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Materiais de Construção

Civil: Metais, Orgânicos


e Cerâmicos
Profª. Carolina Maciel Suzin

Indaial – 2020
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020

Elaboração:
Profª. Carolina Maciel Suzin

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

S968m

Suzin, Carolina Maciel

Materiais de construção civil: metais, orgânicos e cerâmicos. / Carolina


Maciel Suzin. – Indaial: UNIASSELVI, 2020.

211 p.; il.

ISBN 978-65-5663-104-2

1. Materiais de construção. – Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 691

Impresso por:
Apresentação
Olá, acadêmico!! Neste livro, estudaremos os principais materiais de
construção, empregados em uma obra de engenharia civil, desde seu início,
como locação e fundações, até suas etapas finais, como os acabamentos.

O estudo dos materiais de construção fundamenta-se no conhecimen-


to de suas matérias-primas: a obtenção e o financiamento; sua fabricação ou
processamento; suas características e propriedades, como as físicas, químicas
e mecânicas. Conhecendo todas estas particularidades é possível identificar
qual o emprego ideal para cada tipo de material. A escolha correta dos mate-
riais de construção influencia na qualidade de vida das pessoas e das cidades.

A qualidade final, manutenção e vida útil de uma obra estão direta-


mente relacionadas ao emprego correto dos materiais e da sua qualidade.

Os materiais de construção estão sempre em evolução, buscando sa-


tisfazer as necessidades do mercado, com exigências cada vez maiores com
relação à qualidade, durabilidade e custo. Outro fator muito valorizado pelo
mercado é a utilização de materiais sustentáveis na construção civil.

Para um melhor aprendizado, este curso divide-se em três unidades:


Unidade 1 – rochas, materiais cerâmicos e vidros; Unidade 2 – madeiras e
tintas; e Unidade 3 – materiais poliméricos e materiais metálicos.

A Unidade 1 está dividida em três tópicos. O primeiro tópico trata


do estudo das rochas, sua classificação geológica e tecnológica, o processo
de formação desse material, suas principais características e propriedades,
a composição mineralógica, os principais minerais em rochas utilizadas em
obras de engenharia e quais suas aplicações na construção civil. O segundo
tópico aborda o estudo dos materiais cerâmicos, a classificação das argilas,
as principais características e propriedades das argilas, os processos de fa-
bricação dos materiais cerâmicos e qual sua aplicação na construção civil. O
terceiro tópico compreende o estudo dos vidros, sua estrutura e composição,
sua classificação, suas principais características e propriedades, o processo
de fabricação dos vidros e quais suas aplicações na construção civil.

A Unidade 2 está dividida em dois tópicos. O primeiro tópico aborda


o estudo das madeiras, sua classificação de acordo com sua germinação e
crescimento e com suas finalidades, a fisiologia e o crescimento das árvores,
quais são as partes constituintes das madeiras, qual a estrutura e composição
química das madeiras, como é possível identificar esse material e quais as
principais espécies lenhosas nacionais, a produção da madeira para utiliza-
ção em obras de engenharia, suas principais características e propriedades,

III
os defeitos que podem ocorrer nas madeiras e alterar suas propriedades e seu
desempenho, como é feito o beneficiamento das madeiras e seus principais
usos na construção civil. O segundo tópico trata do estudo das tintas, sua
composição, seus pigmentos e respectivas cores, sua classificação em tintas a
óleo, tintas plásticas emulsionáveis, tintas para caiação e tintas especiais, os
vernizes, as lacas e os esmaltes, como deve ser o preparo de uma superfície
antes de receber das tintas, quais os métodos de aplicação desses materiais
e os principais defeitos que podem ocorrer na aplicação.

A Unidade 3 também está dividida em dois tópicos. O primeiro tópico


compreende o estudo dos materiais poliméricos, o que são os polímeros, como
são obtidos esses materiais, quais os principais polímeros fabricados atualmen-
te, sua classificação quanto à estrutura química, ao método de preparação, ao
comportamento mecânico e ao desempenho mecânico, como se dá o processo
de polimerização, as principais características e propriedades dos materiais poli-
méricos e sua utilização na construção civil. O segundo tópico abrange o estudo
dos materiais metálicos, o estudo dos metais e dos minérios, os processos de mi-
neração, metalurgia e siderurgia, as características e propriedades dos materiais
metálicos e suas principais aplicações na construção civil.

Portanto, este livro visa aprofundar os conhecimentos acerca dos materiais


de construção, bem como contribuir para sua formação acadêmica de qualidade!

Boa leitura e bons estudos!


Profª. Carolina Maciel Suzin

IV
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi-
dades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra-
mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para
diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apre-
sentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em
questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institu-
cionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar
seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de De-
sempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

V
VI
LEMBRETE

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um


novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro


que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você
terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen-
tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!

VII
Sumário
UNIDADE 1 – ROCHAS, MATERIAIS CERÂMICOS E VIDROS..................................................1

TÓPICO 1 – ROCHAS...............................................................................................................................3
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................................3
2 CLASSIFICAÇÃO DAS ROCHAS.......................................................................................................5
3 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES................................................................8
4 COMPOSIÇÃO MINERALÓGICA.....................................................................................................9
5 UTILIZAÇÃO DE ROCHAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL............................................................10
5.1 GRANITOS........................................................................................................................................10
5.2 BASALTOS.........................................................................................................................................11
5.3 DIORITOS..........................................................................................................................................12
5.4 ARENITOS.........................................................................................................................................13
5.5 CALCÁRIOS E DOLOMITOS.........................................................................................................13
5.6 ARDÓSIAS.........................................................................................................................................14
5.7 QUARTZITOS...................................................................................................................................15
5.8 MÁRMORES......................................................................................................................................15
5.9 GNAISSES..........................................................................................................................................16
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................20
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................21

TÓPICO 2 – MATERIAIS CERÂMICOS.............................................................................................23


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................23
2 CLASSIFICAÇÃO DAS ARGILAS....................................................................................................25
2.1 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES.............................................................26
2.2 FABRICAÇÃO...................................................................................................................................29
3 EXPLORAÇÃO DE JAZIDAS.............................................................................................................29
3.1 PREPARO DA MATÉRIA-PRIMA.................................................................................................30
3.2 MOLDAGEM.....................................................................................................................................30
3.3 TRATAMENTO TÉRMICO.............................................................................................................31
4 UTILIZAÇÃO DE MATERIAIS CERÂMICOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL............................35
4.1 TIJOLOS CERÂMICOS....................................................................................................................36
4.2 TELHAS CERÂMICAS....................................................................................................................39
5 MATERIAIS DE GRÉS CERÂMICO.................................................................................................43
5.1 APARELHOS SANITÁRIOS...........................................................................................................46
5.2 AZULEJOS.........................................................................................................................................47
5.3 PASTILHAS.......................................................................................................................................49
5.4 TIJOLOS REFRATÁRIOS.................................................................................................................49
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................53
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................54

TÓPICO 3 – VIDROS...............................................................................................................................57
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................57
2 CLASSIFICAÇÃO DO VIDRO...........................................................................................................59
2.1 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DOS VIDROS...................................61

VIII
3 PRODUÇÃO DOS VIDROS...............................................................................................................61
3.1 MATÉRIA-PRIMA............................................................................................................................62
3.2 FUSÃO E REFINO............................................................................................................................63
3.3 CONFORMAÇÃO............................................................................................................................63
3.4 RECOZIMENTO...............................................................................................................................63
4 UTILIZAÇÃO DE VIDROS NA CONSTRUÇÃO CIVIL..............................................................64
4.1 VIDRO COMUM...............................................................................................................................64
4.2 VIDRO DE SEGURANÇA...............................................................................................................65
4.2.1 Vidro de segurança temperado . .................................................................................................65
4.2.2 Vidro de segurança laminado......................................................................................................67
4.2.3 Vidro de segurança aramado.......................................................................................................68
4.2.4 Vidros coloridos e termorrefletores.............................................................................................68
4.2.5 Vidros impressos ou fantasias......................................................................................................70
4.2.6 Vidro Autolimpante.......................................................................................................................71
4.2.7 Tijolos de Vidro..............................................................................................................................72
4.2.8 Fibra de Vidro.................................................................................................................................73
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................76
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................78
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................79

UNIDADE 2 – MADEIRAS E TINTAS.................................................................................................81

TÓPICO 1 – MADEIRAS........................................................................................................................83
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................83
2 CLASSIFICAÇÃO .................................................................................................................................86
3 FISIOLOGIA E CRESCIMENTO DAS ÁRVORES.........................................................................87
4 ESTRUTURA DAS MADEIRAS.........................................................................................................90
5 COMPOSIÇÃO QUÍMICA .................................................................................................................92
6 IDENTIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES ...................................................................................................93
7 PRODUÇÃO DA MADEIRA..............................................................................................................95
8 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES..............................................................96
8.1 PROPRIEDADES E CARACTERÍSTICAS FÍSICAS....................................................................97
8.2 PROPRIEDADES E CARACTERÍSTICAS MECÂNICAS.........................................................100
9 DEFEITOS.............................................................................................................................................101
9.1 DEFEITOS DE CRESCIMENTO...................................................................................................101
9.2 DEFEITOS DE SECAGEM.............................................................................................................102
9.3 DEFEITOS DE PRODUÇÃO.........................................................................................................105
9.4 DEFEITOS DE ALTERAÇÃO........................................................................................................105
10 BENEFICIAMENTO DAS MADEIRAS........................................................................................105
10.1 SECAGEM......................................................................................................................................106
10.2 PRESERVAÇÃO............................................................................................................................108
10.3 TRANSFORMAÇÃO....................................................................................................................110
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................121
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................122

TÓPICO 2 – TINTAS
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................125
2 COMPOSIÇÃO DAS TINTAS..........................................................................................................127
3 CLASSIFICAÇÃO................................................................................................................................129
3.1 TINTAS A ÓLEO.............................................................................................................................130
3.2 TINTAS PLÁSTICAS EMULSIONÁVEIS...................................................................................130
3.3 TINTAS PARA CAIAÇÃO............................................................................................................131

IX
3.4 TINTAS ESPECIAIS........................................................................................................................131
4 VERNIZES, LACAS E ESMALTES...................................................................................................132
5 PREPARO DAS SUPERFÍCIES.........................................................................................................133
5.1 PAREDES COM REBOCO.............................................................................................................133
5.2 MADEIRAS......................................................................................................................................133
5.3 METAIS............................................................................................................................................134
6 MÉTODOS DE APLICAÇÃO............................................................................................................134
7 DEFEITOS DAS TINTAS...................................................................................................................134
LEITURA COMPLEMENTAR..............................................................................................................137
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................141
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................142

UNIDADE 3 – MATERIAIS POLIMÉRICOS E MATERIAIS METÁLICOS..............................145

TÓPICO 1 – MATERIAIS POLIMÉRICOS........................................................................................147


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................147
2 OBTENÇÃO E EXEMPLOS DE POLÍMEROS...............................................................................148
3 CLASSIFICAÇÃO................................................................................................................................150
4 POLIMERIZAÇÃO .............................................................................................................................151
5 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES ...........................................................152
6 UTILIZAÇÃO NA CONSTRUÇÃO CIVIL....................................................................................153
6.1 INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS PREDIAIS..............................................................................153
6.2 INSTALAÇÕES ELÉTRICAS........................................................................................................154
6.3 ESQUADRIAS E PORTAS.............................................................................................................155
6.4 TELHAS............................................................................................................................................156
6.5 PISOS, REVESTIMENTOS E FORROS........................................................................................157
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................161
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................162

TÓPICO 2 – MATERIAIS METÁLICOS............................................................................................163


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................163
2 MINERAÇÃO.......................................................................................................................................164
3 PRINCIPAIS MINÉRIOS...................................................................................................................165
3.1 FERRO..............................................................................................................................................165
3.2 ALUMÍNIO......................................................................................................................................166
3.3 CHUMBO . ......................................................................................................................................166
3.4 COBRE . ...........................................................................................................................................166
3.5 ESTANHO . .....................................................................................................................................167
3.6 ZINCO..............................................................................................................................................167
4 METALURGIA.....................................................................................................................................168
5 SIDERURGIA.......................................................................................................................................169
6 METAIS NÃO FERROSOS................................................................................................................172
7 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES............................................................173
8 UTILIZAÇÃO NA CONSTRUÇÃO CIVIL....................................................................................175
8.1 PRODUTOS EM AÇO....................................................................................................................175
8.2 BARRAS E FIOS DE AÇO..............................................................................................................175
8.3 CHAPAS FINAS E GROSSAS.......................................................................................................179
8.4 AÇOS ESTRUTURAIS....................................................................................................................179
8.5 TUBOS ESTRUTURAIS E NÃO ESTRUTURAIS.......................................................................180
8.6 GALVANIZADOS OU ZINCADOS.............................................................................................180
8.7 PREGOS............................................................................................................................................181

X
8.8 PARAFUSOS....................................................................................................................................181
9 PRODUTOS EM ALUMÍNIO...........................................................................................................181
9.1 ESQUADRIAS.................................................................................................................................181
9.2 ESTRUTURA EM FACHADAS ENVIDRAÇADAS..................................................................182
9.3 COBERTURAS ...............................................................................................................................183
9.4 FÔRMAS DE CONCRETO............................................................................................................184
9.5 FIOS E CABOS ELÉTRICOS..........................................................................................................184
10 FERRAGENS......................................................................................................................................187
10.1 FERRAGENS PARA ESQUADRIAS..........................................................................................187
11 METAIS SANITÁRIOS....................................................................................................................191
LEITURA COMPLEMENTAR..............................................................................................................195
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................198
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................199
REFERÊNCIAS........................................................................................................................................200

XI
UNIDADE 1

ROCHAS, MATERIAIS CERÂMICOS E


VIDROS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• reconhecer os tipos de rocha, suas classificações e propriedades;

• definir qual rocha é mais indicada para cada uso na construção civil;

• reconhecer os tipos de argila e compreender seus processos de fabricação;

• distinguir materiais de argila, de louça e revestimento, e materiais refratá-


rios;

• reconhecer os tipos de vidros e seus processos de fabricação;

• identificar qual vidro é mais indicado para cada uso na construção civil.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – ROCHAS

TÓPICO 2 – MATERIAIS CERÂMICOS

TÓPICO 3 – VIDROS

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorve-
rá melhor as informações.

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

ROCHAS

1 INTRODUÇÃO

A geologia é a ciência que estuda a origem, os processos de formação, a


estrutura e a composição da crosta terrestre. Uma parte da geologia estuda os
processos de formação das rochas, os quais, em sua maioria, são resultado do em-
bate das forças da natureza que podem ser provenientes da dinâmica in­terna ou
externa da Terra. As dinâmicas internas da Terra são os vulcões e terremotos. As
dinâmicas externas são a de erosão e sedimentação. Rochas podem ser formadas
por processos erosivos, desfazendo-se em partículas de minerais e fragmentos
devido à ação de componentes químicos da atmosfera, condições climáticas e
atuação de organismos (SLATER, 1961).

Os processos de formação também podem ser artificiais, desencadeados


pelas ações humanas. Entre essas ações, podemos citar a modificação do regime
de escoamento, infiltração da água e das chuvas, a aceleração de processos ero-
sivos, desertificação e salinização de aquíferos, o uso de insumos e fertilizantes
agrícolas, desmatamento e aumento da produção de sedimentos, garimpagem e
extração de minerais, produção de rejeitos que liberam elementos tóxicos, entu-
lhamento de vales, pro­dução de energia, nas mais diferentes formas, com geração
de impactos ambientais (SLATER, 1961).

E
IMPORTANT

De acordo com a Geologia, denominam-se rochas todos os elementos da


crosta terrestre, independentemente de sua origem, composição e estrutura.

Historicamente, a madeira e pedra foram empregadas pelo homem sem


alteração do seu estado natural. Como a madeira foi destruída, e as pedras con-
servadas, a época do aparecimento do homem – época quaternária – é chamada
de Idade da Pedra (PETRUCCI, 1995).

No Egito, foram amplamente empregadas, inclusive em monumentais


construções como as pirâmides e os túmulos de faraós, conforme Figura 1. Os
gregos também utilizaram as pedras na sua história, inclusive no Partenon de
Atenas, conforme Figura 2 (PETRUCCI, 1995).

3
UNIDADE 1 | ROCHAS, MATERIAIS CERÂMICOS E VIDROS

FIGURA 1 – PIRÂMIDES DO EGITOS

FONTE: <https://bit.ly/3epb0Sp>. Acesso em: 26 mar. 2020.

FIGURA 2 – PARTENON EM ATENAS

FONTE: <https://bit.ly/2Br5Irh>. Acesso em: 26 mar. 2020.

Pode-se observar, historicamente, que os povos que utilizaram pedras em


suas construções, como os egípcios, deixaram vestígios de sua passagem, diferen-
te dos povos contemporâneos como os babilônios, assírios e caldeus, que utiliza-
ram tijolos de barro seco ao ar, e suas construções se reduziram a montes de terra
com o passar do tempo (PETRUCCI, 1995).

4
TÓPICO 1 | ROCHAS

Com o passar dos anos, a utilização das rochas se intensificou, sendo em-
pregas em canais, túneis, pontes, palácios e igrejas. Na Idade Média, todos os
países da Europa utilizaram rochas em grandes construções, como o Palácio de
Granada e a Catedral de Notre-Dame, conforme Figura 3 (PETRUCCI, 1995).

FIGURA 3 – CATEDRAL DE NOTRE-DAME

FONTE: <https://bit.ly/2NhaFpf>. Acesso em: 26 mar. 2020.

Porém, com o aparecimento de novas modalidades de construção, tais


como estruturas metálicas e concreto armado, a utilização das pedras como ele-
mento estrutural caiu consideravelmente. Diante deste cenário, este material pas-
sou a ser utilizado em muros de arrimo, fundações rasas, blocos de pavimenta-
ção, lastro de ferrovias, placas de revestimento e principalmente como agregados
para concretos (estrutural ou betuminoso).

2 CLASSIFICAÇÃO DAS ROCHAS


As rochas podem ser classificadas de inúmeras formas, mas a principal
é a classificação geológica (CHIOSSI, 2013; PETRUCCI, 1995). De acordo com a
classificação geológica, as rochas são classificadas em:

a) Rochas eruptivas ou ígneas: são rochas formadas pela consolidação do mate-


rial proveniente de uma fusão total ou parcial. Podem ser rochas eruptivas de
profundidade ou plutônicas (granito), rochas eruptivas filoneaneas (pórfiro) e
rochas eruptivas efusivas ou vulcânicas (basalto).
b) Rochas sedimentares: são rochas formadas pela consolidação do material
transportado e depositado pelo vento ou água. Podem ser rochas sedimentares
clássicas (arenitos), rochas sedimentares químicas (calcários) ou rochas sedi-
mentares organógenas (turfa).

5
UNIDADE 1 | ROCHAS, MATERIAIS CERÂMICOS E VIDROS

c) Rochas metamórficas: são rochas formadas pela alteração gradual na estrutura


das rochas citadas anteriormente, pela ação do calor, da pressão ou da água.
São elas os gnaisses da alteração dos granitos, os quartzitos da alteração dos
arenitos, os mármores da alteração dos calcários e os cristalinos da alteração
das argilas (CHIOSSI,2013; PETRUCCI, 1995).

QUADRO 1 – CLASSIFICAÇÃO DAS ROCHAS


ARGILOSAS

ARDÓSIAS
ARGILAS

FILITOS
BRECHAS CALCÁRIAS
CONGLOMERADOS

TUFOS CALCÁRIOS

ESTALACMITES
CALCÁRIOS DE

ESTALACTITES
TRAVERTINOS
ALABASTROS

CALCÁRIOS e
DOLOMITAS

MÁRMORES
CALCÁRIOS
CALCÁRIAS

CONCHAS
SIENITOS NEFELÍNICOS
FELDSPÁTICAS

TRAQUITOS
FONOLITOS

MELÁFIROS
ANDESITOS
DIABASIOS
BASALTOS
DIORITOS
SIENITOS

GABROS
CLASSIFICAÇÃO DAS ROCHAS
SILICOSAS

QUARTZIFERAS

QUARTZITOS
MICAXISTOS
GRANITOS

ARENITOS

GNAISSES
RIOLITOS
DE PROFUNDIDADE

ORGÂNICAS
FORMAÇÃO

CLÁSTICAS

QUÍMICAS
EFUSIVAS

ORIGEM ERUPTIVAS SEDIMENTARES METAMÓRFICAS

FONTE: Petrucci (1995, p. 217)

6
TÓPICO 1 | ROCHAS

As rochas também podem ter classificação tecnológica, baseada no mi-


neral simples predominante na constituição (CHIOSSI, 2013; PETRUCCI, 1995).
Desta forma, classificam-se em:

a) Pedras silicosas: são as pedras em que predomina a sílica. Apresentam maior


resistência mecânica e maior durabilidade entre todas as pedras.
b) Pedras calcárias: são as pedras com propriedades governadas pelo carbonato
de cálcio. Apresentam boa resistência mecânica e durabilidade média.
c) Pedras argilosas: são as pedras em que predomina a argila. Apresentam menor
resistência mecânica e durabilidade.

A classificação das rochas também pode ser combinada, isto é, unindo as


duas classificações anteriores (CHIOSSI, 2013; PETRUCCI, 1995). Desta forma, as
rochas são classificadas em:

a) silicosas eruptivas, silicosas sedimentares e silicosas metamórficas;


b) calcárias sedimentares e calcárias metamórficas;
c) argilosas.

Os processos de formação das rochas estão interligados entre si. Confor-


me podemos observar na Figura 4, após a solidificação do magma, formam-se as
rochas magmáticas e a partir disso, com variação de calor e pressão, as rochas se
transformam em metamórficas, e com a ação do intemperismo e o transporte e
deposição surgem os sedimentos, e através da compressão e cimentação surgem
as rochas sedimentares.

7
UNIDADE 1 | ROCHAS, MATERIAIS CERÂMICOS E VIDROS

FIGURA 4 – CICLO DE FORMAÇÃO DAS ROCHAS

FONTE: < https://bit.ly/313D9L0 >. Acesso em: 26 mar. 2020.

3 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES


Neste subtópico, abordaremos e conceituaremos as principais caracterís-
ticas e propriedades das pedras utilizadas na construção civil, de acordo com
Petrucci (1995):

• Resistência mecânica: é a capacidade de suportar a ação de cargas aplicadas.


Deve ser considerada a resistência mecânica à compressão, tração, flexão, ci-
salhamento, desgaste e choque. As pedras resistem bem a compressão e mal a
tração.
• Desgaste: perda de qualidades ou dimensões com o uso contínuo.
• Choque: capacidade de suportar efeitos estáticos e dinâmicos.
• Durabilidade: é a capacidade de manter as propriedades físicas e mecânicas
com o decorrer do tempo e sob ação de agentes agressivos. Influenciam na
durabilidade das pedras a compacidade, porosidade, permeabilidade, higros-
copicidade, gelividade e condutibilidade térmica. É importante considerar a
utilização do material, podendo as pedras serem utilizadas como elemento de
construção ou elemento de fundações, o que pode alterar a durabilidade. A
porosidade ou compacidade também influenciam na permeabilidade.
• Trabalhabilidade: é a capacidade da pedra em ser afeiçoada com o mínimo esforço.
• Estética: é a aparência da pedra para fins de revestimentos ou acabamentos.
8
TÓPICO 1 | ROCHAS

• Cor: é determinada pela cor dos minerais essenciais ou dos componentes aces-
sórios das pedras. Não serve para identificação mineralógica. É importante
quando as pedras serão utilizadas aparentes ou com finalidade decorativa, sen-
do a uniformidade e a durabilidade da cor essenciais, pode influenciar no seu
valor. Os principais materiais nocivos para a qualidade da cor das pedras são:
pirita, marcassita, pirrotita e mica. Para melhorar essa característica são feitos
polimentos, que acentuam sua cor.
• Fratura: é o aspecto da superfície de fragmentação das rochas e pedras. A difi-
culdade de extração, corte, polimento e aderência influenciam a fratura. Os prin-
cipais tipos de fratura são: plana, conchoidal, lisa, áspera, escamosa e angulosa.
• Homogeneidade: capacidade da pedra de apresentar as mesmas propriedades
em qualquer amostra do material.
• Porosidade: relação do volume de vazios para o volume total das pedras. Uma
pedra que apresenta alta porosidade tem baixa resistência à compressão e alta
permeabilidade. A porosidade está ligada a durabilidade.
• Permeabilidade: é a propriedade de se deixar atravessar por fluídos. Depende
das dimensões e da disposição dos canais que atravessam as pedras.
• Dureza: nas pedras, a dureza é avaliada de acordo com a facilidade de serrar
a pedra. Pode ser branda (serrada facilmente pela serra de dentes), semidura
(dificilmente serrada pela serra de dentes), duras (só serrada pela serra lisa) ou
duríssima (dificilmente serrada pela serra lisa).
• Aderência: é a capacidade da pedra de se ligar a argamassa. A fratura e a poro-
sidade influenciam nessa propriedade.

4 COMPOSIÇÃO MINERALÓGICA
Através da análise petrográfica, que tem por finalidade determinar a com-
posição mineralógica das rochas, podemos qualificar os materiais e determinar
qual seu melhor emprego e funcionalidade. A análise petrográfica indicará:

a) composição mineralógica das rochas;


b) estado de conservação;
c) estrutura, granulação, textura, índices de enfraquecimento da estrutura, va-
zios, poros, fendas etc.;
d) presença de elementos mineralógicos prejudiciais para a aplicação visada (PE-
TRUCCI, 1995; SLATER, 1961).

Os minerais são definidos como substâncias sólidas, naturais, inorgânicas


e homogêneas, que possuem composição química definida e estrutura atômica
característica. São compostos químicos resultantes da associação de átomos de
dois ou mais elementos.

Os minerais mais importantes em rochas de utilização na construção civil


serão descritos a seguir, de acordo com Petrucci (1995) e Slater (1961).

9
UNIDADE 1 | ROCHAS, MATERIAIS CERÂMICOS E VIDROS

• Quartzo: o quartzo é a sílica cristalina. Usualmente, é opaco, com coloração


branco-leitosa. Possui alta resistência à compressão e à abrasão. Massa especí-
fica absoluta de 2,65 e dureza 7.
• Feldspato: é o material mais abundante na natureza. Pode ter coloração branca,
rosa a vermelho escura, amarelada, cinza e outras. Tem baixa resistência à ação
mecânica e química do intemperismo. A massa específica absoluta varia de 2,55
a 2,76 e a dureza é 6.
• Mica: são silicatos de alumínio com ampla composição química. Apresenta fá-
cil clivagem em lamelas finas, flexíveis e elásticas. Tem dureza de 2 a 3.
• Caulinita: é um silicato de alumínio hidratado por meteorizarão de rochas
vulcânicas e metamórficas. É o principal componente das argilas. Surge como
terra frouxa branca ou colorida, ou na forma de lâminas. A massa especifica
absoluta é 2,6 e dureza 1.
• Calcita: é o carbonato de cálcio cristalino, muito abundante. A massa especifica
absoluta é 2,7 e a dureza 3.
• Magnesita: tem características semelhantes com a calcita. Usado como refratá-
rio para revestimento de forros.
• Dolomita: tem características iguais as da calcita, porém é mais dura, mais re-
sistente e menos solúvel em água.
• Gesso: material sedimentar, com estrutura ora cristalina, ora granulada. Nor-
malmente de cor branca. A massa específica absoluta é 2,3 e a dureza 1,5.
• Anidrita: mineral que se transforma em gesso por hidratação. A massa especí-
fica varia de 2,8 a 3,0 e a dureza de 3,0 a 3,5.

5 UTILIZAÇÃO DE ROCHAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL


Neste subtópico, abordaremos as principais rochas utilizadas atualmente
na construção civil, suas principais características e utilizações, conforme Petruc-
ci (1995) e Slater (1961).

5.1 GRANITOS
Granitos são rochas ígneas, classificadas como rochas plutônicas devido
ao seu processo de formação. Esta rocha é composta basicamente por quartzo,
feldspato e minerais ferro-magnesianos. Suas tonalidades de cor podem variar de
acordo com seus constituintes mineralógicos. O quartzo normalmente é translú-
cido, incolor ou fumê; os feldspatos conferem a coloração avermelhada, rosada,
branca, creme-acinzentada e amarelada nos granitos. A cor negra, variavelmente
impregnada na matriz das rochas, é conferida por teores de mica (biotita), piro-
xênio e anfibólio, principalmente.

As principais características do granito são a homogeneidade, a alta re-


sistência a compressão, baixa porosidade e grande durabilidade. A resistência
à abrasão dos granitos é proporcional à dureza e quantidade dos seus minerais
10
TÓPICO 1 | ROCHAS

constituintes. Entre os granitos, a resistência ao desgaste será, normalmente, tan-


to maior quanto maior for a quantidade de quartzo na rocha. São materiais isotró-
picos, isto é, apresentam as mesmas propriedades independente da direção dos
seus minerais.

Na construção civil, os granitos são utilizados em fundações, muros, cal­


çamentos, como agregado para concreto e ro­cha ornamental em pisos, paredes,
tampos de pias, lavatórios, bancadas e mesas, e em deta­lhes diversos. Pode ser
visualizado na Figura 5.

FIGURA 5 – GRANITO

FONTE: <https://bit.ly/2zYM5q8>. Acesso em: 26 mar. 2020

5.2 BASALTOS
Basaltos são rochas ígneas vulcânicas. Dentre as rochas que ocorrem em
forma de derrame pode ser considerado dos mais abundantes. Esta rocha é cons-
tituída, principalmente, por feldspato. As cores do basalto podem variar entre
cinza-escura a preta, com tonalidades avermelhadas/amarronzadas, devido a
óxidos/hidróxidos de ferro gerados por alteração intempérica. A sua principal
característica é a elevada resistência e a maior dureza entre as pedras mais utili-
zadas na construção civil.

O basalto é muito utilizado como pedra britada em agregados asfálticos,


para concretos e lastros de ferrovias. Assim como o granito possui larga aplicação
como pedra para calçamento e em outras formas de pavimentação. Quando poli-
do pode ser utilizado como rocha ornamental, principalmente em pisos. Pode ser
visualizado na Figura 6.

11
UNIDADE 1 | ROCHAS, MATERIAIS CERÂMICOS E VIDROS

FIGURA 6 – BASALTO

FONTE: <https://bit.ly/37TqP1f>. Acesso em: 26 mar. 2020.

5.3 DIORITOS
Dioritos são rochas ígneas. Suas características físicos-mecânicas são se-
melhantes às do granito, porém suas composições mineralógicas são diferentes.
São usualmente chamados de granitos pretos. Quando polidos, apresentam a cor
preta, e quando apicoados ou lavrados apresentam cor cinza.

Na construção civil, os dioritos têm as mesmas utilizações dos granitos


como fundações, muros, cal­çamentos, entre outros. Também tem larga aplicação
como rocha ornamental e arte mortuária. Pode ser visualizado na Figura 7.

FIGURA 7 – DIORITO

FONTE: <https://sites.unipampa.edu.br/mvgp/files/2016/03/diorito-1024x576.jpg>. Acesso em:


26 mar. 2020.

12
TÓPICO 1 | ROCHAS

5.4 ARENITOS
Arenitos são rochas sedimentares. Esta rocha é composta principalmente
por grãos de sílica ou quartzo, ligados por cimento silicoso, argiloso ou calcário.
Sua principal característica é a razoável resistência ao risco.

Na construção civil é utilizado em revestimentos de pisos e paredes, e na


confecção de mosaicos. Pode ser visualizado na Figura 8.

FIGURA 8 – ARENITO

FONTE: <https://bit.ly/3fK5Alm>. Acesso em: 26 mar. 2020.

5.5 CALCÁRIOS E DOLOMITOS


Calcários e dolomitos são rochas sedimentares carbonáticas. São compos-
tas principalmente por calcita e dolomita.

Na construção civil são utilizadas na indústria cimenteira, de cal, vidrei-


ra, siderúrgica e também para correção de solos. Também podem ser utilizados
como agregados graúdos para concretos. Pode ser visualizado na Figura 9.

13
UNIDADE 1 | ROCHAS, MATERIAIS CERÂMICOS E VIDROS

FIGURA 9 – CALCÁRIO DOLOMÍTICO

FONTE: <https://bit.ly/3fLCFgF>. Acesso em: 26 mar. 2020.

5.6 ARDÓSIAS
Ardósias são rochas metamórficas. Suas principais características são a
elevada resistência mecânica e suas propriedades de material isolante térmico.

Na construção civil são utilizadas como rochas ornamentais em cobertu-


ras de casas, pisos, tampos e bancadas. Pode ser visualizado na Figura 10.

FIGURA 10 – ARDÓSIA

FONTE: <https://bit.ly/3eqczQe>. Acesso em: 26 mar. 2020.

14
TÓPICO 1 | ROCHAS

5.7 QUARTZITOS
Quartzitos são rochas metamórficas que resultam do metamorfismo dos
arenitos. São formadas por quartzo recristalizado. Suas cores podem variar entre
o branco, vermelho e com tons de amarelo.

Suas principais características são a dureza, a alta resistência à britagem e


ao corte, a alta resistência a alterações intempéricas e hidrotermais.

Na construção civil são utilizadas em pisos e calçamentos. A fixação do


quartzito como rocha ornamental é feita com o uso de argamassas próprias para
o tipo de rocha. Pode ser visualizado na Figura 11.

FIGURA 11 – QUARZITO

FONTE: <https://bit.ly/3fNRPSS>. Acesso em: 26 jun. 2020.

5.8 MÁRMORES
Mármores são rochas calcárias metamórficas. São compostas principal-
mente por minerais carbonáticos (calcita e dolomita), formados a partir do me­
tamorfismo de rochas sedimentares calcíticas ou dolomíticas, com pouco ou ne-
nhum teor de quartzo, o que torna os mármores “macios” quando comparados
aos granitos, por isso sofrem maior desgaste e têm menor resistência ao risco.

Apresenta granulação variada e a cor é definida por minerais acessórios ou


impureza, pois os constituintes principais são brancos. As cores mais encontradas
são: branca, rosa­da, cinzenta e esverdeada, sendo a cor branca a mais apreciada.

15
UNIDADE 1 | ROCHAS, MATERIAIS CERÂMICOS E VIDROS

 Para se distinguir um mármore de um granito, dois procedimentos simples


são recomendados: os granitos não são riscados por canivetes, chaves ou pregos, a
exemplo dos mármores – e estes mármores reagem ao ataque do ácido clorídrico ou
muriático, efervescendo tanto mais intensamente quanto maior o seu teor em calcita.

Na construção civil são utilizadas principalmente como rocha or­namental


em ambientes interiores, podendo ser aplicados em pisos e paredes, lavatórios, la-
reiras, mesas, balcões, tampos e outros deta­lhes. Pode ser visualizado na Figura 12.

FIGURA 12 – MÁRMORE

FONTE: <http://sites.ulbra.br/mineralogia/imagens/marmore.gif>. Acesso em: 26 mar. 2020.

5.9 GNAISSES
Gnaisses são rochas metamórficas compostas principalmente de quartzo e
feldspato. Deri­vam de rochas graníticas e possuem granulo­metria média a gros-
sa. Sua principal característica é a elevada resistência.

Na construção civil são utilizadas para a maioria dos propósitos da en-


genharia, sendo os principais como agregados graúdos, pavimentação e rochas
ornamentais. Pode ser visualizado na Figura 13.

16
TÓPICO 1 | ROCHAS

FIGURA 13 – GNAISSE

FONTE: <http://sites.ulbra.br/mineralogia/imagens/gnaisse.gif>. Acesso em: 26 mar. 2020.

Para sintetizar, a seguir temos o Quadro 2 com as principais utilizações


das rochas na construção civil, resumindo as informações dos autores Petrucci
(1995) e Slater (1961).

QUADRO 2 – USO DE ROCHAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL


Rocha Uso na Construção Civil
Bloco de fundação, muros, calçamentos, agregado para
Granitos concreto, pisos, paredes, tampos de pias, lavatórios,
bancadas e mesas, acabamentos.
Agregados asfálticos, agregado para concreto, lastros
Basaltos
de ferrovias, calçamentos, alvenarias, pisos e calçadas.
Dioritos Fundações, muros, cal­çamentos arte mortuária.
Arenitos Revestimentos de pisos e paredes.
Matéria-prima para a indústria cimenteira, de cal, vi-
Calcários e Dolomitos
dreira, siderúrgica, corretor de solos, agregado.
Ardósias Telhas, pisos, tampos e bancadas.
Quartzitos Revestimentos, pisos e calçamentos.
Revestimento de ambientes internos, pisos, paredes,
Mármores lavatórios, lareiras, mesas, balcões, tampos e acaba-
mentos.
Gnaisses Rocha ornamental, agregado e pavimentação.
FONTE: A autora

17
UNIDADE 1 | ROCHAS, MATERIAIS CERÂMICOS E VIDROS

DICAS

Caro acadêmico, sugerimos a leitura do artigo Impactos Ambientais de Pe-


dreiras em Áreas Urbanas. A seguir um fragmento do artigo, para ter acesso a ele na ínte-
gra, acesse o site https://bit.ly/2V7qZwR.

Impactos Ambientais de Pedreiras em Áreas Urbanas

A extração de rochas em pedreiras próximas a centros habitados é decorrente da


forte influência do custo de transporte no valor final dos produtos, principalmente com
os agregados, que possuem baixo valor unitário. Outro fator importante é o geológico,
relacionado à localização das jazidas, que é imutável e impede a mudança das áreas de
extração.

O crescimento desordenado e a falta de planejamento urbano também influen-


ciam para que as áreas nos arredores de pedreiras sejam ocupadas, ocasionando muitos
conflitos sociais.

Os impactos ambientais estão associados nas diversas fases de extração das rochas, como
na abertura da cava, que é feita com a retirada da vegetação, escavações, movimentações
de terra e modificação da paisagem local; no uso de explosivos para o desmonte de ro-
chas, que gera pressões, vibrações nos terrenos próximos, poeiras e ruídos; no transporte
e beneficiamento das rochas, que produz ruídos e poeira, podendo afetar o solo, ar, meios
de água e a população local.

Nesse estudo, foram analisados os aspectos e impactos ambientais gerados por


uma pedreira, localizada no município de Campinas. Encontram-se construções comer-
ciais distantes 250 m da cava, e casas de um bairro residencial distantes 800m. Esta pe-
dreira tem como atividades o decapeamento, desmonte da rocha com a utilização de
explosivos, carregamento e transporte dos materiais, beneficiamento do minério para a
produção de agregados, como brita e pó de pedra.

De acordo com a NBR ISSO 14001 (1996 apud BACCI; LANDIM; ESTON, 2006),
aspectos ambientais são elementos das atividades, produtos e serviços de uma organi-
zação que podem interagir com o meio ambiente, já impactos ambientais são quaisquer
modificações do meio ambiente, adversas ou benéficas, que resultem das atividades, pro-
dutos e serviços da organização.
Na identificação dos aspectos e dos impactos ambientais gerados pela empresa, foram
considerados a produção do minério (extração, transporte e beneficiamento), as instala-
ções administrativas, a oficina de manutenção e o refeitório.

Segundo Braga et al. (1996 apud BACCI; LANDIM; ESTON, 2006) os aspectos
ambientais considerados nesse estudo foram: erosão, assoreamento, contaminação das
águas superficiais e subterrâneas, impactos sobre a flora e fauna, instabilidade de taludes
e encostas, mobilização de terra, poluição do ar, sonora e visual, ultralançamento de frag-
mentos, vibração do terreno e sobrepressão atmosférica.

Foi possível concluir que os impactos ambientais mais significativos estão rela-
cionados ao uso de explosivos, que podem se estender para áreas fora do domínio da
pedreira, e afetam o bairro mais próximo. A sobrepressão atmosférica gerada ocasiona
grande desconforto à população do bairro, mas não oferecem riscos as construções pró-
ximas. A poluição do ar, gerada nas detonações e no beneficiamento não impacta o bairro
próximo, fica restrito na pedreira e está diretamente relacionado à saúde ocupacional dos

18
TÓPICO 1 | ROCHAS

funcionários. Os impactos provenientes das instalações administrativas e oficina também


ficam restritos à pedreira, não atingindo a comunidade. As reclamações vindas da comuni-
dade estão ligadas ao fato do desconhecimento por parte dos moradores das atividades e
medidas de minimização dos impactos adotadas pela empresa.

As pedreiras que se encontram em áreas urbanas podem adotar algumas medi-


das, proativas, que poderiam melhorar o relacionamento com a comunidade e evitar os
conflitos, tais como:

• Monitoramento contínuo dos desmontes e programas ativos para minimização de vi-


brações e sobrepressão, dado que estes são os impactos que mais afetam a comuni-
dade local.
• Manutenção de todos os registros dos planos de fogo realizados, tanto para constar que
a empresa tem controle sobre o uso dos explosivos, como para mostrar aos interessa-
dos os registros.
• Uso de insumos na operação de desmonte, de modo a minimizar os impactos ambien-
tais, especialmente os propagados pela atmosfera na forma de ruído, sobrepressão e
poeiras.
• Treinamento para os operadores vinculados às tarefas de desmonte, visando habilitá-los
na minimização dos impactos ambientais.
• Treinamento de, no mínimo, um funcionário da empresa para realizar monitoramentos
frequentes, dado que a empresa possui um sismógrafo de engenharia.
• Relacionamento com a comunidade através da contratação de consultores e serviços
de vistoria e diagnóstico de danos em residências, de preferência terceirizados.
• Relacionamento com a comunidade através do estabelecimento de um registro de
reclamações em formulário adequado, contendo, pelo menos, nome e endereço do
reclamante.
• Divulgação das atividades e dos resultados de monitoramentos ambientais sempre que
solicitada pela comunidade, a fim de confirmar a seriedade e transparência das ativida-
des da empresa e das ações voltadas para prevenção, preservação do meio ambiente,
refletindo na sua responsabilidade social.

Com o levantamento dos aspectos e impactos ambientais, as empresas devem adotar me-
didas para preveni-los, a fim de melhorar seu desempenho ambiental, e prevenir também
futuros conflitos com a comunidade.

FONTE: BACCI, D. C.; LANDIM, P. M. B.; ESTON, S. M. Aspectos e Impactos Ambientais


de Pedreira em Área Urbana. REM: Revista Escola de Minas, Ouro Preto, v. 59, n. 1, 2006.
Disponível em: https://bit.ly/2V7qZwR. Acesso em: 26 mar. 2020.

19
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• As rochas podem ser formadas por processos erosivos ou por processos artifi-
ciais.

• Das rochas podemos extrair diversos materiais para utilização na construção civil,
entre eles estão os blocos, matacões, agregados e pedras para construção (pedras
de alvenaria, de cantaria, guias, paralelepípedos, lajotas e placas).

• A principal classificação das rochas é a geológica, na qual as rochas classificam-se
em eruptivas ou ígneas, sedimentares e metamórficas.

• As rochas são compostas por minerais, e os principais são o quartzo, feldspato,


mica, caulinita, calcita, magnesita, dolomita, gesso e anidrita.

• Na construção civil são utilizadas diversas rochas, sendo as principais o granito,


basalto, diorito, arenito, calcário, dolomito, ardósia, quartzito, mármore e gnaisse.

20
AUTOATIVIDADE

1 De acordo com a classificação geológica, assinale a alternativa correta.

I- As rochas ígneas são formadas pela consolidação do material proveniente


de uma fusão total ou parcial. Exemplos são os granitos e o basalto.
II- Rochas sedimentares são formadas pela consolidação do material transpor-
tado e depositado pelo vento ou água. Exemplo: calcário.
III- Rochas metamórficas são rochas formadas pela alteração gradual na estru-
tura, pela ação do calor, da pressão ou da água. Exemplos: gnaisses.

a) ( ) Apenas I está correta.


b) ( ) Apenas II está correta.
c) ( ) Apenas a III está correta.
d) ( ) I e III estão corretas.
e) ( ) I, II e III estão corretas.

2 O que é uma análise petrográfica? Quais informações importantes para a


escolha de uma rocha resultam dessa análise?

R.:

3 De acordo com a classificação geológica, assinale a alternativa incorreta.

a) ( ) O basalto é uma rocha ígnea.


b) ( ) O diorito é uma rocha sedimentar.
c) ( ) O arenito é uma rocha sedimentar.
d) ( ) O quartzito é uma rocha metamórfica.
e) ( ) O gnaisse é uma rocha metamórfica.

4 Sabemos que os granitos e os mármores são semelhantes e amplamente uti-


lizados na construção civil. Como podemos distinguir esses dois materiais?

R.:

5 De acordo com as algumas cores de cada rocha, preencha a as lacunas.

I- Mármore.
II- Granito.
III- Diorito.
IV- Quartzito.

( ) Branco, rosado e cinzento.


( ) Branco, vermelho e amarelo.
( ) Preto e cinza.
( ) Avermelhado, rosado, branco e amarelado.
21
A sequência correta é:
a) ( ) I, II, IV e III.
b) ( ) II, III, IV e I.
c) ( ) II, IV, III e I.
d) ( ) III, IV, I e II.
e) ( ) I, IV, III e II.

6 Sobre os minerais, podemos afirmar que:

I- O quartzo é a sílica cristalina. Usualmente é opaco, com coloração branco-


-leitosa. Possui alta resistência à compressão e à brasão.
II- O feldspato é o material mais abundante na natureza. Pode ter coloração
branca, rosa a vermelho escura, amarelada, cinza e outras. Tem alta resis-
tência à ação mecânica e química do intemperismo.
III- A caulinita é um silicato de alumínio hidratado por meteorizarão de rochas
vulcânicas e metamórficas. É o principal componente das argilas. Surge
como terra frouxa branca ou colorida, ou na forma de lâminas.

Assinale a alternativa correta.


a) ( ) I e II estão corretos.
b) ( ) I e III estão corretos.
c) ( ) Somente III está correto.
d) ( ) Todas as alternativas são corretas.
e) ( ) Todas as alternativas são incorretas.

22
UNIDADE 1
TÓPICO 2

MATERIAIS CERÂMICOS

1 INTRODUÇÃO
Na introdução deste tópico, será apresentado um breve histórico da uti-
lização de materiais cerâmicos pela humanidade na construção civil. Também
serão apresentadas as argilas, principal material na fabricação das cerâmicas.

A utilização de materiais cerâmicos originou-se em locais em que as pe-


dras eram escassas e os materiais argilosos encontravam-se em abundância. Tam-
bém pelo custo reduzido e por ser um material que, na presença de água, pode
ser moldado facilmente, e na presença do calor, seca e endurece com facilidade.

Este material foi muito utilizado na história da humanidade. De acordo


com Petrucci (1995), na Bíblia está registrado a utilização de tijolos cerâmicos na
Torre de Babel. Os povos assírios e caldeus utilizavam tijolos cerâmicos em obras
como os Palácios de Khorsabad e Sargão. No Egito, embora as pirâmides tenham
sido construídas com pedras, as casas dos operários eram construídas com tijolos
cerâmicos. Após o incêndio de Londres em 1666, os ingleses que utilizavam muita
madeira em suas construções optaram pela reconstrução em tijolos cerâmicos.

Inicialmente as construções em tijolos cerâmicos foram feitas empregando


o método construtivo da alvenaria estrutural, em que os tijolos têm função estru-
tural, porém com o aparecimento das estruturas metálicas e de concreto armado,
os tijolos começaram a ser utilizados como elementos de vedação.

Para a melhoria das construções e visando a redução do peso das estrutu-


ras surgiram então os tijolos furados.

23
UNIDADE 1 | ROCHAS, MATERIAIS CERÂMICOS E VIDROS

E
IMPORTANT

Os produtos cerâmicos são muito utilizados na construção civil pela sua razo-
ável resistência mecânica e durabilidade, além do custo acessível e possibilidades estéticas.
Os materiais cerâmicos são materiais obtidos pela secagem e cozimento de materiais ar-
gilosos. A matéria-prima utilizada empregada na fabricação de produtos cerâmicos são as
argilas e os desengordurantes. As argilas são as matérias ativas e os desengordurantes são
materiais inertes que diminuem a plasticidade (PETRUCCI, 1995).

De acordo com Bauer (1994), cerâmica é a pedra artificial obtida pela mol-
dagem, secagem e cozedura de argilas ou misturas que contém argila. Nos ma-
teriais cerâmicos a argila fica aglutinada por uma pequena quantidade de vidro,
que surge pela ação do calor de cocção sobre os compostos da argila. São ma-
teriais terrosos naturais, que ao serem misturados com a água, apresentam alta
plasticidade.

A argila é um material natural e terroso que se forma na natureza a partir


da decomposição das rochas, graças à ação dos agentes de intemperismo, tais
como, pressão, temperatura e umidade, sobre elas (LARA, 2013).

As argilas podem variar tanto na composição de seus elementos consti-


tuintes, quanto no arranjo dos seus átomos. Na natureza não existem duas jazidas
de argila rigorosamente iguais, sendo possível notar, até mesmo, diferenças em
uma mesma jazida, o que justifica a grande variedade de tipos de produtos en-
contrados no mercado para variadas aplicações (LARA, 2013).

De acordo com Bauer (1994), as argilas são constituídas essencialmente de


partículas cristalinas extremamente pequenas, formados por um número restrito
de substâncias, sendo estas, substâncias chamadas de argilominerais.

Argilominerais são os silicatos hidratados de alumínio, ferro e magnésio.


Pode conter também alguma porcentagem de álcalis e alcalinos-terrosos. Tam-
bém podem vir juntos elementos como a sílica, alumina, mica, ferro, cálcio, mag-
nésio, matéria orgânica. Pode-se observar que os materiais constituintes do vidro
também estão nas argilas. Os argilominerais resultam da desagregação dos felds-
patos (minerais presentes nas rochas) por ação da temperatura, da água e do gás
carbônico (BAUER, 1994).

Os materiais ar­gilosos se diferenciam entre si pelas diferentes proporções


de sílica, alumina e água em sua composição, além da estrutura molecular dife-
renciada. Os principais materiais argilosos que têm importância como material
de construção são a caulinita, a montmorilonita e a ilita (PETRUCCI, 1995).

24
TÓPICO 2 | MATERIAIS CERÂMICOS

NOTA

A argila, material inorgânico natural, é terra, porém, nem toda terra é argila.

2 CLASSIFICAÇÃO DAS ARGILAS


As argilas podem ser classificadas de diversas formas, sendo que as princi-
pais podem ser verificadas a seguir, conforme Petrucci (1995). De acordo com a es-
trutura, as argilas classificam-se em: estrutura laminar ou foliácea e estrutura fibrosa.

• Estrutura laminar ou foliácea: são utilizadas na fabricação de produtos cerâ-


micos. Estão incluídos os grupos das caulinitas, grupo das montmorinolitas e
grupo das micáceas.

a) As cauliníticas são as mais puras e usadas na fabricação de refratários, porce-


lanas, cerâmicas sanitárias, na indústria de papel, medicamentos e peças elé-
tricas e eletrônicas. São argilas chamadas de caulim, compostas basicamente
de silicatos hidratados de alumínio São as mais raras, de grãos mais grossos e
adquirem a coloração branca após a queima, embora possam ter qualquer cor
in natura.
b) As montmorilonitas são originárias de cinzas vulcânicas e pouco utilizadas,
pois são muito absorventes e têm grande poder de inchamento. São misturadas
com as cauliníticas para corrigir a plasticidade. Possuem os grãos extremamente
finos e têm aplicações industriais, como: clarificação de óleos vegetais e minerais,
perfuração de poços de petróleo, pelotização de minérios e fabricação de fertili-
zantes. É o mineral predominante na vermiculita, bentonita e saponita, sendo de
grande potencial comercial e industrial embora menos exploradas.
c) As micáceas são encontradas com maior facilidade e utilizadas na fabricação
de tijolos, telhas, manilhas, lajotas. Formadas por um silicato de alumínio hi-
dratado com elevado teor de óxido de potássio. Apresentam-se na cor verme-
lha após a queima, devido à presença do óxido de ferro.

• Estrutura fibrosa: não são utilizadas na fabricação de produtos cerâmicos (PE-


TRUCCI, 1995). De acordo com o emprego, as argilas classificam-se em:

a) Infusíveis: utilizadas na fabricação de porcelanas. São constituídas basicamen-


te de caulim puro e após o cozimento apresentam cor branca translúcida. São
infusíveis a temperaturas elevadas. Vitrificam-se em temperaturas entre 1200 ºC
e 1500 ºC.
b) Refratárias: utilizadas para tijolos refratários, empregados em revestimento de
fornos e chaminés. São muito importantes para a indústria pois toda a confec-

25
UNIDADE 1 | ROCHAS, MATERIAIS CERÂMICOS E VIDROS

ção de materiais produzidos em altas temperaturas como cimento, aço e vidro


dependem delas. São muito puras também, só se deformam a temperaturas
superiores a 1500 ºC e têm baixo coeficiente de condutibilidade térmica.
c) Fusíveis: as figulinas, com cor cinza-azulado, são utilizadas em tijolos e telhas;
os grés, com cor cinza-esverdeado e alta quantidade de mica, são utilizados
na fabricação de material sanitário; as margas são utilizadas na produção de
cimento; e o barro. Argila ferruginosa de cor amarelo avermelhada e utilizada
para tijolos de telhas. São as mais importantes, pois delas se fabricam a maior
quantidade de produtos, comumente chamados de produtos de argila verme-
lha, pois após o cozimento adquirem esta coloração. Deformam-se e vitrificam-
-se a temperaturas inferiores a 1200 ºC (PETRUCCI, 1995).

De acordo com a composição, as argilas classificam-se em:

a) Puras
b) Impuras (PETRUCCI, 1995).

De acordo com a plasticidade classificam-se em:

a) Gordas ou Graxas: apresentam alta plasticidade. Têm muito material argiloso


e pouco material desengordurante. Têm maior deformação durante o cozimen-
to.
b) Magras: apresentam baixa plasticidade. Têm pouco material argiloso e muito
material desengordurante (PETRUCCI, 1995).

Quanto ao local onde são encontradas podem ser:

a) Residuais: encontradas no lugar onde foram formadas.


b) Sedimentares: arrastadas e depositadas em locais distintos da sua formação
(PETRUCCI, 1995).

2.1 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES


As argilas apresentam características essenciais, como a plasticidade, a
absorção e cessão de água, comportamento ao calor; e características secundárias
tais como a fusibilidade, porosidade e cor. Nas cerâmicas, as características im-
portantes são o peso, resistência mecânica, resistência ao desgaste, absorção de
água e duração.

Neste subtópico, abordaremos e conceituaremos as principais caracterís-


ticas e propriedades essenciais e secundárias das argilas para fabricação de mate-
riais cerâmicos, conforme os autores Bauer (1994) e Petrucci (1995).

Plasticidade das argilas: é a propriedade de um corpo que, ao ser subme-


tido a aplicação de uma força determinada, deforma-se e conserva esta deforma-

26
TÓPICO 2 | MATERIAIS CERÂMICOS

ção indefinidamente quando anulada a força. O estado plástico é intermediário


entre os estados sólido e líquido, com propriedades dos dois. Para ser plásticas,
as argilas necessitam da existência de um fluído.

A plasticidade das argilas varia de acordo com a quantidade de água.


Quando seca, a argila apresenta plasticidade nula. Conforme adiciona-se água, a
argila vai apresentando plasticidade até um máximo, se adicionada mais água, as
lâminas se separam, ela perde a plasticidade e se torna um líquido viscoso. Esta
propriedade pode ser explicada de forma morfológica, física e química.

Quando puras, as argilas apresentam comportamento plástico. Quando


impuras, isto é, de qualidade inferior, são necessárias adições para melhorar a
plasticidade. Estas adições podem ser feitas com substancias orgânicas, tais como,
carbonato e hidróxido de sódio, silicatos, oxalatos e tartaratos sódicos, tanino, hú-
mus e ácido oleico, ou inorgânicas. A plasticidade pode ser diminuída com:

• inclusões de ar, para reverter esta situação submete-se a argila a um tratamento


à vácuo;
• aumento da temperatura, pois ocorre a perda de água;
• adição de desengordurantes, pois estes são materiais não plásticos.

Resistência das argilas: é a principal característica da argila quando seca.


Tem grande relação com a composição granulométrica da argila, que quando
adequada, permite que as partículas coloidais exerçam papel aglutinante. Esta
composição granulométrica se dá quando a composição tem em torno de 60% de
materiais argilosos e o restante do material dividido igualmente entre silte, areia
fina e média.

Efeitos do calor sobre as argilas: nas argilas, a ação do calor pode ocasio-
nar variação na densidade, porosidade, dureza, resistência, plasticidade, textura,
condutibilidade térmica, desidratação e formação de novos compostos.

Aquecendo-se uma argila entre 20 °C e 150 °C, ocorre perda de água apenas
de capilaridade e amassamento. De 150 °C a 600 °C, ocorre perda de água absorvida
e a argila enrijece. A partir de 600 °C, ocorrem reações químicas em três estágios. No
primeiro estágio ocorre a perda da água de constituição e endurecimento, e as matérias
orgânicas são queimadas. No segundo, ocorre a oxidação, isto é, os carbonetos são cal-
cinados e transformados em óxidos. No terceiro, que inicia em torno dos 950 °C, ocorre
a vitrificação, isto é, a sílica forma uma pequena quantidade de vidro, que se aglutina
ao demais elementos, dando dureza, resistência e compactação. É nesse estágio que se
forma a cerâmica, e sua qualidade depende da quantidade de vidro formado, sendo
em pequena quantidade nos tijolos e grande quantidade nas porcelanas.

Retração e dilatação: a caolinita se dilata de modo regular, perdendo água de


amassa­mento de 0 °C a 500 °C e contrai-se em temperaturas de 500 °C a 1.100 °C. As
argilas micáceas dilatam-se progressi­vamente até 870 °C, contraindo-se em seguida.

27
UNIDADE 1 | ROCHAS, MATERIAIS CERÂMICOS E VIDROS

Porosidade: é a relação entre o volume de poros e o volume total aparente


do material. A porosidade depende da natureza dos constituintes, da forma, ta-
manho e posição das partículas, e dos processos de fabricação.

As partículas da argila são laminares, angulosas ou arredondadas. Quanto


maiores os grãos, menos porosas são as argilas, porém o ideal são argilas de grãos
de vários tamanhos, nas quais reduzem-se a porosidade e a permeabilidade.

NOTA

Quanto maior a porosidade maior a absorção de água e menor a massa espe-


cífica, a condutibilidade térmica, a resistência mecânica e a resistência à abrasão. Quanto
maior a comunicação entre os poros, maior é a permeabilidade, ou seja, a facilidade de
líquidos e gases de circularem pelo material.

Dependem da porosidade a penetrabilidade e a permeabilidade. A pene-


trabilidade é a facilidade com que um líquido penetra nos poros por capilaridade e
sem ação química entre líquidos e sólidos. A permeabilidade é a rapidez com que
um líquido um fluído atravessa um corpo.

Impurezas: algumas impurezas presentes nas argilas podem melhorar suas


propriedades (aumentar a plasticidade e refratariedade, melhorar a resistência) en-
quanto algumas podem ocasionar defeitos aos produtos.

A cor vermelha ocorre devido a presença do óxido de ferro, sendo assim,


se a argila for utilizada para porcelanas, não pode conter o óxido de ferro. Se for
utilizada para materiais refratários, não pode conter materiais fundentes, como
compostos alcalinos.

A fim de eliminar ou reduzir as impurezas, a argila pode passar por proces-


sos de purificação. Esses processos podem ser de natureza física, como uma lava-
gem ou peneiramento, e de natureza química, que envolvem modificação na tem-
peratura, combinação entre alguns compostos e inibição da atividade de outros.

Propriedades das cerâmicas: as propriedades das cerâmicas variam bastan-


te e dependem de características tais como a constituição, processo de moldagem,
cozimento, entre outras. Em relação ao peso, podem haver cerâmicas mais leves
que a água e outras de grande peso.

28
TÓPICO 2 | MATERIAIS CERÂMICOS

• A resistência ao desgaste da cerâmica depende da quantidade de vidro formado.


• A absorção de água depende dos materiais constituintes e de da compactação.
• A resistência mecânica depende da quantidade de água utilizada na moldagem.

2.2 FABRICAÇÃO
Neste subtópico, abordaremos os processos de fabricação dos principais
materiais cerâmicos utilizados na construção civil, de acordo com Bauer (1994) e
Petrucci (1995), sendo eles: tijolos ou blocos cerâmicos, telhas cerâmicas, louças e
porcelanas.

A indústria da cerâmica é uma indústria de processo químico, e a fabricação


dos produtos compreende várias fases. As principais são mostradas na Figura 14.

FIGURA 14 – ETAPAS DO PROCESSO DE FABRICAÇÃO DAS CERÂMICAS

FONTE: A autora

3 EXPLORAÇÃO DE JAZIDAS
Cada tipo de cerâmica a ser fabricada, requer um tipo de argila a ser ex-
traída. Com estudo da jazida verifica-se a composição, pureza, características e
quantidade do material que será extraído. É importante essa verificação, pois é
a partir dela que são determinados quais produtos cerâmicos são obtidos dessa
matéria-prima, qual equipamento deve ser utilizado e quais correções serão ne-
cessárias (BAUER, 1994; PETRUCCI, 1995).

Se a argila apresentar muitas matérias orgânicas, como raízes, a cerâmica


será muito porosa. Se apresentar muita cal, pode queimar na presença de umi-
dade. Então são determinadas as correções (BAUER, 1994; PETRUCCI, 1995). As
escavações de uma jazida podem ser conduzidas de duas maneiras:

1. escavações por sangas: coloca-se a argila sobre o material estéril;


2. escavação por rampas: depende da topografia do local e permite com maior faci-
lidade o escoamento das águas e eliminação dos escombros (PETRUCCI, 1995).

29
UNIDADE 1 | ROCHAS, MATERIAIS CERÂMICOS E VIDROS

3.1 PREPARO DA MATÉRIA-PRIMA


Após ser extraída, a matéria-prima deve ser preparada a utilização na in-
dústria. Esta etapa contém alguns processos, entre eles, a depuração, formação e
moldagem (BAUER, 1994; PETRUCCI, 1995).

A argila passa pelo que se chama apodrecimento. Nesta etapa, é levada


para depósitos ao ar livre e passa por um período de descanso. Tem por finali-
dade a fermentação das partículas orgânicas e a correção do efeito das pressões
sobre as argilas (BAUER, 1994; PETRUCCI, 1995).

Após, vem a depuração, que nada mais é do que a eliminação de impure-


zas, sendo estas as mais grosseiras, que possam prejudicar o material, tais como
os grãos duros, nódulo de cal e sais insolúveis (PETRUCCI, 1995).

Em seguida, inicia-se a formação da pasta. Esta passa por três etapas: a


maceração, a correção e o amassamento (BAUER, 1994).

• A maceração é feita para obter menores partículas e grãos finos e assim garan-
tir uma maior plasticidade e contato entre os componentes. Se ficaram impu-
rezas mesmo após a depuração, é nesta etapa que são totalmente eliminadas
(BAUER, 1994).
• A correção é a etapa em que se dá para a argila a constituição desejada. Para
cerâmicas finas deve-se lavar, deixar sedimentar e filtrar, para eliminação dos
grãos graúdos. Pode-se também adicionar areia fina para aumentar o rendi-
mento e diminuir a retração (BAUER, 1994).
• O amassamento é feito para preparar a argila para a moldagem. Também pode
ser feito simultaneamente a moldagem. É feito a partir de processos manuais
ou mecânicos e a adição de água depende do tipo de argila (BAUER, 1994).

3.2 MOLDAGEM
A próxima fase é a moldagem, que basicamente é a etapa em que se dá
a forma desejada à pasta de cerâmica. Está relacionada a quantidade de água da
pasta de argila, sendo que, quanto maior a quantidade de água maior a plastici-
dade, facilitando a moldagem, porém será maior também a contração na secagem
e deformações no cozimento (BAUER, 1994). Assim, a moldagem pode ser feita
de acordo com quatro processos, conforme Tabela 1:

30
TÓPICO 2 | MATERIAIS CERÂMICOS

TABELA 1 – PORCENTAGEM DE ÁGUA PARA CADA PROCESSO DE MOLDAGEM

Processo de Moldagem Porcentagem de Água

Moldagem com Pasta Fluída 30% a 50%

Moldagem com Pasta Plástica Mole 25% a 40%

Moldagem com Pasta Plástica Consistente 20% a 35%

Moldagem a Seco 4% a 10%

FONTE: Adaptado de Bauer (1994)

• Moldagem com pasta fluída: utilizada para porcelanas, louças sanitárias, pe-
ças elétricas e peças de formatos complexos. Neste processo, o material é dis-
solvido em água e colocado em moldes de gesso (BAUER, 1994).
• Moldagem com pasta plástica mole: utilizada para vasos, tijolos brutos, filtros
de água, pratos e xícaras. O material é colocado em moldes de madeira ou no
torno de oleiro. É o processo mais antigo e feito de forma manual e artesanal,
que garante uma maior qualidade às peças, mesmo existindo atualmente pro-
cessos mais modernos (BAUER, 1994).
• Moldagem com pasta plástica consistente: utilizada para tijolos, tubos, telhas
e refratários. É feito por extrusão, processo no qual a massa é colocada numa
extrusora, onde é compactada e forçada por um pistão ou eixo helicoidal, atra-
vés de bocal com determinado formato. Como resultado obtém-se uma coluna
extrudada, com seção transversal, que tem o formato e dimensões desejados.
Em seguida, essa coluna é cortada, obtendo-se as peças (BAUER, 1994).
• Moldagem a seco: utilizada para ladrilhos, azulejos, tijolos e telhas de maior
qualidade. É feito a partir da prensagem, onde a massa é colocada num molde,
que é em seguida fechado e o formato da peça é conformado por meio de pres-
são. Na prensagem se utilizam preferencialmente massas granuladas e com
baixo de teor de umi­dade. As peças obtidas possuem maior qualidade, pois se-
rão menos porosas e mais resistentes. São necessárias prensas muito potentes,
por isso é o método mais caro (BAUER, 1994).

3.3 TRATAMENTO TÉRMICO


É nesta etapa que estão as fases da secagem e da queima das peças de
cerâmica. A secagem é definida como a fase em que a água que foi utilizada para
dar plasticidade à argila é removida. Após a moldagem, permanecem de 5 a 35%
de água nas peças. Se a argila for levada ainda úmida para o forno, a umidade
ficará retida pela crosta externa, ocasionando tensões internas e fendilhamento.

31
UNIDADE 1 | ROCHAS, MATERIAIS CERÂMICOS E VIDROS

Após a moldagem da peça, a água que concedeu plasticidade a ela co-


meça a evaporar, deixando vazios entre os grãos que acabam se aproximando e
provocando a retração da peça moldada. Um fenômeno que se não for bem con-
trolado torna-se nocivo, porque não sendo uniforme em todas as direções, torce
o material, deformando-o.

O processo se inicia por uma secagem natural, seguida pela secagem arti-
ficial, a temperatura poderá alcançar 85 °C.

a) Secagem natural: esse processo é comum em olarias. É feito a partir da exposi-


ção do material ao ambiente, protegido da ação direta do sol, ventos e chuvas,
com ventilação controlada. Pode também ser feita em galpões próximos aos
fornos, para aproveitar o calor gerado pelos mesmos. É um processo demorado
e que exige grandes superfícies (BAUER, 1994).
b) Secagem artificial (ou forçada): esse processo de secagem pode ser feito por ar
quente e úmido, por túneis ou por infravermelho (BAUER, 1994).

De acordo com Bauer (1994), existem quatro processos de secagem, que


serão expostos a seguir: secagem por ar quente e úmido; secagem feita em túneis;
secagem por infravermelho e queima ou cozimento.

a) A secagem por ar quente e úmido acontece dentro de um galpão, onde são


lançados os gases quentes vindos do interior do forno antes de serem enca-
minhados às chaminés. Em um primeiro momento, recebe ar quente com alto
teor de umidade, até que desapareça a água absorvida. Após, recebe apenas ar
quente, para retirar a água de capilaridade. É mais rápida, mais econômica e
alcança maiores temperaturas.
b) Na secagem feita em túneis, as peças são colocadas em vagonetas, ou carri-
nhos, que percorrem o túnel do sentido da menor para a maior temperatura.
Este túnel é aquecido com o calor residual dos fornos.
c) A secagem por infravermelho é pouco utilizada devido ao custo elevado. Usa-
da apenas em peças de alta precisão.
d) A próxima fase é a queima ou cozimento. É a etapa mais importante do pro-
cesso de fabricação das cerâmicas. Durante a queima podem ocorrer diversas
reações químicas. Desta forma, o alcance da temperatura, o tempo de perma-
nência no interior do forno e o tempo de esfriamento têm relação direta com as
propriedades de resistência mecânica, absorção de água e contração linear do
produto final (BAUER, 1994; PETRUCCI, 1995).

A queima do material argiloso é feita no interior de fornos com tempera-


turas que podem variar de 850 °C a 1200 °C. Nestas temperaturas ocorre a vitri-
ficação, isto é, com a formação de vidro os grãos de argila são unidos (BAUER,
1994; PETRUCCI, 1995).

A quantidade de combustível necessário para a queima é muito alta, por


isso o cuidado em ter o máximo rendimento. Os fornos devem ter o calor unifor-
memente distribuído e temperaturas ideais exatas.

32
TÓPICO 2 | MATERIAIS CERÂMICOS

Para uma maior qualidade das peças, o ideal é que aconteça o aquecimen-
to e reaquecimento. Desta forma, também pode ser evitado o alcance de altas
temperaturas de uma só vez, o que pode encarecer o processo.

Durante a queima, é possível distinguir quatro fases básicas: a desidrata-


ção, a oxidação, a vitrificação e a sinterização, de acordo com Petrucci (1995).

• Desidratação: é a fase em que ocorre perda de toda a água presente nas peças
argilosas e acontece em temperaturas de 80 °C a 600 °C.
• Oxidação: fase em que os produtos de cálcio e magnésio se transformam em óxi-
dos, formando óxido de cálcio, óxido de magnésio e óxido de ferro, responsáveis
pela futura formação do vidro. Acontece em temperaturas de 600 °C a 950 °C.
• Vitrificação: com o calor no interior do forno ultrapassando os 950 °C inicia-se
essa fase da queima, cujas peças de cerâmicas têm os grãos aglutinados por uma
massa vítrea. Essa fase é muito importante para a dureza, resistência e compaci-
dade das peças finais.
• Sinterização: é a fase de queima mais avançada dos produtos argilosos, cuja
temperatura ultrapassa os 1150 °C. Nesta etapa ocorrem novas reações químicas
entre os componentes amorfos, resultando em novos compostos, agora cristali-
zados. É a cerâmica propriamente dita.

Podem ser utilizados diversos tipos de forno. Os fornos podem ser con-
tínuos – com produção contínua ou intermitentes –, isto é, um lote cozido de
cada vez. Os fornos intermitentes têm menor custo de instalação e facilidade de
execução, porém necessitam mais combustível e apresentam maior desgaste na
estrutura devido a variação térmica.

Os principais tipos de fornos utilizados na queima de materiais cerâmi-


cos são os de meda, intermitente comum, semicontínuo, intermitente de chama
invertida, de mufla, combinado, de cuba, de Hoffmann e de túnel, de acordo com
Bauer (1994). A seguir, serão expostos os tipos de forno conforme o autor.

Os fornos de meda são do tipo intermitente, com chama ascendente. É


bastante rústico e geralmente utilizado em instalações provisórias. Na verdade,
não existe um forno. As peças são empilhadas em forma de pirâmide truncada,
formando colunas e deixando espaços entre si. Estas pirâmides são cobertas com
barro e palha e ascende-se o fogo. São deixados alguns orifícios na cobertura,
chamados de agulheiros, que servem para o controle da temperatura e aumentam
a combustão. Este processo é bastante rudimentar, não é possível ter controle da
combustão e sua uniformidade, ocasionando a perda de até um terço da produ-
ção, que pode estar pouco ou muito queimada. O cozimento pode levar de 6 a 10
dias, e 7 dias para esfriar. No caso de tijolos, pode-se queimar em cada fornada
de 50 a 500 milheiros.

Os fornos intermitentes comuns, como o nome diz, são do tipo intermi-


tente. São amplamente encontrados em olarias pois tem um baixo custo e fácil
de produzir. Ele pode ter forma retangular ou quadrada. Na base encontram-se

33
UNIDADE 1 | ROCHAS, MATERIAIS CERÂMICOS E VIDROS

abóbadas em arco afastadas entre si por 15 cm, que são as fornalhas. Sob elas
ficam o cinzeiro. Acima delas o material é empilhado, com espaços para a passa-
gem do calor e do fumo. Geralmente, é coberto por abóbodas de tijolo reforçada
com cintas de ferro, também pode ser coberto por barro e palha com agulheiros.
É utilizado lenha. Quando se inicia a queima, o forno é lacrado com uma parede
de tijolos e argila, e a tiragem é controlada por orifícios que se comunicam com a
chaminé. O cozimento pode levar de 7 a 8 dias para queimar e de 4 a 6 dias para
esfriar. Podem queimar de 25 a 100 milheiros. O desperdício é em torno de 10%,
de peças que ficam nos cantos.

O forno semicontínuo é a união de dois ou mais fornos intermitentes, co-


locados justapostos. Enquanto um forno está queimando, o outro está arrefence-
do (esfriando), o outro está carregando ou descarregando e o último está secando.
Desta forma, o calor pode ser aproveitado e o combustível tem maior rendimento.

O forno intermitente de chama invertida é semelhante ao intermitente co-


mum. Os gases da combustão sobem até a cúpula do forno e atravessam as peças
que estão sendo cozidas, vindo de cima a baixo. É necessário o aquecimento das
paredes, o que aumenta o consumo de combustível.

O forno de mufla é utilizado quando a chama não pode entrar em contato


com as peças que serão queimadas. É composto por uma mufla, ou seja, uma cai-
xa interna ao redor da qual circula o calor.

O forno combinado é composto por dois fornos sobrepostos. O aqueci-


mento é direto no forno superior e por chama invertida no forno inferior.

O forno de cuba é semelhante ao forno comum, com abóbodas. É utiliza-


do para pequenas produções.

O forno de Hoffmann é um forno contínuo. É composto por vários fornos


intermitentes justapostos e entrosados. Utiliza o ar quente das câmaras em fogo
para ir preaquecendo as câmaras seguintes, resultando numa produção continua.
Pode ser na forma oblonga, a mais encontrada, ou nas formas circulares ou qua-
dradas. É um túnel com 14 a 24 celas, com interligação para a circulação do ar. O
número de celas depende do tempo que o material deve ficar enformado, dando
duas cargas por dia. As celas são ligadas por um duto interno chamado câmara de
fumo. Essas ligações contem registros para controle na parte superior. A câmara de
fumo leva os gases para a chaminé. As celas possuem agulheiros, com tampa, para
possibilitar a introdução de combustível e o controle da uniformidade do fogo. É
coberto por um telheiro, utilizado também como câmara de secagem. São dimen-
sionados para um ciclo por dia, com duas cargas diárias. Cada cela pode queimar
por dia de 10 a 20 milheiros. É utilizado carvão em pó ou lenha.

O forno de túnel é um forno contínuo que apresenta o melhor rendimen-


to térmico e economia de mão de obra quando comparado aos anteriores. É um
longo túnel em que a câmara de queima fica no centro. Tem alto custo de instala-

34
TÓPICO 2 | MATERIAIS CERÂMICOS

ção. O material é introduzido por vagonetas. Inicia sofrendo um preaquecimen-


to, passa pelo centro na câmara de queima e vai esfriando até sair do túnel. Os
carrinhos são geralmente empurrados por um êmbolo de velocidade mínima ou
por correntes. O ar movimenta-se no sentido contrário dos carrinhos, esfriando o
material que está saindo e preaquecendo o que está entrando. Para evitar a perda
de calor, a seção do forno deve ser pequena. É utilizado geralmente óleo, mas
também pode ser utilizado lenha, carvão, gás e eletricidade. Quando as peças a
serem queimadas forem trocadas, devem ser feitas alterações na velocidade dos
carrinhos e na chama, o que pode atrasar a produção.

4 UTILIZAÇÃO DE MATERIAIS CERÂMICOS NA CONSTRUÇÃO


CIVIL
Analisaremos os principais materiais cerâmicos utilizados atualmente na
construção civil. Estes podem ser divididos de forma genérica em materiais de
argila, materiais de louça e revestimento e materiais refratários. Abordar cada um
deles, conforme o quadro a seguir.

QUADRO 3 – TIPOS DE MATERIAL E UTILIZAÇÃO

Blocos e tijolos cerâmicos


Tijolos aparentes
Telhas
Materiais de Argila
Lajotas
Tijoleiras e ladrilhos
Materiais de grés cerâmico
Louças
Materiais de Louça e Revestimentos Azulejos
Pastilhas
Materiais Refratários Tijolos refratários
FONTE: Adaptado de Petrucci (1995)

Os materiais de argila são assim denominados pois o principal constituin-


te é a argila, geralmente apresentando óxido de ferro, garantindo a cor averme-
lhada a estas peças.

35
UNIDADE 1 | ROCHAS, MATERIAIS CERÂMICOS E VIDROS

NOTA

A cor pode ser alterada com a adição de substâncias corantes.

4.1 TIJOLOS CERÂMICOS


Os tijolos, que também podem ser chamados de blocos, cerâmicos são
muito utilizados na construção de alvenaria. Podem ser separados por tijolos ma-
ciços e blocos cerâmicos vazados.

Os tijolos maciços são tradicionalmente fabricados de forma artesanal,


em pequenas olarias, com pastas muito úmidas e queima em baixas temperaturas
(800 °C a 900 °C). Obtém-se um produto poroso, de baixa resistência mecânica e
pesado, por causa das suas dimensões: tudo isso devido a um baixo beneficia-
mento da matéria-prima e a um processo de produção ineficiente.

FIGURA 15 – TIJOLO MACIÇO

FONTE: <https://bit.ly/39kEMEL>. Acesso em: 26 mar. 2020.

Os tijolos maciços são utilizados principalmente na execução de muros e


alvenarias portantes. O processo de fabricação utilizado normalmente é por pren-
sagem. A venda é feita por milheiros.

36
TÓPICO 2 | MATERIAIS CERÂMICOS

Os tijolos maciços podem ser classificados como comuns ou especiais. De


acordo com a NBR 7170 (ABNT, 1983), os tijolos comuns podem ser classifica-
dos em A, B e C, conforme a tabela a seguir, de acordo com sua resistência à
compressão. Os tijolos especiais podem ser fabricados conforme especificações
de acordo com o uso, mas também devem obedecer aos critérios da Norma NBR
7170 (ABNT, 1983).

TABELA 2 – RESISTÊNCIA MÍNIMA À COMPRESSÃO EM RELAÇÃO À CATEGORIA

Categoria Resistência à Compressão (MPa)


A 1,5
B 2,5
C 4,0
FONTE: ABNT (1983, p. 2)

De acordo com a NBR 7170 (ABNT, 1983), os tijolos maciços devem ter
comprimento de 190 mm, largura de 90 mm e a altura pode ser 57 mm ou 90 mm.

Quanto à aparência, a NBR 7170 (ABNT, 1983) recomenda que os tijolos


não apresentem defeitos sistemáticos, tais como trincas, quebras, superfícies ir-
regulares, deformações e desuniformidade na cor. As arestas devem ser vivas e
os cantos resistentes. Além disso, a norma apresenta os procedimentos a serem
realizados para verificação e aceitação dos lotes de material.

Os blocos cerâmicos podem ser vazados, com furos na vertical e na hori-


zontal, conforme Figura 16. São utilizados em paredes internas e externas de edi-
ficações. Normalmente são moldados por extrusão e pos­suem furos, que podem
ser prismáticos ou cilíndricos, ao longo do seu comprimento.

FIGURA 16 – BLOCO CERÂMICO VAZADO

FONTE: <https://bit.ly/39hj1FX>. Acesso em: 26 mar. 2020.

37
UNIDADE 1 | ROCHAS, MATERIAIS CERÂMICOS E VIDROS

Os blocos vazados podem ser classificados como blocos de vedação ou es-


truturais. Os blocos de vedação são utilizados para fechamentos de vãos e supor-
tam apenas o peso próprio, de acordo com a NBR 15270 (ABNT, 2017).

Quanto ao número de furos podem possuir quatro, seis, oito ou nove furos.
Quanto à resistência à com­pressão podem ser classificados em comuns e especiais.

Os blocos comuns são aqueles utilizados nas aplicações mais triviais e se


enquadram na classe 10. Yazigi (2009) apresenta as dimensões mínimas de blocos
cerâmicos vazados comuns e especiais, conforme a Tabela 3.

TABELA 3 – DIMENSÕES MÍNIMAS DE BLOCOS CERÂMICOS

Tipo Comum Dimensões Nominais (mm)


L x H x C (cm) Largura (L) Altura (H) Comprimento (C)
10 x 20 x 20 90 190 190
10 x 20 x 25 90 190 240
10 x 20 x 30 90 190 290
10 x 20 x 40 90 190 390
12,5 x 20 x 20 115 190 190
12,5 x 20 x 25 115 190 240
12,5 x 20 x 30 115 190 290
12,5 x 20 x 40 115 190 390
15 x 20 x 20 140 190 190
15 x 20 x 25 140 190 240
15 x 20 x 30 140 190 290
15 x 20 x 40 140 190 390
20 x 20 x 20 190 190 190
20 x 20 x 25 190 190 240
20 x 20 x 30 190 190 290
20 x 20 x 40 190 190 390
Medidas Especiais Dimensões Nominais (mm)
L x H x C (cm) Largura (L) Altura (H) Comprimento (C)
10 X 10 X 20 90 90 190
10 X 15 X 20 90 140 190
10 X 15 X 25 90 140 240
12,5 X 15 X 25 115 140 240
FONTE: Yazigi (2009, p. 470)

38
TÓPICO 2 | MATERIAIS CERÂMICOS

Os blocos vazados estruturais são aqueles projetados para suportarem car-


ga além do seu peso próprio. São utilizados no método construtivo de alvenaria
estrutural, no qual as paredes são a estrutura da edificação.

A resistência à compressão mínima dos blocos de vedação e estruturais são


classificados por Yazigi (2009), de acordo com a tabela a seguir:

TABELA 4 – CLASSES DOS BLOCOS CERÂMICOS

Classe Resistência a compressão na área bruta (MPa)


10 1,0
15 1,5
25 2,5
45 4,5
60 6,0
70 7,0
100 10,0
FONTE: Yazigi (2009, p. 471)

4.2 TELHAS CERÂMICAS


A fabricação das telhas é feita por um processo muito similar ao da fabri-
cação dos tijolos comuns. Para essas peças, a argila utilizada deve ser mais fina e
homogênea.

Os métodos de moldagem podem variar. Pode ser feito por extrusão se-
guido de prensagem ou somente por prensagem. O cozimento é feito nos mes-
mos fornos que os tijolos. Para diminuir deformações, a secagem é mais lenta.

De acordo com Petrucci (1995), para ser um produto de qualidade as te-


lhas devem apresentar as seguintes características:

a) regularidade de forma e dimensões;


b) arestas finas e superfícies sem rugosidade;
c) homogeneidade da massa;
d) cozimento parelho;
e) fraca absorção de água e impermeabilidade;
f) peso reduzido;
g) resistência mecânica à flexão adequada, mesmo na condição saturada de água.

As telhas cerâmicas podem ser de dois tipos: de encaixe ou capa canal. As


telhas de encaixe, que são as do tipo francesa, romana e termoplan têm nas bordas
saliências e reentrâncias que permsubtópico o encaixe.

A telha francesa, também chamada de Marselha, é conformada por prensa-


gem. Possui encaixes laterais e um ressalto para apoio na ripa, conforme Figura 17.

39
UNIDADE 1 | ROCHAS, MATERIAIS CERÂMICOS E VIDROS

FIGURA 17 – TELHA FRANCESA

FONTE: <https://bit.ly/37T9RQN>. Acesso em: 26 mar. 2020.

A telha romana é conformada por prensagem e apresenta na mesma peça


uma capa e um canal, conforme Figura 18. Devido a seus encaixes no sentido
longitudinal e transversal, possui boa vedação e estabili­dade sobre o ripamento.

FIGURA 18 – TELHA ROMANA

FONTE: <https://bit.ly/3eqX8Y9>. Acesso em: 30 set. 2019.

A telha termoplan é fabricada por extrusão. Para melhorar o desempenho


térmico, apresenta furos em seu comprimento que permsubtópico a passagem do
ar, conforme Figura 19.

FIGURA 19 – TELHA TERMOPLAN

FONTE: <https://bit.ly/3emQBxv>. Acesso em: 26 mar. 2020.

40
TÓPICO 2 | MATERIAIS CERÂMICOS

As telhas do tipo capa canal, que são as do tipo colonial, paulista e plan
são fabricadas pelo processo de prensagem. Apresentam o formato meia-cana.
Na execução do telhado, os canais, que são peças côncavas, se apoiam nas ripas,
e as capas, que são peças convexas, se apoiam nos canais.

A telha colonial foi trazida para o Brasil pelos portugueses. Apresenta


apenas um tipo de peça, que serve tanto para capa quando para canal, conforme
a Figura 20.

FIGURA 20 – TELHA COLONIAL

FONTE: <https://tijolosrj.com.br/produto/telha-colonial-portuguesa/>. Acesso em: 30 set. 2019.

A telha paulista é derivada da colonial e tem a capa com largura ligeira-


mente inferior ao canal, conforme Figura 21.

FIGURA 21 – TELHA PAULISTA

FONTE: <https://www.ceramicauniao.net/web/fotos/thumbnails/telha_colonial_paulista_
zz0560b1acd1_800x600.jpg>. Acesso em: 26 mar. 2020.

A telha plan é uma variação da colonial e da paulista, mas apresenta for-


mas retas, planas, conforme Figura 22, o que faz com que os telhados tenham
características distintas das demais telhas curvas.

41
UNIDADE 1 | ROCHAS, MATERIAIS CERÂMICOS E VIDROS

FIGURA 22 – TELHA PLAN

FONTE: < http://construindodecor.com.br/wp-content/uploads/2013/07/telha-plan.jpg>. Acesso


em: 26 mar. 2020.

A telha americana é uma variação da telha colonial, conforme Figura 23.


Sua principal vantagem é o aumento do rendimento com sua utilização.

FIGURA 23 – TELHA AMERICANA

FONTE: <https://construindodecor.com.br/wp-content/uploads/2014/08/telha-americana-
ceramica-vermelha.jpg>. Acesso em: 30 set. 2019.

Na escolha do tipo de telha deve levar em consideração o rendimento


aproximado, a inclinação máxima que deve ser utilizado e o peso aproximado do
material. Segue, a seguir, a Tabela 5 com estas informações dos principais tipos
de telha.

42
TÓPICO 2 | MATERIAIS CERÂMICOS

TABELA 5 – INFORMAÇÕES SOBRE TELHAS

Telha Rendimento Aproximado Inclinação Mínima Peso Aproximado


Francesa 17 peças/m² 40% 44 kg/m²
Colonial 19 a 26 peças/m² 25% 51 kg/m²
Paulista 26 peças/m² 25% 52 kg/m²
Portuguesa 15 a 17 peças/m² 30% 44 kg/m²
Romana 15,5 a 17 peças/m² 30% 44 kg/m²
Americana 12 peças/m² 30% 38 kg/m²
Plan 21 a 26 peças/m² 25% 52 g/m²
FONTE: Adaptado de Hageman (2011)

Os materiais de louça branca são feitos a partir do pó de louça, isto é, uma


pasta feita com argilas brancas, constituídas por caulim quase puro. São isen-
tas de óxido de ferro, contém quartzo e feldspato, finamente moídos. São peças
duras, especiais, de granulometria fina e uniforme, com superfície vidrada. São
porosas, com absorção de 15% a 20% (BAUER, 1994; PETRUCCI, 1995).

O vidrado da superfície geralmente apresenta coeficiente de dilatação di-


ferente da massa, resultando no trincamento, que é a pior dificuldade da fabri-
cação desses materiais. O tipo de material utilizado depende da temperatura de
cozimento. Ele é aplicado depois da cozedura, e no recozimento se transforma
em vidro.

A porcelana é fundamentalmente um grés branco, levado a uma fusão


mais perfeita, com vitrificação completa, que garante a translucidez. A absorção
é praticamente nula. De acordo com Bauer (1994), as louças podem ser de quatro
tipos:

a) louça calcária: de mesa, artística;


b) louça felspática: azulejos, cerâmica sanitária;
c) louça mista;
d) louça de taco.

5 MATERIAIS DE GRÉS CERÂMICO


Os materiais de grés cerâmico são destinados ao revestimento de pisos e po­
dem ser obtidos por processos de extrusão ou prensagem. Esses produtos apresen-
tam uma face esmaltada, que é revestida com uma camada vítrea conferindo um
aspecto brilhoso ao material e uma face porosa, também chamada de tardoz ou face
de assentamento. Algumas peças possuem as duas faces não esmaltadas, sendo que
uma fica exposta e outra é destinada ao assentamento (BAUER, 1994; PETRUCCI,
1995). Um exemplo de revestimento cerâmico pode ser visualizado na Figura 24.

43
UNIDADE 1 | ROCHAS, MATERIAIS CERÂMICOS E VIDROS

O revestimento pode ser esmaltado ou não. A face de assentamento deve


possuir ranhuras e rugosidade para garantir a aderência com a argamassa de
assentamento.

Os revestimentos cerâmicos estão disponíveis em diversos formatos, pre-


valecendo os quadrados e re­tangulares. Quanto aos tamanhos a variedade é ain-
da maior encontrando-se peças com dimensões de 6 cm a 60 cm. As principais
características do revestimento cerâmico são a absorção de água, o método de
fabricação, a resistência à abrasão, a facilidade de limpeza e a resistência a agen-
tes químicos.

FIGURA 24 – REVESTIMENTO CERÂMICO

FONTE: <https://bit.ly/2Uzfn4O>. Acesso em: 26 mar. 2020.

Quanto à absorção de água, a NBR 13817 (ABNT, 1997) classifica os mate-


riais cerâmicos em grupos, de acordo com o grau de absorção, conforme a tabela
a seguir.

Quanto menor a absorção de água maior é a resistência do revestimento


cerâmico contra quebra, fis­suração da camada esmaltada, descolamento, entre
outras patologias. Essa caraterística é muito im­portante em locais onde exista o
risco de choques e variações de temperatura e umidade.

TABELA 6 – MATERIAIS CERÂMICOS DE ACORDO COM O GRAU DE ABSORÇÃO

Grupo Grau de absorção Usos Recomendados


Ia 0% a 0,5% Pisos e paredes
Ib 0,5% a 3,0% Pisos, paredes, piscinas e saunas.
IIa 3,0% a 6,0% Pisos, paredes e piscinas.
IIb 6% a 10% Pisos e paredes.
III Maior que 10% Paredes.
FONTE: Adaptado de ABNT (1997)

44
TÓPICO 2 | MATERIAIS CERÂMICOS

A NBR 13817 (ABNT, 1997) também relaciona o grau de absorção com o


processo de fabricação das peças. Alguns revestimentos cerâmicos também rece-
bem nomes específicos em função do grau de absorção, conforme a Tabela 7.

TABELA 7 – TIPOS DE PRODUTO

Tipologia de Produto Grau de Absorção


Porcelanato 0 a 0,5%
Grés 0,5% a 3%
Semi-Grés 3% a 6%
Semiporoso 6% a 10%
Poroso Maior que 10%
FONTE: Adaptado de ABNT (1997)

A resistência à abrasão, também chamada de resistência ao desgaste su-


perficial do revestimento é muito importante. É consequência do tráfego de pes-
soas e objetos sobre o material.

De acordo com a NBR 13817 (ABNT, 1997), os revestimentos cerâmi­cos


são divididos em 6 grupos conforme a resistência à abrasão, como apresentado na
Tabela 8. A sigla PEI (Porcelain Enamel Institute) significa a classe de resistência à
abrasão. Revestimentos com PEI mais alto são indicados em pisos públicos ou em
locais de alto tráfego. Para usos residenciais podem ser utilizados revestimentos
de PEI mais baixo.

TABELA 8 – GRUPOS DE RESISTÊNCIA À ABRASÃO


Grupo Desgaste após Resistência Usos recomendados
Grupo 0 100 ciclos Desaconselhável em pisos.
PEI 1 150 ciclos Baixa Banheiros e dormitórios.
PEI 2 600 ciclos Média Ambientes sem portas para o exterior.
Cozinhas, corredores e halls residen­
PEI 3 750 e 1500 ciclos Média alta
ciais, sacadas e quintais.
2100, 6000 e 12000 Áreas comerciais, hotéis, salões de
PEI 4 Alta
ci­clos ven­das, showrooms.
Mais que 12000 ci- Áreas públicas ou de grande circula­
PEI 5 Altíssima
clos ção: shopping centers, aeroportos etc.
FONTE: Adaptado de ABNT (1997)

Quanto a facilidade de limpeza, a NBR 13817 (ABNT 1997) classifica o


piso de acordo com a Quadro 4.

45
UNIDADE 1 | ROCHAS, MATERIAIS CERÂMICOS E VIDROS

QUADRO 4 – FACILIDADE DE LIMPEZA


Classe de limpabilidade Resistência às manchas
Classe 5 Máxima facilidade de remoção de manchas
Classe 4 Mancha removível com produto de limpeza fraco
Classe 3 Mancha removível com produto de limpeza forte
Classe 2 Mancha removível com ácido clorídrico/acetona
Classe 1 Impossibilidade de remoção da mancha
FONTE: Adaptado de ABNT (1997)

Outra propriedade importante principalmente em pisos cerâmicos é a fa-


cilidade de limpeza. De acordo com essa característica, os revestimentos cerâmi-
cos são classificados de acordo com a Quadro 5.

QUADRO 5 – CLASSES DE LIMPABILIDADE

Classe de limpabilidade Resistência às manchas


Classe 5 Máxima facilidade de remoção de manchas
Classe 4 Mancha removível com produto de limpeza fraco
Classe 3 Mancha removível com produto de limpeza forte
Classe 2 Mancha removível com ácido clorídrico/acetona
Classe 1 Impossibilidade de remoção da mancha
FONTE: Adaptado de ABNT (1997)

5.1 APARELHOS SANITÁRIOS


Os aparelhos sanitários cerâmicos, como as bacias sanitárias, lavatórios
e mictórios, são produzidos com barbotina, isto é, uma massa cerâmica que será
moldada e transformada nas louças. É composta por caulim, argi­la, feldspato e
quartzo. Primeiro, a argila e o caulim são dispersos em água e peneirados. De-
pois, adicio­nam-se o feldspato e o quartzo, que passaram por um processo de
moagem a seco (BAUER, 1994; PETRUCCI, 1995). Um exemplo de aparelhos sa-
nitários pode ser visualizado na Figura 25.

46
TÓPICO 2 | MATERIAIS CERÂMICOS

FIGURA 25 – LOUÇA BRANCA UTILIZADA EM BANHEIROS

FONTE: <https://bit.ly/2NpOw82>. Acesso em: 10 jun. 2020.

De acordo com Petrucci (1995), os aparelhos sanitários podem ser dividi-


dos em dois grupos:

a) aparelhos de pó de pedra: tem o corpo branco ou colorido artificialmente, vitri-


ficado, com textura fina e grossa;
b) aparelhos de grés branco: também chamados de porcelana sanitária, porcelana
branca ou grés cerâmico, tem o corpo branco ou colorido artificialmente, vitri-
ficado, com textura fina e não porosa.

5.2 AZULEJOS
Os azulejos são materiais cerâmicos empregados normalmente no revesti-
mento de paredes em áreas molhadas, dando proteção e bom acabamento. A argila
utilizada na fabricação é praticamente isenta de óxido de ferro, por isso da cor branca.

São placas de louça, com pouca espessura, vidrado em uma das superfícies,
que também leva corante. A outra face tem saliências para aumentar a aderência e
fixação das argamassas colantes, de assentamento e rejunte (BAUER, 1994).

A moldagem dessas peças é feita a seco, a temperatura do cozimento é em


torno de 1250 °C., o vidrado é feito por pintura, geralmente com óxido de chumbo,
área finíssima de alta fusibilidade, calda de argila e corante (BAUER, 1994).

As dimensões das peças podem variar de acordo com a necessidade da


construção. Possuem formato quadrado ou retangular, geralmente com dimen-
sões 15x15, 20x20 ou 20x30. A espessura média das peças é de 5,4 mm. Podem ser
encontradas em diversas cores e acabamentos, lisas e decoradas.

47
UNIDADE 1 | ROCHAS, MATERIAIS CERÂMICOS E VIDROS

DICAS

Na obra, o responsável por receber esse material deve conferir as informações


da embalagem, presença de riscos na superfície, cantos quebrados, diferenças de dimen-
sões e tonalidades, que podem ocorrer em lotes distintos.

O material deve ser estocado em local seco e abrigado das intempéries, em


pilhas que não ultrapassem 2m de altura, dentro de suas embalagens de origem e
se­parados de acordo com o tipo, tamanho e/ou tonalidade.

Os azulejos normalmente são assentados no local de aplicação com arga-


massas industrializadas próprias para esse fim e de maneira semelhante descrita
para o assentamento de pisos e ladrilhos cerâmicos. São utilizados em paredes de
área molhada, como cozinhas e banheiro, como pode-se visualizar no exemplo
da Figura 26.

FIGURA 26 – AZULEJOS EM PAREDE DE COZINHA

FONTE: <https://www.tuacasa.com.br/azulejo-para-cozinha/>. Acesso em: 30 de set. 2019.

48
TÓPICO 2 | MATERIAIS CERÂMICOS

5.3 PASTILHAS
As pastilhas de louça são fabricadas de forma semelhante aos azulejos.
Geralmente, são de dimensão 2,5x2,5 cm, ou medidas múltiplas dessas. Podem
ser vidradas, não vidradas e de vidro. São amplamente utilizadas em fachadas
(BAUER, 1994). Um exemplo de pastilha pode ser visualizado na Figura 27.

FIGURA 27 – PASTILHAS APLICADAS EM FACHADA

FONTE: <https://br.habcdn.com/photos/business/big/fachada-ceramica-10x10_74412.jpg>.
Acesso em: 30 set. 2019.

Os materiais refratários são materiais com ponto de fusão elevado. Devem


resistir a altas temperaturas, sem amolecer ou sofrer variações volumétricas, resistir
à ação dos gases e escorias que são produzidas durante o processo, ter alta resistên-
cia à abrasão a quente e possuir baixa condutibilidade térmica (PETRUCCI, 1995).

5.4 TIJOLOS REFRATÁRIOS


Os tijolos refratários são produzidos por prensagem, a queima é feita com
temperatura superior à da queima de tijolos comuns. São fabricados com um tipo
específico de argila que é pobre em cal e óxido de ferro. Podemos ter tijolos refra-
tários de sílica ou sílico-aluminosos (PETRUCCI, 1995).

O material refratário é pobre em cal e óxido de ferro e divide-se em ácido,


básico e neutro em função de seus principais elementos constituintes. A escolha

49
UNIDADE 1 | ROCHAS, MATERIAIS CERÂMICOS E VIDROS

adequada do refratário se dá pela necessidade de impedir a formação de sais entre


o refratário e as substâncias com as quais entrará em contato (HAGEMANN, 2011).

A cerâmica refratária na construção civil é utilizada sobretudo na con-


fecção de tijolos usados na cons­trução churrasqueiras, fornos, lareiras e outros
ambientes expostos a altas temperaturas, conforme exemplo na Figura 28.

FIGURA 28 – TIJOLOS REFRATÁRIOS EM CHURRASQUEIRA

FONTE: <http://construindodecor.com.br/tijolo-refratario/>. Acesso em: 30 set. 2019.

DICAS

Acadêmico, sugerimos a leitura do artigo Principais patologias nos revesti-


mentos cerâmicos de fachadas.

Principais patologias nos revestimentos cerâmicos de fachadas

As patologias ocorrem quando alguma parte dos edifícios, em algum momento


de sua vida útil, deixam de apresentar o desempenho previsto (CAMPANTE; BAIA, 2003
apud FONTENELLE; MOURA, 2004). As patologias em revestimentos cerâmicos de facha-
das podem ter origem em duas fases. A primeira é o projeto, no qual podem ser escolhidos
materiais incompatíveis com o uso, ou quando são desconsideradas as interações entre o
revestimento com outras partes do edifício, como as esquadrias. A segunda fase é a execu-
ção, quando os assentadores não aplicam o material de forma adequada e os responsáveis
pela obra não controlam o processo de produção.

Dentre as patologias dos revestimentos cerâmicos de fachada, as principais são: des-


tacamento de placas, trincas, gretamento e fissuras, eflorescências e deterioração das juntas.

50
TÓPICO 2 | MATERIAIS CERÂMICOS

Os destacamentos ocorrem quando há perda da aderência entre as placas cerâ-


micas e a argamassa colante ou emboço. Pode ser considerada a patologia mais séria, pois
há grande probabilidade de acidentes e tem alto custo de reparo, pois muitas vezes a única
solução é a retirada total do revestimento. Esta patologia é identificada pelo som oco nas
placas cerâmicas, pelo estufamento das placas cerâmicas e rejuntes, seguido do destaca-
mento destas áreas, que pode ou não ser imediato. Devido as tensões, geralmente ocorre
nos primeiros e últimos andares dos edifícios.

As causas desta patologia são a instabilidade do suporte, devido a acomodação


do edifício com o tempo; a deformação lenta da estrutura de concreto armado; variações
de temperatura e umidade; ausência de vergas, contravergas e juntas de dessolidarização;
utilização da argamassa colante após o tempo aberto indicado; assentamento sobre super-
fície contaminada; mão de obra não qualificada e falta de controle dos serviços.

As trincas, gretamento e fissuras são patologias que aparecem pela perda da inte-
gridade da superfície da placa cerâmica. Trincas são rupturas no corpo da placa cerâmica
provocadas por esforços mecânicos, com aberturas superiores a 1 mm, que podem evoluir
para o destacamento das placas. O gretamento são aberturas inferiores a 1 mm e ocorrem
na superfície esmaltada da peça, considerado um defeito estético. As fissuras são rompi-
mentos nas placas, com aberturas inferiores a 1mm e não causam a ruptura total.

As causas destas patologias são a dilatação e retração das placas cerâmicas, que
ocorrem quando há variação de temperatura e umidade; deformação estrutural excessiva;
ausência de vergas, contravergas e juntas de dessolidarização; retração da argamassa co-
lante ou emboço.

As eflorescências são patologias que surgem na superfície no revestimento ce-


râmico, pelo depósito cristalino de cor esbranquiçada, comprometendo a aparência do
revestimento. Ocorre quando os sais solúveis nas placas cerâmicas, na alvenaria, na arga-
massa colante ou emboço e no rejunte são transportados pela água, da construção ou de
infiltrações, através dos poros das placas cerâmicas. Quando em contato com o ar, esses
sais se solidificam, causando os depósitos.

Para evitar o aparecimento de eflorescências é necessário eliminar os sais solúveis,


a presença de água e a porosidade das placas cerâmicas; reduzir o consumo de cimento
Portland na argamassa de revestimento; utilizar placas cerâmicas queimadas em altas tempe-
raturas, que eliminam os sais solúveis da composição e a umidade residual; garantir o tempo
para a secagem de todas as camadas anteriores à aplicação do revestimento cerâmico.

Para remover as eflorescências deve ser efetuada a lavagem da superfície do re-


vestimento. Deve-se evitar o uso de ácido muriático na limpeza das placas cerâmicas. Os
depósitos podem voltar a ocorrer, porém com o passar do tempo tendem a diminuir, à
medida que os sais são eliminados.

A deterioração das juntas e rejuntes são patologias que comprometem o desem-


penho dos revestimentos cerâmicos como um todo, visto que são as juntas e rejuntes os
responsáveis pela estanqueidade do revestimento cerâmico e pela capacidade de absorver
deformações.

Os sinais de que esta patologia está acontecendo são a perda da estanqueidade e


o envelhecimento do material de preenchimento. A perda da estanqueidade pode ocorrer
devido a procedimentos inadequados de limpeza, podendo ocasionar a deterioração do ma-
terial aplicado, que junto com os agentes atmosféricos agressivos e solicitações mecânicas
da estrutura, causam fissuração e infiltração de água. O envelhecimento das juntas, quando
a base de cimento, que possui grande durabilidade, não apresenta grandes problemas. Este

51
UNIDADE 1 | ROCHAS, MATERIAIS CERÂMICOS E VIDROS

envelhecimento é observado na presença de agentes agressivos, como chuva ácida e apare-


cimento de fissuras. Se as juntas possuírem resinas, estas de origem orgânica, pode acontecer
o envelhecimento. A deterioração pode ocorrer pela ação de micro-organismos.

Para evitar esta patologia deve ser feito o controle da execução do rejuntamento e
do preenchimento das juntas de movimentação, e a escolha dos materiais devem atender
os requisitos do projeto. Após o período de garantia, as juntas e rejuntes devem ser inspe-
cionadas e se necessário trocadas.

Nesse estudo, foram analisados questionários enviados a dez construtoras de For-


taleza, totalizando quatorze obras analisadas. Após, foram selecionadas quatro obras para
o estudo de caso. O estudo das causas das patologias nestas obras foi realizado através de
entrevistas com os engenheiros das construtoras, observações visuais, registros fotográfi-
cos, análise documental e ensaios laboratoriais.

Nos resultados, apenas duas empresas não apresentaram patologias nos revesti-
mentos cerâmicos das fachadas. Uma delas utiliza o método de assentamento de cerâmica
úmido sobre úmido. A outra empresa utiliza argamassa industrializada, com projeto de
produção do revestimento externo e controle do processo.

A pesquisa indicou a necessidade de melhoria de qualidade dos projetos de re-


vestimento; melhoria do controle das fases de planejamento, suprimentos e produção e
treinamento da mão de obra envolvida. A ausência de juntas de movimentação e des-
solidarização, e deficiência no assentamento das cerâmicas foram os fatores críticos no
descolamento das placas.

Mais uma vez, fica evidente a necessidade do projeto de fachada e a capacitação da mão-
-de-obra para evitar o aparecimento de patologias.

FONTE: FONTENELLE, A. M.; MOURA, Y. M. Revestimento cerâmico em fachadas: estudo


das causas das patologias. Fortaleza, 2004. Disponível em: https://bit.ly/37RFs5q. Acesso em:
9 de nov. 2019.

52
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os materiais cerâmicos são materiais obtidos pela secagem e cozimento de ma-


teriais argilosos. A matéria-prima utilizada empregada na fabricação de pro-
dutos cerâmicos são as argilas e os desengordurantes.

• Os produtos cerâmicos são muito utilizados na construção civil pela sua razo-
ável resistência mecânica e durabilidade, além do custo acessível e possibilida-
des estéticas.

• A fabricação de materiais cerâmicos é dividida em quatro etapas, sendo elas: ex-


ploração de jazidas, preparo da matéria-prima, moldagem e tratamento térmico.

• Na construção civil, a utilização dos materiais cerâmicos se divide em mate-
riais de argila, materiais de louça e revestimento e materiais refratários.

• Os blocos, tijolos e telhas são materiais de argila.

• Materiais de louça e revestimento são os materiais sanitários, azulejos e pastilhas.

• Os materiais refratários são os tijolos refratários.

53
AUTOATIVIDADE

1 Como são obtidos os materiais cerâmicos? Qual sua principal matéria-prima?

R.:

2 Diferencie argila fusível, infusível e refratária. Exemplifique-as com suas


aplicações.

R.:

3 A moldagem é a etapa em que se dá a forma desejada à pasta de cerâmica e


pode ser feita de acordo com quatro processos.

I- Moldagem com pasta fluída: utilizada para pratos e xícaras.


II- Moldagem com pasta plástica mole: utilizada para porcelanas, louças sa-
nitárias, peças elétricas e peças de formatos complexos.
III- Moldagem com pasta plástica consistente: utilizada para tijolos, tubos, te-
lhas e refratários.
IV- Moldagem a seco: utilizada para ladrilhos, azulejos, tijolos e telhas de
maior qualidade.

De acordo com os produtos fabricados a partir de cada processo de molda-


gem, assinale a alterativa correta.
a) ( ) I, II e III estão corretos.
b) ( ) I, III e IV estão corretos.
c) ( ) II e IV estão corretos.
d) ( ) III e IV estão corretos.
e) ( ) Todas as alternativas são incorretas.

4 A secagem é a fase em que a água que foi utilizada para dar plasticidade à
argila é removida. O processo se inicia por uma secagem natural, seguida
pela secagem artificial em que a temperatura poderá alcançar 85 °C. De
acordo com a secagem podemos afirmar que:

I- A secagem natural é feita pela exposição do material ao ambiente.


II- A secagem artificial pode ser feita por ar quente e úmido, tunei e infravermelho.
III- Atualmente, a secagem por infravermelho é amplamente utilizada.

De acordo com as afirmações acima, assinale a alterativa correta.


a) ( ) Apenas I está correta.
b) ( ) I e II estão corretas.
c) ( ) I e III estão corretas.
d) ( ) Todos estão corretas.
e) ( ) Todas estão incorretas.

54
5 Os principais materiais cerâmicos utilizados na construção civil podem ser
divididos de forma genérica em materiais de argila, materiais de louça e
revestimento e materiais refratários. Explique cada um deles e exemplifique
sua utilização.

R.:

6 Calcule a quantidade de telhas colonial e portuguesa que são necessárias


para uma cobertura de duas águas de uma área de 80 m² total (5 m x 8 m/
água). Utilize as inclinações mínimas.

R.:

55
56
UNIDADE 1
TÓPICO 3

VIDROS

1 INTRODUÇÃO
O vidro é um material utilizado desde a mais remota antiguidade. Um
vidro natural, a obsidiana, já era utilizado há milhares de anos pelo homem pré-
-histórico como arma e ferramenta, sendo desde aquela época, um material para
muitas aplicações.

Há relatos da utilização do vidro em 5.000 a.C., pelos egípcios, nos túmu-


los dos faraós. Por volta de 1.500 a.C. começou a utilização do vidro na forma de
peças ocas, tais como copos e vasos. Sua fabricação era feita utilizando matrizes,
ou moldes, que eram destruídos para deixar as peças ocas. Somente em 250 a.C.,
na Síria, que houve a descoberta do modo de soprar para fabricação das peças
(BAUER, 2014).

Durante o Império Romano, houve um grande crescimento da fabricação


dos vidros. Nesta época, não eram transparentes, mas translúcidos, com tonalida-
des esverdeadas. Isso se devia às impurezas do ferro (BAUER, 2014). Na Figura
29 podemos visualizar uma das etapas da fabricação do vidro.

FIGURA 29 – FABRICAÇÃO DO VIDRO

FONTE: <https://bit.ly/2NonttO>. Acesso em: 26 mar. 2020.

57
UNIDADE 1 | ROCHAS, MATERIAIS CERÂMICOS E VIDROS

A utilização do vidro se tornou comum no Século XX. Mais recentemente,


com o aperfeiçoamento dos fornos e o beneficiamento das matérias-primas, o vi-
dro encontra-se espalhado pelo mundo inteiro como um notável material ampla-
mente utilizado nas construções, principalmente em aberturas e fachadas, devido
as suas características de resistência mecânica e as suas propriedades térmicas,
óticas e acústicas (LARA, 2013).

O vidro é um material complexo. Pode ser considerado uma solução só-


lida de silicatos alcalinos-terrosos em silicatos alcalinos simples e mais fusíveis
(PETRUCCI, 1995).

E
IMPORTANT

O vidro é uma substância inorgânica, amorfa e fisicamente homogênea, ob-


tida pelo resfriamento de uma massa em fusão que enrijece através de um aumento con-
tínuo da viscosidade.

A estrutura atômica do vidro lhe concede qualidades singulares. Os vi-


dros não são nem líquidos, nem verdadeiramente sólidos cristalinos, é uma jun-
ção dos dois sendo um liquido super-resfriado (BAUER, 2014).

Em substâncias líquidas, com a diminuição da temperatura, ocorre a so-


lidificação. Há uma mudança de natureza estrutural dessa substância ao passar
do estado líquido para o estado sólido, e, nesta mudança de fase, a temperatura
permanece constante, sendo conhecida como temperatura de fusão. Este mesmo
processo acontece no aquecimento de substâncias, que passam do estado sólido
para o líquido, na temperatura de liquefação.

Nos vidros, não acontece um patamar de cristalização, pois ao diminuir


a temperatura não ocorre mudança estrutural no material. Desta forma, não são
formados cristais, fibras, grãos ou qualquer organização de átomos. Não havendo
forma estrutural organizada, diz-se, então, estado amorfo (sem forma) e a fusão,
chamada de fusão vítrea.

Basicamente, o vidro é o resultado da fusão e do resfriamento de maté-


rias-primas abundantes na natureza, em que a areia é o elemento predominante.
Quimicamente, o vidro é um líquido de altíssima viscosidade. Para fins práticos,
o vidro é sólido em temperatura ambiente.

A composição do vidro mais utilizado no mundo, o calco-sódico, é formado por


70% de dióxido de silício, 15% de óxido de sódio, 10% de óxido de cálcio e 5% de outros
óxidos (BAUER, 1994). A composição do vidro pode ser visualizada na Figura 30:

58
TÓPICO 3 | VIDROS

FIGURA 30 – COMPOSIÇÃO DO VIDRO

FONTE: A autora

Na produção de vidro, podemos ter três tipos de materiais resultantes: o


vidro comum, o float e o cristal (BAUER, 1994).

O vidro comum e o float têm praticamente a mesma composição química


e resistência mecânica. Suas diferenças estão na aparência e propriedades óticas.
Enquanto o vidro possui ondulações que produzem distorções na imagem, o float
não possui ondulações, tem maior qualidade, menos defeitos e não produz dis-
torções na imagem (BAUER, 1994).

Os cristais são vidros com características de transparência e brilho. O bri-


lho é consequência da utilização do chumbo, que aumenta o índice de refração
do vidro. Não é indicada sua utilização na construção civil, e sim na fabricação de
copos, taças e vasos (BAUER, 1994).

2 CLASSIFICAÇÃO DO VIDRO
De acordo com Petrucci (1995), os vidros podem ser classificados de di-
versas formas. Neste subtópico, apresentaremos as principais classificações dos
vidros, conforme o autor. De acordo com o tipo, os vidros classificam-se em:

a) Vidro recozido: são os vidros que não recebem nenhum tipo de tratamento
térmico ou químico após sua saída do forno e resfriamento gradual.
b) Vidro de segurança temperado: são os vidros que foram submetidos a algum
tipo de tratamento térmico, através do qual foram introduzidas tensões ade-
quadas. Esse tipo de vidro, ao partir-se, desintegra-se em pequenos pedaços,
sendo menos cortante que os vidros recozidos.
c)Vidro de segurança laminado: são compostos por várias chapas de vidro, uni-
das por películas aderentes.
d) Vidro de segurança aramado: são formados por uma única chapa de vidro,
contendo no seu interior fios metálicos, que são incorporados na massa duran-
te a fabricação. Esse tipo de vidro, ao quebrar, se mantem preso nos fios.

59
UNIDADE 1 | ROCHAS, MATERIAIS CERÂMICOS E VIDROS

e) Vidro térmico absorvente: são os vidros que absorvem os raios infraverme-


lhos, em cerca de 20%, reduzindo o calor transmitido através dele, isto é, são
vidros de isolamento térmico.
f) Vidro composto: são os vidros formados por duas ou mais chapas de vidro,
que ao serem seladas permanecem com vazios entre as chapas, preenchidos
com gás desidratado. São utilizados com a finalidade de isolamento térmico e
acústico (PETRUCCI, 1995).

Quanto à forma, os vidros podem ser classificados em:

a) Chapa plana;
b) Chapa curva;
c) Chapa perfilada;
d) Chapa ondulada (PETRUCCI, 1995).

Quanto à transparência, podem ser classificados em:

a) Vidro transparente: transmite a luz e permite a visão nítida através dele.


b) Vidro translúcido: transmite a luz em vários graus de difusão, não permite a
visão nítida através dele.
c) Vidro opaco: impede a passagem de luz (PETRUCCI, 1995).

Quanto ao acabamento da superfície, classificam-se em:

a) Vidro liso: são os vidros transparentes, que apresentam leve distorção de ima-
gens refratadas.
b) Vidro polido: são os vidros transparentes, permsubtópico a visão sem a distor-
ção das imagens, pelo tratamento superficial.
c) Vidro impresso ou vidro fantasia: são os vidros que, durante a fabricação, são
impressos desenhos em uma ou nas duas superfícies.
d) Vidro fosco: são os vidros translúcidos, pelo tratamento mecânico ou químico,
em uma ou nas duas superfícies.
e) Vidro espelhado: são os vidros que refletem totalmente os raios luminosos,
pelo tratamento químico sobre uma das superfícies.
f) Vidro gravado: são os vidros que apresentam ornamentos, pelo tratamento
químico, em uma ou nas duas superfícies.
g) Vidro esmaltado: são os vidros com aplicação de esmalte vitrificável em uma
ou nas duas superfícies.
h) Vidro termorrefletor: são os vidros coloridos e refletores, feitos em alta tempe-
ratura, pelo tratamento químico, em uma das superfícies (PETRUCCI, 1995).

Quanto à coloração, classificam-se em:

a) vidro incolor;
b) vidro colorido (PETRUCCI, 1995).

60
TÓPICO 3 | VIDROS

Quanto à colocação, podem ser classificados em:

a) em caixilhos;
b) autoportantes;
c) mista (PETRUCCI, 1995).

2.1 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DOS


VIDROS
Os vidros podem apresentar muitas características e propriedades. Neste
subtópico, iremos abordar as mais importantes para utilização dos vidros, princi-
palmente na construção civil, de acordo com Petrucci (1995).

Densidades: as densidades do vidro podem ser muito variáveis, dependendo


da forma de fabricação e do tipo de vidro. Alguns exemplos são o cristal ordi-
nário, que tem densidade de 3,33; o vidro para óculos, que tem densidade de
2,46; vidro ordinário, que tem densidade de 2,53; e o vidro de garrafas, que tem
densidade de 2,64.
Calor específico: pode ser de 5 a 10 vezes maior que o calor específico da água.
Transparência: geralmente os vidros são transparentes, porém podem também
apresentar opacidade. A transparência do vidro está diretamente relacionada
ao seu estado amorfo. Essa característica é inalterável com o tempo ou contato
com ácidos e bases.
Permeabilidade: os vidros são impermeáveis aos gases e líquidos. São permeá-
veis a radiações ultravioleta e infravermelhos.
Condutibilidade: os vidros são maus condutores de calor e eletricidade.
Porosidade: não apresentam porosidade aos gases e líquidos.
Dilatação: o coeficiente de dilatação do vidro ordinário pouco se difere dos coefi-
cientes do aço e do concreto armado. Em alguns casos, é ligeiramente inferior.
Resistência ao choque térmico: os vidros são muito frágeis ao choque térmico.
Isso se resulta do coeficiente de dilatação, do calor especifico, da condutibilida-
de térmica e do módulo de elasticidade. Os vidros frágeis se quebram em um
resfriamento brusco de 80 °C. Os vidros com melhor qualidade suportam até
150 °C. Quanto ao aquecimento, são mais resistentes. Os mais resistentes são
os vidros pyrex e de sílica.
Reciclabilidade: os vidros são materiais que podem ser reciclados.

3 PRODUÇÃO DOS VIDROS


A fabricação do vidro consiste na mistura dos componentes, aquecimento
à temperatura de fusão e resfriamento para moldagem (LARA, 2013). A seguir,
faz-se um ligeiro reaquecimento para alívio das tensões produzidas no processa-
mento. Estas etapas podem ser conferidas no fluxograma a seguir, na Figura 31.

61
UNIDADE 1 | ROCHAS, MATERIAIS CERÂMICOS E VIDROS

FIGURA 31 – FLUXOGRAMA DAS ETAPAS DO PROCESSO DE PRODUÇÃO DO VIDRO

FONTE: A autora

3.1 MATÉRIA-PRIMA
O vidro é um material que pode ser considerado como uma solução sólida
de silicatos, alcalino-terrosos em silicatos alcalinos simples e mais fusíveis (PE-
TRUCCI, 1995). Conforme Lara (2013), os elementos principais são:

a) Sílica – elemento com função vitrificante proveniente das areias dos rios (areias
lavadas).
b) Barrilha – nome comercialmente dado ao carbonato de sódio ou potássio, pro-
duzido a partir do sal de cozinha. Elemento fundente.
c) Calcário e Dolomita – elementos estabilizantes que aumentarão a dureza, a
resistência mecânica e a durabilidade dos vidros.
d) Aditivos – provenientes dos feldspatos, vão identificar vidros específicos.
e) Cacos de vidros – (± 20%) inseridos na massa em fusão.

No Gráfico 1, podemos visualizar a composição do vidro de acordo com


seus elementos.

GRÁFICO 1 – COMPOSIÇÃO NA MATÉRIA-PRIMA

FONTE: A autora

Os vidros puros são constituídos basicamente pelo elemento vitrificante,


porém ele necessita de altas temperaturas para fusão e apresenta alta instabilida-
de química. Por isso, os fundentes são adicionados, eles diminuem a temperatura
de fusão. Os estabilizantes servem para impedir que o vidro se transforme em
uma goma adesiva. Os aditivos, compostos químicos, servem para modificar ou
destacar a propriedade dos vidros. A matéria-prima e as adições são moídas e
misturadas em proporções apropriadas, de acordo com o tipo do vidro a ser pro-
duzido e o processo de moldagem utilizado (LARA, 2013).
62
TÓPICO 3 | VIDROS

3.2 FUSÃO E REFINO


A fusão dos materiais é feita em fornos, nos quais a temperatura passa de
1500 °C. Nesses fornos, as matérias-primas passaram do estado líquido para um
estado pastoso, com pouca viscosidade (LARA, 2013).

O refino é a retirada das bolhas de gás existentes na massa durante a fu-


são. Pode ser feito de forma manual, através da agitação lenta da massa, ou de
forma química, pela adição de produtos, tais como o óxido de arsênio com nitrato
de potássio. É nesta etapa que o aspecto do vidro e a densificação da massa são
garantidos (LARA, 2013).

Dentro do forno, há uma diferença de temperatura, causando a criação de


duas correntes de massa vítrea, sendo uma extremamente aquecida e a outra, é
mais fria, na qual o material fica pronto para sair do forno para a etapa da confor-
mação (LARA, 2013).

3.3 CONFORMAÇÃO
A etapa da conformação é a da moldagem dos vidros, isto é, dar forma à
peça, é moldar o produto final. Para a conformação, a temperatura usual é cerca
de 800 °C, na qual o vidro encontra-se maleável, já apresentando alguma rigidez.
O molde deve estar aquecido e pode ser de ferro fundido ou de aço, preferencial-
mente (LARA, 2013).

A moldagem, que pode ser de três formas, é escolhida de acordo com o


produto final. As formas de moldagem são:

a) prensagem: para vidros de maiores espessuras;


b) moldagem por sopro: para tubos de pequenas espessuras;
c) estiramento: para o vidro plano (LARA, 2013).

3.4 RECOZIMENTO
Após a conformação, os vidros encontram-se em temperatura média de
600 °C e não podem ser deixados em temperatura ambiente. O vidro recém mol-
dado apresenta grandes tensões internas, sendo muito sensível ao choque. Por
esta característica, se faz necessário que o vidro seja levado novamente ao forno,
para aliviar as tensões criadas na fabricação, porém nesta etapa são utilizados ou-
tros fornos, os fornos de recozimento, para que ocorra o resfriamento lentamente
(LARA, 2013).

As grandes tensões internas que o vidro apresenta após a conformação se


originam pelo fato de os vidros serem maus condutores de calor. Quando a parte

63
UNIDADE 1 | ROCHAS, MATERIAIS CERÂMICOS E VIDROS

externa entra em contato com o ambiente, ela esfria rapidamente, permanecendo


quente na parte interna. Enquanto o exterior está frio e tracionado, o interior está
quente e comprimido. Essas tensões conferem muita fragilidade ao vidro, por isso a
necessidade de a temperatura ser rebaixada de forma lenta e gradual (LARA, 2013).

4 UTILIZAÇÃO DE VIDROS NA CONSTRUÇÃO CIVIL


Os vidros são amplamente utilizados na construção civil, seja na forma de
esquadrias ou fachadas, sob a forma de lâminas, ou como blocos e fibras.

E
IMPORTANT

Na forma de esquadrias, utilizamos os vidros na forma de chapas planas ou


curvas, de espessura variável, empregados em janelas, portas, divisórias, elementos deco-
rativos, espelhos. Nas fachadas, o vidro faz parte do sistema construtivo, podendo ser na
modalidade de cortinas de vidro ou fachadas de pele de vidro.

A seguir, serão expostos os principais tipos de vidros utilizados na cons-


trução civil de acordo com Bauer (1994) e Lara (2013).

4.1 VIDRO COMUM


O vidro comum, chamado de vidro recozido, é obtido sem nenhum outro
tipo de tratamento além daqueles que fazem parte do seu processo de fabricação.
Esse vidro possui uma espessura que varia entre 2 e 6 mm e acabamentos que vão
desde o tipo liso (transparente) aos mais variados desenhos de impressão (fanta-
sia). Quando quebra, transforma-se em perigosos pedaços pontiagudos e lâminas
altamente cortantes.

Na construção civil é utilizado em esquadrias com caixilhos. Um exemplo


de utilização do vidro comum pode ser visualizado na Figura 32.

64
TÓPICO 3 | VIDROS

FIGURA 32 – VIDRO COMUM

FONTE: <https://bit.ly/31djN6j>. Acesso em: 26 mar. 2020.

4.2 VIDRO DE SEGURANÇA


Os vidros de segurança são vidros que, ao serem fraturados, produzem
fragmentos menos suscetíveis de causar ferimentos graves que os vidros comuns.

O vidro de segurança desenvolveu-se principalmente com os avanços da


indústria automobilística. Começou a ser empregado em automóveis na déca-
da de 1920. Na construção civil, começou a ser utilizado na década de 1960, em
construções de grande risco. Atualmente, no Brasil, os vidros de segurança são
obrigatoriamente utilizados em:

• balaustradas, parapeitos e sacadas;


• vidraças não verticais sobre passagens;
• claraboias e telhados;
• vitrines;
• vidraças que dão para o exterior, sem proteção adequada, até 0,10 m do piso,
em pavimentos térreos e 0,90 do piso nos demais pavimentos.

Os vidros de segurança podem ser de três tipos: temperado, laminado e


aramado.

4.2.1 Vidro de segurança temperado


Os vidros de segurança temperados recebem este nome pelo seu processo
de fabricação que inclui a têmpera, processo que consiste em aquecer o material
a uma temperatura crítica e depois resfriá-lo rapidamente.

65
UNIDADE 1 | ROCHAS, MATERIAIS CERÂMICOS E VIDROS

A têmpera no vidro produz um sistema de tensões que ocasiona no au-


mento da resistência, induzindo tensões de compressão na superfície. Qualquer
carga aplicada no vidro temperado, antes de tracionar as camadas externas, neu-
traliza as tensões de compressão ali induzidas.

Devido a estas tensões, quando o vidro temperado se rompe, em qualquer


ponto, a chapa se quebra inteira em pequenos fragmentos sem arestas cortantes
e lascas pontiagudas.

Este vidro apresenta deformações características, com leves empenamen-


tos, que não podem ser consideradas um defeito pois são consequências do tem-
peramento. Este tipo de vidro não pode sofrer recortes, perfurações e lapidações.

Os vidros temperados produzidos no Brasil podem ser lisos ou impres-


sos. Os lisos são o float incolor ou verde, e os vidros cinza e bronze. Os impressos
são o dífano e o pontilhado.

Na construção civil, são utilizados onde se faz necessária a máxima trans-


parência e o mínimo ou ausência de estruturas horizontais e verticais de susten-
tação. Podem ser utilizados em esquadrias com caixilhos ou autoportantes. São
aplicados também fachadas de edifícios, divisórias, portas, boxes de banheiro,
vitrines e mesas. Um exemplo de utilização do vidro temperado pode ser visua-
lizado na Figura 33.

FIGURA 33 – VIDRO TEMPERADO

FONTE: <https://bit.ly/2BBmtjC>. Acesso em: 26 mar. 2020.

66
TÓPICO 3 | VIDROS

4.2.2 Vidro de segurança laminado


Os vidros de segurança laminados consistem em duas lâminas de vidro
fortemente interligadas, sob calor ou pressão, por uma ou mais camadas de resi-
na polivinil butiral (PVB) ou outra, que devem ser resistentes e flexíveis.

Quando o vidro laminado quebra, os fragmentos ficam presos ao butiral,


minimizando o risco de lacerações ou queda dos fragmentos.

São ótimos filtros de raios ultravioleta, reduzindo sua transmissão em até


96%. São utilizados também como isolantes acústicos, uma vez que o PVB absor-
ve e amortece as vibrações sonoras, reduzindo a transmissão.

Os vidros de segurança laminados podem ser simples, isto é, compostos


por duas lâminas de vidro e uma película de PVB, ou múltiplos, isto é, compostos
de três ou mais lâminas de vidro e duas ou mais películas de PVB.

Podem ser fabricados com grande variedade de cores e espessuras, bem


como diversos tipos de vidro, como os incolores, coloridos e termorrefletores.

Na construção civil, os vidros laminados simples são utilizados em facha-


das de edifícios, paredes divisórias, portas, escadas, parapeitos, vitrines, clara-
boias. Os laminados múltiplos são indicados em casos especiais, com maiores exi-
gências de segurança, como visores de cabines de vigilância, torres de segurança,
joalherias, guichês especiais, piscinas e aeroportos. Um exemplo de utilização do
vidro laminado pode ser visualizado na Figura 34.

FIGURA 34 – VIDRO LAMINADO

FONTE: <https://bit.ly/3dplwrx>. Acesso em: 26 mar. 2020.

67
UNIDADE 1 | ROCHAS, MATERIAIS CERÂMICOS E VIDROS

4.2.3 Vidro de segurança aramado


Os vidros de segurança aramados são formados por uma chapa de vidro
com fios metálicos. Sua principal característica é a alta resistência ao fogo, sendo
considerado um material antichamas.

Quando o vidro aramado quebra, ele não se estilhaça, e seus fragmentos


ficam presos na tela metálica do seu interior. São resistentes à corrosão, não se
decompõe e nem enferrujam. No Brasil, os vidros aramados são produzidos in-
colores e translúcidos, com malha metálica quadrara de ½”.

Na construção civil, como é resistente ao fogo, são utilizados em portas


corta-fogo, janelas, dutos de ventilação vertical e passagens para saídas de in-
cêndio. Também é indicado em locais que podem sofrer impactos, como peitoris,
sacas, divisórias e coberturas. Um exemplo de utilização do vidro aramado pode
ser visualizado na Figura 35.

FIGURA 35 – VIDRO ARAMADO

FONTE: <https://bit.ly/3dplwrx>. Acesso em: 26 mar. 2020.

4.2.4 Vidros coloridos e termorrefletores


Os vidros coloridos são utilizados na construção civil para, além do aspecto
estético, reduzir o consumo energético de uma construção, visto que apresentam
propriedades de conforto térmico. Os vidros coloridos mais utilizados na constru-
ção civil são das tonalidades bronze, verde e cinza. Com preocupações ambientais
de redução no consumo de energia, se faz necessária a utilização de vidros absor-
ventes e termorrefletores, pois eles absorvem ou refletem a radiação solar, trazendo
maior conforto térmico para a edificação.

Os vidros absorventes são produzidos pela introdução de óxidos metálicos


na massa do vidro, que produzem as cores do vidro, reduzindo a transmissão solar

68
TÓPICO 3 | VIDROS

e aumentando a absorção do vidro. Já os termorrefletores são produzidos aplican-


do uma camada de metal ou óxido metálico na superfície, suficientemente fina para
continuar transparente.

Em locais muito quentes, a solução mais econômica é o envidraçamento


utilizando vidros absorventes, que deixarão passar menor quantidade de calor. Em
locais mais frios, a solução mais econômica são vidros incolores, que deixarão pas-
sar maior quantidade de calor. Na escolha do material utilizado no envidraçamen-
to também devemos levar em consideração o aparecimento de tensões térmicas.

O vidro geralmente é colocado com as bordas cobertas por caixilhos, alve-


naria. A área das bordas, protegida das radiações, mantem-se frias. As áreas expos-
tas aumentam de calor e expandem. O diferencial de expansão produz tensões que,
se ultrapassarem a resistência à tração do vidro, resultarão em fraturas térmicas.

Quanto maior a espessura e o tamanho das chapas de vidro, maior a chance


do aparecimento de trincas nas bordas.

Na construção civil é utilizado em fachadas, janelas e sacadas. Um exemplo


de utilização do vidro termorrefletor pode ser visualizado na Figura 36.

FIGURA 36 – VIDRO TERMORREFLETOR

FONTE: <http://i0.wp.com/vasiglass.pt/wp-content/uploads/2015/04/Vidro-Controle-Solar.
jpg?resize=1024%2C681>. Acesso em: 26 mar. 2020.

69
UNIDADE 1 | ROCHAS, MATERIAIS CERÂMICOS E VIDROS

4.2.5 Vidros impressos ou fantasias


Os vidros impressos têm composição química semelhante aos floats. São
translúcidos, com figuras ou desenhos geométricos, podendo ser em uma ou nas
duas superfícies, difundindo a luz transmitida e proporcionando privacidade.

Os vidros impressos ou fantasias podem ser fabricados numa variedade de


desenhos e acabamentos. Essa produção pode ser através do tratamento com áci-
dos e jatos de areia ou esmalte (vidros jateados ou esmaltados), conforme Tabela 9.

TABELA 9 – TIPOS DE VIDROS IMPRESSOS


Espessura
Tipo Desenho Acabamento
(mm)
Canelado 4 Canaletas verticais Brilhante
Pequenas reentrâncias e saliências Texturizado
Pontilhado 4/6/8/10
superficiais
Desenhos em alto-relevo de forma
Martelado 4 Brilhante
circular e ranhurados
Miniboreal 4 Superfície pontilhada Texturizado
Silésia 4 Losangos Texturizado
Jacarezinho 4 Pequenos retângulos em alto-relevo Brilhante
Desenho em alto-relevo de forma
Bolinha 4 Brilhante
circular
Opaco 4/6/8/10 Liso Fosco
Esmaltado 4/6/8/10 Liso Esmaltado
FONTE: Adaptado de Petrucci (1995)

Sua utilização na construção civil é indicada quando se deseja lumino-


sidade com algum grau de privacidade. São aplicados em painéis decorativos,
janelas, portas, divisórias, fachadas e boxes de banheiro. Um exemplo de vidro
fantasia pode ser visualizado na Figura 37.

70
TÓPICO 3 | VIDROS

FIGURA 37 – VIDRO FANTASIA

FONTE: <https://bit.ly/3erFF1L>. Acesso em: 26 mar. 2020.

4.2.6 Vidro Autolimpante


Os vidros autolimpantes são produzidos com um vidro float que recebe
uma camada no processo de fabricação. Essa camada utiliza a força dos raios
ultravioletas e da água da chuva para limpar a sujeira e os resíduos que se acu-
mulam no exterior.

São visualmente idênticos aos vidros comuns e garantem uma visão níti-
da. A camada autolimpante é integrada ao próprio vidro e tem durabilidade alta.

Do ponto de vista da sustentabilidade, sua utilização é indicada pois ne-


cessita de limpeza com menor frequência, o que reduz o consumo de água e de
detergentes, que podem afetar o ecossistema.

Na construção civil são utilizados sempre na parte externa de edificações


como fachadas, coberturas, janelas, portas, sacadas e em áreas altamente poluí-
das. Um exemplo de vidro autolimpante pode ser visualizado na Figura 38.

71
UNIDADE 1 | ROCHAS, MATERIAIS CERÂMICOS E VIDROS

FIGURA 38 – VIDRO AUTOLIMPANTE

FONTE: <http://i1.wp.com/vasiglass.pt/wp-content/uploads/2015/04/Vidro-Auto-Limpeza.
jpg?resize=1024%2C768>. Acesso em: 26 mar. 2020.

4.2.7 Tijolos de Vidro


Os tijolos de vidro foram desenvolvidos em 1929, produzido com duas
peças de vidro quadradas ou retangulares, unidas por fusão em altas temperatu-
ras, com o ar no espaço entre os vidros desidratado e evacuado, mantendo o vá-
cuo entre as peças. Podem ser transparentes ou translúcidos, com ou sem adição
de fibras de vidro.

São muito utilizados na arquitetura como elementos de decoração, porém


com a utilização de tijolos de vidro, podem-se erguer paredes com até 2,50 metros
de altura sem a necessidade de armadura.

Após essa altura, é necessário estruturar o painel. Um exemplo da utiliza-


ção de tijolos de vidro pode ser visualizado na Figura 39.

72
TÓPICO 3 | VIDROS

FIGURA 39 – TIJOLOS DE VIDRO

FONTE: <https://casaeconstrucao.org/wp-content/uploads/2016/07/tijolo-de-vidro-2.jpg>.
Acesso em: 26 mar. 2020.

4.2.8 Fibra de Vidro


A fibra de vidro é o material vítreo moldado em fios de grandes comprimen-
tos e pequenos diâmetros que apresentam notável resistência à tração.

Na fabricação da fibra de vidro são utilizadas bolinhas de gude aquecidas em


forno elétrico, cujo fundo é formado por centenas de minúsculos furos. O material
líquido é estirado (puxado) e os fios resultantes, enrolados em forma de bobinas.

Normalmente, as fibras de vidro são aplicadas em conjunto com outros ma-


teriais como elemento de reforço em concreto, alumínio, asfalto, papel e plástico, for-
mando materiais compósitos para componentes sanitários, coberturas, isolamentos
térmicos e acústicos, cortinas e telas de cinemas, caixas de água, filtros e carrocerias
de automóveis.

A lã de vidro tem sua fabricação semelhante a do “algodão doce”. O vidro


líquido cai num recipiente com furos laterais, que gira a determinada velocidade. As
fibras saem chocando-se contra um anteparo, recebendo um jato de ar, um jato de ar,
já apresentando a formação da manta.

As lãs de vidro são utilizadas para isolamento térmico, elétrico e acústico. São
impermeabilizantes, desde que não sejam comprimidas, e em função de sua com-
posição química, podem atacar superfícies metálicas. São, contudo, incombustíveis,

73
UNIDADE 1 | ROCHAS, MATERIAIS CERÂMICOS E VIDROS

resistentes à corrosão, à dissolução e à ação de óleos. São imputrescíveis e inatacáveis


por roedores, porém, é preciso ter cuidado no manuseio, tanto da lã como das fibras
de vidro, pois sendo vidro, são cortantes. Um exemplo de fibra de vidro pode ser
visualizado na Figura 40.

FIGURA 40 – FIBRA DE VIDRO

FONTE: < http://www.sercel.com.br/wp-content/uploads/2015/10/O-que-%C3%A9-e-para-que-


serve-a-fibra-de-vidro.jpg >. Acesso em: 26 mar. 2020.

Para sintetizar, segue a seguir a Tabela 10 com as principais tipos e utiliza-


ções dos vidros na construção civil.

74
TÓPICO 3 | VIDROS

TABELA 10 – USO DE VIDROS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Vidro Uso na Construção Civil


Vidro Comum Esquadrias com caixilhos.
Vidro de Segurança Temperado Fachadas de edifícios, divisórias, portas, boxes
de banheiro, vitrines e mesas
Vidro de Segurança Laminado Fachadas de edifícios, paredes divisórias, por-
tas, escadas, parapeitos, vitrines, claraboias,
visores de cabines de vigilância, torres de se-
gurança, joalherias, guichês especiais, piscinas
e aeroportos
Vidro de Segurança Aramado Portas corta-fogo, janelas, dutos de ventilação
vertical e passagens para saídas de incêndio.
Vidro Colorido e Termorrefletor Fachadas, janelas e sacadas.
Vidro Impresso ou Fantasia Painéis decorativos, janelas, portas, divisórias,
fachadas e boxes de banheiro.
Vidro Autolimpante Fachadas, coberturas, janelas, portas, sacadas.
Tijolos de Vidro Paredes de até 2,5 metros.
Fibras de Vidro Reforço em concreto, alumínio, asfalto, papel e
plástico. Isolamentos térmicos e acústicos, cor-
tinas e telas de cinemas, caixas de água e filtros.
FONTE: A autora

75
UNIDADE 1 | ROCHAS, MATERIAIS CERÂMICOS E VIDROS

LEITURA COMPLEMENTAR

A Importância da reciclagem do vidro

Ana Paula Cesar


Débora Almeida de Paula
Valdevino Krom

A reciclagem do vidro apresenta um rendimento de 100%, isto é, a partir


de uma tonelada de cacos de vidro é possível produzir uma tonelada de vidro
novo. Para obter esta mesma quantidade de vidro seriam necessárias 1,2 tonela-
das da matéria-prima. Há também uma economia no consumo de energia neces-
sária nos fornos durante a reciclagem.

O vidro é totalmente reaproveitável, sendo assim apresenta vários bene-


fícios tais como: redução de energia, valorização do meio ambiente e geração de
empregos. No Brasil, 35% do material produzido é reciclado. O vidro apresenta
três importantes qualidades: 100% reciclável, retornável e reutilizável.

O processo de reciclagem do vidro encontra um grande problema comum,


a coleta dos materiais. O maior cuidado necessário no processo de reciclagem é a
retirada das impurezas presentes no material. Os cacos devem chegar as vidrarias
isentos de impurezas, pois estas podem interferir na qualidade do produto final
ou causar danos aos fornos.

Para um melhor aproveitamento e aumento no valor do produto final é


necessário fazer a pré-lavagem dos vidros retirando todo tipo de contaminante.
Após, os vidros são triturados para reduzir o volume para o transporte.

A reciclagem do vidro apresenta vários benefícios para a sociedade, para


a economia e a natureza, sendo o principal a preservação do meio ambiente, pois
diminui a extração dos recursos naturais e o acúmulo de resíduos gerados.

O Brasil produz cerca de 800 mil toneladas de embalagens de vidro por


ano. Para isto, um quarto da matéria-prima utilizada é reciclada, na forma de
cacos. Parte destes cacos são provenientes do refugo das fábricas e parte retorna
por meio da coleta. O principal mercado para vidros usados são as vidrarias, que
compram o material de sucateiros em forma de cacos ou recebem através de cam-
panhas de reciclagem. Estes voltam para a produção de embalagens, ou podem
ser utilizados na composição de asfalto e pavimentação de estradas, construção
de sistemas de drenagem, produção de fibras de vidro, tintas reflexivas e bijute-
rias. Dentre os benefícios da reciclagem dos vidros estão:

76
TÓPICO 1 | ROCHAS

• menos poluição do ar, água e solo;


• geração de renda pela comercialização dos recicláveis;
• diminuição do desperdício;
• preservação da natureza, reduzindo a captação de matérias-primas;
• geração de empregos na indústria da reciclagem, que em sua maioria não de-
mandam especialização, beneficiando a população carente;
• redução significativa no consumo energético de produção, pois a adição de
cacos reduz o tempo de fusão;
• é uma atividade lucrativa, com forte caráter social.

Se a população se conscientizasse dos benefícios da reciclagem, seria pos-


sível reaproveitar integralmente o vidro, com grandes benefícios ecológicos, eco-
nômicos e sociais.

FONTE: CESAR, A. P.; PAULA, D. A.; KROM, V. A Importância da reciclagem do vidro. 2004.
Disponível em: http://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2004/trabalhos/inic/pdf/IC6-17.pdf.
Acesso em: 26 mar. 2020.

77
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• O vidro é um material complexo. Pode ser considerado uma solução sólida de


silicatos alcalinos-terrosos em silicatos alcalinos simples e mais fusíveis.

• A composição do vidro mais utilizado no mundo, o calco-sódico, é formado
por 70% de dióxido de silício, 15% de óxido de sódio, 10% de óxido de cálcio e
5% de outros óxidos.

• A fabricação do vidro pode ser dividida em quatro etapas, sendo elas: matéria-
-prima, fusão e refino, conformação e recozimento.

• Na construção civil são utilizados diversos tipos de vidros, tais como: comum,
de segurança, colorido e termorrefletor, fantasia, autolimpante.

• Também são produzidas telhas de vidro e fibras de vidro.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

78
AUTOATIVIDADE

1 Quais são as etapas da fabricação dos vidros?

R.:

2 Sobre a matéria-prima dos vidros, analise os itens a seguir:

I- A sílica é o elemento com função vitrificante proveniente das areias dos


rios (areias lavadas).
II- Calcário e Dolomita são elementos estabilizantes que aumentarão a dure-
za, a resistência mecânica e a durabilidade dos vidros.
III- Aditivos são provenientes do carbonato de sódio ou potássio. Tem como
função ser o elemento fundente.

Assinale a alternativa correta.


a) ( ) I e II estão corretos.
b) ( ) I e III estão corretos.
c) ( ) Somente II está correto.
d) ( ) Todas as alternativas são corretas.
e) ( ) Todas as alternativas são incorretas.

3 Quais as diferenças entre o vidro comum, o float e o cristal?

R.:

4 A etapa da conformação é a etapa da moldagem dos vidros. Conformar é


dar forma à peça, é moldar o produto final. A moldagem, que pode ser de
três formas, é escolhida de acordo com o produto final. As formas de mol-
dagem são:

I- Prensagem: para vidros de menores espessuras.


II- Moldagem por sopro: para tubos de grandes espessuras.
III- Estiramento: para o vidro plano.
Assinale a alternativa correta.

a) ( ) I e II estão corretos.
b) ( ) I e III estão corretos.
c) ( ) Somente III está correto.
d) ( ) Todas as alternativas são corretas.
e) ( ) Todas as alternativas são incorretas.

5 Os vidros de segurança podem ser de três formas. Quais são e como impe-
dem os estilhaçamento?

R.:
79
6 Os vidros impressos ou fantasias podem ser fabricados numa variedade de
desenhos e acabamentos. Essa produção pode ser através do tratamento
com ácidos e jatos de areia ou esmalte. De acordo com as características a
seguir, preencha a alternativa com os tipos de vidro corretos.

I- Pequenas reentrâncias e saliências superficiais.


II- Losangos.
III- Superfície pontilhada.
IV- Desenhos em alto-relevo de forma circular e ranhurados.

a) ( ) Silésia, Miniboreal, Martelado e Potilhado.


b) ( ) Potilhado, Silésia, Miniboreal e Martelado.
c) ( ) Pontilhado, Canaleta, Miniboreal e Martelado.
d) ( ) Miniboral, Silésia, Pontilhado e Martelado.
e) ( ) Pontilhado, Martelado, Miniboreal e Canaleta.

7 De acordo com a utilização dos vidros na construção civil, assinale a alter-


nativa que corresponda com os tipos de vidro que seriam mais indicados
em cada situação.

I- Fachadas com alta incidência de raios ultravioletas.


II- Portas corta-fogo.
III- Boxes de banheiro.
IV- Esquadrias com caixilho.

a) ( ) Termorrefletor, aramado, fantasia e comum.


b) ( ) Fantasia, aramado, comum e laminado.
c) ( ) Termorrefletor, laminado, fantasia e comum.
d) ( ) Termorrefletor, aramado, laminado e comum.
e) ( ) Fantasia, aramado, termorrefletor e laminado.

80
UNIDADE 2

MADEIRAS E TINTAS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• reconhecer os tipos de madeira disponíveis para uso na construção civil;

• reconhecer as características e as propriedades das madeiras usadas na


construção civil;

• identificar as etapas da produção da madeira;

• identificar os defeitos que ocorrem nas madeiras;

• entender e distinguir o beneficiamento da madeira e seus materiais resul-


tantes;

• entender o conceito de tintas, vernizes e lacas;

• identificar as tintas por suas composições e propriedades.

• identificar processos de preparo de superfícies para pinturas.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em dois tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – MADEIRAS

TÓPICO 2 – TINTAS

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorve-
rá melhor as informações.

81
82
UNIDADE 2
TÓPICO 1

MADEIRAS

1 INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico, neste primeiro tópico, falaremos sobre as madeiras,
materiais extraídos do caule de árvores, amplamente utilizados na construção
civil, em telhados, esquadrias e pisos, entre outras aplicações. As madeiras apre-
sentam excelentes qualidades físicas, mecânicas e estéticas.

Neste tópico, nosso objetivo é fazer com que você entenda quais são os ti-
pos de madeira e suas características e propriedades; consiga identificar as etapas
da produção da madeira; entenda quais são os defeitos que podem ocorrer nas
madeiras; e aprenda sobre o beneficiamento da madeira e quais são seus mate-
riais resultantes para utilização na construção civil.

A madeira é provavelmente o mais antigo material de construção utiliza-


do pelo homem. Utilizada nas construções palafíticas, conforme o exemplo na Fi-
gura 1, este material precedeu a pedra, por sua facilidade de obtenção e facilidade
de adaptação aos fins previstos (PETRUCCI, 1995).

FIGURA 1 – CONSTRUÇÕES PALAFÍTICAS NOS ALPES

FONTE: <https://i1.wp.com/www.euxus.de/bodensee/a800/69180061-unteruhldingen-
pfahlbaumuseum.jpg>. Acesso em: 7 maio 2020.

83
UNIDADE 2 | MADEIRAS E TINTAS

É um produto vegetal proveniente do lenho dos vegetais superiores, que


são as árvores e os arbustos lenhosos. Apresenta características de heterogenei-
dade e isotropia, que são relacionadas à origem de seres vivos e organizados
(PETRUCCI, 1995).

E
IMPORTANT

A madeira é um produto vegetal extraído do caule das árvores, tradicional-


mente aplicada em edificações como material de telhados, esquadrias ou pisos, encon-
trado ainda aplicações na fabricação de móveis, instrumentos musicais, embarcações e
inúmeros artefatos.

A madeira é o segundo material de construção de maior consumo, ficando


apenas depois do aço. Elas participam de uma construção em todas as suas etapas,
podendo ser definitivas ou provisórias. Destacam-se as fundações, estruturas, pa-
vimentos, esquadrias, revestimentos e coberturas, conforme Figura 2. Também são
utilizadas em obras de engenharia como pontes, lastro de vias férreas, torres, tem-
plos e estruturas de coberturas de grandes vãos, conforme Figura 3 (BAUER, 1994).

FIGURA 2 – ESTRUTURA DE MADEIRA, EM FORTALEZA

FONTE: <https://civilizacaoengenheira.files.wordpress.com/2017/10/iiim1.jpg?w=525>. Acesso


em: 7 maio 2020.

84
TÓPICO 1 | MADEIRAS

FIGURA 3 – PONTE DE MADEIRA EM SNEEK, NA HOLANDA

FONTE: <https://bit.ly/3ba5SiD>. Acesso em: 7 maio 2020.

A madeira apresenta alta resistência em relação ao baixo peso e baixo con-


sumo energético para produção, sendo estas propriedades essenciais para um
material estrutural. Na Tabela 1, podem ser analisadas as propriedades das ma-
deiras quando comparadas a outros materiais muito utilizados em estruturas, o
concreto e o aço (CALIL JÚNIOR; DIAS, 1997).

TABELA 1 – COMPARAÇÃO ENTRE OS MATERIAIS ESTRUTURAIS MAIS UTILIZADOS EM


CONSTRUÇÕES

Módulo de
Densidade Energia para Pro- Resistência
Material Elasticidade
(KN/m³) dução (MJ/m³) (MPa)
(MPa)
Concreto 24 1.920 (óleo) 20 20.000
Aço 78 234.000 (carvão) 250 210.000
Madeira
6 600 (solar) 50 10.000
Conífera
Madeira
9 630 (solar) 90 15.000
Dicotiledônea
FONTE: Adaptado de Calil Júnior e Dias (1997, p. 72)

As desvantagens da utilização da madeira como material de construção,


entre elas as formas limitadas e a vulnerabilidade, fizeram com que este material
fosse substituído pelo aço e concreto, e fosse utilizado apenas para construções
provisórias ou fôrmas. Atualmente, as desvantagens da utilização da madeira são
atenuadas por processos de beneficiamento, como a secagem artificial, tratamen-
tos de preservação e ignifugação. A utilização de estruturas pregadas e coladas
aumentou a liberdade de formas que podem ser executadas (PETRUCCI, 1995).

85
UNIDADE 2 | MADEIRAS E TINTAS

NOTA

As madeiras são materiais considerados universais, abundantes e praticamen-


te inesgotáveis.

As madeiras não são utilizadas somente como materiais da construção


civil, mas também como matérias-primas industriais, como combustível, papel,
rayon, álcoois, resinas e plásticos. É considerado um material universal, pois pode
atender as necessidades humanas, em qualquer região ou país; é abundante, pois
está disponível em grandes quantidades, mesmo tendo um alto desperdício, pois
de cada quatro árvores abatidas, apenas uma chega ao consumidor; é pratica-
mente inesgotável, pois as áreas cultivadas, se consideradas assim e não como
minas e jazidas, podem e devem ser renovadas. Também oferece grande função
de suporte biológico a todos os seres vivos (BAUER, 1994).

E
IMPORTANT

O desmatamento provocado pela extração ilegal de madeiras foi responsável


por muitos problemas ambientais. Atualmente, com uma grande pressão da sociedade, a ex-
tração de madeiras diminuiu e o reflorestamento está aumentando. Mesmo assim, o empre-
go da madeira como material de construção continua sendo viável, uma vez que apresenta
muita beleza e propriedades singulares, muito apreciadas por engenheiros e arquitetos.

2 CLASSIFICAÇÃO
De acordo com Petrucci (1995), podemos classificar as árvores e as madei-
ras. As árvores, das quais são extraídas as madeiras para utilização na construção
civil, pertencem ao ramo das fanerógamos ou espermatófitos, que são vegetais
completos, com raízes, caule, folhas e flores. Sua reprodução se dá através das
sementes e, desta forma, são classificados, de acordo com sua germinação e cres-
cimento, em:

• Endógenas: são os vegetais com a geminação interna. São as árvores tropicais,


monocotiledôneas, como as palmeiras e os bambus, com pouca utilização na
produção de madeiras para fins estruturais.
• Exógenas: são os vegetais com a geminação externa, nas quais o desenvolvi-
mento se processa pela adição de novas camadas, os anéis de crescimento. São
muito utilizadas na produção de madeira para fins estruturais. Compreende as
86
TÓPICO 1 | MADEIRAS

coníferas e as frondosas. As coníferas estão no grupo das gimnospermas, não


produzem frutos e tem folhas em forma de agulhas. Compreendem 35% das
espécies conhecidas, com 400 espécies utilizadas. As frondosas estão no grupo
das angiospermas, produzem frutos e tem folhas achatadas, largas e caducas.
Também são conhecidas como árvores de madeira dura ou de lei, sendo 65%
das espécies conhecidas, com 1500 espécies utilizadas (PETRUCCI, 1995).

De acordo com suas finalidades, as madeiras podem ser classificadas em:

• Madeiras finas: são as madeiras empregadas em marcenaria, esquadrias e


marcos. Exemplos: louro, açoita-cavalos, cedro, vinheira.
• Madeiras duras, ou de lei: são as madeiras empregadas na construção, com
fins estruturais, como em suportes e vigas. Exemplos: grapia, angico, cabriúva.
• Madeiras resinosas: são as madeiras empregadas em construções temporárias
ou que não estão sujeitas a intemperismos. Exemplo: pinho.
FISIOLOGIA E CRESCIMENTO DAS ÁRVORES
• Madeiras brandas: não são madeiras empregadas na construção civil, pois
apresentam baixa durabilidade, porém grande facilidade de trabalho. Exem-
plo: timbaúva (PETRUCCI, 1995).

3 FISIOLOGIA E CRESCIMENTO DAS ÁRVORES



A madeira utilizada na construção civil é um material exogênico, isto é, cres-
ce com adição de camadas externas à casca, conforme as temporadas vão passando.

As árvores são compostas por raízes, caule e a copa. As raízes ancoram as


árvores no solo, e retiram dele a seiva bruta, que são os sais minerais dissolvidos
necessários para o desenvolvimento do vegetal. O caule, que também pode ser cha-
mado de tronco, sustenta a copa e conduz as seivas por capilaridade; a seiva bruta é
conduzida da raiz para as folhas e a seiva elaborada é conduzida das folhas para o
lenho em crescimento. A copa são os ramos, folhas, flores e frutos. Nas folhas ocorre
a seiva elaborada, que é a transformação da água e sais minerais em compostos orgâ-
nicos (BAUER, 1994).

A parte da árvore utilizada na construção civil é o tronco. Desta forma, vamos


analisar sua constituição, conforme a Figura 4, de acordo com Bauer (1994) e Pfeil e
Pfeil (2003).

87
UNIDADE 2 | MADEIRAS E TINTAS

FIGURA 4 – CORTE TRANSVERSAL DE UM TRONCO DE MADEIRA

FONTE: Adaptado de Pfeil e Pfeil (2003, p. 2)

As partes constituintes da madeira são:

• Casca: é a proteção externa das árvores. É formada por uma camada externa mor-
ta, que pode variar sua espessura de acordo com a idade e a espécie, e uma camada
interna, com tecido vivo e macio, que conduz a seiva elaborada produzida pelas
folhas para as partes em crescimento, isto é, o lenho do tronco.
• Alburno, ou branco: é uma camada formada por células vivas que conduzem a seiva
da raiz para as folhas. Sua espessura pode varias de 3 a 5 cm, dependendo da espécie.
• Câmbio ou liber: é uma camada fina e quase invisível de tecidos vivos, situada
entre a casca e o lenho, por onde desce a seiva elaborada.
• Cerne ou durâmen: são as células do alburno que se tornaram inativas com o tem-
po, sua função é sustentar o tronco. Apresentam uma coloração mais escura.
• Medula: é o miolo central, formado por um tecido macio, frouxo e esponjoso, no
qual se verifica o primeiro crescimento da madeira. Não apresenta resistência e
durabilidade, sua presença em peças serradas é considerada um defeito.
• Anéis de crescimento: registram a idade das árvores e servem como referência
para o estudo da anisotropia do material. Cada anel de crescimento que é adicio-
nado em um ano é formado por duas camadas, uma mais clara, chamada de lenho
inicial, com células largas de paredes finas, que foi formado na primavera e ve-
rão, e outra mais escura, chamada de lenho tardio, com células estreitas e paredes
grossas, formado no verão e outono. Devido a estiagens, pragas ou abalos sofridos
pela árvore, podem se formar falsos anéis de crescimento, que comprometem o
desempenho do material.
• Raios medulares: são desenvolvimentos transversais radiais compostos por cé-
lulas lenhosas, com função de transporte e armazenamento da seiva. Presente em
árvores como o carvalho, o cedro e o louro, tem como principal vantagem uma
amarração transversal das fibras, que impede que trabalhem demais devido a va-
riações de umidade (BAUER, 1994; PFEIL; PFEIL, 2003).

88
TÓPICO 1 | MADEIRAS

As madeiras utilizadas na construção civil são geralmente extraídas do cer-


ne, por este ser mais resistente ao ataque de organismos, como os fungos, sendo
assim mais durável que a madeira extraída do alburno. Porém, o alburno, que é
composto de matérias vivas, apresenta maior higroscopia que o cerne, ou seja, ab-
sorve melhor a água e, portanto, aceita melhor a aplicação de preservativos e aditi-
vos, que lhe garantem um considerável aumento da durabilidade e da vida útil. As
cascas da madeira são retiradas e não são aproveitadas na construção civil.

A dendrologia é o ramo da botânica que estuda as árvores. Através dos


anéis de desenvolvimento, é possível detectar se houveram fenômenos que afeta-
ram o crescimento da árvore, tais como inundações, incêndios, deslizamentos de
terra. Essas “cicatrizes” acontecem na crosta, porém, à medida que a árvore cresce,
são deixadas dentro do tronco, ficando, assim, possível identificar o que aconteceu
no passado dessa árvore (Brasil, 2019), conforme pode ser visualizado na Figura 5.

FIGURA 5 – ANÁLISE DOS ANÉIS DE CRESCIMENTO

FONTE: <https://bit.ly/3ciO4TS>. Acesso em: 7 maio 2020.

Também é possível, através do estudo dos anéis de crescimento, estudar


as mudanças climáticas a que essa árvore foi exposta. Os anéis de crescimento
escuros são desenvolvidos no inverno, pois são formados por uma madeira mais
densa e compacta, que serve para proteger a árvore das baixas temperaturas. Os
anéis claros são desenvolvidos no verão, formados por uma madeira menos com-
pacta e são mais largos pois a árvore tem mais nutrientes e boa temperatura para
se desenvolver mais rapidamente, conforme Figura 6. Em épocas de seca, os anéis
mais claros podem ser mais estreitos, devido à escassez de água no seu desenvol-

89
UNIDADE 2 | MADEIRAS E TINTAS

vimento. A largura dos anéis, tanto escuros quanto claros, também demonstram
a duração dos períodos de inverno e verão (Brasil, 2019). Para fazer este estudo
não é necessário que a árvore seja cortada, podendo ser feito através de um teste-
munho interno, extraído da madeira deixando a árvore intacta.

DICAS

O clima em que as árvores estão inseridas é crucial para seu desenvolvimen-


to. Em climas quentes, na primavera e no verão, as árvores apresentam um crescimento
acelerado, com a formação de anéis menos compactos. Já nos climas frios, outono e
inverno, esse crescimento tende a diminuir, contudo os anéis formados são mais densos
e compactos.

FIGURA 6 – ANÉIS DE CRESCIMENTO CLAROS E ESCUROS

FONTE: <https://bit.ly/2L5q2zY>. Acesso em: 7 maio 2020.

4 ESTRUTURA DAS MADEIRAS


Neste subtópico, destacaremos as características das madeiras, conforme
suas classes, suas micro e macroestruturas, e as diferenças entre elas.

Em sua anatomia, a madeira apresenta uma microestrutura celular. O tecido


lenhoso é constituído de células de dimensões, formas e agrupamentos diferentes,
responsáveis pela resistência, condução dos sucos vitais e armazenamento de reser-
vas nutritivas necessárias (PETRUCCI, 1995).

Dessa diferenciada constituição do tecido lenhoso derivam o comportamento


físico-mecânico heterogêneo e anisotrópico das madeiras, como também o desigual
desempenho de peças provenientes de espécies diferentes ou retiradas de locais dife-

90
TÓPICO 1 | MADEIRAS

rentes da mesma tora. Esta diferença na disposição dos elementos celulares permite
a identificação microscópica das espécies (BAUER, 1994; PETRUCCI, 1995).

As células da madeira são denominadas fibras e são como tubos de paredes


finas alinhados na direção axial do tronco. As fibras longitudinais têm diâmetro que
pode variar entre 10 a 80 micra e comprimento de 1 a 8 mm. Em seu conjunto e forte-
mente aglomeradas, as fibras são os elementos que garantem a resistência e a susten-
tação das árvores. As características da madeira estão ligadas à compacidade, textura
e disposição do tecido fibroso (BAUER, 1994; PFEIL; PFEIL,2003).

Nas madeiras coníferas, cerca de 90% do volume é composto de fibras lon-


gitudinais, conforme Figuras 7 e 8. As fibras das árvores coníferas têm extremida-
des permeáveis e perfurações laterais, que permitem a passagem de líquidos. Nas
madeiras frondosas, as fibras têm apenas a função de elemento portante. As células
longitudinais são fechadas nas extremidades e a seiva circula por outras células de
grande diâmetro, com extremidades abertas, chamadas de vasos ou canais, conforme
Figura 7 (PFEIL; PFEIL, 2003).

Além das fibras, as árvores apresentam em sua composição o parênquima,


que são o conjunto de células semelhantes às fibras, lignificadas, dispostas longitudi-
nal e transversal ao lenho, com reservas nutritivas (PETRUCCI, 1995).

FIGURA 7 – SEÇÕES AMPLIADAS DO TECIDO DE UMA CONÍFERA: A) SEÇÃO TRANSVERSAL E


B) SEÇÃO TANGENCIAL

FONTE: Pfeil e Pfeil (2003, p. 3)

91
UNIDADE 2 | MADEIRAS E TINTAS

FIGURA 8 – SEÇÕES TRANSVERSAIS DA MADEIRA: A) CONÍFERAS E B) FRONDOSAS

FONTE: Pfeil e Pfeil (2003, p. 4)

5 COMPOSIÇÃO QUÍMICA
Segundo Pfeil e Pfeil (2003), a madeira é constituída por substâncias or-
gânicas, independente da sua espécie vegetal, nas seguintes porcentagens apro-
ximadas:

Carbono 50%
Oxigênio 44%
Hidrogênio 6%

As substâncias básicas na composição das madeiras são as holocelulose


(60%) e a lignina (25%). A holocelulose constitui a estrutura de sustentação das
paredes celulares. A lignina liga as células umas às outras, sendo um material
aglomerante. São estes componentes os responsáveis pelas propriedades da ma-
deira, tais como: higroscopicidade e resistência à corrosão (BAUER, 1994; PE-
TRUCCI, 1995).

92
TÓPICO 1 | MADEIRAS

6 IDENTIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES


Segundo Petrucci (1995), as madeiras podem ser identificadas de acordo
com sua denominação vulgar, sua identificação botânica e identificação micros-
cópica e micrográfica de laboratório, da seguinte forma:

• Identificação vulgar: é a identificação feita na prática, por conhecedores, por


características como a casca, folhas, frutos e sabor do lenho. Esta identificação
não tem valor científico, podendo a mesma árvore ter denominações diferen-
tes em regiões diferentes e um mesmo nome identificar espécies distintas. As
árvores podem ser identificadas com nomes sugestivos, relacionados a alguma
característica, por exemplo, pau-marfim e pau-roxo, ou nomes dados pelos in-
dígenas que traduziam o conhecimento, como a peroba, que significa BEM =
casca; IROBA= amarga, isto é, casca amarga.
• Identificação botânica: é a identificação feita pela comparação das folhas, fru-
tos e sementes. Necessita de um herbário para cada espécie. Com esta identi-
ficação é possível determinar a família, o gênero e a espécie de cada árvore.
Exemplo: Peroba-Rosa é a Aspidosperma peroba.
• Identificação micrográfica: é a classificação cientificamente exata de cada árvo-
re. No atlas de microfotografias constam dois aspectos micrográficos típicos: a
constituição anatômica do lenho e o número, forma e disposição dos elementos
celulares. É realizada a partir da retirada no lenho de um prisma, com dimen-
sões 1 x 1 x 4 cm. Deste prisma, são retiradas três lâminas, uma transversal,
uma longitudinal aos anéis de crescimento e uma longitudinal as fibras. Estas
lâminas são desidratas e coloridas, comparadas com a utilização de um micros-
cópio com lâminas padrões ou com o atlas de microfotografias, sendo possível
identificar a espécie (PETRUCCI, 1995).

No Quadro 1, estão relacionadas e identificadas as espécies lenhosas na-


cionais, de acordo com sua classificação vulgar, científica, local onde são encon-
tradas e usos comuns.

93
UNIDADE 2 | MADEIRAS E TINTAS

QUADRO 1 – ESPÉCIES LENHOSAS NACIONAIS


Móveis, acabamentos de in-
AÇOITA-CA-
teriores, tornearia, tanoaria,
VALO Estribeiro, Ivi- Desde o sul do Estado de
palitos, peças para esportes,
Luhea diveri- tingui, Ivitinga, Minas Gerais até o Rio
formas de sapatos, compen-
cata Soita-cavalo Grande do Sul.
sados, implementos agríco-
Tiliáceas
las, postes.
Região costeira, desde o
CABRIÚVA- Móveis, acabamentos de
sul da Bahia até Santa Ca-
-PARDA Bálsamo, Óleo, interiores, tábuas e tacos de
tarina; comum no vale do
Myrocarpus Óleo-caburaíba, assoalho, tornearia, mar-
Chapecó, em Santa Cata-
frondosus Óleo-pardo chetaria, construções civis,
rina e no vale do Rio Pa-
Leguminosas obras externas.
raguai.
CANELA- Nas terras altas e verten-
-PRETA Canela-escura, tes das serras da Manti-
Móveis, acabamentos de
Nactandra Canela-parda, queira e do Mar, desde o
interiores, dormentes.
Mollis Louro-preto Espírito Santo até Santa
Lauráceas Catarina.
CEDRO Amazônia, sul da Bahia e Móveis, acabamentos de
Cedro-rosa, Ce-
Cedrella ssp Santa Catarina, São Paulo, interiores, caixas de charu-
dro-branco
Meliáceas Paraná e Mato Grosso. to, construção naval.
Serra da Paranapiacaba,
LOURO-
do Estado de São Paulo
-PARDO Louro, Cascudi- Móveis, acabamentos de in-
até o Rio Grande do Sul,
Cordia Tricho- nho, Louro-da- teriores, compensados, ta-
comum no Vale do Cha-
toma -serra buados, embarcações leves.
pecó em Santa Catarina
Boragináceas
até o Rio Grande do Sul.

PEROBA Paraná, Mato Grosso,


Móveis, esquadrias, tacos de
Aspidosperma Sobro, Peroba-a- Goiás, Minas Gerais, São
assoalho, carroçarias, cons-
polyneuron morgosa Paulo, e vale do Rio Doce
truções civis, vigamentos.
Apocinaccac e sul da Bahia.

Estados do Paraná e Santa


Catarina, nas regiões mon-
tanhosas do planalto cen-
PINHO BRA- tral e da vertente interior
SILEIRO da Serra do Mar. No Rio Móveis, acabamentos de in-
Araucaria Pinho-do-para- Grande do Sul, na Zona teriores, compensados, ins-
angustifólia ná, Araucária Serrana fronteiriça a Santa trumentos musicais, tanoa-
Araucaria- Catarina. Em formações ria, pasta para papel.
ceas menos densas é encontra-
do nas regiões elevadas,
acima de 100 m, em São
Paulo e Minas Gerais.
FONTE: Bauer (1994, p. 449)

94
TÓPICO 1 | MADEIRAS

7 PRODUÇÃO DA MADEIRA
A produção da madeira é composta por cinco etapas:

• Corte: é a derrubada das árvores. Realizado em épocas apropriadas, no Brasil


são nos meses de inverno. A época do corte não tem influência sobre a resis-
tência do material, mas sim sobre sua durabilidade, uma vez que madeiras de
árvores abatidas em épocas mais frias tendem a secar lentamente, sem rachar
ou fendilhar, e nestas épocas o material contêm menos seiva elaborada, sendo
menos atrativo para os fungos e insetos. Para esta prática, são utilizadas ferra-
mentas como machados de lenhador, traçadores e máquinas de derrubar.
• Toragem: após ser abatida e desgalhada, as árvores são traçadas em toras de 5
a 6 metros, para facilitar seu transporte.
• Falquejamento: as toras podem ser falquejadas, com machados ou serras, re-
tirando 4 costaneiras, ficando com uma seção aproximadamente retangular.
• Desdobro: feito nas serrarias, com a utilização de serras de fita continuas ou
alternadas, é a operação final na obtenção de madeira bruta. No desdobro são
obtidos pranchões, pranchas ou couceiras, com espessura de 7 cm e largura de
20 cm. Conforme a Figura 9, o desdobro pode ser normal, quando as pranchas
são retiradas tangencial aos anéis de crescimento; radial, quando as pranchas
são retiradas normalmente aos anéis de crescimento, sendo este o que produz
pranchas de melhor qualidade. Também pode ser utilizado o desdobro misto.
• Aparelhamento: nesta última etapa, são obtidas peças nas bitolas comerciais,
por serragem ou resserragem das pranchas (BAUER, 1994; PETRUCCI, 1995).

FIGURA 9 – DESDOBRO NORMAL, RADIAL E MISTO

FONTE: <http://4.bp.blogspot.com/_yanFywfi8LI/R8cRILgav4I/AAAAAAAAACg/ScbXenYSmmc/
s1600/sistemas+de+corte.bmp>. Acesso em: 7 maio 2020.

Na Tabela 2, é possível visualizar as nomenclaturas das peças de madeira


serrada.

95
UNIDADE 2 | MADEIRAS E TINTAS

TABELA 2 – NOMENCLATURA DAS PEÇAS DE MADEIRA


Nome da Peça Espessura (cm) Largura (cm)
Pranchões > 7,0 > 20,0
Prancha 4,0 - 7,0 > 20,0
Viga 4,0 11,0 - 20,0
Vigota 4,0 - 8,0 8,0 - 11,0
Caibro 4,0 - 8,0 5,0 - 8,0
Tábua 1,0 - 4,0 > 10,0
Sarrafo 2,0 - 4,0 2,0 - 10,0
Ripa < 2,0 < 10,0
FONTE: Adaptado de Bauer (1994, p. 451)

8 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES


Neste subtópico, citaremos as principais características e propriedades
das madeiras utilizadas na construção civil, de acordo com Petrucci (2005) e Bauer
(1994). As principais características e as vantagens e desvantagens da utilização
da madeira como material de construção são:

• fácil obtenção em grandes quantidades;


• preço relativamente baixo;
• as reservas de madeira se renovam por si mesmas, o que torna o material sempre
disponível;
• pode ser produzida em peças de dimensão estrutural e peças pequenas e delicadas;
• pode ser trabalhada com ferramentas simples;
• pode ser reempregada várias vezes;
• resiste a esforços de tração na flexão e compressão. Foi o primeiro material de cons-
trução utilizado tanto em vigas quanto em colunas;
• possui grande resistência mecânica. Apresenta a mesma resistência à compressão
que um concreto de alta resistência, sendo superior ao concreto na flexão e no cisa-
lhamento com peso próprio reduzido;
• apresenta baixa massa específica;
• permite fáceis ligações e emendas;
• resiliente, resiste a choques e impactos, e não estilhaça quando golpeada;
• apresenta características de isolante térmico e acústico;
• no seu aspecto natural apresenta grande variedade de padrões;
• heterogênea e isotrópica, características resultantes de sua constituição fibrosa;
• muito vulnerável aos agentes externos;
• baixa durabilidade, quando desprotegida;
• é combustível;
• apresenta variações de dimensões de acordo com a umidade;
• tem formas limitadas, alongadas e de seção transversal reduzida. algumas dessas
limitações foram resolvidas pelos processos de transformação nos laminados, con-
traplacados e aglomerados de madeira (BAUER, 1994).

96
TÓPICO 1 | MADEIRAS

8.1 PROPRIEDADES E CARACTERÍSTICAS FÍSICAS


As propriedades físicas são as características inerentes ao material. É o
comportamento inato do material quando exposto a condições ambientais di-
ferenciadas. São elas: a massa específica, densidade, retratilidade, entre outras.
Neste subtópico, estudaremos as seguintes propriedades físicas da madeira: ani-
sotropia, espécie botânica da madeira, massa específica e umidade

a) Anisotropia: é a característica do material que apresenta propriedades físicas di-


ferentes, de acordo com as diferentes direções. Devido à orientação das células,
a madeira apresenta essa característica, com três direções principais, sendo elas
longitudinal, radial e tangencial, conforme a Figura 10. Assim, as propriedades e
resistências da madeira devem ser consideradas em duas dimensões ou direções,
uma paralela às fibras longitudinais e outra transversal (PFEIL; PFEIL, 2003).

FIGURA 10 – DIREÇÕES ORTOGONAIS DA MADEIRA

FONTE: <https://www.scielo.br/img/revistas/rmat/v21n4//1517-7076-rmat-21-04-01069-gf1.jpg>.
Acesso em: 7 maio 2020.

b) Espécie botânica da madeira: é uma característica importante de ser conheci-


da, pois a estrutura e a constituição atômica da madeira podem variar entre as
espécies (PETRUCCI, 1995).

c) Massa específica: nas madeiras está relacionada com a distribuição e concen-


tração de material existente e resistente no tecido lenhoso (BAUER, 1994).

d) Umidade: a água existente nas árvores para sua sobrevivência permanece na


madeira após a extração. Pode ser na forma de água de constituição, essa em
combinação química com os principais constituintes do material lenhoso, não
podendo ser eliminada na secagem. Quando há apenas água de constituição na

97
UNIDADE 2 | MADEIRAS E TINTAS

madeira, esta é considerada seca. Pode ser na forma de água de impregnação,


que aparece nas paredes das células lenhosas e na madeira úmida infiltrada.
A presença dessa água provoca o inchamento das paredes das células e, conse-
quentemente, o aumento no volume da peça de madeira. Pode ser na forma de
água livre, que ocorre depois que as paredes das células estão saturadas com a
água de impregnação. Pode ser removida pelo processo de secagem sem que
haja alteração de volume. Quando toda a água livre evapora, chega-se no “ponto
de saturação ao ar” para a madeira úmida (BAUER, 1994; PETRUCCI, 1995).

A madeira exposta ao ar tende a assumir um teor de umidade (água de


constituição + água de impregnação + água livre) em equilíbrio com o ambiente,
segundo os climas e regiões em que está exposta. A umidade normal internacio-
nal para a madeira seca ao ar é de 15%. De acordo com sua classificação, conforme
seu teor de umidade, as madeiras classificam-se em:

• madeira verde: com teor de umidade acima do ponto de saturação do ar, nor-
malmente acima de 30%;
• madeira semisseca: abaixo do ponto de saturação do ar, porém acima de 23%;
• madeira comercialmente seca: entre 18% e 23%;
• madeira seca ao ar: entre 13% e 18%;
• madeira dessecada: entre 0% e 13%;
• madeira completamente seca: 0% (BAUER, 1994; PETRUCCI, 1995).

No corte, as madeiras apresentam um teor de umidade na média de 52%


para as folhosas e 57% para as resinosas. Abaixo de 23% a madeira pode se consi-
derar livre do ataque de agentes de destruição, pois este é o teor mínimo necessá-
rio para a proliferação de fungos e bactérias (PETRUCCI, 1994).

Segundo Bauer (1994), a determinação do teor de umidade é feita através


de corpos-de-prova. Pesa-se os mesmos na umidade em que se encontram (Ph) e
na condição de seco em estufa a 100 e 150 °C (Po). A condição de seco em estufa
é considerada quando, após duas passagens pela estufa, sucessivas e com distan-
ciamento de tempo, o peso Po apresenta constância. O tempo entre as pesagens
varia de acordo com a amostra, mas pode ser de 6 horas. O teor de umidade é
expresso, em porcentagem, em relação ao peso seco de acordo com a fórmula:

Ph − Po
=h ×100 ( % )
Po

98
TÓPICO 1 | MADEIRAS

d) Retratilidade: é a propriedade de alterar seu volume e dimensões com a varia-


ção do teor de umidade, entre o ponto de saturação ao ar e a umidade seca em
estufa. Essa propriedade também pode ser chamada de contração, inchamento
ou trabalho das madeiras. Pode ser retratilidade volumétrica e retratilidade
linear (BAUER, 1994). Seguem a seguir, de acordo com Bauer (1994), as retrati-
lidades volumétricas da madeira:

Retratilidade volumétrica: é determinada através da observação de 20 cor-


pos de prova, com dimensões de 2 x 2 x 3 cm retirados da tora, de suas seções extre-
mas, segundo dois diâmetros ortogonais. Os corpos de prova têm seus pesos e volu-
mes determinados em três estágios de umidade: verde, seco ao ar e seco em estufa.

Os três índices representativos que caracterizam a retratilidade são: con-


tração volumétrica total (Ct), contração volumétrica de seca ao ar para seca em
estufa (Ch) e o coeficiente de retratilidade volumétrica (V).

A contração volumétrica total representa a variação de volume, quando a


madeira passa do estado verde para o estado de completamente seca em estufa,
expresso pela fórmula:

Vv − Vo
=Ct ×100 ( % )
Vo

Em que: Vv= volume no estado verde e Vo=volume seco em estufa.

A contração volumétrica de seca ao ar para seca em estufa também pode


ser chamada de contração parcial, trazendo a variação de volume entre esses dois
estágios de umidade, expresso pela fórmula:

Vh − Vo
=Ch ×100 ( % )
Vo

Em que: Vh=volume seca ao ar e Vo=volume seca em estufa.

O coeficiente de retratilidade volumétrica é a variação percentual


no volume para a variação de 1% de umidade. É calculado a partir fórmula:

Ch
V=
h
Em que: Ch= contração volumétrica de seca ao ar para seca em estufa e
h=teor de umidade seco ao ar.

As madeiras lenhosas podem ser classificadas de acordo com sua retrati-


lidade volumétrica, sendo cada uma delas destinada a um emprego adequado.
Essa classificação pode ser visualizada na Tabela 3.

99
UNIDADE 2 | MADEIRAS E TINTAS

TABELA 3 – CLASSIFICAÇÃO DAS MADEIRAS CONFORME SUA RETRATILIDADE

Retratilidade Total (%) Qualificação Exemplos


Toras com grandes fendas de secagem.
15 a 20 Forte
Devem ser rapidamente desdobradas.
Toras com fendas médias de secagem.
Podem ser conservadas e usadas em
10 a 15 Média
forma cilíndrica (galerias de minas,
pontaletes). Resinosas em geral
Toras com pequenas fendas, aptas
5 a 10 Fraca
para marcenaria e laminados
FONTE: Bauer (1994, p. 458)

f) Densidade: nas madeiras, é considerada em termos de massa específica apa-


rente, sempre com o teor de umidade com o qual foi calculada definido. Essa
propriedade traduz a concentração de tecido lenhoso resistente por unidade
de volume aparente (BAUER, 1994). É calculado pela fórmula:

Ph
Dh =
Vh
( g / cm )
3

Em que: Dh= densidade, Ph= peso da amostra e Vh=volume aparente.

São consideradas densas as madeiras resinosas com massa específica superior


a 0,7 kg/dm³, as folhosas com massa específica entre 0,8 e 1,0 kg/dm³ e muito
densas a partir de 1,0 kg/dm³.

g) Condutibilidade elétrica: quando seca, a madeira é isolante elétrico, porém


quando úmida é um condutor (BAUER, 1994).

h) Condutibilidade térmica: a madeira é um mau condutor térmico, devido a sua


estrutura celular, que aprisiona massas de ar e é composta principalmente pela
celulose, que também é um mau condutor de calor (BAUER, 1994).

i) Condutibilidade sonora: a madeira não é indicada como isolante acústico, po-


rém é eficaz quando utilizada como material de absorção acústica, como por
exemplo no revestimento de uma parede (BAUER, 1994).

8.2 PROPRIEDADES E CARACTERÍSTICAS MECÂNICAS


As propriedades mecânicas são as propriedades utilizadas para avaliar
a resistência a esforços, tensões e deformações, tais como a resistência à com-
pressão, à tração, à flexão, à torção e ao cisalhamento, além do módulo de elas-
ticidade. Neste subtópico, estudaremos as seguintes propriedades mecânicas da
madeira, de acordo com Bauer (1994) e Petrucci (1995):
100
TÓPICO 1 | MADEIRAS

• Resistência à compressão axial em peças curtas: essa resistência pode ser feita em
função da umidade e da massa específica. Também tem influência na resistência à
compressão e à presença de defeitos nas peças de madeira. A madeira comporta-
-se como um material elástico em tensões que não ultrapassem ¾ da tensão-limite
de resistência.
• Resistência à compressão axial em peças longas: é a flambagem. A partir de ensaios,
determina-se uma curva experimental de flambagem, na qual ficam bem distintos os
três estágios característicos do comportamento do material em relação a compressão
no sentido das fibras. O primeiro estágio diz respeito as colunas longas, em que o
material se comporta com estabilidade elástica. No segundo estágio, os materiais se
comportam de forma elastoplástica. O terceiro estágio é o limite de esbeltez máximo,
com a tensão critica igual a tensão-limite de resistência em peças curtas.
• Resistência à tração axial: as madeiras raramente se rompem quando solicitadas
a esforços de tração axiais. Nessa solicitação, ocorre a aproximação dos feixes de
fibras, reforçando sua coesão e aderência.
• Resistência à compressão normal e obliqua às fibras: quando submetida a es-
forços de compressão normal e oblíqua as fibras a madeira esmaga-se e torna-se
inapta a receber outros esforços. Depende da extensão e da distribuição das cargas.
• Resistência à tração normal às fibras: a este esforço, opõe-se somente a aderência
mutua das fibras da madeira, que é fraca e não exige muito esforço. Esta solicitação
deve ser evitada em construções.
• Fendilhamento: é um esforço de tração transversal, aplicado na extremidade de
uma peça entalhada a fim de deslocar suas fibras. Para evitar o fendilhamento são
efetuadas colagem, placagem, contraplacagem, cintagem, respingamento, encavi-
lhamento e blindagem.
• Resistência ao cisalhamento: o cisalhamento pode ocorrer paralelo as fibras, obli-
quo ou normal. O cisalhamento paralelo as fibras é o que mais ocorre e sua resis-
tência é mínima. Ocorre em peças longas, como vigas. O cisalhamento oblíquo das
fibras ocorre na compressão, pela heterogeneidade do material. Ocorre em peças
curtas. O cisalhamento normal das fibras dificilmente ocorre.
• Dureza: é a resistência do material à penetração localizada, à riscagem e ao desgaste.

9 DEFEITOS
Os defeitos nas madeiras são as anomalias em sua integridade e constitui-
ção que alteram suas propriedades e seu desempenho (BAUER, 1994; PETRUC-
CI, 1995). É importante analisar e caracterizar esses defeitos para que se possa
classificar as madeiras de acordo com sua qualidade. Os defeitos podem ser clas-
sificados em quatro grupos, expostos a seguir.

9.1 DEFEITOS DE CRESCIMENTO


Os principais defeitos de crescimento são os nós, os desvios de veio, as fi-
bras torcidas e os ventos. De acordo com Bauer (1994), iremos analisar cada defeito.

101
UNIDADE 2 | MADEIRAS E TINTAS

Os nós são os defeitos resultantes do envolvimento dos ramos da árvore


por camadas de crescimento do lenho. Podem ser nós vivos, com tecido lenhoso
envolvente ou nós mortos, quando descolados e não aderentes ao tecido lenhoso.
Podem também ser nós alterados, viciados e podres, conforme apresentem essas
características.

É o defeito que mais aparece em madeiras de obra, porém sua influência


no desempenho da peça vai depender do seu tipo, localização e solicitação mecâ-
nica. Um nó vivo, são, seco e aderente diminui no máximo em 20% a resistência a
compressão da peça. Na tração, apresentam consequência considerável e devem
estar apenas na zona comprimida da peça. A resistência ao cisalhamento não é
muito afetada, podendo ser até favorecida, pois os nós quebram a continuidade
das fendas que tendem a reduzir essa resistência. Os nós agrupados devem ser
evitados, uma vez que não é possível estabelecer um critério de medição somató-
ria para medir a depreciação que os mesmos causam.

Os desvios de veio acontecem em madeiras de veio linheiro, que são ma-


deiras em que o desenvolvimento longitudinal das fibras é paralelo ao eixo ver-
tical do tronco. Esses desvios ocorrem pelo crescimento acelerado de fibras pe-
riféricas, enquanto o crescimento interno permanece o mesmo. Nas obras, pode
resultar de operações de serragem, quando o plano de corte não é paralelo ao veio
da madeira, ou do aproveitamento de toras encurvadas.

As fibras torcidas acontecem pela orientação anormal das células lenho-


sas, que se distribuem em forma de espiral em torno da medula, ao invés de
paralelas a ela. Provocam grandes tensões internas quem têm grandezas propor-
cionais as dimensões da peça.

Ventos são os deslocamentos, separações com descontinuidade, entre fi-


bras ou anéis de crescimento, provocados durante o crescimento da árvore, por
paralisações no crescimento, golpes de vento ou ações dinâmicas. Peças que apre-
sentem esse defeito não devem ser utilizadas com finalidade estrutural.

9.2 DEFEITOS DE SECAGEM


Os defeitos de secagem são as rachaduras, fendas, fendilhamentos e em-
penamentos de abaulamento, arqueamento e encurvamento, provocados pela
retratilidade do material. De acordo com Bauer (1994), os defeitos de secagem
podem ser explicados da seguinte forma:

Rachaduras: são as aberturas radiais provocadas por agentes mecânicos


ou má condição na secagem. Apresentam grande extensão e estão no topo de to-
ras ou peças. Pode ser visualizado na Figura 11.

102
TÓPICO 1 | MADEIRAS

FIGURA 11 – RACHADURAS

FONTE: <https://bit.ly/31gNK5q>. Acesso em: 7 maio 2020.

Fendas: são as aberturas radiais provocadas pela movimentação ou seca-


gem. Apresentam pequena extensão e estão no topo das peças. São os defeitos de
secagem mais comuns. Pode ser visualizado na Figura 12.

FIGURA 12 – FENDAS NA MADEIRA

FONTE: <https://cdn.pixabay.com/photo/2016/07/31/21/48/trunk-1560037_960_720.jpg>.
Acesso em: 7 maio 2020.

Fendilhamento: são as aberturas provocadas pela secagem. Apresentam


pequena extensão e estão ao longo das peças. Pode ser visualizado na Figura 13.

103
UNIDADE 2 | MADEIRAS E TINTAS

FIGURA 13 – FENDILHAMENTO

FONTE: Peres, Delucis e Beltrame (2013, p. 59)

Abaulamento: é o empenamento no sentido da largura da peça. É expres-


so pelo comprimento da flecha do arco. Pode ser visualizado na Figura 14.

FIGURA 14 – ABAULAMENTO

FONTE: <http://sermarceneiro.blogspot.com/2016/02/>. Acesso em: 15 jun. 2020.

Curvatura: é o encurvamento longitudinal das peças. É provocado pela


secagem ou defeitos na serragem. Pode ser visualizado na Figura 15.

FIGURA 15 – CURVATURA

FONTE: <http://sermarceneiro.blogspot.com/2016/02/>. Acesso em: 15 jun. 2020.

Curvatura lateral: é o encurvamento lateral das peças. Pode ser visualiza-


do na Figura 16.

104
TÓPICO 1 | MADEIRAS

FIGURA 16 – CURVATURA LATERAL

FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3fVwh6B>. Acesso em: 7 maio 2020.

9.3 DEFEITOS DE PRODUÇÃO


Os defeitos de produção são as fraturas, as rachaduras, as fendas e ma-
chucaduras, que podem ocorrer no abate das árvores. Também são os cantos es-
moados, camadas de cortiça e fibras cortadas, que podem ocorrer no desdobro e
na serragem das peças (BAUER, 1994).

9.4 DEFEITOS DE ALTERAÇÃO


Os defeitos de alteração são os ataques de predadores, fungos e insetos.
Reduzem de forma significativa a seção resistente das peças estruturais. Esse de-
feito reforça e agrava os demais defeitos citados anteriormente. Como é impos-
sível estimar visualmente seu desenvolvimento e, mesmo quando são tomadas
medidas de profilaxia adequadas, ainda há o risco de um ataque incipiente no
futuro, não são indicadas a utilização das peças que apresentarem esse defeito
(BAUER, 1994).

10 BENEFICIAMENTO DAS MADEIRAS


A madeira apresenta muitas qualidades apreciáveis ao seu uso na cons-
trução civil. Porém devem ser controladas, através dos processos de beneficia-
mento, suas características negativas, tais como:

• umidade: pode gerar tensões internas e degradação;


• fragilidade: em relação ao ataque de agentes de deterioração, como fungos e
insetos;
• heterogeneidade e anisotropia: devem ser controladas (BAUER, 1994).

Beneficiar a madeira incide em aplicar-lhe tratamentos para proteção con-


tra o ataque de agentes biológicos ou intempéries, aumentando a sua vida útil
(LARA, 2013). Os processos de beneficiamento podem ser divididos em três gru-
pos: secagem, preservação e transformação, que serão expostos a seguir.

105
UNIDADE 2 | MADEIRAS E TINTAS

10.1 SECAGEM

Para ser empregada na construção civil, a madeira deve ter seu teor de umi-
dade controlado e adequado para seu ambiente e emprego. A secagem do material
elimina os empenos e fendas, provocados pelas mudanças de umidade. De acordo
com Bauer (1994), a secagem da madeira traz uma série de vantagens, entre elas:

• a diminuição do peso do material, favorecendo o transporte e o projeto de es-


truturas;
• o aumento da resistência do material, progressivamente, na medida em que a
água de impregnação for eliminada;
• aumento da resistência contra os ataques dos agentes de deterioração, pois es-
tes necessitam de água para sobreviver;
• a possibilidade de receber os produtos de impregnação, dos processos de pre-
servação, pois necessita que a madeira tenha ausência de água livre;
• a possibilidade de aplicação de pinturas e vernizes de proteção.

A secagem do material pode ser feita de forma natural, pela exposição ao


ar ou artificial, em estufas, nas quais o processo é acelerado, expondo a madeira a
condições controladas de temperatura e umidade (PETRUCCI, 1995).

• A secagem natural é realizada em pátios junto às serrarias, com coberturas


provisórias, nos quais as peças de madeira organizadas por pilhas ficam ex-
postas aos ventos. Não é possível estimar um tempo necessário, uma vez que
depende do clima e umidade do ar.
• A secagem artificial é feita através de estufas, com temperatura e umidade
controlados, calculados de acordo com o teor de umidade do material.

Segundo Petrucci (1995), as vantagens da secagem por estufa são:

• rapidez da secagem, diminuindo a necessidade de estoques;


• teor de umidade mais uniformes e de acordo com as finalidades que o material
será utilizado;
• menores perdas de material;
• esterilização do material, pois os fungos são eliminados nas altas temperaturas;
• destruição dos insetos, que se mantem nas peças quando o material é secado
naturalmente.

As estufas de secagem podem ser contínuas e intermitentes. Todas elas


são compostas por:

• uma fonte de aquecimento, geralmente são serpentinas com vapor;


• dispositivos de umidificação, tais como borrifadores de água e dispersores de vapor;
• circuladores de ar, tais como ventiladores e exaustores;
• aparelhos para controle de temperatura, tais como termômetros e psicrômetros.

106
TÓPICO 1 | MADEIRAS

DICAS

Psicrômetro é um aparelho que mede umidade relativa do ar. Consiste em


dois termômetros colocados um ao lado do outro. A diferença entre esses termômetros é
que um deles trabalha com o bulbo seco e o outro com o bulbo úmido (Figura 17).

FIGURA 17 – PSICRÔMETRO

FONTE: Adaptado de: <https://bit.ly/35HoNR6>. Acesso em: 7 maio 2020.

Durante a secagem artificial pode ocorrer o colapso da madeira, que consis-


te no achatamento das células e, consequentemente, a deformação da madeira. Isso
ocorre, pois, ao secar, a água que ocupava os poros e canais é substituída pelo ar, po-
rém quando a secagem é muito rápida, o ar pode ser impedido de entrar, deixando os
poros ocos. De acordo com Petrucci (1995) as madeiras podem ser classificadas em:

107
UNIDADE 2 | MADEIRAS E TINTAS

• madeiras leves e de fácil secagem: cedro, guapuruvu, caixeta e tamboril;


• madeiras de média dificuldade de secagem: pinho do paraná, peroba-rosa, ca-
briúva, ipê, pau-marfim, feijó, açoita-cavalos, jequitibá;
• madeiras de difícil secagem: imbuia, canela, amendoeira, caviúna, aroeira, óleo
de jatobá, faveiro e tajuba.

10.2 PRESERVAÇÃO
A durabilidade da madeira está relacionada à resistência que ela apresen-
ta quanto ao ataque de agentes de alteração e destruição, como os fungos e in-
setos. Essa durabilidade depende de fatores decorrentes do material e de fatores
externos, como a umidade, temperatura e arejamento. Segundo Petrucci (1995),
as principais causas de deterioração da madeira são:

• a putrefação ou podridão, responsáveis por 60% na destruição da madeira, pela


ação de fungos e bactérias;
• a ação de insetos, como os cupins, responsáveis por 10% na destruição da madeira;
• a ação de moluscos e crustáceos de água salgada, responsáveis por 5% na destrui-
ção da madeira;
• o fogo, responsável por 20% na destruição da madeira;
• causas diversas, como ação do vento e agentes químicos, responsáveis por 5% na
destruição da madeira.

Assim, os microrganismos são os principais agentes de deterioração do


material (BAUER, 1994; PETRUCCI, 1995). Os microrganismos que destroem as
madeiras são:

• Fungos: são microrganismos inferiores, aeróbicos, unicelulares ou pluricelula-


res. Os fungos cromógenos se alimentam da seiva e a albumina existentes nas
células de reservas nutritivas do vegetal, não alteram as condições do lenho
pois provocam apenas manchas superficiais, que desvalorizam o material. Os
fungos xilófagos destroem as paredes celulares, decompondo a celulose ou a
lignina, sendo prejudiciais ao material. Para viverem e se proliferarem, os fun-
gos necessitam de condições ambientais favoráveis, como umidade, ar, calor
e alimentação. A umidade necessária para o desenvolvimento dos fungos é
superior a 20%. A temperatura ideal é entre 20 e 30 °C, em temperaturas infe-
riores as colônias não morrem, mas ficam latentes, em temperaturas superiores
ocorre o mesmo, morrendo somente com temperaturas superiores a 50 °C. Para
prevenir o aparecimento dos fungos em peças de madeira deve-se efetuar o
desdobro em épocas apropriadas, arejar as peças, secar de forma correta e apli-
car tratamentos de preservação com impregnação de antifungicidas.
• Bactérias: organismos unicelulares que se reproduzem por cassiparidade. Oca-
sionam tumores nos tecidos vivos da madeira ou fenômenos de decomposição
química por oxidação ou redução. Para viverem e se proliferarem, necessitam
das mesmas condições ambientais dos fungos.

108
TÓPICO 1 | MADEIRAS

• Insetos: os insetos que prejudicam a madeira são os xilófagos, os carunchos


e as térmitas. Os insetos xilófagos destroem a madeira pois suas larvas se ali-
mentam do material e minam galerias nos tecidos lenhosos. Os carunchos, que
são os carcomas ou os besouros, depositam seus ovos em madeiras verdes, dos
quais nascem larvas que escavam o tecido lenhoso como alimento. As térmitas,
ou formigas brancas, são insetos pequenos ou médios, com o corpo mole e
alongado, claros ou quase brancos. Invadem as madeiras procurando alimento
e abrigo. Se acumulam em ninhos ou colônias, nas quais destroem as árvores
secas e danificam madeiramentos e móveis. Em condições ambientais favorá-
veis, se desenvolvem rapidamente, a cada rainha fecundada podem se desen-
volver 30 milhões de insetos por ano ou 150 milhões em toda sua vida.
• Moluscos e crustáceos: se desenvolvem nos litorais marinhos em águas cálidas
ou temperadas. Podem atacar os pilares de pontes de madeira e estruturas de
trapiches (BAUER, 1994; PETRUCCI, 1995).

Os tratamentos de preservação das madeiras são os processos que im-


pregnam nos tecidos lenhosos um produto preservativo, sem ocasionar lesões
na estrutura lenhosa ou alterações sensíveis nas características físico e mecânicas
da madeira. Os principais processos de preservação são classificados, segundo
Bauer (1994), da seguinte forma:

• Processo de impregnação superficial: são pinturas superficiais ou imersões em


preservativos adequados. A impregnação penetra de 2 a 3 cm, formando uma
película de proteção suficiente aos ataques de insetos e capaz de resistir peque-
nas fendas ocasionadas pela secagem. É indicado para peças de madeira seca
destinas a ambientes cobertos, protegidos e sujeitos a pequenas variações de
umidade, como forros e pisos. É um processo econômico.
• Processo de impregnação sob pressão reduzida: pode ser feito aproveitando
pressões naturais, como a pressão atmosférica, a pressão hidráulica, pressão
capilar e pressão osmótica. Pode ser feito pelo processo de dois banhos ou ba-
nhos quente e frio, no qual as peças são imersas e aquecidas com o impreg-
nante e, rapidamente, resfriadas depois. A pressão é forçada pelo vácuo for-
mado nos vazios do tecido lenhoso com a evaporação da água e expulsão do
ar aquecido. Muito utilizado em topos de postes, cruzetas e moirões de cercas.
Também pode ser feito pelo processo de substituição da seiva, no qual as peças
são imersas em solução salina concentrada e o imunizante substitui a seiva e
a umidade natural do tecido lenhoso. Muito utilizado para postes e moirões.
Outro processo que pode ser efetuado é de impregnação por osmose, feito com
uma espessa camada gelatinosa de imunizante concentrado, que por pressão
osmótica, mistura a seiva e a umidade da madeira com o imunizante. É indica-
do para madeiras verdes. Ainda pode ser efetuado o processo de impregnação
em autoclaves. É o processo mais eficiente, indicado para postes de rede de
distribuição de energia, cruzetas, dormentes de via férrea e pilares de madeira.

Os principais produtos de preservação são imunizantes tóxicos, de cho-


que ou contato, diluídos em um solvente penetrante, que pode ser a água ou óleo
de baixa viscosidade. São eles os fungicidas, inseticidas ou antimoluscos. Para

109
UNIDADE 2 | MADEIRAS E TINTAS

ser eficiente, este produto deve apresentar as seguintes características: toxidez,


permanência, alta penetração, segurança à saúde, segurança ao fogo e não ser
corrosivo de metais.

10.3 TRANSFORMAÇÃO
A transformação da madeira é toda tecnologia de alteração da estrutura
fibrosa orientada da madeira, a fim de corrigir suas características negativas (PE-
TRUCCI, 1995).

E
IMPORTANT Madeira reconstituída

A madeira transformada é o produto obtido a partir de uma tecnologia de


tratamento e beneficiamento da madeira natural, com propósito de alterar sua estrutura
fibrosa orientada a fim de ampliar suas aplicações.

As principais vantagens da transformação da madeira, de acordo com


Lara (2013), são:

• possibilidade de deixar o material homogêneo e isotrópico, melhorando seus


coeficientes físicos e mecânicos, devido à reorganização das fibras;
• possibilidade de confecção de peças em formatos de chapas;
• possibilidade de aproveitamento integral de todo o material lenhoso devido à
reaglomeração com colas sintéticas.

Madeira reconstituída – É o produto industrial obtido pela madeira na-


tural desfibrada, em banho quente, e tratada. As fibras são selecionadas e rea-
glomeradas sob pressão a quente, com uso de lignina ou aglomerantes sintéticos
(LARA, 2013). Os painéis feitos a partir da madeira reconstituída, que são chapas
de fibra de densidade média, são: MDF, MDP e OSB.

MDF (Medium Density Fiberboard) – O MDF é um painel manufaturado


com madeira ou outras fibras naturais, conforme Figura 18. Estas fibras são liga-
das com uma resina sintética. Apresenta peso específico de 0,50 Kgf/dm³ a 0,90
Kgf/dm³. É muito utilizado em produtos de artesanato, decoração e fabricação
de móveis, conforme Figura 19. Possui um ótimo acabamento tipo envernizado.

110
TÓPICO 1 | MADEIRAS

FIGURA 18 – MDF CRU

FONTE: <https://www.atacadaodamadeira.com.br/wp-content/uploads/2016/08/mdf-cru-
570x380.jpg>. Acesso em: 7 maio 2020.

FIGURA 19 – MÓVEL EM MDF

FONTE: <https://img.archiexpo.com/pt/images_ae/photo-mg/50449-10815242.jpg>. Acesso


em: 7 maio 2020.

111
UNIDADE 2 | MADEIRAS E TINTAS

MDP (Medium Density Particle) – Diferente dos painéis de MDF, os pai-


néis de MDP utilizam partículas no lugar de fibras de madeira, conforme Figura
20. Trata-se de um painel formado por três camadas de partículas de madeira,
uma grossa no miolo e duas finas na superfície. Assim com o MDF, o material é
criado a partir de altas temperaturas e pressão. Utilizado na parte estrutural de
móveis, portas, gavetas, prateleiras e painéis de TV, conforme Figura 21.

FIGURA 20 – PAINÉIS DE MDP

FONTE: <https://imagens-revista-pro.vivadecora.com.br/uploads/2018/09/MDP-ou-MDF-placa-
de-madeira-mdp.jpg>. Acesso em: 7 maio 2020.

FIGURA 21 – MÓVEL EM MDP

FONTE: <https://bit.ly/3duEAEV>. Acesso em: 7 maio 2020.

112
TÓPICO 1 | MADEIRAS

OSB (Oriented Strand Board) – O OSB é uma chapa de tiras orientadas,


com multicamadas, organizadas na mesma direção, com formatos e espessuras
predeterminados, prensadas em camadas perpendiculares entre si e coladas com
resina sob alta temperatura e pressão, garantindo ao material alta rigidez, estabi-
lidade e resistência a impactos físicos e à umidade, conforme Figura 22. Pode ser
utilizado na construção civil em paredes, telhados, pisos, lajes, tapumes e barra-
cões de obra, conforme Figura 23. Na decoração é utilizado em luminárias, mesas,
cadeiras, aparadores, bancadas, pallets e cômodas. Podem ser Hardboard, que são
placas mais pesadas (até 1,59 kgf/dm³) de boa resistência mecânica, utilizadas
como elementos de vedação, de esquadria, de mobiliária e até mesmo com fun-
ção estrutural; ou Softboard, que são placas mais leves que pesam em média 0,16
kgf/dm³, utilizadas como revestimento de forros e isolamento térmico e acústico.
Apresentam o aspecto de um papelão, muitas vezes, furado.

FIGURA 22 –CHAPAS DE OSB

FONTE: <https://bit.ly/3eATrPx>. Acesso em: 7 maio 2020.

FIGURA 23 – OSB UTILIZADO EM PAREDES

FONTE: <https://www.hometeka.com.br/wp-content/uploads/2016/04/vantagens1-
750x500.jpg>. Acesso em: 7 maio 2020.

113
UNIDADE 2 | MADEIRAS E TINTAS

Madeira Compensada – A madeira compensada é formada pela superpo-


sição de folhas de madeira finas, com espessura média de 1,2 mm, coladas entre si
perpendicularmente, conforme Figura 24. Normalmente, são utilizadas três folhas,
podendo ser utilizadas cinco ou mais, sempre em número ímpar. Essas folhas são
extraídas das toras por meio de dois processos: o torneamento e o faqueamento.

As lâminas da madeira compensada são coladas sob pressão a quente


com resinas sintéticas. Os produtos são chapas de espessuras usuais de até 5 mm
(3 folhas); de 9 a 12 mm (7 folhas); 18 mm (9 folhas) e espessuras superiores com
11 folhas ou mais. As principais utilizações desse material são a confecção de mó-
veis, revestimentos de tetos, paredes e fôrmas para concreto, conforme Figura 25.

FIGURA 24 – PAINÉIS DE COMPENSADO

FONTE: <https://bit.ly/3dE7e6Q>. Acesso em: 7 maio 2020.

FIGURA 25 – FORMA DE COMPENSADO PLASTIFICADO

FONTE: <https://bit.ly/2BH4HeQ>. Acesso em: 7 maio 2020.

114
TÓPICO 1 | MADEIRAS

Madeira Aglomerada – A madeira aglomerada são as chapas resultantes


da aglomeração de pequenos fragmentos de madeira, como cavacos e aparas, sob
pressão, conforme Figura 26. O aglomerante pode ser mineral, como o Cimento
Portland ou resinas sintéticas. Para aumentar a durabilidade, as chapas recebem
tratamento superficial por lixamento e pintura ou podem ainda ser revestidas
com material polimérico, como a fórmica, tornando-se um material compósito.
Tem baixo custo, alta resistência a ataques, superfícies e bordar grosseiras, difícil
de ser trabalhada e não aceita pregos.

As madeiras utilizadas na fabricação de aglomerados são provenientes de


espécies de reflorestamento, principalmente o pinus e, em menor escala, algumas
espécies de eucalipto. As principais utilizações desse material são móveis, divisó-
rias e esquadrias, conforme Figura 27.

FIGURA 26 – CHAPA DE AGLOMERADO

FONTE: <https://bit.ly/3dxxCiz>. Acesso em: 7 maio 2020.

FIGURA 27 – REVESTIMENTO DE PAREDE COM AGLOMERADO

FONTE: <https://i.pinimg.com/originals/f9/42/f6/f942f60cd07b819227402dcb3f6e9a61.jpg>.
Acesso em: 7 maio 2020.

115
UNIDADE 2 | MADEIRAS E TINTAS

A utilização do bambu em construções sustentáveis

Ronaldo Massaharu Tatibana


Marcel Pereira dos Reis
Gislaine Bianchi

Pela falta de informação de grande parte da população brasileira, os ma-


teriais convencionais mais utilizados no Brasil, como o aço, o cimento e a alvena-
ria, não são materiais sustentáveis.

Na busca por construções mais sustentáveis aparece o bambu, como uma


nova matéria-prima, trazendo características como facilidade do manejo e a ver-
satilidade na utilização. Desta forma, além do Decreto nº 6.660, de 21 de setembro
de 2008, as novas leis socioambientais que regularizam a emissão e produção de
agentes poluidores, dão nova direção ao futuro das novas construções.

Estudos apontam que o bambu pode substituir o aço no concreto armado,


diminuindo a demanda desse material. Essa diminuição influencia nos processos
de obtenção, que utilizam recursos naturais não-renováveis, como o minério de
ferro, e no consumo de energia de natureza fóssil, o carvão, diminuindo conse-
quentemente a emissão de dióxido de carbono, agente causador do efeito estufa.

O bambu é uma planta lenhosa, monocotiledônea, constituída basica-


mente por colmo, rizoma e um sistema radicular fasciculado. Devido suas fibras
serem longas e dispostas paralelamente na direção longitudinal do colmo, o bam-
bu apresenta alta resistência físico-mecânica aos esforços de tração, compressão,
flexão e torção, e por isso tinha as mesmas utilizações que hoje são do aço.

Por ser um material natural, podem ocorrer variações nas propriedades


de resistência entre as espécies e entre os vegetais de uma mesma espécie. A par-
te central do colmo apresenta maior uniformidade das dimensões do diâmetro
e comprimento entre os nós.

O bambu apresenta sua resistência máxima quando está completamen-


te maduro, mas as espécies atingem a maturidade em idades diferentes. Somen-
te os bambus maduros devem ser usados como reforço em peças de concreto.

De acordo com estudos realizados por Ghavami (1992), é comprovado


que a relação entre resistência à tração e o peso específico do bambu, é mais
vantajosa para a construção quando comparada ao aço CA-50, ao alumínio e ao
ferro fundido, conforme a tabela a seguir.

Em pesquisas na PUC-RIO, Ghavami (1994) obteve valores de resistên-


cia diferentes entre as regiões de nó e entrenó do bambu da espécie Dendrocala-
mus giganteus. Ainda foi constatado, nesta espécie, um crescimento de até 32 cm
por dia, atingindo a altura máxima de 21 metros no período de 2 meses após a

116
TÓPICO 1 | MADEIRAS

brotação. Sendo que, após o período de 3 a 5 anos, já se encontra apto para ser
utilizado na construção civil.

TABELA – RELAÇÃO ENTRE RESISTÊNCIA À TRAÇÃO E PESO ESPECÍFICO

Res. Tração R= σt/


Material PesoEspecífico γ (N/mm³.10‾²) R/Raço=1
σt (N/mm²) γ.10²
Aço (CA 50 A) 500 7,83 0,63 1,00
Bambu 140 0,80 1,75 2,77
Alumínio 304 2,70 1,13 1,79
Ferro Fundido 281 7,20 0,39 0,62
FONTE: Ferreira e Gisleiva (2002, p. 13 apud TATIBANA; REIS; BIACHI, 2016)

Os valores apresentados nas tabelas a seguir são referentes as caracterís-


ticas físicas e mecânicas do Dendrocalamus giganteus:

TABELA – CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DO DENDROCALAMUS GIGANTEUS


Umidade Comprimen- Distância Diâmetro Espessura Peso Específico
Natural (%) to (m) entre nós (m) (m) (mm) (kN/m³)
17,60 21,00 0,50 0,10 11,00 9,00
FONTE: Ferreira e Gisleiva (2002, p. 14 apud TATIBANA; REIS; BIACHI, 2016)

TABELA ­– CARACTERÍSTICAS MECÂNICAS DO DENDROCALAMUS GIGANTEUS


Resistência à Compressão Resistência à Tração
(MPa) (MPa)
Zona do entrenó 80 150
Zona do nó 39 119
Módulo de Elasticidade 4020 14500
FONTE: Ferreira e Gisleiva (2002, p. 15 apud TATIBANA; REIS; BIACHI, 2016)

O bambu pode ser utilizado em diversas aplicações como material de


construção, dentre as quais destacam-se a obtenção de esteiras; como fôrmas
de lajes; para o erguimento de andaimes provisórios; como elemento de re-
forço no concreto; para a construção de telhados; na construção de cúpulas,
pórticos e arcadas; para a obtenção de materiais de construção; na constru-
ção de pontes pênseis e rígidas. As vantagens da utilização do bambu como
material de construção são:

• as características físicas do bambu permitem seu emprego em todo tipo


de estrutura, desde cabos para pontes pênseis e estruturas rígidas até as
modernas estruturas geodésicas e laminadas;
• sua forma circular e sua seção em geral oca o tornam um material leve,
de fácil transporte e armazenamento, permitindo a construção rápida de
estruturas temporárias ou permanentes;

117
UNIDADE 2 | MADEIRAS E TINTAS

• em cada um dos nós do bambu existe um tabique ou parede transversal


que, além de torná-lo mais rígido e elástico, evita sua ruptura ao curvar-se;
por esse motivo, o bambu é um material muito apropriado para constru-
ções resistentes a abalos sísmicos;
• o bambu pode ser empregado em combinação com qualquer tipo de ma-
terial de construção;
• o bambu continua sendo um dos materiais de construção preço mais baixo.

As desvantagens da utilização do bambu como material de construção são:

• o bambu, em contato permanente com a umidade do solo, apodrece e é


atacado por térmitas e outros insetos;
• o bambu é um material altamente inflamável quando seco; por isso deve
ser recoberto com uma substância ou material à prova de fogo;
• o bambu não tem um diâmetro igual em todo o seu comprimento; e tam-
bém não é constante a espessura da parede, o que algumas vezes resulta
em dificuldades na construção;

Essas desvantagens podem ser minimizadas ou superadas com a aplica-


ção de preservativos apropriados, com um bom projeto estrutural e a adoção de
procedimentos adequados para a preparação e aplicação dos produtos químicos
utilizados nos tratamentos preservativos. As espécies mais utilizadas na constru-
ção civil são: B. balcoa e D. balcoa, B. bambos b. A. e b.spinosa, G. Angustifolia, G. Acu-
leata, B. Vulgaris, B. Polymorpha, B. Tulda, D. strictus, G. Apus, G. Levis, P. Pubescens.

O Manejo Correto dos Colmos

Geralmente, as resistências físico-mecânicas ideais são alcançadas na


idade entre 3 a 7 anos, podendo variar entre as espécies. Neste período, os
processos de lignificação e a sílica exterior atingem seu ápice.

A altura do corte deve acontecer o mais próximo possível do solo, de


preferência, sendo rente ao primeiro nó, evitando-se a formação de “copinhos”
que possam acumular água e contaminar o rizoma, comprometendo o desen-
volvimento da planta. O corte deve ser feito, preferencialmente, nos meses em
que a umidade do ar é baixa, afim de se evitar rachaduras nos colmos.

As touceiras de bambu, geralmente, apresentam-se de forma circular


contendo os colmos maduros no centro. Porém, para que a identificação do
bambu seja mais precisa, é necessário que se identifiquem alguns pontos vi-
suais nos colmos. Os bambus mais jovens apresentam folhas caulinares e uma
espécie de manta branca em sua superfície (cera), por sua vez, os colmos mais
antigos apresentam liquens em sua superfície e uma coloração mais escura.

A época de corte e a idade do colmo definirão a sua durabilidade, ou


seja, a sua resistência quanto ao ataque dos insetos e fungos. Pode-se consi-

118
TÓPICO 1 | MADEIRAS

derar que o corte é o primeiro tratamento do bambu, entretanto, dependendo


do uso final, outros tratamentos se farão necessários.

A colheita é realizada, preferencialmente, no inverno quando as plan-


tas têm índices mais baixos de absorção solar e por isso acumulam menos
seiva, evitando-se os períodos de chuvas.

O bambu é formado essencialmente por feixes de fibras longitudi-


nais unidas fortemente por uma substância aglutinante. O teor de umidade
do bambu natural varia de 13% a 20%, dependendo do clima e da umidade
local. É um material higroscópio, dilatando-se com o aumento de umidade
e contraindo-se com a perda de água. O teor de umidade adequado para ser
usado no bambu é em torno de 12% a 15%.

Uma vez cortado, o bambu deve ser submetido imediatamente a um


tratamento de cura e secagem para evitar que insetos xilófagos construam
grandes galerias em sua parede. A secagem também não pode ser muito
abrupta, quando o bambu seca ocorre contração e seu diâmetro se reduz,
acarretando algumas patologias na construção, particularmente quando em-
pregado como reforço no concreto.

Tratamentos do Bambu

A durabilidade natural do bambu é relativamente pequena quando


comparada a outros materiais. O bambu terá vida útil de 4 a 7 anos, sem tra-
tamento, podendo atingir até 12 anos em condições climáticas perfeitas. Por
isso se faz necessário que este material recebe tratamento adequados.

O bambu, por ser rico em amido, torna-se muito atrativo para insetos
xilófagos como as “brocas” e alguns tipos de fungos. Para que não seja ata-
cado por estes tipos de insetos, faz-se necessário a utilização de métodos que
diminuam ou eliminem o amido presente nos colmos. A camada protetora
externa e os vasos, que cobrem uma pequena superfície de aproximadamen-
te 10% da seção transversal do colmo, tornam difíceis os tratamentos.

Os métodos de tratamento naturais utilizam substâncias encontradas


na natureza, datam de vários anos atrás, eram utilizados onde o bambu cres-
cia naturalmente, passados de geração a geração. Os métodos naturais são:

• Fumigação: tratamento do colmo de bambu com fumaça. Os agentes tóxi-


cos da fumaça e o calor penetram no colmo destruindo o amido e tornan-
do-o não atrativo a insetos, além de formar uma camada protetora escure-
cida através da carbonatação superficial.
• Imersão em água: armazena-se o bambu recém-cortado em tanques de
água ou em água corrente durante cerca de 3 a 4 semanas para a lixiviação
do amido, já que é uma substância solúvel em água. Faz-se necessário a

119
UNIDADE 2 | MADEIRAS E TINTAS

troca constante da água para evitar a contaminação. Os colmos de bambu


tendem a flutuar quando colocados na água, por essa razão devem ser co-
locados pesos sobre os colmos para fixa-los no fundo dos tanques.

Os métodos de tratamento naturais podem perder sua eficácia com o


passar do tempo, sendo necessário a inclusão de agentes químicos no processo
para que os bambus utilizados não sofram rapidamente com as intempéries.

Alguns métodos de tratamentos químicos podem ser efetuados uti-


lizando um processo básico de substituição de seiva ou de difusão, sendo
os métodos de imersão prolongada e o de Boucherie modificado, exemplos
destes processos. Para o tratamento químico recomenda-se o uso de uma
solução de 1% de concentração, preparada com sulfato de cobre, dicromato
de sódio e ácido bórico. No método de Boucherie modificado, o agente pre-
servativo é passado sob pressão por meio dos vasos, até que saia na outra
extremidade do colmo. Essa prática deve ser aplicada apenas ao bambu re-
cém-cortado, dentro de 24 horas após a colheita.

Utilização do Bambu no Concreto

A utilização do bambu no concreto tem como principal obstáculo a


pouca aderência que estes materiais desenvolvem entre si. Devido a sua alta
resistência a tração, Ghavami (1995) recomendou o uso do bambu como um
material alternativo, substituindo o aço, como reforço em peças de concreto.
Para o autor, as melhores espécies para este fim são B. vulgaris e D. giganteus,
respectivamente, com 170 MPa e 135 MPa de resistência a tração.

Utilizando-se de coeficientes de segurança mais conservadores do que


os estipulados pela NBR referente ao concreto armado, pode-se dizer que a
viabilidade de uso ou até mesmo a substituição do aço no reforço de peças de
concreto, torna-se algo possível. Sendo assim, estudos relacionados ao tema
tornam-se cada dia mais presentes. As altas resistências físicos-mecânicas,
impacto ambiental praticamente nulo, tempo de crescimento extremamente
curto, alta taxa de produção por metro quadrado, dentre inúmeras outras qua-
lidades, tornam o cultivo e utilização do bambu um ótimo investimento.

Quando tratado e aplicado de maneira correta, pode-se atingir fa-


cilmente o mesmo tempo de utilização dos materiais convencionais como o
concreto armado. Além disso, a relação resistência por peso, mostra-se inú-
meras vezes mais vantajosa quando colocada em comparação aos materiais
convencionais de construção.
FONTE: TATIBANA, R. M.; REIS, M. P.; BIANCHI, G. Bambu como matéria-prima para
construções sustentáveis. Cidades Verdes, v. 4, n. 10, p. 95-103, 2016.

120
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A madeira é um produto vegetal extraído do caule das árvores.



• Das madeiras podemos extrair diversos materiais para utilização na constru-
ção civil, entre eles: as fundações, estruturas, pavimentos, esquadrias, revesti-
mentos, coberturas, pontes, lastro de vias férreas, torres, templos e estruturas
de coberturas de grandes vãos.

• As madeiras são constituídas de: casca, alburno, cambio, cerne, medula, anéis
de crescimento e raios medulares.

• A produção da madeira é composta por cinco etapas: corte, toragem, falqueja-
mento, desdobro e aparelhamento.

• As madeiras podem apresentar defeitos de crescimento, secagem, produção e
alteração.

• Os processos de beneficiamento da madeira, isto é, a aplicação de tratamentos


para proteção contra o ataque de agentes biológicos ou intempéries podem ser
divididos em três grupos: secagem, preservação e transformação.

121
AUTOATIVIDADE

1 Muitos são os materiais utilizados na construção civil. Neste contexto, en-


contram-se as madeiras. Explique de onde este produto vegetal é extraído e
quais suas utilizações como material de construção.

R.:

2 De acordo com a germinação das árvores, assinale a alternativa correta:

I- Endógenas são os vegetais com a geminação interna.


II- Exógenas são os vegetais com a geminação externa.
III- As frondosas estão no grupo das gimnospermas.
IV- As coníferas estão no grupo das angiospermas.

a) ( ) Apenas I está correta.


b) ( ) Apenas II está correta.
c) ( ) I e II estão corretas.
d) ( ) I e III estão corretas.
e) ( ) I, II, III e IV estão corretas.

3 De acordo com as espécies de madeira para cada finalidade, assinale a alter-


nativa correta:

I- Madeiras finas: louro, açoita-cavalos, cedro, vinheira.


II- Madeiras duras, ou de Lei: pinho.
III- Madeiras resinosas: timbaúva.
IV- Madeiras brandas: grapia, angico, cabriúva.

a) ( ) Apenas I está correta.


b) ( ) Apenas II está correta.
c) ( ) I e II estão corretas.
d) ( ) I e III estão corretas.
e) ( ) I, II, III e IV estão corretas.

4 Explique o que são os anéis de crescimento e como podemos identificar as


estações do ano pela sua coloração.

R.:

5 Uma das etapas da produção de madeira é o desdobro. Explique as diferen-


ças entre o desdobro normal e o desdobro radial.

R.:

122
6 Um dos processos de beneficiamento da madeira é a transformação. Assi-
nale a alternativa correta:

I- O MDF é um painel manufaturado com partículas de madeira.


II- O MDP é um painel manufaturado com madeira ou outras fibras naturais.
III- O OSB é uma chapa de tiras orientadas, com multicamadas, organizadas
na mesma direção, coladas com resina sob alta temperatura e pressão.

a) ( ) Apenas I está correta.


b) ( ) Apenas II está correta.
c) ( ) Apenas a III está correta.
d) ( ) I e III estão corretas.
e) ( ) I, II e III estão corretas.

123
124
UNIDADE 2 TÓPICO 2

TINTAS

1 INTRODUÇÃO
Prezado estudante, neste segundo tópico, falaremos sobre as tintas, ma-
teriais destinados a cobrir, colorir e proteger superfícies na construção civil. As
tintas são aplicadas no estado líquido e por meio de reações químicas endurecem,
o que as torna uma película sólida, flexível, resistente e aderente a uma superfície.

Neste tópico, nosso objetivo é fazer com que você entenda o conceito de tintas,
vernizes e lacas; consiga identificar as tintas de acordo com suas composições e pro-
priedades; e saiba quais são os processos de preparo de uma superfície para pinturas.

As tintas são materiais de consistência líquida ou pastosa. Podem ser brilhantes


ou opacas, transparentes ou não, coloridas ou incolores, podendo ou não apresentar
resistência a determinados tipos de agentes agressivos (PETRUCCI, 1995).

As tintas são constituídas essencialmente de uma suspensão de partículas


opacas, que são os pigmentos, em um veículo fluído. As partículas têm a função
de cobrir e decorar a superfície, já o veículo tem a função de aglutinar as partícu-
las e formar a película de proteção (BAUER, 1994).

Nas edificações, por uma necessidade arquitetônica, as tintas são aplica-


das como forma de embelezamento; por necessidade técnica contra agentes de
destruição, como intempéries e agentes biológicos, como forma de proteção; por
necessidade de sinalização com destaque de cor em canalizações, como forma de
sinalização. A função principal vai depender do que será pintado (LARA, 2013).

Assim, são duas as funções principais que influenciam na composição de


uma tinta, proteger e embelezar. Por exemplo, uma tinta preparada para a co-
bertura de uma ponte, tem a função principal de proteção, e a função beleza fica
condicionada a esta. Uma tinta preparada para a pintura interna de uma sala de
estar, a função beleza é a mais importante (PETRUCCI, 1995).

Atualmente, são fabricadas tintas que podem atender as mais diversas


finalidades, entre elas, luminescentes, tintas que inibem o ataque de fungos, bac-
térias, algas e outro organismos, tintas resistentes ao calor, à prova de fogo, entre
outras (BAUER, 1994).

As tintas são apresentadas em catálogos, com inúmeras cores distintas,


conforme Figura 28. Os técnicos devem utilizar racionalmente as cores, utilizan-
do a técnica denominada de “aplicação funcional da cor”, na qual basicamente
125
UNIDADE 2 | MADEIRAS E TINTAS

são estudadas as cores e as emoções provocadas por cada uma delas. Por exem-
plo, o vermelho, o laranja e o amarelo são chamados de cores quentes, que são as
cores excitantes e vibrantes. O verde e o azul-claro são chamados de cores frias,
que são cores tranquilizantes e monótonas. O azul escuro e cinza são cores que
inspiram quietude e suavidade (PETRUCCI, 1995). Um exemplo de aplicação de
tintas coloridas pode ser visualizado na Figura 29.

As cores também têm peso e dimensão. As cores escuras dão maior sen-
sação de peso aos objetos, enquanto as cores claras dão maior dimensão. Essas
características são importantes, pois podem dar maior sensação de aconchego ou
amplitude nos projetos arquitetônicos (PETRUCCI, 1995).

FIGURA 28 – LATAS DE TINTAS COLORIDAS

FONTE: <https://bit.ly/31h9OwI>. Acesso em: 7 maio 2020.

126
TÓPICO 2 | TINTAS

FIGURA 29 – TINTAS COLORIDAS NA FACHADA

FONTE: <https://bit.ly/2A3c3c1>. Acesso em: 7 maio 2020.

Tintas são, em sua maioria, elementos poluentes e, portanto, não devem


ser estocados e descartados de qualquer maneira. Estes materiais devem ser es-
tudados e conhecidos para que sejam utilizados com técnica, profissionalismo e
consciência ecológica (LARA, 2013).

2 COMPOSIÇÃO DAS TINTAS


De acordo com Lara (2013), as tintas possuem quatro componentes bási-
cos: veículo, pigmento, solvente e aditivo.

a) Veículo: é a parte líquida da tinta, que se torna aglutinante e prende o pig-


mento na superfície pintada, formando o que pode ser chamado de filme, ou
película, quando a tinta enrijece. Normalmente as tintas recebem o nome dos
veículos.

127
UNIDADE 2 | MADEIRAS E TINTAS

DICAS

Veículos diferentes produzem tintas com propriedades físicas e químicas di-


ferentes.

Os materiais utilizados como veículos para as tintas são os óleos secantes


(óleos vegetais), as resinas naturais (goma-laca, proveniente da excreção de um
inseto da Índia, o copal e o látex) e as resinas sintéticas (alquídica, fenólica, epóxi,
acrílica, vinílica e PVA).

b) Pigmento: são partículas solidas, insolúveis nos veículos, conforme Figura 30.
Podem ser inertes ou ativas. Tem as funções de caracterização das cores (pig-
mentos ativos), incorporação de resistência mecânica à abrasão e aos raios ultra-
violetas, e consistência, poder de lixamento e nível de brilho (pigmentos inertes).

Os pigmentos ativos são os alvaiades, óxido de titânio, negro de fumo, pó


de alumínio, óxido de ferro, óxido de chumbo, cromato de zinco, fosfato de zinco.
Os pigmentos inertes são o silicato de magnésio (talco), sulfato de cálcio (gesso),
caulim (argila), carbonato de cálcio (calcita).

FIGURA 30 – PIGMENTOS EM PÓ PARA TINTAS

FONTE: <https://www.amopintar.com/wp-content/uploads/os-pigmentos.jpg>. Acesso em: 7


maio 2020.

128
TÓPICO 2 | TINTAS

Segue, a seguir, a Tabela 4 com os pigmentos mais comuns, e suas respec-


tivas cores, de acordo com Petruccci (1995).

TABELA 4 – COR E SEUS RESPECTIVOS PIGMENTOS

Cor Pigmento
Branco Óxido de titânio, óxido de zinco, lipotone
Azul Azul-da-prússia, azul ftalocianina
Amarelo e Laranja Cromatos de chumbo, amarelo de cádmio, óxido de ferro amarelo
Preto Negro de fumo, óxido de ferro preto
Vermelho Vermelho de cloroparanitroanilina, vermelho de toluidina, litol rubine
Verde Óxido de cromo verde, misturas de amarelo e azul
Marrrom Óxido de ferro marrom
FONTE: Adaptado de Petrucci (1995, p. 379)

c) Solvente: são líquidos orgânicos, que tornam as tintas menos viscosas, o que
facilita sua aplicação. Influenciam na formação do filme por meio de reações
químicas com o ar ou com os catalisadores, convertendo do estado líquido ao
estado sólido os veículos que fixam os pigmentos na superfície pintada. Os
solventes mais comuns são: aguarrás, querosene, thinner e água, sendo cada
um utilizado em um tipo especifico de tinta. Geralmente, para dificultar a se-
dimentação dos pigmentos, as tintas são fornecidas com menor quantidade de
solvente. Este deve ser adicionado à tinta na hora da aplicação.

d) Aditivo: são substâncias adicionadas em pequenas quantidades, consideradas


segredos de cada fábrica, pois atuam como elementos auxiliares das tintas, me-
lhorando ou proporcionando propriedades e diminuindo o aparecimento de
defeitos nas pinturas. Os aditivos podem ser antissedimentares, antiespuman-
tes, plastificantes, fungicidas, dispersantes e secantes, entre outros, capazes de
modificar as propriedades das tintas.

3 CLASSIFICAÇÃO
Atualmente, as tintas diferem tanto entre si, que não é possível classificar,
pois são muitas as combinações entre os veículos, pigmentos, solventes, muitas
origens e muitas finalidades. De forma didática, de acordo com Bauer (1994), po-
demos classificar as tintas em:

• tintas a óleo;
• tintas plásticas emulsionáveis;
• tintas para caiação;
• tintas especiais.

129
UNIDADE 2 | MADEIRAS E TINTAS

3.1 TINTAS A ÓLEO


As tintas a óleo são compostas por veículo, solvente, secantes, pigmentos,
pigmentos reforçadores e cargas.

Os veículos são óleos secativos, que quando expostos ao ar, em finas cama-
das, formam uma película útil, sendo essa sólida, flexível, resistente, aderente à su-
perfície e aglutinante ao pigmento. São principais constituintes químicos são ésteres
derivados de ácidos graxos insaturados e glicerina.

Os principais óleos naturais utilizados como veículos na fabricação dessas


tintas são o óleo de linhaça, de tungue, de soja, de mamona e de oiticica.

As tintas atuais apresentam excelentes qualidades pela utilização de óleos


modificados como veículos. Os óleos naturais são isomerizados, e assim fornecem
duplas ligações em posições conjugadas, que resultam em maior rapidez na forma-
ção da película. As principais vantagens dessa modificação são a melhor adesividade
da película, melhor flexibilidade, possibilidade de emprego de solventes mais econô-
micos e secagem mais rápida.

São tintas de aplicação geral em edificações, pinturas em madeiras, metais


ferrosos e material cerâmico (rebocos e tijolos). Nas áreas internas apresenta a um
melhor acabamento e fácil lavagem. Não é indicada para ambientes com tendência à
umidade, como tetos de banheiros, por serem muito suscetíveis à formação de mofo.

3.2 TINTAS PLÁSTICAS EMULSIONÁVEIS


As tintas plásticas emulsionáveis são aquelas nas quais uma resina não so-
lúvel em água ou uma solução de resinas em solventes é convertida numa emulsão.

São compostas por látex, plastificante, pigmento, carga, agente emulsionan-


te, coloide protetores, agente sequestrante, solvente, fungicida, aditivo para evitar o
congelamento e água. Podem ser feitas tintas sem incluir todos estes componentes,
variando de acordo com o formulador e a finalidade da tinta.

• PVA (Poliacetato de Vinila) – A tinta PVA é um exemplo de tinta acrílica emul-


sionável. É uma tinta com boa resistência, boa cobertura, nivelamento e unifor-
midade no acabamento. Muito conhecida e viável economicamente. Indicada
para materiais cerâmicos, rebocos, concretos e madeiras.

130
TÓPICO 2 | TINTAS

3.3 TINTAS PARA CAIAÇÃO


São tintas que tem como principal componente a cal hidratada. É feita a
partir da mistura da cal com a água, formando uma nata, que então é espalhada
pela superfície. Essa mistura endurece pela ação do gás carbônico e se prende à
superfície, como um aglomerante aéreo. Apresenta um acabamento muito branco
e luminoso. São necessárias duas demãos. Em forros, pode ser adicionado gesso.

Para obtenção de tintas coloridas, podem ser adicionados pigmentos ou


corantes resistentes à cal, em torno de 10%. Para aumentar a aderência e a durabi-
lidade, podem ser adicionadas colas de caseína, de peixe, de carpinteiro. São tin-
tas econômicas, porém seu aspecto final é muito inferior se comparada as demais.

3.4 TINTAS ESPECIAIS


As tintas especiais são tintas que atendem a uma finalidade específica.

Tintas resistentes ao calor – O calor elevado pode causar bolhas, carboni-
zação e destruição das tintas comuns, portanto, em casos especiais se faz necessá-
ria a utilização de tintas resistentes ao calor.

Essas tintas têm veículos a base de siliconas, pós metálicos para proteger
a película por condução e reflexão do calor, tais como pós de alumínio, zinco e
estanho, e pigmentos especiais, como o grafite, mica, óxido de cromo, antimônio,
cobalto, sulfato de bário, que suportam temperaturas elevadas.

São indicadas para acabamentos em fornos, chaminés, colunas de destila-


ção e câmaras de combustão.

Tintas retardadores de combustão – São tintas que tornam os materiais


combustíveis menos inflamáveis. Isso ocorre pela decomposição dos componen-
tes da tinta pelo calor, formando amônia, água e dióxido de carbono, que impe-
dem o acesso do oxigênio à superfície. São compostas por fosfato de cálcio e amô-
nio, fosfato de magnésio e amônio, borato, carbonatos e óxidos metálicos básicos.

Também podem ser adicionados a estas tintas materiais que se fundem


em altas temperaturas, formando uma espuma vítrea. A estes materiais damos o
nome de intumescentes,

Tintas indicadoras de temperatura – As tintas indicadoras de temperatu-


ra são tintas que tem a capacidade de mudar de cor em temperaturas definidas.
É possível definir temperaturas de 45 °C a 1400 °C. São compostas por sais du-
plos e amino-sais de ferro, cobalto, manganês, níquel, cobre, cromo, molibdênio
e urânio. São utilizadas em isolamentos térmicos e para indicar pontos quentes
em equipamentos.

131
UNIDADE 2 | MADEIRAS E TINTAS

Tintas anticondensação – As tintas anticondensação são utilizadas em


superfícies nas quais devem absorver grandes quantidades de umidade antes de
se apresentarem molhadas. É uma pasta fibrosa, que age também como isolante
térmico. São utilizadas em paredes e tetos, em navios.

Tintas inibidoras do desenvolvimento de organismos – As tintas inibi-


doras do desenvolvimento de organismos são tintas que previnem o ataque de
larvas marinhas, fungos, algas e mariscos à superfície em que são aplicadas. São
compostas por veículos e pigmentos tóxicos para esses organismos. Os veículos
mais utilizados são óxido cuproso, oleato de metil mercúrio, naftenatos de cobre
e zinco, óxido de mercúrio. São utilizadas em navios e ancoradouros.

Tintas luminescentes – As tintas luminescentes podem ser fluorescentes


ou fosforescentes. As tintas fluorescentes absorvem a radiação ultravioleta e emi-
tem luz apenas quando irradiadas. Os principais pigmentos utilizados são sulfeto
de zinco e cádmio.

As tintas fosforescentes absorvem a radiação ultravioleta e continuam a
brilhar depois que a radiação cessou. São compostas por sulfetos de zinco e cálcio.
Podem ter brilho intenso e de curta duração ou brilho de baixa intensidade com
longa duração. São utilizadas em mostradores de aparelhos e sinais de tráfego.

4 VERNIZES, LACAS E ESMALTES


De acordo com Petrucci (1995), os vernizes são produtos de consistência lí-
quida ou semilíquida, que deixam uma cobertura fina, com aspecto brilhante, trans-
parente, incolor ou colorida. Basicamente, é formado por um solvente e um produto
dissolvido, que forma o filme. Esse produto pode ser óleo, resina natural ou sintética,
ou ainda uma mistura. Sua secagem ocorre pela evaporação do solvente.

A característica própria e essencial ao verniz é sua transparência. São uti-


lizados para a pintura de madeiras nobres e materiais cerâmicos. Quando com-
parado a outras tintas, a durabilidade dos vernizes é baixa, pela ausência de pig-
mentos. Os vernizes sintéticos são mais resistentes, principalmente se usados em
interiores. De acordo com Bauer (1994), podem ser divididos em dois grupos:

a) vernizes à base de óleo: a base da formação da película são resina e óleo secativo;
b) vernizes à base de solventes: são convertidos em película útil pela evaporação
do solvente.

Existem ainda os vernizes negros, os únicos que não são transparentes,


formados de betumes naturais, com óleos e resinas.

Segundo Bauer (1994), as lacas são materiais compostos de um veículo


volátil, uma resina sintética, um plastificante, cargas e pode ter ou não corantes.

132
TÓPICO 2 | TINTAS

Os esmaltes são vernizes e tintas com adição de pigmentos, resultando em uma


tinta com capacidade de formar um filme.

Os esmaltes à base de epóxi são apresentados em dois componentes que


necessitam ser misturados antes da aplicação. São tintas de alto desempenho, de
excepcional aderência e elevada resistência física e química. Os esmaltes à base de
epóxi são de grande aplicação industrial em ambientes agressivos, mas não apre-
sentam muitas aplicações domésticas, tanto pela falta desses ambientes, quanto
pela limitação das cores, pouco arquitetônicas.

5 PREPARO DAS SUPERFÍCIES



Antes de receber as tintas, as superfícies devem ser preparadas, cada uma
de acordo com suas necessidades especiais. Essas superfícies devem estar limpas,
secas, lisas e planas, isentas de óleos, graxas, ferrugem e poeira (BAUER, 1994;
LARA, 2013).

Deve-se aplicar uma película intermediaria para garantir um bom resul-


tado final. Esta película pode ser um primer, isto é, a primeira de duas ou mais
demãos de tinta ou verniz ou um surfacer, isto é, uma composição pigmentada
para corrigir pequenas irregularidades (BAUER, 1994). A seguir, abordaremos o
preparo de cada superfície.

5.1 PAREDES COM REBOCO


As paredes com reboco que receberão tintas devem estar limpas e secas. É
necessária a aplicação das seguintes demãos:

• selador: composição líquida que visa reduzir e uniformizar a absorção da superfície;


• emassado: serve para fechar trincas e buracos na superfície, que só aparecem após
a aplicação do selador;
• aparelhamento: serve para mudar as condições da superfície, alisando ou texturi-
zando.

5.2 MADEIRAS
As madeiras recebem as mesmas demãos das paredes com reboco. Algu-
mas madeiras contêm substâncias que podem interferir na secagem das tintas.

133
UNIDADE 2 | MADEIRAS E TINTAS

5.3 METAIS
Os metais devem ser limpos e secos. Podem ser feitos tratamentos fosfati-
zantes ou passivantes antes da aplicação das tintas. É necessária a aplicação das
seguintes demãos:

• fundo antióxido de ancoragem;


• selador;
• emassado;
• fundo mate.

6 MÉTODOS DE APLICAÇÃO
Diversos são os métodos de aplicação de tintas, vernizes, lacas e esmaltes.
Os principais, de acordo com Bauer (1994) são:

• Aplicação a pincel e rolo manual: é uma aplicação lenta, necessita de prática e


não é empregada em linhas de produção.
• Nebulização a ar comprimido: é a forma comum de nebulizar, consiste em
introduzir a tinta num fluxo rápido de ar por um sistema de orifícios, subdivi-
dindo em minúsculas gotas. É efetivo com tintas de baixa viscosidade.
• Nebulização sem ar: é feita com uma bomba de alta pressão que força a tinta
através de um bocal estreito. Pela velocidade, a tinta é subdividida em gotículas.
• Nebulização eletrostática: neste processo, a tinta é expelida pela borda de um
corpo ou disco rotativo, ligado a uma fonte de alta tensão, resultando numa
névoa de partículas de tinta.
• Imersão: é feita pela imersão do objeto a ser pintado na tinta. Após deve ser
retirado e escoado o excesso de tinta.
• Aplicação por jorro: é feito em um reservatório pequeno com canos perfura-
dos, por onde a tinta é jorrada no objeto a ser pintado. O excesso de tinta é
coletado e reutilizado.
• Aplicação por rolo: processo relacionado com impressão. Os objetos são pin-
tados com um rolo para receber uma cor de fundo e após são aplicadas neles
matérias publicitarias.
• Aplicação por cortina: o objeto a ser pintado passa por uma cortina de tinta.
Foi desenvolvido para aplicação de tintas à base de poliésteres insaturados.
Muito utilizado em acabamentos de madeira.

7 DEFEITOS DAS TINTAS


As tintas devem ser aplicadas de forma homogênea. Quando isso não é
possível, acontece o que chamamos de defeitos nas tintas. De acordo com Petrucci
(1995), os principais defeitos são:

134
TÓPICO 2 | TINTAS

• Geleificação: acontece quando a tinta se converte num produto geleificado. É re-


sultante do excesso de temperatura na fabricação da resina, que se polimeriza den-
tro da lata. Pode ocorrer quando se expõe a lata de tinta ao calor.
• Existência de sedimento duro: acontece quando, mesmo após mexer o conteúdo
da lata, alguns pigmentos permanecem sedimentados.
• Não mexer a tinta: quando ocorre esse esquecimento, a pintura no início fica seme-
lhante a um verniz, sem pigmentação e após tem um gradiente de cor, tornando-se
fosca. No final, a superfície apresenta um gradiente de tonalidades e manchas.
• Diluição em demasia: acontece quando a tinta é diluída em demasia, apresentan-
do baixa viscosidade e, consequentemente, baixa cobertura.
• Tinta muito grossa: acontece quando a tinta é aplicada em camadas muito grossas,
com espalhamento, acabamento e adesão ruins. Quando aplicada assim, a tinta
demora muito para secar, podendo ocasionar enrugamentos da película. Pode-se
solucionar esse defeito com a adição de um solvente indicado.
• Tinta pobre em cobertura: pode acontecer quando são aplicadas cores claras em
bases escuras ou quando a tinta está diluída demais. Para solucionar esse defeito
devem ser dadas mais demãos de tinta.
• Tinta encrespando ou enrugando: acontece quando são aplicadas demãos de tin-
ta, uma sobre a outra, sem o tempo necessário para secar, ou quando são aplicadas
demãos muito grossas de tintas. O calor também pode ocasionar esse defeito.
• A tinta não seca: acontece quando não há secante na tinta, o secante foi absorvido
pelo pigmento ou a tinta foi aplicada sobre óleos, graxas e resinas.
• Perda de brilho: a tinta brilhante é feita para perder seu brilho e se tornar áspera
no final de sua vida útil, servindo como suporte para uma nova aplicação de tinta.
Quando essa perda de brilho acontece, pode haver absorção do veículo da tinta ou
emprego inadequado de solventes. Para solucionar esse defeito deve ser aplicado
um selador com o objetivo de tapar os poros.
• Falta de adesão: acontece quando a tinta é aplicada sobre superfície inadequada,
sobre óleos, graxas e gorduras ou sobre um filme de tinta aplicado há algum tem-
po. Para solucionar esse defeito deve ser lixada a superfície ou aplicar um solvente
para amolecer o filme.
• Desenvolvimento de mofo: acontece comumente em tintas a óleo, pois o óleo é
um substrato natural para o desenvolvimento do mofo. Para solucionar esse defei-
to deve-se adicionar óxido de zinco, quando possível, ou antimofos.
• Calcinação: acontece naturalmente no fim da vida útil de um filme de tinta. Os
raios ultravioletas destroem o formador do filme, deixando o pigmento sob forma
pulverulenta, sobre o restante da tinta.
• Gretamento: acontece quando há uma falha no filme da tinta, com desenho irregu-
lar, que não atinge a superfície na qual a tinta foi aplicada. Pode ser provocado por
veículo pouco elástico, pigmento que favorece o gretamento, aplicação de tintas
indicadas para interiores no exterior ou aplicação de um filme elástico sobre outro
mais elástico.
• Fendilhamento: acontece quando há uma falha no filme da tinta, com desenho de
linhas paralelas, com uma fratura que atinge a superfície. Quase sempre acontece
na madeira. Pode ser provocado por falta de elasticidade ou em madeiras úmidas.
• Descascamento: acontece após o gretamento, quando a superfície não foi prepa-
rada corretamente.

135
UNIDADE 2 | MADEIRAS E TINTAS

• Formação de bolhas: as bolhas dificilmente são provocadas pelas tintas, e sim por
defeitos na aplicação. Acontece quando um gás ou liquido em evaporação pro-
duz uma pressão sob o filme de tinta. Podem ser produzidas por madeira úmida,
ferrugem, retenção de líquidos de ponto de ebulição elevados, retenção do ar ou
gotículas de água.

136
TÓPICO 2 | TINTAS

LEITURA COMPLEMENTAR

Uma perspectiva dos resíduos de tintas e vernizes no Brasil

Hedelvan Emerson Fardin


Jorge Orlando Cuéllar Noguera

As tintas possuem solventes orgânicos, como benzeno, xileno, tolue-


no e cicloexano, conhecidos como Compostos Orgânicos Voláteis (VOC), que podem
apresentar alta inflamabilidade, forte odor e toxidade. No organismo humano, es-
ses componentes orgânicos voláteis são responsáveis por patologias, que podem ser
identificadas por náuseas, reações alérgicas e irritações em diversas partes do corpo.
Quanto ao Chumbo, desde 2008, a concentração deste elemento químico não pode
ser superior a 0,06%, em peso, sendo, em concordância com a Lei nº 11.762, é proibida
a fabricação, comercialização, distribuição e importação de produtos fora do estipula-
do legalmente.

Quando se descarta incorretamente tintas no meio ambiente, ocorre a degra-


dação da camada de ozônio por ação dos VOC; alteração do pH (potencial hidrogê-
nico) do solo ou de águas; dificuldade do tratamento de efluentes pelo acúmulo de
clorobenzeno.

A degradação da camada de ozônio aumenta o efeito estufa, o descongela-


mento de geleiras e o aumento do nível da água nos oceanos, a incidência de raios
ultravioleta, que causa a ascendência de casos de cânceres de pele em seres humanos.

Quando ocorre alteração do potencial hidrogênico (pH) da água no meio am-


biente, pode-se ter água ácida abaixo de 7 ou alcalina acima deste valor. Dependen-
do da natureza dos animais que habitam o manancial onde ocorra alteração do seu
pH, provavelmente haverá mortandade dos mesmos. Enquanto que, para o consumo
humano, uma água que venha da natureza com o pH desregular, requisitará maior
demanda de tratamentos químicos para ser direcionada ao abastecimento. Por outro
lado, se houver a alternância no pH de algum tipo de solo, dependendo de sua com-
posição inicial, tornar-se-ia mais ácido ou alcalino em concordância com sua natureza
mineralógica. Portanto, se o uso do solo fosse voltado para agricultura e estivesse
ácido, dever-se-ia aplicar o processo de calagem para reuso.

Outro aspecto que deve ser considerado é o consumo energético indispensá-


vel nos processos de fabricação das tintas e vernizes, que de acordo com a Companhia
Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) (SÃO PAULO, 2006, p. 42), muitos seto-
res da indústria de tintas não se utilizam de maquinários com eficiência energética e
empregam fontes de energia a partir da queima de óleo combustível, óleo diesel, ou
gás natural. Sendo assim, indústria necessita controlar os gases emitidos à atmosfera,
além de, essencialmente, cogitar inovações em seus sistemas produtivos que venham
a empregar as fontes naturais por renováveis como o biodiesel.

137
UNIDADE 2 | MADEIRAS E TINTAS

A água sob outra perspectiva na indústria de tintas e vernizes, é utilizada em


larga escala, seja diretamente na produção ou indiretamente, como em operações de
limpeza (SÃO PAULO, 2006, p. 42). Obviamente que o uso inconsciente deste recurso
natural agrava o atual contexto hidrológico que vivenciamos, onde, a depender da
região e da época do ano, a natureza perece nas secas ou em cheias.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) que é particularmente nova


no contexto legislativo ambiental brasileiro. A Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010,
institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos e altera a Lei nº 9.605/98. Ela não pre-
vê apenas as destinações necessárias aos resíduos sólidos, mas essencialmente almeja
a redução da produção desnecessária de resíduos. Ainda levando em consideração
a Lei nº 12.305/2010, mais especificadamente o artigo 13, percebe-se que os resíduos
de tintas e vernizes da construção civil são classificados entre os demais, em concor-
dância com a alínea “h” do Inciso I em que, quanto à origem, são resíduos da cons-
trução civil; paralelamente, em relação ao Inciso II do mesmo artigo, tais resíduos
são considerados perigosos de acordo com alínea “a” devido as suas características e
periculosidade à saúde e ao Meio Ambiente.

Quanto à classificação dos resíduos, toma-se como referência a norma brasi-


leira ABNT NBR 10004:2004 – Resíduos Sólidos – Classificação, em que pela maioria
das tintas verifica-se características de inflamabilidade, reatividade, toxidade ou pa-
togenicidade e, portanto, seus resíduos devem ser considerados perigosos de classe I.
Porém, há de se considerar uma classificação condizente para cada especificidade de
resíduo referente à tinta em questão, tomando como consideração a composição que
a mesma apresenta e verificando se as características de periculosidade citadas acima
são pertinentes à tinta.

Paralelamente, o Conselho Nacional do Meio Ambiente, através da resolução


CONAMA nº 307/2002, classifica os resíduos de tintas como pertinentes aos resíduos
da construção civil e para tanto, classifica tais resíduos como Classe D – perigosos da
construção civil que além das tintas, incluem-se óleos, solvente e amianto. Afora isso, a
mesma resolução define o que são resíduos da construção civil, quem são os geradores,
transportadores, entre outros. E, em consonância com a norma, vale ressaltar que gera-
dores “são pessoas, físicas ou jurídicas, públicas ou privadas, responsáveis por atividades
ou empreendimentos que gerem os resíduos definidos nessa Resolução” (BRASIL, 2002).

Quanto à parte legislativa, é perceptível uma unanimidade referente à peri-


culosidade que as tintas e vernizes representam à saúde e ao meio ambiente. Esses
fatores são essenciais para uniformemente classificar os resíduos de tintas e vernizes
como perigosos em todos os casos, pois, se tal classificação não pudesse ser verificada
em nossa Legislação, teríamos tamanho equívoco desonesto para com o bem-estar
socioambiental.

A nova Política Nacional de Resíduos Sólidos deve ser regulamentada ain-


da neste ano, estabelecendo o conceito de “responsabilidade compartilhada” entre
fabricantes, revendedores e usuários à destinação ou reciclagem de produtos ou em-
balagens. O papel de cada agente só então ficará mais bem definido. Um dos pontos

138
TÓPICO 2 | TINTAS

positivos da legislação é que, na gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, é esta-


belecida a seguinte ordem de prioridade: não geração, redução, reutilização, recicla-
gem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada
dos rejeitos (BONFIM, 2010, p.1-2).

A partir da citação anterior, em comparação com o próprio texto da PNRS,


percebe-se uma preocupação ambiental para com os resíduos de tintas até então não
tidos. Os paradigmas de anteriormente foram substituídos por novos a partir da re-
gulamentação deste setor na questão ambiental, pois ficou clara a necessidade de
atenção aos químicos deste setor em relação à questão ambiental.

A própria Política Nacional de Resíduos Sólidos previa o alcance de recicla-


gem dos resíduos em 20% até 2015 (BRASIL, 2010). Esse número ainda não pode ser
conferido. O importante é questionar se realmente o panorama de redução de resí-
duos sofreu mudanças durante o período estipulado. Quanto às tintas isso é pouco
perceptível, afinal muitas pessoas utilizam-se desse material de construção e ao fim
da empreitada não sabem como direcioná-lo. É devida uma generalização acerca do
tratamento desses resíduos para que tal conhecimento seja disseminado entre a so-
ciedade.

Muitas vezes surge a dúvida sobre a possibilidade de reciclagem da tinta, mas


isso nem tem ocorrido devido à mistura homogênea química que torna difícil sua de-
composição e separação de compostos. Porém, as tintas podem ser reutilizadas e é essa
ação que tem surtido mais efeito em prol do Meio Ambiente. Elas ainda podem ser
destinadas a aterros, desde que condizentes com sua classificação (ECYCLE, 2015).

Levando em consideração a toxidade presente nos compostos das tintas e


vernizes, algumas vezes há a indicação da utilização de tintas ecológicas à tinta con-
vencional. O problema é que um usuário comum, que desconhece a composição e
diferenciação de ambas não sabe que uma tinta ecológica apenas minimiza os pro-
blemas ambientais e problemas relativos à saúde. De acordo com o site Ecycle (2015),
essa tipologia de tintas é assim denominada por não requerer grandes quantidades
de pigmentos à base de metais pesados, ter menor teor de VOC, não possuir odor,
utilizar fontes renováveis e em abundância, apresentar baixo teor de insumos sinté-
ticos e acima de tudo, reduzir os efeitos negativos ao Meio Ambiente. Frente a isso,
não se pode considerar uma tinta ecológica como solução aos problemas ambientais
causados por tintas, haja vista que mesmo ao utilizar tais tintas e houver sobras da
mesma, o usuário não pode simplesmente descartá-la no lixo comum, pois ela ainda
apresenta características de periculosidade pertinentes às tintas convencionais e ain-
da assim devem ser tratadas como resíduos perigosos de Classe I de acordo com a
ABNT NBR 10004:2004.

Considerando então a Política Nacional de Resíduos Sólidos (BRASIL, 2010),


o que regra a destinação correta de resíduos de tintas, é o conceito da responsabilida-
de compartilhada, em que todos, a incluir usuários e fabricantes possuem responsa-
bilidade sobre o resíduo gerado a partir do produto específico.

139
UNIDADE 2 | MADEIRAS E TINTAS

Para evitar o desperdício de tintas e a destinação correta das embalagens de-


las, pode-se seguir os seguintes passos:

• calcular corretamente e adquirir apenas o volume de tinta necessário para a


obra, evitando assim sobra;
• armazenar corretamente a tinta e os instrumentos de pintura durante a reali-
zação do trabalho;
• não guardar sobras de tintas, aproveitando-as imediatamente em outros locais
(como tapumes) ou doando-as;
• limpar instrumentos de pintura somente no final do trabalho;
• não lavar as latas para não gerar efluentes poluidores e sim, esgotar seu conteú-
do em folhas de jornal ou restos de madeira (que podem ir para o lixo comum),
escorrer e raspar os resíduos com espátula;
• inutilizar as embalagens no momento do descarte, evitando seu uso para ou-
tras finalidades;
• encaminhar latas com filme de tinta seco para uma área de transbordo e tria-
gem ou para reciclagem;
• guardar sobras de solventes em recipientes bem fechados, para utilização futura
em outras obras, ou enviá-los para empresa de recuperação ou de incineração.

FONTE: FARDIN, H. E.; NOGUERA, J. O. C. Uma perspectiva dos resíduos de tintas e vernizes no
município de Sobradinho/RS. Revista Monografias Ambientais, v. 15, n. 1, p. 61-73, 2016.

140
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Tintas são os materiais destinados a cobrir, colorir e proteger uma superfície.

• As tintas possuem quatro componentes básicos: veículo, pigmento, solvente e


aditivo.

• As tintas podem ser classificadas em: tintas a óleo; tintas plásticas emulsioná-
veis, tintas para caiação e tintas especiais.

• Os vernizes são produtos de consistência líquida ou semilíquida, que deixam


uma cobertura fina, com aspecto brilhante, transparente, incolor ou colorida.

• As lacas são materiais compostos de um veículo volátil, uma resina sintética,
um plastificante, cargas e pode ter ou não corantes.

• Os esmaltes são vernizes e tintas com adição de pigmentos, resultando em
uma tinta com capacidade de formar um filme.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

141
AUTOATIVIDADE

1 As tintas são materiais fundamentais em uma edificação, pois além de em-


belezar, protegem e valorizam o imóvel. Explique o que são as tintas utiliza-
das na construção civil.

R.:

2 Diversos são os métodos de aplicação de tintas, vernizes, lacas e esmaltes.


De acordo com os métodos de aplicação, assinale a alternativa correta:

I- Aplicação a pincel e rolo manual: é uma aplicação lenta, necessita de práti-


ca e não é empregada em linhas de produção.
II- Nebulização sem ar: neste processo, a tinta é expelida pela borda de um
corpo ou disco rotativo, ligado a uma fonte de alta tensão, resultando numa
névoa de partículas de tinta.
III- Imersão: é feita pela imersão do objeto a ser pintado na tinta. Após deve ser
retirado e escoado o excesso de tinta.
IV- Aplicação por cortina: é feita em um reservatório pequeno com canos per-
furados, por onde a tinta é jorrada no objeto a ser pintado. O excesso de
tinta é coletado e reutilizado.

a) ( ) Apenas I está correta.


b) ( ) Apenas II está correta.
c) ( ) II e III estão correta.
d) ( ) II e IV estão corretas.
e) ( ) I, II, III e IV estão corretas.

3 Entre as tintas utilizadas na construção civil, temos os vernizes, as lacas e os


esmaltes. Quais as diferenças entre esses três materiais?

R.:

4 Diversos são os defeitos que podem ocorrer nas tintas. De acordo com os
defeitos, assinale a alternativa correta:

I- Existência de sedimento duro: acontece quando, mesmo após mexer o con-


teúdo da lata, alguns pigmentos permanecem sedimentados.
II- Tinta pobre em cobertura: pode acontecer quando são aplicadas cores cla-
ras em bases escuras ou quando a tinta está diluída demais. Para solucio-
nar esse defeito devem ser dadas mais demãos de tinta.
III- Perda de brilho: acontece naturalmente no fim da vida útil de um filme
de tinta. Os raios ultravioletas destroem o formador do filme, deixando o
pigmento sob forma pulverulenta, sobre o restante da tinta.
IV- Gretamento: acontece quando há uma falha no filme da tinta, com desenho
de linhas paralelas, com uma fratura que atinge a superfície.
142
a) ( ) Apenas II está correta.
b) ( ) Apenas III está correta.
c) ( ) II e III estão correta.
d) ( ) III e IV estão corretas.
e) ( ) I, II, III e IV estão corretas.

5 Antes de receber as tintas, as superfícies devem ser preparadas, cada uma


de acordo com suas necessidades especiais. Quais são as etapas que devem
ser feitas em paredes com reboco antes da aplicação da tinta? Defina cada
uma delas.

R.:

143
144
UNIDADE 3

MATERIAIS POLIMÉRICOS E
MATERIAIS METÁLICOS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo dessa unidade, você deverá ser capaz de:

• entender o conceito de polímeros;



• reconhecer as matérias-primas utilizadas na fabricação dos polímeros;

• entender os tipos de polimerização;

• identificar os polímeros que são indicados para a construção civil;



• entender o conceito de metal;

• entender os conceitos de mineração, metalurgia e siderurgia;

• identificar os principais minérios existentes;

• entender como é feito um ensaio de tração nos metais;

• identificar os materiais metálicos que são indicados para a construção civil.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em dois tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – MATERIAIS POLIMÉRICOS

TÓPICO 2 – MATERIAIS METÁLICOS

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorve-
rá melhor as informações.

145
146
UNIDADE 3
TÓPICO 1

MATERIAIS POLIMÉRICOS

1 INTRODUÇÃO
Prezado estudante, neste primeiro tópico, falaremos sobre os materiais
poliméricos, materiais amplamente utilizados na construção civil devido, princi-
palmente, ao seu baixo custo, leveza e boa resistência.

Neste tópico, nosso objetivo é fazer com que você entenda o conceito de
polímeros; consiga reconhecer as matérias-primas utilizadas na fabricação dos
polímeros; entenda quais são os tipos de polimerização; e aprenda a identificar os
polímeros indicados para utilização na construção civil.

A palavra polímero origina-se do grego poli (muitos) e mero (unidade de


repetição). Na figura 1, podemos visualizar os polímeros.

FIGURA 1 – POLÍMEROS

FONTE: <https://bit.ly/2Ntcy1Z>. Acesso em: 8 maio 2020.

147
UNIDADE 3 | MATERIAIS POLIMÉRICOS E MATERIAIS METÁLICOS

Na antiguidade, os egípcios e os romanos começaram a utilizar os mate-


riais resinosos e graxas (extraídas ou refinadas) para carimbar, colar documentos
e vedar vasilhames. No Século XVI, os espanhóis e portugueses começaram a ex-
trair produtos da seringueira, originários da coagulação e secagem do látex. Esses
produtos apresentavam alta elasticidade e flexibilidade, recebendo o nome de bor-
racha, pois apresentou a capacidade de apagar marcas de lápis. Sua utilização foi
bastante restrita até a descoberta da vulcanização por Charles Goodyear, em 1839,
que confere à borracha as características de elasticidade, não pegajosidade e dura-
bilidade (CANEVAROLO JUNIOR, 2006).

Em 1846, Christian Schónbien, químico alemão, tratou o algodão com ácido


nítrico, dando origem à nitrocelulose, primeiro polímero semissintético. Em 1862,
o inglês Alexander Parker dominou completamente essa técnica, patenteando a ni-
trocelulose (ainda é comum a cera Parquetina, nome derivado de Parker). Em 1897,
Krishe e Spittller, na Alemanha, conseguiram um produto endurecido por meio
da reação de formaldeído e caseína, uma proteína constituinte do leite desnatado.
Até o final da Primeira Guerra, todas as descobertas sobre polímeros foram por
acaso, somente em 1920, Hermann Staudinger, cientista alemão, propôs a teoria
da macromolécula. Esta nova classe de materiais era apresentada como compostos
formados por moléculas de grande tamanho. Em 1929, Wallace H. Carothers for-
malizou as reações de condensação que deram origem aos poliésteres e às poliami-
das. Esses materiais receberam o nome de Nylon (CANEVAROLO JUNIOR, 2006).

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, o campo dos materiais foi virtu-
almente revolucionado pelo advento dos polímeros sintéticos, pois estes materiais
podem ser produzidos de maneira barata, e as suas propriedades podem ser admi-
nistradas de forma que fiquem superiores às de seus análogos naturais (CALLIS-
TER JUNIOR, 2012).

Um polímero é uma macromolécula composta por dezenas de milhares de


unidades de repetição denominadas meros, ligados por ligação covalente. A ma-
téria-prima para a produção de um polímero é o monômero, isto é, uma molécula
com uma (mono) unidade de repetição (CANEVAROLO JUNIOR, 2006).

2 OBTENÇÃO E EXEMPLOS DE POLÍMEROS


Os materiais poliméricos são oriundos de hidrocarbonetos, derivados
de petróleo. As principais matérias-primas utilizadas na fabricação dos políme-
ros são originárias do gás natural (metano, etano) e do petróleo (nafta, gasóleo
e GLP). As empresas que trabalham essas matérias-primas estão divididas em
indústrias de 1ª e 2ª geração petroquímica, normalmente situadas umas próxi-
mas às outras. As de 1ª geração são as refinarias de petróleo que, entre outros
produtos, extraem os petroquímicos básicos etano e propeno, que se tornam as

148
TÓPICO 1 | MATERIAIS POLIMÉRICOS

principais matérias-primas das usinas de 2ª geração. As indústrias químicas de


2ª geração produzem e fornecem o monômero e o catalisador para as indústrias
de transformação obterem brinquedos, materiais de cozinha, materiais escolares,
produtos para a construção etc. No Quadro 1, podemos analisar a evolução dos
principais polímeros comerciais.

QUADRO 1 – PRIMEIRA OCORRÊNCIA E PRIMEIRA PRODUÇÃO INDUSTRIAL DE ALGUNS


POLÍMEROSCOMERCIAIS
Polímero 1° Ocorrência 1° Produção Industrial
PVC – Policloreto de vinila 1915 1933
PS – Poliestireno 1900 1936/1937
PEBD (LDPE) – Polietileno de baixa densidade 1933 1939
Nylon 1930 1940
PEAD (HDPE) – Polietileno de alta densidade 1953 1955
PP – Polipropileno 1954 1959
PC – Policarbonato 1953 1958
FONTE: Canevarolo Junior (2006, p. 19)

Conforme Lara (2013), aponta no Quadro 2, seguem alguns exemplos de


polímeros.

QUADRO 2 – EXEMPLOS DE POLÍMEROS


Polietileno: termoplástico mais fabricado no mundo em função de seu baixo custo e variadas
aplicações. As principais propriedades são: boa resistência química a solventes, elevada flexibi-
lidade, baixa resistência aos raios ultravioletas e ao calor, tornando-se ressecado e quebradiço,
baixa resistência aos esforços mecânicos. É muito utilizado na fabricação de embalagens.
Polipropileno: termoplástico de baixo custo e de boa resistência química a solventes. É aplicado
na confecção de copos para cafezinho e refrigerante, películas para sacarias, tubos para tinta de
caneta esferográfica, pisos para carpetes, gabinetes de televisores etc. Na construção civil, encon-
tramos o polipropileno nos tubos para condução de água quente.
Poliestireno: termoplástico ou termofixo de largo emprego e aspecto diversificado. Suas prin-
cipais propriedades são: boa resistência química, boa estabilidade térmica e dimensional, baixa
flexibilidade. É aplicado na confecção de brinquedos, armários de banheiros, assento para vasos
sanitário, imitativos de revestimentos cerâmicos (azulejos) e artigos domésticos. O isopor é um
dos tipos, chamado de poliestireno expandido.
Vinílico: termoplástico de aplicações diversificadas, desde finos e flexíveis objetos, às peças rígidas
e metalizadas. O Policloreto de Vinila (PVC) é um termoplástico de dureza metálica, mas que tam-
bém se apresenta amolecido e flexibilizado por agentes modificadores. É utilizado na construção
de tubos rígidos e flexíveis para água e esgoto, revestimentos de fios e cabos elétricos, placas para
revestimentos de pisos, telhas, forros, cortinas de banheiros, forração de poltronas e estofamentos,
bolsas e calçados, roupas de couro artificial e brinquedos em geral. Os polímeros mais resistentes
às intempéries são utilizados na fabricação de calhas para água da chuva. Atualmente, existe o
CPVC (policloreto de vinila com cloro na cadeia polimérica), material que, resistindo a temperatu-
ras maiores que o PVC, encontra aplicações na fabricação de tubos para condução de água quen-
te. O Poliacetato de Vinila (PVA) é outro polímero vinílico, cuja propriedade mais importante é a
adesividade, encontrando aplicação industrial na fabricação de tintas para paredes e adesivos para
papel. Outro adesivo vinílico é o PVB (Polivinil Butiral), aplicado na colagem de placas de vidros
para a confecção dos vidros laminados, utilizados em para-brisas de automóveis.

149
UNIDADE 3 | MATERIAIS POLIMÉRICOS E MATERIAIS METÁLICOS

Acrílico: material de excepcional transparência e grande resistência às intempéries, é aplicado na


confecção de lentes para óculos, janelas de aeronaves, lanternas de automóveis, equipamentos de
desenho (esquadros), difusores de luminosidades, boxe para banheiros, torneiras, dispositivos
de segurança em autoestradas (marcadores luminescentes centrais e laterais das pistas) e ainda,
como substituto da lã natural, ficando em desvantagem somente com o vidro, por não ser resis-
tente aos riscos em sua superfície.
Poliéter: termofixo comercialmente identificado por epóxi. Mais caro e de fabricação limitada, pos-
sui excelentes propriedades mecânicas e químicas como a boa resistência à corrosão. De dimen-
sionamento estável e excelente adesividade, tem sido indicado na confecção de tintas e adesivos
extremamente fortes à base de dois componentes, que são misturados antes de serem aplicados.
Poliéster: polímero de múltiplas aplicações na confecção de fibras para roupas, tintas, carcaças
de eletrodomésticos, mantas para impermeabilização e materiais reforçados com fibra de vidro.
O policarbonato é um poliéster termoplástico transparente, de boa estabilidade dimensional, re-
sistente ao impacto e com boa ductilidade. É utilizado na fabricação de capacetes de segurança,
lentes, globos difusores de luminosidade, telhas para coberturas e CD’s. O Politereftalato de Eti-
leno (PET) é um poliéster muito utilizado em embalagens para água e refrigerante. Apresenta ex-
celente resistência à ácidos, graxas e solventes orgânicos, como gasolina e querosene. É aplicado
ainda em vestimentas antichamas para os pilotos de carros de corridas.
Fenólico: termorrígido de excelente estabilidade térmica (até acima de 150 °C). A baquelite, um
dos mais conhecidos comercialmente, é um fenol-formaldeído de boas propriedades mecânicas
em geral. São utilizadas como peças destinadas a acessórios elétricos, caixas de rádios, televisão
e relógios. Outros polímeros fenólicos são empregados na fabricação de laminados para revesti-
mento de móveis, geralmente imitativos de madeiras.
Politetrafluoretileno: termoplástico também designado por PTFE, PFE ou teflon, que, devido à
presença de flúor na rede, torna o material muito compacto e duro. Quimicamente inerte em qua-
se todos os ambientes, apresenta baixo coeficiente de atrito, não aderindo a nada, o que os indica
para o uso como revestimentos antiadesivos e apoio de estruturas deslizantes mais leves. Pro-
duzido também como fita, relativamente fraca, é usada para vedação em válvulas e tubulações.
Poliamida: termoplástico de boa resistência mecânica e resistência à abrasão, além de tenaz e de
baixo coeficiente de atrito. Conhecido como Nylon. Suas aplicações típicas são como fibras para
confecção de roupas, tapetes, fios de pesca, em escova de dente, revestimentos de fios e cabos
metálicos. É usado ainda em mancais, engrenagens, buchas, cabos, puxadores e engates flexíveis
para lavatório.
Policloropreno: elastômero de aspecto borrachoso, também conhecido como neoprene, é resisten-
te ao calor, a óleos minerais, ao ozônio e que adere muito bem aos metais. É aplicado como bases
antivibratórias de correias transportadoras, apoios estruturais móveis, gaxetas e vedações, roupas,
luvas e adesivos industriais. É também utilizado em impermeabilizações, pelo fato de não perder suas
propriedades de elasticidade e aderência mesmo em presença das intempéries, como a luz e o calor.
Polissiloxano: elastômero comercialmente conhecido como silicone, determina uma extensa va-
riedade de polímeros produzidos na forma de fluídos, graxas e material rígido. De excelente resis-
tência as altas e baixas temperaturas possuem ainda excelentes propriedades elétricas e de grande
adesividade, encontrando aplicações como materiais para isolamento térmico, vedações, juntas,
diafragmas, tintas, luvas, tubos para usos com alimentos e para fins medicinais, além de ser aplica-
do como materiais para adesivar vários tipos de superfícies, como vidro, metal, madeira e couro.
FONTE: Adaptado de Lara (2013)

3 CLASSIFICAÇÃO
Os polímeros são variações e/ou desenvolvimentos sobre moléculas já
conhecidas, podendo ser divididos nas quatro diferentes classificações a seguir
(CANEVAROLO JUNIOR, 2006):

150
TÓPICO 1 | MATERIAIS POLIMÉRICOS

• quanto à estrutura química;


• quanto ao método de preparação;
• quanto ao comportamento mecânico;
• quanto ao desempenho mecânico.

Os polímeros podem ser divididos, dependendo de sua estrutura quími-


ca, do número médio de meros por cadeia e do tipo de ligação covalente, nas
seguintes classes (CANEVAROLO JUNIOR, 2006; CALLISTER JUNIOR, 2012):

• plásticos;
• borrachas (elastômeros);
• fibras;
• revestimentos;
• adesivos;
• espumas;
• películas.

4 POLIMERIZAÇÃO

A polimerização é a reação ou o conjunto de reações nos quais molécu-
las simples reagem entre si formando uma macromolécula de alta massa molar.
Durante esse processo, algumas variáveis são mais ou menos importantes, de-
pendendo de sua influência na qualidade do polímero formado. As variáveis pri-
márias são: temperatura de reação, pressão, tempo, presença e tipo de iniciador e
agitação. As variáveis secundárias são: presença, tipo de inibidor, de retardador,
catalisador, controlador de massa molar, da quantidade de reagentes e demais
agentes específicos (CANEVAROLO JUNIOR, 2006). Existem alguns tipos de po-
limerização, entre eles:

• Polimerização em etapas: consiste na condensação sucessiva de grupos funcionais


reativos existentes nos materiais iniciais, aumentando o tamanho das moléculas
até estas atingirem o tamanho de uma cadeia polimérica.
• Polimerização em cadeia: consiste na formação de uma cadeia polimérica com-
pleta a partir da instabilização da dupla ligação de um monômero e sua sucessiva
reação com outras ligações duplas de outras moléculas de monômero.
• Polimerização por abertura de anel: é feita a partir de um monômero na forma
de um anel. Através da abertura deste anel, tem-se a geração de uma bifuncionali-
dade que, se reagir consigo mesma muitas vezes, formará uma cadeia polimérica.
Evidentemente, neste tipo de polimerização, não há a formação de subprodutos
durante a reação.
• Copolimerização: durante a copolimerização natural (sem interferência externa)
de dois comonômeros diferentes, dependendo da reatividade de cada um deles
consigo mesmo e com o outro, há uma tendência para a geração de copolímeros
diferentes, isto é, alternado, ao acaso e em bloco (CANEVAROLO JUNIOR, 2006).

151
UNIDADE 3 | MATERIAIS POLIMÉRICOS E MATERIAIS METÁLICOS

5 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES


Neste subtópico, abordaremos as principais características e propriedades
dos materiais metálicos utilizados na construção civil, de acordo com Canevarolo
Junior (2006) e Callister Junior (2012).

• Propriedades Mecânicas: utiliza-se o gráfico tensão x deformação para carac-


terizar os parâmetros dos polímeros, entre eles o módulo de elasticidade, o
limite de resistência à tração, a resistência ao impacto e a resistência à fadiga.
No Gráfico 1, podemos visualizar os comportamentos típicos de tensão-de-
formação dos polímeros, na qual a curva A demonstra o comportamento de
polímeros frágeis, que apresentam ruptura no trecho elástico; a curva B apre-
senta comportamento semelhante a aquele encontrado em materiais metálicos
e caracteriza o trecho inicial elástico, seguido por escoamento e por uma região
de deformação plástica até a ruptura à tração ; a curva C é totalmente elástica,
típica da borracha (grandes deformações recuperáveis mesmo sob pequenos
níveis de tensão) e é característica da classe dos elastômetros.

GRÁFICO 1 – COMPORTAMENTO TENSÃO X DEFORMAÇÃO PARA POLÍMEROS FRÁGEIS (A),


POLÍMEROS PLÁSTICOS (B) E POLÍMEROS ELÁSTICOS (C)

FONTE: Callister Junior (2012, p. 488)

152
TÓPICO 1 | MATERIAIS POLIMÉRICOS

• Propriedades térmicas: alguns polímeros são caracterizados como termoplás-


ticos ou termofixos. Os polímeros apresentam baixa condutividade térmica e
altos coeficientes de dilatação térmica linear quando comparados a materiais
não poliméricos.
• Propriedades óticas: os polímeros amorfos ou com muito baixo grau de cris-
talinidade apresentam transparência. Materiais poliméricos muito cristalinos
tornam-se translúcidos ou semitransparentes, ou mesmo opacos.
• Resistência à oxidação: aumenta em macromoléculas apenas com ligações
simples entre átomos de carbono. É menor particularmente em borrachas.
• Resistência ao calor: é maior abaixo da temperatura de transição vítrea. Resis-
tência é menor frequentemente com a presença de oxigênio pela ruptura das
ligações covalentes dos átomos nas cadeias macromoleculares.
• Resistência aos raios ultravioleta: é menor em macromoléculas com dupla li-
gação entre átomos de carbono.
• Resistência à umidade: os polímeros que absorvem água sofrem alteração de
volume, podendo aumentar o peso do material.
• Resistência a ácidos: o contato com ácidos em geral, em meio aquoso, pode
causar a parcial destruição das moléculas poliméricas.
• Resistência a bases: as soluções alcalinas, geralmente aquosas, em maior ou
menor concentração, são bastante agressivas a polímeros cuja estrutura apre-
sente certos agrupamentos como carboxila, hidroxila, fenólica e éster.
• Resistência a solventes e reagentes: quando as moléculas do solvente são mais
afins com as do polímero do que com elas próprias, podem penetrar entre as
cadeias macromoleculares, gerando interações físico-químicas.

6 UTILIZAÇÃO NA CONSTRUÇÃO CIVIL


Os polímeros podem ser utilizados de diversas formas na construção ci-
vil, a fim de contribuir para diminuição dos custos da construção e para aumentar
sua qualidade final. Os materiais poliméricos têm substituído outros materiais
considerados de maior nobreza como aço, madeira e concreto. Nesse subtópico,
abordaremos a utilização dos materiais poliméricos em construções.

6.1 INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS PREDIAIS


Os polímeros podem ser usados em instalações prediais de água, esgoto
sanitário e captação e condução de águas pluviais.

As tubulações em PVC (policloreto de vinila) são indicadas para instala-


ções hidrossanitárias com fluídos à temperatura ambiente, conforme Figura 2.
Para água quente são indicadas as tubulações de CPVC (policloreto de vinila clo-
rado), muito semelhante ao PVC, porém com maior resistência em relação à água
quente (HIPOLITO; HIPOLITO; LOPES, 2013).

153
UNIDADE 3 | MATERIAIS POLIMÉRICOS E MATERIAIS METÁLICOS

FIGURA 2 – TUBULAÇÕES DE PVC

FONTE: <https://cdn4.ecycle.com.br/cache/images/50-650-pvc-750.jpg>. Acesso em: 8 maio 2020.

As tubulações em PVC são indicadas para aplicações em edificações re-


sidenciais, comerciais e industriais. Suas principais características são as juntas
estanques (soldadas ou rosqueadas), menor custo de material e de mão de obra
em relação aos demais materiais, resistência à corrosão, lisura das paredes in-
ternas que resulta em maior velocidade do fluxo e menos formação de depósito,
não apresenta condutibilidade elétrica, apresenta coeficiente de expansão térmica
muito maior que outros matérias, é praticamente imune ao ataque de bactérias e
fungos, apresenta densidade menor que materiais tradicionais como cerâmica e
ferro galvanizado (HIPOLITO; HIPOLITO; LOPES, 2013).

6.2 INSTALAÇÕES ELÉTRICAS


Os polímeros podem ser utilizados em eletrodutos para a passagem de fios
e cabos em paredes e lajes, conforme Figura 3, perfis pata instalações elétricas apa-
rentes, fios e cabos com isolamento e componentes da instalação elétrica, como cai-
xas, espelhos, tomadas, interruptores (HIPOLITO; HIPOLITO; LOPES, 2013).

FIGURA 3 – ELETRODUTOS DE PVC

FONTE: <https://bit.ly/3exiQtm>. Acesso em: 8 maio 2020.


154
TÓPICO 1 | MATERIAIS POLIMÉRICOS

São escolhidos os polímeros por apresentarem um bom isolamento elé-


trico e minimizarem os efeitos de um possível curto circuito. Os polímeros mais
empregados para confecção destes materiais são: PVC (policloreto de vinila) – em
todos os componentes elétricos; PS (poliestireno) – cabos elétricos; PE (polieti-
leno) – isolamento de cabos elétricos; PP (polipropileno) – isolamento de cabos
elétricos; PPO (polióxifenileno) – relés e interruptores; e o PCTFE (politrifluor-
cloroetileno) – equipamentos elétricos. Os fios em PVC podem ser utilizados em
instalações elétricas, telefônicas, antenas de televisão e FM, localizados em edi-
ficações residenciais, comerciais e industriais e subestações transformadoras. Os
eletrodutos poliméricos são destinados ao alojamento e proteção dos fios elétricos
e podem ser rígidos ou flexíveis e possuem em comum a elevada resistência à
compressão, o que permite que sejam embutidos em lajes, paredes e pisos. Os
dutos e subdutos de PVC são utilizados em instalações subterrâneas de redes
elétricas e de telefonia, ou seja, têm a função de proteger cabos e fibras óticas (HI-
POLITO; HIPOLITO; LOPES, 2013).

As principais características dos polímeros utilizados em instalações elé-


tricas são que estes materiais são autoextinguíveis, ou seja, se não houver pre-
sença de chama externa, o fogo se apaga naturalmente, em alguns casos o PVC
pode ser tratado com aditivos resistentes à ação da luz solar para instalações de
fiação externa, não sofrem corrosão e são imunes às composições das argamassas
e concretos no caso dos eletrodutos, possuem baixa densidade, são bons isolantes
elétricos, acompanham as acomodações do solo no caso dos dutos e subdutos
(HIPOLITO; HIPOLITO; LOPES, 2013).

6.3 ESQUADRIAS E PORTAS


Os polímeros podem ser utilizados na fabricação esquadrias, conforme
Figura 4, portas, persianas e venezianas.

FIGURA 4 – ESQUADRIA DE PVC

FONTE: <http://www.brimak.com.br/images/produtos/026pvc.png>. Acesso em: 8 maio 2020.

155
UNIDADE 3 | MATERIAIS POLIMÉRICOS E MATERIAIS METÁLICOS

Na fabricação de janelas e portas são utilizados o PVC. Este material é es-


colhido pois atende algumas características de projeto tais como: segurança, habi-
tabilidade, durabilidade, qualidade dos dispositivos complementares, facilidade
de limpeza, instalação e funcionamento (HIPOLITO; HIPOLITO; LOPES, 2013).

As persianas e venezianas são perfis que formam um sistema para escu-


recimento, proteção e resguardo dos ambientes que possuem caixilhos. As per-
sianas são constituídas de cortinas rígidas ou semirrígidas de PVC, que podem
ser recolhidas. As venezianas são elementos fixados em perfis de janelas ou por-
ta-balcão, fazendo parte integrante do caixilho. É muito comum mesclar o uso de
PVC com outros materiais nas venezianas como o alumínio (HIPOLITO; HIPO-
LITO; LOPES, 2013).

6.4 TELHAS
As telhas poliméricas são as telhas de PVC rígido, telhas de policarbonato,
conforme Figura 5, e polipropileno.

FIGURA 5 – TELHAS DE POLICARBONATO

FONTE: <http://www.vick.com.br/wp-content/uploads/2018/04/Obra-em-Telhas-em-
Policarbonato-2-768x512.jpg>. Acesso em: 8 maio 2020.

As telhas de PVC, podem ser utilizadas em edificações residenciais, co-


merciais e industriais, indicadas para locais onde se deseja a passagem de luz na-
tural, diminuindo, assim, a necessidade de luz artificial, durante o período diur-
no, uma vez que o PVC pode ser translúcido ou opaco, com grande resistência
química e boa absorção acústica e térmica (HIPOLITO; HIPOLITO; LOPES, 2013).

As telhas de policarbonato (PC) apresentam alta resistência mecânica à


fluência e ao impacto (250 vezes maior que o vidro e 30 vezes maior que o acrí-

156
TÓPICO 1 | MATERIAIS POLIMÉRICOS

lico), boa resistência à deformação, mesmo com altas temperaturas (até 140 °C),
bom isolamento elétrico, não propaga chama, e boa resistência química (HIPOLI-
TO; HIPOLITO; LOPES, 2013).

As telhas de polipropileno (PP) fazem parte de uma nova tecnologia que


está sendo produzida em coberturas a partir de polímeros, e que consiste num
sistema de módulos com encaixes, formadas por agrupamentos de até seis telhas
de PP, reproduzidas com o mesmo design de telhas tradicionais (HIPOLITO; HI-
POLITO; LOPES, 2013).

O acrílico (polimetacrilado de metila) apresenta grandes vantagens em


suas características como a excelente transparência (transmite 90% da luz inci-
dente), boa resistência a intempéries, mesmo sem estabilizantes, funcionamento
contínuo até 75 °C, não estilhaça, é brilhante e apresenta coeficiente de dilatação
elevado. Entretanto, o acrílico apresenta combustibilidade (HIPOLITO; HIPOLI-
TO; LOPES, 2013).

6.5 PISOS, REVESTIMENTOS E FORROS


Os polímeros também são utilizados como pisos vinílicos, conforme Figu-
ra 6, papéis de parede e forros de teto.

FIGURA 6 – PISO VINÍLICO

FONTE: <https://www.cronoshare.com.br/blog/wp-content/uploads/2018/12/quanto-preco-o-
piso-vin%C3%ADlico.jpg>. Acesso em: 8 maio 2020.

Os pisos vinílicos são materiais produzidos a partir do PVC e apresenta-


dos no mercado através de placas, pisos semiflexíveis ou mantas que são adapta-
dos para aplicação em qualquer ambiente interno como residências. É composto
por resina de PVC ou de copolímeros de cloreto de vinila ou ambos, plastifi-
cantes, estabilizantes, aditivos, cargas inertes e pigmentos. No caso das mantas
flexíveis pode haver a associação das mesmas a uma manta de fibra de vidro, que

157
UNIDADE 3 | MATERIAIS POLIMÉRICOS E MATERIAIS METÁLICOS

aumenta a estabilidade dimensional do produto. Na categoria dos pisos semifle-


xíveis, há ainda ladrilhos que podem ser constituídos por fibra de amianto. Os
pisos vinílicos apresentam como características: oferecem facilidade, economia e
rapidez na sua aplicação, são versáteis, podendo ser aplicados em diferentes am-
bientes, resistência comprovada com relação à dureza e impacto, boa resistência a
agentes químicos com bases, sais e ácidos (HIPOLITO; HIPOLITO; LOPES, 2013).

Os papéis de parede, confeccionados em PVC, têm como principais ca-


racterísticas: a capacidade de suportar a lavabilidade, a estabilidade da cor e a
instalação fácil, rápida e econômica (HIPOLITO; HIPOLITO; LOPES, 2013).

Os painéis mais utilizados como forro de teto são os de gesso, fibras ve-
getais, resinas sintéticas (principalmente PVC e acrílico), de madeira e de metal.
Entre as propriedades dos polímeros utilizados na confecção de painéis para for-
ro de teto podemos destacar a instalação mais limpa e eficiente, a facilidade de
limpeza, a baixa densidade, o ótimo isolamento acústico e elétrico, e um bom
desempenho térmico devido às cavidades internas que formam vazios de ar (HI-
POLITO; HIPOLITO; LOPES, 2013).

Sustentabilidade dos polímeros na construção civil

Israel da Silva Hipolito


Rafael da Silva Hipolito
Gean de Almeida Lopes

Os resíduos dos polímeros, em geral, levam muito tempo para sofrerem de-
gradação espontânea e, quando queimados, produzem gases tóxicos. Os polímeros
correspondem a 8% em massa do resíduo sólido urbano e 20% em volume deste
mesmo universo. Os tipos de polímeros mais encontrados entre os resíduos estão o
poli (cloreto de vinila) (PVC), o poli (tereftalato de estireno) (PET), o polietileno de
alta e baixa densidade (PEAD), o poli (propileno) (PP), e o poli (estireno) (PS).

A indústria de embalagem é maior produtora de resíduos poliméri-


cos. A construção civil vem encontrando espaços para reutilização de ma-
teriais poliméricos provenientes de outras indústrias, como por exemplo o
PET, que depois das roupas, as garrafas usadas podem virar insumo para
tintas, tubos para esgoto predial e revestimentos. Estes estudos ainda são re-
centes, e carentes de resultados comparativos entre materiais já consagrados
no mercado e utilizados para a mesma finalidade.

Outras oportunidades de reciclagem vêm sendo exploradas dentro


da construção civil, como a substituição da areia por plástico triturado. O
principal motivo para se adotar de vez a prática da reciclagem, é a causa eco-
lógica. O plástico, por exemplo, vem do petróleo e a areia é tirada dos leitos
dos rios. Com essa substituição, a natureza é menos agredida.

158
TÓPICO 1 | MATERIAIS POLIMÉRICOS

O PVC, um dos polímeros mais utilizados dentro da construção civil, prin-


cipalmente para a fabricação de tubos e conexões hidráulicos para instalações pre-
diais, também é passível de reciclagem, embora este polímero não gere volumes
grandes de resíduo. Os resíduos de PVC representam em média 0,8% do peso total
do lixo domiciliar. Isso ocorre porque o PVC é mais utilizado em produtos de lon-
ga duração, como tubos e conexões, fios e cabos para a construção civil.

O PVC reciclado tem diversas aplicações. É utilizado na camada central


de tubos de esgoto, em reforços para calçados, juntas de dilatação para concreto,
perfis, cones de sinalização etc. Embora seja muito importante utilizarmos ma-
teriais reciclados dentro da construção civil, um estudo de sustentabilidade do
material envolve mais do que isto. Precisamos estar preocupados com a durabi-
lidade do material, os impactos causados pela sua extração do meio ambiente, e
sua industrialização. Podemos dizer que o ciclo de vida deste material é muito
importante quando pretendemos compará-lo a outros materiais.

Em algumas aplicações, a utilização dos polímeros apresenta enor-


mes vantagens a materiais mais tradicionais por sua durabilidade. Este é o
caso do PVC. Este polímero apresenta ciclos de vida útil longos, que estão
associados as suas aplicações. Podem ser divididos da seguinte forma: 12%
dos produtos têm vida útil de até 2 anos, como as embalagens; 24% de 2 a 15
anos, como produtos utilizados na indústria automobilística e 64% de 15 a
100 anos, como produtos da construção civil. Quando aplicado em tubos e
conexões, apresenta uma vantagem em relação aos tubos de aço galvaniza-
do, porque não são passíveis de oxidação. Como se encontram normalmente
protegidos pela estrutura dos imóveis, estão livres das ações das intempéries
o que prolonga suas características por muitos anos.

Não podemos esquecer que o PVC, dentre todos os materiais usados


na fabricação de esquadrias e portas é o único que não necessita de camada
de proteção frente aos ambientes agressivos. O alumínio necessita de uma
camada de anodização, a madeira precisa ser envernizada e o ferro precisa de
pintura. Os sistemas de pintura aplicados na madeira e no metal para garan-
tir sua preservação e durabilidade são, em geral, à base de solvente, e levam
para a atmosfera materiais voláteis, prejudiciais a natureza e a nossa saúde,
como é o caso do xileno ou da aguarrás encontrados em muitas formulações.

As tintas apresentam uma parcela de materiais poluentes em sua for-


mulação, sendo os principais os solventes, coalescentes, plastificantes, e os
biocidas, que são os materiais lixiviados para o ambiente com maior facilida-
de. Entretanto o polímero empregado na formação de filme das tintas não é
um potencial gerador de impacto ambiental, considerando somente a aplica-
ção do produto. Entretanto a aplicação da tinta gera um desperdício conside-
rável nos canteiros de obra. Os valores encontrados em pesquisas são médios,

159
UNIDADE 3 | MATERIAIS POLIMÉRICOS E MATERIAIS METÁLICOS

porque as faixas de variação entre canteiros são muito grandes. Entretanto a


conscientização da mão de obra quanto à diminuição do desperdício de ma-
teriais é muito importante para a diminuição destes valores.

Embora apresentadas diversas vantagens para utilização do polímero


na construção civil, com relação à sustentabilidade do ambiente construti-
vo, uma preocupação deve ser a origem dos polímeros, que em sua grande
maioria está no petróleo, uma fonte de matéria-prima não renovável. Esta
preocupação já tem orientado algumas pesquisas, para fontes alternativas
ao petróleo na geração de energia e obtenção de polímeros. Hoje em dia já
existem tecnologias desenvolvidas para produção de alguns monômeros im-
portantes como o estireno e ácido acrílico através de fontes renováveis como
o álcool etílico, a sintetização do bagaço de cana e do óleo de mamona. Esta
preocupação aumenta à medida que o petróleo se torna cada vez mais es-
casso no mercado, as reservas mundiais diminuem, e o consumo aumenta.
Entretanto o petróleo continuará sendo a principal fonte de matéria-prima
para geração de polímeros por muitos anos.

FONTE: HIPOLITO, I. S.; HIPOLITO, R. S.; LOPES, G. A. Polímeros na Construção Civil. In:
Simpósio de excelência em gestão de tecnologia. 2013. Disponível em: https://www.aedb.
br/seget/arquivos/artigos13/5518429.pdf. Acesso em: 8 maio 2020.

160
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• Um polímero é uma macromolécula composta por dezenas de milhares de uni-


dades de repetição denominadas meros, ligados por ligação covalente.

• A s principais matérias-primas utilizadas na fabricação dos polímeros são ori-


ginárias do gás natural (metano, etano) e do petróleo (nafta, gasóleo e GLP).

• Os polímeros podem ser classificados quanto à estrutura química; ao método


de preparação; ao comportamento mecânico; e ao desempenho mecânico.

• A polimerização é a reação ou o conjunto de reações nos quais moléculas sim-


ples reagem entre si formando uma macromolécula de alta massa molar.

• Os polímeros são amplamente utilizados na construção civil, em instalações
elétricas, hidráulicas, esquadrias, pisos, entre outros.

161
AUTOATIVIDADE

1 Os polímeros são amplamente utilizados na construção civil, em instalações


elétricas, hidráulicas, esquadrias, pisos, entre outros. Defina “polímeros” e
explique qual sua matéria-prima.

R:

2 De acordo com os polímeros utilizados, assinale a alternativa correta.

I- Policloreto de Vinila.
II- Policarbonato.
III- Poliestireno.
IV- Polipropileno.

a) ( ) PVC – OS – PP – PC.
b) ( ) PV – PC – OS – PP.
c) ( ) PV – PC – PE – PP.
d) ( ) PVC – PC – OS – PP.
e) ( ) PVC – PC – PE – PS.

3 De acordo com os tipos de polimerização, assinale a alternativa correta.

I- Polimerização em etapas: consiste na formação de um grupo polimérico com-


pleta a partir da instabilização da dupla ligação de um monômero e sua suces-
siva reação com outras ligações duplas de outras moléculas de monômero.
II- Polimerização em cadeia: consiste na condensação sucessiva de cadeias fun-
cionais reativos existentes nos materiais iniciais, aumentando o tamanho das
moléculas até estas atingirem o tamanho de uma cadeia polimérica.
III- Polimerização por abertura de anel: é feita a partir de um monômero na
forma de um anel. Através da abertura deste anel, tem-se a geração de uma
bifuncionalidade que, se reagir consigo mesma muitas vezes, formará uma
cadeia polimérica. Evidentemente, neste tipo de polimerização, não há a
formação de subprodutos durante a reação.

a) ( ) Apenas I está correta.


b) ( ) Apenas II está correta.
c) ( ) Apenas a III está correta.
d) ( ) I e III estão corretas.
e) ( ) I, II e III estão corretas.

162
UNIDADE 3
TÓPICO 2

MATERIAIS METÁLICOS

1 INTRODUÇÃO
Prezado estudante, neste segundo tópico, falaremos sobre os materiais
metálicos. Os metais podem ser encontrados na natureza puros ou como mine-
rais, quando combinados com outros elementos químicos. Os metais e as ligas
metálicas são utilizados na construção civil devido, principalmente, a sua aplica-
bilidade, resistência e beleza.

Neste tópico, nosso objetivo é fazer com que você entenda o conceito de
metal; consiga reconhecer os principais minérios existentes na natureza; entenda
os conceitos de mineração, metalurgia e siderurgia; e aprenda a identificar os
materiais metálicos indicados para utilização na construção civil.

Não é possível datar de forma exata a primeira utilização do metal pela


humidade. Acredita-se que o primeiro metal a ser utilizado foi o cobre, pois so-
mente este e o ouro são encontrados, no estado nativo, com abundância. Quando
comparado ao ouro, o cobre apresenta maior dureza e resistência, e por isso foi
utilizado para a fabricação das primeiras armas e ferramentas. Os egípcios e os
romanos utilizavam o aço (PETRUCCI, 1995). Os metais mais importantes atual-
mente são: o ferro (o mais importante), cobre, alumínio, chumbo e zinco.

De acordo com Callister Junior (2012), os metais são compostos por um


ou mais elementos metálicos, entre eles o ferro, alumínio, cobre, titânio, ouro e
níquel, podendo ter também elementos não metálicos, como o carbono, nitrogê-
nio e oxigênio, estes em quantidades relativamente baixas. Nos metais, os átomos
estão arranjados de maneira ordenada. São materiais densos, rígidos, resistentes
e dúcteis. Por possuírem muitos elétrons que não estão ligados a nenhum átomo,
são bons condutores de eletricidade e de calor. Nos metais, fazendo-se a compo-
sição, combinação e tratamentos, podemos criar as ligas metálicas. As principais
ligas metálicas são (LARA, 2013):

• Aço: ferro + carbono (abaixo de 2,0%);


• Ferro fundido: ferro + carbono (acima de 2,0%);
• Bronze: cobre + estanho;
• Latão: cobre + zinco;
• Duralumínio: alumínio + cobre + magnésio + manganês;
• Vídea: carbono + tungstênio.

163
UNIDADE 3 | MATERIAIS POLIMÉRICOS E MATERIAIS METÁLICOS

E
IMPORTANT

Nos materiais metálicos, a ligação química mais importante é a ligação metáli-


ca. Nessa ligação, os átomos dos elementos químicos envolvidos se aproximam e alguns de
seus elétrons, chamados elétrons livres, rodeiam os átomos, que passam a ter esses elétrons
em comum. Ou seja, os átomos se aproximam, os núcleos se agrupam e os elétrons livres
formam uma “nuvem” ao redor de todos os núcleos (núcleos mergulhados num mar de
elétrons). O agrupamento desses átomos é regular, organizado e chamado de cristal.

Os metais podem aparecer na natureza em estado livre ou, mais comu-


mente, na forma de compostos. Quando concentrados na forma de jazidas são
explorados economicamente. Jazidas são massas de substâncias minerais ou fós-
seis, podendo ser encontradas na superfície ou no interior da terra. As jazidas
concedidas pelo governo para mineração são chamadas de minas (BAUER, 1994).

Dificilmente, as substâncias portadoras são encontradas puras, como as


pepitas de ouro ou prata. Normalmente, as substâncias portadoras estão juntas
de impurezas, que podem ser chamadas de gangas. O metal é encontrado natu-
ralmente como uma mistura do metal, dos compostos de metal e das impurezas.
Esta mistura é chamada de minério (BAUER, 1994).

NOTA

Se o mineral for formado por um teor de elemento metálico em que sua ex-
ploração econômica seja viável, ele recebe o nome de minério.

Para obtenção do metal, o minério passa por duas etapas: a mineração,


que é a extração do minério, e a metalurgia, que tem por finalidade obter o metal
puro a partir do composto portador.

2 MINERAÇÃO
A mineração é a extração do minério, conforme Figura 7. A colheita pode ser
feita a céu aberto ou subterrânea, de acordo com a jazida. Após é feita a concentração,
que é a purificação do minério, por processos mecânicos ou químicos (BAUER, 1994).

164
TÓPICO 2 | MATERIAIS METÁLICOS

FIGURA 7 – MINERAÇÃO DO FERRO

FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/2D3OuRt>. Acesso em: 8 maio 2020.

3 PRINCIPAIS MINÉRIOS
Sabe-se que os metais não são encontrados na natureza na forma na qual
os utilizamos, sendo obtidos pela mineração. Os minérios são agregados de mi-
nerais ricos em um determinado mineral ou elemento químico, que são econô-
mica e tecnologicamente viáveis para extração. Neste subtópico, analisaremos os
principais minérios encontrados na crosta terrestre, de acordo com Bauer (1994).

3.1 FERRO
O ferro é um dos elementos mais abundantes e o metal de maior aplica-
ção. É extraído de carbonatos – siderita; óxidos – magnetita; hematita, limonita,
e sulfetos – pirita; conforme Figura 8. É produzido no Brasil, Austrália, Rússia,
França e Suécia.

FIGURA 8 – SIDERITA

FONTE: <https://www.rocasyminerales.net/siderita/>. Acesso em: 8 maio 2020.

165
UNIDADE 3 | MATERIAIS POLIMÉRICOS E MATERIAIS METÁLICOS

3.2 ALUMÍNIO
O alumínio é um dos elementos mais abundantes, porém nem sempre sua
extração é economicamente viável. O minério explorado para a extração do alu-
mínio por eletrólise é a bauxita, conforme Figura 9. É produzido principalmente
nos Estados Unidos, Canadá, União Soviética, França, Inglaterra e Noruega.

FIGURA 9 – BAUXITA

FONTE: <https://s4.static.brasilescola.uol.com.br/img/2013/08/bauxita.jpg>. Acesso em: 8 maio 2020.

3.3 CHUMBO
O chumbo é extraído por fundição redutora do sulfeto de chumbo galena,
conforme Figura 10. Os principais produtores mundiais são Estados Unidos, Aus-
trália, México, Canadá, Birmânia e Alemanha.

FIGURA 10 – GALENA

FONTE: <https://bit.ly/3eBWTJC>. Acesso em: 8 maio 2020.

3.4 COBRE
O cobre é extraído por calcinação e fusão de diversos minérios, tais como:
calcocita, cuprita, calcopirita, malaquita e azurita, conforme Figura 11. É produ-

166
TÓPICO 2 | MATERIAIS METÁLICOS

zido principalmente pelos Estados Unidos, Canadá e Chile. O Brasil também pro-
duz o cobre, porém também é necessária importação.

FIGURA 11 – MALAQUITA

FONTE: <https://bit.ly/2ViE72C>. Acesso em: 8 maio 2020.

3.5 ESTANHO
O estanho é extraído dos minérios cassiterita ou de piritas, conforme Figu-
ra 12. Seus maiores produtores são Malaca, Índias Holanda, Bolívia e Argentina.

FIGURA 12 – CASSITERITA

FONTE: <https://bit.ly/2NKLuvs>. Acesso em: 8 maio 2020.

3.6 ZINCO
O zinco é obtido pelo aquecimento dos seus minérios, para separação de
impurezas, e depois, aquecimento em fornos especiais onde o metal sublima e é
recolhido. É extraído de minérios como blenda e calamina, conforme Figura 13.
Seus maiores produtores são o México, Austrália, Suécia e Bélgica.

167
UNIDADE 3 | MATERIAIS POLIMÉRICOS E MATERIAIS METÁLICOS

FIGURA 13 – BLENDA

FONTE: <https://bit.ly/2VFEi8b>. Acesso em: 8 maio 2020.

4 METALURGIA
A metalurgia é a extração do metal puro do minério. Pode ser feito por
alguns processos, tais como (BAUER, 1994):

• Redução: feito com carbono ou óxido de carbono em fornos com altas tempera-
turas. Resulta no metal puro ou quase puro, no estado de fusão.
• Precipitação química: utiliza reações simples, das quais resultem o metal puro.
• Eletrolítico: o processo eletrolítico é utilizado para extração ou purificação dos
metais obtidos pelos processos anteriores. Só é possível em minérios que pos-
sam ser dissolvidos em água.

A mineração extrai e beneficia o metal. A metalurgia o transforma em um


bem útil que o homem passa a usar na indústria da construção ou no cotidiano
do dia a dia. Devido ao vasto campo de atuação, a metalurgia foi dividida em
metalurgia dos não ferrosos, chamada apenas de metalurgia, e metalurgia dos
ferrosos, chamada de siderurgia (LARA, 2013).

E
IMPORTANT

Metalurgia é a arte e a ciência dos metais e ligas metálicas. Estuda suas pro-
priedades e as mudanças sofridas pelos tratamentos ou pelas substâncias com que se mis-
turam, sejam elas impurezas ou corpos introduzidos propositalmente.

168
TÓPICO 2 | MATERIAIS METÁLICOS

Na figura 14, é possível visualizar os métodos e processos para a obtenção


dos metais de forma resumida.

FIGURA 14 – RESUMO DA OBTENÇÃO DOS METAIS

FONTE: Adaptado de Bauer (1994, p. 585)

5 SIDERURGIA
O ferro é o material mais utilizado na construção civil. A metalurgia do
ferro chama-se siderurgia, portanto, produtos siderúrgicos são os materiais pro-
duzidos a partir do ferro e suas ligas (BAUER, 1994).

169
UNIDADE 3 | MATERIAIS POLIMÉRICOS E MATERIAIS METÁLICOS

DICAS

Ligas metálicas são os produtos metalúrgicos provenientes da mistura ou da


combinação de um metal com um ou mais corpos simples.

O ferro apresenta um alto módulo de resistência, o que lhe permite ven-


cer grandes vãos com peças leves e delgadas. É utilizado na construção civil na
armação de vigas, abóbodas, trilhos, esquadrias, coberturas, painéis e conduto-
res. Também pode ser utilizado para reforçar outros materiais, como no caso do
concreto armado. Os maiores produtores de minério de ferro são o Brasil, nos es-
tados de Minas Gerais, Mato Grosso, Amapá, Goiás e Bahia, e os países Austrália,
Rússia, França e Suécia (BAUER, 1994).

Os minérios do ferro apresentam-se sob forma de carbonatos, a siderita;


óxidos, a magnetita, hematita e limonita; e sulfetos, a pirita. A extração desses
minérios é feita a céu aberto, pois ocorre em grandes massas (BAUER, 1994).

Os produtos siderúrgicos mais comuns são as ligas Fe-C, ferro e carbono.


Frequentemente, juntam-se a essas ligas outros elementos, como o níquel, vaná-
dio e cromo, a fim de obter produtos siderúrgicos com propriedades especiais.
Os produtos mais importantes obtidos pela siderurgia são os aços e os ferros
fundidos. Os aços são os produtos com teor de carbono até 2%, acima deste valor
são os ferros fundidos (PETRUCCI, 1995).

De acordo com Petrucci (1995), os aços podem ser definidos como todo
produto siderúrgico obtido por via líquida com teor de carbono inferior a 2%.
Os aços são classificados de acordo com seu teor de carbono, da seguinte forma:

Aços extradoces < 0,15% C


Aços doces 0,15 a 0,3% C
Aços meio-doces 0,3 a 0,4% C
Aços meio-duros 0,4 a 0,6% C
Aços duros 0,6 a 0,7% C
Aços extraduros >0,7% C

As matérias-primas básicas para a indústria siderúrgica são: o minério de ferro,


o carvão e o calcário e o ferroliga numa fase mais adiantada da produção (LARA, 2013).

• Minério de ferro – no Brasil, a hematita é o principal minério, um óxido funda-


mental composto de Fe, Si e O em que, numa ilustração simplificada, poderíamos
vê-la como uma pedra enferrujada. Esse minério é beneficiado em operações de
britagem, peneiramento, moagem e concentração, tornando-se adequado como
carga em um alto-forno.
170
TÓPICO 2 | MATERIAIS METÁLICOS

• Carvão – podendo ser carvão vegetal ou carvão mineral (hulha), ele atua no in-
terior do alto-forno de três maneiras: como combustível na produção de calor
para a fusão do minério, como agente redutor do óxido e como fornecedor de
carbono para a liga. O carvão vegetal é utilizado diretamente no alto-forno, sem
tratamento adicional. O carvão mineral, antes de ser utilizado, passa pelo proces-
so de destilação onde algumas substâncias que o compõe serão separadas. Por
este processo, numa parte da usina siderúrgica, denominada coqueria, o carvão
mineral é aquecido em fornos a cerca de 1100 °C, onde os produtos voláteis são
separados para serem reaproveitados posteriormente. O resíduo sólido da desti-
lação da hulha é o coque metalúrgico que será então, aproveitado no alto-forno.
• Calcário – o carbonato de cálcio reage, devido a sua natureza básica, com as im-
purezas contidas no minério de ferro e no carvão, geralmente de natureza ácida,
separando-as e tornando o metal mais puro. Esse processo contribui com a for-
mação da escória, subproduto do alto-forno e diminui o ponto de fusão da liga.
• Ferroliga – liga metálica de ferro com outros elementos (Mg, Si, Mn, Ni). Prepa-
rada em outra indústria siderúrgica, constitui-se como matéria-prima pronta para
ser adicionada em uma fase mais adiantada da fabricação do aço, identificando um
tipo específico de aço em produção.

O ferro-gusa é o produto obtido pela remoção do oxigênio contido no mi-


nério do ferro, um processo que ocorre no interior do alto-forno com o auxílio do
carvão. Carbono e oxigênio formam o monóxido de carbono (CO) que, combina-
do com o oxigênio libertado pelo minério de ferro, resulta no dióxido de carbono
(CO2), o qual será expelido pela chaminé (LARA, 2013).

Os altos-fornos são estruturas metálicas de grande tamanho, em formato


de tronco de cone, colocados verticalmente e revestidos com materiais refratá-
rios. Chegam a medir 50 m de altura, a base pode chegar a 12 m de diâmetro. No
topo são lançadas as matérias-primas, que caem num colchão de ar extremamen-
te aquecido, com temperatura em torno de 1700 °C, que é mantido e soprado por
ventaneiras. Enquanto caem, essas matérias-primas reagem e se fundem, forman-
do uma massa fundida com duas densidades diferentes, depositada no cadinho,
que fica na parte inferior do alto-forno (LARA, 2013).

A parte superior dessa massa fundida é a escória, um subproduto do al-


to-forno siderúrgico, uma borra menos densa. A escória, é composta basicamente
de uma mistura de Si, Ca, S, Mn, P, entre outros elementos resultantes das im-
purezas do ferro, do carvão, do calcário e das cinzas dos combustíveis. Ao ser re-
movida e resfriada, solidifica-se. Apresenta grande porosidade, baixa densidade
e baixa resistência. É utilizada na construção civil como material drenante e de
enchimento. Em função de sua composição química e do tratamento térmico feito
no resfriamento, pode ser adicionada ao clínquer do Cimento Portland, compon-
do os usuais cimentos com adição de escórias (LARA, 2013).

O ferro líquido, dito ferro-gusa, mais denso e principal produto do alto-for-


no, é o minério fundido no qual grande parte do oxigênio que compunha foi remo-
vido, mas ainda apresentando elevado teor de carbono e enxofre. Esse ferro-gusa
contém aproximadamente 6,5% de carbono e já pode ser moldado, resfriado e envia-
171
UNIDADE 3 | MATERIAIS POLIMÉRICOS E MATERIAIS METÁLICOS

do a pequenas siderúrgicas, onde ele é reaquecido e purificado em fornos menores,


reduzindo ainda mais seu teor de carbono e dos outros elementos. Pode ser utilizado
líquido na moldagem de peças ou lingotado para refusão e moldagem (LARA, 2013).

DICAS

Lingotar é depositar um metal líquido num recipiente que recebe o nome de


lingoteira, geralmente em forma de blocos prismáticos, no qual o material se resfria e se
solidifica.

Esse ferro-gusa ainda precisa reduzir os teores de carbono, fósforo, síli-


ca e outras impurezas para que seja trabalhável, com conformações mecânicas.
Chama-se de refino essa purificação, pode ser feita na própria usina siderúrgica,
dando continuidade na fabricação do aço. Para tanto, o ferro-gusa será transpor-
tado logo após a saída do alto-forno, a uma temperatura de cerca de 1200 °C, para
a aciaria (LARA, 2013).

6 METAIS NÃO FERROSOS


Os metais como o chumbo, zinco, cobre, alumínio e estanho que não con-
têm ferro, são chamados de metais não ferrosos. São utilizados a fim de aprovei-
tar suas propriedades, tais como:

• resistência à corrosão;
• pequenas densidades;
• propriedades elétricas e magnéticas;
• características especiais de resistência e ductilidade;
• fusibilidade (PETRUCCI, 1995).

O chumbo é um metal de cor cinzenta-azulada, fratura brilhante, pouca


tenacidade e alta ductilidade e maleabilidade. Apresenta como principal carac-
terística sua alta resistência à corrosão, e por isso é empregado em coberturas,
proteções de cabos e canalizações (PETRUCCI, 1995).

O zinco é um metal branco-azulado que pode ser polido. Dentre os metais


não ferrosos é o mais barato. Utilizado para proteger outros metais, principal-
mente o aço com a galvanização. É facilmente atado por ácidos. É empregado
também como pigmento de tintas (PETRUCCI, 1995).

O cobre é um metal de cor vermelha, dúctil e maleável, pode ser lamina-


do a frio e a quente. Excelente condutor de calor e eletricidade, e por essa razão

172
TÓPICO 2 | MATERIAIS METÁLICOS

é amplamente empregado em condutores, fios, cabos e canos. O bronze é a liga


metálica do cobre + estanho (PETRUCCI, 1995).

O alumínio é um metal branco. Dúctil e maleável, pode ser forjado, fun-


dido e laminado. Apresenta boa resistência à corrosão. É de difícil soldagem. É
empregado em esquadrias, ferragens e chapas (BAUER, 1994; PETRUCCI, 1995).

O estanho é um metal utilizado para formar ligas ou para proteção super-


ficial de outros metais (BAUER, 1994).

O latão é uma liga de cobre e zinco. Tem cor amarelada, muito dúctil e
maleável à quente. Apresenta alta resistência à oxidação (BAUER, 1994).

7 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES


Neste subtópico, citaremos as principais características e propriedades
dos materiais metálicos utilizados na construção civil, de acordo com Petrucci
(2005) e Bauer (1994).

• Aparência: os metais são sólidos à temperatura ordinária. Não apresentam po-


rosidade aparente. Apresentam brilho característico, que pode ser aumentado
por polimento ou tratamentos químicos.
• Densidade: a densidade varia de acordo com as ligas apresentadas e pode ser au-
mentada por tratamentos mecânicos. Para o cálculo, basta dividir o peso de um blo-
co pelo seu volume. A seguir alguns metais e suas densidades, expressas em g/cm³:

Magnésio 1,74
Alumínio 2,70
Zinco 7,13
Ferro 7,87
Níquel 8,90
Cobre 8,96
Chumbo 11,34

Mercúrio 13,60
• Pontos de Fusão: os pontos de fusão de alguns metais são:

Chumbo 327 °C
Zinco 419 °C
Magnésio 650 °C
Alumínio 660 °C
Cobre 1083 °C
Níquel 1455 °C
Ferro 1539 °C
173
UNIDADE 3 | MATERIAIS POLIMÉRICOS E MATERIAIS METÁLICOS

• Dilatação: o coeficiente de dilatação dos metais varia entre 0,10 a 0,030mm/m/°C.


• Condutibilidade térmica: a condutibilidade térmica é expressa em calorias/cm/s
e por °C. A prata é o metal com maior condutibilidade térmica. Se tomarmos o
cobre como unidade, teremos as seguintes condutibilidades relativas:

Cobre 1,00
Alumínio 0,52
Magnésio 0,40
Zinco 0,30
Ferro 0,18
Chumbo 0,09

• Condutibilidade elétrica: os metais apresentam boa condutibilidade elétri-


ca. O cobre é amplamente utilizado na transmissão de energia elétrica, e por
razões econômicas tem sido substituído pelo alumínio. Se tomarmos o cobre
como unidade de área, teremos as seguintes condutibilidades relativas:

Cobre 1,00
Alumínio 0,61
Magnésio 0,37
Zinco 0,28
Níquel 0,23
Ferro 0,18
Chumbo 0,08

• Resistência à tração: propriedade muito importante para a construção civil. Quando


uma barra é submetida a esforços de tração axial ocorre um aumento no compri-
mento da barra, a deformação. Com o alongamento da barra, pode ocorrer uma re-
dução da seção variável ao longo do comprimento. Formará uma estricção, e a zona
com a menor área é chamada de seção estricta.
• Resistência à compressão: alguns metais e ligas podem apresentar alta flambagem.
• Dureza: propriedade muito importante para a construção civil. Os metais podem ser
extremamente duros ou relativamente moles.
• Fadiga: os metais podem apresentar baixa resistência à fadiga. A fadiga é a ruptura
que ocorre quando o material é solicitado repetidas vezes por cargas menores e sen-
tidos variados. Deve ser considerado pois pode levar a graves acidentes.
• Corrosão: a corrosão é a transformação de um metal em compostos não aderentes,
solúveis ou dispersíveis. A corrosão pode ser química ou eletroquímica. A corrosão
química ocorre com o metal exposto ao ar, que reage e se transforma em óxidos. A
corrosão eletroquímica ocorre na forma de pilha, podendo ser a solução condutora
a umidade atmosférica. É difícil eliminar a corrosão dos metais, pois os óxidos são
mais estáveis que o metal puro. Para evitar deve-se atentar para algumas recomen-
dações: escolher o metal adequado para o meio em que vai atuar; recobrir o metal
por um óxido ou sal insolúvel e resistente; capear o metal com uma fina camada de
outro metal; pintar o metal com tintas apropriadas.

174
TÓPICO 2 | MATERIAIS METÁLICOS

8 UTILIZAÇÃO NA CONSTRUÇÃO CIVIL


Atualmente, a utilização dos metais puros ou modificados, é presente no
dia a dia da construção civil. Além dos aspectos funcionais, tais como: a resistên-
cia mecânica e a condução de calor e eletricidade, sua utilização influencia tam-
bém na estética final. A liga metálica mais utilizada na construção civil é o aço.
Analisaremos, agora, os principais materiais metálicos utilizados na construção
civil atualmente.

8.1 PRODUTOS EM AÇO


A utilização do aço na construção civil começou há mais de dois sécu-
los, devido sua aplicabilidade e resistência. A seguir, comentaremos sobre alguns
produtos em aço utilizados na construção civil.

8.2 BARRAS E FIOS DE AÇO


As barras e fios de aço são utilizados como armadura de concreto, conforme
Figuras 15 e 16. Identificados por CA (Concreto Armado) e um número (25, 50, 60)
que identifica a categoria de resistência de escoamento desse material, em Kgf/mm².

FIGURA 15 – ARMADURA SENDO MONTADA EM LAJE DE CONCRETO ARMADO

FONTE: <https://cdn.escolaengenharia.com.br/wp-content/uploads/2018/06/laje-macica.jpg>.
Acesso em: 8 maio 2020.

175
UNIDADE 3 | MATERIAIS POLIMÉRICOS E MATERIAIS METÁLICOS

FIGURA 16 – BARRAS DE AÇO

FONTE: <https://bit.ly/3dQ62x3 >. Acesso em: 8 maio 2020.

As barras de aço CA-25 e CA-50 são aços laminados a quente sem trata-
mentos após a laminação. As barras de aço CA-60 são obtidas pela trefilação ou
laminação a frio do aço CA-50.

DICAS

Trefilação é o tratamento mecânico que consiste em puxar o fio através de


uma matriz (fieira cônica), reduzindo o diâmetro e alterando algumas de suas propriedades.
A trefilação produz o encruamento, que é o alinhamento dos grãos do aço, tornando-o
mais duro e mais resistente, embora mais frágil. O processo é desenvolvido em temperatura
ambiente, com material já laminado.

As barras de aço têm diâmetros acima de 6,3 mm e comprimento de 12


m. e são obtidas por laminação a quente. As barras de aço CA-25 devem ser lisas,
sem nervuras e entalhes. Já as barras de aço CA-50 apresentam nervuras transver-
sais e oblíquas, que evitam o giro dentro do concreto.

Segue o Quadro 3 com as características das barras de aço de acordo com


a NBR 7480 (ABNT, 2007) – Aço destinado a armaduras para estruturas de con-
creto armado – Especificação.

176
TÓPICO 2 | MATERIAIS METÁLICOS

QUADRO 3 – CARACTERÍSTICAS DAS BARRAS DE AÇO

Diâmetro No- Massa e Tolerância por unidade de


Valores Nominais
minal (mm) comprimento
Massa
Máxima variação permitida Área da se- Perímetro
Barras Nominal
pela massa nominal ção (mm²) (mm)
(Kg/m)
6,3 0,245 ±7% 31,2 19,8
8,0 0,395 ±7% 50,3 25,1
10,0 0,617 ±6% 78,5 31,4
12,5 0,963 ±6% 122,7 39,3
16,0 1.578 ±5% 201,1 50,3
20,0 2,466 ±5% 314,2 62,8
22,0 2,984 ±4% 380,1 69,1
25,0 3,853 ±4% 490,9 78,5
32,0 6,313 ±4% 804,2 100,5
40,0 9,865 ±4% 1256,6 125,7
FONTE: ABNT (2007, p. 10)

Os fios de aço são laminados a frio e possuem diâmetro nominal abaixo


de 10,0 mm. Podem ser lisos, entalhados ou nervurados, são produzidos em com-
primentos de 12 m ou mais, conforme Figura 17. São vendidos em feixes ou rolos.

FIGURA 17 – FIOS DE AÇO

FONTE: <http://pereiraferroetelas.com.br/construcao/fio-de-aco.jpg>. Acesso em: 8 maio 2020.

O Quadro 4 traz as características dos fios de aço de acordo com a NBR


7480 (ABNT, 2007) – Aço destinado a armaduras para estruturas de concreto ar-
mado – Especificação.

177
UNIDADE 3 | MATERIAIS POLIMÉRICOS E MATERIAIS METÁLICOS

QUADRO 4 – CARACTERÍSTICAS DAS BARRAS DE AÇO

Diâmetro No- Massa e Tolerância por unidade de


Valores Nominais
minal (mm) comprimento
Massa
Máxima variação permitida Área da se- Perímetro
Fios Nominal
pela massa nominal ção (mm²) (mm)
(Kg/m)
2,4 0,036 ±6% 4,5 7,5
3,4 0,071 ±6% 9,1 10,7
3,8 0,089 ±6% 11,3 11,9
4,2 0,109 ±6% 13,9 13,2
4,6 0,130 ±6% 16,6 14,5
5,0 0,154 ±6% 19,6 15,7
5,5 0,187 ±6% 23,8 17,3
6,0 0,222 ±6% 28,3 18,8
6,4 0,253 ±6% 32,2 20,1
7,0 0,302 ±6% 38,5 22,0
8,0 0,395 ±6% 50,3 25,1
9,5 0,558 ±6% 70,9 29,8
10,0 0,617 ±6% 78,5 31,4
FONTE: ABNT (2007, p. 11)

Para serem utilizados no concreto armado, algumas propriedades mecâ-


nicas são exigidas das barras e dos fios de aço. De acordo com a NBR 7480 (ABNT,
2007) – Aço destinado a armaduras para estruturas de concreto armado – Especi-
ficação, essas propriedades podem ser visualizadas na Quadro 5.

QUADRO 5 – PROPRIEDADES MECÂNICAS EXIGIDAS DAS BARRAS E FIOS DE AÇO


Ensaio de
Valores mínimos de tração dobramento Aderência
a 180°
Limi- Alonga- Alonga- Coeficiente
Resistência
Categoria te de mento mento de con-
caracterís- Diâmetro do
resis- após total na formação
tica de es- pino (mm)
tência ruptura força superficial
coamento
Fst em 10 Φ máxima mínimo (η)
Fyk (MPa)
(MPa) A (%) Agt (%) Φ<20 Φ≥20 Φ<10 Φ≥10
CA-25 250 1,20 fy 18 - 2Φ 4Φ 1,0 1,0
CA-50 500 1,08 fy 8 5 3Φ 6Φ 1,0 1,5
CA-60 600 1,05 fy 5 - 5Φ - 1,0 1,5
FONTE: ABNT (2007, p. 12)

178
TÓPICO 2 | MATERIAIS METÁLICOS

8.3 CHAPAS FINAS E GROSSAS


As chapas finas são produtos fornecidos pelas indústrias siderúrgicas para
as metalúrgicas, que transformam em esquadrias, dobradiças, arruelas e perfis
dobrados, conforme Figura 18. São vendidos em medidas padronizadas. Quando
laminados a frio apresentam espessuras entre 0,3 e 3,0 mm. Quando laminados a
quente apresentam espessuras entre 1,2 e 6,0 mm. São apresentados em boninas,
com longos comprimentos e largura acima de 500 mm. As chapas grossas apresen-
tam espessura acima de 6,0 mm. São utilizadas para confecção de perfis soldados.

FIGURA 18 – BOBINAS DE CHAPAS DE AÇO

FONTE: <https://bit.ly/2YTxtSE>. Acesso em: 8 maio 2020.

8.4 AÇOS ESTRUTURAIS


Os aços estruturais são utilizados em projetos estruturais. São laminados
a quente, normalizados e padronizados. São fornecidos em barras redondas, bar-
ras chatas, cantoneiras e perfis em forma de T, U, H, I e L, conforme Figura 19.

FIGURA 19 – PERFIS DE AÇO EM FORMATO I

FONTE: <http://www.acomar.com.br/wp-content/uploads/2017/04/perfil-i.jpg>. Acesso em: 8


maio 2020.

179
UNIDADE 3 | MATERIAIS POLIMÉRICOS E MATERIAIS METÁLICOS

8.5 TUBOS ESTRUTURAIS E NÃO ESTRUTURAIS


Tubos estruturais e não estruturais são tubos vazados, utilizados em treliças
para coberturas, grades, dutos para água, gás ou condutores elétricos, conforme
Figura 20. Possuem formatos e dimensões padronizadas, em grande variedade.

FIGURA 20 –TUBOS ESTRUTURAIS

FONTE: <https://bit.ly/31D9J6Y>. Acesso em: 8 maio 2020.

8.6 GALVANIZADOS OU ZINCADOS


Os produtos galvanizados são chapas finas submetidas a um banho de
zinco fundido, a fim de aumentar a resistência à corrosão atmosférica. São utili-
zadas na fabricação de telhas, calhas, rufos, dutos de ar condicionado, parafusos
e dobradiças, conforme Figura 21. Também podem ser chamados de zincados.

FIGURA 21 – TELHAS DE AÇO GALVANIZADAS

FONTE: <https://casaserralheiro.com.br/wp-content/uploads/2019/07/telha-galvalume-casa-do-
serralheiro.jpg>. Acesso em: 8 maio 2020.

180
TÓPICO 2 | MATERIAIS METÁLICOS

8.7 PREGOS
Os pregos podem ser de diversos tipos. Os mais comuns são: de carpintei-
ro, de marceneiro, de duas cabeças, de cabeça de chumbo, para telhas metálicas,
em espiral e em farpas, conforme Figura 22.

FIGURA 22 – PREGOS

FONTE: <https://www2.gerdau.com.br/sites/default/files/pregos.jpg>. Acesso em: 8 maio 2020.

8.8 PARAFUSOS
Também existe uma grande variedade de parafusos, conforme Figura 23.
Podem ser de aço ou galvanizados. Podem ser com porca ou de fenda, com cabe-
ça chata ou cabeça redonda.

FIGURA 23 – PARAFUSOS

FONTE: <https://bit.ly/2CTTfNh>. Acesso em: 8 maio 2020.

9 PRODUTOS EM ALUMÍNIO
O alumínio é muito utilizado devido à possibilidade de elementos mais
esbeltos, sua versatilidade, durabilidade, a diminuição no consumo de materiais
e por ser um material ecologicamente correto. A seguir serão analisados alguns
dos principais produtos em alumínio utilizados na construção civil.

9.1 ESQUADRIAS
O alumínio é amplamente utilizado na fabricação de esquadrias, conforme
Figura 24. Este material é escolhido pois é resistente, tem um acabamento versátil e
181
UNIDADE 3 | MATERIAIS POLIMÉRICOS E MATERIAIS METÁLICOS

garante um bom isolamento térmico e acústico. A estética proporcionada pelo alu-


mínio dá à obra uma aparência limpa e inovadora, pois este material possibilita ele-
mentos esbeltos e fluídos, o que amplia as possibilidades arquitetônicas de seu uso.

A qualidade das esquadrias de alumínio (padronizadas ou sistematizadas)


é garantida pelo Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat
(PBQP-H), no âmbito do Programa Setorial da Qualidade. Para serem homologa-
dos, esses produtos precisam atender às especificações da norma NBR 10.821 – Es-
quadrias para edificações, nos requisitos de permeabilidade ao ar, estanqueidade à
água, resistência às cargas de vento e resistência às operações de manuseio. Essas
esquadrias também respondem perfeitamente às exigências de desempenho acús-
tico preconizadas pela NBR 15.575 – Desempenho de edificações habitacionais.

FIGURA 24 – ESQUADRIAS DE ALUMÍNIO

FONTE: <https://bit.ly/3eUOTDE>. Acesso em: 8 maio 2020.

9.2 ESTRUTURA EM FACHADAS ENVIDRAÇADAS


O alumínio é escolhido como estrutura para fachadas envidraçadas, con-
forme Figura 25, por garantir o suporte aos vidros, ser resistente e durável. Natu-
ralmente bonito e durável, sem necessidade de aplicação de acabamentos ou tintas
especiais, baixa manutenção, leve para transportar e possibilidade de inúmeros en-
caixes e perfis, além da elevada resistência estrutural são características do alumí-
nio que o tornam ideal na utilização em estruturas móveis ou permanentes.

182
TÓPICO 2 | MATERIAIS METÁLICOS

FIGURA 25 – FACHADA DE VIDRO E ALUMÍNIO

FONTE: <https://bit.ly/2YRzwGu>. Acesso em: 8 maio 2020.

9.3 COBERTURAS
As telhas de alumínio podem ser aplicadas em coberturas ou revestimen-
tos laterais, conforme Figura 26. Trazem leveza, durabilidade e sustentabilidade
para construções industriais, galpões e até residências.

A refletividade a condutividade térmica do alumínio reduz a temperatura das


instalações, favorecendo o conforto nos ambientes. As telhas de alumínio podem ser
fornecidas em acabamento natural, pintada ou envernizada, bem como lavrado stucco.

FIGURA 26 – COBERTURA COM TELHA DE ALUMÍNIO

FONTE: <https://bit.ly/2Vf7x1m>. Acesso em: 8 maio 2020.

183
UNIDADE 3 | MATERIAIS POLIMÉRICOS E MATERIAIS METÁLICOS

9.4 FÔRMAS DE CONCRETO


As fôrmas de concreto podem ser de alumínio, conforme Figura
27, pois são altamente resistentes às intempéries e à corrosão, leves e reaprovei-
táveis, sendo assim, consequentemente, ecologicamente corretas. São muito utili-
zadas para paredes de concreto moldadas in loco.

FIGURA 27 – FÔRMA DE PAREDES MOLDADAS IN LOCO

FONTE: <https://bit.ly/2VElOom>. Acesso em: 8 maio 2020.

9.5 FIOS E CABOS ELÉTRICOS


Na construção civil são utilizados fios e cabos elétricos de alumínio ou
cobre. Por ser mais flexível, nas instalações domiciliares são utilizados os fios de
cobre. Geralmente, o cobre é capeado por uma camada de estanho, a fim de evitar
a oxidação, conforme Figuras 28 e 29.

FIGURA 28 – FIOS DE COBRE

FONTE: <https://bit.ly/3bthuxG>. Acesso em: 8 maio 2020.

184
TÓPICO 2 | MATERIAIS METÁLICOS

FIGURA 29 – FIOS E CABOS DE COBRE REVESTIDOS

FONTE: <https://bit.ly/2VCgqSI>. Acesso em: 8 maio 2020.

DICAS

Os fios são condutores de um só elemento; os cabos são diversos fios, enro-


lados entre si.

A seguir, segue Quadro 6 com alguns tipos de fios condutores de cobre


eletrolítico, da série B & S (Brown and Sharp). A denominação pode variar de acor-
do com o fabricante.

QUADRO 6 – TIPOS DE FIOS DE COBRE


Bitola n° Diâmetro Φ (mm) Peso (Kg/m) Resistência em Ohms a 25 °C
1 7,35 0,377 0,4145
2 6,54 0,299 0,5227
3 5,83 0,237 0,6592
4 5,19 0,188 0,8312
5 4,62 0,149 1,0480
6 4,12 0,118 1,3220
7 3,66 0,094 1,6670
8 3,26 0,074 2,1010
9 2,91 0,059 2,6500
10 2,59 0,047 3,3410
11 2,30 0,037 4,2130
12 2,05 0,029 5,3130
13 1,83 0,023 6,7000
14 1,63 0,018 8,4480

185
UNIDADE 3 | MATERIAIS POLIMÉRICOS E MATERIAIS METÁLICOS

15 1,45 0,015 10,6500


16 1,29 0,012 13,4300
17 1,15 0,009 16,9400
18 1,02 0,007 21,3600

FONTE: Bauer (1994, p. 611)


Conforme Bauer (1994), os fios e cabos podem ser de vários tipos, a seguir,
seguem os principais:

• Fios e cabos nus: não tem cobrimento. Utilizados em linhas aéreas de transmissão
de energia, circuitos aéreos de comunicação telefônica e telegráfica.
• Fios de contato: não tem cobrimento, podem ser redondos, ranhurados ou em
formato de 8. Utilizados como linha aérea para bondes e trens elétricos.
• Fios flexíveis: são fios compostos por um cordel flexível de cobre, envolvido por uma
espiral de seda ou algodão e isolado com uma camada de borracha vulcanizada.
• Fios e cabos RCT: são fios de cobre estanhado isolados por uma camada de bor-
racha vulcanizada e cobertos por uma ou duas tranças de algodão com massa iso-
lante à prova de tempo. São os fios Vulcon.
• Fios RCC: são os fios com capa de chumbo, com isolamento reforçado de borracha
vulcanizada. Para identificar o duplo ou triplo, a borracha tem cores diferentes.
• Cabor RF: são condutores de cobre torcidos entre si e cobertos com papel impreg-
nado. São envolvidos por uma capa de chumbo e uma de juta. Após são cobertos
por uma fita de ferro em espiral para dar resistência mecânica e por fim uma ca-
mada de juta alcatroada.
• Cabos RCTF: são condutores de cobre estanhado isolados com duas camadas de
borracha vulcanizada, fita isolante e trança de algodão impregnado.
• Cabos WP (water-proof): são condutores cobertos com duas tranças de algodão
impregnadas em massa preta à prova de umidade.
• Fios e cabos plásticos: são empregados em substituição aos fios anteriores, com o
isolamento feito com plásticos. Existe uma grande variedade deste tipo de fio.
• Fios com alma de aço: são fios ou cabos de aço, revestidos com cobre. Apresenta
grande resistência mecânica.
• Cabos concêntricos: condutor de cobre estanhado (alma) coberto por algum isola-
mento adequado, uma coroa de fios de cobre torcidos e um novo isolamento. Os
dois condutores, alma e coroa, formam um só cabo, causando curto-circuito se a
ligação não for feita nas extremidades.
• CA: cabos de alumínio.
• CAA: cabos de alumínio com alma de aço.

Em instalações elétricas, as cores dos fios e cabos indicam a função de


cada cabo, a fim de preservar a segurança e funcionamento da rede. De acordo
com a NBR 5410 (ABNT, 2004) – Instalações elétricas de baixa tensão, as cores do
revestimento de acordo com a função são:

• azul claro: para condutores neutros e com isolação;


• verde ou verde com amarelo: para condutores de proteção (fio terra);

186
TÓPICO 2 | MATERIAIS METÁLICOS

• vermelho, preto ou marrom: para condutores fase.

10 FERRAGENS
As ferragens mais utilizadas na construção civil são as ferragens para es-
quadrias e os metais sanitários, que são materiais de acabamento utilizados nas
etapas finais de uma obra. Na escolha dessas ferragens são considerados a segu-
rança, a intensidade de uso, a resistência à corrosão. Podem ser utilizados diversos
metais e ligas metálicas na sua fabricação, entre eles: o ferro, o latão e o aço. Neste
subtópico, abordaremos as principais ferragens utilizadas na construção civil.

10.1 FERRAGENS PARA ESQUADRIAS


As ferragens para esquadrias mais comuns são os fechos, fechaduras,
dobradiças e puxadores. Todos esses materiais devem apresentar boas caracte-
rísticas e propriedades, tais como: resistência mecânica, resistência à oxidação,
facilidade de manufatura, resistência ao desgaste, leveza e facilidade de manu-
seio. O metal que apresenta essas propriedades é o latão, que também evita o
aparecimento da ferrugem e o possível desgaste e empenamento, por isso sua
preferência para ferragens (BAUER, 1994).

Os fechos são utilizados para fechar painéis. Podem ser de girar, como os
ganchos, carrancas para prender tampos de janelas, fixadores de porta, borbole-
tas para janelas do tipo guilhotina; ou de correr, como as tranquetas de fio chato
ou redondo, os cremonas internos ou de embutir e o fecho paulista. Todos os fe-
chos podem ser movidos sem a utilização de um dispositivo especial. Exemplos
de fecho podem ser visualizados nas Figuras 30 e 31.

FIGURA 30 – FECHO DE GIRAR

FONTE: <https://metalferco.vteximg.com.br/arquivos/ids/155903-285-285/FECHO-DATTI-300-
CR.jpg?v=636125697464430000>. Acesso em: 8 maio 2020.

187
UNIDADE 3 | MATERIAIS POLIMÉRICOS E MATERIAIS METÁLICOS

FIGURA 31 – FECHO DE CORRER

FONTE: <http://www.vonder.com.br/estatico/vonder/temp/320_3290221200.jpg>. Acesso em:


8 maio 2020.

As fechaduras são os fechos que necessitam de um dispositivo especial


para abrir, como a chave. Tem como partes o trinco e a lingueta. O trinco apenas
fecha a porta e a lingueta a mantem travada. As fechaduras podem ser de uma ou
duas voltas na chave. As fechaduras podem ser de três tipos:

a) Fechadura de cilindro: um sistema de pinos mantém o cilindro imóvel quando


está sem a chave. É o que apresenta maior segurança. Pode ser cilindro de en-
caixe, de rosca ou monobloco.
b) Fechadura de segurança ou de gorges: as chaves para este tipo de fechadura
apresentam ranhuras longitudinais, que movimentam os pinos, ou gorges, e
soltam a lingueta. Para abrir, a chave deve coincidir com a forma de entrada e
disposição dos gorges.
c) Fechadura normal: para abrir, a chave deve coincidir com a forma de entrada
e comprimento da placa para movimentar as linguetas. É a que apresenta a
menor segurança. Geralmente, utilizada para portas internas. Exemplos de fe-
chadura podem ser visualizados na Figura 32.

FIGURA 32 – TIPOS DE FECHADURAS

FONTE: <https://construindodecor.com.br/wp-content/uploads/2013/07/trinco-fechadura.jpg >.


Acesso em: 8 maio 2020.

188
TÓPICO 2 | MATERIAIS METÁLICOS

As dobradiças são utilizadas para que uma peça se torne móvel ao redor
de um eixo. Podem ser de diversas formas, tais como: comum, pivô, holandesa,
invisível. Exemplos de dobradiças podem ser visualizados nas Figuras 34 e 35.

FIGURA 33 – DOBRADIÇA COMUM

FONTE: <https://metalumferragens.com.br/wp-content/uploads/2017/11/3144-copy.jpg>.
Acesso em: 8 maio 2020.

FIGURA 34 – DOBRADIÇA PIVÔ

FONTE: <https://bit.ly/31j0rgm>. Acesso em: 8 maio 2020.

189
UNIDADE 3 | MATERIAIS POLIMÉRICOS E MATERIAIS METÁLICOS

Para movimentar essas peças são necessários acessórios chamados de pu-


xadores. Os puxadores também podem ser de diversas formas, tais como: comum
com alça, concha, cremona para janela tipo guilhotina, maçanetas de alavanca,
maçanetas de bola. Exemplos de puxadores podem ser visualizados nas Figuras
35 e 36.

FIGURA 35 – PUXADORES DE PORTAS

FONTE: <https://www.atacadaodamadeira.com.br/wp-content/uploads/2016/08/
Puxadores-Kromus.jpg>. Acesso em: 8 maio 2020.

190
TÓPICO 2 | MATERIAIS METÁLICOS

FIGURA 36 – PUXADORES DE JANELAS

FONTE: <https://www.breithaupt.com.br/media/catalog/product/cache/1/thumbnail/98x/9df78
eab33525d08d6e5fb8d27136e95/p/u/punhojanela.jpg>. Acesso em: 8 maio 2020.

Na compra de ferragens, deve-se atentar principalmente para o nível de


segurança desejado, a qualidade do material, a espessura da esquadria e a dire-
ção da abertura.

11 METAIS SANITÁRIOS
Os metais sanitários mais utilizados na construção civil são as válvulas,
torneiras e acessórios. Geralmente, são produzidos de latão, ou bronze e latão,
porém acima de uma polegada e meia são produzidos de aço com partes em la-
tão. As válvulas são colocadas no caminho da rede de água e esgoto para retirada
do fluído, podendo ser de três tipos:

a) Válvula de gaveta: veda a passagem da corrente. Apresenta perda mínima de


carga.
b) Válvula de prato: mais estanque que a de gaveta. Apresenta grande perda de
pressão. Também são chamadas de válvulas tipo globo.
c) Válvula de retenção: permite a passagem de água apenas em um sentido. Exem-
plos dos três tipos de válvulas podem ser visualizados nas Figuras 37, 38 e 39.

191
UNIDADE 3 | MATERIAIS POLIMÉRICOS E MATERIAIS METÁLICOS

FIGURA 37 – VÁLVULA DE GAVETA

FONTE: <https://www.solucoesindustriais.com.br/images/produtos/imagens_10302/
valvulagaveta01_10-47-38.jpg>. Acesso em: 8 maio 2020.

FIGURA 38 – VÁLVULA DE PRATO

FONTE: <https://bit.ly/3dxSlDh>. Acesso em: 8 maio 2020.

192
TÓPICO 2 | MATERIAIS METÁLICOS

FIGURA 39 – VÁLVULA DE RETENÇÃO

FONTE: <https://bit.ly/2LiLJwv>. Acesso em: 8 maio 2020.

As torneiras podem ser de inúmeros modelos. Podem ser de entrada de


água horizontal, que são as torneiras de parede, ou entrada vertical, que são as
torneiras de lavatório. A mais comum é a torneira de válvula de prato, também
chamada de globo. Há também as torneiras do tipo crê, isoladas, misturadoras, as
de acionar com o cotovelo ou com o pé. Exemplos de torneiras podem ser visua-
lizados nas Figuras 40 e 41.

FIGURA 40 – TORNEIRA DE ENTRADA VERTICAL

FONTE: <https://cdn.leroymerlin.com.br/products/torneira_para_tanque_e_jardim_parede_
cromado_9161c37_equation_89374621_c138_600x600.jpg>. Acesso em: 8 maio 2020.

193
UNIDADE 3 | MATERIAIS POLIMÉRICOS E MATERIAIS METÁLICOS

FIGURA 41 – TORNEIRA DE ENTRADA HORIZONTAL

FONTE: <https://d1h3hdbtrd2rkg.cloudfront.net/Custom/Content/Products/98/54/985401_
torneira-de-bica-alta-movel_m6_636999889536687555.jpg>. Acesso em: 8 maio 2020.

São vários os acessórios de metal utilizados na construção civil, principal-


mente nos metais sanitários, tais como: duchas, saboneteiras, papeleiras, grelhas
para ralos, sifão, registros, entre outros.

194
TÓPICO 2 | MATERIAIS METÁLICOS

LEITURA COMPLEMENTAR

Manifestações patológicas e a importância do controle de qualidade de estru-


turas metálicas

Caio César Sacchi


Alex Sander Clemente de Souza

Para projetar sistemas industrializados deve-se investir em inovações tec-


nológicas e visão sistêmica da construção, o que constitui resolver integralmen-
te aspectos como segurança, funcionalidade e durabilidade. Em um sistema de
construção em estruturas metálicas, as falhas ou acidentes estruturais podem ter
origens em qualquer uma das atividades inerentes ao processo de construção.
Uma construção sistêmica está menos sujeita a falhas quando seu responsável
possui uma visão global de todo o processo construtivo.

Para um maior desenvolvimento na execução e a diminuição de impro-


visos no canteiro de obras, deve-se propor um sistema de controle de qualidade
nas diversas etapas de um projeto, entre elas o detalhamento, a fabricação e a
montagem das estruturas metálicas, garantindo a redução da necessidade de in-
tervenções para corrigir falhas.

A seguir é apresentado o Quadro 1 com as principais origens de manifes-


tações patológicas na construção civil em geral.

QUADRO 1 – PRINCIPAIS ORIGENS DE MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS NA CONSTRUÇÃO


CIVIL EM GERAL
Fontes de anomalias na construção
Causa Porcentagem
Projeto 42,00%
Execução 28,40%
Materiais 14.50%
Uso 9,50%
Vários 5,60%
FONTE: Henriques (2001 apud SACCHI; SOUZA, 2016)

No Brasil, as construções desde pequeno porte até as de grande porte,


como pontes, viadutos, túneis, obras hidráulicas, construções residenciais e co-
merciais, sofrem pela ação do clima. Elevados gradientes de temperatura, muitas
vezes no mesmo dia, grandes volumes de chuvas, poluições e ambientes de gran-
de agressividade contribuem para o surgimento de manifestações patológicas
que estão associadas com uma ou mais formas de deterioração.

195
As anomalias em estruturas metálicas também são, na grande maioria,
resultantes de falhas de projetos, erros na fabricação e montagem das estruturas
causadas por negligência ou inexistência de controle de qualidade ou então da
falta de manutenção.

No Quadro 2 são apresentadas as manifestações patológicas mais comuns


em estruturas de aço.

QUADRO 2 – AS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS MAIS COMUNS E AS PRINCIPAIS CAUSAS


Manifestações pa-
Principais Causas
tológicas no aço
Causada por deficiência de drenagem das águas pluviais e
Corrosão localizada deficiências de detalhes construtivos, permitindo o acú-
mulo de umidade e de agentes agressivos.
Corrosão generali- Causada pela ausência de proteção contra o processo de
zada corrosão.
Causadas por sobrecargas ou efeitos térmicos não previs-
Deformações ex-
tos no projeto original, ou ainda, deficiências na disposi-
cessivas
ção de travejamentos.
Causadas pelo uso de modelos estruturais incorretos para
Flambagem local verificação da estabilidade, ou deficiências no enrijecimen-
ou global to local de chapas, ou efeitos de imperfeições geométricas
não consideradas no projeto e cálculo.
Falhas estas iniciadas por concentração de tensões, devido
Fratura e propaga-
a detalhes de projeto inadequados, defeitos de solda, ou
ção de fraturas
variações de tensão não previstas no projeto.
FONTE: Pravia e Betinelli (2016 apud SACCHI; SOUZA, 2016)

Os agentes agressivos que afetam o comportamento das construções du-


rante o seu tempo de vida útil são:

• ações ambientais, como elevada umidade, respingos de marés etc.;


• agentes externos agressivos: águas contaminadas, terrenos com solo contami-
nado, gases nocivos, produtos químicos etc.;
• causas naturais ligadas ao envelhecimento dos materiais componentes das es-
truturas (por exemplo, corrosão).

A corrosão é um tipo de deterioração que pode ser facilmente encontrada


em obras metálicas. O aço oxida quando em contato com gases nocivos ou umi-
dade, necessitando por isso de cuidados para prolongar sua durabilidade.

Atualmente, no Brasil, as normas e padrões para a execução de estruturas


metálicas de pequeno e médio porte, que garantam sua qualidade e vida útil,
não são realidades. Na construção em estruturas metálicas, cada etapa deve ser
observada e devem existir cuidados, a fim de se evitar os erros construtivos, visto

196
que esse sistema possui características próprias tanto na concepção quanto no
desenvolvimento. Esses erros podem ser evitados por meio do planejamento e
fiscalização.

O controle de qualidade nas estruturas metálicas é essencial para garantir a


padronização do processo construtivo e consequentemente garantir sua vida útil.

FONTE: SACCHI, C. C.; SOUZA, A. S. C. Manifestações patológicas e controle de qualidade na


montagem e fabricação de estruturas metálicas. REEC – Revista Eletrônica de Engenharia Civil,
v. 13, n. 1, p. 20-34, 2016.

197
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• Os metais mais importantes atualmente são: o ferro (o mais importante), cobre,


alumínio, chumbo e zinco.

• Nos metais, fazendo-se a composição, combinação e tratamentos podemos


criar as ligas metálicas.

• A mineração é a extração do minério.



• A metalurgia é a extração do metal puro do minério. Pode ser feito por redu-
ção, Precipitação química ou processo eletrolítico.

• A siderurgia é a metalurgia do ferro.

• Os materiais metálicos são amplamente utilizados na construção civil, barras,


chapas, esquadrias, fios, cabos e ferragens.

CHAMADA

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198
AUTOATIVIDADE

1 Os materiais podem ser divididos em quatro grupos: cerâmicos, polimé-


ricos, compósitos e metálicos. Esta divisão é resultado da forma como os
elementos químicos se combinam para a composição desses materiais. Nos
materiais metálicos, a ligação química mais importante é a ligação metálica.
Defina “metais” e “ligas metálicas”.

R.:

2 As ligas metálicas são a composição ou combinação de metais. De acordo


com as ligas metálicas, preencha a alternativa incorreta de acordo com os
metais componentes em cada liga.

a) ( ) Aço: ferro + carbono (abaixo de 2,0%).


b) ( ) Ferro fundido: ferro + carbono (acima de 2,0%).
c) ( ) Bronze: cobre + estanho.
d) ( ) Latão: cobre + zinco.
e) ( ) Duralumínio: alumínio + zinco + magnésio + manganês.

3 Os metais podem ser encontrados na natureza puros ou, quando combina-


dos com outros elementos químicos, como minerais. Se o mineral for for-
mado por um teor de elemento metálico em que sua exploração econômica
seja viável, ele recebe o nome de minério. Para ser transformado num pro-
duto para a construção civil, este material passa pela mineração, metalurgia
e siderurgia. Defina mineração, metalurgia e siderurgia

R:

4 De acordo com as propriedades dos metais não-ferrosos, assinale a alterna-


tiva incorreta.

a) ( ) Resistência à corrosão.
b) ( ) Altas densidades.
c) ( ) Propriedades elétricas e magnéticas.
d) ( ) Características especiais de resistência e ductilidade.
e) ( ) Fusibilidade (PETRUCCI, 1995).

5 Como são identificadas as barras de aço e quais seus diâmetros nominais?

R.:

199
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10.821. Esquadrias
para edificações Parte 2: Esquadrias externas – Requisitos e classificação. São Pau-
lo, 2017.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15270: componen-


tes cerâmicos – blocos e tijolos para alvenaria. Rio de Janeiro, 2017.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15.575. Desempe-


nho de edificações Habitacionais. São Paulo, 2013.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7480. Aço destina-


do a armaduras para estruturas de concreto armado: especificação. Rio de Janei-
ro, 2007.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5410. Instalações


elétricas de baixa tensão. Rio de Janeiro, 2004.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13817: Placas cerâ-


micas para revestimento – Classificação. Rio de Janeiro, 1997.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7170: tijolo maciço


cerâmico para alvenaria. Rio de Janeiro, 1983.

BAUER, F. L. A. Materiais de construção. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1994.

BRASIL, A. Deondrologia: estudando o passado através das árvores. Florestal


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CALIL JÚNIOR, C.; DIAS, A. A. Utilização da madeira em construções rurais. Re-


vista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande, v. 1, p.
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CALLISTER JUNIOR, W. D. Ciência e engenharia dos materiais: uma introdu-


ção. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2012.

CANEVAROLO JUNIOR, S. V. Ciência dos polímeros: um texto básico para tec-


nólogos e engenheiros. 2. ed. São Paulo: Artliber Editora, 2006.

CHIOSSI, N. J. Geologia aplicada à engenharia. 3. ed. São Paulo: Oficina de Tex-


tos, 2013.

200
HAGEMANN, S. E. Materiais de construção básicos. Instituto Federal Sul-Rio-
-Grandense, Universidade Aberta do Brasil, 2011. Disponível em: https://bit.
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HIPOLITO, I. S., HIPOLITO, R. S., LOPES, G. A. Polímeros na construção civil. In:


Simpósio de excelência em gestão de tecnologia. 2013. Disponível em: https://
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LARA, L. A. M. Materiais de construção. Ouro Preto: IFMG, 2013.

PERES, M. L. G.; DELUCIS, D. A.; BELTRAME, R. A. Vergamento de madeira


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PETRUCCI, E. G. R. Materiais de construção. 10. ed. São Paulo: Globo, 1995.

PFEIL, W.; PFEIL, M. Estruturas de madeira. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2003.

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