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1.

Exercício – Erro
Autoria: Prof. Cristiano Zanetti (USP)

Relacione as colunas:
a) Error in negotio 1) “[...] comprei um relógio de ouro Ômega
e me entregaram um relógio Ômega
folheado a ouro” (MELLO, Marcos
b) Error in corpore Bernardes de. Teoria do fato jurídico: plano
da validade, 9ª ed., São Paulo, Saraiva, 2009,
p. 158, nota 252).
c) Error in substantia
2) “venda de fundo de comércio tendo [...] a
perspectiva de numerosa freguesia”
d) Error in persona (GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil
brasileiro, v. I: parte geral, 10ª ed., São
Paulo, Saraiva, 2012, p. 412).
e) Motivo determinante declarado
3) “comprei uma caixa de vinho Pully-
Fuissé e me entregaram uma caixa de vinho
f) Error iuris Pully-Fummé” (MELLO, Marcos Bernardes
de. Ob. cit., p. 158, nota 252).

4) “Pedro adquiriu o direito de superfície de


que Manuel era titular constituído com a
finalidade de manter pastagens, pensando
que essa compra lhe daria o direito de
explorar o subsolo (Código Civil, art. 1.369,
parágrafo único)” (MELLO, Marcos
Bernardes de. Ob. cit., p. 165, nota 270).

5) “A quer emprestar sua caneta de ouro


para que B assine seu termo de posse em
cargo público, e este a recebe como se A lha
estivesse doando” (MELLO, Marcos
Bernardes de. Ob. cit., p. 157).

6) “contrato para solista de piano da


orquestra alguém que penso ser pianista,
mas que é, na
verdade, organicista; contrato um
carpinteiro para restaurar mobília antiga
pensando que se trata de um marceneiro”
(MELLO, Marcos Bernardes de. Ob. cit., p.
161, nota 262).

Solução:

Trata-se de exercício que explora a natureza dos erros substanciais mencionados no art. 139 do
Código Civil. Vide:

Art. 139. O erro é substancial quando:


I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das
qualidades a ele essenciais;

II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração


de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante;

III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal
do negócio jurídico.

Sendo assim, dentre as opções apresentadas:

A) - 5)

Trata-se de error in negotio (erro quanto à natureza do negócio); disposto no inciso I (natureza do
negócio). Há erro no que pertine à categoria jurídica do negócio celebrado. Confundir um empréstimo
com uma doação, como disposto no exemplo apresentado, trata de erro quanto à natureza do negócio
em si.

B) - 1)

Trata-se de error in corpore (erro quanto ao corpo/objeto); disposto no inciso I (objeto principal da
declaração). No exemplo apresentado, ocorre erro em relação ao objeto em si, no caso, à identidade
do relógio em questão.

C) - 3)

Trata-se de error in substantia (erro quanto à substância); disposto no inciso I (alguma das qualidades
essenciais ao objeto). No caso apresentado, não há erro de objeto pois o comprador ainda recebe uma
caixa de vinho, porém a substância (qualidade) não é coincidente com a da declaração de vontade do
comprador. Ressalta-se que tem de ser uma qualidade que influencia, de forma determinante, sobre a
pactuação. Está se comprando o vinho mais caro precisamente em função de sua melhor qualidade.
Há divergência na doutrina quanto a essa diferenciação entre error in substantia e error in corpore.

D) - 6)

Trata-se por error in persona (erro quanto à pessoa); disposto no inciso II (concerne à identidade ou à
qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade). Nos casos apresentados,
há erro por divergência em relação à qualidade essencial da pessoa a quem se refere a declaração de
vontade (pianista ou carpinteiro), e à realidade fática (organicista ou marceneiro).

E) - 2)

Trata-se de motivo determinante declarado; disposto no inciso I (alguma das qualidades essenciais ao
objeto). Neste caso, a qualidade essencial ao objeto é a sua função, o motivo determinante que levou
à celebração do negócio. No caso apresentado, o erro ocorre por divergência entre o motivo
determinante (perspectiva de numerosa freguesia) e a realidade fática do negócio (fundo de comércio).

F) - 4)

Trata-se de error iuris (erro quanto ao direito); disposto no inciso III (sendo de direito e não implicando
recusa à aplicação da lei). Neste caso, o erro está relacionado aos efeitos que o negócio pode gerar.
Há divergência, no caso apresentado, entre o direito (posse) de superfície e o direito de exploração.
Ressalta-se: aqui, a pessoa age com noção equivocada da regra jurídica - sem a intenção de ofendê-
la.

2. Exercício - Termo Condição e Encargo


Caso prático preparado pelo Prof. Edson

Há cinco anos, Caio, próspero viticultor em Caxias do Sul-RS, já de avançada idade e sem
herdeiros, resolveu retirar-se, para uma estadia, na Toscana, região de origem de seus
familiares. Antes de partir, e temendo que a hora fatal lhe chegasse, decidiu doar a Tício, fiel
amigo, por escritura pública, uma de suas propriedades rurais, bem como um apartamento em
Porto Alegre-RS, que há alguns anos estava locado para Públio.

O contrato continha as seguintes cláusulas:

(a) A doação é feita para que Tício administre, além do imóvel que constitui objeto deste
negócio, outras três propriedades rurais de que Caio é proprietário, situadas em Farroupilha-
RS.

(b) Tício fica obrigado a entregar o apartamento situado na capital gaúcha a Caio quando
regressar da Itália.

(c) Caio reserva-se o direito de pôr fim ao contrato de doação caso Tício não tivesse
administrado convenientemente as propriedades rurais.

Caio regressou ao Brasil e verificou que Tício havia administrado suas propriedades da maneira
mais ruinosa possível, o que se refletia não apenas na diminuição considerável da produção,
como também na completa mudança da destinação em relação a uma delas, na qual o cultivo
das vinhas foi substituído pelo do café.

(A)Classifique as cláusulas contratuais presentes no instrumento de doação.

Cláusula a): Encargo. Trata-se de um elemento acidental que coloca obrigações a quem se beneficia
da gratuidade. Além de criar obrigações, o encargo também pode estabelecer o fim a que se destina
a coisa adquirida.

Cláusula b) Condição resolutiva. É condição, pois sujeita os efeitos do negócio jurídico a um evento
futuro e incerto e é resolutiva, pois, quando for satisfeita, encerrará os efeitos no que pertine ao
apartamento. Lembre-se: na condição, há incerteza quanto ao evento; no termo, há incerteza quanto
ao tempo. É condição, pois não se sabe se Caio retornará de viagem ou não, pois está prestes a
falecer.

Cláusula c) Condição meramente potestativa. A condição potestativa pode ser dividida em puramente
potestativa (depende inteiramente do arbítrio de uma das partes, vedada pelo art. 122) ou meramente
potestativa (depende da vontade de uma das partes, mas não do seu inteiro arbítrio). Neste caso,
considera-se meramente potestativa, pois trata do direito potestativo de Caio em resolver o negócio
jurídico (vontade de Caio), SE Tício não administrar convenientemente as propriedades (impede o
inteiro arbítrio de Caio).

(B) Quais os direitos que assistiriam a Caio em decorrência da má administração de Tício?


B) Caio teria direito à resolução do contrato de doação, como estabelecido pela própria cláusula “c)”.
A doação cujo encargo não é cumprido pode ser resolvida por descumprimento do encargo (Art. 555.
A doação pode ser revogada por ingratidão do donatário, ou por inexecução do encargo.)

(C) Poderia Caio pretender a restituição também dos alugueres pagos por Públio durante esses
cinco anos?

C) Não, pois, desde que realizado de boa-fé, a cobrança de alugueres é pertinente à disposição do
imóvel. Desde modo, não havendo cláusula em contrário, a condição resolutiva, uma vez
implementada, não colhe os efeitos até então produzidos sobre o contrato (efeitos ex nunc). Assim
sendo, por ser a locação um negócio de trato continuado, a cláusula resolutiva porá fim ao negócio,
mas Caio não terá direito de perceber os alugueres colhidos por Públio, nos termos do art. 128 do
Código Civil.

3. Exercício - Vício de Negócio Jurídico


Autoria de Ester Norato - Adaptado

Paulo, possui um carro modelo Toyota Etios 2016 que, em 2021, sofreu batida que danificou
gravemente o veículo. O carro, entretanto, foi restaurado e não demonstra sinais evidentes do
acidente. Com o intuito de trocar de veículo por outro mais eficiente, porém, sem recursos
financeiros para comprar um carro novo, Paulo celebra com Fábio, em 2023, um contrato de
permuta não oneroso, com o intuito de obter novo veículo que consuma menos combustível e
com baixa quilometragem.

Fábio, por outro lado, é proprietário de um Honda Civic 2015, sendo um representante comercial
em sua região estadual que costuma realizar alta rodagem em rodovias, e procura um carro
mais leve para otimizar suas viagens. Ciente da exigência de Paulo quanto à baixa
quilometragem do veículo em questão, Fabio contata um velho amigo mecânico para burlar o
registro de rodagem do Honda Civic 2015. Desta forma, o contrato de permuta é celebrado.

Meses após a permuta, Fábio, durante uma revisão no seu novo veículo Toyota Etios 2016,
realizada devido a um problema de lentidão que o atrapalhava em suas atividades, e que Fábio
acreditava ocorrer devido a uma troca estética de peças, é surpreendido com a notícia de que,
dado acidente anterior sofrido pelo veículo, a velocidade do carro poderia estar sendo afetada
por questões irremediáveis relacionadas à estrutura do carro. Fábio, enraivecido com a
situação, uma vez que Paulo omitiu o acidente, procura seu advogado e inicia uma ação
solicitando anulação do negócio celebrado. Paulo, por sua vez, também havia descoberto a
fraude de Fábio em relação à rodagem do Honda Civic 2015, e solicita, juntamente ao seu
advogado, reversão da ação em seu favor, também objetivando a anulação do negócio jurídico.

Você é juiz e a ação é levada a julgamento em sua vara. Discorra, fundamentadamente, sobre a
sua decisão.

Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa.

Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito
de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se
que sem ela o negócio não se teria celebrado.

Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o
negócio, ou reclamar indenização.
Solução:

O Código Civil, em seu art. 145, estabelece que são anuláveis os negócios jurídicos cuja vontade de
uma ou mais partes sejam viciadas por dolo, quando esta for a sua causa. Entende-se por dolo uma
indução ao erro feita pela outra parte ou por terceiro.

Sendo assim, entende-se que Fábio agiu com dolo ao fraudar a rodagem de seu veículo, sendo este
um fator que poderia afetar a vontade de Paulo em prosseguir com o negócio jurídico. Para que
houvesse anulação, entretanto, realizando esta análise isoladamente, deve-se provar que o dolo
cometido por Fábio deu causa ao negócio jurídico, ou seja, deve-se atestar, com base na realidade
fática, que Paulo não teria prosseguido com a celebração da permuta caso tivesse conhecimento da
real rodagem do carro.

Por outro lado, observa-se que Paulo também agiu com dolo, nos termos do art. 147, sendo este um
dolo omissivo. Isso pois ocorreu silêncio intencional da parte de Paulo quanto ao prévio acidente do
veículo. Novamente, entretanto, analisando o caso de forma isolada, para que houvesse anulação por
dolo neste caso, dever-se-ia provar que sem esta omissão o negócio não teria sido celebrado.

Por conclusão, percebe-se que tanto Fábio quanto Paulo procederam com dolo e, dado a este fato,
nos termos do art. 150 do Código Civil, nenhuma das partes poderá alegar o dolo para anular o negócio
jurídico, seguindo o brocardo de que ninguém poderá se valer da própria torpeza.

Por estas razões, como juiz, decido quanto à extinção da ação, em desfavor do pedido de anulação
realizado por Fábio, assim como também em desfavor do pedido de reversão e anulação da ação
realizado por Paulo.

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