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As formas sobrevivem: a história se abre

Por Larissa Baía Balbuena

Referência
DIDI-HUBERMAN, Georges. As formas sobrevivem: a história se abre.. In: ______. (org.). A
imagem sobrevivente..Rio de Janeiro: Contraponto, 2013. p. 31-41.

Resumo
Aos 22 anos, Aby Warburg já expressava em seu diário a sua insatisfação com uma “história da arte
estetizante” para “pessoas cultas”. Por conta disso, pôs em prática um constante deslocamento nos
diversos campos do saber. O que resultou em um processo crítico através da história da arte, uma
crise, uma desconstrução de suas fronteiras. Uma busca por uma ciência sem nome. Ele seguiu os
ensinamentos de diversos pensadores de diferentes áreas do conhecimento, como antropologia,
filosofia e psicologia. Para Warburg, não bastava simplesmente, ficar diante da imagem como diante
de algo que era apenas pautado em informações como autor, data, técnica, iconografia e etc. E sim
dos movimentos que a atravessam, e também a sua trajetória, sua história antropológica e
psicológica. Para que houvesse esse deslocamento, seria necessário levar a história um outro tempo,
retardá-las para um tempo que não seria o tempo das histórias autoglorificadas e nem um sentido
universal da história. E sim um tipo de relação entre o particular e o universal. Para isso, ele adentrou
no mundo não hierarquizado do arquivo, os vestígios material dos mortos. Algo que era imagem,
mas também ato e símbolo. Buscando implantar uma arqueologia dos saberes, que ligaria ao que
chamamos hoje de ciências humanas. Foi através da antropologia que ele deslocou a história da arte,
expondo suas diversas especificidades. Fazendo assim uma antropologia das imagens. Para Warburg
a imagem era um fenômeno cultural de um dado momento histórico. Seria uma passagem de uma
história da arte para uma ciência da cultura.

Palavras-chave
História da Arte; Archivio; Antropologia das imagens; Sobrevivência.

Frase mais relevante


“Para Warburg, de fato, a imagem constituía um "fenômeno antropológico total", uma cristalização e
uma condensação particularmente significativas do que era uma "cultura" [Kultur] num momento de
sua história. É isso que é preciso compreender, de imediato, na ideia que Warburg prezava de uma
"força mitopoética da imagem" [die mythenbildende Kraft im Bild]. ” (p.40 )

Frase mais relevante para você


[...] Ficamos diante da imagem como diante de um tempo complexo.[...](p. 34)

Relevância
Os modos de pensar de Warburg, inspiram a Didi-Huberman a escrever sobre suas diversas obras e
fazer aproximações com outros textos e autores que dialogam entre si. Didi-Huberman evidencia os
problemas que Warburg encontrou na história da arte e suas possíveis alternativas. Ele trata a história
da arte de maneira crítica e busca uma desconstrução das suas fronteiras disciplinares. Um saber em
movimento, constituído por deslocamentos metodológicos. Esse deslocamento da história da arte,
seria chamado de uma “ciência da cultura”. O modo de pensar crítico acerca da história da arte em
Warburg, nos traz outras perspectivas sobre a cultura e o estar diante de uma imagem e
Didi-Huberman traz esse pensamento de Warburg como um diálogo que nos aproxima desses
conceitos operatórios, que resgatam as vozes inaudíveis dos fantasmas. E das imagens que atestam a
sua sobrevivência.

Comentário
Esse texto foi um impulsionador para a minha pesquisa. Meu primeiro contato com Didi-Huberman
foi através dos primeiros capítulos deste livro. Meu interesse por história da arte, principalmente
uma história da arte crítica e decolonial que ultrapassa as fronteiras do tempo cronológico, me
causavam uma inquietação. A necessidade de falar de uma história da arte além da eurocêntrica que
conhecemos, me levaram até esses textos. Didi-Huberman traz à tona o pensamento de Warburg, que
me parece uma alternativa, seu modo de pensar crítico e seus métodos, tornam possível um novo
modo de pensar essa história da arte. Uma busca por uma história fantasmal, que busca através do
arquivo, vestígios materiais dos rumores dos mortos. Uma forma de resgatar as vozes inaudíveis,
uma história apagada, ou talvez só abandonada, esperando o resgate de seus vestígios.

Para ele, era necessário que descontruíssemos as fronteiras disciplinares da história da arte. Warburg
demonstrava sua insatisfação com a territorialização do saber sobre as imagens, pois não ficamos
diante de uma imagem como diante de algo com fronteiras exatas. E sim diante de algo que é
resultado de diversos movimentos e atravessamentos, e do que há para além dela. Ao estarmos diante
da imagem, estamos diante de um tempo complexo, que vai além do da história geral. Ele buscava
no objeto, algo que também era imagem, ato e símbolo. Sua busca não era pautada em buscar uma
lei geral ou essência de uma faculdade humana para produzir essas imagens. E sim expandir,
multiplicar as singularidades desses objetos/imagens.

Citações

(1)
“[...]o tempo da imagem não é o tempo da história em geral [...] desenclausurar a imagem e o tempo
que ela carrega [...]” (p.34)

(2)
“Uma história que já podemos dizer fantasmal, no sentido de que nela o arquivo já é considerado um
rumor dos mortos[...]” (p.35)

(3)
“[...] o que sobrevive numa população de fantasmas. Fantasmas cujo traços mal são visíveis, porém
se disseminam por toda parte: num horóscopo da data do nascimento, numa carta comercial, numa
guirlanda de flores [...] no detalhe de uma moda do vestuário, uma fivela de cinto, uma
circonvolução particular de um coque feminino…”(p.35)
(4)
“Não cabe a história da arte “renovar-se” com base em “novas” questões, formuladas pela disciplina
histórica, a respeito do imaginário; cabe à própria disciplina histórica reconhecer que, num dado
momento de sua história um “pensamento piloto”, a “novidade”, veio de uma reflexão específica
sobre os poderes da imagem.” (p.40)

(5)
“[...] passamos de uma história da arte [kunstgeschichte] para uma ciência da cultura
[kulturwissenschaft] [...]”( p.41)

(6)
“[...] “toda tentativa de desvincular a imagem [inclusive artística] de seus laços com a religião e a
poesia, o culto e o drama, é como retirar-lhe seu próprio sangue [lifeblood]”.” (p.41)

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