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Departamento de Engenharia Civil

Sebenta de Betão Armado

João Paulo da Vinha Santos

2016
Betão Armado ISPT – Departamento
de Engenharia Civil

Índice
Abreviaturas ............................................................................................................................. 7
1 – Introdução ........................................................................................................................... 9
2 – Avaliação das solicitações em estruturas ........................................................................ 10
2.1 – Envolvente de Esforços ...........................................................................................................10
2.2 – Carregamentos em Estruturas de Betão Armado ................................................................11
2.3 – Estados Limites e Combinação de Acções ............................................................................12
2.4 – Determinar Envolvente de Esforços ......................................................................................14
Exemplo prático: .......................................................................................................................16
3 – Comportamento do Betão Armado ................................................................................. 22
3.1 – Dois Estados relativamente à fendilhação ............................................................................24
3.2 – Diferença de comportamento entre secção/estrutura ..........................................................27
4 – Caracterização dos materiais .......................................................................................... 29
4.1 – Betão.........................................................................................................................................29
4.2 – Armaduras...............................................................................................................................31
4.3 – Durabilidade de estruturas de betão armado .......................................................................34
4.3.1 – Mecanismo de deterioração ...............................................................................................35
4.3.2 – Exposição ao meio ambiento .............................................................................................37
4.3.3 – Período de iniciação e período de propagação ..................................................................39
4.3.4 – Despassivação das armaduras ............................................................................................41
4.3.5 – Corrosão das armaduras.....................................................................................................42
4.3.6 – Efeitos da deterioração ......................................................................................................43
5 – Dimensionamento de vigas e pilares ............................................................................... 44
5.1 – Dimensionamento de vigas à flexão .......................................................................................45
5.1.1 – Escolher materiais a usar ...................................................................................................48
5.1.2 – Pré-dimensionamento ........................................................................................................49
5.1.2.1 – Recobrimento .............................................................................................................50
5.1.2.2 – Altura Útil ..................................................................................................................52
5.1.2 – Cálculo de esforços............................................................................................................53
5.1.3 – Secções a dimensionar .......................................................................................................54
5.1.4 – Cálculo das armaduras a aplicar ........................................................................................54
Exemplo Prático ........................................................................................................................60
5.1.5 – Disposições construtivas....................................................................................................63
5.1.2.1 – Área mínima de armadura ..........................................................................................64
5.1.2.2 – Área máxima de armadura .........................................................................................64
5.1.2.3 – Espaçamento mínimo entre armaduras.......................................................................64
5.1.2.4 – Controlo da fendilhação .............................................................................................65

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5.1.2.5 – Controlo da deformação .............................................................................................69


5.1.2.6 – Armadura nos apoios..................................................................................................74
5.1.2.7 – Armadura de distribuição ...........................................................................................75
Exemplo Prático ........................................................................................................................75
5.1.6 – Interrupção de armaduras ..................................................................................................81
Exemplo Prático ........................................................................................................................86
5.1.7 – Uniformização de armaduras .............................................................................................89
Exemplo Prático ........................................................................................................................90
5.1.8 – Comprimento de amarração...............................................................................................92
Exemplo Prático ........................................................................................................................97
5.1.9 – Dimensionamento de vigas à flexão composta ................................................................102
5.1.10 – Vigas em T ....................................................................................................................106
5.2 – Dimensionamento de vigas ao esforço transverso ..............................................................108
5.2.1 – Dados do elemento em estudo e escolher ϴ ....................................................................111
5.2.2 – Determinar secções a analisar..........................................................................................112
Exemplo Prático ......................................................................................................................114
5.2.3 – Avaliar mecanismos de rotura .........................................................................................116
5.2.3.1 – Rotura pelos estribos ................................................................................................117
5.2.3.2 – Rotura pelas escoras de betão...................................................................................118
5.2.3.3 – Influência do esforço transverso na armadura longitudinal de flexão ......................119
5.2.3.4 – Estribos inclinadas ...................................................................................................120
Exemplo Prático ......................................................................................................................121
5.2.4 – Disposições construtivas..................................................................................................122
5.2.4.1 – Área mínima .............................................................................................................122
5.2.4.2 – Espaçamento máximo dos estribos ..........................................................................122
5.2.4.3 – Armadura longitudinal para esforço transverso .......................................................123
5.2.4.4 – Amarração de armadura de esforço transverso ........................................................124
Exemplo Prático ......................................................................................................................124
5.2.5 – Uniformização da armadura ............................................................................................125
Exemplo Prático ......................................................................................................................126
5.3 – Dimensionamento de vigas à torção ....................................................................................127
5.3.1 – Comportamento de estruturas de betão à torção ..............................................................128
5.3.2 – Mecanismos de rotura ......................................................................................................131
5.3.2.1 – Armadura necessária ................................................................................................131
5.3.2.2 – Verificar compressão no betão .................................................................................132
Exemplo Prático ......................................................................................................................132
5.3.3 – Disposições construtivas..................................................................................................134
5.3.3.1 – Somar ao esforço transverso ....................................................................................134
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5.3.3.2 – Espaçamento máximo das armaduras.......................................................................135


5.3.3.4 – Armadura longitudinal para esforço torsor ..............................................................135
Exemplo Prático ......................................................................................................................136
5.4 – Dimensionamento de pilares ................................................................................................139
5.4.1 – Determinar secções a analisar..........................................................................................139
5.4.2 – Armaduras a aplicar .........................................................................................................140
5.4.3 – Disposições construtivas..................................................................................................142
5.4.3.1 – Armadura mínima e máxima longitudinal................................................................142
5.4.3.2 – Diâmetro mínimo de armaduras longitudinais .........................................................143
5.4.3.3 – Espaçamento mínimo das armaduras longitudinais .................................................143
5.4.3.4 – Espaçamento máximo dos estribos ..........................................................................143
5.4.3.5 – Diâmetro mínimo das armaduras transversais..........................................................143
5.4.3.6 – Disposições construtivas para esforço transverso ....................................................143
5.4.4 – Forma da cintagem ..........................................................................................................144
5.5 – Encurvadura em pilares .......................................................................................................144
5.5.1 – Esbelteza ..........................................................................................................................145
5.5.2 – Efeitos de 1ª Ordem .........................................................................................................146
5.5.2.1 – Inclinação inicial ......................................................................................................146
5.5.2.2 – Excentricidade inicial ...............................................................................................147
5.5.2.3 – Força horizontal equivalente ....................................................................................147
5.5.2.4 – Momento de 1ª Ordem .............................................................................................149
5.5.3 – Dispensa de efeitos de 2ª Ordem .....................................................................................150
5.5.3 – Efeitos de 2ª Ordem .........................................................................................................150
5.5.3.1 – Método da Rigidez Nominal ....................................................................................153
5.5.3.2 – Método da Curvatura Nominal .................................................................................154
Exemplo prático nº1 ....................................................................................................................157
Exemplo prático nº2 ....................................................................................................................165
5.5.4 – Estudo global de estruturas em pórtico............................................................................168
5.5.4.1 – Avaliar comprimento efectivo de encurvadura ........................................................169
5.5.4.2 – Imperfeições geométricas em pórticos .....................................................................171
5.5.4.3 – Efeitos de 2ª ordem em pórticos ...............................................................................172
5.5.4.4 – Verificação em pórticos contraventados ..................................................................173
5.5.4.5 – Verificação em pórticos não contraventados............................................................174
5.5.4.6 – Método P-delta .........................................................................................................177
6 – Dimensionamento de lajes ............................................................................................. 179
6.1 – Dimensionamento de lajes de vigotas ..................................................................................183
6.1.1 – Considerações gerais .......................................................................................................183
6.1.2 – Execução..........................................................................................................................185
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6.1.3 – Condições de segurança para o dimensionamento ..........................................................188


Exemplo prático...........................................................................................................................190
6.2 – Dimensionamento de lajes maciças vigadas armadas numa direcção..............................192
6.2.1 – Pré-dimensionamento de lajes .........................................................................................194
6.2.2 – Verificar esforço transverso.............................................................................................195
6.2.3 – Distribuição dos esforços.................................................................................................196
6.2.4 – Espaçamento máximo das armaduras ..............................................................................199
6.2.5 – Armaduras de distribuição, apoio, bordo livre e canto ....................................................199
6.2.5.1 – Armadura de distribuição .........................................................................................199
6.2.5.2 – Armadura de bordo livre ..........................................................................................200
6.2.5.3 – Armadura de apoio ...................................................................................................200
6.2.5.4 – Armadura de canto ...................................................................................................201
Exemplo prático...........................................................................................................................203
6.3 – Dimensionamento de lajes maciças vigadas armadas em duas direcções ........................211
6.3.1 – Teoria de comportamento elástico ...................................................................................212
6.3.2 – Teoria da plasticidade ......................................................................................................216
6.3.2.1 – Método cinemático ...................................................................................................219
6.3.2.2 – Método estático ........................................................................................................220
6.3.3 – Lajes contínuas ................................................................................................................224
6.3.3.1 – Equilíbrio de Momentos Negativos..........................................................................226
6.3.3.2 – Momentos positivos em lajes contínuas ...................................................................233
6.3.3.3 – Momentos finais de cálculo......................................................................................235
6.3.4 – Lajes com aberturas .........................................................................................................235
Exemplo prático...........................................................................................................................238
a) Pré-dimensionamento..........................................................................................................239
b) Verificação do esforço transverso .......................................................................................240
c) Cálculo de momentos ..........................................................................................................241
d) Determinar armaduras a aplicar ..........................................................................................249
e) Disposições construtivas .....................................................................................................249
f) Pormenorização das armaduras ...........................................................................................255
g) Uniformização ....................................................................................................................257
h) Comprimento de amarração ................................................................................................257
6.4 – Dimensionamento de lajes fungiformes ..............................................................................258
6.4.1 – Pré-dimensionamento de lajes fungiformes.....................................................................258
6.4.2 – Esforços em lajes fungiformes ........................................................................................259
Exemplo prático...........................................................................................................................261
6.4.3 – Estado limite de último de punçoamento.........................................................................265
6.4.3.1 – Mecanismo de resistência ao punçoamento .............................................................268
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6.4.3.2 – Perímetro crítico de punçoamento............................................................................270


6.4.3.4 – Punçoamento excêntrico ..........................................................................................273
6.4.3.4 – Punçoamento em sapatas..........................................................................................277
6.4.3.5 – Lajes com capiteis ....................................................................................................278
6.4.3.5 – Armaduras de punçoamento .....................................................................................279
6.5 – Carga que passa das lajes vigadas para as vigas ................................................................286
6.5.1 – Lajes armadas numa direcção ..........................................................................................286
6.5.2 – Lajes armadas em duas direcções ....................................................................................288
6.5.3 – Consola ............................................................................................................................289
6.5.4 – Duplicação de efeitos ......................................................................................................290
6.6 – Torção em vigas devido a lajes ............................................................................................290
6.6.1 – Momentos torsores de equilíbrio .....................................................................................291
6.6.2 – Momentos torsores de compatibilidade ...........................................................................291
6.6.3 – Momentos torsores a considerar para o cálculo ...............................................................292
6.6.4 – Momentos torsores transmitidos entre vigas ...................................................................293
7 – Dimensionamento de sapatas......................................................................................... 294
7.1 – Tópicos gerais ........................................................................................................................297
7.2 – Sapatas flexíveis ....................................................................................................................299
7.3 – Sapatas rígidas ......................................................................................................................301
Exemplo prático nº 1 ...................................................................................................................303
Exemplo prático nº 2 ...................................................................................................................308
8 – Escadas e varandas ......................................................................................................... 313
8.1 – Varandas ................................................................................................................................313
8.2 – Escadas...................................................................................................................................314

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Abreviaturas
As,apoio – armadura nos apoios extremos
As,dist – armadura de distribuição
As,apl – armadura aplicada
AsL,ET – Armadura longitudinal nos apoios devido ao esforço transverso
As,min – área de armadura mínima
As,min fend – área de armadura mínima devido ao controlo de fendilhação
As,max – área de armadura máxima
As,nec – área de armadura necessária
Asw/s – área de armadura de esforço transverso
(Asw/s)min – área mínima de armadura de esforço transverso
As – área de armadura de tracção
As’ – área de armadura de compressão
cnom – recobrimento
d – altura útil da secção
dg – dimensão máxima do agregado do betão
ELU – estados limites últimos
ELS – estados limites de serviço
Ec – módulo de elasticidade do betão
Ecd – valor de cálculo do módulo de elasticidade do betão
Es – módulo de elasticidade do aço
Fc – força no betão
Fs – força no aço
f – resistência do material
fc – tensão de rotura do betão à compressão
fck – tensão característica de rotura do betão à compressão
fcd – tensão de dimensionamento do betão à compressão
fctm - valor médio da tensão de rotura à tracção
fct – tensão de rotura do betão à tracção
fu – tensão de rotura do aço
fy ou fsy – tensão de cedência do aço

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fyk ou fsyk– tensão característica de cedência do aço


fyd ou fsyd – tensão de dimensionamento do aço
kN – Kilo-Newton, unidade de força (1 kN ≈ 100 kg ou 1 kN = 98,1 kg)
L – comprimento da peça
Mrd – momento flector resistente
Msd – momento flector aplicado
PELU – carga para os estados limites últimos
PELS – carga para os estados limites de serviço
Smax – espaçamento máximo
Smin – espaçamento mínimo
Smax fend – espaçamento máximo devido ao controlo de fendilhação
Smax,slabs – espaçamento máximo das armaduras das lajes
σc – tensão no betão
σs – tensão no aço
εc – extensão do betão
εs – extensão do aço
µ – momento reduzido
ɷ – percentagem mecânica de armadura
Ømax fend – diâmetro máximo de varões devido ao controlo de fendilhação

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1 – Introdução
Tendo surgido a meio do século XIX, betão armado é um excelente material e o mais
usado na construção actual. Este é constituído por dois elementos: betão e varões de aço (aos
quais se dá o nome de armaduras). O betão em si é um material bastante antigo, com vários
milénios de existência.
É um material frágil com elevada capacidade resistente à compressão e baixa resistência à
tracção. Por sua vez, o aço é um material dúctil com elevada resistência a qualquer tipo de
esforços. A combinação dos 2 permitiu à humanidade desenvolver as suas construções e
infraestruturas de uma forma segura e barata.
Contudo, por ser um material compósito, o seu estudo é muito importante, já que a sua
viabilidade económica (ou seja, os custos face aos benefícios estruturais que oferece) depende
em muito da quantidade e da qualidade de material usado. À medida que o tempo foi
avançando, engenheiros e cientistas por todo o mundo têm verificado que inicialmente o
comportamento deste foi substancialmente subestimado, o que levou ao uso de elevadas
quantidades de material, encarecendo assim os edifícios. Um estudo adequado das solicitações
do edifício e do próprio comportamento do betão armado permite-nos então minimizar este
custo, ao reduzir a quantidade de material usado.

Esta sebenta serve de material de estudo para as cadeiras de betão armado, excluindo as de
betão pré-esforçado, servindo de apoio às aulas e fornecendo exemplos mais detalhados sobre
estudo deste tipo de material de construção, bem como exemplos completos de cálculo
manual envolvido neste estudo. São apontamentos síntese que não dispensam a consulta de
restantes apontamentos das disciplinas bem como o acompanhamento das aulas.
Toda esta sebenta recorre às normas europeias, os chamados Eurocódigos, sendo usado o
Eurocódigo 0, Eurocódigo 1 e Eurocódigo 2.
Esta sebenta resulta da experiência de ensino e de textos e sebentas anteriores,
nomeadamente a sebenta do ano de 2008 realizada pelo Professor Ricardo do Carmo, para as
cadeiras de Betão Armado 1 e 2 do Instituto Superior Politécnico de Coimbra; a sebenta de
2013/2014 realizada pelo Professor José Noronha da Camara, para as cadeiras de Estruturas
de Betão 1 e 2 do Instituto Superior Técnico de Lisboa; bem como alguns livros como o de
Estruturas de Betão da autoria do Professor Júlio Appleton.

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2 – Avaliação das solicitações em estruturas


Antes de avançar para o cálculo de um elemento de betão armado, é importante conhecer
as solicitações a que este está sujeito. As solicitações podem ser as mais variadas, como carga
de pessoas, peso próprio, vento, neve, acções térmicas, etc.
Independentemente do tipo de acções aplicadas, estas vão criar dentro da estrutura esforços
Axiais, Transversos e de Momentos e são estes que determinam o dimensionamento de
qualquer elemento de betão armado.

2.1 – Envolvente de Esforços


A envolvente de esforços é nada mais do que o diagrama final de Esforço Axial, Esforço
Transverso, ou Momento Flector que está presente numa estrutura, face a um dado
carregamento e à variabilidade deste.
Exemplo de Envolvente de Momento Flector numa estrutura de 3 barras:

A envolvente de esforços obtém-se sobrepondo todos os diagramas de um dado esforço


(Axial, Transverso, Momento) que podem existir na estrutura face às diferentes combinações
de carregamento a que ela pode estar submetida.
O cálculo da envolvente de esforços é tão mais complexo quanto maior o número de
acções variáveis a que esta esteja sujeita.
Assim, é preciso em primeiro saber em primeiro os vários carregamentos diferentes a que a
estrutura está sujeita.

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2.2 – Carregamentos em Estruturas de Betão Armado


As várias cargas, a que chamaremos de acções, que podem estar aplicadas numa estrutura
de betão armado dependem em muito do tipo de estrutura e da localização geográfica desta.
De acordo com o EC0, existem 3 tipos de acções que podem estar aplicadas numa
estrutura:

G – Acções permanentes, são acções com elevada probabilidade de actuar durante um


determinado período de referência e cuja variabilidade de intensidade no tempo é desprezável
ou é sempre no mesmo sentido (monotónica) até a acção atingir um certo valor limite (EC0
1.5.3.3).
Quer isto dizer que as acções permanentes são aquelas que se encontram quase sempre
aplicadas na estrutura e que geralmente ou têm um valor constante, presente desde a
construção da estrutura, ou que têm um valor que ou apenas aumenta ou apenas diminui com
o tempo até chegar a um dado valor de referência – valor esse que é utilizado para o cálculo.
Exemplo o peso próprio da estrutura, paredes divisórias, revestimento, etc.

Q – Acções variáveis, são acções cuja variação de intensidade no tempo não é desprezável
nem monotónica (EC0 1.5.3.4).
Quer isto dizer que são acções que podem nem sempre estar aplicadas na estrutura e cuja
intensidade pode variar, umas vezes pode aumentar e outras vezes diminuir.
Exemplo sobrecarga nos pavimentos, vigas, coberturas, a acção do vento ou da neve.

A – Acções acidentais, são acções de curta duração, mas com intensidade significativa,
com pequena probabilidade de ocorrência numa dada estrutura durante o tempo de vida útil
do projecto (EC0 1.5.3.5).
Exemplo explosões ou choques provocados por veículos.

É com estas acções que se determina a envolvente de esforços de uma estrutura. Contudo,
essas acções não são simplesmente somadas para determinar os efeitos no carregamento a que
a estrutura esta submetida. Isto porque elas não estão sempre presentes todas ao mesmo
tempo, e mesmo quando mais do que uma está aplicada, a sua intensidade dificilmente será a

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máxima. Para conhecer esse carregamento é necessário proceder a uma Combinação de


Acções.

2.3 – Estados Limites e Combinação de Acções


Combinação de Acções é um conjunto de valores de cálculo utilizados na verificação da
fiabilidade estrutural relativamente a um dado estado limite sob a influência simultânea de
diferentes acções (EC0 1.5.3.22). Ou seja, é através das combinações de acções que
determinamos o carregamento final a que uma estrutura está submetida, tendo em conta a
probabilidade estatística de um efeito dada acção estar aplicado ao mesmo tempo que o efeito
de outra acção ou, quando estão aplicadas mais do que uma acção, a probabilidade de ambas
estarem com a sua intensidade máxima ao mesmo tempo.
O tipo de combinação de acções a utilizar depende sempre do Estado Limite que se está a
estudar. Estados Limites (EL) são estados para além dos quais a estrutura deixa de satisfazer
critérios relevantes de projecto (EC0 1.5.2.12).
São os EL que determinam o limite máximo de carregamento a que a estrutura consegue
resistir antes de entrar em colapso ou deixar de responder aos critérios de utilização (como por
exemplo começar a apresentar demasiadas fendas nos elementos estruturais).

Dentro deles temos:


Estados Limites Últimos (ELU): Estados associados ao máximo carregamento que a
estrutura aguenta até entrar em colapso (EC0 1.5.2.13). Obviamente, se estes forem
ultrapassados a estrutura começará a entrar em colapso.
Estados Limites de Utilização (ELS): Estados que correspondem às condições para além
das quais os requisitos de utilização especificados para uma estrutura ou para um elemento
estrutural deixam de ser satisfeitos (EC0 1.5.2.14). Ultrapassa-los poderá nao colocar a
estrutura em colapso directamente mas poderá levar a danos que posteriormente causam a
estrutura a entrar em colapso.
Dentro destes temos os:
ELS Reversíveis (EC0 1.5.2.14.2): Estados limites cuja consequência da acção é
reversível, caso a acção seja retirada.

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ELS Irreversíveis (EC0 1.5.2.14.2): Estados limites cuja consequência da acção é


irreversível, mesmo quando a acção é retirada.

Conhecendo o EL com que se está a trabalhar, sabe-se então o tipo de Combinação de


Acções a utilizar. Por detrás das Combinações de Acções está a filosofia de aumentar as
cargas principais aplicadas através de coeficientes γ que as majoram, e de diminuir as
restantes cargas cuja influência seja de menor intensidade ou probabilidade através de
coeficientes φ.

Combinação Fundamental de acções


Associada aos ELU, utilizada para o calculo da envolvente de esforços e a determinação
das armaduras necessárias para garantir a resistência aos vários esforços.
Devido a esta combinação ser utilizada para calcular o carregamento máximo que a
estrutura vai aguentar até entrar em rotura, todas as cargas são majoradas. As acções variáveis

que não são a de base são multiplicadas também pelo seu valor característico (φ0), uma vez
que nem sempre estão presentes.
γG × G + γQ × Q1 + γQ × φ0,i × Q i

Combinação Característica de acções


Associada aos ELS irreversíveis de muito curta duração. Devido a tal, majora-se as cargas
permanentes e a acção variável de base. As restantes acções variáveis são multiplicadas pelo

seu valor característico (φ0), uma vez que nem sempre estão presentes.

γG × G + γQ × Q1 + φ0,i × Q i

Combinação Frequente de acções


Associada aos ELS reversíveis de curta duração. Como é de curto prazo, considera-se que
as cargas permanentes têm efeito constante, que a acção variável de base nunca está aplicada

constantemente (logo é multiplicada por um factor “frequente”, φ1) e que as restantes cargas
variáveis ocorrem raramente (logo são multiplicadas por um factor “raro”, φ2)

γG × G + φ1,1 × Q1 + φ2,i × Q i
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Combinação Quase-Permanente de acções


Associada aos ELS para longo prazo. Como é de longo prazo, considera-se que
praticamente só as cargas permanentes têm efeito constante, e que as acções variáveis têm

muito pouco efeito (logo são multiplicadas por um factor “raro”, φ2)

γG × G + φ2,1 × Q1 + φ2,i × Q i

Para qualquer combinação:

γ – Coeficientes de majoração (γG = 1,35 ou 1 quando forem favoráveis; γQ = 1,5)


Q1 – Acção variável de base
Qi – Restantes acções variáveis aplicadas na estrutura

φ0 – Valor característico, depende da acção variável que multiplica


φ1 – Valor frequente, depende da acção variável que multiplica
φ2 – Valor raro, depende da acção variável que multiplica

Valores de φ podem ser obtidos na página 47 do EC0 (EC0 A1.2.2).


É no EC1 (secção 6.3) que se pode encontrar o valor das várias acções variáveis, quando
estes não são determinados especificamente para a estrutura em estudo.

2.4 – Determinar Envolvente de Esforços


Conhecendo o carregamento que poderá estar aplicado numa estrutura, pode-se então
determinar a envolvente. Para a determinar, carrega-se a estrutura com diferentes possíveis
carregamentos sendo estes calculados para as diferentes situações de Acção Variável de Base.

Exemplo:

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Determina-se que acção variável será Q1 e desenha-se os diagramas para os possíveis


carregamentos. Lembrar que para todos os diferentes carregamentos apresentados se tem de
utilizar a Combinação de Acções adequada ao EL que se está a estudar. Lembrar também que

quando só se utiliza CP, γG = 1.

1º possível carregamento: CP + Q1 + Qi CP + Q1 + Qi CP + Q1 + Qi

2º possível carregamento: CP + Q1 + Qi CP CP + Q1 + Qi

3º possível carregamento: CP CP + Q1 + Qi CP

4º possível carregamento: CP + Q1 + Qi CP CP

5º possível carregamento: CP CP CP + Q1 + Qi

6º possível carregamento: CP + Q + Q CP + Q1 + Qi
1 i CP

7º possível carregamento: CP CP + Q1 + Qi CP + Q1 + Qi

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8º possível carregamento: CP CP CP

Repete-se considerando que uma nova acção variável é Q1


Ou seja, se existirem 3 acções variáveis de base (exemplo: sobrecarga, vento, neve),
teremos:
- 8 possíveis carregamentos para quando a sobrecarga é Q1;
- mais 8 possíveis carregamentos para quando o vento é Q1;
- mais 8 possíveis carregamentos para quando a neve é Q1
Ou seja, um total de 24 diagramas diferentes de Momento Flector a serem combinados
para a Envolvente de Momento Flector, e 24 diagramas de Esforço Transverso a serem
combinados para a Envolvente do Esforço Transverso.
Em cada uma das hipóteses, as restantes cargas variáveis entram na parcela Qi.
A envolvente é determinada com a sobreposição de todos os diagramas, sendo nada mais
do um desenho de todas as linhas de maiores momentos, esforços transversos e axiais.

Exemplo prático:
Considere a seguinte viga e dados do problema.

C25/30

De acordo com o EC1, edifícios de habitação pertencem à categoria A e o valor da


sobrecarga a usar para eles é de 2 kN/m2. Embora este valor seja para pavimentos, considera-
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se que em vigas o valor é o mesmo (embora em vigas apareça em kN/m em vez de kN/m2).
Os valores dos coeficientes tiram-se do EC0: φ0=0,7; φ1=0,5; φ2=0,3
Como existem duas acções variáveis, a primeira coisa a fazer será calcular o valor da carga
a aplicar nas várias hipóteses de carregamento.

CP = γG × G = 1 × (área da secção × peso próprio + revestimento + paredes divisórias)


CP = γG × G = 1 × (0,3 × 0,45 × 25 + 2 + 2) = 7,375 kN/m

Quando a sobrecarga é Q1 e o vento entra no Qi:


CP + Q = γG × G + γQ × Q1 + γQ × φ0,i × Qi = 1,35 × G + 1,5 × 2 + 1,5 × 0,6 × 3
CP + Q = 1,35 × 7,375 + 1,5 × 2 + 1,5 × 0,6 × 3 = 15,656 kN/m

Quando o vento é Q1 e a sobrecarga entra no Qi:


CP + Q = γG × G + γQ × Q1 + γQ × φ0,i × Qi = 1,35 × G + 1,5 × 3 + 1,5 × 0,7 × 2
CP + Q = 1,35 × 7,375 + 1,5 × 3 + 1,5 × 0,7 × 2 = 16,556 kN/m

Com o valor das cargas a aplicar, calculam-se as envolventes de Momentos Flectores e


Esforço Transverso para as duas situações (quando sobrecarga é Q1 e quando vento é Q1)

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Destas hipóteses de carga resultam os seguintes diagramas (a vermelho estão os diagramas


para a 1ª hipótese, a azul claro os da 2ª hipótese, a verde os da 3ª e a rosa os da 4ª)

Diagrama de Esforço Transverso para quando a sobrecarga é Q1

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Diagrama de Esforço Transverso para quando o vento é Q1

Diagrama de Momento Flectores para quando a sobrecarga é Q1

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Diagrama de Momento Flectores para quando o vento é Q1

As envolventes finais obtêm-se sobrepondo todos diagramas (os obtidos quando a


sobrecarga é Q1 e os obtidos quando o vento é Q1)
Envolvente final de esforço transverso

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Envolvente final de momentos flectores

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3 – Comportamento do Betão Armado


Para compreender bem o comportamento de um elemento de betão armado, convém em
primeiro analisar o comportamento do mesmo elemento mas sem qualquer armadura de aço,
ou seja só constituído por betão simples. Para tal recorre-se ao seguinte exemplo, de uma viga
com 5 metros na qual é aplicada uma carga concentrada P, aplicada no seu centro.

Diagrama de Esforço Transverso Diagrama de Momentos Flectores

Neste exemplo, o maior Momento Flector ocorre a meio da viga, sendo aí que se encontra
a secção mais solicitada e com maiores tracções e compressões. Relembrando conceitos
estudados já em Resistência de Materiais

E para uma secção rectangular:

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Quanto a carga P chegar a um dado valor que ultrapasse a resistência do elemento, ocorre
fissuração nessa secção. Como se compreende, a partir momento em que a fissuração ocorre,
as secções deixam de estar ligadas e a distribuição de tensões apresentada em cima deixa-se
de verificar.

Isto deve-se ao comportamento do betão ser frágil e de pouca resistência à compressão,


como já se estudou em cadeiras como Materiais de Construção.

Se a viga entra em rotura, e as secções deixam de transmitir esforços entre si, então pode-
se dizer que esta deixou de resistir às cargas a partir do momento em que fissurou. Torna-se,
então, importante saber que carga leva o elemento à rotura.

Para este exercício admite-se que fct = 2 MPa

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Sabendo o Momento Flector que levou à rotura, é possível tirar o valor da carga:

Daqui pode-se concluir que um elemento constituído somente por betão simples não
explora minimamente a resistência do material à compressão, que pode ir até 80 MPa, ficando
limitado pela fraca resistência à tracção. Para solucionar este problema introduzem-se
armaduras de aço.
O aço é um material dúctil com bom comportamento à tracção e à compressão, e por ser
facilmente moldável e de elevada resistência, conseguem-se criar varões de aço de pequena
dimensão que podem ser inseridos nos elementos de betão e assim ajudar este a ter um
comportamento diferente do visto anteriormente.

O comportamento do aço permitirá ao elemento, agora de betão armado (por ser uma
combinação de betão com armaduras de aço), absorver todas as tracções após a formação da
primeira fenda, ao mesmo tempo que dará liberdade ao betão de continuar a resistir à
compressão.

3.1 – Dois Estados relativamente à fendilhação


Num elemento de betão armado é possível estabelecer 2 estados diferentes no que toca à
fendilhação do elemento:
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O Estado I refere-se às tensões e extensões que a secção crítica sofre imediatamente antes
da fendilhação. Neste estado, tanto as tracções como as compressões ainda estão a ser
absorvidas e transmitidas pelo betão.

O Estado II refere-se às tensões e extensões que a secção crítica sofre imediatamente


depois do aparecimento da primeira fenda. Neste estado, as compressões são absorvidas e
transmitidas pelo betão mas as tracções passam a ser todas absorvidas e transmitidas pelas
armaduras de aço.

x – Posição da linha neutra


z (braço das forças resultantes) = d − x⁄3
Relembrando questões de equilíbrio: Mcr = Fs × z
Relembrando questões de força aplicada num elemento: Fs = As × fsy

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Neste estado, a linha neutra é invariável já que depende somente da área de aço, da secção
do elemento e da relação entre Módulos de Elasticidade. Um aumento do momento apenas
aumenta a curvatura da peça e as respectivas tensões, mantendo-se constante o braço das
forças resultantes.

Com estes dados, é possível refazer o exercício apresentado e ver o comportamento do


mesmo elemento mas agora considerando que este tem também uma armadura de aço.

Considerando a mesma secção mas agora com uma área de armadura de 10 cm2 aplicada
na face inferior da secção (onde ocorrem tracções), e considerando que o tipo de aço usado
tem uma tensão de cedência de 400 MPa:

Com a área de aço e a tensão de cedência obtém-se:

Calculando agora a posição da linha neutra:

Com a posição da linha neutra pode-se obter a dimensão do binário entre as forças de
tracção e compressão (para este exercício, d = 0,9 ×h. Mais à frente será mostrado o que
significa d e como obtê-lo de forma mais correcta).

z = d − x⁄3 = 0,45 − 0,143⁄3 = 0,4 m

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Logo: Mcr = Fs × z = 400 × 0,4 = 160 kNm

Só com este valor já é possível ver o aumento de resistência que as armaduras conferiram à
estrutura, aumentando-o de 16,7 kNm para 160 kNm.
A carga crítica de rotura será de:
4Mcr⁄ 4 × 160⁄ = 128 kN
P= L= 5

Muito superior à 13,4 kN obtida anteriormente, mostrando bem o papel das armaduras num
elemento de betão.

3.2 – Diferença de comportamento entre secção/estrutura


Quando uma estrutura começa a fendilhar, nem todas as suas secções fendilham, apenas
algumas. Nessas há uma perda brusca de rigidez, sendo aí que se verificam maiores
deformações.
Contudo, no global, a estrutura sofre uma perda de rigidez mais gradual, graças a todo o
betão traccionado que ainda existe entre as secções fendilhadas. Ou seja, nas secções que
fendilharam, a deformação é grande e não há qualquer tracção. Nas outras continua a haver
tracção e o betão deforma-se muito menos.
Este efeito é ainda mais notório quando se avaliam a resposta de toda a estrutura em termos
de deformações.

Neste gráfico pode-se ver a relação entre carga e extensão de uma estrutura de betão
armado, avaliada em termos globais. A carga (1) indica aquela que levou à primeira
fissuração. A (2) representa a carga em que o aço entra em cedência. A (3) representa a rotura
final.

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Assim percebe-se que o betão armado acaba por ter um comportamento dúctil conferido
pelo aço, em que para cargas superiores às de rotura do betão haverá um aumento muito maior
das extensões (ou seja, uma menor rigidez) do que o verificado inicialmente (até ao ponto
(1)).
Os elementos de betão armado são então dimensionados para valores perto dos de cedência
(ponto (2)), já que a partir desses valores não será possível aumentar a carga sem sofrer
demasiadas deformações.

Por sua vez, o aparecimento de fendas vai depender muito do diagrama, sendo que as
fendas só aparecem em secções onde o Momento Flector aplicado é superior ao resistente.

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4 – Caracterização dos materiais


Como estudado noutras disciplinas, as características dos materiais são parâmetros
estatísticos obtidos a partir de vários testes laboratoriais. Os valores de resistência, por
exemplo, assumem que 95% das vezes o material terá uma resistência igual ou superior à
estabelecida, e 5% das vezes terá uma resistência inferior.
Por serem valores obtidos através de tratamentos estatísticos, e por existir ainda a
possibilidade (embora pequena) de um dado material não ter a resistência pretendida, tornou-
se necessário criar novos parâmetros para o cálculo, bem como normas que classifiquem os
betões e aços.
Para além das questões estatísticas, existem ainda os parâmetros de segurança exigidos
pelas normas. Por exemplo, o EC2 exige que as cargas sejam aumentadas (como já se viu
anteriormente) mas também exige que as resistências dos materiais sejam reduzidas. Só assim
se garante a segurança.

4.1 – Betão
Os betões são classificados de acordo com a classe de resistência. Estas são definidas de
acordo com os valores característicos de tensão de rotura à compressão aos 28 dias de idade,
referidos a provetes cúbicos ou provetes cilíndricos. Na avaliação da segurança estrutural
utilizam-se os valores referentes a provetes cilíndricos, já que são inferiores aos dos provetes
cúbicos.
O betão ser um material artificial constituído por brita, areia, cimento, água e aditivos, e a
sua resistência depender do rácio destes materiais. Contudo, o cálculo assume que este é um
elemento homogéneo e que em cada secção há uma distribuição equilibrada entre os vários
elementos que o constituem. Contudo, isso é impossível de garantir e uma secção poderá ter
maior área de elementos britados do que outra, o que por sua vez afecta a sua resistência.
Para além do aspecto da falta de homogeneidade, o betão não possui um comportamento
linear que respeite a lei de Hook. Ou seja, não possui uma relação linear entre tensão-
extensão. Isto é ainda mais verdade para elevadas tensões. De facto, esse comportamento só
se verifica até 40% do valor da tensão característica (a obtida em laboratório).

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Assim, para garantir a segurança e também obedecer aos critérios de segurança onde a
resistência dos materiais deve ser reduzida, o valor da tensão de resistência do betão que se
utilizará para o cálculo será inferior ao valor de cedência deste. Transforma-se então o gráfico
parabólico de comportamento tensão-extensão do betão num rectangular:

O valor da tensão de dimensionamento do betão, fcd, é dado por:


fck⁄
fcd = α × γc
Com:
fck – tensão característica de cedência do betão
γc – coeficiente de segurança do betão. Este deverá ser igual a 1,5
α – parâmetro de segurança que depende da qualidade de produção do betão. Este deverá
variar entre 1 e 0,8 (quanto menor a confiança no fabrico, mais baixo deverá ser este
parâmetro).
Ou seja: γc = 1,5 0,8 ≤ α ≤ 1

Para facilitar os cálculos, o EC2 já apresenta, na página 36, o Quadro 3.1 que já fornece
valores da resistência dos vários tipos de betão, bem como outros valores como módulo de
elasticidade, extensões máximas que pode sofrer, etc. Nele também se pode ver como obter
certos parâmetros importantes, como é o caso do valor médio da tensão de rotura à tracção
(fctm).
A imagem seguinte é um excerto desse quadro.

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4.2 – Armaduras
A caracterização do aço usado para armaduras de betão armado segue vários princípios
usados para a caracterização do betão. Mas devido ao aço ser um material homogéneo e muito
bem estudado, as resistências deste não são tão reduzidas para efeitos de cálculo.
De acordo com o EC2, o comportamento do aço em termos de tensões-extensões é
semelhante ao apresentado no seguinte gráfico:

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Em que o gráfico 2 corresponde ao da tensão característica de cedência do aço, e o gráfico


1 corresponde ao da tensão de dimensionamento do aço. O EC2 aceita ainda algum
incremento de resistência, quantificado pelo coeficiente k, mas por simplificação e segurança
este raramente é considerado. O valor da tensão de dimensionamento do aço, fsyd, é dado por:
fsyk
fsyd = ⁄γ
s

Com:
fsyk – tensão característica de cedência do aço
γs – coeficiente de segurança do aço. Este deverá ser igual a 1,15
Ou seja: γs = 1,15

O valor da extensão máxima convencional do aço, Ɛud (igual a 90% do valor característico
da extensão última, Ɛuk), a considerar depende da classe de ductilidade das armaduras. No
quadro seguinte são indicados os valores característicos para o parâmetro k anteriormente
referido e para as extensões últimas, ambos a depender da classe de ductilidade do aço, e
cujas extensões são da ordem dos 25 a 75 ‰ (muito superiores aos do betão de 3.5 ‰).

Para além da classificação em termos de resistência, as armaduras possuem várias outras


nomenclaturas que as classificam. Em termos de utilização as armaduras distinguem-se entre:
• Armaduras de betão armado
• Armaduras de pré-esforço
As primeiras podem ser denominadas de armaduras passivas, pois só respondem em
função das solicitações exteriores. As segundas são armaduras especiais, com capacidade
resistente 3 ou mais vezes superior que as primeiras, e podem ser denominadas como activas
por serem traccionadas antes das cargas actuarem sobre a estrutura. Como foi referido no
início, esta sebenta serve de apoio às cadeiras onde se estude betão armado e não betão pré-
esforçado, logo não vão ser vistas aqui as armaduras de pré-esforço.

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O aço das armaduras é classificado também em termos de:


➢ Processo de fabrico
• Aço natural (laminado a quente) (N)
• Aço endurecido a frio (E)
➢ Aderência
• Alta aderência (superfície rugosa ou nervurada) (R)
• Aderência normal (superfície lisa) (L)
➢ Resistência
• (A235, já não é fabricado em Portugal), A400, A500, A600 (não é fabricado em
Portugal)

Assim, as armaduras designam-se com a simbologia base:

As nervuras das armaduras determinam muito a sua aderência ao betão. Os aços mais
comuns, A400 NR e A500 NR, produzidos em Portugal, apresentam apenas duas famílias de
nervuras, tal como é apresentado nas figuras em baixo. Nos aços A400 todas as nervuras de
uma família são paralelas ao passo que no A500 as nervuras têm alternadamente inclinações
diferentes, pelo menos de um dos lados
A diferenciação entre aços com ductilidade especial (SD), que são os recomendados para
zonas sísmicas, e os anteriores prende-se principalmente no número de nervuras, sendo que os
SD têm as mesmas nervuras nas duas faces, como também se pode ver na figura.

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Os aços endurecidos a frio (E) são produzidos por laminagem com impressão de um
perfil nervurado, constituído por nervuras dispostas em 3 planos.

As armaduras distinguem-se entre:


Armaduras principais: Asseguram a resistência do elemento relativamente à segurança à
rotura (não apenas de flexão mas também ao outros efeitos) e contribuem para assegurar um
bom comportamento nas condições de serviço. São então as armaduras de tracção e de
compressão que os cálculos indiquem como necessárias.
Armaduras secundárias: Ajudam a rigidificar as malhas de armaduras, para a sua
colocação em obra, assegurando o posicionamento correcto de todas as armaduras durante a
betonagem.

4.3 – Durabilidade de estruturas de betão armado


Qualquer elemento é degradado através da acção do meio ambiente e outros agentes que
atacam a integridade do elemento. Para betão armado isto é ainda mais importante já que um
dos elementos usado, o aço, pode sofrer rapidamente de processos de corrosão que o danifica.
E armaduras danificadas não reduzem apenas a capacidade resistente da peça onde se
encontram, também revertem o comportamento do betão armado para um elemento frágil, ou
seja, sem qualquer aviso relativamente à rotura, tornando-se assim bastante perigoso para o
seu humano.
É, portanto, essencial garantir a durabilidade de uma estrutura durante o seu tempo de vida
útil. Quanto maior for este tempo de vida, definido logo no projecto, maior são os requisitos
de durabilidade e, claro, maiores são os custos de execução da obra. O EC2 contempla um
parâmetro, chamado Classe Estrutural, que avalia a estrutura de acordo com o seu tempo de
vida útil.

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Classe Valores indicativos do Exemplos


Estrutural período de vida útil (anos)
S1 10 Estruturas temporárias(1)
S2 10 a 25 Partes estruturais substituíveis (apoios, ...)
S3 15 a 30 Estruturas para agricultura
S4 50 Edifícios e outras estruturas comuns
S6 100 Monumentos, pontes e outras obras públicas
(1) Estruturas que podem ser desmontadas para serem reutilizadas não são consideradas
temporárias

4.3.1 – Mecanismo de deterioração


Existem vários mecanismos de deterioração de estruturas de betão. Os principais são:

Carbonatação
Corrosão das armaduras: {
Cloretos

Exemplo de deterioração por carbonatação.

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Ataque dos sulfatos

Reacções álcalis − agregados


Ataque químico do betão: Ataque dos ácidos, águas puras e
sais de amónio e magnésio

{ Acção da água do mar

Exemplo de reacção álcalis – agregado no viaduto Duarte Pacheco em Lisboa, antes de


este ser reparado.

Ataque Biológico

Desgaste por erosão, abrasão e cavitação

Outros: Ciclos de gelo − degelo

Acção do fogo

{ Cristalização de sais

As reacções químicas mais importantes são:


• Reacção dos sulfatos com os aluminatos da pasta de cimento (reacção expansiva)
• Reacção dos álcalis com os agregados reactivos do betão (reacção expansiva)
• Reacção dos ácidos, sais de magnésio, sais de amónio e águas puras sulfatos com a
pasta de cimento (perda das propriedades ligantes)

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4.3.2 – Exposição ao meio ambiento


Como é de esperar, a exposição ao meio ambiente é que determina o tipo de ataque que o
elemento de betão sofre. O EC2 categoriza então os vários possíveis meios ambientes
agressivos em várias Classes de Exposição, descritas no Quadro 4.1.

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Os seguintes exemplos indicam de forma mais precisa a Classe de Exposição a ter em


conta nos vários pontos de uma estrutura de betão.

Exemplo tirado da sebenta do Professor José Noronha da Camara

Zonas 1 e 3 – XC4 – Betão sujeito a contacto pouco prolongado com a água


Zona 2 – XC2/XD3 – Betão sujeito a contacto prolongado com a água e com o risco de
pulverizações contendo cloretos
Zona 4 – XC3 – Betão exterior protegido da chuva
Zona 5 – XC2 – Ambiente húmido raramente seco

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Zona Atmosférica – Corrosão das Armaduras (XS1 – Sal transportado pelo ar mas sem
contacto directo com a água)
Zona de Rebentação – Corrosão das Armaduras (XS3 – Zona das marés)
Erosão do Betão
Zona de Maré – Ataque Químico do betão (XS3, XA)
Corrosão das armaduras
Erosão do Betão
Ataque Biológico
Zona Submersa – Ataque Químico do Betão (XS2 – zona permanentemente submersos)
Ataque Biológico

4.3.3 – Período de iniciação e período de propagação


Em termos de degradação de uma estrutura de betão armado, é importante ter noção de que
esta degradação não ocorre de forma linear ao longo do tempo. Existe aquilo a que se pode
chamar de ‘período de iniciação’, um período de tempo em que o nível de deterioração quase
não aumenta. Mas quando o nível de degradação abre caminho para que os agentes agressivos
cheguem às armaduras, o nível de degradação começa a aumentar muito rapidamente em
pouco tempo.

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O final do período de iniciação representa a despassivação das armaduras e o início do


desenvolvimento da corrosão.
A melhor forma de garantir um maior período de iniciação é o de ter recobrimento de betão
adequado (ver Pré-dimensionamento). A seguinte imagem mostra isso mesmo para a
degradação por carbonatação.

Inspecções periódicas também são importantes, mesmo quando não há degradação visível.
O seu custo é muitíssimo inferior a qualquer custo de reparação ou reforço que depois se
tenha de fazer caso o elemento entre no período de propagação.

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4.3.4 – Despassivação das armaduras


Dentro do betão, as armaduras encontram-se protegidas contra a corrosão devido ao meio
alcalino do betão envolvente (hidróxido de cálcio e hidróxido de sódio e potássio possuem um
pH de 12,5 a 13,5). Nestas condições forma-se, em redor da armadura, uma película passiva
que funciona como barreira protectora contra a corrosão.

Quando o pH desce para valores abaixo de 11, ou o teor de cloretos ultrapassa o valor
crítico, a película passiva é destruída e a corrosão das armaduras inicia-se.

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4.3.5 – Corrosão das armaduras


A corrosão das armaduras de aço consiste num processo electroquímico (ou seja, envolve
correntes eléctricas e reacções químicas que ocorrem dentro do ferro), como é ilustrado nas
seguintes imagens:

Como é possível ver, à medida a armadura vai sendo despassivada, começa-se a dar a
dissolução do aço. Dessa dissolução origina-se uma corrente de electrões dentro da armadura
e quando esses electrões chegam a uma zona da armadura que tenha acesso a oxigénio e água,
estes vão reagir com a água e oxigénio, reduzindo-o. O produto dessa redução, OH-, é depois
transportado dentro do betão e ao encontrar uma zona onde exista produto da dissolução do
ferro, Fe++, e a reacção de ambos origina ferrugem (sob a forma de Fe(OH)2).

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4.3.6 – Efeitos da deterioração


Para além de isto reduzir a área resistente da armadura, a corrosão tem o grande problema
de o produto que dela resulta ser um material de grande volume que quebrará o betão para se
puder expandir.
Se o betão que protege a armadura é quebrado, não só se perde a aderência a este (e
consequentemente as transmissões de forças deixam de estar asseguradas, como a armadura
fica mais exposta e mais rápido será o processo de dissolução do aço e de corrosão das
armaduras (daí o nível de degradação, dentro período de propagação, crescer muito
rapidamente).

Exemplo de armaduras a sofrerem corrosão.

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5 – Dimensionamento de vigas e pilares


O cálculo apresentado anteriormente é uma de várias maneiras para dimensionar uma
secção de betão armado, contudo requer que o cálculo seja repetido sucessivamente para
várias secções que possuam uma quantidade de armadura diferente. Isto torna-o inviável para
o cálculo global de uma estrutura.
Existe, contudo, um processo mais rápido e também ele simples que nos leva a
dimensionar, por completo, a estrutura no global. Mas antes de entrar nele é necessário ver em
primeiro de que forma se vão calcular os esforços nos vários elementos da estrutura. É
também importante ter noção de como as cargas se transmitem entre os vários elementos de
uma estrutura. Por regra, as cargas são aplicadas maioritariamente na cobertura/lajes, sendo
que estas depois descarregam em vigas (ou directamente em pilares, ver Lajes Fungiformes),
que por sua vez descarregam em pilares. Os pilares largam as suas cargas nas sapatas sendo
que estas transmitem-nas depois para o solo.
Quando já se compreende bem o dimensionamento de uma estrutura de betão armado,
avaliam-se os elementos de acordo com a ordem apresentada em cima (começando sempre
pelos pisos superiores e descendo até à fundação). Mas como esta sebenta serve de apoio às
aulas de betão armado, ela seguirá o esquema habitual dessas aulas, sendo avaliado em
primeiro o comportamento de vigas à flexão, já que os cálculos usados aqui servem
posteriormente para o cálculo de outros elementos.

O dimensionamento em si, de qualquer peça de betão armado, é um processo iterativo. ou


seja, começa-se por calcular a estrutura para uma dada dimensão de secção e vai-se verificar
se é possível ter essa dimensão. Se sim, pode-se optar já por essa. Se não verifica, é preciso
repetir os passos considerando outras dimensões de secção.
Mesmo que os passos indiquem que a solução encontrada está dentro das normas, é
necessário lembrar que por vezes é possível arranjar uma solução melhor, que gaste menos
material.

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5.1 – Dimensionamento de vigas à flexão


Quando se fala em dimensionar à flexão, é essencial compreender o tipo de flexão que se
está a considerar, se simples, composta ou desviada. Usando o seguinte pórtico como
exemplo:

Para este pórtico, qual a situação de apoio da viga?

OU

Dando um valor à carga uniformemente distribuída poderemos ver resultados mais


concretos de diagramas de Momentos Flectores:

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Aqui se compreende que os maiores momentos positivos existem quando se considera a


viga como simplesmente apoiada. Já os maiores momentos negativos nos pontos extremos
existem quando se considera o pórtico inteiro e a junção de viga/pilar como sendo um nó
rígido.
Mesmo que se considerasse um pórtico maior, com mais vigas, os maiores momentos
positivos e negativos no interior só existiriam se cada pilar fosse considerado como um apoio
duplo, isto porque tal situação seria a de uma viga isostática. Quando se considera o pórtico
por inteiro, e a junção de viga/pilar como sendo um nó rígido, a estrutura passa a ser
hiperestática e, portanto, comporta-se melhor, distribuindo os esforços e reduzindo os
momentos flectores aplicados, com a excepção dos pilares extremos que obtêm momentos
flectores negativos superiores num esquema de estrutura hiperestática.
Qual destes cenários corresponde à realidade? Nenhum, na realidade a junção de
vigas/pilares tem um comportamento que está entre estes 2 modelos. Numa construção
normal, em que as vigas são betonadas depois do betão nos pilares ter ganho resistência, a
viga só estará verdadeiramente ligada ao pilar pelas armaduras deste, já que a ligação entre o

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betão de cada elemento será fraca. Assim, a junção de viga/pilar não funciona como
encastramento por causa da separação de betões, mas também não funciona como apoio
simples devido à ligação que existe com as armaduras do pilar.
Em termos de comportamento, esta junção aproxima-se mais de um apoio duplo do que um
encastramento, mas o ‘grau de encastramento’ existente ali é desconhecido. Devido a isto,
opta-se por considerar a pior situação de momentos e torna-se então óbvio que a situação mais
desfavorável é quando se considera que uma viga, mesmo quando apoiada em pilares, possui
apenas apoios duplos ou simples, ou seja não tem a rotação impedida no ponto de junção com
estes.

Mais à frente consideram-se possíveis momentos que existam nos pilares extremos,
momentos esses que para o modelo usado não são considerados.
Por se considerar este modelo, torna-se também improvável que exista esforço axial nelas,
a menos que existam cargas aplicadas nos pilares, algo que existiria de certeza se o modelo
usado fosse o do pórtico hiperestático. Isto, contudo, é benéfico já que efeitos de compressão
(o tipo de esforço axial geralmente aplicado em pórticos), são benéficos para combater as
tracções aplicadas pela flexão. Assim, é preferível estar dentro da segurança e considerar que
as vigas estão a trabalhar à flexão simples e não à composta.
Vigas também não trabalham à flexão desviada, já que é difícil fornecer momentos
flectores que causem flexão desviada numa viga (geralmente, mesmo quando outros
elementos descarreguem dentro da viga em estudo, estes fornecem momentos flectores
concentrados na direcção dos momentos principais da viga ou fornecem momentos torsores).

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Passos do dimensionamento de vigas à flexão:


a) Escolher materiais. Tipo de betão, de aço, indicar classes de exposição ambiental, etc.
b) Pré-dimensionar as secções em estudo, escolhendo as dimensões delas, assumir o
máximo de diâmetro dos varões que lá vão ser colocados, calcular recobrimento, etc.
c) Calcular os esforços. Usar ELU e combinações de acções para obter a envolvente de
esforços e calcular ELS com a combinação indicada no Quadro 7.1N
d) Determinar as secções a analisar. São geralmente aquelas com pontos de momento
máximo positivo e momento máximo negativo.
e) Calcular as armaduras resistentes
• Condição de segurança: Mrd ≥ Msd
• Definir o recobrimento c e a altura útil d
• Calcular o Momento Flector reduzido µ
• Calcular a percentagem mecânica de armadura ɷ
• Calcular a área de armadura necessária (As,nec)
• Escolher a armadura a aplicar (As,apl)
f) Verificar disposições construtivas
• Armadura mínima e máxima (As,min e As,max)
• Espaçamento mínimo das armaduras de tracção (Smin)
• Armadura mínima para fendilhação (As,min fend)
• Espaçamento máximo de varões para controlo da fendilhação (Smax fend)
• Controlo da deformação (verificação L/d)
• Armadura nos apoios extremos (As,apoio)
• Armadura de distribuição (As,dist)
g) Interrupção de armaduras
h) Uniformização de armaduras
i) Comprimento de amarração

5.1.1 – Escolher materiais a usar


O primeiro passo no dimensionamento de qualquer elemento ou estrutura de betão armado
é decidir o tipo de material a usar. Para elementos de betão armado, a escolha prende-se
principalmente no tipo de betão e aço a utilizar.

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Quando se escolhe um tipo de aço e de betão está-se também a escolher as restantes


características, como a rugosidade do aço ou a fluidez do betão. Para efeitos de cálculo do
dimensionamento estrutural aqui apresentado, as restantes características não têm influência,
com excepção da dimensão máxima do agregado que se pode encontrar no betão escolhido.
Este parâmetro, que se denomina de dg, será posteriormente usado para garantir algumas
condições de execução e segurança.

Com os materiais escolhidos, é também importante determinar o ambiente a que a peça vai
estar exposto. Como se sabe, o meio ambiente tem agentes agressivos para o betão e
armaduras, pelo que quanto mais agressivo o ambiente mais forte deve ser o betão ou maior
deverá ser a camada de betão que separa as armaduras desse meio ambiente.
Segundo o EC2, a agressividade do ambiente pode ser dividida em várias classes, tal como
se encontra no quadro 4.1 (secção 4.2). A escolha da agressividade do ambiente é de extrema
importância, afectando logo o dimensionamento no seu ponto mais básico: o pré-
dimensionamento. Uma má escolha da classe de exposição pode levar a elementos cuja
armadura está fracamente protegida, ou seja, uma armadura que sofrerá de efeitos de corrosão
mais cedo do que o previsto.

5.1.2 – Pré-dimensionamento
O segundo passo é pré-dimensionar o elemento, escolhendo as dimensões da secção em
estudo. Geralmente, vigas tendem a ter um formato rectangular ou em ‘T’.
Para além de escolher a secção do elemento em estudo, é também necessário tomar já a
decisão sobre o diâmetro máximo de varões longitudinais e transversais que vão estar
aplicados na viga. Este diâmetro máximo indicará o limite do tamanho de varões que se pode
colocar. Se forem escolhidos varões com dimensões superiores a este diâmetro máximo,
torna-se necessário refazer os cálculos feitos na parte do pré-dimensionamento, e
consequentemente todos os restantes cálculos do elemento.
Deve-se, portanto, tentar ao máximo não ultrapassar estes diâmetros máximos. Para o caso
de vigas submetidas à flexão simples é usual assumir Ø16 para as armaduras longitudinais e
Ø8 para as armaduras transversais.

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5.1.2.1 – Recobrimento
Conhecendo a secção, materiais a utilizar, e já com os diâmetros máximos definidos, deve-
se passar para o cálculo do recobrimento necessário para proteger as armaduras do meio
ambiente. O cálculo do recobrimento encontra-se na secção 4.4 do EC2. De acordo com esta
secção, o valor do recobrimento, cnom, pode ser obtido pelas seguintes fórmulas

Onde os parâmetros importantes são:


• Δ cdev equivale à tolerância de execução, ou seja uma margem de segurança que se deixa
devido à execução em obra. O valor recomendado para este parâmetro é de 10 mm
(secção 4.4.1.3 do EC2).
• cmin,b corresponde ao recobrimento mínimo para requisitos de aderência
• cmin,dur corresponde ao recobrimento mínimo relativo às condições ambientais.

Os restantes parâmetros possuem um valor recomendado de 0 mm, podendo este ser


alterado de acordo com o apresentado no EC2 secção 4.4.1.2.
Por sua vez, o cmin,b é obtido a partir do Quadro 4.2, que nos indica que este deverá ser
igual ao diâmetro dos varões se estes forem isolados (o mais usual em obras comuns de betão
armado), ou ao diâmetro equivalente se os varões forem agrupados. Se para o betão usado o
valor de dg for superior a 32 mm, o valor de cmin,b deverá ser aumentado em 5 mm.

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Quanto ao cmin,dur, este é determinado a partir da combinação de 2 quadros: o Quadro 4.3N


e o Quadro 4.4N. No primeiro quadro avalia-se a classe estrutural do elemento em função de
vários critérios aos quais o elemento pode ou não obedecer. A Classe Estrutural é um
parâmetro que avalia o edifício em termos de tempo de útil. Usualmente começa-se com uma
Classe Estrutural de S4, a usada para caracterizar um tempo de vida útil de 50 anos. Se o
tempo de vida útil for de 30 anos ou menos, deve-se adotar por uma Classe Estrutural de S3.

Começando então na Classe Estrutural inicial (como referido, usualmente a S4), avalia-se
de seguida os vários critérios para ver se o elemento obedece a algum deles, tendo em conta a
sua classe de exposição. Se obedecer, teremos de reduzir ou aumentar a Classe Estrutural
inicial de acordo com o indicado no Quadro 4.3N, se não obedecer esta mantém-se inalterada.
Com a nova Classe Estrutural determinada, prossegue-se para o Quadro 4.4N de onde
tiramos o valor de cmin,dur em função da Classe Estrutural determinada e a classe de exposição.

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5.1.2.2 – Altura Útil


Todo o dimensionamento de peças de betão armado parte do binário entre as forças de
compressão e as forças de tracção aplicadas numa estrutura. Contudo, como esse binário pode
variar em função da posição da linha neutra (como foi mencionado anteriormente), opta-se
por usar a distância entre o centro das armaduras de tracção e a fibra mais comprimida (onde
ocorrem as maiores forças de compressão). A esta distância chama-se de altura útil,
simplesmente denominada de ‘d’, e a sua dimensão depende da secção do elemento e das
armaduras que lá existem. Como neste ponto ainda não se calculou qualquer armadura,
determina-se d considerando que estão aplicadas armaduras cujo diâmetro é igual ao diâmetro
máximo estabelecido anteriormente.
A seguinte imagem mostra a altura útil em secções rectangulares de betão armado (a da
esquerda com a tracção na face inferior, a da direita com a tracção na face superior).

As’
As

As As’

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Onde:
As – corresponde às armaduras de tracção
As’ – corresponde às armaduras de compressão
a – corresponde à distância entre o centro das armaduras de compressão e a fibra mais
comprimida. Mesmo que não exista armadura de compressão, se existir lá outra armadura,
este parâmetro continua a ser a distância entre o centro dessas armaduras à fibra mais
comprimida.

NOTA: Mesmo que, segundo o cálculo, não existam armaduras de compressão, quando se
estiver a concretizar a viga estudada, coloca-se sempre um valor de As’ que seja pelo menos
10% de As, às quais se chama de armadura de distribuição.
Assim:
∅long
d = h − cnom − ∅est − ⁄
2
∅armaduras de compressão
a = cnom + ∅est + ⁄
2

Quando não se possui informação suficiente sobre a estrutura (nomeadamente a sua classe
estrutural, a sua classe de exposição, etc.) pode-se considerar, por simplificação e só nestas
situações, que:
d = 0,9 × h
a = 0,1 × h

5.1.2 – Cálculo de esforços


Tendo a secção pré-dimensionada, é possível calcular os esforços a que o elemento vai
estar submetido, dependendo das cargas. As cargas são calculadas tal como apresentado no
capítulo 2, tendo em conta, claro, as cargas permanentes e sobrecargas aplicadas no elemento.
Usualmente, para elementos de betão armado, considera-se que o betão armado tem um
peso próprio entre 22 a 25 kN/m3. Logo, um elemento terá um peso próprio, por metro de
comprimento, igual ao peso próprio do betão armado multiplicado pela secção do elemento
em estudo.

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Juntamente com o peso próprio, geralmente há que considerar o revestimento do elemento


bem como o efeito de paredes divisórias, caso existam. Tudo isso entra para o cálculo das
cargas permanentes.
Quanto às cargas variáveis, dependerá das acções aplicadas no edifício, sendo que a
sobrecarga deve ser sempre considerada já que esta é devida à utilização do edifício por parte
de seres humanos.
Com tudo isto pode-se calcular então as combinações de acções e combinações de cargas,
não esquecendo de aplicar quaisquer outras cargas pontuais ou lineares que estejam presentes
(como por exemplo, a carga que aparelhos de ventilação apliquem sobre uma cobertura), e
assim obter as envolventes de esforços do elemento em estudo.

5.1.3 – Secções a dimensionar


Com as várias envolventes ficamos logo a saber que secções se deve dimensionar: nada
mais do que as que tiverem maiores esforços aplicados. Isto pode levar a que se tenha de
dimensionar várias secções. Com essas dimensionadas, as armaduras calculadas aplicam-se
depois às restantes.
É preciso ter atenção que devido à envolvente de esforços, é bem possível que uma dada
secção tenha esforços contrários aplicados nela (por exemplo, ter momentos positivos e
momentos negativos). A secção terá de ser dimensionada para AMBOS os esforços. Claro que
eles não se encontram aplicados ao mesmo tempo, eles foram causados por combinações de
cargas distintas. Mas numa dada altura poderá estar um esforço e noutra estar o esforço
oposto, pelo que é essencial dimensionar então a secção para os dois esforços.

5.1.4 – Cálculo das armaduras a aplicar


Sabendo as secções a usar, é possível determinar a área de armadura que é preciso colocar
nessas mesmas secções para resistir às tracções. Para isso parte-se sempre do princípio de
equilíbrio: Mrd ≥ Msd. Ou seja, o momento flector resistente terá de ser no mínimo igual ao
aplicado.
Como já foi visto, o betão em si não resiste às tracções que os momentos flectores aplicam,
logo essas tracções são absorvidas pelas armaduras. Então, o dimensionamento estrutural de

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peças de betão armado procura determinar a área de armadura que uma dada secção precisa de
ter para resistir aos momentos nela aplicados.
Primeiro reduz-se o momento flector aplicado, usado uma fórmula que tem em conta as
dimensões da secção e a resistência do betão. Este Momento Reduzido, μ, é dado por:
Mrd
μ=
(b × d2 × fcd )
Onde:
Mrd – momento flector resistente que deverá ser, no mínimo, igual ao aplicado. Deverá
entrar em absoluto e não com qualquer sinal negativo para o caso de momentos flectores
negativos.
b – base da secção
d – altura útil da secção
fcd – tensão de dimensionamento de cedência do betão. Não esquecer que se Mrd vier em
kNm, então fcd não poderá vir em MPa (N/mm2) mas sim em kPa (kN/m2)

Nota: o momento reduzido não possui unidades

O valor do momento reduzido é também útil para definir se uma secção será simplesmente
armada, ou seja, se só terá armaduras de tracção para resistir à flexão, ou se será duplamente
armada, ou seja, se terá armaduras de tracção e armaduras de compressão para resistir à
flexão. Para tal, determina-se o momento reduzido limite e compara-se com o calculado.
Se µ ≤ µlim, então teremos uma secção simplesmente armada (apenas armadura de tracção).
Se µ ≥ µlim então a secção será duplamente armada (armadura de tracção e armadura de
compressão).
A determinação de µlim dependerá das fórmulas ou tabelas que se usem para calcular a
percentagem mecânica de armadura (ver em baixo).

Uma vez calculado o momento reduzido, determina-se a percentagem mecânica de


armadura, ω. Esta pode ser obtida de várias formas, mas as mais comuns são:
Nota: a percentagem mecânica de armadura não possui unidades

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Recorrendo a tabelas
Como as existentes no livro Tabelas e Ábacos da professora Helena Barros. Essas tabelas
foram obtidas recorrendo também ao EC2 e fornecem o valor da percentagem mecânica de
armadura bem como outros valores interessantes como a relação entre posição da linha neutra
e altura útil.
A sua leitura é fácil, basta ir à página que corresponde ao tipo de estrutura, betão e aço e
ler o valor de ω em função do valor do momento reduzido. Para secções que tenham
armadura resistente na face superior e inferior, este valor dependerá ainda da proporção entre
as duas armaduras.
Para estas tabelas, pode-se estabelecer que o µlim será o momento reduzido máximo para o
qual ainda há valores na tabela em questão. Se o momento reduzido calculado for superior ao
das tabelas, então a secção deverá ser duplamente armada, sendo depois necessário determinar
a armadura de compressão através da proporcionalidade escolhida entre As e As’.

Recorrendo a fórmulas
Existem também fórmulas para o cálculo de ω, também elas baseadas no EC2, como as do
Engº Eduardo Júlio. Estas são:

Em que k1 e k2 dependem da classe de resistência do betão e podem ser obtidos nas


seguintes tabelas:
Classe ≤50/60 55/67 60/75 70/85 80/95 90/105
k1 0,810 0,742 0,695 0,637 0,599 0,583
k2 0,416 0,392 0,377 0,362 0,355 0,353

Por sua vez, µlim:

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A relação entre a posição da linha neutra e a altura útil, ∝= x/d, também terá um limite
dado por:

Já a percentagem mecânica de armadura também terá o limite de:

Sabendo que:
εcu2 pode ser obtido no Quadro 3.1 do EC2, e depende do tipo de betão
εyd é o valor da extensão de cedência do aço, visto anteriormente.
É então possível obter uma tabela com os valores limites considerados para que as
fórmulas se mantenham válidas, valores que vão depender do tipo de betão e do tipo de aço
usado.
Classes ≤50/60 55/67 60/75 70/85 80/95 90/105
S400 αlim 0,668 0,641 0,625 0,608 0,599 0,599
ωlim 0,541 0,475 0,434 0,388 0,359 0,350
µlim 0,391 0,356 0,332 0,302 0,283 0,276
S500 αlim 0,617 0,588 0,572 0,554 0,545 0,545
ωlim 0,499 0,436 0,397 0,353 0,326 0,318
µlim 0,371 0,336 0,312 0,282 0,263 0,257
S600 αlim 0,573 0,543 0,526 0,509 0,499 0,499
ωlim 0,464 0,403 0,366 0,324 0,299 0,291
µlim 0,353 0,317 0,293 0,264 0,246

Quando se opta pelas fórmulas, e relembrando que se:


Se µ ≤ µlim, então teremos uma secção simplesmente armada (apenas armadura de tracção).
Se µ ≥ µlim então a secção será duplamente armada (armadura de tracção e armadura de
compressão).

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Será necessário calcular duas percentagens mecânicas de armadura, uma para a armadura
de tracção, ω, e outra para a armadura de compressão, ω’.

Com a percentagem mecânica de armadura calculada, passa-se para o cálculo da armadura


necessária para resistir aos esforços de tracção (e, caso se verifique, de compressão):
fcd
As,nec = ω × b × d × ⁄f
syd

fcd
As,nec ′ = ω′ × b × d × ⁄f
syd

Nota: se as unidades de b e de d forem metros, o resultado sai em m2 sendo depois


necessário converter para cm2

Só então se pode escolher que armadura aplicar na secção em estudo, lembrando sempre
que a armadura escolhida terá de possuir uma área superior à necessária. Existem já tabelas
que fornecem os valores das áreas para várias combinações possíveis de armaduras (Ø
corresponde ao diâmetro dos varões de aço).
Área de secções de varões (cm2)

Número de varões
Ø 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
6 0,28 0,57 0,85 1,13 1,41 1,70 1,98 2,26 2,54 2,83 3,11 3,39
8 0,5 1,01 1,51 2,01 2,51 3,02 3,52 4,02 4,52 5,03 5,53 6,03
10 0,79 1,57 2,36 3,14 3,93 4,71 5,50 6,28 7,07 7,85 8,64 9,42
12 1,13 2,26 3,39 4,52 5,65 6,79 7,92 9,05 10,18 11,31 12,44 13,57
16 2,01 4,02 6,03 8,04 10,05 12,06 14,07 16,08 18,10 20,11 22,12 24,13
20 3,14 6,28 9,42 12,57 15,71 18,85 21,99 25,13 28,27 31,42 34,56 37,70
25 4,91 9,82 14,73 19,63 24,54 29,45 34,36 39,27 44,18 49,09 54,00 58,90
32 8,04 16,08 24,13 32,17 40,21 48,25 56,30 64,34 72,38 80,42 88,47 96,51
Ou seja, se escolhermos colocar 4 varões com 12 mm de diâmetro, teremos na secção uma
área de armadura de 4,52 cm2.

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Existe também uma tabela que fornece a área de armadura aplicada quando se escolhem
armaduras distribuídas, ou seja, em vez de especificar o número de varões, especifica-se o
espaçamento entre estes. Esta tabela, contudo, só é válida para peças cuja da secção seja
superior a 1 metro na dimensão perpendicular àquela em que vão ser colocadas as armaduras.

Áreas de Armaduras Distribuídas (cm2/m)

s (cm) 10.0 12.5 15.0 17.5 20.0 25.0 30.0 35.0


Ø
6 2,83 2,26 1,88 1,62 1,41 1,13 0,94 0,81
8 5,03 4,02 3,35 2,87 2,51 2,01 1,68 1,44
10 7,85 6,28 5,24 4,49 3,93 3,14 2,62 2,24
12 11,31 9,05 7,54 6,46 5,65 4,52 3,77 3,23
16 20,11 16,08 13,40 11,49 10,05 8,04 6,70 5,74
20 31,42 25,13 20,94 17,95 15,71 12,57 10,47 8,98
25 49,09 39,27 32,72 28,05 24,54 19,63 16,36 14,02

Ou seja, se escolhermos colocar varões com 16 mm de diâmetro, afastados 15 cm entre si,


teremos na secção uma área de 5,24 cm2 por cada metro da secção do elemento.

Para o dimensionamento de vigas, usa-se a primeira tabela já que as vigas raramente têm 1
metro de base.

É essencial ter em conta que quando se dimensionam estruturas de betão armado, procura-
se simetria na disposição de armaduras. E para vigas nunca se deve colocar apenas um único
varão. A questão da simetria na colocação de armaduras prende-se com a necessidade de ter
uma distribuição equilibrada das tracções dentro da secção. Se não existir simetria na
distribuição de armaduras, considerando os eixos que passam no centro de gravidade da
secção como eixos de referência, poderá ocorrer concentração de tracções nas zonas onde
exista menor distribuição de armaduras, o que fará o betão entrar em rotura sem que exista lá
aço para absorver essas tracções, colapsando-a ou danificando a estrutura.

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O mesmo principio aplica-se quando só se coloca um varão, que mesmo centrado não
conseguirá impedir uma concentração de tracções nos cantos da secção, levando estes a
desagregarem-se devido à rotura do betão por tracção.

De tudo isto pode-se concluir:


• O momento resistente é quase proporcional à área de armadura de tracção, para
momentos não muito elevados. Para momentos elevados, a variação é menos
significativa devido a ocorrer uma diminuição do valor da altura útil (d) à medida que se
aumenta o diâmetro dos varões.
• O efeito da armadura de compressão no valor do momento resistente, apenas é
importante para esforços elevados. Para esforços usuais, a variação é pouco
significativa.
• A largura da secção apenas tem influência significativa para esforços elevados. Para
esforços usuais, em que geralmente a área comprimida é limitada, a variação é pouco
significativa.
• O aumento da classe do betão tem uma influência equivalente à dos parâmetros
anteriores, largura da secção e/ou armadura de compressão, portanto só se torna
importante para esforços mais significativos

Exemplo Prático
Pegando no exemplo prático já apresentado no capítulo 2

C25/30

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Para se iniciar o calculo, é necessário identificar as secções mais críticas, sendo essas as
que têm maiores momentos flectores. Assim:
- A secção S1 corresponde à secção com M+=16,609 kNm e está aplicada a 1,5 metros do
apoio esquerdo. Na secção S1 existe também um momento negativo aplicado, que tirando do
diagrama é de -5,147 kNm.
- A secção S2 corresponde à secção do apoio intermédio que possui um M– = -57,946 kNm
- A secção S3 corresponde à secção com M+=51,349 kNm e está aplicada a 3,75 metros do
apoio intermédio.

Com as secções determinadas, calculam-se os valores da tensão de cedência do betão e do


aço:
fck⁄ 25
fcd = α × γc = ⁄1,5 = 16,667 MPa
fsyk
fsyd = ⁄γ = 500⁄
s 1,15 = 434,78 MPa

De seguida, é necessário determinar a altura útil e para isso será é preciso calcular o
recobrimento que terá de haver na viga.

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Para o cálculo deste será necessário definir um diâmetro máximo de varões longitudinais e
transversais que se espera meter na estrutura (valores que depois não são ultrapassados).
Vamos assumir que: Ølong = Ø16 (16 mm, para compressão e tracção) e Øtrans = Ø10 (10 mm)

De acordo com o Quadro 4.2, Cmin,b será igual ao Ølong assumindo como máximo. Ou seja,
Cmin,b = 16 mm

Passando para o Quadro 4.3N, vemos não se vai reduzir nenhuma Classe Estrutural no
Quadro 4.4N, já que o tempo de vida útil de projecto não é de 100 anos (não está indicado
como tal), a classe de resistência do betão não é suficiente para reduzir para a classe de
exposição da estrutura (para isso precisaria de ser um betão C35/45), não é um elemento com
geometria de laje, e não há nenhuma indicação de garantia especial de controlo de qualidade
da produção do betão.
Assim, no Quadro 4.4N, obtém-se o Cmin,dur para uma Classe Estrutural S4 e uma classe de
exposição XC2, que será: Cmin,dur = 25 mm

Assim: Cmin = max{16; 25; 10} = 25 mm

Sabendo que ΔCdev = 10 mm, então Cnom = Cmin + 10 mm = 35 mm

Com o valor do recobrimento, é possível calcular o valor da altura útil.


∅long
d = h − cnom − ∅est − ⁄ = 450 − 35 − 10 − 16⁄ = 397 mm = 0,397m
2 2
∅long de compressão
a = cnom + ∅est + ⁄ = 35 + 10 + 16⁄ = 53 mm = 0,053m
2 2

Sabendo os momentos flectores aplicados, define-se o resistente como sendo igual a esse
valor para cada secção e calcula-se o momento reduzido, seguido da percentagem mecânica

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de armadura. Só assim, e tendo já os valores da altura útil e tensões de cedência dos materiais,
se pode determinar a área de armadura necessária e escolher armaduras a aplicar.
A próxima tabela apresenta os vários valores calculados através das fórmulas do professor
Eduardo Júlio, bem como a verificação dos limites.
Secção Mrd µ > µlim? ω > ωlim? As,nec As,apl (cm2)
(kNm) (cm2)
18,609 0,02361 Não 0,02391 Não 1,092 2Ø10 (1,57)
S1
-5,147 0,00653 Não 0,00655 Não 0,3 2Ø8 (1,01)
S2 -57,946 0,07353 Não 0,07654 Não 3,494 2Ø16 (4,02)
S3 51,349 0,06516 Não 0,0675 Não 3,082 3Ø12 (3,39)

Se ω for calculado pelas tabelas (e recorrendo à tabela da página 36 do livro Tabelas e


Ábacos de Dimensionamento da professora Helena Barros) temos:
Secção Mrd (kNm) µ ω As,nec (cm2) As,apl (cm2)
18,609 0,02361 0,02432 1,11 2Ø10 (1,57)
S1
-5,147 0,00653 0,00653 0,3 2Ø8 (1,01)
S2 -57,946 0,07353 0,07653 3,494 2Ø16 (4,02)
S3 51,349 0,06516 0,06719 3,068 3Ø12 (3,39)

Notar que os valores de ω foram obtidos através de interpolação dos valores nas tabelas. É
possível verificar que existe alguma diferença entre estes valores e os anteriores, mas essa
diferença é pequena.
Nenhum dos métodos é ‘mais indicado’ que o outro, ambos são válidos e podem ser
utilizados.

5.1.5 – Disposições construtivas


Não basta saber determinar as armaduras a aplicar numa estrutura, é também necessário ter
em conta que estas precisam de obedecer a limites relacionados com o bom funcionamento do
elemento, boa execução deste e boa resposta às solicitações deste a longo prazo. A todos estes
parâmetros que têm de ser obedecidos, dá-se o nome de disposições construtivas, e estes
variam de regulamento para regulamento.
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5.1.2.1 – Área mínima de armadura


Por forma a garantir uma boa absorção das tracções, por parte das armaduras, é necessário
que esta não tenha uma área demasiado pequena dentro da secção. Se isso não se verificar, a
secção deixa de ser considerada como armada e o efeito das armaduras não deverá ser
contabilizado para o cálculo do momento flector resistente.
De acordo com o EC2 secção 9.2.1.1, o valor mínimo das armaduras pode ser obtido pela
seguinte expressão:
fctm
As,min = 0,26 × × bt × d, com bt = base traccionada da secção
fsyk
Este valor tem um mínimo de: 0,0013×bt×d.
Ou seja, As,min. nunca poderá ir abaixo do valor mínimo indicado pela fórmula de cima. Se
resultar num valor inferior, deverá usar-se o resultado da fórmula do valor mínimo para
indicar qual o valor de As,min. Assim, na prática temos:

fctm
0,26 × × bt × d
As,min = max { fsyk
0,0013 × bt × d

5.1.2.2 – Área máxima de armadura


Por principio semelhante ao anterior, pretende-se que a secção não tenha uma área de
armadura superior a um dado limite máximo. Se isso acontecer, a secção deixará de funcionar
como betão armado e passará a ter um comportamento mais aproximado ao de uma estrutura
mista (ou seja, uma estrutura constituída por betão e perfis metálicos).
Segundo o EC2 secção 9.2.1.1, o valor da área máxima de armadura, valor esse que não
poderá ser ultrapassado, é obtido pela seguinte expressão:

As,max = 0,4 × Área total da secção

5.1.2.3 – Espaçamento mínimo entre armaduras


Para garantir uma boa betonagem e compactação do betão, bem como garantir que se
conseguem mobilizar forças de atrito suficientes entre o betão e as armaduras, a distância livre

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entre armaduras longitudinais não poderá ser inferior a um valor mínimo regulamentar,
apresentado no EC2 secção 8.2. Esse valor é obtido pela seguinte fórmula.
smin = max{∅maior ; (dg + 5 mm); 20 mm}

A distância livre entre varões, s, corresponde à distância medida na horizontal ou vertical


entre as faces dos varões.

Esta pode ser determinada por:


b − 2 × c − z × ∅est − n × ∅long
s=
n−1

Sendo n o número de varões longitudinais e z o número de estribos na secção. Geralmente,


quando se coloca apenas uma cinta à volta das armaduras longitudinais, só vão existir 2
estribos verticais.

5.1.2.4 – Controlo da fendilhação


Como já foi referido, qualquer elemento de betão armado irá sofrer fendilhação quando
submetido a cargas. É, portanto, impossível evitar essa fendilhação, mas é possível controla-la
por forma a que as fendas não fiquem com largura suficiente para exporem as armaduras ao
ambiente.
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Assim, esse controlo é fundamental para garantir a funcionalidade, durabilidade e até


mesmo aspecto do elemento. Segundo o EC 2 secção7.3, é feito limitando a largura máxima
das fendas, wmax, e determinando posteriormente parâmetros que a vai garantir.
A largura máxima de fendas tira-se a partir do Quadro 7.1N e depende não só da classe de
exposição como também do tipo de elemento que se está a estudar. É também neste quadro
que se fica a conhecer a combinação de acções a usar para o cálculo da carga nos Estados
Limites de Serviço.

O EC2 secção 7.3.4 contempla um cálculo mais preciso da largura das fendas, sendo que
depois o resultado não poderá ultrapassar a largura máxima obtida pelo quadro anterior.
Contudo, esse cálculo é extensivo e complexo, sendo preferível adoptar simplificações,
também elas contempladas no EC2, para o controlo da fendilhação em estruturas comuns de
betão armado.
As duas simplificações consistem em garantir uma área mínima de armadura longitudinal
(secção 7.3.2) bem como um espaçamento máximo entre esses varões (secção 7.3.3). Dessa
forma será possível garantir que a distribuição de tracções dentro da secção é tal que as fendas
não vão ultrapassar a largura máxima estabelecida.

Área mínima para controlo de fendilhação


A área mínima de armadura longitudinal necessária para controlar a fendilhação é dada
pela seguinte fórmula:

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k c × k × fct,eff × Act
As,min fend =
σs
Onde:
σs – valor absoluto da tensão máxima admissível depois da formação da fenda. Na pior das
situações este valor será igual a fsyk
fct,eff – valor médio da resistência do betão à tracção. Igual a fctm ou inferior se forem
previstas fendas antes dos 28 dias de cura do betão
k = 1 para vigas com altura inferior a 800 mm, ou 0,65 para vigas com altura superior a
800 mm.
kc é um coeficiente que tem em conta a distribuição das tensões na secção, imediatamente
antes da fendilhação.
Para tracção simples, kc = 1
σc
Para flexão: k c = 0,4 × [1 − ]
k1 ×(h⁄h∗ )×fct,eff

Ned
Em que σc = . Quando só há flexão simples: Ned = 0 logo kc = 0,4
b×h

Act é a área de betão traccionada imediatamente antes da formação da primeira fenda.


Relembrando a secção imediatamente antes da formação da primeira fenda:

Logo, Act será metade da área da secção: Act = (b × h) / 2

Controlar espaçamento máximo dos varões


Para controlar o espaçamento máximo, recorre-se ao Quadro 7.3N, que nos permite tirar o
valor do espaçamento máximo para um dado valor de largura de fenda. Como não se calculou
essa largura, e pretende-se sim dimensionar garantindo que a largura máxima não é
ultrapassada, wk será igual a wmax.

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Para se tirar o valor é, no entanto, preciso calcular a tensão que estará aplicada nas
armaduras longitudinais. Ao contrário do que aconteceu com a armadura mínima de
fendilhação, esta tensão não corresponderá à tensão de cedência do aço, mas sim a calculada
através da seguinte fórmula:
As,nec PELS
σs fend = fsyk × ×
As,apl PELU
Onde:
As,nec é o valor da área de aço necessária de colocar para que a estrutura resista aos ELU
As,apl é o valor da área de aço colocada para resistir aos ELU
PELU é o valor da carga aplicada na secção em estudo, para os ELU
PELS é o valor da carga aplicada na secção em estudo, para os ELS

Controlar diâmetro máximo dos varões


Existe ainda a possibilidade de substituir o controlo do espaçamento máximo pelo controlo
do diâmetro máximo dos varões. Ou seja, calcular qual o maior diâmetro que a armadura
longitudinal poderá ter. Para isso calcula-se a tensão no aço, como apresentado para o
controlo do espaçamento máximo, e depois recorre-se ao Quadro 7.2N.

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Se for optado pela limitação máxima do diâmetro de varões, é preciso ter atenção que o
valor fornecido pelo Quadro 7.2N é Ø*s. Para obter o diâmetro máximo Øs é preciso utilizar a
seguinte fórmula:
(fct,eff ) k c × hcr
∅s = ∅∗s × ×
2,9 2 × (h − d)

hcr é a altura da zona traccionada imediatamente antes da formação da primeira fenda. Ou


seja: hcr = h / 2

5.1.2.5 – Controlo da deformação


Tal como fendilhação, é impossível impedir que os elementos de betão armado sofram
deformações. Mesmo quando não são visíveis a olho nu, qualquer elemento submetido a
cargas (nem que sejam só as do peso próprio) irá sofrer deformações. Essas deformações
podem ser prejudiciais ao funcionamento do elemento, bem como ao seu aspecto.
Em estruturas procura-se que esse limite não ultrapasse L/250 ou L/500 caso a deformação
do elemento possa danificar outros elementos estruturais (sendo L o comprimento da peça).
Em cadeiras como Teoria de Estruturas, aprende-se a calcular a linha da deformada e o
valor da flecha de um elemento em qualquer ponto deste. Contudo esse cálculo assume que o
elemento é homogéneo ou com materiais de proporções (em termos de área) não muito

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distintas, aplicando o mesmo valor da rigidez (EI) para todo o elemento, ou pelo menos
valores constantes e fáceis de obter, o que não acontece com o betão armado.

Calcular a flecha num elemento de betão armado


A flecha a longo prazo (δ∞) de um dado ponto, ou seja, a diferença entre cotas da posição
inicial da secção com a posição actual, é dada por:
Msg × φ
δ∞ = δ0 × (1 + )
Msg × ∑ Msq

Onde:
δ0 – Flecha instantânea
Msg – Momento flector causado apenas pelas cargas permanentes
Msg × Σ Msq – Momento flector causado pela carga obtida através da combinação de
acções considerada para os ELS. A combinação a usar poderá ser a mesma que a dada pelo
Quadro 7.1N
φ – Fluência do betão, usualmente considerado como 2 se não houver mais informações.

Depois de calculada a flecha instantânea, compara-se esta com os valores limites de L /


250 ou L / 500 e se for inferior a este limite então a deformação verifica.
O problema prende-se com o cálculo da flecha instantânea, ou seja, a que ocorre muito
pouco tempo depois da estrutura estar concluída e ter sido submetida às cargas. Esta pode ser
determinada recorrendo ao diagrama das deformações da estrutura ou aplicando conceitos
mais simples e resumidos como fórmulas expeditas.
Por exemplo, para uma viga apoiada em dois apoios, o valor da flecha instantânea é dado
por:
q × L4
δ0 = C1 ×
EI

Onde:
q – é o valor da carga aplicada (usar PELU).
L – o vão da viga.
C1 – parâmetro tirado do seguinte quadro

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Como a flecha instantânea já depende da rigidez é necessário determinar o valor desta. O


valor da rigidez de uma secção de betão armado pode ser obtido considerando uma rigidez
equivalente para toda a secção que é obtida através da seguinte expressão:

Mr 3 Mr 3
EIeq = Ecm × {( ) × Ic + [1 − ( ) ] × III } ≤ Ecm × Ic
Ma Ma

Onde:
Ecm – Módulo de elastidade secante, ver Quadro 3.1 da pag. 36 do EC2
Mr – Momento máximo a que a estrutura resiste sem fendilhar
Ma – Momento flector na secção crítica do vão considerado
Es – Módulo de elasticidade do aço, geralmente = 210 GPA
Ic – Momento de Inércia da secção bruta de betão
III – Momento de Inércia da secção já no Estado II, ou seja, após o aparecimento da
primeira fenda.
b ∙ X03
III = + (αs − 1) ∙ As2 ∙ (X 0 − d2 )2 + αs ∙ As1 ∙ (d − X0 )2
3
Em que:
αs = Es / Ec
d2 = a

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Compreende-se então que calcular a flecha de uma secção é um processo penoso e


complicado. O EC2 secção 7.4.3 apresenta outra maneira de calcular essa deformação, mas
também esse método é penoso e complicado.
É, então, preferível adoptar por simplificações.

Controlar a deformação sem cálculo da flecha


Na secção 7.4.2 do EC2, encontramos o cálculo de um parâmetro que nos permitem
controlar a deformação, dizendo que se esse parâmetro for obedecido não será necessário
calcular a flecha pois esta respeitará o limite de L/250 ou L/500. Este parâmetro consiste na
relação entre vão e altura útil, L/d, que terá um valor máximo.
Ou seja, se uma peça for dimensionada de forma a que a relação entre o seu vão real e a
sua altura útil real não ultrapasse o L/d máximo, não será preciso calcular a deformação que o
elemento sofre. Caso contrário, o calculo da deformação terá de ser feito pois não se sabe se o
limite L/250 ou L/500 fica respeitado ou não.
O EC2 apresenta então as fórmulas para calcular essa relação L/d:

1⁄
𝐿 𝜌0 𝜌0 2
Se ρ ≤ ρ0: = 𝐾 × [11 + 1,5 × √𝑓𝑐𝑘 × + 3,2 × √𝑓𝑐𝑘 × ( − 1) ]
𝑑 𝜌 𝜌

𝐿 𝜌0 1 𝜌′
Se ρ > ρ0: = 𝐾 × [11 + 1,5 × √𝑓𝑐𝑘 × + × √𝑓𝑐𝑘 × √ ]
𝑑 𝜌−𝜌′ 12 𝜌 0

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Onde:
ρ0: taxa de armadura de referência = √fck × 10−3
ρ: taxa de armadura de tracção necessária a meio vão para equilibrar o momento flector
positivo devido às acções de cálculo (para consolas, usa-se a armadura para resistir ao
momento flector negativo)
A+s 𝑛𝑒𝑐
ρ=
(b × d)

ρ': taxa de armadura de compressão necessária a meio vão para equilibrar o momento
flector positivo devido às acções de cálculo. Se não existir esta armadura, ρ' = 0
A′s nec
ρ′ =
(b × d)

fck vem em MPa


K, tem em conta o sistema estrutural em questão, e pode ser obtido recorrendo ao Quadro
7.4N. É importante relembrar que um vão extremo é assim considerado se não tiver nenhum
outro vão de um dos lados, enquanto um vão intermédio tem vãos adjacentes nos dois lados.

O valor de L/d obtido por uma das fórmulas anteriores deve depois ser corrigido, já que
este foi determinado admitindo que para ELS, a tensão no aço numa secção crítica fendilhada
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(a meio vão de uma viga ou laje, ou no apoio de uma consola), é de 310 MPa, algo que só se
obtém quando o aço é A500 e quando a área de armaduras aplicada é exactamente igual à
necessária, o que raramente se verifica. Assim, L/d deverá ser multiplicado por 310/σc
σc pode ser obtido através da seguinte expressão:

310 500
=
σc 𝐴
(𝑓𝑠𝑦𝑘 × 𝑠,𝑛𝑒𝑐 )
𝐴𝑠,𝑎𝑝𝑙𝑖

Ainda é necessário corrigir o valor de L/d para grandes vãos. Sempre que o vão for
superior a 7 metros, L/d deverá ser multiplicado por 7/Leff, sendo Leff igual ao L desde que o
valor do vão seja superior a 7, caso contrário considera-se que Leff entra com o valor de 7 para
esta multiplicação.
Ou seja:
𝐿 𝐿 310 7
= × ×
𝑑 𝑐𝑎𝑙𝑐 𝑑 σc 𝐿𝑒𝑓𝑓

Só então se compara a relação entre os valores reais do elemento para determinar se deixa
de ser necessário calcular o valor da flecha ou não.

5.1.2.6 – Armadura nos apoios


Como já foi referido, a ligação entre viga e pilares não funciona como um apoio
simples/duplo perfeito nem como um encastramento perfeito, estando entre estes dois
modelos. Mas para o cálculo da flexão, considerou-se que esses apoios eram simples/duplos,
o que leva a momentos flectores nulos nos apoios extremos. Se fossem considerados como
encastramentos, haveriam momentos flectores negativos nos apoios extremos.
Devido a não serem apoios simples/duplos perfeitos, vão de facto existir lá momentos
flectores negativos (embora com valores desconhecidos) o que implica a necessidade de
colocar lá armaduras. O EC2 secção 9.2.1.2 apresenta uma solução prática para este
problema: considera-se que em qualquer apoio deverá haver uma armadura longitudinal na
face superior capaz de resistir a 15% do maior momento flector positivo aplicado no
elemento. Ou seja, deve-se colocar nos apoios pelo menos uma armadura longitudinal

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superior que seja 15% da armadura necessária para resistir ao maior momento flector positivo.
Em apoios intermédios, deve-se garantir que a armadura superior aplicada neles é pelo menos
25% da armadura positiva necessária.
Esta armadura terá também de responder às disposições construtivas pois embora não
tenha entrado no cálculo anterior, ela irá estar a absorver forças de tracção.
A armadura de apoio deverá ter um comprimento de 25% do vão.

5.1.2.7 – Armadura de distribuição


Em secções onde exista armadura longitudinal para resistir a tracções, mas não exista
armadura na face oposta (por exemplo, numa secção onde só existam momentos flectores
positivos, com a respectiva armadura, mas não exista armadura na face superior), será
necessário colocar nessa face oposta uma quantidade mínima de armadura para garantir um
bom posicionamento de toda a malha durante a betonagem.
Esta armadura deverá ser 10% da armadura de tracção dessa secção e chama-se a ela
‘armadura de distribuição’, cujo propósito é apenas para garantir uma malha sólida, coesa e
que não será deslocada durante a betonagem.

Exemplo Prático
Pegando no exemplo prático continuado em 5.1.4:

C25/30

fcd = 16,67 MPa


fsyd = 434,78 MPa
d = 0,397 m
Øest max = 10 mm

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Secção Mrd µ > µlim? ω > ωlim? As,nec As,apl (cm2)


(kNm) (cm2)
18,609 0,02361 Não 0,02391 Não 1,092 2Ø10 (1,57)
S1
-5,147 0,00653 Não 0,00655 Não 0,3 2Ø8 (1,01)
S2 -57,946 0,07353 Não 0,07654 Não 3,494 2Ø16 (4,02)
S3 51,349 0,06516 Não 0,0675 Não 3,082 3Ø12 (3,39)

Determinação de As,min e As,max:


Para o tipo de betão usado, C30/37, o valor de fctm é de 2,9 MPa (Quadro 3.1 do EC2)
fctm 2,9
0,26 × × bt × d 0,26 × × 0,3 × 0,397
As,min = max { fsyd = max { 434,78
0,0013 × bt × d 0,0013 × 0,3 × 0,397
0,000207 m2 2
= max { 2 = 2,07 cm
0,000155 m

As,max = 4% da área da secção = 0,04 × 0,3 × 0,45 = 0,0054 m2 = 54 cm2

Determinação de As,min fend:


Relembrar que este exemplo é de uma viga submetida à flexão simples
0,3 × 0,45
k c × k × fct,eff × Act 0,4 × 1 × 2,9 × 2
As,min fend = = = 0,00018 m2 = 1,8 cm2
σs 434,78

Verificação das áreas mínimas e máximas


Secção As,apl (cm2) Verifica Verifica Verifica Nova As,apl
As,min? As,min fend? As,max? (cm2)
2Ø10 (1,57) Não Não Sim 2Ø12 (2,26)
S1
2Ø8 (1,01) Não Não Sim 2Ø12 (2,26)
S2 2Ø16 (4,02) Sim Sim Sim 2Ø16 (4,02)
S3 3Ø12 (3,39) Sim Sim Sim 3Ø12 (3,39)

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Como as armaduras escolhidas para a secção 1 não respeitam o limite da armadura


mínima, estas tiveram de ser alteradas e foram escolhidas armaduras com maior área que
respeitem esse limite.

Secção Nova As,apl (cm2) Verifica As,min? Verifica As,min fend? Verifica As,max?
2Ø12 (2,26) Sim Sim Sim
S1
2Ø12 (2,26) Sim Sim Sim
S2 2Ø16 (4,02) Sim Sim Sim
S3 3Ø12 (3,39) Sim Sim Sim

Determinação de Smin:
Como não foi fornecido nenhum valor para a dimensão máxima do agregado, assume-se
que esta será igual a 20 mm (um valor comum para muitos betões).

smin = max{∅maior ; (dg + 5 mm); 20 mm} = max{16; (20 + 5); 20 mm} = 25 mm

A distância entre varões será calculada para cada armadura.


300 − 2 × 35 − 2 × 10 − 2 × 12
𝑆1
2−1

𝑆1 300 − 2 × 35 − 2 × 10 − 2 × 12 S1 186 mm
b − 2 × c − z × ∅est − n × ∅long 2−1 S
s= = = 1 {186 mm
n−1 S2 178 mm
300 − 2 × 35 − 2 × 10 − 2 × 16
𝑆2 S3 87 mm
2−1

300 − 2 × 35 − 2 × 10 − 3 × 12
𝑆3
{ 3−1

Secção As,apl (cm2) S (mm) Verifica Smin?


2Ø12 (2,26) 186 Sim
S1
2Ø12 (2,26) 186 Sim
S2 2Ø16 (4,02) 178 Sim
S3 3Ø12 (3,39) 87 Sim

Determinação de Smax fend:


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Para este passo é necessário calcular a tensão em cada armadura. É também necessário
determinar a carga de ELS a usar. De acordo com o Quadro 7.3N, a combinação a usar é a
combinação quase-permanente. Nesse mesmo quadro obtemos wmax = 0,3 mm para a classe de
exposição deste exemplo:
Para este ponto pode-se usar a combinação de PELS que seja maior, a de vento = Q1 ou a da
sobrecarga = Q1.
𝑃𝐸𝐿𝑆 = γG × G + φ2,1 × Q1 + φ2,i × Q i = 1,35 × 7,375 + 0,3 × 2 + 0 × 3
= 10,56 kN/m

Notar que o PELU que se usa é aquele que determinou o momento flector na secção em
estudo. Para este exemplo, foi PELU =16,556 kN/m que originou os valores usados para o
dimensionamento das várias secções.
Aplicando a fórmula:
As,nec PELS
σs fend = fsyk × ×
As,apl PELU
Secção As,nec (cm2) As,apl (cm2) σs fend (MPa) Smax fend (mm) S (mm) Verifica?
1,092 2Ø12 (2,26) 154,1 300 186 Sim
S1
0,3 2Ø12 (2,26) 42,33 300 186 Sim
S2 3,494 2Ø16 (4,02) 277,19 150 178 Não
S3 3,082 3Ø12 (3,39) 289,94 100 87 Sm

Como a armadura na secção 2 não verifica o espaçamento máximo, é necessário altera-la.


Isso obriga a verificar todas as disposições construtivas já vistas anteriormente.
Secção Nova As,apl Verifica Verifica S Verifica σs fend Smax Verifica?
(cm2) As,min e As,max? (mm) Smin? (MPa) fend

As,min fend? (mm)


2Ø12 (2,26) Sim Sim 186 Sim 154,1 300 Sim
S1
2Ø12 (2,26) Sim Sim 186 Sim 42,33 300 Sim
S2 3Ø16 (6,03) Sim Sim 81 Sim 184,79 250 Sim
S3 3Ø12 (3,39) Sim Sim 87 Sim 289,94 100 Sim

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Controlo da deformação:
Para controlar a deformação, só se verificam as secções onde esta será mais crítica, ou seja,
as secções onde o momento flector positivo é máximo (a menos que se tratasse de uma
consola, nesse caso usava-se a secção de maior momento flector negativo). Assim sendo, só
se controla a deformação para a secção S1 (momento positivo) e S3.
Para este exemplo, não será calculada a flecha, mas sim controlada a deformação através
da relação L/d.
𝜌0 = √fck × 10−3 = √30 × 10−3 = 0,005477

A+s 𝑛𝑒𝑐 1,092


𝑆1 𝑆1
(b × d) (30 × 39,7) 𝑆1 0,000917
𝜌= + = = {
As 𝑛𝑒𝑐 3,082 𝑆3 0,002588
𝑆3 𝑆3
{(b × d) {(30 × 39,7)

Como ρ ≤ ρ0 para ambas, a fórmula a usar será:


3⁄
𝐿 𝜌0 𝜌0 2
= 𝐾 × [11 + 1,5 × √𝑓𝑐𝑘 × + 3,2 × √𝑓𝑐𝑘 × ( − 1) ]
𝑑 𝜌 𝜌

O valor é posteriormente corrigido por:


310 500
=
σc 𝐴
(𝑓𝑠𝑦𝑘 × 𝑠,𝑛𝑒𝑐 )
𝐴𝑠,𝑎𝑝𝑙𝑖

Como nenhum dos vãos tem uma dimensão superior a 7 metros:


𝐿 𝐿 310
= ×
𝑑 𝑐𝑎𝑙𝑐 𝑑 σc

Como ambas as vigas são vigas extremas, por só terem vão adjacente num dos seus lados,
o valor de K a usar será de 1,3 para ambas.

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Assim, temos (relembrar que L/d real terá de ser inferior ao L/d calc)
Secção As,nec As,apl (cm2) ρ 𝑳⁄ 𝟑𝟏𝟎⁄ 𝑳 𝑳
𝒅 𝝈𝒄 ⁄𝒅𝒄𝒂𝒍𝒄 ⁄𝒅𝒓𝒆𝒂𝒍 Verifica?
(cm2)
S1 1,092 2Ø12 (2,26) 0,000917 303,19 2,07 246,16 10,08 Sim
S3 3,082 3Ø12 (3,39) 0,002588 59,47 1,1 62,60 15,11 Sim

Armadura nos apoios


Por se considerar os apoios como sendo apoios duplos, não existem momentos flectores no
apoio mais à esquerda e no apoio mais à direita. Será então necessário colocar armadura
superior nesses apoios. Esta terá de ser pelo menos 15% da armadura positiva necessária na
secção mais solicitada no respectivo vão.
Para o apoio mais à esquerda:
Apoio
As = 0,15 × 1,092 = 0,1638 cm2
Para o apoio mais à direita:
Apoio
As = 0,15 × 3,082 = 0,4623 cm2

Esta armadura também deverá responder às disposições construtivas. Assim:


Apoio As aplApoio Verifica Verifica S Verifica σs fend Smax Verifica?
As,min e As,max? (mm) Smin? (MPa) fend

As,min fend? (mm)


Esq. 2Ø12 (2,26) Sim Sim 186 Sim 23,11 300 Sim
Dir 2Ø12 (2,26) Sim Sim 186 Sim 65,24 300 Sim

Armadura de distribuição
Este tipo de armadura só existe em secções onde não esteja contemplada nenhuma
armadura na face oposta às tracções. Neste exemplo prático, vemos que:
- A Secção 1 possui tracções em ambas as faces, logo ambas vão ter armadura de tracção.
- Na Secção 2, onde existem somente momentos flectores negativos e há, portanto,
armadura de tracção na face superior, não foi contemplada qualquer armadura na face inferior.
Logo, para ela será necessário calcular armadura de distribuição a colocar na face inferior
dessa secção.

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- Na Secção 3, onde existem somente momentos flectores positivos, e há, portanto,


armadura de tracção na face inferior, não foi contemplada qualquer armadura na face superior.
Logo, para ela será necessário calcular armadura de distribuição a colocar na face superior
dessa secção.
Esta armadura já não precisa de obedecer a disposições construtivas com excepção do
espaçamento mínimo.
Assim, e relembrando que As,dist = 10% As,apl, temos:
Secção As,apl (cm2) As,dist As,dist apl (cm2) S (mm) Verifica Smin?
S2 3Ø16 (6,03) 0,603 2Ø8 (1,01) 194 Sim
S3 3Ø12 (3,39) 0,339 2Ø8 (1,01) 194 Sim

5.1.6 – Interrupção de armaduras


Quando se determinam os momentos flectores, calculam-se armaduras para resistirem a
esses momentos. Exemplificando com a seguinte envolvente:

Assim, teremos armadura de tracção na zona superior da viga para resistir ao M negativo 1,
outra para resistir ao M negativo 2, e uma armadura de tracção na zona inferior da viga para
resistir ao M positivo.
Como é evidente, os Momentos considerados no cálculo só ocorrem numa secção e nas
secções imediatamente antes ou/e depois começam a diminuir. Isto faz com que as armaduras
calculadas acabem por chegar a pontos onde a armadura é bastante excessiva face ao
momento que está aplicado nesse ponto. Logo, nem sempre é necessário prolongar a armadura

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de tracção e compressão, determinada para uma secção, por toda a viga. Embora tal não seja
errado, leva a grandes consumos desnecessários de material. Isto torna-se ainda mais verdade
quando se fala de armaduras para resistir a Momentos Flectores Negativos.
Assim, deve-se pensar em ‘dispensar’ os varões a partir de um dado ponto em que deixem
de ser necessários. Ou seja, decidir que a partir de um dado ponto os varões em estudo não
são continuados para o restante elemento. A dispensa de armaduras permite reduzir
drasticamente os custos com aço sem nunca colocar em causa a capacidade de resistência
desta. E, claro, deve ser feita de forma a que nunca fiquem menos de 2 varões numa secção, e
feita de forma a que se possa manter a simetria da secção.
No EC2, a dispensa de varões encontra-se na secção 9.2.1.3.
A dispensa começa sempre por determinar que varões vão ser ‘cortados’ e quantos varões
ficam na secção sem estes. De seguida, calcula-se o Momento que a secção consegue resistir
com as armaduras que lhe restam. Tendo esse valor do Momento vai-se à envolvente e
identificam-se os pontos onde esse valor ocorre.
Contudo a dispensa não será feita aí. Tal como é apresentado no EC2, é necessário ter em
conta acréscimos das forças de tracção causadas por efeitos como esforço transverso bem
como efeito de fendas inclinadas.

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Então, para contemplar estes acréscimos deve-se aumentar as distâncias calculadas,


somando-lhes um parâmetro a que se dá o nome de ‘translação de diagrama de momentos’, a l.
Por simplificação, pode-se considerar que: a1 = d
Usando a envolvente inicial apresentada nesta secção:

Para efeitos de cálculo, a armadura deixa-se de considerar como resistente a partir desse
novo ponto. Para feitos de execução, a armadura desaparece efectivamente após ter sido
devidamente amarrada (daí o parâmetro lbd no gráfico em cima). A amarração de armaduras é
apresentada mais em baixo.
Nesta última envolvente, então, a armadura será só dispensada a partir dos pontos medidos
na envolvente a vermelho.

A interrupção de armaduras pode ser feita várias vezes, desde que nunca se reduza o
número de varões numa secção para menos de 2 varões e desde que a simetria da secção
nunca deixe de existir, por motivos já antes apresentados relativos a uma boa transmissão de
cargas dentro da secção.
Existe ainda uma regra que deve ser cumprida quando se pensa em fazer a dispensa de
armaduras: a qualquer apoio deverá chegar pelo menos 25% das armaduras aplicadas para
resistir aos momentos máximos positivos, nunca devendo dispensar-se abaixo desse valor.
Esta regra está definida no EC2 secção 9.2.1.4.

Usando exemplos concretos, se considerarmos que para resistir a M negativo 1 eram


precisos 4Ø16, para resistir ao M negativo 2 eram também precisos 4Ø16 e para resistir ao M
positivo eram precisos 4Ø12, dispensando varões vamos ter:

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Ou seja, na face inferior 2Ø12 por toda a viga, com um reforço a meio de outros 2Ø12, que
começam e terminam no ponto onde está a linha a tracejado. Na face superior vamos ter 2Ø16
por toda a viga com reforços de 2Ø16 nas zonas dos apoios que vão desde os apoios até aos
pontos indicados pelas linhas a tracejado.
É nos pontos indicados pelas linhas a tracejado que se efectua a dispensa estrutural das
armaduras. A rosa estão marcados os comprimentos de amarração das armaduras dispensadas,
que são adicionados a partir do ponto onde ocorre a dispensa estrutural. Elas desaparecem,
então, das secções da viga só depois desse comprimento de amarração.
Vista em planta, a viga ficaria algo como:

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Se quisermos, é possível poupar ainda mais. Pudemos cortar armaduras a partir dos pontos
em que na envolvente de Momentos + al deixam de ocorrer Momentos negativos ou positivos:

Ao fazermos isso cortamos a necessidade de armadura de tracção nas zonas fora das
envolventes. Claro que se torna necessário colocar uma armadura de distribuição, para
garantir uma boa posição de armaduras transversais. Nas zonas onde deixam de haver
momentos negativos terá de se colocar Adist + que terá de ser pelo menos 10% da armadura de
esforços de tracção nessa secção (para a secção onde há M positivo máximo será 10% de
4Ø12). Novamente esta armadura pode ir sendo reduzida mas os custos de trabalho de mão de
obra para o fazer não compensam, já que esta armadura é, em geral, de diâmetro muito baixo
e raramente tem mais de 2 varões.
Nos apoios terá então de haver Adist -, que terá de ser pelo menos 10% da armadura de
esforços de tracção nessa secção (ou seja, 10% de 4Ø16).

Relembrar que só existe armadura de disposição (Adist) se, e só se, o cálculo estrutural não
indicar que existe a necessidade de colocar armadura de compressão (A’)

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Exemplo Prático
Pegando no exemplo prático que tem vindo a ser utilizado neste capítulo temos:
Secção As,apl (cm2) Varões a dispensar Nova secção terá As,apl (cm2)
2Ø12 (2,26) Nenhum, não se pode dispensar Mantém-se igual, não há
com menos de 2 varões dispensa
S1
2Ø12 (2,26) Nenhum, não se pode dispensar Mantém-se igual, não há
com menos de 2 varões dispensa
S2 3Ø16 (6,03) 1Ø16 2Ø16 (4,02)
S3 3Ø12 (3,39) 1Ø12 2Ø12 (2,26)

Como na Secção 1 não se dispensam varões, não nos interessa avaliar essa secção.
Na Secção 2 há dispensa de 1 varão, o que significa que teremos de calcular a resistência
da nova secção. O mesmo para a secção 3. Só assim saberemos até que distância se tem de
aplicar todos os varões inicialmente aplicados para cada uma dessas secções.
Precisamos então de recorrer novamente à envolvente de momento flectores, mas agora
conhecendo as várias equações de momentos.

M(x2)

M1
M(x3)

M(x1)
M2 M(x4)

M3

M(x5)

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M(x1) – dado pela 3ª hipótese de carga, da segunda combinação de acções (vento = Q1)

7,375
𝑀(𝑥1 ) = − × 𝑥 2 + 2,1𝑥
2

M(x2) – dado pela 1ª hipótese de carga, da segunda combinação de acções (vento = Q1)

16,556
𝑀(𝑥2 ) = − × 𝑥 2 + 18,63𝑥
2

M(x3) – dado pela 1ª hipótese de carga, da segunda combinação de acções (vento = Q1)

16,556
𝑀(𝑥3 ) = − × 𝑥 2 + 59,33𝑥 − 57,946
2

M(x4) – dado pela 2ª hipótese de carga, da segunda combinação de acções (vento = Q1)

7,375
𝑀(𝑥4 ) = − × 𝑥 2 + 27,65𝑥 − 33,157
2

M(x5) – dado pela 3ª hipótese de carga, da segunda combinação de acções (vento = Q1)

16,556
𝑀(𝑥5 ) = − × 𝑥 2 + 58,102𝑥 − 50,601
2

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M1 está no ponto em que M(x1) = M(x2), ou seja, quando x = 3,6 m (medido do apoio mais
à esquerda). Portanto, M1 = -40,23 kNm
M2 está no ponto em que M(x3) = M(x4), ou seja, quando x = 0,9 m (medido do apoio
intermédio para dentro da viga à direita). Portanto, M2 = -11,25 kNm
M3 está no ponto em que M(x5) começa a ser positivo, ou seja, quando x = 1,01 m (medido
do apoio intermédio para dentro da viga à direita). Portanto, M3 = 0 kNm

Com os dados necessários do diagrama, determina-se a resistência que as novas secções


vão ter. Para isso é fazer os cálculos usados para o cálculo das armaduras necessárias, mas
desta vez retrocedendo e considerando que as armaduras aplicadas são as necessárias. Logo:

Secção Nova secção As,nec (m2) ω µ Mrd (kNm)


S2 2Ø16 0,000402 0,08805 0,0841 66,28
S3 2Ø12 0,000226 0,0495 0,0482 37,98

Torna-se então possível de ver que as armaduras aplicadas na Secção 2 não vãos ser
dispensadas, porque o momento resistente com que a secção fica já é superior ao existente
nessa secção. Isto significa que a armadura inicial de 3Ø16 já é muitíssimo superior ao
necessário para resistir aos esforços de tracção, sendo aconselhado altera-la em cálculos
anteriormente feitos. Ela foi aplicada e aumentada devido às disposições construtivas pelo que
se torna agora inviável dispensá-la. A única maneira de se puder dispensar esta armadura seria
em primeiro reduzi-la, embora se possa assumir, por simplificação, que ao fim de 25% do
vão, os momentos flectores já estão reduzidos o suficiente ao ponto de as várias disposições
construtivas que obrigaram a 3Ø16 já obriguem somente a 2Ø16
Na secção 3 já é possível fazer a dispensa indicada. Os pontos onde o momento flector
aplicado iguala o Mrd da nova secção são tirados igualando M(x5) ao valor do Mrd (sem
esquecer que estamos a tratar de momento positivo, portanto Mrd entra na equação com sinal
positivo).

16,556
− × 𝑥 2 + 58,102𝑥 − 50,601 = 37,98 → 𝑥1 = 2,22 m e 𝑥2 = 4,8 m
2

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Adicionando agora o parâmetro al = d, ou seja, al = 0,397 m, pode-se interromper 1 varão


nos pontos:
x1 – al = 2,22-0,397 = 1,823 m
x2 + al = 4,8 + 0,397 = 5,197 m

O motivo que leva a reduzir x1 e x2 prende-se com a percepção do que se está a fazer. A
secção 3 encontra-se sensivelmente a meio vão da viga e lá são aplicados 3Ø12, para
responder a todas as necessidades anteriormente apresentadas. Quando se pensa em dispensar
varões desta armadura, estamos a pensar em remover varões à esquerda e à direita da secção
3. Contudo, o valor de x é medido do apoio intermédio para o apoio à direita. Logo, se
queremos aumentar a área do diagrama, usando o parâmetro al, teremos de reduzir a distância
à esquerda de S3 e aumentar a distância à direita para assim determinar, medindo do apoio
intermédio, os pontos em que as armaduras são dispensadas.

5.1.7 – Uniformização de armaduras


O último passo de qualquer dimensionamento de um elemento de betão armado é
uniformizar as armaduras. Isto porque todos os cálculos até agora apresentados são teóricos.
Quanto mais aprofundados e precisos forem, mais poderá ser a distribuição teórica de
armaduras (principalmente se recorrermos muito à dispensa de varões).
Mas na prática, ter muitos troços com armaduras diferentes dentro do mesmo elemento é
tudo menos prático. A preparação de armaduras em obra tem custos consideráveis em termos
de mão de obra e tempo necessário. Quanto mais complexa for a distribuição de armaduras
que se tem de fazer, mais tempo se gasta a monta-las, levando a que em vez de termos uma
poupança de armaduras (conseguida por colocarmos somente as armaduras estritamente
necessárias de acordo com o cálculo), vamos é ter um aumento de custo (devido ao aumento
do tempo que estas demoram a ser montadas).
É, portanto, essencial uniformizar as armaduras, escolhendo varões a aplicar que tentem
responder às várias necessidades nas secções mais críticas, cortando os que forem
desnecessários, e tentando não aplicar diâmetros diferentes entre armaduras da mesma face.

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Por questões práticas de execução, é bom ter em conta que quaisquer armaduras de reforço
ou varões que sejam interrompidos não devem ser colocados nos cantos da secção. Essas
armaduras também não devem ter um diâmetro superior às armaduras que se encontrem nos
cantos, para evitar confusões com os armadores que podem estar habituados à premissa
‘varões maiores vão para os cantos’.

Exemplo Prático
Já contando com a dispensa de armaduras do exercício prático que temos vindo a seguir,
verificamos a seguinte disposição construtiva:

As,apoio As,apl (S1 M-) As,apl (S2) As,dist (S3) As,apoio

25% As,apl (S1 M+) As,dist (S2) ou 25% As,apl (S1 M+) 25% As,apl (S3)
As,apl (S1 M+) As,apl (S3)

Nota: no apoio intermédio, temos de escolher entre a maior armadura para a face inferior.

Em termos de varões:

2Ø12 2Ø12 3Ø16 2Ø8 2Ø12

25% As,apl (S1 M+) 2Ø8 ou 25% As,apl (S1 M+) 25% As,apl (S3)
2Ø12 2Ø12 3Ø12 2Ø12

Se tentarmos continuar as armaduras, rapidamente encontramos conflitos principalmente


na armadura superior. Por exemplo, continuar os 3Ø16 para a direita leva-os de encontro aos
2Ø8. Esses, por sua vez, vão encontrar os 2Ø12. Encontros de armaduras com diâmetros
diferentes levam sempre a uma dificuldade acrescida no que respeita à montagem de
armadura, bem como a cuidados acrescidos nas zonas de sobreposição destas armaduras. É,
então, preferível arranjar varões que possam ser aplicados em várias secções.
O exemplo a seguir mostra uma possível uniformização, fácil de executar e que não
prejudica a estrutura em termos de resistência.

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Neste exemplo, temos nada mais do que 2Ø16 aplicados em toda a extensão da face
superior do elemento e 2Ø12 aplicados em toda a extensão da face inferior, substituindo as
armaduras anteriormente apresentadas como necessárias por uma que é superior. Como na
secção 2 eram necessários 3Ø16, coloca-se um reforço de 1Ø16 nessa secção, que é
prolongado para dentro da viga esquerda com 25% de Lesq (ou seja, 0,25 × 4 m = 1 m) e
prolongado para dentro da viga direita com 25% de Ldir (ou seja, 0,25 × 6 m = 1,5 m) (ver
exemplo prático da dispensa de varões).
Por sua vez, a secção 3 requeria 3Ø12, pelo que se coloca um reforço de 1Ø12. Esse
reforço deverá começar a uma distância de 1,823 m do apoio intermédio e acabar a uma
distância de 5,197 m desse mesmo apoio (ver, novamente, exemplo prático da dispensa de
varões).
Esta disposição responde assim às necessidades anteriormente vistas.

Os cortes transversais mostram então a disposição das armaduras em cada secção

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O comprimento de amarração (ver em baixo), é aplicado a partir do ponto em que as


armaduras terminam.

5.1.8 – Comprimento de amarração


Todos os varões de aço, em qualquer elemento de betão armado, devem ser devidamente
amarrados para assegurar uma boa transferência das forças de aderência para o betão,
evitando assim fendilhação longitudinal ou destacamento do betão.
A amarração de varões consiste em fornecer aos varões um comprimento extra que é
adicionado ao seu comprimento definido pelo cálculo. É através das forças de atrito
movimentadas entre varões e betão que este comprimento adicional, chamado lbd, que servirá
para amarrar os varões.
O cálculo da amarração é feito para cada armadura, tendo em conta as amarrações dela.
De acordo com o EC2 secção 8.4, o comprimento de amarração dependerá de vários
parâmetros, como a resistência do betão, as condições de aderência devido à betonagem e até
mesmo o tipo de amarração que se irá efectuar para um dado varão. As seguintes imagens
mostram alguns tipos de amarrações bem como a forma como o lbd é medido nelas.

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O primeiro passo na determinação do comprimento de amarração é calcular a tensão de


rotura em termos de aderência, fbd, já que a amarração é feita mobilizando forças de aderência
entre as armaduras nervuradas e o betão. Este parâmetro é determinado pela seguinte fórmula:

𝑓𝑏𝑑 = 2,25 × 𝜂1 × 𝜂2 × 𝑓𝑐𝑡𝑑


Onde:
fctd – valor de cálculo da resistência do betão à tracção. Este valor é igual a fctk,0,05 / ɣc
(relembrar que ɣc = 1,5)
η1 – coeficiente relacionado com as condições de aderência e posição do varão durante a
betonagem. Igual a 1 para condições de “boa” aderência e 0,7 para os restantes casos. O que
determina se as condições de aderência são “boas” ou não, é a posição da armadura
relativamente à altura da secção. Ver as imagens em baixo para compreende o que se entende
como “condições de boa aderência”.
η2 – coeficiente relacionado com o diâmetro do varão.

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Com o valor da tensão de rotura da aderência calculado, passa-se para o passo seguinte:
calcular o comprimento de amarração de referência, lb,rqd.
∅ 𝜎𝑠𝑑
𝑙𝑏,𝑟𝑞𝑑 = ( ) × ( )
4 𝑓𝑏𝑑
Onde:
σsd – valor de cálculo da tensão na secção do varão. Na pior situação este valor é igual a fyd
Ø – diâmetro do varão em estudo
fbd – Tensão de rotura da aderência

Por fim, o comprimento de amarração é obtido através da seguinte expressão:

Estes parâmetros α são parâmetros que reduzem o comprimento de amarração de


referência e que têm então em conta o tipo de amarração bem como outras disposições
construtivas.
α1 – tem em conta o efeito da forma dos varões
α2 – tem em conta o efeito do recobrimento mínimo dos varões
α3 – tem em conta o efeito de cintagem das armaduras transversais
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α4 – tem em conta a influência de varões transversais soldados


α5 – tem em conta o efeito da pressão ortogonal ao plano de fendimento, ao longo do
comprimento de amarração de cálculo

Eles podem ser tirados a partir do Quadro 8.2. Se para um deles não houver dados
suficientes, este deverá ser considerado igual a 1.

Parâmetros como cd e K obtêm-se a partir das figuras 8.3 e 8.4, respectivamente

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Na pior situação, pode-se considerar que todos os α = 1. Isto, contudo, gera comprimentos
de amarração muito superiores aos que são realmente necessários.
Por fim, o comprimento de amarração lbd deverá ser superior a um valor mínimo dado
pelas seguintes expressões:

Se o resultado calculado for inferior ao mínimo, opta-se por usar o valor do mínimo para o
comprimento de amarração a aplicar.

As seguintes imagens apresentam exemplos de como se mede e aplica o comprimento de


amarração em várias situações.

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No caso da amarração de armaduras inferior em apoios intermédios, lbd nunca deve ser
inferior a 10×Ø ou 2× o diâmetro do mandril.

Exemplo Prático
Continuando o exercício prático e usando a uniformização apresentada

Percebe-se que temos de amarrar 2 varões Ø16 superiores, que por irem de um lado ao
outro das vigas têm de ser amarrados com cotovelos no apoio mais à esquerda e no apoio mais

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à direita. O mesmo para os 2Ø12 inferiores. Os reforços de 1Ø16 e de 1Ø12, por terminarem
dentro da viga, podem ser amarrados com amarrações rectas.

Temos então de calcular a tensão de rotura por aderência para cada armadura. Visto
nenhuma armadura ser de diâmetro 32 ou superior, η2 será igual a 1 para todas elas. E visto η1
depender da posição da armadura dentro da secção, dá para diferenciar entre armaduras
superiores e inferiores.
Como a altura da viga é de 450 mm, todas as armaduras colocadas abaixo de 250 mm de
altura, ou seja as armaduras inferiores, possuem ‘boas condições de aderência’, as restantes
não, ou seja as armaduras superiores.
Quanto ao valor de fctd:
𝑓𝑐𝑡𝑘,0,05 2
𝑓𝑐𝑡𝑑 = = = 1,2
1,5 1,5
Sendo fctk,0,05 para este betão igual a 2 MPa (tirado do Quadro 3.1 do EC2)

𝑆𝑢𝑝 2,25 × 0,7 × 1 × 1,2 𝑆𝑢𝑝 1,89 MPa


𝑓𝑏𝑑 = 2,25 × 𝜂1 × 𝜂2 × 𝑓𝑐𝑡𝑑 = { = {
𝐼𝑛𝑓 2,25 × 1 × 1 × 1,2 𝐼𝑛𝑓 2,7 MPa

Com esta tensão é possível determinar o comprimento de referência:

16 434,78
𝑆𝑢𝑝 ( ) × ( )
∅ 𝜎𝑠𝑑 4 1,89 𝑆𝑢𝑝 920,169 mm
𝑙𝑏,𝑟𝑞𝑑 =( )×( )= = {
4 𝑓𝑏𝑑 12 434,78 𝐼𝑛𝑓 483,089 mm
𝐼𝑛𝑓 ( ) × ( )
{ 4 2,7

Conhecendo o comprimento de amarração de referência, vai-se reduzir este através dos


parâmetros α. Estes são calculados para cada tipo de amarração. Assim teremos:

Para os 2Ø16 (armadura de tracção com 4,02 cm2) com amarrações em cotovelo:
a
cd = min ( , c1 ) , sendo a = s e c1 = cnom
2
178
Para 2Ø16, S será de 178 mm. Então: cd = min ( , 35) = 35 mm
2

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Como cd < 3× 16 mm (48 mm), α1 será = 1

(𝑐𝑑 − 3 × ∅) (35 − 3 × 16)


α2 = 1 − 0,15 × = 1 − 0,15 × = 1,122
∅ 16
Como é superior a 1, α2 será = 1

Para o cálculo de α3 seria necessário conhecer já as armaduras transversais. Como ainda


não se conhecem, vamos arbitrar que estas são Ø10//20 cm (3,93 cm2/m)
K = 0,1, de acordo com a figura 8.5
(∑ Ast − ∑ Ast,min ) (3,93 − 0,25 × 4,02)
λ= = = 1,705
As 4,02
Então: α3 = 1 − K × λ = 1 − 0,1 × 1,705 = 0,8295

α4 será = 0,7

α5 será = 1 porque não temos informação para obter o parâmetro ‘p’

𝑙𝑏𝑑 = 1 × 1 × 0,8295 × 0,7 × 1 × 920,169 = 534,296 mm ≅ 550 mm


Para cada lado em que há amarração.
Por sua vez, lb,min = max{0,3 × 828,15; 10 × 16 × 100} = 248,445 mm
Como 550 mm > 248,445 mm, verifica-se superior ao valor mínimo.

Para o 1Ø16 (armadura de tracção com 2,01 cm2) com amarrações rectas:
a
cd = min ( , c1 , c) , sendo a = s e c1 = c = cnom
2
Para 1Ø16, como este está na secção com mais 2Ø16, S será de 81 mm. Então: cd =
81
min ( 2 , 35,35) = 35 mm

α1 será = 1

(𝑐𝑑 − ∅) (35 − 16)


α2 = 1 − 0,15 × = 1 − 0,15 × = 0,8219
∅ 16

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Para o cálculo de α3 seria necessário conhecer já as armaduras transversais. Como ainda


não se conhecem, vamos arbitrar que estas são Ø10//20 cm (3,93 cm2/m)
K = 0,05, de acordo com a figura 8.5
(∑ Ast − ∑ Ast,min ) (3,93 − 0,25 × 2,01)
λ= = = 1,705
As 2,01
Então: α3 = 1 − K × λ = 1 − 0,05 × 1,705 = 0,9148

α4 será = 0,7

α5 será = 1 porque não temos informação para obter o parâmetro ‘p’

𝑙𝑏𝑑 = 1 × 0,8219 × 0,9148 × 0,7 × 1 × 920,169 = 484,294 mm ≅ 500 mm


Para cada lado em que há amarração.
Por sua vez, lb,min = max{0,3 × 828,15; 10 × 16 × 100} = 248,445 mm
Como 500 mm > 248,445 mm, verifica-se superior ao valor mínimo.

Para os 2Ø12 (armadura de tracção com 2,26 cm2) com amarrações em cotovelo:
a
cd = min ( , c1 ) , sendo a = s e c1 = cnom
2
186
Para 2Ø12, S será de 186 mm. Então: cd = min ( , 35) = 35 mm
2

Como cd < 3× 16 mm (48 mm), α1 será = 1

(𝑐𝑑 − 3 × ∅) (35 − 3 × 12)


α2 = 1 − 0,15 × = 1 − 0,15 × = 1,0125
∅ 12
Como é superior a 1, α2 será = 1

Para o cálculo de α3 seria necessário conhecer já as armaduras transversais. Como ainda


não se conhecem, vamos arbitrar que estas são Ø10//20 cm (3,93 cm2/m)
K = 0,1, de acordo com a figura 8.5
(∑ Ast − ∑ Ast,min ) (3,93 − 0,25 × 2,26)
λ= = = 1,4889
As 2,26
Então: α3 = 1 − K × λ = 1 − 0,1 × 1,4889 = 0,8511

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α4 será = 0,7

α5 será = 1 porque não temos informação para obter o parâmetro ‘p’

𝑙𝑏𝑑 = 1 × 1 × 0,8511 × 0,7 × 1 × 483,089 = 287,81 mm ≅ 300 mm


Para cada lado em que há amarração.
Por sua vez, lb,min = max{0,3 × 434,78; 10 × 12; 100} = 130,434 mm
Como 300 mm > 130,434 mm, verifica-se superior ao valor mínimo.

Para o 1Ø12 (armadura de tracção com 1,13 cm2) com amarrações rectas:
a
cd = min ( , c1 , c) , sendo a = s e c1 = c = cnom
2
Para 1Ø16, como este está na secção com mais 2Ø16, S será de 87 mm. Então: cd =
87
min ( 2 , 35,35) = 35 mm

α1 será = 1

(𝑐𝑑 − ∅) (35 − 12)


α2 = 1 − 0,15 × = 1 − 0,15 × = 0,7125
∅ 12

Para o cálculo de α3 seria necessário conhecer já as armaduras transversais. Como ainda


não se conhecem, vamos arbitrar que estas são Ø10//20 cm (3,93 cm2/m)
K = 0,05, de acordo com a figura 8.5
(∑ Ast − ∑ Ast,min ) (3,93 − 0,25 × 1,13)
λ= = = 3,2279
As 1,13
Então: α3 = 1 − K × λ = 1 − 0,05 × 3,2279 = 0,8386

α4 será = 0,7

α5 será = 1 porque não temos informação para obter o parâmetro ‘p’

𝑙𝑏𝑑 = 1 × 0,7125 × 0,8386 × 0,7 × 1 × 483,089 = 202,84753 mm ≅ 210 mm


Para cada lado em que há amarração.

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Por sua vez, lb,min = max{0,3 × 434,78; 10 × 12 × 100} = 130,434 mm


Como 210 mm > 130,434 mm, verifica-se superior ao valor mínimo.

5.1.9 – Dimensionamento de vigas à flexão composta


O dimensionamento de peças à flexão composta, ou seja, peças que sofrem de flexão e
esforço axial ao mesmo tempo, segue os mesmos princípios que o da flexão simples,
baseando-se nos limites de extensão do aço e do betão em nos gráficos de tensões e extensões.
Com a clara diferença de que na flexão composta, haverá uma maior área de compressões ou
tracções (em peças de betão armado, o mais comum é haver compressões).

Uma vez que o betão tem elevada resistência à compressão, torna-se interessante
considerar o efeito de compressões axiais (quando estas existem) juntamente com o efeito da
flexão, por forma a reduzir-se significativamente as armaduras a colocar. Isto é ainda mais
importante para pilares já que estes vão funcionar quase sempre à compressão.
Como foi referido anteriormente, as vigas geralmente são calculadas assumindo pórticos
que lhes permitam estar só submetidas à flexão simples. Ainda assim, para edifícios de maior
dimensão onde efeitos de vento entram como forças laterais, mesmo que o modelo de apoio

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de vigas seja o de apoios simples/duplos, elas vão sofrer de esforços axiais. É, portanto,
importante ter noção de como se dimensionam elementos à flexão composta.
Quando um elemento de betão armado está submetido à flexão composta com um esfoço
axial de compressão (o mais comum), o seu diagrama de tensões e de extensões na secção
tende a ser o seguinte:

Usando este princípio, as equações de equilíbrio são:

Logo, para um dado diagrama de rotura obtém-se um par de esforço Nrd – Mrd
É então fácil compreender que a existência de um esforço axial de compressão vai
aumentar as forças de compressão. Se o momento flector aplicado for fixo, então um aumento
das forças de compressão (Fc) leva, por equilíbrio, a uma diminuição das forças de tracção
(Fs1). Logo, a existência de esforços axiais de compressão leva a uma maior resistência (Mrd),
apesar de haver alguma diminuição do braço do binário entre as forças de tracção e de
compressão. Se generalizar o procedimento, para todos os possíveis diagramas de rotura,
obtém-se (ver figura seguinte):

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Na prática, o diagrama representa a envolvente para o par Nsd – Msd para qual a segurança
se verifica sempre, seja para valores na linha do diagrama, seja para valores dentro dele.

Se para a flexão simples se escreverem as equações de equilíbrio em termos de grandezas


adimensionais (µ e ω), ao aplicar o mesmo para a flexão composta obtêm-se as denominadas
curvas de dimensionamento, que são definidas para certas distribuições tipo de armaduras
nas secções.
As grandezas adimensionais que se definem são as seguintes:

rd N
Esforço axial reduzido: ν = (b×h×f
cd )

M
Momento flector reduzido: μ = (b×h2rd
×fcd )

fcd
Área de armadura necessária total: As,tot = ω𝑡𝑜𝑡 × b × h × ⁄f
syd

Notar que para a flexão composta, µ não será calculado em função da altura útil, mas da
altura total da secção.
Com estas grandezas adimensionais, consultam-se gráficos como os apresentados na
página seguinte. Deles obtém-se o valor da percentagem mecânica de armadura usado para o
cálculo da As,tot a aplicar na secção. Esta quantidade de armadura deve ser distribuída na
secção de acordo com o admitido no diagrama de dimensionamento (sim, cada diagrama
de dimensionamento apresenta a distribuição entre Armadura de Tracção e Armadura de
Compressão a colocar). O da página seguinte, por exemplo, assume que a armadura superior
tem uma área igual a metade da área da armadura inferior (A’/A = 0,5). Notar também que o
diagrama apresentado considera que N entra como positivo se for de compressão.
Existem também tabelas que podem ser utilizadas, em vez dos diagramas, para a
determinação da armadura. Essas tabelas, contudo, indicam logo a disposição de armaduras
considerada – sendo ou simplesmente armadas (sem armadura de compressão) ou
simetricamente armadas (armadura de compressão = armadura de tracção) – ou são referentes
a situações em que já se conhece a posição do eixo neutro.

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A escolha de armaduras segue o mesmo procedimento que para a flexão simples, tendo de
obedecer a todas as disposições construtivas já apresentadas para o caso de vigas (não
esquecendo que agora existe esforço axial que deverá entrar no cálculo de Kc para a área de
armadura mínima de fendilhação), bem como armadura de compressão para controlo de
deformação.

5.1.10 – Vigas em T
Vigas em T, ou seja, vigas com banzos ou com ligações a lajes, permitem-nos tirar partido
dos banzos para ajudar a resistir aos esforços, principalmente os de compressão.

Contudo, a distribuição de tensões no banzo não é uniforme, devido ao efeito ‘shearlag’,


como se pode ver na seguinte figura.

Assim, por simplificação, considera-se que existe uma largura efectiva, bef, onde se admite
uma distribuição uniforme de tensões.

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De acordo com o EC2, a largura efectiva pode ser obtida através das seguintes
considerações e fórmulas:

𝑏𝑒𝑓 = ∑ 𝑏𝑒𝑓𝑖 + 𝑏𝑤 ≤ 𝑏

Onde:
b – distância medida entre os pontos médios dos vãos que separam a vigadas restantes.
bi – distância medida entre as faces da viga e a distância ao ponto médio do vão que a
separa da próxima viga.
befi – largura efectiva do banzo esquerdo ou direito.
bw – largura da alma da viga.

Por sua vez, befi pode ser tirado pela seguinte expressão:
𝑏𝑒𝑓𝑖 = 0,2 × 𝑏𝑤 + 0,1 × 𝑙0 ≤ 0,2 × 𝑙0

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Sendo l0 a distância entre pontos de momento nulo que pode ser obtido pela seguinte figura

Determinado o bef, pode-se determinar as armaduras a colocar recorrendo a tabelas

5.2 – Dimensionamento de vigas ao esforço transverso


Para além de estarem submetidas à flexão, vigas, bem como outros elementos de betão
armado, estão também submetidos ao esforço transverso, sendo então necessário estudar este
tipo de esforço e o seu comportamento dentro de um elemento de betão armado.
Numa viga simplesmente apoiada submetida a duas cargas concentradas, é possível definir
trajectórias principais de tensão, de tracção e compressão, como indicado na figura seguinte.

Se olharmos com mais detalhe para o elemento A (o losango preenchido a preto perto do
apoio esquerdo) temos:

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Quando σt = fct, inicia-se a fendilhação por esforço transverso. Essas fendas vão ter um
andamento semelhante ao representado na seguinte figura. Notar que estas fendas são
aproximadamente perpendiculares às direcções de tracção, quer na zona de flexão pura, quer
na zona de flexão + corte.

Tal como acontece com a flexão, quando as fendas são perpendiculares às direcções de
tracção, estas impedem que esses esforços sejam transmitidos, daí a necessidade de se colocar
armaduras de aço que possam fazer essa transmissão.
Na zona dos apoios, onde haverá influência do corte, acontece o mesmo, sendo então
necessário colocar armadura de esforço transverso (estribos), que vão permitir essa
transmissão de forças de tracção
Estudos que já existem desde o nascimento do “betão armado” no final do séc XIX
mostram que a transmissão das forças, devido ao esforço transverso, irá ser:

Em que as regiões a vermelho correspondem a forças de tracção e as amarelas a forças de


compressão.
Em suma, a carga é distribuída, através de forças de compressão, do topo da viga à zona
inferior, havendo sempre uma dada inclinação (θ) para esse campo de forças de compressão
(que será designado de ‘escoras de betão’ ou ‘bielas comprimidas’).

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Se não aparecessem fendas, essas forças seriam transmitidas para o topo através de forças
de tracção. Como aparecem, coloca-se então armadura transversal (estribos) que irá transmitir
essas forças da zona inferior da viga novamente ao topo desta, para que essa força seja depois
transmitida pelas escoras para a zona inferior da viga. O processo repete-se até se chegar ao
apoio.
Este modelo contínuo pode ser simplificado, criando um constituído pelas resultantes dos
campos de tensões. O resultado é um mecanismo semelhante a uma treliça, onde as armaduras
transversais e longitudinais funcionam como tirantes e o betão comprimido entre fendas
inclinadas como escora ou biela:

Neste modelo de treliça, cada barra vertical e inclinada representa, respectivamente, a


resultante de um campo de tensões de tracções e compressões, numa largura de z cotg θ. As
barras longitudinais, inferior e superior, representam os “banzos” traccionados e comprimidos
por flexão.

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Existem inúmeros estudos que procuram descobrir melhores métodos para a determinação
da resistência ao esforço transverso de elementos de betão armado. Contudo, embora alguns
sejam mais realistas, nenhum ganhou relevância suficiente para aplicação prática, já que esta
deve ser sempre de fácil compreensão.

Passos do dimensionamento de vigas ao esforço transverso:


a) Dados do elemento em estudo. Conhecer os materiais do elemento, bem como o pré-
dimensionamento já feito para a flexão. Obter, também, a envolvente de esforços
transversos já determinada. Escolher ϴ
b) Determinar as secções a analisar. São geralmente os apoios por possuírem maiores
valores de esforço transverso.
c) Avaliar mecanismos de rotura
• Condição de segurança: Vrd,max ≥ Vsd
• Avaliar possível rotura pelos estribos
• Avaliar possível rotura pelas escoras de compressão
• Escolher a armadura a aplicar (Asw / s)
d) Verificar disposições construtivas
• Armadura mínima ((Asw / s)min)
• Espaçamento máximo dos estribos (Smax)
• Armadura longitudinal nos apoios devido ao esforço transverso (AsL,ET)
e) Uniformização de armaduras

5.2.1 – Dados do elemento em estudo e escolher ϴ


É preciso ter atenção que o dimensionamento de um elemento ao esforço transverso faz-se
juntamente com o dimensionamento aos restantes esforços, principalmente o da flexão (sendo
esse o dominante). Logo, para se começar o dimensionamento ao esforço transverso, é preciso
já conhecer a secção pré-dimensionada para a flexão, bem como os materiais escolhidos.
Depois de se conhecer os dados do elemento, procede-se à determinação da inclinação das
escoras de betão, ou seja ϴ. Embora esta inclinação das escoras possa ser determinada com
maior precisão, o EC2 permite ao projectista escolher esse mesmo ângulo, desde que cotg ϴ

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se situe entre 1 (ϴ = 45º) e 2,5 (ϴ = 22º) (EC2 secção 6.2.3). Uma vez escolhido há que
manter a consistência e usar esse valor para todo o elemento em estudo.
É sugerido que se adopte um ϴ com valores superiores para elevados esforços transversos
e/ou em caso de presença de esforço axial de tracção, e um θ com valores mais baixos para
situações contrárias. E olhando para as fórmulas usadas para o dimensionamento, percebemos
que a situação que leva a maior área de armadura de esforço transverso (ou seja a pior
situação), será quando se considera ϴ = 45º e a que leva a maiores compressões nas escoras
de betão será quando ϴ = 22º.

5.2.2 – Determinar secções a analisar


Depois de se decidir qual o valor de θ, procede-se à escolha das secções a analisar. Como
se trabalha com esforço transverso, o número destas secções resume-se geralmente aos apoios
(pois é onde há maior esforço transverso). Contudo não se trabalha directamente com o
esforço transverso indicado no apoio, isto porque esse é absorvido imediatamente por ele.
Graças ao mecanismo de transmissão do esforço transverso, percebemos facilmente que todo
o esforço transverso numa zona até z×cotgϴ é absorvido directamente pelo apoio, como se
pode ver na seguinte figura.

Como o apoio é considerando como estando no centro do pilar onde a viga descarrega,
pode-se ainda considerar metade a distância desde esse ponto de apoio até à face do pilar,

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acrescida à distância z×cotgϴ. Contudo, por motivos de segurança (e de aumentar os esforços


considerados para o cálculo), é aconselhado não fazer isto.
Recorre-se então às equações do diagrama de esforço transverso para saber o valor que
deverá ser considerado como Vsd em todo o cálculo que vem a seguir.
Já z será a distância entre o alinhamento das armaduras de compressão e o alinhamento das
armaduras de tracção, sendo então tirado por:
𝑧=𝑑−𝑎
Ou, quando ‘a’ não se conhece:
𝑧 = 0,9 × 𝑑

Claro que embora se considere apenas o apoio, já que é a zona mais crítica da viga
relativamente ao esforço transverso, a armadura de tracção a que o Esforço Transverso obriga
a colocar aplica-se a todas as secções que estejam fora da envolvente de Momentos + al,
sendo que essa armadura a colocar pode ser calculada para diferentes valores de Esforço
Transverso, avaliados a incrementos de distância de Z × cotg θ. Exemplificando:

Em que A = B = C = D = Z × cotg θ
Para esta envolvente de esforços transversos, tanto os estribos como a armadura
longitudinal de tracção a colocar junto ao apoio (distância A) serão determinadas utilizando
V1. Poderemos manter esses estribos para toda a viga, mas isto leva a mais gastos de material.
Para poupar ao máximo, calculam-se novas estribos para a distância B, que utilizará V2 para o
cálculo destas (e se quisermos ser preciosistas também usariamos V2 para indicar a armadura

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longitudinal que terá de existir nessa distância). Faz-se o mesmo para a secção C usando V3 e
por aí adiante.
Isto em teoria, claro, sendo que na prática tais cálculos e divisões não se fazem. Torna-se
preferível considerar que por toda a viga terá de haver no mínimo uma armadura longitudinal
de tracção, na face inferior, igual à armadura que o Esforço Transverso obriga a ter na zona
junto dos apoios.
Também por simplificação de execução, para as estribos estes passos repetem-se apenas
duas ou 3 vezes na melhor das hipóteses.

Exemplo Prático
Pegando no exemplo prático já apresentado no dimensionamento à flexão simples

fcd = 16,67 MPa


C25/30
fsyd = 434,78 MPa
d = 0,397 m
a = 0,053 m
Øest max = 10 mm

Cuja distribuição de armaduras longitudinais final foi de:

A sua envolvente de esforço transverso é:

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V(x3)

V(x1)

V(x4)
V(x2)

Da envolvente sabemos:
V(x1) – dado pela 2ª hipótese de carga, da segunda combinação de acções (vento = Q1)

𝑉(𝑥1 ) = −16,556 × 𝑥 + 24,82

V(x2) – dado pela 1ª hipótese de carga, da segunda combinação de acções (vento = Q1)

𝑉(𝑥2 ) = −16,556 × 𝑥 + 18,63

V(x3) – dado pela 1ª hipótese de carga, da segunda combinação de acções (vento = Q1)

𝑉(𝑥3 ) = −16,556 × 𝑥 + 59,33

V(x4) – dado pela 3ª hipótese de carga, da segunda combinação de acções (vento = Q1)

𝑉(𝑥4 ) = −16,556 × 𝑥 + 58,102

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Como nos interessa apenas ver o Vsd num ponto que esteja a z×cotgϴ, vamos precisar de
conhecer os pilares e calcular z×cotgϴ. Como não temos qualquer outra informação, vamos
assumir ϴ = 35º e que os pilares onde as vigas descarregam são quadrados e com um lado
igual a 30 cm.
Temos então:
𝑧 × 𝑐𝑜𝑡𝑔𝜃 = (0,397 − 0,053) × 𝑐𝑜𝑡𝑔35º = 0,491 𝑚

Vsd3

Vsd1

Vsd4
Vsd2

𝑉𝑠𝑑1 → 𝑉(𝑥1 =0,746 𝑚) = −16,556 × 0,491 + 24,82 = 16,691 𝑘𝑁

𝑉𝑠𝑑2 → 𝑉(𝑥2=4−0,746 𝑚) = −16,556 × (4 − 0,491) + 18,63 = −39,465 𝑘𝑁

𝑉𝑠𝑑3 → 𝑉(𝑥3 =0,746 𝑚) = −16,556 × 0,491 + 59,33 = 51,201 𝑘𝑁

𝑉𝑠𝑑4 → 𝑉(𝑥4 =6−0,746 𝑚) = 16,556 × (6 − 0,491) + 58,102 = −33,105 𝑘𝑁

5.2.3 – Avaliar mecanismos de rotura


Com base nos modelos apresentados, definem-se então 2 possíveis modelos de rotura:
- A rotura do campo de tracções vertical, ou seja, dos estribos.
- A rotura por compressão do campo comprimido de tensões.
Nota: tal como acontece no dimensionamento à flexão, o Vsd usado entra sempre com o
seu valor absoluto (sem sinal negativo, caso tenha).

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5.2.3.1 – Rotura pelos estribos


Como será de esperar, a rotura pelos estribos ocorre quando a área de armadura para
resistir ao esforço transverso for insuficiente para transmitir as tracções verticais criadas por
este esforço.
De acordo com o EC2 secção 6.2.3, o valor do esforço transverso resistente, condicionado
pelas armaduras transversais é dado pela expressão:

Em que:
VRd,s – Valor resistente do esforço transverso. Igual a Vsd a usar no cálculo, a uma distância
de (b + z×cotgϴ) do apoio.
Z – Valor do binário entre forças de compressão e de tracção.
fywd – valor de cálculo da tensão de cedência da armadura de esforço transverso. = fsyd
Asw / s – área de aço por unidade de comprimento (armadura distribuída por m)

Nota: a área de armadura a aplicar, para o esforço transverso, vem distribuída por metro
linear do elemento para ser mais fácil a sua execução em obra bem como se ter uma área por
metro do elemento em vez de trabalhar com o número total de estribos.

A escolha de armaduras é feita usando então a seguinte tabela:

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Áreas de Armaduras Distribuídas (cm2/m)

s (cm) 10.0 12.5 15.0 17.5 20.0 25.0 30.0 35.0


Ø
6 2,83 2,26 1,88 1,62 1,41 1,13 0,94 0,81
8 5,03 4,02 3,35 2,87 2,51 2,01 1,68 1,44
10 7,85 6,28 5,24 4,49 3,93 3,14 2,62 2,24
12 11,31 9,05 7,54 6,46 5,65 4,52 3,77 3,23
16 20,11 16,08 13,40 11,49 10,05 8,04 6,70 5,74
20 31,42 25,13 20,94 17,95 15,71 12,57 10,47 8,98
25 49,09 39,27 32,72 28,05 24,54 19,63 16,36 14,02

É também importante ter noção que a área fornecida pelo cálculo é a total que tem de
existir por metro linear do elemento em estudo. Sabendo que os estribos são, geralmente,
colocados a pares (e com um mínimo de 2 estribos por cinta que envolve as armaduras
longitudinais), devemos ter o cuidado de multiplicar as áreas apresentadas na tabela de ‘áreas
de armaduras distribuídas’ pelo número de estribos presentes na secção.

5.2.3.2 – Rotura pelas escoras de betão


Em termos de rotura por compressão das escoras de betão, esta é avaliada também em
função do esforço transverso resistente, Vrd, assumindo que será no mínimo igual ao de
cálculo. Assim temos, de acordo com o EC2 secção 6.2.3:

Contudo, para este mecanismo de rotura é importante ter a noção de que ele será maior
perto dos apoios, onde esforços se cruzam (como visto em 5.2). E neste cruzamento,
quaisquer forças de compressão perpendiculares à escora de betão vão aumentar a sua
resistência, enquanto que forças de tracção perpendiculares a diminuem.

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O EC2 contempla este efeito multi-axial de tensão limitando a tensão que poderá estar
aplicada na escora de betão:

Nota: tanto fck como fcd entram em MPa.

Assim, temos que a tensão na escora de betão pode ser dada, trabalhando a fórmula do
Vrd,max:

E limitando este a:

Nota: tanto Vsd deverá vir em N, b e z em mm. Assim sai um resultado em MPa.

Se a tensão não respeitar este máximo, haverá rotura pelas escoras de betão e será
necessário alterar a secção ou o valor de ϴ

5.2.3.3 – Influência do esforço transverso na armadura longitudinal de


flexão
No modelo de treliça apresentado, para o esforço transverso, é possível ver que este tem
efeito nas armaduras longitudinais ao descarregar tracções extra na face inferior da viga (já
traccionada pela flexão).
Contudo, essas tracções vão depender inteiramente do esforço transverso aplicado. Se
olharmos para uma envolvente de esforço transverso, como a do exemplo prático que se tem
seguido

João Paulo Santos Betão Armado Page 119


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Percebemos que os maiores esforços transversos estão junto aos apoios. Logo, o aumento
de tracções perto do centro do vão (ponto onde há maiores tracções devido aos Momentos) é
praticamente nulo.
À medida que nos afastamos do ponto de momento máximo, vemos as tracções devido à
flexão a diminuir e as tracções devido ao esforço transverso a aumentar. Esta variação de
forças faz com que não seja prático estar a somar ambas, sendo em vez disso preferível
considerar que o diagrama de momentos é aumentado em termos de distância em que está
aplicado.
Este aumento é o mesmo já considerado para a interrupção de armaduras, não sendo então
necessário efectuar nenhum ajuste extra mas provando a importância de se efectuar a
translação do diagrama de momentos quando se pensa em fazer dispensa de varões
longitudinais.

Por fim, como junto aos apoios há maiores tracções devido ao esforço transverso, é
necessário garantir que a armadura inferior que lá chega é suficiente para resistir a estas
tracções. Daí a necessidade de garantir que chegam a eles 25% da armadura aplicada para
resistir ao momento máximo positivo.

5.2.3.4 – Estribos inclinadas


O dimensionamento anterior assume que os estribos colocados são perfeitamente
perpendiculares à armadura longitudinal. Mas isso poderá nem sempre ser verdade. Estribos
inclinados devem ser uma solução extrema e usadas em conjunto com outros estribos
verticais. A presença destes estribos altera o calculo da seguinte forma.

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Asw
VRd,s = × fywd × z × (cotg θ + cotg α) × sen α
s
ν1 × fcd × bw × z × (cotg θ + cotg α)
VRd,max = αcw ×
1 + cotg 2 θ

Exemplo Prático
Continuando o exemplo prático, com ϴ = 35º, fsyd = 434,78 MPa, z = 0,344 m, z×cotgϴ =
0,491 m
Para o apoio esquerdo, as armaduras transversais vão utilizar Vsd1 = 16,691 kN
Para o apoio intermédio, mas do lado da viga de 4 metros, as armaduras transversais vão
utilizar Vsd2 = 39,465 kN
Para o apoio intermédio, mas do lado da viga de 6 metros, as armaduras transversais vão
utilizar Vsd3 = 51,201 kN
Para o apoio direito, as armaduras transversais vão utilizar Vsd4 = 33,105 kN

Rotura por estribos:

Vsd (kN) (Asw/s) nec (m2/m) (Asw/s) apl (cm2/m)


16,691 0,000078 Ø6//35 cm (0,81 cm2/m ×2 = área total de 1,62)
39,465 0,000185 Ø6//30 cm (0,94 cm2/m ×2 = área total de 1,88)
51,201 0,00024 Ø8//35 cm (1,44 cm2/m ×2 = área total de 2,88)
33,105 0,000155 Ø6//35 cm (0,81 cm2/m ×2 = área total de 1,62)

Nota: embora se tenham escolhido Ø6, estes varões tendem a ser muito fracos e muito
fáceis de serem dobrados acidentalmente, até mesmo durante a betonagem e a vibração do
betão. É aconselhado usar no mínimo Ø8.

Rotura por escoras de betão:

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25
σc,max = 0,6 × [1 − ] × 16,667 = 9,00 MPa
250

Vsd (kN) σc (MPa) Verifica o máximo?


16,691 0,344 Sim
39,465 0,813 Sim
51,201 1,056 Sim
33,105 0,683 Sim

5.2.4 – Disposições construtivas


Tal como acontece com o dimensionamento à flexão, existem várias disposições
construtivas regulamentares que procuram manter a segurança e assegurar um funcionamento
adequado e que encaixe dentro dos modelos teóricos usados para o cálculo.

5.2.4.1 – Área mínima


A área mínima de armadura transversal pode ser quantificada através da imposição de uma
percentagem de armadura, dada, no EC2 secção 9.2.2, por:

A área de armadura transversal mínima é então definida através da expressão:

5.2.4.2 – Espaçamento máximo dos estribos


O espaçamento máximo regulamentar existe por forma a evitar que fendas se formem entre
estribos. Este espaçamento máximo é definido no EC2 secção 9.2.2 e determinado pela
seguinte expressão:

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Sendo α o ângulo das armaduras de esforço transverso em relação ao eixo longitudinal da


viga.
Existe ainda a limitação quanto ao espaçamento transversal, na mesma secção do EC2. Se
este espaçamento for ultrapassado (porque a base do elemento é muito larga), devem ser
colocados mais ramos de estribos.

st,max = 0,75 × d ≤ 600 mm

O espaçamento transversal destas armaduras pode ser medido através da seguinte


expressão:
(b − 2 × cnom − n × ∅est )
st = ⁄(n − 1)

Sendo n o número de estribos

5.2.4.3 – Armadura longitudinal para esforço transverso


Uma vez que o Esforço Transvero terá influência nas compressões e tracções longitudinais,
será necessário garantir que está lá presente uma área de armadura, na zona inferior da viga,
igual a:
Vsd × cotgθ
AsL,ET =
fsyd
Na zona superior da viga não é obrigatório colocar varões longitudinais devido ao esforço
transverso porque os esforços resultantes do Esforço Transverso na viga são de compressão e,
portanto, vão causar um alívio das tracções na zona superior causadas por Momentos
Negativos do apoio.

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5.2.4.4 – Amarração de armadura de esforço transverso


A amarração de armadura de esforço transverso deve ser feita por meio de ganchos ou
cotovelos, ou através de armaduras transversais soldadas. Essa amarração deverá obedecer às
dimensões apresentadas na seguinte figura.

Exemplo Prático
Continuando o exemplo prático, e relembrando que a cada apoio chega 2Ø12 de armadura
longitudinal (2,26 cm2)
0,08 × √25
ρw,min = = 0,0008
500
Asw
( ) = 0,0008 × 30 = 0,024 cm2 /m
s min

smax ≤ 0,75 × 0,397 = 0,298 m ≈ 30 cm

st,max = 0,75 × 0,397 = 0,298 m ≈ 30 cm

Vsd × cotgθ
AsL,ET =
fsyd

Vsd (kN) (Asw/s) apl (cm2/m Verifica (Asw/s) min? Verifica smax?
total)
16,691 Ø6//35 cm (1,62) Sim Não

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39,465 Ø6//30 cm (1,88) Sim Sim


51,201 Ø8//35 cm (2,88) Sim Não
33,105 Ø6//35 cm (1,62) Sim Não

Como a maioria não verifica o espaçamento máximo, é preciso altera-las. Pode-se


escolher, por exemplo:
Vsd (kN) Nova (Asw/s) apl (cm2/m total) Verifica (Asw/s) min? Verifica smax?
16,691 Ø6//30 cm (1,88) Sim Sim
39,465 Ø6//30 cm (1,88) Sim Sim
51,201 Ø8//30 cm (3,36) Sim Sim
33,105 Ø6//30 cm (1,88) Sim Sim

Vsd (kN) (Asw/s) apl (cm2/m total) st (mm) Verifica st,max?


16,691 Ø6//30 cm (1,88) 218 Sim
39,465 Ø6//30 cm (1,88) 218 Sim
51,201 Ø8//30 cm (3,36) 214 Sim
33,105 Ø6//30 cm (1,88) 218 Sim

Vsd (kN) (Asw/s) apl (cm2/m AsL,ET (cm2) As que chega aos apoios
total) (2Ø12) verifica AsL,ET?
16,691 Ø6//30 cm (1,88) 0,55 Sim
39,465 Ø6//30 cm (1,88) 1,3 Sim
51,201 Ø8//30 cm (3,36) 1,68 Sim
33,105 Ø6//30 cm (1,88) 1,09 Sim

5.2.5 – Uniformização da armadura


Tal como acontece com as armaduras para resistir à flexão, é necessário fazer uma
uniformização para as armaduras de esforço transverso, principalmente se estas foram
calculadas com muitos incrementos de z×cotgϴ. Isto porque muitos incrementos com
armadura diferente tornam difícil e demorada a sua aplicação em obra, requerendo vários
espaçadores e/ou varões de tamanhos diferentes.
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É sempre possível, e dependendo do tamanho da obra e do orçamento desta, aplicar a


maior armadura transversal para todo elemento em estudo. Caberá ao projectista saber como
melhor uniformizar para cada obra.
Armaduras transversais devem ter sempre um espaçamento não inferior a 5 cm,
obedecendo assim ao espaçamento mínimo a que todas as armaduras, longitudinais e
transversais, devem obedecer (ver 5.1.2.3)

Exemplo Prático
Olhando novamente para o exemplo prático, vemos que as armaduras pelas quais se optou
já estão relativamente bem uniformizadas. Na viga de 4 metros, aplica-se no apoio à esquerda
e no intermédio Ø6//30 cm, logo pode-se prolongar esta armadura transversal para toda a
viga.
Na viga de 6 metros, aplica-se no apoio intermédio Ø8//30 cm e no direito Ø6//30 cm.
Como têm o mesmo espaçamento, pode-se tentar fazer uma uniformização onde exista uma
área com varões Ø8 e outra com varões Ø6.
Por exemplo, se Ø6//30 já é suficiente para resistir a um esforço transverso de 39,465 kN,
então pudemos calcular quando é que o diagrama V(x3) chega a este valor. Desde o apoio
intermédio até sensivelmente esse ponto, aplicam-se Ø8//30 cm e a partir daí, até chegar ao
apoio direito, aplicam-se Ø6//30 cm.
Quando V(x3) = 39,465 kN
39,465 = −16,556 × 𝑥 + 59,33 ⟺ 𝑥 = 1,2 m

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5.3 – Dimensionamento de vigas à torção


Quando um dado elemento de betão armado está sujeito a tensões tangenciais, ele sofrerá
efeito de torção. Isto ocorre muito principalmente em vigas de elevada rigidez à torção que
servirem de apoio a lajes, já que momentos nos apoios das lajes são perpendiculares ao eixo
longitudinal da viga e consequentemente passam para ela como momentos torsores.
O efeito de torção em elementos de betão armado pode ser visto da seguinte forma:

Embora em análise de elementos planos os momentos torsores raramente sejam


considerados, é necessário lembrar que um edifício funciona como uma estrutura espacial, e
neste tipo de estruturas ele está sempre presente.

Estruturas espaciais também tendem a ser hiperestáticas, e, portanto, o seu comportamento


depende muito da rigidez. De facto, a única maneira de se obter, numa estrutura espacial, um
equilíbrio de forças que não contemple torção, é considerar que a rigidez à torção é nula, o
que só é verdade quando o betão está fendilhado.

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5.3.1 – Comportamento de estruturas de betão à torção


Estudos da torção aplicada a elementos de betão relevaram que o comportamento de
secções ocas é muito semelhante ao de secções cheias (assumindo iguais dimensões exteriores
e mesma quantidade de armadura). A seguinte imagem mostra isso mesmo, apresentando um
gráfico onde a evolução da rotação, para um dado momento torsor aplicado, é bastante
semelhante para diferentes secções.

Isto significa que a maior resistência à torção está numa parede resistente em redor do
exterior da seção, sendo também essa a zona mais solicitada por este tipo de esforço (como se
pode ver na primeira imagem das tensões aplicadas devido à torção). Será então esta parede
resistente que irá determinar o comportamento do elemento a este tipo de esforço.
Para além deste comportamento interno da secção, é também importante compreender de
que forma a torção se aplica num elemento rectangular (como é o caso da maioria das vigas e
pilares). Imagine-se a seguinte viga com cargas pontuais Q aplicadas sob forma de binário
com um espaçamento ‘e’ entre elas.

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Estas cargas vão, obviamente, causar torção. Contudo, esse momento torsor causado por
estas cargas é estaticamente equivalente a ter a secção submetida a 4 esforços transversos
diferentes: um que tenta empurrar a face superior para a direita ou esquerda, a face inferior na
direcção oposta da face superior, a face esquerda para cima ou para baixo (respectivamente,
tendo em conta o movimento aplicado na face superior) e a face direita na direcção oposta da
face esquerda.

A torção pode assim ser equiparada, em termos de dimensionamento estrutural, a 4


modelos de esforço transverso nas 2 almas e nos 2 banzos. Sendo transformada num problema
de esforço transverso, haverá, claro, a necessidade de verificar a segurança nos mesmos
campos de tensão correspondentes bem como determinar armadura necessária pare resistir a
ele.

Combinando este conceito com o da parede resistente, teremos para análise do


comportamento à torção nada que usa essa parede resistente, desprezando a resistência
interior do elemento e aplicando as tensões nos banzos e almas.

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bm = b − hef hm = h − hef

Transformando esta tensão em esforço transverso teremos:

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Sendo um problema de esforço transverso, o dimensionamento à torção seguirá os mesmos


mecanismos de rotura que já foram vistos para o dimensionamento ao esforço transverso,
havendo apenas algumas disposições construtivas que se tem de ter em conta.

Passos do dimensionamento de vigas ao esforço torsor:


a) Dados do elemento em estudo. Conhecer os materiais do elemento, bem como o pré-
dimensionamento já feito para a flexão. Obter, também, a envolvente de esforços
torsores. Conhecer ϴ para o esforço transverso.
b) Determinar as secções a analisar (as que tiverem maior esforço torsor)
c) Avaliar mecanismos de rotura
• Determinar armaduras necessárias ((Ast / s)nec), através da possível rotura pelos
estribos
• Avaliar possível rotura pelas escoras de compressão
• Escolher a armadura a aplicar (Ast / s)apl
d) Verificar disposições construtivas
• Somar armaduras do esforço torsor às de esforço transverso
• Espaçamento máximo das armaduras (Smax)
• Armadura longitudinal nos apoios devido ao esforço torsor (AsL,T)

5.3.2 – Mecanismos de rotura


A determinação das armaduras necessárias para o esforço torsor usa o mecanismo de rotura
de estribos. Depois é necessário verificar a compressão das escoras de betão.

5.3.2.1 – Armadura necessária


Sabendo que

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É possível determinar então as armaduras necessárias transversais para resistir ao esforço


torsor para cada parede. Numa parede vertical, por exemplo:
Ast VV Tsd Tsd
= = =
s hm × cotgθ × fsyd 2 × bm × hm × cotgθ × fsyd 2 × Aef × cotgθ × fsyd

Sendo
Aef = bm × hm
Tsd – Valor resistente do esforço de torção aplicado a uma distância do apoio = Z × cotg θ

A área obtida é para cada parede, ou seja, para cada estribo. Por isso, tal como acontece
com o esforço transverso, quando estivermos a escolher as armaduras a aplicar deveremos
multiplicar os no quadro por 2. Para a torção não haverá mais do que um estribo por parede
resistente.
Se fosse calculado para uma parede horizontal, o valor seria o mesmo.

5.3.2.2 – Verificar compressão no betão


Em termos de compressão nas escoras de betão teremos:

Exemplo Prático
Continuando o exemplo prático presente no dimensionamento ao esforço transverso e
adicionando-lhe um momento torsor de 25 kNm no sentido horário, constante por todo o
elemento:

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fcd = 16,67 MPa


fsyd = 434,78 MPa
d = 0,397 m
C25/30
a = 0,053 m
Øest max = 10 mm
Ø = 35º
Cotg 35º = 1,428
T=25 kNm

Cuja distribuição de armaduras longitudinais final foi de:

Parede resistente:
A 0,3 × 0,45
hef = = = 0,09 m
u 2 × 0,3 + 2 × 0,45
bm = b − hef = 0,3 − 0,09 = 0,21 m
hm = h − hef = 0,45 − 0,09 = 0,36 m
Aef = bm × hm = 0,21 × 0,36 = 0,0756 m2

Armadura transversal para resistir à torção:


Ast Tsd 25
= = = 0,000266 m2 /m
s 2 × Aef × cotgθ × fsyd 2 × 0,0756 × 1,428 × 434,78 × 103

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Compressão nas escoras de betão:


Tsd 25
σc = =
2 × Aef × hef × cosθ × senθ 2 × 0,0756 × 0,09 × cos35 × sen35
= 3910,12 kPa = 3,91 MPa
25
σc,max = 0,6 × [1 − ] × 16,667 = 9,00 MPa
250
Como não ultrapassa a tensão máxima, verifica a compressão nas escoras de betão.

5.3.3 – Disposições construtivas


Para a torção não há muitas disposições construtivas a ter em conta.

5.3.3.1 – Somar ao esforço transverso


Devido ao esforço de torção se transformar em esforço transverso aplicado nas faces do
elemento, rapidamente se percebe que nas faces laterais este irá contrariar os efeitos de
esforço transverso inicialmente calculados (basta que a torção cause uma força de baixo para
cima nessa face) e noutra irá aumentá-los (ao fornecer uma força de cima para baixo, o
mesmo sentido que o esforço transverso).
Como se compreende, por questões de segurança e de aumento de cargas aplicadas,
quando se está em situação de possível alívio de cargas esse mesmo alívio não é considerado
(até porque os esforços que causem esse alívio podem nem estar sempre presentes). E quando
se está em possível aumento de cargas, é necessário avaliar como se comporta o elemento
com esse aumento. Assim, será necessário somar os efeitos de esforço de torção com os de
esforço transverso.
Então, as armaduras transversais finais são dadas por:
As Asw Ast
( ) =( ) +( )
s trans s nec s nec

Por sua vez, a compressão total nas escoras de betão será:


σc total = σc,ET + σc,T
fck
σc total ≤ 0,6 × [1 − ] × fcd
250

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5.3.3.2 – Espaçamento máximo das armaduras


As armaduras transversais para resistir à torção têm de ter um espaçamento que não
ultrapasse o seguinte máximo:

Sendo
uef – o perímetro efectivo de torção. Para elementos rectangulares = 2×bm + 2×hm

5.3.3.4 – Armadura longitudinal para esforço torsor


Uma vez que se transforma num problema de esforço transverso, haverá necessidade de
garantir que a secção possui uma dada armadura longitudinal nas secções críticas (apoios,
geralmente).
Mas enquanto no esforço transverso o acréscimo de tracções causado pelo mecanismo de
treliça era considerado na translação do diagrama de momentos, o mesmo não acontece com o
esfoço de torção. Torna-se então necessário calcular a armadura longitudinal de torção que
terá de haver em cada face. Se as armaduras existentes já lá colocadas para resistir aos
esforços da flexão já forem superiores a estes valores não é necessário colocar quaisquer
varões adicionais.
Na totalidade de todas as faces, tem de estar uma área de armadura longitudinal de torção
igual a:

O valor da área que tem de estar em cada face é determinado pelas seguintes proporções:
Para faces superior e inferior da viga:
bm
AsL ×
uef
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Para faces laterais da viga:


hm
AsL ×
uef

Lembrar que no apoio existe ainda a necessidade de armadura longitudinal causada pelo
Esforço Transverso, AsL,ET. Então no apoio deverá haver uma armadura longitudinal, na face
inferior, de:
bm
AsL,ET + AsL ×
uef
É necessário lembrar também as disposições construtivas vistas para a flexão simples, que
indicam que pelo menos 25% da As para resistir aos M+ deve ser prolongada para o apoio.
Logo, Asl, apoio tem de ser o superior ao maior valor entre esses 25% e o valor da fórmula
anterior.
É importante ter em conta que um varão num canto superior servirá tanto para determinar a
área de aço numa face lateral como também na face/superior. O mesmo para os varões em
cantos inferiores.
Se os varões existentes nos cantos não forem suficientes para resistir aos esforços de
torção, devem ser colocados varões adicionais distribuídos uniformemente ao longo do
contorno interno das cintas, com um espaçamento máximo de 350 mm (EC2 9.2.3)

Exemplo Prático
Continuando o exemplo prático e sabendo que uef = 2×0,21 + 2×0,36 = 1,14 m:

Área de armadura transversal necessária:


As Asw Ast
( ) =( ) +( )
s trans s nec s nec

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Ast
( ) = 0,000266 m2 /m = 2,66 cm2 /m
s nec

Vsd (Asw/s) nec Somando (Ast/s) (As/s) trans apl (cm2/m)


(kN) (cm2/m) nec (cm2/m)
16,691 0,78 3,44 Ø8//25 cm (2,01 cm2/m ×2 = área total de 4,02)
39,465 1,85 4,51 Ø8//20 cm (2,51 cm2/m ×2 = área total de 5,02)
51,201 2,4 5,06 Ø8//15 cm (3,35 cm2/m ×2 = área total de 6,7)
33,105 1,55 4,21 Ø8//20 cm (2,51 cm2/m ×2 = área total de 5,02)

Verificar compressão nas escoras de betão:


Usando apenas a maior tensão obtida para o esforço transverso:
σc total = σc,ET + σc,T = 1,056 + 3,91 = 4,966 MPa ≤ 8,8 MPa (σc,max )
Como não ultrapassa o máximo, não há rotura pelas escoras de betão.

Espaçamento máximo:
O espaçamento máximo da armadura transversal é:
1
smax = min ( × 1,14; 0,3; 0,45) = 0,3 m
8
Todas as armaduras escolhidas verificam por terem afastamento inferior ao máximo.

Armadura longitudinal de torção:


Sabendo que:
Tsd × cotgθ × uef 25 × 1,428 × 1,14
AsL = = = 0,000616 m2
2 × Aef × fsyd 2 × 0,0756 × 434,78 × 103

Para faces laterais da viga:


hm 0,36
AsL × = 0,000616 × = 0,000195 m2 = 1,95 cm2
uef 1,14

Para face superior da viga:


bm 0,21
AsL × = 0,000616 × = 0,000113 m2 = 1,13 cm2
uef 1,14

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b
Para face inferior da viga: AsL,ET + AsL × um
ef

Vsd (kN) AsL,ET (cm2) Somando As,L (cm2)


16,691 0,55 1,68
39,465 1,3 2,43
51,201 1,68 2,81
33,105 1,09 2,22

Apoio Face Faces Face As, longitudinal nos apoios verifica o


superior laterais inferior necessário em cada face?
Esquerdo 2Ø16 (4,02 1Ø16+1Ø12 2Ø12 (2,26 Verifica a face superior, lateral e
cm2) (3,14 cm2) cm2) inferior
Intermédio 3Ø16 (6,03 1Ø16+1Ø12 2Ø12 (2,26 Verifica a face superior e lateral,
(viga 4 m) cm2) (3,14 cm2) cm2) mas não a inferior
Intermédio 3Ø16 (6,03 1Ø16+1Ø12 2Ø12 (2,26 Verifica a face superior e lateral,
(viga 6 m) cm2) (3,14 cm2) cm2) mas não a inferior
Direito 2Ø16 (4,02 1Ø16+1Ø12 2Ø12 (2,26 Verifica a face superior, lateral e
cm2) (3,14 cm2) cm2) inferior

Por não verificar a armadura longitudinal no apoio intermédio (em cada lado), será
necessário aumentar a armadura longitudinal que chega a ele.
Opção: prolongar o reforço de 1Ø12 aplicado na secção 3 para toda a viga.

Uniformizando também a armadura transversal, poderemos ter então a seguinte disposição


de armaduras:

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5.4 – Dimensionamento de pilares


Pilares são elementos esbeltos que estão geralmente submetidos à flexão composta ou
desviada. O cálculo de pilares à flexão composta segue o mesmo princípio que o
dimensionamento de vigas a este tipo de acção. Contudo, na maioria das situações um pilar
encontra-se submetido à flexão desviada. Esta corresponde à actuação simultânea de um
esforço axial e de flexão segundo cada um dois eixos principais. Nos pilares ela é comum uma
vez que este tipo de elemento recebe momentos vindos de vigas com direcções diferentes.

Passos do dimensionamento de vigas à flexão:


a) Escolher materiais e pré-dimensionar a secção, à semelhança do que foi feito para
flexão em vigas. Avaliar também o esforço transverso aplicado no pilar e escolher ϴ.
b) Calcular os esforços e determinar secções a analisar.
c) Calcular as armaduras resistentes para flexão composta desviada e para esforço
transverso.
d) Verificar disposições construtivas
• Armadura mínima e máxima (As,min e As,max)
• Espaçamento mínimo das armaduras longitudinais
• Espaçamento máximo dos estribos (Smax)
• Diâmetro mínimo das armaduras transversais (Øcinta)
• Disposições construtivas para esforço transverso
e) Forma da cintagem

5.4.1 – Determinar secções a analisar


No dimensionamento de pilares é preciso ter atenção a variação de esforço axial que o pilar
sofre. Isto porque no seu topo, os pilares recebem os esforços transversos das vigas, que são
transmitidas como esforço axial para o pilar, mas quando este esforço chega à base ele foi
acrescido das cargas permanentes do pilar. Em problemas teóricos onde não sejam
considerados os efeitos de encurvadura (nem os de 1ª ordem), deve-se dimensionar as
armaduras para a secção de topo e a secção da base do pilar. Se estes efeitos forem
considerados, como é correcto, então o momento flector a usar para o cálculo será diferente
(ver a secção sobre encurvadura em pilares).
João Paulo Santos Betão Armado Page 139
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O tipo de apoio considerado para os pilares também condiciona o dimensionamento destes


já que irá ditar a variação dos momentos flectores que estão aplicados. Por exemplo, um apoio
duplo na base do pilar dita que na base do pilar os momentos são nulos. Geralmente
consideram-se sapatas como sendo encastramentos.

5.4.2 – Armaduras a aplicar


Numa situação de flexão composta desviada, o posicionamento para a linha neutra de uma
secção de betão armado bem como o diagrama de tensões e extensões não respeita os eixos
principais da estrutura, sendo oblíquo.

Ora:
(i) Se para cada orientação da Linha Neutra, se “varrer” a secção com todos os possíveis
diagramas de rotura.
(ii) Se se repetir o trabalho anterior para todas as orientações possíveis da Linha Neutra.
Obtém-se um diagrama de interacção tridimensional (NRd, MRd,y, MRd,z) – ver figura
seguinte, para aquela quantidade de armadura. Representa-se também um corte para um dado
nível de esforço axial actuante.

João Paulo Santos Betão Armado Page 140


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Repetindo o processo para várias quantidades de armadura, obtém-se os diagramas base


para o dimensionamento e verificação de segurança da flexão composta desviada. E tal como
na flexão composta e na flexão simples, estabelecem-se equações de equilíbrio através de
grandezas adimensionais.

A determinação da armadura a aplicar recorre ao uso de diagramas que incluem estas 3


grandezas adimensionais. Por exemplo:

João Paulo Santos Betão Armado Page 141


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Notar que para a flexão desviada já não existe diferenciação entre armaduras de
compressão ou de tracção. Calcula-se a As,tot que depois é dividida para as 4 faces da secção,
de acordo com a divisão indicada no diagrama escolhido.

5.4.3 – Disposições construtivas


Os pilares possuem várias disposições construtivas que devem ser seguidas. É importante
ter noção de que todas estas tiradas do EC2 são referentes a zonas de pouca sismicidade. Se o
elemento estiver numa zona onde sismos possam ocorrer, deve-se obedecer às indicações do
EC8.
Para além das disposições regulamentares, existem ainda duas considerações importantes
relativas à execução do pilar:
• 1 varão em cada ângulo da secção (saliente ou reentrante) ou 4 varões em secções
circulares ou a tal assimiláveis (É recomendável adoptar pelo menos 6 varões)
• A disposição das armaduras nos pilares deve ser distribuída no contorno, com eventual
reforço nas zonas do canto, mas, sempre, de forma a que a distância entre 2 varões
consecutivos não seja superior a 30 cm.
• É também importante referir que em caso de necessidade de emendas, estas devem ser
feitas na zona intermédia do pilar.

5.4.3.1 – Armadura mínima e máxima longitudinal


O EC2 secção 9.5.2 indica que um pilar deverá ter uma armadura mínima longitudinal que
pode ser dada por esta fórmula:

Em que Ac é a área da secção do pilar.


A armadura máxima longitudinal continua a ser a mesma considerada para a flexão
simples:
As,max = 0,04 × Ac

Em zonas de maior sismicidade, como é o caso de Portugal, o EC8 impõe um mínimo de


0,1×Ac
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5.4.3.2 – Diâmetro mínimo de armaduras longitudinais


De acordo com o EC2 secção 9.5.2, o diâmetro mínimo das armaduras longitudinais nos
pilares é 8 mm, mas aconselha-se a usar Ø10 ou superior.

5.4.3.3 – Espaçamento mínimo das armaduras longitudinais


Tal como todas as armaduras longitudinais, as presentes num pilar devem responder às
necessidades de espaçamento mínimo já apresentadas nas disposições construtivas para a
flexão simples.

5.4.3.4 – Espaçamento máximo dos estribos


As estribos dos pilares não podem ter um espaçamento superior a:

O espaçamento indicado deve ser reduzido a 0,6×smáx, nos seguintes casos:


• Nas secções adjacentes a vigas ou lajes, numa altura igual à maior dimensão do pilar
(esta disposição tem em consideração melhorar a cintagem do betão e, portanto, a
ductilidade da secção, nas zonas de maiores esforços de flexão)
• Nas secções de emenda de varões longitudinais, caso o diâmetro destes varões seja
superior a 14 mm. Deverão existir pelo menos três cintas ao longo do comprimento de
emenda.

5.4.3.5 – Diâmetro mínimo das armaduras transversais


O diâmetro mínimo das armaduras transversais de pilares é:

Recomendável 8 mm ou superior.

5.4.3.6 – Disposições construtivas para esforço transverso


Para além das disposições construtivas já apresentadas, todas as disposições construtivas
apresentadas para o esforço transverso têm de ser cumpridas nos pilares.

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5.4.4 – Forma da cintagem


A colocação das cintas (armadura transversal), nos pilares, é de extrema importância já que
estas vão também ajudar a controlar problemas de encurvadura.
• Os varões longitudinais situados nos cantos da secção devem ser abraçados por
armadura transversal.
• Em zonas comprimidas, é necessário cintar todos os varões longitudinais que se
encontrem a mais de 15 cm de varões cintados (ver pormenor das secções transversais).

5.5 – Encurvadura em pilares


Uma vez que pilares são elementos esbeltos (grande altura para uma pequena secção), estes
sofrerão de efeitos de encurvadura.
Os efeitos de encurvadura possuem duas componentes importantes: efeitos de 1ª Ordem, e
efeitos de 2ª Ordem.
• Teoria de 1ª Ordem: nos elementos de betão armado não solicitados por cargas axiais,
os esforços são, em geral, determinados na estrutura não deformada. Nestes casos a
influência da deformação da estrutura nos esforços actuantes é desprezável. Teoria
utilizada para o cálculo já visto nesta cadeira.
• Teoria de 2ª Ordem: sempre que as imperfeições geométricas ou as próprias
deformações da estrutura possam ter um efeito importante nos esforços solicitantes
(em particular no caso de pilares esbeltos), as condições de equilíbrio devem ser
estabelecidas na estrutura deformada. Quanto maior for a encurvadura de um
elemento, maior será o efeito de 2ª Ordem.

Em pilares, devem-se calcular sempre os efeitos de 2ª Ordem, pois são estes associados à
esbelteza, sendo o seu efeito adicionado aos efeitos de 1ª Ordem.
Para além destes efeitos, ainda se tem em conta os efeitos de imperfeições geométricas.
Entre eles está o efeito que considera que a carga axial aplicada não está directamente
aplicada no centro da secção, mas sim com uma certa excentricidade relativamente ao centro.
Isto, claro, faz aumentar os momentos inicialmente calculados, daí a importância de avaliar a
encurvadura e o seu efeito nos esforços do pilar.

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É também importante ter a noção que em pilares que sofram de flexão desviada, a
encurvadura deverá ser analisada para cada um dos eixos principais do pilar.

5.5.1 – Esbelteza
A esbelteza de um pilar é dada pela relação entre o comprimento efectivo de encurvadura e
o raio de encurvadura da peça em estudo.
l0
λ=
i
em que:
l0 – comprimento efectivo de encurvadura, ou seja a distância entre os pontos de momento
nulo ou pontos de inflexão da linha de deformada. Podem ser determinados de acordo com os
exemplos da seguinte imagem:

i – raio de giração, dado por:

I
i=√
A

Sendo ‘A’ área do pilar e ‘I’ o momento de inércia da secção, referente ao eixo
perpendicular ao plano de encurvadura. Para o cálculo da esbelteza, pode-se considerar a
inércia da secção de betão sem o efeito de armaduras e estando no Estado I (ou seja,
imediatamente antes da fendilhação).

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É importante ter em conta que o nó de junção entre pilares e vigas raramente funciona
como um encastramento perfeito, mas também não funciona como uma rótula. A situação real
encontra-se entre ambos os casos e, para um dimensionamento correcto, deverá considerar-se
o pior (ou seja, o que levar a maiores momentos flectores no pilar). Geralmente, esse
corresponde a considerar que o nó de junção é uma rótula.

5.5.2 – Efeitos de 1ª Ordem


Os efeitos de primeira ordem referem-se maioritariamente aos momentos calculados para o
pilar segundo a estática, mas estes devem ser acrescidos considerando imperfeições
geométricas da estrutura e uma possível imperfeição na posição do carregamento.
Estas imperfeições geométricas podem ser avaliadas considerando a estrutura como tendo
uma inclinação inicial, ϴi, ou uma força horizontal equivalente Hi ou para elementos isolados
considerando uma excentricidade inicial ei ou uma força horizontal equivalente Hi.

5.5.2.1 – Inclinação inicial


A inclinação inicial pode ser calculada através da seguinte fórmula:
θi = θ0 × αh × αm
Onde:
ϴ0 – o valor de inclinação base. Pode ser igual a 1/200;

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αh – coeficiente de redução relacionado com o comprimento do elemento (αh = 2⁄ e


√l
deverá estar entre: 2/3 ≤ αh ≤ 1)
αm – coeficiente de redução relacionado com o número de elementos verticais existente na

estrutura (αm = √0,5 × (1 + 1⁄m) onde m representa o número de elementos verticais).

5.5.2.2 – Excentricidade inicial


Caso se considere uma excentricidade inicial, esta pode ser dada por:
𝑙
ei = θi × 0⁄2

Caso se tratem de colunas isoladas em estruturas contraventadas, pode-se considerar que


𝑙
ei = 0⁄400

5.5.2.3 – Força horizontal equivalente


Caso se avalie as imperfeições geométricas como sendo uma força horizontal equivalente,
esta deverá actuar na posição em que provoque um maior momento flector. O seu valor pode
ser obtido por:
• Elementos não contraventados: Hi = N×ϴi
• Elementos contraventados: Hi = 2×N×ϴi

A rotação poderá ser transformada numa relação entre a excentricidade e o comprimento


efectivo de encurvadura.

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5.5.2.4 – Momento de 1ª Ordem


O momento final a considerar dos efeitos de 1ª ordem pode ser obtido pela expressão:
M0sd = M0e + Nsd × ei

Com:
Nsd – esforço axial aplicado no pilar, que deverá incluir o peso próprio deste
M0e – momento de extremidade de primeira ordem equivalente.

M0e equivale ao momento máximo obtido para pilares só com uma distribuição de
momentos (ou seja, pilares bi-rotulados – ver imagem a) na figura da determinação de l0 – ou
pilares isolados sem contraventamento – ver imagem b) na figura da determinação de l0 –),
M0e equivale ao momento máximo obtido.
Para todos os outros casos, que leva a momentos positivos e negativos, M0e será dado por:

Sendo M02 o módulo do maior momento e M01 o módulo do menor momento.


Se os momentos M02 e M01 causarem tracções na mesma face, estes devem ter o mesmo
sinal na fórmula anterior. Caso contrário, devem apresentar sinais contrários. Por fim,
|𝑀02 | ≥ |𝑀01 |

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5.5.3 – Dispensa de efeitos de 2ª Ordem


Quando se está numa situação em que os elementos se avaliam isoladamente (ver capítulo
sobre Estudo Global da Estrutura), ou que de facto estejam isolados, o EC2 secção 5.8.3
apresenta uma condição que, se for satisfeita, permite-nos desprezar os efeitos de 2ª ordem no
elemento.
A condição apresentada é: λ ≤ λlim
Sendo λlim determinado por:

Sendo:
A = 1 / (1 + 0,2 𝜑ef) (se 𝜑ef for desconhecido, A = 0,7);
B = √(1 + 2 × ω) (se ω for desconhecido, B = 1,1);
C = 1,7 – rm (se rm for desconhecido, C = 0,7)

Onde:
𝜑ef representa o coeficiente de fluência efectivo;
ω = As × fyd / Ac × fcd e representa a percentagem mecânica de armadura;
rm = M01 / M02 onde M01 e M02 representam os momentos de primeira ordem nas
extremidades de um elemento, sendo |M02| ≥ |M01|;
𝜐 = Nsd / (Ac × fcd) e representa o esforço normal reduzido

5.5.3 – Efeitos de 2ª Ordem


A avaliação dos efeitos de 2ª ordem é complexa, já que obriga a estabelecer condições de
equilíbrio na estrutura deformada ao mesmo tempo que se considera um comportamento não
linear do betão armado. Isto leva à necessidade de análises não lineares da estrutura tendo em
conta as várias não linearidades geométricas da linha de deformada e as dos materiais.
Este método geral pode ser aplicado para qualquer tipo de elemento e qualquer
carregamento mas é fastidioso e com um cálculo extenso.

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Este método permite-nos tirar o Momento Flector final que se irá considerar para o
dimensionamento do pilar.

Onde:
M – momento flector final
M0 – momento flector de 1ª ordem
M2 – momento flector de 2ª ordem
v – deslocamento associado à curvatura 1/r
lo – comprimento de encurvadura do elemento
c – factor que depende da distribuição da curvatura (para distribuição parabólica, c=9,6;
para distribuição uniforme (constante), c=8; para distribuição triangular simétrica, c=12)

Tanto M como 1/r são relativos à secção mais esforçada do pilar.

Contudo, o EC2 contempla a utilização de dois métodos simplificados para o cálculo:


• Método da Rigidez Nominal (EC2 5.8.7), que consiste em estimar a rigidez de flexão,
EI, do elemento estrutural para problemas de encurvadura.
• Método da Curvatura Nominal (EC2 5.8.8), que consiste em estimar a curvatura (1/r)
na secção mais esforçada.

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Para os efeitos de segunda ordem, a fluência do betão será uma característica importante, já
que agrava as deformações que o elemento sofre. De acordo com o EC2 5.8.4, a fluência pode
ser considerada, de forma simplificada, através de um coeficiente de fluência activo, φef:

em que:
φ(∞,t0) – coeficiente final de fluência, de acordo com EC2 secção 3.1.4;
M0Eqp – momento flector de primeira ordem (momento flector total) na combinação de
acções quase-permanente (ELS)
M0Ed – momento flector de primeira ordem (momento flector total) na combinação de
acções de cálculo (ELU).

Esse efeito poderá ser ignorado, ou seja φef = 0 nas seguintes condições:
φ(∞,t0) ≤ 2
λ ≤ 75
M0Ed /Ned ≥ h, sendo h a altura da secção transversal, na direcção correspondente a M0Ed

Será também importante rever a carga máxima de encurvadura, que é dada por:

Sendo:
Pcr – carga crítica mínima para se verificar encurvadura
E – módulo de elasticidade
I – momento de inércia mínimo da secção transversal
l0 – comprimento de encurvadura (depende das condições de fixação da peça)

E claro:

Onde ‘e’ é a excentricidade associada a esse momento.

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Infelizmente, ambos os métodos requerem a existência de uma armadura longitudinal.


Caso esta ainda não se conheça, deve-se fazer por um processo iterativo onde As ou ω são
estimados no pré-dimensionamento.

5.5.3.1 – Método da Rigidez Nominal


Este método permite-nos tirar o Momento Flector final através da seguinte expressão:
M0
M=
N
1−N
b

Em que N = Nsd e Nb é dado pela seguinte expressão:

É então aqui que entra o parâmetro da rigidez de elementos comprimidos e esbeltos e que
deverá ter em conta a fendilhação e a fluência do betão. O EC2 indica que esta rigidez é dada
por:

em que:
Ecd – valor de cálculo do módulo de elasticidade do betão, Ecd = Ecm /γcE, com γcE = 1,2
Ic – momento de inércia da secção transversal de betão
Es – módulo de elasticidade do aço das armaduras,
Is – momento de inércia das armaduras, em relação ao centro da área do betão
Kc – coeficiente que toma em conta os efeitos da fendilhação e da fluência
Ks – coeficiente que toma em conta a contribuição das armaduras

Os parâmetros Kc e Ks dependem da taxa geométrica de armadura, ρ, que para este caso:


As
ρ= ⁄A (As é a área total de armaduras longitudinais; Ac é a área da secção de betão)
c

Para ρ ≥ 0,002:
Ks = 1

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k1 × k 2
kc =
(1 + φef )

k1 – é um coeficiente que depende da classe de resistência do betão:

f
k1 = √ ck⁄20 , com fck em MPa

K2 – é um coeficiente que depende do esforço normal e da esbelteza:


λ
k2 = υ × ≤ 0,2
170

Onde:
Ned
υ − esforço axial reduzido: υ =
Ac × fcd

Se λ não estiver definido, pode-se assumir: k 2 = n × 0,3

Para ρ ≥ 0,01:
0,3
Ks = 0 k c = (1+0,5×φ
ef )

5.5.3.2 – Método da Curvatura Nominal


Este método obtém-se o momento final de segunda ordem calculando a curvatura da
estrutura, 1/r. Para este método, assume-se que as armaduras de compressão entram em
cedência em simultâneo com as armaduras de tracção, obtendo assim aquilo a que se chama
de curvatura base (ver a figura seguinte):

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Segundo este método, para um pilar em situação de encurvadura, determina-se o momento


que a causa, relacionando a encurvadura com esse momento e a rigidez da estrutura:

Sabendo que o momento flector de secunda ordem é causado pela carga axial aplicada ao
pilar com excentricidades devido a imperfeições, logo pode-se dizer que:

Pegando nas fórmulas:

Obtemos:
π2 × EI × e 1 l20 1 l20 1
= ⟺ e = × ≈ ×
EI × l20 r π2 r 10 r

Para ser mais preciso, a fórmula final será:


l20 1
e2 = ×
c r
Em que ‘c’ é geralmente igual a 10 mas caso o momento de primeira ordem no pilar seja
constante, pode-se assumir c=8

Já a curvatura máxima, medida na secção crítica, será dada por:

Em que:
Kr – factor correctivo que tem em consideração o nível de esforço axial;
Kφ – coeficiente destinado a ter em conta o efeito da fluência;
1/r0 – representa a curvatura base

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Como apresentado em cima:


1 εyd fyd
≅ e εyd ≅
r0 0,45 × d Es

O coeficiente Kr destina-se a ter em conta o facto de, em determinados casos, a maior


perda de rigidez se dá antes da armadura atingir a extensão de cedência, o que conduz a uma
curvatura inferior à curvatura base. Este pode ser obtido pela seguinte expressão:

Em que:
ν – representa o valor do esforço normal reduzido;
νbal – representa o valor do esforço normal reduzido na zona do máximo momento
resistente (em geral, νbal = 0.4);
νu = 1 + ω, com ω = As×fyd / (Ac×fcd).

Já o coeficiente Kφ pretende corrigir os casos em que a curvatura base seria inferior à real
devido ao facto de não se considerar o efeito da fluência de betão. Assim:

Em que:

O momento final de cálculo será dado por:


Msd = M0sd + M2
Ou seja:
Msd = M0sd + N2 × e2

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Exemplo prático nº1


Considere um pilar com 4 metros de altura, pertencente a um pórtico contraventado,
considerado como duplamente encastrado, e uma secção de 30×30 cm. Esse pilar é
constituído por um betão C25/30 e aço A500 e de revestimento tem 2 kN por metro linear de
pilar. Assumir também que no topo de cada pilar está aplicada uma carga axial de 1000 kN,
apontada para baixo, causada pela presença de outros elementos acima deste pórtico.
As envolventes de momentos são:
Direcção x Direcção y

Em termos de momentos para a combinação quase-permanente, considere-se que estes


equivalem a 50% dos momentos determinados.

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Em termos de cargas axiais que o pilar, vindo das vigas que nele descarregam: N = 185,6
kN, logo: Nsd = N + peso pilar + 1000 = N + Ng + 500 = 185,6 + 1,35 × (25 × 0,35 ×
0,35 + 2) × 4 + 1000 = 1212,94 kN
Em termos de esforço transverso aplicado, este terá Vsd constante de 21,1 kN na direcção x
e 29,5 kN na direcção y. Usa-se, portanto, Vsd = 29,5 kN

Esbelteza:
0,34
I=( ) = 0,000675 m4
12

I 0,000675
i=√ =√ = 0,0866 𝑚
A (0,3 × 0,3)

l0 4⁄
λ= = 2 = 23,0947
i 0,0866

Será a mesma para cada direcção já que a secção do pilar é quadrada.

Excentricidade devida às imperfeições geométricas:


αh = 2⁄ = 2⁄ = 1 ≤ 1 → αh = 1
√l √4

αm = √0,5 × (1 + 1⁄m) = √0,5 × (1 + 1⁄1) = 1

1 1
θi = θ0 × αh × αm = ×1×1=
200 200
4
1 (2)
ei = × = 0,005 m
200 2

Será a mesma para cada direcção já que a secção do pilar é quadrada.

Momento de 1ª ordem:
M0sd = M0e + Nsd × ei

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Direcção x:
0,6 × M02 + 0,4 × M01 0,6 × 56,2 + 0,4 × (−28) 22,52
M0e ={ ={ ={ = 22,52 kNm
0,4 × M02 0,4 × 56,2 22,45
Direcção x teremos: M0sd = 22,52 + 1212,94 × 0,005 = 28,585 kNm

Direcção y:
0,6 × M02 + 0,4 × M01 0,6 × 78,7 + 0,4 × (−39,2) 31,54
M0e = { ={ ={ = 31,54 kNm
0,4 × M02 0,4 × 78,7 31,48

Direcção y teremos: M0sd = 30,72 + 1212,94 × 0,005 = 36,785 kNm

Verificação da necessidade de considerar efeitos de 2ª ordem:


Direcção x:
A = 0,7
B = 1,1
C = 1,7 – rm = 1,7 – (28 / 56,2) = 1,20178
𝑁𝑠𝑑 1212,94
𝜐= = = 0,8086
(𝐴𝑐 × 𝑓𝑐𝑑 ) (0,3 × 0,3 × 16,667 × 103 )
fck
fcd = = 16,667 MPa
1,5

Logo:
20 × A × B × C 20 × 0,7 × 1,1 × 1,20178
λ𝑙𝑖𝑚 = = = 20,582
√𝜈 √0,8086

Direcção y:
A = 0,7
B = 1,1
C = 1,7 – rm = 1,7 – (39,2 / 78,7) = 1,20191
𝑁𝑠𝑑 1212,94
𝜐= = = 0,8086
(𝐴𝑐 × 𝑓𝑐𝑑 ) (0,3 × 0,3 × 16,667 × 103 )

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fck
fcd = = 16,667 MPa
1,5

Logo:
20 × A × B × C 20 × 0,7 × 1,1 × 1,20191
λ𝑙𝑖𝑚 = = = 20,584
√𝜈 √0,8086

Como λ ≥ λ𝑙𝑖𝑚 para ambas as direcções, não se pode dispensar os efeitos de 2ª ordem.
Teremos de calcular esses efeitos para cada direcção, por forma a obter os momentos finais
que serão utilizados no dimensionamento do pilar.

Determinar efeitos de 2ª ordem: método da curvatura nominal


Nsd = 1212,94 kN
Msd = M0sd + N2 × e2

l20 1 l20 1
e2 = × = ×
c r 10 r

1 1
= Kr × Kφ ×
r r0

fyd 434,78 MPa


εyd ≅ = = 0,002174
Es 200000 MPa
1 εyd εyd 0,002174
≅ = = = 0,01789
r0 0,45 × d 0,45 × d 0,45 × 0,27

A altura útil, d, pode ser calculada, tal como já foi apresentado antes, mas para isso seria
necessário conhecer a classe de exposição do pilar. Assim, por simplificação, d = 0,9×h =
0,27 m. É importante ter noção da direcção que estamos a analisar.
Caso o pilar tivesse dimensões diferentes, para a direcção x a altura útil utilizaria a base da
secção e para a direcção y utilizaria a altura. Isto deve-se ao tipo de rotação que os momentos
causam. A dimensão da secção deverá corresponder sempre à dimensão que tenha o maior
expoente no cálculo do momento de inércia da secção.

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Para determinar Kr, é necessário estimar ω. Para este exercício, vamos estimar ωtot = 0,3.
Se for colocado mais armadura do que esta, será necessário refazer as contas para a
encurvadura, já que isso aumentará o valor de Kr e consequentemente aumentará o valor de e2.

νu = 1 + ω = 1 +0,3 = 1,3
νbal = 0.4
1,3 − 0,8086
Kr = = 0,546 ≤ 1 → K r = 0,546
1,3 − 0,4

Para Kφ, é necessário conhecer φ(∞,t0). Usualmente, pode-se considerar este valor como
sendo 2 se não for conhecido.

Verificar se φef = 0:
φ(∞,t0) ≤ 2 → condição obedecida
λ ≤ 75 → condição obedecida
M0Ed /Ned ≥ h → condição não obedecida para nenhuma das direcções.

Logo, temos de calcular:


0,5 × 28,585
φef = 2 × = 1 (direcção x)
28,585
0,5 × 36,785
φef = 2 × = 1 (direcção y)
36,785

25 23,0947
𝛽 = 0,35 + − = 0,321
200 150
K φ = 1 + 0,321 × 1 = 1,321

1 1
= K r × K φ × = 0,546 × 1 × 0,01789 = 0,00977
r r0

4 2
(2)
e2 = × 0,00977 = 0,00391 m
10
Direcção x teremos: Msd = 28,585 + 1212,94 × 0,00391 = 33,33 kNm

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Direcção y teremos: Msd = 36,785 + 1212,94 × 0,00391 = 41,53 kNm

Determinar efeitos de 2ª ordem: método da rigidez nominal


Para este método, precisamos de conhecer Ecm. Para um betão C25/30, Ecm = 31 GPa
Ecd = 31 /1,2 =25,833 GPa

Precisaremos também de estimar a quantidade de armadura aplicada. Novamente, tal como


aconteceu, para o método da curvatura nominal, se a armadura aplicada for superior à
estimada, teremos de recalcular todos os cálculos relativos à curvatura.
Sabendo que:
ω = As×fyd / (Ac×fcd)
As
ρ= ⁄A
c

fyd
Teremos então que: ω = ρ × ⁄
fcd
fck fyk
fcd = = 16,667 MPa e fyd = = 434,78 MPa
1,5 1,15

Considerando ω = 0,3, tal como foi feito para o método anterior, teremos então que:
(0,3 × 16,667)⁄
0,3 = ρ × 434,78⁄16,667 ⟹ ρ = 434,78 = 0,0115

Como ρ ≥ 0,01:
0,3 0,3
Ks = 0 k c = (1+0,5×φ )
= (1+0,5×1) = 0,2
ef

Calculando EI para este método:


EI = K c Ecd Ic + K s Es Is = 0,2 × 25,833 × 106 × 0,000675 = 3487,46 kNm2

Com EI calculamos Nb:


π2 × EI π2 × 3487,46
Nb = = = 8604,96 kN
l20 4

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O que nos permite obter:


M0
M=
N
1−N
b

Direcção x teremos:
28,585
M= = 33,275
1212,94
1−
8604,96

Direcção y teremos:
36,785
M= = 42,821
1212,94
1 − 8604,96

Calcular armadura a aplicar


Vamos usar o maior dos momentos finais calculados para cada direcção.
Direcção x: M = 33,33 kNm
Direcção y: M = 42,821 kNm
Nsd = 1212,94 kN

Vamos usar ábaco 4, da página 91 do livro Tabelas e Ábacos da professora Helena Barros.
Teremos então:
𝑀𝑥 33,33
𝜇𝑥 = = = 0,074
ℎ × 𝑏 × 𝑓𝑐𝑑 0,3 × 0,3 × 16,67 × 103
2 2

𝑀𝑦 42,821
𝜇𝑦 = = = 0,095
𝑏 × ℎ2 × 𝑓𝑐𝑑 0,32 × 0,3 × 16,67 × 103

Logo: μ1 = μy = 0,095 e μ2 = μx = 0,074


E ν = 0,8086

Recorrendo ao ábaco, vemos que:


Para ν = 0,8 → ωtot ≈ 0,15
Para ν = 1 → ωtot ≈ 0,2
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Por interpolação, para ν = 0,8086 → ωtot ≈ 0,1523

Como foi estimado estar lá ωtot = 0,3, usaremos este valor para determinar as armaduras a
aplicar.
Assim:
fcd 16,67
As tot nec = ωtot × b × h × = 0,1523 × 0,3 × 0,3 × = 0,000526 m2
fsyd 434,78
= 5,26 cm2

Segundo a tabela escolhida, essa armadura será dividida por 4 varões, um por canto. Então,
em cada canto tem de estar aplicado: 5,26 / 4 = 1,315 cm2
Opta-se por 1Ø16 (2,01 cm2) por canto.

Disposições construtivas
0,1 × Nsd 0,1 × 1212,94
As,min = ≥ 0,002 × Ac ⟹ ≥ 0,002 × 0,3 × 0,3 ⟹ 0,000279
fsyd 434,78 × 103
≥ 0,00018 ⟹ As,min = 2,79 cm2
Como está aplicado 4Ø16 (8,04 cm2), verifica por ser superior ao mínimo.

As,max = 0,04 × Ac = 0,4 × 0,3 × 0,3 = 0,0036 m2 = 36 cm2


Como está aplicado 4Ø16 (8,04 cm2), verifica por ser inferior ao máximo.

O diâmetro mínimo também está respeitado, já que o mínimo é Ø8.

O espaçamento máximo das estribos deverá ser:


smáx = min(20 × ∅L,menor ; bmin ; 40 cm) = min(20 × 16; 30; 40) = 30 cm
Junto aos apoios deverá ser reduzido para 18 cm.
O diâmetro mínimo das estribos deverá ser 6 mm.

Esforço transverso
O esforço transverso no pilar deverá ser calculado tal como foi para a viga. Por serem
exactamente os mesmos cálculos, não serão repetidos.

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Exemplo prático nº2

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5.5.4 – Estudo global de estruturas em pórtico


Por forma a puder avaliar, de forma correcta, o comportamento de uma estrutura à
encurvadura, é necessário olhar para o esqueleto desta e dividi-lo em pórticos nas várias
direcções principais. Os efeitos de 2ª ordem visto anteriormente vão depender muito da
deformabilidade lateral do pórtico em estudo. Assim, é importante classificar pórticos
conforme a sua capacidade de se deformar na lateral.
Estruturas contraventadas: estruturas com elementos verticais de grande rigidez com
capacidade resistente para absorver a maior parte das acções horizontais.

Neste tipo de estruturas (que é o mais comum), a deformação lateral é bastante


condicionada por elemento contraventamento. A deformação lateral global da estrutura é
muito mais reduzida do que seria se não tivesse contraventamento, embora o valor desta
continue a depender da rigidez da estrutura e das cargas nela aplicadas.
Para este tipo de estruturas, embora a deformação global possa ter significado, a
deformação relativa entre pisos consecutivos é desprezável, permitindo assim que apenas se
tenha de considerar efeitos locais de 2ª ordem para o dimensionamento de cada pilar
(admitindo, claro, uma estrutura contraventada).
Estruturas não contraventadas: estruturas sem elementos de contraventamento. Devem
ser evitadas uma vez que a deformação lateral é, geralmente, significativa. Os pilares e
paredes devem ser dimensionados para os efeitos globais de 2ª ordem, em adição às
verificações dos efeitos locais em cada pilar e parede.

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5.5.4.1 – Avaliar comprimento efectivo de encurvadura


O comprimento efectivo de encurvadura, para pórticos, depende da estrutura ser
contraventada ou não.

De acordo com o EC2 secção 5.8.3.2, o valor de l0 pode ser obtido pelas seguintes
fórmulas:

Em que:
k1 e k2 – são parâmetros que avaliam a rigidez, relativa à rotação dos nós, nas
extremidades do pilar.
𝑘 = 𝜃⁄𝑀 × 𝐸𝐼⁄𝑙
l – altura livre do pilar entre ligações de extremidade
ϴ/M – corresponde ao inverso da rigidez à rotação dos elementos que concorrem no nó e
que restringem a rotação desse nó.
EI – rigidez do pilar.
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O inverso da rigidez, ϴ/M, pode ser definido aproximadamente por:


ϴ/M = 1/(4 EI/L) para elementos com ligações de continuidade nas extremidades
ϴ/M = 1/(3 EI/L) para elementos rotulados na extremidade oposta à da ligação em análise

Nos casos correntes, em que são as vigas que restringem as rotações, vamos que cada
parâmetro ‘k’ pode ser obtido por:

Em que α toma o valor de 3 ou 4 consoante os casos atrás referidos.


O parâmetro ‘k’ pretende traduzir a maior ou menor dificuldade de rotação do nó:
Maior rotação → maior deformação → maior l0 → maiores efeitos de 2ª ordem.

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5.5.4.2 – Imperfeições geométricas em pórticos


Em estruturas porticadas ou mistas (com pórticos e paredes), os efeitos das imperfeições
geométricas podem ser avaliados considerando a estrutura inclinada de um ângulo ϴi. Uma
metodologia alternativa consiste na aplicação de forças horizontais ao nível dos vários pisos
do pórtico que conduzam ao mesmo efeito da inclinação ϴi.

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5.5.4.3 – Efeitos de 2ª ordem em pórticos


De acordo com o EC2 secção 5.8.3.3, para estruturas porticadas com elementos de
contraventamento (por exemplo: paredes ou núcleos de betão armado), os efeitos globais de
segunda ordem podem ser desprezados se for satisfeita a seguinte condição:

Em que:
Fv,sd – carga vertical total do edifício
νs – número de pisos
L – altura total do edifício acima do nível a partir do qual os deslocamentos horizontais
estão restringidos
Ecd – valor de dimensionamento do módulo de elasticidade do betão (Ecd = Ecm / γcE = Ecm /
1,2)
Ic – momento de inércia da secção transversal dos elementos de contraventamento (em
estado não fendilhado)
k1 – é um coeficiente que em geral toma o valor 0.31, ou o valor 0.62 caso se verifique que
os elementos de contraventamento não estão fendilhados em estado limite último.

É importante ter em conta que a equação só é válida quando as seguintes condições são
satisfeitas:
• a instabilidade à torção não é condicionante, ou seja, a estrutura é razoavelmente
simétrica;
• as deformações globais por corte são desprezáveis (como num sistema de
contraventamento constituído, principalmente, por paredes de travamento sem grandes
aberturas);
• os elementos de contraventamento estão fixos rigidamente à base, ou seja, as rotações
são desprezáveis;
• a rigidez dos elementos de contraventamento é razoavelmente constante ao longo da
altura;
• a carga vertical total aumenta aproximadamente a mesma quantidade por piso.

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As estruturas que não satisfazem as condições acima mencionadas, ou seja, em que o


sistema de contraventamento tenha deformações por corte e/ou rotações de extremidade
significativas, estas passam a ser classificadas segundo dois sistemas de contraventamento.

5.5.4.4 – Verificação em pórticos contraventados


Caso os efeitos globais de segunda ordem possam ser desprezados, como apresentado em
cima, apenas é necessário que verificar os efeitos locais de 2ª ordem. Assim os pilares devem
ser analisados como elementos isolados e os elementos de contraventamento são
dimensionados para os esforços de 1ª ordem.
Caso os efeitos globais de 2ª ordem não possam ser desprezados, ou seja, existem
deslocamentos globais da estrutura significativos, os pilares continuam a estar limitados dada
a elevada rigidez dos elementos de contraventamento (isto se em planta houver uma
distribuição aproximadamente simétrica). Nestes casos, pode-se admitir que os elementos
contraventados têm deslocamentos horizontais limitados, sendo só necessário verificar os
efeitos locais de 2ª ordem nos pilares. Nesta situação, os elementos de contraventamento são
dimensionados para os esforços de 1ª e 2ª ordem.

Os efeitos de 2ª ordem podem ser avaliados por uma metodologia idêntica à referida para
as imperfeições geométricas.

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5.5.4.5 – Verificação em pórticos não contraventados


Em estruturas não contraventadas, a análise dos efeitos de 2ª ordem para pilares isolados
em estruturas introduz alguns problemas:
• A análise de pilares isolados conduz a excentricidades diferentes, o que não é realista já
que as vigas e lajes do piso impõem igualdade de deslocamentos horizontais para os
pilares. Assim, deverá considerar-se a mesma excentricidade de 2ª ordem em todos os
pilares.
• Os efeitos de 2ª ordem provocam um aumento de esforços nos pilares que, por
equilíbrio, conduzem a um aumento de esforços nas vigas adjacentes. A análise de
pilares isolados não tem em conta este efeito.
Desde modo, verifica-se que a análise dos pilares isolados não é adequada pelo que a
metodologia a adoptar deve contemplar o comportamento global da estrutura. Duas formas
correctas para analisar são:

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Dado o cálculo para um pórtico com muitos pilares se tornar fastidioso, e sabendo que para
um mesmo piso o deslocamento verificado será igual para todo o pórtico, é preferível analisar
o problema considerando apenas um pórtico simples.

O ângulo ϴ e o deslocamento δ podem ser determinados com base no comprimento de


encurvadura l0 e na excentricidade e 2 da seguinte forma:

O momento global de 2ª ordem é:

e2; l0 → parâmetros relativos ao pilar que atinge primeiro a curvatura de cedência (pilar
condicionante)

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A força horizontal equivalente que conduz ao mesmo momento global nos pilares pode ser
calculada da seguinte forma:

Sendo o deslocamento horizontal no topo dos pilares é idêntico, as características que


determinam qual o primeiro pilar a atingir a curvatura de cedência são a altura da secção, as
condições de fronteira e o nível de esforço axial actuante. As duas primeiras características
caracterizam a rigidez do pilar, a terceira determina a extensão máxima na armadura.
Considere-se a seguinte metodologia para definir um único parâmetro que tenha em
consideração as características atrás referidas:
- a excentricidade de 2ª ordem e 2 é função da curvatura de cedência do pilar:

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A curvatura de cedência pode ser estimada de forma aproximada, a partir da curvatura


base, pela seguinte expressão:

Em que δ será o deslocamento do pórtico. Uma vez que está associado ao pilar que atinge
primeiro a curvatura de cedência: δ = δmin
Logo, o pilar condicionante é o pilar com menor relação

5.5.4.6 – Método P-delta


Em estruturas de betão armado de elevado porte, constituídas por elementos esbeltos, os
efeitos da não-linearidade geométrica da estrutura são bastante importantes. A variação dos
deslocamentos laterais em altura combinados com as acções verticais aplicadas, vai causar
momentos secundários, que por sua vez levam a deslocamentos adicionais que não podem ser
ignorados ou arriscamo-nos a entrar num ciclo vicioso que leva à queda da estrutura.
Este efeito designa-se de P-delta, que corresponde a um aumento de momentos por efeito
da deformação da estrutura, ou seja, devido ao aparecimento de excentricidades de piso ou de
andar (“drift”) e que muda o ponto de aplicação das cargas verticais de elementos superiores:

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Este método, P-delta, permite efectuar uma análise dos efeitos de 2ª ordem através de um
processo iterativo de rápida convergência, e baseando-se no método da força horizontal
equivalente onde cada piso passa a ter uma força horizontal que será equivalente aos
deslocamentos sofridos devido aos efeitos de 2ª ordem. Os passos deste método são:
1. Cálculo da estrutura, realizando uma análise de primeira ordem sujeita ao sistema de
forças generalizadas (verticais e laterais) iniciais Pi e Fj (caso existam forças laterais
iniciais, por exemplo efeito do vento), obtendo-se os deslocamentos horizontais, dj.
2. As acções verticais estão agora aplicadas com uma excentricidade, originando um
momento adicional na base por deformação da estrutura (por exemplo: A carga vertical
P5 da figura anterior gera um momento, M5=P5×d5)
3. Determinação das forças fictícias ou forças horizontais equivalentes, Hj a aplicar em
cada andar, através da equação (Hj deve provocar igual momento na base)
𝑃𝑗 × 𝑑𝑗
𝐻𝑗 × ℎ𝑗 = 𝑃𝑗 × 𝑑𝑗 ⟹ 𝐻𝑗 =
ℎ𝑗
A seguinte imagem mostra um exemplo deste cálculo

4. Cálculo da estrutura através de uma nova análise de primeira ordem, adicionando à


solicitação inicial o conjunto de forças horizontais fictícias calculadas no ponto 3. Com
este agrupamento de forças determina-se um novo conjunto de deslocamentos.
5. Repetir novamente a partir da etapa 2 até que os deslocamentos obtidos em duas
iterações sucessivas e, portanto, também as forças horizontais equivalentes, pouco
difiram entre si (geralmente requer 4 a 5 iterações).

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6 – Dimensionamento de lajes
Lajes são elementos laminares de grandes dimensões em plano mas de pequena espessura.
O EC2 classifica os vários elementos estruturais da seguinte forma:

Logo, uma laje terá de ter uma espessura inferior a 5 vezes a dimensão mínima em plano
para ser classificada, e dimensionada, como tal.
Lajes são utilizadas como elementos estruturais para pavimentos de edifícios e coberturas e
não precisam de ser rectangulares ou sequer planas.

Laje plana não rectangular Laje rectangular curva

As lajes classificam-se de várias maneiras:

Tipo de Apoio
• Lajes vigadas (apoiadas em vigas)
• Lajes fungiformes (apoiadas directamente em pilares)
• Lajes em meio elástico (apoiadas numa superfície deformável – exemplo:
ensoleiramento geral)
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Laje apoiada em vigas Laje fungiforme

Laje apoiada em meio elástico

Constituição da laje
• Monolíticas (feitas só em betão armado)
Podem ser maciças (com espessura constante ou de variação contínua)
Aligeiradas
Nervuradas
• Mistas (constituídas por betão armado, em conjunto com outro material)
Vigotas pré-esforçadas
Perfis metálicos

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Laje nervurada Laje aligeirada de vigotas pré-esforçadas

Modo de flexão dominante


• Lajes armadas numa direcção (comportamento predominantemente unidireccional)
• Lajes armadas em duas direcções (comportamento bi-direccional)
Considera-se que as lajes devem ser armadas numa direcção quando:
- As condições de apoio estão apenas numa direcção
- A relação entre os vãos for superior a 2 (Lmaior / Lmenor ≥ 2)
Considera-se que as lajes devem ser armadas numa direcção quando:
- As condições de apoio não estão apenas numa direcção
- A relação entre os vãos for inferior a 2 (Lmaior / Lmenor < 2)

Laje armada numa direcção Laje armada em duas direcções

Modo de fabrico
• Betonadas “in situ”
• Pré-fabricadas: Totalmente (ex: lajes alveolares) ou parcialmente (ex: pré-lajes)

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Laje betonada “in situ” Elementos pré-fabricados de uma laje


parcialmente pré-fabricada

Laje alveolar

As lajes são dimensionadas com base em modelos da Teoria da elasticidade podendo haver
ou não redistribuição de esforços. A verificação de segurança e o dimensionamento das lajes
está condicionada pelos ELU de resistência (resistência à flexão, esforço transverso e
punçoamento) e pelos ELS (para a deformação e abertura de fendas).
As lajes apoiadas em vigas são dimensionadas para as acções perpendiculares ao plano da
laje. As acções horizontais são resistidas pelas vigas e pilares. Em lajes fungiformes, como
não há vigas de apoio, elas têm de ser também dimensionadas para as acções horizontais.

É também importante ter noção de que lajes armadas numa direcção sofrem de flexão
segundo o seu vão mais pequeno. A armadura destas deverá estar aplicada de acordo com esse
vão. Por sua vez, o dimensionamento destas lajes é feito dividindo a laje em bandas de um
metro ao longo do seu vão maior. Assim, determina-se uma quantidade de armadura que se
tem de aplicar por cada metro da laje, ao longo do seu maior vão.

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6.1 – Dimensionamento de lajes de vigotas


Entre as lajes, as aligeiradas de vigotas pré-esforçadas são das mais fáceis de dimensionar.
Elas são constituídas por:
• Vigotas pré-esforçadas
• Blocos de aligeiramento (geralmente bloco cerâmico)
• Betão de compressão com armadura de distribuição (geralmente malhasol)
• Podem ter tarugos (nervuras transversais)

6.1.1 – Considerações gerais


• Este tipo de lajes está sujeitas a homologação. Para esta sebenta consideram-se as
homologadas para Portugal.
• As lajes de vigotas funcionam sempre como lajes armadas numa direcção, devido à
falta de armadura e de elementos capazes de transmitir esforços na direcção
perpendicular à das vigotas.
• Elas são concebidas para cargas uniformemente distribuídas (não se consideram
abrangidas acções resultantes de cargas concentradas ou acções dinâmicas
(vibrações)). Requerem um cuidado especial na colocação de paredes divisórias sobre
elas, pois se a parede ficar paralela às vigotas mas descarregar directamente sobre

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elementos aligeirados, esta transmitirá as cargas maioritariamente para esses


elementos (que não conseguem resistir a elas). Assim, caso isso aconteça, deve-se
colocar vigotas extra nessa área.
• São concebidas para resistir principalmente a momentos positivos. A ausência de
armadura suficiente na face superior das vigotas bem como a distância que ainda sobra
desde essa armadura até à face superior da laje, fazem com que elas não contribuam
muito para resistir a momentos flectores que causem tracções superiores. Para esses
casos deverá ser colocada uma armadura extra na face superior, bem como uma zona
de maciçamento onde existirem momentos negativos.
• O seu dimensionamento é por vezes condicionado pela resistência ao esforço
transverso. Como este é superior junto aos apoios, pode-se optar por criar uma zona de
maciçamento por forma a aumentar a resistência da laje ao esforço transverso.
• Não são aconselháveis para vãos grandes. Se o vão em que estão aplicadas for superior
a 8 metros, estas vão requerer um estudo mais específico que sai fora dos parâmetros
de homologação.
• Quando se usam 2 vigotas a par, estas podem gerar incompatibilidade com as estribos
das vigas em que descarreguem, algo que é mais fácil de resolver se o pavimento usar
vigotas isoladas.
• No caso de 2 pavimentos apoiados na mesma viga mas com diferentes afastamentos
entre vigotas, poderá ocorrer incompatibilidade com as estribos da viga.
• Quando têm tarugos, estes funcionam como vigas perpendiculares às vigotas mas que
têm a função de solidarizar as vigotas umas com as outras. Estes devem ser colocados
quando a laje tem um vão superior a 4 metros, e são colocados afastados de 2 em 2
metros. Um tarugo tem no mínimo 10 cm de largura e pelo menos 2 varões colocados
imediatamente acima das vigotas, e a armadura destes pode ser calculada por:
L
As tarugo = As,dist vigota ×
4

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6.1.2 – Execução
1. Nivelamento dos apoios para assentamento das vigotas.
2. Preparar o escoramento das vigotas
3. Colocar vigotas e os blocos que as separem. A entrega mínima de cada vigota nos
apoios é de 10 cm.
4. Preparar a cofragem para as zonas de maciçamento em betão armado, geralmente junto
aos apoios e a tarugos.
5. Colocação de armadura (junto aos apoios e em tarugos, quando prevista, bem como a
armadura de distribuição).
6. Humedecer as vigotas, blocos e a cofragem.
7. Betonagem e espalhamento do betão.

As seguintes imagens apresentam pormenores construtivos de lajes de vigotas.

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6.1.3 – Condições de segurança para o dimensionamento


Por serem elementos pré-fabricados e homologados, os parâmetros de resistência das
vigotas têm de ser fornecidos pelo fabricante. Para calcular os esforços aplicados numa laje
aligeirada de vigotas pré-esforçadas, é necessário assumir um peso próprio inicial para
calcular as cargas aplicadas. O peso próprio das vigotas escolhidas não poderá ultrapassar o
considerado para o cálculo, para garantir que os momentos calculados não são ultrapassados.

Estado Limite Último de resistência à flexão:


Mrd ≥ Msd
Para cálcular Msd utiliza-se a combinação de acções mais desfavorável

Estado Limite Último de resistência ao esforço transverso:


Vrd ≥ Vsd
Para cálcular Vsd utiliza-se a combinação de acções mais desfavorável

Estado Limite de Utilização: estado limite de fendilhação:


Mfctk ≥ MELS
Para cálcular MELS utiliza-se ou a combinação frequente de acções, quando a estrutura está
num ambiente pouco ou moderadamente agressivo, ou a combinação rara de acções quando o
ambiente é muito agressivo.

Estado Limite de Utilização: estado limite de deformação:


δcalc ≤ δmax
Segundo o EC2 (secção 7,4,1): δmax = L/250 (casos correntes) ou δmax = L/500 (se a
deformação for susceptível de danificar outros elementos da construção.
A flecha é determinada para a combinação quase permanente de acções.

Para o cálculo de δmax tem de se calcular a flecha a longo prazo (para a qual se considera a
fluência do betão)

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Onde:
δ∞ – Flecha a longo prazo
δ0 – Flecha instantânea
Msg – Momento actuante devido às cargas permanentes
Msg + ∑Msq – Momento actuante devido à combinação de acções utilizada para a
determinação do fendilhamento
φ – Coeficiente de fluência do betão, que pode considerar-se igual a 2

É importante ter noção de que um pavimento de lajes aligeiradas aproxima-se do


comportamento de uma viga simplesmente apoiada. Isto porque o grau de encastramento da
ligação entre o pavimento e a viga é muito baixo. Contudo, esse grau de encastramento pode
ser aumentado através de zonas de maciçamento, que leva a momentos negativos aplicados e
à necessidade de colocação de armadura na face superior.
Em situações em que as vigotas se prolonguem para lá da viga onde apoiam, pode-se
também considerar que esse apoio é encastrado.
Assim, a flecha instantânea poderá ser determinada por:

q × L4
δ0 = C1 ×
EI
Sendo:
q – Carga determinada para os ELS
C1 – parâmetro que depende das condições de apoio, como indicado no seguinte quadro.

EI – Rigidez à flexão da laje (valor tabelado para cada tipo de pavimento)


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Verificar se Peso Próprio:


O peso próprio das vigotas escolhidas tem de ser inferior ao inicialmente considerado para
o cálculo das cargas aplicadas.

Exemplo prático
Considere uma laje com 5 metros de largura e 10 metros de comprimento, simplesmente
apoiada em todas os lados e que deverá ser concretizada com vigotas pré-esforçadas.

Dados gerais:
Acções: considerar que o peso próprio não ultrapassará 3,5 kN/m2 de laje; peso próprio das
paredes divisórias será 2 kN/m2; o revestimento admite-se como sendo 1,5 kN/m2; sobrecarga
admitida será 2 kN/m2 (φ2 = 0,5)
Classe de exposição: XC3 (que, de acordo com o Quadro 7.1 do EC2, faz com que a PELS
seja determinada pela combinação quase-permanente).

Sendo uma laje armada numa direcção, as armaduras têm de ficar dispostas ao longo do
menor vão da laje.

Considera-se então que esta laje consiste em 10 bandas de um metro de largura e 5 metros
de vão, dispostos lado a lado até perfazerem os 10 metros de comprimento da laje. Cada uma
dessas bandas será simplesmente apoiada.

Cargas aplicadas:
PELU = 1,35 × (3,5 + 2 + 1,5) + 1,5 × 2 = 12,45 kN/m2
PELS = 1,35 × (3,5 + 2 + 1,5) + 2 × 0,5 = 10,45 kN/m2
Pg = 1,35 × (3,5 + 2 + 1,5) = 9,45 kN/m2
Esforços aplicados:
Para viga simplesmente apoiada:
12,45 × 52
MELU = Msd = = 38,91 kNm /m
8
10,45 × 52
MELS = Msd = = 32,65 kNm /m
8
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9,45 × 52
Msg = = 29,53 kNm /m
8
12,45 × 5
Vsd = = 31,125 kN /m
2

Vigota escolhida:
1ª hipótese: considerar VP3-22×20-23 (As,dist vigota = 160 mm2/m)
Mrd = 54,9 ≥ 38,91 Verifica
Vrd = 35,5 ≥ 31,125 Verifica
Mfctk = 35 ≥ 30,78 Verifica

Para estas vigotas: EI = 16590 kNm2


5 10,45 × 54
δ0 = × = 0,00513 m
384 16590
29,53 × 2
δ∞ = 0,00513 × (1 + ) = 0,0141 m
33,28

Como L/250 = 5/250 = 0,02 m, a deformação verifica


Contudo, para L/500 = 5/500 = 0,01 m, a deformação já não verifica

O peso próprio das vigotas aplicadas é 3,33 kN/m2, inferior ao selecionado inicialmente,
portanto também verifica. Não será necessário aplicar outras vigotas a menos que o limite de
deformação L/500 seja o limite imposto.

Como o vão em que as armaduras estão aplicadas é superior a 4 m, são necessários tarugos.
A armadura dos tarugos será:
5
As tarugo = 1,6 × = 2 cm2 /m
4
Optar por 2Ø12 (2,26 cm2/m)

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6.2 – Dimensionamento de lajes maciças vigadas


armadas numa direcção
Como foi apresentado anteriormente, as lajes são dimensionadas dividindo-as em bandas
de 1 metro. Para as lajes armadas numa direcção, isto significa bandas de 1 metro com um
comprimento igual ao menor vão da laje (pois será nesse vão que ocorre a flexão).
Nestas lajes, o mecanismo de resistência à flexão é muito semelhante ao das vigas, onde o
momento resistente numa secção resulta da existência de 2 forças, uma de tracção e uma de
compressão, espaçadas por um dado braço.

No EC2 a tensão a considerar é ηfcd, sendo η = 1 para fck ≤ 50 MPa e η = 1 – (fck – 50) /
200 para 50 ≤ fck ≤ 90 MPa

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Em termos de esforço transverso, o mecanismo de rotura ao esforço transverso é


semelhante ao das vigas, com as forças a serem transmitidas entre os apoios sob a forma de
um arco.

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Em geral adopta-se uma espessura para as lajes que seja suficiente para resistir ao esforço
transverso aplicado nelas, evitando assim a colocação de armaduras de esforço transverso
(isto porque a aplicação de estribos neste tipo de lajes aumentaria bastante o tempo de
execução e o custo desta, para além de forçar o uso de um betão mais fluído).
Devido à falta de armaduras de esforço transverso e ao arco de transmissão de cargas ser
muito ‘achatado’ (já que as lajes possuem uma espessura relativamente baixa), haverá um
aumento significativo das forças no banzo traccionado. Assim, quando se procura fazer a
dispensa de armaduras, devemos usar sempre o parâmetro al = d e deve-se prolongar 50% da
armadura aplicada a meio vão até aos apoios.

Passos do dimensionamento de lajes maciças vigadas armadas numa direcção:


a) Escolher materiais. Tipo de betão, de aço, indicar classes de exposição ambiental, etc.
b) Pré-dimensionar a laje, escolhendo a espessura inicial, assumir o máximo de diâmetro
dos varões que lá vão ser colocados, calcular recobrimento, etc.
c) Calcular os esforços. Usar ELU e combinações de acções para obter a envolvente de
esforços e calcular ELS com a combinação indicada no Quadro 7.1N. Relembrar que
estes devem ser calculados considerando bandas de 1 metro com um comprimento igual
ao menor vão da laje.
d) Verificar se esforço transverso verifica.
e) Calcular as armaduras resistentes da mesma forma que são calculadas para as vigas
(com b = 1 metro)
f) Verificar disposições construtivas que são as apresentadas para as vigas à flexão
g) Armadura de distribuição, de apoio, de bordo livre e de canto
h) Interrupção de armaduras
i) Uniformização de armaduras
j) Comprimento de amarração

6.2.1 – Pré-dimensionamento de lajes


Tal como acontece para as vigas, o dimensionamento de lajes é um processo iterativo que
começa por escolher uma dada espessura inicial, dimensionando-se toda a laje e verificando
se essa espessura permite-nos ter armaduras que respeitem as várias disposições construtivas.

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Numa primeira aproximação pode utilizar-se as seguintes expressões:


• Laje armada numa direcção: h = L / (30 a 35)
• Laje armada nas 2 direcções: h = L / (35 a 40)
Ou, e apenas para situações correntes (sobrecarga < 5 kN/m2):
• L até 2,5 m: h = 10 cm
• L de 2,5 a 4 m: h = 12 cm
• L de 4 a 6 m: h = 15 cm
Se a laje tiver armadura de esforço transverso, Lmin = 20 cm

Nesta fase, no cálculo da altura útil, considera-se que as armaduras transversais não
existem, logo Øtrans = 0

6.2.2 – Verificar esforço transverso


Como se pretende evitar a colocação de armadura de esforço transverso nas lajes, devemos
recorrer à secção 6.2.2 do EC2. Nela ficamos a saber que um dado elemento de betão armado
dispensa armaduras de esforço transverso caso o Vsd aplicado seja inferior ao Vrd dado pela
seguinte fórmula:

Este parâmetro resistente tem um valor mínimo de:

Em que:
fck – entra em MPa

k = 1 + √200⁄d ≤ 2 com d em mm

Asl
ρl = ≤ 0,02
bw × d
Asl – armadura longitudinal aplicada
Ned
σcp = ≤ 0,2 × fcd (em MPa)
Ac
Ned – esforço axial aplicado (em N)
Ac – área da secção (mm2)
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k1 – igual a 0,15 (dependem do Anexo Nacional)


0,18
CRd,c = (relembrando que 𝛾𝑐 = 1,5)
γc
3 1
2
νmin = 0,035 × 𝑘2 × 𝑓𝑐𝑘
bw – base da secção (1 metro para lajes) e que deve entrar em mm
d – altura útil, que deve entrar em mm
VRd,c – Vem em N

Asl é tirado em função da secção onde está aplicado o maior esforço transverso.

Contudo, nesta fase do dimensionamento, ainda não se sabe a armadura aplicada. Isso
significa que o que condicionará VRd,c será nada mais do que a parcela que determina o valor
mínimo deste parâmetro. A espessura da laje deverá ser determinada por forma a garantir que
VRd,c será superior ao esforço transverso aplicado.
Caso a espessura escolhida não permita verificar o esforço transverso, deve-se altera-la.
Ainda assim, pode-se optar por não o fazer e continuar o dimensionamento. Quando as
armaduras tiverem determinadas, volta-se a calcular VRd,c para verificar se este, considerando
agora as armaduras, será a Vsd. Se for, então está verificado, caso contrário terá de se refazer
todos os cálculos.

6.2.3 – Distribuição dos esforços


Como foi dito, para as lajes armadas numa direcção, as cargas vão criar deslocamentos no
vão menor, sendo que na direcção perpendicular os deslocamentos existentes são quase nulos.
Este efeito denomina-se de ‘flexão cilíndrica’, e verifica-se sempre em lajes que têm uma
dimensão duas ou mais vezes maior que a outra.
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As seguintes imagens são estudos de elementos finitos sobre o comportamento das lajes
armadas numa direcção, representando a cores os maiores momentos flectores (a azul as
maiores, a vermelho as menores).

É então possível verificar o efeito de flexão cilíndrica, onde os maiores deslocamentos


ocorrem devido ao menor vão, mas não aumentam por mais que se aumente o maior vão da

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laje. Claro que junto aos apoios e cantos verifica-se um efeito de apoio, devido a existir um
certo grau de encastramento (ver armaduras de apoio e de canto)

Assim, as lajes em flexão cilíndrica têm um momento flector na direcção do menor vão.
Na direcção perpendicular existirá algum momento flector, mas muito inferior ao principal.
Este momento flector pode ser dado por:
My = ν × Mx , assumindo Mx > My
Em que ν é o Coeficiente de Poisson, que assume valores entre 0 (fendilhação extensa,
valor razoável para o cálculo dos estados limites últimos) e 0,2 (pouca fendilhação, valor
razoável para a análise dos estados limites de serviço), e motivo pelo qual a armadura de
distribuição nas lajes é de pelo menos 20% da maior armadura positiva (ver armadura de
distribuição em baixo).

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6.2.4 – Espaçamento máximo das armaduras


Para além de todas as disposições construtivas vistas para a viga, as lajes têm ainda um
espaçamento máximo admissível para as armaduras (EC2 9.3.1.1). O espaçamento dos varões
não deve ser superior a Smax,slabs que é:
• Para armaduras principais: 3 × h ≤ 400 mm (h espessura total da laje)
• Para armaduras de distribuição: 3,5 × h ≤ 450 mm
• Para zonas com cargas concentradas ou nas zonas de momento máximo: 2 × h ≤ 250
mm para armaduras principais; e 3 × h ≤ 400 mm para armaduras de distribuição

6.2.5 – Armaduras de distribuição, apoio, bordo livre e canto


Após se determinar as armaduras principais, será necessário aplicar armaduras extra para a
laje, mais do que as que se têm de aplicar em vigas. Comecemos pelas mais óbvias, as de
distribuição.

6.2.5.1 – Armadura de distribuição


Este tipo de armadura existe para se conseguir criar uma rede de varões capaz de transmitir
bem os esforços entre si e estarem bem posicionados durante a betonagem. Nas vigas, isso era
conseguido usando as cintas. Nas lajes, é conseguido colocando armaduras de distribuição em
todas as armaduras principais que não tenham já uma armadura perpendicular.
Estas armaduras devem ter uma área de pelo menos 20% da área a respectiva armadura
principal e devem ser colocadas de forma a que as armaduras principais possuam um maior
braço interno.

Esta armadura só deverá ser colocada se não existir nenhuma outra armadura, de área
superior, na direcção em que se aplica armadura de distribuição.

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6.2.5.2 – Armadura de bordo livre


Em lados da laje que não sejam apoiados, deverá existir uma armadura longitudinal e
transversal como apresentada na imagem. As armaduras principais podem ser prolongadas
para este fim.

6.2.5.3 – Armadura de apoio


Tal como acontece com as vigas, quando se idealiza um tipo de apoio no cálculo, verifica-
se na prática uma situação diferente. Os apoios das lajes em vigas não funcionam como
encastramentos perfeitos, mas também não funcionam como apoios simples/duplos devido a
existir uma restrição às rotações na ligação do betão da viga com o da laje bem como na
ligação de armaduras. Isto leva à existência de momentos negativos não considerados no
cálculo, o que implica a necessidade de armadura.

O EC2 secção 9.3.1.2 indica então que deve ser colocada armadura nos apoios extremos de
uma laje, sendo que essa armadura precisa de ser capaz de resistir a 15% do momento flector
máximo positivo. Já em apoios intermédios, onde descarregam outras lajes, a armadura lá
aplicada deverá ser capaz de resistir a 25% do momento flector máximo positivo. Em ambos
os casos, a armadura deverá ter um comprimento mínimo de 0,2 vezes o vão adjacente.
É importante ter em conta que esta armadura apenas indica uma área necessária. Caso já
exista, nesse apoio, uma armadura aplicada com área superior, não será necessário colocar

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armadura de apoio. Se existir uma, mas for inferior à necessária, pode-se optar por um
reforço.

6.2.5.4 – Armadura de canto


Quando uma laje é solicitada, haverá a tendência de esta se levantar nos cantos.

Contudo, tal como já foi dito anteriormente, nos cantos costuma haver restrição de
movimento e rotação devido aos apoios. Então, se existe um movimento que tenta ocorrer
mas está impedido, vão se originar esforços nesses pontos, neste caso sob forma de momentos
flectores tanto negativos como positivos, que podem fendilhar o betão. Deve-se, portanto,
garantir que nos cantos existe uma quantidade de armadura suficiente para absorver estes
esforços, sendo esta colocada por forma a criar uma malha perpendicular e paralela aos
bordos da laje.

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Se não for feito um estudo mais aprofundado desta armadura de canto, pode-se assumir
que ela terá no mínimo um comprimento igual a ¼ do menor vão da laje. A quantidade de
armadura a colocar deverá ser igual à maior armadura positiva aplicada para cantos onde não
exista algum encastramento, ou metade dessa armadura para cantos onde pelo menos um dos
lados é um encastramento.

LX – Menor vão

Esta armadura deverá existir tanto na face superior como inferior.


É importante ter em conta que esta armadura apenas indica uma área necessária. Caso já
exista, nesse canto, uma armadura aplicada com área superior, não será necessário colocar
armadura de canto. Se existir uma, mas for inferior à necessária, pode-se optar por um
reforço. Isto deve ser verificado para cada uma das direcções.

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Exemplo prático
Dimensione a seguinte laje.

Dados:
A400NR
C25/30
Ambiente com corrosão induzida por carbonatação e de humidade moderada
Edifício com tempo de vida útil de 50 anos.
Dimensão máxima do agregado de betão: 20 mm

Acções:
Peso Próprio da laje: 25 kN/m3
Revestimento: 1,3 kN/m2
Paredes divisórias: 1,5 kN/m2
Sobrecarga adequada para um edifício de escritórios.

Pré-dimensionamento:
Classe de exposição: XC3 (Quadro 4.1 do EC2)
Espessura inicial, hinicial = 15 cm
fck⁄ 25
fcd = α × γc = ⁄1,5 = 16,67 MPa
fsyk
fsyd = ⁄γ = 400⁄
s 1,15 = 347,83 MPa
Assumir que: Ølong = Ø16 (16 mm, para compressão e tracção) e Øtrans = 0

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Quadro 4.2 → Cmin,b = 16 mm


Quadro 4.3N → reduzir uma classe (elemento com geometria de laje) → Cmin,dur = 20 mm
Cmin = max{16; 20; 10} = 20 mm

Sabendo que ΔCdev = 10 mm, então Cnom = Cmin + 10 mm = 30 mm

∅long
d = h − cnom − ∅est − ⁄ = 150 − 30 − 16⁄ = 112 mm = 0,112m
2 2

Cargas aplicadas e esforços a considerar:


Sobrecarga = 3 kN/m2 (φ0 = 0,7; φ1 = 0,5; φ2 = 0,3)

A laje consiste em 10 bandas de 1 metro de base e cada uma com um comprimento de 4,15
m, onde estará aplicado o maior momento flector.
PELU = 1,35 × (25 × 1 × 0,15 + 1,5 + 1,3) + 1,5 × 3 = 13,343 kN/m

Quadro 7.3N → PELS = combinação quase-permanente de acções


PELS = 11,35 × (25 × 1 × 0,15 + 1,5 + 1,3) + 0,3 × 3 = 9,743 kN/m

Por se considerar simplesmente apoiada em todos os lados, só terá momentos flectores


positivos no cálculo e estes são dados por:
13,343 × 4,152
MELU = Msd = = 28,725 kNm
8
13,343 × 4,15
Vsd = = 27,687 kN
2

Verificar se a laje resiste ao esforço transverso com a espessura atribuída


Como ainda não temos determinadas quaisquer armaduras, o esforço transverso resistente
será dado por:

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Como não há esforço axial nas lajes (este é absorvido e transmitido pelas vigas e pilares),
σcp = 0

Então:

k = 1 + √200⁄112 = 2,336 > 2, então k = 2

3 1
νmin = 0,035 × 22 × 252 = 0,495 MPa

Logo:
VRd,c = (0,495 + 0) × 1000 × 112 = 55440 N = 55,44 kN

Como Vsd é inferior a VRd,c, então verifica o esforço transverso e a laje resiste graças à sua
espessura.

Cálculo da armadura necessária para o momento máximo positivo:


𝑀𝑥 28,725
𝜇= = = 0,1374
𝑏 × 𝑑 × 𝑓𝑐𝑑 1 × 0,1122 × 16,66 × 103
2

Inferior ao μlim = 0,391, logo não são necessárias armaduras de compressão.

1⁄
0,810 0,416 2
𝜔= × [1 − (1 − 4 × × 0,1374) ] = 0,1488
2 × 0,416 0,810

16,67
As,nec = 0,1488 × 1 × 0,112 × = 0,000799 m2 / m = 7,99 cm2 / m
347,83

As,apl: Ø16//20 cm (10,05 cm2/m)

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Disposições construtivas
Determinação de As,min e As,max:
Para o tipo de betão usado, C25/30, o valor de fctm é de 2,6 MPa (Quadro 3.1 do EC2)
2,6
0,26 × × 1 × 0,112 0,000218 m2 /m
As,min = mmax { 347,83 = max { = 2,18 cm2 /m
0,000146 m2 /m
0,0013 × 1 × 0,112

As,max = 4% da área da secção = 0,04 × 1 × 0,15 = 0,006 m2 /m = 60 cm2 /m

Como a armadura aplica tem uma área superior à As,min e inferior à As,max, esta verifica.

Determinação de As,min fend:


Relembrar que este exemplo é de uma viga submetida à flexão simples
1 × 0,15
0,4 × 1 × 2,6 ×
As,min fend = 2 = 0,000224 m2 /m = 2,24 cm2 /m
347,83
Também verifica por ser superior a este mínimo.
Determinação de Smin:
smin = max{16; (20 + 5); 20 mm} = 25 mm

Como os varões estão afastados 20 cm, um espaçamento superior ao mínimo, então


verifica.

Determinação de Smax fend:


Quadro 7.3N → wmax = 0,3 mm
As,nec PELS
σs fend = fsyk × × = 233,21 MPa → smax fend = 200 mm
As,apl PELU

Como as armaduras estão espaçadas de 20 cm e o máximo é 20 cm, então verifica.

Determinação de Smax slabs


• Para armaduras principais: 3 × 150 ≤ 400 mm, logo será 400 mm. Verifica porque o
espaçamento aplicado é de 200 mm.

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• Para armaduras de distribuição: 3,5 × 150 ≤ 450 mm, logo será 450 mm
• Para zonas de momento máximo: 2 × 150 ≤ 250 mm, logo será 250 mm para
armaduras principais. Verifica porque o espaçamento aplicado é de 200 mm.
• Para zonas de momento máximo: 3 × 150 ≤ 400 mm, logo será 400 mm para
armaduras de distribuição

Controlo da deformação:
𝜌0 = √fck × 10−3 = √25 × 10−3 = 0,005

7,99
𝜌= = 0,007134
(100 × 11,2)

Como ρ ≥ ρ0 para ambas, a fórmula a usar será:

𝐿 𝜌0 1 𝜌′
= 𝐾 × [11 + 1,5 × √𝑓𝑐𝑘 × + × √𝑓𝑐𝑘 × √ ]
𝑑 𝜌 − 𝜌′ 12 𝜌0

Em que ρ’= 0 e k=1 (laje simplesmente apoiada)

𝐿 0,004472 1 0
= 1 × [11 + 1,5 × √25 × + × √20 × √ ] = 16,26
𝑑 0,007134 − 0 12 0,004472

O valor é posteriormente corrigido por:


310 500
= = 1,5723
σc 8,17
(400 × )
10,05

Como o vão é inferior a 7 metros:


𝐿
= 15,7 × 1,5723 = 25,57
𝑑𝑐𝑎𝑙𝑐

𝐿 4,15
= = 37,054
𝑑 𝑟𝑒𝑎𝑙 0,112

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Como L/d real é superior de cálculo, não verifica. Calcular a flecha que a laje sofre ou
alterar as condições desta.
Para evitar recalcular tudo, e como se trata de um problema meramente teórico, vamos
continuar o dimensionamento considerando que a flecha da laje irá verificar o limite de L/250

Armadura de distribuição:
Vamos colocar As,dist = 0,2×10,05 = 2,01 cm2/m (escolher Ø8//20 cm, que dá 2,51 cm2/m).
Esta armadura também verifica o espaçamento mínimo e máximo visto anteriormente.

Armadura de apoio:
Como a laje só tem apoios extremos:
As,apoio = 0,15 × As,nec = 0,15 × 7,99 = 1,2 cm2/m
Opta-se por: Ø8//20 cm, que dá 2,51 cm2/m (obedece assim ao espaçamento mínimo,
máximo e à armadura mínima).
A armadura de apoio terá um comprimento de 0,2×L vão correspondente
Esta armadura precisará de armadura de distribuição para ela:
Adist 2
s,apoio = As,apoio × 0,2 = 2,51 × 0,2 = 0,5 → optar por ∅8//30 cm (1,68 cm /m)

Armadura de canto:
Por só termos cantos simplesmente apoiados: As,canto = As,nec = Ø16//20 cm (10,05 cm2/m)
Para a face inferior, já existe esta armadura na direcção y, mas na direcção só existe a de
distribuição (2,51 cm2/m). Pode-se optar por um reforço para a direcção x: 10,05 – 2,51 =
7,54 → aplicar reforço de Ø12//15 cm (7,54 cm2/m)
Na face superior não existe armadura a não ser a de apoio, que está nos 4 lados da laje.
Sendo esta igual à de distribuição, aplica-se o mesmo reforço, mas para ambas as direcções.
A armadura de canto terá um comprimento de 0,25×menor vão = 0,25×4,15 ≈ 1,05 m

Interrupção de armaduras:
Poderia fazer-se a interrupção de armaduras, mas para as lajes é preferível não se fazer tal.

Pormenorização da laje:
Armaduras inferiores (a vermelho armadura principal, a verde armadura de distribuição, a
azul claro armadura de canto)

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Armaduras superiores (a vermelho armadura de apoio, a verde armadura de distribuição, a


azul claro armadura de canto)

Como é possível ver, a armadura acaba por ficar com uma distribuição confusa de entender
e até executar. A uniformização das armaduras torna-se bastante importante. É também
possível ver que no centro da laje não haverá necessidade de colocar armaduras superiores.

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Uniformização das armaduras:


A uniformização de armaduras de lajes pode ser feita de muitas maneiras mas a maneira
mais simplista e dispendiosa em termos de custo de material é aplicar os maiores varões de
cada direcção por todo o respectivo vão. Embora esta uniformização possa ter elevados custos
em termos de material, poderá reduzir muito o tempo de execução e custos de mão-de-obra.
Esta avaliação varia de caso para caso portanto não há uma fórmula correcta para ela.
Armaduras superiores e inferiores podem ficar, então:

Comprimento de amarração:
Tal como se fez com as vigas, será necessário amarrar as armaduras das lajes. Nas lajes, o
tipo de amarração costuma ser de cotovelo quando estas encontram um apoio e não continuam
para outra laje, ou são de amarração recta quando param dentro da laje.
O cálculo desta é feito tal e qual como foi feito para a viga.

𝑓𝑐𝑡𝑘,0,05 1,8
𝑓𝑐𝑡𝑑 = = = 1,2 MPa
1,5 1,5

Condições são de ‘boa aderência’ para todas as armaduras


𝑓𝑏𝑑 = 2,25 × 1 × 1 × 1,2 = 2,7 MPa

16 347,83
𝑙𝑏,𝑟𝑞𝑑 = ( )×( ) = 515,3 𝑚𝑚
4 2,7

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Conhecendo o comprimento de amarração de referência, vai-se reduzir este através dos


parâmetros α. Estes são calculados para cada tipo de amarração. Assim teremos:

Amarrações em cotovelo:
200
cd = min ( , 30) = 30 mm
2
Como cd < 3× 16 mm (48 mm), α1 será = 1
(30 − 3 × 16)
α2 = 1 − 0,15 × = 1,16875
16
Como é superior a 1, α2 será = 1

α3 = 1 por não haver armaduras transversais.

α4 será = 0,7

α5 será = 1 porque não temos informação para obter o parâmetro ‘p’

𝑙𝑏𝑑 = 1 × 1 × 1 × 0,7 × 1 × 515,3 = 360,71 mm ≅ 365 mm


Para cada lado em que há amarração.
Por sua vez, lb,min = max{0,3 × 515,3; 10 × 16; 100} = 160 mm
Como 365 mm > 160 mm, verifica-se superior ao valor mínimo.

6.3 – Dimensionamento de lajes maciças vigadas


armadas em duas direcções
Nas lajes armadas em duas direcções (lajes em que a relação entre os vãos é inferior a 2 e
cujos apoios permitem uma distribuição dos esforços em ambas as direcções), é possível
verificar que há esforços significativos em cada uma das direcções principais da laje.

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Isto leva à necessidade de armaduras principais nas duas direcções e de verificar as


disposições construtivas para cada direcção.

6.3.1 – Teoria de comportamento elástico


O dimensionamento das lajes armadas em duas direcções é baseado na teoria de
comportamento elástico de lajes finas, um modelo que tem por base as seguintes hipóteses de
simplificação:
• Laje pequena, com uma espessura inferior a 10% do maior vão da laje, feita com um
material homogéneo, isotrópico e de comportamento linear elástico.
• Deformação por corte desprezável.
• Os deslocamentos são pequenos, quando comparados com as dimensões da laje.
• Hipótese de Kirchoff: as deformações do plano médio da laje são nulas.
• As fibras perpendiculares ao plano médio permanecem rectas e perpendiculares após a
deformação.
• Tensões normais ao plano da laje são pequenas e desprezáveis quando comparadas
com as tensões de flexão.
Foi com base nestas hipóteses simplificativas que foi possível estabelecer uma equação de
equilíbrio para as lajes, conhecida por Equação de Lagrange.

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Contudo, esta equação é demasiado complexa para ser abordada nesta disciplina.
Geralmente usam-se métodos numéricos para a sua resolução. No âmbito desta disciplina,
opta-se por recorrer a tabelas para o cálculo de esforços em lajes vigadas rectangulares
(Tabelas de Timoshenko, Bares e Montoya)
Para estas tabelas, e tal como acontece para a Equação de Lagrange, é necessário conhecer
as condições fronteiras da laje, ou seja, o tipo de apoio em cada um dos seus lados. Lados
simplesmente apoiados representam-se com um tracejado por dentro da laje, encastramentos
representam-se com vários traços oblíquos ao lado em questão, e bordo livre não tem nenhum

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desenho particular. A seguinte imagem apresenta várias condições de fronteira usadas nessas
mesmas tabelas.

Como estas tabelas requerem uma análise isolada de cada laje, é fundamental definir as
condições fronteira dela. Já que nem sempre é fácil determinar quando se aplica qual condição
fronteira, existem as seguintes simplificações:
• Se a laje estiver apoiada numa viga e não existir laje adjacente, considera-se que esse
bordo é um bordo simplesmente apoiado, já que não haverá grande restrição à rotação
e os movimentos verticais estão impedidos.

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• Se a laje estiver apoiada numa viga e existir laje adjacente apoiada nessa mesma viga,
então considera-se que o apoio é encastramento. A presença da outra laje irá contrariar
quaisquer rotações no apoio que a laje em estudo tente criar.
• Bordo livre é quando o lado da laje não se apoia em viga alguma

Exemplo de divisão em lajes isoladas e das condições fronteiras estimadas:

Para usar as tabelas é necessário estimar um coeficiente de Poisson, que pode ser estimado
como sendo muito reduzido ou igual a 0, ou seja há fendilhação significativa na laje. Estas
depois recorrem a uma relação entre vãos para determinar os esforços.
É importante referir que diferentes tabelas podem ter simbologia diferente. As apresentadas
na figura anterior usam uma → para indicar a direcção das tensões normais originadas pelos
momentos. Outras, no entanto, usam ↠ que representam o momento flector, o que significa
que as tensões originadas são perpendiculares à direcção desse vector.
É também importante ter em conta que embora o cálculo seja feito considerando lajes
isoladas, quando uma laje está adjacente a outra haverá influência nos momentos flectores
positivos e negativos, graças à redistribuição de cargas. Analisando isoladamente, cada laje
terá o seu valor de momento negativo no apoio em que ambas se juntam, sendo depois
necessário fazer um equilíbrio desses mesmos momentos negativos e verificar se isso conduz
a aumento de momentos positivos (tal como será apresentado mais à frente).

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6.3.2 – Teoria da plasticidade


Embora exista um comportamento sensivelmente linear dos materiais, haverá sempre uma
altura em que um aumento de cargas leva a um comportamento não linear entre as tensões e
as extensões do elemento. Num ensaio de elemento de betão armado, carregado até à rotura,
verifica-se que o betão é o primeiro a entrar num comportamento não linear. Continuando a
aumentar as cargas, acaba-se por levar as armaduras a entrar também nesse comportamento
não linear.
As seguintes imagens mostram esse ensaio, realizado no Departamento de Engenharia
Civil do Instituto Superior de Engenharia de Coimbra.

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Tal como as vigas, as lajes também têm uma fase em que o comportamento é não linear,
sendo possível adoptar uma distribuição de esforços diferente da determinada para o
comportamento linear. Este procedimento é ainda mais válido para as lajes porque:
• A percentagem de armadura nas lajes é, em geral, reduzida, sendo a rotura em flexão
condicionada pelo comportamento do aço (dúctil).
• As lajes são, em geral, elementos mais hiperestáticos que os restantes elementos de
betão armado, permitindo uma redistribuição de esforços em ambas as direcções.
É este teorema de plasticidade que nos permitirá redistribuir o diagrama de momentos
entre lajes, atenuando assim picos que seriam desfavoráveis à estrutura e tirando um melhor
proveito das armaduras. Isto contribuirá para uma redução das tensões das armaduras lá
colocadas.
Este método também servirá para determinar a carga máxima que a laje consegue suportar.
Contudo, este método só é válido se a distribuição de esforços for estaticamente possível e
a sua capacidade de rotação plástica das secções críticas for suficientemente grande para que
se possa formar o mecanismo de rotura assumido. Portanto, é necessário garantir que a
rotação plástica necessária nas rótulas é inferior à rotação plástica possível.

A teoria da plasticidade tem 2 métodos: o cinemático e o estático

6.3.2.1 – Método cinemático


Pode determinar-se a carga de colapso utilizando este método, que consiste “na análise de
directa de todos os mecanismos de colapso possíveis, determinando-se a carga correspondente
a cada um deles. A carga real de colapso é a menor destas cargas”.
Este método é vantajoso quando o número de configurações de colapso é pequeno. Este
método garante que a carga associada a um mecanismo cinematicamente admissível é
superior ou igual à carga última da laje. Contudo, é de difícil aplicação para o
dimensionamento de armaduras longitudinais, sendo preferível recorrer ao comportamento
linear ou ao método estático da teoria da plasticidade para a determinação destas.
A grande utilidade deste método prende-se na determinação do valor máximo de esforço
transverso actuante nas lajes bem como na determinação da carga que cada viga irá receber
(ver a secção 6.5 deste manual).

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Tópicos a considerar:
• Forma-se uma linha de rotura (e consequentemente uma linha de rotação) nos
encastramentos.
• Existe uma linha de rotação nos bordos simplesmente apoiados.
• Existem linhas de rotura que passam pelo ponto de intersecção dos eixos de rotação dos
elementos da laje.
• As outras linhas de rotura dependem das condições de apoio.

6.3.2.2 – Método estático


Este método consiste numa distribuição de esforços equilibrada, com a carga assumida
para uma direcção sendo inferior à carga última. Uma aplicação directa deste método é o
chamado Método das Bandas, que se baseia no facto de a carga ser aplicada apenas por flexão
(despreza-se resistência à torção dentro da laje). Assim, a carga é suportada por uma
banda/“viga” na direcção x e uma banda/“viga” na direcção y.
A carga total será repartida por ambas as direcções através de um parâmetro α:
0 < α <1; qx = α × qy qy = (1 – α)×q
Uma banda suporta qx e outra suporta qy.

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Conhecendo o valor da carga a aplicar na banda, será fácil determinar os momentos


flectores e a armadura longitudinal em cada direcção.
Contudo, o Método das Bandas pode apresentar tensões muito diferentes das registadas nas
condições de serviço, aconselha-se bom senso para a escolha do “caminho da carga”. Para
isso apresentam-se alguns pontos a ter em consideração.
• Escolher um caminho de carga próximo do que se esperaria pela análise linear elástica.
• Escolher os coeficientes de repartição com base na compatibilidade do deslocamento
máximo vertical na laje (igual nas 2 direcções).
• Aconselha-se experiência e sensibilidade por parte do engenheiro.
• Respeitar as regras regulamentares.

É também possível tirar o parâmetro de repartição, α, dos valores esperados para a flecha
de cada banda. A figura seguinte apresenta o valor da flecha, a, para várias situações:

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O coeficiente de repartição será dado pela igualdade a = ax = ay

𝑝 × 𝐿4⁄
O valor de k corresponde ao valor da fracção que multiplica 𝐸𝐼 , como apresentado
na figura anterior.

Este método é particularmente útil para o cálculo dos esforços em lajes com aberturas ou
lajes que não estejam tabeladas. Por exemplo:

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A utilização deste método está condicionada pelas normas utilizadas, que servem para
garantir o bom comportamento da laje nas condições de serviço, ou seja, garantir a segurança
em termos de estado limite de fendilhação e de deformação. No EC2 secção 5.6.2, estabelece-
se que este método é válido quando:

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• A área de tracção é limitada de tal forma a que, em qualquer secção:


- x/d ≤ 0,25 para betões de classe inferior a C50/60
- x/d ≤ 0,15 para betões de classe superior a C55/67
• As armaduras utilizadas devem dúcteis, da classe B ou C
• A razão entre os momentos no apoio e a meio vão deve estar compreendida entre 0,5 e
2.

6.3.3 – Lajes contínuas


Como já foi referido, a presença de outras lajes adjacentes condiciona os esforços na laje
em estudo. Para tal é preciso definir o carregamento que leva à situação mais desfavorável na
laje em estudo. Estudando lajes contínuas através de linhas de influência, compreendemos que
a variação de cargas nas lajes adjacentes influência bastante os momentos flectores na laje em
estudo.

Nota importante: relembrar que em elementos de betão armado, só as cargas variáveis


podem ou não estar presentes, enquanto as cargas permanentes estão sempre presentes.

Através da análise de linhas de influência fica-se a saber que:


• Se obtém o momento máximo negativo num apoio de continuidade aplicando a carga
máxima (carga permanente + carga variável) no painel adjacente ligado a esse apoio

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• Se obtém o momento máximo positivo de uma laje aplicando a carga máxima (carga
permanente + carga variável) na laje em estudo e apenas carga permanente nas lajes
adjacentes

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6.3.3.1 – Equilíbrio de Momentos Negativos


Como já se referiu, ao considerarmos lajes como isoladas para o cálculo e vigas onde
descarregam lajes adjacentes como encastramentos, acabaremos por lajes que embora
adjacentes vão ter momentos negativos diferentes para o mesmo apoio (a menos que sejam
simétricas). Mas como o sistema se deve estudar num todo, será necessário proceder a um
equilíbrio de momentos negativos, levando a um momento que se situa entre os dois
calculados para cada laje.
Considere o seguinte exemplo:

Considerando o corte AA’, o diagrama de momentos para cada laje, isoladamente, será:

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Juntando novamente as lajes isoladas, teríamos um diagrama que não é realista:

O diagrama real nesse corte será, após o equilíbrio de momentos negativos:

Se ele for colocado entre o diagrama obtido, anteriormente apresentado, temos:

Ou seja, Mab, o momento flector negativo devido ao equilíbrio de momentos, encontra-se


entre o momento negativo da laje esquerda e o momento negativo da laje direita.

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O valor de Mab dependerá da rigidez dos painéis adjacentes. Se estes forem similares na
forma (rectangulares), este momento pode-se obter de forma simplificada.

Contudo, este deverá ser maior ou igual a 80% do maior momento negativo das lajes
isoladas, por forma a garantir que a nova distribuição não leva a esforços muito diferentes dos
obtidos na análise linear elásticas.
Assim:
Ma + Mb
Mab = max { ; 0,8 × max(Ma ; Mb )}
2

Do diagrama final compreendemos que:


1. Um aumento de momentos negativos leva ao aumento do comprimento de armadura
de apoio.
2. Uma diminuição de momentos negativos leva-nos a ter um momento inferior ao
inicialmente calculado, pelo que se pode utilizar o novo momento negativo calculado.
Contudo, também está correcto usar o momento inicial (já que este é superior),
estando assim dentro da segurança mas levando a maiores gastos de material.
3. No lado onde há diminuição de momentos flectores negativos, haverá aumento de
momentos flectores positivos. Será necessário conhecer esses novos momentos.
4. No lado onde há aumento de momentos flectores negativos, haverá uma diminuição de
momentos flectores positivos, o que pelo mesmo motivo do ponto 2 deve-se
considerar os inicialmente calculados.

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Avaliar momentos negativos:


As armaduras nos apoios considerados como encastrados têm de obedecer à mesma regra
que as armaduras de apoio, ou seja, terem uma área que seja pelo menos capaz de resistir a
25% dos momentos flectores positivos. O seu comprimento seria pelo menos de 0,2 vezes o
respectivo vão. Contudo, isso era assumindo que a laje era isolada. Quando se entra com a
influência de outras lajes, a área de momentos negativos pode aumentar de forma não prevista
no cálculo levando-nos a ter de dimensionar pela segurança.
Assim, armaduras de apoios intermédios devem ter um comprimento de:
(0,2 × L ou 0,25 × L) + al, com L = vão respectivo

Este comprimento será o usado para lajes onde haja diminuição de momentos flectores
negativos devido ao equilíbrio de momentos.
O comprimento de amarração é posteriormente adicionado a este comprimento calculado.

Contudo, quando ocorre aumento de momentos negativos, a distância do apoio em que


estes terminam também aumenta. De uma forma simplificada, pode-se considerar que o
aumento desta distância é proporcional ao aumento de momentos flectores negativos. E
deverá ser depois acrescida de al para garantir a segurança e ter conta possíveis aumentos de
tracção devido ao esforço transverso.
Assim, o comprimento das armaduras superiores, nos apoios onde ocorrem aumento de
momentos negativos, deverá ser dado por:
(0,2 × L ou 0,25 × L) × (Mab /Mb) + al, com L = vão respectivo

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Em termos de cálculo, na laje que sofrer uma diminuição de momentos flectores negativos,
dimensiona-se a laje considerando Mab (embora se possa usar o original, já que é superior e,
portanto, estamos dentro da segurança). Na laje onde há aumento de momentos flectores
negativos, usa-se Mab para o cálculo por ser superior ao inicialmente calculado para a laje
isolada.

Avaliar momentos positivos:


Quando os momentos flectores positivos aumentam, devido ao equilíbrio de momentos
negativos, será necessário verificar os novos momentos flectores positivos. Para lajes armadas
numa direcção, esse aumento é fácil de determinar e o momento final a usar para o cálculo
será o inicial acrescido deste aumento.

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Esta forma de determinar o aumento de momentos positivos é apenas uma aproximação, já


que o momento flector positivo não se encontra necessariamente a meio vão.
Caso a laje armada numa direcção tenha aumento de momentos positivos devido aos dois
apoios:

Para lajes armadas em duas direcções, um aumento de momentos flectores positivos numa
direcção irá afectar os momentos na outra direcção. Quando não existir informação mais
rigorosa, será razoável determina-los através de uma interpolação entre os esforços dados
pelas tabelas e os esforços de uma condição fictícia.
Para esta condição fictícia, recalculam-se novamente os momentos flectores positivos, mas
desta vez considerando que o apoio onde há aumento de momentos flectores positivos passa a
ser apoio simples. Ou seja, considera-se que o apoio levou a um aumento máximo dos
momentos positivos ao diminuir os seus momentos negativos para 0.

Considere o seguinte exemplo de uma laje com um encastramento e um bordo livre oposto.
Embora não se conhecem os momentos da laje adjacente, vamos assumir que a laje adjacente
conduz a um Mab = 0,8 × M- da laje em estudo, o que por sua vez leva a um aumento de
momentos positivos.

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Transformando o encastramento, onde o equilíbrio de momentos flectores negativos leva a


um aumento de momentos flectores positivos, em apoio simples, teremos:

A interpolação será então:

Os momentos devido ao equilíbrio de momentos negativos passam a ser:


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Caso mais do que um apoio leve a aumento de momentos positivos, transformam-se todos
eles em apoios simples (os restantes apoios continuam iguais) e calculam-se novos momentos
positivos considerando essas novas condições de apoio. Para além disso, na interpolação usa-
se o apoio que tiver maior variação entre o momento flector negativo original e Mab.

6.3.3.2 – Momentos positivos em lajes contínuas


Como já foi apresentado, pelo estudo das linhas de influência, percebe-se que os momentos
flectores máximos positivos se obtêm aplicando a carga máxima (CP+Q) nesse vão e apenas a
carga permanente nos vãos adjacentes (já que esta não pode ser removida). Através desse
estudo surgiu um método proposto por Marcus onde se decompõe a carga da seguinte forma:

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Para a situação em que a carga é CP+SC/2 (carga permanente + sobrecarga a dividir por 2),
atendendo à forma da laje, é admissível considerar que a rotação entre os apoios é
praticamente nula e portanto estes continuam a ser considerados como encastramentos.
Para a situação de SC/2 (sobrecarga a dividir por 2), verifica-se que a rotação sobre os
apoios é significativa e será razoável considera-los como simplesmente apoiados. Os restantes
mantêm as condições de apoio iniciais.
O Método de Marcus consiste então em calcular os momentos flectores positivos para duas
condições:
• Condição 1: condições de apoio reais, carga = CP+Q/2
• Condição 2: condições de apoio fictícias onde os encastramentos devido à presença de
outras lajes passam a ser considerados como apoio simples, carga = Q/2
Sendo que estes momentos positivos devem ser somados para obter os momentos do
Método de Marcus.

Exemplos:

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6.3.3.3 – Momentos finais de cálculo


Os momentos flectores finais usados para o cálculo vão ser os maiores entre todas as
situações apresentadas. Ou seja:

M − = max{Mcond reais e CP+Q ; Mab }
+ +
M + = max{Mcond reais e CP+Q ; Meq momentos neg ; MMarcus }

6.3.4 – Lajes com aberturas


Por vezes as lajes podem ter aberturas, seja por questões estéticas, seja por necessidade de
passagem de tubagem, elevadores ou chaminés. Se as dimensões da abertura na laje forem
pequena, a laje pode ser dimensionada admitindo que a abertura não existe. Contudo, será
necessário algum reforço de armaduras nas zonas próximas da abertura.

Para uma laje armada numa só direcção, considera-se que a abertura não existe se b < L1/5
e b < L2/4

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Para este tipo de laje, a abertura deverá ter um reforço lateral que corresponda a metade da
armadura principal. Este reforço deve ser prolongado ao longo de todo o vão onde ocorrem
momentos. Para a direcção perpendicular, o reforço pode ser prolongado até uma distância
igual a metade da altura da abertura.

Para uma laje armada em duas direcções, considera-se que a abertura não existe se:
min(L1 , L2 )
máx(b1 , b2 ) ≤
5

E o reforço deverá seguir as seguintes indicações:

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Quando as aberturas forem superiores a 0,5 m, é conveniente colocar uma armadura


suplementar junto aos cantos, segundo a direcção diagonal, para controlar a fendilhação.

Se a abertura for de dimensões significativas (que ultrapassem as limitações impostas


anteriormente), a laje já não poderá ser dimensionada como se a abertura não existisse. Terá,
então, de se usar o método das bandas para analisar e dimensionar essa laje, tal como mostra a
seguinte figura.

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Exemplo prático
Considere o piso representado na seguinte imagem. Dimensione o piso e pormenorize as
armaduras de modo a verificar os ELU e os ELS.

Dados
Edifício corrente: classe estrutural S4
Classe de exposição: XC2
Espessura inicial da laje: 20 cm
Materiais: A500, C25/30 (dg = 20 mm)
Acções: peso próprio da laje, paredes divisórias 2,0 kN/m2, revestimento 2,0 kN/m2 e
sobrecarga 4 kN/m2 (φ2 = 0,4)

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Nota: como a planta é simétrica, só iremos dimensionar e pormenorizar o lado esquerdo. O


lado direito será depois um espelho do esquerdo.

a) Pré-dimensionamento
fck⁄ 25
fcd = α × γc = ⁄1,5 = 16,67 MPa
fsyk
fsyd = ⁄γ = 500⁄
s 1,15 = 434,78 MPa
Assumir que: Ølong = Ø16 (16 mm, para compressão e tracção) e Øtrans = 0

Quadro 4.2 → Cmin,b = 16 mm


Quadro 4.3N → reduzir uma classe (elemento com geometria de laje) → Cmin,dur = 20 mm
Cmin = max{16; 20; 10} = 20 mm

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Sabendo que ΔCdev = 10 mm, então Cnom = Cmin + 10 mm = 30 mm


∅long
d = h − cnom − ∅est − ⁄ = 200 − 30 − 16⁄ = 162 mm = 0,162m
2 2

Cargas aplicadas e esforços a considerar:


PELU = 1,35 × (25 × 1 × 0,2 + 2 + 2) + 1,5 × 4 = 18,15 kN/m
𝐶𝑃 + 𝑄/2 = 1,35 × (25 × 1 × 0,2 + 2 + 2) + 1,5 × 4/2 = 15,15 kN/m
𝑄/2 = 1,5 × 4/2 = 3 kN/m

Quadro 7.3N → PELS = combinação quase-permanente de acções


PELS = 11,35 × (25 × 1 × 0,2 + 2 + 2) + 0,4 × 4 = 13,75 kN/m

b) Verificação do esforço transverso


Determinação das linhas de rotura. Como ambos os painéis possuem a mesma espessura,
iremos usar aquele que obtiver maior Vsd. A melhor maneira de traçar as linhas de rotura é
recorrer a régua e transferidor, traçando
ângulos num desenho que tenha a escala
apropriada. Caso contrário será
necessário usar trigonometria para
determinar as maiores dimensões. As
linhas de rotura devem ser traçadas nos
cantos onde se começa a medir as lajes,
neste caso desde o centro dos pilares,
uma vez que as vigas poderão ter
dimensões diferentes às inicialmente
previstas (já que as cargas que recebem
da laje em estudo vão afectar o
dimensionamento e escolha da secção da
viga).
Para esta laje, os ângulos das linhas
de rotura e as maiores dimensões são as
apresentadas na imagem à direita. Logo:

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Vsd = 4,1208 × PELU = 74,793 kN

Como ainda não temos determinadas quaisquer armaduras, o esforço transverso resistente
será dado por:

Como não há esforço axial nas lajes, σcp = 0

Então:

k = 1 + √200⁄162 = 2,111 > 2, então k = 2


3 1
νmin = 0,035 × 22 × 252 = 0,495 MPa

VRd,c = (0,495 + 0) × 1000 × 162 = 80190 N = 80,19 kN

Como Vsd é inferior a VRd,c, então verifica o esforço transverso e a laje resiste graças à sua
espessura.

c) Cálculo de momentos
Método de Marcus
Painel superior.
Lx/Ly = 6,5/4 = 1,625 < 2 → laje armada em duas direcções

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Tabela a usar para a primeira condição (página 26). É necessário rodar

Momento positivo da direcção x é dado por Mxs


Momento positivo da direcção y é dado por Mys

a = 6,5 m b=4m γ = a/b = 6,5/4 = 1,625


Será necessário interpolar valores da tabela

Carga da primeira condição: P = 15,15 kN/m2


Mxs1 = 0,007725 × 15,15 × 6,52 = 4,95 kNm/m
Mys1 = 0,05045 × 15,15 × 42 = 12,233 kNm/m

Tabela a usar para a primeira condição (página 23)

Momento positivo da direcção x é dado por Mxs


Momento positivo da direcção y é dado por Mys

a = 6,5 m b=4m
γ = a/b = 6,5/4 = 1,625
Será necessário interpolar valores da tabela

Carga da primeira condição: P = 3 kN/m2


Mxs2 = 0,01405 × 3 × 6,52 = 1,78 kNm/m

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Mys2 = 0,0838 × 3 × 42 = 4,02 kNm/m

MxMarcus = Mxs1 + Mxs2 = 4,95 + 1,78 = 6,73 kNm/m


MyMarcus = Mys1 + Mys2 = 12,23 + 4,02 = 16,25 kNm/m

Painel inferior
Ly/Lx = 7,15/6,5 = 1,1 < 2 → laje armada em duas direcções

Tabela a usar para a primeira condição (página 26). É necessário espelhar

Momento positivo da direcção x é dado por Mxs


Momento positivo da direcção y é dado por Mys
a = 6,5 m b = 7,5 m γ = a/b = 6,5 / 7,5 = 0,9

Carga da primeira condição: P = 15,15 kN/m2


Mxs1 = 0,0324 × 15,15 × 6,52 = 20,74 kNm/m

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Mys1 = 0,0217 × 15,15 × 7,152 = 16,81 kNm/m

Tabela a usar para a primeira condição (página 23)

Momento positivo da direcção x é dado por Mxs


Momento positivo da direcção y é dado por Mys

a = 6,5 m b = 7,15 m γ = a/b = 6,5/7,15 = 0,9

Carga da primeira condição: P = 3 kN/m2


Mxs1 = 0,0507 × 3 × 6,52 = 6,43 kNm/m
Mys1 = 0,0344 × 3 × 7,152 = 5,28 kNm/m

MxMarcus = Mxs1 + Mxs2 = 20,74 + 6,43 = 27,17 kNm/m


MyMarcus = Mys1 + Mys2 = 16,81 + 5,28 = 22,09 kNm/m

Momentos na condição real e carga máxima.


A nomenclatura para os momentos negativos será a indicada na seguinte figura. É preciso
ter em atenção que, por ser um piso simétrico, o momento à direita da viga central será igual
ao momento obtido nas lajes à esquerda.

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Painel superior.
Tabela a usar para a primeira condição (página 26). É necessário rodar

Momento positivo da direcção x é dado por Mxs


Momento positivo da direcção y é dado por Mys
min
Momento negativo Mb1 é dado por Myv
min
Momento negativo Ma1 é dado por Mxv
a = 6,5 m b=4m γ = a/b = 6,5/4 = 1,625
Será necessário interpolar valores da tabela

João Paulo Santos Betão Armado Page 245


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Carga: PELU = 18,15 kN/m


Mxs = 0,007725 × 18,15 × 6,52 = 5,924 kNm/m
Mys = 0,05045 × 18,15 × 42 = 14,651 kNm/m
min
Mxv = −0,03083 × 18,15 × 6,52 = −23,64 kNm/m
min
Myv = −0,10905 × 18,15 × 42 = −31,67 kNm/m

Painel inferior.
Tabela a usar para a primeira condição (página 26). É necessário espelhar

Momento positivo da direcção x é dado por Mxs


Momento positivo da direcção y é dado por Mys
min
Momento negativo Mb1 é dado por Myv
min
Momento negativo Ma1 é dado por Mxv
a = 6,5 m b = 7,15 m γ = a/b = 6,5/7,15 = 0,9

Carga: PELU = 18,15 kN/m


Mxs = 0,0324 × 18,15 × 6,52 = 24,846 kNm/m
Mys = 0,0217 × 18,15 × 7,152 = 20,135 kNm/m
min
Mxv = −0,0798 × 18,15 × 6,52 = −61,19 kNm/m
min
Myv = −0,0598 × 18,15 × 7,152 = −55,49 kNm/m

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Equilíbrio de momentos negativos

Apoio M1 M2 (M1+M2)/2 0,8×Mmax Msd


(kNm/m) (kNm/m) (kNm/m) (kNm/m) (kNm/m)
A 23,64 23,64 23,64 18,91 23,64
B 31,67 55,49 43,58 44,39 44,39
C 61,19 61,19 61,19 48,95 61,19

Como os apoios A e C são relativos a um apoio entre lajes simétricas, não haverá qualquer
equilíbrio de momentos neles. Contudo, no apoio B já haverá equilíbrio de momentos, e neles
vemos que o momento flector negativo no painel inferior sofre uma redução.
Como já foi apresentado, se uma laje sofre diminuição de momentos negativos, devido ao
equilíbrio de momentos, pudemos usar o novo momento negativo (embora esteja também
correcto usar o inicialmente calculado, já que é superior, levando a mais gastos de material)
para dimensionar as armaduras superiores nesse apoio e teremos de calcular o aumento de
momentos positivos.

Laje inferior.
Mb– = 55,49 kNm Mab = 44,39 kNm
Mx = 24,85 kNm My = 20,14 kNm

Para a segunda condição, o apoio superior torna-se num apoio simples.


Tabela a usar para a segunda condição (página 24).

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Momento positivo da direcção x é dado por Mys


Momento positivo da direcção y é dado por Mxs

a = 7,15 m b = 6,5 m γ = a/b = 7,15/6,5 = 1,1

Carga: PELU = 18,15 kN/m


Mxs = 0,0228 × 18,15 × 7,152 = 21,16 kNm/m
Mys = 0,0399 × 18,15 × 6,52 = 30,6 kNm/m

Interpolando:
Direcção X Direcção Y
M – = 55,49 ________ 24,85 M – = 55,49 ________ 20,14
Mab = 44,39 ________ Mx = ? Mab = 44,39 ________ My = ?
M=0 ________ 30,6 M=0 ________ 21,16
Mx = 26,04 kNm/m My = 20,3 kNm/m

Momentos finais
Painel superior:
Sup
Mx = max{6,73; 5,924} = 6,73 kNm/m
Sup
My = max{16,25; 14,651} = 16,25 kNm/m
Ma = 23,64 kNm/m
Mb = 44,39 kNm/m

Painel inferior:
MxInf = max{27,17; 24,846; 26,04} = 27,17 kNm/m
MyInf = max{22,09; 20,135; 20,3} = 22,09 kNm/m
Mb = 44,39 kNm/m
Mc = 61,19 kNm/m

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d) Determinar armaduras a aplicar


A próxima tabela apresenta os vários valores calculados através das fórmulas do professor
Eduardo Júlio, bem como a verificação dos limites.
Mrd µ > ω > As,nec As,apl (cm2/m)
(kNm/m) µlim? ωlim? (cm2/m)
𝐒𝐮𝐩 6,73 0,01501 Não 0,01513 Não 0,95 Ø8//15 cm (3,33)
𝐌𝐱
𝐒𝐮𝐩 16,25 0,03624 Não 0,03694 Não 2,32 Ø8//15 cm (3,33)
𝐌𝐲

𝐌𝐱𝐈𝐧𝐟 27,17 0,0606 Não 0,06261 Não 3,94 Ø10//15 cm (5,26)


𝐌𝐲𝐈𝐧𝐟 22,09 0,04927 Não 0,05058 Não 3,18 Ø8//15 cm (3,33)

𝐌𝐚 26,364 0,0588 Não 0,06069 Não 3,82 Ø10//15 cm (5,26)


𝐌𝐛 44,39 0,09901 Não 0,10463 Não 6,58 Ø12//15 cm (7,53)
𝐌𝐜 61,19 0,13648 Não 0,14768 Não 9,29 Ø12//10 cm (11,31)

e) Disposições construtivas

Determinação de As,min e As,max:


2,6
0,26 × × 1 × 0,162 0,000252 m2 /m
As,min = mmax { 434,78 = max { = 2,52 cm2 /m
0,000211 m2 /m
0,0013 × 1 × 0,162

As,max = 4% da área da secção = 0,04 × 1 × 0,2 = 0,008 m2 /m = 80 cm2 /m

Como a armadura aplica tem uma área superior à As,min e inferior à As,max, esta verifica.

Determinação de As,min fend:


Relembrar que este exemplo é de uma viga submetida à flexão simples
1 × 0,2
0,4 × 1 × 2,6 ×
As,min fend = 2 = 0,000239 m2 /m = 2,39 cm2 /m
434,78
Também verifica por ser superior a este mínimo.

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Determinação de Smin:
smin = max{16; (20 + 5); 20 mm} = 25 mm = 2,5 cm

Como os varões estão afastados 15 cm e 10 cm, um espaçamento superior ao mínimo,


então verifica.

Determinação de Smax fend:


Quadro 7.3N → wmax = 0,3 mm

Secção As,nec As,apl (cm2/m) σs fend (MPa) Smax fend (mm) S (mm) Verifica?
(cm2/m)
𝐒𝐮𝐩 0,95 3,33 108,06 300 150 Sim
𝐌𝐱
𝐒𝐮𝐩 2,32 3,33 263,90 150 150 Sim
𝐌𝐲

𝐌𝐱𝐈𝐧𝐟 3,94 5,26 283,73 150 150 Sim


𝐌𝐲𝐈𝐧𝐟 3,18 3,33 361,73 50 150 Não

𝐌𝐚 3,82 5,26 275,09 150 150 Sim


𝐌𝐛 6,58 7,53 331,00 50 150 Não
𝐌𝐜 9,29 11,31 311,14 100 100 Sim

É necessário escolher nova armadura.


Secção As,nec As,apl (cm2) σs fend Smax fend S (mm) Verifica?
(cm2) (MPa) (mm)
𝐒𝐮𝐩 0,95 Ø8//15 cm (3,33) 108,06 300 150 Sim
𝐌𝐱
𝐒𝐮𝐩 2,32 Ø8//15 cm (3,33) 263,90 150 150 Sim
𝐌𝐲

𝐌𝐱𝐈𝐧𝐟 3,94 Ø10//15 cm (5,26) 283,73 150 150 Sim


𝐌𝐲𝐈𝐧𝐟 3,18 Ø10//15 cm (5,26) 229,00 200 150 Sim

𝐌𝐚 3,82 Ø10//15 cm (5,26) 275,09 150 150 Sim


𝐌𝐛 6,58 Ø12//10 cm (11,31) 220,37 50 100 Sim
𝐌𝐜 9,29 Ø12//10 cm (11,31) 311,14 100 100 Sim

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Determinação de Smax slabs


• Para armaduras principais: 3 × 200 ≤ 400 mm, logo será 400 mm. Verifica porque o
espaçamento máximo aplicado é de 150 mm.
• Para armaduras de distribuição: 3,5 × 200 ≤ 450 mm, logo será 450 mm
• Para zonas de momento máximo: 2 × 200 ≤ 250 mm, logo será 250 mm para
armaduras principais. Verifica porque o espaçamento máximo aplicado é de 150 mm.
• Para zonas de momento máximo: 3 × 200 ≤ 400 mm, logo será 400 mm para
armaduras de distribuição

Controlo da deformação, painel superior, direcção x:


𝜌0 = √fck × 10−3 = √25 × 10−3 = 0,005
0,95
𝜌= = 0,000586
(100 × 16,2)

Como ρ ≤ ρ0, a fórmula a usar será:


1⁄
𝐿 𝜌0 𝜌0 2
= 𝐾 × [11 + 1,5 × √𝑓𝑐𝑘 × + 3,2 × √𝑓𝑐𝑘 × ( − 1) ]
𝑑 𝜌 𝜌
K = 1,3 por ser vão extremo.
1⁄
𝐿 0,005 0,005 2
= 1,3 × [11 + 1,5 × √25 × + 3,2 × √25 × ( − 1) ] = 159,93
𝑑 0,000586 0,000586

O valor é posteriormente corrigido por:


310 500
= = 3,51
σc 0,95
(500 × 3,33)

Como o vão é inferior a 7 metros:


𝐿
= 159,93 × 3,51 = 561,354
𝑑 𝑐𝑎𝑙𝑐

𝐿 6,5
= = 40,12
𝑑𝑟𝑒𝑎𝑙 0,162
Verifica, não é necessário calcular a flecha

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Controlo da deformação, painel superior, direcção y:


𝜌0 = √fck × 10−3 = √25 × 10−3 = 0,005
2,32
𝜌= = 0,001432
(100 × 16,2)

Como ρ ≤ ρ0, a fórmula a usar será:


1⁄
𝐿 𝜌0 𝜌0 2
= 𝐾 × [11 + 1,5 × √𝑓𝑐𝑘 × + 3,2 × √𝑓𝑐𝑘 × ( − 1) ]
𝑑 𝜌 𝜌
K = 1,3 por ser vão extremo.
1⁄
𝐿 0,005 0,005 2
= 1,3 × [11 + 1,5 × √25 × + 3,2 × √25 × ( − 1) ] = 84,26
𝑑 0,001432 0,001432

O valor é posteriormente corrigido por:


310 500
= = 1,435
σc 2,32
(500 × 3,33)

Como o vão é inferior a 7 metros:


𝐿
= 84,26 × 1,435 = 120,91
𝑑𝑐𝑎𝑙𝑐

𝐿 4
= = 24,69
𝑑𝑟𝑒𝑎𝑙 0,162
Verifica, não é necessário calcular a flecha

Controlo da deformação, painel inferior, direcção x:


𝜌0 = √fck × 10−3 = √25 × 10−3 = 0,005
3,94
𝜌= = 0,002432
(100 × 16,2)

Como ρ ≤ ρ0, a fórmula a usar será:


1⁄
𝐿 𝜌0 𝜌0 2
= 𝐾 × [11 + 1,5 × √𝑓𝑐𝑘 × + 3,2 × √𝑓𝑐𝑘 × ( − 1) ]
𝑑 𝜌 𝜌

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K = 1,3 por ser vão extremo.


1⁄
𝐿 0,005 0,005 2
= 1,3 × [11 + 1,5 × √25 × + 3,2 × √25 × ( − 1) ] = 57,723
𝑑 0,002432 0,002432

O valor é posteriormente corrigido por:


310 500
= = 1,335
σc 3,94
(500 × )
5,26

Como o vão é inferior a 7 metros:


𝐿
= 57,723 × 1,335 = 77,06
𝑑𝑐𝑎𝑙𝑐

𝐿 6,5
= = 40,124
𝑑 𝑟𝑒𝑎𝑙 0,162
Verifica, não é necessário calcular a flecha

Controlo da deformação, painel inferior, direcção y:


𝜌0 = √fck × 10−3 = √25 × 10−3 = 0,005
3,18
𝜌= = 0,001963
(100 × 16,2)

Como ρ ≤ ρ0, a fórmula a usar será:


1⁄
𝐿 𝜌0 𝜌0 2
= 𝐾 × [11 + 1,5 × √𝑓𝑐𝑘 × + 3,2 × √𝑓𝑐𝑘 × ( − 1) ]
𝑑 𝜌 𝜌
K = 1,3 por ser vão extremo.
1⁄
𝐿 0,005 0,005 2
= 1,3 × [11 + 1,5 × √25 × + 3,2 × √25 × ( − 1) ] = 67,432
𝑑 0,001432 0,001432

O valor é posteriormente corrigido por:


310 500
= = 1,654
σc 3,18
(500 × )
5,26

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Como o vão é superior a 7 metros:


𝐿 7
= 67,432 × 1,654 × = 109,193
𝑑 𝑐𝑎𝑙𝑐 7,15

𝐿 7,15
= = 44,136
𝑑 𝑟𝑒𝑎𝑙 0,162
Verifica, não é necessário calcular a flecha

Armadura de distribuição:
Vamos colocar armadura de distribuição para as armaduras principais negativas, pois são
as únicas sem qualquer armadura perpendicular a elas.
As,dist = 0,2×11,31 = 2,26 cm2/m (escolher Ø8//20 cm, que dá 2,51 cm2/m). Esta armadura
também verifica o espaçamento mínimo e máximo visto anteriormente.

Armadura de apoio:
Nos apoios extremos do painel superior:
As,apoio = 0,15 × 2,32 = 0,348 cm2/m
Opta-se por: Ø8//15 cm, que dá 3,33 cm2/m (obedece assim ao espaçamento mínimo,
máximo e à armadura mínima).
A armadura de apoio terá um comprimento de 0,2×L vão correspondente.
Esta armadura precisará de armadura de distribuição para ela:
Adist 2
s,apoio = As,apoio × 0,2 = 3,33 × 0,2 = 0,66 → optar por ∅8//30 cm (1,68 cm /m)

Nos apoios extremos do painel inferior:


As,apoio = 0,15 × 3,94 = 0,591 cm2/m
Opta-se por: Ø8//15 cm, que dá 3,33 cm2/m (obedece assim ao espaçamento mínimo,
máximo e à armadura mínima).
Esta armadura precisará de armadura de distribuição para ela:
Adist 2
s,apoio = As,apoio × 0,2 = 3,33 × 0,2 = 0,66 → optar por ∅8//30 cm (1,68 cm /m)

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Armadura de canto, painel superior:


Por só termos cantos simplesmente apoiados: As,canto = As,nec+ = Ø8//15 cm (3,33 cm2/m)
Por só termos cantos encastrados: As,canto = As,nec+ / 2 = 3,33 / 2 = 1,665 cm2/m

Para a face inferior, não será necessária armadura de canto por já existir lá a quantidade
necessária. Nos cantos da face superior, também já existe a armadura necessária graças à
armadura de apoio.

A armadura de canto terá um comprimento de 0,25×menor vão = 0,25×4 ≈ 1 m

Armadura de canto, painel inferior:


Por só termos cantos simplesmente apoiados: As,canto = As,nec+ = Ø10//15 cm (5,26 cm2/m)
Por só termos cantos encastrados: As,canto = As,nec+ / 2 = 5,26 / 2 = 2,63 cm2/m

Para a face inferior, não será necessária armadura de canto por já existir lá a quantidade
necessária.

Nos cantos da face superior, será necessário um reforço no canto simplesmente apoiado, já
que as armaduras de apoio só fornecem uma área de 3,33. Já nos outros tal não será
necessário.
Assim, reforço será de: 5,26 – 3,33 = 1,93 cm2/m. Aplicar Ø8//25 cm (2,01 cm2/m)

A armadura de canto terá um comprimento de 0,25×menor vão = 0,25×6,5 ≈ 1,625 m

Interrupção de armaduras:
Poderia fazer-se a interrupção de armaduras, mas para as lajes é preferível não se fazer tal.

f) Pormenorização das armaduras


A pormenorização das armaduras ficará como apresentado nas seguintes imagens. Notar
que o comprimento da armadura negativa nos apoios à direita de cada laje será de 0,2×6,5 =
1,3 metros, o comprimento da armadura negativa no apoio B da laje superior será de
(0,2×4)×(55,49/31,67)+0,162 ≈ 1,6 metros
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Armaduras inferiores

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Armaduras superiores

g) Uniformização
As armaduras podem ser uniformizadas para tornar a pormenorização da armadura mais
fácil de executar. Pode-se, por exemplo, prolongar os varões Ø12//10 cm por toda a laje.

h) Comprimento de amarração
Após a uniformização das armaduras, procede-se ao cálculo do comprimento de
amarração, tal como já foi feito no exemplo prático de lajes armadas numa direcção.

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6.4 – Dimensionamento de lajes fungiformes


Lajes fungiformes são lajes que apoiam directamente em pilares. Por não terem vigas
salientes, estas lajes apresentam várias vantagens:
• Menor espessura, que leva a menor altura do edifício
• Tectos planos, que permite instalação mais fácil de condutas e outros componentes
(porque não existem vigas que criem saliências)
• Facilidade de colocação de paredes divisórias
• Simplicidade de execução
As lajes fungiformes possuem também desvantagens (a maioria prende-se com o facto de
os apoios terem dimensões reduzidas)
• Concentração de esforços nos apoios (problemas de flexão e punçoamento)
• Concentração de deformações nos apoios
• Acções horizontais estão presentes e causam também deformações

As lajes fungiformes podem ser:


• Maciças
• Aligeiradas (com moldes recuperáveis ou embebidos)
• Com ou sem capitel (ou espessamento)
Tal como acontece com as lajes armadas em 2 direcções, para as lajes fungiformes é
necessário avaliar ambas as direcções
É também importante realçar que ao contrário das lajes vigadas, este tipo de lajes possui
esforço axial já que as acções horizontais no plano da laje não são absorvidas pelas vigas
como acontece nas lajes vigadas.

6.4.1 – Pré-dimensionamento de lajes fungiformes


Tal como as lajes vigadas, as fungiformes dimensionam-se através de um processo
iterativo onde se estima uma espessura inicial. Para edifícios correntes, com sobrecarga
inferior a 5 kN/m2, a espessura das lajes fungiformes pode ser determinada a partir das
seguintes relações:

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6.4.2 – Esforços em lajes fungiformes


Os esforços neste tipo de lajes podem ser calculados utilizando o método de grelhas, de
elementos finitos ou o método simplificado de pórticos equivalentes, sendo este último o
abordado nesta sebenta. O EC2 contempla o uso deste método no Anexo I.

Método dos Pórticos Equivalentes: Método que pode ser aplicado em situações em que a
distribuição dos pilares não seja muito irregular.

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Esta repartição tem em consideração, de forma simplificada, a distribuição real dos


esforços. Para a análise das forças horizontais, utiliza-se apenas 40% da largura da travessa
(40% da rigidez, tal como previsto no EC2), por forma a reduzir os momentos flectores
transmitidos entre a laje e o pilar.

Com os esforços calculados, determinam-se as armaduras a colocar e fazem-se as


disposições construtivas tal como já foi apresentado para as lajes vigadas.

Exemplo prático
Calcule os esforços aplicados na seguinte laje fungiforme (somente o 1º piso) recorrendo
ao método dos pórticos equivalentes. Considere apenas as acções verticais (carga permanente
total igual a 8,5 kN/m2 e sobrecarga igual a 2 kN/m2). Espessura da laje 20 cm. Pilares 40×40
cm. Materiais C20/30 e A400NR

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Primeiro passo será definir os conjuntos de pórticos independentes entre si, nas duas
direcções ortogonais.

A carga vertical a usar será: 1,5 × CP + 15 × Q = 1,5 × 8,5 + 1,5 × 2 = 15,75 kN/m2
Logo, a carga a aplicar no pórtico 1x, por exemplo, será: 2,75 × 15,75 = 43,3 kN/m

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6.4.3 – Estado limite de último de punçoamento


O punçoamento é o fenómeno que resulta da actuação de uma força concentrada de valor
elevado, em regra transmitida por um pilar a uma laje fungiforme ou a uma sapata flexível.
Trata-se de um mecanismo de colapso localizado que resulta da interacção do esforço
transverso e do momento flector, e que acontece de forma brusca sem sinais aparentes que
permitam o diagnóstico, como ocorre noutras situações. Esta interação faz com que, em casos
de carga crítica, o pilar ‘trespasse’ o pano em questão, mantendo-se o pilar intacto, mas
levando o pano à rotura e queda (com o potencial de causar a queda total do edifício).
Nas lajes fungiformes este ELU é de extrema importância já que os esforços transversos
transmitidos como axiais para os pilares não são absorvidos por vigas (elementos que por si
são de maior espessura que lajes e que possuem armaduras específicas para Esforço
Transverso).

O punçoamento apenas se verifica numa fase adiantada da deformação por flexão. Na


figura seguinte pode observar-se a fendilhação registada numa laje sujeita a uma carga
concentrada: fendilhação radial devida à flexão da laje e a fendilhação em torno da carga
concentrada

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A fenda em torno do pilar forma-se mais ou menos a 2/3 da carga de rotura, é inclinada em
relação à face da laje (é a fenda por punçoamento). Na face superior da laje há tracções
importantes (circunferenciais) e na inferior laje há fortes tensões de compressão (radiais e
circunferenciais)

As seguintes imagens mostram uma análise laboratorial do efeito de punçoamento, seguido


de exemplos onde edifícios caíram devido a este efeito.

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O acidente de Sampoong Department Store, Seul, foi um caso grave deste tipo de rotura.
Às 17:55 de 29 de Junho de 1995 a laje do 5.º piso entra em rotura, levando ao colapso da
estrutura. Deste acidente resultaram cerca de 500 mortos.
Causas do acidente:
- Betão com 18MPa de resistência em vez dos 21MPa recomendados;
- Altura útil, d, de 360mm em vez de 410mm;
- Pilares com diâmetro de 600mm em vez de 800mm;
- Alteração da utilização do 5.º piso de ringue de patinagem para restaurante
(incremento de cargas permanentes de cerca de 35%).

6.4.3.1 – Mecanismo de resistência ao punçoamento

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Forças que equilibram a força de punçoamento:


Força de compressão radial (1) – a componente vertical desta força equilibra a força de
punçoamento.
O atrito entre as 2 faces da fenda (2) – a componente vertical desta força equilibra a
força de punçoamento.
Efeito de ferrolho (3) – a componente vertical desta força equilibra a força de
punçoamento.

Sendo o punçoamento causado por Esforço Transverso, a verificação do ELU de


Punçoamento é semelhante à usada para o Esforço Transverso. Ou seja, não é necessário
adoptar medidas nenhumas se:

Vsd ≤ VRd,c

Se a condição em cima não se verificar, é necessário adoptar armaduras de punçoamento


ou um capitel por forma a satisfazê-la.
Caso se adoptem armaduras de punçoamento, será necessário verificar a seguinte condição:

Vsd ≤ VRd,max

Deve-se então tentar dimensionar a laje de forma a que não sejam necessárias medidas
adicionais para o punçoamento. Se forem, deve-se optar por capiteis em vez de armaduras de
punçoamento. Estas últimas são geralmente utilizadas só quando existe a possibilidade de
sismos

Muitos regulamentos adoptaram o modelo do contorno critico para determinar o esforço


resistente de punçoamento: admite-se “quando há rotura por punçoamento, tudo se passa
como se se desse uma rotura por esforço transverso ao longo dum dado contorno,
perpendicular ao plano da laje, com uma altura igual à sua altura útil, d, e desenvolvendo-se a
uma certa distância da área carregada”.
Resumidamente, os regulamentos definem o contorno crítico e a tensão tangencial actuante
que conduz à rotura por punçoamento.

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6.4.3.2 – Perímetro crítico de punçoamento


O punçoamento pode resultar de uma carga concentrada ou de uma reacção aplicada a uma
área relativamente pequena, designada por área carregada, Aload, de uma laje ou de uma
fundação.

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A resistência ao punçoamento deverá ser verificada na face do pilar e no primeiro


perímetro de controlo u1. Se for necessária armadura de punçoamento, deverá determinar-se
um outro contorno, uout,ef, a partir do qual já não seja necessária armadura de punçoamento.

O perímetro crítico depende da secção do pilar, tal como mostram as seguintes figuras:

Uma abertura localizada junto a um pilar pode reduzir substancialmente o valor da


capacidade resistente ao punçoamento, deverá então reduzir-se o perímetro de controlo de
acordo com as indicações da figura abaixo.

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O esforço de corte considerado para o cálculo do ELU de Punçoamento é determinado


tendo em conta esse perímetro, tal como mostram as seguintes fórmulas:

Nota: o Vsd da fracção corresponde ao esforço transverso que passa para o pilar como
axial.

A resistência ao punçoamento é dada pela expressão da resistência ao esforço transverso


para elementos sem armadura desse tipo de esforço:

NEd,y NEd,z
σcy = e σcy =
Ac,y Ac,z

NEdy, NEdz – esforços normais nas faixas de laje sobre pilares interiores e esforço normal na
secção de controlo para pilares de bordo. O esforço poderá ser resultante de uma acção
exterior ou do pré-esforço;
Ac – área de betão associada ao esforço N Ed considerado.

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6.4.3.4 – Punçoamento excêntrico


No caso da reacção de apoio ser excêntrica em relação ao perímetro de controlo, a tensão
de punçoamento máxima é igual a:

O parâmetro β depende da situação em estudo.

Pilares circulares interiores


e
β = 1 + 0,6 × π ×
D+4×d

Em que D = diâmetro do pilar

Pilares rectangulares interiores com excentricidade numa direcção


Msd u1
β =1+k× ×
Vsd W1

onde,
Vsd – esforço transverso que passa como axial para o pilar.
k – coeficiente que depende da relação entre as dimensões c1 e c2 da secção transversal do
pilar, e cujos valores se indicam no quadro seguinte:
c1/c2 ≤ 0,5 1 2 ≥3
k 0,45 0,6 0,7 0,8

onde c 1 e c 2 representam as dimensões do pilar nas direcções paralela e perpendicular à


excentricidade da carga, respectivamente.

W1 – é função do perímetro básico de controlo e corresponde à distribuição do esforço de


u1
corte ao longo desse perímetro. Genericamente, W1 = ∫0 |e|dl

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Para estes pilares:


𝐶1 2
W1 = + 𝑐1 × 𝑐2 + 4 × 𝑐2 × 𝑑 + 16 × 𝑑 2 + 2 × 𝜋 × 𝑑 × 𝑐1
2

Pilares rectangulares interiores com excentricidade nas duas direcção


2
ey ez 2
β = 1 + 1,8 × √( ) × ( )
by bz

onde,
ey e ez – representam as excentricidades Msd / Vsd segundo
os eixos y e z, respectivamente;
by e bz – representam as dimensões do perímetro de
controlo, como mostra a figura.

Pilares rectangulares de bordo com excentricidade para o interior uma direcção (na
direcção perpendicular ao bordo)
Para estes pilares considera-se um perímetro equivalente, u1*, para determinar β.
𝑢1
β= ∗
𝑢1

A linha a tracejado, da seguinte figura, representa o perímetro equivalente.

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Pilares rectangulares de bordo com excentricidade para o interior nas duas direcções
(na direcção perpendicular ao bordo)
Para este caso também se considera um perímetro equivalente, u1*
u1 u1
β= ∗+k× × epar
u1 W1
onde,
epar – representa o valor da excentricidade na direcção paralela ao bordo da laje;
k – coeficiente que depende da relação entre as dimensões c1 e c2 da secção transversal do
pilar, e cujos valores se indicam no quadro seguinte:
c1/ 2 ×c2 ≤ 0,5 1 2 ≥3
k 0,45 0,6 0,7 0,8

onde c 1 e c 2 representam as dimensões do pilar nas direcções paralela e perpendicular à


excentricidade da carga, respectivamente.

W1 – Para estes pilares:


𝐶1 2
W1 = + 𝑐1 × 𝑐2 + 4 × 𝑐1 × 𝑑 + 8 × 𝑑 2 + 2 × 𝜋 × 𝑑 × 𝑐2
4

Pilares rectangulares de bordo com excentricidade para o exterior (na direcção


perpendicular ao bordo)
Msd u1
β =1+k× ×
Vsd W1

Neste caso, W1 deverá ser calculado considerando a excentricidade em relação ao centro de


gravidade do perímetro de controlo.

Pilares rectangulares de canto com excentricidade para o interior


Para estes pilares considera-se um perímetro equivalente, u1*, para determinar β.
𝑢1
β= ∗
𝑢1

João Paulo Santos Betão Armado Page 275


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A linha a tracejado, da seguinte figura, representa o perímetro equivalente.

Pilares rectangulares de bordo com excentricidade para o exterior


Msd u1
β =1+k× ×
Vsd W1

Neste caso, W1 deverá ser calculado considerando a excentricidade em relação ao centro de


gravidade do perímetro de controlo.

Valores recomendados de β
Os valores de β a utilizar num dado país podem ser apresentados no respectivo Anexo
Nacional. Os valores recomentados são:

Os valores aproximados podem ser utilizados em estruturas onde:


- a estabilidade lateral não depende do funcionamento do pórtico entre a laje e os pilares;
- os vãos adjacentes não diferem mais de 25%

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6.4.3.4 – Punçoamento em sapatas


A resistência ao punçoamento de sapatas de pilares deverá ser verificada nos perímetros de
controlo localizados a uma distância não superior a 2d da periferia do pilar.

No caso de acções centradas, a força útil actuante é:

𝑉𝐸𝑑,𝑟𝑒𝑑 = 𝑉𝐸𝑑 − ∆𝑉𝐸𝑑

em que:
VEd – punçoamento actuante;
ΔVEd – reacção vertical útil no interior do perímetro de controlo considerado, ou seja, a
reacção do terreno deduzida do peso próprio da sapata.
𝑉𝐸𝑑,𝑟𝑒𝑑
𝑉𝐸𝑑 =
𝑢×𝑑
1⁄ 2×d
vRd,c = cRd,c × k × (100 × ρl × fck ) 3 × 2 × d⁄a ≥ νmin ×
a

Com a = distância da periferia do pilar ao perímetro de controlo considerado.

No caso de acções excêntricas:

VEd,red MEd × u
VEd = × [1 + k × ]
u×d VEd,red × W

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Com k definido como apresentado no EC2 secção 6.4.3(3) ou por 6.4.3(4), conforme o
caso, e W é similar a W1 mas relativo ao contorno u.

6.4.3.5 – Lajes com capiteis


Se o controlo de punçoamento não verificar para o 1º perímetro de controlo, u1, deverá
então analisar-se novamente o pilar mas desta vez com um capitel.
Um capitel consiste numa zona, junto ao pilar onde o punçoamento ocorre, que levará uma
maior espessura de betão.

Outros contornos, ui, no interior e no exterior da área de controlo de referência, deverão ter
a mesma forma do primeiro perímetro de controlo.
No caso de lajes sobre capitéis circulares para os quais lH < 2×hH, basta verificar as
tensões de punçoamento na secção de controlo exterior ao capitel. A distância desta secção a
partir do baricentro do pilar, rcont, será:

rcont = 2 × d + lH + 0,5 × c

No caso de um pilar rectangular com um capitel rectangular com lH < 2×hH e de


dimensões l1 e l2 (l1 = c1+2×lH1; l2 = c2+2×lH2; l1 ≤ l2), poderá considerar-se rcont como o menor
dos valores seguintes:

rcont = 2 × d + lH + 0,56 × (𝑙1 × 𝑙2 )0,5


rcont = 2 × d + 0,69 × 𝑙1

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No caso de lajes sobre capitéis em que lH > 2×hH (ver Figura abaixo), deverão verificar-se
as secções de controlo, tanto no interior do capitel como na laje. As verificações no interior do
capitel usam dh em vez de d.

No caso de pilares circulares, as distâncias até às secções de controlo, são dadas por:
rcont,ext = 2 × d + lH + 0,56 × 𝑐
rcont,int = 2 × (d + hH ) + 0,56 × 𝑐

6.4.3.5 – Armaduras de punçoamento


O cálculo de armadura de punçoamento é dado pela seguinte expressão:
d 1
vRd,c = 0,75 × Vsd + 1,5 × ( ) × Asw × fywd,ef × ( ) × sinα
sr u1 × d

onde,
em que:
Asw – área de um perímetro de armaduras de punçoamento em torno do pilar [mm2];
sr – espaçamento radial dos perímetros de armaduras de punçoamento [mm];
fywd,ef – valor de cálculo da tensão efectiva de cedência das armaduras de punçoamento,
dada por fywd,ef = 250 + 0,25 d < fywd [MPa];
d – média das alturas úteis nas direcções ortogonais [mm];
α – ângulo entre as armaduras de punçoamento e o plano da laje.

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No caso de se adoptar apenas um único perímetro de varões inclinados, poderá atribuir-se


na expressão (6.52) o valor 0,67 à relação d/sr.

Para este cálculo, Vsd é dado pela seguinte expressão:

fck em MPa e u0 = perímetro real do pilar

O perímetro exterior da armadura de punçoamento deverá ser colocado a uma distância


não superior a k × d no interior de uout (ou uout,ef)

Disposição de armaduras de punçoamento EC2 (9.4.3)


A armadura de punçoamento pode ser constituída por varões inclinados ou por estribos,
sendo esta última a solução mais utilizada.

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O perímetro de controlo para o qual não é necessária armadura de punçoamento, uout (ou
uout,ef, ver figura acima) deverá ser calculado pela expressão:

VEd
uout,ef = β ×
(VRd,c × d)

O perímetro exterior da armadura de punçoamento deverá ser colocado a uma distância


não superior a k × d no interior de uout (ou uout,ef)

Quando são necessárias armaduras de punçoamento (ver 6.4), estas deverão ser colocadas
entre a área carregada ou o pilar de apoio e k×d no interior do perímetro de controlo a partir
do qual a armadura de punçoamento deixa de ser necessária. Deverão ser constituídas, pelo
menos, por dois perímetros de estribos, de espaçamento não superior a 0,75×d.
O espaçamento entre ramos dos estribos de um perímetro não deverá ser superior a 1,5×d
no interior do primeiro perímetro de controlo (localizado a menos de 2×d da área carregada) e
não deverá ser superior a 2×d para os perímetros exteriores ao primeiro perímetro de controlo
na extensão que se considera contribuir para a capacidade resistente ao punçoamento.

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Quando é necessária armadura de punçoamento, a área de um ramo de um estribo (ou


equivalente), Asw,min, é obtida pela expressão:

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(1,5 × sinα + cosα) √fck


Asw,min × ≥ 0,08 ×
(sr × st ) fyk

Em que:
α – ângulo entre a armadura de punçoamento e a armadura principal (ou seja, para estribos
verticais α = 90º, sen α = 1 e cos α = 0);
sr – espaçamento dos estribos na direcção radial
st – espaçamento dos estribos na direcção tangencial
fck em MPa

Tal como aparece no EC2:


Os varões inclinados que atravessam a área carregada ou que estejam dispostos numa
distância não superior a 0,25×d dessa área poderão ser utilizados como armaduras de
punçoamento, superior (tal como apresentado na página anterior).
A distância entre a face de um apoio, ou o contorno de uma área carregada, e as armaduras
de punçoamento mais próximas consideradas no dimensionamento não deverá ser superior a
d/2. Essa distância deverá ser medida ao nível da armadura de tracção. Se se utilizar apenas
uma única fiada de varões inclinados, a sua inclinação poderá ser reduzida para 30° (tal como
apresentado na página anterior).

Para ter armaduras de punçoamento, a laje terá de ter uma espessura mínima de 200 mm.

As seguintes imagens mostram algumas disposições de armaduras de punçoamento.

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6.5 – Carga que passa das lajes vigadas para as vigas


Tal como já foi referido, numa laje vigada a carga de cada viga onde a laje descarrega terá
de contar com a carga que a laje lhe transmite. A determinação dessa carga dependerá das
condições do tipo de laje (se é armada em uma ou em duas direcções) e das condições de
apoio.

6.5.1 – Lajes armadas numa direcção


Para lajes armadas numa direcção, a carga que cada viga recebe é fácil de determinar. Cada
viga perpendicular à direcção principal da flexão irá receber cargas em função ao modelo
estrutural usado para a determinação dos esforços.
Se o modelo estrutural usado foi o de uma viga simplesmente apoiada ou duplamente
encastrada, cada viga receberá metade da carga total da laje.

Pegando no exemplo da imagem, a viga superior recebe metade da carga da laje enquanto a
inferior recebe a outra metade. Esta será a ‘área de influência da viga’.
Então, a carga extra a considerar para o dimensionamento da viga superior e inferior, será:
1
× Área total da laje × Plaje
2

Sendo Plaje a carga para o estado limite em estudo

Contudo, como se pretende ter esta carga distribuída de forma uniforme pela viga, será
necessário dividir o valor pelo comprimento da viga. Então:

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1
× Área total da laje × Plaje
Pextra =2
Lviga

Se o modelo estrutural usado foi o de uma viga simplesmente apoiada num lado e
encastrada noutro, a distribuição de forças será semelhante à dos esforços transversos:

Logo, 3/8 da carga total vão para a viga simplesmente apoiada enquanto a viga encastrada
recebe 5/8 desta.

A carga extra a considerar para o dimensionamento, já distribuída por metro linear de viga,
será:
3
× Área total da laje × Plaje
Pextra viga apoiada =8
Lviga apoiada
5
× Área total da laje × Plaje
Pextra viga encastrada =8
Lviga encastrada

Sendo Plaje a carga para o estado limite em estudo


As vigas laterais, por não terem flexão dominante que lhes faça chegar carga, só recebem
carga quando a laje não se encontra com fendilhação extensa, recebendo-a graças ao
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Coeficiente de Poisson do betão. Relembrar que para fraca fendilhação, ν = 0,2, ou seja as
vigas laterais recebem 20% da carga total (cada uma recebe 10%), independentemente do tipo
de apoio que é. Logo:
0,1 × Área total da laje × Plaje
Pextra viga não solicitada =
Lviga não solicitada

É importante referir que quando o betão se encontra num estado de fendilhação extensa, o
Coeficiente de Poisson passa a ser igual a 0, o que significa que esta transmissão de carga
para as vigas laterais deixa de ocorrer. Daí não se reduzir a carga que as vigas principais
recebem, já que eventualmente elas vão receber, em conjunto, a carga na totalidade.

6.5.2 – Lajes armadas em duas direcções


Para estas lajes o processo é semelhante, mas recorre-se ao método cinemático da teoria da
plasticidade. Neste método criam-se linhas de rotura que vão definir de que forma a carga é
transmitida para cada viga de apoio. As áreas que se formam entre as várias linhas de rotura
são então as ‘áreas de influência’ de cada viga.

Assim, cada viga lateral receberá a carga vinda da área de influência do triângulo
respectivo. Já a viga superior e inferior receberá, cada uma delas, a área de influência
trapezoidal.
A fórmula genérica para determinar a carga é:

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Área de influência × Plaje


Pextra viga =
Lviga

6.5.3 – Consola
Para consolas, depende muito do tipo de apoios e do número destes. Por exemplo, para a
seguinte consola de 3 bordos livres e um encastramento, será a viga do encastramento a
receber toda a carga.

Já para uma situação de 2 apoios adjacentes e 2 bordos livres adjacentes na mesma


consola, pode-se optar por uma distribuição que depende da relação entre os 2 vãos. Usando o
exemplo da imagem em baixo:

L2
L1 × Área total da laje × Plaje
Pextra viga superior =
L2
L1
L2 × Área total da laje × Plaje
Pextra viga lateral =
L1

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6.5.4 – Duplicação de efeitos


É importante ter em conta que se considerarmos a laje vigada como estando apoiada no
centro da viga, isso significa que o Plaje irá estar aplicado até esse centro da viga. Em vigas
que recebam duas lajes, significa que toda a sua área já foi coberta por Plaje.
Ora, se para esse Plaje já se considerou acções permanentes de paredes divisórias e ainda
sobrecarga e outras acções variáveis, não será necessário considerar estes efeitos para o
calculo da carga da viga, devendo só ter em conta o peso próprio desta, o revestimento e
qualquer carga extra que receba.
Seria ainda possível reduzir a secção da viga no cálculo da carga permanente devido ao
peso próprio, já que parte dessa secção foi considerada na espessura da laje. Contudo, para
garantir a segurança bem como para ter em conta vigas que servem como apoios extremos e,
portanto, só recebem uma laje e não duas, desaconselha-se a fazer isso.
Todas estas considerações ajudam a aliviar a carga aplicada na viga e assim reduzir a
quantidade de material necessário, sem colocar em causa a segurança do elemento.

Nota: relembrar que cargas lineares aplicadas por paredes que descarreguem directamente
em vigas (por exemplo, paredes exteriores), bem como cargas aplicadas por outros elementos
que estejam a descarregar directamente em vigas, não são consideradas para o cálculo de Plaje.
Paredes divisórias já são porque estas podem ser alteradas ao longo da vida útil do edifício
e, portanto, a sua posição não deve ser considerada como conhecida. Logo, transforma-se o
efeito destas numa carga superficial por m2.

6.6 – Torção em vigas devido a lajes


Quando uma laje descarrega numa viga, a laje ira ter tendência a querer rodar nessa viga.
Contudo, como já vimos, existe sempre um grau de encastramento que não permite essa
rotação, originando momentos negativos nesse lado da laje mesmo quando para o cálculo eles
não foram considerados.
Ora estes momentos negativos, como mostrado anteriormente, não são considerados no
cálculo, mas são estimados como sendo 15% do momento máximo positivo da laje. Eles só
existem porque as vigas possuem rigidez à torção e por serem perpendiculares ao alinhamento

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principal da viga os momentos flectores negativos da laje nesse apoio passam para a viga
como momentos torsores.

Existem 2 tipos de torção quando se avalia a passagem dos momentos flectores da laje nos
apoios para momentos torsores na viga:
- De equilíbrio
- De compatibilidade

6.6.1 – Momentos torsores de equilíbrio


Momentos torsores de equilíbrio são aqueles que são absolutamente necessários para
garantir o equilíbrio de forças. Ou seja, são os momentos torsores da viga que garantem que a
estrutura consegue manter o equilíbrio. Um exemplo disso será uma laje em balanço, como
mostra a figura.

6.6.2 – Momentos torsores de compatibilidade


Estes momentos são aqueles originados pelo tal grau de encastramento que existe na
junção viga-laje e que origina momentos negativos nela. Eles existem não por necessidade de
garantir o equilíbrio, mas porque a estrutura tem uma rigidez maior do que a considerada no
cálculo estrutural (quando se considera que é um apoio simples ou duplo, estamos a dizer que
a rigidez à torção é nula).
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6.6.3 – Momentos torsores a considerar para o cálculo


Embora se verifique a existência destes dois tipos de momentos torsores, só um é
verdadeiramente fundamental para o cálculo: o de equilíbrio, pois sem ele a estrutura não
consegue manter a estabilidade. Já o de compatibilidade pode ser desprezado, mas programas
de cálculo automático, como o CYPE, têm-no em conta. E este deverá ser considerado se
quisermos dimensionar a estrutura dentro da maior segurança possível.
O motivo porque se pode desprezar este tipo de momentos prende-se com o facto de
eventualmente a viga vir a sofrer de fendilhação e isso fá-la perder grande parte da sua rigidez
de torção acabando por puder rodar livremente (quase).
Assim, por simplificação, pode-se desprezar o efeito dos momentos torsores de
compatibilidade. Ainda assim, se for possível deve-se dimensionar as vigas de tal forma que
elas possam resistir a eles.
Pode-se considerar que os momentos torsores de compatibilidade, numa viga extrema,
equivalem a 15% do momento máximo positivo. Já numa viga interna, equivalem a 25%.
Claro que numa viga interna, esta receberá momentos torsores de uma laje e momentos
torsores contrários de outra laje, anulando-se assim parcialmente.

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6.6.4 – Momentos torsores transmitidos entre vigas


Numa análise de estruturas espaciais, é fácil entender que um momento torsor numa viga
passa como momento flector para outra viga/pilar na qual descarregue perpendicularmente.
Esta passagem de momentos torsores para flectores entre vigas, altera as envolventes de
momentos aplicadas. Contudo, por haver perda de rigidez à torção, mesmo que os momentos
torsores sejam considerados no dimensionamento, estes dificilmente estão a ser
verdadeiramente transmitidos.
Assim, só se deve passar momentos torsores de uma viga, para momentos flectores
concentrados noutra viga quando se tratam de momentos de equilíbrio, já que os de
compatibilidade são muito pequenos e eventualmente se redistribuem entre os vários
elementos da estrutura quando a viga perder a sua rigidez à torção.

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7 – Dimensionamento de sapatas
Fundações podem dividir-se nas seguintes categorias gerais:
a) Fundações directas por sapatas
• Solo superficial com boas características de resistência
• Edifícios de pequeno ou médio porte.
• Podem ser rígidas ou flexíveis
• Podem ser isoladas, corridas ou ter uma viga de equilíbrio (lintél)
• A carga aplicada pode ser concentrada ou com excentricidade

b) Ensoleiramento geral
• Edifício de porte elevado e características resistentes do solo que conduzam a uma
área de sapatas superior a 50% da área total
• Particularmente aconselhável se o nível freático se encontrar acima do nível de
fundação.

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c) Fundações profundas
• Camadas superficiais de terreno pouco consistentes
• Cargas elevadas por pilar.
• Exemplo: estacas

Nesta sebenta analisam-se sapatas isoladas e apresenta-se uma maneira de as dimensionar.


Nas sapatas as cargas distribuem-se de forma semelhante às de esforço transverso em vigas:
ou seja por um modelo de treliça. Contudo nas sapatas ambas as direcções (x e y) importam e
influenciam a distribuição de cargas resultando numa distribuição como a indicada na figura
seguinte (à direita é apresentada a simplificação dessa mesma distribuição).
A distribuição de tensões, próximo da rotura, em ambas as direcções é do tipo da
representada na figura, gerando-se campos de tensão em leque que exigem, para equilíbrio das
tensões no solo, uma distribuição parabólica de forças de tracção na face inferior da base

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É, no entanto, importante compreender desde já que as forças de tracção nas armaduras


têm de ser dimensionadas para o equilíbrio da totalidade das tensões no terreno numa e noutra
direcção.

No caso de fundações indirectas a transmissão das cargas do pilar às estacas faz-se através
do denominado maciço de encabeçamento. Nestes casos estabelecem-se modelos, por vezes
tridimensionais, de transmissão da carga como o representado na figura seguinte. Os modelos
de transmissão de cargas, uma vez que se tratam de acções concentradas, como é apresentado
na figura da direita, mas tendo em consideração a eventual tridimensionalidade de transmissão
das cargas.

As sapatas podem ser diferenciadas da seguinte forma:

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Onde:
a – dimensão da sapata na direcção analisada
h – altura da sapata
ap – dimensão do pilar na direcção em questão

7.1 – Tópicos gerais


Existem considerações que são genéricas para qualquer tipo de sapata isolada.

Tensão admissível do solo


As dimensões em planta das sapatas são definidas em função da tensão admissível do solo,
embora também dependam de outros fatores, como a interferência com as fundações mais
próximas.
Na grande maioria dos casos as sapatas estão submetidas a cargas excêntricas,
especialmente em virtude das acções do vento. Logo, as dimensões em planta devem ser tais
que as tensões de compressão máximas no solo não superem a tensão admissível do mesmo.
Deve-se fazer uma estimativa da área da base, supondo a sapata submetida à carga
centrada (sem momentos)

Em que:
Nk – é a força normal nominal do pilar;
σsolo,adm – é a tensão admissível do solo;
α – é um coeficiente que leva em conta o peso próprio da sapata. Pode-se assumir para esse
coeficiente um valor de 1,05 nas sapatas flexíveis e 1,10 nas sapatas rígidas.

As dimensões a e b (lados da sapata) devem ser escolhidas, sempre que possível, de tal
forma a resultar em um dimensionamento económico.

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Evidentemente, as dimensões a e b necessárias serão maiores que as calculadas pelas duas


últimas equações, pois ainda existem as parcelas de tensões decorrentes dos momentos
fletores.
Assim, devem ser escolhidas dimensões a e b de tal modo que a tensão máxima (calculada
com as expressões da flexão composta) não ultrapasse a tensão admissível do solo.
Podem existir situações em que não seja possível aplicar o critério dos balanços iguais,
como por exemplo quando as dimensões obtidas a e b gerarem interferência com as fundações
vizinhas.
O que importa é escolher dimensões a e b da sapata de modo a respeitar a tensão
admissível do solo.

Importância do Núcleo Central:


Para sapatas o conceito de Núcleo Central é bastante importante visto ele definir se toda a
superfície de contacto entre sapata-solo vai ter apenas tensões de compressão ou se esta terá
tensões de tracção e de compressão. Visto o betão não resistir à tracção, deve-se calcular de
forma a que a força concentrada vinda do pilar esteja sempre dentro do Núcleo Central
(fazendo a sapata funcionar sempre à compressão). Evidentemente isto não será possível para
certos tipos de sapata, dependendo das condições que as limite, como edifícios vizinhos.
João Paulo Santos Betão Armado Page 298
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Secção de referência
Para calcular as armaduras longitudinais da sapata, define-se, em cada direção ortogonal,
uma seção de referência S1 entre as faces do pilar, conforme a figura.
Este método é útil mesmo para quando existe Momento ou excentricidade na carga
descarregada pelo pilar, já que transforma tal em tensões nos vários pontos da sapata, sendo
esses usados para o calculo das armaduras

Recobrimento e disposições construtivas


Para sapatas, as disposições construtivas são poucas (ver EC2 secção 9.8.2). As principais
são a amarração de armaduras, como se vê em 9.8.2.2, e o diâmetro mínimo de varão
longitudinal (recomenda-se que o mínimo seja Ø8).
Nas sapatas o recobrimento é de extrema importância devido ao solo ser um meio bastante
agressivo. O recobrimento deve ser aplicado tanto para a face inferior como para as faces
laterais.
Para além do recobrimento, durante a fase de execução, as sapatas costumam levar uma
camada de betão de limpeza, um betão fraco que servirá apenas para preencher uma pequena
camada abaixo da sapata, e que geralmente fica irregular e cheia de detritos durante a
escavação. Assim, este betão evitará o contacto entre a sapata e esses mesmos detritos, ao
mesmo tempo que torna o solo mais regular.

Lintel de fundação
Um lintel de fundação é uma viga que liga as sapatas e que tem a função de ajudar a
redistribuir esforços entre sapatas, podendo assim diminuir o tamanho delas. É extremamente
útil em sapatas em que o pilar tenha, obrigatoriamente, de ficar fora do núcleo central.

7.2 – Sapatas flexíveis


As sapatas flexíveis raramente se usam, sendo só apropriada para situações em que a
fundação está sujeita a pequenas cargas. Elas apresentam o comportamento estrutural de uma
consola flectida, trabalhando à flexão nas duas direções ortogonais, sendo a reacção do solo
que causa essa flexão nelas. Portanto, as sapatas são dimensionadas ao momento flector e à
força cortante, da
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A utilização de sapatas flexíveis para solos compressão admissível abaixo de 150 kN/m 2
(0,15 MPa).
Estas sapatas também sofrem de punçoamento.

Exemplo de uma sapata flexível e do seu dimensionamento.

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De acordo com a figura, o problema recai em determinar os momentos solicitantes em


balanços de vãos iguais ao balanço livre acrescido de 0,15 vezes a dimensão do pilar na
direção analisada. Ou seja, os momentos nos encastramentos (MSda e MSdb) fornecem os
momentos para o cálculo das armaduras da sapata.
É também importante garantir que a sapata resiste ao Esforço Transverso, podendo esta ser
dimensionada com armaduras de Esforço Transverso ou dimensionada de forma a que não
necessite delas (mais usual, usando as mesmas fórmulas já usadas para lajes)

7.3 – Sapatas rígidas


São mais usadas como elementos de fundações em terrenos que possuem boa resistência
em camadas próximas da superfície.
Estas são dimensionadas também em função da resistência do solo mas agora assumindo
que esta se transforma numa reacção que anulará os esforços axiais que vêm do pilar.
As armaduras a utilizar para a sapata são facilmente obtidas através de trigonometria dos
vectores de forças dentro da sapata.

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Se a carga do pilar for descarregada com excentricidade, ou se existir Momento no pilar,


então as fórmulas passam a ser:

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Exemplo prático nº 1
Dimensione a seguinte sapata e pormenorize as armaduras a aplicar nela, tendo em conta o
quadro de acções representado. Notar que a acção de sismo corresponde à letra E na
combinação de acções.
Adopte também um C20/25, A400NR e considere que a tensão admissível do solo é de 300
kN/m2

~Considerar também que o sismo só se aplica na direcção x.

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1. Esforços do dimensionamento

2. Dimensionamento direcção x

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3. Dimensionamento direcção y

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Exemplo prático nº 2
Dimensione e pormenorize o seguinte sistema, constituído por duas sapatas ligadas por
lintel. As cargas são as indicadas na figura e utilize C20/25 e A400NR.

1. Modelo de cálculo

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2. Determinação das reacções R1 e R2

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3. Dimensionamento da sapata 1

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4. Dimensionamento da sapata 2

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5. Dimensionamento do lintel

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8 – Escadas e varandas
Estes elementos estruturais têm algumas considerações importantes quanto ao seu
dimensionamento.

8.1 – Varandas
Varandas são lajes que geralmente possuem um ou mais bordos livres e podem ser armadas
numa ou em duas direcções.
É, contudo, importante referir que o EC2 prevê um aumento de cargas nas zonas mais
afastadas dos apoios. Este aumento deve-se ao tipo de utilização que se dá às varandas, onde
as pessoas tendem a esta próximas das guardas para usufruir melhor da vista que a varanda
fornece.
Assim, quando se dimensiona uma varanda (seja esta armada numa ou em duas direcções),
deve-se considerar um aumento da sobrecarga junto ao lado mais afastado do edifício. Este
aumento deverá ser de 3 kN/m2 e deverá estar presente mesmo quando a varanda não está em
consola.

Exemplo:

Considerando que esta laje só possui Peso Próprio e Revestimento de 1 kN/m2, uma altura
de 20 cm, e pertence a um edifício de habitação (Sobrecarga = 2 kN/m2), quando se calcular
os diagramas a distribuição de cargas deverá ser a seguinte:

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8.2 – Escadas

Escadas funcionam como uma laje armada numa direcção e são dimensionadas como tal.
Quando se dimensionam escadas deve-se usar o seguinte modelo estrutural:

Também se pode usar este, se as condições de apoio das escadas assim o justificarem:

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O carregamento em escadas deverá ser sempre vertical, mesmo no vão inclinado.

A armadura nas escadas deverá ser disposta da seguinte forma (sendo a armadura principal
a inferior):

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