,
Nós construímos aviões,
Com macieira, ferro e vidro,
E atravessamos os ares voando;
Por sinal, com uma velocidade
Superiorenl mais do dobro à do furacão.
E na verdade nossos motores eram
Mais fortes que cem cavalos,mas
Menores que cada um deles.
Durante mil anos tudo caiu de cima para baixo,
Com exceção dos pássaros.
Nem mesmo nas mais anrigas pedras
Encontramos qualquer testemunho
De que algum homem
Tenha atravessado os ares voando.
?vlas nós 110S erguemos.
Próximo ao fim do segundo milênio de nossa era
Ergueu-se nossa
Ingenuidade de aç(),
191
_ _ _ _ _ _ _ ~
::::~:
,. ""' ,.diJ .
Lá coris t r ui r am grandes c idades c om A p resen t am-se i.in te foto g rafias que mostram corno, em nossa
Muito esforço e inteligênc ia. ép octl, os h om ens são m assac rados pelos bo m eu s.
() CORO retruca - Nem por isso o pão ficou mais barato.
A !v1ULTID.~O g rita - O homem n âo ajuda o h ornern!
O L íDER DO CORO - Um de nós construi u U111;} m áquin .,
Cujo v apor ac iona urna roda , e essa f o i
.A. rnâe de muitas outras máquinas. T erceiro l n q u r r ito .
Mas muitos trabalham nelas O LÍDE R DO COR O d irigin do- se a l\:fult ídâu - O bserve m o
Todos os d ias. nosso n úrn ero d e palhaços, no qu al
() CORO retruca - Nenl por isso o pão ficou ma is barato. Homens ajudam uni homem!
() LÍDER DO C ORO - Muitos d e nós m ed ir a r arn Trê s p alhaços de circo sobem ao estrado; u m dele,: , cha mado
Sobre o rno v irnen t o d a T er r a ao red o r d o SoL so b re Sr. Scbmitt, é um gigan te . Eles f alam em UOZ lJlu!f o alta.
O int im o do hom em , as leis PRtM E IRO - U rna bela noite est a, 11.1 0 é Sr. Sc h rn itt ?
G er a is, a com posiç âo do ar,
SEG UNDO - O que o sen hor d iz da n oite, senhor Schm itt ?
E so bre os peixes a b issais.
SR. SCH~lITT - Nã o acho bo n it a.
E descobri rarn
PRI~IEIRO - O senhor não quer se sentar, senhor Schrnit t ?
Grandes coisas.
SEGUNDO - Aqui está urna cadeira , sen h o r Schrn itr. Po r qu e
( ) CORO retrll ca- Nenl po r isso o pão fic ou rna is bar ato. o senhor nã o res pon d e ?
Pelo contrário,
PRIM EIRO - Você nã o está vendo ? O senhor Sc h mi tr q uer
A m is ér ia au men tou e m nossas cidades,
f ic ar o lh a n do a lu a.
E já há muito tempo
SEGU N DO - Me diz UlTIa co isa. Por q ue é q U é você est á sem -
Ninguém mais sabe o que é u m horne rn .
pre pux ando o sa co do Sr. Schm itt? Isso in cornodu o se-
Por exemplo: enquanto vocês voavarn, rastejava nhor Schmitt.
Pelo chão algo semelhante a voc ês ,
PRI~fEIRO - Porque o senhor Schmitt é muito fo r te . É por
Não como UOl homem!
isso que eu fico puxando o sac o dele .
O LÍDER DO C ORO dirigindo-se á lVI u l tid âo - E n r âo , o ho- SEGUNDO - Eu tamb ém.
rnem ajud a o homem?
PRIMEIRO - Peça ao senhor Schrnitt para que se sente aqui
A M u LTID .~O rcsbonde - N âo. conosco.
SR. SCHMITT - Eu não me sinto bem hoje.
Segundo Luqucrito. PRIMEIRO - Então o senh or t ern que se d istrair. sen ho r
Schrnitt.
O LÍDER DO CORO dirigindo-se à fyflllti d ão - ObSerVClTI estas
imagens e d epois digam SR. SCHMITT - Eu acho que eu não p osso mais me distrair.
Que o homem ajuda o horn ern! Pausa.
194 195
196 19 7
_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ ."";...-:>M
SEGlJ NDO - O senhor não coriseg
. . ue mais se 1evanrar. senho' r SI', SC1IMITT - Obrigado. Vocês estão se incomodando de-
Schrnitr. . .
111a15 C0t111g0.
SR. SCHMITT-N ão me digam
<
isso nle
[·SSO.
",.
i"
. (OI. PRIMEIRO - 80n1, senhor Schrnitt, aqui está tudo o que lhe
SEGUNDO - () ,- d evo mais
que é qure e'l'• nao . cl'
. izer? perrencc. Ninguém mais lhe tira.
SR. SCHl\HTT - Isso, , .
põem no seu colo todos os membros que lhe for,nn arranca-
SEGUNDO
~ . -- Que o ,senl.10r
. nao
- consegue 111alS se lcvan tar?
dos. O Sr. Sclnnit t os observa.
SR. SCHMrrT - Você n ão pode caiar a boca?
SR. SCB!vUTr- É estranho, estou com uns pensamentos tão
SEGUNDO
, _. Não
" senhor. Sc hmi '1 as eu posso desatarraxar
1mltt, 1V desagrudáveis na cabeça. Por favor - ao Primct ro '-, di-
,1 s~a orelha esqu~rda, para que assim o senhor não me
ga-IueaIgurna coisa agradável.
OUÇ.l quando eu disser que o senhor não consegue se I c,_
vanrar. c PRI!\IEIRO - Com prazer, senhor Schrnitt , o senhor quer ou-
SR, SCHMITT - talvez seja melhor, vir urna história? Dois homens saem de urna taberna. Ai,
eles começam a brigar e a atirar bosta de cavalo um no
Eles desatarra.'çanz sita orelha esquerda. outro. Um deles acerta corn a bosta na boca do outro,
SR, SCH,MITT fbara
À •
f) Pri meiro
' , ' -
.'[ ...\ gora
. eu 50' posso escutar ao que este diz: "Pois bem, esta vai ficar aqui, até a
voce, () Segundo passa turra o outro lado. Por frvo ' policia chegar".
orelha! Furioso. E por favor me dêem tarnbé '. r,.l
d . ' .'.... <, em a segun-
a perna, que esta me faltando. Isso não é jeito de tra- o Segundo ri, mas o senhor Scb mitt não ri.
tar um honlen1. doente. Devolvanl i!nedíatanu~nte os SR. SCHMI'T'T - Esta não é urna história bonita. Você não
membros extraviados a mim, seu leg i tirno proprietário.
podia me contar uma história bonita? Con10 eu já disse,
Col~cam a outra jJerna debaixo do braço do Sr. Scbmiit
epoem a orelha no seu ("010'.• r: estou com uns pensamentos desagradáveis na cabeça.
L ,tem
. . , . ....<c
1'1.1·'"
1 ,» .," 'es pre-
se '"'OC,"
tendem
1 ". . fazer hora 'o ,. . h '"
. "".. c m a rrun a cara, voc es estão com- PRI1\.lEfRO - Não, senhor Schmit t, infelizmente, fora essa
p etarnente . <, O que é que está havendo agora COHl história eu não sei contar mais nenhuma.
o meu braço? SEGUNDO - Ora, a gente podia era serrar logo a sua cabeça,
SEGUNDO - " rque."o sen 1IOr
Deve ser" po .esta
' carregando toda já que o senhor está com pensamentos esquisitos dentro
essa tralha aí! dela.
SR.
.. SCHMITT baixn - Claro
~" Vocês poder',
1<1n1 111e"]' - d e,1.ar~
a lV1ar SR. SCHMITT - Sim, por favor, talvez isso ajude.
SEGUNDO
, -" . Ora , <
a "gente
. . . : . "podila era tirar Jogo o b raça todo, o
que serra bem melhor. Eles lhe serram a parte superior da cabeça.
SR. Bem por fa "or" PRl~lEIRO - Corno está se sen rindo agora, senhor 5ch011 tt?
SCHMITT - , ,se voces ac 11am. , .
"" y
.-:----------- lE1!:e·,lfs.D
SEGlJ N DO - Entã o ponha o chapéu. Grita. Ponha O
4
SR . SClr ~nTT - N ão co nsigo pegá-lo.
A REC USA DA AJ UDA
SEGUNDO - O senhor quer a bengala?
O CORO - Quer d izer então qu e eles não devem ser ajudados .
SR. SCIL\HTT- Sim , por favor. Tenta pescar () clu/Jéu com Rasgaremos o travesseir o c
a bengala. Agora, a bengala c aiu e eu nã o co nsigo alcan- Jogaren10s fora a água.
çar o chapéu. Estou sen t in do muito fri o.
SEGUNDO - E se nós de satarrax ássemos a cabeça? O Narrador rasga () tra vesseiro e joga fora a água.
SR. S CH MIT T - Bem, eu não sei . .. A N1\.JL TID .~O lê para si m esmo - Cerranlentevocês j á obs er-
PRI MEIRO -.- C la ro . .. varam
A a juda em m ais de um lugar,
SR. SC H .\'1 1Tr - Re almen te, e u já n ã o sei m ais na da. Sob diferentes form as. G erada por urn est ado d e COisas
SEG UNDO - Por isso l11e5n10. Que ainda nã o c onsegu ilnos dispen sar :
A violência.
D esatarrax am- lb e a cabeça . () sen hor Scbmit.t cai de cosi as. C ontudo, nós os aco nsel hamos a enfren t a r
A cruel realidade
SR. SH MI TT - Es pe re m ! Un1 de você s prec isa p ôr a mã o na
C om urna crueldade ainda m aior. E ,
minha t est a. Abandonando o estado de coisas que gera a necessid ade ,
PRIM EIRO . - Onde? Abandonen1 a necessidade. Portanto
SEGU NDO .- Um de vocês preci sa segurar minh a m ão. Não contem com ajuda:
Recusar a ajuda supõe a violência.
PRl.\1EIRO - Oride? Obter ajuda também supõe a vio lência.
SEG UNDO - O senho r ago ra se sente m ais aliv iado, senho r Enquanto a v iolênc ia impera, a ajuda, poder~ ser re~usad .' :
Schmitt? Quando não mais imperar a viol ência, a ajuda n ao mais
SR. SHMITT - N ão. () problema é que cu est ou deit ad o de ser á
costas sobre uma pedra. Necessária.
Por isso, em vez de reclamar ajuda, é preCISO abolir a
SEGUNDO - Ora, sen hor Schrnit t , t ambém nã o se pode ter
violência.
tudo. Ajuda e violência constituem um todo ,
E é este todo que é preciso rrnnsfor mar.
Os dois riem ruid osamente , Fim do núm ero dos palhaço s.
A I\1 ULTID .~O grita - O homem não ajuda o homem.
O LÍDER DO CORO - DeVClTIOS rasgar o travesseiro? 5
A Mur, TID.:\O - Sim. A DELIBERi\Çf\O
O LÍDER DO CORO - Devemos jogar fora a água? O AVIADOR ACIDENTADO - C amaradas . nos
A lvfuLTID.:\O - Sim. Vamos morrer.
200 201
.....
~~~.;;.;...----------------------------- --- _. _ . _- - -
%
O s TRÊs iv1E CÂN ICOS A C ID E N TADOS - N ós sabe mos que Va- . Os Não nos resta mu it o tempo,
A C ID E N T A DO S -
202 20 3
( ) s ""t \C IDE N T A DO S - Reduzido à su a me nor di m ensã o, ele o C O RO - A q ue altu r a voa r arn ?
br eviveu à te m p estade. Os TR ÊS :NIECi\N ICOS .l\ C IDE N T ADO S - E rguemo-n os UlTI pou -
O N AR RADOR - 3. P ara a ju d ar UITl homem a acei tar a co ac ima do solo.
o Pensador interv en ien t e p ed iu-lhe que se despoj asse O LÍDE R DO CORO dirigindo -se ti Nful tid áo - Eles se erg u e-
todos os seus bens. D epois de ter aband onado tudo
r , ram U111 p ouco ac irna do solo .
hornem 50 r est ava a v ida. Aband on a m ais um a coi sa, dis- O AV I A DO R A C IDE N T A DO - Eu vo ei a \H11a altura extraord i-
se- lh e o Pensador.
n ári a.
4. Se o .Pensador ven ce u a tempest ade, ve n c eu - a porque · O CORO - E ele voou a urna altu ra ex t rao r di n ria. á
204
--------- ~ " .. -
. ..
O s TRES lvlEC..\NICOS A CIDENTADOS - Nã o somos ningué ' o AVIADOR ACIDENTADO - NL1S eu. corn m eu vôo ,
O LÍDER DO CORO para a l-r'!ulfidão - Eles não são ninguétil. Atingi minha maior dimensã o .
Tão alto quanto eu voei .
O 1\ VIADOR l \ C IOE N T Ano - Eu sou Charles N ungesser. '
Ninguém voou.
() CORO - E ele é CharlesN ungesser, Eu não fui enaltec ido o bastante, eu
4 Não poderei ser enaltecido o bastante.
Não voei por nada nem por ninguém.
O CORO - Quem os espera? Voei por voar.
Os TRÊSl\lEC~NICOS ACIDENTADOS Ninguém me espera, eu
além-mar. Não vôo em sua direção, eu
a CORO - Quem os esp era? Vôo para me afastar de vocês, eu
jamais morrerei.
Os TR ÊS !vlECÂNlcosAcI DENTADOS - Nosso pai e nossa mãe
nos esperam .
() CORO - Quem os esp era?
9
Os TRÊS l\'fEC ÂNlCOS A CIDEN TADO S - Ninguém n os espera.
O L íDE R DO CORO irar a ti i\tf ul fi dâo - N inguém os esper a. ENALTECI MENTO E D ESAPROPRIAÇÃ O
210 211