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Livro I

*Ars Magica*-A Arte dos Magos


Pedro Augusto F. Oliveira

*Modelo de Estudos de Magia- A Arte dos Magos*

I. 1- *Conhecendo a Magia*
II. 2- *Áreas e fenômenos da Magia*
III. 3- *Práticas de Magia*

Apresentação de proposta:

Um documento contendo uma introdução detalhada ao sistema mágico a ser proposto


pelo autor; dividido em três volumes, sendo o primeiro contendo a teoria de
apresentação do conceito inicial de Magia; o segundo contém explicações e exemplos
acerca da manifestação dos ditos fenômenos mágicos; e por fim, o terceiro módulo
apresenta uma introdução a prática mágica pondo em exercício a teoria antes
exemplificada.

O Sistema:

Apresentado no decorrer do documento, o Ars Magica é o sistema mágico que será


introduzido e modelado como base para a Ordo Ars Magica do Brasil; fazendo parte
de um compêndio de sistemas de crença e estudos que podem, posteriormente virem
a ser uma organização de estudos e práticas mágico-religiosas não somente no Brasil
mas também no mundo todo. Contando com uma visão de Magia Ocidental, formulada
e baseada em pensamentos hermetistas, filosofias druídicas, naturais e diversas
outras escolas do pensamento, a Ars Magica vai garantir o aprendizado da Magia
como Arte e Conhecimento, propondo uma nova linha de pensadores e praticantes.

A Ordem:

A Ordo Ars Magica ou Ordem da Arte Mágica (OAM), será o corpo físico e estrutura
social da Ars Magica, sendo composta por um corpo organizacional e administrativo
sacerdotal, a ordem contará com um bem-definido sistema hierárquico, responsável
por instruir, inspirar, educar, reabilitar e preparar pessoas para um mundo baseado em
magia; responsável por transmitir esse conhecimento, a OAM se valerá do Ars Magica
para treinar e instruir seus adeptos e seguidores.

O Templo:

O templo da Ordem, ou Jardim como será referido, será o local geográfico de


reuniões, celebrações, iniciações e rituais da OAM; inicialmente não possuímos um
local determinado para tais práticas, mas uma vez que houver a possibilidade, a Ordo
Ars Magica vai espalhar seus templos por todo o globo;
Sumário.

1- *Conhecendo a Magia*

*1.1-O que é Magia?*


-Definição de Magia (Ao redor do mundo, Magia Cerimonial e Magia Popular)
- Teurgia (o que é? Como reconhecer?)
- Magia Natural (o que é? Como reconhecer?)
- Goetia (o que é? Como reconhecer ?)

*1.2- Origens da Magia*


-A Origem da Magia (Como religião, como ciência, desde a pré-história)
-Magia e Mitologia (Como a Magia tem a ver com mitologias)
-Revolução Mágica. (Animismo---> Paganismo)
-Usuários de Magia (Magos, Bruxos, Feiticeiros e Sacerdotes)

*1.3- Bruxaria e Feitiçaria*


-Tem diferença?! (A armadilha da terminologia)
-Práticas de Feitiçaria (Feitiçaria africana e feitiçaria simpática)
-Bruxaria, a história (da idade-média até a atualidade, como wicca)

*1.4- Ritual, Feitiço e Encantamento*


-Rituais e Ritos (A base da Magia prática)
-Encantamentos e Orações (Diferença entre eles)
-Feitiços (O que são?)

*1.5- Magia Hoje*


-Magia Cerimonial (Alta Magia e Ritualística)
-Magia Folclórica (Simpatias, crendices e superstições)

*1.6- O que não é Magia*


-Religião (Relação entre Magia e Religião)
-Prestidigitação e Ilusionismo (Magia não é mágica)
-Charlatanismo (o perigo da falta de conhecimento)

*1.7- Questionário*

Fim da Parte 1

Todos os direitos reservados à OAM


*1.0- Conhecendo a Magia*
Roteiro explicativo, introdução teórica para o estudo sistemático da Magia, ou como
chamada: A Arte dos Magos.

1.1 -O que é Magia?

Por definição etimológica, Magia vem do persa “magus”, significa “sabedoria”; o


mago é o sábio, aquele que estuda os mistérios da magia. No entanto, não há
apenas uma definição prática do que é Magia; na realidade, cada tradição, grupo,
cultura ou povo vai ter uma definição própria sobre o que é Magia.
Para diferentes pontos de vista, que vão desde religiosos até antropológicos, a
Magia ainda é um assunto que causa bastante furor entre os estudiosos de nossa
era; para uns Magia envolve a conexão intrínseca com a espiritualidade, para
outros a Magia é uma forma de ciência, e para outros Magia é pura fantasia.
Portanto, quando vamos definir o que é Magia, precisamos considerar seus
diversos tipos, que provém de diversas fontes de estudo:
Para o ocultista Aleister Crowley “magia é a Arte de mudar a realidade através da
própria vontade”; para seguidores de diversas vertentes de bruxaria “magia é a
energia da natureza, que pode ser manipulada à nossa vontade”; os cristãos (em
sua grande maioria) vão categorizar a magia como “pura ação demoníaca,
proveniente da operação dos espíritos impuros”; para o hermetista Nino Denani
“magia é conhecimento”, James Frazer a definia como “crenças em simpatias
ocultas entre objetos que permitem que alguém influencie o outro”, Émile Durkheim
emprega o termo para descrever ritos e cerimônias privadas e o contrasta com a
religião, que define como uma atividade comunal e organizada; para uns e para
outros a magia aparece com diversas faces, mas afinal qual está certa? Bom,
nenhuma e todas elas.
Vamos aqui definir Magia da seguinte forma: “É a Arte e conjunto de práticas e
crenças ritualísticas, religiosas ou não que buscam, com ou sem a ajuda de força
sobrenatural, compreender, alterar, manipular e explicar a realidade de acordo com
a Verdadeira Vontade”; desta maneira, a partir dessa definição geral, podemos
desmembrar um pouco a maneira que a Magia foi e é praticada ao longo da
história. Mas antes disso devemos pensar: O que é a realidade? De maneira
resumida, vamos propor o seguinte: Existem duas realidades, uma é real e
intangível, presente dentro de nossas mentes, esse é o microcosmo; a outra
realidade é irreal, e existe fora de nós, esse é o macrocosmo. Tudo o que acontece
no microcosmo afeta como vemos o macrocosmo, e tudo o que abala o
macrocosmo afeta como nos relacionamos com o microcosmo; dessa maneira, o
que acontece no “mundo real” afeta nossas mentes, corpos e espíritos, da mesma
forma que como tratamos nossa mente, corpo e espírito afetam consideravelmente
como vemos e lidamos com o “mundo real”. Partindo desse princípio podemos
dizer que: a Realidade vai ser o resultado da interpretação dos nossos sentidos ao
encontro do microcosmo com o macrocosmo.

Como definido por muitos sociólogos e antropólogos, a Magia e Religião já


estiveram intimamente conectadas, e por esse motivo muitas de suas áreas da
atuação estão ligadas à idéia de espiritualidade; e por causa disso, muitos
defendem que a Magia pode ser dividida em duas: Magia Cerimonial e Magia
Folclórica.
A Magia Cerimonial compreenderia o que foi posteriormente intitulado com Alta
Magia, Theurgia, Goétia e Magia Meridional; trata-se da maneira de estudar e
praticar Magia, através de um conjunto sistematizado e complexo de rituais,
cerimônias e fórmulas, geralmente tendo suas raízes e fontes em tradições
místicas e religiosas da antiguidade, podendo ter elementos das práticas da
Kabbalah, do Kemetismo, do Druidismo, das práticas secretas das Escolas de
Mistério e etc. Muitas ordens da atualidade seguem o modelo de Magia Cerimonial
como a Golden Dawn, Astrum Argentum, Ordo Templis Orientis e muitas outras.
Já Magia Folclórica ou Magia Popular, como foi definida, compreende ao que foi
cunhado como Baixa Magia, Bruxaria, Feitiçaria ou Magia Natural; tratam-se de
práticas intimamente relacionadas ao folclore e à etnicidade dos diversos povos
nativos de diversos países; religiões Indígenas, de culto natural e práticas
simpáticas são exemplos de Magia Folclórica.
Aqui, no entanto, vamos definir as práticas Mágicas em três distintos grupos:
Teurgia, Magia Natural e Goetia.

A Teurgia vem do grego e significa “obra de Deus” e é a palavra usada para


definir ritos e práticas que visavam conectar o ser humano à uma
divindade, porém no decorrer desses textos, vamos estar na verdade
generalizando práticas de Magia Cerimonial com principalmente propósitos
religiosos, espirituais ou devocionais que envolvam em sua estrutura: rituais
que buscam conectar o ser humano com uma ou mais divindades, a
presença de palavras rituais e orações, ações benignas ou altruístas,
objetos litúrgicos e livros sagrados a presença de espíritos ou divindades e
a crença em um mundo espiritual ou na vida após a morte; tendo isso
definido, Teurgia para nós, vai ser o que as pessoas leigas (os profanos)
chamam de maneira indevida de: “Magia Branca”.
A partir dessa definição de Teurgia, podemos identificar que as grandes
religiões podem fielmente se encaixar nessa categoria; por exemplo, o
cristianismo é a prática de Magia Teúrgica mais conhecida pois apresenta
os seguintes elementos característicos: a presença de orações, de um livro
sagrado, de uma divindade transcendental e a possibilidade de comunhão
com a mesma; não somente o cristianismo, mas diversas religiões
monoteístas, politeístas e panteístas apresentam elementos que podem
uni-las nessa categoria de Magia. Partindo então desse princípio,
concluímos que a Teurgia ou Magia Branca está e sempre esteve mais
presente em nossas vidas do que imaginamos; dando espaço agora para a
Magia Natural.

Quando falamos de Magia Natural, nós vamos nos referir à todas as


práticas de natureza esotérica, mágica e mística que não necessariamente
se utilizam da conexão e correlação com espíritos, sejam eles quais forem;
A Magia Natural compreende as práticas generalizadas como Baixa Magia
ou Magia Popular; não necessitando de rituais extremamente elaborados
ou fórmulas complicadas, a Filosofia Natural– como também é chamada,
efetua seus prodígios e resultados através da manipulação de forças da
própria natureza e da utilização de elementos naturais como: galhos,
flores,frutos, pedras, cristais, barro, ossos, fluídos orgânicos e etc.
A Magia Natural muito se relaciona com a ciência moderna, pois ambas se
afastam do ideal religioso e buscam na natureza as explicações, respostas
e recursos para entender e lidar com o mundo ao redor; utilizando de
materiais do ambiente para movimentar sistemas mágicos e operar
maravilhas e ações místicas; também se valendo de preces e rezas, tal
como o uso de talismãs, amuletos, éfiges, representações e objetos
ritualísticos das mais variadas categorias. A Magia Natural também é
adepta do uso de simpatias, poções, e diversos outros recursos místicos; a
Bruxaria Eclética, o Hoodoo, as Rezas Populares e muitas outras vertentes
mais novas e ecléticas da Magia são exemplos de Magia Natural, também
chamada pelos leigos de Magia Cinza, por não possuir nenhuma distinção
de bem e mal: ela apenas é.

O que nos leva a falar da Goetia, que vem do grego e significa “bruxaria”
ou “enganação”; o termo originalmente era usado de maneira pejorativa
para designar as práticas mágicas que vinham em oposição a Teurgia; os
gregos consideravam a goetia obra de seres malignos enquanto a Teurgia
era bem vista. O termo também é usado para descrever as práticas do livro
A Chave Menor de Salomão ou Lemegeton, que ensina a conjurar, lidar e
banir 72 demônios da tradição judaíca-mistica. Aqui, para nós, Goetia vai
ser o termo utilizado para definir práticas, ações e fórmulas mágicas
usadas intencionalmente para causar dano à algo ou alguém; refere-se
tanto à práticas de Magia Cerimonial como de Magia Popular, desde
elaborados rituais e liturgias, até simples simpatias e bruxedos.
Os leigos comumente definem tais atos como “Magia Negra”, o que pode
ser interpretado de maneira pejorativa ou racista, mas denota a clara
eugenia das práticas mágicas, especialmente no que diz respeito à magia
marginalizada.

1.2- Origens da Magia

Não existe talvez um único acadêmico que afirme com certeza quando a Magia e suas
vertentes vieram a existir; arqueólogos encontraram em sítios rupestres,
representações do que os franceses chamam de “Le Sorcier”, traduzido como o
Feiticeiro, o que pode nos levar a crer que a Magia está presente na vida da
humanidade desde que a mesma surgiu na face da Terra.
Podemos dizer que desde que o ser humano adquiriu consciência de seu lugar no
mundo, e decidiu que iria subjugá-lo e adorá-lo, que existe magia.

As primeiras civilizações tribais do neolítico, confeccionavam diversos artefatos


de natureza mágico-religiosa que os conectavam com o mundo ao seu redor; a
crença eminente de que no mundo havia uma alma latente, tal como há no ser
humano, excitava o imaginário das primeiras tribos, que compreendiam
fenômenos naturais como eventos de natureza sobrenatural, e que de alguma
maneira poderiam ser evitados com a ação humana. Esse pensamento,
cunhado pelos sociólogos como “pensamento mágico”, trouxe ao ser humano
uma peculiar capacidade de relacionar eventos, causas e efeitos, mesmo que
elas não necessariamente se relacionam. Partindo desse ponto de vista, o ser
humano passa a nutrir um pensamento simpático, uma relação de semelhança
com a natureza, e começa a desenvolver os seus primeiros rituais para se
comunicar com ela, seja para comungar ou manipular a mesma– Vemos aí um
claro indício do surgimento da Magia Natural.
“As árvores, os rios, as pedras, o céu e as estrelas; o Sol, a Lua e o fogo: tudo
possui uma alma, e nós podemos nos conectar com ela” Talvez esse tenha
sido o pensamento dos primeiros xamãs de tribos nômades, a perspectiva de
que fazemos parte de um mundo maravilhoso e que podemos nos unir à esse
mundo, nos comunicar com ele! Esses xamãs e pajés, pessoas sensíveis e
sábias, eram os primeiros praticantes de magia da pré-história; e através de
seus rituais e invocações, eles conseguiam atingir alterados estados de
consciência que os levavam a ver, ouvir e comandar as forças da Natureza.
Todo esse poder acabou por influenciar como as coisas eram entendidas: “faça
isso e os espíritos vão te recompensar, agrade-os e eles o agradarão”; no
entanto, o ser humano passava por uma mudança, e deixava de ser nômade, e
passava a se estabelecer; e para isso, eram necessários os recursos: as
pedras, os metais, o fogo e a madeira. Mas espere, se há uma alma em tudo,
espíritos de cada coisa… Então recolher esses recursos seria matá-los, afina?
E foi a partir desse pensamento que a humanidade entendeu que talvez não
houvesse uma alma para cada coisa, mas sim um espírito que governava
sobre aquelas coisas; espíritos que governam o ar, a terra, as árvores e os
riachos. E após séculos, aos poucos os xamãs deixavam seu posto tribal; suas
funções que antes eram apenas com a tribo, evoluem para o cuidado de toda
uma aldeia, uma cidade; o que antes eram vilas tornam-se grandes centros
urbanos e impérios; e para tal expansão é necessário mais destruição da
Natureza. Mas o ser humano havia também evoluído sua relação com esses
espíritos e realocando-os se suas moradas naturais, o homem levava esses
seres sobrenaturais para templos consagrados à eles. Xamãs tornavam-se
Sacerdotes; os Líderes das tribos tornavam-se Reis de grandes países; e
civilizações como a dos sumérios, assírios, caldeus, babilônios e egípcios
vinham para a luz, iniciando o que chamamos de história, com a invenção da
escrita.

Acontece então o que aqui vamos chamar de: Primeira Revolução Mágica, a
mudança do pensamento animista (de que tudo possui uma alma, ou espírito)
para um pensamento politeísta (onde existem vários deuses). Justamente por
causa dessa revolução, o ser humano, ao entender que existem espíritos que
governam e presidem as forças naturais, eles passam a adorá-los; dessa
adoração, em seus respectivos templos, surgem os mais diversos tipos de
rituais, fórmulas e orações, súplicas para esses deuses, para que eles
concedam aos seus adoradores as suas bençãos e favores; A Magia e a
Religião tornam-se uma só potência. Os Sacerdotes e Sacerdotisas (aqueles
que dedicam sua vida ao culto de uma ou mais divindades) passam a ter
domínio sobre a cultura, ciência e fé dessas civilizações. Entre os sumérios,
diversos tipos de amuletos, ídolos e rituais de purificação passam a existir; os
caldeus começam a desenvolver oráculos e maneiras de prever eventos; entre
os assírios, diversas ações mágicas de fertilidade passam a ser praticadas em
prol da Terra; entre os babilônios nascem os Mistérios; entre os hebreus nasce
a Kabbalah, entre os Hierofantes egípcios surgem as secretas cerimônias
sagradas; e logo, surge entre os povos dominantes o que os gregos vão
chamar de apoteose: os homens se tornam deuses, e diversas histórias
passam a reinar entre o imaginário épico dos religiosos. Diversas genealogias
passam a existir, e os espíritos-deuses que antes eram as forças inefáveis da
natureza, passam a ter imagens de homens e mulheres; heróis semi-deuses
começam a surgir; famílias sagradas presidem as Grandes Religiões; deuses
homens morrem e ressuscitam, deusas mulheres presidem sobre os sortilégios
e a eternidade da noite. O Mistério passa a fazer parte das grandes expressões
de fé, e poucos se tornam os iniciados a poder contemplá-lo.

Com o surgimento dos povos gregos e romanos o termo Teurgia foi criado, e
logo mais para frente, os romanos identificaram os sacerdotes persas e
zoroastristas como: Magus, aqueles que praticam a Magia.
Enquanto as grandes religiões praticavam a honrosa Teurgia para se aproximar
de seus deuses; os ditos goetas praticavam seus profanos sortilégios para
amarrar plantações, derrubar seus inimigos e tornar estéreis os ventres das
mulheres. A palavra Magia passa a detonar um tom pejorativo e assim
encerra-se o início: As Origens da Magia.
1.3- Bruxaria e Feitiçaria.

Quando falamos de Magia, é inevitável que os termos "feitiçaria" e “bruxaria” não


venham à tona, mas afinal, o que é bruxaria? O que é feitiçaria? Há diferença,
distinção entre os termos? A resposta: é muito relativo.

A princípio, bruxaria e feitiçaria podem ser usadas como sinônimos, e podem ser
intercambiáveis em diversas declarações; no entanto, para os praticantes de Magia,
há sim uma tênue linha que as discerne.

Para os leigos, Feitiçaria e Magia são a mesma coisa: práticas profanas que
prejudicam pessoas, através de poções, simpatias, sortilégios, trabalhos,
amarrações, encantamentos, feitiços, bruxedos, talismãs e toda uma gama de
artefatos e rituais. Muito desse ponto de vista preconceituoso é resultado de
séculos de desinformação e ignorância; superstição acerca de formas tão
primitivas e sublimes de “fazer magia".
Para os praticantes, no entanto, feitiçaria é vista como uma forma primitiva de
magia natural; uma maneira simples de pôr em prática os ensinamentos
teóricos; para os historiadores, a prática deriva dos fetishes africanos, e seus
diversos cultos; já bruxaria seria a Arte da feitiçaria feita com propósitos
religiosos; seria o emprego dessas práticas de maneira efetiva na vida,
seguindo um dogma religioso geralmente dito pagão.

Etimologicamente, a palavra “feitiçaria” vem do latim “facticius” que significa


“artificial”; a palavra feitiço é facere seria então para definir um artifício usado
para fazer a operação mágica; a palavra “feiticeiro” em latim é “fascinatore”,
fascinador, encantador; a palavra encantador vem do verbo incantare; que
pode ser o mesmo que fascinar. Para nós, a palavra Feitiçaria aqui vai ser
usada para designar duas práticas distintas: A Feitiçaria Africana, que é a
utilização mágico-religiosa dos fetiches, bonecos ou éfiges submetidas a
determinados rituais e procedimentos; e Feitiçaria Simpática, que é o emprego
da Magia Simpática de maneira eficaz e efetiva, criando o domínio de uma
situação e/ou narrativa.
Etimologicamente, a palavra “bruxaria” tem suas raízes incertas, no entanto, foi
o termo cunhado pelos fanáticos e extremistas religiosos durante o Tribunal do
Santo Ofício, a Santa Inquisição; a palavra era usada para se referir à toda
uma sorte de praticantes, seguidores e simpatizantes das religiões e crenças
pagãs pela Europa durante a Idade Média. o termo “bruxa” inicialmente
significava mulher vil; tal como no inglês “witch”, que significa “mulher má/cruel”
em oposição ao termo original “wicce” que significava “sábia”. Atualmente, no
entanto, tanto a palavra “Bruxaria” como “Wicca” são usadas para designar as
tradições espirituais e religiosas neo-pagãs da atualidade; a religião Wicca
propriamente dita alega ter suas práticas descendentes de verdadeiras bruxas
sobreviventes da inquisição. Para nós, bruxaria vai designar os diversos tipos
de práticas mágico-religiosas neo-pagãs da atualidade como: Wicca
Tradicional, Wicca Alexandrina, Wicca Eclética e outras.

No fim, não importa muito criar uma definição, uma vez que cada grupo, coven,
tradição e irmandade interpreta os termos de maneiras muito diferentes. Caso
tenha interesse em se aprofundar mais em bruxaria, temos como sugestão os
maiores expoentes do tema na atualidade: Gerlad Gardner, Doreen Valiente,
Janet e Stewart Farrar; Alex Sanders, Scott Cunningham, Claudiney Prieto,
Selena Fox e alguns outros.
1.4- Ritual, Feitiço e Encantamento

Quando falamos sobre Magia a definimos como: “ Arte e conjunto de práticas e


crenças ritualísticas, religiosas ou não que buscam, com ou sem a ajuda de força
sobrenatural, compreender, alterar, manipular e explicar a realidade de acordo com a
Verdadeira Vontade”; mas ao longo do nosso estudo, vimos que a Magia também se
desenvolve em diversas práticas religiosas e ritualísticas; mas afinal, o que é um
ritual? O que são ritos? Feitiços? Encantamentos? E por que eles são tão importantes
para a Magia?

Quando falamos sobre praticar Magia, seja Teurgia, Goetia ou Magia Natural, nós
geralmente citamos o termo rito ou ritual; ambos são intercambiáveis mas aqui terão
uma diferença mínima entre eles: Ritual vai se referir ao conjunto de gestos, posições,
ações, liturgias e procedimentos, que de maneira prática alteram a realidade com a
intercessão do praticante e/ou de uma força sobrenatural; já o Rito vai ser definido
como o ritual que tende a representar um mito ou narrativa.

Em diversas religiões e tradições temos diversos tipos de rituais; rituais de cura, de


benção, de passagem, de iniciação, rituais para conjurar e para banir; uma gama
imensa de processos elaborados que dão às Artes Mágicas um característico tom de
mistério e fascínio; mas o que configura um ritual? Como garantir que um ritual está
sendo executado corretamente?
Geralmente um ritual contém alguns elementos que podemos considerar como
básicos para que seus resultados sejam vantajosos e eficazes:
i-local pré-determinado para o ritual.
ii-Um conjunto de regras e restrições
iii-Um conjunto de crenças
iv-A presença de um ritmo e roteiro
v-A utilização de gestos específicos
vi-A utilização de objetos específicos
vii-A utilização de palavras específicas
viii-E por fim, a utilização de uma fonte de “Poder”

Quando vamos analisar cada um desses elementos percebemos que a melhor forma
de exemplificá-los é através de rituais religiosos, de processos místicos e esotéricos e
principalmente através de uma linha de pensamento mais cética. Ao olharmos, por
exemplo, num ritual goético, o magista começa abençoando o local com preces e
encantamentos (vii), após isso ele traça um círculo mágico, e o consagra (i); em
seguida, vestindo as vestes, os amuletos e pantáculos, o mago, usando de sua
espada, athame, varinha ou cajado, começa as invocações (v,vii,viii); após isso,
consultando-se no livro, ele entoa as conjurações e convoca o espírito ao triângulo de
evocação(iii,iv,viii); lembrando que antes o magista deve estar em jejum e abstinência
(iii, ii)... Podemos evidenciar a presença dos diversos elementos que compõem um
ritual, mas como garantir que de fato tem algo acontecendo?
Podemos dizer que todo ritual precisa de uma fonte de energia para funcionar, de um
meio para essa energia fluir, de ferramentas para manipular essa energia, e de um
alvo para direcioná-la; então, dessa maneira, ao fazer um ritual como o descrito acima,
o praticante invoca uma energia (o espírito), num espaço apropriado (o triângulo e o
círculo), usando as ferramentas apropriadas (as vestes, pantáculos e armas mágicas)
e por fim o direciona para um alvo (o seu objetivo); concluindo assim o propósito
ritualístico da Magia, que é alterar a realidade.
Agora, vamos analisar, por exemplo, um ritual de umbanda; os participantes da gira se
reúnem; os babalorixás ou yalorixás se reúnem e logo começam as bênçãos e
invocações; todos vestindo seus guias e o terreiro enfeitado com ornamentos e objetos
litúrgicos (digamos, dedicados para a Orixá Oxum); um altar, montado com oferendas,
símbolos e imagens de Oxum está ao centro; os ogãs então tocam os atabaques e
logo os médiuns canalizam e incorporam a presença da Mamãe Oxum, e Ela, com sua
sabedoria abençoa seus fiéis e espalha seu conhecimento e axé. Nesse caso,
podemos identificar os mesmos elementos: um local (o terreiro), as ferramentas no
altar e nos fiéis, a presença da fonte de energia, as palavras de invocação em forma
de canções; as regras da casa e os ritmos e ordens hierárquicas… tudo compondo
fielmente a descrição do que é um ritual!
Logo, a partir desse ponto, temos uma descrição satisfatória de como, de maneira
genérica funciona um ritual; mas e a motivação? O que nos leva a fazer um ritual?
Bom, cada tradição vê seus rituais com olhos diferentes: o cristianismo vê os seus
rituais como uma forma de se aproximar de Deus; os wiccanos, de se unir a Natureza;
os hermetistas vêem seus rituais como forma de alterar a realidade; os voduistas
vêem seus rituais como maneira de se comunicar com os mortos e os Loas; cada um,
mantendo suas perspectivas, conseguem fazer com que, através da aplicação de
crença e conhecimento, eles sejam capazes de alterar o mundo ao seu redor, e mudar
suas vidas de maneira positiva no processo!
Mas, é só na “magia” ou nas religiões que existem rituais? Não, podemos dizer que
todas as nossas ações regradas em hábito, podem ser enquadradas com rituais, que
facilitam nosso ser na maneira de se comunicar e lidar com as coisas ao redor,
podendo assim ter mais domínio de sua vida ou não ser subjugado por ela!

Tendo definido e exemplificado o que é um ritual, passamos agora para o rito, e sua
importância espiritual e social em seu papel na Magia. Quando falamos de Rito,
falaremos especificamente de uma gama de rituais que buscam representar, vivenciar
ou replicar a narrativa de um mito; diversas religiões e tradições são baseadas no
exercício e aplicação dos ritos, em detrimento da história, vivência e jornada de um
herói, líder ou divindade.

Contendo os mesmos elementos básicos que um ritual, o rito apela muitas vezes para
um certo psicodrama; uma situação que guia os participantes e espectadores a
estados pensativos ou alterados de consciência; fazendo assim com que todos atuem
direta ou indiretamente na composição do rito. No cristianismo católico, por exemplo,
há durante a missa, a presença de símbolos sagrados, objetos e vestes litúrgicas,
fórmulas e orações sagradas, e procedimentos de invocação e consagração (para a
hóstia e o milagre da transubstanciação); e não somente isso, há a presença viva de
Jesus, através do mito de seu sacrifício e ressurreição. O ato de reviver o cenário da
paixão, onde Cristo consagra o pão eo vinho, e logo é humilhado, torturado e morto,
para três dias depois ressuscitar, faz com que os fiéis se conectem à divindade de
Cristo; e isso causa mudanças extremas em suas vidas, e assim operam-se “milagres”
em suas vidas. Alguns afirmaram que o Rito, diferente do Ritual, precisa
necessariamente da afirmação da fé, da crença no que está sendo dito e vivido ali, de
maneira que a presença divina ou espiritual no rito possa mudar a vida dos
praticantes. Vemos isso nos Antigos Mistérios de Eleusis, onde os iniciados no culto
revivem a descida e declínio de Proserpina ao Submundo, onde assim, vivem as dores
de sua Sagrada Mãe Ceres, e podem também experimentar do prazer e êxtase de
retornar aos braços da Deusa assim como Prosérpina fez ao retornar para o mundo na
primeira Primavera; também podemos observar a presença do mito sendo
representado e revivido em praticamente todas as religiões.

Mas não somente um mito, o Rito pode ter uma utilidade mais atual e prática; tal como
para os antigos, o rito servia para reviver a existência de determinada divindade,
tornando-nos personagens em sua jornada e portanto usufruindo se suas bênçãos; na
atualidade o Rito pode ser usado para externalizar a história de um povo, de uma
pessoa; projetando numa encenação o que pode ser modificado, causando assim
mudanças no sistema de crenças das pessoas envolvidas, o que pode resultar
justamente na realização das mudanças no plano físico.
Mas o rito e o ritual nunca andam sozinhos, neles estão contidos as palavras de poder
e os famosos feitiços; mas afinal, o que são esses feitiços e encantamentos que tanto
falamos?

Como já foi definido antes, a palavra feitiço vem do latim ‘facere’ e 'facticius',
que significa “fazer” e “artificial”; ou seja, feitiço é, por definição, um artifício
usado por praticantes de magia para fazê-la funcionar. Quando falamos de
Magia, principalmente no âmbito da prática para alterar a realidade, é sempre
inevitável falarmos de feitiços; para nós, o Feitiço vai ser a ação, artifício,
objeto ou situação resultante de um Ritual; para um feitiço funcionar ou ser
eficaz existem alguns elementos e requisitos como possuir uma fonte de poder,
seguir as Leis da Magia, ser devidamente preparado e consagrado e possuir
pelo menos um guia de ligação ao alvo; portanto, se por exemplo, eu desejo
fazer um feitiço para chover, eu vou precisar de energia o suficiente para isso,
elementos, fórmulas e encantamentos que guiem as energias e objetos
relacionados a chuva para que possam alterar de maneira macrocósmica o
mundo, de modo que nenhuma lei natural seja infligida ou do contrário o feitiço
não vai dar certo.
Portanto, existem inúmeras maneiras de fazer feitiços assim como também
existem incontáveis tipos de feitiços para todas as áreas da vida humana e
diversas formas de alterar a realidade; daí assim como existem ‘n’ tipos de
feitiços, existem também ‘n’ maneiras de energizá-los! Dentro da perspectiva
da Magia Natural, é possível dar força à um feitiço invocando as energias da
própria Natureza, como as energias telúricas (da Terra), as energias do fogo,
da água, do ar, dos sacrifícios de sangue e outras diversas maneiras; para a
Teurgia e Goetia, no entanto, a maneira mais comum de conjurar energia
necessária é invocando as dos deuses e espíritos, a depender da tradição,
grupo ou religião; por exemplo, no caso da Wicca (Teurgia) quando um coven
precisa fazer um ritual para um feitiço, o poder da Deusa e do Deus é invocado
para que o coven tenha força necessária para o feitiço funcionar; na
Quimbanda, os Exus são firmados e assentados para servirem como “bateria
energética; no Cristianismo, durante um círculo profético, o pastor convoca o
nome de Jesus para auxiliar na obra, muitos magos evocam suas próprias
egrégoras e algumas bruxas ecléticas conjuram o poder do Sol e da Lua para
auxiliá-las em seus feitiços!

Sendo assim, podemos dizer que não existe uma só maneira de fazer feitiços,
mas todos os feitiços devem seguir pelo menos um princípio básico da Magia
(o qual discorreremos mais detalhadamente em breve) que é a Lei da Simpatia;
esse princípio nos diz que: o semelhante afeta o semelhante (Princípio da
Similaridade), e caso em algum momento eles tiveram contato, isso sustenta
uma ligação entre eles (Princípio do Contato-Contágio); essa é a base de
qualquer feitiço, vemos isso nos primeiros povos a usar Magia, quando esses
esculpiam éfiges com a aparência de seus inimigos e as queimaram invocando
o Deus do Fogo para fazer o mesmo com a pessoa representada; da mesma
maneira, os feitiços tendem a carregar símbolos e signos que, por sua vez em
representação e semelhança, afetariam o objeto dessa semelhança. A
conhecida Magia Planetária faz uso desse recurso, ao utilizar símbolos
astrológicos para invocar suas determinadas energias; os cristãos fazem isso
ao carregar uma cruz no pescoço e por aí vai.

Mas, como as energias, espíritos, deuses ou demônios saberiam o que fazer?


Como essas forças místicas seriam atraídas para os símbolos e redirecionadas
pelos feitiços e rituais? Através das Palavras de Poder!

Quando falamos de Palavras de Poder, nos referimos às diversas orações,


fórmulas, frases e cânticos que afetam ao mundo; esses ditos encantamentos
possuem diversas finalidades: eles servem para conjurar, invocar, evocar e
banir espíritos, para se comunicar com eles, para entoar e vibrar frequências
que modifiquem ou se harmonizem com as energias ao redor, servem para
comandar pessoas e induzi-las a estados alterados de consciência nos quais
ocorre a verdadeira alteração da realidade! Portanto, como um encantamento
funciona? Sabemos que o som, por se propagar em ondas, pode vibrar em
diversas frequências, essas frequências afetam alguns sistemas na natureza; e
assim como é nesse mundo, é também no “Outro Mundo” (note que aqui
podemos nos referir tanto ao Mundo Espiritual, como também ao Mundo
Mental, ou seja, ao Microcosmo), portanto, certas entonações, certas vibrações
podem afetar certas regiões desse “outro mundo”; sabemos que a música, os
hinos e invocações religiosas podem guiar o ser humano à estados de êxtase e
transe, e é nesses estados onde “a magia acontece”;
Do mesmo modo, espiritualmente falando, certas palavras ditas de maneira
rítmica, rezada ou cantada, podem diretamente guiar forças e entidades,
convencê-las, dissuadi-las, ameaçá-las, manipulá-las à vontade de quem entoa
tais palavras. Também, de maneira prática, as palavras de poder, os
encantamentos e orações, podem servir como gatilhos mentais, permitindo ao
praticante evocar certos estados de transe, ou certos padrões e sugestões pós
hipnóticas apenas através dessas palavras específicas!

Vemos a presença dos encantamentos em quase toda forma de Magia, seja


ela Teurgica, Goetica, Natural, Cerimonial ou Popular, há sempre a presença
de palavras especiais, que por sua natureza podem desvelar as virtudes
ocultas das coisas; justamente por esse motivo, os encantamentos podem
servir para outro ato peculiar no mundo Mágico, o ato de Consagração. O ato
de consagrar ou encantar, é, resumidamente, o ato de atribuir ou trazer à tona,
poderes, virtudes ou capacidades potenciais inertes em objetos, lugares ou
pessoas.
Através das palavras específicas ditas de maneira correta, um praticante de
Magia, como um sacerdote, por exemplo, pode imbuir ou imantar um objeto
com uma determinada energia, tornando-o assim, um objeto encantado;
através de uma série de simbolismos e correspondências místicas, podemos
por exemplo, encantar objetos comuns do nosso cotidiano tornando-os como
armas, escudos ou ferramentas mágicas; de certo modo, qualquer objeto só
passa a possuir valor mágico após uma consagração, tanto porque ele estará
imbuído com as energias, como também nossa mente passa a vê-lo com mais
importância e valor, tornando-o valioso, sagrado e mágico.

Existem algumas maneiras de encantar objetos, geralmente envolvendo o uso


de substâncias de transferência de energia (óleo sacro e água benta), velas,
fumaça de incenso, e obviamente, encantamentos; dentre os tipos de
encantamentos nós podemos dividi-los em três: Conjurações, Bênçãos e
Maldições.

As Conjurações são encantamentos que podem trazer determinadas energias


para um local, objeto ou pessoa; existem as Invocações, que trazem para
dentro as energias, deuses ou espíritos conjurados, como por exemplo na
Wicca com o Ritual de Descer a Lua, ou na Missa quando Cristo é invocado
para descer na hóstia; as evocações, que trazem para fora, ou seja,
externalizar o que já está lá, sendo as mais comuns as externalizações de
aspectos da nossa consciência, e as conjurações das virtudes de itens
naturais; e os banimentos, que servem para banir, exorcizar, afastar e subjugar
espíritos, deuses, demônios e outras energias que vierem a atrapalhar o mago.

As Bênçãos, geralmente ligadas à religião, são encantamentos e orações de


natureza benigna, geralmente acompanhadas de liturgias e rituais com
imposição de mãos, as bênçãos geralmente conferem boas virtudes e
características aos que as recebem; do latim ‘bendicere’, que significa
"bendizer"; o ato de abençoar é o principal ato de consagração, que significa
“tornar algo sagrado”; é através das consagrações que muitas vertentes de
Magia Cerimonial, garantem os dons e poderes de seus rituais.

Já as Maldições, como o nome sugere, são formas de encantamentos que


atribuem más características à objetos, lugares e pessoas; as maldições
podem ter várias motivações, mas geralmente são alimentadas por intenções
malignas e profanas. No Judaísmo, por exemplo, as maldições aparecem como
forma de punição para aqueles que transgridem a Lei de Deus; maldições
podem ser postas em itens pessoais, alimentos, roupas, locais e pessoas, que
podem espalhar essas maldições como doenças,infectando mais e mais
pessoas.

De maneira prática, objetos encantados, consagrados, abençoados ou


amaldiçoados possuem uma espécie de campo energético, que funciona como
um campo eletromagnético, alterando outros campos ao redor e afetando a
composição espiritual das coisas.
1.5- Magia Hoje

Ao falarmos sobre Magia vimos que ela foi a primeira forma de religião, de ciência, de
conhecimento em geral; mas será que ela ainda é usada hoje em dia? Será que vale a
pena usar Magia nos dias de hoje?

Em um mundo tão avançado tecnologicamente, não parece ser muito provável a


necessidade de rituais elaborados para se fazer algo; antes, o conhecimento mágico
servia para ter vislumbres do futuro, para prever a chuva e a seca, para curar doenças,
para entender as plantas e animais e categorizar eventos naturais; hoje no entanto
para isso temos meteorologia, medicina, farmácia, botânica, biologia, geografia,
química, física e toda uma gama de ciências naturais que nos auxiliam na
compreensão do mundo e por consequência na manipulação do mesmo. Porém,
quando entramos no questionamento de: “Qual o uso da magia hoje?” Nós chegamos
também na pergunta: “Qual o uso da religião hoje?”; há menos de dois milênios, nós,
humanos, acreditávamos que eventos como a chuva, a seca, terremotos, o dia e a
noite e outros muitos fenômenos eram obra dos deuses; que a ira de um deus ou outro
decidia o fluxo da natureza; a ciência nos explica a origem desses fenômenos, nos
mostra como eles acontecem; então, qual a necessidade de crer em Deus? Em um
mundo onde temos domínio sobre o mundo?
Talvez a resposta para isso explique as duas questões; se pensarmos bem, a Magia
foi a mãe da religião e da ciência, ambas são apenas ramificações do conhecimento
mágico; enquanto a religião devotou-se aos mistérios da fé, do oculto e do Outro
Mundo de maneira sobrenatural a ciência devotou-se a explicação baseada na razão,
buscando entender esse e o Outro Mundo de maneira clara, racional e baseada em
evidências; então… Isso significa o que, exatamente?
Significará, para nós, que a Magia hoje é a ciência como conhecemos, a religião como
conhecemos, e o conhecimento oculto dos antigos! Vemos-na manifestar em suas
formas tradicionais (Alta Magia e Baixa Magia) com novos nomes e cores, novas
bandeiras que categorizam o conhecimento, a fé e a união entre elas.

A Alta Magia manifesta-se na ciência através dos termos, símbolos e


nomenclaturas dos antigos; a ancestral alquimia torna-se a química; a
tradicional herbologia torna-se a botânica; a técnica de se saudar os gênios
das ervas e convertê-los no fogo, passa a chamar-se infusão; a separação
alquímica do sútil e do denso torna-se a destilação, a decantação; os signos
deificados dos astros tornam-se os sigilos dos planetas e dos metais;
As correspondências elementais (Os quatro Elementos) tornam-se os estados
da matéria e os novos elementos preenchem uma grande tabela.
A ciência dos Magos torna-se a ciência dos doutores, das pessoas comuns; O
Oculto conhecimento se esconde nas trevas e nasce as ciências de hoje.

Na Religião, a Alta Magia se manifesta nos grandes Ritos, nas liturgias, nas
celebrações, no dogma e na doutrina; se encontra na Missa do Vaticano, e na
das pequenas igrejas; se encontra nas giras de Umbanda e Candomblé, nos
Círculos Wiccanos; se encontra nas casas de Kimbanda e nos templos de
Asatrú; Ela se manifesta nas palavras Mágickas da Golden Dawn, da Thelema
e de outras ordens.
O estudo do Divino, a comunhão com Ele; a Alta Magia se manifesta no
Dharma e no Karma dos Hindus, nas meditações dos budistas e nas orações
dos muçulmanos; como Magia Cerimonial ela se encontra nas solenidades dos
batismos, dos casamentos, dos funerais e dos julgamentos; nas corações
reais, nos tribunais ocultos, nos circuitos de pensadores, com seus
cumprimentos e gestos…

Também a Baixa Magia se manifesta na Religião, através das crendices dos


mais velhos, nas superstições dos tios, nas simpatias das primas, nas rezas
das avós e no folclore dos avôs; está nas cantigas de roda, nas rimas e
orações; nos amuletos, penduricalhos, nas figas e olhos gregos; está nas
entradas das lojas, empresas; nas paredes das igrejas, em suas pinturas e
simbolismos;
Na Ciência ela está ao nosso redor, nos complexos circuitos dos nossos
celulares, o conhecimento para dobrar a luz nas fibras óticas, a sabedoria para
declamar poesias e compor documentos; está na cozinha, no forno com o pão
que assa e na cerveja que fermenta; está na eletricidade estática das canetas
e nos imãs de geladeira; no ar condicionado e nas baterias galvanizadas…

A Magia está ao nosso redor, e escondida de nós, nos Mistérios das Religiões,
nos Ritos da Maçonaria; nas cartas da vidente, nos signos da Astrologia; nos
planetas da astronomia; no astrolábio dos navegantes e na Espada dos
generais; no Cálice da Eucaristia e no Athame do bruxo: A Magia está em todo
lugar onde o mundo muda, onde a realidade se altera.

Então, respondendo a pergunta: “Qual seria o uso da Magia hoje?”; É simples,


a Magia está sendo usada a todo momento; como diriam os Antigos: “É a
Força que mantém tudo unido e funcionando”

1.6- O que não é Magia.

Sabemos o que é Magia, mas o mundo, os leigos, desinteressados e profanos não


sabem; durantes séculos o conhecimento dos magos, a Arte, foi perseguida e mal
interpretada; diversas culturas como os romanos e gregos, em sua eugenia, a
categorizavam, e mesmo a praticando cismaram em marginalizá-la; e mesmo nos dias
de hoje opiniões agressivas e pejorativas permeiam o mundo mágico e seus
praticantes. Dentre essas interpretações, que vêm tanto de fora (não-praticantes,
pessoas comuns) e de dentro (praticantes ativos da magia), algumas acabam criando
um estereótipo negativo, como por exemplo: pensar que a magia (hoje) é uma religião.

Quando vamos analisar a história da religião, A Magia sempre esteve


intrinsecamente ligada à ela; mas, com o decorrer do tempo e do que
passamos a definir tanto como religião e como magia, os dois termos deixam
de se inter-relacionar diretamente; Tal qual já foi definido, as religiões mundiais
praticam o que nós denominamos como Magia Branca; e embora hajam
elementos da Magia na religião e da religião na Magia, elas ainda são coisas
bem diferentes, principalmente graças à um fenômeno que vamos chamar de
Revolução Mágica.
Durante a Revolução Mágica o pensamento do ser humano e sua relação com
os Mundos (Físico e Metafísico) muda; onde antes abrangia um pensamento
animista passa a existir o pensamento politeísta, e onde reina o paganismo
politeísta passa a presidir o pensamento monoteísta (majoritariamente
judaico-cristão) e por fim, na nossa era, um ideal ateísta começa a tomar conta
da humanidade; por causa dessas revoluções o estudo da magia passa por
diversas transformações, começando unido a religião, depois distinto dela,
depois exilado e antagônico, e por fim é reduzido a especulação fantasiosa ou
superstição.

Para o Cristianismo e Islamismo, por exemplo, a prática de Magia é


desencorajada, considerada sacrílega ou profana, o que levou a séculos de
perseguição e repressão de diversos praticantes de diversas áreas da Magia.

Portanto podemos concluir que embora muitas (senão todas) religiões usam de
recursos mágicos, a Magia por si só não é uma religião.

Outro erro comum de interpretação acerca da Arte, parte geralmente dos próprios
praticantes: a ideia imediatista de que Magia é mágica (ilusionismo).
Quando há o ideal de uma solução que mude a realidade, as pessoas geralmente
tendem a querer perverter a realidade, não buscando modificá-la ou alterá-la, mas
geralmente ir contra ela, interrompendo seu fluxo; no entanto algo deve ser deixado
bem claro: a Magia pode alterar a realidade (em escala microcósmica e
macrocósmica) por modificar justamente o pilar fundamental que une esses conceitos;
ir contra a realidade tentando corrompê-la é ir contra a força macrocósmica e
microcósmica, sendo retaliado por ela. O que acontece é que muitos praticantes,
geralmente sem orientação, na tentativa de gerar mudanças rápidas para suas
insatisfações, buscam na magia soluções simples, que não exijam esforço e trabalho;
mas a Magia não é chamada de Arte por nada.
Uma ação mágica leva tempo, preparo, cuidado, estratégia, crença, e uma gama de
sistemas filosóficos e naturais. Infelizmente, focando apenas nos prodígios e feitos
quase miraculosos, os praticantes amadores e os leigos profanos, acabam por achar a
Verdadeira Magia, tediosa; terminam por preferir ilusões, maquinações e
prestidigitação.

Ao invés de buscar o conhecimento e aplicá-lo na causa dos problemas, as pessoas


geram um emaranhado de teias repletas de ilusões, glamorous, fascínios e
transmutações superficiais, que acabam por acarretar na piora de questões mais
profundas e enraizadas; um bom exemplo disso é que muitos praticantes buscam
vertentes mais rasas, esotéricas e entregues às corrupções das grandes mídias; o
Tarô que originalmente era um caminho de autoconhecimento, divinação e
transformação, passa a ser um baralho de cartomantes chulas; os Mistérios sagrados
de religiões antigas são profanados em seitas liberais que ignoram o dogma e rejeitam
as raízes dos ensinamentos. Os praticantes escolhem o que lhes convém, rejeitam o
que lhes incomoda e acabam perpetuando um estereótipo de pessoas irresponsáveis,
rasas, convenientes e tolas.
Infelizmente, por causa de praticantes oportunistas, que, mesmo não conhecendo os
Mistérios Sagrados, conseguem usar a Arte das Trevas para enganar e iludir as
pessoas, roubando-as ou até mesmo causando fatalidades; a Magia em seus diversos
ramos passou a ser chamada pelos céticos de “pseudociência” e “charlatanismo”;
palavras que aqui tem sentido pejorativo e denotam um princípio de falsidade,
enganação e ilusão.

Porém, para aqueles que entendem os símbolos, conhecem os encantos, vencem as


ilusões e os demônios, a Magia passa a ser a Magna Filosofia, O Conhecimento e
Sabedoria que passa a reger a vida do praticante;
Nenhum ato passa a ser em vão, nenhuma palavra passa a ser vazia, e a vida passa a
ter um novo sentido pois acontece uma transformação surpreendente no Macrocosmo
e no Microcosmo, alterando assim a própria realidade.

1.7- Questionário
Considerações Finais

Este “Livro” tem como finalidade a introdução para a Arte Mágica, ou Arte dos Magos,
ele só é válido se acompanhado das aulas orais, sua transmissão e compartilhamento
indevido não é recomendada.

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