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NARRADOR: É possível um menino ser flor? E um menino Rosa? Pois disseram que sim.

Sei de um chamado João Rosa ou Joãozito. Morava no interior de Minas Gerais, uma
cidadezinha chamada Cordisburgo. Parece nome de cidade encantada, mas encantada
não era. Ficava enfiada no meio das montanhas, e ao redor das montanhas: uma igreja e
muitas casinhas feitas com capricho para ser lar.

NARRADOR: O pai de Joãozito também tinha nome flor: Florduardo Rosa. A mãe, dona
Chiquitinha, parecia aqueles olhos que nasciam nos barrancos e se espalham pela
primavera. Tinha uns tantos irmãos: Rosa, Zezé, Fafá, ai, ai, eu não vou lembrar de todos.
Por estar assim tão cheia de gente, a casa de Joãozito era cheia de vozes e movimento.

NARRADOR: Na frente da casa do Joãozito havia uma estação de trem, por volta e meia
acontecia um embarque de bois. Joãozito adorava esse momento, ele assistia a tudo com
muito interesse. O Joãozito amava os boizinhos, quando o trem partia, ele acenava e
dizendo:

JOÃOZITO: Força boizinhos, sejam fortes, sejam fortes!

NARRADOR: Seu Fulô, pai de Joãozito, era dono de venda, vendia de tudo, vendia milho,
quirera, fumo, cachaça, sela, querosene, era de um tudo. Por isso mesmo muita gente
diferente entrava e saía de lá a toda hora, levando suas histórias. Aparecia fazendeiros
ricos, benzedeiras, moço apaixonado, estrangeiro e as vezes aparecia só contador de
história mesmo.

CONTADOR DE HISTÓRIA: O seu Fulô, até me arrepio, eu não sei se vai acreditar, mas
dizem pela redondeza que tem um lobisomem. Ontem o seu Genésio mesmo, aqui
pertinho, viu um lobisomem no galinheiro dele.

NARRADOR: Joãozito ouvia essas histórias com total interesse, ele amava ouvir história,
ficava ali, atrás do balcão atento a tudo, quanto mais ouvia, mais queria ouvir, nem comer
comia direito, se distraía ali naquelas histórias, ele amava tudo aquilo. Bem se vê que
Joãozinho era um menino diferente, ele não era feito as correrias que os garotos da sua
idade gostavam de fazer nas ruas. Até que um dia, Joãozito descobre os livros, ale
aprendeu a ler antes mesmo de entrar para a escola do mestre Candinho e gerou problema
para o mestre, que não tinha mais livros para indicar tamanha curiosidade do menino leitor,
o jeito era procurar em outros lugares com outras pessoas. Para a sorte de todos veio
morar em Cordisburgo Frei Canisio que trouxe muitas obras de vários lugares do mundo
para o menino ler. O menino lia de tudo, lia jornais, revistas, livros, bula de remédio, bilhete
de compra, enfim ele lia tudo que caía na sua mão, ele lia, lia, lia, com os olhos cada vez
mais enfiados dentro dos livros. Até que um certo dia, apareceu, ali em sua casa, um
médico para visitar os seus pais.
MÉDICO: Tarde seu Fulô!

FULÔ (pai): Tarde doutor!

MÉDICO: Tarde dona Chiquitinha

CHIQUITINHA (mãe): Tarde doutor

MÉDICO: Tarde Joãozinho, ô menino, isso não tá certo não, tira esse olho de dentro desse
livro menino. (O médico colocou os óculos do no Joãozinho)

JOÃOZITO: Ham! Parece tudo mais nítido, eu vejo as cores diferentes, o mundo, o mundo
parece outro.

MÉDICO: Ham! Você vai precisar usar óculos menino, tá decidido, você tem é problema de
vista, enquanto os óculos não chegam, nada de leitura, e tenho dito!

JOÃOZITO: Ah não.... não há pior castigo para mim do que ficar sem os meus livros....

CHIQUITINHA: Nada de leitura, olha o que o médico falou.

JOÃOZITO: Ah mãe, mas mãe, assim não.

FULÔ (PAI): Nada de leitura meu filho.

NARRADOR: O jeito era ler escondido, o menino lia nos quintais, lia atrás de tudo que era
canto. Até que um dia sua mãe o chamou e ele não respondeu:

CHIQUITNHA (MÃE): João, Joãozito meu filho, o almoço tá na mesa menino! Seus irmãos
já estão aqui. João? João? Cadê você? Oh Fulô!!!

FULÔ (PAI): Fala muié!

CHUIQUITINHA (MÃE): O Joãozito, ele não veio para o almoço.

FULÔ (PAI): Uai! Por anda esse menino? Joãozito, Joãozito!

CHIQUITINHA (MÃE): João, João!!!

NARRADOR: Todos se mobilizaram para encontrar o garoto, já estavam pensando as


piores desgraças, até que no final do dia, o empregado do seu Fulô foi até o depósito para
procurar algumas mercadorias, lá chegando, deu para a porta fechada e trancada por
dentro.

EMPREGADO: Oh de dentro, abre logo!!!

NARRADOR: Nada, nenhum movimento, o jeito foi chamar seu Fulô.

FULÔ (PAI): O dentro abre logo!!!


NARRADOR: O jeito foi arrombar. Foi então que todos viram, o menino ali, com o rosto

angelical, as mãos entrelaçadas, do lado um toco de vela ainda acesa e no seu colo um

livro aberto. Joãozito viveu muitas outras aventuras, cresceu, aos seis anos aprendeu a

falar francês, aos nove aprendeu holandês, ainda aprendeu várias outras línguas como:

alemão, inglês, espanhol, italiano, esperanto, russo, latim e grego. Muito jovem, com

apenas 22 anos formou-se em medicina, aos 26 anos virou diplomata. No período da

Segunda Guerra Mundial, representou o Brasil na Alemanha, usou sua influência de

diplomata e ajudou os judeus, vítimas no nazismo, a fugirem. Além disso, tornou-se escritor

e suas principais obras são: Grandes Sertões: Veredas, Sagarana e Primeiras Estórias.

Como se vê, Joãozito se tornou o grande: João Guimarães Rosa, um dos maiores

escritores brasileiros. Nasceu em 27 de junho de 1908 e morreu em 19 de novembro de

1967. Aliás, já dizia Guimarães Rosa:

“O MUNDO É MÁGICO:

AS PESSOAS NÃO MORREM,

FICAM ENCANTADAS…

A GENTE MORRE

É PARA PROVAR QUE VIVEU”


BOM DIA A TODOS, SEJAM BEM VINDOS, NÓS, ALUNOS DO 9ªA TEREMOS A HONRA

DE APRESENTAR UM POUCO SOBRE A VIDA DE JOÃO GUIMARÃES ROSA, A

PARTIR DA OBRA: JOÃO, JOÃOZINHO E JOÃOZITO: O MENINO ENCANTADO.

ESSA PROSA POÉTICA DE CLAUDIO FRAGATA ENTRELAÇA RELATO E FICÇÃO,

UNINDO ACERTADAMENTE O AUTOR MINEIRO A UM DOS SEUS PERSONAGENS, O

MENINO MIGUILIM.

PREPARAR ESSE TEATRO SOBRE A INFÂNCIA DE JOÃO GUIMARÃES ROSA, NOS

PERMITIU CONHECER A VIDA E ALGUMAS OBRAS DESSE IMPORTANTE ESCRITOR

BRASILEIRO, E MOTIVOS PARA PRATICAR SEU CONSELHO:

“O HOMEM NASCEU PARA APRENDER, APREENDER TANTO QUANTO A VIDA LHE

PERMITA.”

ATÉ PORQUE....

“O CORRER DA VIDA EMBRULHA TUDO, A VIDA É ASSIM: ESQUENTA E ESFRIA,

APERTA E DAÍ AFROUXA, SOSSEGA E DEPOIS DESINQUIETA. O QUE ELA QUER DA

GENTE É CORAGEM”

ESPERAMOS QUE GOSTEM, DE NOSSA APRESENTAÇÃO.

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