Discurso pronunciado pelo Deputado VITTORIO MEDIOLI
(PSDB/MG), na Sessão de 11 de setembro de 2003.
Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores Deputados,
Quem imagina que o desastre ocorrido na Base de Lançamento de
Alcântara (CLA) seja fruto da inexperiência brasileira na área aerospacial preste bem atenção. Há muito mais do que isso no meio das trezentas toneladas de aço retorcido da rampa de lançamento do VLS 1-V03. O ministro da Defesa está se movimentando, antes mesmo do acidente, como se o programa fosse alvo de sabotagem de uma potência estrangeira, mais precisamente os Estados Unidos. A contratação de técnicos ucranianos e russos para investigar as causas do acidente excluem ex-bloco comunista do rol de suspeitos e apontam as dúvidas sobre os norte-americanos, que ofereceram US$ 14 milhões pelo aluguel anual da base de Alcântara - estratégica pela sua proximidade do Equador, fato que economiza combustível, dimensionamento de foguetes e gastos ingentes para levar satélites à orbita da Terra. Algo como bilhões de dólares em poucos anos. O interesse e as propostas norte-americanas foram barradas e frustradas pelas pressões do PT, puxadas pelo deputado Waldir Pires (PT-BA), em 2002. Uma onda de nacionalismo, talvez justificado, levantaram mil e um obstáculos à concretização do acordo com os EUA, levando Fernando Henrique a cancelá-lo. Daí para frente continuou o programa tupiniquim, que já amargava dois insucessos e a queda do último foguete lançado. O ministro José Viegas no depoimento que terminou anteontem, às 20 horas, na Comissão de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados deixou aberta a possibilidade de sabotagem e esquivou-se de responder quando questionado sobre a matéria publicada no dia 22 de agosto no jornal de José Sarney, "O Estado do Maranhão", (imprimido doze horas antes da ocorrência do acidente), dando noticia do adiamento do lançamento por ordem proveniente do próprio ministério. A matéria bastante reveladora informou: "Ninguém no CLA abre o jogo, mas circulam rumores de que a ordem para manter o foguete no chão (já abastecido com todo o carburante e com lançamento previsto para 19 de agosto) foi disparada de Brasília, há alguns dias. Em seguida, desembarcou em Alcântara uma grande equipe ligada à área de Inteligência que imediatamente acionou um aparato de monitoração. Há forte suspeitas de que o fracasso do último lançamento poderia ter sido provocado por estranhas ondas de rádio que os mais sofisticados equipamentos de monitoração do CLA não puderam identificar, concorrendo para o descontrole do foguete já no ar. Esse monitoramento explicaria os intensos vôos num grande raio em torno da Base de Alcântara, em busca de ondas desconhecidas...Os rumores dão conta de que essa hipótese está incluída na lista de possibilidades do serviço de Inteligência." Pois é, o jornal de Sarney estava mais claro que Nostradamus e, enquanto os maranhenses liam a matéria, o foguete submetido a uma operação intensa de verificações explodiu, talvez por um descuido involuntário dos técnicos. Pior, o ministro falhou durante o depoimento de ontem negando que a intensa movimentação na CLA (helicópteros e aviões) era para checar uma possível sabotagem. Preferiu alegar que as movimentações especiais se deram em virtude de uma operação (exercício) de evacuação no CLA. Porém, perguntado sobre o nome de quem comandava o exercício e sobre o fato de as vítimas não participarem do mesmo, silenciou-se, como quem não tem resposta para dar. A suspeita de uma trapalhada durante uma operação extraordinária de controle na rampa de lançamento, motivada por informações provenientes de uma fonte de Inteligência (com toda probabilidade estrangeira), pode ser a hipótese mais provável do desastre, sobretudo,depois das declarações confusas do ministro. A Câmara determinou uma comissão especial para acompanhar as investigações que hoje correm apenas como Inquérito Policial Militar (IPM).
Poderia ter sido a mesma potência estrangeira interessada no uso
do CLA a interferir no projeto brasileiro para vê-lo fracassar. O Ministério da Defesa trabalha, mesmo sem declarar, nessa pista que se afinal fosse confirmada seria um dos maiores escândalos desse início de milênio. Fiquemos atentos.